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REFAZER

RESTAURAR
REVISAR
ANAIS VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA
E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – VOL 2

SÃO CARLOS 2022

1
REFAZER, RESTAURAR E REVISAR
REFAZER RESTAURAR REVISAR
ANAIS VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA
E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – VOL 2

7 a 11 de novembro de 2022 — IAU.USP

ORGANIZAÇÃO ANAIS
Miguel Antonio Buzzar
Tomas Antonio Moreira
Manoel Rodrigues Alves
Ruy Sardinha Lopes
Jasmine Luiza Souza Silva
Fernanda Millan Fachi
Diandra Rodrigues Franco
Tatiani Amadeu de Freitas
Paul Newman dos Santos
Daniel Nardini Marques
Carolina Cardi Pifano de Paula

INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – IAU USP
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo – PPGAU IAU USP
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo – ANPARQ

SÃO CARLOS - SP
2022
Catalogação na Publicação
Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

E56 Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em


Arquitetura e Urbanismo (7.: 2022 : São Carlos, SP)
Anais do VII Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Arquitetura e Urbanismo : refazer restaurar revisar, 07 a 11
de novembro de 2022 / organização anais: Miguel Antonio Buzzar... [et al.].
– Rio de Janeiro: ANPARQ, 2022.
4v.

ISSN: 2358-6214

1. Arquitetura. 2. Urbanismo. 3. Congresso nacional. I. Buzzar, Miguel


Antonio, org. I. Universidade de São Paulo. Instituto de Arquitetura e
Urbanismo. II. Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo. III. Título.
CDD 720.63

Bibliotecária responsável pela estrutura de catalogação da publicação de acordo com a AACR2: Brianda
de Oliveira Ordonho Sígolo - CRB - 8/8229
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O ELEFANTE NA LOJA DE CRISTAS: A AÇÃO DOS GOVERNOS


MILITARES NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E REGIONAL
NA AMAZÔNIA
THE ELEPHANT IN THE CRYSTAL SHOP: THE ACTION OF MILITARY GOVERNMENTS IN THE
PRODUCTION OF URBAN AND REGIONAL SPACE IN THE AMAZON

EL ELEFANTE EN LA TIENDA DE CRISTAL: LA ACCIÓN DE LOS GOBIERNOS MILITARES EN LA


PRODUCCIÓN DEL ESPACIO URBANO Y REGIONAL EN LA AMAZONIA

EIXO TEMÁTICO: POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS E PRÁTICAS TERRITORIAIS: CONFLITOS E


ALINHAMENTOS

CASTRO, Luana
Mestranda em Arquitetura e Urbanismo; Universidade Federal do Pará
luana.castro.silva@itec.ufpa.br

OLIVEIRA, Kamila
Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo; Universidade Federal do Pará
kamiladinizoliveira@gmail.com

CARDOSO, Ana Cláudia


PhD em Arquitetura; Universidade Federal do Pará
aclaudiacardoso@gmail.com

VENTURA NETO, Raul


Doutor em Desenvolvimento Econômico; Universidade Federal do Pará
netoventuraraul@gmail.com

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RESUMO

A ação dos governos militares (1964-1985), sob o título de Operação Amazônia, foi responsável por
profundas transformações na rede urbana amazônica e nos espaços urbanos de suas cidades. Ocupando
cerca de 60% do território nacional, a Amazônia foi submetida a um processo colonizador com o objetivo
de ser o grande trunfo que proporcionaria o almejado desenvolvimento para o país, a partir da exploração
de suas riquezas, disposição de novas terras no mercado, e incorporação de um novo mercado
consumidor. Isto foi possível graças a uma mobilização nacional a partir de um discurso de Segurança e
Integração Nacional, e da disseminação institucionalizada de um tipo de planejamento urbano tecnicista
importado da tradição anglo-saxônica a partir do Ministério do Interior e do SERFHAU. O artigo expõe as
mudanças previstas e as efetivamente provocadas por estas políticas, na reconfiguração do espaço
regional e do espaço urbano, a partir do estudo de três cidades: Belém, Manaus e Marabá. Documentos
oficiais, estudos, planos e projetos foram analisados, além de planos urbanos municipais das três cidades.
Constatou-se que as intervenções, os projetos exploratórios, e a nova lógica de mobilidade promoveram
uma ruptura; além do crescimento urbano desencadeado nas décadas seguintes, as diretrizes nacionais
definidas para a região durante o regime militar seguem ditando uma visão utilitarista de uso e ocupação
da Amazônia.
PALAVRAS-CHAVE: regime militar. Amazônia. rede urbana. espaço urbano. espaço regional.

