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21/12/2022 13:46 “DECIFRA-ME OU TE DEVORO”: REFLEXÕES SOBRE A ANGÚSTIA E OS ATENDIMENTOS ON LINE NOS TEMPOS DE …

Textos

“DECIFRA-ME OU TE DEVORO”:
REFLEXÕES SOBRE A ANGÚSTIA E OS ARTIGOS
ATENDIMENTOS ON LINE NOS TEMPOS POR
DE PANDEMIA Adriana Regina
Piotto Tirola (4)
por Mônica Fujimura Leite
Edinei Hideki
“DECIFRA-ME OU TE DEVORO”: Suzuki (8)
Josani Campos
REFLEXÕES SOBRE A ANGÚSTIA E (1)
OS ATENDIMENTOS ON LINE NOS TEMPOS DE Marana Tamie
PANDEMIA Uehara de
Souza (1)
Maria de
Fátima Oliveira
Mônica Fujimura Leite
(2)
Marina Pinto
de Paula (2)
Diante da imposição do isolamento social,
Michelle
precisamos fechar as portas de nossas clínicas e
Hattori Fuziy
passar a atender on line. Neste momento, era a única
(4)
forma de dar seguimento ao trabalho, sustentando
Mônica
uma posição e um anteparo frente aos
Fujimura Leite
desdobramentos que a situação impunha.
(11)
Frente ao desamparo vivenciado, o tema veio muito a Mônica Maria
calhar com o seminário que eu vinha estudando com Silva (5)
colegas da ALPL, na modalidade de cartel. Assim, me Silvia Helena
propus a pensar se os fenômenos experienciados de Rezende
poderiam ser articulados ao conceito da angústia, Siste Maia (1)
conforme Lacan o propõe, e como se daria o
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tratamento disso numa análise on line. Gostaria de Zeila Cristina


agradecer as interlocuções realizadas, com minhas Facci Torezan
colegas de cartel, bem como com os demais (14)
membros, nos fóruns, reuniões de eixo e seminários.

A pandemia trouxe uma condição de sofrimento.


Fomos afetados nos três pilares de nossa existência e
RECEBA
NOVIDADES
que Freud (1929/1996) aponta como fontes de
Escreva aqui s
sofrimento: nosso corpo, o outro e a natureza.
Ouvimos relatos das perdas (da liberdade, dos
Inscrever
objetos de gozo, do trabalho, da morte, da saudade);
de o contato com o outro, tão primordial ao humano,
ser a fonte do contágio; de o vírus ser uma resposta
da natureza frente às intempéries humanas ao
planeta. FACEBOOK

Porém, dizer que este sofrimento afeta a todos da Assoc


1.593 cur
mesma forma não é verdadeiro. Colette Soler, em
uma live, diz que o sofrimento, para além da
circunstância que o produz e desencadeia, é Curtir Página

relacionado ao inconsciente de cada um, e participa


do gozo inerente ao sintoma.

De que forma isso se dá? Retornando à letra de


Freud, no texto supracitado, ele diz que, quando
somos atingidos em uma dessas direções, nos
deparamos com o nosso desamparo primordial,
contra o qual tentamos fazer frente através da
civilização. Freud localiza esse desamparo à condição
própria do humano que, diante de sua fragilidade e
despreparo constituintes, é totalmente dependente
de um outro humano para sobreviver. Isso é
traumático. Diante da falta de resposta instintual do
bebê, o adulto codifica as vivências infantis por meio
da linguagem, armando o circuito pulsional, tirando o
infans da condição de ser vivente e ascendendo-lhe à
condição humana. Ter sua existência atrelada ao
desejo de um outro traz ao infante o temor de perdê-
lo, ficando para ele a interpretação de que o outro é
a fonte de seu sofrimento. Dentro deste circuito,
onde podemos situar a angústia?
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Freud, em “O Estranho” traz duas ideias, a de que a


