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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

Ciência Política e Relações


Internacional

2º Ano

Disciplina: Organizações Internacionais


Código: ISCED21-RINCFE001
TOTAL HORAS/1o SEMSTRE: 75
CRÉDITOS (SNATCA): 3
Número de Temas: 08

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED


ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional i

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade doInstituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e


contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto
Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipuladoo infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


Direcção Académica
Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa
Beira - Moçambique
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Cel: +258 82 3055839

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E-mail:isced@isced.ac.mz
Website:www.isced.ac.mz

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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pela Coordenação Direção Académica do ISCED

Pelo design Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação


a Distancia (IAPED)

José Bernardo Rafael,Msc Conflit Resolution and


Pela Revisão Diplomacy

Elaborado Por: Tome Fernando Bambo, Msc em Relações Internacionais

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Índice

Visão geral 1
Bem vindo ao Módulo de Organizações Internacionais ................................................... 1
Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 1
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 8
Avaliação ........................................................................................................................... 8

TEMA – I: INTRODUÇÃO (Considerações gerais à Disciplina). 11


UNIDADE Temática 1. Teoria Geral das Organizações Internacionais. .......................... 13
Introdução....................................................................................................................... 13
Resumo ........................................................................................................................... 20
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 20
Exercícios ........................................................................................................................ 21
Respostas ........................................................................................................................ 21
UNIDADE Temática 2. Origem Histórica das Organizações internacionais .................... 22
Introdução....................................................................................................................... 22
Resumo ........................................................................................................................... 31
Auto Avaliação ................................................................................................................ 32
Exercício .......................................................................................................................... 32
Respostas ........................................................................................................................ 32
UNIDADE Temática 3. Características das Organizações Internacionais ........................ 33
Introdução ............................................................................................................. 33
Resumo ........................................................................................................................... 40
Auto Avaliação ................................................................................................................ 41
Exercícios ........................................................................................................................ 42
Respostas ........................................................................................................................ 42
UNIDADE Temática 4. Classificação das Organizações Internacionais ........................... 43
Introdução ............................................................................................................. 43
Resumo ........................................................................................................................... 53
Auto Avaliação ................................................................................................................ 54
Exercícios ........................................................................................................................ 54
Respostas ........................................................................................................................ 54
Temática 5. Personalidade Jurídica Internacional e a Questão de Sucessão das OIs .... 55
Introdução ............................................................................................................. 55

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional iv

Resumo ........................................................................................................................... 60
Auto Avaliação ................................................................................................................ 61
Exercícios ........................................................................................................................ 61
Respostas ........................................................................................................................ 62
Temática 6. Tratado Constitutivo de uma Organização Internacional e sua
Interpretação .................................................................................................................. 63
Introdução ............................................................................................................. 63
Resumo ........................................................................................................................... 70
Auto Avaliação ................................................................................................................ 70
Exercícios ........................................................................................................................ 71
Respostas ........................................................................................................................ 71
Temática 7. Admissão de Novos Membros, Sanções e Retirada de um Membro da OIs72
Introdução....................................................................................................................... 72
Resumo ........................................................................................................................... 78
Auto Avaliação . .............................................................................................................. 78
Exercícios ........................................................................................................................ 78
Respostas ........................................................................................................................ 79
Bibliografia ...................................................................................................................... 79

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Visão geral

Bem vindo ao Módulo de Organizações Internacionais

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Organizações


Internacionais deverás ser capaz de analisar os elementos que
compõem a teria das Organizações internacionais, suas estruturas
e modo de funcionamento e a aplicabilidade da disciplina na sua
formação. Traçando um perfil histórico dos principais factos,
autores e temas.

 Conhecer as principais teorias das Organizações


Internacionais;
 Compreender a aplicação de conceitos e elementos
Objectivos próprios de Organizações Internacionais nas questões
Específicos inerentes aos seus conceitos, natureza e modus operandi.
 Apreender a traçar um olhar crítico sobre o funcionamento
das Organizações Internacionais;
 Compreender o papel das Organizações Internacionais;

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais do ISCED
e outros como, Administração, etc. Poderá ocorrer, contudo, que
haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 2

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Organizações Internacionais, para estudantes do


1º ano do curso de licenciatura em Ciência Política e Relações
Internacionais, à semelhança dos restantes do ISCED, está
estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.No final de cadaunidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades
práticas algumas incluído estudo de casos.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 3

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique
e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na
biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos
relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-
ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico
disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital
moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 4

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-
Pedagógica, etc deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que
graças as suas observações, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 5

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando, estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num
sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em
cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 6

durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos


das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo,
criando interferência entre os conhecimento, perde sequência
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,
estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área
em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 7

Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado


não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas
trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se
torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro


estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assunto relacionados com os conteúdos

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 8

programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade


temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um
autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 9

docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja


uma avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de
avaliação.

Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da


cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 11

TEMA – I: INTRODUÇÃO (Considerações gerais à Disciplina).

As organizações internacionais (OIs), sejam elas de carácter global,


intercontinental ou regional, desempenham um papel preponderante
na sociedade internacional contemporânea, dada a sua influência na
esferas política, económica e social, inclusive em sectores vitais como
na efectivação de direitos humanos, na manutenção da paz e
segurança internacional e, estabelecimento de quadros normativos e
reguladores das Relações Internacionais.

Além disso, as OIs em si, representam um espaço de exercício de


Relações Internacionais do qual os graduados em Relações
Internacionais no Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância
(ISCED), não podem estar a margem do seu conhecimento. E, tendo
em vista o escasso material doutrinário sistematizado e actualizado no
nosso país ao respeito das Organizações Internacionais, o presente
Manual foi desenhado para oferecer ao Estudante, uma base
adequada de modo a desenvolver melhores conhecimentos e ter uma
maior compreensão sobre as organizações internacionais.

O Manual é principalmente descritivo, combinando os conceitos,


explicações com as imagens e gráficos. Embora inclua alguns
comentários pessoais quando adequado, as informações fornecidas no
Manual, são compatíveis com o declarado em materiais originais e
apresentado na maioria das demais publicações do Direito
Internacional e Relações Internacionais. Quanto a estrutura, o manual
está estruturado em Dez (10) temas e no final de cada tema,
apresenta questões de consolidação de conhecimentos.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 12

UNIDADE Temática 1.Teoria Geral das Organizações Internacionais.


UNIDADE Temática2.Origem histórica das Organizações
Internacionais.

UNIDADE Temática 3. Características das organizações internacionais

UNIDADE Temática 4. Classificação das Organizações Internacionais


UNIDADE Temática 5. Tratados constitutivos de uma organização
internacional.

UNIDADE Temática 6. Personalidade jurídica internacional e a questão


de sucessão das organizações internacionais

UNIDADE Temática 7. Processos de admissão de novos membros, as


sanções e o processo de retirada nas Organizações Internacionais

UNIDADE Temática 8. Representação junto dos Estados membros, os


privilégios e imunidades dos locais e do pessoal a serviço das
organizações internacionais.

UNIDADE Temática 9. Organização das Nações Unidas (ONU), sua


fundação, seus membros, objectivos, línguas oficiais e estrutura
funcional.

UNIDADE Temática 10. A Comunidade dos Países da África Austral, o


contexto do seu surgimento, objectivos e o quadro funcional da SADC.

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 13

UNIDADE Temática 1. Teoria Geral das Organizações Internacionais.

Introdução

O interesse da unidade que segue édemostrar que a partir dos


conflitos internacionais surgiu a ideia de organizar politicamente a
sociedade internacional.

Observa-se, actualmente, uma grande disseminação das Organizações


Internacionais, devido ao facto dos Estados se encontrarem
impossibilitados, por razões estruturais e políticas, de realizar seus
objetivos em um quadro determinado.

Primeiramente, ao tratarmos destas organizações, se faz necessário


defini-las. No entanto, por não se ter um conceito preciso de tais
pessoas classificaremos seus elementos constitutivos, para então,
formulá-los.

Um primeiro aspecto é a associação voluntária de sujeitos de Direito


Internacional. Em regra, essa associação é formada apenas por
Estados, mas já se admite que esta seja constituida por outras
Organizações Internacionais. Como exemplo, podemos citar o caso da
OMC (Organização Mundial de Comércio), criada pelo Protocolo de
Marrakesh em 1994, que teve como uma das partes signatárias a
União Europeia.

Deve ser instituida por acto internacional, que é denominado tratado


ou convenção. Este acto não possui prazo de validade e será
interpretado pela organização internacional, sendo sua execução feita
por diversos outros actos, tendo tal instrumento jurídico primazia
sobre os tratados. Importante lembrar que os atos internacionais
possuem importância superior à de uma Constituição para os Estados,
já que as organizações jamais poderão

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 14

subsistir sem um tratado que as constitua. Teoricamente, um Estado


pode existir mesmo sem uma Constituição.

Em terceiro plano, as organizações internacionais devem possuir um


ordenamento jurídico próprio capaz de regular o funcionamento de
seus órgãos.

Segundo o parecer da Corte Internacional de Justiça (CIJ), de 1949, se


tomou indispensável que a organização tenha personalidade
internacional. Esta, seguindo o princípio da efetividade só passa a
vigorar no momento em que a organização, efetivamente, entra em
funcionamento.

As organizações devem constituir-se de órgãos próprios, geralmente


divididos em três funções: um órgão executivo denominado Conselho;
um órgão que congrega todos os Estados chamado de Assembleia; e,
por fim, um órgão encarregado da parte administrativa, o
Secretariado.

Ao lado deste contexto, devem ter existência de poderes próprios,


fixados pelos tratados que instituíram tal organização.

Ao completar esta unidade, você será capaz de definir a organização


internacional.

Objectivos

No final deste tema, o estudante deverá ser capaz de:

 Apresentar o conceito e objecto de Organizações

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 15

Internacionais;
 Fazer a distinção entre Organizações
Internacionais e as organizações correlatas e;
 Responder de forma clara, os exercícios que lhes
são apresentados no final do Tema.

1.1. Conceito de Organizações Internacionais

Apesar das Organizações Internacionais serem uma realidade


irreversível na actualidade, é difícil encontrar na literatura do Direito
Internacional e das Relações Internacionais, um conceito uniforme
sobre “o que elas são”. Esta dificuldade resulta por um lado, pelo facto
de existirem no Sistema Internacional, várias organizações
internacionais, cada uma actuando em âmbito e esfera geográfica
diversificado e, por outro, pelo facto de não existir no ordenamento
jurídico internacional um instrumento que padroniza a definição do
conceito.

Contudo, com base nas características comuns, é possível trazer um


conceito mais amplo, flexível e abrangente à todas as Organizações
Internacionais existentes no sistema internacional (PEREIRA e
QUADROS, 2000, pág. 411). Deste modo, a questão que se levanta é: o
que seriam então, uma Organização Internacional?

