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ANAIS VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA
E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – VOL 2
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REFAZER, RESTAURAR E REVISAR
REFAZER RESTAURAR REVISAR
ANAIS VII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA
E PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO – VOL 2
ORGANIZAÇÃO ANAIS
Miguel Antonio Buzzar
Tomas Antonio Moreira
Manoel Rodrigues Alves
Ruy Sardinha Lopes
Jasmine Luiza Souza Silva
Fernanda Millan Fachi
Diandra Rodrigues Franco
Tatiani Amadeu de Freitas
Paul Newman dos Santos
Daniel Nardini Marques
Carolina Cardi Pifano de Paula
INSTITUIÇÕES ORGANIZADORAS
Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – IAU USP
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo – PPGAU IAU USP
Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo – ANPARQ
SÃO CARLOS - SP
2022
Catalogação na Publicação
Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
ISSN: 2358-6214
Bibliotecária responsável pela estrutura de catalogação da publicação de acordo com a AACR2: Brianda
de Oliveira Ordonho Sígolo - CRB - 8/8229
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em Arquitetura e Urbanismo
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CASTRO, Luana
Mestranda em Arquitetura e Urbanismo; Universidade Federal do Pará
luana.castro.silva@itec.ufpa.br
OLIVEIRA, Kamila
Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo; Universidade Federal do Pará
kamiladinizoliveira@gmail.com
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RESUMO
A ação dos governos militares (1964-1985), sob o título de Operação Amazônia, foi responsável por
profundas transformações na rede urbana amazônica e nos espaços urbanos de suas cidades. Ocupando
cerca de 60% do território nacional, a Amazônia foi submetida a um processo colonizador com o objetivo
de ser o grande trunfo que proporcionaria o almejado desenvolvimento para o país, a partir da exploração
de suas riquezas, disposição de novas terras no mercado, e incorporação de um novo mercado
consumidor. Isto foi possível graças a uma mobilização nacional a partir de um discurso de Segurança e
Integração Nacional, e da disseminação institucionalizada de um tipo de planejamento urbano tecnicista
importado da tradição anglo-saxônica a partir do Ministério do Interior e do SERFHAU. O artigo expõe as
mudanças previstas e as efetivamente provocadas por estas políticas, na reconfiguração do espaço
regional e do espaço urbano, a partir do estudo de três cidades: Belém, Manaus e Marabá. Documentos
oficiais, estudos, planos e projetos foram analisados, além de planos urbanos municipais das três cidades.
Constatou-se que as intervenções, os projetos exploratórios, e a nova lógica de mobilidade promoveram
uma ruptura; além do crescimento urbano desencadeado nas décadas seguintes, as diretrizes nacionais
definidas para a região durante o regime militar seguem ditando uma visão utilitarista de uso e ocupação
da Amazônia.
PALAVRAS-CHAVE: regime militar. Amazônia. rede urbana. espaço urbano. espaço regional.
ABSTRACT
The action of the military governments (1964-1985), under the title of Operação Amazônia, was
responsible for profound transformations in the Amazon urban network and in the urban spaces of its
cities. Occupying about 60% of the national territory, the Amazon was subjected to a colonization process
with the objective of being the great asset that would provide the desired development for the country,
from the exploitation of its riches, disposal of new lands on the market, and incorporation of a new
consumer market. This was possible thanks to a national mobilization based on a discourse of Security and
National Integration, and the institutionalized dissemination of a type of technicist urban planning
imported from the Anglo-Saxon tradition from the Ministry of the Interior and SERFHAU. The article
compares the predicted changes and those effectively provoked by these policies, in the reconfiguration
of the regional space and the urban space, from the study of three cities: Belém, Manaus and Marabá.
Official documents, studies, plans and projects were analyzed, as well as municipal urban plans for the
three cities. It was found that the interventions, the exploratory projects, and the new mobility logic
promoted a rupture: in addition to the urban growth unleashed in the following decades, the national
guidelines defined for the region during the military regime continue to dictate a utilitarian vision of use
and occupation. from the Amazon.
