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CAROLINE MARIA RENÓ MAIA

CANGACEIROS: BANDOLEIROS ESTILISTAS DO SERTÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado a faculdade de Moda e
Design de Passos – Fundação de Ensino
Superior de Passos – Universidade do
Estado de Minas Gerais, como requisito
para obtenção do título de bacharel em
Moda e Design.
Orientadora de Pesquisa: Esp. Leila
Orientadora de Moda e Estilo: Esp. MsC.
Maria Isabel Sulino Carvalho Silveira

PASSOS
2014
CAROLINE MARIA RENÓ MAIA

CANGACEIROS: BANDOLEIROS ESTILISTAS DO SERTÃO

Trabalho de Conclusão de Curso


elaborado como requisito final para a
obtenção do grau de bacharel em Moda e
Design da Faculdade de Moda e Design
de Passos, Fundação de Ensino Superior
de Passos, Universidade do Estado de
Minas Gerais.
Avaliado em ____ de _________
de 2013.

COMISSÃO JULGADORA:

_______________________________________________________
Professora especialista Leila
Orientadora de Pesquisa

_______________________________________________________
Professora especialista, MsC. Maria Isabel Sulino Carvalho Silveira
Orientadora de Estilo

_______________________________________________________
Professora especialista
Examinador (a) de Pesquisa

_______________________________________________________
Professora especialista
Examinador (a) de Moda

Dedico este trabalho primeiramente a


Deus e aos meus familiares,
principalmente meus pais que tanto se
esforçaram para que eu me formasse.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me dado à graça da vida, aos meus pais e toda
a minha família que me ajudaram mais do que nunca e estiveram ao meu lado
durante toda a graduação.

Aos meus amigos, que sempre me apoiaram em todas as minhas


decisões e que sempre me incentivam a ser mais criativa e sonhadora. Aos
meus melhores amigos do grupo de teatro Pé de Arte; que na vida me inspiram
e me ajudam nas melhores decisões; e as minhas amigas do curso; que cada
um a sua maneira contribuiu para que este trabalho fosse realizado.

Agradeço especialmente a minha mãe Lilian Maia, minha avó Zélia Renó
e minhas tias por ter me ajudado na confecção das roupas e acessórios
apresentados aqui.
RESUMO

O objetivo principal deste trabalho de conclusão de curso é um projeto


de criação de moda tendo como inspiração a pesquisa desenvolvida sobre o
tema Cangaço. Este foi um movimento social que faz parte da história e
cultura brasileira, ocorrido em meados do século XIX e XX, mais precisamente
até o fim da década de 1930, no sertão nordestino; além de tratar da vida, da
história dos cangaceiros e do mais famoso entre eles, Virgulino Ferreira da
Silva, mais conhecido como Lampião. Essa pesquisa traz o sertão nordestino
no período do Brasil República, lugar onde a corrupção e a seca dominavam; e
onde a população estava sujeita ao comando dos Coronéis e dos bandidos.
Neste lugar vivia o cangaço em sua forma de vida criminal, orgulhosa,
ostensiva, escancarada e carnavalesca, no caso a vestimenta. O produto final
desenvolvido é uma inteira coleção de moda, apresentando o artesanato como
diferencial. Concluindo assim que o Cangaço não foi só uma manifestação
social assassina do nordeste, mas foi uma das mais criativas manifestações
artísticas do Brasil.

Palavras Chave: Bandido. Sertão. Lampião. Moda. Artesanato.


ABSTRACT
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................9

1 BRASIL REPÚBLICA VELHA: O SURGIMENTO DO CANGAÇO.......10

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES.........................................................33

3.1 Objetivos: Geral e Específico.........................................................33

3.2 Justificativa.....................................................................................33

3.3 Metodologia....................................................................................34

3.4 Marca e público-alvo......................................................................34

3.5 Ambiência.......................................................................................41

3.6 Cartela de Cores............................................................................41

3.7 Seleção de Matérias.......................................................................52

3.8 Maquetes têxteis............................................................................63

3.9 Estamparia.....................................................................................66

3.10 Estudo de Formas........................................................................71

3.11 Planejamento e Desenvolvimento de Coleção............................74

3.12 Croquis.........................................................................................77

3.13 Ficha Técnica...............................................................................84

3.14 Croquis.........................................................................................85

3.15 Calçados e Acessórios...............................................................116

3.16 Joias...........................................................................................119

3.17 Beauty........................................................................................120

3.18 Fotografia de Moda....................................................................120

3.19 Desfile.........................................................................................121

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................123

REFERENCIAS......................................................................................124
9

INTRODUÇÃO

O tema abordado é a história do cangaço e sua importância na história


do Brasil República, no sertão nordestino. Demonstra como estava a sociedade
nos pontos de vista social, econômico e político no ambiente onde o movimento
social Cangaço teve inicio.

O Nordeste com seus problemas de exclusão social, desigualdades gritantes ,


violência e miséria é o palco onde surgiram lideranças aventureiras que,
aproveitando-se do meio físico agreste, adequado à ocultação passaram a
exercer a justiça com suas próprias mãos, como foi o caso de Virgulino, o rei
do cangaço.

O fenômeno do cangaço foi gerador de uma subcultura sertaneja que


transparecia uma riqueza estática muito peculiar.

Neste trabalho, através dos relatos das pesquisas bibliográficas, o leitor


conseguirá perceber quem era o bandoleiro nordestino que aterrorizava e
encantava a população, tanto social quanto esteticamente.

A importância de Virgulino Ferreira da Silva, o temível Lampião, talvez o


bandido mais famoso, temível e criativo do cangaço é o tema explorado no
capítulo 2 e servindo como grande inspiração para o desenvolvimento de todo
trabalho mostrado no capitulo 3. Lampião foi o bandido que ajudou a
transformar o traje cangaceiro em fantasias

Uma inteira coleção de moda foi construída com a inspiração voltada para esse
mundo extraordinário e criativo da arte do cangaço.
10

1 BRASIL REPÚBLICA VELHA: O SURGIMENTO DO CANGAÇO

O Cangaço foi uma manifestação social ocorrida durante o Brasil


República Velha, em meados do século XIX e começo do século XX no sertão
nordestino. Os mais famosos cangaceiros, Antônio Silvino, Sinhô Pereira,
Ângelo Roque, Jararaca, Lampião e Corisco percorreram o nordeste entre os
anos de 1890 a 1940.
É possível encontrar outras formas de banditismo antes do período onde
se teve atuação maior do cangaço, eram denominados cangaceiros, na maior
parte do tempo, mesmo sem as características da modalidade do seu período
áureo. Houve vários casos onde bandoleiros que “não conheciam Rei nem
Justiça” cometiam seus delitos. No século XVIII se destacou o pernambucano
Cabeleira e mais tarde o baiano Lucas Evangelista dos Santos, mais conhecido
como Lucas da Feira, por atuar em Feira de Santana, Bahia e adjacentes;
estes podem ser vistos como percursores do cangaço. Nesses casos,
posteriormente, não existia ainda uma “imagem” definida do cangaceiro como
figura emblemática e representativa do painel social do Sertão nordestino.

[...] essa modalidade teria algumas características: seria


um fenômeno social por meio do qual a classe dominada
expressaria seu descontentamento e reivindicação concreta
contra o sistema político, jurídico, econômico e social; como
não haveria uma consciência “superior” dentro ou associada a
ele, não atacaria o “sistema” e seria incapacitado como uma via
de cambio social, apresentando-se apenas como um protesto
contra a super exploração não estabelecida e contra os abusos
e excesso não permitidos pela tradição ou pelas leis; seria uma
organização grupal; seria um movimento “corporativo”; teria
como elemento nutriente o descontentamento popular; seria
caracterizado por relações sociais ligadas a ideia de fidelidade
e honra, como um poderoso elemento de coesão interna; o
bandoleirismo seria uma resposta econômica, tendo como uma
de suas motivações, a própria sobrevivência; e seria uma
resposta ideológica, já que desde o momento que em que se
tomava a decisão de fazer dessa modalidade uma forma de
“luta popular”, haveria implicitamente uma ponderação sobre o
justo e o injusto que a ordem socioeconômica oferecia a
população marginalizada, que ao constatar seu desacordo com
ela, preferia abandonar a legalidade e viver no bandoleirismo,
11

uma forma de vida mais de acordo com suas noções de justiça


e de liberdade. (LARA apud PERICÁS, 2010, p. 31).

“É fácil perceber, portanto, as limitações de vários desses argumentos e


a dificuldade de uma generalização mais ampla desses conceitos”. (PERICÁS,
2010, p.31).

1.1 O Brasil República

A República velha é dividida em duas fases, a Espada e a Oligárquica.


A República da Espada envolve os governos dos militares, Deodoro da
Fonseca e Floriano Peixoto. Neste período foi outorgada a Constituição que iria
conduzir as ações institucionais durante a Primeira República. Além disso, o
período foi marcado por crises econômicas e por conflitos entre as elites
brasileiras, como a Revolução Federalista e a Revolta da Armada.
Nesse período o Brasil enfrentava vários conflitos. Foi proclamada a
abolição da escravatura em 1888, o que enfraqueceu ainda mais o regime
monárquico que não subsistiu iniciando-se o regime republicano.

Embora os novos governantes também não tivessem


solução para o problema, possuíam mais disposição que o
velho rei. Partilhavam a ideia de que a República era a melhor
forma de organizar o país – e por isso o regime foi aceito
depressa. (CALDEIRA et al, 1997, p. 228).

Além da falta de escravos, o governo ainda tinha que lidar com a nova
massa de população pobre que ocupava os casarões das cidades.

Assenhorearam-se também dos sobrados das zonas


centrais, casarões deixados por seus habitantes originais, que
passaram a preferir locais mais retirados livres da
insalubridade, das epidemias e da desordem que tomava conta
do centro. (NOVAIS; SEVCENKO, 1998, p.103).

O pobre era visto como um problema,


12

Pobreza passou a significar sujeira, que significava


doença, que significava degradação, que significava
imoralidade, que significava subversão. A doença não era só
um mal físico, mas a deteorização da alma, da raça, que se
traduzia nos maiores vícios: alcoolismo, promiscuidade sexual,
negligência dos deveres paternos, vadiagem, crime, baderna
anarquista. Doenças físicas, hábitos tidos como viciosos e
sentimento de revolta eram todos postos sob o mesmo rótulo
de patologia. (PATTO, 1999, p. 184).

O que os governantes viam como solução para a “limpeza” das cidades


era derrubar os barracões onde essas pessoas moravam, principalmente se ali
viviam muitos doentes.

Desencadeando uma campanha [...] foram criados


batalhões de visitas que, acompanhados da força policial,
invadiam as casas a pretexto de vistoria e da vacinação dos
residentes. Se constatassem sinais de risco sanitário, o que
naquelas condições era quase inevitável tinha autorização para
mandar evacuar a casa, cortiço, frege, zunga ou barraco,
condenando-os eventualmente à demolição compulsória, e
seus moradores não tinham direito à indenização. (NOVAIS,
SEVCENKO, 1998, p.23).

No Nordeste a situação dos moradores de rua foi diferente, a seca


emigrou várias pessoas para as capitais e a cena que se via eram vários
miseráveis nas ruas que se abarrotavam em péssimas condições.

O espetáculo era inédito e atraía muitos curiosos, mas


sem duvida, sobretudo lamentável. Promiscuidade e imundice
aos olhos de milhares de espectadores e também de
exploradores da miséria. O Presidente, verificando esta
situação deplorável, providenciou para que os retirantes
fossem transferidos para um vasto e sombreado sitio em
Alagadiço. (SOBRINHO, 1953 apud PERICÁS, 2010, p.143).