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 16

Figura 1: Conceito de OIs

Sobre esta questão, a Convenção de Viena sobre a Representação de


Estados em suas Relações com as Organizações Internacionais de
Carácter Universal, de 1975, afirma que: A expressão Organização
Internacional deve ser entendida como uma associação de Estados
constituída por um tratado, dotada de uma constituição e de órgãos
comuns, e possuindo uma personalidade jurídica distinta da dos
Estados-membros” (alínea a) do Art.1, CV, 1975).

A outra definição que também merece destaque nesta tentativa de


procura do melhor conceito, advém do Gregory I. Tunkin, que segundo
o autor:

A Organização Internacional é uma união de Estados, criada na base


de um Tratado Internacional para a realização de determinados
objectivos e que tem o respectivo sistema de órgãos, possui direitos e
deveres diferentes dos direitos e deveres dos Estados membros e, é
constituída em consonância com o Direito Internacional”(TUNKIN,
1990, pág. 171).

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 17

Podemos assumir todas as definições como sendo válidas e aceitáveis.


Todavia, é do Paulino Lukamba que advém a definição mais
abrangente, moderna e com uma visão esclarecedora e sob a qual
concordamos.

Para Lukamba, 2000:136),“uma Organização Internacional é uma


associação voluntária de sujeitos de Direito Internacional, constituída
mediante tratado internacional e regulada nas relações entre as
partes, por normas de Direito Internacional, e que caracteriza numa
entidade de carácter estável, dotada de um ordenamento jurídico
interno próprio, e de órgão próprios, através dos quais prossegue fins
comuns aos dos membros da Organização, mediante a realização de
certas funções e o exercício dos poderes necessários que lhe
tenhamos sido conferidos.

1.2. Análise dos elementos das definições

Apesar de haver algumas semelhanças nas três definições, o conceito


estabelecido por Lukamba (2000), apresenta alguns elementos que no
nosso entender, merece uma atenção especial na definição.

O primeiro elemento é apresentar a Organização Internacional como


um agrupamento ou associação de sujeitos de Direito Internacional,
constituído não só por Estados soberanos, mas também, por outros
sujeitos do Direito Internacional. Deste modo, ainda que os Estados
sejam actores principais nas Relações Internacionais, não são apenas
eles os que podem criar e serem membros das Organizações
Internacionais. Elas próprias, isto é, as Organizações Internacionais,
bem como, as uniões aduaneiras e outros sujeitos peculiares
(característicos) do Direito Internacional, como a Santa Sé e a
Soberana Ordem de Malta, possuem

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 18

capacidade para celebrar tratados constitutivos e de serem membros


originários das Organizações Internacionais.

O segundo elemento é de que as Organizações Internacionais são


entidades criadas por Tratados2 e regidas pelo Direito Internacional3.

O terceiro elemento tem a ver com a personalidade jurídica. Uma vez


criada, as Organizações Internacionais adquirem personalidade
jurídica internacional independente da de seus membros, o que lhes
confere direitos e obrigações de em seu nome, celebrar tratados com
os Estados e com outras Organizações Internacionais nos termos do
seu acto constitutivo.

O quarto elemento é o carácter voluntário dos seus membros


criadores e associados. A ser assim, a participação nas Organizações
Internacionais é, portanto, um acto voluntário. Isto está também
relacionado com a soberania dos Estados.

O outro elemento importante, embora omisso nas definições


apresentadas, está relacionado com o número mínimo dos Estados
membros ou criadores de uma Organização Internacional. A ser assim,
para que uma comunidade seja considerada uma Organização
Internacional são necessários no mínimo, possuir três Estados com
direito a voto, por que caso sejam dois Estados, estar-se-á perante
um acordo bilateral.

2
Tratado é todo acordo formal concluído entre sujeitos de Direito Internacional
Público e destinado a produzir efeitos jurídicos. O Tratado, considerado a principal
fonte do Direito Internacional, é a manifestação de vontade de tais sujeitos.
3
Direito Internacionalé o conjunto de normas que regula as relações internacionais
dos actores que compõem a sociedade internacional.
18
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 19

Ademais, deve ter um orçamento próprio, ter uma estrutura formal


(Assembleia Geral, Secretaria e Conselhos), devendo seus servidores
(provenientes dos seus membros) trabalhar com neutralidade e
imparcialidade em relação a dos Estados membros. Habitualmente,
distinguem-se as Organizações Internacionais governamentais das
não-governamentais (ONGs), por exemplo, a Agência Norte Americana
de Desenvolvimento (USAID), a Visão Mundial e a Corpo da Paz.

Figura 2: OIs governamentais e não-governamentais

Estas últimas, sujeitam-se às normas jurídicas de um único Estado,


segundo o seu local de constituição ou de funcionamento, e, não se
deve confundir com as primeiras, objecto de nosso estudo. Em regra,
as ONGs não possuem finalidade lucrativa e exercem suas actividades
tanto no plano interno quanto no plano internacional.

Existe igualmente uma grande diferença entre uma Organização


Internacional e um Estado. Na mediada em que, um Estado
constituído estabelece direitos e deveres, assim como define regras
para toda e qualquer relação entre seus indivíduos, sejam pessoas,
empresas ou associações dentro de um espaço territorial. Estabelece,
normas de direito tributário, comercial, penal, civil e outras. Enquanto

19
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 20

as organizações internacionais possuem campo de actuação limitado


ao tratado que a instituiu.

Resumo

Os Estados criam as organizações na esperança de que contribuam


para prevenir e apaziguar os seus conflitos de interesses mais
eficazmente do que os procedimentos diplomáticos tradicionais.

Sabendo que este objectivo impõe a concessão às organizações de


poderes de pressão colectiva, incluem nas cartas constitutivas
fórmulas abstratas destinadas a limitar as questões suscetíveis de
serem regulamentadas pelas organizações.

O surgimento das organizações trouxe inovações como a integração


dos Estados que estão sempre dialogando e se confrontando. Em
nome de um compromisso internacional enfrenta-se forças internas
que se opõem a dadas decisões. Chega-se a um consenso através das
organizações.

As organizações internacionais não são a solução para os problemas


mundiais, mas ao longo das últimas décadas mostraram (ter sucesso,
pelo menos, na prevenção de conflitos. Espera-se que ao longo das
próximas elas se tornem mais eficazes, buscando a construção de uma
sociedade perfeita.

Exercícios de Auto-Avaliação

 Identifique os conceitos principais da Organizações


Internacionais.
 Busque seus significados a partir de autores diferentes e
perceba como cada autor se apropria de forma diferente para
falar do mesmo assunto.

20
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 21

 Identifique as dificuldades terminológicas da Organizações


Internacionais.

Exercícios

1. Defina o conceito de “Organização Internacional”.


2. Porque é que a definição do conceito organização internacional
não é uniforme entre os autores?
3. Qual é a diferença entre uma Organização Internacional e uma
Organização Não Governamental?
4. Diferencie uma Organização Internacional e um Estado
soberano.
5. Dê dois exemplos de organizações internacionais e de
organizações não-governamentais

Respostas

1. Resposta de Exercício 1, página 17


2. Resposta de Exercício 2, página 15
3. Resposta de Exercício 3, página 19
4. Resposta de Exercício 4, página 18
5. Resposta de Exercício 1, página 18

21
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 22

No final deste tema, o estudante deverá ser capaz de:


Objectivos
 Apresentar de forma sumaria a origem histórica das
Organizações Internacionais;
 Identificar diferentes organizações e enquadrá-las nas suas
respectivas categorias e;
 Responder de forma clara, as questões apresentadas.

UNIDADE Temática 2. Origem Histórica das Organizações internacionais

Introdução

A origem das organizações internacionais contemporâneas remonta


meados do século XIX com a criação de mecanismos
institucionalizados que facilitavam a cooperação técnica entre as
potências europeias da época. Ao longo do século XX, sobretudo nos
períodos imediatamente posteriores às grandes guerras e à Guerra
Fria, há o florescimento de diversas organizações internacionais,
reorganizadas ou formalmente criadas a partir de acordos ou regimes
das mais variadas áreas temáticas, da segurança à economia,
passando ainda pela extensa área social.

Embora a história das organizações internacionais não seja recente,


seu estudo enquanto fenômeno das relações internacionais só passa a
ser realizado com mais vigor após o fim da Guerra Fria, salvo
rarasexceções.

22
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 23

2.1. Génese das Organizações Internacionais

As relações bilaterais ou multilaterais entre Estados têm uma longa


história nas Relações Internacionais, mas o estabelecimento das
Organizações Internacionais tal como as conhecemos hoje, são o
produto de uma lenta evolução dessas relações, cuja origem encontra-
se no século XIX, com a criação de mecanismos institucionalizados que
facilitavam a cooperação técnica entre as potências europeias da
época.

Deste modo, as relações consulares estabelecidas para proteger


interesses comerciais e as relações diplomáticas voltadas à
representação dos Estados são encontradas, as primeiras, desde os
gregos e romanos e as últimas, um pouco mais tarde, adoptando a
forma actual no século XV (LUKAMBA, 2000: 133).

Quando essas relações se revelaram ineficazes para lidar com


situações mais complexas, derivadas de problemas que afectavam não
apenas dois Estados, mas sim, a vários Estados, uma solução comum
precisava ser encontrada. É assim que surgem as conferências
internacionais. É exemplo disso, a conferência de Paz de Westfália de
1648 e o Congresso de Viena de 1815.

Figura 3: Conferência de Paz de Westfália de 1648

23
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 24

As conferências internacionais reuniam-se periodicamente para


determinada finalidade e só encerravam quando os Estados chegavam
a um acordo sobre a matéria discutida. O sistema de conferências
apresentava certas limitações, por exemplo:

 Para cada novo problema, outra conferência deveria ser


convocada, por iniciativa do Estado ou Estados interessados, o
que causava, em geral, gasto de recursos e atrasos na solução
de problemas;
 O princípio da igualdade era observado de forma rigorosa, o
que significa que as decisões importantes, de qualquer espécie,
somente eram dotadas segundo a regra da unanimidade e não
com base em maioria de votos; e
 Por fim, as próprias conferências mostraram-se inadequadas
para a resolução de questões políticas.

O fracasso das conferências e o crescente desenvolvimento económico


verificado nos meados do século XIX exigiu aos Estados a necessidade
de criação de instituições intergovernamentais, cuja acção deu vida a
um número considerável de Organizações Internacionais,
denominadas por Uniões Administrativas Internacionais (TUNKIN,
1990: 169). De entre as principais Uniões Administrativas
Internacionais, encontramos:

A União Internacional de Telecomunicações (UIT), foi fundada em


1865, em Paris. A UIT é o mais antigo organismo integrado que tem
como objectivo, promover a cooperação internacional entre Estados
em assunto de Telecomunicações.

24
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 25

Figura 4: UIT

União Postal Universal (UPU), foi criada em 1874, cuja finalidade


principal é aperfeiçoar os serviços postais.

