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Copyright© João Braga, 2022

 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida, sob
quaisquer meios existentes, sem autorização por escrito do detentor do copyright© ou da Editora.
 
Direção editorial
Leoberto Balbino
 
Revisão
Beto Fonseca
Barbara Eleodora Benevides
 
Design de capa
João Braga
 
Ilustrações internas
Adilson Euzébio
 
Projeto gráfico e editoração eletrônica
R2 Editorial
 
Imagens de capas
Desenhos a grafite e lápis de cor de Miron Soares baseados nos originais: “O Tailleur Bar”, coleção New
Look de Dior, 1947, foto de Willy Maywald (capa) e “A Infanta Isabel”, Felipe de Llano, 1584 (4ª capa)
 
Produção do eBook
Schaffer Editorial
 
 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

B813h
 
Braga, João
História da moda [recurso eletrônico]: uma narrativa / João Braga ; ilustrado por Adilson
Euzébio. - 11. ed. - São Paulo : D’Livros Editora, 2022.
 
Inclui índice e bibliografia.
ISBN: 978-65-89053-07-1 (Ebook)
 
1. Moda. 2. História da moda. I. Euzébio, Adilson. II. Título.
 
  CDD 746.92
2021-4851 CDU 391

 
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior - CRB-8/9949
 
Índices para catálogo sistemático:
1. Moda 746.92
2. Moda 391
 
 
2022
Direitos exclusivos de edição à

Tel.: (11) 3641-3225


e-mail: dlivros@dlivros.com.br
dlivros.com.br
PREÂMBULO

Se tivéssemos de definir a obra do professor João Braga em uma única


palavra, sem dúvida ela seria ENSINAR, que se origina do latim insignare e
significa “gravar”, “colocar marca em”. Seja diante de um escriba, em
encontros nas ágoras, em meio a monges do famoso romance Em nome da
rosa, de Umberto Eco, seja negociando com mecenas renascentistas,
dialogando com mestres do Barroco e mesmo entre tutores emersos da
fuligem das chaminés em plena Revolução Industrial, a magia de ensinar se
concretiza.

A moda, chave mestra de sua pesquisa, abre as portas das relações


sociais por meio das roupas, da arte e da história que se traduz leve e
marcante, como um perfume que deixa sua essência nas tendências da era
digital. Mesmo em meio a lives, likes e streams, o desejo de folhear mais uma
edição de seu livro é latente e resgata o poder do tátil, do olfativo e do
pertencimento do saber, do aprender e do surpreender. Aproveite, sem
moderação, essas pílulas de sabedoria.

Andréa Pécora
Produtora de moda
SOBRE O AUTOR

João Braga

Nascido em 1961 em Paraíba do Sul (RJ).


É estilista, pesquisador, palestrante, articulista
e professor de História da Moda, História da
Arte, História da Joalheria, Estética e Cultura de
Moda da Fundação Armando Alvares Penteado
(FAAP) e Faculdade Santa Marcelina.
Possui curso de Estilismo pelo Studio Berçot-
Rucki de Paris/CIT – Coordenação Industrial
Têxtil em São Paulo.
Especialista em Histoire du Costume pela ESMOD, Paris.
Pós-graduado em História da Arte pela FAAP-SP.
Pós-graduado em História da Indumentária pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP).
Mestre em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo (PUC-SP).
Membro da Academia Brasileira de Moda (2017).
Autor dos livros Reflexões sobre moda (v. I, II, III e IV), pela Editora
Anhembi Morumbi; Um século de moda, pela D’Livros Editora; Tenho dito:
histórias e reflexões de moda, pela Editora Estação das Letras e Cores.
Coautor de outros títulos na área de moda.
@joaobragaprofessor
AGRADECIMENTO

Por reconhecimento e agradecimento, dedico este meu


primeiro livro à memória da querida e
saudosa Profª Serafina do Amaral.
APRESENTAÇÃO

Depois de 11 edições e aproximadamente 15 mil exemplares impressos,


chegou a vez da edição on-line de História da moda: uma narrativa. Exatos
18 anos se passaram desde a sua primeira edição física, em março de 2004,
até a undécima edição, em março de 2022.
Adotado por docentes de inúmeras instituições de ensino da área de
moda, História da moda: uma narrativa é um livro didático e sucinto que
tem por objetivo levar ao leitor, iniciante ou iniciado, um pouco da história
da moda ao longo dos tempos, com foco nas culturas ocidentais.
Fico muito feliz de este título chegar a uma edição on-line, posto que
agora, entre outras prerrogativas, terá maior abrangência, pois alcançará
também outros países lusófonos.
O fato de eu, João Braga, ser o autor deste título, muito me dignifica por
poder contribuir de alguma forma para a divulgação de conteúdo referente à
moda pelo viés historiográfico.
Objetivo e prático; de fácil compreensão e de acessível aquisição; de
caráter acadêmico ou de pura difusão; de norte a sul: eis uma nova
perspectiva para o conteúdo deste livro.
Tenha uma boa e agradável leitura!

João Braga
Março de 2022
SUMÁRIO

Introdução
Capítulo 1
Pré-História | Antiguidade Oriental – Mesopotâmia, Egito

Capítulo 2
Antiguidade Clássica – Creta, Grécia, Etrúria, Roma

Capítulo 3
Idade Média – Povos Bárbaros, Bizâncio, Europa Feudal, Europa Gótica

Capítulo 4
Idade Moderna – Renascimento, Barroco, Rococó

Capítulo 5
Idade Contemporânea (Século XIX) – Império, Romantismo, Era
Vitoriana, La Belle Époque

Capítulo 6
Idade Contemporânea (Século XX) – As Décadas de 1910, 1920, 1930 e
1940

Capítulo 7
Idade Contemporânea (Século XX) – As Décadas de 1950, 1960 e 1970

Capítulo 8
Idade Contemporânea (Século XX e Século XXI) – As Décadas de 1980,
1990, 2000 e 2010
Capítulo 9
Breviário Histórico do Jeans

Referências
INTRODUÇÃO

Dezessete anos se passaram desde a primeira edição, em 2004, do livro


História da moda: uma narrativa. A que você tem em mãos, caro(a) leitor(a),
é a 11ª edição, revista e atualizada, deste título didático adotado em várias
instituições de ensino de moda em todo o território nacional. Fico muito
feliz com essa realidade editorial.
Muitos me solicitam esta atualização, especialmente os estudantes da
área de moda, e assim fez-se necessária esta nova edição, que tem a Santista
Jeanswear como patrocinadora. Agradeço a Sueli Pereira, gerente de
comunicação & moda da Santista, e Andréa Pécora, que, à época da
aprovação desse patrocínio, era funcionária da Santista, por terem
acreditado na importância de uma nova edição, especialmente para atender
ao ensino de História da Moda em um grande número de faculdades de
moda do Brasil, já que este título é adotado em várias instituições
acadêmicas.
Dessa forma, além de um novo capítulo documentando a atualidade do
comportamento de moda, especialmente as grandes mudanças no setor
advindas da pandemia do novo coronavírus, o livro traz um breve descritivo
histórico sobre o jeans, obedecendo às características conceituais do livro.
O intuito desta nova edição é, portanto, atender à demanda,
especialmente dos meus alunos, que sempre me pedem uma nova edição
deste título, já que as anteriores encontram-se esgotadas.
Um agradecimento especial a Adilson Euzébio, ex-aluno talentoso que
fez as ilustrações da edição anterior e as duas novas que agora são acrescidas
ao corpo do livro, e a Leoberto Balbino, que, com sua generosidade e
prestatividade, não mede esforços para que tudo saia da melhor forma
possível e possa chegar às mãos dos(as) leitores(as).
Mesmo sabendo que o processo historiográfico precisa de certo
distanciamento temporal para saber o que efetivamente marcou uma época,
os fatos atuais, que envolvem grandes questões de diversas ordens
decorrentes da crise sanitária da covid-19, já traçaram e continuam a traçar
novas realidades que atingem a todos e a todas as áreas, e a moda não pode
nem deve ser excluída desse contexto.

Muito obrigado.
João Braga
Setembro de 2021
CAPÍTULO 1

PRÉ-HISTÓRIA ANTIGUIDADE ORIENTAL

Mesopotâmia, Egito

Pré-História
A folha vegetal como primeiro material para elaborar uma indumentária. (Baseada em “O
Retábulo de Gand” de Jan Van Eyck – 1430-32.)

Abriram-se os olhos de ambos; e percebendo que estavam nus, coseram


folhas de figueira, e fizeram cintas para si.
Gênesis, Capítulo 3, Versículo 7

E fez o Senhor Deus a Adão e sua mulher túnicas de pele e os vestiu.


Gênesis, Capítulo 3, Versículo 21

A sequência evolutiva da vestimenta humana foi exatamente essa. Primeiro


as folhas vegetais e, posteriormente, as peles de animal. Como nos diz a
Bíblia Sagrada, no Antigo Testamento, o ser humano cobriu o corpo pelo
caráter de pudor. Todavia, há outras interpretações seculares que dizem ter
os seres da condição humana coberto o corpo pelo caráter de adorno e,
também, pelo de proteção. Qualquer que tenha sido a sua intenção, cobrir o
corpo foi uma necessidade.
Sob o ponto de vista de adorno, foi uma maneira que o ser humano
encontrou de se impor aos demais, inclusive mostrar bravura ao exibir
dentes e garras de ferozes animais, além de ter a pele para cobrir o corpo
com tangas e/ou sarongues (tipo de roupa de um ombro só) e carne para a
alimentação. Há ainda o caráter de magia, ao associar os seus objetos de uso
a poderes fora dos normais.
A Vênus de Lespugue revela a tanga franjada de fibra vegetal. (Musée de l’Homme, Paris.)

O outro aspecto, o de proteção, está associado à questão de


sobrevivência com relação às agressões externas e às intempéries,
principalmente o frio. O ser humano protegeu o corpo com as peles das
caças e encontrou abrigo em grutas e cavernas nas quais deixou registros
iconográficos. Esses registros foram os que chegaram até nossos dias, visto
que as folhas e peles, por serem materiais biológicos, se deterioraram com o
tempo.
As peles, inicialmente usadas com o próprio pelo do animal, eram
normalmente de urso ou rena e passaram por processos de mastigação para
serem amaciadas. Posteriormente, passou a ser normal untar essa pele com
óleos ou gorduras animais para lhe atribuir uma certa impermeabilidade e
maciez, o que dava à peça uma maior durabilidade. Na sequência de uso de
recursos, utilizava-se um elemento advindo de certas cascas de árvores ricas
nessa substância, que realmente beneficiava com mais apuro a pele do
animal: era o tanino, liberado dessas cascas ao serem mergulhadas em água.
Tornou-se uma técnica de grandes resultados no tratamento das peles, que
eram presas ao corpo com as próprias garras dos animais ou mesmo atando-
as umas às outras com nervos, tendões ou até fios da crina ou do rabo de
cavalos e/ou zebras.
Com a fixação do ser humano ao solo, ele deixou de ser nômade
caçador/colhetor para se estabelecer com a criação de gado e a prática da
agricultura. Isso também beneficiou a indumentária, visto que o vegetal
linho lhe proporcionou, a princípio, a técnica de feltragem e,
posteriormente, num processo evolutivo, a própria tecelagem. Com o
fabrico do tecido, mesmo de maneira primitiva e artesanal, houve um
grande avanço em técnica e aprimoramento.
Com esses tecidos, já se foi capaz de produzir saiotes e outras peças e
ornamentá-los com franjas, conchas, sementes, pedras coloridas, garras e
dentes de animais etc. Isso tudo aconteceu ainda na Idade do Bronze.

Antiguidade Oriental

Mesopotâmia

Região situada entre os rios Eufrates e Tigre, no atual Oriente Próximo, na


qual desenvolveram diversas culturas no IV milênio a.C., entre elas as
principais foram a sumeriana, a assíria e a babilônica. Essa região, não à sua
época, mas posteriormente, foi denominada de Mesopotâmia pelos gregos e
o nome quer dizer “entre rios”. De clima quente e solo fértil, a
Mesopotâmia foi considerada o berço das civilizações humanas, tendo os
sumerianos até mesmo sido os que desenvolveram a escrita, a cuneiforme,
em aproximadamente 3500 a.C.
No que diz respeito à indumentária local, especialmente a dos
sumerianos e persas, usava-se um saiote de pele com o pelo do animal
chamado kaunakés (gaunaca, em latim e português), caracterizado pelos tufos
de lã visíveis externamente na peça.
Podemos notar que os mesopotâmicos já conheciam a tecelagem,
entretanto, ainda há características bem primitivas na maneira de se
vestirem. Sendo a base de suas roupas a própria pele do animal ou mesmo
um tecido artesanal, es ses tufos acabaram se deslocando para as
extremidades e se transformando em franjas, que, além de serem utilizados
como adorno, também serviam de acabamento para o tecido e/ou a pele.
Os homens usavam seus kaunakés um pouco curtos, chegando à
panturrilha, e algumas vezes com o torso nu, ao passo que as mulheres
vestiam seus trajes longos e cobriam o colo.
Normalmente esses trajes, que cobriam todo o corpo de ambos os sexos,
eram enrolados, dando a aparência de uma roupa espiralada, como vemos
nas esculturas e pinturas da arte mesopotâmica. Com o tempo, esses trajes
foram sendo substituídos, especialmente pelos homens mais simples, por
uma espécie de túnica com mangas.
O kaunakés — saiote de pele animal — evidenciando a lã em tufos. (Ebih II, c. 2400 a.C., Musée
du Louvre, Paris.)

O tecido predominante usado na região, para ambos os sexos, no apogeu


de suas respectivas culturas, foi o algodão — produzido na própria região ou
vindo da Índia —, além da lã e do linho; com o passar do tempo, tiveram
acesso à seda da China. A suntuosidade das roupas e seus complementos,
como normalmente em qualquer outra cultura, indicava a posição de
prestígio do usuário.
Homens e mulheres costumavam ter os cabelos longos; e cacheá-los era
muito natural; inclusive os homens o faziam também com a própria barba,
além de já usarem brincos.
As cabeças, à exceção das coroadas, não eram muito ornamentadas,
porém o uso de um gorro, chamado pelos gregos de gorro ou barrete frígio,
era adotado pelos homens.
Como calçados, era comum o uso de um tipo de bota de couro com o
bico ligeiramente levantado, o que era uma característica oriental.

Egito

Como também na Mesopotâmia, no Egito o clima era muito quente;


todavia, suas roupas eram bem mais sucintas do que aquelas usadas pelos
vários povos que formaram a cultura mesopotâmica. Como roupas e
complementos sempre foram, são e poderão ser diferenciadores sociais, no
Egito, elas também cumpriam essa função e ganhavam a conotação de
distinção de classes em que nobres e mais privilegiados se diferenciavam em
opulência daqueles de classes sociais menos favorecidas materialmente, que,
muitas vezes, andavam nus.
O chanti e o calasires: típicas roupas da cultura faraônica. (Estátua de Aménofis IV e Nefertiti.
Musée du Louvre, Paris.)

Pouca coisa mudou na indumentária egípcia no longo período de


apogeu de sua cultura faraônica, que durou aproximadamente 3 mil anos.
Essas mudanças só foram significativas quando ocorreram as invasões de
outros povos em seu território, especialmente os romanos.
O traje típico da indumentária egípcia era o chanti, uma espécie de
tanga masculina, e o calasires, a túnica longa, tanto masculina quanto
feminina.
A cor predominante era o branco e a base têxtil era sempre a fibra
natural vegetal, especialmente o linho; todavia, o algodão também se fazia
presente. A fibra natural animal era considerada impura e, portanto,
proibida pela religião local.
Essas roupas pareciam estar bem próximas ao corpo, porém, talvez seja o
padrão estético da própria arte que dê essa característica à indumentária;
contudo, acredita-se também que essas roupas seriam costuradas nas
laterais, dando à peça uma espécie de elasticidade e maior aproximação ao
corpo.
Havia também cones de cera colocados sobre uma peruca, que, com o
calor, derretiam e untavam a cabeleira e a roupa, aderindo o tecido ao corpo.
Um outro hábito comum entre os egípcios era o de raspar a cabeça, visto
o piolho ser uma das pragas locais e, por questões higiênicas, fazia-se
necessário ter os cabelos raspados. O que se vê de cabeleira na iconografia
da arte egípcia são perucas, comuns, em um primeiro momento, como
proteção devido ao sol causticante que, mais tarde, ganharam a conotação
cerimonial e de status social. Essas perucas podiam ser de cabelo natural ou
de fibras vegetais, tais como o linho e a palmeira.
Para a dignidade faraônica e sua ostentação, tornou-se comum o uso do
claft, pedaço de tecido amarrado sobre a cabeça, cujas laterais lhe
emolduravam a face. Tinha a barba postiça de cerâmica, já que os pelos do
corpo, juntamente com o cabelo, eram raspados.
Como adornos, os egípcios comuns usavam brincos, braceletes, colares
mais simples e, para os nobres, o famoso e requintado peitoral, uma espécie
de colar enorme que cobria o peito e, às vezes, também a parte superior das
costas; feito de pedras e metal precioso, além do uso de contas de vidro
colorido, pois os nativos dominavam essa técnica.
Para os pés, eram comuns as sandálias ditas de dedos, feitas em palha
trançada, para protegê-los da areia escaldante. Todavia, também era hábito
andar descalço.
CAPÍTULO 2

ANTIGUIDADE CLÁSSICA

Creta, Grécia, Etrúria, Roma

Creta

Creta é a quinta maior ilha situada no Mar Mediterrâneo. Teve o apogeu de


sua cultura entre 1750 a.C. e 1400 a.C. e muito influenciou em sua época,
inclusive à cultura grega.
Pouco era sabido de sua história, a não ser especialmente pela mitologia,
quando, na segunda metade do século XIX, o arqueólogo inglês Sir Arthur
Evans descobriu o sítio arqueológico de Creta e, com isso, pôde-se conhecer
e estudar melhor as questões minoicas.
No que diz respeito à indumentária local à época de seu apogeu, nota-se
uma considerável diferença entre as roupas masculinas e femininas. Os
homens, com roupas simplificadas de características ainda primitivas,
usavam uma espécie de tanga com um cinto e o torso normalmente nu; as
mulheres, bem diferentes, usavam saias longas no formato de sino com
babados sobrepostos, uma espécie de avental na frente e nas costas sobre a
saia (lembrando a tanga masculina) e, na parte superior do corpo, portavam
um tipo de blusa costurada nos ombros, de mangas curtas, porém deixando
os seios à mostra — podendo ser associado à questão da fertilidade e fartura.
As menos favorecidas usavam só a saia. Acredita-se que essas roupas fossem
feitas de linho, lã ou couro.
Havia grandes diferenças entre as roupas masculinas e femininas,
contudo, em seus hábitos, havia pontos em comum. Um deles era o de
afunilar muito a cintura: homens e mulheres, desde crianças, assim o faziam
com um cinto; outro aspecto foi o dos cabelos longos em cachos, também
usados por ambos os sexos.
Saia de babados sobrepostos e seios à mostra como símbolo de fertilidade. (Deusa das
serpentes, c. 1600 a.C., Museu Arqueológico, Heracion, Creta.)

Como adornos, tanto eles quanto elas usavam ornamentos como


chapéus e turbantes. Para os pés, em dias mais quentes, eram comuns as
sandálias, e nos dias mais frios era comum o uso de botas. Os cretenses
também trabalharam muito bem o metal, e o uso de joias como alfinetes,
colares, brincos etc. era habitual.
Grécia

A Grécia está situada na Península Balcânica, de litoral muito recortado,


com inúmeras ilhas e de clima quente. No período de apogeu de sua cultura,
teve como centro de sua organização política as Cidades-Estados, a crença
politeísta e um apurado padrão estético, que não só influenciou a seu tempo
como até hoje o faz em grande parte do mundo ocidental.
Falar da cultura grega, cuja maior prosperidade se deu entre os séculos
VII e I a.C., é falar de filosofia, de arte, de democracia, de conhecimento e
de tantas outras referências de cunho positivo.
A indumentária grega foi muito peculiar e o que mais podemos notar
como característica são os drapeados, muito elaborados e marcantes. Os
gregos preocupavam-se mais com os valores estéticos de suas roupas do que
com o caráter de erotismo. Um retângulo de tecido era suficiente para criar
a peça mais característica de sua indumentária: o quíton.
Homens e mulheres usavam-no, sendo os dos homens longos, para
momentos mais cerimoniosos, ou curtos para o dia a dia; e o feminino era
sempre longo. O quíton, ou melhor, esse retângulo de tecido, tratava-se da
túnica dos gregos, colocada no corpo presa sobre os ombros e embaixo dos
braços, sendo uma das laterais fechada e a outra aberta, que pendia em
cascata. Prendia-se sobre os ombros com broches ou alfinetes e, na cintura,
amarrado por um cinto ou mesmo um cordão. Largo e comprido,
possibilitava criar o panejamento que vemos na maior parte das esculturas,
inclusive o efeito blusonado, ou seja, puxavam o tecido sobre o cinto para
conseguir o aspecto de tecido mais solto.
A palavra quíton quer dizer “túnica de linho”, sendo de fato o tecido
mais usado para a sua elaboração; porém, a lã também servia como base
têxtil da peça.
No que diz respeito ao tingimento, os quítons eram de diversas cores e
não como sempre imaginamos, brancos ou da cor natural da fibra utilizada.
O drapeado foi uma das características mais marcantes da indumentária grega. (A deusa
Atena, c. 450 a.C. Museu da Acrópole, Atenas.)

Com o passar do tempo, o quíton deixou de ser uma peça de um único


retângulo de tecido para ser composto de duas partes costuradas, muitas
vezes possuindo mangas.
Com relação aos trajes complementares, os gregos usavam mantos. Os
masculinos eram dois: a clâmide, mais curta, feita de lã grossa e considerada
a capa militar, ao passo que o himation era uma roupa civil, mais ampla e
especialmente usada em dias mais frios.
O manto feminino, por sua vez, denominado de peplo, era bem mais
longo, chegando até os pés.
Para os gregos, no princípio de sua civilização, antes do século V a.C.
era comum o uso da barba, que com o tempo passou a ser símbolo de
seriedade e até de senilidade; por isso, os mais jovens passaram a raspar suas
respectivas barbas.
Já os cabelos masculinos eram curtos. Para as mulheres, além do cabelo
solto, era comum serem amarrados com fitas ou com chinós, espécie de
suporte que prendia o cabelo na nuca.
Entre os gregos, o hábito de andar descalço não era demérito algum,
mesmo quando houve o apogeu de sua civilização, portanto, dentro de casa,
sempre andavam dessa forma. Quando usavam calçados no dia a dia, eram
sandálias, presas por tiras amarradas aos pés e às pernas.
As joias também faziam parte dos adornos das gregas; braceletes,
colares, brincos, anéis, alfinetes, broches e mesmo diademas
complementavam suas roupas.
Com o passar do tempo, a indumentária grega foi se tornando luxuosa e
ostensiva, chegando mesmo a excessos, que não foi a característica de suas
roupas no período de maior prosperidade de sua cultura.

