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4.

Conjuntos enumeráveis
4.1. Definição. Um conjunto A é dito enumerável se A for finito, ou se
existir uma função bijetiva f : N → A. Diremos que os elementos

f (1), f (2), f (3), ...

formam uma enumeração de A.


4.2. Proposição. Cada conjunto infinito contém um subconjunto infinito
enumerável.
Demonstração. Seja A um conjunto infinito. Pela Proposição 3.7 existe
uma função injetiva f : N → A. Como a função f : N → f (N) é bijetiva, segue
que f (N) é um subconjunto infinito enumerável de A.
4.3. Proposição. Se A é um conjunto enumerável, então cada subconjunto
B de A é enumerável.
Demonstração. Se A é finito, então a conclusão segue da Proposição 3.5.
Caso contrário, existe uma função bijetiva f : N → A. Se B é finito, não
precisamos provar nada. Logo podemos supor que B é infinito. Seja C =
f −1 (B). Então C é um subconjunto infinito de N. Vamos definir g : N → B
de maneira indutiva. Seja n1 o menor elemento de C, e seja g(1) = f (n1 ) ∈ B.
Suponhamos que g(1), ..., g(k) já foram definidos de maneira que, para cada
j = 2, ..., k, g(j) = f (nj ), onde nj é o menor elemento do conjunto

C \ {n1 , ..., nj−1 }.

Seja nk+1 o menor elemento do conjunto

C \ {n1 , ..., nk },

e seja g(k + 1) = f (nk+1 ). Como n1 < n2 < n3 < ..., a função g : N → B


é claramente injetiva. Para provar que g é sobrejetiva suponhamos que exista
b ∈ B \ g(N). Então teriamos que

f −1 (b) ∈ C \ {n1 , ..., nk }

para cada k ∈ N, e portanto f −1 (b) ≥ nk+1 para cada k ∈ N, absurdo. Logo


g : N → B é bijetiva.
4.4. Corolário. Seja f : A → B.
(a) Se f é injetiva e B é enumerável, então A é enumerável.
(b) Se f é sobrejetiva e A é enumerável, então B é enumerável.
Demonstração. (a) Pela proposição anterior f (A) é enumerável. Como a
função f : A → f (A) é bijetiva, A é enumerável.
(b) Como f é sobrejetiva, para cada b ∈ B existe g(b) ∈ A tal que f (g(b)) = b.
Isto define uma função g : B → A que é injetiva pelo Exercı́cio 1.H. Pela parte
(a) B é enumerável.

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4.5. Proposição. O conjunto N × N é enumerável.
Demonstração. Dados (m, n), (p, q) ∈ N × N, definamos (m, n) < (p, q)
se m + n < p + q ou se m + n = p + q e m < p. Assim obtemos a seguinte
enumeração de N × N:

(1, 1) < (1, 2) < (2, 1) < (1, 3) < (2, 2) < (3, 1) < ...

4.6. Corolário. Se A e B são enumeráveis, então A × B é enumerável.


Demonstração. Pelo Exercı́cio 4.A existem funções sobrejetivas f : N → A
e g : N → B. Seja
h:N×N→A×B
definida por
h(m, n) = (f (m), g(n)).
É claro que h é sobrejetiva. A conclusão segue do Corolário 4.4 e da Proposição
4.5.
S∞
4.7. Corolário. Se Am é enumerável para cada m ∈ N, então m=1 Am é
enumerável.
Demonstração. Seja fm : N → Am uma função sobrejetiva para cada
m ∈ N. Seja

[
f :N×N→ Am
m=1

definida por
f (m, n) = fm (n).
É claro que f é sobrejetiva. A conclusão segue do Corolário 4.4 e da Proposição
4.5.
4.8. Exemplo. O conjunto

Z = {..., −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, ...}

dos números inteiros é enumerável.


4.9. Exemplo. O conjunto

Q = {m/n : m, n ∈ Z, n 6= 0}

dos números racionais é enumerável.

Exercı́cios
4.A. Se A é enumerável, prove que sempre existe uma função sobrejetiva
f : N → A.

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4.B. Prove que Z é enumerável.
4.C. Prove que Q é enumerável.
4.D. Prove que a famı́lia dos subconjuntos finitos de N é enumerável.
4.E. Prove que N é a união de uma famı́lia enumerável de subconjuntos
infinitos disjuntos.

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