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Breve histórico e classificação da vegetação capixaba

Article  in  Rodriguesia · December 2017


DOI: 10.1590/2175-7860201768521

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4 authors:

Mário Luís Garbin Felipe Zamborlini Saiter


Universidade Federal do Espírito Santo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (IFES)
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Tatiana Carrijo Ariane Luna Peixoto


Universidade Federal do Espírito Santo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro
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Rodriguésia 68(5): 1883-1894. 2017
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DOI: 10.1590/2175-7860201768521

Breve histórico e classificação da vegetação capixaba


Brief history and classification of capixaba vegetation

Mário L. Garbin1,5, Felipe Z. Saiter 2, Tatiana T. Carrijo3 & Ariane L. Peixoto4

Resumo
O estado do Espírito Santo apresenta grande variedade de ecossistemas num território relativamente pequeno.
A exuberância de suas florestas vem despertando o interesse de muitos naturalistas e viajantes desde o século
XIX, os quais deixaram registros valiosos dos primeiros anos da ocupação das “Areas Prohibidas” a leste de
Minas Gerais. O cultivo do café, um dos alicerces econômicos do estado, deu início à perda dessas florestas.
Tais perdas alavancaram o movimento conservacionista e a pesquisa científica no estado. A biogeografia,
riqueza de espécies e de processos ecológicos nos fragmentos que restaram no Espírito Santo ainda revelam
surpresas. Dentro do domínio da Floresta Atlântica, o estado abriga diferentes tipos de vegetação: Floresta
Ombrófila Densa, Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional Semidecidual, Savanas, Formações Pioneiras
e Refúgios Ecológicos. A descrição e classificação da vegetação do Espírito Santo ainda está inacabada
tendo em vista as incertezas levantadas por alguns estudos. Também não existe um mapa da vegetação que
contemple adequadamente a diversificada vegetação. A despeito de tais limitações, apresentamos descrições
sucintas sobre os tipos de vegetação que vêm sendo reconhecidos na literatura moderna.
Palavras-chave: conservação, Espírito Santo, fitogeografia, Floresta Atlântica.
Abstract
The Espírito Santo state has a great variety of ecosystems in a relatively small territory. The exuberance of
its forests has awakened the interest of many naturalists and travelers since the nineteenth century, who left
valuable recordings of these early years of occupation of the “Areas Prohibidas” (Prohibited Areas), East of
Minas Gerais. The coffee crops, one of the economic basis of the state, started the loss of these forests. Such
losses also boosted the conservationist movement and the scientific research in the state. The biogeography,
species richness, and the ecological processes in the remaining fragments of the Espírito Santo still reveal
surprises. Within the Atlantic Forest domain, the state shelters different vegetational types: Ombrophilous
Dense Forest, Ombrophilous Open Forest, Seasonal Semideciduous Forest, Savannas, Pioneer Formations,
and Ecological Refuges. The description and classification of the vegetation is still unfinished due to the
uncertainties raised by some studies. Moreover, there is a lack of a vegetation map that adequately contemplates
the diversified vegetation. Despite these limitations, we present short descriptions of the vegetation types that
have been recognized in the modern literature.
Key words: conservation, Espírito Santo, phytogeography, Atlantic Forest.

“E ao longo das margens, nos arbustos e que, para descrevê-las em sua encantadora
árvores que pendiam por cima do rio, haviam se abundância, a nossa língua é pobre demais.”
desenvolvido ramagens pendentes de trepadeiras, Princesa Therese von Bayern em 4 de agosto de
tapeçarias fantásticas como as que vimos no 1888, ao passar pelo rio Doce, em Linhares (von
Amazonas e que eram de tamanha beleza Bayern 2013).

1
Universidade Vila Velha, Lab. Ecologia Vegetal, Prog. Pós-graduação em Ecologia de Ecossistemas, R. Comissário José Dantas de Melo s/n, Boa Vista, 29102-770,
Vila Velha, ES, Brasil.
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, Rod. ES-080, Km 93, São João de Petrópolis, 29660-000, Santa Teresa, ES, Brasil.
3
Universidade Federal do Espírito Santo/CCA, Lab. Botânica, Alto Universitário s/n, Guararema, 29500-000, Alegre, ES, Brasil.
4
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, R. Pacheco Leão 915, Horto, 22460-030, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
5
Autor para correspondência: mlgarbin@gmail.com
1884 Garbin ML et al.