Figura 5: UPU

Comité Internacional de Medidas e Pesos (CIMP), criado em 1875, tem


como objectivo, manter universal as medidas e pesos no sistema
internacional.

Figura 6: CIMP

Essas pioneiras instituições podem ser consideradas como


“organizações internacionais da primeira geração”e apresentavam
entre outras, as seguintes características:

25
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 26

 Limitavam suas competências a campos técnicos ou


administrativos.
 Não eram expressamente dotadas de personalidade jurídica
internacional, ou seja, não tinham “capacidade jurídica” 4
reconhecida perante as embrionárias jurisdições internacionais;
e,
 Dispunham de recursos financeiros e de pessoal bastante
modestos, limitados, em regra, apresentavam um director e um
pequeno grupo de funcionários, que administravam o escritório
central, realizando o que hoje seriam tarefas próprias do
secretariado de uma organização internacional.

Porém, o profundo trauma causado pela destruição de cidades e pela


morte de soldados e civis durante a primeira Guerra Mundial (1914-
1918), além da pressão moralizadora exercida pela opinião pública
para evitar actividades militares, provocou forte impulso no sentido de
se criar novas organizações capazes de actuar no plano internacional
na manutenção da paz e segurança internacional e na solução de
controvérsias.

É neste contexto que no plano político, foi estabelecida uma


instituição de vocação universal, a Sociedade das Nações (SDN)
também conhecida por Liga das Nações (LDN), criada por um Pacto,
anexo ao Tratado de Versalhes, de 28 de Abril de 1919, que previa
uma estrutura complexa baseada no equilíbrio entre os interesses das
grandes e pequenas potências.

4
Capacidade jurídica, refere-se aos direitos e deveres que podem estar inscritos na
esfera jurídica internacional da entidade em causa.
26
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 27

Figura 7: Sociedade das Nações

A Liga das Nações passou a funcionar em Genebra. E, a sua formação


foi inspirada pelos Catorze Pontos do Presidente americano, W.
Wilson, expresso na sua mensagem ao Congresso norte-americano, de
09 de Janeiro de 1918.

No plano técnico, uma vez que, as Uniões Administrativas não


integravam um sistema único, com a SDN diversos organismos
técnicos foram criados sob seu auspício. Por exemplo:

Em 1919 foi criada a Comissão Internacional para a Navegação Aérea


que deu origem à actual Organização da Aviação Civil Internacional
(OACI).

Figura 8: OACI

27
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 28

Em 1920 foi criada a Organização Mundial do Trabalho (OIT).


Figura 9: OIT

Em 1920 é criado o Tribunal Permanente de Justiça Internacional


(TPJI), cujo estatuto foi adoptado pela Assembleia da Liga.
Figura 10: TPJI

Do ponto de vista da teoria das Relações Internacionais, reconhece-se


que a criação da Liga representa pela primeira vez, a superação dos
limites de uma cooperação. Neste quadro, vários sucessos da LDN
foram registados nos domínios técnicos especializados, como o
sistema de mandatos, a regulamentação jurídica da solução de litígios
e a criação de diversas codificações normativas.

No plano político, porém, a LDN permaneceu pouco eficaz, embora


seu mecanismo de sanções pudesse em tese, garantir a paz mundial,
isso deixou de ocorrer, não porque o mecanismo fosse ineficaz ou
inadequado, mas porque o comportamento dos Estados na época,

28
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 29

favorecia o proteccionismo comercial e insistia em extrair da


Alemanha as pesadas punições impostas pelos vencedores da primeira
Guerra Mundial.

A Liga das Nações é vista como uma Organização Internacional da


segunda geração, caracterizada, por um lado, pelo desenvolvimento
de modos diplomáticos de solução de controvérsias por meio de
arbitragem interestatal, e por outro lado, nota-se uma relutância dos
Estados em manter nas suas políticas internacionais a soberania
absoluta, repousando, não em normas jurídicas internacionais, mas no
equilíbrio militar entre as potências.

O insucesso político da LDN em evitar a eclosão da II Guerra Mundial,


fez surgir a consciência da necessidade de cooperação internacional
duradoura entre os Estados. É deste modo que as potências
vencedoras da segunda Guerra Mundial elaboraram a Carta da
Organização das Nações Unidas (ONU), assinada a 26 de Junho de
1945, em São Francisco, Estados Unidos.

Figura 11: Carta das Nações Unidas

29
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 30

A ONU é deste modo, visto como um reflexo e símbolo das


convergências dos interesses mais elevados da comunidade
internacional. Aqui está se diante da primeira das chamadas
organizações internacionais de terceira geração, cujo número não
pára de aumentar: de 132 em 1960, passa para 280 em 1972 e 378 em
1985, estabilizando-se por volta de 400 na virada do século XX para o
século XXI.

A própria ONU criou diversos organismos, como a Agência


Internacional da Energia Atómica, em 1956, e, recentemente, por
iniciativa sua, promoveu a Conferência de Roma, em 1998, da qual
resultou o Tribunal Penal Internacional, o qual pertence ao chamado
― Sistema das Nações Unidas, em virtude de acordos específicos.

Visando à reconstrução da ordem financeira, económica e política


internacional, profundamente alterada pela segunda Guerra Mundial,
teve lugar, em 1944, a Conferência de Bretton Woods, da qual
resultou a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco
Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), mais
conhecido como Banco Mundial.

Quanto ao comércio internacional, idealizou-se uma organização que


complementasse as anteriores, e cuja criação foi tentada durante a
Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Emprego, que teve
lugar em Cuba, entre 21 de Novembro de 1947 e 24 de Março de
1948.

O documento final dessa Conferência, denominada Carta de Havana,


previa, efectivamente, a criação da Organização Internacional do
Comércio (OIC), a qual jamais estabeleceu-se, em virtude da oposição

30
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 31

do Congresso dos EUA, que considerava a organização uma ameaça às


suas pretensões comerciais globais.

Paralelamente, durante a Guerra Fria, foi notória a formação de uma


série de agrupamentos militares, de entre os quais destacam-se, a
Organização de Atlântico Norte – NATO (1949), o Comité de Ajuda
Mútua Económica (CAME) e o Pacto de Varsóvia (1955).

Com a emergência de jovens Estados soberanos surgidos do processo


da descolonização não só fizeram a composição das grandes
organizações no mundo, mas conduziram também a criação de uma
série de OIs onde participam só países em desenvolvimento, por
exemplo, a Organização da Unidade Africana e Associação de Estados
do Sudeste Asiático.

Resumo

Como se mostrou até aqui, as OIs surgiram timidamente, no início do


século XIX, de modo bastante incipiente e, limitado — dispunham, em
regra, apenas de um Secretariado e reduzido pessoal de apoio
administrativo.

Aumentaram em número, passaram por um processo de


amadurecimento que durou mais de um século, e, a partir da criação
da ONU, em 1945, essa nova entidade político-jurídica ganhou cada
vez mais espaço no antes restrito universo do Direito Internacional.
Depois do século XX assistiu-se à uma crescente proliferação,
prevendo-se que o número de organizações internacionais, venhem
aumentar e perdure por longo período.

Por isso, é apropriado chamar o século XIX (período entre 1815 e

31
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 32

1914) da era de preparação para as organizações internacionais; o


período entre 1914 e 1945, da era de desenvolvimento das
organizações internacionais; e o período posterior a 1945, da era de
consolidação das organizações internacionais.

Auto Avaliação

 Quando é que começam as relações bilaterais ou multilaterais


entre Estados?
 Porque é que surgem as conferências internacionais?
 Mencione duas limitações que o sistema de conferências
apresentava.

Exercício

1. Porque é que muitas literaturas afirmam que no plano politico


a Liga das Nações foi um autêntico fracasso?
2. Mencione alguns sucessos da Liga das Nações.
3. Menciona as instituições internacionais integradas no sistema
internacional sob auspício da Liga?
4. Periodize as etapas da origem das organizações internacionais.
5. Apresente as causas do insucesso da LDN.

Respostas

1. Resposta de Exercício 1, página 29


2. Resposta de Exercício 2, página 28
3. Resposta de Exercício 3, página 29
4. Resposta de Exercício 4, página 24
5. Resposta de Exercício 1, página 28

32
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 33

UNIDADE Temática 3. Características das Organizações Internacionais

Introdução
Esta unidade pretende dotar os estudantes no concernente as
organizações internacionais, criadas a partir do Século XX, para auxiliar
os Estados a cumprirem suas funções, são sujeitos secundários de
Direito Internacional, podendo ser definidas como a associação
voluntária de sujeitosde Direito
Internacional, constituída por ato internacional e
disciplinada nas relações entre as partes por normas de Direito
Internacional, que se realiza em um ente de
aspecto estável, que possui ordenamento jurídico interno e é
dotado de órgãos e institutos próprios, por
meio dos quais realiza as finalidades comuns de seus
membros mediante funções particulares e o exercício de poderes
que lhe foram conferidos

No final desta unidade temática, o estudante deverá ser capaz de:

Objectivos  Apresentar as características das Organizações


Internacionais;
 Conhecer as diferentes denominações dos actos
constituintes das Organizações Internacionais através de
exemplos concretos e;
 Responder de forma clara os exercícios apresentados.

33
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 34

3.1. Características das Organizações Internacionais

Das definições arroladas atrás, podemos tirar seis elementos os quais


caracterizam as Organizações Internacionais, nomeadamente:

 Uma composição essencialmente interestatal;


 Uma base jurídica convencional;
 Uma estrutura orgânica permanente e independente;
 Uma determinada autonomia jurídica;
 Objectivos determinados e;
 Instituída em consonância com o Direito Internacional.

I. Uma Composição essencialmente interestatal

A composição essencialmente interestatal é explicada pelo facto das


organizações internacionais serem constituídas quase que
exclusivamente por Estados soberanos. Não obstante, a grande
maioria das organizações internacionais ser composta unicamente por
Estados, elas podem admitir no seu seio, outros sujeitos do Direito
Internacional para além dos Estados. Deste modo, a Santa Sé é
membro de várias Organizações Internacionais não políticas (PEREIRA
e QUADROS, 2000: 418).

No entender dos autores, uma organização também pode ser membro


de uma outra Organização Internacional: a ONU por exemplo, é
membro da União Postal Universal e da União Internacional de
Telecomunicações.

34
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 35

Os participantes numa Organização Internacional são em regra, seus


membros de pleno direito, gozando cada um, do estatuto de inteira
igualdade de direitos e obrigações em relação aos demais. Dai que,
não é, pois, rigoroso, como se verificou nas definições apresentadas
pela Convenção de Viena sobre a Representação de Estados em suas
Relações com as Organizações Internacionais de Carácter Universal, de
1975 e por Tunkin (1990), ao definirem Organizações Internacionais
como uma associação constituída exclusivamente por Estados
soberanos.