Etrúria

A Etrúria localizava-se na região da atual Toscana, Itália, e teve seu


momento de apogeu cultural por volta dos séculos VII a.C. e VI a.C. Os
etruscos podem ser considerados os antecessores dos romanos, que deixaram
fortes marcas nos povos da Península Itálica. Por não terem a escrita, o
conhecimento de sua cultura veio pela iconografia, especialmente a
encontrada em seus túmulos.
Acredita-se que esse povo tenha vindo em migrações da Ásia Menor e
ali se instalou. Isso fica claro até mesmo na indumentária local, visto que
inúmeras imagens nos mostram nítidas referências orientais, além de alguns
traços das roupas gregas.
Havia algumas semelhanças entre as roupas de ambos os sexos, porém
elas apresentavam diferenças não só na forma como também no
comprimento. Os homens usavam uma túnica e, por cima, drapeada nos
ombros e no tórax, a tebena, tipo de capa em formato de corte arredondado
ou mesmo semelhante a uma lua crescente. Pode-se até considerar que essa
capa tenha sido a que originou a peça que vai ser a grande característica da
indumentária romana: a toga.
As túnicas longas eram usadas pelos dois sexos, ao passo que as curtas
somente os homens vestiam. Era comum utilizarem cores em seus tecidos, e
adornar as bordas das tebenas também era habitual. As mulheres, que
sempre vestiam suas túnicas longas, também a adornavam com cercaduras
decorativas, e o manto, semelhante à capa masculina, podia ser passado
sobre a cabeça.
Os homens calçavam botas com o bico ligeiramente levantado, de
influência oriental, e sandálias, de influência grega.
A tebena: o manto etrusco. (Dançarinos da Tumba dos Leopardos, Etrúria. Museo dell’Opera
della Cattedrale.)

Uma grande característica da arte e da indumentária etruscas foi a


joalheria. Essas peças em metal precioso e pedras preciosas, tais como
alfinetes, colares, braceletes, anéis, fivelas, coroas e outras até mesmo com
caráter de proteção, são verdadeiros objetos de arte, que demonstram
apurado domínio de técnica aliado ao extremo bom gosto.

Roma

A cidade de Roma, segundo a lenda de Rômulo e Remo, foi fundada no ano


de 753 a.C. Com o passar do tempo, a cidade tornou-se a Roma
republicana e posteriormente, no seu apogeu, a Roma imperial. Seu declínio
começou no século V da Era Cristã, e a principal causa de sua queda foi a
invasão dos povos bárbaros, não só na maior extensão do território romano
como também na própria cidade de Roma.
Se Atenas se impôs pelo saber, Roma se impôs pela força; todavia,
nítidas referências a valores gregos estiveram presentes no contexto da
estética romana.
Assim como a Grécia recebeu influências cretenses, Roma recebeu
influências etruscas; inclusive na maneira de vestir. No que tange à
indumentária romana, podemos salientar que não só sofreu influências
etruscas, como também que as principais linhas de suas roupas foram
adaptadas da dos gregos.
A peça característica da indumentária romana foi a toga, que nos
permite fazer a correspondência com o himation grego. Entretanto, vale
notar que a toga também foi uma evolução da tebena etrusca. Os romanos
usavam a túnica e, por cima dela, a toga, que era extremamente volumosa e
denunciadora do status social daquele que a portava. Quanto maior fosse, ou
mesmo a sua cor, denunciava a condição de prestígio ou a função do usuário.
Era normalmente de lã e no formato de um semicírculo, o que favorecia o
denso e rico drapeado. Pessoas mais simples, como os trabalhadores e até
mesmo os soldados do exército, muitas vezes usavam só a túnica.
O formato semicircular na modelagem marcou a toga romana e o excesso de tecido
caracterizava as pessoas de prestígio. (Tiberius. Musée du Louvre, Paris.)
As roupas de campanha, por sua vez, eram compostas da túnica curta,
do saiote e da couraça, uma espécie de escudo de metal, no formato do peito
para proteger o tórax, e, nos pés, a calligae, um tipo de “bota” fechada.
As mulheres usavam a túnica longa e, muitas vezes, a stola sobre ela, que
era outro tipo de túnica, cujas principais características eram as mangas. A
peça para as mulheres correspondente à toga era a pella, uma espécie de
manto que tinha o formato retangular, sendo esse detalhe a maior diferença
em relação à correspondente masculina.
Uma grande variação no gosto feminino estava na mudança contínua de
penteados.
O luxo, em um certo momento, atingiu um esplendor tal que os excessos
se tornaram característica da indumentária romana. Joias de diversos tipos,
como pulseiras, anéis, colares, brincos etc., eram comuns para as mulheres.
Para os pés, predominavam as sandálias.
Roma atingiu uma estrutura tamanha que o gigantismo do Império
fugia do controle dos governantes. As influências vindas de outras culturas,
principalmente as orientais, muito contribuíram para os excessos marcantes
na indumentária romana, antes mesmo da queda daquela que foi a sede do
maior império da História ocidental.
CAPÍTULO 3

IDADE MÉDIA

Povos Bárbaros, Bizâncio, Europa Feudal, Europa


Gótica

Povos Bárbaros

O ano de 476 marcou a queda do Império Romano do Ocidente,


terminando assim o período da Idade Antiga e dando início ao da Idade
Média. O marco foi a deposição do imperador romano Rômulo, sendo
colocado um germano no seu lugar.
A maior causa, porém não a única, da queda do Império Romano do
Ocidente foi a invasão dos povos bárbaros, principalmente os germânicos,
no território de Roma. Esse período de invasões e migrações se deu desde o
fim do século IV, quando tribos asiáticas passaram a pressionar tribos
europeias, tornando mais delicado o problema das fronteiras do Império, o
que culminou no século V.
Habitantes do norte e do leste da Europa, esses povos moravam em
regiões de condições climáticas bem desfavoráveis, onde o frio era intenso.
Em relação às roupas, esses povos trabalhavam muito a lã, mas também o
linho, o cânhamo e o algodão, para elaborar seus tecidos, criar túnicas,
mantos e espécies de calças.
Para os homens, as túnicas podiam ser mais curtas, de couro ou de
tecido; eles usavam calções curtos denominados de braies, ou mesmo as
calças longas atadas às pernas por bandas de tecido abaixo dos joelhos. Essas
calças eram presas por um cinto que envolvia o corpo por intermédio de
passantes, cumprindo uma dupla função protetora, pois, devido à sua
condição de nômades, locomoviam-se sobre o lombo de animal, precisando
assim de uma proteção contra o atrito e também contra o frio, em virtude
das condições climáticas um tanto quanto hostis. Por cima, como proteção
maior, usavam um manto que podia ser de couro ou de pele de animal, preso
ao corpo por broches ou alfinetes.
As mulheres vestiam-se com uma túnica longa presa por broches e
atadas ao corpo por cintos, cujas fivelas se compunham de discos duplos de
metal ocos, nos quais levavam seus pertences. Sobre a túnica, usavam um
xale também preso por broche ou fivela. Por baixo da túnica, costumavam
trajar uma camisa geralmente de linho com abertura frontal até o peito.
Uma espécie de protocalça comprida caracterizou a indumentária masculina dos Povos
Bárbaros para proteger as pernas do frio e contra o atrito no lombo do animal; além do uso de
peles. Para as mulheres uma túnica longa.

Homens e mulheres tinham cabelos longos e, para se protegerem,


usavam toucas. Para os pés, eram comuns calçados fechados ou também
sandálias em couro atadas por correias e cadarços, para ambos os sexos.
Com o tempo, essas tribos, devido ao contato com os povos das culturas
romana e bizantina, acabaram também se romanizando, passando a ter um
gosto maior por adornos e cores mais vistosas.
Bizâncio

Roma estava enfraquecida e a capital do Império foi transferida para uma


antiga colônia grega situada no Bósforo, que se chamava Bizâncio e cuja
capital passou a ser Constantinopla no século IV. Com o passar dos anos, já
em fins do mesmo século, o Império foi dividido em Império Romano do
Ocidente e Império Romano do Oriente. A região oriental estava mais
fortificada em razão de diversos fatores socioeconômico-culturais, além da
situação geográfica privilegiada, servindo de entreposto entre o Oriente e o
Ocidente.
O apogeu da cultura bizantina ocorreu no século VI durante o governo
do imperador Justiniano, cuja esposa era Teodora. A religião vigente era a
cristã, todavia se distanciando consideravelmente da Igreja Romana e, em
meados do século XI (1054), houve de fato a cisão entre a cristandade em
Católica Romana e Ortodoxa Oriental.
O Oriente estava em condições gerais bem superiores às do Ocidente,
principalmente no que diz respeito à economia. O luxo oriental sempre foi
mais ostensivo do que o ocidental e, em Bizâncio, não era diferente.
No que se refere às roupas locais, nunca na história da indumentária
houve uma aproximação tão grande entre roupas civis e religiosas.
A seda foi o principal tecido utilizado em Bizâncio, tendo a sua
produção se desenvolvido no próprio império, não sendo preciso, com isso,
importá-la da Índia e da China. Sua fabricação era monopólio do governo.
Esse tecido normalmente só poderia ser usado pelos altos funcionários da
corte, e os tecidos mais opulentos e suntuosos eram de uso exclusivo da
família imperial. Como se não bastasse todo esse esplendor, as roupas ainda
eram bordadas com fios de ouro e prata, pérolas e pedras preciosas,
refletindo luxo e fazendo eco aos mosaicos das construções locais, que foi a
arte maior entre os bizantinos. A lã, o algodão e o linho também faziam
parte da indumentária de Bizâncio.
Os tecidos elaborados marcaram a indumentária oriental por influência de Bizâncio. (Cristo
coroando o Imperador Romain e sua esposa Eudóxia. Relevo em marfim. Século X ou XI.
Bibliothèque Nationale, Paris.)

As influências recebidas pelas suas roupas eram diversas, em uma


mistura evidente de referências romanas, persas e árabes e, graças a todo
esse gosto requintado e luxuoso, ostensivo em cores e elementos pingentes,
Bizâncio também influenciou a indumentária da Europa Ocidental.
As cores estavam muito presentes não só para o casal imperial como
também para os mais privilegiados materialmente, além do uso da
complementação ornamental em bordados com cenas religiosas, motivos
florais e até mesmo animais.
Como em outras culturas, a roupa bizantina também foi um
diferenciador social. Eram verdadeiramente hierárquicas e, quanto maior o
prestígio do portador, mais ornamentadas se apresentavam. Não havia nas
peças um compromisso de sedução, muito menos de utilidade, visto que a
principal característica era de fato esconder o corpo, isso também
claramente evidenciado pelas formas amplas do corte que envolviam o corpo
do usuário. Pode-se perceber que essas roupas eram totalmente diferentes
daquelas usadas no período da Antiguidade clássica, tanto na Grécia quanto
em Roma.
Apesar das diferenças, a influência do corte do manto era nitidamente
romana; todavia, evoluiu ganhando maior comprimento. Esses mantos eram
presos nos ombros por broches ou fivelas — verdadeiras joias. A roupa em si
era muito semelhante para os dois sexos, pois ambos vestiam túnicas com
mangas longas até os punhos e, com isso, o aspecto de orientalização ficou
cada vez mais evidente.
Para os sapatos, não era diferente o excesso de ornamentação,
normalmente em seda, tendo também aplicações de pérolas e pedras.
Ainda hoje, os patriarcas da Igreja Ortodoxa, em suas cerimônias
religiosas, trajam paramentos muito parecidos com as roupas usadas pelos
imperadores bizantinos.
O Império Romano do Oriente vai perdurar até 1453, data em que os
turcos otomanos tomaram Constantinopla e a saquearam, resultando assim
no fim da Idade Média.

Europa Feudal
Como dito anteriormente, a invasão dos povos bárbaros em território do
Império Romano Ocidental foi a principal causa de sua queda. Houve, com
isso, um considerável êxodo urbano para começar daí uma nova proposta de
vida ligada ao campo.
Os centros urbanos, que passavam por grandes crises econômicas; a
decadência do comércio, devido aos baixos rendimentos; o declínio da
autoridade centralizada; e o deslocamento para o campo fizeram aparecer
um novo sistema político-econômico associado a um senhor e a suas
respectivas propriedades rurais. Assim surgiram os feudos, que não eram
todos iguais, nem obedeciam a uma mesma ordem, sendo, porém,
semelhantes em determinados aspectos. O rendimento estava centralizado
na produção agrícola e o poder político, nas mãos dos senhores das terras,
que ganharam significativa autoridade.
O sistema social que caracterizou a Europa Ocidental na segunda
metade do primeiro milênio da Era Cristã foi exatamente o feudalismo,
com o senhor e seus vassalos. Estes prestavam serviço e obediência àqueles
em troca da sobrevivência, que normalmente era um pedaço de terra para
trabalhar.
Houve uma grande queda na produção artístico-cultural nesse período,
visto que as referências greco-romanas foram substituídas pelos valores dos
povos invasores, além do deslocamento urbano para o campo e,
consequentemente, uma diferente forma de produção cultural.
Ocorreu a tentativa de unificar a Europa sob o comando de um
governante católico, Carlos Magno, que privilegiava o ensino e as oficinas
de arte. Esse sistema obteve sucesso enquanto ele esteve vivo. Depois de sua
morte e da divisão do reino entre os herdeiros, o objetivo foi perdido. As
oficinas por ele criadas foram de tremenda importância no que diz respeito à
produção cultural, e antecederam às dos mosteiros, que, após a
desunificação europeia, passaram a dominar todo o tipo de produção
intelectual, estando totalmente ligada às questões religiosas cristãs.
A túnica curta, o capuz com pelerine e a braie caracterizaram a indumentária do período
feudal na Europa. (Chartres, catedral de Notre-Dame, c. 1150. Foto Martin Hürlimann.)

No que tange às roupas, o próprio sistema do feudalismo/vassalagem


contribuiu para evidenciar as diferenças sociais entre senhor e empregado;
todavia, qualquer que fosse o grau de prestígio na sociedade europeia
ocidental, era bem inferior àquele luxo ostensivo bizantino. Possivelmente, a
principal causa das roupas dos europeus ocidentais serem menos opulentas
que as do Império Romano do Oriente fosse econômica.
Assim como se perderam os valores culturais clássicos em privilégio
daqueles dos povos bárbaros, isso também aconteceu no que se relaciona à
indumentária. Foram surgindo singularidades isoladas que duraram até o
início da Baixa Idade Média, quando as diversas culturas europeias se
uniram em torno das Cruzadas, passando assim a haver uma certa
uniformidade na maneira de se vestir.
A roupa usada pelos mais ou menos favorecidos, materialmente falando,
tinha como principal diferença os tecidos e ornamentos, já que o corte era
muito semelhante para as distintas classes sociais. Até mesmo o tipo de fibra
usada em suas túnicas, fosse a lã ou o linho, era a mesma, distinguindo-se
umas das outras na qualidade técnica mais aprimorada de fiação para os
privilegiados e aspectos brutos e fiados em casa para a vassalagem. Os mais
favorecidos chegavam a usar até mesmo a seda.
É claro que as roupas do dia a dia eram menos suntuosas do que aquelas
usadas em momentos mais cerimoniosos. Estas obviamente eram inspiradas
na corte de Bizâncio. A silhueta de quem a usava não era o fator mais
importante das roupas; o grande diferencial era a quantidade de tecido
usada para elaborá-las, que é uma outra forma reguladora de diferenças
sociais; assim como quanto às cores: os camponeses portavam tonalidades
discretas e sóbrias, ao passo que os mais afortunados as usavam mais
variadas e ostensivas.
A gonelle, tipo de túnica usada pelos homens desse período, foi à altura
das panturrilhas para os mais endinheirados, não chegando aos joelhos para
os menos favorecidos. Ela era presa ao corpo por um cinto. Por cima da
túnica, havia uma capa semicircular atada ao ombro por um broche, sendo
forrada de pele para os dias mais frios. Calções chamados de braies eram
usados com meias por baixo das túnicas, longos ou curtos aos joelhos, e
amarrados com bandas de tecido sobre a perna do joelho para baixo.
Capas com capuzes, herdadas dos romanos, também fizeram parte da
indumentária desse período como forma de proteção contra as intempéries,
uma vez que a vida rural deixava as pessoas mais vulneráveis às
inclemências. Para as campanhas, era comum o uso de couro ou tecidos
mais resistentes, inclusive túnicas, podendo ser cobertas com placas
metálicas, também como fator de proteção.
As túnicas femininas, com ou sem mangas, em função do clima, por sua
vez recebiam o nome de stolla e eram vestidas pela cabeça. Eram presas aos
ombros por broches e atadas à cintura por um cinto. Sobre os ombros, seja
como adorno ou proteção, usavam um lenço denominado de palla; também
usavam o manto longo que chegava ao comprimento da própria túnica.
Os cabelos para ambos os sexos eram longos, porém, normalmente
presos para as mulheres. Os calçados, tanto para homens quanto para
mulheres, eram de couro, dos quais saíam tiras para serem cruzadas e
amarradas nas pernas.

Europa Gótica

Se a Alta Idade Média europeia correspondeu a um período associado ao


campo, ao feudalismo por excelência, e de poucos recursos econômicos, o
momento seguinte, o da Baixa Idade Média, caracterizou-se de maneira
diferente. Com o passar do tempo, houve o restabelecimento da economia
urbana; o ressurgimento de uma autoridade central; a aplicação de novas
técnicas agrícolas desenvolvidas (o que favoreceu o aumento da produção de
alimentos); o reaparecimento do comércio citadino, ou seja, a revalorização
dos centros urbanos por toda a Europa, o que acarretou um novo modo
ligado ao comércio e à vida cultural. Isso tudo estava associado à
solidificação das monarquias europeias, além do crescimento do poder da
Igreja na autoridade do Papa.
No fim do século XI, o então Papa Urbano II convocou as cabeças
coroadas e todo o povo cristão para uma cruzada rumo ao Oriente para
salvar os lugares santos da cristandade das mãos dos turcos pagãos, acusados
de profaná-los. Não só se deu a primeira Cruzada, como também se
sucederam outras.
O retorno da vida citadina foi igualmente de significativa importância
para a Igreja, visto que surgiram nesse momento as catedrais no estilo que
muito marcaria a arquitetura religiosa — a religião cristã estaria em plena
efervescência. Em sucessão ao estilo românico, de aspecto pesado,
campesino e horizontalizado de fins da Alta Idade Média, surgiu o estilo
gótico, imponente, urbano e verticalizado. Assim ocorreu na Europa cristã
no momento máximo do teocentrismo. A Igreja sobrepunha-se a tudo,
inclusive os próprios monarcas estavam abaixo do Sumo Pontífice na escala
social.
No que diz respeito às roupas, além de uma certa unidade visual
adquirida pela união dos povos em função das Cruzadas, a ida do europeu
ocidental ao Oriente também influenciou a indumentária desse período,
passando a existir um certo aspecto de orientalização nas vestimentas
europeias, principalmente nos tecidos, além obviamente das roupas
propriamente ditas e de técnicas específicas de corte. Contudo, com as
monarquias distintas estabelecidas em solo europeu, também começaram a
aparecer as peculiaridades entre as diversas cortes europeias. Portanto, de
uma maneira mais ampla, vamos documentar o que foi mais significativo.
Roupas femininas do início do século XV, a típica hopalanda. (Museu do Louvre, Paris.)

Se as roupas do período anterior pouco ou quase nada marcavam a


silhueta dos corpos, sejam femininos ou masculinos, nesse momento, elas
começaram a delinear um pouco mais, especialmente a parte superior dos
vestidos femininos, que passaram a ter abotoamento lateral.
As mangas, por sua vez, cresceram muito e ganharam amplitude na
altura dos punhos. No século XII, por exemplo, a pouca justeza estava
localizada na parte superior do vestido, ficando próximo ao corpo, e as saias,
mais amplas, com panejamento mais volumoso até os pés. A silhueta
predominante foi a magra com o ventre saliente e verticalizada, um eco à
estética arquitetônica do período.
O uso de véus foi uma constante feminina no período gótico. De início,
o véu tinha influência oriental, mas, com o passar do tempo, foi ganhando
características locais. Uma moda feminina muito peculiar entre o fim do
século XIII e o início do século XIV foi a do uso da barbette, que era uma
banda de tecido que passava sob o queixo, elevada às têmporas e presa no
alto da cabeça sob o penteado. Além dessa moda, enfeitar a cabeça de
maneira elaborada, com adornos e chapéus sofisticados chamados hennin,
esteve presente entre os hábitos femininos.
Se a indumentária para os dois sexos em quase nada se diferenciava na
Alta Idade Média, no período da Baixa Idade Média, ela começou a ganhar
uma distinção: as roupas masculinas sutilmente começaram a se encurtar e,
com o tempo, próximo ao fim da Idade Média, isso de fato aconteceu; ao
passo que as femininas se mantiveram longas, atingindo o chão.
Os homens usavam meias, fossem de lã ou de linho, muitas vezes
coloridas, que eram cortadas e/ou tricotadas no formato da própria perna,
além dos calções longos chamados de braies, presos à cintura por um
cadarço. As túnicas foram se encurtando, transformando-se assim no gibão,
e os calções foram diminuindo a ponto de cada vez mais as pernas, cobertas
pelas meias justas, ficarem à mostra.
Muito comum para a moda entre os meados dos séculos XIV e XV,
especialmente para os homens, foram os sapatos de bico pontudo,
significando grau de nobreza. Quanto maior o título do indivíduo, maior era
a permissão de usá-los com bicos extremamente pontiagudos.
A aristocracia desse período já não fazia mais em casa as suas roupas,
mandando elaborá-las aos mestres alfaiates das cidades.
Esse momento do final da Idade Média e princípio do Renascimento foi
de extrema importância para a história da indumentária, visto ter sido nessa
passagem cronológica que surgiu o conceito de moda. Essa referência vem
especialmente da corte de Borgonha (parte atual do território francês), uma
vez que os nobres locais se incomodavam com as cópias de suas roupas feitas
por uma classe social mais abastada, os burgueses, também denominados de
mercantilistas, que surgiram com as Cruzadas.
Inicialmente, de cunho religioso, as Cruzadas foram ganhando também
o caráter comercial ao estabelecerem o contato com o Oriente e terem
acesso a inúmeros artigos que o europeu ocidental desconhecia. Com o
retorno à Europa, os cruzados levavam mercadorias diversas, criando o
comércio entre o Oriente e o Ocidente. Surgiu então uma nova classe social
endinheirada e que tinha condições financeiras para copiar o que a corte
usava. Os nobres, não gostando muito dessa ideia, começaram a diferenciar,
cada vez mais, suas roupas daquelas copiadas, criando assim um ciclo de
criação e cópia. Todas as vezes que isso acontecia, ideias diferenciadas,
advindas da corte, surgiam e eram colocadas em práticas vestimentárias.
Aí está o conceito de moda numa acepção mais próxima da nossa
realidade. Surgiu como um diferenciador social, diferenciador de sexos
(tendo em vista que as roupas masculinas se encurtaram, devido à influência
da técnica de elaborar uma armadura, e as femininas permaneceram longas)
pelo aspecto de valorização da individualidade e com o caráter de
sazonalidade, ou seja, um gosto durava enquanto não era copiado, pois, se
assim acontecesse, novas propostas suplantariam as, então, vigentes.
Percebemos, de um modo geral, que a indumentária deste período foi
marcada pelo uso excessivo de tecidos, e o corpo, ou mesmo sua silhueta,
pouco ficavam em evidência, pelo contrário, o corpo era praticamente o
suporte de muitos volumes têxteis.
CAPÍTULO 4

