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2ª CICLO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS FORENSES

MEDICINA LEGAL

QUAL O SEXO? ESTIMATIVAS ATRAVÉS DA


MEDIÇÃO DO CRÂNIO E OSSO PÉLVICO EM
ESQUELETOS HUMANOS

Micaela do Lago Barreiro

M
2021
SEDE ADMINISTRATIVA FACULDADE DE MEDICINA
FACULDADE DE CIÊNCIAS
FACULDADE DE DIREITO
FACULDADE DE FARMÁCIA
FACULDADE DE MEDICINA DENTÁRIA
FACULDADE DE PSICOLOGIA E DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR
Micaela do Lago Barreiro

QUAL O SEXO? ESTIMATIVAS ATRAVÉS DA


MEDIÇÃO DO CRÂNIO E OSSO PÉLVICO EM
ESQUELETOS HUMANOS

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Ciências Forenses, orientada pela


Professora Doutora Inês Alexandra Costa Morais Caldas

e pela Professora Doutora Áurea Marília Madureira e Carvalho

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

2021
Micaela do Lago Barreiro

QUAL O SEXO? ESTIMATIVAS ATRAVÉS DA


MEDIÇÃO DO CRÂNIO E OSSO PÉLVICO EM
ESQUELETOS HUMANOS

Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em Ciências Forenses, orientada pela


Professora Doutora Inês Alexandra Costa Morais Caldas

e pela Professora Doutora Áurea Marília Madureira e Carvalho

Membros do Júri
Professor Doutor (escreva o nome do/a Professor/a)
Faculdade (nome da faculdade) - Universidade (nome da universidade)

Professor Doutor (escreva o nome do/a Professor/a)


Faculdade (nome da faculdade) - Universidade (nome da universidade)

Professor Doutor (escreva o nome do/a Professor/a)


Faculdade (nome da faculdade) - Universidade (nome da universidade)

Classificação obtida: (escreva o valor) Valores:


Knowledge is only rumor until it lives in the bones – Brene Brown
Sumário
Declaração de honra ..................................................................................................................... 4
Agradecimentos ............................................................................................................................ 5
Resumo.......................................................................................................................................... 7
Abstract ......................................................................................................................................... 8
Índice de Figuras ........................................................................................................................... 9
Índice de Tabelas ......................................................................................................................... 10
Lista de abreviaturas e siglas....................................................................................................... 12
Introdução ................................................................................................................................... 13
1.A Antropologia Forense e suas aplicações ............................................................................... 15
1.1. Breve contextualização histórica ........................................................................................ 17
1.1.1. A antropologia forense em Portugal ........................................................................... 19
1.2. Atribuições e objetivos ....................................................................................................... 20
1.3. Intervalo Post Mortem (PMI) .............................................................................................. 21
1.4. Biomecânica das lesões ...................................................................................................... 23
1.5. Critérios-chave de identificação ......................................................................................... 24
1.5.1. A idade ......................................................................................................................... 26
1.5.2. A estatura..................................................................................................................... 27
1.5.3. A ancestralidade .......................................................................................................... 29
1.5.4. O sexo .......................................................................................................................... 30
1.5.4.1. A pélvis ....................................................................................................................... 32
1.5.4.2. O crânio...................................................................................................................... 34
2.Problemática na estimativa do sexo ........................................................................................ 37
3.Principais métodos de estimativa do sexo ............................................................................... 43
3.1. Método de diagnose sexual probabilística (MDSP) ............................................................ 43
3.2. Análise da função discriminante (AFD)............................................................................... 44
3.3. Métodos na ausência da pélvis. O caso do crânio.............................................................. 44
3.4. Aplicabilidade ao universo português ................................................................................ 46
4.Materiais e métodos ................................................................................................................ 47
4.1. A coleção de esqueletos ..................................................................................................... 47
4.2. Análise estatística ............................................................................................................... 52
5.Resultados ................................................................................................................................ 53

2
5.1. Fiabilidade das características métricas analisadas ........................................................... 56
5.2. Análise qualitativa .............................................................................................................. 65
5.3. Discussão dos resultados.................................................................................................... 70
5.3.1.1. Limitações .................................................................................................................. 71
5.3.1.2. Perspetivas futuras .................................................................................................... 72
Considerações Finais ................................................................................................................... 73
Referências Bibliográficas ........................................................................................................... 75
Anexos ......................................................................................................................................... 96
Associação sexo e variáveis métricas ........................................................................................ 97
Associação sexo e variáveis morfológicas ............................................................................... 101

3
Declaração de honra
Declaro que a presente tese é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro
curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros
autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da
atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências
bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a
prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Porto, 30 de setembro de 2021

4
Agradecimentos
A realização desta dissertação só foi possível com o apoio de várias pessoas que ficarão
sempre marcadas na minha memória e é a vós que a dedico.
À Prof. Dra. Inês Caldas, por me suscitar o interesse em Antropologia Forense e propor
o desafio de escrever esta dissertação, pelo auxílio na concretização dos objetivos da
investigação e recomendações.
À Prof. Dra. Áurea Carvalho, por aceitar o convite de coorientar, pelo espírito crítico e
orientações. Pelo auxílio na obtenção de dados na CESPU – Associação Portuguesa de
Ciências Forenses).
Aos docentes e funcionários dos estabelecimentos de ensino por onde passei, que de
alguma forma auxiliaram no meu crescimento e marcaram a minha passagem pelos
mesmos.
Não fazia sentido ser de outra forma senão dedicar integralmente esta dissertação a
quem me atura desde sempre, à minha família, e em especial aos meus maiores
exemplos: a minha mãe e avó. Agradeço todo o esforço e dedicação para que o meu
percurso académico fosse possível, porque sempre me ensinaram a lutar pelos meus
sonhos e a não desistir mesmo quado parece que o mundo está contra nós, pelo apoio
incondicional nas minhas vitórias, e o carinho nas minhas derrotas. Ao Joel, Bruno e Spi
pelo carinho, apoio e por estarem presentes em todos os momentos.
Ao meu sensei, por fazer parte do meu crescimento desde que me conheço, que mesmo
longe está sempre presente no meu pensamento.
Ao Xico e à Gabi, por estarem desde o início ao meu lado e por terem tornado o meu
percurso académico inesquecível.
Aos meus afilhados, pela amizade, incentivo e compreensão, e por me fazerem querer
dar ser sempre o meu melhor em tudo o que faço.
Aos meus amigos e colegas de trabalho, Bruno e Sofia, agradeço por aturarem o meu
mau feito, pela compreensão e apoio moral na reta final.
À minha salva-vidas Eunice, que está sempre à distância de uma SMS com as palavras
certas para cada momento, cheia de uma energia contagiante e com uma personalidade
altruísta que me faz acreditar na humanidade.

5
Ao Mr. Wolf, não sei se algum dia conseguirei agradecer-te o apoio incondicional e
colaboração na realização desta dissertação, mas, principalmente, por fazeres parte da
minha vida, por segurares a minha mão quando estou prestes a desistir. Por, no meio
do meu caos e desordem, veres em mim alguém merecedor do teu amor e carinho. Esta
é mais uma conquista que partilho contigo.
Por último, mas não menos importante, um agradecimento aos defuntos que, através
dos seu restos esqueletizados, tornaram possível esta dissertação de mestrado.

A vocês devo quem sou e o que sou...

6
Resumo
A Antropologia Forense desempenha um papel relevante no processo de identificação
de indivíduos, quando na presença de restos esqueletizados minimamente conservados.
O processo de análise torna-se mais eficaz em determinados tipos de ossos constituintes
do esqueleto humano, pois estes possuem estruturas particulares que podem fornecer
dados suficientes para a estimativa do sexo de um indivíduo.
Estimar o sexo é importante, pois, para além da estimativa de outros parâmetros, como
a idade e ancestralidade, depender deste, em termos de identidade reduz a
possibilidade de identificação para metade. Apesar da enorme e variada informação que
existe nesta área, existe alguma confusão em termos de quais as melhores técnicas a
aplicar em concreto na população portuguesa.
Assim, este estudo pretende analisar o dimorfismo sexual a partir da medição dos
crânios e pélvis de restos humanos esqueletizados do sexo masculino e feminino,
pertencentes à Coleção de Esqueletos Identificados da CESPU. Trata-se de uma coleção
contemporânea, constituída por esqueletos de nacionalidade portuguesa.
Com o nosso estudo foi possível concluir que, na estimativa do sexo em indivíduos
contemporâneos de ancestralidade portuguesa, as características anatómicas do crânio
com maior eficácia são a glabela, o ângulo mandibular, o comprimento do crânio, a
altura facial e a distância do buraco-mentoriano DRT/ESQ; as características anatómicas
do crânio com menor eficácia são: a margem supra-orbital e o relevo nucal. Em relação
à pélvis, o estado de conservação da amostra não permitiu a recolha adequada de
medições. Acreditamos ter mostrado que é possível estimar o sexo em indivíduos
contemporâneos de ascendência portuguesa a partir do crânio.

Palavras-chave: Antropologia Forense; Perfil biológico; Dimorfismo sexual; Pélvis;


Crânio

7
Abstract
Forensic Anthropology plays a relevant role in the process of identifying individuals,
when in the presence of minimally conserved skeletonized remains. The analysis
becomes more effective in certain types of bones that make up the human skeleton, as
they have particular structures that can provide enough data to estimate the sex of an
individual.
Estimating sex is important because, in addition to estimating other parameters, such
as age and ancestry, relying on it in terms of identity reduces the possibility of errneous
identification. Despite the enormous and varied information that exists in this area,
there is some confusion in terms of which are the best techniques to apply specifically
to the Portuguese population.
Thus, this study intends to analyze the sexual dimorphism from the measurement of
skulls and pelvises of male and female skeletonized human remains, belonging to the
Identified Skeleton Collection of CESPU. This is a contemporary collection, consisting of
skeletons of Portuguese nationality.
The most effective anatomical characteristics are: the glabella, mandibular angle, skull
length, facial height and distance from the mentor hole LEFT/RIGHT.The less efficient
anatomical characteristics are: the supra-orbital margin, the nuchal relief and the pre-
auricular sulcus. Unfortunately, regarding the pelvis, the conservation status of the
sample did not allow adequate measurements. We believe we have shown that it is
possible to estimate the sex in contemporary individuals of Portuguese ancestry using
the skull.

Key-words: Forensic Anthropology; Biological profile; Sexual dimorphism; Pelvis; Skull

8
Índice de Figuras

FIGURA 1 – VISÃO ANTERIOR DA BACIA HUMANA (MODIFICADO DE: MCKINLEY E O’LOUGHLIN, 2005) ......... 34
FIGURA 2 – EXPRESSÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO RELEVO NUCAL, APÓFISES MASTÓIDES, FORMA DO REBORDO
DA ÓRBITA, GLABELA E O MENTUM DO CRÂNIO HUMANO (ADAPTADO DE BUIKSTRA E UBELAKER, 1994) 35

FIGURA 3 – RESUMO DOS ASPETOS A TER EM CONTA NO EXAME PRELIMINAR DOS RESTOS ESQUELÉTICOS ....... 36
FIGURA 4 – RESTOS ESQUELETIZADOS DA COLEÇÃO DA CESPU RETIRADOS DE UMA CAIXA FUNERÁRIA DE ZINCO
............................................................................................................................................. 47
FIGURA 5 – RESTOS ESQUELETIZADOS DA COLEÇÃO DA CESPU EXPOSTOS EM MESA ................................... 48
FIGURA 6 – RESTOS ESQUELETIZADOS DA COLEÇÃO DA CESPU PREVIAMENTE LIMPO E MONTADO DE FORMA
ANATÓMICA ............................................................................................................................ 51

9
Índice de Tabelas

TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS PÉLVICAS ............................................ 49


TABELA 2 – CLASSIFICAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS CRANIANAS E MANDIBULARES MASCULINA 50
TABELA 3 – TABELA ILUSTRATIVA DOS DADOS MORFOLÓGICOS RELATIVOS AO CRÂNIO DA COLEÇÃO DE
ESQUELETOS DA CESPU ............................................................................................................ 53

TABELA 4 – TABELA ILUSTRATIVA DOS DADOS MORFOLÓGICOS RELATIVOS À PÉLVIS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS
DA CESPU.............................................................................................................................. 54

TABELA 5 – ESTADO DE CONSERVAÇÃO DA PÉLVIS E DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA CESPU.... 55


TABELA 6 – FIABILIDADE DO SEXO CONHECIDO DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA CESPU ............................. 56
TABELA 7 – RESULTADOS DA ANÁLISE DESCRITIVA RELATIVOS À ALTURA FACIAL MÉDIA DA COLEÇÃO DE
ESQUELETOS DA CESPU ............................................................................................................ 57

TABELA 8 – INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS ANATÓMICAS DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA


CESPU NA DIAGNOSE SEXUAL – ALTURA FACIAL ............................................................................ 58
TABELA 9 – RESULTADOS DA ANÁLISE DESCRITIVA RELATIVOS AO COMPRIMENTO MÁXIMO DOS CRÂNIOS DA
COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA CESPU .......................................................................................... 59

TABELA 10 – INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS ANATÓMICAS DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA


CESPU NA DIAGNOSE SEXUAL – COMPRIMENTO MÁXIMO .............................................................. 60
TABELA 11 – INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS ANATÓMICAS DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA
CESPU NA DIAGNOSE SEXUAL – DISTÂNCIA SÍNFISE MENTONIANA-BURACO MENTONIANO DRT/ESQ.... 61
TABELA 12 – RESULTADOS DA ANÁLISE DESCRITIVA RELATIVOS À NASION-PONTO A DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO
DE ESQUELETOS DA CESPU ....................................................................................................... 62

TABELA 13 – INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS ANATÓMICAS DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA


CESPU NA DIAGNOSE SEXUAL – NASION-PONTO A ........................................................................ 63
TABELA 14 – RESULTADOS DA ANÁLISE DESCRITIVA RELATIVOS AO PORION DRT/ESQ DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO
DE ESQUELETOS DA CESPU ....................................................................................................... 64

TABELA 15 – INFLUÊNCIA DAS CARACTERÍSTICAS ANATÓMICAS DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA


CESPU NA DIAGNOSE SEXUAL – PORION DRT/ESQ ...................................................................... 65
TABELA 16 – CARACTERÍSTICAS RELATIVAS AO ÂNGULO MANDIBULAR DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS
DA CESPU.............................................................................................................................. 66