II. Uma base jurídica convencional

A existência de uma Organização Internacional deve-se a um acto


jurídico prévio e exterior à organização. Tal acto jurídico adopta a
forma de um Tratado multilateral negociado no âmbito de uma
conferência intergovernamental, mas que tem particular natureza tão
diferente de tratados multilaterais comuns, sendo destinado a se
tornar a Constituição, o acto de fundação do Organização, ao qual se
encontra ligado ao longo da sua existência.

O acto de criação de uma OIs assume, geralmente, a forma solene e


recebe denominação especial, como Carta, Pacto, Constituição,
Estatuto, Acordo, Convénio, Ajuste, Arranjo, Convenção, Protocolo,
Declaração, Compromisso, Modus Vivendi, dependendo daescolha
dos seus associados. Por exemplo, a ONU e a União Africana, designa o
seu instrumento constitutivo de Carta enquanto isso, a SADC chama
de Declaração.

O tratado constitutivo de qualquer Organização Internacional

35
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 36

estabelece os meios e os fins adequados à sua prossecução, as


relações entre membros e com outros sujeitos de Direito
Internacional, o seu âmbito geográfico e o seu carácter se é aberto ou
fechado, o sistema de órgãos e as respectivas competências e a forma
de agir.

Não obstante as Organizações Internacionais serem criadas na base de


um tratado, na prática há casos em que uma Organização
Internacional é criada não na base de um Tratado Internacional, mas
por meio de uma Resolução do órgão da Organização Internacional
(PEREIRA e QUADROS, 2000: 415).

Por exemplo, a Assembleia das Nações Unidas deliberou criar, a


ONUDI (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Industrial) 5 , a CNUCED (Conferência das Nações Unidas para o
Comércio e o Desenvolvimento) 6 e PNUD (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento)7.

Importa frisar que, a criação dessas organizações foi baseada ao abrigo


do artigo 22 da Carta da ONU que diz: ‟A Assembleia Geral poderá
estabelecer os órgãos subsidiários que julgar necessários ao
desempenho das suas funções8.

III. Estrutura orgânica permanente e independente

Para começar, a organização tem de ser permanente. Desta


permanência resulta a sua autonomia em relação aos Estados membros.
Esta característica afasta logo a Organização Internacional quer das
meras relações acidentais que surgem entre os Estados em virtude do

5
Resolução 2089 (XX) e Resolução 2152 (XXI)
6
Resolução 1995 (XIX)
7
Resolução 2029 (XX).
8
Art. 22 da Carta da ONU.
36
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 37

tratado não destinados a fazer surgir uma nova entidade, quer das
Conferências intergovernamentais.

A permanência da Organização Internacional supõe a existência de uma


Sede, de acordo ou acordos com um ou mais Estados membros a
regular as actividades da organização no respectivo território (os
chamados acordo de instalação)9 e, um mínimo de estrutura orgânica e
de condições materiais que permitam à organização funcionar. É o caso
dos Estados Unidos que firmou um acordo com a ONU e concedeu uma
parte do território para a instalação da Sede da ONU.

Neste contexto, o terreno e os edifícios são considerados território


internacional. Tal significa que o terreno não pertence apenas a um país,
neste caso aos anfitriões EUA, mas sim, a todos os Estados-membros
das Nações Unidas. Daí que as bandeiras de todos os membros estejam
dispostas por ordem alfabética, desde o Afeganistão até ao Zimbabwe
num arco-íris de cor e diversidade como ilustra a figura abaixo.

Figura 12: Sede da ONU (Nova Iorque)

Para além da sede principal em território Americano, as Nações Unidas


têm também uma sede em Genebra, Suíça, no antigo Palácio que
alojava a SDN. Ainda de referir que a ONU dispõe de escritórios em

9
Headquarters Agreement em ingles e accords de siège em francês.
37
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 38

Viena, Áustria, bem como de Comissões Regionais mais a sul, em países


como na Etiópia, Quénia, Líbano, Tailândia e Chile. De igual modo, a
Botswana concedeu à Comunidade de Desenvolvimento da África
Austral (SADC) parte do seu território para o estabelecimento do
Secretariado daquela organização regional.

Segundo Pereira e Quadros (2000:447), todas as Organizações


Internacionais possuem estruturas institucionais, constituída por pelo
menos, dois órgãos deliberativos, formados por representantes dos
Estados e um órgão sobretudo executivo, formado por funcionários
internacionais, o Secretariado.

Os dois primeiros correspondem às necessidades básicas, que nos


Estados pode ser equiparado à dualidade Parlamento-Governo. Assim,
temos, um órgão formado por todos os Estados membros da
organização, que reúne em princípio, numa única sessão anual cuja
função deliberativa é completada pela fiscalização da actividade dos
outros órgãos e pelo exercício dos poderes financeiros: dá-se na maioria
dos casos a designação de Assembleia Geral.

Ao lodo daquele órgão, temos um outro órgão de gestão permanente,


formado por um número reduzido de membros e ao qual cabe
assegurar o governo da Organização: a designação mais frequente, é a
de Conselho. Para além dos dois órgãos acima, encontramos o
Secretariado, que é um órgão de gestão e administração da
organização, formado por funcionários internacionais que só dependem
dos órgãos próprios da organização e não dos Estados membros. O
Secretariado é normalmente dirigido por um Secretário-Geral ou
Secretário Executivo.

38
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 39

Normalmente, o secretário-geral é eleito pelo órgão supremo, por um


período que varia de 3 a 6 anos, dependendo do acto constitutivo e com
possibilidade de reeleição. Os outros funcionários são nomeados pelo
secretário-geral e remunerados pela organização (TUNKIN, 1990: 181).

Portanto, os órgãos das Organizações Internacionais possuem


independência funcional dos Estados membros e são dotados de meios
necessários para alcançar os objectivos institucionais das organizações.
Esse elemento afasta logo, a Organização Internacional como meras
relações acidentais que surgem entre os Estados ou como uma entidade
para fazer uma nova entidade por exemplo as confederações
intergovernamentais.

IV. Uma autonomia Jurídica

Com respeito à autonomia jurídica das Organizações Internacionais, é


explicada pelo facto das Organizações Internacionais possuírem direitos
e deveres diferentes dos direitos e deveres dos Estados membros. Neste
contexto, diz Pereira, a Organização exprime uma vontade própria, que
lhe é juridicamente imputável e é distinta das vontades jurídicas dos
Estados membros.

Estes direitos estão directamente ligados à personalidade jurídica


internacional (PEREIRA &QUADROS, 2000: 414). Desses direitos, fazem
parte, por exemplo, o direito de concluir acordos internacionais, o
direito a privilégios e imunidades e o direito à representatividade.

V. Um objectivo determinado

Os objectivos das organizações Internacionais revestem-se de extrema


importância para determinar o carácter legítimo da Organização, a sua

39
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 40

estrutura orgânica e a competência atribuída.

VI. Instituída em consonância com o Direito Internacional

A criação da organização Internacional em consonância com o Direito


Internacional significa que o carácter legítimo da Organização
Internacional, seu estatuto e a actividade devem estar
obrigatoriamente de acordo com os princípios e normas
universalmente reconhecidas pelo Direito Internacional, isto é, com o
princípio jus cogens.

Esse instrumento é, em regra, um tratado internacional concluído


segundo gerais do Direito Internacional Público, concretamente da
Convenção de Viena (PEREIRA e QUADROS, 2000: 415). Porém, tal
como nos referimos anteriormente, as Organizações Internacionais
também podem ser criadas por outras, mediante resoluções tomadas
nos termos estatuários do seus órgãos competentes.

O elemento internacional, expresso aqui, circunscreve-se pelo facto de


os membros da Organização serem sujeitos do Direito Internacional,
ou excepcionalmente outras entidades que se integram em sujeitos
distintos. Em qualquer caso, a organização pela sua composição
transcende o âmbito do Estado.

Resumo
As organizações Internacionais podem ser classificadas

Quanto à finalidade: podem ser gerais ou específicos. As primeiras são

40
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 41

aquelas que desempenham suas atividades nos mais diversos assuntos


internacionais, observando o limite de suas finalidades, temos como
exemplo a ONU, a Organização dos Estados Americano e a União
Africana. As segundas são aquelas constituídas para cooperar em
determinada matéria delimitada, por exemplo a OIT, OMC a
Organização da aviação Civil Internacional.

Quanto à sua actuação: elas podem ser universal ou regional. Será


universal aquela que admite o ingresso de qualquer Estado,
independentemente de sua localizaçào geográfica, critérios políticos
ou culturais, como exemplo temos a ONU, OMC, OIT. Já uma
Organização Internacional regional é aquela que permite o ingresso de
apenas determinados Estados, analisando os critérios geográfico,
político e cultural, como exemplos temos a União Africana a Nafta,
Mercosul.

Quanto ao vínculo jurídico interno: As organizações Internacionais


podem se classificar de forma dependente ou independente. Será
independente quando não possui vínculo com qualquer ordem jurídica
interna. Todavia será dependente quando deve respeitar a Ordem
Jurídica Interna de um Estado.

Quanto à participação de Estados: elas podem ser abertas ilimitadas,


abertas limitadas ou fechadas. A primeira permite a participação de
qualquer Estado. A segunda permite apenas o ingresso de alguns
Estados, ou seja, estabelece critérios para admissão de novos
membros. E a terceira não permite o ingresso de novo membro a nào
ser os que participaram originariamente da criação da Organização.

Auto Avaliação

 Aprofunde a ideia e funcionamento das OIs, em Moçambique.


 Identifique e classifique as OIs quanto a estrutura.
 Apresente a consonância entre OIs e Direito Internacional.

41
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 42

 Fale da autonomia das OIs.

Exercícios

1. Caracteriza uma Organização Internacional.


2. Justifique a afirmação “ a composição das OIs deve ser
essencialmente por Estados.
3. Explique o trecho: “A criação de uma organização deve ter uma
base jurídica convencional”.
4. O que diferencia uma OI de uma mera relação acidental entre
Estados?
5. O que entende por autonomia jurídica nas Organizações
Internacionais?

Respostas

1. Resposta de Exercício 1, página 34


2. Resposta de Exercício 2, página 35
3. Resposta de Exercício 3, página 36
4. Resposta de Exercício 4, página 40
5. Resposta de Exercício 1, página 39

42
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 43

UNIDADE Temática 4. Classificação das Organizações Internacionais

Introdução
O mundo das Organizações Internacionais é extremamente
fragmentado e heterogêneo. Portanto, a adoção de um critério de
classificação, conforme os que serão abaixo descritos, é
essencialmente pedagógico e visa ordenar e repartir a rica variedade
de OIs em categorias donde se agrupem as organizações cujos traços
predominantes coincidam em um dado momento histórico.