ABSTRACT

The action of the military governments (1964-1985), under the title of Operação Amazônia, was
responsible for profound transformations in the Amazon urban network and in the urban spaces of its
cities. Occupying about 60% of the national territory, the Amazon was subjected to a colonization process
with the objective of being the great asset that would provide the desired development for the country,
from the exploitation of its riches, disposal of new lands on the market, and incorporation of a new
consumer market. This was possible thanks to a national mobilization based on a discourse of Security and
National Integration, and the institutionalized dissemination of a type of technicist urban planning
imported from the Anglo-Saxon tradition from the Ministry of the Interior and SERFHAU. The article
compares the predicted changes and those effectively provoked by these policies, in the reconfiguration
of the regional space and the urban space, from the study of three cities: Belém, Manaus and Marabá.
Official documents, studies, plans and projects were analyzed, as well as municipal urban plans for the
three cities. It was found that the interventions, the exploratory projects, and the new mobility logic
promoted a rupture: in addition to the urban growth unleashed in the following decades, the national
guidelines defined for the region during the military regime continue to dictate a utilitarian vision of use
and occupation. from the Amazon.
KEYWORDS: military regime. Amazon. urban network. urban space. regional space.

RESUMEN

La acción de los gobiernos militares (1964-1985), bajo el título de Operação Amazônia, fue responsable de
profundas transformaciones en la red urbana amazónica y en los espacios urbanos de sus ciudades.
Ocupando alrededor del 60% del territorio nacional, la Amazonía fue sometida a un proceso de
colonización con el objetivo de ser el gran activo que brindara el desarrollo anhelado para el país, a partir
de la explotación de sus riquezas, puesta en el mercado de nuevas tierras, e incorporación de un nuevo
mercado de consumo. Esto fue posible gracias a una movilización nacional basada en un discurso de
Seguridad e Integración Nacional, y la difusión institucionalizada de un tipo de urbanismo tecnicista
importado de la tradición anglosajona del Ministerio del Interior y SERFHAU. El artículo compara los
cambios previstos y los efectivamente provocados por estas políticas, en la reconfiguración del espacio
regional y del espacio urbano, a partir del estudio de tres ciudades: Belém, Manaus y Marabá. Se
analizaron documentos oficiales, estudios, planes y proyectos, además de los planes urbanísticos
municipales de las tres ciudades. Se constató que las intervenciones, los proyectos exploratorios y la nueva

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lógica de la movilidad promovieron una ruptura: además del crecimiento urbano desatado en las
siguientes décadas, los lineamientos nacionales definidos para la región durante el régimen militar
continúan dictando una visión utilitaria de la uso y ocupación de la Amazonia.
PALABRAS-CLAVE: régimen militar. Amazonas. red urbana. espacio urbano. espacio regional.

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INTRODUÇÃO

As mais de duas décadas sob os governos militares (1964-1985) trouxeram transformações


profundas para a região amazônica. Com o intuito de alcançar um desenvolvimento a qualquer
custo até o fim do Século XX para o Brasil (SUDAM, 1973), as políticas adotadas pelos militares
submeteram a Amazônia a um processo de colonização de seu próprio território. A Amazônia
Legal (Figura 1), no período estudado, era composta pelos estados do Acre, Amazonas, Pará,
pelos territórios federais, Amapá, Roraima e Rondônia, e por parte dos estados de Maranhão,
Goiás (anterior à criação do estado do Tocantins), e Mato Grosso, ocupando 60% do território
brasileiro (SERFHAU, 1972).

Figura 1. Mapa da Amazônia Legal. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: IBGE, 2018.

Figura 2 – Localização dos minérios e zonas agropecuárias. Elaborado: Autores, 2022. Fonte: SUDAM, 1973.

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Diversos estudos foram realizados durante a década de 1960, a partir do Projeto Radar (RADAM)
em parceria com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Estudos Energéticos da Amazônia e
Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais, para identificar as atividades econômicas mais
lucrativas que a Amazônia poderia abrigar, tomando-a como peça chave para potencializar a
economia brasileira devido a sua grande reserva de recursos naturais e um suposto vazio
demográfico (Figura 2).