Um pouco de história litoral não passaram despercebidos pelos primeiros


naturalistas a viajar pelo estado. A princesa Therese
As paisagens, florestas e plantas do Espírito
von Bayern infere, em suas anotações, que por
Santo sempre despertaram o interesse e a
volta de 1880 apenas 15% da área do estado
curiosidade de gerações de naturalistas, viajantes
havia sido ocupada por imigrantes europeus (von
e pesquisadores. Totalmente inserido na Mata
Bayern 2013). A efetiva colonização do estado
Atlântica, o Espírito Santo talvez tenha uma
ocorreu somente a partir da segunda metade do
história sem paralelo no Brasil no que tange à sua
século XIX, com as primeiras levas de imigrantes
relação com a natureza. Por muitos anos, a Coroa
europeus ocupando as regiões serranas e, a seguir, a
Portuguesa proibiu o povoamento, a construção de
região norte do rio Doce (Egler 1951). A ocupação
estradas e a realização de excursões aos “sertões
promoveu a derrubada de florestas. Nesse período,
de leste” (Egler 1951; Oliveira 2008). Essas
a principal fonte econômica da agricultura do
terras a leste de Minas Gerais, eram chamadas de
estado, o café, substituiu as florestas nativas (Dean
“Areas Prohibidas” e tinham como intuito servir de
2004). Ao final da primeira metade do século XX,
barreira natural a aventureiros e possíveis invasores
pouco da exuberância das visões dos primeiros
das ricas minas de ouro a oeste (Oliveira 2008).
viajantes e naturalistas havia restado (Egler 1951).
Consequentemente, o Espírito Santo teve o seu
O historiador Levy Rocha (1971) oferece
desenvolvimento restrito a uma estreita faixa de uma revisão sobre as viagens dos naturalistas que
menos de três léguas (pouco menos de 15 km) da se aventuraram pelo estado e deixaram registros
costa (Egler 1951). Se, por um lado, tal proibição da flora, da fauna, da geografia, da geologia e
trouxe prejuízos ao desenvolvimento da capitania, da população. Dentre outros, citam-se os nomes
por outro lado, o confinamento da ocupação à faixa seguidos do ano da visita: M. Rugendas (1824);
litorânea permitiu a preservação de extensas porções A. Guisbright (1836); T. Peckolt (1850); G.
de terra. Em 1535, quando de forma pioneira foi Freyreiss, príncipe de Wied-Neuwied e F. Sellow
fundada a “Vila do Espírito Santo”, atual cidade de (1815); C.F. Hartt (1865-1866), W. Steains (1885);
Vila Velha, 87% do território capixaba era coberto A. Saint Hilaire (1818); e a princesa T. Bayern
por florestas (Atlas dos Ecossistemas do Espírito (1888), dentre outros nomes. Moritz Rugendas,
Santo 2008). O pioneirismo da ocupação do litoral aventurando-se pelas matas capixabas a partir de
não foi acompanhado da ocupação do interior do Minas Gerais em 1824, foi talvez o primeiro a
estado. registrar em desenhos a vegetação e a população
Saint-Hilaire, em sua viagem ao estado em local (Rocha 1971). Especula-se que Sellow tenha
1818, afirmou não encontrar qualquer cultura a morrido em terras capixabas, por afogamento no
mais de oito léguas da costa; e que dava conta de rio Doce (Rocha 1971). É importante ressaltar que
“não mais de 24 mil almas” ou no máximo pouco o Espírito Santo não estava na escala dos navios
menos de 41 mil habitantes (Saint-Hilaire 1974). que iam para as Índias Orientais, como estavam
Entre 1865 e 1866, o geólogo canadense C.F. Hartt a Bahia e o Rio de Janeiro (Rocha 1971). Para o
viajou entre o Rio de Janeiro e a Bahia descrevendo leitor não familiarizado com a geografia do estado,
a geologia e a geografia da região (Hartt 1870). é possível consultar o mapa interativo do portal
Segundo ele, “Em parte alguma do Brasil, nem I3Geo, do Instituto Estadual de Meio Ambiente e
mesmo no Pará, vi uma floresta mais exuberante Recursos Hídricos (IEMA 2017), disponível em
do que a do rio Doce” (Egler 1951). Ainda em <https://iema.es.gov.br/> para acessar informações
1888, a grande barreira de florestas densas, com geográficas e dados oficiais sobre localidades,
áreas pouco habitadas e praticamente inacessíveis, municípios e áreas protegidas do Espírito Santo.
chamou a atenção da princesa Therese von Bayern, Quando entramos no século XX, Egler
em sua viagem de duas semanas à província, de (1951) destaca o papel de Philipp von Luetzelburg
25 agosto a 12 de setembro (von Bayern 2013). (1880–1948), engenheiro e botânico alemão, que
Ela estimou a população toda do estado em pouco em sua passagem pelo Espírito Santo traz à tona
mais de 121 mil habitantes. Somente a cidade do um dos muitos mistérios das matas capixabas,
Rio de Janeiro já contava com mais de 500 mil o qual transcrevemos aqui: “Causa estranheza o
habitantes por volta de 1890 (IBGE 2010). Durante contraste da vegetação na margem sul e norte do
quase 300 anos, esse era o resultado da política rio Doce. A vegetação da margem sul começa numa
portuguesa de ocupação do território capixaba. O capoeira higrófila, passa depois a semi-xerófíla e
desenvolvimento acanhado e o confinamento ao transforma-se por completo em vegetação xerófila

