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Obstetrícia – parte 1
Editores convidados
Denise L. M. Monteiro
Alexandre J. B. Trajano
Trimestral.
Semestral 2002-2010.
Disponível em: http://revista.hupe.uerj.br
ISSN (on-line) 1983-2567
ISSN (impressa) 1676-8280
1. Ciências médicas - Periódicos. 2. Saúde - Periódicos. I. Hospital
Universitário Pedro Ernesto.
CDU 61
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Editores adjuntos
Agnaldo José Lopes. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Dirce Bonfim de Lima. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Edna Ferreira da Cunha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
José Augusto da Silva Messias. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
José Henrique Withers Aquino. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Luciano Abreu de Miranda Pinto. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Renata Nunes Aranha. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Rogério Rufino. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Conselho editorial
Afrânio Lineu Kristki. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Akira Koarai. Tohoku University Graduate School of Medicine. Sendai, Miyagi, Japão.
Cláudia dos Santos Cople. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Edson Marchioli. Universidade Federal Fluminense. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Helena Carvalho. Virginia Tech Carilion School of Medicine and Research Institute. Roanoke, VA, Estados Unidos.
Ivany Alves Castanho. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
João Carlos Winck. Universidade do Porto. Porto, Distrito do Porto, Portugal.
José de Jesus Peixoto Camargo. Santa Casa de Misericórdia. Porto Alegre, RS, Brasil.
José Galvão Alves. Centro Universitário de Volta Redonda. Volta Redonda, RJ, Brasil.
Leocadio Rodríguez Mañas. Hospital Universitario de Getafe. Getafe, MD, Espanha.
Luis Miguel Gutierrez Robledo. Instituto de Geriatría, Institutos Nacionales de Salud. México, DF, México.
Luiz Antônio Alves de Lima. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Mário Fritsch Toros Neves. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Moysés Szklo. Johns Hopkins University School of Medicine. Baltimore, MD, Estados Unidos.
Nestor Schor. Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil.
Roberto Campos Meirelles. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Ronaldo Damião. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Rosângela Correa Dias. Universidade Federal de Minas Gerais. Pampulha, MG, Brasil.
Sérgio Paulo Bydlowski. Universidade de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil.
Wille Oigman. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Editores convidados
Denise L. M. Monteiro. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Alexandre J. B. Trajano. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Editorial
Apresentação
Artigos
5. Diabetes na gestação
Raquel C. Abi-Abib; Carolina A. Cabizuca; João Regis I. Carneiro;
Fernanda O. Braga; Roberta A. Cobas; Marília B. Gomes; Guilherme R. de Jesús;
Fátima R. D. Miranda.......................................................................................................... 40
6. Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia
Alessandra L. C. Magalhães; Dailson D. S. Pereira; Nilson R. de Jesús;
Alexandre J. B. Trajano....................................................................................................... 48
Normas da publicação.......................................................................................... 95
Editorial
Mauricio Younes-Ibrahim
Departamento de Medicina Interna.
Faculdade de Ciências Médicas.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
8 revista.hupe.uerj.br
Apresentação
Resumo
Em virtude de mudanças sociais e no estilo de vida, a incidência de gestação tardia, em mulheres com mais
de 35 anos, aumentou significativamente nas últimas décadas. Tal aumento contribuiu para taxas mais altas
de complicações obstétricas e fetais. Foi realizada uma revisão crítica da literatura com o objetivo de avaliar a
evidência disponível sobre a frequência das principais complicações gestacionais em gestações tardias, assim
como possíveis explicações e controvérsias sobre o tema. A busca detalhada da literatura foi realizada incluindo
as bases de dados: Medline (pelo PubMed), SciELO e LILACS. Os desfechos gestacionais e perinatais avaliados
foram: idade gestacional no parto, baixo peso ao nascer (BPN < 2,5 kg), índice de Apgar < 7 no 1º e no 5º minutos,
aumento na incidência de cesarianas e natimortalidade. Os resultados obtidos foram: idade gestacional no parto
(< 37 sem = de 3,4 a 51,4%; > 42 sem = de 0,4 a 6,9%), natimortalidade (de zero a 3,2%), BPN (de zero a 26,8%),
Apgar < 7 (1º minuto = de 5,6 a 22,9%; 5º minuto = de 0,9 a 5%), taxa de cesarianas (de 31,9 a 72,4%). O impacto
relativo ao aumento da idade materna e doenças crônicas nos desfechos gestacionais requer mais pesquisas.