angústia seria um sinal de uma ameaça ao eu,
ameaça da castração (entendendo castração como
perda), sendo consequência, portanto do recalque; e,
posteriormente, que a angústia é que produziria o
recalque, que seria então uma defesa contra a
angústia. Lacan, no seminário 10 (p. 153) retoma o
dito freudiano, questionando-o, de como a
angústia[i] [#_edn1] poderia ser defesa, e ao mesmo
tempo, algo contra o qual o eu se defenderia? Ele traz
então a ideia de que a “defesa não é contra a
angústia, mas contra aquilo de que a angústia é sinal”
(p. 153). Não se trata de defesa contra a angústia,
mas de uma certa falta. Falta de que?

                      De acordo com Lacan (seminário 10), a


angústia aparece quando a falta do Outro falta.
Partindo exatamente de onde Freud nos deixou, em
termos lacanianos, para existir, o humano precisa ter
sua existência reconhecida por outro humano, ou
seja, se engajar no desejo do Outro. “O desejo do
homem é o desejo do Outro” (p. 31). Na medida em
que o Outro falta, e não sabe o que lhe falta, o sujeito
é implicado, a partir de sua própria falta, a ocupar o
lugar de objeto que supostamente completaria ao
Outro, e consequentemente a ele mesmo (p. 32-33).

  Lacan nos lembra que o Outro é o lugar do


significante, ou seja, retomando o estádio do
espelho, a criança, ao reconhecer, jubilatoriamente, a
própria imagem no espelho, volta-se para o adulto
que a segura, em busca da confirmação “tu és” (p. 41)
[ii] [#_edn2] . Ele diz, porém, que nem todo
investimento libidinal passa pela imagem especular,
resgatando o conceito de falo, enquanto uma lacuna
que fica na imagem, ou seja, uma falta.

É isso que possibilita o desejo: na medida em que


algo escapa da significação do Outro, o sujeito fica
impedido de identificar o objeto que completaria a
falta. Assim, constitui-se a cena fantasmática, que
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implica no sujeito separado do objeto de desejo, na


esperança de alcançá-lo. Nas palavras de Lacan: “o
a[iii] [#_edn3] , suporte do desejo na fantasia, não é
visível naquilo que constitui para o homem a imagem
de seu desejo” (p. 51). Isso que resiste à
significantização é o que possibilita ao sujeito ser
desejante.

Então, respondendo à pergunta, a angústia surge


quando algo aparece no lugar em que deveria estar
preservado o lugar da falta. (p. 51)[iv] [#_edn4] . Ou
seja, o sujeito se vê na iminência de ver-se como
objeto que completa o Outro, colocando a sua
castração a serviço do que falta ao Outro (p. 56).

Observem que Lacan diverge radicalmente de Freud


neste ponto, uma vez que para ele, conforme foi
falado (e que ele retoma em Inibição, Sintoma e
Angústia), a angústia seria uma reação frente à perda
do objeto. Para Lacan, o sinal que a angústia introduz
é frente ao desejo do Outro, que lhe dirige uma
demanda que o anula, questionando o sujeito em
sua própria perda, seu próprio desejo, na qual ele
fica aprisionado (p. 169).

Além desta questão da demanda, Lacan situa a


angústia frente a outros dois pilares: o gozo do Outro
e o desejo do analista. Com relação ao gozo do
Outro, Lacan refere que a angústia surge quando o
objeto a (privado e incomunicável) torna-se um
objeto intercambiável (comum, socializado, situável e
reconhecível) (p. 100 e 103). Os objetos
intercambiáveis são os objetos da pulsão, objetos
parciais, que servem para preencher uma falta,
sendo gozado pelo Outro.

Para tratar disso, Lacan traz o exemplo de estarmos


diante de um louva-deus gigante, travestidos de algo
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que nós próprios desconhecemos. Nesta situação


nossa angústia refere-se a não sabermos que objeto
somos diante do desejo do Outro, correndo o risco
de sermos um objeto apetecente aos olhos dele,
podendo então ser devorados. Ele traz, retomando o
grafo do desejo, na relação do sujeito com o
significante (do Outro), a pergunta que se coloca “che
voi?”, desdobrando em “o que ele quer comigo?” e
“como me quer ele?” (p. 14).