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Vegetação capixaba 1885

com aspecto de caatinga, a que o baiano, sem fauna e flora de determinadas regiões capixabas,
dúvida, daria a denominação de caatinga suja [...]. entre 1940 e 1950; a disputa judicial travada
Atravessando, porém, o rio, na margem oposta com o governador do estado pela propriedade da
nos recebem imediatamente as matas virgens. Eis estação biológica do Museu Nacional [parte da
o contraste palpitante”. Egler (1951), ressalta que, Estação Biológica Santa Lúcia], nos anos 1970; e a
por volta de 1950, tal contraste já não era mais atuação no processo de sustação do desmatamento
evidente devido à devastação das matas. A década promovido pelo grupo Monteiro Aranha na
de 1930 foi marcada por uma nova constituição, Fazenda São Joaquim, nos anos 1980.” Warren
a de 1934, a implementação de um novo Código Dean (2004), tratando da história da devastação
Florestal, e as bases para a organização de parques da Mata Atlântica, referiu-se a Ruschi como um
nacionais e estaduais (Dean 2004). Essas mudanças “naturalista autodidata do Espírito Santo, de índole
reverberaram no Espírito Santo concorrendo para inteiramente avessa a concessões aduladoras por
tal o empenho de dois conservacionistas militantes: parte da elite governamental”, e ressalta o papel
Álvaro Coutinho Aguirre (1899–1987) e Augusto de Ruschi na preservação das florestas de Santa
Ruschi (1915–1986). Teresa, principalmente da Estação Biológica de
Álvaro Coutinho Aguirre, zoólogo do Santa Lúcia, e das reservas biológicas de Sooretama
Ministério da Agricultura, exerceu, entre outros, e Comboios. Sobre a Estação Biológica de Santa
o cargo de chefe da Divisão de Pesquisa desse Lúcia, podemos encontrar uma vasta literatura
ministério e propugnou, na década de 1940, para o científica publicada. Destacamos, como exemplo,
estabelecimento no norte do Espírito Santo de duas que ela possui riqueza de mamíferos (62 espécies),
áreas protegidas: a Reserva Florestal Estadual do superada apenas pela “Manu Biosphere Reserve”,
Barra Seca, criada em 1941, e o Parque de Refúgio no Peru (Passamani et al. 2000). Sua floresta
de Animais Silvestres Sooretama, criado em 1943. apresenta um dos maiores índices de diversidade
Não satisfeito, defendeu em diversos fóruns pela ecológica para o componente arbóreo já registrado
junção delas, o que ocorreu definitivamente em entre as florestas tropicais (H’=5,2) (Saiter et al.
1982 quando a Reserva Biológica de Sooretama 2011). Para outros grupos de organismos, como
foi estabelecida com os atuais limites. Esta área, aves e lepidópteros, a riqueza de espécies também
juntamente com a Reserva Natural Vale, além de é alta (Mendes & Padovan 2000). Se a floresta
duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural da Estação Biológica de Santa Lúcia tivesse
(Mutum Preto e Recanto das Antas) compõem o sucumbido ao arrendamento de terras para dar
maior bloco contínuo de vegetação remanescente lugar a plantações de palmeiras (Dean 2004), não
do estado, com cerca de 53 mil hectares, e último poderíamos sequer ter imaginado esses achados.
refúgio da onça pintada (Panthera onca) no O Museu de Biologia Prof. Mello Leitão sedia o
Espírito Santo (ver Srbek-Araujo & Kierulff 2016). primeiro herbário capixaba criado em 1949 (Rede
Augusto Ruschi esteve também vinculado Brasileira de Herbários 2017) e se tornou a semente
a essas lutas e conquistas, e a muitas outras, do atual Instituto Nacional da Mata Atlântica
tornando-se um dos grandes nomes do movimento (INMA), criado em 6 de fevereiro de 2014 pela Lei
ambientalista do país, patrono da ecologia brasileira 12.954, do qual projeta-se um papel de liderança
que chegou a estampar cédulas de 500 cruzados e inovação em pesquisas de biodiversidade no
novos em 1990. Não cabe aqui uma revisão do estado e no país (Scarano 2016). Instituições como
papel, história e legado desse capixaba, fundador o INMA, que administram áreas preservadas,
do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão. Para tal, possuem grande relevância científica, social e
o leitor pode buscar o livro “Ruschi O Agitador biológica (Costa et al. 2016). Essa visão de avanço
Ecológico”, de Rogério Medeiros (1995), assim calcado pela responsabilidade ambiental e social
como o “Catálogo do Acervo Textual de Augusto esteve presente nas palavras de Ruschi, citadas em
Ruschi no Instituto Nacional da Mata Atlântica”, Medeiros (1995): “Não só a população do nosso
de Alyne Gonçalves e Marcello Furtado (2015). país, mas toda a humanidade verá a exacerbação
Na introdução a esse catálogo Alyne Gonçalves dos prejuízos causados pela presença e ação do
destaca “três momentos na rica história de Ruschi, homem, se o progresso não for encarado sob o
nos quais pesquisa, militância, convicções pessoais ponto de vista ecológico”. Assim, os esforços de
e posição institucional se confundiram e se Ruschi geraram frutos de valor inestimável para a
retroalimentaram: a idealização e demarcação de ciência capixaba e o país, de longe superiores aos
sete reservas biológicas para a proteção integral da que as plantações teriam dado.