Profissionais de saúde devem estar em alerta para as particularidades das gestações tardias a fim de identificar
potenciais complicações a tempo. Uma equipe multiprofissional especializada deve estar disponível para garantir
as necessidades específicas em termos de exames e internações. Desta forma, as gestações tardias podem ser
conduzidas de maneira mais segura, reduzindo taxas de complicações e desfechos adversos maternos e perinatais.
Descritores: Idade materna; Lactente; Baixo peso ao nascer; Índice de Apgar; Natimortalidade; Complicações
na gravidez.
Abstract
In view of social and lifestyle changes, the incidence of advanced maternal age pregnancy, i.e. in women over 35
years, has markedly increased in recent decades. Such surge contributed to higher rates of obstetric and fetal
complications. A critical review of the literature was conducted with the objective of assessing the available
evidence on the frequency of the main pregnancy complications in advanced maternal age as well as possible
explanations and controversies about the matter. A detailed search of medical literature was performed including
the databases: Medline (via PubMed), SciELO and LILACS. Gestational and perinatal outcomes assessed were:
gestational age at delivery, low birth weight (LBW < 2.5 kg), Apgar score < 7 at 1 and 5 minutes, increase in the
incidence of cesarean sections and stillbirth. The results retrieved were: gestational age (< 37 weeks = 3.4 to 51.4%;
> 42 weeks = 0.4 to 6.9%), stillbirth (0 to 3.2%), LBW (0 to 26.8%), Apgar score < 7 (1st min = 5.6 to 22.9; 5th min = 0.9
to 5%), cesarean section (31.9 to 72.4%). The relative impact of maternal ageing and chronic diseases on pregnancy
outcomes requires further research. Health professionals must be alert to the peculiarities of advanced maternal
age pregnancy in order to timely identify potential complications. A specialized multiprofessional team should
be available to warrant specific needs regarding exams and admission. Thus, advanced maternal age pregnancy
can be more safely managed, reducing the rate of complications and maternal and perinatal adverse outcomes.
Keywords: Maternal age; Infant; Low birth weight; Apgar score; Stillbirth; Pregnancy complications.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):11-16 Av. Prof. Manoel de Abreu, 500, 1º andar,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12123 E-mail: denimonteiro2@yahoo.com.br
Resumen
El objetivo de este estudio es revisar la literatura en busca de informaciones que permitan identificar las
principales complicaciones fetales de las gestaciones tardías (edad materna superior a 35 años de edad), filtrar
las eventuales pruebas de su ocurrencia y/o confrontar supuestas divergencias en la prevalencia. Se realizó
una amplia investigación en la literatura médica buscando identificar y extraer informaciones de la literatura
nacional e internacional por medio de las siguientes bases de datos: Medline (por medio del PubMed), Scielo y
LILACS. La incidencia del embarazo tardío viene aumentando significativamente en las últimas décadas en todo
el mundo. Ese incremento concurre con altas tasas de complicaciones maternas y fetales. La mayor frecuencia
de enfermedades adquiridas con la edad como artritis, hipertensión arterial crónica, diabetes, depresión, cancer
y enfermedades cardíacas contribuye al mayor riesgo obstétrico, acarreando repercusiones fetales. Para expresar
las complicaciones fetales fueron definidas las siguientes variables de estudio: edad gestacional, bajo peso al
nacer, Apgar < 7 en el 1° y 5° minutos, aumento del número de cesáreas y mortalidad al nacer. El estudio mostró
los siguientes resultados: edad gestacional ( < 37 semanas = 3,4 a 51,4 %; > 42 semanas = 0,4 a 6,9%), mortalidad
al nacer (cero a 3,2%), BPN (cero a 26,8%), Apgar < 7 (1° minuto= 5,6 a 22,9%; 5° minuto= 0,9 a 5%), tasa de
cesárea (31,9 a 72,4%). La relativa contribución del aumento de la edad materna y de las enfermedades crónicas
en los resultados gestacionales necesita de más estudios. Los profesionales de salud deben estar atentos en las
características del embarazo en esta fase de la vida, apuntando a identificar precozmente posibles complicaciones,
debiendo contar con servicio especializado que garantice la tramitación para la internación y realización de
exámenes específicos en los casos necesarios. De esta manera, esta gestación podrá ser acompañada con más
seguridad, reduciendo la posibilidad de complicaciones para el binomio materno-fetal.
