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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, sob
quaisquer meios existentes, sem autorização por escrito do detentor do copyright© ou da Editora.
Direção editorial
Leoberto Balbino
Revisão
Beto Fonseca
Barbara Eleodora Benevides
Design de capa
João Braga
Ilustrações internas
Adilson Euzébio
Projeto gráfico e editoração eletrônica
R2 Editorial
Imagens de capas
Desenhos a grafite e lápis de cor de Miron Soares baseados nos originais: “O Tailleur Bar”, coleção New
Look de Dior, 1947, foto de Willy Maywald (capa) e “A Infanta Isabel”, Felipe de Llano, 1584 (4ª capa)
Produção do eBook
Schaffer Editorial
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD
B813h
Braga, João
História da moda [recurso eletrônico]: uma narrativa / João Braga ; ilustrado por Adilson
Euzébio. - 11. ed. - São Paulo : D’Livros Editora, 2022.
Inclui índice e bibliografia.
ISBN: 978-65-89053-07-1 (Ebook)
1. Moda. 2. História da moda. I. Euzébio, Adilson. II. Título.
CDD 746.92
2021-4851 CDU 391
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
Índices para catálogo sistemático:
1. Moda 746.92
2. Moda 391
2022
Direitos exclusivos de edição à
Andréa Pécora
Produtora de moda
SOBRE O AUTOR
João Braga
João Braga
Março de 2022
SUMÁRIO
Introdução
Capítulo 1
Pré-História | Antiguidade Oriental – Mesopotâmia, Egito
Capítulo 2
Antiguidade Clássica – Creta, Grécia, Etrúria, Roma
Capítulo 3
Idade Média – Povos Bárbaros, Bizâncio, Europa Feudal, Europa Gótica
Capítulo 4
Idade Moderna – Renascimento, Barroco, Rococó
Capítulo 5
Idade Contemporânea (Século XIX) – Império, Romantismo, Era
Vitoriana, La Belle Époque
Capítulo 6
Idade Contemporânea (Século XX) – As Décadas de 1910, 1920, 1930 e
1940
Capítulo 7
Idade Contemporânea (Século XX) – As Décadas de 1950, 1960 e 1970
Capítulo 8
Idade Contemporânea (Século XX e Século XXI) – As Décadas de 1980,
1990, 2000 e 2010
Capítulo 9
Breviário Histórico do Jeans
Referências
INTRODUÇÃO
Muito obrigado.
João Braga
Setembro de 2021
CAPÍTULO 1
Mesopotâmia, Egito
Pré-História
A folha vegetal como primeiro material para elaborar uma indumentária. (Baseada em “O
Retábulo de Gand” de Jan Van Eyck – 1430-32.)
Antiguidade Oriental
Mesopotâmia
Egito
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Creta
Etrúria
Roma
IDADE MÉDIA
Povos Bárbaros
Europa Feudal
Como dito anteriormente, a invasão dos povos bárbaros em território do
Império Romano Ocidental foi a principal causa de sua queda. Houve, com
isso, um considerável êxodo urbano para começar daí uma nova proposta de
vida ligada ao campo.
Os centros urbanos, que passavam por grandes crises econômicas; a
decadência do comércio, devido aos baixos rendimentos; o declínio da
autoridade centralizada; e o deslocamento para o campo fizeram aparecer
um novo sistema político-econômico associado a um senhor e a suas
respectivas propriedades rurais. Assim surgiram os feudos, que não eram
todos iguais, nem obedeciam a uma mesma ordem, sendo, porém,
semelhantes em determinados aspectos. O rendimento estava centralizado
na produção agrícola e o poder político, nas mãos dos senhores das terras,
que ganharam significativa autoridade.
O sistema social que caracterizou a Europa Ocidental na segunda
metade do primeiro milênio da Era Cristã foi exatamente o feudalismo,
com o senhor e seus vassalos. Estes prestavam serviço e obediência àqueles
em troca da sobrevivência, que normalmente era um pedaço de terra para
trabalhar.
Houve uma grande queda na produção artístico-cultural nesse período,
visto que as referências greco-romanas foram substituídas pelos valores dos
povos invasores, além do deslocamento urbano para o campo e,
consequentemente, uma diferente forma de produção cultural.
Ocorreu a tentativa de unificar a Europa sob o comando de um
governante católico, Carlos Magno, que privilegiava o ensino e as oficinas
de arte. Esse sistema obteve sucesso enquanto ele esteve vivo. Depois de sua
morte e da divisão do reino entre os herdeiros, o objetivo foi perdido. As
oficinas por ele criadas foram de tremenda importância no que diz respeito à
produção cultural, e antecederam às dos mosteiros, que, após a
desunificação europeia, passaram a dominar todo o tipo de produção
intelectual, estando totalmente ligada às questões religiosas cristãs.
A túnica curta, o capuz com pelerine e a braie caracterizaram a indumentária do período
feudal na Europa. (Chartres, catedral de Notre-Dame, c. 1150. Foto Martin Hürlimann.)
Europa Gótica
IDADE MODERNA
Renascimento
Barroco
Para o gênero masculino, era muito comum o uso de botas, que eram
adornadas em seus canhões com magníficas rendas. Essas botas, que de
início se destinavam só para montaria, ganharam também o status de moda.
Foi a época da França dos mosqueteiros e da Inglaterra dos cavaleiros.