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1886 Garbin ML et al.
Os remanescentes vegetais do estado, de modo em estimar a riqueza de espécies do país, pelos
geral, ainda carecem de muito aprofundamento no especialistas colaboradores da Lista de Espécies
conhecimento de sua riqueza biológica. Muitos da Flora do Brasil 2015 (BFG 2015), a riqueza de
trechos vegetados, mesmo em unidades de espécies conhecidas para o Espírito Santo estava
conservação, apenas há poucos anos começaram a subestimada em mais de 15% (Dutra et al. 2015).
ter sua vegetação inventariada e documentada em Além dessas incertezas inerentes ao estudo de
coleções científicas. Outros, entretanto, destacam- ecossistemas de alta diversidade, muitos dos padrões
se por abrigarem inúmeras ações de pesquisas e de de diversidade que temos hoje resultam da ação
conservação nelas realizadas há algumas décadas humana. No Espírito Santo, isto se deu não apenas
e amplamente divulgadas. Entre estas, destaca-se pela perda ou degradação da vegetação nativa,
a Reserva Natural Vale na floresta sobre tabuleiros mas também pela preservação e a regeneração de
costeiros (ver entre outros Rolim et al. 2016a com florestas na região serrana do estado. As primeiras
algumas sínteses de conhecimento; e Magnago et levas de imigrantes que chegaram ao estado em
al. 2014), a Reserva Biológica de Santa Lucia, na 1847 (Egler 1951) precisavam derrubar a floresta
floresta ombrófila densa (ver entre outros, Saiter para plantar as suas lavouras, e isso era feito com
el al. 2011), e as restingas, especialmente no machado e fogo (Dean 2004; Seibel 2010). Para os
Parque Estadual Paulo César Vinha (ver diversas imigrantes alemães da região serrana do Espírito
publicações de Pereira e colaboradores, como Santo, era importante deixar parte da floresta
Pereira & Assis 2000). Entretanto, os resultados intacta para sempre terem uma reserva de madeira
obtidos para áreas ainda pouco exploradas também disponível (Seibel 2010). Para lidar com um solo
já apontam para uma riqueza incomum. Uma área que rapidamente se esgotava após poucos ciclos de
de Floresta Ombrófila Densa (ver descrição desse plantio, e que forçava a derrubada de novas áreas,
tipo de vegetação na próxima seção) com pouco eles adotaram uma técnica de descanso do terreno
mais de 150 ha ao sul do estado, no Parque Estadual chamada de “capoeirão”, mais conhecida como
de Mata das Flores (município de Castelo) revelou pousio, na qual o terreno era abandonado por três a
riqueza de 239 espécies de angiospermas e 21 quatro anos, uma “espécie de reflorestamento para
novas ocorrências para o estado (Luber et al. 2016). a recuperação das terras” (Seibel 2010). Assim, a
No Parque Estadual de Itaúnas, em Conceição preservação e a regeneração de muitas áreas da
da Barra, município da região norte do estado, região serrana do estado podem estar associadas às
foram encontradas 562 espécies de angiospermas, técnicas de recuperação do solo e a necessidade de
o que representa mais de 74% de toda a riqueza madeira para as gerações futuras. Hoje sabemos que
de Angiospermas em restingas no Espírito Santo remanescentes de alta diversidade que compõem
(Souza et al. 2016). A vertente capixaba (voltada a paisagem rural estão associados a solos mais
para leste) do Parque Nacional do Caparaó, com férteis (Athayde et al. 2016). Além disso, esses
áreas de Florestas Estacionais Semideciduais e agricultores que preservam esses remanescentes
Ombrófilas, ainda é pobremente conhecida. Sabe- criam condições favoráveis à conservação (Gheler-
se que essa região possui uma alta dissimilaridade Costa 2016). Assim como recentemente revelado
com outras áreas montanas do país, provavelmente para a floresta amazônica (Levis et al. 2017), é
devido aos muitos endemismos (Zorzanelli et al. provável que muitos dos padrões de diversidade
2016a). Também na região do Caparaó capixaba, e composição observados hoje sejam resultado
as lacunas de coleta são evidentes (Zorzanelli de ação humana, o que demandará novas linhas
et al. 2017). A alta riqueza e o grande número de pesquisa.
de novas ocorrências indicam que as lacunas de
coleta ainda são uma realidade e novas espécies A vegetação do Espírito Santo
são descobertas e descritas todos os anos no estado. Iniciamos esta seção admitindo que a
Recentemente, foi descoberta uma nova espécie de vegetação do Espírito Santo ainda não foi
Freziera (Pentaphylacaceae), a primeira do gênero acuradamente descrita pelos trabalhos já publicados
conhecida para a Floresta Atlântica (Zorzanelli sobre o tema (p.ex., Ruschi 1950; Simonellli
et al. 2016b) e mesmo bromélias de grande & Fraga 2007). Também admitimos que são
porte revelam-se como novas espécies (Coser et escassas na literatura as discussões acerca de
al. 2013). Tal carência de conhecimento ficou inconsistências de classificação e delimitação dos
evidente numa listagem recentemente publicada tipos vegetacionais ali existentes (p.ex., Saiter et
que demonstrou que mesmo com o enorme esforço al. 2017; Rolim et al. 2016b). Sabemos, entretanto,