Palabras clave: Edad materna; Lactente; Bajo peso al nacer; Índice de Apgar; Mortalidad al nacer; Complicaciones
gestacionales.
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Complicações fetais em gestações tardias
Quadro 1. Critérios de inclusão e exclusão na revisão crítica sobre complicações fetais de gestações em idade
tardia.
Critérios de inclusão: Critérios de exclusão:
2. Estudo limitado a gestações espontâneas; 2. Estudos sobre gestação por fertilização assistida;
risco de mortalidade perinatal foi 2,2 vezes maior de placenta prévia, acretismo placentário, des-
em comparação com gestantes com menos de 35 colamento da placenta e distúrbios hipertensivos
anos.7 Salem e colaboradores encontraram sig- em grávidas de idade avançada, o que pode gerar
nificante associação entre mortalidade perinatal viés de confusão.3,10,16,18 O desenvolvimento dessas
e aumento da idade materna, o que não foi con- complicações pode estar relacionado à vascu-
firmado ao controlar com possíveis variáveis de lopatia úteroplacentária. Hsieh e colaboradores
confusão como crescimento intrauterino restrito evidenciaram que a taxa de lesões por esclerose
e malformações congênitas.17 Entre os estudos nas artérias do miométrio aumentou com a idade,
pesquisados nesta revisão, 45% não descreveram de 11% entre 17-19 anos para 61% entre 30-39 anos
a taxa de natimortalidade, o que pode ser consi- e para 83% após 39 anos.18
derado uma das limitações do estudo.2,3,9,11,19 O índice de Apgar é um bom indicador do
O BPN pode estar relacionado com aumento resultado perinatal, sendo relevante para prog-
na taxa de mortalidade perinatal. Lisonkova e nóstico do nascimento. As gestantes em idade
colaboradores encontraram taxas de BPN e de tardia apresentam 5,7 vezes mais chance de ter
mortalidade fetal e perinatal significativamente filhos com índice de Apgar inferior a 7 no 5º minu-
maiores entre as mães com maior idade, respec- to de vida do que as mais jovens.1 No entanto, os
tivamente 66% e 26%.11 Da mesma forma, Salem resultados desta revisão mostram que a maioria
e colaboradores descreveram alta taxa de BPN dos recém-natos que apresentavam Apgar menor
coincidente com maior taxa de mortalidade fetal, que 7 no 1º minuto recuperaram o índice no 5º
sugerindo relação entre os dois fatos, já que a alta minuto de vida.1,10,15,18
prevalência de BPN na gravidez tardia pode estar O índice de cesáreas na gravidez tardia mos-
relacionada a doenças adquiridas com a idade trou-se superior a 50% na maioria dos estudos.
como: artrite, hipertensão arterial crônica, de- Entre as várias razões que levam à alta taxa de ce-
pressão, câncer e infarto agudo do miocárdio.10,11,17 sáreas, a ineficiência do miométrio envelhecido, a
A comparação entre as idades gestacionais diminuição do número de receptores de ocitocina
evidenciou que tanto a prematuridade quanto o e a distocia estão entre as principais causas.1,20 No
nascimento pós-termo estiveram presentes en- entanto, no Brasil é comum a ocorrência de maior
tre as mulheres em idade avançada,1 sendo mais índice de cesariana em grupos de menor risco
marcante a baixa idade gestacional. No entanto, a obstétrico, como as mulheres de status sociais
taxa de prematuridade mostrou-se extremamente mais elevados, independentemente de critérios
variável, dificultando mais conclusões.1,15 Essa técnicos e obstétricos. Dessa forma, a avaliação
variação pode ser resultado do nível sociocultural desse dado pode estar prejudicada, sendo outra
de cada local, além da maior frequência de casos limitação do estudo.