Para as mulheres, à exceção da Espanha, não se usava mais o vertugado e
sim uma sobreposição de anáguas sob uma saia mais arredondada.
Por volta da década de 40 do século XVII, os cabelos longos naturais
masculinos entraram na moda; porém, havia aqueles não muito dotados de
cabeleira que faziam uso de perucas e, sendo assim, as mesmas se tornaram
um hábito de moda. A peruca transformou-se num dos elementos mais
importantes da elegância masculina. Luís XIV chegou a conceder licença
em 1655 a 48 fabricantes de peruca em Paris.
A partir de 1660, a corte de Versalhes começou, de fato, a se impor para
o restante da Europa com os novos padrões sociais, criando boas maneiras,
etiquetas, modos e, principalmente, moda.
Desse momento em diante, a moda masculina desenvolveu-se muito
mais que a feminina. O pitoresco passou a ser uma marca registrada para
ambos os sexos. A roupa dos homens ganhou uma identidade muito
marcante: o culotte. Ele tornou-se bem largo, chegando até aos joelhos, com
ornamentos de bordados e rendas, assemelhando-se mais a um saiote curto
do que a um calção.
Uma significativa quantidade de rendas enfeitava externamente o culotte,
que recebia o nome de rhingrave, adquirindo nítidas referências
feminilizantes à época.
Por volta de 1680, os excessos começam a perder espaço em favor de um
aspecto de esplendor. Por influência oriental, os homens começaram a usar
uma espécie de túnica longa que, com o tempo, foi se encurtando e se
transformou na veste, que mais tarde, por sua vez, transformou-se no colete,
bem comprido de início, chegando à altura dos joelhos. Usavam também o
culotte, agora bem mais justo e, como complemento geral, uma casaca. Os
tecidos, veludos e brocados em especial, eram bem sofisticados.
Na última década do século XVII, surgiu para o homem uma espécie de
lenço de renda para o pescoço, ou mesmo de tecido adornado de rendas.
As meias de seda obviamente eram indispensáveis. Com relação aos
adornos de cabeça, os ingleses usavam chapéus de copa alta e abas longas, ao
passo que os dos franceses eram de copa baixa e abas largas. No que diz
respeito a todo esse esplendor dos homens, parece mesmo que o único
elemento de masculinidade visível era um pequeno bigode.
Para a moda feminina, havia também a correspondência de todo esse
esplendor. As mulheres usavam camisa de manga curta, havendo a
sobrecamisa com decotes acentuados e de mangas até os cotovelos. As
cinturas eram finas, marcadas pelo uso de um corpete rijo e apertado. Os
tecidos também eram luxuosos e caros, predominando as cores como o
vermelho-escarlate, o vermelho-cereja e o azul-escuro; todavia, apareciam
cores mais claras como o rosa, o azul-céu e o amarelo-pálido.
Nas cabeças, as mulheres não usavam perucas, adornavam-nas com um
penteado denominado de à la Fontange — nome originado do de uma das
preferidas de Luís XIV —, uma espécie de penteado com ares de
despenteado, preso por fitas. Com o tempo, incrementaram os cabelos com
rendas, toucas e armações de arame para manter de pé um volume tão alto.
Um complemento muito curioso de uso feminino foram as chamadas
mouches de beauté (moscas de beleza), que vigoraram na segunda metade do
século XVII. Tinham o aspecto de pintas; eram feitas de seda preta com
desenhos inusitados que continham um material colante por trás para serem
aplicadas sobre a face. Com relação aos motivos, podiam ser os mais
variados possíveis, como meias-luas, estrelas e corações. O efeito obtido era
de charme e servia para acentuar a expressão facial. Havia as grandes moscas
com motivos como sóis, pombas, carruagens e cupidos. Foi a pura essência
dos excessos do Barroco.
Rococó
Assim como o Renascimento foi o passo inicial para a Revolução Científica,
esta, por sua vez, foi, ao mesmo tempo, alicerce e alavanca para o
Iluminismo do século XVIII, estabelecendo assim o apogeu da
modernidade.
Os pensadores do Iluminismo eram chamados de philosophes, e tinham
como objetivo compreender a natureza, bem como a sociedade, por meio da
razão. Paris foi o epicentro dessa filosofia, irradiando a ideia e encontrando
adeptos em toda a Europa e na América do Norte. Essa afirmação da razão
e da liberdade ecoou tanto no pensamento político quanto no social e
econômico.
O vestido à maneira francesa: decote, babados e rendas. (Madame de Pompadour, François
Boucher, 1759.)
As artes evoluíram do Barroco para o Rococó, que teve seu início em
solo francês. Se o Barroco já foi um exagero, o Rococó pode ser considerado
“o exagero do exagero”. Apesar dessa característica, foi uma arte tão
requintada quanto aristocrática, buscando se expressar mais pela leveza e
pela delicadeza. O Rococó privilegiou valores ornamentais e decorativos e
toda essa opulência e luxo foram transportados para a moda.