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que alguns botânicos e fitogeógrafos conhecedores especificidade a situação da vegetação do Espírito


das paisagens do Espírito Santo têm manifestado Santo. Adicionalmente, buscamos informar o leitor
informalmente suas desconfianças a respeito da sobre dúvidas a respeito das áreas ocupadas pelos
delimitação de tipos vegetacionais seguindo o Mapa tipos vegetacionais, bem como relatar a provável
de Vegetação do Brasil (IBGE 2004). As raízes existência de outros tipos.
desse mapa estão nos resultados dos relatórios A Floresta Ombrófila Densa é composta por
sobre vegetação do Projeto RADAMBRASIL, árvores perenifólias com brotos foliares geralmente
que foi responsável pelo levantamento de recursos desprovidos de proteção à seca, e está subordinada
naturais em todo o território brasileiro por meio de a períodos secos de até 60 dias (Ururahy et al. 1983;
imagens de radar (escala 1:250.000) e de satélite Jordy Filho 1987). A princípio, a área delimitada
(Landsat 5 e 7; escala 1:500.000), além de ações para esse tipo de vegetação abrange os tabuleiros
de sobrevoo e amostragem em campo (Jordy Filho costeiros (Formação Barreiras) localizados entre
1987). Os referidos relatórios adotaram o sistema as latitudes de 18o a 21oS, bem como terras mais
de classificação de vegetação de Veloso & Góes- elevadas e assumidamente mais úmidas do interior,
Filho (1982), um trabalho considerado precursor tanto ao norte do rio Doce quanto na região serrana
do atual sistema de classificação da vegetação ao sul do mesmo rio (Fig. 1). Uma classificação
brasileira de IBGE (2012), e tiveram detalhamento hierárquica baseada sobretudo em critérios
limitado ao nível de “formação”. altitudinais também pode ser utilizada para indicar
No que se refere ao território do Espírito as formações de Floresta Ombrófila Densa: de
Santo, devemos considerar os mapas de vegetação Terras Baixas (até 50 m), Submontana (50–500
apresentados pelo Projeto RADAMBRASIL para m), Montana (500–1500 m) e Alto-Montana (>
as folhas SF. 23/24 Rio de Janeiro/Vitória (Ururahy 1500 m).
et al. 1983) e SE.24 Rio Doce (Jordy Filho 1987). Entretanto, existem fortes argumentos que
A primeira folha abrangeu a porção sul do Espírito dão suporte à classificação da floresta sobre
Santo, a partir da latitude de 20oS, além de todo o tabuleiros costeiros da região de Sooretama e
território do Rio de Janeiro e de parte de Minas de Linhares (ao norte do rio Doce; Fig. 1 e Fig.
Gerais e São Paulo. A segunda abrangeu o restante 2a,b) como um tipo diferente de vegetação,
do Espírito Santo, ao norte da latitude 20oS, bem com alternância temporal entre as fisionomias
como parte dos territórios de Minas Gerais e perenifólia e semicaducifólia ou semidecidual
Bahia. A análise desses mapas nos mostra que (denominado de floresta estacional perenifólia
foram identificadas seis regiões fitoecológicas a semicaducifólia por Saiter et al. 2017). Além
(aqui preferimos chamar de tipos de vegetação) disso, estudos têm apontado que a parte central-
no Espírito Santo: Floresta Ombrófila Densa, noroeste do Espírito Santo também seria área de
Floresta Ombrófila Aberta, Floresta Estacional predominância de florestas estacionais (Simonellli
Semidecidual, Savanas, Formações Pioneiras e & Fraga 2007; Saiter et al. 2015; Saiter et al. 2016).
Refúgios Ecológicos. Destas, apenas a tipologia Como exemplo, citamos a floresta de São João de
de savanas não foi incorporada no mapa de IBGE Petrópolis, no município de Santa Teresa, a qual é
(2004). Ressaltamos, contudo, que alguns tipos de oficialmente classificada como Floresta Ombrófila
vegetação somente reconhecidos em escala local, Densa, mas que parece perder uma quantidade
como a vegetação sobre afloramentos rochosos razoável de folhas durante o inverno (Fig. 1 e
(inselbergs) e a vegetação de ilhas e ilhotas Fig. 2c). Considerando essas situações à parte, as
costeiras não mereceram destaque nos relatórios áreas protegidas e oficialmente reconhecidas no
do Projeto RADAMBRASIL (Ururahy et al. 1983; contexto da tipologia de Floresta Ombrófila Densa
Jordy Filho 1987) e no mapa de IBGE (2004). seriam: Estação Biológica de Santa Lúcia, Floresta
Tendo como base apenas os seis tipos de Nacional de Goytacazes, Floresta Nacional do
vegetação descritos no Projeto RADAMBRASIL, Rio Preto, Monumento Natural Serra das Torres,
propomos apresentar aqui descrições sintéticas Parque Estadual de Forno Grande, Parque Estadual
de cada um, tendo como base as informações Mata das Flores, Parque Estadual de Pedra Azul,
originais de Ururahy et al. (1983) e Jordy Filho Parque Nacional do Caparaó, Parque Natural
(1987). Optamos pelas informações apresentadas Municipal do Acaringa, Parque Natural Municipal
nesses dois estudos, e não aquelas de aspecto da Fonte Grande, PNM de São Lourenço, Reserva
geral do sistema de classificação da vegetação Biológica Augusto Ruschi (Fig. 2d), Reserva
brasileira (IBGE 2012), pois elas tratam com maior Biológica Córrego do Veado, Reserva Biológica