A população foi crescendo, sobretudo no campo e nas vilas


dependentes da agricultura. Nos primeiros 50 anos de Império o número de
habitantes no Brasil passou dos três milhões, em 1822, para 10 milhões em
1872, destes 64,1% realizavam atividades na agricultura. Apenas seis em cada
cem brasileiros viviam em cidades com mais de 50 mil habitantes.
A população revelava-se em transição, escravos passaram da ordem
escravista para a capitalista, imigrantes tentavam se acostumar com os modos
13

brasileiros e fazendeiros tentando se habituar ao trabalho assalariado. A


urbanização cresce refletindo uma mudança radical, a economia, antes
agrônoma, passa a ser industrial o que gera grandes conflitos sociais.
O desafio da elite agora era adaptar a lentidão do comando político com
a rapidez das mudanças sociais.
No período de 1868 a 1878 o país passa a ter novas ideias e rumos.
Essa renovação esteve ligada a mudanças econômicas, em grande parte a do
café que acabou representando quase sozinho a economia brasileira.
“Enquanto se retraí a economia do Nordeste, com a decadência do
algodão, do açúcar e do tabaco, desenvolveu-se a economia cafeeira nos
Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.” (CARONE, 1970, p.27).
A República Oligárquica marcou-se pelo controle político da oligarquia
cafeeira paulistana e pela elite rural mineira exercido sobre o governo federal,
na conhecida “política do café com leite”. Foi nesse período que se
desenvolveu ainda mais o coronelismo, garantindo poder político regional às
diversas elites locais do país.
Na última década do século XIX, Minas Gerais e São Paulo eram as
duas principais províncias do país em termos econômicos. Ambas as
províncias representavam os maiores currais eleitorais da época, pois naquele
momento o voto era privilégio somente dos alfabetizados, o que tornava
mínimo o número de pessoas aptas a votar.
Foi então que, oficialmente, se estruturou a Política do Café com Leite.
De acordo com esta, São Paulo, o estado com maior produtor de café do país,
e Minas Gerais, maior produtor de leite no país (na verdade também era um
grande produtor de café que superava inclusive a produção de leite), uniriam
suas forças políticas e econômicas para controlar a politica brasileira através
de um revezamento de presidentes no poder. Durante muito tempo se
revezaram na presidência, suas articulações faziam com que contasse com o
apoio de elites de outras províncias do país.
Nessa época o voto não era secreto e os coronéis de cada região
controlavam em quem as pessoas iriam votar. Seu apoio garantia a
continuidade do poder. Assim se formava um governo oligárquico, no qual só
tinham acesso ao poder os que faziam parte do grupo dominante.
14

Essa política teve seu fim no governo do presidente Washington


Luís (1926-1930). Este era paulista e resolveu apoiar para a eleição seguinte
outro candidato paulista, Júlio Prestes, rompendo então com o pacto de
revezamento entre mineiros e paulistas. Os mineiros, descontentes, se uniram
com os políticos do Rio Grande do Sul e candidataram outra pessoa a
presidência, mas não obtiveram sucesso, não esperaram o presidente eleito
tomar posse e organizaram um golpe que levou ao poder Getúlio Vargas em
1930.
A crise das oligarquias rurais e a crise econômica mundial, atingindo
profundamente a produção cafeeira, foram à agonia da República Velha. Era o
fim da República Velha e o início da Era Vargas.

1.2 A vida no Sertão

A maior parte dessa população desprovida de qualquer recurso foi os


negros e mulatos que após serem abolidos da escravidão, não trouxeram nada
consigo além das roupas que tinham no corpo. O que restou a eles foi à pura
pobreza. As autoridades viam essas pessoas como algum incômodo e não se
esforçavam para a melhoria das condições dessa região.

A vida nas zonas das grandes plantações sofrera


poucas mudanças desde o período colonial. A aristocracia rural
e suas famílias ocupavam o mais alto degrau da escala social;
quase todo o resto da população [...] estava na base. [...] A
grande maioria da população nunca ia à escola e era
classificada oficialmente como analfabeta. (LEVINE, 1995, p.
114).

Esses sertanejos não tinham pra onde ir, garantir o seu sustento, alguns
deles iam às praças das cidades com sua enxada no braço esperando que
alguém lhe solicitasse algum serviço, os mais robustos eram os escolhidos, é
claro, e alguns daqueles que ficavam de fora passaram a ver no cangaço uma
última esperança de trabalho, aliás, com maiores rendimentos que a
15

agricultura. Outro motivo pra que a camada pobre entrasse no banditismo era a
reconstrução da imagem social.
Mas não podemos generalizar as coisas, o banditismo não era a única
escolha do sertanejo quando não conseguia uma fonte de renda, outra opção
era a migração, para o sul ou para a Amazônia.
No sertão nordestino ocorreram várias secas. No século XX, por
exemplo, ocorreram estiagens importantes e longas em 1900, 1903, 1915,
1916 e 1932. As consequências eram muitas, além do aumento do banditismo,
também resultava na queda de produção agrícola, fome e pobreza.
“Para os estudiosos, um ano de seca, como o de 1932, era, na verdade,
um ano de descanso para os cangaceiros.” (PERICÁS, 2010, p. 144). Ou seja,
por conta da estiagem e da fome, os cangaceiros deixavam de saquear
dinheiro, ou matar por vingança, para saquear e matar por comida.
Portanto a seca não foi um motivo para a formação de novos bandidos.

A seca, ou seja, a natureza, apenas, não pode ser vista


como fator precípuo do cangaceirismo. O mundo das relações
sociais é regido pelos homens, pelos indivíduos, que podem
agir de determinadas formas, influenciada pelo meio natural.
Mas no final das contas, são os marcos jurídicos, políticos,
econômicos e culturais que irão determinar sua conduta.
(PERICÁS, 2010, p.144).

A população esfomeada sem dinheiro e tampouco condições para


esperar pela distribuição de comida, acabavam por saquear depósitos e
armazéns.
A violência era constante, não só por parte dos cangaceiros, mas por
toda a população, os atos praticados, em menor ou maior escala, aconteciam
fossem dentro das casas de família, na escola ou praticadas por autoridades.
Existia uma necessidade de se sobressair na sociedade por meio da
violência física, foi o caso de Lucas da Feira, citado no segundo parágrafo
deste capítulo. Revoltado com o preconceito e o cativeiro, formou um pequeno
bando de negros em que aterrorizava principalmente as famílias de posse.

Lucas nunca foi um quilombola, tampouco quis


participar de qualquer rebelião escrava. Em outras palavras,
nunca questionou a escravidão per se, mas apenas sua
condição pessoal dentro do sistema vigente do Brasil. Assim
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optou pela vida de crimes, sendo responsável por algo em


torno de 150 assassinatos. (PERICÁS, 2010, p. 105).

Muitos sertanejos eram caracterizados como “brancos”, porém esse


termo é relativo, pois sua maioria era mestiça com índios. Até mesmo os
membros das elites rurais. Essa mestiçagem, historicamente, ocorria a partir de
casamentos sólidos, dentro dos preceitos da igreja católica, porque em 1755
um alvará d’El Rei declarava que os vassalos que casassem com índias não
iriam ficar com má fama, e sim, seriam dignos de sua atenção. A mistura de
raças desde o período colonial constituiu gerações de mamelucos que
formariam as elites locais, lutariam por d’El Rei e se considerariam “brancas”.
Os sertanejos, então, eram considerados brancos pelo censo, somente se seu
status econômico e sua linhagem familiar o avalizassem.
“[...] não seria exagero dizer que no interior do Nordeste, o principal (mas
não único, é claro) lastro sanguíneo é o indígena, mesclando especialmente
(mas não exclusivamente) com o português.” (PERICÁS, 2010, p.111).
O negro nunca foi dominante, nem econômica e nem etnicamente.
O desinteresse do governo pela região levou a dependência das elites
locais. Consequentemente a corrupção, a venalidade e as rivalidades políticas
desenvolveram-se tanto quanto ou mais que o resto do Brasil.
Os coronéis se apresentavam como uma forma de assegurar o controle
político, “O coronelismo pressupõe [...] a decadência do poder privado e
funciona como processo de conservação do seu conteúdo residual.” (LEAL,
1997, p. 276). Teve o seu auge na República quando os funcionários do
governo licenciavam inúmeras liberdades para os coronéis em troca de voto. O
termo coronel, portanto, era equivalente ao mesmo que chefe politico.
Tudo que sabemos sobre o sertão nos confirma que a vida era muito
dura. Os caboclos sertanejos aterrorizados tanto pelos bandidos quanto pela
polícia e até pelos coronéis, eram forçados a pagar pela proteção fossem em
alimentos ou munições. Todas essas ameaças forçavam-lhes a prestar
serviços contra a sua vontade. As pessoas tinham poucos direitos, quase
nenhum. A polícia podia prender qualquer pessoa sem nenhuma acusação,
apenas com suspeitas. Os coronéis, comerciantes, clérigos e autoridades do
governo estavam no topo da pirâmide.
17

Até as doenças que afligiam os pobres acabavam reforçando o


estereótipo de falta de resistência e inconsciência moral.

Se há de um lado prosperidade, mais dinheiro


circulando, melhores condições topográficas e climáticas, e
maior poder dos chefes rurais, há também, ao mesmo tempo,
maiores distância dos grandes centros, uma Justiça precária e
arbitrária uma disseminação de armas nas mãos da população,
questões de terra e de honra, disputas politicas, uma polícia
muitas vezes mal preparada e condições de transporte
insatisfatórias, entre outros elementos que, combinados,
criavam as condições para a proliferação de alguns bandos.
(PERICÁS, 2010, p. 149).

1.3 Bandidos ou heróis

A maioria dos muitos homens que fizeram parte desse tipo de


banditismo social ingressava no cangaço por vinganças familiares e não para
corrigir ou combater injustiças sociais “(certos pesquisadores chegam até
mesmo a dizer que 90% desses bandidos ingressaram na criminalidade por
motivo de vindata)”. (PERICÁS, 2010, p. 36).

Com tantos interesses políticos e econômicos em


disputa, não é de estranhar que houvesse rivalidades entre
diferentes clãs familiares em todo o Nordeste. [...] eram os
próprios membros das famílias proeminentes do Sertão (como
os filhos mais velhos, por exemplo), que se encarregavam de
levar a cabo a vingança familiar. E eram vários desses mesmos
indivíduos que se tornavam as principais lideranças com
cangaço moderno. (PERICÁS, 2010, p.28 - 29).

As brigas familiares poderiam ser por questões de terras ou por motivos


fúteis como, por exemplo, um suposto desrespeito verbal ou físico por algum
parente. As questões de honra sobrepunham muitas vezes até as questões
fundiárias. Em um ambiente que pouco se esperava da Justiça, que em geral
era falha, pode se compreender que homens resolvessem suas desavenças
com armas nas mãos.
Depois de consumada a vingança, o motivo para que estes homens
continuassem na criminalidade era que “O cangaço se tornará um “negócio”,
um “emprego”, um “meio de vida”. Chegará a ser visto como uma “profissão”.
18

Deixará de ser apenas uma forma de vingança ou de ser vinculado a “coronéis”


locais.” (PERICÁS, 2010, p.56).
“Todos os mais célebres entre os cangaceiros pertenciam a famílias
importantes no ambiente político em que viviam.” (PERICÁS, 2010, p.35). Os
cangaceiros se identificavam e preferiam se relacionar com as elites locais, se
sentiam mais a vontade.
Enquanto os coronéis e seus filhos admiravam os cangaceiros (muitos
destes tinham vínculos e amizade forte com muitos bandoleiros) a população
pobre nem sempre apreciavam os bandidos, há muitos casos de ataque,
torturas, estupros, e roubos para com essa população indefesa. O “povo” em
sua maioria tinha pavor de volantes cangaceiros, admiravam apenas aqueles
que jamais tiveram na presença de um.
Ao contrário de Jesuíno Brilhante, Virgulino Ferreira conhecido como
Lampião, o mais famoso dos cangaceiros, não via necessidade em ajudar os
pobres. Sabe-se que alguns cangaceiros davam dinheiro aos sertanejos
humildes, mas não havia nenhum ato de caridade ou uma partilha, aquilo era
praticamente uma “esmola”, em geral, ficavam com notas maiores para si e
distribuíam notas baixas e moedas que só pesavam nos bornais. Por outro
lado, receber pouco dinheiro de quem estava sendo extorquido era semelhante
a uma esmola, o que poderia ser uma ofensa.
Nos períodos de estiagem os cangaceiros podiam estimular a população
esfomeada a tomar posse dos alimentos enviados pelo governo. Isso prova
que eram poucos os bandidos que se apropriavam e distribuíam produtos de
forma benevolente, e que várias vezes o faziam para demonstrar autoridade ou
conseguir o apoio dos sertanejos.
Quando distribuía dinheiro ou alguns produtos de seus furtos, Lampião
fazia questão de que esse ato fosse público, queria construir a imagem de um
indivíduo caridoso. Não roubava dos ricos para dar aos pobres. O que roubava
era para si ou para pagar pelo trabalho de seus “cabras”.
Ou seja, na maioria dos casos, não se pode dizer que tenha havido
qualquer identidade do populacho pobre com os cangaceiros. Na verdade eles
defendiam os seus interesses pessoais, através da violência, buscando manter
vínculos com protetores “poderosos”, o que podia resultar na agressão do
próprio povo.
19

Os líderes cangaceiros eram quase como coronéis. Além de provir de


uma família tradicional, na maioria das vezes, agiam como tal.
“Não sendo assalariados nem empregados de ninguém, eram de certo
modo autônomos, tirando das camadas mais abastadas e dos governos o
monopólio da violência. Eram, portanto, um poder a parte.” (PERICÁS, 2010, p.
52).
Eles agiam de forma paternalista com aqueles que eram considerados
seus pobres e aqueles que ficavam ao seu redor e os ajudavam de alguma
maneira.
“Esses bandoleiros compartilhavam valores morais e a mesma visão de
mundo de suas comunidades e se tornariam foras da lei em defesa delas: um
protesto social de caráter pré-político inconsciente.” (PERICÁS, 2010, p 26). O
que explicaria o respeito e a empatia das comunidades sertanejas para com os
bandidos, apesar do mal que poderiam lhes causar, é a construção, consciente
ou não, por parte dos marginais, de um escudo ético. Esse elemento ético os
diferencia dos bandidos comuns aos olhos da população. E foi isso que ajudou
a manter a imagem de justiceiros ao longo do tempo. Como diz Luís Câmara
Cascudo “O sertanejo não admira o criminoso, mas o homem valente.” (1968
apud PERICÁS, 2010, p. 39).

