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FACULDADE MARIA MILZA

LICENCIATURA EM HISTÓRIA

NILMAR SANTOS DE ALMEIDA

DA FEIRA À FESTA: A NOVA FACE DA FEIRA DECAXIXIS DE NAZARE DAS


FARINHAS - BAHIA (1970-2000).

GOVERNADOR MANGABEIRA -BA


2015
NILMAR SANTOS DE ALMEIDA

DA FEIRA A FESTA: A NOVA FACE DA FEIRA DE CAXIXIS DE NAZARE DAS


FARINHAS – BAHIA (1970-2000).

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em


História da Faculdade Maria Milza – FAMAM, como
requisito parcial para obtenção do titulo de graduado.

Orientador: Profº Me. Hamilton Rodrigues

GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2015
NILMAR SANTOS DE ALMEIDA

DA FEIRA À FESTA: A NOVA FACE DA FEIRA DE CAXIXIS DE NAZARE DAS


FARINHAS – BAHIA (1970-2000).

Apresentada em ___/___/___

BANCA DE APRESENTAÇÃO

Orientador: Profº Me. Hamilton Rodrigues


Faculdade Maria Milza

Prof.ª Me. Silvana Santos Bispo


Faculdade Maria Milza

Prof.ª Me. Cintia da Silva Cunha

Faculdade Maria Milza

GOVERNADOR MANGABEIRA-BA
2015
Dados Internacionais de Catalogação

Almeida, Nilmar Santos de


A447f Da feira a festa: A nova face da feira de Caxixis de Nazaré das farinhas
– Bahia (1970-2000) / Nilmar Santos de Almeida. – 2015

48 f.

Orientador: Prof. Me. Hamilton Rodrigues

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em História) –


Faculdade Maria Milza, 2015.

1. Cultura Popular. 2. Festejos. 3. Identidade Cultural. 4. Feira de


Caxixis I.Rodrigues, Hamilton. II. Título.

CDD306
PRISCILA DOS SANTOS DIAS
Dedico esse trabalho aos meus pais,
meus filhos, à minha esposa e a minha
irmã que acreditaram em mim e por todo
amor, carinho e apoio. Essa vitória
também é de vocês, sem o incentivo e
força de minha família não teria
conseguido realizar meu sonho, obrigado
a todos.
AGRADECIMENTOS

A Deus, por nunca desistir de mim, dando-me coragem, paciência, amor e me


ensinando que fé é o começo de tudo.
Aos meus pais, pelos sacrifícios, carinho, educação, por ter me mostrado o caminho
da escola, por acreditar em mim e por todo amor e força. Vocês colaborarammuito
para essa conquista.
Aos meus filhos, pelo carinho, compreensão e momentos alegres que passamos
juntos durante esse período. Eles me ajudarama superar a vontade de desistir.
Quero pedir desculpas a vocêspelaminha ausência, pois tinha que estudar e dizer
que fiz tudo isso para dar-lhes um futuro melhor, amo vocês.
À minha esposa por toda a espera, paciência e até mesmo os aborrecimentos que
tivemos, pelo incentivo e pelo apoio em todas as horas.
Ao meuorientador, professor Hamilton Rodrigues, pela sua dedicação, sabedoria e
inteligência. Sei que fiz a escolha certa por optar por você como orientador, que
contribuiu para que meu sonho viesse acontecer.
A cada mestre: Hamilton Rodrigues, Alaize Conceição, Silvia Tavares, Cintia Cunha,
Kleber Simões, Oscar Santana e a todospor terem contribuído para minha formação,
agradecimento que sempre será pouco diante de tudo que foi oferecido.
A minha irmãque estápresente na minha vida a qualquer hora; sei que meus pais
fizeram o possível para me tornar uma pessoa de bem.
Ao meu Avô que apesar de ter me deixado nesse caminhar da faculdade, agradeço
por ter acreditado em mim, no meu potencial, de se orgulhar de seu neto. Queria
dedicar essa conquista também para o senhor, pois tenho certeza que está feliz em
algum lugar com a minha vitória.
Aos meus amigos que sempre colaboram comigo nas horas alegres e tristes, de
vitórias e frustações, mas sempre dando apoio para nunca desistir e de lutar sempre
pelo meu objetivo, principalmente aos amigosda faculdade em especial os quais
estão juntos nessa trajetória desde o início, foram quatro anos que vivemos
momentos inesquecíveis.
Enfim, a todos que contribuíram direta e indiretamente para a realização de um
sonho.
“Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades,
lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram
conquistadas do que parecia impossível”.

Charles Chaplin
RESUMO

As feiras são espaços importantes para compreender dimensões da dinâmica


econômica, cultural e social de diversas sociedades em toda parte do mundo. Elas,
com suas singularidades e peculiaridades, constituem-se em mosaicos da cultura de
uma região, tendo papel fundamental para a compreensão das características
identitárias, de homens e mulheres que trabalham e vivenciam esse universo. Sendo
assim, a feira de “caxixis” (peças de barros em miniatura que serviam como
brinquedos para crianças), de Nazaré das Farinhas se insere nesse contexto. Essa
pesquisa apresenta uma abordagem sobre uma feira secular, que ao longo do
tempo passou por diversas mudanças e transformações e que a possibilitou uma
nova face. Essa pesquisa discute e responde questões como: porque a Feira de
Caxixis é considerada uma feira especial? Qual o papel e a visão dos “oleiros”
(artesãos responsáveis pela fabricação dos caxixis), na construção dessa feira?
Quais transformações e mudanças ocorreram nessa feira entre os anos 1970 a
2000? Que outras culturas penetraram dentro da feira de caxixis? A expansão
econômica e turística da feira possibilitou o que para o município de Nazaré? Como
o sagrado e o profano se relacionam dentro do contexto da Feira de Caxixis? Esse
trabalho tem como objetivo geral analisar as transformações e as permanências que
ocorreram com/na Feira de Caxixisde Nazaré das Farinhas. A pesquisa se inscreve
em uma perspectiva de história cultural, no sentido de querer adentrar no universo
da Feira de Caxixis para investigar a sua nova face, ou seja, tentar entender, a partir
do universo da cultura, como a introdução da festa na feira contribuiu para
mudanças e transformações que deram ou trouxeram outros sentidos e significados
para a mesma. A metodologia aplicada nesse trabalho segue a linha de pesquisa
qualitativa, sendo utilizadapara composição da mesma: fontes orais a partir das
entrevistas, documentos escritos como jornais e fotografias que serviram para
nortear o objeto de estudo.

Palavras-chave:Feirade Caxixis, Oleiros, Nazaré das Farinhas.


Lista de Ilustrações

Fig. 1- Os caxixis..................................................................................................17
Fig. 2 - Visão do conjunto da Feira de Caxixis....................................................22
Fig. 3 - Organização da feira................................................................................23
Fig. 4 - O oleiro e a olaria.....................................................................................28
Fig. 5 - Jornal sobre a Feira de Caxixis................................................................37
Fig. 6 - A profana tradição sagrada.......................................................................41
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11

2 A FEIRA DE CAXIXIS E OS OLEIROS ................................................................ 15

2.1 FEIRA DE CAXIXIS: CONHECENDO SUA HISTORIA ............................................. 15


2.2 O PAPEL E A VISÃO DOS OLEIROS NA CONSTRUÇÃO DA FEIRA DE
CAXIXIS ........................................................................................................................................... 21
2.3 FEIRA DE CAXIXIS: UM ESPAÇO CULTURAL. ......................................................... 29

3 AS DINÂMICAS DE UMA FEIRA SECULAR. ...................................................... 33

3.1 AS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DENTRO DA FEIRA DE CAXIXIS. ................ 33


3.2 A EXPANSÃO TURISTICA E ECONOMICA DA FEIRA DE CAXIXIS .................... 37
3.3 O SAGRADO E O PROFANO DENTRO DA FEIRA DE CAXIXIS ......................... 39

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 43

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 47
11

1 INTRODUÇÃO

Meu interesse em desenvolver uma abordagem sobre esse objeto de


pesquisa intitulado, A Nova Face da Feira de Caxixis de Nazaré das Farinhas, surgiu
a partir da minha inquietação de ser pertencente a essecotidiano e de estar em
contato direto com os principais personagens desse evento. A Feira de Caxixis de
Nazaré é considerada uma feira especiale diferenciada das feiras que geralmente
conhecemos, ela acontece apenas uma vez ao ano no período da Semana Santa.
Estetrabalho visa contribuir com análises e reflexões históricas demonstrando as
dinâmicas de uma cultura secular que passou por diversas transformações e
permanências ao longo do tempo, já que, a Feira de Caxixis é uma feira que existe a
300 anos e continua viva, apesar de possuir uma nova face na contemporaneidade.

Nazaré das Farinhas está localizada na região do Recôncavo Sul, está a 216
km da capital Salvador via BR 101 e 73 km via BA 001 após a travessia Ferry Boat
pela Ilha de Itaparica. Faz limite com as cidades de Muniz Ferreira, Aratuípe,
Jaguaripe, São Felipe e Maragogipe. Sua área territorial é de 253 780km2 e sua
população é de 29.122 habitantes.

A cidade recebeu esse nome porque é especializada na produção de farinha


de mandioca considerada uma das melhores farinhas do Brasil. Nazaré teve seu
surgimento a partir do desmembramento da vila de Jaguaripe na metade do século
XVI, suas terras eram habitadas por tribos indígenas tupinambás. Nazaré por
possuir terras férteis e de fácil localização para navegação de barcos, foi logo
colonizada pelos portugueses, que iniciou quando Fernão Cabral de Ataíde povoou
a margem direita do rio Jaguaripe recebendo a denominação sesmaria de Jaguaripe,
sendo que a criação de uma capela deu origem à cidade.