IDADE MODERNA

Renascimento, Barroco, Rococó

Renascimento

O período denominado de Renascença ou Renascimento redescobriu os


valores do humanismo greco-romano. Artistas e filósofos tentavam
recuperar referências da Grécia e Roma Antigas. É lógico que o
teocentrismo da Idade Média não havia sido abandonado, porém as
referências antropocêntricas ganharam um lugar de destaque no pensamento
renascentista.
Surgiu assim a Idade Moderna em terras da Península Itálica,
especificamente na cidade de Florença, e logo seus conceitos foram sendo
difundidos por toda a Europa.
O comércio e a indústria expandiram-se; a religião católica foi abalada
pelo protestantismo; a vida cultural citadina ganhou forças nas mãos do
mecenato; a secularidade sobrepôs-se à religiosidade; a humanidade e seu
talento foram valorizados, entre outras características, assim se sucedeu o
Renascimento.
Os tempos agora são outros e, no que diz respeito às roupas, elas
também mudaram. A indústria têxtil deu um grande salto em
desenvolvimento. Cidades italianas como Veneza, Florença, Milão, Gênova
e Luca foram responsáveis pela elaboração de tecidos de primeira qualidade
como brocados, veludos, cetins e sedas e, obviamente, esse requinte refletiu
nas roupas propriamente ditas.
Gibão e calção bufante, típica roupa masculina do período do Renascimento (Arquiduque
Ferdinando do Tirol, Seisenegger, 1542. Museu Kunsthistorisches, Viena.)
O vertugado marca a moda feminina do Renascimento, além do uso do rufo para ambos os
gêneros.
As cortes europeias já estavam muito bem estabelecidas e, sendo assim,
houve uma identidade própria de cada país nos seus respectivos hábitos de
cobrirem o corpo e adornarem-se. Em um primeiro momento, a influência
maior veio das cortes da Península Itálica; todavia, com o tempo surgiram
influências alemãs, francesas, espanholas e inglesas.
De uma maneira geral, apesar das peculiaridades, a moda teve certa
similaridade, pois um povo acabava influenciando outros.
Para os homens a roupa característica desse período foi o gibão — o que
poderia corresponder na contemporaneidade ao paletó —, normalmente
acolchoado, podendo ou não ter mangas, abotoado à frente e com uma
basque sobre o calção. As mangas eram presas ao corpo da peça por
atacadores e, para disfarçar, havia uma espécie de adorno almofadado preso
sobre essa união. Sobre o gibão, usavam a jacket, ou uma túnica aberta à
frente e de grande panejamento.
A parte inferior das roupas masculinas era composta pelos calções
bufantes que, a princípio, eram mais longos, porém, foram encurtados de
uma tal forma que ficaram muito pequenos. Sobre o órgão sexual usavam
uma espécie de suporte que tinha mais característica de adorno do que de
proteção, apesar de servir também para unir uma perna da meia à outra. De
efeito visual bem erótico, essa peça foi chamada, em inglês, de codpiece; em
francês, de braguette e, em português, de porta-pênis. Era, de fato, um
detalhe para evidenciar, ou melhor, exibir toda a masculinidade e virilidade
do portador. Nas pernas, usavam meias coloridas, muitas vezes com
características diferentes (cores e/ou listras) para cada perna, o que
simbolizava um código de pertencimento ao seu respectivo clã, uma espécie
de heráldica nas roupas. Essa moda foi toda bem colorida e chamativa,
sendo a masculina mais efusiva que a feminina.
Para ambos os sexos, especialmente para a moda feminina, era comum o
decote acentuado, que, com o passar do tempo, foi sendo velado e, como
evolução do efeito de acabamento próximo ao pescoço, surgiu um tipo de
gola, denominada de rufo, que se assemelhava a uma enorme roda, em
tecido fino e toda engomada em efeitos tiotados, que cresceu tanto que
atingiu proporções inimagináveis. É lógico que toda essa opulência era
sinônimo de prestígio social, visto que o uso dessa gola até mesmo limitava
movimentos mais vigorosos. Era normalmente branca e podia, muitas vezes,
ser ornada (ou ser inteiriça) com rendas, que, por sua vez, também eram
brancas e engomadas. O rufo foi usado tanto por homens quanto por
mulheres.
Para os pés masculinos, surgiram os sapatos de bico achatado e largo,
que eram bem mais confortáveis do que os pontiagudos do período anterior.
Esses efeitos de arredondamentos pode-se dizer que também eram
reflexos da arquitetura, uma vez que os arcos arquitetônicos então já não
estavam tão pontiagudos como as ogivas góticas.
Uma moda curiosa chamada de landsknecht veio da Alemanha, que
podemos traduzir como talhadas. Foi o hábito de cortar o tecido da roupa
em tiras ou em pequenas aberturas nas quais apareciam as peças de baixo,
fosse a chemise usada sob o gibão ou mesmo o tecido que unia as tiras do
calção bufante. Esse detalhe foi comum para ambos os sexos; contudo, foi
mais evidente entre os homens.
A moda feminina também se diferenciava de acordo com a
nacionalidade; entretanto, era comum às europeias, em geral, usarem um
vestido denominado de vertugado, que consistia em partes rígidas para o
tronco e que, da cintura para baixo, se abria em formato cônico com
armações mais rijas ainda, quase não dando efeito de movimento à peça e
liberdade à usuária. As mangas desses vestidos normalmente eram longas,
largas e pendiam, muitas vezes, quase até o chão. Em seus vertugados, as
mulheres também faziam uso das talhadas, e adornavam suas faces com a
gola rufo.
Para os cabelos, em um primeiro momento do Renascimento, eram
usados adornos mais leves (comparados aos do período anterior) como
redinhas, pérolas e tranças enroladas sobre a cabeça, e um grande costume
feminino foi acentuar a testa não só esticando os cabelos para trás como
também chegando até mesmo a raspá-los mais próximos do alto da face.
Esse foi um hábito comum em toda a Europa.
Um costume muito marcante no período do Renascimento foi o uso
excessivo de perfumes. Eram usados em profusão, não só sobre o corpo, mas
também nas luvas, meias, sapatos etc.
As joias estiveram em voga tanto na Inglaterra quanto na Península
Itálica, e as pesadas correntes de ouro eram muito apreciadas, além
obviamente das pedras preciosas.
A moda feminina, assim como a masculina, foi um tanto quanto
colorida; todavia, uma certa referência oposta chegava da Espanha em
meados do século XVI, para ambos os sexos, foi o uso quase generalizado da
cor preta. Esse país, por questões de tradição cultural e religiosa, sempre
manteve o rigor e a austeridade em suas indumentárias, e agora, com a
ascensão econômica, acabou influenciando com essa moda o restante da
Europa. Não só isso contribuiu, mas também o gosto pessoal por essa cor
pelo imperador espanhol Carlos V.
Com o passar dos tempos, porém ainda dentro dos padrões
renascentistas, a moda feminina do vertugado acabou se transformando na
farthingale, que cresceu nas laterais dos quadris, atingindo volumes
inusitados. As armações eram de madeira, arame ou barbatanas de baleia
para sustentarem todo esse exagero.
Essa moda veio da Inglaterra em meados do século XVI e também no
período do Renascimento surgiu uma peça de grande importância para toda
a história da moda que foi o corpete, que afunilava a cintura feminina de
maneira bem significativa. Além do verdadeiro afunilamento do próprio
corpo, havia também, e mais acentuado, um grande afunilamento visual,
uma vez que o corpete ganhava o aspecto de ângulo agudo à altura do quadril
feminino, que direcionava o olhar para o órgão sexual. Esse detalhe, já usado
com o vertugado, ficava mais evidente ainda pelo acentuado volume das
laterais das saias quando transformadas na farthingale.
Com relação ao rufo, ele evoluiu e ganhou uma outra identidade,
transformando-se em um outro tipo de gola, também branca e rendada, em
uma espécie de resplendor que contornava a parte de trás da cabeça, tendo
uma abertura frontal que valorizava o decote do corpete. Essencialmente
para as mulheres, essa foi a gola Medici.
A moda feminina foi ganhando um significativo compromisso de
sedução ao começar a evidenciar o colo com o decote e também a cintura
com o corpete.

Barroco

Como continuidade do processo antropocêntrico advindo com o


Renascimento, o século XVII trouxe para a humanidade a Revolução
Científica. A tentativa de conhecer os segredos da natureza fez do ser
humano um grande observador, que passou a sistematizar com muito rigor
as suas experiências. Nomes como Bacon, Galileu, Newton, Descartes e
outros fizeram do século XVII um verdadeiro período de transformação
intelectual.
Nas artes, de Roma partiu o estilo Barroco que se expandiu por toda a
Europa e pelo mundo ocidental até meados do século XVIII. Nomes como
Velázquez, Rubens, Rembrandt, Caravaggio, entre outros, difundiram um
estilo que foi tão expressivo, em seus efeitos de luz e sombra nas pinturas,
quanto ornamental e opulento na arquitetura, buscando retratar a emoção
humana.
O reinado de Luís XIV — o rei-Sol (1643-1715) — iniciou-se no
decorrer da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Nesse período, nenhuma
corte era capaz de ditar modos e modas; não havia unidade nas vestimentas
na Europa, que variavam de acordo com cada país.
A Holanda, com seus burgueses ricos, por exemplo, recebia a influência
espanhola e, assim como também o protestantismo local, continuou a usar o
preto com muita austeridade. O rufo ainda era usado mais no norte da
Europa e, na realidade, tornou-se ainda maior.
De uma forma geral, para a moda masculina, o gibão ampliou-se e
alargou-se. Com os culottes, aconteceu o mesmo, além de terem ido até
abaixo dos joelhos.
A renda estava muito em evidência em punhos e golas, tanto para
homens quanto para mulheres. Já não se usava mais o rufo, que havia se
transformado no cabeção — gola engomada, normalmente de renda,
ligeiramente inclinada para cima na parte de trás, que parecia deixar a
cabeça apoiada sobre uma base inclinada — e que vai também se
transformar na gola caída, que se apoiava enormemente sobre os ombros,
especialmente para os homens.
O período Barroco foi caracterizado pelo excesso visual. (RACINET, Albert. Enciclopédia
Histórica do Traje. Lisboa: Replicação, 1994.)
Roupa característica da moda feminina do período Barroco. (Roupa da corte de Versalhes por
volta de 1700, período do reinado de Luís XIV.)

Para o gênero masculino, era muito comum o uso de botas, que eram
adornadas em seus canhões com magníficas rendas. Essas botas, que de
início se destinavam só para montaria, ganharam também o status de moda.
Foi a época da França dos mosqueteiros e da Inglaterra dos cavaleiros.
Para as mulheres, à exceção da Espanha, não se usava mais o vertugado e
sim uma sobreposição de anáguas sob uma saia mais arredondada.
Por volta da década de 40 do século XVII, os cabelos longos naturais
masculinos entraram na moda; porém, havia aqueles não muito dotados de
cabeleira que faziam uso de perucas e, sendo assim, as mesmas se tornaram
um hábito de moda. A peruca transformou-se num dos elementos mais
importantes da elegância masculina. Luís XIV chegou a conceder licença
em 1655 a 48 fabricantes de peruca em Paris.
A partir de 1660, a corte de Versalhes começou, de fato, a se impor para
o restante da Europa com os novos padrões sociais, criando boas maneiras,
etiquetas, modos e, principalmente, moda.
Desse momento em diante, a moda masculina desenvolveu-se muito
mais que a feminina. O pitoresco passou a ser uma marca registrada para
ambos os sexos. A roupa dos homens ganhou uma identidade muito
marcante: o culotte. Ele tornou-se bem largo, chegando até aos joelhos, com
ornamentos de bordados e rendas, assemelhando-se mais a um saiote curto
do que a um calção.
Uma significativa quantidade de rendas enfeitava externamente o culotte,
que recebia o nome de rhingrave, adquirindo nítidas referências
feminilizantes à época.
Por volta de 1680, os excessos começam a perder espaço em favor de um
aspecto de esplendor. Por influência oriental, os homens começaram a usar
uma espécie de túnica longa que, com o tempo, foi se encurtando e se
transformou na veste, que mais tarde, por sua vez, transformou-se no colete,
bem comprido de início, chegando à altura dos joelhos. Usavam também o
culotte, agora bem mais justo e, como complemento geral, uma casaca. Os
tecidos, veludos e brocados em especial, eram bem sofisticados.
Na última década do século XVII, surgiu para o homem uma espécie de
lenço de renda para o pescoço, ou mesmo de tecido adornado de rendas.
As meias de seda obviamente eram indispensáveis. Com relação aos
adornos de cabeça, os ingleses usavam chapéus de copa alta e abas longas, ao
passo que os dos franceses eram de copa baixa e abas largas. No que diz
respeito a todo esse esplendor dos homens, parece mesmo que o único
elemento de masculinidade visível era um pequeno bigode.
Para a moda feminina, havia também a correspondência de todo esse
esplendor. As mulheres usavam camisa de manga curta, havendo a
sobrecamisa com decotes acentuados e de mangas até os cotovelos. As
cinturas eram finas, marcadas pelo uso de um corpete rijo e apertado. Os
tecidos também eram luxuosos e caros, predominando as cores como o
vermelho-escarlate, o vermelho-cereja e o azul-escuro; todavia, apareciam
cores mais claras como o rosa, o azul-céu e o amarelo-pálido.
Nas cabeças, as mulheres não usavam perucas, adornavam-nas com um
penteado denominado de à la Fontange — nome originado do de uma das
preferidas de Luís XIV —, uma espécie de penteado com ares de
despenteado, preso por fitas. Com o tempo, incrementaram os cabelos com
rendas, toucas e armações de arame para manter de pé um volume tão alto.
Um complemento muito curioso de uso feminino foram as chamadas
mouches de beauté (moscas de beleza), que vigoraram na segunda metade do
século XVII. Tinham o aspecto de pintas; eram feitas de seda preta com
desenhos inusitados que continham um material colante por trás para serem
aplicadas sobre a face. Com relação aos motivos, podiam ser os mais
variados possíveis, como meias-luas, estrelas e corações. O efeito obtido era
de charme e servia para acentuar a expressão facial. Havia as grandes moscas
com motivos como sóis, pombas, carruagens e cupidos. Foi a pura essência
dos excessos do Barroco.

Rococó
Assim como o Renascimento foi o passo inicial para a Revolução Científica,
esta, por sua vez, foi, ao mesmo tempo, alicerce e alavanca para o
Iluminismo do século XVIII, estabelecendo assim o apogeu da
modernidade.
Os pensadores do Iluminismo eram chamados de philosophes, e tinham
como objetivo compreender a natureza, bem como a sociedade, por meio da
razão. Paris foi o epicentro dessa filosofia, irradiando a ideia e encontrando
adeptos em toda a Europa e na América do Norte. Essa afirmação da razão
e da liberdade ecoou tanto no pensamento político quanto no social e
econômico.
O vestido à maneira francesa: decote, babados e rendas. (Madame de Pompadour, François
Boucher, 1759.)
As artes evoluíram do Barroco para o Rococó, que teve seu início em
solo francês. Se o Barroco já foi um exagero, o Rococó pode ser considerado
“o exagero do exagero”. Apesar dessa característica, foi uma arte tão
requintada quanto aristocrática, buscando se expressar mais pela leveza e
pela delicadeza. O Rococó privilegiou valores ornamentais e decorativos e
toda essa opulência e luxo foram transportados para a moda.
O período de transição entre o Barroco e o Rococó na França foi
denominado de Regência (1715-1730). Se o Barroco esteve associado a Luís
XIV, o Rococó o foi com Luís XV (e também, posteriormente, com Luís
XVI); e, enquanto da sua minoridade, houve a Regência de Philippe
d’Orleans (1715-1723). A moda, nesse momento, manteve-se com toda a
pompa e rigor já existentes. Os costumes de então privilegiaram a
frivolidade. O aspecto de fineza e leveza eram maiores do que na época de
Luís XIV. As roupas estavam mais fáceis de serem usadas do que aquelas do
período anterior. A renda permanecia em vigor para os punhos das mangas
de camisas e os coletes eram sofisticadamente ornamentados. O volume das
perucas diminuiu um pouco, porém, agora, havia o hábito de empoá-las
com pó branco. Na moda feminina, a silhueta e a qualidade das roupas
também mudaram. O penteado à la Fontange desapareceu, predominando
então um penteado baixo e empoado. Os volumes cônicos das saias, por sua
vez, foram mantidos com o uso de barbatanas de baleia.
O período do Rococó propriamente dito foi de 1730 a 1789, quando
ocorreu a insurreição da Revolução Francesa. A falta de moderação foi a
grande característica do período antecedente, predominando em todos os
setores os exageros. Decorar excessivamente foi o valor predominante.
Caprichos e bizarrices marcaram o gosto pela excentricidade.
A moda feminina sob o reinado de Luís XV manteve o uso da
maquiagem e dos pós nos cabelos; os volumes de suas roupas dificultavam o
caminhar. A flor foi o grande ornamento, nunca tão usada como então em
vestidos e cabelos, tanto as naturais quanto as artificiais. Enquanto as saias
dos vestidos estiveram bem volumosas, os seus corpetes ajustavam
consideravelmente o busto e a cintura. Os vestidos eram denominados de
aberto ou fechado. O primeiro era composto de corpete decotado em formato
quadrado com mangas até os cotovelos terminadas em babados de rendas e
lacinhos de fita; foi caracterizado como aberto pelo recorte frontal na
sobressaia que deixava aparecer a saia de baixo repleta de ornamentos. O
vestido fechado, por sua vez, mantinha as mesmas características, todavia
sem ter a sobressaia aberta. Nas costas de ambos os modelos, era comum
haver pregas largas, denominadas de à Watteau, que pendiam desde os
ombros até o chão. Os volumes laterais das saias eram obtidos por armações,
denominadas de paniers (cesto, em francês), de galhos, normalmente de
salgueiro ou vime.
Tecidos como a seda e grossos brocados ornamentados com flores eram
os preferidos tanto pelas mulheres quanto pelos homens. O gosto pela
inspiração na natureza prevalecia. Delicados sapatos calçavam os pés
femininos. Os cabelos minuciosamente elaborados e empoados compunham
o conjunto ornando a face.
Para os homens desse período, a toilette era composta de culotte justo até
os joelhos, camisa, colete, casaca, meias brancas e sapatos de saltos (mais
baixos que os do período anterior). Na moda masculina, pouca coisa mudou
desde o final do reinado de Luís XIV. Os coletes eram bordados e abotoados
à frente, as casacas, também com os botões frontais, passaram a ser
bordadas a partir da segunda metade do século XVIII.
Os cabelos, ou mesmo as perucas, eram amarrados atrás em rabo de
cavalo. As perucas podiam ser de cabelos naturais, crina de bode ou de
cavalo e também de fibras vegetais. Além de serem empoados (cabelos e/ou
perucas) de cinza ou branco, hábito que vem desde o princípio do século
XVIII e perdurou até a Revolução Francesa (reinado de Luís XVI),
ganhavam agora, sob Luís XV, um laço de fita de seda preta na nuca
(cadogan) e um outro na ponta do rabo de cavalo. Além do mais, usavam o
chapéu tricórnio na cor preta. Assim a França lançou moda e influenciou
toda a Europa.
A partir de 1760, a burguesia campestre inglesa exerceu uma grande
influência na moda, prevalecendo uma nítida referência à praticidade e à
simplicidade nas roupas.
Com o tempo, a aristocracia francesa começou a declinar em poderes
políticos e econômicos; todavia, ainda demonstravam riqueza por meio de
suas roupas, principalmente no último momento do Rococó, que foi de
1770 a 1789. Luís XVI subiu ao trono em 1774, e sua mulher, a austríaca
Maria Antonieta, tornou-se rainha da França.
O que muito marcou esse momento na moda feminina foram os
penteados, que já vinham se elevando desde 1760, mas, de fato, foram
assimilados a partir de 1770. Foram levados às últimas consequências em
proporção e enfeites. Lembremos que as mulheres não usavam perucas e
seus adornos eram feitos com os próprios cabelos. Utilizavam-se de recursos
de enchimentos para obterem volumes consideráveis. Untavam-nos para
aplicar-lhes o pó e enfeitavam-nos com cestos de frutas, caravelas, cenas
pastorais, moinhos de vento, borboletas etc. Para manter todo esse volume
de pé, usavam um suporte de crina de cavalo por trás da cabeça, além do
recurso dos alfinetes. Se o Barroco esteve associado às perucas e aos
peruqueiros, especialmente masculinos, o Rococó foi ligado aos penteados
enormes e aos cabeleireiros femininos.
No final do Rococó, também foi comum entre as mulheres a saia de
enormes volumes laterais, obtidos com excessivos paniers, que, para
passarem por uma porta, era necessário abri-la em suas duas partes; da
mesma forma que, ao sentarem num banco de jardim, o ocupavam
praticamente todo.
Os decotes dos corpetes tornaram-se mais profundos, muitas vezes
ornados sobre os ombros com um lenço branco quadrado dobrado em
formato triangular denominado de fichu.
CAPÍTULO 5

IDADE CONTEMPORÂNEA: SÉCULO XIX

Império, Romantismo, Era Vitoriana, La Belle


Époque

Império

Como vimos, o período do Rococó, o que antecedeu à Revolução Francesa,


foi um momento de grande fausto para aqueles que tinham privilégios. A
sociedade francesa estava dividida em três estados ou ordens, sendo o
primeiro o clero; o segundo, a nobreza; e o terceiro, o restante da população.
O primeiro e o segundo estados compunham a classe privilegiada enquanto
o terceiro se diferenciava por ser composto especialmente pelos menos
favorecidos economicamente. Até mesmo a burguesia pertencia ao terceiro
estado, de onde surgiu a liderança da Revolução; todavia, o sucesso desse
movimento dependeu de fato dos outros componentes desse estado, que
eram os campesinos e os trabalhadores urbanos.
A insatisfação com as diferenças sociais e o excesso de privilégios das
classes favorecidas gerou uma revolta popular que culminou com a Tomada
e Queda da Bastilha em 14 de julho de 1789. Essa se tornou a data-marco
de todo o processo revolucionário. Assim, a História ocidental viveu um
grande momento de mudanças sociais. O processo foi gradual, contudo,
deu-se início a um novo momento histórico: o começo da Idade
Contemporânea.
A França, no processo revolucionário, passou a ser governada por um
Diretório, posteriormente, por um Consulado e, a partir de 1804, por um
sistema monárquico imperial. Cronologicamente, já era o século XIX.
Grandes rupturas de valores aconteceram no século XVIII (Revolução
Francesa, 1789) e no século XX (Primeira Guerra Mundial, com início em
1914).
No que diz respeito à moda, podemos dividir o século XIX em quatro
períodos distintos, a saber: Império, Romantismo, Era Vitoriana e La Belle
Époque.
Antes do período do Império propriamente dito, aquele em que
Napoleão I vai governar a França como imperador (1804-1815), a moda
teve certas identidades que vamos descrever.
Após a Revolução, a moda começou a passar por um processo de
significativa mudança até atingir a identidade daquela que seria
verdadeiramente a moda Império. A palavra de ordem nesse intervalo de
tempo, ou seja, a década de 1790, era conforto. As roupas passaram a ser
mais práticas e de fato confortáveis. Os aspectos característicos do Antigo
Regime desapareceram tanto para as mulheres quanto para os homens.
Nada mais de vestidos com panier, bordados excessivos, tecidos faustosos,
corpetes, perucas e cabelos empoados. As roupas mudaram drasticamente e
o gosto pelo retorno à natureza passou a ser uma constante. A influência
agora era inglesa e vinha especialmente do campo, o que modificava, de
fato, o aspecto de praticidade.
As roupas masculinas, nesse aspecto de anglomania, adquiriram
sobriedade. O casaco passou a ser o do tipo inglês de caça; o uso de botas
também se tornou frequente, além de golas altas e ostensivos lenços
amarrados como adorno de pescoço.
A moda feminina na última década do século XVIII também se tornou
menos ostensiva e extravagante. Toda a opulência que antecedeu à
Revolução Francesa foi substituída por um vestido simples à semelhança de
uma camisola solta de cintura alta, logo abaixo do seio, normalmente de cor
branca, em tecidos como a mousseline ou a cambraia. A transparência fazia-
se presente nos vestidos a ponto das mulheres usarem malhas coladas ao
corpo não só para se protegerem do frio, como também para evitarem a
exibição de sua silhueta.
O fim do século XVIII já havia definido o que prevaleceria no momento
que vai ser denominado como Império.
O sistema de governo francês do Diretório considerava como modelo a
democracia grega; e, durante o Consulado, foi valorizada como ideal a
República romana, o que culminou num gosto greco-romano acentuado
(especialmente o grego), que vai inspirar os hábitos vestimentares das
mulheres do período do Império; além dos penteados masculinos e
femininos, que se assemelhavam aos cortes de cabelos dos romanos, com
aspecto intencionalmente despenteado, recebendo o nome de cabelo à
ventania, para ambos os sexos, ou “à moda Tito” somente para os homens.
A cintura abaixo do busto marca o corte da moda império para as mulheres. (Detalhe da obra
“Ponto de Convenção”, L. Boilly, c. 1801. Coleção particular de Alain de Rothschild.)