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Complicações fetais em gestações tardias
O parto cesáreo pode contribuir para aumen- gradativamente em todo o mundo. Assim, as
tar a morbidade materna, além de elevar o risco mulheres devem ser alertadas por seus médicos
de mortalidade neonatal, bem como favorecer sobre os riscos da gravidez tardia, considerando
complicações placentárias em gravidezes poste- inclusive que, com o aumento da idade materna,
riores, incluindo a placenta prévia e descolamento eleva-se a prevalência de comorbidades, res-
prematuro da placenta.1 ponsáveis por gerar altas taxas de complicações
As gestantes com 35 anos ou mais apresen- fetais.
tam risco 1,5 vezes maior de complicações na Os profissionais de saúde devem dedicar
gravidez e de 1,6 a 2,6 maior para resultados pe- atenção especial a este grupo etário, estando
rinatais adversos quando comparadas a mulheres alertas para as características da gravidez nesta
de 20 a 34 anos. Após ajuste para variáveis de fase da vida, visando identificar precocemente
confundimento, entre as de 35 a 39 anos perma- possíveis alterações. Ademais, é importante con-
neceu o maior risco de partos operatórios vaginais tar com serviço especializado que garanta o en-
(OR=1,5; IC95% 1,2 a 1,7) e de cesáreas (OR=1,6; caminhamento para internação e a realização de
IC95% 1,5 a 1,7). Entre as mulheres com 40 anos exames específicos nos casos necessários. Desta
ou mais foi confirmado maior risco de parto pre- maneira, essa gestação poderá ser acompanhada
maturo (OR=1,7; IC95% 1,3 a 2,2), parto operatório com mais segurança, reduzindo a possibilidade
vaginal (OR=3,1; IC95% 2,0 a 4,6) e parto cesáreo de complicações para o binômio materno-fetal.
(OR=2,6; IC95% 2,2 a 3,1 ).18
A natimortalidade é tida como multifatorial e, Referências
embora a gravidez em idade tardia contribua para
1. Gravena AAF, Sass A, Marcon SS, Pelloso SM.
o risco de morte fetal em países desenvolvidos, Outcomes in late-age pregnancies. Rev Esc
outros fatores – como infecção, desnutrição, Enferm USP. 2012;46(1):15-21. [periódico na
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os principais responsáveis nos países em 46(1): 15-21. Disponível em: http://www.scielo.
br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-
desenvolvimento. O mecanismo biológico do 62342012000100002&lng=en. http://dx.doi.
aumento de morte fetal com a idade materna org/10.1590/S0080-62342012000100002
avançada é incerto, mas pode ser atribuído
2. Kenny LC, Lavender T, McNamee R, O’Neill SM,
a alguns fatores, como doenças crônicas e Mills T, Khashan AS. Advanced maternal age and
complicações médicas ou obstétricas,1,4 sendo que adverse pregnancy outcome: evidence from a large
mulheres mais velhas têm maior risco de sofrer contemporary cohort. PLoS One. 2013;8(2):e56583.
hipertensão induzida pela gravidez ou diabetes http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0056583
gestacional.18 Soma-se o já descrito efeito direto 3. Delpisheh A, Brabin L, Attia E, Brabin BJ. Pregnancy
do envelhecimento materno, que está relacionado late in life: a hospital-based study of birth outcomes.
com a deficiência de perfusão placentária causada J Womens Health (Larchmt). 2008;17(6):965-70.
http://dx.doi.org/10.1089/jwh.2008.0514
pela baixa vascularização uterina.1
O aumento da idade mostrou associação 4. Huang L, Sauve R, Birkett N, Fergusson D, van
significativa com aborto para mulheres de 35-39 Walraven C. Maternal age and risk of stillbirth: a
systematic review. CMAJ. 2008;178(2):165-72. http://
anos e com 40 ou mais (OR=2,0 e 2,4, respectiva- dx.doi.org/10.1503/cmaj.070150
mente), anormalidades cromossômicas (OR=4,0
5. Andrade PC, Linhares JJ, Martinelli S, Antonini M,
e 9,9), anomalias congênitas (OR=1,4 e 1,7), dia-
Lippi UG, Baracat FF. Resultados perinatais em
betes gestacional (OR=1,8 e 2,4), placenta prévia grávidas com mais de 35 anos: estudo controlado.