Segundo Urânia Mota ( 2011), A Feira dos Caxixis de Nazaré das Farinhas
surgiu de forma curiosa. Conta a história que nos dias santos e feriados os escravos
recebiam folga e com as sobras de barros das olarias faziam peças em miniaturas
chamadas de caxixis. A fabricação dessas peças ocorria em uma região próxima de
Nazaré conhecida como Maragogipinho que é distrito da cidade de Aratuípe.
12

Contam os relatos que os caxixis surgiram primeiro na região de Jaguaripe, cidade


que era composta por uma vasta área territorial. No decorrer do tempo essa área foi
desmembradadando origem ao surgimento de outras cidades como é o caso de
Aratuípe e Nazaré.

Portanto, em um dia desses, de folga, um escravo encheu sua canoa de


peças em miniatura e seguiu rio acima comercializando todas as peças na praça de
Nazaré no período da Semana Santa. Essa comercialização fez tanto sucesso que
ele voltou nos anos seguintes, dando origem assim à Feira dos Caxixis, que passou
a acontecer todos os anos.

Para compreender as transformações, mudanças e continuidades vivas nessa


cultura secular da Feira de Caxixis, formulei as seguintes questões norteadoras:
Quais os motivos que levaram a feira de caxixis a se tornar uma festa? Porque
diversas culturas entram na feira modificando seu real significado? Porque apesar
da desmotivação dos artistas, os oleiros de Maragogipinho que trazem os caxixis
para Nazaré, ocorreu uma expansão comercial na mesma? Quais dinâmicas
aconteceram na Feira de Caxixis de Nazaré das Farinhas que a transformou em
uma festa? Qual a importância dos oleiros no desenvolvimento econômico da cidade
na Feira de Caxixis entre os anos 1970-2000?

O recorte temporal dessa pesquisa justifica-se em função de que esse


período (1970 – 2000), marca de forma significativa a questão profana na Feira de
Caxixis que a transformou em uma festa. Nesse mesmo período houve a mistura da
feira com a micareta. Esse momento também é marcado por um crescimento
espacial e econômico da feira, quando foram introduzidas barracas vendendo
bebidas, comidas, roupas etc.

Paraa realização desse trabalho foi necessário pesquisar obras de autores


que escreveram sobre a Feira de Caxixis. Uma das versões da história da Feira de
Caxixis foi retratada por Urânia Teixeira Mota no seu livro Louça de Deus de 2011,
que fala sobre o trabalho dos oleiros e o surgimento da feira de Caxixis na cidade de
Nazaré das Farinhas. Outra obra importante é de autoria de Lamartine Augusto,
intitulada Porta dos Sertões, de 1999, que discute também o surgimento da feira e
argumenta sobre o lado profano da festa.
13

Já Charles de Almeida Santana, na sua obra (Dimensão Histórico Cultural


/cidades do Recôncavo 1999), o autor traz em uma de suas abordagens, a Feira de
Caxixis de Nazaré das Farinhas. Contei também como suporte para minhas análises
com o trabalho de Virginia Queiroz de Barreto (Trilhando os caminhos do barro:
cotidiano das mulheres oleiras no Recôncavo baiano 1960-1990), que retrata o
cotidiano e o trabalho das mulheres nas olarias de Maragogipinho.

Antônio Marcos Araújo de Souza também contribuiu na minha reflexão e na


pesquisa com a sua obra (Maragogipinho: seus oleiros e a arte transformada 1980-
2000), quando analisa o cotidiano dos fazedores das peças de barro – caxixis – que
são o principal objeto de venda da feira e os responsáveis pela construção e
trajetória histórica e cultural desse evento desde o seu início.

O presente trabalho: A Nova Faceda Feira de Caxixis de Nazaré das


Farinhas se inscreve na perspectiva da história cultural, no sentido de que adentrano
universo da Feira de Caxixis para investigar a sua nova face, ou seja, tentar
entender, a partir do universo da cultura, como a introdução da festa na feira
contribuiu para mudanças e transformações que deram ou trouxeram outros
sentidos e significados para a mesma.

Conforme a percepção de cultura de Peter Burke “cultura é um sistema de


significados, atitudes e valores partilhados e as formas simbólicas nas quais eles
são expressos ou encarnados”. Outro autor que me inspira com sua noção de
cultura, é Ginzburg, ele afirma que a cultura oferece ao indivíduo um horizonte de
possibilidades latentes – uma jaula flexível e invisível dentro da qual se exercita a
liberdade condicionada a cada um”. Dessa forma, as concepções desses autores,
também nortearam para a reflexão desse trabalho.

Esse estudo foi desenvolvido na perspectiva da pesquisa qualitativa, por


entender que as histórias, memórias, trajetórias e experiências de vida dos
indivíduos, constituem-se como elementos primordiais para análise e compreensão
de mundo dos vários sujeitos históricos. Pensando assim, foram realizadas oito
entrevistas para a realização desse trabalho. Foi necessário conhecer a história de
vida dos oleiros de Maragogipinho, os artistas protagonistas da Feira de Caxixis,
registrar depoimentos e experiências vividas pelos mesmos, nas várias feiras que já
14

participaram registrar também as mudanças e permanências observadas pelos


oleiros que ocorreram no período em questão. Foi possível também analisar a
situação de vida deles para saber se melhoraram ou não com as mudanças
ocorridas, o que eles pensam dessas modificações e enfatizaro papel deles na feira.
Foram utilizados como fontes nesse estudo: documentos escritos, fontes orais e
fotografias, que foram analisadas e interpretadas sob o julgo da crítica e da
interpretação histórica.

Esse trabalho monográfico conta com dois capítulos. No primeiro faço uma análise
sobre a história da Feira de Caxixis, mostrando como ela surgiu, o papel dos
“oleiros” - artistas responsáveis pela fabricação dos caxixis - na construção e
manutenção da tradição dessa feira e analiso o cotidiano e a visão dos oleiros sobre
as olarias e a Feira de Caxixis.

No segundo capítulo trago uma abordagem sobre a dinâmica econômica e


turística da feira analisa a questão sagrada e profana dentro desse universo e as
diversas manifestações que adentram na Feira de Caxixis que a transformaram em
uma festa, modificando assim sua característica inicial de uma feira que apenas
comercializava cerâmica.
15

2 FEIRA DE CAXIXIS E OS OLEIROS

2.1 FEIRA DE CAXIXIS: CONHECENDO SUA HISTÓRIA

Reconhecida como a maior feira de cerâmica da América latina, segundo


Charles Santana (1999), a Feira de Caxixis de Nazaré das Farinhas é considerada
uma feira especial por diversos motivos, um deles é pelo fato dela acontecer apenas
uma vez ao ano no período da semana santa e o outro, são suas singularidades e
peculiaridades que são incomuns quando comparada à outras feiras. A feira de
Caxixis teve início, há três séculos e ainda continua viva e movimenta tanto a parte
econômica, quanto turística e cultural da cidade de Nazaré.

Apesar da Feira de Caxixis apresentar uma nova face devido às


modificações que ocorreram em sua dinâmica e alteraram as características que ela
apresentava em seu início, alguns aspectos ainda são “preservados” até hoje, muita
coisa artesanal pode ser encontrada na feira, mas o artesanato de barro, oriundo do
distrito de Maragogipinho/ Aratuípe Bahia, sem dúvida é a mola propulsora para que
a feira aconteça, e isso faz com que de todas as atrações que a feira possa ter, a
mais esperada é a venda da cerâmica.

Nesse sentido responderei as seguintes questões que ajudaram a


compreender melhor esse universo. Por que a Feira de Caxixis é considerada uma
feira especial? Qual o motivo do seu surgimento? Porque a feira se constituiu em
Nazaré e não em Aratuípe, cidade responsável pela fabricação dos caxixis? Quais
motivos contribuíram para que a feira ganhasse uma proporção tão grande que a
ponto de ter se transformado em uma festa? Vejamos.

Os caxixis são peças de barro em miniatura que eram trazidas de Aratuípe,


mais precisamente do distrito de Maragogipinho pelos oleiros / artesões
responsáveis pela fabricação dessas peças de argila. Essa cidade é vizinha de
Nazaré, município onde acontecea feira todos os anos no período da Semana
Santa. A Feira de Caxixis nasceu no século XVIII, contam relatos que a feira surgiu
quando um oleiro chamado Patrício encheu sua canoa de caxixis e levou suas peças
16

de barro para comercializar na cidade de Nazaré, vendendo todas as peças de barro


e voltando nos anos seguintes com mais oleiros para vender as louças de argila,
dando assim início à Feira de Caxixis relata o senhor Taurino Silva em seu
depoimento:

Quando fala caxixis são as peças menores que temos aqui em


Maragogipinho, as peças de caxixissurgiram assim, como uma brincadeira
que os meninos brincavam, ai veio assim caxixis,que são peças pequenas,
ai formou esse nome devido o tamanho da peça. Ovelho Patrício formou um
balaio de peças de caxixis subiu a margem do rio para fazer a feira de
caxixis,que temos hoje. Agora a feira tem um nome, porem o “caxixi” hoje é
difícil se achar na feira que era a marca. “Ocaxixi”esse nome nunca vai sair,
foram as primeiras peças que patrício levou para Nazaré1.

Apesar dos caxixis serem fabricados em Aratuípe como conta o relato do


senhor Taurino Silva, oleiro, aposentado, 58 anos de idade e morador no distrito de
Maragogipinho da cidade de Aratuípe Bahia, um dos motivos que levaram Nazaré
ser contemplada com essa feira, foi possivelmente o poder comercial que a cidade
exercia naquele período.

Nazaré estava localizada próxima ao local da fabricação dos caxixis onde


existia uma ligação entre as duas cidades através do Rio Jaguaripe, rio que corta
vários municípios do Recôncavo Sul, facilitando assim a chegada das peças de
barro, de Maragogipinho até Nazaré. Outra questão pertinente para que Nazaré
realizasse essa feira é pelo fato de ser o centro comercial importante naquela região
do Recôncavo e de realizar escoamento de compra e venda de diversos produtos,
sem falar narota fluvial que favorecia um contato com a capital Salvador,
proporcionando assim a consolidação da Feira de Caxixis na cidade de Nazaré.