KEYWORDS: military regime. Amazon. urban network. urban space. regional space.
RESUMEN
La acción de los gobiernos militares (1964-1985), bajo el título de Operação Amazônia, fue responsable de
profundas transformaciones en la red urbana amazónica y en los espacios urbanos de sus ciudades.
Ocupando alrededor del 60% del territorio nacional, la Amazonía fue sometida a un proceso de
colonización con el objetivo de ser el gran activo que brindara el desarrollo anhelado para el país, a partir
de la explotación de sus riquezas, puesta en el mercado de nuevas tierras, e incorporación de un nuevo
mercado de consumo. Esto fue posible gracias a una movilización nacional basada en un discurso de
Seguridad e Integración Nacional, y la difusión institucionalizada de un tipo de urbanismo tecnicista
importado de la tradición anglosajona del Ministerio del Interior y SERFHAU. El artículo compara los
cambios previstos y los efectivamente provocados por estas políticas, en la reconfiguración del espacio
regional y del espacio urbano, a partir del estudio de tres ciudades: Belém, Manaus y Marabá. Se
analizaron documentos oficiales, estudios, planes y proyectos, además de los planes urbanísticos
municipales de las tres ciudades. Se constató que las intervenciones, los proyectos exploratorios y la nueva
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lógica de la movilidad promovieron una ruptura: además del crecimiento urbano desatado en las
siguientes décadas, los lineamientos nacionales definidos para la región durante el régimen militar
continúan dictando una visión utilitaria de la uso y ocupación de la Amazonia.
PALABRAS-CLAVE: régimen militar. Amazonas. red urbana. espacio urbano. espacio regional.
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INTRODUÇÃO
Figura 1. Mapa da Amazônia Legal. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: IBGE, 2018.
Figura 2 – Localização dos minérios e zonas agropecuárias. Elaborado: Autores, 2022. Fonte: SUDAM, 1973.
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Diversos estudos foram realizados durante a década de 1960, a partir do Projeto Radar (RADAM)
em parceria com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Estudos Energéticos da Amazônia e
Companhia de Pesquisas e Recursos Minerais, para identificar as atividades econômicas mais
lucrativas que a Amazônia poderia abrigar, tomando-a como peça chave para potencializar a
economia brasileira devido a sua grande reserva de recursos naturais e um suposto vazio
demográfico (Figura 2).
Grandes Projetos foram implantados na região baseados nas políticas de integração nacional
que visavam transformá-la em destino do excedente populacional do Nordeste e do Centro-Sul
(SUDAM, 1973). A política nacional da época admitia a existência de três Brasis: um Brasil
desenvolvido, representado pelo Centro-Sul, um Brasil em marcha para o desenvolvimento,
representado pela região Nordeste, e um terceiro Brasil, subdesenvolvido, representado pela
Amazônia (PARÁ, 1967).
Por trás do discurso de segurança nacional, havia o intuito de fazer a fronteira agrícola alcançar
as margens do rio Amazonas e suas terras de várzea, incorporar novos mercados consumidores
de produtos industrializados, explorar madeira e minérios, além de realizar mais uma “fuga pra
frente” dispondo de novas terras para alimentar dinâmicas de acumulação primitiva (TAVARES,
1999). As ações dos governos militares na Amazônia não apresentaram preocupações com a
ruptura ecológica do bioma em decorrência da sua exploração. Na realidade, invisibilizaram as
dinâmicas sociais, econômicas e culturais das populações tradicionais que viviam em
assentamentos articulados em uma rede urbana característica da região (CORREA, 2006).