TABELA 17 – CARACTERÍSTICAS RELATIVAS À GLABELA DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA CESPU 67


TABELA 18 – CARACTERÍSTICAS RELATIVAS À MARGEM SUPRA-ORBITAL DOS CRÂNIOS DA COLEÇÃO DE
ESQUELETOS DA CESPU ............................................................................................................ 68

10
TABELA 19 – CARACTERÍSTICAS RELATIVAS À CONCAVIDADE SUBPÚBICA DAS PÉLVIS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS
DA CESPU.............................................................................................................................. 69

TABELA 20 – CARACTERÍSTICAS RELATIVAS À PÉLVIS ALTA DAS PÉLVIS DA COLEÇÃO DE ESQUELETOS DA CESPU 70

11
Lista de abreviaturas e siglas

ADN ....................................................................... ÁCIDO DESOXIRRIBONUCLEICO

AFD ....................................................................... ANÁLISE DA FUNÇÃO DISCRIMINANTE

CEIC ....................................................................... COMISSÕES ÉTICAS DE INVESTIGAÇÃO CLÍNICA

CESPU ................................................................... COOPERATIVA DE ENSINO SUPERIOR POLITÉCNICO E


UNIVERSITÁRIO

CV .......................................................................... MÉTODOS DE VISUALIZAÇÃO COMPUTACIONAL

FASE ...................................................................... FORENSIC ANTHROPOLOGY SOCIETY OF EUROPE

GPA ....................................................................... ANÁLISE DE PROCRUSTES GENERALIZADA

INMLCF ................................................................. INSTITUTOS NACIONAL DE MEDICINA LEGAL E


CIÊNCIAS FORENSES

LDA ........................................................................ ANÁLISE DISCRIMINANTE LINEAR

MDSP .................................................................... MÉTODO DE DIAGNOSE SEXUAL PROBABILÍSTICA

PCA ....................................................................... ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS

PCR ........................................................................ POLYMERASE CHAIN REACTION

PMI ....................................................................... INTERVALO POST MORTEM

SPSS ...................................................................... STATISTICAL PACKAGE FOR SOCIAL SCIENCE

12
Introdução
Ao longo da história, a perceção do Homem e o conhecimento sobre o que o rodeia vão
evoluindo, assim como a definição das ciências que foram sendo criadas até aos dias de
hoje. A antropologia forense é um exemplo disso. Diversos autores debruçaram-se sobra
a sua definição, Cunha (2001) por exemplo, e contribuíram para a sua evolução como
foi o trabalho de Paul Broca (1869-1943) e as obras de Phenice (1969), Stini (1969; 1972),
Giles (1973), Baccino (2005), Ubelaker (2006), e Cunha e Cattaneo (2006). Na
importância da antropologia e aplicabilidade no âmbito das questões jurídicas e médico-
legais destacamos a ação de Aleš Hrdlička (1869-1943) e as obras de Íscan (2001), Byers
(2001), Ubelaker (2006), Cunha e Cattaneo (2006), Cattaneo (2007), e Schever e Black
(2007).
Para Cunha e Cattaneo (2006), a presença de um antropólogo forense no local do crime
e a sua inclusão na investigação apresenta inúmeras mais valias sobretudo em situações
como exumações, levantamento de restos esqueletizados ou cadáveres em elevado
estado de decomposição.
Contudo, não é recorrente o recurso a antropólogos forenses nas situações
supramencionadas. Desta forma, a falta e/ou ausência de experiência e/ou
conhecimento leva ao incorreto manuseamento de restos esqueletizados e à perda de
informação crucial ara a investigação. Neste sentido, recomenda-se que as equipas
multidisciplinares contemplem um antropólogo forense (Cattaneo, 2007; Schever et al.,
2007; Cunha et al., 2006; Ubelaker, 2006; Chever, 2002).
Neste estudo, vamos focar-nos na Antropologia Forense e a sua importância para a
estimativa do sexo através de técnicas métricas envolvendo o crânio e a pélvis de
esqueletos humanos. É o facto de a antropologia forense ser pouco referenciada em
contexto jurídico e médico-legal, o que nos motiva. Achamos crucial a integração destes
profissionais nos locais de crime e nas investigações afetas.
Este texto encontra-se dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo refere-se ao
enquadramento teórico da problemática em análise e pretende-se que defina o que é
antropologia forense e quais as suas aplicações. O segundo capítulo ocupa-se da
formulação da problemática através da apresentação das questões de investigação. O

13
terceiro capítulo descreve a amostra, as técnicas e quais os métodos e instrumentos de
recolha de dados, assim como os procedimentos e o tratamento e análise dos dados.
Por fim, o quarto e último capítulo, destina-se à apresentação e discussão dos
resultados, assim como uma comparação com outros estudos.

14
1. A Antropologia Forense e suas aplicações
Ao longo da existência humana, a perceção e o conhecimento do Homem sobre o que o
rodeia vão-se alterando. A forma como ele vê o Mundo muda constantemente e isso
reflete-se nas áreas de conhecimento que ele definiu para explicar os fenómenos que o
rodeiam e que contribuem para a construção de uma existência mais segura, mais
cómoda e mais sustentável. Em suma, o conhecimento humano raramente estagna e as
contribuições de todos nós – por mais pequenas que elas sejam – tornam as áreas de
conhecimento em corpos dinâmicos e mutáveis, de acordo com as necessidades
presentes dos seus investigadores. A antropologia é um exemplo disso.

A antropologia é o estudo da Humanidade através do método científico. Procura uma


visão coerente da nossa espécie na sua dinâmica evolutiva. Consiste em cinco grandes
áreas interrelacionadas: antropologia física/biológica; arqueologia; antropologia
cultural/social; linguística; e antropologia aplicada. O objetivo da antropologia é dar-nos
uma melhor compreensão da história da evolução humana, a diversidade cultural e
unidade biológica da nossa espécie. Os antropólogos olham o ser humano como algo
complexo herdado da informação genética e o comportamento social aprendido num
meio cultural, em que a linguagem simbólica articulada nos distingue dos grandes
macacos. Os genes, os fósseis, os artefactos, os monumentos, as línguas e as suas
culturas são os objetos de estudo da antropologia, o que obriga a uma visão holística e
interdisciplinar para uma melhor compreensão da nossa complexidade. Neste processo,
a antropologia incorpora dados de inúmeras áreas de conhecimento, tais como a
geologia, paleontologia, psicologia, história, entre muitas outras. Tendo o ser humano
como o seu foco, a antropologia faz a mediação entre as ciências naturais e sociais ao
incorporar as humanidades. Isto faz com que a antropologia seja um campo único de
estudo e uma fonte rica de aplicação de factos, conceitos, métodos, teorias e
perspetivas (Birx, 2006).

A antropologia física/biológica é o ramo da antropologia que estuda a evolução e


diversidade dos primatas, com ênfase na espécie humana. Isto é feito através do estudo
da anatomia comparativa e do estudo da variação de primatas humanos e não humanos
– morfologia e genética, por exemplo – e comportamento. Os antropólogos físicos

15
especializam-se em partes específicas da biologia do esqueleto, assim como da sua
anatomia. Os biólogos do esqueleto normalmente especializam-se em áreas amplas,
como são a morfologia funcional, bio-arqueologia, paleopatologia e antropologia
forense. A antropologia forense é considerada um subcampo aplicado da antropologia
física/biológica e pode ser definida como a aplicação do método e da teoria
antropológica a questões de interesse jurídico, particularmente aquelas que se
relacionam com a recuperação e análise do esqueleto. A prática da antropologia forense
frequentemente envolve estimar sexo, ancestralidade, idade e estatura a partir de
material esquelético de indivíduos desconhecidos. Esses parâmetros biológicos
estimados denominam-se perfil biológico, que é depois comparado aos registos de
pessoas desaparecidas na tentativa de identificar a pessoa a quem pertencem os restos
mortais. Os antropólogos forenses também se especializam na busca e recuperação de
restos mortais, na análise de traumas esqueléticos e outras alterações que podem ser
relevantes para a causa e forma de morte do indivíduo, e na facilitação da identificação
pessoal através do reconhecimento de traços e características que podem estar
associados a um determinado indivíduo (Christensen, et al., 2014).

As definições de antropologia forense foram variando com o tempo, dependendo do


contexto (Blau et al., 2009). Definida inicialmente por Stewart (1979), a antropologia
forense era “o ramo da antropologia física que, para fins forenses, trata da identificação
de restos mortais mais ou menos esqueletizados conhecidos ou suspeitos de serem
humanos”. Em 1977, a American Board of Forensic Anthropology (http://theabfa.org/)
define antropologia forense como “a aplicação da ciência da antropologia física ou
biológica ao processo legal. Os antropólogos físicos ou biológicos especializados em
ciência forense concentram os seus estudos principalmente no esqueleto humano”.

Segundo Douglas Ubelaker (2020), a antropologia forense refere-se à “aplicação de


conhecimento e metodologia em antropologia física para problemas médico-legais”.
Geralmente, estes problemas envolvem a identificação de restos mortais recuperados e
perceber o que aconteceu com eles. Essa interpretação consiste em: determinar se o
vestígio recuperado representa tecido esquelético ou dentário; reconhecer espécies;
estimar a idade na morte, sexo, estatura em vida, tempo desde a morte, e

16
ancestralidade; avaliar provas para identificação futura; avaliar alterações pós-morte
(tafonomia); e interpretar qualquer evidência de adulteração.

Cunha (2001) refere-se a esta ciência como o ramo das ciências médico-legais que
analisa os restos esqueletizados humanos, tendo como objetivo principal a obtenção de
uma identificação positiva. Atualmente, as funções de um Antropólogo Forense não se
resumem exclusivamente ao estudo de restos esqueletizados, podendo ser-lhe também
pedido a investigação de cadáveres em elevado estado de decomposição, carbonizados
e, cada vez mais, na identificação de vivos indocumentados em contextos de imigração
ilegal ou pedidos de asilo, por exemplo (Cunha et al., 2006; Introna et al., 2006).

1.1. Breve contextualização histórica


A antropologia forense é considerada como uma disciplina científica jovem com quatro
períodos de desenvolvimento geralmente aceites e reconhecidos (Stewart, 1979;
Thompson, 1982; Sledzik et al., 2007). Antes da década de 1940, a prática da
antropologia forense era limitada a anatomistas, médicos e alguns antropólogos físicos
que trabalhavam principalmente como professores universitários ou curadores de
museus e ocasionalmente consultavam restos mortais esqueletizados para aplicação da
lei. Durante este período formativo, não havia instrução formal em aplicações forenses
da antropologia física e era pouca a pesquisa publicada. No que diz respeito às
aplicações médico-legais da disciplina, os praticantes eram autodidatas ou treinados
informalmente, e desempenhavam apenas um papel limitado em casos de importância
médico-legal. Foi nessa época que Thomas Dwight (1843-1911), um professor de
anatomia de Harvard, se tornou o primeiro autor a publicar extensivamente trabalhos
sobre tópicos que se tornariam a base da antropologia forense, incluindo métodos de
estimativa de sexo, idade e estatura a partir do esqueleto (Christensen et al., 2014).
Dos anos 40 ao início dos anos 70 do século XX, a atenção dos institutos médico-legais
e ramos militares aumentou com o reconhecimento da utilidade da antropologia
forense na identificação de soldados falecidos da Segunda Guerra Mundial. Eventos
antropológicos importantes dessa época incluíram dois trabalhos de Wilton Marion
Krogman (1903–1987): Guia para a identificação do material esquelético humano (1939)

17
e O esqueleto humano em medicina forense (1962). Este período também viu um
aumento no desenvolvimento de métodos antropológicos forenses baseados nos restos
mortais de soldados mortos. Muitos desses primeiros estudos constituem a base de
métodos ainda em uso hoje. De 1970 a 1990, o campo tornou-se cada vez mais
profissionalizado. Houve também um aumento significativo na pesquisa, emprego,
aceitação pela comunidade forense e estabelecimento de programas de pós-graduação
especializados em antropologia forense (Christensen et al. 2014).
Hoje em dia, a antropologia forense é uma disciplina forense bem estabelecida com uma
expansão recente e significativa em atenção e amplitude, facilitada em grande parte
pelo aumento de interesse do público – principalmente graças a várias séries de
televisão e filmes –, dos meios de comunicação social e dos vários profissionais do setor.
Tem havido um enorme aumento nas pesquisas e publicações na área, juntamente com
o desenvolvimento de vários programas de pós-graduação com currículos
especificamente adaptados para preparar os alunos para carreiras em antropologia
forense. Historicamente, os antropólogos forenses eram apenas consultados para
estimar um perfil biológico quando os restos mortais estavam quase ou completamente
esqueletizados e uma autópsia padrão de tecidos moles não podia ser realizada. Hoje, a
maior amplitude e escopo desta disciplina científica inclui não apenas essas análises
tradicionais, mas também a identificação pessoal, análise de trauma, análise
tafonómica, estimativa do intervalo pós-morte e a aplicação de conhecimento
antropológico à investigação de desastres em massa e violações do direito internacional.
Além disso, os antropólogos forenses estão cada vez mais envolvidos na análise de
indivíduos recentemente falecidos e em investigações envolvendo viventes
(Christensenet al. 2014).