Grandes Projetos foram implantados na região baseados nas políticas de integração nacional
que visavam transformá-la em destino do excedente populacional do Nordeste e do Centro-Sul
(SUDAM, 1973). A política nacional da época admitia a existência de três Brasis: um Brasil
desenvolvido, representado pelo Centro-Sul, um Brasil em marcha para o desenvolvimento,
representado pela região Nordeste, e um terceiro Brasil, subdesenvolvido, representado pela
Amazônia (PARÁ, 1967).

Por trás do discurso de segurança nacional, havia o intuito de fazer a fronteira agrícola alcançar
as margens do rio Amazonas e suas terras de várzea, incorporar novos mercados consumidores
de produtos industrializados, explorar madeira e minérios, além de realizar mais uma “fuga pra
frente” dispondo de novas terras para alimentar dinâmicas de acumulação primitiva (TAVARES,
1999). As ações dos governos militares na Amazônia não apresentaram preocupações com a
ruptura ecológica do bioma em decorrência da sua exploração. Na realidade, invisibilizaram as
dinâmicas sociais, econômicas e culturais das populações tradicionais que viviam em
assentamentos articulados em uma rede urbana característica da região (CORREA, 2006).

O objetivo deste artigo é apontar a intensidade da intervenção militar na Amazônia e o impacto


na macro e na micro escala, no espaço regional e no espaço urbano, a partir das mudanças
observadas na rede urbana amazônica entre 1964 e 1985. O texto recuperou a concepção
teórica que serviu de base para o pensamento tecnicista de planejamento urbano que conduziu
à formulação das políticas, planos e projetos dos governos militares. Em seguida, evidenciou-se
as alterações no espaço regional amazônico ocasionadas pelos programas e planos de
infraestrutura, de atividades econômicas, etc. (Plano Integrado de Transportes da Amazônia,
Programa de Integração Nacional, Plano de Colonização da Amazônia e Programa de Ação
Concentrada), e transformações na rede urbana a partir das novas intervenções.
Posteriormente, apresentou as alterações no espaço urbano utilizando-se de três exemplos de
cidades amazônicas, que receberam três níveis diferentes de intervenção urbana: Belém,
Manaus e Marabá.

BASES TEÓRICAS E INSTITUCIONAIS DOS GRANDES PROJETOS

O pensamento teórico que deu base aos Grandes Projetos para Amazônia dos governos militares
não é nacional. É na verdade uma reedição dos ideais de planejamento urbano de meados do
Século XX da Inglaterra e dos Estados Unidos, conhecidos como Comprehensive Development
Planning e Comprehensive Planning (MODESTO E LORDELLO DE MELO, 1965). Na tradição de
planejamento anglo-saxônica, o planejador urbano passou a ser visto como um administrador
ou um tecnocrata, que seria responsável por definir as atividades econômicas, sociais e
necessidades de uma região, em vista de seu desenvolvimento (LUCCHESE, 2009). Dessa
maneira, as atividades do arquiteto e urbanista de proposição de zoneamentos, definição de
volumetria urbana, etc. estariam em segundo plano. Tais atividades, incluídos os projetos

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urbanos, ficavam a cargo do chamado “planejador físico”, que teria o papel de ordenação do
território, a partir das diretrizes estabelecidas pelo grande plano do planejador urbano
(PROCHNIK, 1965).

O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (SERFHAU), instituído em 1964, foi o órgão


brasileiro responsável pela difusão de um ideal em torno do planejamento urbano tecnicista
(ULTRAMARI, 2017) e sobretudo centralizado na esfera Federal (VIZZIOLI, 1998). O mesmo
publicou em 1968 um roteiro no qual eram descritos os estudos preliminares, planos de
desenvolvimento local e integrado e projetos setoriais que compuseram o Programa de Ação
Concentrada (PAC), muito semelhante ao proposto nos Estados Unidos (LUCCHESE, 2009). Na
versão inglesa, o plano de desenvolvimento deveria partir de uma exposição de motivos, para
fundamentar as propostas reunidas em mapas-programa, que ilustrariam o que se esperava ser
implantado nas próximas décadas em determinada região (LUCCHESE, 2009). Ambos os
formatos foram amplamente utilizados nos Grandes Projetos para Amazônia (SUDAM, 1973).