O pensamento teórico que deu base aos Grandes Projetos para Amazônia dos governos militares
não é nacional. É na verdade uma reedição dos ideais de planejamento urbano de meados do
Século XX da Inglaterra e dos Estados Unidos, conhecidos como Comprehensive Development
Planning e Comprehensive Planning (MODESTO E LORDELLO DE MELO, 1965). Na tradição de
planejamento anglo-saxônica, o planejador urbano passou a ser visto como um administrador
ou um tecnocrata, que seria responsável por definir as atividades econômicas, sociais e
necessidades de uma região, em vista de seu desenvolvimento (LUCCHESE, 2009). Dessa
maneira, as atividades do arquiteto e urbanista de proposição de zoneamentos, definição de
volumetria urbana, etc. estariam em segundo plano. Tais atividades, incluídos os projetos
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urbanos, ficavam a cargo do chamado “planejador físico”, que teria o papel de ordenação do
território, a partir das diretrizes estabelecidas pelo grande plano do planejador urbano
(PROCHNIK, 1965).
Antes mesmo da criação do Ministério do Interior (MINTER) em 1967, que passou a ter sob sua
alçada o desenvolvimento dos Grandes Planos, o Ministério do Planejamento deu início a
Política de Desenvolvimento da Região Amazônica, mais conhecida como Operação Amazônia,
em 1966. O grupo de trabalho montado para desenvolver a Operação foi responsável por
reeditar os órgãos de planejamento e investimento que já atuavam na região, além da
reformulação da Zona Franca de Manaus (ZFM), que já existia sob decreto lei desde 1957,
porém, sem implantação.
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Vista como “fronteira do capital” (CORREA, 2006), a região foi tomada como área de expansão,
a ser liderada pela burguesia nacional e internacional para o desenvolvimento econômico,
devido a dimensão dos recursos disponíveis no território: terra, madeira, minérios, potencial
hidrelétrico, etc. (SUDAM, 1973). Não obstante, a necessidade de escoar rapidamente as
matérias-primas extraídas, e principalmente, de transportar os produtos industrializados do
Centro-Sul do país para a região foram responsáveis por transformar os elementos centrais da
formação socioespacial da Amazônia (VENTURA NETO, 2020), inclusive sua lógica de articulação
interna (Figura 3; Quadro 2). O Plano Integrado de Transportes da Amazônia (Figura 4)
promoveu a implantação de um sistema rodoviário, que mesmo não tendo sido concluído como
previam os planos, cortou a floresta, e permitiu que a ocupação humana se ampliasse em grande
medida, ao longo das estradas. Assim, a lógica de articulação e posicionamento de
assentamentos foi reformulada, parcelando áreas altas de floresta no interior do território,
ocasionando a ampliação do arco do desmatamento, como se vê atualmente (Figura 5).
Figura 3 – Esquema que apresenta a rede de cidades e a Quadro 2 – Síntese das alterações na lógica de articulação.
mobilidade antes das ações dos militares e depois. Elaboração: Autores, 2022.
Elaboração: Autores, 2022.
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Figura 4 – Mapa do Plano Integrado de Transportes da Amazônia. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: SUDAM, 1973.
Figura 5 – Mapa de rodovias atuais e desmatamento acumulado. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: DNIT, 2017; Terra Brasilis,
2021.
O imaginário corrente no país era que os núcleos urbanos amazônicos estavam isolados, e que
não havia meio de transporte expressivo entre eles (LUCCHESE, 2009). Quando na realidade, a
lógica ribeirinha de transporte foi invisibilizada e descartada por não servir aos interesses da
colonização do território. Afinal, desde o governo Kubitschek (1956-1961), a opção do
rodoviarismo foi escolhida como forma de incentivo à indústria automobilística, apesar da não
recomendação do sistema para países de grande extensão territorial como o Brasil, servindo ao
mercado internacional.
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navegáveis da região. Além disso, a pulverização de estruturas para aviação por todo o território
hierarquizou o território e deu acesso à diversas pequenas comunidades, desconsiderando as
formas de assentamento tradicionais.