18
1.1.1. A antropologia forense em Portugal
Portugal segue a mesma dinâmica da disciplina noutros países da Europa Ocidental
(Cunha, 1994). Na segunda metade do século XIX publicaram-se estudos a partir da
descoberta de ossadas humanas no contexto arqueológico, tendo como objetivo
descobrir características desiguais entre populações do passado. Entre os primeiros
autores a abordarem este tema destaca-se Ferraz de Macedo (1845-1907) que
desenvolveu estudos relacionados com as temáticas criminais (Corrêa, 1924). Também
ajudou na criação da primeira coleção de crânios identificados do Museu Bocage,
possibilitando assim o desenvolvimento da antropologia física em Portugal (Santos,
1999-2000).
Eusébio Tamagnini (1880-1972) fica responsável pela direção da escola antropológica
de Coimbra durante a primeira metade do século XX, dedicando o seu percurso
académico na elaboração de metodologias mais modernas. Também auxiliou na
construção de várias coleções, entre elas, a de Esqueletos Identificados da Universidade
de Coimbra, reconhecida internacionalmente (Santos, 2005). Até à obtenção de
conhecimentos em Antropologia Forense como os que são possíveis de obter hoje, as
perícias legais em restos esqueletizados eram realizados por peritos médicos que
exerciam funções nos Institutos Nacionais de Medicina Legal e Ciências Forenses
(INMLCF) do Norte, Centro e Sul (Cunha, 2008).
Em 1985, o Instituto de Antropologia é fundado na Universidade de Coimbra (Cunha,
2002). Só nos finais dos anos 90 é que a antropologia forense é posta em prática de
forma contínua. A sua utilização está presente nos Serviços de Patologia Forense
existentes no INMLCF (Cunha et al., 2007). No entanto, não podemos falar da
antropologia forense atual sem referir Eugénia Cunha, que tem tido um desempenho
fundamental para a evolução desta disciplina científica em Portugal. São várias as
publicações relacionadas com o tema, estando neste momento a dirigir a Delegação do
Sul do INMLCF, tendo anteriormente presidido a Forensic Anthropology Society of
Europe (FASE) (Cunha, 2008), não esquecendo a sua experiência em missões
internacionais, com o intuito de recuperar e identificar restos esqueletizados de vítimas
em conflitos armados (Cunha e Pinheiro, 2007).

19
1.2. Atribuições e objetivos
Na era atual da antropologia forense, um antropólogo forense precisa ter uma formação
especializada e avançada. Para interpretar os resultados do estudo do material
esquelético, um antropólogo forense deve entender como e porque os seres humanos
variam ao longo da história, geografia, entre os sexos, durante a vida de um indivíduo e
entre indivíduos. Assim sendo, é importante compreender não apenas os aspetos
técnicos da realização de um exame antropológico forense, mas também os
fundamentos evolutivos, biológicos, biomecânicos e culturais da variação esquelética, a
fim de compreender e interpretar os resultados. Normalmente envolve um amplo
conhecimento em antropologia, bem como em ciências físicas e naturais. A experiência
de trabalho ideal inclui trabalhar com coleções de esqueletos, orientação por um
antropólogo forense experimentado e experiência prática com casos forenses (Gonçalo
Carnim, comunicação pessoal, 2021). É frequente os antropólogos forenses
colaborarem com profissionais de outras disciplinas científicas, sendo por isso
importante entender como as análises antropológicas se integram e afetam outros
exames forenses, incluindo biologia molecular, patologia, entomologia, química,
arqueologia, geologia e botânica. Também é cada vez mais importante compreender os
desafios jurídicos, culturais e científicos relacionados às várias análises antropológicas
forenses (Christensen et al., 2014).
Os antropólogos forenses são chamados à ação numa multitude de casos e contextos.
Os seus objetivos são ajudar: 1) à identificação humana; 2) na determinação das causas
e circunstâncias de morte e; 3) na determinação de fenómenos ante, peri e post mortem
(antes, à altura e após a morte). No entanto, são as circunstâncias particulares de cada
caso que ditam quais os procedimentos a serem empregados. De qualquer maneira, é
função do antropólogo forense selecionar as técnicas adequadas para resolver os
problemas apresentados por cada caso individual. A seleção da metodologia no trabalho
forense começa com a recuperação das ossadas. Ter conhecimento do local exato onde
os restos mortais estão enterrados exige aplicar técnicas arqueológicas para remover o
solo circundante, deixando tudo o resto in situ. É necessário documentar o mais possível
o local, através do uso de fotografias, mapeamento e anotações. Se os restos mortais

20
estiverem enterrados em localização desconhecida, podem ser necessárias técnicas de
pesquisa remota, tais como o uso de radar de penetração no solo, teste
eletromagnético, resistividade do solo e até mesmo sondas manuais. O terreno e a
topografia podem ser fatores-chave na seleção destas abordagens. Estas técnicas de
pesquisa remota são excelentes em áreas rurais com solos e topografia homogênea.
Para além do que já falamos, os restos mortais podem ser encontrados em muitos
ambientes diferentes e cada um requer uma consideração cuidadosa das técnicas de
recuperação adequadas. Restos esqueletizados localizados na superfície do solo não
requerem abordagens arqueológicas, mas exigem documentação cuidadosa e remoção
de detritos para que a posição das ossadas possa ser claramente determinada. Os
ambientes marinhos apresentam desafios especiais e podem ditar o uso de
equipamentos de mergulho. Finalmente, em quaisquer das situações, a recuperação de
restos humanos exige documentação adequada, embalagem, e controlo dos vestígios,
de forma a garantir a integridade de todo o processo (Blau et al. 2009; Kattzenber et al.,
2008; Larsen, 2010; Ubelaker, 1999; Ubelaker et al. 2020).

1.3. Intervalo Post Mortem (PMI)


Uma das etapas mais importantes – e também das mais difíceis – do exame
antropológico é a estimativa do Intervalo Post Mortem (PMI). Há muito que se procura
uma fórmula de decomposição para calcular o PMI de restos mortais, mas até agora
tem-se tornado impossível de definir por causa da miríade de fatores associados à
decomposição humana. À medida que se realizam mais estudos e mais conhecimento é
adquirido acerca da decomposição de restos mortais, chegamos cada vez mais perto de
sermos capazes de construir um modelo funcional que abranja todos os parâmetros
tafonómicos que influenciam a decomposição (Vass, 2011).
Existem quatro fatores amplamente reconhecidos que influenciam a taxa e a integridade
final do processo de decomposição: a temperatura; a humidade; o pH e pressão parcial
de oxigénio (Clark et al, 1997). A temperatura é influenciada pelas estações do ano,
altitude, latitude, profundidade de enterramento, presença de água, movimento do ar,
vegetação, invólucros ou roupas, entre outros. A temperatura e a taxa de decomposição
estão ligadas pela Lei de Van't Hoff, também chamada de lei de 10 ou Q10, que afirma

21
que a velocidade das reações químicas (decomposição enzimática ou catalítica, etc.)
aumenta duas ou mais vezes para cada aumento de temperatura de 10°C (Vass et al.,
1992). A presença de água (chuva, humidade, corpos de água ou o próprio corpo)
também tem efeitos profundos na taxa de decomposição. Atributos importantes
associados à água incluem: 1) uma temperatura específica que estabiliza todas as outras
temperaturas; 2) capacidade tampão que modera os efeitos das mudanças locais de pH;
3) fontes de iões de hidrogénio necessárias para numerosas reações bioquímicas; 4)
efeito como diluente; e (5) capacidade de agir como solvente para moléculas
polarizadas. O pH (acidez/alcalinidade) é outro parâmetro que afeta as reações químicas
intracelulares e a capacidade catalítica das enzimas (Vass et al., 1992). A proteólise
(decomposição aeróbia da superfície) normalmente forma ambientes alcalinos (Vass et
al., 1992) (bem acima do pH 9,0 na superfície), enquanto os enterros anaeróbicos
tendem a ser ácidos devido à fermentação bacteriana e à libertação de ácidos orgânicos.
Essas grandes mudanças no pH afetam não apenas a flora microbiana, mas também o
crescimento da vegetação e as reações químicas. O quarto fator mais amplamente
reconhecido associado à decomposição é a pressão parcial de oxigénio que, como a
temperatura, é influenciada pela profundidade de enterramento, submersão em água e
grandes altitudes, além da presença ou formação de saponificação (Forbes et al., 2004;
Forbes et al., 2005). A falta de oxigénio ao redor do corpo tende a retardar a
decomposição devido ao atraso dos processos oxidativos. Normalmente a água e o solo
são deficientes em oxigénio, o que diminui o potencial de redução/oxidação (redox) e
retarda todo o processo ao favorecer a degradação anaeróbia. Solos mais secos, se
oxigenados, tendem a ter um potencial redox mais alto, acelerando a decomposição em
túmulos rasos e consoante o tipo de solo. Outros fatores entram em jogo durante a
decomposição de restos mortais que também afetam a velocidade dessa decomposição.
Estes incluem: a presença ou ausência de roupas ou invólucros; ferimentos; atividade
carnívora; atividade de insetos e acesso de insetos ao cadáver; doenças; percentagem
de gordura corporal ou massa corporal; vegetação na área, introdução de produtos
químicos e ambientes internos vs. externos, entre outros (Vass, 2011).

22
Achamos importante terminar este ponto com uma referência às características do
próprio organismo e a atividade humana no processo de decomposição de restos
humanos. Assim, é importante considerar a relação observada entre a decomposição
dos tecidos moles e duros e de algumas características tais como: a idade, o sexo, a
constituição física, as condições patológicas, e a causa de morte. O estado físico no
momento em que ocorre a morte, como é o caso de indivíduos fisicamente debilitados
ou que morreram de infeções bacterianas – como a septicemia – e vítimas com lesões
que criam zonas de entrada para a proliferação de fungos e bactéria, apresentam níveis
de decomposição mais rápidos, o que não ocorre em casos de envenenamento. O fator
idade também influencia a deterioração dos restos esqueletizados, já que a estrutura e
rigidez dos ossos vai-se alterando durante o nosso ciclo de vida. No caso de jovens e
idosos, a constituição óssea é mais frágil, logo desintegram-se com mais facilidade e
rapidez. Situações como: terrenos muito cultivados; a utilização de maquinaria; e a
própria escavação, exumação e transporte; pode fraturar ou deformar os restos
esqueletizados devido à pressão exercida e às alterações químicas e físicas nos ossos,
que, se não forem manuseados por profissionais provocam alterações post mortem
(Antunes-Ferreira et al., 2008).

1.4. Biomecânica das lesões


Na determinação da identidade e da causa de morte é frequente ao antropólogo forense
deparar-se com lesões nas ossadas. Estas marcas de violência são essências para
decifrar: episódios ocorridos durante a vida (ante mortem); acontecimentos
diretamente relacionados com a altura da morte (peri mortem); e alterações inflingidas
depois da morte (post mortem). Conseguir distinguir estes três tipos de lesões é
imprescindível a qualquer análise forense, embora este objetivo seja muitas vezes muito
difícil ou até inalcançável (Cunha et al., 2005/2006).
Se o antropólogo forense consegue detetar sinais de resposta osteogénica, então a lesão
ocorreu durante a vida do indivíduo, já que o osso vivo reage ao trauma de duas formas:
destruição óssea e formação de osso novo. Numa lesão antiga as cicatrizes de
remodelação óssea são de fácil identificação (Cunha, 2006). As lesões ocorridas pouco
tempo antes da morte do indivíduo, como em casos de privação de liberdade ou de

23
violação de direitos humanos, são muito difíceis de identificar, já que o osso não teve
tempo para reagir à agressão. Assim sendo, é muito importante conhecer o tempo
necessário a uma reação óssea, que pode depender de vários fatores: idade; estado de
saúde e tipo de osso. Se a lesão ocorreu muito pouco tempo antes da morte, pode ser
impossível distingui-la de lesões à altura da morte (Ortner, 2003). Também são
importantes as lesões de cariz cultural – em que saber a ancestralidade do individuo é
fundamental – ou terapêutico – intervenções cirúrgicas ou tratamentos – para a
identificação forense (Cunha et al., 2016). As lesões ocorridas à altura da morte são das
mais importantes por poderem estar diretamente relacionadas com a mesma.
Normalmente o osso reage de uma forma típica: as superfícies onde o osso não resistiu
ao impacto tendem a ficar irregulares e com o aspeto rasgado. Estes sinais de violência
também dependem do objeto utilizado para causar as lesões e serão compatíveis com
este. Num exame de antropologia forense são encontrados maioritariamente três tipos
de lesões perimortais: armas de fogo (lesões perfurantes ou perfuro-contundentes);
traumas contundentes; e lesões cortantes ou incisivas. Cada uma destas lesões tem um
padrão próprio e o seu conhecimento permite identificar o episódio de violência
subjacente. As lesões que aconteceram depois da morte caracterizam-se pela ausência
de resposta óssea. Podem ter sido provocadas por desmembramentos, mutilações e
desarticulações. A fratura dos ossos pode também ser provocada por animais, plantas,
o sedimento onde se depositou a ossada e várias reações antropogénicas. A disciplina
científica que estuda as modificações sofridas nos restos humanos após a morte tem o
nome de tafonomia (Berryman et al., 1998; Cattaneo et al., 2004; Cunha, 2006; Cunha
et al, 2005/2006; Maples, 1986; Ortner, 2003; Rodriguez‑Martin, 2006; Sauer, 1998;
Ubelaker, 1991; Ubelaker et al., 1995).