Durante o período do Consulado (1799-1804), esse estilo já havia se


estabelecido e, na realidade, iria continuar predominando durante o Império
Napoleônico, com duração entre 1804 e 1815. O estilo império na
indumentária assimilou, de fato, as referências da indumentária da
Antiguidade clássica; todavia, não foi exatamente uma cópia de como
especialmente as gregas se vestiam, mas uma lembrança considerável dessas
roupas.
O vestido semelhante a uma camisola com a cintura logo abaixo dos
seios e decote acentuado continuou como característica. Nos braços, quando
os vestidos eram de mangas curtas, calçavam-se luvas longas, especialmente
como proteção. Os tecidos usados continuavam sendo leves, vaporosos e
transparentes, e um grande problema com o qual as mulheres conviveram
foi a questão do frio. Esse tipo de vestido império, por volta de 1810, chegou
à altura das canelas, deixando à mostra os pés calçados por sapatos baixos.
Os decotes quadrados ou em “V” deixavam o colo todo em evidência.
Napoleão Bonaparte proibiu a importação de mousseline de algodão da
Índia, não só por problemas políticos com a Inglaterra, que colonizava a
Índia, mas também para poder desenvolver a indústria têxtil francesa,
especialmente a da seda e do algodão de Lyon. Outra proibição do
imperador relacionada à moda foi a da repetição pública de vestidos das
damas de sua corte. Isso tudo não só para gerar um consumo têxtil maior,
como também para resgatar para a França o poder de ser um epicentro
divulgador de moda em geral, uma vez que a Inglaterra estava influenciando
toda a conduta da moda masculina.
Entrou em moda um complemento feminino que vai acabar sendo
muito usado por todo o século XIX: o xale. Ele normalmente vinha da
Índia, da cidade de Caxemira, mas, como as importações foram cortadas
devido à guerra com a Inglaterra, tiveram que fabricá-los de forma
semelhante na própria França.
Na moda masculina, que pouco mudou desde a Revolução Francesa, a
não ser sob o aspecto de maior conforto, a influência continua vindo da
Europa insular, ou seja, da Inglaterra. O que mais vai marcar são as calças,
que foram cada vez mais assimiladas e já eram parecidas com as que usamos
hoje; especialmente as de casimira, que podem moldar bem o corpo do
usuário ao ser esticada e, especialmente, graças ao avanço técnico da
alfaiataria inglesa, que estava em plena ascensão.

Romantismo

O segundo período marcante do século XIX na indumentária foi o


Romantismo, que correspondeu aproximadamente ao período entre 1820 e
1840. O momento entre o Império e o Romantismo, que foi chamado de
Restauração, porém, teve seus dias entre 1815 e 1820.
A época da Restauração não foi de muita identidade para a moda
feminina e sim um período de transição entre a moda império e a
romântica. Os vestidos chegaram às canelas e eram bem mais ornamentados
do que aqueles do Império. A forma cilíndrica estava sutilmente se
transformando em cônica, todavia, escondendo toda a silhueta da usuária; as
mangas tornaram-se compridas e justas até os punhos, porém bufantes na
altura dos ombros; e os decotes ficaram mais altos.
A moda masculina, essa sim estava a todo vapor. Não que ela tenha
mudado radicalmente nesse período da Restauração, mas já o fazia desde o
Império, tornando-se muito significativa na Inglaterra. Enquanto Paris
ditava as regras femininas, Londres, por sua vez, se impunha com as
masculinas.
Surgiu então um estilo, na Inglaterra, pelas mãos de George Bryan
Brummell (1778-1840) — o Belo Brummell —, que, de fato, teve seus dias
gloriosos entre 1800 e 1830: o dandismo. Mais do que uma moda, foi uma
maneira de ser, um modo de vida. O estilo dandy, que surgiu no princípio
do século XIX, impôs-se e ditou regras. Era, na realidade, uma espécie de
distinção e uma maneira diferente de ser e, consequentemente, de se vestir.
Não foi a suntuosidade que ditou a regra dândi e sim a distinção e a
sobriedade que se tornaram a marca registrada da moda masculina. A magia
criada por esse estilo se tornou, a partir de então, referência para toda a
moda masculina do século XIX.
A justeza da roupa de Brummell foi a marca registrada do conceito dos
dândis. Suas roupas não podiam ter sequer uma ruga. Casaco, colete, calção
ou a calça comprida eram impecáveis. Nada de bordados, de joias ou
acessórios supérfluos. Nas camisas, as golas eram altas e os pescoços eram
adornados com o plastron, espécie de lenço, que, com seus nós sofisticados,
deixavam a cabeça suspensa, contribuindo assim para o aspecto de
arrogância típico do dândi.
Um complemento da moda masculina, que entrou em voga e se
distinguiu e que passou a ser usado em quase todo o século XIX, foi a
cartola, simbolizando toda uma classe de forte poder econômico. Foi de fato
símbolo de status e poder social.
O contexto cultural da Europa estava vivendo nessa época um momento
muito significativo de resgates. O movimento romântico, na verdade, já
vinha fazendo suas aparições desde fins do século XVIII, mas foi no século
XIX que realmente ganhou corpo e perdurou como ideologia praticamente
por toda a primeira metade oitocentista. O Romantismo defendeu a
liberação das emoções humanas em detrimento do racionalismo iluminista
anterior, que limitava as emoções e a criatividade. Quiseram o retorno de
um ser humano emocional, espontâneo, e não só aquele que buscava a
verdade por meio do intelecto.
A Revolução Industrial estava a pleno andamento, e o ideal iluminista
havia transformado homem em máquina. A insatisfação contra essa
ideologia fez brotar na mente humana um saudosismo dos tempos de
outrora. Isso influenciou todo o processo criativo, da literatura às artes, da
música à arquitetura e obviamente a moda não ficou de lado, sofrendo
significativas mudanças.
No que se refere à indumentária masculina, pouca coisa ou quase nada
mudou. O estilo dândi manteve-se como o padrão mais representativo para
a moda dos homens. Brummell, numa espécie de fuga de seus credores, foi
para a França em 1816 e só retornou a Londres doze anos depois. Sua
ausência talvez tenha contribuído para um certo exagero visual na moda
masculina, uma vez que ele sabia muito bem a medida exata das coisas. Mas
o estilo dândi em si permaneceu em moda. Calça comprida, casaco, plastron
e cartola continuaram a compor a sóbria indumentária masculina. A partir
de 1830, a barba começou a fazer parte da aparência dos homens e perdurou
por todo o restante do século XIX, e até a Primeira Guerra Mundial.
O retorno da cintura marcada e saia com mais volume identificaram a mulher do Romantismo.
(Mme de Mirbel, Champmartin, 1831. Museu de Versalhes.)
Calça comprida, casaca, colete, cartola e bengala marcam a identidade do homem elegante
dentro da estética do dandismo. (Ilustração de 1826).

A moda feminina, no entanto, foi buscar referências e inspiração no


passado. Os homens estavam ocupados com o trabalho e as mulheres em
resgatar valores tradicionais e exibir os poderes materiais de toda a
burguesia.
Paris e Londres foram as grandes capitais europeias dessa época.
Enquanto a primeira se preocupava com a vida citadina, a segunda
privilegiava a vida do campo. E esses aspectos influenciaram suas respectivas
modas.
No período romântico, tanto o preto quanto as cores fizeram parte do
guarda-roupa feminino, inclusive o uso de tecidos estampados,
especialmente com flores ou listras, no lugar dos lisos. Por volta de 1820, os
vestidos femininos voltaram a ter sua cintura na própria cintura que,
efetivamente, ficou marcada pelo uso do corpete. As saias dos vestidos
começaram a ganhar um volume cônico, obtido pelo uso de anáguas para
dar-lhes essa aparência.
Obviamente que a cintura ficava visualmente mais afunilada pelo
volume dessas saias; mas o que mais contribuiu para acentuar esse aspecto
foram as enormes mangas bufantes que apareceram na moda. A partir de
1830, as saias ficaram um pouco mais curtas e, em torno de 1835, as mangas
atingiram o máximo de proporção, recebendo o nome em francês de manche
gigot, que em português vai nos dar a “manga presunto”. O aspecto dos
ombros femininos eram de quase o dobro da sua aparência normal, e essas
mangas eram preenchidas, para obter o volume desejado, com plumas e fios
metálicos.
O decote, por sua vez, reapareceu, especialmente para a noite. Eram
bem acentuados, em forma de canoa, e criavam o aspecto de ombros caídos
para a mulher, o que revelava toda a sua fragilidade. O xale de cashemire
e/ou um detalhe como uma espécie de pelerine, chamado de Berta, que
pendia do decote podendo ser em renda, fazia parte dessa moda feminina.
O xale costumava cobrir não só os ombros e o colo como também as
enormes mangas quando houvesse.
Além das joias como relicários, cruzes, pulseiras, broches etc., os
adornos de laços, fitas, babados, flores e ornamentos, em geral, voltaram à
moda feminina. Na cabeça, usavam não só os cachos caídos sobre a testa
e/ou têmporas, os “postiços”, mas também os sofisticados penteados ornados
com travessas — as de casca de tartaruga eram as mais chiques, caras e
resistentes — e ainda modelos de chapéus em palha ou cetim, tipo bonecas,
o “chapéu capota”, que lhes emolduravam a lateral da face, ornados com
plumas, flores e fitas normalmente amarradas sob o queixo. O uso do leque
também era indispensável para a toalete feminina; e os sapatos tinham como
principal característica o salto baixo.

Era Vitoriana

O começo da segunda metade do século XIX foi marcado pelos monarcas


Napoleão III, na França, e Vitória, na Inglaterra. Todo o processo da
Revolução Industrial estava indo muito bem. Foi um período de grande
prestígio da burguesia, uma vez que mais e mais pessoas podiam trabalhar
com negócios e comércio e se beneficiavam materialmente nessa sociedade
de consumo.
Toda essa prosperidade obviamente influenciou a moda de então. A
década de 1850 foi marcada especialmente pelo uso da crinolina. Era, na
realidade, um tecido feito de crina de cavalo mesclado ao algodão ou ao
linho, que tinha propriedades rijas e flexíveis ao mesmo tempo. A obtenção
do enorme, cônico e circular volume das saias deveu-se ao uso de uma
armação de aros de metal chamada de cage (que, em inglês e francês,
significa gaiola). O conjunto da armação com a saia propriamente dita
acabava sendo chamado de crinolina. Esses volumes representavam todo o
aspecto de prestígio e esplendor da sociedade capitalista.
Os profundos decotes dos vestidos deixavam o colo, os ombros e parte
dos braços aparentes. Os tecidos empregados nessas roupas eram muito
sofisticados e caros tais como seda, cetim, fina lã, tafetá, brocado, crepe,
mousseline, entre outros.
Foi nesse período que a moda encontrou uma grande maneira de se
modificar, uma vez que, devido ao prestígio financeiro da burguesia
industrial, o aspecto visual das roupas dessa nova classe era muito
semelhante àquele da nobreza e da aristocracia. Surgiu então na década de
1850, na França, o conceito de alta-costura, criado por um inglês radicado
em Paris — Charles Frederick Worth.
Worth vestia toda a prestigiada sociedade parisiense, inclusive Eugênia
de Montijo, esposa de Napoleão III. A facilidade financeira vinda com a
Revolução Industrial favoreceu até mesmo quem não tinha tradição ou
sangue azul, e com a invenção e o uso da máquina de costura, ainda no
período do Romantismo, houve, de fato, uma enorme aproximação visual
entre as roupas das diversas classes sociais. Dessa maneira, entrou para a
moda o prestígio do artista, o criador de moda, que exteriorizava seu gosto e
suas vontades no processo de elaboração das roupas, dando o aval de seu
prestígio ao assinar a sua criação. Era a alta-costura para a moda feminina.
O que é curioso notar é que praticamente em paralelo à alta-costura
surgiu, para o homem, a roupa de trabalho, uma vez que a figura masculina
se tornou um verdadeiro reflexo de uma sociedade produtiva. O homem
passou a ficar cada vez mais sóbrio e sério em relação às suas roupas, e a
mulher cada vez mais enfeitada, mostrando o poder financeiro da figura
masculina da qual ela era dependente. O contraste visual era dos mais
evidentes, seja em volume, cor, tecido e, principalmente, em ornamentos, já
que a mulher abusava dessas possibilidades e o homem procurava omitir os
enfeites, à exceção da gravata, da cartola, da barba e, normalmente, da
corrente do relógio de bolso, que lhe ficava aparente sobre o colete.
Com o passar do tempo, ainda mesmo na Era Vitoriana, e também com
as criações de Worth, o volume das saias ganhou novas proporções,
deixando de ser totalmente circular, ficando reto na frente e volumoso e de
aspecto circular só na parte de trás.
Contudo, entre 1870 e 1890, a moda feminina adquiriu um outro
aspecto, que não deixou de ser uma continuidade daqueles padrões vigentes,
mas com identidades muito particulares. Esse último momento da moda
vitoriana foi verdadeiramente de grande mistura, utilizando-se de diversos
referenciais possíveis para adquirir sua própria identidade.

A armação “gaiola” e a saia em tecido armado marcaram a moda da crinolina em meados do


século XIX. (Hulton Getty Picture Collection, Londres.)

O volume traseiro das saias, que se ajustaram por volta de 1880 à altura
dos joelhos, era adquirido com o uso de anquinhas que, inicialmente, eram
feitas de babados de tecidos compostos com crina de cavalo e, mais tarde,
tornaram-se as “anquinhas científicas”, feitas de arcos de metal unidos por
uma dobradiça, que, quando a usuária se sentava ou levantava, era fechada
ou aberta dando o volume sobre o traseiro. Esses vestidos eram chamados de
devant droit (frente reta) ou arrière (traseiro).
Os tecidos mais usados nas roupas dessa época eram semelhantes aos de
decoração, ou seja, do tipo para cortinas ou estofados. Nas cinturas, como
roupa de baixo, ajustavam-se cada vez mais os espartilhos e os
complementos continuavam em profusão, especialmente as rendas.
Pequenos chapéus para o dia e sapatos e/ou botas de salto complementavam
a moda feminina. Leques também eram acessórios indispensáveis à toalete
da mulher.
Percebemos, como já foi dito, que o contraste entre as modas feminina e
masculina desse período foi muito grande. Enquanto os homens
caminhavam para uma moda prática e até mesmo previsível, as mulheres
complicaram-se em uma sorte de adornos, deixando bem claro o seu papel
de esposa e mãe ao se emaranharem em laços, babados, rendas, ancas,
caudas, chapéus, sombrinhas e toda uma gama de complementos
ornamentais que lhe dificultavam a vida prática.

La Belle Époque

O quarto e último período distinto da moda do século XIX foi denominado


de moda da Belle Époque, ou seja, a Bela Época, que vai corresponder à
última década do século XIX, a primeira do século XX e o princípio da
década de 1910, até antes do início da Primeira Guerra Mundial.
Nas artes, especialmente as decorativas e aplicadas, e também na
arquitetura, os valores tinham, de fato, mudado. O que prevaleceu nesse
momento foi o gosto curvilíneo, orgânico e ornamental do Art Nouveau.
Essa Arte Nova, que, na Inglaterra, recebeu o nome de Modern Style,
correspondeu a um período de grande singularidade, uma vez que a
predominância das formas foram as de linhas curvas. Os novos materiais
empregados nas construções arquitetônicas, tais como ferro e vidro, criaram
a possibilidade de novas linhas e novas formas até então inexistentes na
prática.
É claro que tudo isso influenciou a moda. O corpo feminino tornou-se
também um verdadeiro repositório de linhas curvas, no qual a cintura nunca
tinha sido tão afunilada como nesse momento. O ideal de beleza da mulher
consta que era o de ter aproximadamente 40 centímetros de circunferência
na cintura; para atingir tais proporções, algumas delas se submetiam às
cirurgias para serrarem suas respectivas costelas flutuantes e poderem se
apertar demasiadamente em seus espartilhos. É lógico que tudo isso era
muito prejudicial para a saúde, tendo em vista que comprimia todo o tronco,
das ancas aos pulmões. Mas, mesmo assim, a prática do afunilamento
criando a chamada silhueta ampulheta — volume nos ombros, cintura
afunilada e volume no quadril — continuou em evidência. Na realidade, foi
uma continuidade dos momentos precedentes, porém com acentuações bem
mais definidas.
Na própria Belle Époque, há diferenças entre aquele momento do século
XIX e o do século XX. O primeiro com vínculos bem fortes da herança
vitoriana, e o segundo já mais com ideais de reforma e inovação.
Nesse período, em geral, nunca o corpo feminino esteve tão envolto em
tecidos, cobrindo-lhe praticamente todas as partes, ficando aparentes a face
e as mãos (estas se não estivessem de luvas).
Mesmo sendo roupa de baixo, o espartilho, mais do que nunca, se fez
notar pela silhueta aparente do corpo; as golas das blusas ou vestidos, por
sua vez, eram altas, escondendo todo o pescoço; as anquinhas
desapareceram, mas as saias continuaram com volumes de tecidos, agora em
formato sino e tão ajustadas que as mulheres mal conseguiam andar se não
fosse a pequenos passos; adornos de chapéus especialmente de flores
compunham a cabeça com enormes coques fofos; o uso de botas era
fundamental, pois mostrar as canelas, mesmo sob as meias, era muito
indecoroso. Essa foi a moda da mulher que mal sabia estar prestes a se
romper, com fortes mudanças, devido à insurreição da Primeira Guerra
Mundial em 1914.
No final da Era Vitoriana, surgiu, para a moda feminina, uma inovação
que, na Belle Époque (no período compreendido no século XX) foi muito
bem aceita como moda propriamente dita. Naquele momento, começou o
hábito da prática esportiva — especialmente a equitação — que deu um
certo ar de masculinização à roupa feminina quando se apropriou do aspecto
de duas peças das roupas masculinas, já que a mulher sempre havia usado
vestidos.
No momento final vitoriano e inicial da Belle Époque, essas
características estavam totalmente associadas à prática esportiva, quando,
além da equitação, como já dito, havia também tênis, jogo de peteca, arco e
flecha e logo logo andar de bicicleta. Essa última prática trouxe para a moda
feminina uma peça inferior curta, bifurcada e fofa — uma espécie de saia-
calção bufante —, que foi uma grande novidade, uma vez que era preciso se
sentar no celim.
Cintura estrangulada, saia no formato sino, gola alta e cabelo preso com muitos adornos
marcam a elegância feminina no período denominado La Belle Époque. (Baseada no retrato da
Baronesa de M.)