As ações decorrentes do Plano Integrado de Transportes da Amazônia, com seus três eixos
(aeroportos, portos e rodovias), foram responsáveis pela modificação dos meios de articulação
local a partir da navegação de cabotagem, reestruturando a rede urbana anterior, que tinha
Belém como cidade primaz (CORREA, 2006), e redefinindo a hierarquias entre cidades da região
e as conexões dessas cidades com o restante do país (IPEA, 2001) (Figura 4). O conjunto de
projetos previstos no Plano, ao definir diferentes portes de estruturas de transporte, a depender
da importância que uma determinada cidade teria na lógica de exploração, permitiu a ascensão
de nível na rede urbana de algumas cidades frente às demais, ampliando suas redes de
influência, o que as transformou em pólos de atração com rápida expansão de sua malha
urbana. Assim uma nova lógica de implantação de cidades foi estabelecida na Amazônia, que se
tornaria a dominante: à localização na beira de estradas.
Observa-se hoje a cidade de Manaus como macrocéfala (BECKER, 2013), comportando mais da
metade da população do estado do Amazonas, e concentrando muitos dos serviços urbanos
disponíveis no estado. Fato que ficou evidente no enfrentamento à pandemia de covid-19 em
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2020 e em 2021, quando nenhum outro município do Amazonas tinha sequer um leito de
Unidade de Tratamento Intensivo (SES-AM, 2022).
Além disso, a presença da ZFM tornou a cidade um polo de atração, o que causou um
crescimento urbano acelerado. Em apenas uma década, de 1970 a 1980, a cidade teve uma
duplicação da população, de 300 mil para 600 mil habitantes, chegando em 2021 a 2,25 milhões
(IBGE, 1970, 1980, 2021). Enquanto que Parintins, Itacoatiara e Manacapuru, as cidades mais
populosas depois da capital, apresentam em torno de 100 mil habitantes cada uma.
As cidades de Porto Velho e Rio Branco saíram da influência direta de Manaus, desde a
implantação de conexão rodoviária diretamente ao centro do País. E atualmente, exercem
influência sobre algumas cidades no sul do estado do Amazonas (IBGE, 2018), devido à maior
proximidade geográfica e a implantação de rodovias de ligação às capitais de Rondônia e Acre.
Becker (2013) aponta que Belém também é macrocéfala por reunir diversos serviços urbanos
exclusivos na capital. Mesmo assim, houve uma proliferação de novos municípios, devido às
rodovias abertas no território paraense, integrando a rede urbana de uma forma inédita até
então. Eram apenas 53 cidades localizadas nas margens de rios no estado, contra os atuais 144
municípios, após a criação de cidades à beira de estradas, nessa lógica forasteira imposta à
região.
Além disso, o protagonismo regional dado a cidade de Santarém, posicionada entres os dois
maiores centros da região (figura 6) (SERFHAU, 1972), com os investimentos em infraestrutura,
a ligação por rodovia independente da capital ao resto do país, deu destaque à cidade como
chave na colonização da região e o avanço da fronteira agrícola. Através do PIN, Santarém foi
eleita como Centro Propulsor do Plano Regional, e ocupou posição de destaque em relação aos
demais pólos secundários (as demais capitais dos estados menores) (SERFHAU, 1972), o que
contribuiu para o fortalecimento da mobilização separatista de criação de outro estado, para
tornar-se capital (BECKER, 2013), bem como ocorrido com a cidade de Marabá.
Figura 6 – Plano de Colonização da Amazônia. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: SUDAM, 1973.
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Além da implantação de outro modo de vida, em uma lógica desassociada dos rios, o Plano de
Colonização da Amazônia planejou a criação de centros regionais destacados, com maiores
investimentos de recursos, apontados em vermelho na figura 5. Após os anos 1970, as atividades
econômicas brasileiras passaram por grandes transformações, como desconcentração,
relocação e diversificação de atividades secundárias e terciárias, isso reforçou as centralidades
urbanas principais e aos poucos reposicionou outros centros (REGIC, 2018). Após as ações das
políticas dos militares, a Amazônia Legal recebeu grandes investimentos para o
desenvolvimento econômico regional. Diversos serviços e infraestruturas foram instaladas nas
cidades mais próximas que serviram de apoio para ao projeto agromineral, o que permitiu a
construção de centros regionais, como por exemplo a cidade de Marabá.