Antes mesmo da criação do Ministério do Interior (MINTER) em 1967, que passou a ter sob sua
alçada o desenvolvimento dos Grandes Planos, o Ministério do Planejamento deu início a
Política de Desenvolvimento da Região Amazônica, mais conhecida como Operação Amazônia,
em 1966. O grupo de trabalho montado para desenvolver a Operação foi responsável por
reeditar os órgãos de planejamento e investimento que já atuavam na região, além da
reformulação da Zona Franca de Manaus (ZFM), que já existia sob decreto lei desde 1957,
porém, sem implantação.

Assim, a Superintendência de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e o Banco de Crédito


da Amazônia são reconfigurados e substituídos pela Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia (SUDAM) e pelo Banco da Amazônia (BASA) (LUCCHESE, 2009). Posteriormente, em
1967, é instituída a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), que seria
responsável por gerir a ZFM, e transmitir à SUDAM as mudanças necessárias em Manaus e sua
vizinhança para prover melhor infraestrutura. Em seguida, em 1967, com a criação do Ministério
do Interior, o quadro hierárquico (Quadro 1) que deu suporte a institucionalização do
planejamento urbano tecnicista foi completado (ULTRAMARI, 2017).

Quadro 1 – Quadro hierárquico de instituições federais. Elaboração: Autores, 2022.

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ALTERAÇÕES NO ESPAÇO REGIONAL E URBANO E REFLEXOS NO FUTURO

A partir desse ideário tecnicista, baseado na forma de planejar anglo-saxônica, foram


estabelecidas na Amazônia diretrizes que reconfiguraram o espaço regional amazônico. A rede
urbana amazônica, isto é, a posição, hierarquia, quantidade, dinâmica e articulação entre os
núcleos urbanos que existiam na Amazônia anteriormente ao estabelecimento dos Grandes
Projetos, foi profundamente transformada. A bem da verdade, o peso da metodologia tecnicista
importada de contextos exógenos à Amazônia produz anacronismos difíceis de justificar, ainda
nos dias de hoje. No primeiro documento com viés acadêmico produzido pelos técnicos
especialistas formados no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, primeira pós-graduação da
UFPA em Planejamento Regional implantada em consonância com os objetivos do SERFHAU
(VENTURA NETO et al, 2014), as principais conclusões apontam para a inexistência de um
sistema de cidades na região e uma baixa interdependência entre os núcleos urbanos existentes
(FERREIRA et al, 1977 p.125).

Vista como “fronteira do capital” (CORREA, 2006), a região foi tomada como área de expansão,
a ser liderada pela burguesia nacional e internacional para o desenvolvimento econômico,
devido a dimensão dos recursos disponíveis no território: terra, madeira, minérios, potencial
hidrelétrico, etc. (SUDAM, 1973). Não obstante, a necessidade de escoar rapidamente as
matérias-primas extraídas, e principalmente, de transportar os produtos industrializados do
Centro-Sul do país para a região foram responsáveis por transformar os elementos centrais da
formação socioespacial da Amazônia (VENTURA NETO, 2020), inclusive sua lógica de articulação
interna (Figura 3; Quadro 2). O Plano Integrado de Transportes da Amazônia (Figura 4)
promoveu a implantação de um sistema rodoviário, que mesmo não tendo sido concluído como
previam os planos, cortou a floresta, e permitiu que a ocupação humana se ampliasse em grande
medida, ao longo das estradas. Assim, a lógica de articulação e posicionamento de
assentamentos foi reformulada, parcelando áreas altas de floresta no interior do território,
ocasionando a ampliação do arco do desmatamento, como se vê atualmente (Figura 5).

Figura 3 – Esquema que apresenta a rede de cidades e a Quadro 2 – Síntese das alterações na lógica de articulação.
mobilidade antes das ações dos militares e depois. Elaboração: Autores, 2022.
Elaboração: Autores, 2022.

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Figura 4 – Mapa do Plano Integrado de Transportes da Amazônia. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: SUDAM, 1973.

Figura 5 – Mapa de rodovias atuais e desmatamento acumulado. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: DNIT, 2017; Terra Brasilis,
2021.