Os caxixis chegavam a Nazaré através de saveiro se canoas, eram os meios


utilizados pelos oleiros para o transporte das peças de argila. Aqueles que não
tinham condições de escoar seus produtos nas canoas e saveiros levavam em
animais cortando as matas que ligavam Nazaré a Maragogipinho, pois ainda não
haviam rodovias que ligassem as duas cidades. Posteriormente, as construções das
rodovias contribuíram para facilitar o acesso dos caxixis. Tais são os motivos fizeram
com que a feira se materializasse em Nazaré.

1
Taurino silva conhecido como seu Zé, nascido em 23 /09/1957, oleiro, artesão morador do distrito de
Maragogipinho no município de Aratuipe.
17

As peças de caxixis faziam o maior sucesso para quem as adquiria. Alguns


de poentes relataram que os caxixis eram comprados por todas as classes. “Não
tem rico nem pobre, todo mundo é o mesmo nível, a feira livre é para todos”,
lembrou Taurino Silva. Os caxixis tinham muita utilidade, tanto para o lar quanto para
a decoração das casas de muitas pessoas, já que a maioria da clientela era de baixa
renda e procurava os caxixis por serem peças de preço acessível e pela sua
utilidade doméstica. Os porrões, moringas, castiçais eram peças muito procuradas,
tudo feito de barro.

A Feira de Caxixis no seu início apresentava-se unicamente com a


comercialização de peças de argila, as peças em miniaturas, os famosos caxixis,
serviam também como brinquedos para as crianças se divertirem, os caxixis eram
expostos no chão. Com o passar do tempo houve uma necessidade da fabricação
de outros tipos de caxixis, tanto para a comercialização quanto por causa da
necessidade da população da época, daí criou-se novas formas de fazer caxixis e
intensificaram-se cada vez mais o trabalho cujo resultado eram peças muito bonitas
e sofisticadas.

Figura: 01- caxixis

Fonte: jornal diário de notícias 14/04/1968


18

A imagem acima, do jornal diário de notícias publicado em 14/04/1968, mostra


os caxixis expostos no chão, já que eram eles a atração nessa época e atraindo
vários visitantes para a cidade, com o propósito de conhecer os caxixis. Podemos
observar que já nesse período os caxixis faziam muito sucesso e eram destaque nos
principais jornais da Bahia.

Fotografias são mecanismos importantes que gravam a história de luta e de


conquista de um povo, registram espaços e constitui relações sociais que revela o
passado através de movimentos que só as fotografias podem apresentar, sobre as
imagens Burke diz que:

Emoutras palavras, os testemunhos sobre o passado oferecidos pelas


imagens são de valor real, suplementado, bem como apoiado as evidências
dos documentos escritos. É verdade que, especialmente no caso da história
dos acontecimentos, elas frequentemente dizem aos historiadores que
conhecem os casos, as imagens tem algo a acrescentar. Elas podem
oferecer acesso a aspectos do passado que outras fontes não
alcançam.(BURKE,2004, p.233)

Com a divulgação da mídia sobre o trabalho dos oleiros, a valorização dos


artistas do barro só fazia crescere a Feira de Caxixis se ampliava também tanto no
que diz respeito à sua dimensão espacial quanto no aspecto econômico, levando
sempre uma multidão de pessoas para a feira como demonstra um jornal da época,
a tarde de Salvador, datado de 13 de abril de 1968, época ainda em que os caxixis
eram vendidos no chão e mesmo assim já chamava atenção do público pela sua
beleza e tradição na venda de cerâmica, nesse caso, a então feira, fica sendo
reconhecida como uma das feiras mais importantes no cenário baiano e nacional.

Naquele período, a Feira de Caxixis era a maior fonte de renda para os


oleiros, concentrava-se nesse evento a maior comercialização dos caxixis, mesmo
acontecendo apenas uma vez ao ano. Além de possibilitar para os oleiros uma
abertura do mercado de vendas de seus produtos para outros lugares, possibilitava
também uma amostra a céu aberto do trabalho das mãos desses oleiros. Hoje, os
oleiros de Maragogipinho conquistaram reconhecimento do seu trabalho na Feira de
Caxixis, através da exposição de suas peças de barro que demonstram todo seu
talento com sua arte de moldar a argila.
19

É notável e imprescindível o papel dos oleiros na construção da Feira de


Caxixis desde seu início, até os dias atuais. Apesar da feira sofrer diversas
transformações ao longo do tempo, ela ainda possui sua “essência” maior e
principal, que é a comercialização da cerâmica, fato que leva a Feira de Caxixis ser
considerada a maior Feira de Cerâmica da América Latina.

Esse mérito de ser considerada como a maior feira de cerâmica em área


aberta, rendeu diversas reportagens sobre a história da feira e dos oleiros, história
essa que é marcada por participações de celebridades de todo Brasil dentro desse
evento ao longo do tempo. Muitas celebridades já participavam da feira em períodos
anteriores. Conforme informou o jornal estado da Bahia de 19 de abril de 1968.

Emcontato mantido com o departamento de turismo da Bahia e reportagem


do ESTADO DA BAHIA foi informada de que já pediram reservas seguiram
para Nazaré na sexta - feira Santaentre outros secretários Boris Tabocaf,
Luiz Viana Filho Neto, Helton Dias Pereira e Francisco Benjamin o
economista Vitor Grandin, o Sr Artur Ferreira chefe do escritório da
SUDENE em Salvador o escritor Zilteman de Oliva o bel, Francisco Reis
Beltrão o Eng. Francisco Santana os Drs. Carlos Alfredo Souza e Gilberto
Zamiff este último assistente da gerencia do banco do brasil.( ESTADO DA
BAHIA, 1968, f.0931).

Podemos destacar então que a Feira de Caxixis é considerada especial por


acontecer apenas uma vez ao ano, mas também por conta de seu dinamismo que
apresenta até os dias atuais, sua singularidade, devido à época que ela acontece e
por manifestar diversos ritos dentro da feira como o profano e o sagrado e a mistura
entre o viver do mundo urbano e do mundo rural que ocorre dentro de um mesmo
universo do povo da argila de Maragogipinho, considerado rural, com o da cidade
de Nazaré, considerado urbano e do sagrado da paixão de Cristo com a do profano
da micareta na Feira de Caxixis. A partir de 1978 quando é introduzida a festa dentro
da feira, que discutirei no decorrer desse trabalho.

A feira é especial pela forma que ela surgiu que é bastante peculiar e foi se
transformando e ganhado outras faces; pela sua trajetória, onde é possível se
observar permanências e transformações que ela vivenciou ao longo do tempo e
também por todo ritual que a rodeia, dando-lhe uma face tanto tradicional quanto
moderna, caracterizada por uma diversidade cultural que a coloca como uma das
mais importantes feiras do Brasil.
20

Vale ressaltar que para ter acesso a essas histórias, foi necessário recorrer às
pessoas que construíram e que vivenciaram essa cultura secular, que contribuíram
para a realização desse trabalho e só através das entrevistas pude ter acesso a
informações que em muito ajudaram nas reflexões da presente pesquisa. Como na
fala do entrevistado o senhor Nivaldo Santos,

Caxixis surgiu nas peças minúsculas, o caxixi hoje está em modo geral e ele
surgiu de uma representação de um determinado sujeito que levou para
uma feira na sexta - feira santa pela primeira vez, daí o pessoal juntou-se
pra comprar essas peças e no ano seguinte foi crescendo, deu-se esse
nome de Feira de Caxixis2.

O contato com os artistas do barro, proporcionou perceber um mundo do


trabalho desses oleiros, suas experiências, o cotidiano e vivências dentro e fora da
Feira de Caxixis. Foi possível ainda visualizar a sua participação e intervenção
dentro da mesma,a luta pelo reconhecimento e consolidação de sua inclusãoe a
permanência num espaço que foi conquistado através do seu trabalho e de suas
práticasque muito contribuiu para/com o sucesso da Feira de Caxixis. Tudo isso a
partir das fontes orais, já que:

A história oral não é necessariamente um instrumento de mudanças; isso


depende de espírito com que seja utilizada. Não obstante, a história oral
pode certamente ser um meio de transformar tanto o conteúdo quanto a
finalidade da história de revelar novos campos de investigação, pode
derrubar barreiras que existam entre instituições educacionais e o mundo
exterior e na produção da história seja em livros, museus, rádios ou cinema
pode devolver as pessoas que fizeram e vivenciaram a história um lugar
fundamental mediante suas próprias palavras. (THOMPSON 1992, p.22)

Através dos relatos dos depoentes, houve a possibilidade de uma análise


crítica sobre o surgimento da Feira de Caxixis, de como aconteceu, o seu processo
histórico e as manifestações que adentraram na feira. A Feira de Caxixis desde seu
início até o dia de hoje passou por diversas dinâmicas que modificaram sua
característica primeira, todavia, são os artesãos, os operários do barro que mantém
sua cultura viva, que prossegue existindo no cotidiano dos oleiros, artesãos de
Maragogipinho, que trabalham com a argila, que mantém essa tradição de ser oleiro
e que é passada de geração em geração.

2
Nivaldo dos Santos conhecido como Josias, nascido em 04 /02 /1952, oleiro, artesão, morador do município
de Aratuipe, no distrito de Maragogipinho.
21

2.2 O PAPEL E A VISÃO DOS OLEIROS NA CONSTRUÇÃO DA FEIRA DE


CAXIXIS

Sobre o papel e a visão dos oleiros dentro da feira de caxixis, analisarei como
os oleiros foram construindo a história da Feira de Caxixis e de que forma eles
começaram a ganhar espaço e reconhecimento dentro da cidade de Nazaré, a
forma pela qual eles superaram e enfrentaram o desafio da vida urbana e
construíram essa cultura. Apesar de serem de um mundo praticamente rural e de
serem de outro município, portanto de uma cultura diferente de moldar e transformar
o barro, agora sua tradição difundia-se com o povo da cidade.