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Figura 1 – Mapa mostrando os diferentes tipos de vegetação do estado do Espírito Santo (sensu IBGE 2004). Acima, à
esquerda, mapa do Brasil com o estado do Espírito Santo em cinza. Letras correspondem a diferentes localidades cujas
imagens são mostradas na Fig. 2. Os rios indicados no mapa correspondem aos citados no texto. Note que a delimitação da
área de ocorrência de Refúgio Ecológico parece ter sido subestimada no mapa de IBGE (2004). Observar no texto indicações
de possíveis inconsistências na classificação fisionômica dos sítios – a. vista aérea da floresta sobre tabuleiro, na Reserva
Biológica de Sooretama; b. interior da floresta sobre tabuleiro na Reserva Natural Vale, em Linhares; c. floresta de São João
de Petrópolis, em Santa Teresa; d. Reserva Biológica Augusto Ruschi, em Santa Teresa; e. campos nativos na Reserva Natural
Vale, em Linhares; f. vegetação de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Guarapari; g. manguezal no estuário do rio
Benevente, em Anchieta; h. Parque Nacional do Caparaó, na vertente voltada para o Espírito Santo, em Dores do Rio Preto.
Figure 1 – Map showing the different vegetational types of the Espirito Santo state (sensu IBGE 2004). Top left, Brazil map with the Espirito Santo
state in gray. Different letters correspond to different localities whose images are shown in Fig. 2. The rivers shown in the map are those cited in the
text. Note that the area delimited for Ecological Refuge seems to be underestimated in the IBGE (2004) map. See text for indications of possible
inconsistencies in the physiognomic classification of sites – a. aerial view of the forest on coastal tabuleiro, Sooretama Biological Reserve; b. interior
of the forest on coastal tabuleiro in the Vale Natural Reserve, Linhares; c. São João de Petrópolis forest, Santa Teresa; d. Augusto Ruschi Biological
Reserve, Santa Teresa; e. native fields in the Vale Natural Reserve, Linhares; f. restinga vegetation in the Paulo César Vinha State Park, Guarapari; g.
magrove forest in the Benevente river estuary, Anchieta; h. Caparaó National Park, on the slope facing the Espírito Santo state, Dores do Rio Preto.
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Vegetação capixaba 1889

Córrego Grande e Reserva Biológica de Duas os mapas de Ururahy et al. (1983) e Jordy Filho
Bocas, além de muitas Reservas Particulares do (1987), notamos que esse tipo de vegetação abrange
Patrimônio Natural (RPPN). Não obstante, algumas os tabuleiros costeiros do Sul, as bacias dos rios
dessas áreas protegidas demandam estudos mais Itabapoana e Itapemirim (incluindo parte da Serra
detalhados para uma classificação mais acurada do Caparaó), e trechos a centro-oeste mais ou menos
de seus tipos vegetacionais. coincidentes com as bacias dos rios Guandu, Santa
A Floresta Ombrófila Aberta que ocorre no Maria do rio Doce e Pancas (todas sub-bacias do
Espírito Santo é, segundo Ururahy et al. (1983), rio Doce; Fig. 1). Contudo, como mencionamos
uma fisionomia florestal caracterizada por árvores acima, é provável que todo o noroeste do Espírito
mais espaçadas, sendo o caráter aberto estabelecido Santo seja de fato área de abrangência da Floresta
por palmeiras do gênero Attalea (Arecaceae). Estacional Semidecidual. Em termos de formações,
Esse tipo de vegetação foi mapeado (ver Fig. 1) podemos encontrar no Espírito Santo as Florestas
em duas áreas disjuntas na região serrana ao sul Estacionais Semideciduais de Terras Baixas (até 50
do Rio Doce, a primeira entre Venda Nova do m), Submontanas (51–500 m) e Montanas (501–
Imigrante e Ibatiba (1000–1200 m) e a segunda 1500 m). As unidades de conservação existentes
entre Alfredo Chaves e o sul de Santa Leopoldina em área de Floresta Estacional Semidecidual
(600–800 m) (Ururahy et al. 1983), e no extremo (considerando a possibilidade de maior extensão da
noroeste do estado, em parte dos atuais municípios área de ocorrência desse tipo de vegetação) são: Área
de Mantenópolis e Água Doce do Norte (Jordy de Proteção Ambiental Pedra do Elefante, Parque
Filho 1987). Nesse último caso, sempre em altitude Estadual Cachoeira da Fumaça, Parque Nacional
acima de 600 m e condicionado a um clima com até do Caparaó, Monumento Natural o Frade e a
90 dias secos (Jordy Filho 1987). Considerando as Freira, Monumento Natural dos Pontões Capixabas,
cotas altitudinais dessas áreas, a Floresta Ombrófila Floresta Nacional de Pacotuba e várias RPPN.
Aberta estaria apenas representada pela formação A tipologia Savana foi mapeada por
Montana. No entanto, ainda existe muita incerteza Jordy Filho (1987) como um único enclave
com relação à conceituação desse tipo de vegetação dentro da região de Floresta Ombrófila Densa,
no contexto do Espírito Santo. Apesar de nenhum especificamente em uma área de solos arenosos,
estudo ter sido realizado sobre o tema localmente, com apenas 30 km2, localizada em região de
sabemos que palmeiras do gênero Attalea são tabuleiros costeiros ao norte da cidade de Linhares.
relativamente comuns em toda a região serrana do Entretanto, o autor relatou a ocorrência de várias
Espírito Santo (certamente menos do que espécies outras áreas savanícolas de pequeno tamanho na
de outros gêneros, como Euterpe edulis Mart.), região, inclusive no interior da Reserva Florestal
e que a presença delas não necessariamente está da Companhia Vale do Rio Doce (atual Reserva
ligada a uma fisionomia aberta da vegetação. Por Natural Vale; a ocorrência também é confirmada
outro lado, não temos como emitir opiniões sobre para a Reserva Biológica de Sooretama), as quais
a vegetação do extremo noroeste do estado, pois não puderam ser apropriadamente delimitadas
o pouco que resta dela ainda se mantém como em virtude da escala de mapeamento. É possível
incógnita. No que tange à proteção, existem apenas que a única área de savana mapeada por Jordy
pequenas RPPN (em conjunto somando menos Filho (1987) tenha sido suprimida do Mapa de
de 200 ha) na área indicada como de Floresta Vegetação do Brasil (IBGE 2004) devido à mesma
Ombrófila Aberta entre Alfredo Chaves e o sul de limitação de escala (Fig. 1). As Savanas descritas
Santa Leopoldina. para o norte do Espírito Santo correspondem, sem
A Floresta Estacional Semidecidual ocorre dúvida, ao que se costuma denominar localmente
sob clima com duas estações bem definidas, uma de campos nativos (Fig. 1; Fig. 2e), um ambiente
chuvosa e outra seca (Ururahy et al. 1983; Jordy caracterizado por fitofisionomias herbáceas a
Filho 1987). O período seco dura entre 90 e 120 dias herbáceo-arbustivas (ver Araujo et al. 2008).
e acarreta uma estacionalidade foliar das árvores Devemos, por último, ressaltar a associação dessas
dominantes, as quais têm adaptações à deficiência savanas com a chamada floresta de muçununga,
hídrica (Ururahy et al. 1983; Jordy Filho 1987). uma feição florestal adjacente também ocupando
Em relação à deciduidade do conjunto florestal, a solos arenosos desestruturados, mas que é
porcentagem de indivíduos arbóreos caducifólios caracterizada por árvores de pequeno porte, em
(e não espécies) alcança 20–50% durante o período flagrante distinção fisionômica para com a floresta
desfavorável (Ururahy et al. 1983). Analisando de maior porte que domina o entorno (Saporetti