O imaginário corrente no país era que os núcleos urbanos amazônicos estavam isolados, e que
não havia meio de transporte expressivo entre eles (LUCCHESE, 2009). Quando na realidade, a
lógica ribeirinha de transporte foi invisibilizada e descartada por não servir aos interesses da
colonização do território. Afinal, desde o governo Kubitschek (1956-1961), a opção do
rodoviarismo foi escolhida como forma de incentivo à indústria automobilística, apesar da não
recomendação do sistema para países de grande extensão territorial como o Brasil, servindo ao
mercado internacional.

Os planos desenvolvidos pela SUDAM consideraram as vias fluviais fundamentais, sobretudo


para a circulação de riquezas (SUDAM, 1973), ou seja, para escoamento de matérias-primas e
de mercadorias industrializadas produzidas na ZFM. Com base nisso, foram previstos e
implantados uma série de portos, em diversos níveis, em locais estratégicos nos grandes rios

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navegáveis da região. Além disso, a pulverização de estruturas para aviação por todo o território
hierarquizou o território e deu acesso à diversas pequenas comunidades, desconsiderando as
formas de assentamento tradicionais.

As ações decorrentes do Plano Integrado de Transportes da Amazônia, com seus três eixos
(aeroportos, portos e rodovias), foram responsáveis pela modificação dos meios de articulação
local a partir da navegação de cabotagem, reestruturando a rede urbana anterior, que tinha
Belém como cidade primaz (CORREA, 2006), e redefinindo a hierarquias entre cidades da região
e as conexões dessas cidades com o restante do país (IPEA, 2001) (Figura 4). O conjunto de
projetos previstos no Plano, ao definir diferentes portes de estruturas de transporte, a depender
da importância que uma determinada cidade teria na lógica de exploração, permitiu a ascensão
de nível na rede urbana de algumas cidades frente às demais, ampliando suas redes de
influência, o que as transformou em pólos de atração com rápida expansão de sua malha
urbana. Assim uma nova lógica de implantação de cidades foi estabelecida na Amazônia, que se
tornaria a dominante: à localização na beira de estradas.

Em paralelo ao Plano Integrado de Transportes da Amazônia, o Programa de Integração Nacional


(PIN) tinha o objetivo de criar dois eixos de ocupação econômica e populacional, um Norte-Sul,
ligando “áreas menos desenvolvidas e mais desenvolvidas”, e um outro, Leste-Oeste,
reorientando o fluxo migratório do Nordeste para a Amazônia, de forma a diminuir o fluxo de
nordestinos para o Centro-Sul do país (SERFHAU, 1972).

O PIN previa apoio ao desenvolvimento de sete cidades, ao longo da rodovia Transamazônica:


Imperatriz, Marabá, Altamira, Itaituba, Humaitá, Santarém e Porto Velho. Cada uma dessas
cidades receberia estudos, relatórios preliminares e, posteriormente, planos de
desenvolvimento local e integrado, para se tornarem “centros de apoio do PIN”. A cidade de
Marabá foi escolhida para desempenhar um papel mais complexo do que outras as cidades
citadas, pela sua posição regional, cortada pela Transamazônica e próxima à rodovia Belém-
Brasília, sendo o encontro dos dois eixos, a fim de ser uma experiência piloto de urbanização na
Amazônia (SERFHAU, 1972). Somado a isso, havia a recente descoberta de grandes reservas de
minério de ferro na região da Serra dos Carajás alguns anos antes, tornando Marabá um nó
logístico ainda mais importante para os Grandes Projetos de exploração mineral pensados para
o Sudeste do Pará e uma tensão política causada pela Guerrilha do Araguaia.

Em geral, os Grandes Projetos, de fato implantados, afetaram muito mais diretamente a


Amazônia Oriental (e mais intensamente o Pará), devido a sua posição geográfica de maior
proximidade com a fronteira de expansão. A Amazônia Ocidental, principalmente o estado do
Amazonas, não recebeu a maioria das rodovias que se planejava, por exemplo. Com isso, o
estado sofreu mudanças menores na sua lógica ribeirinha nativa, com menos pontos de
exploração mineral, agropecuária, madeireira e hidrelétrica, enquanto o Pará se constituiu em
um mosaico de tipologias nativas e de colonização. No Amazonas, o peso da Operação Amazônia
foi sentido mais pela centralização de recursos, serviços, infraestruturas e equipamentos na sua
capital.