O período de transição entre o Barroco e o Rococó na França foi
denominado de Regência (1715-1730). Se o Barroco esteve associado a Luís
XIV, o Rococó o foi com Luís XV (e também, posteriormente, com Luís
XVI); e, enquanto da sua minoridade, houve a Regência de Philippe
d’Orleans (1715-1723). A moda, nesse momento, manteve-se com toda a
pompa e rigor já existentes. Os costumes de então privilegiaram a
frivolidade. O aspecto de fineza e leveza eram maiores do que na época de
Luís XIV. As roupas estavam mais fáceis de serem usadas do que aquelas do
período anterior. A renda permanecia em vigor para os punhos das mangas
de camisas e os coletes eram sofisticadamente ornamentados. O volume das
perucas diminuiu um pouco, porém, agora, havia o hábito de empoá-las
com pó branco. Na moda feminina, a silhueta e a qualidade das roupas
também mudaram. O penteado à la Fontange desapareceu, predominando
então um penteado baixo e empoado. Os volumes cônicos das saias, por sua
vez, foram mantidos com o uso de barbatanas de baleia.
O período do Rococó propriamente dito foi de 1730 a 1789, quando
ocorreu a insurreição da Revolução Francesa. A falta de moderação foi a
grande característica do período antecedente, predominando em todos os
setores os exageros. Decorar excessivamente foi o valor predominante.
Caprichos e bizarrices marcaram o gosto pela excentricidade.
A moda feminina sob o reinado de Luís XV manteve o uso da
maquiagem e dos pós nos cabelos; os volumes de suas roupas dificultavam o
caminhar. A flor foi o grande ornamento, nunca tão usada como então em
vestidos e cabelos, tanto as naturais quanto as artificiais. Enquanto as saias
dos vestidos estiveram bem volumosas, os seus corpetes ajustavam
consideravelmente o busto e a cintura. Os vestidos eram denominados de
aberto ou fechado. O primeiro era composto de corpete decotado em formato
quadrado com mangas até os cotovelos terminadas em babados de rendas e
lacinhos de fita; foi caracterizado como aberto pelo recorte frontal na
sobressaia que deixava aparecer a saia de baixo repleta de ornamentos. O
vestido fechado, por sua vez, mantinha as mesmas características, todavia
sem ter a sobressaia aberta. Nas costas de ambos os modelos, era comum
haver pregas largas, denominadas de à Watteau, que pendiam desde os
ombros até o chão. Os volumes laterais das saias eram obtidos por armações,
denominadas de paniers (cesto, em francês), de galhos, normalmente de
salgueiro ou vime.
Tecidos como a seda e grossos brocados ornamentados com flores eram
os preferidos tanto pelas mulheres quanto pelos homens. O gosto pela
inspiração na natureza prevalecia. Delicados sapatos calçavam os pés
femininos. Os cabelos minuciosamente elaborados e empoados compunham
o conjunto ornando a face.
Para os homens desse período, a toilette era composta de culotte justo até
os joelhos, camisa, colete, casaca, meias brancas e sapatos de saltos (mais
baixos que os do período anterior). Na moda masculina, pouca coisa mudou
desde o final do reinado de Luís XIV. Os coletes eram bordados e abotoados
à frente, as casacas, também com os botões frontais, passaram a ser
bordadas a partir da segunda metade do século XVIII.
Os cabelos, ou mesmo as perucas, eram amarrados atrás em rabo de
cavalo. As perucas podiam ser de cabelos naturais, crina de bode ou de
cavalo e também de fibras vegetais. Além de serem empoados (cabelos e/ou
perucas) de cinza ou branco, hábito que vem desde o princípio do século
XVIII e perdurou até a Revolução Francesa (reinado de Luís XVI),
ganhavam agora, sob Luís XV, um laço de fita de seda preta na nuca
(cadogan) e um outro na ponta do rabo de cavalo. Além do mais, usavam o
chapéu tricórnio na cor preta. Assim a França lançou moda e influenciou
toda a Europa.
A partir de 1760, a burguesia campestre inglesa exerceu uma grande
influência na moda, prevalecendo uma nítida referência à praticidade e à
simplicidade nas roupas.
Com o tempo, a aristocracia francesa começou a declinar em poderes
políticos e econômicos; todavia, ainda demonstravam riqueza por meio de
suas roupas, principalmente no último momento do Rococó, que foi de
1770 a 1789. Luís XVI subiu ao trono em 1774, e sua mulher, a austríaca
Maria Antonieta, tornou-se rainha da França.
O que muito marcou esse momento na moda feminina foram os
penteados, que já vinham se elevando desde 1760, mas, de fato, foram
assimilados a partir de 1770. Foram levados às últimas consequências em
proporção e enfeites. Lembremos que as mulheres não usavam perucas e
seus adornos eram feitos com os próprios cabelos. Utilizavam-se de recursos
de enchimentos para obterem volumes consideráveis. Untavam-nos para
aplicar-lhes o pó e enfeitavam-nos com cestos de frutas, caravelas, cenas
pastorais, moinhos de vento, borboletas etc. Para manter todo esse volume
de pé, usavam um suporte de crina de cavalo por trás da cabeça, além do
recurso dos alfinetes. Se o Barroco esteve associado às perucas e aos
peruqueiros, especialmente masculinos, o Rococó foi ligado aos penteados
enormes e aos cabeleireiros femininos.
No final do Rococó, também foi comum entre as mulheres a saia de
enormes volumes laterais, obtidos com excessivos paniers, que, para
passarem por uma porta, era necessário abri-la em suas duas partes; da
mesma forma que, ao sentarem num banco de jardim, o ocupavam
praticamente todo.