Esse tipo de roupa, contudo, associada ao lazer e ao esporte, que havia


sido bem assimilada, acabou sendo também muito bem aceita para a moda
do dia a dia propriamente dita, no período da Belle Époque do século XX.
Duas peças (o famoso tailleur, composto de casaco e saia do mesmo tecido)
então passaram a fazer parte do guarda-roupa feminino para a cidade.
Uma outra prática muito aceita também em fins do século XIX foi o
hábito de banho de mar. Até então essa prática era quase somente
terapêutica e não de lazer. Entretanto, foi sendo assimilada de uma maneira
tal que se tornou um hábito. A roupa de banho de mar era muito diferente
da que se usa hoje em dia. Em primeiro lugar, era de malha, normalmente
em fios de lã que cobriam o tronco e as pernas até os joelhos e, além do uso
de meias e sapatos, por cima de tudo, frequentemente ainda havia uma capa
para maior proteção.
Esse hábito acabou influenciando também a moda infantil, pois ela
sempre havia sido uma cópia em miniatura da moda adulta. Em fins do
século XIX, começou uma moda própria de criança para a criança, e a
grande característica das roupas infantis, devido ao lazer dos banhos de mar,
foi a roupa marinheiro, que se tornou um clássico desse segmento e, em
todo o século XX, essa proposta vai ser relida e readaptada ao gosto e
padrões de cada década.
A alta-costura, por sua vez, continuava a diferenciar as classes sociais no
que diz respeito à moda. O nome Worth continuou fazendo sucesso; porém,
novos nomes foram aparecendo, se impondo e sendo muito bem aceitos, tais
como o francês Jacques Doucet (1853-1929) e o inglês John Redfern (1853-
1929), entre outros. Todos eles, com suas equipes de elaboração, se
adaptavam aos novos tempos e criavam novas soluções por meio de técnicas
e de estéticas.
Na moda masculina, pouca coisa mudou. Essa já estava muito bem
estruturada e fundamentada com as características de praticidade e
funcionalidade.
CAPÍTULO 6

IDADE CONTEMPORÂNEA: SÉCULO XX

As Décadas de 1910, 1920, 1930 e 1940

Década de 1910

Antes mesmo de iniciar este novo capítulo, acho que vale a pena salientar
que a moda, a partir daqui, vai ser retratada por décadas, uma maneira mais
fácil e didática para o entendimento do tão intenso e empolgante século XX.
Assim sendo, vamos discorrer os principais acontecimentos históricos do
século e todo o seu contexto de influências, obviamente atingindo o que
aqui mais nos interessa que é a moda.
A Europa estava orgulhosa de si em relação a todos os feitos e
progressos até então conseguidos. O período que antecedeu à Primeira
Guerra Mundial, o da Belle Époque, foi de muita sofisticação, luxo e de
extrema alegria de viver.
Durante a década de 1910, exatamente de 1914 a 1918, chegou ao solo
europeu o conflito que mudou inúmeros aspectos da humanidade: a Grande
Guerra, posteriormente chamada de Primeira Guerra Mundial. Os tempos
então passaram a ser outros. A ausência da figura masculina no campo de
trabalho, uma vez estando no campo de batalha, fez com que a mulher
ocupasse outra posição, atuando em diversos setores, fossem de quaisquer
classes sociais. As mulheres ocuparam espaços masculinos da área de saúde
aos transportes e da agricultura à indústria, inclusive a bélica. Foi o começo
da emancipação feminina, uma necessidade durante a guerra e, depois dela,
um hábito.
No belicoso período de 1914 a 1918, a moda sofreu algumas mudanças,
que, na realidade, foram verdadeiros ajustes aos tempos. Nas roupas desse
momento, predominaram os tons escuros, o preto por excelência, mas foi
nas formas propriamente ditas que as mudanças mais se fizeram notar.
Não se pode esquecer que, ainda no período da Belle Époque do século
XX, o criador francês Paul Poiret (1879-1944), um grande nome da moda
com ideias muito inovadoras, já havia tirado do corpo feminino o espartilho,
libertando-o dos acentuados apertos de cintura. Esse hábito, ou melhor, essa
moda se tornou de fato assimilada somente durante a Primeira Guerra
Mundial. A necessidade de trabalhar fez com que a mulher não pudesse
mais se apertar em rígidas formas. Daí virou realmente moda o não uso do
espartilho, uma vez que lhe tolhia os movimentos.
Tailleur em jérsei, Chanel, 1916. Em Les élégances parisiennes, acervo dos documentos da
UFAC, Paris.
Outra grande contribuição à moda feminina desta mesma década deu-se
a partir de 1915, quando saias e vestidos se encurtaram até a altura das
canelas, também por necessidade de ocupar funções específicas no trabalho,
facilitando assim o bom andamento das ações. Como estamos notando,
essas duas características, ou seja, a queda do espartilho e o começo do
encurtamento das saias, foram as marcas registradas da moda nos anos
1910.
Com o encurtamento das saias, os sapatos ficaram à mostra juntamente
com as pernas, que, todavia, eram cobertas normalmente com meias escuras.
Um nome da moda, que inicialmente trabalhava com chapéus, começou
cada vez mais a sobressair no campo do vestuário. Foi Gabrielle Coco
Chanel, que, em 1916, inovou consideravelmente ao fazer tailleurs de jérsei,
ou seja, uma malha de toque macio e sedoso e com aspecto elástico. Daí em
diante, seu nome só veio dar à moda o que poderíamos realmente chamar de
estilo, ou seja, mais do que somente a característica de moda. Com o passar
das décadas, Chanel consolidou-se no setor e tornou-se o nome mais
importante de toda a moda do século XX.
A moda masculina permaneceu praticamente a mesma nesse momento,
tornando-se cada vez mais simples e prática, tendo até mesmo o aspecto de
uniformização, uma vez que todos se vestiam com a mesma característica:
calça comprida, paletó, colete e gravata.
Terminada a guerra, a partir de 1918, os ajustes aos novos tempos
começaram a aparecer. A mulher solteira de fato adquiriu sua emancipação
com a independência financeira. O fato de ganhar dinheiro contribuiu para
essa verdadeira libertação da dependência da figura masculina.
Os interesses da moda passaram a ser outros também. As atividades de
trabalho, o esporte e o divertimento, especialmente a dança, contribuíram
para cada vez mais as roupas irem se adaptando às novas necessidades e isso
se traduziu na continuidade do encurtamento das saias. A vida
independente parecia de fato irreversível. Começou a surgir um certo estilo
andrógino, o que parecia estar bem de acordo com os tempos, uma vez que a
mulher havia se emancipado. O aspecto tubular das saias, que predominou
na década de 1920, surgiu ainda cronologicamente na década de 1910,
quando apareceram as famosas saias tipo barril, introduzidas na moda em
1919. A mulher já estava adquirindo o hábito de cortar os cabelos, fumar
em público e, até mesmo, conduzir automóveis.
Paul Poiret, durante esta década, introduziu na moda uma certa
referência oriental e, mesmo sendo de grande beleza, não durou muito
tempo, em especial pelo surgimento de outros nomes que vinham se
consolidando no setor.
Dessa forma, o que iria ser a maior característica da moda dos anos de
1920 já estava sendo definido em fins da década de 1910.

Década de 1920

Os anos 1920 foram, de fato, revolucionários, anos de inovação, não sendo à


toa chamados de “anos loucos”. As mudanças foram tantas e tão marcantes
que fica difícil desvincular a palavra “novo” dessa década.
A moda desse período confirmou e acentuou aquelas ideias que
surgiram ainda em fins dos anos 1910.
Funcionalismo tornou-se a palavra-chave que dominou o aspecto dessa
moda. Era uma espécie de utilitarismo associado à simplificação.
A mulher, já emancipada, continuou a trabalhar, a ganhar seu dinheiro e
a consumir. A diversão fazia parte da vida das pessoas e um dos valores
muito em voga nesse período foi a dança e, por incrível que pareça,
contribuiu para as mudanças da moda. Os ritmos mais em evidência foram
o charleston, o foxtrot e o jazz. Com isso, as roupas precisaram adaptar-se à
nova onda. As bainhas das saias e dos vestidos continuaram subindo; e, não
parando de encurtar, em 1925, a mulher mostrou a silhueta das pernas com
o comprimento logo abaixo dos joelhos. Em toda a história da
indumentária, a mulher só tinha feito isso na Pré-História, quando ainda
usava tangas, uma vez que em todos os outros momentos históricos esteve
com as suas pernas cobertas. Com essa novidade, ou seja, com as pernas à
mostra, as meias fizeram sucesso e as de seda natural tornaram-se claras
para, de fato, dar a ideia de cor da pele.
Essa silhueta curta e tubular foi praticamente um eco dos novos padrões
artísticos em vigência naquele momento, que era o do Art Déco. Paris, em
1925, exibiu a Exposição de Artes Decorativas e Industriais Modernas onde
oficializou o estilo Déco, privilegiando as formas geométricas. Esses aspectos
não só influenciaram o vestuário como a joalheria, que foi elaborada
também em formas geométricas. Essa, por sua vez, se popularizou ao usar
também materiais menos nobres.
Tailleur em jérsei com cintura baixa e saia plissada, além do chapéu cloche. (Criação de Chanel,
c. 1925.)

A mulher tornou-se, então, de fato, um reflexo desse gosto vigente,


negando toda e qualquer referência curvilínea. A adesão ao aspecto tubular
das roupas, fossem justas ou mais amplas; a cintura deslocada para a altura
do quadril (a chamada “cintura baixa” ou “baixo quadril”); as mangas,
quando compridas, criando dois outros tubos; os achatadores de seios (para
não evidenciar os seus volumes) e as cintas que exprimiam anulando o
volume dos quadris deixaram a mulher dos anos de 1920 absolutamente
andrógina.
Não só o aspecto da androginia foi marcante como também a
característica de um certo desaparecimento de diferenciação social por meio
das roupas, uma vez que esse aspecto sempre fez parte da indumentária. A
aceitação e a prática do novo estilo por parte de todas as mulheres de todas
as classes sociais uniformizou-se tanto que desapareceu essa diferenciação.
Esta ficava sutilmente marcada pelo preço das roupas e pela qualidade dos
tecidos nelas utilizada. Até mesmo a alta-costura da época foi bastante
simplificada. Toda essa simplificação, privilegiando o funcionalismo,
permitiu uma liberdade total de movimentos.
As formas das roupas femininas pouco se modificaram na década, mas,
em contrapartida, as cores e os tecidos mudavam com mais frequência. No
fim do decênio, porém, as saias começaram a ganhar um aspecto de
assimetria e, até mesmo, franjas. Fizeram-se presentes ainda comprimentos
distintos para a frente e para as costas dos vestidos, que atrás eram mais
longos, prenunciando o encompridamento das saias e/ou vestidos dos anos
de 1930.
Nos anos de 1920, outro hábito que se tornou grande moda foi a
maquiagem acentuada sobre a pele. Pó de arroz no rosto e batom vermelho
sobre os lábios em pequenas e evidenciadas bocas, chamadas “boquinhas de
coração”, além da acentuação dos cílios; não esquecendo dos cabelos, que se
tornaram bem curtos, à altura do queixo, um reflexo da emancipação
feminina e, mais curtos ainda com o famoso corte à la garçonne, ou seja, “à
maneira dos meninos”.
A mulher parecia mesmo um menino de tão andrógina, diferenciando-
se especialmente pelo uso da maquiagem. Surgiu também, nesta década, a
moda do chapéu cloche, que em francês quer dizer sino, por se parecer com o
bordão de um sino. Era bem enfiado na cabeça e as pequenas abas
costumavam cair pelas suas laterais. Foi tão usado que passou a ser uma das
marcas registradas dos anos de 1920.
Os sapatos, por sua vez, eram de presilhas laterais, cujas alcinhas
passavam por cima do peito do pé e, normalmente, eram de cor metalizada.
O salto mais em evidência foi o famoso salto carretel.
Como roupa de baixo, a mulher fazia uso da anágua ou da combinação,
dificilmente usava a roupa diretamente sobre o corpo, não esquecendo dos já
mencionados achatadores de seios, que perduraram até a metade da década;
depois usaram os sutiãs, mais próximos dos que conhecemos na atualidade.
As roupas de banho também se modificaram, encurtando-se
consideravelmente, deixando boa parte da coxa à mostra. Feitas em tecidos
mais grossos, normalmente de malha, ganharam também aspectos de
assimetrias e ornamentação geometrizada.
Como referência de criadores dessa época, vamos ter Chanel (1883-
1971), que já era renomada; e nomes como Madame Paquin (1869-1936),
Jean Patou (1880-1936), Madeleine Vionnet (1876-1975), Jeanne Lanvin
(1867-1946) e Lucien Lelong (1889-1958) também se impuseram com suas
propostas.
Nos anos de 1920, o cinema começou a ganhar importância, sendo um
grande divulgador de comportamento e, com isso, os Estados Unidos,
grande produtor de filmes, passaram a influenciar também a moda. É lógico
que os aspectos de praticidade, conforto, preço e de produção se fizeram
presentes nas roupas e, nessa onda vinda dos Estados Unidos, os pullovers e
os sweters tornaram-se grande moda, especialmente para os homens.
A moda masculina, apesar de manter o mesmo aspecto, ganhou algumas
novidades como o smocking para ocasiões mais formais; o tecido príncipe-de-
Gales; sapatos bicolores, e também as famosas calças esportivas de golfe
chamadas knickerbockers, que eram fofas e curtas, logo abaixo dos joelhos,
presas por uma espécie de cós e usadas com meias xadrezadas. O colete caiu
de moda e surgiu o paletó com abotoamento duplo chamado jaquetão. O
chapéu do momento era o coco, eternizado no cinema por Charles Chaplin.
O aspecto da praticidade e funcionalidade atingiu também a moda
infantil com roupas mais soltas, leves e curtas, o que permitia à criança ser
criança de fato, e poder se movimentar e brincar.

Década de 1930

Os anos de 1930 chegaram com uma enorme crise financeira mundial. A


queda da Bolsa de Valores de Nova York, em 1929, deixou o mundo com
problemas financeiros seríssimos. Paradoxalmente à crise econômica, a
moda refletiu um momento de grande sofisticação, luxo e esplendor.
O cinema, cada vez mais bem-posicionado, refletia no comportamento
de moda. As grandes atrizes de Hollywood ditavam a moda feminina.
Nomes como Greta Garbo, Marlene Dietrich, Jean Harlow, Mae West e
outras acabaram influenciando o modo de vestir-se desta década. O
figurinista Gilbert Adrian de Hollywood materializava suas ideias para as
grandes estrelas do cinema e o restante do mundo ocidental as copiava.
Como é da natureza da moda contestar o que está em vigência e
privilegiar algo novo, o momento dos anos de 1930 negou toda aquela
androginia e praticidade do decênio anterior para focar seus padrões na
feminilidade. Os vestidos encompridaram-se novamente. Para o dia,
prevaleceu o comprimento a 25 centímetros de altura do chão, o então
chamado mi-molet, que em francês quer dizer “no meio da panturrilha”;
para a noite, os longos (pouco usados nos anos de 1920), voltaram a fazer
parte do guarda-roupa feminino. Mesmo com a recessão, o aspecto das
roupas era de elegância sofisticada.
O retorno da cintura marcada na própria cintura e o comprimento mi-molet (no meio da
panturrilha) marcam a moda dos anos de 1930.

A cintura voltou para o seu lugar, marcada sem exagero, sendo somente
acentuada. O uso de tecidos sintéticos foi significativo, apesar dos de fibra
natural não terem sido esquecidos. Os grandes tecidos de moda que
serviram como identidade dos anos de 1930 foram o cetim e a seda. Toques
sedosos, brilhos e silhueta marcada foram a ordem da década.
Os vestidos nos comprimentos mencionados podiam ser justos e retos;
mas a grande moda realmente foi a do corte godê e do evasê. Isso sem
dúvida alguma dava à roupa um romantismo que havia sido perdido na
década anterior; porém, o que de fato foi determinante nas roupas femininas
foi o corte em viés, introduzido na moda por Madeleine Vionnet (1876-
1975). Com todas essas referências, como um belo cetim, em uma
modelagem rigorosa e cortado enviesado, muito eram evidenciadas as
formas femininas com bastante sensualidade.
A verdadeira sensualidade, entretanto, vinha realçada na parte de trás
dos vestidos, uma vez que o grito da moda era exibir as costas. Se nos anos
de 1920 a parte do corpo em evidência foram as pernas, agora, nos anos de
1930, eram as costas de fora, especialmente para os vestidos de noite, o que
não anulava seu uso também nas roupas do dia. Essa valorização das costas
foi realmente uma grande identidade da moda dos anos de 1930.
Os trajes esportivos também estiveram muito em voga devido às práticas
esportivas como o tênis, a patinação e o ciclismo, que influenciavam os
modos e as modas deste período.
O banho de mar estava em evidência e, mais do que isso, também o
banho de sol. Bronzear a pele, que havia começado a estar em moda lá pelo
final dos anos 1920, agora estava de fato fazendo parte do dia a dia e,
portanto, as roupas de banho foram diminuídas. Esse hábito saudável de
tomar sol fez com que os decotes nas costas das roupas de banho também se
tornassem um tanto quanto proeminentes. Talvez a moda propriamente
dita, assim como a moda da roupa de banho, estivesse uma influenciando a
outra e as duas ficaram afinadíssimas. Os shorts começaram a aparecer na
moda feminina devido tanto à prática esportiva quanto ao hábito do banho
de mar.
A calça comprida tipo pantalona, que Chanel já havia proposto nos anos
de 1920, estava agora também sendo usada especialmente como saída de
praia.
Os cabelos da moda desse momento eram os curtos, não mais tão curtos
como os à la garçonne, mas um pouquinho maiores e, o grande detalhe, era
fazer ondulações. Os chapéus fizeram-se presentes sugerindo longas abas,
mas os pequenos — sobre o alto da cabeça, ligeiramente caindo sobre a testa
e ornamentados com flores — eram também muito usados.
Para os dias frios, os mantôs obviamente eram indispensáveis e as peles
também foram grande moda. As bolsas pequenas também estavam
presentes na toalete; os sapatos escarpins de aspectos mais pesados e as
sandálias complementavam os pés das mulheres. Para usar as pantalonas tão
em alta, as mulheres preferiam as sandálias com saltos mais grossos. Os
acessórios foram muito usados como complemento de moda nesta década.
Na alta-costura ou mesmo na moda mais sofisticada, os nomes
femininos sobrepuseram-se aos masculinos. Chanel continuava sua
marcante carreira; Madeleine Vionnet, que usava a técnica do moulage,
inspirava-se nas esculturas da Antiguidade clássica grega. Madame Grès
(1910-1993) usava e ousava nos efeitos drapeados; Jeanne Lanvin (1867-
1946) também se fez presente e Nina Ricci (1883-1970) abriu seu ateliê em
1932, impondo-se com um estilo clássico, sofisticado e elegante. A grande
inovação, porém, ficou a cargo de Elsa Schiaparelli (1890-1973), italiana
radicada em Paris, que, com sua genialidade inusitada, introduziu na moda
os conceitos surrealistas da arte, inspirando-se em Salvador Dalí e Jean
Cocteau. Suas criações foram marcadas pela irreverência e pela
excentricidade, desde os complementos como o chapéu-sapato, colar de
insetos etc. às roupas com bolsos imitando gavetas.
Mesmo com o domínio das mulheres na criação de moda, um nome
masculino começou a aparecer ao se mudar para Paris em meados da década
de 1930. Foi o espanhol Cristóbal Balenciaga (1895-1972) que, nesse
momento, estava em início de carreira e demonstrando grande talento. Ele
acabou se firmando nos anos de 1950 como um dos mais importantes
nomes da moda do século XX.
Para a moda masculina, praticamente não houve grandes modificações.
Variações de largura das calças, dos paletós, dos colarinhos etc., sem com
isso perder a essência predominante do formalismo. Um aspecto marcante
desse momento como complemento da moda masculina foi o chapéu
canotier (canoeiro, em francês), para nós, o tão conhecido chapéu palheta.

Década de 1940

O fim dos anos de 1930 foi marcado pelo início da Segunda Guerra


Mundial (1939-1945), conflito que envolveu inúmeras nações do mundo e
que mudou os rumos da História.
A moda da segunda metade dos anos de 1930 começou a ganhar uma
certa masculinização influenciada pelos uniformes dos soldados, como um
prenúncio dos anos de guerra.
De 1939 a 1945, a palavra de ordem foi recessão. Obviamente que a
moda não ficou fora desse contexto. As roupas femininas, de fato,
masculinizaram-se e a grande moda foi o uso de duas peças, para qualquer
momento, fosse do dia ou da noite. Saias bem mais justas e casaco
compunham a toalete feminina em tecidos simples e que, normalmente,
eram racionados. Havia inclusive regras para gastos de tecidos e também
para a limitação de metragem de compra. Teoricamente as pessoas tinham
uma caderneta ou cupom onde ia sendo abatida a quantidade de tecido ou
roupas que cada uma tinha direito de comprar anualmente. Isso tudo
provocou uma certa monotonia na moda, que foi resolvida com detalhes
específicos como debrum colorido, bolsos e golas também de outra cor etc.,
como forma de aproveitamento de sobras de tecido. Na Inglaterra, o
racionamento foi muito severo, durou de 1941 a 1949, isto é, mesmo depois
da guerra já haver terminado.
Paris, por sua vez, estava sob a ocupação nazista e Hitler tentou
transferir a sede da alta-costura e da indústria da costura para Berlim; mas,
devido a várias circunstâncias, acabou não o fazendo. A alta-costura esteve
em baixa, uma vez que as grandes consumidoras eram as próprias francesas
e as norte-americanas. Aquelas sofriam a recessão e estas não viajavam à
Europa devido à guerra. Com o término bélico em 1945, foi criada uma
exposição, em Paris, chamada Le éâtre de la Mode, que correu o mundo
(especialmente os Estados Unidos), divulgando, por intermédio de
pequenos manequins, vestidos dos grandes nomes como Cristóbal
Balenciaga (1895-1972), Pierre Balmain (1914-1982), Christian Dior
(1905-1957), Hubert de Givenchy (1927-2018), Jacques Fath (1912-1954)
e outros, pois Paris estava lá de novo criando o que havia de melhor para a
moda. Esse projeto de marketing funcionou e Paris voltou a receber a
grande clientela feminina de alta-costura, principalmente a norte-
americana.
A moda feminina com certa masculinização devido às penúrias da II Guerra Mundial: duas
peças e ombros marcados. (Criação de Robert Piguet para o verão de 1945.)
Voltando ao período da guerra propriamente dito, deve-se salientar
também que, com a falta de tecido para o vestuário, ele foi substituído pelos
tecidos de decoração.
O uso de turbantes, chapéus, redes e lenços sobre a cabeça foi de
extrema importância, uma vez que, devido novamente à ausência masculina,
que foi para o campo de batalha, a mulher voltou a trabalhar na indústria e,
por motivos de segurança, era preciso prender os cabelos. Lógico que outros
fatores, como a ausência de cabeleireiros (que também estavam na guerra), e
os produtos cosméticos de baixa qualidade, fazia-se necessário esconder os
cabelos.
As bolsas também fizeram parte da toalete feminina e, se possível, a
tiracolo, pois penduravam-nas sobre os ombros para andarem de bicicleta
devido à escassez dos transportes. Obviamente que as bolsas maiores
também serviam para carregar alimentos: questão de sobrevivência.
Os sapatos também adquiriram aspectos pesados e masculinizados, e o
com plataforma foi muito usado. Carmen Miranda (1909-1955), fazendo-se
presente no cinema nacional e, posteriormente, no de Hollywood, ajudou a
difundir a plataforma, uma vez que era uma de suas identidades visuais.
As meias finas de nylon (marca registrada da Du Pont para a poliamida,
fibra lançada pela empresa nos Estados Unidos em 1938) absolutamente
escassearam no período da guerra, uma vez que a produção do nylon foi toda
destinada para o fabrico de paraquedas. Como solução, as mulheres
pintavam suas pernas com pastas cor da pele, ou com extrato de nogueira,
além de desenharem com lápis uma fictícia costura traseira das meias. Tudo
pela moda!
O fim da guerra trouxe de volta ao guarda-roupa feminino as meias finas
de nylon e, como diziam algumas mulheres, as três grandes satisfações do
pós-guerra foram a invenção do inseticida, o uso da penicilina e a volta do
consumo das meias finas de nylon.
Uma outra peça muito usada pelas mulheres durante a guerra foi a saia-
calça. Conforto e praticidade para momentos difíceis, especialmente para o
uso de bicicletas. Ombros marcados foram também uma outra identidade
da moda feminina, sendo outra influência do guarda-roupa masculino,
especialmente vinda dos paletós e das fardas de guerra com suas ombreiras.
A guerra acabou em 1945 e a alegria de viver voltou a reinar. Na moda,
a indústria estava bem-estabelecida, principalmente a norte-americana,
devido ao fato da guerra ter acontecido em solo europeu. Surgiu então, nos
Estados Unidos, o ready to wear, que era uma nova maneira de produzir
roupas em escala industrial, com qualidade, com expressão de moda,
numeração variada de um mesmo modelo, logística de distribuição e
marketing de divulgação. Franceses, sob o comando do industrial Jean-
Claude Weill, foram para os Estados Unidos para saberem como funcionava
isso e se apropriaram da ideia transformando o ready to wear, em 1946, em
prêt-à-porter.
Depois da guerra, exatamente em 1946, o modista francês Louis Réard
reinventou uma roupa de banho de duas peças, devido ao bombardeio
atômico no atol de Bikini no Oceano Pacífico, deu-lhe o nome de bikini.
Escândalo para a época, mas, aos poucos, foi sendo assimilada; todavia, foi
de grande difusão e aceitação só mesmo a partir dos anos de 1960.
A moda masculina estava também estacionada sem praticamente
acrescentar novidade alguma nos anos de 1940, pelo menos durante a
guerra.
Nos anos mesmos de 1940, a moda começou a dar uma guinada no que
diz respeito a uma identidade própria para os jovens. Vai ser difundida,
associada aos grupos musicais e aos guetos, um tipo de moda ligada a
grupos específicos. Era o conceito, no século XX, do que mais tarde a moda
iria chamar de “tribo”, ou seja, jovens com maneiras próprias de se vestirem,
que identificavam suas ideologias por meio das roupas. Assim foram os
zooties nos Estados Unidos e os zazous na França.
A alta-costura, como foi dito, teve seus problemas durante a guerra, mas
foram resolvidos posteriormente, resgatando seus valores e respectivos
talentos.
Entre os criadores dessa época, quem muito se destacou foi o francês
Christian Dior. Já trabalhando na área e de evidente talento, lançou em
1947 uma nova proposta de roupas femininas resgatando toda a
feminilidade perdida durante os anos de guerra. Suas novas criações foram
por ele denominadas de Ligne Corolle (Linha Corola) e Ligne 8 (Linha 8),
inspiradas nas cinturas marcadas e saias volumosas da segunda metade do
século XIX, especialmente da Belle Époque. Ao serem apresentadas em Paris
em fevereiro de 1947, essa linha foi então chamada de New Look (Novo
Visual) por Carmel Snow, jornalista de moda da revista Harper’s Bazaar
norte-americana, que tinha ido a Paris cobrir os lançamentos da alta-costura
daquela estação. Assim denominada, assim aceita, assim difundida. O
“Novo Visual” foi por demais assimilado entre as mulheres que passaram a
consumir metros e mais metros de tecidos para suas saias rodadas em corte
godê guarda-chuva. Bom para a indústria têxtil que precisava se restabelecer
depois da crise da guerra; bom para Dior que se impôs cada vez mais; e bom
para a moda que se tornou novamente sonhadora e feminina. Estava
lançada toda a base que seria a grande referência da moda nos anos de 1950.
CAPÍTULO 7