(OR=1,8 e 2,8) e taxa de cesarianas (OR=1,6 e 2,0).7 Rev Bras Ginecol Obstet. 2004;26(9):697-702. http://
No entanto, a relativa contribuição do aumento dx.doi.org/10.1590/S0100-72032004000900004
da idade materna e das doenças crônicas nos re- 6. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
sultados gestacionais necessita de mais estudos.4 Brasil vê crescimento de gravidez após os 40 anos.
Disponível em: http://www.diariodepernambuco.
com.br/ app/noticia/ciencia-e-saude/2014/02/10/
Considerações finais internas_cienciaesaude. Acesso em 15 Fev 2014.
A gravidez em idade tardia tende a aumentar 7. Cleary-Goldman J, Malone FD, Vidaver J, Ball
RH, Nyberg DA, Comstock CH, et al. Impact of outcome. Arch Gynecol Obstet. 2011;283(4):755-9.
maternal age on obstetric outcome. Obstet Gynecol. http://dx.doi.org/10.1007/s00404-010-1459-4
2005;105(5 Pt 1):983-90.
18. Hsieh TT, Liou JD, Hsu JJ, Lo LM, Chen SF, Hung
8. Martin JA, Hamilton BE, Ventura SJ, Osterman MJK, TH. Advanced maternal age and adverse perinatal
Kirmeyer S, Mathews TJ, Wilson EC. Births: Final outcomes in an Asian population. Eur J Obstet
data for 2009. Division of Vital Statistics National Gynecol Reprod Biol. 2010;148(1):21-6. http://dx.doi.
Vital Statistics Reports. 201; 60(1):1-72. 3 nov 2011 org/10.1016/j.ejogrb.2009.08.022
9. Bakker R, Steegers EAP, Biharie AA, Mackenbach 19. Gitau GM, Liversedge H, Goffey D, Hawton A,
JP, Hofman A, Jaddoe VWV. Explaining differences Liversedge N, Taylor M. The influence of maternal
in birth outcomes in relation to maternal age: the age on the outcomes of pregnancies complicated by
Generation R study. BJOG. 2011;118(4):500-9. http:// bleeding at less than 12 weeks. Acta Obstet Gynecol
dx.doi.org/10.1111/j.1471-0528.2010.02823.x Scand. 2009;88(1):116-8.
10. Tabcharoen C, Pinjaroen S, Suwanrath C, Krisanapan 20. Bayrampour H, Heaman M. Advanced maternal age
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birth weight. J Obstet Gynaecol. 2009;29(5):378-83. Birth. 2010;37(3):219-26.