Observa-se hoje a cidade de Manaus como macrocéfala (BECKER, 2013), comportando mais da
metade da população do estado do Amazonas, e concentrando muitos dos serviços urbanos
disponíveis no estado. Fato que ficou evidente no enfrentamento à pandemia de covid-19 em

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2020 e em 2021, quando nenhum outro município do Amazonas tinha sequer um leito de
Unidade de Tratamento Intensivo (SES-AM, 2022).

Além disso, a presença da ZFM tornou a cidade um polo de atração, o que causou um
crescimento urbano acelerado. Em apenas uma década, de 1970 a 1980, a cidade teve uma
duplicação da população, de 300 mil para 600 mil habitantes, chegando em 2021 a 2,25 milhões
(IBGE, 1970, 1980, 2021). Enquanto que Parintins, Itacoatiara e Manacapuru, as cidades mais
populosas depois da capital, apresentam em torno de 100 mil habitantes cada uma.

As cidades de Porto Velho e Rio Branco saíram da influência direta de Manaus, desde a
implantação de conexão rodoviária diretamente ao centro do País. E atualmente, exercem
influência sobre algumas cidades no sul do estado do Amazonas (IBGE, 2018), devido à maior
proximidade geográfica e a implantação de rodovias de ligação às capitais de Rondônia e Acre.

Becker (2013) aponta que Belém também é macrocéfala por reunir diversos serviços urbanos
exclusivos na capital. Mesmo assim, houve uma proliferação de novos municípios, devido às
rodovias abertas no território paraense, integrando a rede urbana de uma forma inédita até
então. Eram apenas 53 cidades localizadas nas margens de rios no estado, contra os atuais 144
municípios, após a criação de cidades à beira de estradas, nessa lógica forasteira imposta à
região.

Além disso, o protagonismo regional dado a cidade de Santarém, posicionada entres os dois
maiores centros da região (figura 6) (SERFHAU, 1972), com os investimentos em infraestrutura,
a ligação por rodovia independente da capital ao resto do país, deu destaque à cidade como
chave na colonização da região e o avanço da fronteira agrícola. Através do PIN, Santarém foi
eleita como Centro Propulsor do Plano Regional, e ocupou posição de destaque em relação aos
demais pólos secundários (as demais capitais dos estados menores) (SERFHAU, 1972), o que
contribuiu para o fortalecimento da mobilização separatista de criação de outro estado, para
tornar-se capital (BECKER, 2013), bem como ocorrido com a cidade de Marabá.

Figura 6 – Plano de Colonização da Amazônia. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: SUDAM, 1973.

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Além da implantação de outro modo de vida, em uma lógica desassociada dos rios, o Plano de
Colonização da Amazônia planejou a criação de centros regionais destacados, com maiores
investimentos de recursos, apontados em vermelho na figura 5. Após os anos 1970, as atividades
econômicas brasileiras passaram por grandes transformações, como desconcentração,
relocação e diversificação de atividades secundárias e terciárias, isso reforçou as centralidades
urbanas principais e aos poucos reposicionou outros centros (REGIC, 2018). Após as ações das
políticas dos militares, a Amazônia Legal recebeu grandes investimentos para o
desenvolvimento econômico regional. Diversos serviços e infraestruturas foram instaladas nas
cidades mais próximas que serviram de apoio para ao projeto agromineral, o que permitiu a
construção de centros regionais, como por exemplo a cidade de Marabá.

Dessa forma, a nova rede urbana passou a apresentar centros regionais, que detinham outros
núcleos urbanos orbitando em sua área de influência. Especialmente na Amazônia Oriental,
houve a consolidação de cidades médias, que criaram as suas próprias áreas de influência,
redistribuindo recursos em maior extensão territorial, ainda assim, de forma diferente da lógica
ribeirinha anterior. Na Amazônia Ocidental, houve um menor número de cidades recebendo
esses investimentos, o que contribuiu para maior manutenção da lógica anterior. Porém, toda
a região passou a estar muito mais dependente de Manaus, que até então não era um centro
macrorregional como Belém (Figura 7), devido ao grau de investimento desproporcional que a
cidade recebeu.

Figura 7 – Mapas da rede urbana e região de influência atual de 1973. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: IBGE, 1973.