1.5. Critérios-chave de identificação


Depois de recolhidos os restos esqueletizados, cabe ao antropólogo forense determinar
o máximo de informação possível a partir das amostras, de forma a dar resposta às
exigências da situação específica em que cada caso se insere. Pode parecer óbvio, deve
primeiro determinar sem dúvidas se os restos recolhidos são de natureza humana ou
animal. Normalmente, o reconhecimento de restos mortais é feito com exame visual

24
por um profissional experiente. No entanto, a fragmentação e/ou evidência de alteração
extensa post mortem (tafonómica) das ossadas pode criar desafios. Utilizar um
microscópio eletrónico de varredura (Scanning Electron Microscope) e/ou
espectroscopia dispersiva de energia (Energy Dispersive Spectroscopy) podem ser úteis
para distinguir fragmentos de osso ou dente de outros materiais. As técnicas histológicas
que examinam a estrutura interna no nível microscópico às vezes podem distinguir
fragmentos não humanos dos de humanos. O radio-imuno-ensaio de proteínas (pRIA)
oferece um procedimento que pode determinar espécies de ossos e dentes. A natureza
dos vestígios, os recursos financeiros disponíveis e o problema inicial determinam quais
das abordagens já referidas devem ser empregues (Blau et al. 2009; Kattzenber et al.,
2008; Larsen, 2010; Ubelaker, 1999; Ubelaker et al. 2020).
Após a determinação de que as ossadas são de ser humano, o antropólogo forense tem
ao seu dispor métodos comparativos e reconstrutivos para a melhor identificação do
indivíduo em questão. Nos métodos comparativos, vai-se focar nas características
individualizantes das ossadas, nomeadamente: variações anatómicas e existência de
material médico (Christiensen et al., 2014). Os requisitos fundamentais para o sucesso
deste método são a presença de características raras – quanto menor a frequência na
generalidade da população, maior a possibilidade de identificação – e a existência de
registos antes da morte que estabeleçam sem margem para dúvidas estarmos na
presença das ossadas de um determinado indivíduo (Christiensen et al., 2014). Muitas
vezes não é possível obter uma identificação por este método comparativo, pelo que o
antropólogo forense tem de recorrer a métodos gerais reconstrutivos, ou seja,
reconstruir as características gerais do indivíduo para depois tentar uma análise
comparativa. A estas características gerais dá-se o nome de perfil biológico e ele é
composto por quatro critérios-chave – idade, estatura, ancestralidade e sexo – (Cardoso,
2013; Christiensen et al., 2014), que passamos a explicar:

25
1.5.1. A idade
A estimativa da idade à altura da morte é um componente crítico do perfil biológico, já
que mesmo as faixas etárias mais amplas podem ajudar a focar a investigação da
identidade de restos humanos desconhecidos. Embora faixas etárias restritas sejam
desejáveis, nem sempre são possíveis. A dificuldade em estimar a idade de morte de um
esqueleto decorre do facto de que nossa idade cronológica raramente corresponde
exatamente à nossa idade fisiológica (quantos anos nossos corpos parecem ter como
resultado do desenvolvimento e subsequente degeneração) (Rogers, 2016). O
envelhecimento esquelético é um processo variável e não linear, resultante da saúde
individual, nutrição, genética, desgaste mecânico e exposição a fatores ambientais
(Rogers, 2016). Para abranger a extensão da variabilidade individual inerente ao
processo de envelhecimento, as estimativas de idade esquelética são sempre relatadas
em intervalos. Em contexto forense é necessário equilibrar uma estimativa de idade
restrita, capaz de eliminar alguns membros da lista de pessoas desaparecidas, com uma
ampla faixa etária que contabiliza a variação individual e abrange a verdadeira idade do
falecido. Se o intervalo estimado de idades for muito grande, mais tempo, esforço, e
dinheiro, serão necessários para testar todas as combinações potenciais para
identificação de ADN. Se a avaliação da idade no momento da morte for muito restrita,
a idade real do falecido pode não ser incluída na estimativa, fazendo com que as
autoridades eliminem incorretamente aquele indivíduo como uma possível
correspondência com os restos mortais (Rogers, 2016).
Estimar a idade dos restos do esqueleto apresenta vários problemas teóricos e práticos
(Rogers, 2016): 1) estimativa da idade de subadultos versus adultos, incluindo a
estimativa da idade em indivíduos vivos; 2) idade cronológica versus idade fisiológica; 3)
assimetria lateral; 4) análise estatística das mudanças no esqueleto relacionadas à
idade; 5) combinar informações de vários indicadores de idade; e 6) admissibilidade em
tribunal. A última década viu a introdução, modificação e teste de várias novas técnicas
para estimativa da idade esquelética, incluindo algumas que se concentraram em
superfícies e estruturas anatómicas ainda não totalmente exploradas (Rogers, 2016).
Ganham interesse abordagens alternativas para estimativa de idade que dependem de

26
propriedades biomecânicas ou elementares de ossos e dentes, particularmente porque
parecem produzir faixas etárias pequenas que não podem ser reproduzidas por métodos
macro e microscópicos (Rogers, 2016). No entanto, o estudo da estimativa da idade à
altura da morte sofre de dois lapsos principais: 1) a incapacidade dos investigadores de
reconhecer que os ossos individuais são parte de um sistema funcional maior; e 2) a
especialização, que leva a uma divisão metodológica entre morfológica, histológica, e
técnicas radiológicas (Rogers, 2016). Seria ideal que estudos futuros se focassem nas
mudanças relacionadas à idade em diferentes partes de um único esqueleto usando
uma combinação de técnicas analíticas, com o objetivo de desenvolver melhores
métodos de estimativa de idade, identificando (Rogers, 2016): 1) áreas do esqueleto que
melhor refletem a idade cronológica; e 2) abordagens capazes de identificar as
mudanças relacionadas com a idade de uma maneira significativa. Sugere-se o
estabelecimento de coleções de esqueletos modernos documentados em termos de
idade, sexo e ancestralidade, a fim de esclarecer os fatores biológicos e culturais que
influenciam o processo de envelhecimento. Embora as estimativas de idade na paleo-
demografia sejam, em última análise, usadas para finalidades diferentes que na
antropologia forense, e o nível de análise – população versus indivíduo – seja
frequentemente diferente, partilham-se objetivos de maior precisão, confiabilidade e
viés mínimo na avaliação da idade esquelética. Melhorar a validade das técnicas produz
representações mais realistas de populações passadas e perfis biológicos mais corretos
de restos humanos modernos (Rogers, 2016).
1.5.2. A estatura
A estatura de um indivíduo é uma característica biológica facilmente observável e
frequentemente medida. Junto com a idade, sexo, ancestralidade e peso, a estatura é
uma das primeiras coisas que notamos sobre uma pessoa e está incluída em muitos
registos médicos, civis e militares ante mortem. Entre outras informações úteis, as
estimativas de estatura de restos mortais ou partes do corpo auxiliam os esforços das
autoridades para identificar restos mortais de indivíduos desconhecidos. Junto com os
outros parâmetros biológicos mencionados, a estatura do falecido é uma das avaliações
biológicas que podem se mostrar fundamentais para estabelecer a possível identidade

27
dos restos mortais. Caso estejamos em presença de um esqueleto completo, o método
proposto por Dwight (1894) emprega todos os elementos esqueléticos relevantes,
sendo normalmente chamado de método ‘anatómico’. As aplicações desta abordagem
empregam tradicionalmente as técnicas de Fully (1956) ou Fully e Pineau (1960). O
método Fully de estimativa de estatura é o mais intuitivo e compreensível. De acordo
com ele, medem-se todos os elementos do esqueleto que constituem a estatura,
somam-se essas medidas e corrige-se a soma com um valor referente ao tecido mole.
Hoje em dia é incomum fazer-se uma estimativa de altura com base no esqueleto
completo. Normalmente escolhe-se um osso longo do esqueleto apendicular e calcula-
se a estimativa da estatura usando uma medida do comprimento do osso através de
uma fórmula de regressão, sendo a primeira desenvolvida por Pearson (1899). É
normalmente denominado de método ‘matemático’ de estimativa de altura e é um
método simples. Mede-se o comprimento de um osso de membro, seleciona-se a
fórmula de regressão apropriada por sexo, ancestralidade e período temporal, insere-
se a medida na fórmula e temos a estatura estimada (Willey, 2016).
O problema destes dois métodos reside no facto que necessitam de ossos íntegros para
funcionarem. A solução é estimar o comprimento de um osso do membro usando o
fragmento existente, aplicando uma fórmula de regressão. O comprimento estimado do
osso do membro é então usado como se o osso estivesse completo em outra fórmula
de regressão (descrita anteriormente) (Willey, 2016). Como este método depende de
duas estimativas (comprimento do osso do membro e estatura), ele é menos preciso do
que os métodos anteriores e deve ser evitado, se possível. Como um problema adicional,
podemos não ter presentes ossos fragmentados dos membros. Para superar esse
obstáculo, foram empregues outros elementos além dos ossos dos membros para
estimar a estatura. Desde o início da década de 80 do século XX, calcularam-se fórmulas
de regressão para estimar a estatura a partir de medidas do crânio (Chiba et al. 1998;
Cui et al., 2013), esterno (Macaluso et al., 2014), vértebras (Tibbetts, 1981), sacro
(Karakas et al., 2011, Torimitsu et al., 2014), clavícula, escápula, inominado (Peng et al.,
1983, Giroux et al. 2008), metacarpos (Meadows et al., 1992), falanges das mãos (Zhu,
1983) e ossos do pé (Byers et al., 1989; Holland, 1995; De Groote et al., 2011, Pablos et

28
al., 2013) . Embora essas técnicas possam ser úteis em casos que envolvem esqueletos
sem ossos de membros ou fragmentos de ossos de membros, as suas aplicações são
limitadas a alguns grupos ancestrais e seus intervalos de previsão de estatura são
maiores do que os tipicamente associados às estimativas de ossos de membros (Willey,
2016).
1.5.3. A ancestralidade
O critério da ancestralidade é o mais polémico e ambíguo (Logrado, 2020). Os
antropólogos físicos há muito se interessam pelas relações biológicas das populações do
passado e do presente. Na bio-arqueologia, o estabelecimento de afinidade biológica
elucida processos históricos cruciais, incluindo padrões de migração. Também existem
métodos para estimar a afinidade em termos de uma população em relação a indivíduos
– um processo que costuma ser útil em antropologia forense. A avaliação da
ancestralidade, como a estimativa de idade, sexo e estatura, é normalmente uma das
componentes de um perfil biológico fornecido por um antropólogo forense (Sauer 1992;
Brace 1995). Ao contrário do sexo, idade e estatura, no entanto, a estimativa da
ancestralidade é repleta de mal-entendidos, uso indevido e controvérsia. Subjacente a
qualquer discussão sobre a avaliação da ancestralidade e seu valor para a antropologia
forense está o conceito de raça. A visão predominante entre os antropólogos
contemporâneos é que as raças não existem (Lieberman et al., 2003; Goodman et al.,
1996). A controvérsia sobre a existência de raça faz com que os antropólogos forenses
se deparem com um dilema. Embora a maioria deles inclui alguma menção de
ancestralidade (ou raça) como parte fundamental de um perfil biológico, os críticos
apontam que isso reifica um conceito desatualizado e comprovadamente prejudicial
(Albanese et al., 2006). No entanto, as técnicas atuais são úteis para avaliar a região de
ancestralidade de muitos indivíduos e que essa informação tem valor potencial para
identificar restos humanos decompostos ou irreconhecíveis. Embora deva ficar claro
que identificar o local de ancestralidade de um indivíduo não é o mesmo que identificar
sua raça, identificar o local de ancestralidade permite que os antropólogos prevejam a
ancestralidade de uma pessoa desaparecida (Sauer 1992; Brace 1995). A avaliação da
ancestralidade é parte integrante do exame forense. Ao adicionar informação pode

29
facilitar e acelerar o processo de identificação dos restos mortais. É necessário cuidado
ao retirar conclusões sobre um indivíduo a partir de seus restos mortais, mas muitas
décadas de pesquisa mostraram que uma compreensão da variação humana sistemática
permite a estimativa precisa (embora não perfeita) da ancestralidade a partir do
esqueleto (Sauer et al., 2016).
1.5.4. O sexo
Finalmente, vamos focar-nos no sexo, que é o critério central para a nossa problemática.
Quando falamos em sexo referimo-nos às características fisiológicas e biológicas que
definem o homem e a mulher (Caldas, s. d.). A diagnose sexual de restos esqueletizados
é um dos temas relevantes em contextos forenses (Meindl e Russell, 1998) e este
método é definido através das características ósseas sexualmente dimórficas (Rösing et
al., 2007). É mais segura a sua estimativa em adultos do que em subadultos, visto que
os contrastes morfológicos resultam da intervenção das hormonas como o estrogénio
ou a testosterona, que influenciam os ossos a partir da puberdade (Meindl et al., 1995).
Devido à variabilidade cronológica e geográfica nas comunidades, a diagnose sexual em
restos esqueletizados pode ser dificultada pelas diferenças existentes na morfologia
esquelética das populações onde possam existir mulheres com características
masculinas e vice-versa (Krenzer, 2006).
A maior limitação para estimativas antropológicas do sexo é a falta de técnicas
confiáveis de para restos esqueléticos juvenis (Hoppa et al., 2005; Weaver
1998). Essa limitação tem repercussões significativas para estabelecer o perfil biológico
de uma criança para auxiliar na identificação em casos forenses – porque se o sexo for
desconhecido, a precisão das faixas etárias também é limitada, pois são específicas do
sexo (Blau et al., 2014, Blau, 2020). O estágio em que o dimorfismo sexual é distinguível
é um tópico controverso. Há um consenso geral de que o dimorfismo sexual está
presente a partir do estágio intrauterino (Wilson et al., 1981). No entanto, as diferenças
no esqueleto não são satisfatoriamente distinguíveis até à puberdade completa
(Scheuer et al., 2000; Baker et al., 2005). Assim, é geralmente aceite que não existem
métodos confiáveis para estimar o sexo em casos de restos de esqueletos juvenis (Blau
et al., 2014). Consequentemente, foram conduzidas pesquisas consideráveis para

30
diferenciar juvenis masculinos e femininos usando os mesmos elementos esqueléticos
sexualmente dimórficos em adultos. Exemplos desses elementos esqueléticos incluem:
o crânio (Molleson et al., 1998; Loth et al., 2001); a dentição (Black, 1978; Cardoso,
2008a); a pélvis (Mittler et al., 1992; Holcomb et al., 1995; Vlak et al., 2008); e os ossos
longos (Rissech et al., 2008; Stull et al., 2013). Esta pesquisa produziu vários níveis de
confiabilidade, sendo limitada pela falta de grandes amostras osteológicas juvenis de
sexo conhecido para estabelecer e validar técnicas. Como tal, o ADN ainda é considerado
o único meio preciso para determinar o sexo em restos de esqueletos juvenis
(Rowbotham, 2016).
Em adultos, os elementos preferenciais para estimativa do sexo parecem ser o crânio, a
pélvis e os ossos longos (Rowbotham, 2016). Para alcançar a diagnose sexual a partir do
crânio e da pélvis, podem ser utilizados métodos métricos e morfológicos (Bruzek e
Murail, 2006). Os primeiros são quantitativos e resumem-se a medições depois
aplicadas em cálculos estatísticos); os segundos são qualitativos e baseiam-se na
observação de qualidades anatómicas dimórficas que devido à sua estrutura classificam-
se como masculinas ou femininas (Buikstra et al., 1994; Bruzek, 2002. Krogman e Íscan
(1986), afirmam que os métodos morfológicos para estudos de diagnose sexual devem
ser privilegiados em relação aos métricos, pelo facto de serem métodos relativamente
rápidos e com maior precisão.
Investigações realizadas usando técnicas morfológicas para estimar o sexo indicam que
ocorre variação na confiabilidade dos resultados e que estas produzem entre 90% e 98%
de precisão (Krogman 1962; Meindl et al. 1985). Essa variação depende de quais
elementos do esqueleto são preservados e, portanto, disponíveis para exame. As
estimativas de sexo mais confiáveis podem ser alcançadas se a pélvis e o crânio forem
examinados conjuntamente e se todas as características desses ossos forem analisadas
(Rogers & Saunders 1994). No geral, o nível de confiabilidade para técnicas morfológicas
é alto; no entanto, como observam Littleton e Kinaston (2008), sempre haverá variação
intrínseca entre homens e mulheres e, portanto, 100% de precisão nunca será
alcançada. Os métodos morfológicos são a abordagem mais tradicional e comummente
empregada (Rowbotham, 2016). No entanto, deve-se levar em consideração que são