Os decotes dos corpetes tornaram-se mais profundos, muitas vezes
ornados sobre os ombros com um lenço branco quadrado dobrado em
formato triangular denominado de fichu.
CAPÍTULO 5
Império
Romantismo
Era Vitoriana
O volume traseiro das saias, que se ajustaram por volta de 1880 à altura
dos joelhos, era adquirido com o uso de anquinhas que, inicialmente, eram
feitas de babados de tecidos compostos com crina de cavalo e, mais tarde,
tornaram-se as “anquinhas científicas”, feitas de arcos de metal unidos por
uma dobradiça, que, quando a usuária se sentava ou levantava, era fechada
ou aberta dando o volume sobre o traseiro. Esses vestidos eram chamados de
devant droit (frente reta) ou arrière (traseiro).
Os tecidos mais usados nas roupas dessa época eram semelhantes aos de
decoração, ou seja, do tipo para cortinas ou estofados. Nas cinturas, como
roupa de baixo, ajustavam-se cada vez mais os espartilhos e os
complementos continuavam em profusão, especialmente as rendas.
Pequenos chapéus para o dia e sapatos e/ou botas de salto complementavam
a moda feminina. Leques também eram acessórios indispensáveis à toalete
da mulher.
Percebemos, como já foi dito, que o contraste entre as modas feminina e
masculina desse período foi muito grande. Enquanto os homens
caminhavam para uma moda prática e até mesmo previsível, as mulheres
complicaram-se em uma sorte de adornos, deixando bem claro o seu papel
de esposa e mãe ao se emaranharem em laços, babados, rendas, ancas,
caudas, chapéus, sombrinhas e toda uma gama de complementos
ornamentais que lhe dificultavam a vida prática.
La Belle Époque
Década de 1910
Antes mesmo de iniciar este novo capítulo, acho que vale a pena salientar
que a moda, a partir daqui, vai ser retratada por décadas, uma maneira mais
fácil e didática para o entendimento do tão intenso e empolgante século XX.
Assim sendo, vamos discorrer os principais acontecimentos históricos do
século e todo o seu contexto de influências, obviamente atingindo o que
aqui mais nos interessa que é a moda.
A Europa estava orgulhosa de si em relação a todos os feitos e
progressos até então conseguidos. O período que antecedeu à Primeira
Guerra Mundial, o da Belle Époque, foi de muita sofisticação, luxo e de
extrema alegria de viver.
Durante a década de 1910, exatamente de 1914 a 1918, chegou ao solo
europeu o conflito que mudou inúmeros aspectos da humanidade: a Grande
Guerra, posteriormente chamada de Primeira Guerra Mundial. Os tempos
então passaram a ser outros. A ausência da figura masculina no campo de
trabalho, uma vez estando no campo de batalha, fez com que a mulher
ocupasse outra posição, atuando em diversos setores, fossem de quaisquer
classes sociais. As mulheres ocuparam espaços masculinos da área de saúde
aos transportes e da agricultura à indústria, inclusive a bélica. Foi o começo
da emancipação feminina, uma necessidade durante a guerra e, depois dela,
um hábito.
No belicoso período de 1914 a 1918, a moda sofreu algumas mudanças,
que, na realidade, foram verdadeiros ajustes aos tempos. Nas roupas desse
momento, predominaram os tons escuros, o preto por excelência, mas foi
nas formas propriamente ditas que as mudanças mais se fizeram notar.
Não se pode esquecer que, ainda no período da Belle Époque do século
XX, o criador francês Paul Poiret (1879-1944), um grande nome da moda
com ideias muito inovadoras, já havia tirado do corpo feminino o espartilho,
libertando-o dos acentuados apertos de cintura. Esse hábito, ou melhor, essa
moda se tornou de fato assimilada somente durante a Primeira Guerra
Mundial. A necessidade de trabalhar fez com que a mulher não pudesse
mais se apertar em rígidas formas. Daí virou realmente moda o não uso do
espartilho, uma vez que lhe tolhia os movimentos.
Tailleur em jérsei, Chanel, 1916. Em Les élégances parisiennes, acervo dos documentos da
UFAC, Paris.
Outra grande contribuição à moda feminina desta mesma década deu-se
a partir de 1915, quando saias e vestidos se encurtaram até a altura das
canelas, também por necessidade de ocupar funções específicas no trabalho,
facilitando assim o bom andamento das ações. Como estamos notando,
essas duas características, ou seja, a queda do espartilho e o começo do
encurtamento das saias, foram as marcas registradas da moda nos anos
1910.
Com o encurtamento das saias, os sapatos ficaram à mostra juntamente
com as pernas, que, todavia, eram cobertas normalmente com meias escuras.
Um nome da moda, que inicialmente trabalhava com chapéus, começou
cada vez mais a sobressair no campo do vestuário. Foi Gabrielle Coco
Chanel, que, em 1916, inovou consideravelmente ao fazer tailleurs de jérsei,
ou seja, uma malha de toque macio e sedoso e com aspecto elástico. Daí em
diante, seu nome só veio dar à moda o que poderíamos realmente chamar de
estilo, ou seja, mais do que somente a característica de moda. Com o passar
das décadas, Chanel consolidou-se no setor e tornou-se o nome mais
importante de toda a moda do século XX.