A análise do convívio dos oleiros dentro da feira, a relação do mundo rural de


Maragogipinho com o mundo urbano de Nazaré, cidade esta que conta com uma
certa urbanização, são dimensões que são vistas dentro das comemorações do
festejo da Semana Santa, conforme registrou Charles de Santana, “Os dois mundos
se encontravam com as bênçãos cristãs e a liga da argila”. (SANTANA 1999 p.54).

Podemos observar que Charles de Santana dá ênfase à mistura das


manifestações parte sagrada em comemoração ao senhor morto e a parte profana
com a festa na feira de caxixis que gerou discussões emblemáticas, provocou
algumas proibições da igreja católica em relação ao evento, a partir da
implementação da micareta junto com a feira em 1971 quando esta percebeu que a
Feira de Caxixis perturbava a semana santa, período considerado sagrado para os
cristãos.

[ ...] às vezes o criativo e barulhento ambiente das feiras e dos mercados do


Recôncavo Sul adquiria uma feição lúdica que crescia no sentido de que se
percebia como festa de instituí-la com ela, está radicalmenteimbricada
(SANTANA, 1999 p.54).

Nota-se então que a feira, era além de um lugar de comercialização de


produtos, um local de encontros, de conversas, de brincadeiras, onde as pessoas
expressavam suas afetividades, se encontravam, era um local de mistura de
tradições que transformava a feira em uma festa, fazendo desse evento um espaço
de encontro do mundo rural e urbano, gerando uma circularidade cultural das
pessoas que frequentavam aquele lugar.
22

Figura 2: Vista do conjunto da Feira de Caxixis

Fonte: jornal diário de noticia 30/03/1970

Podemos observar na imagem acima do jornal Diário de Notícias de 30 de


Março de 1970, as pessoas se deslumbrando com a feira de caxixis, passeando,
conversando, pesquisando as melhores peças de barros, conhecendo o espaço
onde acontece o evento, que oferecia assim um leque de opções que vão além da
questão comercial, mas também, turísticas e culturais.

O crescimento da feira acabou transformando-a em uma festa e a introdução


da micareta em 1971 dentro desse espaço, foi um dos principais motivos que
contribuiu para alterar essa dinâmica. Ela atraia um grande número de turistas para
acidade, houve então uma necessidade de uma maior organização da administração
da cidade com a feira para receber as pessoas que ali chegavam para conhecer o
evento e uma das primeiras medidas foi a introdução de barracas para exposição
dos caxixis, transformando a tradição, cuja exposição dos produtos era
inicialmenteno chão.
23

Figura 3: Organização da feira de caxixis

Fonte: jornal diário de notícias 14/04/1968.

A imagem acima do jornal Diário deNotícias, de 14 de abril de 1968 chama


atenção pela organização que a feira começara a desenvolver naquele período,
potencializada pelo aumento do número de turistas que começava ser cada vez
maior e que a cada ano atraia curiosos para conhecer a Feira de Caxixis. O uso das
imagens possibilita estudo e análise, além de revelar especificidades de uma cultura.
Sendo assim, as imagens não deixam de ser um convite para investigação histórica.
Segundo Peter Burke:

Nocaso da história social ou econômica as imagens oferecem evidencias


particularmente valiosas de práticas como comércio de rua que raramente
foram registradas devido a sua natureza relativamente não oficial, portanto,
complementando os testemunhos dos registros de guildas. (BURKE
2004,p.234).

A administração da cidade de Nazaré começa a observar os oleiros com


outros olhos epela primeira vez teve uma atenção especial, por perceber que a feira
de caxixis era um evento importante para o município. Segundo Urânia Mota (2011),
a administração começa a realizar uma série de investimentos e apoio para os
oleiros, a exemplo da padronização de suas barracas e cadastros, além de
alimentação, hospedagem e transporte, algo que os oleiros não tinham
anteriormente.

Essas mudanças ocasionadas pela gestão do município de Nazaré causaram


muitas reclamações por parte dos oleiros, já que eles queriam participar mais
efetivamente no processo de modificação, questionavam que mereciam um apoio
24

maior, criticavam também o fato de que os turistas não visitavam Nazaré para
comprar os caxixis, mas sim, para ver as atrações musicais que aconteciam nesse
período. Charles Santana diz que :

Convémratificar que essas modificações não foram elaboradas pelos


oleiros: eles sugeriram diferenciações no transcorrer do tempo. Por um
lado,os trabalhadores do barro recordam que,no passado os participantes
da feira envolviam-se em todas as etapas da produção do material em
exposição.(SANTANA, 1999 p.53).

Diante dessa assertiva, os oleiros começam a posicionar-se sobre a


micareta dentro da feira e alternavam suas opiniões sobre esse assunto, sendo que
uns concordavam que a micareta atraia mais turistas e mais lucros para a feira, já
outros oleiros faziam referência sobre o fato de que a micareta atrapalhava a venda
dos caxixis, que os turistas não vinham mais comprá-los e sim curtir a festa.

Com o relatodos oleiros entrevistados pude observar essas alternâncias de


opiniões sobre a micareta dentro da feira, “a feira com a micareta era bom, que
emendava, acabou a feira, mas como tinha a micareta, formava então duas feiras,
na micareta chegava mais visitantes e o pessoal ganhava mais dinheiro”, revelou
Taurino Silva. Para o senhor Taurino a feira era melhor com a festa, pois assim
atraia mais lucros para os oleiros, porém outros oleiros tinham uma visão diferente
sobre a festa dentro da feira.

Outro entrevistado se colocou com uma ideia contrária ao senhor Taurino,


“sem a micareta as pessoas iam realmente à cidade para ver os caxixis, com a
micareta se dividia, muitos para a micareta, poucos para o caxixi”, relembrou Nivaldo
Santos. Podemos observar que as divergências sobre a ideia da micareta na feira de
caxixis tornava-se um dado na vida de pessoas que faziam parte de um mesmo
universo, o trabalho com o barro, e a tradição de ser oleiro, muitas vezes transmitida
de pai para filho.

Sobre a profissão de ser oleiro alguns depoentes explicitam em sua fala que a
arte de transformar o barro é uma tradição familiar e que desde novos os filhos dos
oleiros começam a trabalhar nas olarias e aprendem a profissão logo cedo. Os
próprios artistas do barro relataram que há uma distinção entre oleiros e artesãos,
eles têm finalidades distintas dentro das olarias, cada um possui suas
25

especificidades e características, apesar de fazer parte de um mesmo universo da


argila. Em sua narrativa o Sr. Taurino Silva disse que:

Oleiro é uma coisa artesão é outra. A palavra oleiro é quem prepara o barro
e o artesão é quem fabrica a peça, é diferente, oleiro é quem pisa o barro
para tapar casa, já o artesão já passa para parte da arte3.

Os entrevistados demonstram e enaltecem o orgulho de serem artesãos, de


fazerem do barro uma obra de arte, por se identificarem como artistas que moldam a
argila, de não serem apenas reconhecidos como oleiros, mas como artesãos da
cultura do barro que, através do seu trabalho, proporcionam requintes da arte, algo
comum e indentitário da cultura de Maragogipinho. É imprescindível destacar, que a
diferença entre oleiro e artesão é bem colocada pelo entrevistado, de maneira bem
simples, nesse caso, entenda-se aqui que oleiro é aquele que cria, molda e dá forma
ao barro, já artesão, é a pessoa que trabalha com o barro, desenvolvendo um
trabalho manual.

A maioria dos filhos dos oleiros/artesãos se tornam oleiros/artesãos também,


alguns que não desejam seguir a profissão vão estudar “fora”, partem para Salvador
e outros lugares que possuem maior desenvolvimento, em busca de conhecimento e
trabalho em outras áreas. Essa tradição familiar de ser oleiro proporcionou
alongevidade da Feira de Caxixis e suacontinuidade até os dias atuais, como bem
narrou um dos depoentes dessa pesquisa, o senhor Taurino Silva quando disse que:

Todos que são nascidos em Maragogipinho tem umbigo no artesanato,


tradição da família, comecei a trabalhar no tornobem moderninho, viver da
arte, a profissão de artesão começou em 1982 já temmuito tempo já tem
mais de 45 anos nessa atividade.

Podemos notar no depoimento do entrevistado seu orgulho de ser artesão e


de dizer que as pessoas que nascem em Maragogipinho são “predestinadas” a
tornarem-se oleiros/artesãos, por ser uma tradição familiar que é passada de
geração a geração e que as pessoas começam bem cedo a fazer parte desse
universo influenciadas pelo meio em que elas nasceram e conviveram/convivem. Ser
artesão muitas vezes é uma questão da cultura local, uma tradição familiar cuja
3
Taurino Silva . Op.cit. Entrevista concedida 28/09/2015.
26

fabricação de caxixis é um dos principais meios de sobrevivência e fonte de renda


dessas pessoas que sobrevivem moldando o barro e transformando a argila em obra
de arte.

As pessoas que compõem a história de um determinado lugar são distintas,


de diferentes maneiras de se comportar, vivenciam costumes diversos, são elas
pessoas comuns, construtoras de uma história que muitas vezes foram excluídas da
historiografia. Dá destaque a essas pessoas faz jus à importância delas dentro da
história. Segundo Lucila de Almeida Neres Delgado:

Os sujeitos construtores da história da humanidade são muitos,são plurais,


são de origens sociais diversas. Inúmeras vezes defendem ideias e
programas opostos, o que é peculiar à heterogeneidade do mundo em que
vivemos. Seus pensamentos e suas ações traduzem, na multiplicidade que
lhes são inerentes, a maior riqueza do ser humano: a alteridade.
(DELGADO,2010, p.55).