31
técnicas subjetivas e, portanto, dependentes da experiência do antropólogo forense e
da experiência e conhecimento da variação no dimorfismo sexual em restos mortais
(Rowbotham, 2016). Idealmente, a pélvis deve ser avaliada primeiro, porque a sua
predisposição evolutiva para o parto e a ausência de traços ancestrais levam a uma
maior confiabilidade em comparação com a avaliação do crânio (Rowbotham, 2016).
As técnicas métricas envolvem medir elementos esqueléticos sexualmente dimórficos e
comparar os resultados com medidas de indivíduos de sexo conhecido. Essas técnicas
foram estabelecidas e implementadas em uma grande variedade de elementos
esqueléticos, com um foco particular no pós-craniano (Blau, 2020). As dimensões de
medição são definidas com marcos osteológicos – dimensões máximas ou mínimas de
um elemento esquelético – e são normalmente usadas para análises univariadas ou
multivariadas. A abordagem métrica aumentou em popularidade nos últimos 10 a 15
anos – provavelmente por causa da natureza estatística da técnica, falta de
subjetividade e alto grau de confiabilidade com erros do observador (Adams e Byrd,
2002). No entanto, as técnicas métricas têm as suas limitações. Em primeiro lugar, são
específicas em relação à população e, portanto, só podem ser aplicadas aos restos
mortais da população ancestral a partir da qual a técnica foi desenvolvida e não podem
ser aplicadas com sucesso a restos fragmentários onde características de ancestralidade
não estão disponíveis. Em segundo lugar, pode ser difícil medir diferentes elementos e
características do esqueleto (Smith, 1997; Robinson et al., 2011; Klales et al., 2017;
Mahakkanukrauh et al. 2017). Frequentemente, os pontos de referência podem ser
ambíguos ou difíceis de determinar devido à má preservação, e as medições podem não
ser possíveis se os vestígios forem fragmentários (Blau, 2020).
1.5.4.1. A pélvis
A pélvis, sendo relacionada com a função reprodutora, apresenta um vasto número de
caracteres discriminantes, sendo por isso o osso que permite a obtenção de resultados
mais fidedignos quando utilizado para diagnose sexual, sendo indispensável a sua
utilização nas investigações de Antropologia Forense (Bass, 1987; Bruzek, 2002; Bruzek
et al., 2006; White, 1999). Sendo esta zona formada pelos ossos coxal direito e esquerdo,
que aliados ao sacro e ao cóccix, formam a pélvis. O osso coxal é um osso plano formado

32
por três partes ósseas primitivamente separadas: o ílio, o ísquio e o púbis, a junção dos
mesmos forma uma cavidade. A referida cavidade tem a forma de uma semiesfera oca,
circunscrita por um rebordo ósseo circular, tendo em si formado os entalhes de união
das três peças ósseas: à frente, a chanfradura ílio-púbica; atrás, a chanfradura ílio-
isquiática; e, em baixo, a chanfradura ísquio-púbica. A face interna do osso coxal divide-
se em duas partes (superior e inferior), por uma linha ligeiramente grossa – a linha
inominada. Acima e para fora desta linha, estende-se uma superfície escavada – a fossa
ilíaca interna – sendo assim possível a inserção muscular. No limite externo desta
superfície situa-se, de cima para baixo: a crista ilíaca, a espinha ilíaca antero-superior, a
espinha ilíaca antero-inferior, o ramo horizontal do púbis e a sínfise púbica. Abaixo,
encontra-se a tuberosidade ilíaca, a espinha ilíaca antero-superior, a chanfradura
inominada, a superfície auricular (que permite a articulação sacro-ilíaca), a grande
chanfradura ciática, a espinha isquiática, a pequena chanfradura ciática, o ísquion e o
ramo isquiopúbico (Esperança-Pina, 1999; McKinley et al., 2005; White, 1999). Na Figura
1 pode ver-se uma vista anterior da pélvis.
A zona pélvica está acomodada para a locomoção bípede; mas no que toca ao exemplo
do caso feminino, aglomera a adaptação à reprodução sendo que a abertura do canal
de parto apresenta maior dimensão. Explicando deste modo a razão de a bacia
masculina ser mais estreita e alta que a feminina (Bruzek et al., 2006; Cox et al., 2000).
São vastos os dimorfismos anatómicos existentes: o sacro e osso coxal (menor e menos
robusto no caso do sexo feminino do que no masculino); no diâmetro interior da bacia
(apresenta maior dimensão no caso do sexo feminino do que no masculino); na grande
chanfradura ciática (presente com maior amplitude no caso do sexo feminino do que no
masculino); no osso púbico (geralmente apresenta-se mais longo e delgado no caso do
sexo feminino do que no masculino); no ângulo sub-púbico (no caso do sexo feminino
apresenta maior abertura do que no sexo masculino) e no sulco pré-auricular (é mais
frequente no sexo feminino do que no masculino); no acetábulo (a tendência é ser maior
no sexo masculino do que no sexo feminino). No entanto, a grande dificuldade neste
método é ser necessário ter presente o osso na totalidade e o nível de preservação do

33
fragmento do osso coxal apresentar perfeitas condições e nem sempre isso é possível
(Scheuer et al., 2007).

Figura 1 – Visão anterior da bacia humana (modificado de: McKinley e O’Loughlin, 2005)

1.5.4.2. O crânio
O crânio é apresentado como sendo o segundo elemento do esqueleto humano que
apresenta mais dimorfismo a seguir à zona pélvica (Armelagos et al., 1980; Bruzek et al.,
2006; Krogman et al, 1986; Rösing et al., 2007; Scheuer et al., 2007; Ubelaker, 2000;
White, 1999). Na impossibilidade do estudo da pélvis recorre-se ao crânio, tendo a
noção de que a estimativa sexual, em função dos métodos morfológicos, é menos fiável
comparando com os dados obtidos pela zona pélvica (Spradley et al., 2011). Sendo o
crânio um dos fragmentos mais recuperados em contextos forenses recai sobre si um
elevado valor neste tipo de investigação (Azevedo, 2008; Simão, 2021). Na Figura 2
encontram-se ilustradas as características do relevo nucal, apófises mastóides, forma do
rebordo da órbita, glabela e o mentum.

34
Figura 2 – Expressão das características do relevo nucal, apófises mastóides, forma do rebordo
da órbita, glabela e o mentum do crânio humano (adaptado de Buikstra e Ubelaker, 1994)

Em indivíduos adultos os ossos do crânio, tais como os da zona pélvica, apresentam


características de dimorfismo sexual que se desenvolvem na fase da puberdade (Blau,
2020). Os crânios de indivíduos do sexo feminino são caracterizados por feições mais
suaves, comparativamente com os crânios do sexo oposto, relativamente ao nível das
arcadas supraciliares, glabela, apófise mastoide, occipital e mandíbula (Cox e Mays,
2000). Nesta análise não pode ser descurada a afinidade populacional, devendo esta ser
sempre tida em conta (Rowbotham, 2016). Segundo Krogman e Íscan (1986) e Byers
(2001), as características anatómicas mais dimórficas presentes no crânio resumem-se:
ao tamanho geral do crânio (maior no sexo masculino do que no feminino); as apófises
mastoides (maiores e mais desenvolvidas no sexo masculino comparado com o do sexo

35
feminino); as arcadas supraciliares (muito marcadas no sexo masculino e pouco no sexo
feminino); as bossas frontais (bem marcadas no sexo feminino e pouco no sexo
masculino); o occipital (relevo muito marcado no sexo masculino e pouco no sexo
feminino); e a mandíbula (maior e mais robusta no sexo masculino do que no sexo
feminino) (Buikstra et al., 1994). Com o estudo destas características, é possível
constatar que a precisão da diagnose sexual é muito elevada.
Para finalizar este capítulo e em jeito de resumo, apresentamos uma espécie de guião
de um exame osteológico (ver Figura 3).

Exames preliminares dos restos esqueletizados


- Natureza dos ossos humanos e não humanos;
- Quantidade de indivíduos representados;
- Antiguidade;
- Fatores das circunstâncias e causas da morte;
- Indícios ante, peri e post mortem;
- Identificação positiva da vítima através de:
. Sexo
. Ancestralidade
. Idade à morte
. Patologias
. Indícios de cuidados médico-terapêuticos
. Espólio e documentos.

Figura 3 – Resumo dos aspetos a ter em conta no exame preliminar dos restos esqueléticos

Por seguir os passos, nomeadamente: 1) verificar se os restos recuperados são


humanos; 2) quantos indivíduos estão presentes; 3) qual a antiguidade das ossadas; 4)
quais os fatores de circunstância e causa de morte; 5) e a identificação positiva da vítima
pelos critérios de identificação (sexo; ancestralidade, idade à morte; estatura; patologias
ósseas e dentárias; eventuais tratamentos médico-terapêuticos; e roupa, adornos e
documentos); é que podemos conseguir identificar positivamente um indivíduo
(Antunes-Ferreira e Cunha, 2008).

36
2. Problemática na estimativa do sexo
Foram vários os estudos realizados ao longo do tempo no que toca à estimativa da
diagnose sexual em populações diversificadas, tanto em nacionalidade como em
período temporal. Jovanovic e Zivanovic (1965) levaram a cabo um estudo onde
reuniram 102 pélvis humanas de indivíduos adultos com o objetivo de determinar qual
o método mais eficaz na estimativa do sexo através das dimensões da grande incisura
isquiática dos ossos ilíacos, criando um novo método de medição da grande incisura,
tendo como referência pontos da espinha ilíaca postero superior e a tuberosidade
isquiática. Chegaram à conclusão de que este método é teoricamente satisfatório de
igual forma que os métodos anteriormente utilizados. Porém, apresenta uma maior
aplicabilidade, sendo que é possível estimar o sexo a partir de qualquer osso ilíaco,
mesmo que este se apresente fraturado ou em mau estado de preservação.
Phenice (1969) desenvolveu um estudo com base na estimativa do sexo em esqueletos
tendo como método de estudo as características qualitativas. Reuniu uma amostra de
275 indivíduos, de idade e o grupo étnico conhecidos, e criou o “Teste de Phenice"
baseando-se nas seguintes características: arco ventral (ausente nos esqueletos
masculinos e presente nos esqueletos femininos); concavidade sub-púbica (ausente nos
esqueletos masculinos e presente nos esqueletos femininos) e ramo ísquio-púbico
(largo e plano nos esqueletos masculinos e estreito nos esqueletos femininos). Os
resultados obtidos revelaram uma precisão de 95%.
Tague (1989) analisou a alteração a nível do tamanho da pélvis entre esqueletos
masculinos e esqueletos femininos, tendo por base dados obtidos originalmente por
Meindl et al. (1985). A comparação dos resultados obtidos por ambos apresenta
disparidades. Os dados de Meindl indicam que existe variabilidade nas características
morfológicas, ocorrendo mais no sexo masculino. Tague não obteve esta variabilidade
na amostra estudada e, como tal, as características da pélvis são distintas entre os sexos
e estas características apresentam-se estáveis.
Lovell (1989) estudou morfologicamente os ossos púbicos de maneira a testar a
fiabilidade do “Teste de Phenice”, método este de caracter visual para a estimativa do
sexo através da pélvis. Obteve uma fiabilidade de 87% na estimativa do sexo,

37
comparativamente aos 95% referido por Phenice. Estudos anteriores confirmaram a
fiabilidade de Phenice (Azevedo, 2008). A técnica utlizada neste método não requer
experiência por parte de quem realiza o estudo para obter resultados. O autor acredita
que a discrepância nos resultados se deve à análise de características diferentes em
ambos os estudos, tais como a faixa etária.
Através da recolha de uma amostra de 1284 ossos púbicos, Sutherland e Suchey (1991)
iniciaram um estudo para estimar o sexo. Esta amostra continha indivíduos na fase de
desenvolvimento da adolescência permitindo ampliar os estudos de Phenice (1969),
baseados sobretudo em indivíduos adultos. Neste estudo, foi dado como prioritário o
arco ventral, tendo sido analisado isoladamente, obtendo resultados positivos na
estimativa do sexo em 96% dos casos. Segundo os autores, esta escolha baseou-se no
facto de esta ser a parte do esqueleto que, de forma geral, se encontra em melhor
estado de preservação e ser de fácil remoção quando necessário, o que se torna uma
vantagem. Foi tido em conta a estimativa do sexo tendo por base a análise da pélvis,
sendo esta possível aplicar na maioria dos casos de restos esqueletizados não
identificados.
Carvalho e Segre (1992) defendem que o dimorfismo a nível morfológico no esqueleto
masculino e feminino se deve a uma série de divergências relativamente à pélvis: de
uma forma geral, no esqueleto masculino encontramos dimensões mais verticais,
enquanto no esqueleto feminino as dimensões apresentam-se de forma transversais;
no esqueleto masculino o estreito superior tem característica cordiforme e no esqueleto
feminino apresenta-se mais da forma elíptica; relativamente ao ângulo sub-púbico, no
esqueleto masculino é fechado, enquanto no esqueleto feminino é mais amplo. O autor
refere ainda o sacro, como sendo maior, mais estreito e côncavo em toda sua altura, no
esqueleto masculino, sendo que no esqueleto feminino este se apresenta menor, mais
largo e côncavo na sua zona inferior.
Grandi et al. (1996) defendem que o diagnóstico do sexo em esqueletos deve ser
essencialmente realizado através da análise dos ossos da pélvis. Segundo os autores, na
maioria das vezes, a análise do ilíaco, do ísquio e do púbis, permite evidenciar
características típicas de indivíduos do sexo masculino com probabilidade de