Por tal razão, os critérios utilizados pela doutrina para classificar as OIs
são muitos variados e propõe-se uma classificação baseada em três
grandes critérios: a participação, a matéria sobre que versa a
cooperação e os métodos da cooperação.
.

No final deste tema, o estudante deverá ser capaz de:

Objectivos  Classificar as organizações internacionais segundo seu


objecto ou fim, âmbito territorial, critério de acesso e
poderes recebidos e,
 Resolver o exercício.

4.1. Critérios de classificação das organizações internacionais

O mundo das Organizações Internacionais é extremamente


fragmentado e heterogéneo. Portanto, a adopção de um critério de

43
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 44

classificação, conforme os que serão abaixo descritos, é


essencialmente pedagógico e visa ordenar e repartir a rica variedade
de Organizações Internacionais em categorias donde se agrupem as
organizações. Por tal razão, os critérios utilizados pela doutrina para
classificar as Organizações Internacionais são muitos variados.

Para o efeito, adoptaremos os critérios de classificação do Jorge


Miranda, nomeadamente: quanto aos fins, âmbito geográfico, acesso
e aos poderes recebidos.

4.2. Quanto ao objecto ou fins

Esta classificação atende ao domínio material, isto é, ao objecto social


de cada organização aferidos pelos respectivos fins. E segundo esse
critério, Jorge Miranda10 diz que:

Figura 13: Critérios de Classificação de OIs

Gerais
As organizacoes internacionais
podem ser de fins:
Especifícos

I. Organizações Internacionais de Finalidades Gerais

As organizações com finalidades geraissão em regra,


predominantemente políticas. As suas actuações não estão

10
. MIRANDA, Jorge. Direito Internacional Publico I, Pedro Ferreira, Lisboa, 1995,
pág. 235.
44
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 45

circunscritas a um único âmbito de actividades, podendo no entanto,


a mesma organização, abarcar uma multiplicidade de matérias tais
como: economia, política, assuntos sociais, segurança e promoção da
paz e meio ambiente. Fazem parte desta categoria, a Liga das Nações
e Organização das Nações Unidas.

Figura 14: Símbolo da ONU

Tal como a Liga das Nações, o objectivo principal da ONU é a


manutenção da paz e segurança internacionais. Segundo Pereira e
Quadros, a Carta da ONU teve a consciência de que a preservação da
paz e de seguranças internacionais só seriam alcançados com a
prossecução de diversos outros objectivos, tais como, a cooperação
nos domínios económico, social, cultural e humanitário. O que fazem
daquela organização de objectivos tão amplos, que adequa
perfeitamente dentro desta categoria (PEREIRA E QUADROS, 2000:
419).

Para além da ONU, também fazem parte da categoria de Organizações


Internacionais de caris gerais, a União Africana, a Organização dos
Estados Americanos (OEA) e a Comunidade para o Desenvolvimento
dos Países da África Austral (SADC) (PEREIRA E QUADROS, 2000, pág.
419, LUKAMBA, 2011: 135).

45
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 46

II. Organizações Internacionais de Fins Específicos

Diferentemente das gerais, as Organizações Internacionais de fins


específicos ou particulares, desenvolvem as suas actividades em âmbito
bem definidos, podendo elas subdividir-se consoante as finalidades
predominantes prosseguidas nas seguintes espécies:

 Organizações Internacionais de cooperação política — as


organizações deste tipo são pouco frequentes, pois, como atrás
nos referimos, as organizações dirigidas à prossecução de
finalidades políticas englobam, em regra, uma multiplicidade de
finalidades específicas. Como exemplo desta categoria de
organizações pouco frequente no ordenamento jurídico
internacional, temos, o Conselho da Europa, com Sede em
Estrasburgo, França.

Figura 15: Sede do Conselho da Europa

 Organizações de Cooperação económicas — estas organizações


têm proliferado de forma notável depois da segunda Guerra

46
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 47

Mundial. De acordo com a sua finalidade económica e


financeira, estas organizações pretendem fomentar o
estritamente de relações entre os Estados-membros, desde logo,
no campo comercial, como condição para o seu maior
desenvolvimento económico. Como exemplo de organização
deste tipo, temos:

Figura 16: OIs de Cooperaçao Economica

 Organização de Cooperação Militar — afinalidade da


Organização de Cooperação Militar consiste
predominantemente, na manutenção da paz e segurança dentro
de certa área geográfica, através da criação de aparelhos de
defesa colectiva contra agressão militar.

Estas organizações proliferaram de forma considerável após o


término da II Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. As notáveis
são o extinto Pacto de Varsóvia11 e o Tratado do Atlântico Norte
(OTAN), constituem exemplos nítidos de organizações militares.

Figura 17: OIs de Cooperaçao Militar


11
Finda a guerra fria e reformados os regimes políticos do Leste europeu, foi extinto o
Pactode Varsóvia em 1991.
47
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 48

 Organização da Cooperação Social e Humanitária - estas


organizações têm como finalidade, a protecção do indivíduo ou
de grupos sociais e dos seus direitos, bem como a promoção do
bem-estar físico, intelectual e social. Como exemplo de
organização deste tipo, surgem-nos várias organizações
especializadas, também chamadas agências especializadas de
Nações Unidas, como a Organização Internacional para a
Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização Mundial de
Saúde (OMS) e a Organização Internacional de Trabalho (OIT).

Figura 18:OIs de Cooperação Social e Humanitária

 Organizações dotadas de finalidades culturais, cientificas e


técnicas - propõem –se com estas Organizações, fomentar a
cooperação entre os Estados no domínio da cultura bem como da
investigação científica e da assistência técnica. Como exemplo

48
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 49

desta categoria, surgem-nos a Organização das Nações Unidas para


a Educação e Ciência (UNESCO), a Agência Internacional de Energia
Atómica (AIEA), a Organização Europeia para a Investigação Nuclear
(OEIN).

Figura 19:OIs dotadas de finalidades culturais, cientificas e técnicas

Por sua vez, a cooperação no âmbito estritamente técnica tem-se


revestido nas últimas décadas, de grande alcance, originando um
grande número de Organizações Internacionais, deste tipo por
exemplo, a Organização Internacional de Aviação Civil (OIAC), a União
Postal Universal (UPU) e a Organização Internacional Marítima (IMO)
(PEREIRA&QUADROS, 2000: 416).

III. Quanto ao âmbito territorial ou geográfico

49
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 50

Organização de carácter universal — entenderia como organização


de alcance universal, toda aquela vocacionada para acolher o maior
número possível de Estados, sem restrição de índole geográfica,
cultural, económica ou outra para que um Estado venha a ser seu
membro (MIRANDA, 1995, pág. 236).

Um exemplo elucidativo deste tipo de Organizações, pode ser a LDN


e a ONU e as suas agências especializadas (Organização Mundial de
Saúde, Organização Internacional do Trabalho, Banco Mundial,
Fundo Monetário Internacional).

Organizações intercontinentais - são aquelas cujos membros e


actividades circunscrevem não a nível universal ou regional mas em
alguns países de distintos continentes. Por exemplo:

 A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cujos


membros encontram-se distribuídos pela África (Angola, Cabo
Verde, Guiné Bissau, Guiné Conacri, Moçambique, e São Tomé
e Príncipe) Ásia (Timor Leste), Europa (Portugal) e pela América
(Brasil).

Figura 20:CPLP

50
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 51

Organizações Regionais — são de carácter regional, as organizações


que numa dada região agrupa três ou mais Estados e que, em virtude
da sua vizinhança, da sua comunidade de interesses ou de afinidades
culturais, linguísticas, históricas ou ideológicas, se associam na
prossecução de objectivos e interesse comum. Neste contexto, os seus
tratados constitutivos limitam o seu âmbito de actuação geográfica
para uma determinada região. Assim fazem parte desta categoria, as
seguintes organizações.

Figura 22: Organização Regional (SADC)

IV. Quanto ao Acesso

No que se refere ao critério de acesso, Jorge Miranda diz que as


Organizações podem ser abertas ou fechadas (MIRANDA, 1995, pág.
236).

i. Organizações abertas

São consideradas abertas, todas as organizações cujo acto constitutivo


permite a entrada de novos Estados. Por exemplo: a Liga das Nações, a
ONU e suas agências.

51
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 52

ii. Organizações fechadas

Tal como o próprio nome diz, as organizações internacionais fechadas


são aquelas cujas suas cartas constitutivas não permitem a admissão
de novos membros. Esta restrição pode ser devido à natureza
geográfica ou a natureza do seu trabalho. Por exemplo, só podem ser
membros da SADC, apenas os Estados que se localizam na região da
África Austral. Este facto por si só exclui todos os outros países que
não estejam localizados na região em alusão. De igual modo, só pode
pertencer a OPEP, países que produzem e exportam o petróleo.

V. Quanto aos poderes recebidos

Por este critério de classificação as OIs podem ser de cooperação e


de integração.12

Figura 23: critério de Classificação das OIs

i. Organizações Internacionais de Cooperação – são aquelas


queprocuram realizar os seus objectivos por meio da
coordenação entre seus membros, mantendo intacta a
soberania e a independência entre os mesmos. A tabela
abaixo mostra o exemplo, das organizações de cooperação.

12
MIRANDA, Jorge, Direito Internacional Publico I, Lisboa, Petro Fereira, 1995, pág.
236.
52
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 53

ii. Organizações Internacionais de Integração - já as


organizações internacionais de integração visam formar
uma comunidade regional integrada, por meio da redução
ou limitação da soberania dos Estados-membros. É o que
acontece hoje na União Europeia, cujos Estados-membros
perderam o poder de decidir, individualmente, suas
políticas em diversos segmentos governamentais, como é o
caso da política monetária.

Resumo
Quanto aos fins, as OIs classificam-se em organizações de fins gerais e
de fins específicos. As primeiras caracterizam-se pelas atividades que
não estão circunscritas a um âmbito concreto de cooperação,
podendo abarcar todas as matérias consideradas úteis, sem nenhuma
limitação explícita, como é o caso da ONU. Em âmbito regional, são
exemplos de tais organizações a Liga Árabe, a OEA e o Conselho da
Europa. As segundas, que representam a maior parte das OIs, são
aquelas que desenvolvem atividades em âmbitos bem definidos,
podendo abarcar mais de uma finalidade, a exemplo da Comunidade
Europeia, cujos objetivos perseguidos não são somente econômicos,
mas também políticos. Nesse caso, na classificação dessas OIs, devem
ser observadas as finalidades de tais organizações.