IDADE CONTEMPORÂNEA: SÉCULO XX

As Décadas de 1950, 1960 e 1970

Década de 1950

Os aspectos de moda que marcaram os anos de 1950 já haviam sido


definidos com o New Look de Dior de 1947. A moda dessa década foi de
extrema sofisticação. Muito luxo e muito glamour marcaram esse período
dos “anos dourados” quando a alta-costura teve seus momentos de grande
esplendor.
Paris continuava ditando as regras da moda feminina por meio de
grandes nomes como Christian Dior (1905-1957); Cristóbal Balenciaga
(1895-1972); Pierre Balmain (1914-1982); Jacques Fath (1912-1954);
Madame Grès (1910-1993); Nina Ricci (1883-1970), Hubert de Givenchy
(1927-2018), entre outros. A capital francesa, ainda em fins dos anos de
1940, voltou a receber a clientela de alta-costura que havia deixado de viajar
à Europa devido à Segunda Guerra Mundial, e agora, nos anos de 1950, já
restabelecera, de fato, seu posto. Mesmo sendo o epicentro, Paris já estava
também dividindo espaço de moda com a Inglaterra e, principalmente, com
os Estados Unidos, que já tinham suas indústrias de moda, tornando-se
cada vez mais independentes e com uma linguagem própria para suas
respectivas realidades.
O New Look de Dior desencadeou todo o padrão estético dos anos de
1950, no qual a cintura marcada com saias rodadas passaram a ser o
verdadeiro gosto daquele momento. Costumava ser tão marcada que
chegavam a usar uma cinta muito apertada para obterem a tal “cintura de
vespa”, assim denominada. Como complemento, os sapatos eram os
“scarpins” de salto alto e bico fino, os chapéus tiveram suas abas aumentadas
e o uso de bijuteria fina, imitando joias, tornou-se um hábito. Forrar o
sapato com o mesmo tecido do vestido ou mesmo orná-lo com os mesmos
bordados e/ou materiais também utilizados na sua elaboração era o que
havia de extremo bom gosto. As luvas eram um complemento indispensável
para a toalete feminina, até mesmo para o dia quando eram curtinhas,
chegando até os punhos.
Cintura marcada, saia rodada e decotes marcam a silhueta da moda feminina dos anos de
1950. (Vestido de coquetel assinado por Christian Dior, c. 1950.)

Dior continuou a reinar na moda francesa e novos padrões foram por ele
lançados seguindo sempre o aspecto de luxo e glamour, resgatando a
feminilidade perdida nos anos da guerra. Inúmeras foram as propostas de
volumes e comprimentos lançados por ele durante os anos de 1950. As saias
ficavam justas ou ampliavam-se; ficavam mais retas e longas ou mantinham-
se abaixo dos joelhos com volumes. As variações eram constantes, pois Paris
tinha que continuar sendo o centro lançador de moda. A “Linha H”, a
“Linha A” — esta muito aceita, já que abria os vestidos ou saias com casaco
do busto ou da cintura para baixo —, a “Linha Y”, evidenciando o colo em
grandes golas de formato em “V”. Lançou também, nesse período, a “Linha
Princesa” e os vestidos chemisier, inspirados na camisa (chemise, em francês),
uma vez que eram abertos na frente de cima a baixo e fechado por botões.
A moda masculina teve uma certa característica de revival ao lembrar as
roupas dos homens do princípio do século XX, utilizando-se de paletós
compridos, calças mais justas e até mesmo o chapéu coco. Mas, o que de
fato os homens usaram foram os costumes sóbrios, com o complemento da
gravata. Uma peça que caiu em desuso nesta década foi o colete.
Em se tratando da moda dos anos de 1950, não se pode deixar de
mencionar o começo da influência americana na Europa, e também da
moda jovem, agora adquirindo características próprias.
Em primeiro lugar, vale a pena ressaltar os protestos norte-americanos
em relação à moda europeia, principalmente a francesa, pois o gasto com
tecidos era considerado exagerado, mas, mesmo assim, em essência, as
norte-americanas acabaram assimilando as ideias do New Look ao apertarem
suas cinturas e usarem as saias rodadas.
O estilo feminino americano da década de 1950 era aquele de uma
mulher ligada à vida familiar, porém, com requinte. Os bebês que nasceram
no pós-guerra eram agora crianças e exigiam de suas mães uma vida mais
caseira. Até mesmo a televisão começou, nessa época, a influenciar a moda,
sendo as atrizes muito copiadas.
Foi também nessa mesma década que os jovens norte-americanos
começaram a buscar uma identidade própria para sua moda, associando-a a
determinados comportamentos. Cardigãs de malha, saias rodadas, sapatos
baixos, meias soquetes e rabo de cavalo faziam a linha college. As calças
compridas cigarretes, justas e curtas à altura das canelas, usadas com
sapatilhas, foram muito populares entre as jovens. Para os rapazes mais
ousados, ou melhor, para os rebeldes, a calça jeans com a barra virada e a
camiseta de malha compunham o visual. Essa rebeldia veio por influência
do cinema por meio de ídolos como James Dean e Marlon Brando; e
também da música, ou melhor, do rock and roll de Elvis Presley. Cabelos
com brilhantina, topetes e costeletas faziam parte do visual dos rapazes
jovens.
As “t-shirts”, ou seja, as camisetas de malha, tornaram-se grande moda
após os citados ídolos do cinema terem-nas usado nas telas como roupa
externa propriamente dita e não mais como roupa de baixo. A ideia de moda
agora era o despojamento.
A indústria do prêt-à-porter tornou-se cada vez mais significativa,
especialmente por influência norte-americana, e o sportswear se
popularizava cada vez mais.

Década de 1960

Os anos de 1960 são marcados por inúmeras mudanças e,


consequentemente, várias adaptações aos novos tempos. De um modo geral,
alguns fatos marcaram esses anos, nos quais a juventude se manifestou e se
impôs. Foi também o período da conquista espacial: no início da década,
astronautas soviéticos voaram para o espaço e, no fim do mesmo decênio,
astronautas norte-americanos pisaram no solo lunar. O mundo espantou-se
e encantou-se. Parecia que o futuro era ali e naquele exato momento. A
Guerra do Vietnã, por sua vez, fazia-se presente; conflitos raciais nos
Estados Unidos também fizeram história; rebeliões estudantis eclodiam em
todo o mundo e, com isso, a década foi estruturando-se. Não se pode negar
que todos esses acontecimentos citados, além de outros, acabaram
influenciando a moda desse período tão significativo e importante para a
História do século XX.
Minissaia, uma das grande identidades da moda jovem feminina dos anos de 1960. (Criação
primavera/verão 1965 de Courrèges, década de 1960.)

A ordem do período era a jovialidade e, na moda, os adolescentes do


início da década eram aqueles bebês que tinham nascido no pós-Segunda
Guerra (o fenômeno do “baby-boom”) e que, no fim desta década de 1960, já
eram jovens-adultos.
A moda ganhou algumas identidades com relação aos países de sua
origem; a francesa sendo um pouco mais sofisticada; ao passo que a norte-
americana e a inglesa, com maiores semelhanças, sendo mais contestadoras.
De Paris veio a influência de grandes estilistas como André Courrèges
(1923-2016), Pierre Cardin (1922-2020), Yves Saint-Laurent (1936-2008)
e Paco Rabanne (nascido em 1934). O prêt-à-porter já estava mais do que
definido e assimilado e a indústria da moda, muito bem-estabelecida. A
busca pela novidade era frenética e mal se lançava uma ideia para que todos
logo aceitassem. As butiques, cada vez em maior número, tanto na Europa
quanto nos Estados Unidos, estavam difundindo e democratizando as
criações dos estilistas, tornando as ideias mais acessíveis financeiramente.
Sem dúvida, foi o grande momento de consolidação do prêt-à-porter na
moda.
O jeans não pode ser esquecido como a grande afirmação da moda
jovem, não só em seus modelos tradicionais como também nos novos, com
inúmeras intervenções modernas à sua época.
Com relação aos nomes de moda citados, podemos considerar André
Courrèges um dos mais importantes com os seus minivestidos e minissaias,
dando à moda o aspecto de dinamismo e modernidade que tanto se exigia
neste período, além das suas calças compridas; Pierre Cardin também
revolucionou com seus cortes e formas impecáveis em seus looks espaciais de
muita inspiração nos aspectos de futuro, em que macacões de malha, calças
mais justas e o uso do zíper passavam essa ideia de futuro; Yves Saint-
Laurent, que havia lançado em 1958 a linha trapézio, agora, nos anos de
1960, abriu sua própria maison com ideias também inovadoras em suas
criações, especialmente o tubinho com desenhos do pintor Mondrian e,
também, lançou para as mulheres o smoking; Paco Rabanne, outro nome de
extrema importância, foi mais inusitado ainda ao trocar o tecido, a linha e a
agulha por placas de metal, arame e alicate, sendo carinhosamente chamado
por Chanel de “o metalúrgico”. Suas inconfundíveis propostas fizeram
escola e influenciaram a moda por todo o mundo. De fato, a ideia de futuro
foi aspecto generalizado.
Da Inglaterra, a influência veio especialmente de Mary Quant (modelo
e mais tarde estilista, nascida em 1934), que difundiu a minissaia e a meia-
calça com o próprio uso e a sua loja “Bazaar” instalada em King’s Road. De
Londres, também veio a moda jovem da butique “Biba” de Barbara
Hulanicki (nascida em 1936), que muito influenciou; e, como não podia
deixar de serem citados, Os Beatles, que também ditaram moda com seus
terninhos, cabelos “tijelinha” e modelos coloridos. Com a consolidação da
moda hippie e sua associação com a filosofia oriental hindu, eles adotaram,
após terem ido à Índia, um visual com características indianas e ajudaram a
difundir esse aspecto na moda jovem.
Da Itália, a grande referência foi Emilio Pucci (1914-1992), que além
de trabalhar as formas mais justas em tubinhos, “body-suits” e meias, deixou
sua identidade maior na estamparia geométrica curvilínea ultracolorida,
sendo admirado e copiado no mundo todo.
O aspecto de psicodelismo mediante matérias novas como o plástico e o
acrílico, além das estampas multicores, fez-se presente tanto nas artes
gráficas como na moda.
No que diz respeito aos tecidos, acompanhando a modernidade dos
tempos, estavam em moda especialmente os de fibras sintéticas, o que
facilitava a intensidade das cores, uma vez que eles evidenciam melhor as
tonalidades do que os tecidos de fibra natural.
Os movimentos da Pop Art e da Op Art muito contribuíram para a
ornamentação das roupas na estamparia. A Pop Art privilegiava rostos
famosos, produtos de consumo popular, histórias em quadrinhos etc., em
interpretações dos trabalhos de Andy Warhol (1930-1987) e Roy
Lichtenstein (1923-1997); e a Op Art evidenciava os efeitos ópticos
geométricos, fossem coloridos ou preto e branco, de Victor Vassarely (1906-
1997) e Bridget Riley (nascida em 1931).
De um modo geral, a moda feminina dos anos de 1960 era de aspecto
ingênuo em que Twiggy, outra grande modelo, difundiu uma aparência de
menina com cabelos curtos e olhos maquiados no aspecto de ‘‘olho de
boneca’’ com rímel ou cílios postiços.
A moda masculina desse período se transformou de fato. O homem
deixou de usar o costume e gravata para aderir às modernidades vigentes em
jaquetas com zíper, golas altas, tecidos também sintéticos, botas, calças mais
estreitas, além das camisas coloridas ou estampadas. O homem estava
voltando a se enfeitar e a difusão da moda unissex, nesse período, só
contribuiu positivamente para isso.
Dos Estados Unidos, o visual de contestação dos jovens manifestou-se
em uma espécie de popularização na maneira de se vestir, isto é, adotando
até mesmo um aspecto mais simples, especialmente os estudantes. A
rebeldia foi a ordem da época, e a semelhança das roupas impedia classificar
as pessoas em diferentes classes sociais. Esses jovens se rebelavam contra a
vida de seus respectivos pais, contestando-os e agredindo-os com um visual
inusitado. Eram os hippies que se posicionavam por meio de suas roupas
despreocupadas, desleixadas, com detalhes artesanais, patchwork, bordados,
aplicações e bijuterias populares, além das saias longas de crepe indiano para
as mulheres e a calça “boca de sino” ou “pata de elefante” para ambos os
sexos. Cabelos longos e despenteados também foram usados tanto por
homens quanto por mulheres.
Na segunda metade dos anos de 1960, surgiu a moda unissex, ou seja, a
mesma moda tanto para ele quanto para ela. Isso tudo vai passar a ideia de
um modo coletivo, comunitário, um ideal jovem que resultou numa espécie
de uniformização da moda para ambos os sexos.
Os jovens americanos, e de várias partes do mundo, contestaram a
participação dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, negavam a luta e
muito contribuíram para a moda desse período. Em 1968, esses jovens, em
passeata por Washington contra a guerra, colocaram flores nos canos dos
revólveres e espingardas dos policiais norte-americanos. Verdadeiramente
era o “Flower Power” (Poder da Flor), um dos slogans do movimento hippie,
além obviamente do famoso e mundialmente difundido “Peace and Love”
(Paz e Amor). Outro mote também de extrema importância foi o “Make
Love Not War” (Faça Amor, Não Faça Guerra) e, sendo assim, os jovens,
com seus valores, foram se firmando com seus conceitos e suas modas.
Em meados de agosto de 1969, houve um grande show de música pop
numa fazenda próxima a Nova York: foi o Woodstock. Todos, com muita
liberdade, acompanharam as canções de Jimi Hendrix, Janes Joplin e outros
num fim de semana chuvoso e que recebeu muito mais visitantes do que o
esperado. Foi a grande popularização e difusão dos conceitos hippies para os
jovens de todo o mundo. A onda da moda norte-americana estava de fato
desencadeada e impossibilitada de ser freada, delineando toda uma atitude
para modos e modas do início dos anos de 1970.

Década de 1970

Os anos de 1970 começaram trazendo toda a referência da moda hippie que


começara na segunda metade dos anos de 1960. Portanto, todo aquele visual
característico desses jovens como calça boca de sino, multiestampas, cabelos
longos, batas indianas etc. ainda estavam em vigência na moda dos
primeiros anos da década de 1970. Os negros, por sua vez, usavam o
penteado “black-power”, superdifundido pela militante negra norte-
americana Angela Davis, a partir de 1971, contra o racismo nos Estados
Unidos.
A moda, então, havia se diversificado muito. Uma série de opções de
estilos foram se tornando referências de moda, porém, sempre prevalecendo
o aspecto de jovialidade com características de praticidade e conforto
relativos à sua época.
O revivalismo fez-se presente na moda desse momento, buscando
inspiração no passado, contudo, com uma cara nova.
Uma dessas correntes, mais para o fim da década, se fez com as
propostas do New Romantic. Essa tendência do novo romantismo
privilegiava as estampas florais, acabamentos de renda, chapéus de palha e
uma série de acessórios com ares românticos, sobre volumes de muitos
tecidos, especialmente nas saias.
Paradoxalmente a essa tendência romântica, houve também aquela na
qual a mulher queria se firmar como independente e trabalhadora, usando
assim ternos, costumes ou mesmo a saia com casaco, numa nítida
masculinização do visual.
As roupas esportivas estiveram também muito em voga no decorrer da
década, principalmente na segunda metade. O training e o jogging, para
praticar esportes, e o cooper (tipo de corrida) eram o que havia de novidades
como conjuntos de calça comprida e agasalho em meia-malha ou moleton.
O que foi muito usado, contudo, foram as calças compridas jeans que
variaram desde bocas de sino no início do decênio, passando por cortes mais
tradicionais e chegando no final da mesma década ao corte baggy e ao
semibaggy. O casal de estilistas franceses Marithé (nascida em 1942) e
François Girbaud (nascido em 1945) foram excelentes especialistas nos
jeans desse período, tanto nas formas quanto no aspecto dos acabamentos.
Um acontecimento grave nos anos de 1970 chegou a influenciar
também a moda. Foi a crise do petróleo que estava atingindo o mundo
inteiro. Devido a esse fato, surgiu uma preocupação muito grande na
Europa, uma vez que a maioria de seus tecidos eram sintéticos, dependendo
do petróleo como matéria-prima. Então, criou-se na França um comitê de
estilo para direcionar as propostas de moda, no qual todos trabalhariam com
referências semelhantes em suas coleções têxteis, estabelecidas pelos seus
membros, para que houvesse um caminho mais certo e seguro a ser seguido.
Foi assim criada, em 1973, uma feira de moda têxtil a ser exibida em Paris
com o nome de Première Vision (Primeira Visão), na qual os industriais
têxteis exporiam seus lançamentos. Ainda hoje, a Première Vision é a
principal feira de lançamentos de moda do mundo, acontecendo duas vezes
ao ano, nos meses de fevereiro/março e setembro/outubro para os
lançamentos das propostas de primavera-verão e outono-inverno,
respectivamente.
Praticamente ao mesmo tempo, foi amplamente difundido, inicialmente
na França, e depois para o restante do mundo, os bureaux de style, que
haviam surgido na década anterior. Seriam uma espécie de escritórios de
moda, pelos quais, por meio de estudos preliminares de tendências
mercadológias, proporiam sugestões para a moda seja feminina, masculina
e/ou infantil. O principal bureau de style, e que ainda existe, foi o Promostyl,
criado em 1966.
Com relação aos tecidos usados neste período, teve-se uma gama de
opções desde os sintéticos, vindos lá dos anos de 1960, como também a
onda dos rústicos, associados às blusas de lã com pontos grossos de tricô,
num estilo de vida mais ligado à natureza.
A onda do unissex ainda vigorava e esse aspecto deu à moda masculina
uma tendência mais significativa às roupas menos formais, até mesmo para
aquelas de trabalho, surgindo especialmente diversas opções para o setor de
camisaria. As camisas mais justas e de golas pontudas fizeram-se notar no
início da década.
Em meados do decênio, surgiu uma proposta muito excêntrica para a
moda jovem associada aos grupos musicais em alta, em que a palavra de
ordem era o glamour. Daí surgiu o movimento glam também chamado
“glitter”. Influenciados pelo visual de líderes musicais do movimento “glam
rock”, como Bryan Ferry and Roxy Music, David Bowie, Rod Stewart,
Marc Bolan e Elton John, jovens aderiram ao visual de muito brilho e mais
ainda de excentricidade exagerada. Uma das maiores identidades dessa
moda foi a bota de cano alto e salto plataforma, tremendamente
popularizada.
O jeans e a boca de sino: códigos da moda jovem nos anos de 1970. (Hulton Getty Picture
Collection, Londres.)
O movimento negro, muito em alta nos anos de 1970, especialmente
nos Estados Unidos, fez-se presente em ideologia como, por exemplo, a
onda “Black is Beautiful” (Negro é Lindo), privilegiando as raízes afro, a
cultura caribenha e também o ritmo “soul”.
Em meados desses mesmos anos de 1970, porém, surgiu em Londres,
por volta de 1974-1975, um movimento de jovens estudantes
desempregados com o lema “No Future” (Nenhum Futuro) com o qual
queriam agredir e denunciar a sociedade da época por meio do seu visual
totalmente inusitado e transgressor: foram os “punks”. O look adotado por
eles foi o das roupas rasgadas, jaquetas de couro preto, botas surradas e
muito detalhe de material metálico como rebites, tachas e correntes, além
dos excessivos brincos e alfinetes que lhes rasgavam a carne. Costumavam
reunir-se no fim da King’s Road onde Vivienne Westwood e o seu então
marido, Malcon McLaren (líder do grupo “Sex Pistols”), tinham uma
butique chamada “Sex”, na qual vendiam roupas de couro, borracha etc.,
numa nítida tendência sadomasoquista. Juntaram ali as vontades de ambos
os lados, uns satisfazendo os outros e, com isso, Vivienne Westwood
(nascida em 1941), uma estilista já renomada, acabou intelectualizando o
movimento e criando roupas para esses jovens contestadores, que cresceram
em número de adeptos ao estilo. Estava aí lançada uma corrente de moda
que atingiria o mundo todo pela moda do preto, do aspecto rasgado e sujo,
correntes como acessórios e muito cabelo espetado, especialmente no corte
moicano, ou seja, uma crista em pontas no alto da cabeça, da testa à nuca; e,
se fosse descolorido, melhor seria. Vivienne Westwood é considerada na
moda como a “mãe dos punks” e ainda hoje é uma das estilistas inglesas de
maior prestígio mundial.
Dos Estados Unidos, no fim da década, veio a influência dos seis
integrantes do grupo musical “Village People”, de São Francisco, que
representavam tipos americanos: um índio, um policial, um minerador etc.,
e que eram declaradamente homossexuais. Vivenciavam um visual de muita
descontração e acabaram influenciando a moda masculina com esses
aspectos, especialmente o uso de fartos bigodes, uma vez que eles (à exceção
do índio) os usavam.
Do outro lado da moda norte-americana, teve-se a influência de dois
grandes estilistas: Calvin Klein e Ralph Lauren. Estes passaram a ser as
novas referências da moda norte-americana com suas propostas práticas,
versáteis e descontraídas.
Como vimos, a moda dos anos de 1970 foi muito variada, havendo
diversas opções de estilo. As saias variavam da longa à curta; os cabelos dos
penteados aos intencionalmente despenteados; os jeans manifestaram-se
pelas grandes variações de formas e a ordem geral foi a jovialidade na moda.
Isso tudo proporcionou à moda uma grande democratização; e, como já
dito diversas vezes, a moda, por sua própria realidade, precisa sempre fazer-
se diferente e elitizada. Surgiu assim, no fim da década, uma nova proposta
que criava uma diferenciação social por meio das roupas. Foi o conceito de
“griffe”, que em francês significa “garra” e que é exatamente essa a ideia, ou
seja, a marca, deixar a garra de um criador ou de uma marca na peça de
quem a usa. Os grandes estilistas internacionais e até mesmo os nacionais
aderiram a essa ideia de uma moda mais acessível, porém, assinada e com
estilo, quando se envergava grandes etiquetas externamente nas roupas,
exibindo os nomes como Pierre Cardin e Fiorucci; e, no Brasil, uma marca
que muito se destacou foi a “Dijon” de Humberto Saad, no Rio de Janeiro,
tendo Luíza Brunet como grande modelo e divulgadora, ainda em início de
carreira.
Mais para o finzinho da mesma década, quase na virada para os anos de
1980, a continuidade da moda glam deu um novo gás à moda associada à
febre das discotecas, com a qual a ideia do brilho nas roupas prevalecia
juntamente com roupas práticas para dançar e a enorme profusão do uso de
cores vivas. Nada mais peculiar para retratar esse momento do que o filme
“Os Embalos de Sábado à Noite”, estrelado por John Travolta, que virou
febre mundial.
CAPÍTULO 8

