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Eduardo Kimura Barcelos de Lima

Matrícula: 190063904
Promoção à Saúde 3

Tema: Promoção à saúde com idosos a partir de práticas corporais.

INTRODUÇÃO:

A partir da Conferência de Alma Ata, em 1978, reconheceu-se a necessidade de


garantir um envelhecimento ativo para a população idosa, bem como garantir
qualidade e manutenção de vida. Além disso, entende-se que o contexto desse idoso
deve ser o mais favorável possível, para que o sujeito tenha preservada sua
autonomia e independência física e emocional. Definiu-se na conferência alguns
requisitos para garantir a saúde do idoso, como: educação e prevenção dos principais
problemas de saúde; promoção de suprimentos e nutrição adequada; água potável e
saneamento básico; imunização contra doenças infecciosas; prevenção e controle de
doenças endêmicas; disponibilização de medicamentos essenciais e recursos sociais,
como ações em universidades.
A Carta de Ottawa, em 1986, definiu estratégias para garantia da promoção à saúde,
as quais são: implementação de políticas públicas saudáveis; criação de ambientes
favoráveis à saúde; reforço à ação comunitária; reorientação dos serviços; e
desenvolvimento de habilidades pessoais. Esta carta foi e ainda é um norteador para a
criação de políticas públicas pensadas à promoção da saúde, reconhecendo que
outros setores da sociedade que não estejam diretamente ligados a saúde interferem
em todo processo de qualidade de vida e também de adoecimento da população. As
mudanças demográficas ocasionaram no aumento do índice populacional idoso, logo,
houve aumento de necessidades específicas deste público, bem como o aumento das
demandas aos serviços de saúde, porém a oferta desses programas e serviços não
acompanharam o fluxo, gerando falta de acesso e negligencia.
Culturalmente no Brasil prevalece um estigma em relação à população idosa,
considerando-os incapazes, como se não tivesse autonomia de tomar decisões e viver
plenamente. As perdas de papéis sociais comprometem significativamente a vida
dessa população, tendo em vista que o processo de envelhecimento já é permeado
por diversas perdas e fragilizações, e o rompimento com atividades significativas, por
exemplo, pode gerar diversos problemas de saúde, assim como agravar questões de
saúde já existentes. Em algumas culturas contra hegemônicas, a exemplo a
comunidade indígena Yanomami, tem-se o entendimento de que os parentes mais
velhos fazem parte de toda uma rede de ancestralidade; e quanto mais velho, mais
sábio. Dessa forma, o respeito e a admiração a esses idosos são imprescindíveis para
a comunidade. Cuidar da saúde dos mais velhos é primordial na cultura dos povos
indígenas do Brasil, um contraponto interessante de se observar na cultura de nós,
‘’brancos’’. Quando se preserva pelo cuidado com os mais velhos, permitindo que o
mesmo sempre exerça papel fundamental em sua vida, ou seja, exercendo autonomia
e cidadania, o processo de envelhecimento ativo acontece, gerando mais qualidade de
vida e bem-estar.
A promoção à saúde reconhece os determinantes sociais como fatores que interferem
no processo de saúde-doença, tendo em vista que a concepção de saúde não é
apenas ausência de doença, mas sim condições de vida que favorecem (ou não) o
desempenho desse sujeito, como direito à saneamento básico, educação, alimentação
adequada, renda, lazer, acesso a bens e serviços (Nascimento, 2003). Além disso, a
promoção de saúde conta não apenas com ações comunitárias e ações intersetoriais,
mas também com a intervenção do Estado com a criação de políticas públicas que
garantam os direitos ao idoso.
Um grande avanço foi feito em 1994 com a criação da Política Nacional do Idoso, a
partir da lei 8.842/94, com objetivo de ‘’assegurar os direitos sociais do idoso para se
promover autonomia, integração e participação ativa na sociedade’’ (BRASIL, 2006)
Três anos depois, a Conferência de Jacarta também foi de grande importância pois
incluiu a população idosa ao grupo prioritário de investimentos na área de saúde. Isso
se ocasionou devido às mudanças demográficas e epidemiológicas, como aumento
exponencial de idosos em países em desenvolvimento, bem como doenças crônicas.
Em 2003, com a criação do Estatuto do Idoso, o Estado é o principal responsável pela