A principal consequência no espaço regional de todo o processo de ocupação da Amazônia pelos


governos militares foi a ruptura da dinâmica socioecológica nativa em vasta extensão do
território e pela maior parte da população. Populações nativas que produziam ou coletavam seu
próprio alimento foram incorporadas ao mercado capitalista através da urbanização, passando
a depender do poder de compra para a sua subsistência. Além disso, o arco do desmatamento
avançou em grande medida desde o período, com a perda de 17% do bioma (INPE, 2020), são
hoje 1.173 espécies da fauna sob risco de extinção (PORTAL AMAZÔNIA, 2021), além do grave
desarranjo do sistema hidrológico causado pela implantação de hidrelétricas em uma planície.
O reflexo disso está em uma matriz energética considerada majoritariamente “limpa”, às custas

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de injustiças socioambientais, e na conversão de uso da terra, ou seja, a perda de florestas, como


a maior fonte de contribuição de gases de efeito estufa do país (SEEG, 2020).

As questões intra-urbanas foram colocadas em foco nacional quando o governo federal incluiu
na base do plano de ação um capítulo sobre a definição de desenvolvimento regional e urbano
de Diretrizes para o Sudeste, Nordeste e Amazônia (MONTE-MÓR, 2007). O MINTER
implementou o Programa de Ação Concentrada (PAC), vinculado ao SERFHAU, de 1969 a 1975,
com o objetivo de promover o desenvolvimento local integrado, coordenando as ações de
diversos órgãos responsáveis pela saúde básica, habitação, planejamento mestre e organização
técnica administração, priorizando o auxílio às cidades inseridas no Programa (figura 8).

Figura 8 – Programa de Ação Concentrada e Expansão urbana de Belém, Manaus e Marabá. Elaboração: Autores, 2022. Fonte:
SUDAM, 1973; CORREA, 1989; ALVES; FREITAS; SANTOS, 2020; MINTER, 1970.

Atuante em diversas cidades na Amazônia (Figura 8), o PAC promoveu ações em três diferentes
níveis. As cidades de Belém, Manaus e Marabá ilustram esse processo (quadro 3 e 4): Belém,
uma metrópole regional estabelecida na Amazônia Oriental; Manaus, cidade escolhida para
estabelecer-se como metrópole regional na Amazônia Ocidental; e, Marabá, uma das cidades
médias de apoio à política de colonização do território, associada aos dois importantes eixos de
ligação rodoviária propostos, a Transamazônica (Leste-Oeste) e a Belém-Brasília (Norte-Sul).

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Quadro 3 – Linha do tempo das três cidades estudadas. Elaboração: Autores, 2022.

Quadro 4 – Quadro-síntese de alterações do espaço urbano de Belém, Manaus e Marabá. Elaboração: Autores, 2022.

A partir da análise das alterações e diretrizes para os espaços urbanos das três cidades (Quadro
4), constatou-se que as ações do regime militar definiram vetores de expansão pelas estradas,
de acordo com a lógica rodoviária que seguiam, intensificando o crescimento urbano em centros
regionais, com a proposição e incentivo à construção de conjuntos habitacionais, porém sem a
implantação à infraestrutura e serviços urbanos necessários ao suporte dessas novas moradias.
Em decorrência desse processo, Belém, Manaus e Marabá, apresentam altas taxas de perda de
verde urbano em seus territórios (MIRANDA, 2020; ALVES; FREITAS; SANTOS, 2020),
consequentemente tiveram reduzidos os percentuais de permeabilidade de suas bacias,
ocasionando inundações mais frequentes e intensas. Aliado a isso, o fenômeno da ilha de calor
é intensificado com o aumento da mancha urbana, o que agrava os períodos de calor intenso e
reduz os períodos mais amenos (SILVA JUNIOR, 2012; CÔRREA, 2016; SILVA, 2021).

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Além disso, os programas habitacionais não foram capazes de ofertar moradia a todo o fluxo
migratório que promoveram de outros estados e do interior da Amazônia, dando margem para
um crescimento de ocupações informais nos interstícios entre os novos conjuntos habitacionais.
A ocupação informal dirigida foi marginalizada, relegando áreas mais baixas das bacias e fundos
de vale, com menor acesso à infraestrutura urbana e sujeita a um risco maior de deslizamentos
e inundações. A partir disso, Belém e Manaus despontam atualmente como as capitais
brasileiras com maior percentual de aglomerados subnormais (IBGE, 2020).