http://dx.doi.org/10.1080/01443610902929537
16 revista.hupe.uerj.br
Gestação e obesidade: um problema emergente
Pregnancy and obesity: an emerging problem
Resumo
Diante do crescimento da prevalência de sobrepeso e obesidade na população adulta brasileira, sobretudo nas
mulheres em idade fértil, a gestação neste grupo populacional torna-se merecedora de atenção pelas autoridades
de saúde no nosso país. Esta condição ainda é pouco estudada, e não há centros de referência para o atendimento
das grandes obesas gestantes. Sabemos que grandes obesas têm chance de iniciar a gestação com a saúde com-
prometida por uma variedade de doenças crônicas, entre as quais podemos citar: hipertensão arterial, diabetes
tipo 2, asma brônquica e esteatose hepática. Alguns estudos já mostraram aumento de risco para o binômio mãe/
feto para além do período fetal. A gestação deve ser cuidadosamente planejada, uma vez que os métodos con-
traceptivos podem sofrer perda de sua eficácia pelo excesso ponderal nestas mulheres e em especial nas que se
submeteram à cirurgia bariátrica. O manejo do período pré-natal requer atenção diferenciada, visando controlar o
ganho ponderal materno e minimizar as complicações fetais já conhecidas, como macrossomia, anomalias e defi-
ciências nutricionais. Os achados desta revisão demonstram que o excesso de peso na gestação constitui fator de
risco para a saúde da mãe e do concepto. A pandemia de obesidade, que agora atinge países em desenvolvimento,
afeta de forma especial mulheres em idade fértil. A gestação em grandes obesas gera necessidade aumentada
de exames pré-natais, maior número de partos cesáreos, aumento de infecções em sítio cirúrgico, maior tempo
de internação – o que leva a grande impacto econômico para o sistema de saúde pública. São necessários mais
estudos e investimentos em capacitação de equipes de saúde e materiais específicos para atender estas pacientes.
Descritores: Obesidade mórbida; Obesidade; Cirurgia bariátrica; Gravidez.
Abstract
Because of the increasing prevalence of overweight and obesity in the Brazilian adult population, particularly in
women in reproductive age, pregnancy in this population deserves attention by health authorities. This condition
is still poorly understood, and there are no reference centers for maternal super-obesity care. Obese women
are at an increased risk of chronic comorbid conditions, such as hypertension, type 2 diabetes, asthma and non-
alcoholic fat liver disease. Some studies show that the increased risk to both mother and fetus extends beyond
intrauterine period. Gestation should be planned, as obesity may impair the efficacy of contraceptive methods,
especially in those women who underwent bariatric surgery. Prenatal care requires special attention so as to
control maternal weight gain and to minimize known fetal complications such as macrosomia, anomalies and
nutritional deficiencies. This review demonstrates that excessive weight during pregnancy is an important risk
factor for the health of both mother and fetus. The obesity pandemic has come to afflict developing countries
and affects women in reproductive age in a particular way. Pregnancy in morbid obese women requires a greater
number of prenatal exams, demands more frequent cesarean labors, increases the incidence of surgical infections,
demands longer hospitalization – which leads to greater economical impact on the public health system. Further
studies and investment in training for health personnel are required to assist these patients.
Keywords: Obesity; Obesity, Morbid; Bariatric surgery; Pregnancy.
*
Endereço para correspondência:
Serviço de Diabetes, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):17-24 Boulevard 28 de Setembro, 77, 3º andar,
Recebido: 10/03/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20551-030.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12130 E-mail: endoregis@uol.com.br
Resumen
Frente al crecimiento de la prevalencia de sobrepeso y obesidad en la población adulta brasilera, sobre todo en las
mujeres en edad fértil, la gestación en este grupo poblacional se vuelve merecedora de atención por parte de las
autoridades de salud en nuestro país. Esta condición todavía es poco estudiada, y no hay centros de referencia para
la atención de las grandes obesas en gestación. Sabemos que éstas tienen predisposición a iniciar una gestación con
la salud comprometida por una variedad de enfermedades crónicas, entre las cuales podemos citar: hipertensión
arterial, diabetes tipo 2, asma bronquial, esteatosis hepática. Algunos estudios ya mostraron aumento de riesgo
para el binomio madre/feto más allá del periodo fetal. La gestación debe ser planeada, una vez que los métodos
contraceptivos pueden sufrir pérdida de su eficacia por el exceso ponderal en estas mujeres; en especial en las
que se sometieron a cirugía bariátrica. El manejo del periodo prenatal requiere atención diferenciada, apuntando a
controlar la ganancia ponderal materna y minimizar las complicaciones fetales ya conocidas, como macrosomías,
anomalías y deficiencias nutricionales. Los hallazgos de esta revisión demuestran que el exceso de peso en la
gestación constituye un factor de riesgo para la salud de la madre y del producto. La pandemia de obesidad, que
ahora alcanza a países en desarrollo, afecta de forma especial a mujeres en edad fértil. La gestación en grandes
obesas genera una mayor necesidad de exámenes prenatales, un mayor número de partos por cesárea, aumento
de infecciones en sitio quirúrgico, mayor tiempo de internación – lo que lleva a un gran impacto económico para
el sistema de salud pública. Son necesarios más estudios e inversiones en capacitación de equipos de salud y
materiales específicos para atender a éstas pacientes.