O papel dos oleiros foi de suma importância para a construção da feira,


apesar das desconfianças e dos preconceitos enfrentados por serem eles de origem
humilde e rural. Mas aos poucos foram conquistando seu espaço e respeito dentro
da cidade de Nazaré com seu trabalho e arte.

Apesar de uma cultura diferente, os oleiros fizeram com que a feira ficasse
mais atraente com essa mistura do universo rural com o urbano, desse contato de
culturas diferentes dentro de um mesmo espaço configurando assim um lugar de
diversidades culturais dentro de uma mesma realidade e a possibilidade da feira não
ser apenas um local de compra e venda de mercadorias mas sim um lugar de
encontros, diversão e entretenimentos, como citado anteriormente, ultrapassando
assim os limites de uma feira, dando-lhe uma aparência de festa.

Com o passar do tempo várias dinâmicas aconteceram dentro da feira


modificando sua característica, dando-lhe nova forma e face, provenientes de
processos de desenvolvimentos atribuídos a necessidades de um determinado
grupo social que vivencia suas experiências num espaço. Sobre as dinâmicas
ocorridas durante um determinado período e lugar, Santos diz que:“o espaço se dá
ao conjunto dos homens que nele se exercem como um conjunto de virtualidades de
valor desigual, cujo uso tem de ser disputado a cada instante em função de cada
qual”. SANTOS, 2004 p.317).
27

Algo assim, foi o que aconteceu com a Feira de Caxixis, quedesde o seu
início a três séculos até os anos de 1970, era formada apenas como uma simples
feira de cerâmica, onde os indivíduos que nela iniciaram tiveram que lutar pelo seu
espaço. Porém, ao longo do tempo sua dinâmica foi alterada, foram surgindo novos
tipos de comercialização, ocorreu uma maior disputa pelo território em que se
comercializaos produtos dentro da feira. Além dessas mudanças e transformações,
os artistas do barro também em sua maioria foram substituídos por pessoas que
revendiam os caxixis, fazendo com que alguns artistas do barro deixasse de vir para
a feira vender seus produtos.

Alguns motivos foram determinantes para o afastamento de alguns oleiros da


Feira de Caxixis: alguns estavam ficando velhos e já não aguentavam ou queriam
mais labutar e trabalhar na feira. Segundo eles, os preços das peças de barros
tinham baixado, houve um aumento na concorrência e porque dentro das próprias
olarias eles revendiam seus produtos tanto para a feira quanto para todos os lugares
sem sair de sua localidade, ficando o trabalho de comercialização dos caxixis nas
feiras para os filhos e netos e para os revendedores. Taurino Silva relembrou que,

Eu tenho uns 10 anos ou 12 que não faço parte da feira de caxixis, mas tem
muita gente que precisa e vailá e tem um benefício em troca, senão, não ia
lá. Antigamente tinha uma parte que era bem melhor cada artesão fazia
uma peça diferente, um estilo de peça de outro artesão, então aquela feira
era tradição porque o cliente chegava via a peça em uma banca e em outra
banca já via outra peça diferente, hoje deixa a desejar pois está fugindo
dessa qualidade.4

O depoente em tom de crítica fala sobre uma mistura cultural que fez com
que a feira perdesse seu caráter inicial, já que, os tradicionais oleiros foram
substituídos pela introdução dos intermediários na venda dos caxixis e por grupos de
cultura artística diferente, fazendo assim com que a feira de caxixis se distanciasse
da feira como era no início. Entretanto, foi com a feira de caxixis que os oleiros
começaram a divulgar seu trabalho e a ganhar uma visibilidade tanto nacional
quanto internacional, como lembrou Nivaldo Santos,

4
Taurino Silva. Op.cit. Entrevista concedida 28/09/2015.
28

a feira de caxixis é de suma importância que é uma vitrine de mostrar


nossos produtos a feira antigamente teve uma fama de divulgação e
naquele tempo o produto não era muito conhecido, ai as pessoas iam
conhecer a feira de caxixis e hoje não é preciso frequentar a feira de
caxixis, hoje qualquer lugar que você vai encontra peças de
Maragogipinho5.

Percebe-se que a feira foi e continua sendo muito importante para os oleiros,
pois ela ainda traz muita renda que são frutos do trabalho dos mesmos, que apesar
de alguns deles se afastarem da feira, sua arte sempre esteve presente, até por
meio de algum familiar que participa da feira, pois foram eles, os oleiros, os
construtores desse evento. Apesar da feira passar por diversas transformações, a
marca registrada dos oleiros, que são as peças de barro, estará sempre em
destaque na feira de caxixis como principal produto protagonista desse espaço.

Figura 04: o oleiro e a olaria

Fonte: Arquivo pessoal concedido do entrevistado Taurino Silva 22/07/08

5
Nilvado Santo Op.cit. Entrevista concedida 28/09/2015.
29

Essas pessoas são responsáveis por essas obras de arte e construtoras


dessa cultura secular que é a Feira de Caxixis. São homens e mulheres que muitas
vezes não eram valorizados e nem lembrados pelo seu trabalho, no entanto, são
eles que contribuíram para relatar suas próprias histórias e memórias que serviram
na construção desse estudo. Seus depoimentos são importantes, mas devem ser
cuidadosamente investigados e observados sua veracidade pelo autor, como bem
frisa VERENA ALBERTI:

A história oral não deve ser idealizada como método de produção de


documentos “verdadeiros”, por serem resultados de testemunhos de seus
narradores. Como registro do passado,a entrevista transcrita expressa uma
parte de experiência histórica de seu narrador, um fragmento da cultura que
lhe partilha com os contemporâneos indicando ao historiador uma
possibilidade de diálogo proflico que possa levar a um entendimento
razoável da realidade histórica experimentada que, enfim, é o que se
procura compreender. (ALBERTI, 2004 p.16).

A longevidade da Feira de Caxixis só foi possível pela permanência dessa


tradição secular de moldar o barro por essas pessoas simples, os oleiros de
Maragogipinho, que através de sua arte, de sua luta e do seu trabalho, conseguiram
manter viva essa memória e cultura secular que passa de geração a geração.

2.3 FEIRA DE CAXIXIS: UM ESPAÇO CULTURAL

Diversos fatores podem ser abordados para afirmar que a feira não é apenas
um setor da atividade comercial, laços de solidariedade e amizade estão imbricados
dentro desse espaço que favorece essa compreensão de ver a feira como um
espaço cultural. A ida das pessoas à feira proporciona encontros, conversas,
diversão. Um lugar onde sentimentos e afetividades são vivenciados.

É relevante informar mais uma vez que, apesar de suas dinâmicas e


transformações que ocorreram no decorrer do tempo, permanece viva na feira a
interação entre o mundo urbano e o mundo rural, tudo isso dentro de um mesmo
espaçocomo cita Charles D’ Almeida,

As feiras do Recôncavo sugere percepções da cidade articuladas com


possíveis encontros do mundo rural com o mundo urbano. Enquanto espaço
construído e reconstruído historicamente, elas se constituíam num
significado momento do universo das riças e ruas na região.
(SANTANA,1999, p. 54).
30

A Feira de Caxixis de Nazaré, apesar de ser realizada uma vez ao ano, ela se
enquadra nesse universo, pelo motivo do contato do campo com a cidade,
evidenciada com a presença dos oleiros de Maragogipinho, local considerado rural e
Nazaré uma cidade mais urbanizada e mais centralizada em relação ao distrito de
Maragogipinho.

Esse contato de pessoas simples, de cotidiano distinto que se encontra em


um determinado local, onde acontece essas trocas de vivências e de experiências
de vida, possibilitou uma mistura cultural entre os dois mundos. De forma
heterogênea e plural, de pessoas de realidade diferentes, mas que fazem parte de
um mesmo contexto.

São eles os responsáveispela construção do movimento da história


dinâmica que consiste no fato quase milagroso da singularidade dos
processos históricos coletivos e na própria dinâmica de intervenção do
homem na vida social política cultural, artística e cientifica de suas
comunidade. (Delgado, 2010 p.56).

A Feira de Caxixis foi constituída por esses sujeitos e cada um com suas
singularidades contribuiu para o desenrolar de uma cultura que é coletiva e que
proporcionou a implantação daqueles sujeitos naquele espaço, já que, segundo o
senhor Taurino Silva, “na feira livre não tem rico nem pobre todo mundo é o mesmo
nível, a feira livre é pra todos, o nome já diz feira livre”.

O entrevistado expressou que na feira o contato era igual para todos os


clientes sem distinção de classes, um local que era frequentado por diversos grupos
sociais, tornandoa feira em um local de circularidade cultural, onde várias classes se
encontravam para desfrutar de uma culturaem comum que é a feira livre: a Feira de
Caxixis de Nazaré das Farinhas.Para Peter Burke a cultura é

[ ...] um sistema de significados, atitudes e valores partilhados e as formas


simbólicas nas quais são expressos ou encarnados, entendendo que a
cultura não pode ser vista de forma homogênea e que é preciso levar em
consideração as semelhanças, exclusõese inclusões entre os sujeitos
sociais analisados evidenciando processos e mudanças (BURKE, 2004, p.
25).

Sendo assim, uma feira não está apenas limitada à ideia de comércio, de
compra e venda de mercadorias. Outros fatores fazem parte de sua dinâmica e de
sua história, um deles é a transformação da feira em uma festa, já que foram
31

incorporados outros componentes que ultrapassaram os limites comerciais que a


feira continha, tais como: músicas, brincadeiras, jogos, religiosidades, etc.