Fazendo referência à situação vivenciada por todos


nós neste momento, e que nos tem posto em
angústia, podemos desdobrar tais perguntas: o que
esse vírus quer comigo? Serei do grupo de risco? Vou
morrer? O que acontecerá como meu emprego?
Como pagarei minhas contas? Poderei trabalhar? O
que faço com meus filhos? Quero este marido? No
fórum da Fernanda, em que ela também trata dos
atendimentos on line nos tempos de pandemia,
Mônica Silva pergunta: frente ao encontro com o
Real, o sujeito responde como objeto? Lacan diz que
a angústia é sinal do real (p. 178). O real, para Lacan,
seria o que nos coloca diante da castração, ou seja,
da falta. Penso que seja neste sentido que Colette
Soler traz que, diante de um fenômeno mundial
(pan), cada sujeito responde individualmente.
Conforme vimos com Lacan, diante da falta no Outro,
o sujeito responde com a própria falta.

Diante disso, o que faz uma psicanálise? Fernanda


traz em seu fórum que, por meio das intervenções, o
analista visa esvaziar este lugar de objetos
intercambiáveis, até que possa surgir o lugar da falta
como não tamponável. Assim, o sujeito pode ocupar
um outro lugar, diferente do de objeto
intercambiável.

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Assim, retomando, a angústia surge da relação do


sujeito com o desejo do Outro, diante do qual ele
responde com o próprio desejo, a partir de uma
resposta sintomática. Lacan trata o sintoma, neste
seminário, enquanto o que situa ao objeto a
enquanto causa do desejo do sujeito (p. 304-305).
Uma psicanálise possibilita então, de início, que o
sujeito perceba o funcionamento de seu sintoma, ou
seja, que há uma causa nele (p. 306).

  No seminário 10, Lacan diz que o caminho de uma


análise passa pelo a, e que este é o objeto presente
na transferência (p. 307). Assim, o sujeito se oferece
nesse lugar de a ao analista (p. 61), pedindo-lhe que
demande dele (p. 62). Lacan situa a transferência,
neste seminário, que é a partir desta falta que o
paciente ama, e repete isso com o analista (p. 122)
(amor de transferência). Sabemos, desde Freud, que
aceitamos a oferta, porém, não respondemos a partir
dela. Desta forma, podemos levar o sujeito ao
encontro com a interpretação da castração. Ao se
deparar com a falta no Outro (analista), o sujeito é
convocado a “dar o troco, através de um signo, o de
sua própria castração” (p. 56)[v] [#_edn5] . Assim, ao
ofertar esse vazio, cuja presença serve de anteparo
ao enganchamento das relações primordiais do
paciente, o analista possibilita ao analisando
perceber-se nessas relações que o configuraram
enquanto sujeito na vida, e que posição tomou
diante delas.

Isso possibilita a passagem da angústia ao desejo.


Lacan diz que a angústia é intermediária entre o gozo
e o desejo (p. 193). Na experiência analítica o sujeito
retorna à função da falta na estrutura original (p.
151), marcando a falta como irredutível (p. 195), e
passa da ameaça de castração para a angústia de
castração (p. 195).  Assim, deixa de ver a falta como
uma ameaça ou um defeito, admitindo-a como parte
de si, desanodando-se da posição sintomática na
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qual se encontra, possibilitando a queda de a, e


ascendendo ao desejo.  

Segundo Soler, isso se dá não tanto pela palavra do


analista, mas é possível porque o analista encarna,
no pano de fundo de seu silêncio, o objeto causa, a
partir do qual o inconsciente se diz. E na análise on
line, como o objeto se faz carne?