A moda masculina permaneceu praticamente a mesma nesse momento,
tornando-se cada vez mais simples e prática, tendo até mesmo o aspecto de
uniformização, uma vez que todos se vestiam com a mesma característica:
calça comprida, paletó, colete e gravata.
Terminada a guerra, a partir de 1918, os ajustes aos novos tempos
começaram a aparecer. A mulher solteira de fato adquiriu sua emancipação
com a independência financeira. O fato de ganhar dinheiro contribuiu para
essa verdadeira libertação da dependência da figura masculina.
Os interesses da moda passaram a ser outros também. As atividades de
trabalho, o esporte e o divertimento, especialmente a dança, contribuíram
para cada vez mais as roupas irem se adaptando às novas necessidades e isso
se traduziu na continuidade do encurtamento das saias. A vida
independente parecia de fato irreversível. Começou a surgir um certo estilo
andrógino, o que parecia estar bem de acordo com os tempos, uma vez que a
mulher havia se emancipado. O aspecto tubular das saias, que predominou
na década de 1920, surgiu ainda cronologicamente na década de 1910,
quando apareceram as famosas saias tipo barril, introduzidas na moda em
1919. A mulher já estava adquirindo o hábito de cortar os cabelos, fumar
em público e, até mesmo, conduzir automóveis.
Paul Poiret, durante esta década, introduziu na moda uma certa
referência oriental e, mesmo sendo de grande beleza, não durou muito
tempo, em especial pelo surgimento de outros nomes que vinham se
consolidando no setor.
Dessa forma, o que iria ser a maior característica da moda dos anos de
1920 já estava sendo definido em fins da década de 1910.
Década de 1920
Década de 1930
A cintura voltou para o seu lugar, marcada sem exagero, sendo somente
acentuada. O uso de tecidos sintéticos foi significativo, apesar dos de fibra
natural não terem sido esquecidos. Os grandes tecidos de moda que
serviram como identidade dos anos de 1930 foram o cetim e a seda. Toques
sedosos, brilhos e silhueta marcada foram a ordem da década.
Os vestidos nos comprimentos mencionados podiam ser justos e retos;
mas a grande moda realmente foi a do corte godê e do evasê. Isso sem
dúvida alguma dava à roupa um romantismo que havia sido perdido na
década anterior; porém, o que de fato foi determinante nas roupas femininas
foi o corte em viés, introduzido na moda por Madeleine Vionnet (1876-
1975). Com todas essas referências, como um belo cetim, em uma
modelagem rigorosa e cortado enviesado, muito eram evidenciadas as
formas femininas com bastante sensualidade.
A verdadeira sensualidade, entretanto, vinha realçada na parte de trás
dos vestidos, uma vez que o grito da moda era exibir as costas. Se nos anos
de 1920 a parte do corpo em evidência foram as pernas, agora, nos anos de
1930, eram as costas de fora, especialmente para os vestidos de noite, o que
não anulava seu uso também nas roupas do dia. Essa valorização das costas
foi realmente uma grande identidade da moda dos anos de 1930.
Os trajes esportivos também estiveram muito em voga devido às práticas
esportivas como o tênis, a patinação e o ciclismo, que influenciavam os
modos e as modas deste período.
O banho de mar estava em evidência e, mais do que isso, também o
banho de sol. Bronzear a pele, que havia começado a estar em moda lá pelo
final dos anos 1920, agora estava de fato fazendo parte do dia a dia e,
portanto, as roupas de banho foram diminuídas. Esse hábito saudável de
tomar sol fez com que os decotes nas costas das roupas de banho também se
tornassem um tanto quanto proeminentes. Talvez a moda propriamente
dita, assim como a moda da roupa de banho, estivesse uma influenciando a
outra e as duas ficaram afinadíssimas. Os shorts começaram a aparecer na
moda feminina devido tanto à prática esportiva quanto ao hábito do banho
de mar.
A calça comprida tipo pantalona, que Chanel já havia proposto nos anos
de 1920, estava agora também sendo usada especialmente como saída de
praia.
Os cabelos da moda desse momento eram os curtos, não mais tão curtos
como os à la garçonne, mas um pouquinho maiores e, o grande detalhe, era
fazer ondulações. Os chapéus fizeram-se presentes sugerindo longas abas,
mas os pequenos — sobre o alto da cabeça, ligeiramente caindo sobre a testa
e ornamentados com flores — eram também muito usados.
Para os dias frios, os mantôs obviamente eram indispensáveis e as peles
também foram grande moda. As bolsas pequenas também estavam
presentes na toalete; os sapatos escarpins de aspectos mais pesados e as
sandálias complementavam os pés das mulheres. Para usar as pantalonas tão
em alta, as mulheres preferiam as sandálias com saltos mais grossos. Os
acessórios foram muito usados como complemento de moda nesta década.
Na alta-costura ou mesmo na moda mais sofisticada, os nomes
femininos sobrepuseram-se aos masculinos. Chanel continuava sua
marcante carreira; Madeleine Vionnet, que usava a técnica do moulage,
inspirava-se nas esculturas da Antiguidade clássica grega. Madame Grès
(1910-1993) usava e ousava nos efeitos drapeados; Jeanne Lanvin (1867-
1946) também se fez presente e Nina Ricci (1883-1970) abriu seu ateliê em
1932, impondo-se com um estilo clássico, sofisticado e elegante. A grande
inovação, porém, ficou a cargo de Elsa Schiaparelli (1890-1973), italiana
radicada em Paris, que, com sua genialidade inusitada, introduziu na moda
os conceitos surrealistas da arte, inspirando-se em Salvador Dalí e Jean
Cocteau. Suas criações foram marcadas pela irreverência e pela
excentricidade, desde os complementos como o chapéu-sapato, colar de
insetos etc. às roupas com bolsos imitando gavetas.