38
aproximadamente 93%. Consideram ainda que a análise métrica confirma o diagnóstico
e que, em casos especiais, se pode lançar mão das análises genéticas através das
técnicas de PCR, que evidenciam ou não o cromossoma Y, permitindo assim uma
conclusão inquestionável.
Klales et al. (2012) efetuou uma revisão ao método utilizado por Phenice (Phenice, 1969)
alargando o estudo das três características existentes divididas em presente ou ausente
em cinco fatores caracterizados. Dando uso às descrições de características modificadas,
atingiram taxas de 93,5–95,5% de eficácia no que toca a observadores experientes. Para
que um método seja utilizado com segurança num estudo de determinada população,
este deve ser validado por diferentes amostras. Enquanto Klales et al. (2012) incluiu uma
amostra de validação no artigo original, ambas as amostras de calibração e validação
foram obtidas através de coleções dos Estados Unidos da América. Devido a variações
no dimorfismo sexual em populações diferentes, a equação original apresentada por
Klales et al. (2012) necessita de ser validada nas populações excluídas da amostra
original, ou seja, populações com diversidade geográfica e genética. Se indispensável, as
equações têm que ser recalibradas para incluir o maior grau de variação humana
existente. Estudos recentes relativamente à validação em populações hispânicas
sugeriram que a recalibração melhora a precisão e pode diminuir o viés sexual (Gómez-
Valdés et al., 2017; Klales et al., 2017). A maior eficácia nas classificações obtidas
comparativamente às inicialmente descritas por Klales et al. (2012) devem-se a:
equações específicas de determinada população; a utilização de amostra maiores; e
sobretudo ao uso de coleções modernas. A aplicação de equações específicas na
população permite a obtenção de uma maior taxa de precisão, reduzindo deste modo
os efeitos obtidos por populações com menor dimorfismo ou por populações que
seguem tendências distintas na expressão do conjunto de características morfológicas
(Klales et al., 2012). Como foi demonstrado, a equação de recalibração global tem um
desempenho semelhante às equações específicas de uma população. A dimensão da
amostra reduz o impacto na classificação (Klales et al., 2012).
Klales (2016) demonstrou que as características morfológicas da pélvis sofreram
alterações nos indivíduos de sexo feminino modernos. Em particular, apresentam

39
maiores expressões de características mais baixas comparativamente com as ossadas
mais antigas de indivíduos de sexo feminino. Os indivíduos de sexo masculino modernos
apresentam pontuações de características um pouco mais altas em relação às ossadas
mais antigas de indivíduos de sexo masculino. Devido à existência destas diferenças,
quanto mais recente for a amostra mais correta é a classificação (Klales, 2016). Em
suma, Klales et al. (2012) na revisão do método Phenice (1969) concluíram que este é
extremamente válido e que a equação original pode ser utilizada para estimar
corretamente o sexo. No entanto, a equação global de recalibração que tem em
consideração uma vasta área geográfica tendo por base o tamanho de amostra, sendo
que quanto maior for maior será a precisão da classificação, reduzindo assim o viés
sexual. Dado que as taxas de precisão da equação global serem tão altas quanto as
equações específicas da população e o viés sexual é baixo, pode-se concluir que é válida
a utilização da equação global na estimativa do sexo em diversas populações.
Já referimos que a avaliação morfológica e a análise morfométrica são as duas principais
técnicas empregadas pelos antropólogos forenses para a determinação do sexo
(Franklin et al. 2012). Estudos de avaliação morfológica na década de 90 do século XX
estabeleceram métodos de quantificação padronizados usando uma escala ordinal para
auxiliar na avaliação visual das características sexualmente dimórficas de cinco locais
anatómicos do crânio (Buikstra et al., 1994). Essas características incluem a robustez da
crista nucal, o tamanho do processo mastóide, a nitidez da margem supraorbital, a
proeminência da glabela e a projeção da iminência mentoniana. Um perito forense
examina como as características dimórficas são expressas nesses cinco pontos
anatómicos e a sua semelhança visual com o diagrama apresentado em Buikstra et al.
(1994). Com vários métodos de pontuação ordinal, os especialistas forenses têm sido
capazes de atingir um desempenho de estimativa entre 83 e 90% (Konigsberg et al.,
1998; Walker, 2008). Também se demonstrou que regiões cranianas específicas, como
a forma da margem supraorbital (Graw et al., 1999), podem ser avaliadas para
determinação do sexo com taxa de predição de 70%. Isso é possível com a formação do
contorno da supraorbital com impressão de plasticina, que é avaliada visualmente e
quantificada em uma escala ordinal de 7 pontos.

40
A técnica alternativa de estimativa de sexo é baseada na análise morfométrica, que
envolve a medição linear ou geométrica de marcos anatómicos. A escolha de pontos de
referência para anotar varia entre os métodos relatados na literatura. Franklin et al.
(2005) relatam o uso de oito medições dos marcos 3D para realizar análises
morfométricas com análise de função discriminante e que rendeu taxas de predição
entre 77 e 80%. Os autores descobriram um grande dimorfismo sexual na largura facial
(largura bizigomática) e no comprimento e altura da abóbada craniana. Bigoni et al.
(2010) conduziram um estudo em 139 amostras cranianas da população da Europa
Central, onde 82 marcos ecto-cranianos foram anotados de sete sub-regiões (a
configuração do neurocrânio, base do crânio, curva sagital média da abóbada, face
superior, região orbital, região nasal e região palatina) do crânio. A análise de Procrustes
generalizada (GPA) foi adotada para analisar a configuração da forma, e nenhuma
diferença de sexo foi notada na amostra definida quando foram usados pontos de
referência de todo o crânio. No entanto, por meio de exames de forma parcial em cada
uma das sete regiões, havia indicações de forte dimorfismo sexual na curva sagital
média, na face superior, na região orbital, na região nasal e na região palatina, mas
nenhuma variação de sexo na base do crânio e a configuração do neurocrânio. Outro
estudo comparou dois métodos de análise de função discriminante em 17 variáveis
craniométricas de 90 crânios ibéricos (Jiménez-Arenas et al., 2013). Os autores
observaram variáveis métricas mais altas em amostras masculinas do que em amostras
femininas. Luo et al. (2013) apresentaram análise estatística da forma holística da parte
frontal do crânio usando análise de componentes principais (PCA) e análise
discriminante linear (LDA) em amostras chinesas.
Embora a avaliação morfológica e a análise morfométrica pareçam ser tecnicamente
simples, elas demonstraram ser eficazes para a estimativa do sexo craniano. Além disso,
são conceitos que foram estabelecidos em princípios bem fundamentados e
universalmente aceites como prova em processos judiciais e investigação forense
(William et al., 2006). No entanto, há uma série de pontos fracos nas duas técnicas que
vale a pena mencionar:

41
A perceção subjetiva do observador (especialista forense) afeta a confiança da previsão
(Bigoni et al., 2010; Lewis et al., 2016). Este é um fenômeno natural associado à
avaliação visual e descrição verbal da variação observada, especialmente em uma
situação onde as descrições conotadas de um determinado grupo não podem ser
generalizadas para outros grupos devido a discrepâncias na perceção dos observadores.
A variabilidade inter-observador é comum quando os observadores selecionam pontos
de referência no caso de análise morfométrica. Além disso, essa influência da diferença
populacional afeta a exatidão e a precisão das características usadas para a
identificação. Como resultado, um método de estimativa usado em uma população
específica pode não servir para generalizar para outras populações (Guyomarc’h et al.,
2011).
Outra limitação da análise morfométrica são os pontos de referência imprecisos e
incompletos. De facto, foi demonstrado que o erro inter-observador é de
aproximadamente 10% para a maioria das medições (Williams et al., 2006). A anotação
precisa de pontos de referência anatómicos requer bastante tempo e, muitas vezes,
equipamentos antropométricos especializados e caros. Além disso, o especialista
forense geralmente enfrenta o desafio de realizar medições que capturem variações
subtis entre as características cranianas que são fáceis de ver, mas muito difíceis de
medir (Walker, 2008).

42
3. Principais métodos de estimativa do sexo

3.1. Método de diagnose sexual probabilística (MDSP)


Murail et al. (2005) desenvolveram um método virtual de determinação do sexo através
do banco de dados métrico obtidos de 2040 ossos da pélvis de indivíduos de sexo
conhecido de doze populações com referências diferentes. Este banco de dados baseia-
se na teoria do compartilhamento do mesmo padrão de dimorfismo sexual
relativamente à pélvis nas populações humanas modernas. Para averiguar a eficácia
deste método, recorreu-se a áreas geográficas distintas, sendo elas: Europa, África, Ásia
e América do Norte; incluindo também um a três subgrupos para cada grupo
populacional. Foram usadas dezassete medidas obtidas do estudo de indivíduos com
idade e sexo conhecidos do osso da pélvis. Este método estuda o padrão de dimorfismo
sexual comum através da análise discriminada do osso. As variáveis foram obtidas
conforme a taxa de preservação. A amostra utilizada no referido estudo foi obtida
através do cruzamento de dados relativos a coleções existente a nível mundial, sendo
assim possível desenvolver o MDSP. A estimativa do sexo foi obtida através da
combinação de pelo menos quatro variáveis das propostas existentes, realizando-se a
comparação das medidas obtidas metricamente e posteriormente analisada a
probabilidade de se tratar de um indivíduo de sexo masculino ou feminino.
Chapman et al. (2014) examinou a precisão do MDSP comparativamente aa outros
métodos de estimativa virtual do sexo e a sua precisão na utilização da pélvis na
determinação da utilidade nos casos forenses. Estes alcançaram 100% de precisão na
utilização do MDSP manual e virtual. O MDSP é referido como um método fiável em
casos forenses. Mestekova et al. (2015) testou a fiabilidade do MDSP com recurso a
imagens tomográficas da pélvis de 52 homens e 54 mulheres obtidas de amostras
francesas modernas. Estes efetuaram 10 medições lineares utilizando imagens
tridimensionais de tomografias computorizadas; obtiveram 92,3% de precisão em
indivíduos do sexo masculino e 97,2% em indivíduos do sexo feminino. O estudo apoiou
a visão de que o MDSP é um método fiável de utilização com base nas imagens
tomográficas da pélvis.

43
3.2. Análise da função discriminante (AFD)
Com o recurso à análise osteométrica e à estatística com função discriminante revelou-
se uma tendência na estimativa do sexo de restos esqueletizados não identificados. Esta
elimina os critérios subjetivos para a estimativa do sexo, sendo de fácil utilização sem
necessidade de experiência prévia (Dabbs et al., 2010). Nos casos em que existe fraca
preservação do material esquelético, os índices discriminantes têm um papel
fundamental na estimativa do sexo (Krogman e Íscan, 1986). A AFD auxilia na atribuição
de qualquer sujeito com identidade desconhecida a um ou mais grupos com base na
observação multivariada linear (Lachenbruch et al., 1979).
As funções discriminantes obtidas na AFD são de alta especificidade para a população e
a precisão percentual varia conforme a medição (Krogman et al., 1986). Este método é
utilizado na análise de um conjunto de eixos que aumentam a possibilidade de
discriminação entre dois ou mais grupos (Manly, 1994). Inicialmente, faz a distinção dos
grupos e calcula os valores de classificativos. Seguidamente, os indivíduos são agrupados
de acordo com pontuação de obtida. Estes são utilizados para avaliar a precisão
alcançada. Na análise desta validação, os casos são classificados consoante as funções
derivadas de todos os casos, exceto o caso a ser classificado.

3.3. Métodos na ausência da pélvis. O caso do crânio


O crânio é o segundo elemento do esqueleto que expressa um dimorfismo sexual
relevante. Assim, sendo, a determinação do sexo a partir do crânio humano
desempenha um papel essencial na antropologia forense (Arigbabu et al., 2017). Na
literatura, as duas abordagens principais são a análise morfologógica e morfométrica,
que têm sido historicamente demonstradas para identificar características sexualmente
dimórficas de regiões cranianas (Franklin et al., 2012; Walrath et al., 2004). A análise
morfológica envolve algumas etapas de procedimento em que um especialista forense
examina visualmente as regiões anatómicas do crânio (como a glabela, mastoide, crista
nucal, orbital e eminência mental), relata as variações observadas no crânio com termos
semânticos padrão, quantifica as descrições em uma escala ordinal e, eventualmente,
usa a análise da função discriminante (AFD) para prever o sexo do crânio (Henke, 1977).
A análise morfométrica, por outro lado, requer especialistas forenses para anotar e

44
medir a distância entre marcos anatómicos. Essas medidas são depois introduzidas em
um modelo AFD para determinar o sexo do crânio (Arigbabu et al., 2017).
No entanto, deve-se ter em mente que o dimorfismo sexual do crânio depende da
população observada. A determinação do sexo a partir de características morfológicas
cranianas é menos confiável do que a avaliação do sexo a partir do osso do quadril
(Bruzek et al., 2006). Portanto, é mais apropriado usar medições cranianas de um
espécime e compará-los a um grande banco de dados de referência, como o publicado
por Howells. Este banco de dados inclui uma variação mundial de medições de crânios
humanos (Howells, 1996). O software FORDISC 2.0 permite a aplicação de tal princípio
(Ousley et al., 1996). No entanto, este sistema determina o sexo pela maior
probabilidade. Considerando que o valor discriminante reduz a confiabilidade da
determinação, os autores recomendam o uso de FORDISC 2.0, limitando a avaliação do
sexo aos espécimes cuja probabilidade de ser homem ou mulher é maior que 0,95.
Outra possibilidade é calcular as probabilidades a partir do banco de dados Howells
(Howells, 1996). Dependendo do caso estudado, pode-se escolher uma ou várias
populações de referência para fazer as AFD específicas de acordo com as medidas
disponíveis na amostra. Neste caso, as medições devem ser selecionadas de acordo com
trabalhos anteriores que já mostraram resultados satisfatórios (por exemplo: Hanihara,
1980; Giles, 1963; Sefcakova et al., 1999). A maioria dos softwares estatísticos permite
o cálculo de probabilidades e a estimativa da confiabilidade de tal análise. Novamente,
o sexo de um espécime deve ser avaliado de acordo com uma probabilidade superior a
0,95. Como o dimorfismo sexual do crânio é mais específico para a população do que o
osso do quadril, não é surpreendente que o sexo de alguns indivíduos não seja
determinado (Henke, 1977).
Outros métodos mais recentes são denominados Métodos de Visualização
Computacional (CV) para estimativa do sexo. Arigbabu et al. (2017) propõem um
software para determinação do sexo a partir do crânio humano com base em técnicas
de visão computacional, que incluem a representação automática de crânios humanos
com recursos avançados de formas locais e aprendizagem de representação compacta
e discriminante dos recursos extraídos. Introduziram a representação baseada em várias

45
regiões derivadas da partição dos crânios ao longo de três eixos principais (X, Y, Z) que
são anatomicamente equivalentes aos eixos sagital, coronal e axial. De uma perspetiva
geral, os resultados experimentais indicam que os métodos de CV são adequados para
a estimativa do sexo com a melhor taxa de predição de 86%. Comparando os resultados
dos métodos CV com os da abordagem forense padrão, estão dentro da faixa de
predição sexual frequentemente relatada (70-90%) usando avaliação morfométrica ou
morfológica (Walker, 2008; Garvin et al., 2014). Esta nova perspetiva introduz uma
abordagem alternativa e eficiente na antropologia forense, que pode potencialmente
preencher a lacuna semântica entre a avaliação visual e as características dimórficas
percebidas. Além disso, resolve o desafio de marcos anatómicos incompletos, que
afetam o desempenho da análise morfométrica (Arigbabu et al., 2017).