1.5 O Cangaço

Os cangaceiros não lutavam para modificar uma ordem social dos


sertanejos. Eles só lutariam se eles próprios pudessem governar tomar parte
da posição maior de destaque junto com os coronéis. Afinal, estes tinham uma
relação estreita onde conseguiam proteção, armas e dinheiro dos senhores
rurais. Eles lutavam, porém, para defender seus próprios interesses.
O fato de não terem interesse em seguir uma vida revolucionaria, não
quer dizer que não tivessem essa consciência política. Eles sabiam muito bem
o que estava acontecendo a sua volta e fizeram sua escolha.
20

O entrelaçamento dos poderes político e econômico,


junto com a engrenagem jurídica e policial, num ambiente
fundiário claramente distorcido e desiquilibrado, por certo
tiveram um peso significativo na formação social e psicológica
do bandoleirismo agrestino e sertanejo. (PERICÁS, 2010,
p.29).

Existe entre eles uma relação maior do chefe com seus subordinados.
Os chefes comem da mesma comida, dormem no mesmo chão e participam
das mesmas batalhas ao lado de seus “recrutas”, e ainda que estejam numa
posição superior, todos vivem da mesma forma. Se colocarmos juntos das
mulheres, cachorros e crianças, temos aqui uma verdadeira família. O cangaço
era uma combinação de família sertaneja, com comunidade, emprego e
organização militar.
Especialmente na década de 1930, sua última década, o cangaço era
mais avançado e moderno em suas relações sociais do que a maioria dos
sertanejos da época. As mulheres desempenhavam papéis maiores dentro das
hostes bandoleiras, diferente das mulheres sertanejas, elas até usavam roupas
mais ousadas, com a saia na altura do joelho.
Mesmo com muita intimidade entre os bandoleiros, esta era limitada. Os
líderes sempre ficavam desconfiados até mesmo de seus “cabras”. Um
exemplo era Lampião, que até antes de comer, mandava que outros
provassem sua comida por medo de estar envenenada.
Brigas e desavenças aconteciam por isso às ordens do chefe deveriam
ser cumpridas, elas mantinham a harmonia necessária no grupo.
O cangaço foi um fenômeno menos resistente e mais restrito do que se
supõe. O termo “bandido-guerrilheiro” estaria mais adequado a eles. “De
qualquer forma, já na época do auge do banditismo rural no Nordeste
brasileiro, aqueles salteadores eram designados por militares e jornalistas
como guerrilheiros.” (PERICÁS, 2010, p. 189).
Sabe-se que nem todo e qualquer motivo era razão para a entrada no
cangaço. Apesar da miséria, da fome, da seca, a falta de emprego, muitas
pessoas não ingressaram no cangaço. “Ou seja, preferiam se colocar numa
posição de constrangimento, apesar do desespero e da fome, ou até mesmo a
tirar a própria vida, do que cogitar se tornar bandoleiros.” (PERICÁS, 2010,
p.190)
21

Se compararmos o cangaço com outros fenômenos de marginalidade no


Brasil, veremos que ele teve força e influencia significativa, pois a quantidade
de foras da lei no Sertão e no Agreste era tanta que causou um impacto
econômico e cultural na região. Somente ao lado de Lampião, durante as
décadas de 1920 até a sua morte na década de 1940, mais de quinhentos
bandidos atuavam no sertão.
Durante os anos que durou o cangaço sua vestimenta evoluiu, partiu das
adaptações simples e praticas da vestimenta de um vaqueiro para trajes
elaborados que mantinham sua função militar, mas também tinha destaque
pela grande quantidade de ornamentação. “O fato é que, ao longo dos anos, as
vestimentas dos bandidos foram gradualmente sendo incrementadas até se
tornarem quase ‘fantasias’.” (PERICÁS, 2010, p. 83).
As roupas marrons e em tons terrosos serviam para camuflar no sertão e
o chapéu de couro os protegia da vegetação espinhosa.
“Os chapéus de couro, [...] por seu formato, tamanho e material, serviam
para proteger a cabeça nas entradas pelas caatingas; eram presos por
testeiras e barbelas repletas de medalhas e moedas.” (PERICÁS, 2010, p. 83).
Por serem nômades, carregavam a sua “casa” no corpo, tudo dentro de
bornas, sem falar nas inúmeras armas, tudo era muito pesado. “O peso
completo das roupas, do dinheiro roubado ou extorquido e dos equipamentos
chegavam aproximadamente 30 kg.” (PERICÁS, 2010, p. 83).
22

Figura 1 – Cangaceiro Corisco


Fonte: http://4.bp.blogspot.com/

Foram vários motivos que levaram o cangaço ao fim. Aspectos


tecnológicos, logísticos, humanos e políticos contribuíram para isso. Depois
que Lampião morreu o único cangaceiro bom o bastante que sobrou foi
Corisco, que vingou a morte do “patrão”. Com uma atuação maior do governo,
como verbas, maior força policial, à vontade política de Vargas para finalizar
com o banditismo no nordeste (isso manchava a imagem do Brasil como um
país moderno), ofertas e garantias de vida pra quem se entregasse a perda da
força de vários coronéis, maior participação do Estado nacional nos assuntos
que envolviam o Sertão e a intensa perseguição aos coiteiros, o cangaço
chegou ao fim.
Com a decisão politica nacional de acabar de vez com o cangaço, com o
apoio dos interventores estaduais e cumprindo suas obrigações, o cerco foi
fechado. A diferença numérica e tecnológica passou a ser demais para os
bandidos que dominavam o Sertão.
Depois da morte do líder Lampião, muitos cangaceiros se entregaram. A
imagem do rei do cangaço era muito forte, além de suas qualidades pessoais.
“Sem ele como organizador, líder e figura mítica e simbólica, o restante dos
brigands decidiu se entregar.” (PERICAS, 2010, p. 193).
Os coronéis perderem seus prestígios e assim pararam de ajudar os
bandos. E muitos dos policias corruptos que forneciam armas para os
bandoleiros decidiram parar e cumprir as ordens do Estado. Os soldados
aumentaram e junto com as garantias de vida oferecidas, muitos bandidos
abandonaram a vida de crimes. O fato é que, ainda assim, o cangaço entrou no
imaginário populacional e permaneceu presente na cultura brasileira. Foi um
dos fenômenos sociais mais importantes do país.
23

2 LAMPIÃO: O REI DO CANGAÇO

O mais famoso e considerado o Rei dos Cangaceiros e do sertão,


Virgulino Ferreira da Silva, era o terceiro filho de José Ferreira da Silva e Maria
Lopes e nasceu no dia 7 de julho de 1897.
Lampião teve uma infância comum de um garoto de baixa classe média,
aprendeu a ler e a escrever, mas logo foi ajudar o pai como vaqueiro.

Aos 10 anos, foi à escola e em poucos meses aprendeu


a cartilha. Aos 12 anos, já exímio e destemido vaqueiro,
passou a viajar com o pai, Sr. José Ferreira, sitiante e tropeiro,
e assim pôde conhecer grande parte do Nordeste, o que muito
lhe serviu no futuro. (AGUIAR, 2012, p. 121).

Frequentava as feiras das cidades próximas às terras da família, onde


ouvia os violeiros e os poetas de cordel narrarem às aventuras dos
cangaceiros, que povoavam o imaginário popular nordestino, sendo
simultaneamente heróis e bandidos. Aliás, para as crianças da região brincar
de cangaceiro e polícia era uma variante do atual "mocinho e bandido".
“O próprio Virgulino Ferreira, entre os 9 e 12 anos de idade, tinha como
‘esporte’ organizar grupos de meninos com bodoques para brincar de
cangaceiros, tentando imitar suas táticas e estratégias.” (PERICÁS, 2010 apud
GUEIROS, 1953, p. 37).
Tinha essa vida até brigar com o vizinho, o rico fazendeiro José
Saturino, por causa de um chocalho perdido e o desaparecimento de alguns
bodes da família Ferreira.

A acusação de um chocalho roubado e a disputa


envolvendo alguns bodes foi o estopim da briga entre Virgulino
e os irmãos e o José Saturino. Este apontava o dedo em
direção da família Ferreira, que por vez denunciava que os
24

agregados do vizinho estavam matando seus bodes para


comer. (AGUIAR, 2012, p. 68).

Para o fim de mais desavenças o líder dos Ferreira, Sr. José Ferreira
resolveu se mudar com sua família. Porém, isso não foi o suficiente para se
afastar do inimigo que os perseguia. Tanto que se mudaram até de estado, no
entanto de nada adiantou.

Uma vez que a saída não encerrou o problema (a


perseguição mantinha-se acirrada) e conhecendo o
temperamento violento dos filhos, José Ferreira decidiu ir para
mais longe, agora para outro estado, Alagoas. Também não
adiantou: José Saturino e seus jagunços não davam trégua [...]
(AGUIAR, 2012, p. 68).

A perseguição teve fim quando, na região de Matinha de Água Branca,


José Ferreira foi morto enquanto os filhos não estavam presentes.

Enquanto os filhos viajavam com a tropa, negociando,


comprando e vendendo nas feiras vizinhas, os pais ficavam em
casa. Aonde ia Virgulino, suas habilidades para artes e ofícios
o realçavam [...]. Tendo já perdido a mãe, ao voltar um dia de
uma dessas viagens os filhos encontraram o pai sepultado.
(AGUIAR, 2012, p.122)

A justiça do local não se interessou em solucionar o caso o que


enfureceu Virgulino que declarou vingança. “Eu sou a lei; a partir de hoje vou
matar até morrer; meu desejo é incendiar Alagoas.” (AGUIAR, 2012, p. 122).
Com sede de vingança, Virgulino, junto com seus irmãos, formaram um
pequeno bando. Este se uniu ao bando de Sr. Antônio Porcino contendo
aproximadamente 30 cangaceiros. Em 1918 passou a fazer parte do grupo do
cangaceiro Sinhô Pereira.

Em 1918, Sinhô Pereira recebeu em seu bando o jovem


Virgulino Ferreira da Silva que ali foi batizado de Lampião,
primeiro se tornou seu lugar tenente e depois o sucedeu em
1922. [...] De acordo com Billy Jaynes Chandles (Lampião, o rei
dos Cangaceiros), em 1922, Pereira abandonou a região e
procurou uma vida nova em outras paisagens. Há muito tempo
vinha sendo pressionado a tomar essa resolução por parentes,
amigos e mesmo pelo respeitado padre Cícero. Um dia,
juntamente com seu primo e amigo de cangaço Luís Padre,
resolvera dar o primeiro passo. Munidos de uma carta de
25

apresentação do padre Cícero para o vigário de uma


cidadezinha do sul do Piauí, partiram; quando já estavam
dentro do Piauí, foram atacados pela polícia. Desanimados,
voltaram em Pernambuco, para continuar a luta, mas ainda em
1922, Pereira resolvera tentar de novo, assim saiu para
sempre. Ficando Lampião como seu sucessor. (AGUIAR, 2012,
p. 62).

A liderança foi passada com uma missão: vingar a morte do irmão de


Pereira em seu nome. Palavra dada, palavra cumprida.