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1890 Garbin ML et al.

a b

c d

e f

g h
Figura 2 – Diferentes tipos de vegetação encontrados no estado do Espírito Santo – a. vista aérea da floresta sobre tabuleiro,
na Reserva Biológica de Sooretama; b. interior da floresta sobre tabuleiro na Reserva Natural Vale, em Linhares; c. floresta
de São João de Petrópolis, em Santa Teresa; d. Reserva Biológica Augusto Ruschi, em Santa Teresa; e. campos nativos
na Reserva Natural Vale, em Linhares; f. vegetação de restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Guarapari; g.
manguezal no estuário do rio Benevente, em Anchieta; h. Parque Nacional do Caparaó, na vertente voltada para o Espírito
Santo, em Dores do Rio Preto. Fotos: a,e. G.S. Siqueira; b,g,h. M.L. Garbin; c,d,f. F.Z. Saiter.
Figure 2 – Different vegetational types found in the Espírito Santo state – a. aerial view of the forest on coastal tabuleiro, Sooretama Biological
Reserve; b. interior of the forest on coastal tabuleiro in the Vale Natural Reserve, Linhares; c. São João de Petrópolis forest, Santa Teresa; d.
Augusto Ruschi Biological Reserve, Santa Teresa; e. native fields in the Vale Natural Reserve, Linhares; f. restinga vegetation in the Paulo
César Vinha State Park, Guarapari; g. magrove forest in the Benevente river estuary, Anchieta; h. Caparaó National Park, on the slope facing
the Espírito Santo state, Dores do Rio Preto. Photos: a,e. G.S. Siqueira; b,g,h. M.L. Garbin; c,d,f . F.Z. Saiter.
Rodriguésia 68(5): 1883-1894. 2017
Vegetação capixaba 1891