3.4. Aplicabilidade ao universo português


Apesar destas técnicas terem sido amplamente estudadas noutras populações, pouco
são os estudos realizados na população portuguesa. Os estudos realizados acabam por
ter amostras reduzidas, pela dificuldade de obtenção da amostra, já que os elementos
esqueletizados não estão disponíveis para utilização ou, caso estejam, são amostras de
uma população portuguesa antiga onde a alteração do estilo de vida da sociedade
moderna faz com que a amostra não retrate de forma correta uma população
contemporânea (Araújo et al., 1995; Arnaud, 1994; Cardoso, 2008b; Cardoso, 2008c;
Cardoso et al., 2003; Carvalho et al., 2010-2011; Carvalho et al., 2003; Conceição et al.,
2001; Cruz et al., 2013; Cunha et al., 1987; Cunha et al., 2000; Cunha et al. 2003;
Gonçalves et al., 2014; Granja, 2014; Lopes, 2006; Silva, 2002; Telles-Antunes et al.,
2009; Tomé, 2006; Tomé, 2011; Vilaça et al., 1987).
O estudo mais recente e que demonstra com maior precisão é da Azevedo (2008),
devido à qualidade da amostra, não só a nível qualitativo, mas também ao excelente
grau de preservação da amostra. Esta apresenta características dimórficas necessárias
para a determinação do sexo numa amostra contemporânea, o que faz com que os
dados obtidos neste estudo tenham uma elevada veracidade. Em resumo, confirma que
a utilização da pélvis e crânio são a solução mais viável para a diagnose sexual.

46
4. Materiais e métodos

4.1. A coleção de esqueletos


A amostra em que esta dissertação se baseia pertence à coleção de esqueletos
identificados da CESPU – Associação Portuguesa de Ciências Forenses, vindos do
cemitério do Prado Repouso, no Porto, tendo-se analisado 28 restos esqueletizados
guardados em caixas (Figuras 4 e 5). Cada caixa estava identificada com um número do
processo a que pertencem e que contém os dados relativos ao indivíduo. Foi também
atribuído a cada resto esqueletizado um número com o intuito de formalizar o estudo
sob a supervisão da comissão de ética para a investigação clínica com a sigla CEIC,
fazendo parte do intervalo de tempo de X a Y.

Figura 4 – Restos esqueletizados da coleção da CESPU retirados de uma caixa funerária de


zinco

47
Figura 5 – Restos esqueletizados da coleção da CESPU expostos em mesa

Para se estimar o sexo através do crânio e pélvis da amostra, utilizou-se o método


proposto por Buikstra e Ubelaker (1994), em que as características
morfológicas correspondem a características reconhecidas como hiper-feminino
e hiper-masculino. No que toca ao estudo da pélvis, e como podemos ver na Tabela 1,
este é diferenciado:
 nas desigualdades da abertura da fossa ilíca, que apresenta diferenças devido à
reprodução, sendo mais larga no sexo feminino em comparação ao sexo
masculino;
 a morfologia do sacro também apresenta características mais robustas no sexo
masculino comparativamente com o sexo feminino.

48
Tabela 1 – Classificação das características morfológicas pélvicas

Características

Pélvis baixa estreita

Ângulo púbico agudo

Sulco pré-auricular ausente

Ausência de arco ventral

Ramo ílio-púbico espesso

Acetábulo estreito

Concavidade subpúbica discreta

Chanfradura ciática aguda

Como podemos ver na Tabela 2, as características cranianas são:


 a glabela, que é mais saliente no sexo masculino do que no sexo feminino;
 as apófises mastóides, que são maiores e mais robustas no sexo masculino do
que no sexo feminino;
 a forma do rebordo da órbita, que é mais arredondado no sexo masculino do que
no sexo feminino;
 o relevo nucal, que é mais proeminente no sexo masculino do que no sexo
feminino;
 o mentum que é mais evidente e mais quadrangular no crânio do sexo masculino
do que no sexo feminino.

49
Tabela 2 – Classificação das características morfológicas cranianas e mandibulares masculina

Características

Acentuada inclinação frontal

Glabela pouco acentuada

Margem supra-orbital e arcadas supraciliares marcadas

Apófises coronóides compridas

Relevo nucal pouco pronunciado

Ângulo mandibular recto

Arcadas supraciliares marcadas

Desta população só foram relevantes para o estudo osteométrico 14 restos


esqueletizados, já que os restantes não cumpriam os critérios de inclusão, tais como, a
existência da pélvis e crânio inteiro com os locais de interesse métrico intactos.
Na obtenção da amostra foi necessário proceder à separação do conteúdo das caixas
em osso e não osso. Posteriormente efetuou-se a limpeza dos ossos e, de seguida, foi
necessário organizar os restos esqueletizados na posição anatómica para que fosse
possível retirar a informação relevante para preencher o inventário o mais completo
possível e de acordo com a qualidade da amostra.
Após esta tarefa, procedeu-se à análise antropológica das características que
possibilitam a aferição do sexo através da utilização da pélvis e do crânio. O estado de
conservação é de extrema relevância para o estudo de uma amostra influenciando a
qualidade desta, tando a nível qualitativo como quantitativo (Garcia, 2007).
No caso da amostra em estudo, o mau estado de alguns espécimes deveu-se a fatores
extrínsecos, tais como o seu manuseamento ao serem exumados que provocou fraturas,
bem como a humidade existente no Laboratório de Antropologia e que fez com que o
material ósseo já fragilizado, ao ser limpo para posteriormente ser estudado, se
desintegrasse, impossibilitando o seu estudo.

50
Figura 4 : resto esqueletizado préviamente limpo e montado de forma anatómica

Figura 6 – Restos esqueletizados da coleção da CESPU previamente limpo e montado de forma


anatómica

51
A nível morfológico foi preenchida una tabela onde consta a classificação das
características morfológicas pélvicas e características morfológicas cranianas e
mandibulares tendo como meio de comparação características consideradas hiper
masculinas.
A nível métrico não foi possível medir pontos de interesse na pélvis devido ao estado de
conservação das amostras disponíveis, as mesmas não estavam passíveis de medir tal
eram os estragos na sua estrutura.
O material utilizado foi: craveira, compasso e fita métrica. Os crânios foram submetidos
à medição dos seguintes pontos:
 Comprimento máximo do crânio, utilizando um compasso, desde o nasion, na
região da sutura frontonasal, até ao bregma, na união das suturas relativas aos
ossos parietais e occipital;
 Altura facial superior, obtida através da utilização de uma craveira para aferir a
medida desde o ponto mais anterior da sutura frontonasal ao ponto mais
profundo da concavidade maxilar;
 Distância biauricular, medida entre o ponto mais superior ao meato acústico
externo esquerdo e direito.
 No que toca à mandíbula, medimos, com o auxílio de uma craveira, a distância
entre o ponto central da sínfise mentoniana a nível do plano sagital mediano até
à zona mais anterior do buraco mentoniano.

4.2. Análise estatística


As análises estatísticas dos dados recolhidos foram realizadas recorrendo à ferramenta
SPSS, versão IBM SPSS Statistics 27.
O estudo da correlação de Pearson avalia de que forma existe a correlação das variáveis.
Deste modo, o teste Qui-quadrado (x^2) foi calculado para determinar o grau de
influência estatística das características anatómicas relativas à diagnose sexual dos
restos esqueletizados, com um nível de significância de pelo menos 5% (p<0,05).

52
5. Resultados
A amostra deste trabalho foi constituída por 28 restos esqueletizados, 18 deles
do sexo feminino (64,28 %) e 10 do sexo masculino (35,71%). É caracterizada através
das variáveis: sexo, valor mínimo, valor médio, valor máximo, e desvio padrão.

Conforme podemos ver na tabela 3, em relação às características da pélvis, do


total da amostra: 18 (64,28%) restos esqueletizados apresentam pélvis alta estreita; 3
(10,71%) apresentam pélvis alta não estreita; 10 (35,71%) apresentam ângulo púbico
agudo; 8 (28,57%) não apresentam ângulo púbico não agudo; 12 (42,85%) apresentam
sulco pré-auricular ausente; 8 (28,57%) apresentam sulco pré-auricular presente; 10
(35,71%) apresentam arco ventral ausente; 6 (21,42%) apresentam arco ventral
presente; 12 (42,85%) apresentam ramo ílio-púbico espesso; 6 (21,42%) apresentam
ílio-púbico fino; 12 (42,85%) apresentam acetábulo estreito; 8 (28,57%) apresentam
acetábulo não estreito; 10 (35,71%) apresentam concavidade subpúbica discreta; 8
(28,57%) não apresentam concavidade subpúbica acentuada; 10 (35,71%) apresentam
chanfradura ciática aguda; 7 (25%) não apresentam chanfradura ciática não aguda.

Tabela 3 – Tabela ilustrativa dos dados morfológicos relativos ao crânio da coleção de


esqueletos da CESPU

53
Em relação às características do crânio, do total da amostra: 15 (53,57%) restos
esqueletizados apresentam inclinação frontal acentuada; 8 (28,57%) apresentam
inclinação frontal pouco acentuada; 11 (39,28%) apresentam glabela acentuada; 5
(17,85%) não apresentam glabela acentuada; 11 (39,28%) apresentam margem supra-
orbital marcada; 7 (25%) apresentam margem supra-orbital pouco marcada; 9 (32,14%)
apresentam arcada supraciliares marcadas 9 (32,14%) apresentam arcada supraciliares
pouco marcadas; 11 (39,28%) apresentam apófises mastóides compridas; 7 (25%)
apresentam apófises mastóides curtas; 13 (46,42%) apresentam relevo nucal muito
pronunciado; 7 (25%) apresentam relevo nucal pouco pronunciado; 9 (32,14%)
apresentam ângulo reto; e 12 (42,85%) não apresentam ângulo reto (ver Tabela 4).

Tabela 4 – Tabela ilustrativa dos dados morfológicos relativos à pélvis da coleção de


esqueletos da CESPU

Para que as conclusões de um estudo relativos a uma amostra sejam confiáveis, é


necessário que seja possível retirar os valores métricos da amostra o mais fidedigno
possível. Na nossa amostra reflete-se o impacto do estado de conservação dos
elementos em estudo.

54
No caso do crânio, é possível aferir que existe uma diferença estatística significativa,
quanto ao seu estado de conservação, em relação às variáveis das características
morfológicas, (X^2 (1, N= 28)= 30,85; p= 0,002). Nos crânios com características
morfológicas masculinas, 8 (53.3%) apresentam um estado de conservação considerado
“Bom”, 2 (25,0%) apresentam um estado de conservação considerado “Mau”. Nos
crânios com características morfológicas femininas, 5 (33,3%) apresentam um estado de
conservação considerado “Bom”, 2 (100,0%) apresentam um estado de conservação
considerado “Razoável”. No caso dos crânios que apresentam características
morfológicas dúbias, 2 (13,3%) apresentam um estado de conservação considerado
“Bom”, 2 (66,7%) apresentam um estado de conservação considerado “Péssimo” (ver
Tabela 5).

Tabela 5 – Estado de conservação da pélvis e dos crânios da coleção de esqueletos da CESPU

55
5.1. Fiabilidade das características métricas analisadas
A fiabilidade refere-se à correspondência dos valores relativos aos dados obtidos através
do estudo e o seu valor real (X^2 (1, N= 28)= 5,600; p= 0,133) no que toca à diagnose
sexual, como podemos ver na Tabela 6.

Tabela 6 – Fiabilidade do sexo conhecido da coleção de esqueletos da CESPU

Na Tabela 7, relativa à altura facial do crânio, está representada a distribuição do valor


mínimo (54 milímetros para restos esqueletizados com características masculinas e 47
milímetros para os de características femininas) e do valor máximo (62 milímetros para
os masculinos e 59 milímetros para os femininos). A média é de 58 milímetros para os
masculinos e 53,14 milímetros para os femininos. O desvio-padrão é de 2,757 milímetros
para os masculinos e 4,14 para os femininos.

56
Tabela 7 – Resultados da análise descritiva relativos à altura facial média da coleção de
esqueletos da CESPU

57
A altura facial real não tem interesse estatístico (p< 0,05), pois (X^2 (1, N= 13)= 10,317;
p= 0,325). Nos 6 (46,2% do total) crânios que apresentam características morfológicas
masculinas, temos um intervalo de medidas entre o valor mínimo de 54 milímetros e o
valor máximo de 62 milímetros. A medida mais comum é a de 57 mm, com 2 ocorrências.
Nos 7 (53,84% do total) crânios com características morfológicas femininas, o intervalo
de medidas varia entre o valor mínimo de 47 milímetros e o valor máximo de 59
milímetros. A medida mais comum é a de 62 mm, com duas ocorrências. Juntando
ambos os sexos, a medida mais comum é a de 57 milímetros (ver Tabela 8).

Tabela 8 – Influência das características anatómicas dos crânios da coleção de esqueletos da


CESPU na diagnose sexual – altura facial

58
Na Tabela 9, relativa ao comprimento máximo do crânio, está representada a
distribuição do valor mínimo (171 milímetros para restos esqueletizados com
características masculinas e 168 milímetros para os de características femininas) e do
valor máximo (186 milímetros para os masculinos e 184 milímetros para os femininos).
A média é de 181,33 milímetros para os masculinos e 176,43 milímetros para os
femininos. O desvio-padrão é de 6,314 milímetros para os masculinos e 5,94 para os
femininos.