Dessa forma, a nova rede urbana passou a apresentar centros regionais, que detinham outros
núcleos urbanos orbitando em sua área de influência. Especialmente na Amazônia Oriental,
houve a consolidação de cidades médias, que criaram as suas próprias áreas de influência,
redistribuindo recursos em maior extensão territorial, ainda assim, de forma diferente da lógica
ribeirinha anterior. Na Amazônia Ocidental, houve um menor número de cidades recebendo
esses investimentos, o que contribuiu para maior manutenção da lógica anterior. Porém, toda
a região passou a estar muito mais dependente de Manaus, que até então não era um centro
macrorregional como Belém (Figura 7), devido ao grau de investimento desproporcional que a
cidade recebeu.
Figura 7 – Mapas da rede urbana e região de influência atual de 1973. Elaboração: Autores, 2022. Fonte: IBGE, 1973.
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As questões intra-urbanas foram colocadas em foco nacional quando o governo federal incluiu
na base do plano de ação um capítulo sobre a definição de desenvolvimento regional e urbano
de Diretrizes para o Sudeste, Nordeste e Amazônia (MONTE-MÓR, 2007). O MINTER
implementou o Programa de Ação Concentrada (PAC), vinculado ao SERFHAU, de 1969 a 1975,
com o objetivo de promover o desenvolvimento local integrado, coordenando as ações de
diversos órgãos responsáveis pela saúde básica, habitação, planejamento mestre e organização
técnica administração, priorizando o auxílio às cidades inseridas no Programa (figura 8).
Figura 8 – Programa de Ação Concentrada e Expansão urbana de Belém, Manaus e Marabá. Elaboração: Autores, 2022. Fonte:
SUDAM, 1973; CORREA, 1989; ALVES; FREITAS; SANTOS, 2020; MINTER, 1970.
Atuante em diversas cidades na Amazônia (Figura 8), o PAC promoveu ações em três diferentes
níveis. As cidades de Belém, Manaus e Marabá ilustram esse processo (quadro 3 e 4): Belém,
uma metrópole regional estabelecida na Amazônia Oriental; Manaus, cidade escolhida para
estabelecer-se como metrópole regional na Amazônia Ocidental; e, Marabá, uma das cidades
médias de apoio à política de colonização do território, associada aos dois importantes eixos de
ligação rodoviária propostos, a Transamazônica (Leste-Oeste) e a Belém-Brasília (Norte-Sul).
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Quadro 3 – Linha do tempo das três cidades estudadas. Elaboração: Autores, 2022.
Quadro 4 – Quadro-síntese de alterações do espaço urbano de Belém, Manaus e Marabá. Elaboração: Autores, 2022.
A partir da análise das alterações e diretrizes para os espaços urbanos das três cidades (Quadro
4), constatou-se que as ações do regime militar definiram vetores de expansão pelas estradas,
de acordo com a lógica rodoviária que seguiam, intensificando o crescimento urbano em centros
regionais, com a proposição e incentivo à construção de conjuntos habitacionais, porém sem a
implantação à infraestrutura e serviços urbanos necessários ao suporte dessas novas moradias.
Em decorrência desse processo, Belém, Manaus e Marabá, apresentam altas taxas de perda de
verde urbano em seus territórios (MIRANDA, 2020; ALVES; FREITAS; SANTOS, 2020),
consequentemente tiveram reduzidos os percentuais de permeabilidade de suas bacias,
ocasionando inundações mais frequentes e intensas. Aliado a isso, o fenômeno da ilha de calor
é intensificado com o aumento da mancha urbana, o que agrava os períodos de calor intenso e
reduz os períodos mais amenos (SILVA JUNIOR, 2012; CÔRREA, 2016; SILVA, 2021).
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Além disso, os programas habitacionais não foram capazes de ofertar moradia a todo o fluxo
migratório que promoveram de outros estados e do interior da Amazônia, dando margem para
um crescimento de ocupações informais nos interstícios entre os novos conjuntos habitacionais.