A Feira de Caxixis possui todas essas características de forma tão evidente,


ao ponto que as pessoas que visitam essa feira, se misturam entre comprar as
peças de barro e fazer seus cultos religiosos. A feira acontece em um período
considerado sagrado para os católicos, mas mesmo assim ainda existe a
possibilidade de as pessoas se divertirem com as diversas manifestações culturais
que penetraram dentro da feira como já fora citado.

Os entrevistados enfatizam o surgimento da feira e o que eram realmente as


peças de barros denominadas caxixis e o porquê desse nome, ressaltando ainda o
nome da feira de cerâmica que se constitui feira de caxixis em homenagem às
primeiras peças de barros vendidas na feira, em forma de miniaturas. Os depoentes
relataram a importância da feira de caxixis e a maneira que os oleiros eram tratados
na cidade de Nazaré e ainda ressaltam quem em Maragogipinho o trabalho deles
também ficou reconhecido após a exposição de suas peças de barro na feira.
Nivaldo dos Santos revelou que:

As olarias são de suma importância porque as pessoas que convivem do


barro direta ou indiretamente, eu falo indiretamente aquelas pessoas que
não trabalham do barro mas que ficam pintando, eu comecei a comercializar
desde criança desde que comecei a fazer minhas peças tive aquela
influência de ir para feira de caxixis a mais de 50 anos, mas tem mais de 20
anos que não frequento a feira de caxixis, mais participo de outros eventos,
a feira do interior em Salvador e em outras feiras, a feira de caxixis é uma
exposição de nosso produto, peças diversificadas, vários tipos de peças
moringuinhas, a canequinha, cinzeirinho, conjuntos de panela, chegava a
feira de canoa pelo rio Jaguaripe, então a feira de caxixis é uma exposição
de nosso produto. 6

O papel dessas pessoas na construção de suas próprias histórias é de


fundamental importância para a compreensão do objeto discutido, pois foram elas
que trabalharam e vivenciaram muitas mudanças dentro desse contexto. Investigar a
vida das pessoas que contribuíram para a realização de um evento e suas
particularidades, foi fundamental para o aprofundamento e conhecimento sobre a
feira de caxixis, pois a história de vida dos oleiros de Maragogipinho são as
6
Nivaldo Santos Op.cit. Entrevista concedida 28/09/2015.
32

principais ferramentas para se desvendar como a feira de caxixis passou por


diversos processos e compreender essa nova face que ela apresenta nos dias
atuais.
33

3 AS DINÂMICAS DE UMA FEIRA SECULAR

3.1 AS DIVERSAS MANIFESTAÇÕES DENTRO DA FEIRA DE CAXIXIS

Várias manifestações a partir da década de 70 modificaram a dinâmica da


feira de caxixis. Sendo assim, abordo quais outros produtos começaram a ser
comercializados na feira além da cerâmica? Quais os motivos que levaram a feira a
se prolongar, aumentado seus dias de evento? Quais os motivos que levaram a
micareta fazer parte da feira?

Então é impossível não notar que essas modificações na Feira de Caxixis não
fizessem com que ela ganhasse novos sentidos e significados, apesar de que a
prática tradicional de comercialização da cerâmica ainda hoje continua. No entanto,
ela não é mais o único componente do evento, este passou a contar com diversos
outros componentes que passaram também a disputar o mesmo espaço, que
geraram vários conflitos, conforme veremos mais adiante. Sobre as mudanças que
foram sendo introduzidas na Feira de Caxixis Luiz Caetano narrou que:

Antigamente vocênão tinha comida a barraca era feita a “facão” (feita de


qualquer jeito) hoje agente tem uma barraca apropriada não como agente
precisa mas melhor que antigamente, tinha as barracas com cavalete
aquilo tornava-se feio hoje está tudo padrão tudo é inovação7.

As modificações trouxeram melhorias para os oleiros que contavam agora


com um maior investimento da gestão municipal da cidade de Nazaré. Esses
investimentos atraíram atenção de outros grupos comerciais que perceberam na
feira um ambiente adequado para comercializar outros tipos de produtos, além dos
caxixis.

A comercialização de outros produtos junto com os caxixis atraia mais turista


para acidade de Nazaré, porém possibilitava uma disputa comercial para os oleiros
que não eram mais prioridades na feira, dando início a uma ruptura com a tradicional

7
Luiz Caetano,nascido em 1959, artesão e oleiro. Entrevista concedida 06/11/2015.
34

feira que comercializava apenas cerâmica e começava a se caracterizar como uma


festa. Para Charles Santana.

Investimentos turísticos também pressionaram modificações na feira dos


caxixis, a partir da década de 70, ainda que não tenham conseguido mudar
ou ampliar os dias de sua realização uma única vez por ano, na quinta e
sexta feiras santa. No espaço de doisa três anos, a organização da feira
vem apresentando variações na programação. Períodos com trios elétricos,
camelódromo, venda de souvenires barracas padronizadas. (Santana, 1999.
p.53).

É importante salientar que essas modificações foram potencializadas e


impulsionaram um crescimento turístico que levou a feira a um processo de misturas
culturais transformando-a numa festa. A partir da década de 70 começaram se
intensificar vários investimentos que deram um novo vigor ao turismo e o setor
econômico da cidade de Nazaré e para alguns as mudanças trouxeram benefícios.

Um dos benefícios sem dúvida, foi uma maior organização do evento e o seu
crescimento econômico e turístico, com a introdução da comercialização de outros
produtos, a micareta e o aumento de dias da feira, estes potencializaram e
influenciaram um desenvolvimento maior na Feira de Caxixis, apesar dos conflitos
internos entre a igreja, a administração da cidade e os oleiros, que geraram muitas
polêmicas e discussões. Foram essas mudanças que fizeram com quea feira
ganhasse uma nova face.

As modificações desse evento ocorreram frente a um “jogo político”,


econômico e religioso, no qual grupos distintos se confrontavam. De um lado os
oleiros que não participaram efetivamente desse processo de mudança, apenas
aceitaram as alterações que foram realizadas por outros grupos, principalmente a
administração da cidade de Nazaré, que acreditava que com as modificações na
feira poderiam beneficiar o evento atraindo mais turistas para acidade. Segundo o
senhor Caetano Brito, “foi a administração de Nazaré quem teve a ideia de lançar a
micareta em pleno caxixis, consequentemente julgo eu, para não ter duas
despesas8”.

A gestão da cidade então introduziu a micareta para corte de gastos do


município, com o intuito de, ao invés de realizar dois eventos organizaria apenas um,

8
Caetano Brito Op.cit.Entrevista concedida 06/11/2015
35

contemplando elementos dos dois eventos. Essa postura favorecia uma vantagem
econômica de contenção de gastos para o poder público. Porém, essa medida
desagradou a muitos que participavam da feira, para eles, além de transformar o
evento em uma festa, descaracterizou totalmente sua história, motivo pelo qual se
desencadeou conflitos internos com outras instituições que faziam parte desse
mesmo contexto e se colocavam contra essa nova dinâmica que a feira
apresentava, agora com a micareta.

Os religiosos da igreja católica da cidade de Nazaré também não ficaram


contente com essas nuances pelas quais a feira passou, que por sua vez, via a
micareta no período da Semana Santa, como algo desrespeitoso para os
eclesiásticos. Assim, cada lado com seus motivos, aspirações e concepções
diferentes sobre esse evento, passaram a defender suas ideologias. Os oleiros
queriam continuar sendo tendo prioridade na feira, a vendade seus produtos, a
administração pública queria aumentar seu poder econômico com o evento e a igreja
não queria deixar o evento ferir seus dogmas e princípios religiosos. Nesse contexto
parece que identidades estavam em jogo conforme podemos perceber a partir das
ideias de Delgado quando diz que:

As identidades são representações coletivas contextualizada não é genérica


nem caracteriza e relativas a povos, comunidades, pessoas, já que a
humanidade não é genérica nem caracterizada por universalismo abstrato.
Ao contrario encarna-se em expressões e formas originais e especificas,
traduzidas por identidades,religiosas, de gênero, politicas, corporativas,
nacionais culturais, partidárias, ideológicas (DELGADO, 2010, p.61).

Os oleiros na sua maioria não gostaram da implementação da micareta na


Feira de Caxixis, pois os mesmos acreditavam que a micareta atrapalhava a
comercialização dos caxixis, sem contar com a disputa comercial que enfrentavam
com outros comerciantes, agora teriam que dividir a atenção da feira com a
micareta. Na fala do senhor Luiz Caetano:

Sem micareta era bem melhor, a micareta medesculpa a expressão era


uma“desgraça” agente ficava sem segurança quando os foliões
vinhamacabando com tudo, a micareta nunca foi boa agente tinha que abrir
passagem para passar pelo meio da gente tinha que ser cada qual em seu
cada qual9.

9
Caetano Brito Op.cit.Entrevista concedida 06/11/2015.
36

A ideia da micareta dentro da feira de caxixis representava um perigo para a


maioria dos oleiros tanto no que diz respeito a sua segurança quanto na disputa da
atenção dos turistas que vinham ver a Feira de Caxixis. A micareta representava
prejuízo para os artistas do barro ao invés de lucro.

Com isso a Feira de Caxixis tornou-se palco para as discussões tanto


religiosas quanto políticas, além de já apresentar-se como um lugar em que
dimensões do setor econômico, cultural e turístico que já faziam parte de sua
tradição e sua história, todas essas manifestações começavam a fazer parte desse
evento, fazendo desse ambienteum espaço atrativo para centenas de pessoas irem
visitar. Conforme um jornal da época:

Incluída oficialmente no calendário de eventos turísticos, a feira de caxixis


que se realiza em Nazaré das Farinhas, está empobrecendo suas
características originárias e ganhando outras. Entre os que assim pensam
está o oleiro (com olaria em Maragogipinho) Firmino dos Santos. Ele
afirmou:” Afeiravirou festa. Vem tudo é pra fazer batucada, beber, comprar
caxixis, que é bom, ninguém compra, ou quase isso. E o Padre, depois bota
culpa em nós dizendo que a feira é um desrespeito ás festas de paixãode
Cristo. (JORNAL DA BAHIA, 1978. p.6).