2.1 Lampiões e a Coluna Prestes

Em 1926, o Ceará conheceu a violência e agitação política causados


pela Coluna Prestes. Referia-se a um grupo de combatentes revolucionários,
formados por militantes e civis, liderados por Luís Carlos Prestes, que circulou
o interior do Brasil nos anos de 1925 a 1927, sugerindo reformas políticas e
sociais no país.
“As autoridades governamentais do Nordeste encontravam-se diante de
um novo inimigo armado, vindo do exterior para perturbar e desestabilizar uma
região já fragilizada pelo cangaço.” (GRUNPAN-JASMIN, 2006, p. 99).
Para lutar contra os revoltosos, o governo determinou que cada estado
intimidado fizesse sua defesa por meio de um chefe politico. No Ceará, o
encarregado foi o deputado Floro Bartolomeu.
Os Estados do Paraíba, Ceará e Pernambuco, distribuíram armas e
favoreceram a formação de milícias, que foram chamadas de “batalhões
patrióticos”, para repelir a Coluna Prestes.
Floro então pensou em colocar Lampião e seus cangaceiros para lutar
em um desses batalhões.
Sem dúvida os cangaceiros nunca tiveram um elemento ideológico e
uma consciência de classe que tolerasse que sua atuação viesse a ser uma
“ação revolucionária”. Apesar de alguns militantes e estudiosos tentarem
26

encontrar nesses bandos um embrião de guerrilheiro que só precisaria de um


pequeno impulso.

Estes supostamente inculcariam nos cangaceiros o


elemento ideológico que poderia leva-los a lutar contra o
sistema capitalista que, aparentemente os explorava. [...] Para
o Comitê Executivo da IC, os cangaceiros tinham um potencial
revolucionário que deveria ser aproveitado pelos comunistas
brasileiros. (PERICÁS, 2010, p. 151).

A presença de Virgulino no batalhão tinha muitas vantagens.


“Lampião apresentava vantagens por muitas razões: conhecia a região
por tê-la percorrido em todos os sentidos, estava familiarizado com um meio
hostil e, além disso, seu grupo já se achava organizado como um pequeno
exército.” (GRUNPAN-JASMIN, 2006, p. 100).
Em 1926, Virgulino recebeu uma proposta para lutar contra a coluna
Prestes. Em troca, receberia a patente de capitão dos Batalhões Patrióticos
além de dinheiro.

A mensagem caprichosamente datilografada em fita


vermelha prometia a Lampião mundos e fundos. Ele receberia
generoso pagamento em dinheiro e a patente de Capitão do
Batalhão Patriótico. Era uma chance de ouro para que
abandonasse de uma vez por todas a vida atribulada de fora da
lei, argumentava a missiva, que também flertava com a
decantada vaidade do cangaceiro. [...] A perseguição policial
teria fim. (NETO, 2009, p.285).

Quando Lampião chegou a Juazeiro no Ceará, Floro Bartolomeu já havia


sido encaminhado para Fortaleza doente. Estava com sífilis e esta estava
corroendo todo seu organismo sem falar nos efeitos colaterais dos fortes
medicamentos.
“Com o mentor fora de combate, o Batalhão Patriótico seguiu que nem
barata tonta na perseguição a Prestes.” (NETO, 2009, p. 286)
Os guerrilheiros eram conhecidos como “bandidos vermelhos” ou
“bandoleiros vermelhos”. Era formada por membros da ANL, da Aliança Social
e diversos marginais.
27

Entre estes, encontravam-se um advogado, ladrões,


vários prófugos da justiça, dois jornaleiros, um aprendiz de
pedreiro, um apanhador de algodão, um agricultor, um
motorista e um pintor, entre outros sem profissão definida.
Como os cangaceiros, muitos ingressarem nesse bando para
encontrar refúgio, já que eram ladrões e assassinos
sentenciados e condenados a muitos anos de
encarceramentos. Esses fugitivos e analfabetos, sem profissão,
formavam boa parte da quadrilha. (PERICÁS, 2010, p. 154).

O objetivo de Prestes era cruzar o Ceará para alcançar o outro lado do


Sertão, o Rio Grande do Norte. Dali seguiu desmoralizando a repressão.

Mais rápido do que Silvino (capitão Pedro Silvino de


Alencar) pudesse pensar em agir, a Coluna cruzou como um
raio a fronteira potiguar e desceu em demanda a Paraíba. Ao
passo que os rebeldes fugiam para longe do Ceará, o acéfalo
Batalhão Patriótico se desfazia em disputas internas. (NETO,
2009, p.287).

Os guerrilheiros já estavam com poucas armas e a maioria das pessoas,


principalmente aqueles que entraram a força, queriam sair, mas não saíam
pelo medo da represália. Com isso, os grupos foram perdendo o seu potencial
revolucionário. Na verdade, a maior parte desses combatentes não sabia do
que se tratava o comunismo defendido pelo partido.
No levante comunista, os “bandoleiros vermelhos” não se destacaram.
Ao mesmo tempo em que o PCB queria fortalecer a luta armada do Sertão,
pois achavam que os oficiais do levante estavam escondidos no Nordeste, os
“extremistas vermelhos” faziam de tudo para sobreviver.
A guerrilha acabou com uma denúncia feita pelo combatente Manoel
Feliciano Pereira,

Após essa delação, praticamente todos os


“revolucionários” foram detidos pelas autoridades. Eles
certamente não conseguiram promover a revolta das
populações do Sertão. Este foi o fim melancólico daquela
experiência guerrilheira. (PERICÁS, 2010, p. 135).

O quadro da doença de Floro Bartolomeu agravou-se, sendo assim, o


mandaram para um tratamento especializado no Rio de Janeiro. Com o líder
28

totalmente fora de combate, padre Cicero tentou desfazer o acordo com


Lampião.

No Juazeiro, uma das primeiras preocupações de


Cícero logo após a partida de Floro foi tentar desfazer o convite
que tinha sido lançado a Lampião em seu nome. [...] Não fazia
mais nenhum sentido manter a promessa feita ao cangaceiro.
Assim, o padre mandou um emissário ao encontro de Virgulino.
O mensageiro o alcançou à altura da cidade de Barbalha, já
nas cercanias de Juazeiro. Era tarde demais para fazer o
opinioso bandido mudar de ideia e dar meia-volta. Virgulino
queria ver o padre Cícero. Ia cobrar cada vírgula do que lhe
havia sido prometido. (NETO, 2009, p.288).

Lampião chegou à cidade e foi à praça ao encontro do padre para exigir


tudo o que fora lhe prometido. Cicero não teve outra escolha, então arquitetou
um teatro para que o cangaceiro fosse embora o mais depressa possível.

Mandou chamar o único funcionário público federal


disponível em toda cidade, o agrônomo Pedro Albuquerque
Uchoa, inspetor agrícola do município, para que lavrasse um
documento no qual se atribuía a Virgulino Ferreira da Silva [...]
a patente de capitão honorário do glorioso Batalhão Patriótico
de Juazeiro. (NETO, 2009, p. 230).

A partir daquele dia, Lampião fez questão de ser chamado, até o dia de
sua morte, de “capitão Virgulino”.
Depois de deixar Juazeiro, Virgulino percebeu que aquele documento
não impediria que o caçassem, ao invés de acompanhar o encalço de Prestes,
decidiu continuar na vida de crimes.

2.2 Aliados

Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros (2000) divide as pessoas que


mantinham contato com o cangaceiro em duas categorias: Os protetores e os
coiteiros.
29

Os protetores são os políticos, coronéis e aqueles que então em uma


classe mais alta e de poder. Indivíduos que mantem transações comerciais de
alto e médio porte, como fornecimento de armas e munições.
“São pessoas situadas na classe que detêm o poder econômico e
político no âmbito estadual e federal. [...] Têm poder para manipular os
aparelhos de repressão, garantindo pouco ou nenhuma perseguição ao
cangaço [...].” (BARROS, 2000, p. 184).
Os coiteiros são aqueles de classe mais baixa, como pequenos e
médios proprietários. Nas cidades, por exemplo, a pessoas forneciam
informações e notícias de deslocação das tropas.
Lampião mantinha fortes relações com autoridades e poderosos. Eles
tinham livre acesso a regiões como o norte da Bahia, no Sergipe, Alagoas e no
Ceará. Assim, como troca garantia a proteção desses lugares não atacando,
invadindo ou matando.

Por conta da amizade com o coronel João de Sá,


Lampião não temia nenhum tipo de importunação em regiões
como Raso da Catarina e Várzea da Ema, no norte da Bahia.
Em Alagoas, recebia proteção do delegado de mantinha da
Água Branca. E muito mais em Sergipe, onde era amigo do
chefe da família Carvalho (Antônio Caixeiro) e se tornou
também amigo intimo do governador Eronides de Carvalho,
que chegou a ponto de proibir a polícia do Estado de perturbar
o sossego do cangaceiro. (AGUIAR, 2012, p. 71).

O maior protetor de Lampião no Ceará foi o padre Cícero. Mas, o


bandido poupava o Estado também por um acordo de não agressão mútua que
tinha com as autoridades.
Em algumas cidades do Nordeste os cangaceiros eram recebidos com
alvoroço.

[...] quando o bando de Virgulino voltava de Mossoró,


em junho de 1927, o destacamento policial afastou-se da
cidade, e os chefes políticos mandaram matar uma rês¹ para
saciar-lhe a fome. [...] Em Triunfo (Pernambuco) a notícia da
passagem dos cabras era recebida com alvoroço. Afinal de
contas, as festas que eles promoviam e as despesas do seu
chefe para receber os amigos de jogatina representavam febril
movimento no comércio local. (AGUIAR, 2012, p.71).
30

2.3 A morte do rei dos cangaceiros

Após a Revolução de 1930, Getúlio Vargas queria a unificação do


Nordeste e o fim do cangaço. “Enquanto sob a República a repressão ao
cangaço estava ligada a um projeto político unificador com relação ao
Nordeste, constata-se a partir da instauração do regime de Vargas em 1930.”
(GRUNSPAN-JASMIN, 2006, p. 266).
Posteriormente a Intentona Comunista, em 1935, o cangaço deixa de ser
um elemento específico regional e se tornou um movimento subversivo apto a
colocar o Estado em perigo, assim como o comunismo.

Getúlio Vargas não se cansava de declarar


publicamente a solidariedade entre os Estados e ressaltar os
acordos de cooperação firmados entre todas as forças policiais
do Nordeste. Por sua vez, os políticos dessa região afirmavam
na imprensa, desde 1930, a importância dos laços que uniam
os Estados nordestinos, prestando contas ostensivamente dos
esforços de colaboração entre suas respectivas forças policiais
e anunciando regularmente o fim iminente de Lampião.
(GRUNSPAN-JASMIN, 2006, p. 266).

_____________
¹
Qualquer quadrúpede que, depois de abatido, é usado para a alimentação hum
ana

Em 1938, Lampião estava tranquilo com seus comparsas em seu


acampamento em Angico, lá foi vítima de uma emboscada do exército do
presidente e morreu, aos 41 anos. Como era de costume na época e no sertão,
Virgulino e seus comparsas, também mortos, foram mutilados e tiveram suas
cabeças expostas em praça pública como prova do falecimento do rei do
Sertão.
31

Figura 2 – Morte de Lampião e seu bando


Fonte: http://www.eunapolis.ifba.edu.br/

O cangaço tem sua importância por ter tomado tal proporção no


Nordeste durante décadas e por sua forte influência na cultura brasileira. Tem
uma presença marcante na cultura nordestina, como a literatura, teatro,
artesanato e muitas manifestações que mostram o cotidiano popular. O
artesanato é um forte elemento, em qualquer ponto turístico do nordeste, é
possível encontrar feiras livres que vendem utensílios típicos da época que
remontam o período que o banditismo social tomou conta da região.
Por ter sido tão temido e destacado, Lampião é como uma figura
representativa do cangaço é impossível pensar em cangaço sem a imagem de
Lampião.
32

Figura 3 – Lampião
Fonte: http://www.itapetingaagora.net
33

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1 Objetivos: Geral e Específico

O objetivo geral deste trabalho é desenvolver uma coleção de moda


inspirada na história e estética do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva,
conhecido como Lampião.
Como objetivos específicos, podemos enumerar um estudo e
conhecimento do Cangaço em seu teor social e estético; compreende-se de
fato que a arte compensava o banditismo e a violência na vida dos homens do
cangaço. E por fim, apresentar o produto como resultado da pesquisa. Para
tanto, desenvolver uma coleção de moda inspirada no cangaço.