Palabras clave: Obesidad mórbida; Obesidad; Cirugía bariátrica; Gravidez.
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Gestação e obesidade: um problema emergente
Seguindo esta classificação, tem se observado a gordura em excesso exerceria sobre o útero e
nas últimas décadas um importante aumento na as trompas.13
prevalência do excesso de peso e da obesidade Paradoxalmente, diversas esculturas da era
em nosso país.4 O crescimento econômico do antiga retratam mulheres obesas, cujas cabeças
país trouxe inúmeros benefícios, entre os quais a e membros minúsculos contrastam com as gene-
redução da mortalidade infantil e da desnutrição. rosas proporções dedicadas ao abdome e à mama.
Entretanto, as mudanças no comportamento De fato, é possível que, no passado, o excesso de
social e alimentar da nossa população justificam peso tenha sido relacionado com a fertilidade, a
plenamente esta variação antropométrica que prosperidade e a fortuna.
tanto nos preocupa. Parodiando o economista Entretanto, em mulheres obesas ou com so-
americano John Kenneth Galbraith, podemos dizer brepeso diagnosticadas com síndrome de ovários
que, no Brasil de hoje, morrem mais pessoas por policísticos, a perda de peso por dieta e atividade
excesso que por falta de alimentos. física é capaz de promover alterações morfológi-
De fato, os obesos têm sua expectativa de vida cas ovarianas, com redução do número de micro-
abreviada por sua condição clínico-metabólica.5 cistos, reestabelecendo a regularidade dos ciclos
São mais propensos ao desenvolvimento de hiper- ovulatórios e a fertilidade.14 Ressalta-se ainda a
tensão arterial, resistência insulínica e diabetes relação inversa entre aumento do IMC e sucesso
do tipo 2 (DM 2),6 assim como de distúrbios res- terapêutico de técnicas de fertilização in vitro.15
piratórios7 e ortopédicos.8 O impacto do excesso
de peso nos níveis de glicemia plasmática já foi
Anticoncepção em mulheres obesas
exaustivamente demonstrado. A obesidade inter- Algumas questões devem ser consideradas
fere sobremaneira na fisiopatologia do diabetes antes da escolha da melhor opção para anticon-
mellitus do tipo 2 (DM 2).5 cepção em mulheres obesas. O uso de métodos
A distribuição da gordura corporal merece contraceptivos uterinos (DIU) parece ser uma
atenção especial, uma vez que a chamada obesi- opção adequada para grandes obesas. Implantes
dade androide (distribuição “central” da gordura) de etonogestrel parecem ter eficácia reduzida
guarda maior relação com o desenvolvimento de em mulheres com IMCs muito elevados, sendo
diabetes, hipertrigliceridemia, redução dos níveis sugerida troca do dispositivo antes dos 3 anos
plasmáticos de colesterol HDL, hipertensão e de permanência, tempo limite estabelecido pelo
doença cardiovascular.9 fabricante. Diversos estudos sugerem discreta
A obesidade associa-se também ao aumento redução na eficácia de anticoncepcionais com-
do risco de neoplasia de endométrio10 e mama.11 binados estrogênio/progestágeno por via oral.
É preocupante a dificuldade que grandes obesas Além de redução na adesão terapêutica observada
encontram, em realizar exames de rastreio para em mulheres obesas, o aumento do IMC parece
estas condições em função das limitações técnicas potencializar o impacto da falta do uso do com-
que a maioria absoluta dos equipamentos dispo- primido na redução da eficácia deste composto.
níveis no sistema de saúde brasileiro apresenta, Da mesma forma, a pílula do dia seguinte, à base
a partir de determinado limite de peso. de levonogestrel, pode ter eficácia reduzida em
grandes obesas.