IDADE CONTEMPORÂNEA: SÉCULO XX E INÍCIO


DO SÉCULO XXI

As Décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010

Década de 1980

Os anos de 1980 trouxeram-nos uma verdadeira profusão de influências e


contrastes, em que os opostos começaram a conviver em harmonia e ambos
sendo aspectos de moda. Essa característica antagônica foi, como ainda o é
hoje, também no século XXI, uma das referências da moda contemporânea.
Se nos anos de 1990 os opostos como caro × barato; oriental × ocidental;
natural × sintético; masculino × feminino; falso × verdadeiro tornaram-se
identidade de moda, nos anos de 1980, os paradoxos fizeram-se presentes
em justos × amplos; cores sóbrias × cores vivas; simples × exagerado dando à
moda uma pluralidade de opções.
Essa multiplicidade nos passou a ideia de que não havia mais uma única
verdade de moda e, sim, várias realidades; diversos viéses, inúmeros
caminhos a serem trilhados, criando um leque de possibilidades.
O conceito de “tribos de moda”, apropriando-se o termo e a ideia das
áreas da antropologia e da sociologia, foi uma característica marcante desse
período, uma vez que inúmeros grupos, com identidades próprias, criaram
aquela tal multiplicidade de opções. O que vale ser evidenciado neste estudo
é que cada tribo se mantinha fiel ao seu próprio estilo, sem que houvesse um
elo entre uma e outra; dessa forma, o termo “fidelidade ao seu estilo”
tornou-se condição indispensável de pertencimento a um grupo específico.
Com esses referenciais, os punks, desde meados dos anos 1970, em
Londres, continuaram com sua ideologia e visuais próprios ainda no começo
dos anos de 1980. Surgiram na sequência os góticos, que, no Brasil, eram
denominados de “darks” (escuro, em inglês), trazendo à moda um aspecto
de romantismo associado a aspectos religiosos e à questão existencial. O
medo de uma guerra nuclear e um consequente fim de mundo fez com que
os adeptos dessa tribo se manifestassem visualmente em preto total nas suas
roupas, independente da estação do ano. Aspectos de palidez, cabelos
negros, maquiagem escura e capas longas pretas sobrepostas às peças
também pretas marcaram a moda e identificaram os góticos.
Também nos anos de 1980, criadores japoneses estabeleceram-se em
Paris e influenciaram a moda com suas propostas de intelectualidade pela
limpeza visual. Trouxeram à moda a filosofia zen, que, nesse setor, assim
como em outras áreas, recebeu o nome de minimalismo. O primeiro dos
japoneses que chegou a Paris (ainda no fim dos anos de 1960) foi Kenzo
(1939-2020), que, na realidade, não foi nada minimalista; todavia, os que
vieram na sequência, como Rei Kawakubo (nascida em 1943), Issey Miyake
(nascido em 1938) e Yohji Yamamoto (nascido em 1943), esses sim
trouxeram tal ideologia em suas criações. O slogan desse movimento,
apropriado da área da arquitetura e do design, era “Less is More” (“Menos é
Mais”), de Mies van der Rohe. Diziam em suas linguagens de moda o
máximo com o mínimo possível nos cortes, nas cores e nos acabamentos em
suas roupas. O preto e os então denominados “pretos coloridos” (marrom
quase preto, marinho quase preto, cinza chumbo quase preto etc.) foram as
cores preferidas pelo aspecto de sobriedade e austeridade de suas propostas.
Um visual andrógino também era característica dessa tendência.
O que se pode perceber é que a cor preta nessa década de 1980 foi a
grande identidade da moda, tendo sido introduzida pelos punks e absorvida
em diversas outras manifestações como os góticos, os minimalistas e outros.
Isso sem falar do caráter de que o preto emagrece as pessoas e também pela
praticidade de não aparentar sujeira de fuligem, típica dos grandes centros
urbanos. Daí o preto ter sido a cor símbolo da década.
Paradoxalmente a isso tudo, também se teve na moda o outro lado da
moeda, em que o culto ao corpo se fez presente com a onda de frequência às
academias de ginástica. Os que aderiram a esse novo modo de vida
privilegiavam um alto astral relacionado à prática esportiva ou somente à
malhação, deliberadamente trabalhando o corpo e exibindo-o em roupas
justas e normalmente muito coloridas. Foi a moda também da roupa tão
justa e de tecidos tão finos que eram denominados de “segunda pele”.
Nessa mesma década, teve-se também um reflexo na moda vindo do
mercado financeiro norte-americano, que estava muito bem obrigado. Foi a
moda dos “yuppies” (Young Urban Profissional People, ou jovens profissionais
urbanos). Esses jovens profissionais, que estavam muito bem-posicionados
financeiramente falando, tinham uma identidade particular ao se vestirem
de maneira correta e “arrumadinha”, todavia, privilegiando o que era chique
e sofisticado naquele momento. Roupas de linho ou crepe passaram a ser as
preferidas pelos dois sexos, e estar sempre bem-vestido era indispensável,
deixando claro em seus visuais uma excessiva preocupação de gastos em
roupas e acessórios para refletir a boa condição econômica dos adeptos. O
grande nome da moda que foi o ícone dos yuppies veio da Itália: Giorgio
Armani (nascido em 1934), que se tornou sinônimo de elegância e
refinamento, principalmente na moda masculina.
O que vale a pena ressaltar é que não havia mais tanta diferença entre as
linguagens de moda tanto para os homens quanto para as mulheres. Todas
essas tribos eram compostas por ambos os sexos e as características visuais
pertenciam a todos com sutis peculiaridades do que era do masculino e do
que pertencia ao feminino.
Isso tudo também foi reflexo de um posicionamento feminino no
mercado laboral, onde os direitos e as posições adquiridas faziam parte de
todo um contexto social de trabalho. Daí, numa espécie de reflexo e
imposição, uma das características da moda feminina ter sido o grande uso
de ombreiras e, obviamente, o uso do tailleur. Verdadeira apropriação da
identidade masculina. Eles, por sua vez, para não ficarem para trás, também
adotaram os ombros acentuados, posicionando-se frente às mulheres e, cada
vez mais, aquilo que fora a moda unissex caminhava para o aspecto de
androginia, uma das identidades dos anos de 1980.
A masculinização da moda feminina dentro da estética yuppie dos anos de 1980. (Donna
Karan, 1985.)
Em oposição à moda minimalista dos japoneses em Paris, os franceses
adotaram a proposta da exuberância. No prêt-à-porter, ficou a cargo de Jean-
Paul Gaultier, nascido em 1952, com suas inusitadas criações evidenciando a
androginia, os aspectos étnicos e sempre ligando a moda ao comportamento
jovem propriamente dito. Do outro lado, na alta-costura, a referência foi
Christian Lacroix, nascido em 1951, com seus excessos em cores, estampas
e volumes. Se os minimalistas priorizavam o “Less is More”; Lacroix, por
sua vez, privilegiava o “More is More”, ou seja, “Mais é Mais”. E era
mesmo! Flores, listras, xadrezes e poás; rosa choque, laranja, amarelo e
vermelho; babados e mais babados — e pasmem, tudo junto! — tornaram-
se a identidade de moda desse francês vindo de Arles, no sul da França, com
suas saias longas ou mesmo minissaias com anáguas para aumentar
consideravelmente o seu volume.
Os anos de 1980, como toda época, tiveram também seus avanços
tecnológicos e modernidades. Nesse período, o verdadeiramente novo veio
de fato da área têxtil, especialmente com a invenção da microfibra, que, de
tão fina e resistente que era, dava ao fio certas propriedades que, ao serem
elaborados os tecidos, eles tornavam-se “leves como uma pluma e resistentes
como o ferro”. E, além disso tudo, traduziam em si a característica de não
amarrotarem e, ao serem lavados, secarem num tempo muito reduzido
comparado com os outros tecidos. Foi uma praticidade necessária às
exigências da correria e falta de tempo tão comuns à época (e ainda hoje).
Também nesse decênio, além da tecnologia têxtil, não se pode esquecer
do início da informatização para o setor da moda. Computadores com
programas específicos de modelagem, estamparia e outros recursos passaram
a fazer parte do dia a dia das confecções, acelerando a produção e
dinamizando possibilidades no trabalho de moda.
Com essas inúmeras variações de moda, ainda se teve uma outra
maneira de criar, que foi aquela de inspiração no passado. Numa espécie de
revivalismo, de saudosismo ou mesmo por falta de opções de novidade,
buscou-se no passado uma tentativa de identificação. Inúmeras foram as
propostas de busca no pretérito de alguma coisa para criar um visual
contemporâneo. É lógico que não era cópia ou reprodução de época, mas,
sim, uma inspiração. Esse foi o caráter de releitura na moda, o que além de
ter sido muito forte nos anos de 1980, continuou também nos anos de 1990.
A moda estava reinventando a roda. Buscava-se inspiração na Idade Média,
no Barroco, nos anos de 1950 e em inúmeros outros estilos e épocas,
servindo como referencial inspirador para a moda desse período. Sendo
assim, essa busca de características de outros momentos históricos de moda
fez com que os brechós se tornassem verdadeiros focos de referência, tanto
de pesquisa para criação em série como para o consumo pessoal, uma vez
que ali não havia a possibilidade de encontrar peças iguais por serem de
segunda mão; o que, paradoxalmente à massificação, privilegiava a
individualidade.
Dos Estados Unidos, vieram novas propostas, especialmente da moda
jovem e de grande consumo. Ídolos musicais foram grandes formadores de
opinião na identificação de moda jovem. Prince, Madonna e Michael
Jackson deixaram suas contribuições na moda, não só norte-americana,
como também na de todo o mundo.
Percebe-se que, nesses conturbados anos de 1980, uma palavra que
também regeu a moda foi “individualismo” em alguns sentidos: de forma
mais ampla como símbolo de pertencimento a um grupo específico; ou
também como um modo muito pessoal de vestir-se, criando normalmente
uma maneira própria dentro de um estilo. A liberdade de expressão pela
individualização nas roupas foi de suma importância nesse período,
paradoxalmente às “tendências” e à fidelidade visual como símbolo de
pertencimento a uma tribo específica de moda.
Concluindo, os anos de 1980 na moda (assim também os de 1990)
foram a maneira de ser igual entre os diferentes e, ao mesmo tempo,
diferente entre os iguais de uma outra tribo.
Década de 1990

Acredito que a queda do Muro de Berlim, em 1989, possa ser, como marco,
o ponto de partida desta reflexão, e que também pode ser analisada em
questões da moda. Se o fato simbolizou o fim de uma época e de uma
ideologia, obviamente que marcou o início de outras. Na moda, pode-se
dizer que representou o fim de determinadas barreiras e preconceitos no
vestir e o aparecimento de uma grande liberdade de se expressar
visualmente: é esse o conceito que vai definir a moda na década de 1990.
Trazendo uma herança do decênio anterior, no início dos anos de 1990,
continuaram as releituras históricas da moda, tão arraigadas no processo
criativo. Devido à sua importância, foi montada, em 1990, no Metropolitan
Museum of New York, uma grande exposição com a curadoria de Richard
Martin e Harold Koda, intitulada “e Historical Mode”.
O conceito de “tribos urbanas”, forte nos anos de 1980, teve sua
sequência no início dos anos de 1990. A moda grunge, de influência vinda
de Seattle (EUA), marcou o modo de vestir dos jovens, que aderiram ao
estilo descontraído de peças sobrepostas, roupas oversized e a cultuada
camisa de flanela xadrez amarrada à cintura.
Também entraram em evidência clubbers, drag queens, cybers, ravers entre
outros grupos; e a ordem foi a moda jovem, ousada e irreverente. Todavia,
essa dinâmica de fidelidade ao estilo das tribos de moda ganhou agora uma
nova dimensão de influência de umas às outras a ponto das mesmas se
misturarem e não haver mais a característica de ser fiel a uma única
identidade visual e ideológica. Contudo, foi com o conceito de
“supermercado de estilos” que a moda dos anos de 1990 passou a ter sua
própria identidade quando mesclou informações e influências de diversas
fontes. Ted Polhemus, em seu livro Street Style — from Sidewalk to Catwalk,
editado em 1994 pela ames & Hudson de Londres, elucida muito bem
essa ideia.
Nos anos de 1970, a moda comportou-se como um grande diferenciador
na escala social; já nos anos de 1980, o aspecto de individualismo
consagrou-se com a fidelidade da pessoa à sua tribo, sem receber influências
de outras ideologias contemporâneas à sua. Sendo assim, com a evolução de
conceitos e valores, a moda dos anos de 1990 adquiriu o caráter de mistura,
e foi uma verdadeira esponja que absorveu diversas referências vindas das
mais distintas realidades, e todas juntas formaram uma nova proposta. A
falta de identidade passou a ser a própria identidade. Foi uma espécie de
liquidificador de aspectos visuais; e a liberdade de vestir passou a ser muito
grande. É a metáfora da globalização na moda; é onde quero chegar quando
cito a queda do Muro de Berlim e a reunificação das Alemanhas em 1990 e,
obviamente, a união e aceitação de pessoas, conceitos, valores e culturas.
Por falar em Berlim, talvez essa cidade seja mesmo uma grande capital
de moda e de comportamento para tempos vindouros. Anualmente, na
capital alemã, jovens do mundo inteiro embalados, ou melhor,
embaladíssimos, ao som da techno music, reuniam-se na Love Parade.
Esse evento pode ser considerado um dos maiores encontros mundiais
de jovens da época, agrupados pelo elo da cultura musical. Por sinal, desde o
término da Segunda Guerra Mundial até os dias de hoje, não se pode
desvincular comportamento e moda jovens das influências musicais. O
espaço adquirido pelo streetwear, recebendo e passando informações na e da
rua, solidificou-se na moda dos anos de 1990. E o sportswear também fez
escola.
O “desconstrutivismo” foi a outra ideia desenvolvida nos anos de 1990,
surgida especialmente com a influência dos estilistas belgas na moda, tendo
o nome de Martin Margiela (nascido em 1957) na linha de frente da
formação desse conceito. Foi uma desconstrução para um novo construir;
um tipo de paradoxo que acabou se firmando na moda. Foi uma espécie de
evolução da reciclagem tão em voga na moda no fim dos anos de 1980 e
início dos anos 1990; e do ponto de vista comercial e popular, esse conceito
se transformou em bainha desfiada e overlock aparente.
A preocupação ecológica, vinda de meados dos anos 1980, depois do
acidente nuclear de Chernobyl, também esteve presente na moda dos anos
de 1990, e essa conscientização se refletiu em muitas coleções de estilistas
renomados, que denunciavam as agressões ao planeta Terra nas criações de
suas roupas. Foi a moda fazendo-se presente, atualizada e notada no
contexto mundial.
A moda italiana ganhou novas dimensões, especialmente com o nome
de Gianni Versace (1946-1997), que se tornou um ícone fashion mundial
com seus dourados, suas estampas arrojadas e muita sensualidade; contudo
sua morte prematura deixou-nos com a sensação de órfãos
desglamourizados, abalando não só o setor como a sociedade em geral.
Posteriormente sua irmã Donatella Versace assumia a criação da marca.
Moschino (1950-1994), outro italiano que também não está mais entre
nós, marcou presença na moda dos anos de 1990 com irreverência e bom-
humor.
Já a moda norte-americana, prática e básica, quis roubar a cena com suas
visões comerciais e produção de qualidade em alta escala; inclusive
antecipando seus lançamentos aos dos europeus.
Inúmeros outros fatores se fizeram presentes e contribuíram para a
moda dos anos de 1990; todavia a característica de rejuvenescimento foi e é
uma constante. Não só o rejuvenescimento pessoal via cosméticos, plástica
ou as práticas esportivas, mas também o rejuvenescimento empresarial. A
ideia partiu dos anos de 1980 com a marca Chanel quando houve a
contratação de um sangue novo chamado Karl Lagerfeld para criar as
respectivas coleções. Perceberam que funcionou; e outros vão atrás
contratando novos talentos para dar uma cara nova às marcas já
consagradas. Aconteceu o mesmo com as casas Dior, Givenchy, Prada,
Gucci, Saint-Laurent, Kenzo, entre outras. Com isso, a moda,
especialmente a alta-costura, ganhou uma nova posição de prestígio.

Moda baseada nos conceitos do desconstrutivismo. (Coleção do Rei Kawakubo para a marca
Comme des Garçons, 1998.)
“Paradoxo” foi outra palavra que entrou como verbete no vocabulário da
moda dos anos de 1990, ou seja, uma época de antagonismos convivendo no
mesmo visual: oriental × ocidental; masculino × feminino; sintético ×
natural; exótico × belo; caro × barato; produtos sofisticados × produtos de
camelô etc.
Surgiram os novos profissionais de moda que são verdadeiros criadores
de conceitos, ideias e principalmente imagens. Aí estava um chavão para
decifrar a moda de fins dos anos de 1990 e da atualidade: a imagem, na
maioria das vezes, era, e ainda é, mais importante que o próprio produto.
Costumava-se vender um conceito, seja da marca ou de uma coleção,
mediante imagens, às vezes sem aparecer a roupa, e o consumidor se
convencia que não podia viver sem tais referências — ótima fórmula. Além
do estilista propriamente dito, surgiu o “stylist” para pesquisar e orientar
todo o desenvolvimento de ideias e consequentemente de produtos. O
fotógrafo de moda também ganhou status criando com as lentes o seu
imaginário, seja aparentemente real, ou especialmente surreal. Bruce Weber
e Oliviero Toscani foram grandes nomes do início da década de 1990 e mais
adiante sobressaíram Mario Testino e David Lachapelle, entre outros,
obviamente.
Essa posição de prestígio e de status social, que a moda desejou adquirir
a qualquer custo, vai ser tão significativa que ela quis se transformar em arte
no que diz respeito ao aspecto de transgressão (que é uma das características
marcantes das artes em geral). A intenção era chocar, causar sensação, nem
que fosse de repulsa. Foi o papel da arte e da moda nesse momento. Esse
arrivismo artístico da moda foi tão bem aceito que surgiu, em 1996, na
Itália, especificamente em Florença e também nas cidades vizinhas de Prato
e Livorno, a primeira Bienal da Moda.
Essa primeira edição trouxe como tema Il Tempo e la Moda. A segunda,
em 1998, apresentou o tema La Moda si veste di Cinema. Vários foram os
locais da mostra nessas três cidades e muitos foram os estilistas-artistas, de
diversos países, que interpretaram o tema em instalações verdadeiramente
geniais. Foi a moda que realmente adquiriu o status de arte numa sociedade
de consumo, e mesmo tendo a característica da efemeridade, ela conseguiu
se impor. Além das edições da Bienal, a moda também ganhou maiores
espaços em museus com importantes exposições.
Uma outra realidade a ser documentada, também vinda dos anos de
1980, foi o avanço tecnológico têxtil. A microfibra da década anterior
evoluiu (e muito). Foram desenvolvidos tecidos com alta ‘‘performance
tecnológica’’, podendo responder a diversos anseios do nosso dia a dia.
Foram os chamados “tecidos inteligentes”. Utilização de finíssimos fios
metálicos; tecidos que mudam de cor de acordo com o estado de espírito do
usuário; tecidos bactericidas etc. tornaram-se reais: o futuro tinha chegado.
Isso realmente pôde ser considerado novo e não apenas uma novidade na
moda.
O status era grande e quem fazia e divulgava a moda galgava também o
patamar de prestígio, respeito e sofisticação. Foi o que aconteceu com as
manequins que divulgavam o trabalho dos criadores. A ideia da
supermodelo começou ainda nos anos de 1980 com Inés de La Fressange
para a Casa Chanel; e, nos anos de 1990, algumas outras, como Claudia
Schiffer, Cindy Crawford, Linda Evangelista, Christy Turlington, Naomi
Campbell, Kate Moss, Amber Valetta e, mais adiante, a brasileira Gisele
Bündchen adquiriram a posição de supermodelos: são as famosas “top-
models” internacionais. Anoréxicas ou torneadas fizeram tanto sucesso que
superaram em fama as estrelas de cinema e da música pop e trouxeram para
a moda e para seus respectivos bolsos cifras incalculáveis.
Aqui no Brasil, a moda ganhou nova e prestigiada posição. A temática
nacionalista, sem ser folclórica e sendo moderna, adquiriu espaço e teve
muita aceitação. O academicismo de moda, que apareceu na segunda
metade dos anos de 1980, começou a formar os novos profissionais para
atender uma crescente demanda de mercado. Estilistas e modelos brasileiras
foram reconhecidos não só aqui como também no exterior. A imprensa, em
geral, deu um excelente espaço para a moda, abrindo campo para o
surgimento de novos veículos e nomes, desmitificando e democratizando a,
até então, quase inatingível moda. A produção literária de moda ganhou
também espaço e respeito e os editores começaram a investir nessa fatia de
mercado. Surgiram as feiras e bazares alternativos, criando chance para
aqueles talentosos e novos estilistas ainda não estabelecidos. A oportunidade
de divulgação de trabalhos de moda também apareceu com a onda de
eventos e lançamentos diversos que se tornaram cada vez mais importantes e
frequentes. Surgiram os grandes desfiles, descobrindo e promovendo
talentos como Phytoervas Fashion, MorumbiFashion Brasil que
rapidamente se consolidaram, sendo realizados duas vezes por ano para
lançamento das respectivas coleções de inverno e verão, e que, em janeiro de
2001, recebeu novo formato com o nome de São Paulo Fashion Week.