Mesmo com o domínio das mulheres na criação de moda, um nome
masculino começou a aparecer ao se mudar para Paris em meados da década
de 1930. Foi o espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972) que, nesse
momento, estava em início de carreira e demonstrando grande talento. Ele
acabou se firmando nos anos de 1950 como um dos mais importantes
nomes da moda do século XX.
Para a moda masculina, praticamente não houve grandes modificações.
Variações de largura das calças, dos paletós, dos colarinhos etc., sem com
isso perder a essência predominante do formalismo. Um aspecto marcante
desse momento como complemento da moda masculina foi o chapéu
canotier (canoeiro, em francês), para nós, o tão conhecido chapéu palheta.
Década de 1940
Década de 1950
Dior continuou a reinar na moda francesa e novos padrões foram por ele
lançados seguindo sempre o aspecto de luxo e glamour, resgatando a
feminilidade perdida nos anos da guerra. Inúmeras foram as propostas de
volumes e comprimentos lançados por ele durante os anos de 1950. As saias
ficavam justas ou ampliavam-se; ficavam mais retas e longas ou mantinham-
se abaixo dos joelhos com volumes. As variações eram constantes, pois Paris
tinha que continuar sendo o centro lançador de moda. A “Linha H”, a
“Linha A” — esta muito aceita, já que abria os vestidos ou saias com casaco
do busto ou da cintura para baixo —, a “Linha Y”, evidenciando o colo em
grandes golas de formato em “V”. Lançou também, nesse período, a “Linha
Princesa” e os vestidos chemisier, inspirados na camisa (chemise, em francês),
uma vez que eram abertos na frente de cima a baixo e fechado por botões.
A moda masculina teve uma certa característica de revival ao lembrar as
roupas dos homens do princípio do século XX, utilizando-se de paletós
compridos, calças mais justas e até mesmo o chapéu coco. Mas, o que de
fato os homens usaram foram os costumes sóbrios, com o complemento da
gravata. Uma peça que caiu em desuso nesta década foi o colete.
Em se tratando da moda dos anos de 1950, não se pode deixar de
mencionar o começo da influência americana na Europa, e também da
moda jovem, agora adquirindo características próprias.
Em primeiro lugar, vale a pena ressaltar os protestos norte-americanos
em relação à moda europeia, principalmente a francesa, pois o gasto com
tecidos era considerado exagerado, mas, mesmo assim, em essência, as
norte-americanas acabaram assimilando as ideias do New Look ao apertarem
suas cinturas e usarem as saias rodadas.
O estilo feminino americano da década de 1950 era aquele de uma
mulher ligada à vida familiar, porém, com requinte. Os bebês que nasceram
no pós-guerra eram agora crianças e exigiam de suas mães uma vida mais
caseira. Até mesmo a televisão começou, nessa época, a influenciar a moda,
sendo as atrizes muito copiadas.
Foi também nessa mesma década que os jovens norte-americanos
começaram a buscar uma identidade própria para sua moda, associando-a a
determinados comportamentos. Cardigãs de malha, saias rodadas, sapatos
baixos, meias soquetes e rabo de cavalo faziam a linha college. As calças
compridas cigarretes, justas e curtas à altura das canelas, usadas com
sapatilhas, foram muito populares entre as jovens. Para os rapazes mais
ousados, ou melhor, para os rebeldes, a calça jeans com a barra virada e a
camiseta de malha compunham o visual. Essa rebeldia veio por influência
do cinema por meio de ídolos como James Dean e Marlon Brando; e
também da música, ou melhor, do rock and roll de Elvis Presley. Cabelos
com brilhantina, topetes e costeletas faziam parte do visual dos rapazes
jovens.
As “t-shirts”, ou seja, as camisetas de malha, tornaram-se grande moda
após os citados ídolos do cinema terem-nas usado nas telas como roupa
externa propriamente dita e não mais como roupa de baixo. A ideia de moda
agora era o despojamento.
A indústria do prêt-à-porter tornou-se cada vez mais significativa,
especialmente por influência norte-americana, e o sportswear se
popularizava cada vez mais.
Década de 1960
Década de 1970
Década de 1980
Acredito que a queda do Muro de Berlim, em 1989, possa ser, como marco,
o ponto de partida desta reflexão, e que também pode ser analisada em
questões da moda. Se o fato simbolizou o fim de uma época e de uma
ideologia, obviamente que marcou o início de outras. Na moda, pode-se
dizer que representou o fim de determinadas barreiras e preconceitos no
vestir e o aparecimento de uma grande liberdade de se expressar
visualmente: é esse o conceito que vai definir a moda na década de 1990.
Trazendo uma herança do decênio anterior, no início dos anos de 1990,
continuaram as releituras históricas da moda, tão arraigadas no processo
criativo. Devido à sua importância, foi montada, em 1990, no Metropolitan
Museum of New York, uma grande exposição com a curadoria de Richard
Martin e Harold Koda, intitulada “e Historical Mode”.