3.2 Justificativa

O tema cangaço foi escolhido para esse projeto de pesquisa, por fazer
parte da cultura brasileira, que mesmo possuída de um acervo tão grande, este
foi a que mais se identificou com a autora deste trabalho.
De acordo com Roger Keesing (1974 apud LARAIA, 2009) a Cultura diz
respeito a sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos)
que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos
biológicos. Este modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de
organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e
organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante.
A cultura brasileira é diversa assim como o seu povo. O que pode ser
observado também nos estudos sobre a estética do cangaço, por meio dos
seus materiais, formas de decoração, acabamentos e aviamentos faz lembrar-
me de quem a autora é. De modo que sua família sempre lidou com o couro
para a confecção de cordas arreios e selas para cavalo, assim como a
confecção de tecidos artesanais, bordado, crochês e tricô. O trabalho artesanal
sempre esteve presente na vida da autora.
34

3.3 Metodologia

Para existir ciência é preciso existir um método, no qual se segue um


roteiro preciso. De acordo com Cervo; Bervian; Da Silva (2007, p. 27)
[...] é a ordem que se deve impor aos diferentes
processos necessários para atingir certo fim ou um resultado
desejado [...] entender-se por método o conjunto de processos
empregados na investigação e na demonstração da verdade.

Para o desenvolvimento deste trabalho foram feitas pesquisas


bibliográficas nas quais foram complementadas e/ou comprovadas pelas
citações utilizadas no decorrer do texto.
A pesquisa bibliográfica procura explicar determinado assunto, a partir
de referencias teóricas retiradas de livros, artigos, teses e dissertações.
É uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório.

3.4 Marca e público-alvo

logomarca Açucena
35

A marca da designer Caroline Renó é representada pelo nome Açucena,


um nome indígena escolhido por ser algo que assim como os conceitos da
marca, se apega às suas raízes, a sua origem e aquela que é 100% brasileira.
A marca foi criada em abril de 2014, na cidade de Passos – MG. Seus
produtos são confeccionados pensando no perfil do seu público-alvo, no qual
são de classe média do segmento masculino e feminino. As peças da marca
seguem um estilo conhecido popularmente na moda como yuppie e boho chic.
Os yuppies são aqueles que sabem como misturar o clássico e o despojado.
Glória Kalil (1998, p. 22) afirma que pessoas clássicas são aquelas que têm
boas referencias de moda. São pessoas imersas dentro da
contemporaneidade. E o estilo despojado é o básico.
Os yuppies surgiram nos anos 80 e sempre foram sinônimos de muito
charme. O termo “yuppie” vem da sigla YUP (Young Urban Professional), ou na
tradução literal, “Jovens Profissionais Urbanos”. Eram adolescentes recém
saídos das universidades e que estavam em busca do sucesso profissional nas
áreas escolhidas.
O estilo de se vestir dos yuppies era bem definido. Eles se vestiam com
marcas caras e de um jeito bem espalhafatoso, provavelmente para mostrar
seu status social.

Hoje, os jovens yuppies mudaram consideravelmente e


preferem mesclar roupas bem despojadas, como jeans e tênis,
com peças mais sofisticadas, como os blazers. Mas também
são vistos por aí com looks mais formais, misturados a
jaquetas esportivas (OXIQUE, 2012, online).

O Boho Chic é uma mistura de vários estilos, envolvendo o hippie,


country, étnico e rocker.

Foi na Londres sessentinha que a estética hippie dos


anos 1970 começou a ser desenvolvida, mais especificamente
no Soho onde o movimento tinha forte ligação com a filosofia e
grande desejo de liberdade. E ao mesmo tempo, Londres
estava sob grande influência do rock, ou seja, a fusão de
estilos que dá origem a outro novo. (BOTICA URBANA, 2013,
online).
36

As peças são desenvolvidas com o auxilio de uma pesquisa de desejos


de seu consumidor, além de serem únicas com modelagem simples, que
carregam a criatividade em trabalhos artesanais.
Assim como mostra o painel, o estilo de vida do consumidor da marca
refere-se a homens e mulheres que valorizam a vida e a natureza, porém não
deixar de aproveitar e usufruir da tecnologia. Apreciam a arte, arquitetura e
belas paisagens, sempre bem atualizados, trabalham e são independentes e
muito vaidosos e bem humorados.

Painel Lifestyle

A divulgação da marca e de seus produtos será feita através de um


desfile para o lançamento de cada coleção, via internet pelo blog desta, além
de redes sociais como o facebook e o instagram. Terá um aplicativo
denominado como android que irá avisar o consumidor todas as vezes que
lançar produtos novos. Também serão distribuídos outdoors em pontos
estratégicos onde exista maior movimentação do público alvo.
37

3.4.1 Mimo

Conjuntamente ao lançamento da marca, a própria lança um “mimo”


seguindo os paramentos da coleção. Este brinde é uma forma de reforçar a
fidelidade e o respeito de seus clientes.
O mimo da coleção é um porta-joias, pois assim como o cangaceiro, o
público alvo aprecia as joias e bijuterias como, por exemplo, adornos.
O porta-joias foi desenvolvido no formato de um lampião, fazendo assim
alusão ao rei do cangaço. E assim como o cangaceiro, ele é todo adornado,
aqui com medalhas de São Bento e fitas do Padre Cícero.

(imagem)

3.4.2 Identidade Visual da Marca

A identidade visual da marca é fundamental para o seu reconhecimento,


é o diferencial que agrega valor ao produto. É constituída de parte tangível que
seria tudo aquilo que pode ser tocado, como sacolas, tag e etiquetas; e parte
abstrata, a reputação da marca.
A Marca Açucena gerou um marketing visual de planejamento de
coleção voltado para as formas circulares com o desenho de arabescos o que
dá uma ideia de aproximação com a natureza, com as cores neutras em tons
38

de bege e marrom, aproxima-se da ideia do artesanal, uma das coisas em que


a marca valoriza.

Tag

Tag Açucena

A tag acompanha o formato arredondado da marca, é feito de papel


rígido e resistente, coberto por uma película de plástico fosca onde deixa
sobressair o nome Açucena.

Etiqueta Interna

Etiquetas
39

A etiqueta se encontra na parte interna da roupa. Conforme a figura n°


elas são de duas formas diferentes. A primeira é obrigatória , ela demonstra o
tamanho da peça, instruções de lavagem e conservação, a composição e o
reconhecimento da empresa com o registro do CNPJ.

Sacola

Sacola

A sacola da marca é feita de um papel resistente na cor branca com o


logo em um tamanho grande e assim como o tag, a sacola é revestida com
uma película de plástico fosco com apenas o nome e os arabescos em
evidencia.
40

Embalagens para presentes

Embalagem para presente

Para embalagens para presente, a marca Açucena oferece este pacote


nos tamanhos pequeno e grande, feito de um papelão fino na cor branca,
coberto por uma película de plástico.

Cartão de Visita

Cartão de Visita Frente

Cartão de Visita Verso

A Marca também oferece um cartão de visitas, para facilitar o contato


com os atuais e futuros clientes. O cartão mostra a logo na frente e no verso
quem também conta com o endereço do e-mail e o telefone da proprietária.
41

3.5 Ambiência

Painel de ambiência é o nome que se dá à reunião de imagens que


represente o tema da pesquisa.

Os painéis de inspiração, temáticos e conceituais são


essencialmente uma destilação da pesquisa. De certo modo,
são a versão para “apresentação” do book de pesquisa. Eles
são compostos de colagens e geralmente são montados em
um quadro, o que os torna mais duráveis (...). (SORGER;
UDALE, 2009. p. 26).

A ambiência contem um fundo azul e preto com uma lua e bandeirinhas


de festa junina representando o nordeste, imagens de pessoas representando
a população nordestina que era aterrorizada pelos cangaceiros; e a lã, que
representa a arte do artesanato e as areias do deserto do sertão.

(imagem painel)

3.6 Cartela de Cores

As cores em uma coleção de moda tem uma importância fundamental,


pois é nela que se começa a perceber a estética visual e sua harmonia com o
tema.
A cor talvez seja a força mais poderosa na comunicação
da moda. Alguns segundos após um encontro com você, os
outros vão reagir às “mensagens de cor” emitidas por sua
roupa. A cor pode influenciar os hormônios, a pressão
sanguínea e a temperatura do corpo de quem a vê (...).
(FISCHER-MIRKIN, 2001, p. 27).

Foram escolhidos os tons terrosos que colorem o sertão e o agreste,


palco do Cangaço; assim como suas roupas para se camuflarem neste
ambiente.
42

Lampião determinava proibido o uso da cor branca, apesar disso,


Corisco ia contra, à talvez, única restrição do chefe. “Corisco sacrificava à
vaidade a recomendação do chefe de que se evitasse o uso do branco no traje.
Como este costumava dizer, “é dar vantagem demais ao macaco”.” (MELLO,
2012, p.71).
Além dos tons terrosos, também foram escolhidos cores mais vivas
presentes nos inúmeros bordados e nos acessórios como bornais e cobertas,
principalmente nos anos em que Lampião reinou no sertão. “Era como se
naquele final dos anos 20 da era lâmpionica, os mais esquivos habitantes do
cinzento se levantassem contra o despotismo da ausência de cor na caatinga.”
(MELLO, 2012, p.142).
Como símbolo maior do cangaço a cartela de cores é inspirada no
chapéu do Rei do Cangaço, pois contem quase todas as cores escolhidas para
compor a cartela. Além de demonstrar a riqueza dos quase dois contos de réis
em moedas encrustadas nas correias do chapéu, a religião e a vaidade.

O chapéu é o ponto de concentração dos


acrescentamentos simbólicos que caracteriza o traje do
cangaceiro. A fachada mais ostensiva de uma indumentária
ostensiva por inteiro. [...] Como expressão de arte, o chapéu
tem vida própria, podendo ser lido, em seus aspectos estéticos
e místicos, com ou sem o geral da vestimenta. (MELLO, 2012,
p.73).

Chapéu de Lampião, 1934.


43

Fonte: MELLO, 2012, p. 79.

O símbolo em que as cores estão inseridas é na “flor-de-lis” ou como os


cangaceiros preferiam chama-la, “palma”. Também é o perfume preferido de
Lampião.

A flos-de-lis é o lírio. [...] Ao chama-la de palma, o


sertanejo pode estar-lhe acrescentando duas evocações
poderosas: a de vitória e a de imortalidade. Coincidência
interessante é ter sido o perfume de preferencia de Lampião
nos anos 30, o Fleurs d’Amour, da Maison Roger & Galler, de
Paris.

3.6.1 Cores

Abaixo seguem as cores que compuseram a coleção.

Branco Corisco e Preto Meia Noite

O branco e o preto são cores básicas em uma coleção.


Como dito anteriormente na página (n°), o chefe Lampião proibia o uso
de branco no traje, pois a cor se destacava mais no sertão de cores secas; e
mesmo censurado, Corisco usava a cor com audácia sem se importar. Já o
preto refere-se a morte tida como algo comum entre os integrantes dos bandos,
que não bastavam ser bandidos, também eram temerosos assassinos.

Marrons Ventânia
44

Os Marrons são divididos em três tonalidades diferentes que mostram o


clima seco e árido do sertão, a terra e a areia. Além de ser a cor predominante
do couro utilizado pelos bandidos em seu traje, para que, durante a maior parte
do período em que existiu o cangaço, se camuflassem dentro do sertão.
O marrom junto com o metal torna-se elegante, um desejo de ser nobre
dos cangaceiros, que demonstravam isso na ostentação de sua vestimenta. “O
marrom é tido como uma cor melancólica, triste e insipida, mas pode também
ter facetas glamorosas quando manifestado em metais como o cobre.” (WILLS,
1997, p.39).

Crus Zebelê

Os tons de cru são usados para representar a vida nômade do


cangaceiro. A forma com que acampavam e desfrutavam da natureza a seu
modo, de como usufruíam dela. A forma em que conseguiam viver
harmoniosamente com ela. Como se adaptam ao clima e as condições de vida.
45

Vermelho Bem-te-vi

O vermelho é cor do sangue, da violência a crueldade e as torturas


cometidas pelos bandidos do sertão. O cangaceiro não tinha piedade de suas
vitimas, muito menos dó de qualquer um que entrasse eu seu caminho.

As praticas do açoite, de castração, de amputações, de


“sangramentos” e de marcar em ferro em brasas as pessoas,
como animais, muito comuns na época colonial e, até certo
ponto, também no período monárquico, sobreviveram no
período lampiônico. (PERICÁS, 2010, p.103).