Anos 2000 e 2010

O século mudou junto com o milênio, e a moda continuou sendo um


espetáculo. Grandes grupos empresariais compraram os tradicionais nomes
da moda e passaram a sugerir os padrões estéticos do vestir.
Em contraposição a imposições estilísticas de consumo que logo se
transformam em massificação, a moda reinventa-se com o conceito de
customização, ou seja, uma personalização na qual o usuário interfere
subjetivamente na própria roupa, criando novas propostas e diferenciando-
se dos demais.
Além dos aspectos de customização, dos conceitos de vintage, a moda
continuou adotando os mecanismos de releitura, junto com os conceitos dos
atravessamentos, como o cross over (atravessamento temporal), o cross culture
(atravessamento cultural), o cross dress (atravessamento de gênero) e o high-
low [hi-lo] (atravessamento de valores monetários das peças que são usadas
no look).
A reglamourização tornou-se também uma proposta de moda, na qual
levar os aspectos de sofisticação e luxo às últimas consequências passou a ser
uma tentativa de frear as inevitáveis cópias. Brilho, tecidos sofisticados e
artigos de luxo, paradoxalmente, fazem parte da moda em um período de
grandes recessões econômicas mundiais.
Antagonicamente também ao consumo dos produtos de luxo, veem-se
os valores de sustentabilidade associados à moda conscientizando cada vez
mais adeptos. Vale lembrar que o conceito de sustentabilidade em geral — e
em especial na moda — vincula-se não só aos aspectos eco-ambientais, mas
também aos aspectos culturais, sociais e econômicos. É a moda dialogando
verdadeiramente ao ar dos tempos.
Outra característica da moda atual é a valorização dos tecidos de alto
desempenho tecnológico têxtil; é a denominada smart fashion, ou seja, a
moda inteligente. Tecidos com propriedades até então inimagináveis,
resultantes do avanço das pesquisas biomiméticas ou até mesmo biônicas,
invadem o mundo da moda. Os tecidos biomiméticos, muito usados na área
das roupas esportivas, superam-se em propriedades tecnológicas e conforto
a cada estação, uma vez que a moda esportiva e o streetwear estão cada vez
mais presentes no cenário fashion.
Também relacionado às prerrogativas tecnológicas, o comércio de
produtos de moda vem ganhando nova realidade pelo e-commerce, que cresce
a cada ano. Não só a informação de moda fica mais acessível, senão
imediata, pela facilidade de acesso vinculado à tecnologia de comunicação
como também a aquisição de produtos sem que se precise sair de casa.
Novos tempos, novas realidades.
Outra característica de contemporaneidade da moda é a predominância
da moda jovem já sobreposta à moda adulta há longa data, mas agora
trazendo as características da moda agênero, ou seja, uma liberdade total na
maneira de se vestir, desvinculando as roupas dos gêneros e fazendo com
que peças até então tradicionalmente estabelecidas como pertencentes a um
gênero rompam territórios, fronteiras e barreiras passando a ser
simplesmente uma roupa que cada pessoa possa usá-la independentemente
de gênero e vínculos pretéritos.
Outra característica da realidade da moda neste início de século é o
conceito de fast fashion, isto é, uma roupa com expressão de moda, mas que
seja programada para durar pouco tempo seja em qualidade, seja em valores
estéticos, o que favorece um significativo aumento de consumo. Isso somado
a preços extremamente acessíveis, democratizando cada vez mais o consumo
de produtos fashion.
Enquanto vemos o fast fashion, vemos também o slow fashion. Enquanto
aquele privilegia consumo e quantidade, este defende o trabalho artesanal, a
valorização de um produto manual no intuito não só de ir contra a corrente
do grande consumo como especialmente pela valorização da subjetividade,
de processos criativos que independam das tendências de moda (sejam elas
macrotendências ou microtendências), trazendo à tona valores perdidos
impostos pelo grande consumo de um capitalismo selvagem.
E para nos aproximarmos mais ainda do momento atual vemos um novo
comportamento que vem se impondo à criação e ao consumo de moda: o
internacionalmente conhecido see now, buy now (veja agora, compre agora).
Devido às facilidades e rapidez das comunicações de hoje, essa prática vem
se impondo para tentar evitar cópias antes mesmo que as coleções cheguem
às lojas, como era comum há longa data na produção de roupas de moda.
Várias marcas estão agora lançando suas respectivas coleções na própria
estação, oferecendo ao consumidor o produto logo após o desfile. É uma
espécie de pronta-entrega de passarela. Eis mais uma realidade do cenário
da moda atual que o próprio tempo dirá como vai se processar e que tende a
se tornar referência histórica com o distanciamento temporal sugerido pela
historiografia.
A reglamourização da moda baseada nos conceitos de luxo e sofisticação. (Coleção
outono/inverno 2009, alta-costura de John Galliano para Dior.)
No que diz respeito à moda brasileira, está cada vez mais presente no
mercado internacional e tem São Paulo como grande referência econômica e
industrial, sem falar no processo criativo. O São Paulo Fashion Week ganhou
reconhecimento internacional, fazendo parte do calendário de lançamentos
de moda em torno do mundo. O Rio de Janeiro marcou presença na moda
com o Fashion Rio, além de outros eventos, exibindo coleções, como sendo
outro polo criador da moda nacional, privilegiando sua vocação para o design
criativo, descontraído, casual e de valorização do aspecto artesanal, com
destaque para os segmentos beachwear e surfwear. Obviamente que não se
pode nem se deve esquecer outras capitais e/ou cidades que também
contribuem para o processo de formação e formatação de uma moda
brasileira.
Foi a moda que se profissionalizou e se instituiu. É o reconhecimento de
muito trabalho e criatividade. Criadores brasileiros conseguiram, de fato,
projeção internacional, e, o que é mais meritório: mantendo seus pés fixados
em Terra Brasilis. É isso. Moda é expressão de um povo e sua cultura. É
como a própria História, ou seja, um rio que flui e banha as margens por
onde passa, trazendo e levando um húmus da criação estilística para
fertilizar o solo e fazer com que a semente possa sempre germinar.

Novos Tempos

Sabemos que é preciso certo distanciamento temporal de um acontecimento


para que possamos entender o que realmente marcou determinado
momento e os fatos que contribuíram para legitimar o processo
historiográfico. Todavia, alguns acontecimentos são tão marcantes e
representativos que entram imediatamente para a História, gerando um
zeitgeist. É o que vivenciamos agora com a pandemia da covid-19.
A moda sempre tem seu percurso associado ao ar dos tempos, uma vez
que ela não é autorreferente. Dialoga com o contexto de outras áreas, que,
mesmo não sendo diretamente correlatas, influenciam o modo e, por
extensão, a moda.
No fim dos anos 2010, inúmeras realidades já caminhavam como novas
premissas comportamentais, com as quais a moda já vinha se relacionando
com muita proximidade. A pandemia do coronavírus as acelerou, gerando
assim uma significativa conscientização coletiva, incisiva e, inegavelmente,
apressada. Dessa forma, trago uma breve narrativa de algumas dessas
circunstâncias que marcam novos modos e acionam novas modas.
Atitudes como a pluralidade dos aspectos da moda, a tecnologia de
ponta no setor, o hiperconsumo, a moda sustentável, a valorização das
propostas conceituais, assim como a importância da consultoria de imagem
e estilo, entre outras, já nos eram habituais. Todavia, acrescidas a essas
realidades do mundo da moda, somam-se outras que, apesar de já serem
também conhecidas e difundidas, ganharam corpo maior e aceleração,
especialmente devido à pandemia do coronavírus. Como grandes
diferenciais, o acesso à informação, a valorização da criatividade e a
credibilidade na inovação tornaram-se cada vez mais presentes e fortes na
execução dos produtos de moda.
Junção de tecnologia e artesanato na moda de Iris van Herpen. (Coleção alta-costura,
outono/inverno 2018, apresentada em Paris em julho de 2018.)

A tecnologia do/no setor é cada vez mais inovadora, sempre gerando


novos produtos presentes na difusão dos aspectos da moda: tecidos de alta
performance tecnológica, difusão rápida e acessível das informações de moda
e e-commerce ressaltando as roupas virtuais, ou seja, aquelas que existem para
as redes sociais de comunicação. Não existem materialmente falando, mas
são adquiridas e “usadas” virtualmente, para ser vistas nas telas dos contatos
virtuais. 
O artesanal, em oposição ao industrializado e informatizado, também
está cada vez mais presente, valorizando os aspectos de individualidade,
privilegiando a mão de obra localizada, mostrando, na maioria das vezes, o
processo de produção e elaboração em pequena escala (apesar de a moda
com premissas opostas também se fazer presente). Com essa prática do
artesanal, temos o fundamento do valor agregado, que gera o valor
reconhecido e permite a tão cobrada rastreabilidade de um produto de
moda, mostrando quem fez, onde fez, quanto foi pago pela elaboração do
trabalho; tudo isso em oposição às questões de um fast fashion, que não
privilegia tais referências. A valorização do artesanal traz uma significativa
sofisticação ao produto que não só individualiza a peça como quem a usa,
além de valorizar a mão de obra qualificada e gerar empregos no setor. Essa
sofisticação advinda da individualização fica muito próxima aos valores do
luxo, especialmente na contemporaneidade, que busca o individual, a
autoral, o manual, o raro, o criativo, o belo design e uma série de outras
referências.
Falando em luxo, sob a ótica histórica, é muito comum que depois de
grandes crises, como a que estamos vivendo agora, haja uma revalorização
da sofisticação, talvez como atitude de revanche comportamental à crise.
Entretanto, é a própria crise que gera oportunidade para a renovação,
mudança de hábitos e novos padrões estéticos. Em momentos de grandes
percalços sociais e, por extensão, econômicos, a História nos mostra que é
bem possível que isso aconteça. Os antigos romanos, há mais de 2 mil anos,
já diziam “non nova, sed nove”, ou seja, “não novo, mas de uma maneira
nova”. É a própria História como mestra nos mostrando que devemos
conhecer o passado para compreendermos o presente e planejarmos um
futuro melhor.
No atual contexto social, a moda agênero, também conhecida como
“moda não binária” (do inglês genderless), tornou-se uma realidade. É a
moda, na sua essência, sendo cada vez mais democrática. Com essa
premissa, as roupas não estão associadas a um gênero específico. Qualquer
pessoa tem a liberdade de usar aquilo que lhe aprouver, independentemente
de, em épocas pretéritas, essa ou aquela atitude, esse ou aquele calçado, essa
ou aquela maquiagem e/ou penteado, essa ou aquela roupa, estar vinculado a
um dos gêneros. Eis a moda agênero, ou seja, sem gênero específico, feita
para o ser humano usar aquilo que lhe é confortável e agradável, sem
predeterminações.
Com essa e outras premissas, temos uma moda inclusiva, ou seja,
acessível e democrática. A moda e suas propostas são para todas as pessoas.
Portanto, as inclusões social, étnica, racial, de gênero, etária, de pessoas com
deficiência física são premissas indiscutíveis na moda atual, que valoriza,
inclusive, padrões outros que não a magreza e a beleza preestabelecidas. A
moda plus size, por exemplo, está a todo vapor, e numerosas confecções estão
pensando, valorizando, criando e produzindo para atender a essa realidade
social e à demanda de mercado. Esses aspectos de inclusão geram valores de
empatia, ou seja, a capacidade de um ser humano compreender
emocionalmente os sentimentos e emoções de seus semelhantes. É sentir o
que o outro sente e ter a oportunidade de se colocar na situação e no lugar
da outra pessoa. Portanto, a empatia, que é uma prática virtuosa, é valor
inquestionável na vida social e, por extensão, na moda.
No mundo contemporâneo, o conforto vem sendo muito valorizado na
moda, especialmente em um momento que se precisou aprender a trabalhar
em casa (home office).
Outro valor presente no processo criativo e na difusão da moda é o
escapismo, frequente nas passarelas e que acentua e favorece uma fuga à
dura realidade advinda da pandemia da covid-19. O artesanal, a
criatividade, a genuinidade, a inovação, a sofisticação, o surreal, o onírico, o
espetaculoso fazem presentes no mundo da moda, servindo como alento e
arauto aos novos tempos.
Vale muito ressaltar as práticas de moda associadas à sustentabilidade,
ao reaproveitamento e seus correlatos. A moda circular, ou seja, aquela que
se baseia nas premissas do desenvolvimento sustentável e inteligente, é uma
significativa realidade associada ao desprendimento e ao desapego do
passado. Passando adiante aquilo que já não usam mais, as pessoas
favorecem a cadeia de circulação de produtos. Além disso, praticam a
transparência na moda ao usar produtos antigos (vintage) e/ou de matérias-
primas sustentáveis, aumentando o período vida de uma roupa,
evidenciando uma nova realidade no consumo de moda, proporcionando
um consumo de moda consciente associado às questões ambientais. O
consumo consciente está vinculado aos produtos oferecidos pelos brechós,
ao slow fashion, à produção com valorização da mão de obra local; tudo isso
gerando uma menor agressividade ao meio ambiente e uma valorização da
economia criativa. A moda circular, como a própria expressão indica,
confecciona produtos que atendem a um consumidor consciente, que, em
vez de descartar um produto, o reutiliza de outra forma ou o costumiza,
reciclando-o. É a realidade da postura ecofriendly.
Esse consumo associa-se, também, ao upcycling (reutilização), que é
outra forte tendência comportamental e criativa na moda e implica a prática
de reaproveitamento de diversos materiais que, em um primeiro momento,
seriam descartados, como tecidos e aviamentos, assim como as próprias
roupas. Se a reciclagem tem como premissa um novo ciclo para o produto
que seria descartado (circular), o upcycle tem como premissa a valorização do
próprio ciclo, quando o produto final agrega valor ao material utilizado. Em
vez de ser descartado depois de sua vida útil, o produto pode ser
transformado em algo novo, ganhando novos visual e valor. Premissas que
dialogam e se complementam nos valores da moda limpa. Com tudo isso,
não se pode esquecer de mencionar a moda colaborativa, que, além de ter
empresas, associações, marcas e/ou estilistas trabalhando em conjunto para
favorecer as iniciativas sustentáveis, fugindo das soluções mais tradicionais,
fortalecem o trabalho em grupo e ganham peso e respeito muito maiores na
sociedade.
Novos tempos, novos conceitos, novos valores, novas práticas, novas
realidades. Eis a História que constrói e legitima o ar do seu próprio tempo.
CAPÍTULO 9

BREVIÁRIO HISTÓRICO DO JEANS

Denim e jeans, palavras que, simultaneamente, se complementam e se


confundem no mundo da moda.
Atualmente, quando falamos em denim, estamos nos referindo a uma
sarja de algodão (originalmente era uma sarja de lã ou mista de lã e seda)
produzida no sul da França (na cidade de Nîmes, desde o século XVII) e na
Inglaterra (na região de Lancashire, desde o século XVIII). Da expressão
francesa serje de Nîmes (sarja da cidade de Nîmes) surgiu, por corruptela
linguística na língua inglesa, a palavra “denim” (semelhante na pronúncia de
“de Nîmes”). 
Vale lembrar que originalmente essa sarja não era tingida de azul. No
início de seu processo de fabricação têxtil, usavam-se fios da mesma cor
(sem que fossem azuis); com o passar do tempo houve uma mudança e,
atualmente, trata-se de uma sarja de algodão que tem na sua composição a
utilização de fios do urdume azuis (não tintos no seu interior) e os fios da
trama brancos. Daí a explicação da característica do desbotamento têxtil.
Já o termo índigo está associado ao vegetal de origem indiana chamado
“índigo” (do grego indikón, que quer dizer “azul índigo”) que fornece o
pigmento para tingir o tecido. Daí a expressão, em língua inglesa, denim
indigo blue (“sarjado de azul índigo indiano”, numa tradução livre). Esse
pigmento chegou à Europa no século XVIII e logo tornou-se popular
devido à característica de proporcionar uma cor estável, ou seja, resistente às
lavagens e ao sol, além de possibilitar diversas tonalidades de azul.
Anteriormente, o azul era obtido pelo pigmento da planta-do-pastel,
conseguido por fermentação das folhas dessa espécie de vegetal da família
das couves. O nome “pastel” vem do processo de elaboração de bolas
pastosas pelo maceramento das folhas, que serviam para tingir de azul os
tecidos; todavia esse pigmento natural era muito instável, sem grandes
fixações da cor, e proporcionava somente tonalidades claras de azul.
O tal tecido chegou aos Estados Unidos no século XVIII, nos
primórdios da indústria têxtil local e, a partir do final dessa centúria,
passaram a produzi-lo e distribuí-lo. Na segunda metade do século XIX,
tornou-se sinônimo das roupas de trabalho norte-americanas e,
posteriormente, na metade do século XX, passou à linguagem das roupas de
moda estadunidenses. De característica maleável e de significativa
resistência, o denim tornou-se um tecido de excelência para o vestuário.  
Com relação às roupas de trabalho, foram especialmente criadas e
difundidas por Levi Strauss e seu sócio, Jacob Davis, em São Francisco, na
Califórnia, a partir de 1873, para calças compridas e macacões masculinos,
reforçados por duas ou três costuras e por rebites e tachinhas no encontro
dessas costuras. Essas roupas, feitas para os mineradores e construtores das
estradas de ferro no oeste norte-americano, eram caracterizadas por cinco
bolsos, sendo dois frontais com aparência fendida (um em cada lado, na
altura do quadril) e, na abertura do bolso do lado direito, um outro pequeno
bolso para guardar moedas; complementando o famoso five pockets (cinco
bolsos), havia dois bolsos chapados nas costas, além do cós com passantes
para ajustar a calça ao corpo com o uso de um cinto. Tornou-se identidade
nacional nos Estados Unidos, caracterizando o típico cowboy norte-
americano.
Com relação à roupa de moda, o processo se deu, sutilmente, a partir
dos anos 1930 e ganhou força a partir do término da Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), estabelecendo-se de fato na moda nos anos 1950
com a ajuda da difusão por meio do cinema.
Vale aqui complementar e entender a razão do nome jeans. A cidade de
Gênova, na Península Itálica, contemporaneamente ao início da produção
do denim na França e na Inglaterra, produzia um tipo de tecido de algodão,
uma espécie de fustão, que se assemelhava ao tal denim. O nome da cidade
de Gênova dito em língua francesa tem a pronúncia jean ou jeane, o que deu
origem a um novo nome para o tal tecido de algodão para as roupas
propriamente ditas (não só mais para o tecido), que passou a ser utilizado a
partir dos anos 1930. A partir daí o jeans muda seu significado, ganhando a
característica de um tecido com o qual se faz uma calça comprida de
trabalho. Surgiu, então, a expressão “um par de jeans”, e desde então a
palavra é usada no plural: jeans.
O jeans extrapolou as roupas de trabalho e entrou nos guarda-roupas
infantis, nas roupas de lazer e no vestuário adulto. Ganhou força na moda
masculina a partir de 1953, graças ao filme O selvagem (e Wild One,
dirigido por László Benedek), estrelado por Marlon Brando, que usava uma
calça comprida jeans, uma T-shirt branca e uma jaqueta de couro preta. Na
sequência ficou mais assimilado ainda como roupa de moda masculina com
o filme Juventude transviada (Rebel Without a Cause, dirigido por Nicholas
Ray), lançado em 1955 e tendo James Dean no papel principal, também
usando o trio calça comprida jeans, T-shirt branca e casaco de couro.
Firmou-se, então, como uma emblemática peça do guarda-roupa masculino,
tornando-se uma roupa de moda (saindo da função prática de roupa de
trabalho), transformando-se em um símbolo dos Estados Unidos que
trabalham, conquistam e lançam moda. As mulheres, a não ser as mais
ousadas, ainda não tinham aderido totalmente à peça e, de fato, o fizeram
com determinação devido ao advento da moda hippie e a consequente moda
unissex, a partir da segunda metade dos anos 1960.
Editorial de moda da Santista Têxtil 2019. Baseado em fotografia de Tavinho Costa da modelo
Emily Cestari.
O jeans ficou então mais associado às roupas de lazer do que às roupas
de trabalho. Mais do que isso, o jeans ficou vinculado ao comportamento
jovem e, especialmente, como identidade de rebeldia e transgressão.
Na virada dos anos 1960 para 1970, surgiu o modelo boca de sino, ou
pata de elefante, que muito marcou época e comportamento juntos aos
hippies, além dos bordados nas calças e o acréscimo das nesgas nas laterais
inferiores externas das pernas. Durante a nova década, inúmeros outros
modelos foram aparecendo, sobrepondo-se ao modelo tradicional de corte
reto e cinco bolsos: baggy, semibaggy, clochard etc. Nesse período surge o
famoso “jeans com lycra”, da junção do denim com fios de elastano.
Seguindo a linearidade do processo da linguagem de moda, o jeans na
década de 1980 é marcado por novos acabamentos e lavagens e ganha
variados aspectos, como delavé, retinto, stonewashed, sixteen deeps, black
denim, used, dirty, espatulados, entre outros processos de diferenciação e
inovação. Nos anos 1990, temos os jeans rasgados, que continuam em voga
até hoje. A partir dos anos 2000, surgem os jeans skinny.
Desde os anos 1970, os grandes nomes da moda utilizam tal produto em
suas coleções, dando status e prestígio às peças. E as marcas mais populares
tornaram o jeans acessível a todos, democratizando esse tecido e as roupas
com ele elaboradas. Além das tradicionais calças compridas, também são
feitos de jeans jaquetas, salopetes, camisas, bermudas, shorts, saias, vestidos e
até mesmo calçados. O design têxtil e de moda ganha prestígio e destaque
com o jeans, favorecendo e sendo favorecido por ele.
No século XXI, o jeans continua a percorrer seu caminho próprio em
busca de inovação, aprimoramento tecnológico e ousadias estéticas,
acompanhando as tendências de moda, atingindo também o universo das
artes visuais. E, dentro das premissas contemporâneas da moda, é ideal para
os trabalhos de costumização e reciclagem associados à moda inclusiva,
moda circular e moda limpa dentro dos fundamentos da sustentabilidade.
De roupa simples a roupa funcional; de roupa funcional a roupa de
trabalho e uniforme; de roupa de trabalho e uniforme a roupa de lazer; de
roupa de lazer a roupa de moda; de roupa de moda a produto de luxo; das
ruas às passarelas e das passarelas às ruas. Eis o caminho do jeans totalmente
inserido na moda mundial, participando e historiografando a moda
contemporânea.
P.S. 1 – As marcas de moda brasileiras souberam trabalhar tão bem com
esse tecido que o jeans do Brasil tornou-se um dos mais cobiçados no
cenário internacional da moda, tanto em criatividade quanto, especialmente,
nas excelentes modelagens. É uma das mais importantes expressões da
moda nacional, gerando trabalho e divisas para a nação. Em tempos
pretéritos, esse tecido era chamado de zuarte no Brasil.
P.S. 2 – O dia 20 de maio é considerado o dia do jeans, por ter sido a
data oficial do nascimento do jeans. Levi Strauss e seu sócio, Jacob Davis,
solicitaram a patente dos rebites e das tachinhas colocados nos encontros
das costuras das calças como forma de reforço. Essa patente foi concedida
em 20 de maio de 1873. Daí a razão do dia do jeans ser 20 de maio;
coincidentemente o mesmo dia do nascimento do autor deste livro, porém
com 88 anos de diferença.
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Ilustrações: Adilson Euzébio
Ex-aluno do curso livre de História da Moda na Fundação Armando
Alvares Penteado (FAAP) e ex-aluno do curso superior em Design de
Moda da Faculdade Santa Marcelina (FASM).
Atua como ilustrador, estilista e figurinista.
Contato: adilsoneuzebioaz@gmail.com

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