Dessa forma, pode-se distinguir: a) Organizações de cooperação


preferentemente militar ou de segurança: essas organizações
proliferaram após o término da segunda guerra mundial e, durante a
guerra fria, se propuseram a fins de defesa e ajuda mútua em caso de
agressão. Exemplos: NATO, União Europeia Ocidental e Pacto de
Varsóvia. b) Organizações de cooperação preferentemente
econômica: representam as categorias de OIs mais numerosas no
presente momento. Algumas delas

53
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 54

possuem objetivos financeiros, tais como, o FMI, outras, o


desenvolvimento de relações comerciais, a exemplo da OMC, outras
se propõem a fins econômicos, ora de natureza global, como a
Organização de Cooperação de Desenvolvimento Econômico, ora por
setores econômicos (agrícola: FAO; industrial: ONUDI, turismo: OMT),
ora, por fim, em relação a produtos ou materiais determinados, como
é a OPEP no caso do petróleo. Finalmente existem outras OIs que
perseguem organizar toda a área econômica sobre a qual operam,
como é o caso da Associação Europeia de Livre Comércio, a NAFTA.

Auto Avaliação

 Identifique e classifique as OIs.


 Busque seus significados e importância das OIs.

Exercícios

1. Caracteriza uma Organização Internacional.


2. Justifique a afirmação “ a composição das OIs deve ser
essencialmente por Estados”.
3. Explique o trecho: “A criação de uma organização deve ter
uma base jurídica convencional”.
4. Uma Organização Internacional pode ser membro de uma
outra organização internacional?
5. O que diferencia uma OI de uma mera relação acidental
entre Estados?

Respostas

1. Resposta de Exercício 2, página 43


2. Resposta de Exercício 3, página 45
3. Resposta de Exercício 4, página 47
4. Resposta de Exercício 4, página 49
5. Resposta de Exercício 4, página 50

54
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 55

Temática 5. Personalidade Jurídica Internacional e a Questão de Sucessão das


OIs

Introdução

A Personalidade Jurídica internacional é a aptidão para se adquirir


direitos e contrair obrigações. No campo do direito interno este tema
já está muito bem resolvido e pacificado, entretanto não podemos
dizer o mesmo no âmbito internacional. Então quem possui
personalidade jurídica no âmbito internacional? O ser humano possui
a personalidade jurídica no âmbito internacional? As OIs também
possuem personalidade jurídica no âmbito internacional?

Na tentativa de solucionar o problema quanto à personalidade jurídica


no âmbito internacional, demonstrar-se-á as 3 (três) correntes
identificadas. Apesar de não tão estudado, referido problema está
presente no nosso dia-a-dia, de forma tão evidente que nem
percebemos, isto conhecemos como globalização. De tão presente e
comum no nosso dia-a-dia que, passam despercebidos para a grande
maioria de nós. Este artigo demonstrará como este tema é importante
e essencial para nós. Primeiramente será demonstrado como cada
agente/actor, são eles: o Estado, as Organizações, o Ser Humano e as
OIs. E como estes são “vistos” dentro do direito internacional público.

Por se tratar de um tema atual, polêmico e escasso, o presente


unidade servirá para dirimir as divergências entre os poucos autores,
que enfrentam o tema de quem possui a dita personalidade jurídica no
âmbito internacional, de acordo com a matéria Direito Internacional
Público.

55
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 56

No final deste tema, o estudante deverá ser capaz de:

 Apresentar o conceito de personalidade jurídica


Objectivos
internacional,
 Definir o conceito de sucessão
 Conhecer o processo de sucessão nas organizações
internacionais,
 Apresentar exemplos concretos de sucessão nas OIs e,
 Responder as questões colocadas neste tema.

5.1. A personalidade jurídica internacional


5.1.1. Noções gerais

A personalidade jurídica internacional é a susceptibilidade para ser


destinatário de normas e princípios de Direito Internacional, dos quais
directamente decorre a oportunidade para o titular de direitos
(situações jurídicas activas) ou para se ficar adstrito a deveres
(situações jurídicas passivas) (REZEK, 2002: 181).

5.2. Carácter específico da personalidade jurídica internacional

Pela sua natureza jurídica, os direitos das organizações e os poderes


dos seus órgãos distinguem-se da dos Estados soberanos, por
exemplo, a origem de uma OI é um acordo que resulta da
concordância das vontades expressas dos Estados soberanos -
fundadores da organização internacional (TUNKIN, 1990: 178).

A peculiaridade das Organizações Internacionais como sujeitos do

56
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 57

Direito Internacional reside também no facto de não ser necessário à


Organização Internacional, possuir território e população e por
conseguinte, realizar o poder territorial. Para um Estado soberano,
esses são elementos indispensáveis sem os quais, não podem existir
(ibid.).

A peculiaridade das organizações internacionais como sujeitos do


Direito Internacional manifesta-se também na especificidade dos
direitos internacionais da organização. Por exemplo, as organizações
internacionais não podem ser parte de um processo no Tribunal
Internacional da ONU, a representação junto das organizações
internacionais têm um carácter unilateral.

Como sujeitos do Direito Internacional, as Organizações Internacionais


possuem a sua própria vontade. Esta vontade é resultado da
concordância das vontades dos Estados membros.

As organizações internacionais e seus funcionários possuem privilégios


e imunidades de carácter funcional.As organizações internacionais
possuem capacidade jurídicapara celebrar tratados. Um dos direitos
fundamentais das organizações internacionais como sujeitos do
Direito Internacional, é o direito de concluir tratados internacionais.

Em suma, os Estados possuem personalidade jurídica originária, isto é,


a possuem de forma inerente a sua existência, ao passo em que a
personalidade jurídica das Organizações Internacionais é derivada,
pois somente existe se os Estados que a criaram tiveram essa
intenção, dotando-a de poderes compatíveis.

57
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 58

5.3. A questão de sucessão de Organizações Internacionais


5.3.1. Noções gerais

O termo sucessão é emprestado do Direito Privado, que tem a ver com


heranças, isto é, um acto jurídico segundo o qual, uma pessoa jurídica
substitui uma outra em seus direitos e obrigações. Nas OIs, não é
diferente, a sucessão ocorre quando uma organização internacional
substitui uma outra com todos os direitos e obrigações da organização
antecessora.

5.4. Sucessão de Organizações Internacionais

Tal como nos referimos no segundo tema deste Manual, as primeiras


organizações internacionais propriamente ditas, dotadas de
personalidade jurídica internacional e de aptidão para manifestar uma
vontade distinta daquela de seus Estados-membros criadores,
surgiram em 1919.

Apesar de ser um fenómeno corrente, deve ficar claro que, no caso


das organizações, a sucessão não é uma necessidade, sendo assim,
não se lhes aplica qualquer princípio semelhante ao dos Estados, visto
que, uma organização pode desaparecer pela vontade concertada de
seus membros.

Porém, conforme Francisco Rezek, é raro que uma organização seja


colocada em liquidação completa (mediante retorno do activo aos
Estados-membros constituintes); o mais comum, é que suas funções e
seu património sejam confiados a uma outra organização, preexistente
ou nova” (REZEK, 2002: 341). Dai que, vários são exemplos que se
podem elucidar sobre a sucessão nas

58
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 59

Organizações Internacionais, de entre eles, citam-se a Organização das


Nações Unidas como sucessora da Sociedade das Nações.

É verdade que a ONU surgiu em 1945, quando a SDN, extinta de facto


em 1939 com a eclosão da Segunda Grande Guerra Mundial,
preservava ainda sua existência de direito. Com a ONU já em
funcionamento, votou-se em Genebra, a 18 de Abril de 1946, a
extinção da SDN, cujo desaparecimento formal definitivo ocorreria a
31 de Julho de 1947, data do fechamento das contas daquele
organismo internacional.

A decisão extintiva determinou a sucessão, fazendo a ONU herdeira


plena do património imobiliário, dos móveis, arquivos e depósitos da
velha Sociedade, bem como das suas obrigações de ordem de seguros
social e outras de menor vulto.

Figura 24: Sucessão das OIs

A sucessão mais próxima de nós, no tempo e no espaço, foi a da


Conferência para Coordenação do Desenvolvimento dos Países da África
Austral (SADCC) pela Comunidade de Desenvolvimento dos Países da
África Austral (SADC).

Neste caso, a organização anterior, nesse caso, a SADCC, foi sucedida

59
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 60

por uma organização nova, a SADC, cujo tratado constitutivo


(Declaração de Lusaka), celebrado a 17 de Agosto de 1992, determinou
simultaneamente a extinção da primeira e o surgimento da segunda,
concedendo-a todos os direitos e obrigações a que a SADCC possuía.
Esta nova organização tem o foco na integração do desenvolvimento
económica.

Resumo

Hoje no ordenamento jurídico internacional temos três


correntes/concepções existentes sobre quem possui a personalidade
jurídica no âmbito internacional. A primeira corrente chamada de
concepção clássica actualizada, são os actores: o Estado, e as
Organizações Internacionais. A personalidade jurídica e esta é a mais
aceita no ordenamento jurídico, já a segunda poderemos chama - lá
de concepção/corrente moderna, pois além dos agente já ditos na
primeira corrente/concepção, só que com a inclusão do ser humano,
já a terceira chamamos - as de corrente/concepção extensiva, por que
está incluí a personalidade jurídica as empresas transnacionais ou
como são conhecidas multinacionais.

Após demonstrar as correntes existentes que achamos, esperamos


que o leitor tire as suas próprias conclusões. Assim entendemos ser a
mais sensata a primeira corrente, pois somente esses agentes
possuem a capacidade e o devido poder de transigir em âmbito
internacional. Esses dois agentes Estados, Organizações
(Internacionais), são “os meios jurídicos inventados (ficcionados) pelo
homem” para fazer e defender seus direitos, ou seja, eles servem para
normalizar o que pode ou não pode, pela capacidade dada a eles pelo
ser humano.

60
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 61

Assim, tendo em vista o estudo realizado acerca do tema em comento,


entende-se como bastante provável que a primeira corrente, clássica,
seja a mais adequada, sendo, então os Estados e as Organizações
Internacionais sujeitos de direito no âmbito do Direito Internacional
Público.

Ainda não um há consenso de qual é a concepção/corrente que mais


prevalece, mas a mais aceita ainda é a concepção/corrente clássica,
que é a defendida por Francisco Rezek, pela sensatez e clareza nas
argumentações defendidas.

Auto Avaliação

 Apresente relação entre personalidade jurídica


internacional e o Estado.
 O termo sucessão interessa preciosamente à
Organizações Internacionais, mas também é importante
a todas as ciências humanas. Qual é a importância para
a Organizações Internacionais.
 Discuta em torno dos princípios da sucessão e
personalidade jurídica.

Exercícios

1. O que entende por personalidade jurídica Internacional?


2. Apresente a peculiaridade da OI como sujeito do Direito
Internacional?
3. Diferencie a personalidade jurídica dos Estados e da das OIs?
4. O que é sucessão de uma OI?
5. Porque e que o assunto sobre a sucessão das OIs não se lhe
aplica a mesma regra a dos Estados?