Júnior et al. 2012; Simonelli et al. 2008), a típica tipos de vegetação estão legalmente protegidos
floresta sobre tabuleiros costeiros mencionada em unidades de conservação como o Parque
anteriormente. Estadual de Itaúnas, o Parque Natural Municipal
As Formações Pioneiras ocupam os depósitos de Jacarenema, a Reserva de Desenvolvimento
de sedimentos do Quaternário (Fig. 1, mas Sustentável Concha D’Ostra, a Área de Proteção
atente para o fato de que a escala não permite Ambiental de Conceição da Barra e aquelas que
visualizar todos esses depósitos no mapa) e podem compõem o Mosaico de Áreas Protegidas da Baía
ser divididas em áreas de influência marinha, de Vitória.
influência fluvio-marinha e influência fluvial Os Refúgios Ecológicos são representados
(Ururahy et al. 1983; Jordy Filho 1987). As áreas no Espírito Santo por uma formação Alto-Montana
de influência marinha correspondem aos cordões (também denominada de campos de altitude; Fig. 1)
arenosos e dunas que ocorrem ao longo do litoral que é composta por vegetação de porte herbáceo-
(Ururahy et al. 1983). São caracterizadas por graminóide intercalada por pequenos arbustos e
solos arenosos resultantes da deposição de areias que ocorre sobre solos litólicos de embasamento
marinhas e cobertas pela chamada vegetação cristalino acima de 1500 m de altitude na Serra
de restinga, ou simplesmente restinga. Sob essa do Caparaó (Fig. 1 e Fig. 2h). Simonelli & Fraga
denominação está um rico conjunto de fisionomias, (2007), entretanto, especularam sobre a possível
as quais se diferenciam por aspectos ambientais, ocorrência desse tipo de vegetação em outras áreas
fisionômicos e florísticos (Fig. 2f). Devemos elevadas da região serrana do estado. É certo que
acrescentar que Pereira et al. (2003) adotou uma existem outras localidades relativamente próximas
classificação prática das fisionomias de restinga à Serra do Caparaó e com altitudes compatíveis
composta pelas seguintes categorias: herbácea não com esse tipo de vegetação, como o pico do Forno
inundável, herbácea inundável, herbácea inundada, Grande (2039 m), a Pedra Azul (1822 m) e a Pedra
arbustiva fechada não inundável, arbustiva das Flores (1909 m). Contudo, tais localidades
fechada inundável, arbustiva aberta não inundável, são caracterizadas por maciços rochosos onde a
arbustiva aberta inundada, florestal não inundável, formação de solos litólicos ocorre somente em
florestal inundável, e florestal inundada. Nessa pequenas e rasas depressões da superfície rochosa.
classificação, os termos inundável e inundada Consequentemente, nesses locais os solos não
indicam, respectivamente, regime sazonal de adquirem extensão e complexidade como nos
inundação e regime permanente de inundação. campos de altitude. Isso nos faz considerar que os
Áreas de restingas protegidas mais relevantes campos de altitude estariam mesmo restritos ao
são encontradas no Parque Estadual de Itaúnas, Parque Nacional do Caparaó.
na Reserva Biológica de Comboios, no Parque
Estadual Paulo César Vinha, na Área de Proteção Considerações finais
Ambiental de Setiba, no Parque Natural Municipal Esperamos ter deixado evidente que as
de Jacarenema e na Área de Proteção Ambiental lacunas de conhecimento sobre a vegetação do
Guanandy. Espírito Santo ainda são enormes. Talvez, um dos
As áreas de influência fluvio-marinha maiores desafios para a botânica capixaba ainda seja
correspondem aos ambientes halófilos saber o tamanho da biodiversidade remanescente
da desembocadura de curso de água no mar. que ela guarda. Isto é a base para o futuro de outras
Representam essas áreas os manguezais (com áreas do conhecimento, como ecologia, genética,
suas distintas comunidades) localizados na foz farmacologia e biologia da conservação. A princesa
de alguns rios (por exemplo, os rios Piraquê-açu, Therese von Bayern afirmou que a vegetação
Santa Maria e Benevente) (Fig. 2g), e a extensa capixaba era “[...] de tamanha beleza que, para
planície inundada/inundável coberta por vegetação descrevê-la em sua encantadora abundância, a
essencialmente herbácea nas proximidades da nossa língua é pobre demais”. Apesar de a princesa
foz do rio Doce. As áreas de influência fluvial ter referido à língua alemã, estendemos a reflexão à
compreendem as planícies aluviais periodicamente língua portuguesa e esperamos, fundamentalmente,
ou permanentemente inundadas ocupando que tal incapacidade não se reflita em uma ciência
faixas extensas ao longo dos rios. Devido ao pobre demais para entender e preservar o pouco
encharcamento dos solos, que limita a instalação que restou. Este volume inicial da Flora do Espírito
de componente arbóreo, essas áreas são cobertas Santo dará bases para que uma nova geração de
por uma vegetação herbáceo-graminóide. Esses cientistas cumpra essa difícil tarefa.

Rodriguésia 68(5): 1883-1894. 2017


1892 Garbin ML et al.

Agradecimentos Ch. Fred. Hartt, professor of Geology in Cornell


University. Fields, Osgood, Boston. 620p.
Agradecemos à FAPES, o financiamento de IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
projetos que vêm propiciando aos autores avançar o (2004) Mapa de vegetação do Brasil. 3 a ed.
conhecimento sobre a vegetação do Espírito Santo; Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio
ao CNPq, a concessão da bolsa de Produtividade a de Janeiro. Disponível em <ftp://ftp.ibge.gov.br/
T.T. Carrijo; a Geovane S. Siqueira e Acervo RNV, Cartas_e_Mapas/Mapas_Murais/>. Acesso em 10
as fotografias da Reserva Natural Vale. agosto 2017.
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RADAMBRASIL, Salvador. 86p. 10.1007/s40415-017-0386-z.

Editor de área: Dr. Vidal Mansano


Artigo recebido em 09/07/2017. Aceito para publicação em 30/10/2017.

Rodriguésia 68(5): 1883-1894. 2017

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