Verdes Cascavél

O verde é uma cor que tranquiliza e equilibra. “O verde é a cor do


equilíbrio, capaz de estabilizar tanto a mente quanto as emoções. [...] É uma
cor maravilhosa para a desintoxicação.” (WILLS, 1997, p. 41)
46

A cor denota os momentos de calmaria dos bandidos. Uma


representação pra isso é as riqueza de seu traje.

Não nos parece absurdo pensar na costura e no


bordado como meios intuitivos de higiene mental a serviço do
equilíbrio do grupo combatente no cangaço, para além do
sentido utilitário da ocupação. (MELLO, 2012, p. 76).

Azuis Macaco

A cor azul macaco representa o fim do cangaço, quando finalmente os


policiais conseguiram deter os cangaceiros.
Durante toda caminhada dos bandoleiros pelo sertão nordestino, muitos
policiais os perseguiram, mortos, outros fugiam, eram subornados ou
impedidos pelos coronéis de determinada cidade, de ataca-los.

Laranja Pinga-Fogo

A cor laranja é alegre, representa a vitalidade, o sucesso e tem ligações


com a criatividade.
47

Na coleção ela representa a alegria dos bandidos em suas noites de


descanso, onde faziam festas, com muito xanxado e dança. “A partir daí,
organizou-se uma festa [...]. Virgulino exigia que dançassem colados uns aos
outros. Para ele a dança moderna era ligada” (PERICÁS, 2010, p.46).

Dourado Guerreiro e Prata Mergulhão

As cores dourado Guerreiro e Prata Mergulhão estão associadas ao


poder dor cangaceiros no sertão. Não só pelo dinheiro, mas por sua influencia
sob a população, à policia e aos coronéis.

Amarelo Carrapicho

A cor amarela conota a espiritualidade, a luz, o lado religioso dos


bandidos. “O amarelo é a cor que representa a luz e é com frequência tida
48

como o símbolo da iluminação. Essa é uma das razões por que os monges
usam mantos amarelos.” (WILLS, 1997, p. 40).
Os cangaceiros eram extremamente religiosos.
“Lampião levava consigo, em saquinhos encardidos atados ao pescoço,
inseparáveis, salvo nos momentos de amor, ao menos oito orações protetoras
diferentes, impressas ou manuscritas.” (MELLO, 2012, p.52)

Lilás Vereda

O lilás Vereda tem uma carga de mistério e espiritual. Nessa coleção ele
conota o cangaceiro supersticioso, cheio de cuidados e que através disso
alguns bandos conseguiam se safar de muitas armadilhas.
“Não há noticias de que Lampião desse valor maior aos sonhos. [...]
rezas-fortes, as figas, os bentinhos, os patuás. O cangaceiro valia-se de tudo.”
(MELLO, 2012, p.52)
“São nulas as referencias quanto a que tenha caído em tocaias, fato que
intriga até hoje o serve de fundamento para a crença, arraigada no sertão do
período, de que adivinhava. De que capitava avisos misteriosos.” (MELLO,
2012, p.53).

3.6.2 Pantone
49

Pantone é o nome dado ao sistema numérico que denomina as diversas


cores existentes, mantendo assim uma regularidade padrão na produção
destas.
O sistema Pantone de codificação de cores é adotado
mundialmente e corresponde a uma codificação alfanumérica
para as cores em tecido ou em papel. O sistema possui
catálogos de cores distintos, conforme a sua aplicação:
impressa, digital ou sobre tecidos. (TREPTOW, 2013, p.110)

Segue abaixo os pantones utilizados nessa coleção.

3.6.3 Harmonia de Cores


50

Na coleção tudo deve ter uma unidade visual e através da harmonia das
cores podemos enxerga-la, o que podem também causar diferentes sensações
em quem as vê.

Quando alguém vem em nossa direção, a primeira coisa


que vemos é a cor de suas roupas; quanto mais se aproxima,
mais espaço essa cor ocupa em nosso campo visual e maior é
o efeito sobre nosso sistema nervoso. Cores berrantes e
discordantes, assim como ruídos ou vozes altas, podem
realmente ferir nossos olhos ou nos provocar dor de cabeça;
cores suaves e harmoniosas, assim como a música e vozes,
nos fazem vibrar ou nos acalmam (...). (LURIE, 1997. p.195).

Na harmonia de cores desta coleção se destacam as combinações


abaixo:

Combinações Bicolores

Combinações Tricolores

Combinações Multicolores
51

3.7 Seleção de Matérias

As matérias são os insumos usados em todos os itens de uma coleção


de moda. Como por exemplo, os tecidos que irão compor a coleção.
A cartela de tecidos visa a demonstrar os materiais a
serem utilizados na coleção. (...) Para uma coleção equilibrada
em tecidos e cores, recomenda-se que o designer desenvolva
uma tabela em que cruze as informações, para avaliar se todas
as cores propostas na cartela de cores estão sendo utilizadas
nos tecidos escolhidos. (TREPTOW, 2013 p.121).

Os tecidos foram escolhidos a partir do tema e do público alvo e a


estação.
As escolhas de tecidos muitas vezes são ditadas pelo
tema e pela estação. O seu tema pode sugerir um sentido ou
paleta de cor que depois será interpretada no tecido. A estação
para a qual está desenhando define os pesos, e, até certo
ponto, as texturas. (SORGER; UDALE, 2009, p. 44).

3.7.1 Tecidos e Insumos

Para o desenvolvimento dessa coleção foram utilizados os seguintes


tecidos e insumos:

Couro Ecológico
52

O uniforme cangaceiro é uma evolução do traje do vaqueiro, que por sua


vez era inteiro de couro. O couro irá mostrar a evidencia do cangaço na
coleção.
Em algumas regiões, como em Conquista, os vaqueiros
não usavam roupa de couro, enquanto em outras, justamente
pela dificuldade pela vegetação espinhosa e mata de galhos
finos, o uniforme completo de encouramento (quase uma
armadura dos pés a cabeça), era uma exigência, uma
necessidade da profissão. (PERICÁS, 2010 p. 22).

Como o público alvo são pessoas que valorizam antes de tudo a vida e
a natureza, foi utilizado o couro sintético.

Imagem (n°): Couro sintético

Linhos
O linho é um tecido nobre e por esse motivo ele mostra o coronealismo
dentro do cangaço. Alguns cangaceiros mostram seu desejo de ser como eles
através do modo em que se vestiam.
“Quem olhar a foto de Sinhô Pereira e Luís Padre, de 1916, verá dois
homens distintos de paletó, camisa social e gravata, com cabelos cortados de
modo impecável e barba feita, em pose de senhores rurais.” (PERICÁS, 2010,
p. 52).
53

Imagem (n°): Linho, composição (n°)

Imagem (n°): Linho, composição (n°)

Imagem (n°): Cambraia de Linho


54

A cambraia de linho é um tecido feito normalmente para trabalhos de


renda e bordado.

Brim
O brim comumente utilizado na roupa feminina dentro do cangaço,
também era matéria prima dos bornais, pois é um tecido forte.
“Tecido forte de algodão, linho ou sintético. Há dois tipos: o brim cru,
grosso, que pode ser empregado na decoração [...], e o brim mais leve, flexível,
de cores intensas.” (FAJARDO, MATHIAS, AUTRAN, 2004, p. 58).
O tipo de brim utilizado é o leve, para dar um ar mais artesanal à
coleção.

Imagem (n°): Brim

Malha PP

A malha PP é comumente usada para a confecção de camisetas. É um tecido


mais acessível que os outros, assim como a peça, onde quase todos,
principalmente os homens, usam.
(citação sobre malha)
55

Seda Acetinada

Também denominada de Raiom, a seda artificial é feita de celulose, é


um tecido de ótimo caimento e leveza. “Na fabricação do acetato, entre outros
produtos, é usado o ácido acético daí se o nome. Trata-se de um tecido macio,
sedoso, usado na confecção de lingeries e roupas de verão.” (PEZZOLO, 2007,
p.111).
A seda era uma das matérias prima da Jabiraca, o tecido que os
cangaceiros utilizavam no pescoço. Uma peça que se destacava no traje pela
sua cor forte.

Visíveis por todos os ângulos, os bornais respondiam


por mais de dois terços desse porre de cores, o mais ficando
por conta do lenço no pescoço, a jabiraca, do jargão, cerca de
80 x 80 cm, em bramante, seda ou tafetá. (MELLO, 2012,
p.142).
56

Imagem (n°): Seda Acetinada

Cetim

O Cetim foi usado como forro. Este é um material resultante de uma seda
química com a trama mais fechada. “A principio era um tecido brilhante de seda
com trama bem fechada. No século XX, raiom e outras fibras sintéticas
tomaram o lugar da seda.” (CALLAN, 2007, p. 79).

Imagem (n°): Cetim

Tricoline
57

O tricoline foi utilizado para fazer acabamento.

3.7.2 Bordado

O bordado é um tipo de beneficiamento têxtil que torna as peças da


coleção exclusivas.
A indumentária e os acessórios em geral do Cangaço eram
confeccionadas e bordadas pelos próprios cangaceiros. “vê o chefe riscar no
papel, ir para a máquina e costurar e bordar jogo de bornais que não ficavam a
dever o capricho dos que eram de uso do próprio alfaiate da circunstancia.”
(MELLO, 2012, p.74).
58

Lampião debruçado sob a máquina de costura


Fonte: MELLO, 2012, p. 83

O tipo de bordados utilizados foi o vagonite, parecido com o ponto cruz.

O bordado utilizando o ponto vagonite é um dos mais fáceis, pois na


maioria das vezes os desenhos são geométricos, e quando você combina
diferentes cores de linhas, o bordado fica melhor. Seu avesso não aparece
uma só linha. 

3.7.3 Aviamentos
59

Os aviamentos são partes fundamentais na construção de uma peça,


pois são eles que dão forma, estética e funcionalidade a ela, valorizando-a
assim como a ergonomia.

Aviamentos são os materiais necessários à conclusão


de uma peça de roupa no que diz respeito à funcionalidade
e/ou adorno desta peça. A  indústria de aviamentos  está no
final do elo que une a cadeia têxtil e tem papel fundamental na
confecção do vestuário. (NEIVA, 2012, p)

Fitas do Padre Cícero

As fitas do padre Cicero é uma das lembranças comercializadas para os


turistas que visitam a cidade de Juazeiro no Ceará.
As fitas simbolizam o nordeste e a fidelidade de Lampião com o Padre
Cicero.
Virgulino, finalmente, tomou a decisão. Mandou seus
homens juntarem os trecos e se porem em marcha
imediatamente. Iriam todos para Juazeiro. Estavam sendo
convocados pelo único homem capaz de lhes ditar ordens e
conselhos: o padre Cícero Romão Batista. (NETO, 2009, p.
285).

Imagem (n°): Fita do Padre Cícero

Medalhas de São Bento


60

As medalhas de São Bento carregam a religiosidade dos cangaceiros na


coleção e para imitar as milhares de moedas usadas como adorno nos
chapéus, alpercatas, roupas, ou seja, todo e qualquer adereço cangaceiro.

Imagem (n°): Medalha de São Bento

Linhas de Crochê

Imagem n° e n°: linhas de crochê

Elástico 3 cm
61

Imagem n°: elástico

Cordão encerado trançado 2 cm de largura

Imagem n°: Cordão encerado

Viés
62

Imagem n°: Viés

Botões de Madeira de numero 40 e numero 20

Botões de madeira numero n e numero n

Ilhós
63

Imagem n°: ilhoses

3.8 Maquetes têxteis

Na coleção de moda o criador tem condições de produzir novas


propostas têxteis, que podem ser colocadas ou não em suas criações. São
chamadas de maquetes têxteis. “Interferências, modificações e sobreposições
em uma superfície preparada para receber informações visuais são ações que
podem resultar em um design de superfície (LEVINBOOK apud PIRES, 2008,
p. 372)”.
Para esta coleção de moda, foram desenvolvidas quatro maquetes têxteis,
apresentadas a seguir.

3.8.1 Maquete 1: Crochê Vereda


64

O crochê é uma forma de trançar fios onde podem ser feitos desenhos
através do modo com que se trança.
“O crochê é conhecido como “ponto feito no ar”.”. (GILDA, 2002 p.51).
O desenho feito é inspirado nos motivos florais dos bordados dos
bornais.