Podemos observar então que o jornal através da entrevista com o senhor


Firmino dos Santos, afirma que as modificações que a feira estava passando e as
complicações que ela trazia para os participantes do evento como já foi abordado,
geravam reclamações das partes envolvidas. Enquanto tudo isso beneficiava o setor
econômico da cidade, por outro lado prejudicava o setor religioso conturbando os
festejos da paixão de Cristo que acontece no mesmo período.

Apesar de tantos conflitos internos por causa da feira, a mesma acontece


todos os anos durante três séculos, normalmente de forma ininterrupta. A feira
nunca deixou de acontecer, alguns anos com proibições de algumas manifestações
dentro dela, mas sempre a feira era realizada anualmente no período da semana
santa, mesmo contrariando às vezes algum grupo por causa de sua nova
configuração.
37

Figura 05: Jornal sobre a feira de caxixis

Fonte: Jornal da Bahia 21/04/1978

A imagem acima de um jornal do período, demonstra com seu título que a


Feira de Caxixis continuava viva, porém, outras manifestações estavam lhe
proporcionando uma nova cara, com diversas outras nuances que enriqueceram em
sua parte econômica, mas perdeu um pouco sua parte cultural, diversificando suas
características tradicionais da venda de cerâmica, ultrapassando os limites de uma
simples feira de peças de barros para um aglomerado de manifestações que
modificaram significantemente suas raízes de “origem”.

3.2 A EXPANSÃO TURISTICA E ECONOMICA DA FEIRA DE CAXIXIS

Nessa parte da pesquisa faço uma abordagem sobre de que forma a Feira de
Caxixis adquiriu um avanço econômico e espacial, fazendo assim crescera
economia da cidade com o evento e os lucros dos oleiros que trabalhavam na feira.

Percebe-se que como passar do tempo e com o sucesso que a feira fazia
todo ano, foi um processo natural o seu desenvolvimento, tanto econômico quanto
38

espacial e turístico. Cada ano o evento atraia mais pessoas e as misturas de


culturas dentro da feira contribuíam para esse aumento econômico e espacial do
evento que ganhou credibilidade também frente à comunidade e fazendo com que a
mesma crescesse e ganhasse reconhecimentos internacionais.

Deacordo com as reportagens enunciadas a feira de caxixis, apesar das


transformações sofridas apresentouum índice a mais de aprovação por
todos que marcaram sua participação. A comissão organizadora preocupou-
se com a recepção aos turistas enquanto que o poder municipal contribuiu
com a construção de barracas para venda de bebidas e comidas
típicas.(Mota 2011, p.172)

A mídia foi um veículo de informação importante que contribuiu para a


expansão econômica e turística da Feira de Caxixis e acada ano a feira
ganhavamais destaque, rendendo matéria para diversos meios de comunicação.
Vários jornais já destacavam o sucesso da feira de caxixis, possibilitando assim a
visita de turistas famosos como o escritor e literário Jorge Amado, dentre outros que
vinham visitar a cidade de Nazaré e assim a cada ano o evento aumentava seu
público.

Além dos turistas baianos e de vários Estados do Brasil Nazaré recebera


esse ano a visita de autoridades e nomes famosos das letras e das artes os
quais o prefeito de Salvador, deputado Antônio Carlos Magalhães. (que vira
de helicóptero), o escritor Jorge Amado, Paulo Tavares e o tapeceiro
Genaro de Carvalho. Para receber toda essa gente importante o prefeito
Isaac Peixoto preparou covenientemente a cidade, aumentando a
pavimentação a área destinada a exposição dos caxixis (avenida Jose
Marcelino e Eurico Mata); colocando farta iluminação no centro urbano
inclusive com lâmpadas coloridas a vapor de mercúrio e realizado diversos
serviços de embelezamento desta aprazível cidade colonial. (A TARDE
1970, F.0947)

A Feira de Caxixis se transformava em uma atração famosa e a cada ano trazia


uma multidão de pessoas fazendo com que autoridades da cidade fizessem
melhorias na mesma para receber os turistas que ali chegavam e estes pudessem
apreciar o evento. Tal atitude trazia melhorias na infraestrutura, no espaço que
acontecia a comercialização da cerâmica, possibilitando assim um ambiente
acessível para todos, oleiros, turistas e toda comunidade. A feira se modificou e não
era mais um espaço para apenas comercializar cerâmica, passou a ser um grande
evento, cheio de implementações de outras culturas e tais elementos
proporcionaram um maior desenvolvimento do seu território.
.
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A ampliação espacial da Feira de Caxixis foi fundamental para que esse


desenvolvimento acontecesse. Esse espaço foi conquistado pelos oleiros que
lutaram por esse crescimento espacial e por assistência na realização desse evento,
já que a gestão da cidade observava nos artistas do barro uma fonte de renda
riquíssima para o município e dessa forma, a feira se constituía e mum espaço de
sociabilidade e atrativo para todos que ali fossem visitá-la.Para Santos,

“o espaço reproduz a totalidade social na medida em que essas


transformações são determinadas por necessidades sociais, econômicas e
políticas. Assim o espaço reproduz-se, ele mesmo, no interior da totalidade,
quando evolui uma função do modo de produção e de seus momentos
sucessivos. Mas o espaço influencia também a evolução de outras
estruturas e, por isso, torna-se um componente fundamental da totalidade
social e de seus movimentos”. (SANTOS, 2005, p.33).

Sendo assim, a Feira de Caxixis tornara-se esse espaço, um local de disputas


e conflitos, tornando-a em uma festa. Espaço também de contradições, exemplo
disso é a “briga” da igreja católica com a gestão da cidade de Nazaré, gerando
diversas discussões sobre a configuração desse lugar em disputa. Santos observa
que:

Espaço atual e tempo atual complementam-se, mas também estão em


contradição. De outramaneira, não poderia evoluir. “Somente a partir da
unidade do espaço e do tempo, das formas e do seu conteúdo, é que se
podem interpretar as diversas modalidades de organização espacial”.
(SANTOS, 2008, p. 63).

Como dito antes, a Feira de Caxixis passou a ser um local de disputas


econômicas, religiosas e políticas, pois pela riqueza de sua história e sua tradição, a
feira representava lucros e grande visibilidade, além de que ela era um campo de
interesses de diversos grupos como: a administração da cidade de Nazaré, a igreja
e os oleiros.

3.3 OSAGRADO E O PROFANO DENTRO DA FEIRA DE CAXIXIS

As brigas geraram entre a administração da cidade e a igreja por causa da


introdução da micareta dentro da feira no período da Semana Santa, muita polêmica
e confusão na cidade. A feira acontecia todos os anos normalmente sem a micareta,
só com a exposição dos artesanatos, os caxixis. Segundo Urânia Mota (2011) a
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partir da década de 70, do século XX foi que a administração da cidade de Nazaré


resolveu colocar a micareta dentro da feira, fato este que proporcionou desavenças
com a igreja católica, que vi aos festejos da micareta na feira como um desrespeito à
instituição, já que, a semana santa é o período considerado sagrado para os
cristãos. Ressalta ainda Mota que:

Em 1971, os administradores resolveram transformar a micareta e a feira de


caxixis numa grande festa, objetivando contenção de gastos. Assim, a
micareta passou ter início no sábado santo e não na pascoa, como vinha
feito no passado. Este foi o primeiro passo para o caxixi começar perder sua
essência e a semana santa ser associada aos atos profanos(MOTA211, p.
172).

A Feira de Caxixis gradativamente foi se reconfigurando e se transformando


numa festa. Apesar das críticas da igreja, a administração da cidade queria atrair
mais visitantes e cortar gastos com outro evento, que de certa forma aconteceria
“paralelamente”. Então, a ideia da implementação da micareta dentro da feira
aconteceu de forma premeditada pela gestão do município para cortar gastos com
outra festa e de fazer um único evento podendo arrecadar mais renda e diminuir o
custo aos cofres do município.
O evento ganhava novos significados com essa dinâmica e a feira ganhava
novas formas e caricaturas. Apesar de proporcionar um desenvolvimento no evento
em geral, essa iniciativa não agradou a todos os participantes, já que, uma feira com
requintes tradicionais que acontecia em um período sagrado começava a se
caracterizar como uma festa profana e com fortes influências políticas, econômicas e
sociais, contraria sua face inicial que erade uma feira cultural de artesanato, dos
caxixis. Santos diz que:

O movimento do espaço, isto é sua evolução, é ao mesmo tempo um efeito


e uma condição do movimento de uma sociedade global. Se não podem
criar formas novas ou renovar as antigas, as determinações sociais tem de
se adaptar. São as formas que atribuem ao conteúdo novo provável, ainda
abstrato, a possibilidade de torna-se conteúdo novo e real (SANTOS,2005,
p.31).

Essas modificações, como já salientado, deram uma nova face para a Feira de
Caxixis, porém os conflitos internos entre as partes envolvidas continuavam a
acontecer. Nesse campo de disputa, conflitos esses que proporcionaram alterações
na realização da feira nos anos posteriores, como a alternância da micareta dentro
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da feira em determinados anos fazendo-se presente na feira e em outros anos a


micareta acontecia duas semanas após a exposição dos caxixis:

Em 1978, a micareta foi desvinculada da feira de caxixis. Nesse mesmo


ano, o prefeito Joao Tourinho filho resolveu transferir a micareta para quinze
dias após a semana santa, visto que esta comemoraçãovinha sendo
efetivamente a meia noite da sexta feira da paixão, causando transtorno aos
atos religiosos (MOTA,2011, p. 172).