61
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 62

Respostas

1. Resposta de Exercício 1, página 57


2. Resposta de Exercício 2, página 58
3. Resposta de Exercício 3, página 58
4. Resposta de Exercício 4, página 59
5. Resposta de Exercício 1, página 60

62
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 63

Temática 6. Tratado Constitutivo de uma Organização Internacional e sua


Interpretação

Introdução

Historicamente, foram as regras consuetudinárias, que regeram os


acordos entre os Estados, utilizando-se de princípios gerais,
notadamente, o do respeito a o acordado (pacta sunt servanda), do
livre consentimento e o da boa-fé das Partes contratantes. Até ao
século XIX os tratados tinham um papel diminuto na formação da
ordem jurídica internacional. Devido ao desenvolvimento rápido e
complexo da sociedade operado a partir desse século, os tratados
internacionais tendem a substituir o costume como fonte principal da
criação de normas de direito internacional. A par das normas e
princípios de “direito internacional comum ou geral” e a título
subsidiário dos “princípios gerais de direito”, os tratados apresentam-
se como um dos principais processos de criação do direito
internacional. Assim, no século XX, surgem dois fenômenos novos: o
aparecimento das organizações internacionais e a codificação do
direito dos tratados, transformando regras e costumeiras em regras
convencionais escritas, expressas elas mesmas no texto de um
tratado, bilateral ou multilateral.

63
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 64

No final deste tema, o estudante deverá ser capaz de:

 Entender as fases de elaboração de um tratado


Objectivos
internacional,
 Identificar os elementos básicos constantes no acto
constitutivo da Organização Internacional,
 Identificar os métodos de interpretação do acto
constitutivo e,
 Responder as questões que lhes são colocadas este tema.

6.1. Noções Gerais

O texto dos tratados é compostos de um preâmbulo, o qual espelha os


motivos da realização do tratado fornecendo elementos para sua
interpretação, e do chamado dispositivo, ou seja, o texto ou corpo
onde são definidas as obrigações dos Estados-Partes.

6.2. Fases da conclusão dos tratados

Assim, para a elaboração de um tratado internacional segue as


seguintes etapas: negociação, assinatura, ratificação, promulgação,
publicação e registos.

a) Negociação

A negociação é a fase inicial do processo de conclusão de um Acto. Ela


é da competência, dentro da ordem constitucional do Estado, do
Poder Executivo através de especialistas no assunto sob discussão
(LUKAMBA, 2000: 305).

Nesta etapa da conclusão dos tratados internacionais, os


representantes do Estado, isto é, os negociadores, se reúnem com a

64
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 65

intenção de concluir o tratado. A negociação de um tratado


multilateral se desenvolve nas grandes conferências. Esta fase termina
com a elaboração de um texto escrito que é o Tratado (TUNKIN, 1990:
142).

A adopção do texto de um tratado numa conferência internacional


efectua-se pela maioria de dois terços dos Estados presentes e
votantes, salvo se esses Estados, pela mesma maioria decidem aplicar
regras diversas (TUNKIN, 1990: 143).

b) A assinatura

Após a redacção do texto do tratado internacional, os representantes


precisam retornar para os seus respectivos países com o documento
que foram por eles elaborados. Com vista a apresentar em seus países
de origem, para observância de todo processo legais. Neste processo,
o projecto do texto não deverá ser modificado, sob pena de trazer
uma séries consequências para as partes envolvidas na questão
(LUKAMBA, 2000: 307).

A assinatura do tratado pode concluir o processo de celebração deste


(se o tratado entra em vigor no momento de assinatura) ou ser uma
das etapas e conclusão, (se está sujeito a ratificação ou aprovação.

Com efeito, as rubricas do texto traduz-se em acto importante na fase


de elaboração de um tratado internacional por garantir às partes
envolvidas, a autenticidade do texto produzido, não sendo admitida
posterior modificação, salvo se as partes acordarem novamente sobre
o caso. Em regra, as rubricas são seguidas da assinatura. Todavia, nada
impede que seja acordado que a rubrica constitua a assinatura do
tratado.

65
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 66

c) Ratificação

É considerada a fase mais importante do processo de conclusão dos


tratados, pois confirma a assinatura e dá validade a ele. Por outras
palavras, é o acto de aprovação do tratado por um dos órgãos
supremos do Estado que manifesta a concordância com as obrigações
do tratado.

O órgão (órgãos) que tem o direito de ratificar é determinado pela


legislação da constituição do Estado. Assim, depois de ratificação, os
tratados passam a ser obrigatórios, mesmo quando a ratificação não
esteja prevista expressamente. Este princípio foi consagrado na
jurisprudência13 internacional.

Frise-se que a ratificação torna o tratado obrigatório no âmbito


internacional, mas no direito interno de todos os países devem-se
observar o trâmite para a integração no ordenamento jurídico interno.

d) Promulgação

É o acto jurídico, de natureza interna, pelo qual o governo de um


Estado afirma ou atesta a existência de um tratado por ele celebrado e
o preenchimento das formalidades exigidas para sua conclusão, e,
além disto, ordena sua execução dentro dos limites aos quais se
estende a competência estatal.

A promulgação ocorre normalmente após a troca ou o depósito dos


instrumentos de ratificação. A razão da existência da promulgação é

13
Para Francisco Rezek, a Jurisprudência é o conjunto de decisões, aplicações e
interpretações das leis, Saraiva, São Paulo, 2000, pág. 173.
66
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 67

que o tratado não é fonte de direito interno. Assim sendo, a


promulgação não atinge o tratado no plano internacional, mas apenas
a sua executoriedade no direito interno. Os efeitos da promulgação
consistem em: a) tornar o tratado executório no plano interno, e b)
"constatar a regularidade do processo legislativo", isto é, o Executivo
constata a existência de uma norma obrigatória (tratado) para o
Estado.

e) Publicação

A publicação é condição essencial para o tratado ser aplicado no


âmbito interno. É condição necessária para que o tratado seja aplicado
na ordem interna do Estado. Publica-se no Boletim da Republica e
Decreto Presidencial.

f) Registo

O registo é um requisito estabelecido pela Carta da ONU e tem como


objectivo fazer com que o Estado que celebrou o tratado internacional
possa invocar para si, junto à organização, os benefícios do acordo
celebrado. O registo deve ser requerido ao secretário-geral da ONU,
que fornece, a cada Estado, um certificado redigido em inglês e
Francês.

6.3. Conteúdo do acto constitutivo da Organização


Internacional

O acto constitutivo de uma Organização Internacional é,


normalmente, um texto normativo minucioso e complexo, com todo o

67
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 68

pormenor e rigor os Estados fundadores procuram regular de forma


exclusiva, matérias jurídica que explicitará o exacto quadro dos
direitos e, sobretudo, das obrigações que os Estado se dispuseram a
aceitar ao criar ou ao aderir a uma dada Organização Internacional.

O acto constitutivo deverá fixar entre outros elementos, a designação


da Organização Internacional; o seu objecto ou finalidades; as
competências; estipular o regime jurídico; estabelecer a estrutura
orgânica ou institucional da organização e repartir entre os seus
órgãos as atribuições de cada um e os poderes de que disporá para
delas se desempenhar; enunciar as condições da adesão de novos
membros e o processo de revisão do pacto constitutivo e; prover
quanto ao financiamento das suas actividades.

6.4. Conceito, métodos de interpretação e revisão do acto


constitutivo
6.4.1. Noções gerais

A interpretação é a expressão de classificação do conteúdo da norma do


Direito Internacional14. O principal objecto de interpretação éo texto do
tratado, incluindo o preâmbulo, o anexo e os acordos posteriores ao
acto constitutivo.

Regra geral, a interpretação do tratado deve ser feita em boa fé, em


conformidade com o significado comum dos termos empregues no
texto constitutivo, tendo em consideração o seu objecto e fins.

Portanto, o princípio fundamental da interpretação assim como do


cumprimento do tratado em geral é o princípio de boa fé. Para além do

14
Peretérski I.S. Interpretação dos Tratados Internacionais, Moscovo, 1955.
68
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 69

princípio de boa fé, a interpretação deve ser feita com base no


princípio da unidade, segundo o qual, a interpretação deve ser
uniforme. O terceiro princípio, é o princípio da eficácia. Este porém,
exige que os resultados da interpretação contribuam para alcançar os
objectivos do tratado, neste caso, da organização.

6.5. Métodos de interpretação

Quando se interpretam os tratados são usados vários métodos, dos


quais se citam:

 A interpretação jurídica especial – este método consiste em


esclarecer as características jurídicas do tratado (se está em
vigor ou não, quais os participantes, é legal ou não etc.).
 A interpretação gramatical – consiste em esclarecer os
conteúdos da norma através da análise do texto do tratado do
ponto de vista etimológico, léxico, sintáctico estilístico da
língua utilizada.
 A interpretação lógica - submete o texto do tratado a uma
análise baseada no emprego. Por exemplo, não se admite o
uso de um termo com significados diferentes.

Porém, nem sempre é possível, através de uma interpretação mais ou


menos ousada da Carta Constituinte de uma OI, clarificar as
insuficiências ou lacunas do respectivo texto, neste caso, surge a
necessidade da sua revisão.

6.6. Revisão do acto constitutivo

A carta constitutiva de qualquer Organização Internacional deve


normalmente, conter, disposições sobre a sua própria revisão, com
vista a adaptar-se a novas circunstâncias. Os processos de revisão são

69
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 70

mais ou menos complexos, tal como a revisão pode ser mais ou menos
profunda.

No caso de ajustamento ou emendas menores do texto é concebível e


por vezes admitido pela carta da Organização Internacional que a
revisão seja realizada pela própria Instituição, no seio do órgão ou
órgãos para tal dotados de competência. A revisão do acto supõe, por
vezes, o acordo de todos os Estados-membros; outras vezes, a revisão
é operada pelos próprios órgãos da Organização internacional. Resta
ao Estado que se recuse a aceitar, a revisão e a possibilidade de
abandonar a Organização.

Resumo
A questão dos tratados constitutivos das Organizações Internacionais,
é fundamental cada Estado membro de uma organização tem direito,
em pé de igualdade de fazer propostas a ser examinadas, participar na
sua discussão, de estar representado nos órgãos da organização e tem
direito a um voto.

Auto Avaliação

 Quais são as principais de interpretação dos tratados?


 Apresente a classificação das formas interpretação dos
Tratados
 Em grupo Discuta sobre os tratados constitutivos das
Organizaçoes Internacionais.

70
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 71

Exercícios

1. Apresente as etapas de elaboração de um tratado


internacional?
2. Quais são os elementos que compõe o texto de um tratado.
3. Debruce os elementos que devem constatar no acto
constitutivo.
4. Qual é principio fundamental da interpretação assim como do
cumprimento do tratado em geral?
5. Como se manifesta o principio da unidade?