O conceito de “tribos urbanas”, forte nos anos de 1980, teve sua
sequência no início dos anos de 1990. A moda grunge, de influência vinda
de Seattle (EUA), marcou o modo de vestir dos jovens, que aderiram ao
estilo descontraído de peças sobrepostas, roupas oversized e a cultuada
camisa de flanela xadrez amarrada à cintura.
Também entraram em evidência clubbers, drag queens, cybers, ravers entre
outros grupos; e a ordem foi a moda jovem, ousada e irreverente. Todavia,
essa dinâmica de fidelidade ao estilo das tribos de moda ganhou agora uma
nova dimensão de influência de umas às outras a ponto das mesmas se
misturarem e não haver mais a característica de ser fiel a uma única
identidade visual e ideológica. Contudo, foi com o conceito de
“supermercado de estilos” que a moda dos anos de 1990 passou a ter sua
própria identidade quando mesclou informações e influências de diversas
fontes. Ted Polhemus, em seu livro Street Style — from Sidewalk to Catwalk,
editado em 1994 pela ames & Hudson de Londres, elucida muito bem
essa ideia.
Nos anos de 1970, a moda comportou-se como um grande diferenciador
na escala social; já nos anos de 1980, o aspecto de individualismo
consagrou-se com a fidelidade da pessoa à sua tribo, sem receber influências
de outras ideologias contemporâneas à sua. Sendo assim, com a evolução de
conceitos e valores, a moda dos anos de 1990 adquiriu o caráter de mistura,
e foi uma verdadeira esponja que absorveu diversas referências vindas das
mais distintas realidades, e todas juntas formaram uma nova proposta. A
falta de identidade passou a ser a própria identidade. Foi uma espécie de
liquidificador de aspectos visuais; e a liberdade de vestir passou a ser muito
grande. É a metáfora da globalização na moda; é onde quero chegar quando
cito a queda do Muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas em 1990 e,
obviamente, a união e aceitação de pessoas, conceitos, valores e culturas.
Por falar em Berlim, talvez essa cidade seja mesmo uma grande capital
de moda e de comportamento para tempos vindouros. Anualmente, na
capital alemã, jovens do mundo inteiro embalados, ou melhor,
embaladíssimos, ao som da techno music, reuniam-se na Love Parade.
Esse evento pode ser considerado um dos maiores encontros mundiais
de jovens da época, agrupados pelo elo da cultura musical. Por sinal, desde o
término da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje, não se pode
desvincular comportamento e moda jovens das influências musicais. O
espaço adquirido pelo streetwear, recebendo e passando informações na e da
rua, solidificou-se na moda dos anos de 1990. E o sportswear também fez
escola.
O “desconstrutivismo” foi a outra ideia desenvolvida nos anos de 1990,
surgida especialmente com a influência dos estilistas belgas na moda, tendo
o nome de Martin Margiela (nascido em 1957) na linha de frente da
formação desse conceito. Foi uma desconstrução para um novo construir;
um tipo de paradoxo que acabou se firmando na moda. Foi uma espécie de
evolução da reciclagem tão em voga na moda no fim dos anos de 1980 e
início dos anos 1990; e do ponto de vista comercial e popular, esse conceito
se transformou em bainha desfiada e overlock aparente.
A preocupação ecológica, vinda de meados dos anos 1980, depois do
acidente nuclear de Chernobyl, também esteve presente na moda dos anos
de 1990, e essa conscientização se refletiu em muitas coleções de estilistas
renomados, que denunciavam as agressões ao planeta Terra nas criações de
suas roupas. Foi a moda fazendo-se presente, atualizada e notada no
contexto mundial.
A moda italiana ganhou novas dimensões, especialmente com o nome
de Gianni Versace (1946-1997), que se tornou um ícone fashion mundial
com seus dourados, suas estampas arrojadas e muita sensualidade; contudo
sua morte prematura deixou-nos com a sensação de órfãos
desglamourizados, abalando não só o setor como a sociedade em geral.
Posteriormente sua irmã Donatella Versace assumia a criação da marca.
Moschino (1950-1994), outro italiano que também não está mais entre
nós, marcou presença na moda dos anos de 1990 com irreverência e bom-
humor.
Já a moda norte-americana, prática e básica, quis roubar a cena com suas
visões comerciais e produção de qualidade em alta escala; inclusive
antecipando seus lançamentos aos dos europeus.
Inúmeros outros fatores se fizeram presentes e contribuíram para a
moda dos anos de 1990; todavia a característica de rejuvenescimento foi e é
uma constante. Não só o rejuvenescimento pessoal via cosméticos, plástica
ou as práticas esportivas, mas também o rejuvenescimento empresarial. A
ideia partiu dos anos de 1980 com a marca Chanel quando houve a
contratação de um sangue novo chamado Karl Lagerfeld para criar as
respectivas coleções. Perceberam que funcionou; e outros vão atrás
contratando novos talentos para dar uma cara nova às marcas já
consagradas. Aconteceu o mesmo com as casas Dior, Givenchy, Prada,
Gucci, Saint-Laurent, Kenzo, entre outras. Com isso, a moda,
especialmente a alta-costura, ganhou uma nova posição de prestígio.
Moda baseada nos conceitos do desconstrutivismo. (Coleção do Rei Kawakubo para a marca
Comme des Garçons, 1998.)