garantia da proteção à vida e à saúde por meio de políticas sociais que consigam
garantir e favorecer um envelhecimento ativo da população. Já em 2006, criou-se a
Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, nº 2.528/06, surgindo devido ao Pacto
pela Saúde (nº1.395/99), tendo como diretrizes recuperar, manter e promoves a
autonomia e independência da pessoa idosa, por meio de medidas individuais e
também coletivas, seguindo os princípios do SUS de integralidade, equidade e
universalização nos serviços de saúde.
A ação de promoção à saúde escolhida com a população idosa foram as práticas
corporais, ministradas muitas vezes na Unidade Básica de Saúde (UBS), em especial
o método Self-Healing. As atividades grupais possibilitam que o sujeito aja ativamente
em sua mudança da vida, a partir do contato e troca com terceiros e conscientização
de suas questões, além de ser um espaço de socialização, cuidado e
compartilhamento. As propostas grupais, além de seres uma superação do modelo
biomédico, favorecem para a identificação de demandas e promovem educação em
saúde.
O método criado por Meir Schneider, consiste em técnicas corporais que visam
prevenção de doenças físicas, psíquicas, visuais, orgânicas, etc. São utilizados
alongamentos, movimentos leves e sem esforços significativos, respiração,
visualização e automassagem (SCHNEIDER, 1998). É considerado o método do
movimento, pois a partir de movimentos sutis é possível promover o relaxamento da
musculatura, aliviando desconfortos, por exemplo. Além disso, estimula atenção
direcionada, estimula circulação sanguínea, promove alivio de dores e tensões,
propicia percepção do movimento, diminuindo padrões que eram gatilhos para
doenças já existentes ou aparecimento de outros quadros e gerando manutenção da
capacidade funcional.
O exercício da respiração está intimamente ligado à autopercepção, pois a partir da
mesma identifica-se certas sensações que podem gerar tensões, ansiedades, dentre
outras questões de saúde. A respiração associada aos movimentos,
concomitantemente, proporciona uma percepção sinestésica, a partir da consciência
do movimento por meio do direcionamento da respiração (SCHNEIDER, 2005). Já a
automassagem aumenta a mobilidade articular e gera relaxamento da musculatura,
além de possibilitar autoconhecimento sobre o próprio corpo do sujeito, a partir de
experimentações físicas. A técnica da visualização consiste em um ato mental, ao
visualizar os agrupamentos musculares exercitados, imaginando o movimento
enquanto o executa, bem como também na respiração e no alongamento. O circuito
neurológico mental percorre o mesmo circuito do ato físico, ou seja, quando se
visualiza mentalmente a perna flexionando e se realiza o movimento de flexionar a
perna, os mesmos neurônios são envolvidos. Dentre os benefícios do método de Self-
Healing, destaca-se a diminuição de dores, aumento da disposição e melhora de
aspectos físicos e emocionais de pessoas idosas. O método pode ser considerado
uma Prática de Integrativa e Complementar de Saúde (PICS) pelo SUS, e as mesmas
recebem pouco investimento, cerca de 0,008% de despesas de todo investimento
repassado (DATASUS, 2022). Um ponto negativo deste método é a escassa
divulgação e execução nas Unidades Básicas de Saúde e na comunidade, além do
pouco investimento em práticas integrativas e complementares na Atenção Primária.
Apesar disso, é incontestável sua eficácia e seus pontos positivos, entretanto, se
houvesse divulgação mais ampla e acessível sobre o método seria possível atingir
mais o público idoso.

REFERÊNCIAS:

Sícoli JL, Nascimento PR. Promoção da saúde: conceitos, princípios e


operacionalização.Interface -Comunic, Saúde, Educ, 2003, 7(12): 101-22.
Organização das Nações Unidas. Assembléia Mundial sobre envelhecimento:
Resolução 39/125. Viena: ONU; 1982.
12. Schneider M, Larkin MO, Schneider D. Manual de autocura: método self-healing.
São Paulo: Triom; 1998
Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 2.528, de 19 de Outubro de 2006 [acesso 10 de
dezembro de 2022]. Política Nacional da Pessoa Idosa. Disponível em:
http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2006/GM/GM-2528.htm
4. Schneider M. Movimento para a autocura. São Paulo: Editora Cultrix; 2005

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