Os novos bairros criados a partir dessas políticas criaram subcentros urbanos, e determinaram
vetores de expansão que continuaram sendo seguidos pelas políticas habitacionais mais
recentes, mesmo após o fim das instituições políticas dos governos militares. A partir disso,
constata-se a continuidade das diretrizes urbanas estabelecidas durante o período nos planos e
intervenções ainda hoje. Assim, essas ações reconfiguraram os espaços urbanos amazônicos,
desarranjando o delicado equilíbrio socioecológico amazônico também na microescala.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Amazônia foi a região do país que apresentou os maiores índices de crescimento urbano entre
1970 e 2000. Em 1970, apresentava 35% de sua população vivendo no espaço urbano, enquanto
que nos anos 2000 já detinha 69% de sua população em cidades (BECKER, 2013). As cidades
foram a base logística da exploração e expansão da fronteira do capital. Assim, é possível afirmar
que os Grandes Projetos desenvolvimentistas aplicados pelos governos militares durante o
período da ditadura militar foram responsáveis pela profunda transformação da rede urbana
amazônica, desconfigurando o espaço regional amazônico com as lógicas industriais e de
colonização do território.

A lógica de ocupação militar do território não tinha perspectiva de manter o bioma vivo, por não
considerar as riquezas que este proporciona ao estar em equilíbrio com o sistema Terra, como
o fluxo de água e umidade para todo o continente sul-americano (NOBRE, 2014). E,
principalmente, não houve observação quanto às dinâmicas sociais extremamente ligadas aos
sistemas naturais da Amazônia, que garantem a subsistência das populações que vivem há
séculos na região, assim como fazem o manejo do bioma, mantendo-o vivo.

Os Grandes Projetos e toda a política regional trataram a Amazônia como um enorme terreno
vazio a ser “limpo” pela exploração, para o assentamento de colonos vindos do Centro-Sul e do
Nordeste do país. A crença de que seria possível colonizar esse território da mesma maneira que
se fazia nessas outras regiões era infundada devido às particularidades do mesmo. Observa-se
que a racionalidade ribeirinha e nativa resiste ainda hoje em grande parte da Amazônia, devido
a sua maior adaptação e coerência com sua sociobiodiversidade. Os direitos básicos que a
urbanização trouxe com sua oferta de serviços urbanos eram necessários, porém, a intensidade
do crescimento urbano, que foi muito maior do que o esperado, e a desassociação das dinâmicas
presentes no território, desencadearam uma série de consequências socioambientais negativas.

A Amazônia Oriental foi amplamente mais afetada pela Operação Amazônia, portanto,
apresenta mais injustiças socioambientais, transformando-se hoje em um mosaico de tipologias
e racionalidades nativas e forasteiras sobrepostas. Enquanto que, a Amazônia Ocidental teve
maior extensão territorial resguardada dessas práticas colonizadoras, apenas pelo

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enfraquecimento da atuação dos militares nas décadas seguintes, o que faz com que a região
apresente mais características da lógica nativa de manejo do território ainda hoje, bem como
registre menores percentuais de desmatamento e de grandes projetos de exploração do bioma.

No espaço urbano, as cidades amazônicas receberam uma herança cultural de adaptação e


coerência com o território ancestral (CARDOSO, 2021), porém, a partir da Operação Amazônia
e seu incentivo à urbanização nos moldes ocidentais, houve a imposição de uma outra lógica,
em uma continuidade do colonialismo agora interno às fronteiras nacionais. As cidades
amazônicas perderam seus interstícios verdes, e consequentemente tiveram seu microclima
alterado, perdendo números de dias amenos, bem como por meio de uma assimilação cultural
exterior, passaram a depender de insumos externos, mesmo para a alimentação. Além disso, a
periferização do território citadino foi intensamente ampliada, inclusive com o aumento das
áreas de riscos ambientais, como inundações e deslizamentos, (CPRM, 2019) devido ao aumento
do custo da terra urbana.

O que é apresentado até aqui deve servir de alerta para presente e futuro, pois os Grandes
Projetos quebraram cristais preciosos e seguem sendo implantados, e a visão da Amazônia como
fonte de recursos para o crescimento econômico do país está em voga mais do que nunca,
mesmo após a constatação da importância do bioma para o sistema Terra, em tempos de
mudanças climáticas. Novas hidrelétricas, a continuidade e ampliação do grande extrativismo
(mineração e agronegócio), garimpos ilegais, morte e a expulsão de povos tradicionais de seus
territórios, são os exemplos mais evidentes da perpetuidade da Operação Amazônia.

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