Respostas

1. Resposta de Exercício 1, página 66


2. Resposta de Exercício 2, página 67
3. Resposta de Exercício 3, página 68
4. Resposta de Exercício 4, página 69
5. Resposta de Exercício 1, página 70

71
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Temática 7. Admissão de Novos Membros, Sanções e Retirada de um Membro


da OIs

Introdução

Esta unidade pretende dotar os estudantes no concernente o processo


de admissão de novos membros, sanções impostas e o processo de
retirada nas Organizações Internacionais. Depois de estudar o
processo de admissão de novos membros, sanções impostas e o
processo de retirada nas Organizações Internacionais nos deteremos
na questão as motivações que podem levar ao Estado membro a
sofrer sanções dentro da organização,para entendermos os passos que
devem ser dados no processo de retirada de um membro.

No final deste tema, o estudante deverá ser capaz de:

Objectivos  Entender o processo de admissão de novos membros nas OIs;


 Reflectir sobre as motivações que podem levar ao Estado
membro a sofrer sanções dentro da organização,
 Entender os passos que devem ser dados no processo de
retirada de um membro.

7.1. Processo de admissão de novos membros

A admissão de novos membros numa organização internacional é


regulada pelo seu acto constitutivo. Para Francisco Rezek, existem três
aspectos fundamentais que o processo de admissão de novos
membros deve obedecer nomeadamente: i) observação das condições
prévias do ingresso; ii) a condição fundamental do ingresso e; iii) a

72
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 73

aprovação (REZEK, 2002: 304).

7.2. Observação das condições prévias do ingresso

O primeiro elemento a ter em conta no processo de admissão aos


novos membros na Organização tem a ver com as condições prévias
do ingresso. Vale dizer, os limites de abertura da carta aos Estados não
membros. Os limites de abertura do tratado institucional podem ter
carácter meramente geográfico, político, económico ou cultural.

Por exemplo, a Carta constitutiva da União Europeia afirma que, só


podem ser membros da Comunidade Europeia, os Estados que
pertencem ao continente europeu. A Carta da União Africana (UA),
por seu turno, está aberta apenas aos Estados Africanos, enquanto a
Carta da Organização dos Estados Americanos (OEA), aos “Estados
americanos”. Enquanto isso, a abertura da Liga Árabe está relacionado
com o aspecto geopolítico, isto é, todo “Estado árabe” pode tornar-se
membro da organização.

Na ONU, as matérias relativa à admissão de novos membros são


reguladas pelo art. 4 da Carta que diz o seguinte: ‟A admissão como
membro das Nações Unidas fica aberta a todos os outros Estados
amantes da paz que aceitarem as obrigações contidas na presente
Carta e que, a juízo da Organização, estiverem aptos e dispostos a
cumprir tais obrigações,

7.3. A condição fundamental do ingresso

A condição fundamental do ingresso é justamente aquela que menos

73
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 74

controvérsia pode provocar. Neste contexto, deve o Estado


interessado exprimir a sua adesão ao tratado institucional. A adesão se
presume integral, ou seja, desprovida de reservas.

i. Aprovação

A aceitação da adesão do novo membro é dada pelo órgão


competente da entidade. A Carta da ONU fala numa decisão da
Assembleia Geral “mediante recomendação do Conselho de
Segurança”15. O Pacto da Liga Árabe prescreve a submissão do pedido
ao Conselho sem nada adiantar sobre o quórum, permitindo supor que
o veto seja praticável. Na União Europeia é o Conselho que, sob
parecer da Comissão, deve assentir por unanimidade

Já a Constituição da OIT distingue entre o candidato que seja membro


das Nações Unidas (neste caso, basta comunicar seu interesse ao
director do Escritório Internacional do Trabalho) e o que não o seja:
neste último caso, hoje hipotético, a Conferência geral decide sobre a
admissão por maioria de dois terços dos delegados presentes, aí
compreendidos dois terços dos delegados governamentais presentes e
votantes.

7.4. Sanção

Nas últimas décadas, a humanidade vem assistindo inúmeras


imposições de medidas punitivas entre os actores das relações
internacionais (RI), principalmente quando uma das partes se
desvirtua dos princípios e normas postuladas.

15
Nr. 2 do Art. 4 da Carta da ONU.
74
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 75

Portanto, o não cumprimento das obrigações assumidas para com a


organização internacional pode trazer ao seu Estado-membro
consequências diversas, a depender do que dispõe o respectivo
acordo constitutivo, por votos dos demais membros num de seus
órgãos.

Normalmente, Francisco Rezek aponta duas formas de punição


impostas pelas organizações internacionais ao Estado infractor: a) a
suspensão dos direitos e; b) expulsão do Estado dos quadros da
Organização16.

a) A suspensão dos direitos

A Carta das Nações Unidas no art. 5º, fala da suspensão dos


direitos; já o art. 19, exclui da votação em Assembleia Geral, o
Estado em atraso no pagamento de sua quota relativa à receita da
organização, “se o total de seu débito igualar ou exceder a soma
das contribuições correspondentes aos dois anos anteriores
completos”.

Assim, o Estado suspenso perde o direito de voto, o direito de receber


convocatórias ou documentos da organização.

Contudo, a Assembleia pode, autorizar a participação no voto ao


Estado devedor, quando reconheça justa causa para o atraso “se o
total de seu débito igualar ou exceder a soma das contribuições
correspondentes aos dois anos anteriores completos.

b) Expulsão

16
REZEK, Francisco José. Direito internacional público, curso elementar. 9ª ed. São
Paulo, Saraiva, 2002, pág. 306.
75
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No art. 6,º da Carta da ONU, diz que o Estado membro das Nações
Unidas que “viole persistentemente os princípios contidos na presente
Carta, poderá ser expulso da Organização pela Assembleia Geral,
mediante recomendação do Conselho de Segurança”.

Tomando em conta o funcionamento do Conselho de Segurança”, os


membros permanente do Conselho de Segurança (EUA, França, Reino
Unido, Rússia e China) uma vez que são detentores do poder de Veto,
estes não poderão ser expulsos nem suspensos (Rezek, 2002, pág.
308). A expulsão do quadro, constitui a perca compulsiva do vínculo
para com a organização.

7.5. Retirada de Estado-Membro na Organização

O termo retirar-se significa de forma voluntaria, sair, excluir-se, ficar


de fora num determinado assunto. Portanto, retirar-se de uma
organização internacional pressupõe que o Estado-membro se
desvincula de uma dada organização, deixando de ter direitos e de
contrair obrigações perante aquela entidade.

Para Francisco Rezek, dois elementos costumam condicionar o


processo de retirada voluntária do Estado-membro no quadro das
organizações17:

Em primeiro lugar, deve ser dado um pré – aviso. Uma margem de


tempo deve mediar entre a manifestação de vontade do Estado que

17
REZEK, FranciscoJosé. Direito internacional público, curso elementar. 9ª ed. São
Paulo, Saraiva, 2002, pág. 308.
76
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pretende se tirar e o rompimento efectivo do vínculo jurídico


decorrente da sua condição de parte no tratado.

O prazo de dois anos, previsto pelo nr. 3, art. 1, do Pacto da SDN, vale
actualmente no sistema da OIT e no da OEA, entendendo esta última
como termo inicial a data do recebimento da denúncia pelo
Secretariado-geral.

O segundo requisito tem a ver a actualização das quotas. A maior


parte dos actos constitutivos das Organizações Internacionais tem
exigido que o Estado que se afasta tenha colocado em dia as suas
obrigações financeiras para com a entidade. Deixa clara, por outro
lado, que a denúncia do tratado-base não prejudica a validade dos
compromissos inerentes às convenções internacionais do tratado
ratificado pelo Estado enquanto membroda organização.

Alguns acasos exemplos de retirada dos Estados membros da


organização:

i) A história da Sociedade das Nações por exemplo, registou a


retirada do Brasil em 1926, a do Japão e a da Alemanha em
1933, a da Itália em 1937. Em 21 de Janeiro de 1965, numa
carta endereçada ao Secretário-Geral das Nações Unidas, o
governo da Indonésia participava formalmente o seu
afastamento da organização.

ii) Ademais, a Organização dos Estados Americanos viu deixar seu


quadro a república da Bolívia, ressentida após um conflito
sobre limites com o Chile e após dois anos de ausência, em 29
de Dezembro de 1964 o país viria a se ingressar.

77
ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 78

iii) Os Estados Unidos deixaram a OIT em 1977, alegando


inconformismo com a politização da entidade. Igual argumento
utilizaria em 1984 para deixar a UNESCO. Voltaram depois às
duas organizações, em 1980 e em 2003, respectivamente.

Resumo

Duas classes de membros: originários e os admitidos, necessidade de


disciplina, limites de admissão que diferente em cada organização. A
Possibilidade de ingresso das organizações internacionais em outras
organizações internacionais deve ser aceite do órgão competente da
organização faz com que o Estado solicitante se torne um novo
membro. A Suspensão de direitos e exclusão do Estado dos quadros da
organização. Os Membro permanente do Conselho de Segurança →
jamais poderá ser suspenso ou expulso. O Estado pode vetar sua
suspensão ou expulsão. Naqueles permissivos de denúncia ocorre
através de Aviso prévio, não atualização de contas ou regularização da
situação financeira do Estado para com a entidade.

Auto Avaliação .

1. Apresente o processo de admissão de novos membros nas OIs;


2. Reflecta sobre as motivações que podem levar ao Estado
membro a sofrer sanções dentro da organização,
3. demostre os passos que devem ser dados no processo de
retirada de um membro.

Exercícios

1. Qual é o instrumento jurídico que regula o processo de entrada


de um candidato a membro?
2. Quais são os aspectos que processo de admissão deve
obedecer?

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ISCED CURSO: CIÊNCIAS POLÍTICAS E RELACÕES INTERNACIONAIS; Disciplina: Organização Internacional 79

3. Quais são as formas de sanções que conheces?


4. Apresente diferença entre retirada e expulsão numa OIs?
5. Explique os elementos condicionantes do processo de retirada
de uma OI?
6. Dê exemplo de sanções emitidas por uma OI a que conheces?

Respostas

1. Resposta de Exercício 1, página 73


2. Resposta de Exercício 2, página 74
3. Resposta de Exercício 3, página 75
4. Resposta de Exercício 4, página 76
5. Resposta de Exercício 1, página 77

Bibliografia

CUNHA, Joaquim da Silva e Maria da Assunção do Vale Pereira


(2000), Manual do Direito Internacional Público, Almeida, Coimbra,

LUKAMBA, Paulino (2000), Direito Internacional Público, Escolar


Editora Angola,

MIRANDA, Jorge (1995), Direito Internacional Público I, Lisboa, Pedro


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MOURAO, F. A. Alburquerue. Comunidade de Países de Língua


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USP- CBRI, 1996. pp 163-167.

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PEREIRA, André Gonçalves e Fausto de Quadros (2000), Manual de


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PERETÉRSKI I.S. Interpretação dos Tratados Internacionais, Moscovo,


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REZEK, Francisco. Direito internacional público – curso elementar. 9ª


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TUNKIN, Grigory Ivanovich (1990). Direito Internacional Publico,


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