Foi através de muita luta da igreja e consentimento de alguns gestores da


cidade de Nazaré, que a micareta foi afastada em 1978 pelo prefeito João Tourinho
Filho, dos festejos da semana santa. Por observar que a micareta era um evento
profano como é citado a cima por Urania Teixeira Mota em uma passagem do seu
livro LOUÇA de DEUS. Dessa forma, considerada uma ofensa para os religiosos, a
micareta foi afastada da Feira de Caxixis acontecendo quinze dias depois da
semana santa. Portanto, não foi só a igreja que adotou atitudes de censura sobre a
festa dentro da feira, jornais também já faziam críticas relativas à questão da
micareta dentro da semana santa.

Figura: 06 A profana tradição sagrada.

Fonte: Jornal do Brasil da cidade do rio de janeiro 30/03/1972


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A reportagem do jornal do Brasil da cidade do Rio de Janeiro de 30 de março


de 1972, com uma matéria intitulada: a profana tradição sagrada, retrata bem a
reconfiguração que a Feira de Caxixis passou ao longo do tempo, com a introdução
da micareta perdeu sua forma tradicional de uma feira cultural e ganhou novas
formas e significados impulsionadas por motivos políticos e econômicos que
provocaram o descontentamento de muitos que participavam do evento que
acreditavam que os defensores da micareta na feira estavam profanando um
período sagrado.

Este ano espera uma afluência ainda maior a famosa feira de caxixis motivo
de uma advertência do arcebispo da Bahia e primaz do Brasil que alertou a
seus fiéis quanto uma festa religiosa transforma-se em excessos numa festa
profana que o turista vá aNazaré das Farinhas que compre os objetos de
barros mantendo a tradição mas que modere seu comportamento (jornal do
Brasil Rj, 1972, f.0959).

Com o crescimento da feira e sua transformação em uma festa, a preocupação


dos religiosos se dava exclusivamente, por assim dizer, que os fiéis não
participassem da parte profana que acontecia em período sagrado, aconselhando a
quem fosse participar do evento, que tomasse o devido cuidado.
Apesar da derrota da administração da cidade, quando tentou retirar a
micareta da Feira de Caxixis por pressões dos fiéis do catolicismo e por crítica da
mídia, passaram, a ser inseridas na feira atrações musicais que a caracterizam,
mesmo com o afastamento da micareta, como um evento profano.“[...] Para as
festividades noturnas, visando o fluxo turístico, a praça de eventos recebeu dois
palcos com atrações nacionais e locais”. (MOTA 2003, p.173).
Com o afastamento da micareta da Feira de Caxixis em 1978 a gestão de
Nazaré procurou meios para fortalecer o crescimento turístico da cidade, já que o
desligamento da feira com a festa não estava atraindo muitos turistas para o evento,
e isso poderia contribuir para um declínio econômico da Feira de Caxixis. Urânia
Mota (2011) afirma que a partir do início dos anos 2000 a administração da cidade
de Nazaré resolveu incluir dois palcos com atrações musicais para atrair mais
público para o evento e novos investimentos foram realizados para impulsionar o
desenvolvimento econômico da Feira de Caxixis.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse trabalho teve o objetivo de realizar uma análise sobre os processos de


mudanças e permanências que fizeram a Feira de Caxixis se tornar uma festa. Essa
feira constitui-se em um espaço de fundamental importância na cultura das pessoas
da cidade de Nazaré das Farinhas na Bahia e também daquelas que vivem em
outros lugares, a exemplo dos oleiros de Maragogipinho, um dos principais
protagonistas da Feira de Caxixis.

Esse estudo permitiu adentrar no universo da feira e desvendar valores,


costumes, experiências, contradições e conflitos vivenciados por vários sujeitos e
alguns grupos sociais que estavam inseridos nesse processo. Os fatos e episódios,
bem como as transformações e mudanças pelas quais a Feira de Caxixis passou,
remete a pensar numa tradição que não é estática nem imóvel. É uma tradição
fluida, móvel, elástica, assim como é o tempo e a própria história. Sendo assim, foi
por isso que a Feira de Caxixis ganhou uma nova face.

Para além dos aspectos econômicos, essa feira tem sua história recheada de
tramas e conflitos religiosos e políticos que a marcaram na contemporaneidade.
Essas questões penetravam na vida dos diversos sujeitos que direta ou
indiretamente possuíam algum vínculo ou laço identitário com a mesma. Um caso
exemplar foi a “questão religiosa”, cuja igreja católica não aceitava a introdução da
micareta na feira de Caxixis que acontecia/acontece no período da semana santa,
tempo sagrado para os adeptos do catolicismo.

Os oleiros e artesãos de Maragogipinho, considerados os iniciadores e


perpetuadores dessa feira, imprimiram sua marca na cultura, na tradição, na história
e na memória da cidade, da população e de todos aqueles que visitavam/visitam a
Feira de Caxixis, com a comercialização dos produtos de cerâmica e da argila.
Todavia, também enfrentaram as mudanças que para muitos deles não foi algo
positivo, já que algumas transformações que foram introduzidas na referida feira
descaracterizou-a. Mas mesmo assim, todos os anos eles estão lá trabalhando e
comercializando seus produtos.
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Adentrar no universo da Feira de Caxixis significa atentar para um espaço em


que é preciso ter um olhar voltado para os valores sócio culturais presentes em tudo
aquilo que a feira apresenta e se constitui que vai muito além do que é
comercializado. Essa feira apresenta especificidades, peculiaridades e
singularidades que atraem sujeitos de vários lugares que para lá se deslocam com
vários interesses. Trabalho, lazer, diversão, conflitos e atritos, são dimensões da
vida humana que ali são encenados.

Local público onde todos indistintamente podem adentrar, a Feira de Caxixis


marca sua permanência na história com o trabalho do oleiro/artesão do mundo rural,
que muito contribuiu/contribui com a dinâmica econômica, cultural e social da cidade
de Nazaré das Farinhas. Porém, a reflexão adquirida com este estudo possibilitou-
me compreender que outros agentes estiveram/estão presentes na consolidação da
Feira de Caxixis no referido município.

Todavia, concluo esse trabalho com o propósito de que ele possa contribuir
com a ampliação da produção historiográfica sobre essa temática e também sobre a
cidade de Nazaré das Farinhas. Finalizo, afirmando que a Feira de Caxixis é um
evento que ultrapassou a barreira dos tempos, passou por diversas mudanças e
transformações, mas mesmo assim continua existindo. Apesar dos novos elementos
que foram introduzidos em sua composição, ela ganhou novos sentidos e
significados que ressignificou-a,dando- lhe uma nova face, já que “toda feira também
é uma festa”.
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FONTES ORAIS

Almerentino filho: 50 anos artesão mora em Maragogipinho distrito de Aratuipe


Bahia nascido no dia 31 de setembro de 1964. Entrevista realizada em 08 de maio
de 2015.

Denismar Peixoto costa: 36 anos conhecido como “Carcaça” mora em


Maragogipinho Aratuípe nascido no dia 14 de outubro de 1978. Entrevista realizada
em 15 de maio de 2015.

Edvaldo santos conceição: 67 anos artesão mora em Maragogipinho distrito de


Aratuípe Bahianascido no dia 03 de novembro de 1947. Entrevista realizada em 08
de maio de 2015.

Elenilton Araújo: 65 anos artesão conhecido como “Nirtinho” mora em


Maragogipinho distrito de Aratuípe- Bahia nascido no dia 21 de setembro de 1949.
Entrevista realizada em 08 de maio de 2015.

Luiz Caetano Brito da Luz: pedagogo e artesão mora em Maragogipinho distrito de


Aratuípe Bahia nascido em 1959, 56 anos entrevista realizada 06 de novembro de
2015.

Manoel pereira dos Santos: 54 anos mora em Maragogipinho distrito de Aratuípe


nascido no dia 10 de setembro de 1960. Entrevista realizada 15 de maio de 2015.

Nivaldo dos Santos: “seu Josias” artesão mora em Maragogipinho distrito de


Aratuípe Bahia nascido em 04 de fevereiro de 1952 63 anos entrevista realiza em 28
de setembro de 2015.

Taurino Silva seu Zé: artesão mora em Aratuipe Bahia nascido em 23 de setembro
de 1957 entrevista realizada em 28 de setembro.

FOTOGRÁFICAS:

Fotografias da Feira de Caxixis do período de 1970- 2000.


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Escritas: jornais da época do recorte temporal da pesquisa:

- jornal diário de notícias 14/04/1968.

- jornal diário de notícias 30/03/1970.

- jornal A Tarde, Salvador 25/03/1970.

-: jornal do Brasil da cidade do Rio de Janeiro 30/03/1972.

- jornal da Bahia 21/04/1978.


47

REFERÊNCIAS

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BURKE, Peter. Testemunha ocular: história e imagem/ Peter Burk; tradução vera
Maria Xavier dos santos; revisão técnica Daniel Aarão reis filho – bauru-sp:edusc,
2004.

BARETO, Queiroz Virginia: trilando os caminhos do Barro: cotidiano das


mulheres oleiras do recôncavo baiano(1960-1990).

DELGADO, Neres, Almeida, de Lucilia: Memoria oral- memoria, tempo,


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GINZBURG, Carlos, 1939 O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um


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SANTANA, Charles D’ Almeida. Dimensão Histórico-cultural (Cidades do


Recôncavo). Salvador: Cadernos CAR – Programa de Desenvolvimento Regional
Sustentável, 1999. Pg. 52.

SANTO, Milton, 1926- 2001. Por uma geografia nova da crítica da geografia a
uma crítica/Milton Santos. - São Paulo, 2004- (coleção Milton santos).
48

SOUZA, Araújo Marcos Antônio. Maragogipinho: seus oleiros e a arte


transformada / 1980-2000.

URÂNIA, Teixeira Mota. Louças de deus o caxixis em Maragogipinho. Salvador


fast desingn 2011.

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