“Paradoxo” foi outra palavra que entrou como verbete no vocabulário da
moda dos anos de 1990, ou seja, uma época de antagonismos convivendo no
mesmo visual: oriental × ocidental; masculino × feminino; sintético ×
natural; exótico × belo; caro × barato; produtos sofisticados × produtos de
camelô etc.
Surgiram os novos profissionais de moda que são verdadeiros criadores
de conceitos, ideias e principalmente imagens. Aí estava um chavão para
decifrar a moda de fins dos anos de 1990 e da atualidade: a imagem, na
maioria das vezes, era, e ainda é, mais importante que o próprio produto.
Costumava-se vender um conceito, seja da marca ou de uma coleção,
mediante imagens, às vezes sem aparecer a roupa, e o consumidor se
convencia que não podia viver sem tais referências — ótima fórmula. Além
do estilista propriamente dito, surgiu o “stylist” para pesquisar e orientar
todo o desenvolvimento de ideias e consequentemente de produtos. O
fotógrafo de moda também ganhou status criando com as lentes o seu
imaginário, seja aparentemente real, ou especialmente surreal. Bruce Weber
e Oliviero Toscani foram grandes nomes do início da década de 1990 e mais
adiante sobressaíram Mario Testino e David Lachapelle, entre outros,
obviamente.
Essa posição de prestígio e de status social, que a moda desejou adquirir
a qualquer custo, vai ser tão significativa que ela quis se transformar em arte
no que diz respeito ao aspecto de transgressão (que é uma das características
marcantes das artes em geral). A intenção era chocar, causar sensação, nem
que fosse de repulsa. Foi o papel da arte e da moda nesse momento. Esse
arrivismo artístico da moda foi tão bem aceito que surgiu, em 1996, na
Itália, especificamente em Florença e também nas cidades vizinhas de Prato
e Livorno, a primeira Bienal da Moda.
Essa primeira edição trouxe como tema Il Tempo e la Moda. A segunda,
em 1998, apresentou o tema La Moda si veste di Cinema. Vários foram os
locais da mostra nessas três cidades e muitos foram os estilistas-artistas, de
diversos países, que interpretaram o tema em instalações verdadeiramente
geniais. Foi a moda que realmente adquiriu o status de arte numa sociedade
de consumo, e mesmo tendo a característica da efemeridade, ela conseguiu
se impor. Além das edições da Bienal, a moda também ganhou maiores
espaços em museus com importantes exposições.
Uma outra realidade a ser documentada, também vinda dos anos de
1980, foi o avanço tecnológico têxtil. A microfibra da década anterior
evoluiu (e muito). Foram desenvolvidos tecidos com alta ‘‘performance
tecnológica’’, podendo responder a diversos anseios do nosso dia a dia.
Foram os chamados “tecidos inteligentes”. Utilização de finíssimos fios
metálicos; tecidos que mudam de cor de acordo com o estado de espírito do
usuário; tecidos bactericidas etc. tornaram-se reais: o futuro tinha chegado.
Isso realmente pôde ser considerado novo e não apenas uma novidade na
moda.
O status era grande e quem fazia e divulgava a moda galgava também o
patamar de prestígio, respeito e sofisticação. Foi o que aconteceu com as
manequins que divulgavam o trabalho dos criadores. A ideia da
supermodelo começou ainda nos anos de 1980 com Inés de La Fressange
para a Casa Chanel; e, nos anos de 1990, algumas outras, como Claudia
Schiffer, Cindy Crawford, Linda Evangelista, Christy Turlington, Naomi
Campbell, Kate Moss, Amber Valetta e, mais adiante, a brasileira Gisele
Bündchen adquiriram a posição de supermodelos: são as famosas “top-
models” internacionais. Anoréxicas ou torneadas fizeram tanto sucesso que
superaram em fama as estrelas de cinema e da música pop e trouxeram para
a moda e para seus respectivos bolsos cifras incalculáveis.
Aqui no Brasil, a moda ganhou nova e prestigiada posição. A temática
nacionalista, sem ser folclórica e sendo moderna, adquiriu espaço e teve
muita aceitação. O academicismo de moda, que apareceu na segunda
metade dos anos de 1980, começou a formar os novos profissionais para
atender uma crescente demanda de mercado. Estilistas e modelos brasileiras
foram reconhecidos não só aqui como também no exterior. A imprensa, em
geral, deu um excelente espaço para a moda, abrindo campo para o
surgimento de novos veículos e nomes, desmitificando e democratizando a,
até então, quase inatingível moda. A produção literária de moda ganhou
também espaço e respeito e os editores começaram a investir nessa fatia de
mercado. Surgiram as feiras e bazares alternativos, criando chance para
aqueles talentosos e novos estilistas ainda não estabelecidos. A oportunidade
de divulgação de trabalhos de moda também apareceu com a onda de
eventos e lançamentos diversos que se tornaram cada vez mais importantes e
frequentes. Surgiram os grandes desfiles, descobrindo e promovendo
talentos como Phytoervas Fashion, MorumbiFashion Brasil que
rapidamente se consolidaram, sendo realizados duas vezes por ano para
lançamento das respectivas coleções de inverno e verão, e que, em janeiro de
2001, recebeu novo formato com o nome de São Paulo Fashion Week.
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