3.8.2 Maquete 2: Padim Cícero


65

Esta maquete é feita de fitas do Padre Cícero costuradas de uma forma


que fiquem quase soltas, esta foi inspirada nas franjas presente na lateral do
chapéu que serviam para reparos rápidos. “Os cabelos de couro, pendentes
nas bicas laterais dos chapéus de abas grandes, empregam-se em reparos
rápidos, feitos em viagem.” (MELLO,2012, 68). Assim como o padre Cícero
“reparava” Lampião, dando-lhe sábios concelhos e quase nunca, ordens.

3.8.3 Maquete 3 e 4: Alfaiate de Couro


66

A terceira e quarta maquetes são inspiradas no talento de Virgulino com


a costura. Lampião antes de ser cangaceiro, foi vaqueiro e fabricava acessórios
para cavalo. “O moço Virgulino gostava de trabalhar com sola: consertava
arreios, fabricava arreios e rédeas.” (AGUIAR, 2012, 67). Dom e passatempo
que o acompanhou mesmo dentro do banditismo.
A primeira maquete Alfaiate de Couro é feita de couro remendado e
pespontado e a segunda maquete é feita de couro ornamentada de ilhoses
dourados número 15.

3.9 Estamparia

Outra opção para o desenvolvimento de uma coleção de moda é a


estamparia, mais um tipo de beneficiamento. É um dos processos de design de
superfície, assim como pode ser mais um produto de comercialização dentro
da coleção.
“A finalidade da verdadeira estamparia é a de tornar o tecido mais
atraente e chamar a atenção de um possível usuário e, claro, a de renovar a
moda permanentemente e conquistar novas posições no mercado consumidor.”
(CHATAIGNIER, 2006, p. 81).
As estampas podem ser localizadas ou corrida, “A estampa pode correr
de duas formas: através de tecidos estampados (estampa corrida) ou de
motivos aplicados sobre a peça em lugares específicos (estamparia
localizada).” (TREPTOW, 2013, p.146).
Para esta coleção foram desenvolvidas 3 estampas sendo uma delas
localizada.

3.9.1 Estampa 1 - O Rei do Sertão


67

Imagem n°: o Rei do Sertão e variação.

A figura traz o retrato de lampião, com formas contrastadas desenhadas


a mão pela designer desta coleção. O desenho foi tirado da seguinte fotografia.

Fotografia n“Lampião e Maria Bonita em cena do filme de Benjamin Abrahão,


1936.”(MELLO, 2012, p.138, 139)

A estampa é formada por apenas o rosto de Lampião, o chapéu do


cangaceiro, vem em forma de aplicação, feito com fitas, couro e medalhas.
68

3.9.2 Estampa 2 e 3

As duas estampas foram inspiradas nos bordados utilizados nos bornais.

Imagem n°: bordado

A primeira estampa, nomeada “Beija-Flor” é uma estampa localizada e é


quase uma réplica dos desenhos bordados. Enquanto a segunda estampa,
com raport, nomeada “Catingueira” não contém as flores nem cruzes.

Estampa Beija-Flor
69

Imagem n°: Estampa “Beija-Flor” e variação.

Estampa Catingueira
70

Imagem n°: estampa Catingueira e variação.

Os símbolos em destaque nas estampas são as flores, as cruzes, o


ziguezague e o oito contínuo na horizontal.
As flores simbolizam o hexágono das estrelas de oito pontas que
significa sorte e acolhida.

No cangaço, ao hexágono das estrelas de couro dos


chapéus, não raro arredondadas [...] correspondia o floral dos
bordados das bolsas em hexâmetro. [...] a despeito de possuir
tradição universal de sorte e acolhida na imaginária do
vaqueiro. (MELLO, 2012, p. 50).

As cruzes representam a cruz de malta que significa terra.


“A cruz de malta [...] representa a terra. Totalizante, nela podem ser
vislumbrados todos os símbolos [...] que servem para orientação, uma vez que
mira os quatro pontos cardeais.” (MELLO, 2012, p. 51).
Enquanto ao ziguezague o ao oito na horizontal serviam apenas para
adorno sem nenhum significado. “Voltando ao estudo, restaria referir, mais pela
beleza das soluções que proporcionavam a frisos e debruns, os bordados em
ziguezague e em oito continuo deitado.” (MELLO, 2012, p. 55).
71

3.10 Estudo de Formas

O estudo de formas é a etapa do projeto onde o designer faz um estudo


sobre as formas que irão compor a sua coleção, são pontos estéticos
importantes do tema, que serão utilizados nas criações dos produtos.

É uma interpretação pessoal do mundo e pode assumir


diferentes formas (...). Você pode praticar seus estudos de
figuras desenhando as pessoas que encontra quando está e
um parque (...). Idealmente o caderno de esboços mostra qual
foi a trajetória investigativa do tema escolhido. (MORRIS, 2006,
p.16).

Este é o momento em que a visão do dessigner pode ser mostrada por


meio das formas, a partir desse estudo podem também serem definidos os
tecidos, modelagem e aviamentos.
O estudo de formas do tema Cangaço foi feito sob a indumentária deste,
principalmente os acessórios que estão incluídos armas, cobertores, bolsas,
objetos de cozinha; praticamente todo o equipamento que carregavam consigo,
pois eram nômades.
72
73

3.11 Planejamento e Desenvolvimento de Coleção

Para o desenvolvimento de uma coleção de, é preciso o planejamento e


criação de um cronograma de elaboração. Bem como, a confecção e uma
tabela de mix de produtos para que os prazos possam ser cumpridos sem a
existência de imprevistos, envolvendo assim, todos os setores da empresa.

A elaboração de um cronograma deve ser dividida em


fases, fazendo-se a previsão do tempo necessário para se
passar de uma fase a outra. Algumas fases podem ser
executadas simultaneamente, pelos membros da equipe,
enquanto outras dependem da conclusão das anteriores.
(TREPTOW apud LAKATOS, 2013 p.91).

Neste cronograma, definimos as datas para cada atividade prevista, para


que a coleção se desenvolva e seja concluída até o prazo final estipulado. Este
fora em média 2 (dois) meses para que cada grupo de atividades fossem
desenvolvidos, como mostra a tabela a seguir:

3.11.1 Tabela 1: Cronograma de planejamento e atividades exigidas

ATIVIDADES MESES
Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov
Dez Fev Abr Jun Ago Out Dez
Definição do tema. x
Referencial teórico. x x
Justificativa, objetivos, X
metodologia.
Marca e publico alvo, identidade
visual da marca, meios de
comunicação direcionados ao X

publico alvo.
Publico alvo, cartela de cores,
74

seleção de materiais, maquetes


têxteis, estamparia, estudo de x X
formas.
Croquis, definição dos modelos,
ficha técnica. X
Desenvolvimento do produto
(confecção) X x
Calçados e Acessórios, joias e
bijuterias, beauty x
Fotografia de moda x
Paineis Imagéticos X x
Entrega do TCC e banca de defesa
final. x x

3.11.2 Produto

O produto é algo que deve instigar o consumidor, fazer com que ele
sinta necessidade e prazer que aquilo a pertença.
Os produtos trabalhados pela marca são roupas leves e fluidas, alguns
com modelagens simples e outras pouco complexas, no qual são atrativas
visualmente. Assim como na indumentária do Cangaço, a riqueza esta nos
bordados, estamparia, maquetes têxteis e acessórios.

3.11.2.1 Mix da Coleção

O mix de uma coleção visa classificar, distribuir e contar a quantidade de


peças que a compõe. A empresa Açucena trabalha com um mix de produto
com peças comerciais e conceituais, separados entre a linha feminina e
75

masculina. Com o objetivo de trazer satisfação e conforto aos clientes, as


peças são originais e autenticas.

Tabela 2: Mix de produtos – Linha feminina

MODELOS VARIEDADES TAMANHO


VESTIDO 9 P, M, G
MACACÃO 4 P,M
BLUSA 11 PP, P, M, G, GG
JAQUETA 1 P, M, G
BLAZER 2 P, M, G
SOBRETUDO 1 P, M, G
CALÇA 7 P, M, G
SHORT 1 P, M, G
SAIA 4 P, M, G, GG
TOTAL 40 PEÇAS

Tabela 3: Mix de produtos – Linha masculina

MODELO VARIEDADE TAMANHO


MACACÃO 1 P, M
BLUSA 11 PP, P, M, G, GG
CAMISETA 8 PP, P, M, G, GG
JAQUETA 3 P, M, G
BLAZER 6 P, M, G
COLETE 2 P, M
SOBRETUDO 3 P, M, G
CALÇA 22 P, M, G, GG
BERMUDA 2 P, M, G, GG
76

TOTAL 58 PEÇAS

3.12 Croquis

Croquis é a representação artística das peças na qual existem possíveis


chances de serem confeccionadas. Estes podem ser desenhos técnicos ou
com expressões artísticas; ou então um desenho expressivo onde a identidade
do designer se encontra nele.

O croqui apresenta uma grande vantagem: a capacidade de


visualizar as combinações entre as peças da coleção. (...).
Através dele é que o designer transmite a relação entre as
peças isoladas e o tema da coleção. (TREPTOW, 2013 p. 137).

Os croquis desta coleção foram desenvolvidos a partir dos estudo feitos


das figuras e imagens do figurino do cangaceiro, seu modo de vida, além de
toda pesquisa desenvolvida sobre sua história.
Entre os cinquenta croquis elaborados e desenhados pelo designer,
quatro foram escolhidos para serem apresentados no tridimensional.

Os estilistas produzem uma série de ideias conectadas,


que serão realizadas na coleção de roupas. Embora cada
roupa seja um modelo individual, todas têm elementos de
ligação como cores, tecidos, formas, estilos etc., de modo que,
ao serem vistas juntas, formam uma coleção coesa. (MORRIS,
2006 p. 124).

Look 1
77
78

Este look foi inspirado nos imensos lenços que os cangaceiros usavam
amarrados no pescoço. A blusa em si, dá a impressão de que é a sobra do
lenço amarrado no pescoço, transformada em blusa graças ao cinto de couro e
tachas na cintura.
A modelagem da calça pantalona foi escolhida pensando no público
alvo, feita de linho e bordada no cós com desenhos normalmente feitos em
bornais, bolsas onde o cangaceiro levava praticamente sua vida; e na barra
3cm de crochê a fazem.
79

Look 2
80

O segundo look é feminino e foi inspirado no traje primitivo do


cangaceiro, o figurino do vaqueiro.

Vaqueiro do Sertão de Pernambuco, Charles Landseer, 1826

A jaqueta feita de couro a parte das costas feita de crochê e um longo vestido
evasê de cambraia de linho também inspirado nos lenços usado no pescoço.
81

Look 3

Este look é do segmento masculino e traz a maquete têxtil O Alfaiate de


Couro no blazer onde por baixo há uma camiseta com a estampa localizada O
Rei do Sertão. O look foi inspirado em Lampião.
82

Look 4

O último look também do segmento masculino contém um blazer e uma


calça feitos de brim na com verde Cascavel escuro. Sua modelagem e tecido
foram inspirados nas alças dos bornais, chamadas de chincha grande. “O
83

bornal era confeccionado em tecido resistente, alças escapulares – a que


davam o nome de chincha grande – com cerca de 10cm de largura.” (MELLO,
2012, p. 143).

3.13 Ficha Técnica

Ficha técnica é um documento onde estão as anotações provenientes dos


produtos. Nela terão todas as informações sobre o material utilizado, contato
dos representantes deste, a confecção, anotações sobre o desenvolvimento do
produto, modelagem entre outros.

Esse documento tem como objetivo informar os dados


peculiares do produto, que são o desenho técnico e as
informações sobre a matéria-prima e o modo de produção. A
ficha técnica deve conter toda a memória descritiva do produto.
(LEITE, VELLOSO, 2004, p.147).

Look 1

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: Fornecedor: Sul Malhas – Itajubá/MG


seda

Aviamentos: Linha: linha norma de costura Entretela: não


viés

Tecido: seda Cor: azul macaco claro e Beneficiamento: não


escuro

Laranja pinga-fogo

Amarelo carrapicho
84

Desenho técnico

Frente Costa

Descrição da peça: Blusa comprida solta, entrelaçada no pescoço. Com


recorte na cintura.

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: linho Fornecedor: Sul Malhas – Itajubá/MG

Aviamentos: zíper Linha: linha normal de Entretela: não


invisível 20 cm costura, linha de crochê
fina.

Tecido: Linho Cor: cru zebelê Beneficiamento:

Crochê na barra
85

Desenho técnico

Frente Costa

Descrição da peça: Calça pantalona de zíper na lateral direita, tecido evasê,


com duas pregas atrás e na frente rente ao cós, com barra de crochê a qual
boca tem 1 m de largura.