Tabela 9 – Resultados da análise descritiva relativos ao comprimento máximo dos crânios da


coleção de esqueletos da CESPU

59
O comprimento máximo do crânio real não tem interesse estatístico (p< 0,05), pois (X^2
(1, N= 13)= 10,988; p= 0,358). Nos 6 (46,2% do total) crânios que apresentam
características morfológicas masculinas, temos um intervalo de medidas entre o valor
mínimo de 171 milímetros e o valor máximo de 186 milímetros. A medida mais comum
é a de 186 mm, com duas ocorrências. Nos 7 (53,84% do total) crânios com
características morfológicas femininas, o intervalo de medidas varia entre o valor
mínimo de 168 milímetros e o valor máximo de 184 milímetros. Não há nenhuma
medida que se repita. Juntando ambos os sexos, existem 2 medidas mais comuns: 184
e 186 milímetros (ver Tabela 10).

Tabela 10 – Influência das características anatómicas dos crânios da coleção de esqueletos da


CESPU na diagnose sexual – comprimento máximo

60
No que toca à distância sínfise mentoriana-buraco mentoniano, a Tabela 11 mostra que
a medida não tem interesse estatístico (p< 0,05), pois (X^2 (1, N= 13)= 8,3076; p= 0,217).
Nos 6 (46,2% do total) crânios que apresentam características morfológicas masculinas,
temos um intervalo de medidas entre o valor mínimo de 22 milímetros e o valor máximo
de 32 milímetros. A medida mais comum é a de 23 mm, com dois resultados. Nos 7
(53,84% do total) crânios com características morfológicas femininas, o intervalo de
medidas varia entre o valor mínimo de 24 milímetros e o valor máximo de 32 milímetros.
A medida mais comum é a de 26 milímetros, com três ocorrências. Juntando ambos os
sexos, existem 2 medidas mais comuns: 25 e 26 milímetros.

Tabela 11 – Influência das características anatómicas dos crânios da coleção de esqueletos da


CESPU na diagnose sexual – distância sínfise mentoniana-buraco mentoniano DRT/ESQ

61
Na Tabela 12, relativa à nasion-Ponto A do crânio, está representada a distribuição do
valor mínimo (54 milímetros para restos esqueletizados com características masculinas
e 47 milímetros para os de características femininas) e do valor máximo (62 milímetros
para os masculinos e 59 milímetros para os femininos). A média é de 58 milímetros para
os masculinos e 53,14 milímetros para os femininos. O desvio-padrão é de 2,757
milímetros para os masculinos e 4,14 para os femininos.

Tabela 12 – Resultados da análise descritiva relativos à nasion-ponto A dos crânios da coleção


de esqueletos da CESPU

62
O nasion-ponto A não tem interesse estatístico (p< 0,05), pois (X^2 (1, N= 13)= 10,317;
p= 0,325). Nos 6 (46,2% do total) crânios que apresentam características morfológicas
masculinas, temos um intervalo de medidas entre o valor mínimo de 54 milímetros e o
valor máximo de 62 milímetros. A medida mais comum é a de 57 milímetros, com 2
ocorrências. Nos 7 (53,8% do total) crânios com características morfológicas femininas,
o intervalo de medidas varia entre o valor mínimo de 47 milímetros e o valor máximo
de 59 milímetros. A medida mais comum é a de 52 milímetros, com duas ocorrências
(ver Tabela 13).

Tabela 13 – Influência das características anatómicas dos crânios da coleção de esqueletos da


CESPU na diagnose sexual – nasion-ponto A

63
Na Tabela 14, relativa ao porion DRT/ESQ do crânio, está representada a distribuição do
valor mínimo (99 milímetros para restos esqueletizados com características masculinas
e 96 milímetros para os de características femininas) e do valor máximo (115 milímetros
para os masculinos e 165 milímetros para os femininos). A média é de 108,33 milímetros
para os masculinos e 109,71 milímetros para os femininos. O desvio-padrão é de 5,241
milímetros para os masculinos e 24,958 para os femininos.

Tabela 14 – Resultados da análise descritiva relativos ao porion DRT/ESQ dos crânios da


coleção de esqueletos da CESPU

64
O porion DRT/ESQ não tem interesse estatístico (p< 0,05), pois (X^2 (1, N= 13)= 10,312;
p= 0,171). Nos 6 (46,2% do total) crânios que apresentam características morfológicas
masculinas, temos um intervalo de medidas entre o valor mínimo de 99 milímetros e o
valor máximo de 115 milímetros. Temos duas medidas mais comuns: 108 milímetros e
110 milímetros, ambas com 2 ocorrências. Nos 7 (53,8% do total) crânios com
características morfológicas femininas, o intervalo de medidas varia entre o valor
mínimo de 96 milímetros e o valor máximo de 165 milímetros. A medida mais comum é
a de 96 milímetros, com 3 ocorrências (ver Tabela 15).

Tabela 15 – Influência das características anatómicas dos crânios da coleção de esqueletos da


CESPU na diagnose sexual – porion DRT/ESQ

Não foram possíveis obter dados da pélvis, pois o mau estado em que a amostra se
encontrada impossibilitou a sua medição.

5.2. Análise qualitativa


De seguida apresentamos de forma sumária os dados recolhidos através do estudo das
características morfológicas de interesse para a diagnose sexual, tendo sido construídas
tabelas onde se estudou a sua significância.

65
Relativamente ao crânio, no que toca ao ângulo mandibular e de acordo com a Tabela
16, num universo de 10 restos esqueletizados com características morfológicas
masculinas, 1 caso apresenta ângulo não reto, 6 apresentam um ângulo reto e 3
apresentam um ângulo indeterminado. No caso dos crânios com características
morfológicas femininas, a totalidade apresenta um ângulo não-reto. Esta é uma
característica com relevância estatística, pois (p< 0,01).

Tabela 16 – Características relativas ao ângulo mandibular dos crânios da coleção de


esqueletos da CESPU

66
Como é possível ver na tabela 17, outro exemplo com características estatisticamente
significativas é a acentuação da glabela (X^2 (1, N= 28)= 23,256; p= 0,026). Nos 10
crânios com características masculinas, 3 apresentam glabela muito acentuada, em 1 é
acentuada e em 7 não é possível identificar. Nos 7 crânios com características femininas,
4 apresentam glabela muito acentuada, 2 pouco acentuada e em 1 caso é acentuada.
Esta característica apresenta relevância estatística, pois (p= 0,026).

Tabela 17 – Características relativas à glabela dos crânios da coleção de esqueletos da CESPU

67
Relativamente à cavidade margem supra-orbital, e como está expresso na Tabela 18, no
caso dos crânios que apresentam características morfológicas masculinas, 9 (81,8%)
apresentam uma margem supra-orbital marcada. Nos 7 crânios com características
morfológicas femininas, todos eles (25% da amostra) apresentam uma margem supra-
orbital pouco marcada. Esta é uma característica com relevância estatística, pois (p<
0,01).

Tabela 18 – Características relativas à margem supra-orbital dos crânios da coleção de


esqueletos da CESPU

68
Relativamente à cavidade subpúbica, e de acordo com a Tabela 19, no caso das pélvis
com características morfológicas masculinas, 9 apresentam uma concavidade discreta e
em 1 dos casos é indeterminada. No caso das pélvis com características morfológicas
femininas, a totalidade dos casos, 7, têm uma concavidade subpúbica acentuada. Esta é
uma característica com relevância estatística, pois (p< 0,01).

Tabela 19 – Características relativas à concavidade subpúbica das pélvis da coleção de


esqueletos da CESPU

69
Outra característica estatisticamente significativa, como é possível ver pela Tabela 20, é
a pélvis alta (X^2 (1, N= 28)= 20,481; p= 0,009). Nos 10 casos com características
masculinas, todas elas apresentam a pélvis alta estreita. Nos 7 casos femininos, 5
apresentam pélvis alta estreita, 2 têm pélvis alta não estreita e em 1 (3,6%) espécimen
não se conseguiu determinar. Esta característica apresenta relevância estatista, pois (p=
0,009).

Tabela 20 – Características relativas à pélvis alta das pélvis da coleção de esqueletos da CESPU

5.3. Discussão dos resultados


Como já referido, a determinação do sexo a partir do crânio tem um papel essencial na
antropologia forense (Arigbabu et al., 2017). As duas abordagens principais são a análise
morfológica e morfométrica, que têm sido historicamente demonstradas na
identificação de características sexualmente dimórficas de regiões cranianas (Franklin et
al., 2012; Walrath et al., 2004). A análise morfológica envolve algumas etapas de
procedimento em que um especialista forense examina visualmente as regiões
anatómicas do crânio (como a glabela, mastoide, crista nucal, orbital e eminência
mental), relata as variações observadas no crânio com termos semânticos padrão,
quantifica as descrições em uma escala ordinal e, eventualmente, usa a análise da

70
função discriminante (AFD) para prever o sexo do crânio (Henke, 1977). A análise
morfométrica, por outro lado, requer especialistas forenses para anotar e medir a
distância entre marcos anatómicos. Essas medidas são depois introduzidas em um
modelo AFD para determinar o sexo do crânio (Arigbabu et al., 2017).
No entanto, deve-se ter em mente que o dimorfismo sexual do crânio depende da
população observada. A determinação do sexo a partir de características morfológicas
cranianas é menos confiável do que a avaliação do sexo a partir da pélvis (Bruzek et al.,
2006).
No nosso estudo, apesar de reduzida, a amostra dá-nos um vislumbre da população
portuguesa, já que todos os restos esqueletizados são de indivíduos nacionais
modernos. Todos atingiram a idade adulta antes da morte, pelo que as características
de diagnose sexual estão presentes nos ossos em estudo. Outro fator positivo é termos
informação, na maioria dos casos, acerca do sexo, o que torna possível a comparação
entre os resultados com os dados reais.
A escolha do método de investigação deveu-se ao facto de que a avaliação morfológica,
além de rápida e fácil, é também relativamente baixa em termos de custos, pois não é
necessário o uso de instrumentos dispendiosos ou laboratórios especializados, sendo
compatível com o trabalho de campo. A avaliação métrica com base nas características
anatómicas serve para esclarecer a correlação dos valores métricos com a diagnose
sexual.
A concordância dos métodos utilizados neste estudo com anteriores investigações
(Azevedo, 2008; Buikstra et al., 1994; Duric at al., 2005; Ferembach et al., 1980; Rosing
et al., 2007), embora com universos de amostra muito diferentes, faz com que os
resultados obtidos estejam alicerçados em uma base científica alargada, o que reforça
a sua adequação. No entanto, para a obtenção de resultados mais fiáveis, é aconselhado
a utilização dos dois métodos para reduzir a probabilidade da ocorrência de erro.
Como é possível aferir nas tabelas de elementos morfológicos (Tabela 1 e Tabela 2), a
estimativa do sexo resulta no mesmo resultado, o que leva a concluir que é possível
determinar o sexo só com o crânio ou a pélvis (Bruzek et al., 2006).
5.3.1.1. Limitações

71
Principalmente devido à demora no processo de catalogação e posterior estudo dos
restos esqueletizados, a amostra analisada foi em menos número do que o esperado,
mas isso não invalida os resultados aqui apresentados.
Para que o estudo do dimorfismo sexual seja o mais correto possível de acordo com a
população em estudo é necessário a utilização de uma coleção o mais contemporânea
possível. No nosso caso isso nem sempre se verificou, já que muitos dos restos
esqueletizados provinham de períodos diferentes num espaço temporal de 100 anos.
Este fator tem significância devido a possíveis alterações de estilo de vida e cuidados de
saúde modernos que possam alterar as características de interesse.
5.3.1.2. Perspetivas futuras
Para que as conclusões obtidas com este trabalho possam ser mais fiáveis e ilativas, será
necessária a replicação deste estudo com um número superior de restos esqueletizados.

72
Considerações Finais
Esta investigação teve como mote avaliar se a determinação do sexo através da medição
de crânios e pélvis era uma opção viável que fosse possível implementar em Portugal
com todo o rigor necessário para ser utilizada, independentemente de estar ou não
disponível outra forma de identificação.
Para que fosse possível o estudo, foi criada uma coleção de esqueletos identificados da
CESPU, vindos do cemitério do Prado Repouso, no Porto. Desde o início foi nosso
interesse analisar a amostra de acordo com os pressupostos iniciais, retirando-se toda a
informação que possibilita a determinação do sexo, tendo por base o uso dos crânios e
pélvis. No texto que agora finalizamos foram apresentados os métodos desenvolvidos
neste trabalho, a que se procedeu a uma discussão pormenorizada e comparativa com
outros autores relevantes.
A eficácia dos métodos morfológicos de diagnose sexual, através de uma amostra de 28
restos esqueletizados, foi testada, utilizando as características morfológicas relativas ao
crânio e pélvis – apresentadas pela Antropologia Forense como as mais relevantes –, e
foi possível chegar às seguintes conclusões:
 O estado de conservação da amostra é fundamental para o estudo eficaz das
características relevantes;
 O uso destas medições para a determinação do sexo apresenta resultados
fiáveis, eficazes e de fácil reprodução.
Qualquer estudo antropológico de sucesso está sempre limitado por fatores intrínsecos
e extrínsecos à amostra. O nosso caso em concreto não foi diferente. A nível intrínseco
a nossa maior limitação foi o mau estado de conservação de alguns espécimes e o
reduzido número de restos esqueletizados. A nível extrínseco devemos referir o tempo
limitado para estudar a amostra in loco, para além de todas as condicionantes
extraordinárias de um ano vivido em pandemia.
A interpretação de dados retirados de ossos do esqueleto humano na fase post mortem
depende do conhecimento adquirido através da experiência no terreno. Sendo que cada
esqueleto apresenta alterações morfológicas, estas podem apresentar características

73
diferentes das apresentadas na literatura. Como tal, podem suscitar dúvidas aos menos
experientes que induzam ao erro na determinação do sexo.
Tal como foi referido ao longo deste estudo, quando a qualidade da amostra assim o
permite, os métodos por excelência mais adequados para a determinação do sexo são
os morfológicos.
A nosso ver, uma das várias possibilidades de temas para trabalhos futuros nesta área,
incide no aprofundamento do estudo em populações específicas para melhor aferir a
desigualdade presente nos ossos dos indivíduos dessas populações, fazendo-se
posteriormente um estudo comparativo.

74
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95
Anexos

96
Associação sexo e variáveis métricas

97
98
99
100
Associação sexo e variáveis morfológicas

101
102
103
104
105
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107
108

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