A ocupação informal dirigida foi marginalizada, relegando áreas mais baixas das bacias e fundos
de vale, com menor acesso à infraestrutura urbana e sujeita a um risco maior de deslizamentos
e inundações. A partir disso, Belém e Manaus despontam atualmente como as capitais
brasileiras com maior percentual de aglomerados subnormais (IBGE, 2020).
Os novos bairros criados a partir dessas políticas criaram subcentros urbanos, e determinaram
vetores de expansão que continuaram sendo seguidos pelas políticas habitacionais mais
recentes, mesmo após o fim das instituições políticas dos governos militares. A partir disso,
constata-se a continuidade das diretrizes urbanas estabelecidas durante o período nos planos e
intervenções ainda hoje. Assim, essas ações reconfiguraram os espaços urbanos amazônicos,
desarranjando o delicado equilíbrio socioecológico amazônico também na microescala.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Amazônia foi a região do país que apresentou os maiores índices de crescimento urbano entre
1970 e 2000. Em 1970, apresentava 35% de sua população vivendo no espaço urbano, enquanto
que nos anos 2000 já detinha 69% de sua população em cidades (BECKER, 2013). As cidades
foram a base logística da exploração e expansão da fronteira do capital. Assim, é possível afirmar
que os Grandes Projetos desenvolvimentistas aplicados pelos governos militares durante o
período da ditadura militar foram responsáveis pela profunda transformação da rede urbana
amazônica, desconfigurando o espaço regional amazônico com as lógicas industriais e de
colonização do território.
A lógica de ocupação militar do território não tinha perspectiva de manter o bioma vivo, por não
considerar as riquezas que este proporciona ao estar em equilíbrio com o sistema Terra, como
o fluxo de água e umidade para todo o continente sul-americano (NOBRE, 2014). E,
principalmente, não houve observação quanto às dinâmicas sociais extremamente ligadas aos
sistemas naturais da Amazônia, que garantem a subsistência das populações que vivem há
séculos na região, assim como fazem o manejo do bioma, mantendo-o vivo.
Os Grandes Projetos e toda a política regional trataram a Amazônia como um enorme terreno
vazio a ser “limpo” pela exploração, para o assentamento de colonos vindos do Centro-Sul e do
Nordeste do país. A crença de que seria possível colonizar esse território da mesma maneira que
se fazia nessas outras regiões era infundada devido às particularidades do mesmo. Observa-se
que a racionalidade ribeirinha e nativa resiste ainda hoje em grande parte da Amazônia, devido
a sua maior adaptação e coerência com sua sociobiodiversidade. Os direitos básicos que a
urbanização trouxe com sua oferta de serviços urbanos eram necessários, porém, a intensidade
do crescimento urbano, que foi muito maior do que o esperado, e a desassociação das dinâmicas
presentes no território, desencadearam uma série de consequências socioambientais negativas.
A Amazônia Oriental foi amplamente mais afetada pela Operação Amazônia, portanto,
apresenta mais injustiças socioambientais, transformando-se hoje em um mosaico de tipologias
e racionalidades nativas e forasteiras sobrepostas. Enquanto que, a Amazônia Ocidental teve
maior extensão territorial resguardada dessas práticas colonizadoras, apenas pelo
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enfraquecimento da atuação dos militares nas décadas seguintes, o que faz com que a região
apresente mais características da lógica nativa de manejo do território ainda hoje, bem como
registre menores percentuais de desmatamento e de grandes projetos de exploração do bioma.
O que é apresentado até aqui deve servir de alerta para presente e futuro, pois os Grandes
Projetos quebraram cristais preciosos e seguem sendo implantados, e a visão da Amazônia como
fonte de recursos para o crescimento econômico do país está em voga mais do que nunca,
mesmo após a constatação da importância do bioma para o sistema Terra, em tempos de
mudanças climáticas. Novas hidrelétricas, a continuidade e ampliação do grande extrativismo
(mineração e agronegócio), garimpos ilegais, morte e a expulsão de povos tradicionais de seus
territórios, são os exemplos mais evidentes da perpetuidade da Operação Amazônia.
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