Lembremos que Lacan, no seminário 11, diz que o


inconsciente se produz na análise e […] “não pode ser
separado da presença do analista”. Diante disso, é
importante compreender o que Lacan chama de
presença do analista. Na Nota Italiana Lacan (1973)
diz: “Só existe analista se o desejo lhe advir”.
Podemos entender então que o analista ocupa
determinada posição, a partir de um desejo: desejo
do analista (p. 307). Chegamos aqui ao terceiro
elemento trazido anteriormente por Lacan. O
analista ocupa a posição de objeto causa de desejo.

  Bom, um início de resposta seria então a


sustentação do desejo do analista, onde ele ocupa
uma função. Além disso, a constituição do
inconsciente se dá em transferência, marcando esta
presença nos três registros – real, simbólico e
imaginário. Existem as palavras e as articulações
significantes, existe a cena que se monta, existem os
afetos e objetos pulsionais que circulam entre
analista e analisante. Essa é a condição para que a
análise aconteça.

Comecemos pelo simbólico: em “A Direção do


Tratamento e os Princípios de seu Poder”, Lacan diz
que o poder da psicanálise é o poder da palavra. Do
lado do analistante, permanece nosso convite para
que ele fale, inaugurando, com a associação livre. Do
lado do analista, entramos com as pontuações,
equivocidades, escanções, cortes. Mas a fala também
comporta a dimensão do real, recupera-se um gozo
ao falar.
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No seminário 10 Lacan diz que os significantes


vocalizados nos colocam diante do objeto a (p. 273).
Assim, a voz entra como algo que está entre o sujeito
e o Outro, sendo vista como estranha a ele, e
instaurando um vazio. O sujeito incorpora os
significantes do Outro (p. 301).

Numa situação de interação virtual, os especialistas


dizem que a qualidade do som é mais importante
que a imagem. Penso na radicalidade disso quando
se refere a uma psicanálise, em que a fala não tem
função de comunicação. Lacan diz que “o efeito do
significante é fazer surgir no sujeito a dimensão do
significado” (p. 311), e isso é particular para cada um.
As chamadas “falhas de comunicação” decorrem de
os objetos do mundo poderem entrar como causa
para o sujeito (p. 315)[vi] [#_edn6] .

A fala está para além do enunciado, é um dos objetos


da pulsão. Assim, o dizer implica em uma posição
erógena e tem efeitos sobre o corpo. Implica em uma
enunciação e um endereçamento, veicula desejo. Na
instauração do inconsciente, a linguagem é
incorporada pela voz. Como fica isso com a mediação
da tela? Aurélio Souza, numa live do Espaço Moebius,
diz que numa análise on line, o elemento
intermediário que serve de contato entre o analista e
o analisante modifica as condições de fala de ambos,
modificando o que cada um pode ouvir, e a forma
como é escutado o retorno que fazemos da fala do
paciente para ele próprio.

  Como trabalhar as escanções, as interrupções, as


respirações e os suspiros, quando estamos
assujeitados à conexão do provedor da internet?
Como garantir uma escuta? Ou um silêncio? Como
intervir num mal-entendido sem saber se foi uma
falha técnica ou do discurso do paciente? Como
saber se ele não escutou por resistência ou por “rede
desistência”?

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Sobre o silêncio, encontrei em Hernandez (2004) uma


citação de Lacan, no seminário A lógica do fantasma
que diz existirem duas formas de silêncio. Taceo seria
o da palavra não-dita, do calar, do silenciar ou ser
silenciado. De outra parte, sileo seria um silêncio
fundante, estruturante, do buraco da significação.
Quando há palavras para se dizer, mas não são ditas,
cala-se; por outro lado, quando faltam palavras para
dizer o que se deseja, silencia-se. Pela tela não é
possível saber se o silêncio é um ou o outro.

Cristhian Dunker, em seu canal do youtube, diz que


numa análise on line a resistência começa a tomar
força, sendo mais fácil desencontrar horários,
desligar a tela… Eu já vivi atrasos, outros
compromissos, esquecimentos. Visitas familiares que
chegam, interrupções de setting.