Look 2

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: linho Fornecedor: Sul Malhas – Itajubá/MG

Aviamentos: Linha: linha normal de Entretela: não


Cordão encerado costura.

trançado 2 cm de largura
Tecido: Cambraia de Cor: cru zebele Beneficiamento: não
86

linho

Desenho técnico

Frente Costa

Descrição da peça: vestido longo solto evasê, trançado no pescoço, com


decote nas costas e recorte no quadril onde é colocada a corda encerada.

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: couro Fornecedor: Sul Malhas – Itajubá/MG

Arte & Couros - Passos/MG


87

Aviamentos: Linha: linha normal de Entretela: não


costura e linha de crochê
grossa e fina

Tecido: Couro ecológico Cor: marrom ventania Beneficiamento:


escuro e claro
Étamine Bordado
Vermelho bem te vi
Tricoline Crochê
Verde cascavel claro
Azul macaco escuro
Amarelo carrapicho
Dourado guerreiro

Desenho técnico

Frente Costa
88

Descrição da peça: Jaqueta de couro com recortes pespontados na parte da


frente. Étamine bordado nos punhos e gola. A parte das costas feita de crochê
com tiras da linha com 1,45 m de comprimento.

Look 3

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: Fornecedor: Arte & Couro – Passos/MG


couro

Aviamentos: Linha: linha normal de costura Entretela: não


botões de
madeira n° 40

Tecido: couro Cor: marrom ventania Beneficiamento: não


ecológico
Dourado guerreiro
Cetim
89

Desenho técnico

Frente Costa

Descrição da peça: Blaizer de pet work de couro pespontado com dois botões
de madeira.

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: malha Fornecedor: Sul Malhas – Itajubá/MG

Aviamentos: Linha: linha normal de Entretela: não


medalhas de são costura
bento

Fitas do Padre Cícero

Tecido: Malha pp Cor: Branco corisco Beneficiamento:

Couro Preto meia noite Estampa localizada

Linho Marrom Ventania escuro


90

Desenho técnico

Frente Costas

Descrição da peça: Camiseta com estampa localizada no centro, na frente.


Acabamento na gola e mangas de linho.

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: linho Fornecedor: Sul Malhas – Itajubá/MG

Aviamentos: Elástico Linha: linha normal de Entretela: não


costura
Botões de madeira n°
20

Tecido: linho Cor: cru zebelê Beneficiamento: não


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Desenho técnico

Frente Costas

Descrição da peça: Calça larga com elástico no cós. Nervura no cós umitando
um zíper, e na lateral da perna, esta com 4 botões em cada. Barra de 4 cm.

Coleção: outono inverno Ref:

Estilista: Caroline Renó Tam: P

Matérias

Matéria prima: couro Fornecedor: Arte & Couros – Passos/MG

Aviamentos: botões Linha: linha comum de Entretela: não


de pressão n° 20 costura

Tecido: Couro Cor: marrom ventania Beneficiamento: bordado


escuro
Étamine
92

Desenho técnico

Frente Costa

Descrição da peça: Caneleiras de couro bordadas na frente, com 8 botões de


pressão dourado envelhecido.

Look 4

3.14 Croquis

A seguir podem-se conferir os croquis de toda coleção, com exceção


daqueles citados no item 3.12. Com um total de 50 looks desenvolvidos, 25 são
femininos e 25 masculinos.
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3.14.1 Croquis Femininos


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3.14.1 Croquis Masculinos


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3.15 Calçados e Acessórios

Os acessórios são peças fundamentais que ajudam a compor o look.


Envolvidos de paixão e fetiche, ajudam a compor o estilo de quem o usa.

[...] os acessórios estão envoltos por fetiche e paixão.


Eles diferenciam as pessoas que os usam, confirmando o seu
estilo pessoal – não importa qual seja ele -, tanto no universo
feminino como no masculino, dependendo da liberdade de
expressão de cada um. (AGUIAR, 2010, p. 19).

Já os sapatos são um impulso para deixar o passado de lado e seguir


rumo ao futuro. Ele instiga a mudança. “Todas as meninas crescem a acreditar
no mito da Gata Borralheira de que os sapatos podem transformar as suas
vidas de uma forma mágica.” (O’KEEFFE, 1996 p.12).
Os acessórios desenvolvidos são duas bolsas feitas com a maquete
Padim Cícero e um cinto com medalhas de São Bento.
A primeira bolsa é uma bolsa clutch de metal coberta com a maquete
têxtil, onde em seu fecho há um anél onde pode-se encaixar o dedo.

(imagem bolsa clucth)

A segunda é uma bolsa envelope feita totalmente de couro o qual


apenas a parte da frente é recoberta pela maquete.

(bolsa envelope)

O cinto é feito de couro, com 07 cm de largura. Em comparação as


outras peças de toda coleção, o cinto vem sendo o mais simples, ornamentado
apenas com ilhoses que auxiliam o feixe da fivela.

(imagem)

Os sapatos são uma bota feminina, uma alpercata masculina e um


Currulepe, uma espécie de chinelo, todos feitos de couro.
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A bota feminina é um símbolo de liberdade e emancipação da mulher.


“[...] ao permitir que as mulheres uma maior mobilidade e liberdade de
movimento fora de casa” (O’KEEFFE, 1996 p.300).
Na coleção, a bota possui um salto de 7 cm, cano médio e sua biqueira
tem uma leve inclinação pra cima. Na parte de trás, é decorada com tiras de
couro e medalhas de São Bento. Uma faixa de couro com ilhoses nas laterais,
contorna do contra-forte até a parte de cima do cano na frente. Em seu rosto há
um recorte nas laterais.
124

A alpercata masculina é quase uma imitação de uma das alpercatas


utilizadas por Lampião. É feita, além do couro, sola e pregos. O enfeite fica por
conta do pesponto, do couro em verniz e do pontilhado de furos minúsculos.
Dois rabichos servem como fecho.
125

A estrutura protege totalmente os pés com exceção ao calcanhar.

(imagem alpercata)

O Currulepe foi um calçado típico do cangaceiro sedentário, impróprio


para longas caminhas. “[...] delimitou o uso àquele cangaceiro
momentaneamente sedentarizado à volta do centro urbano propício a presença
de cabras rixosos numa dada circunstância.” (MELLO, 2012, p.98).
Este calçado é basicamente uma sola de borracha, com duas correias
vindas das laterais que se encontram na frente do calçado entre os dedos
polegar e médio.

(imagem currulepe)

3.16 Joias
126

Joia é uma necessidade do ser humano para adornos, ostentação,


adoração, símbolos religiosos ou de status social.
“Como adorno, é eternamente ligada aos desejos do homem e à sua
capacidade, ou vontade, de construir novas linguagens e, com elas,
significados eficientes na elaboração de identidades.” (GOLA, 2008, p. 07).
Como dito no item 3.4.1deste trabalho, os cangaceiros e o público alvo
dessa coleção apreciam a joia como adorno.
Os cangaceiros além de se ostentarem com anéis e joias roubadas,
tinham também, praticamente, como joias, suas armas.
Ornamentavam com moedas, medalhas, anéis e ilhoses assim como o
restante do traje; a bandoleira, espécie de alça destinada a sustentar a
espingarda no ombro. “O costume era furar as moedas no centro e cravá-las no
couro por meio de arrebite discreto. Outros preferiam costura-las, servindo-se
de furos minúsculos em duas laterais opostas.” (MELLO, 2012, p.92)
O brinco foi inspirado no rifle do cangaceiro do bando de Lampião,
Jacaré, de 1936. É quase uma réplica da arma posta apontada para baixo
fixada em um circulo de cobre.
O anel é inspirado nas balas de um fuzil feito de ouro envelhecido.

3.17 Beauty

O beauty é aquilo que será apresentado na passarela e no editorial de


moda em termos de cabelo e maquiagem, no qual devem estar coerentes com
o tema, o público alvo e com a própria coleção em si.

Neste caso o beauty foi elaborado pensando principalmente em seu


público alvo.

O cabelo das mulheres é dividido ao meio da cabeça com uma trança


embutida de cada lado que se encontram atrás da cabeça em um coque
próximo a nuca. Os homens usarão um chapéu de couro.

A maquiagem dará um aspecto bronzeado aos modelos, como se


andassem muito sob o sol quente do sertão, assim como os cangaceiros. Nas
127

mulheres o olho terá um esfumaçado de marrom, marcando bem o côncavo


assim como na parte de baixo dos olhos, com os cílios marcados e a boca
vermelha.

(desenho)

3.18 Fotografia de Moda

Para esta coleção foi desenvolvido um editorial de moda onde foram


feitas varias fotos dentro de uma ideia e conceito. Através dessas fotos pode-
se divulgar de maneira artística e inconsciente tudo o que fez parte da
produção.
No interior de Minas Gerais, na zona rural da cidade de Brasópolis,
existe uma pequena e velha igreja, já deteriorada pela idade. Está serviu de
cenário para as fotos, imitando as igrejas do interior nordestino da década de
1930.
O objetivo foi criar uma cena do cotidiano do cangaceiro extremamente
religioso em um ambiente quente e seco.
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3.19 Desfile

Como citado no tópico 3.4 deste trabalho, uma das formas de divulgação
da marca e de lançamento das coleções é o desfile.
Para as marcas que trabalham a moda, o desfile é um
dos momentos mais importantes de toda sua estratégia de
comunicação. É o momento máximo de expressão do ethos da
marca e o local onde o público espera assistir a apótese de sua
verve criativa. Foi-se o tempo em que o desfile era apenas uma
oportunidade de para se mostrar roupas e vende-las.
(NASCIMENTO, 2013).

A coleção aqui apresentada foi lançada no dia 10 de dezembro de 2014,


às 20 horas no Passos Clube na cidade de Passos, Minas Gerais.
A estilista Caroline Renó traduziu em uma mini coleção composta por 4
(quatro) looks comercias a indumentária cangaceira.

3.19.1. Trilha Sonora

A trilha sonora de um desfile de moda ajuda a passar o conceito e a


mensagem da coleção para o público.

Com a música, o espectador pode sentir melhor o tema, mergulhando no


mundo ali representado.

A trilha escolhida foi à melodia da música “Lampião Rei do Cangaço”


composto por Junior Vieira. A música foi feita para um concurso de músicas do
nordeste, nomeado de “Festival de músicas do Cangaço”.
A música é própria para se dançar o xaxado, um tipo de dança brasileira
que teve sua origem no Pernambuco.

Xaxado – Dança exclusivamente masculina, originária


do alto sertão de Pernambuco, divulgada até o interior da Bahia
pelo cangaceiro Lampião e os cabras do seu grupo. Dançam-
na em circulo, fila indiana, um atrás do outro, sem volteio,
avançando o pé direito em três e quatro movimentos lateriais e
puxando o esquerdo, num rápido deslizado sapateado. Os
cangaceiros executavam o Xaxado marcando a queda da
dominante com uma pancada no coice do fuzil. (SANTOS,
2004, p. 98-99)
138
139

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluindo a pesquisa feita para este trabalho, pude perceber o quão


grande e rica é a História e a cultura do Brasil. A maioria dos brasileiros não
consegue enxergar e pensam que a cultura estrangeira é melhor do que a
nossa.
Vejo o quanto o presente é resultado do passado e que muitas coisas
mudaram desde então. Percebi o quanto a história, a identidade, a geografia e
a personalidade conseguem ter grande influencia na indumentária. Fato este
que me estimula a continuar a imersa neste assunto
De toda história do cangaço, o fato que mais me impressionou foi que
Lampião era bandido, assassino e um grande artista. Inseridos em um habitat
cinzento e pobre, o cangaço se enchia de cor e riqueza. O cangaceiro agradou
sua cobiça à arte e viveu independente, sem lei nem rei, antes e em nossos
dias, capaz de atravessar cinco décadas. Foi o último a fazê-lo com tanta cor e
tanta festa. Foi o último a fazê-lo com grande glória e com uma herança visual
tão expressiva.
Acreditei mais na minha capacidade de criar e criei peças cheias de
personalidade e adornos finos e artesanais capazes de transmitir com clareza
o tema e a unidade visual. E também capazes de passar para aqueles que a
veem que o cangaço não só foi uma forma de banditismo, mas também foi uma
das manifestações artísticas mais ricas do país.
Espero não perder a sede de conhecimento sobre o Brasil e que as
pessoas possam enxergar a beleza e a riqueza daquilo que as pertencem, que
o país em que vivem não é só politica ruim, mas sim de um povo de
criatividade imensa e de bom gosto inigualável.
140

REFERENCIAS

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