Pelo viés imaginário, em sua clínica presencial, o


analista oferece um setting, e isso implica, para além
da sustentação de uma função, também a oferta e
sustentação de um lugar, um horário, do sigilo, do
divã, a disposição dos corpos no espaço, a
interrupção do olhar, a interrupção da sessão. Diante
destas questões, encontro interlocução novamente
com Aurélio Souza, que diz que há efeitos
transferenciais numa análise on line, na medida em
que não garante a privacidade, e uma exacerbação
do imaginário.

Numa análise on line, quem chama? Quem fica na


espera? Como lidar com as falhas ou perdas de
conexão? Repomos a sessão? De quem é o problema
técnico? De quem é a falta? A sua internet não
funciona, ou é a minha? Quem se responsabiliza?

São questões, que não sei se têm uma resposta


definitiva. Sei que tenho praticado o trabalho clínico
com a psicanálise on line, e que tem sido possível a
continuidade do tratamento das questões trazidas
pelos pacientes, além de situações inusitadas e
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surpreendentes. Mas esses desdobramentos têm


feito ruído. Me vejo muito mais cansada e tendendo
a concordar com os psicanalistas que dizem ser
possível, contanto que se intercalem encontros
presenciais.

REFERÊNCIAS

Freud, “O Estranho”

Freud, S. O Mal Estar na Civilização. (1929/1996)

Freud, Inibição, Sintoma e Angústia

Lacan, J. Nota Italiana (1973) p. 311-315. In:


________Outros Escritos, RJ, Jorge Zahar Ed, 2003,
trad. Vera Ribeiro.

LACAN, J. (1962-63).O seminário, livro 10: A


Angústia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.

LACAN, J. (1964).O seminário, livro 11: os quatro


conceitos fundamentais da psicanálise.  Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998.

“A Direção do Tratamento e os Princípios de seu


Poder”

LACAN, Le  Coq-Héron, 1974, nº 46/47, p. 3-8 –


Declaration à France Culture

Lacan, Jacques (2003b). Nota italiana. InOutros


escritos. Campo Freudiano no Brasil. Rio de Janeiro:
Zahar. (Trabalho original transmitido em 1973)

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Hernandez, Juliana. (2004). O duplo estatuto do


silêncio. Psicologia USP, 15(1-2), 129-147. Disponível
em https://dx.doi.org/10.1590/S0103-
65642004000100016 Acesso em 19 maio 2018.

complementar

Lacan, Jacques (2008a). Lição XVI. Seminário 14: A


lógica do fantasma. Recife: Centro de Estudos
Freudianos do Recife: publicação para circulação
interna. (Trabalho original transmitido em 1967).

[i] [#_ednref1] Para Lacan, a angústia não é uma


emoção, mas um afeto. Isso implica em que ela não é
passível de recalque, fica à deriva, o que é recalcado
são os significantes que o amarram (p. 23)

[ii] [#_ednref2] Lacan reforça que as coisas do mundo


se colocam em cena a partir das leis do significante
(p. 42-43).

[iii] [#_ednref3] O objeto a, Lacan o situa


originalmente como suporte do desejo, ou seja, como
causador dele (p. 113 e 115).

[iv] [#_ednref4] Lacan diz que quando o lugar do -ⱷ é


preenchido, surge “a angústia de castração, em sua
relação com o Outro” (p. 55).

[v] [#_ednref5] “é na medida em que se esgotam até


o fim, até o fundo da tigela, todas as formas de
demanda, até a demanda zero, que vemos aparecer
no fundo a relação de castração” (p. 63).

[vi] [#_ednref6] Torneira de Piaget, em que a criança


parecia compreender a explicação do
funcionamento, proposta pelo adulto, mas quando ia
ensinar outra criança, algo se perdia e ela não
conseguia explicar.

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