Obesidade e fertilidade Em resumo, apesar de haver uma discreta re-
dução na eficácia com grandes aumentos do IMC,
A associação entre obesidade e alterações no os diversos métodos de anticoncepção disponíveis
ciclo menstrual foi descrita em 1952 por Rogers no mercado podem ser utilizados com segurança
e Mitchell.12 Neste estudo, 43% das mulheres por mulheres obesas. Atenção especial deve ser
com ciclos menstruais irregulares eram obesas, dedicada ao aumento do risco de desenvolvimento
enquanto apenas 13% daquelas que menstruavam de trombose venosa profunda em usuárias de an-
normalmente estavam acima do peso. ticoncepcionais hormonais combinados. Para as
Na medicina antiga, Hipócrates já notava portadoras de obesidade grau III são necessários
que mulheres obesas tinham mais dificuldade em mais estudos para se estabelecer a segurança e
conceber, e isto era atribuido à compressão que eficácia dos diversos métodos de anticoncepção
disponíveis no mercado16 (Tabela 2). mos que aproximadamente metade destas pessoas
pode ser constituída de mulheres em idade fértil,
Gestação e obesidade não seria difícil imaginar que qualquer esforço no
sentido de otimizar o atendimento às gestantes
Considerando o crescimento da prevalência obesas deve ser valorizado e estimulado, mesmo
do excesso de peso e da obesidade na população considerando o impacto negativo que o excesso de
adulta brasileira – atualmente aproximadamente peso pode causar na fertilidade. Grandes obesas
50% das mulheres brasileiras em idade fértil es- têm uma chance significativa de iniciar a gestação
tão acima do peso –, não é difícil considerar que, com a saúde comprometida por uma variedade de
apesar de ainda pouco estudada, a gestação em problemas de saúde crônicos.
mulheres obesas surge como uma questão que A hipertensão arterial sistêmica, (HAS) há
merece toda a atenção por parte das autoridades muitos anos, é o fator de maior impacto na
de saúde do nosso país. Torna-se, ainda, neces- avaliação do risco de morte materna durante a
sária a criação de centros de referência para o gestação. A associação entre obesidade, HAS e
atendimento de grandes obesas gestantes. Um doença cardiovascular já foi claramente demons-
recente estudo desenvolvido pelo Serviço de trada. O excesso de tecido adiposo pode promover
Diabetes do HUPE e apresentado no último Con- ativação do sistema renina-angiotensina-aldoste-
gresso Brasileiro de Diabetes17 chamou atenção rona, aumento do tônus simpático, além de estar
para a significativa prevalência de obesas grau III associado à produção de fatores procoagulação e
com diabetes gestacional (DMG) acompanhadas disfunção endotelial.19 A síndrome da apneia obs-
em conjunto pelos Serviços de Obstetrícia e Dia- trutiva do sono, bastante prevalente em grandes
betes da UERJ entre 2011 e 2012. Das 43 pacientes obesas, pode contribuir para o aumento da pres-
estudadas, 58,13% eram obesas, sendo que em são arterial e para o desenvolvimento de arritmias
44% destas o IMC no momento da concepção era através de uma ativação simpática ainda maior.20
superior a 40 kg/m2. A obesidade mórbida cons- A Síndrome de Resistência insulínica rela-
titui, de fato, um problema ainda mais complexo. ciona-se de maneira inequívoca com a obesidade
Nas últimas três décadas houve um incremento de e tem papel fundamental na fisiopatogênese do
285% na prevalência de obesidade grau III na po- DM2, doença bastante prevalente em grandes
pulação adulta do sudeste brasileiro.18 Estima-se obesas. Outrossim, a gestação é condição acom-
que no estado do Rio de Janeiro, em torno de 120 panhada de grande redução fisiológica da ação
mil pessoas possam ser, hoje, classificadas como da insulina em seus tecidos alvo. Destaca-se o
portadores de obesidade mórbida. Se considerar- papel da placenta como sítio de produção de ci-
Critério de Elegibilidade Médica (CEM) para escolha do método contraceptivo em mulheres obesas
Adaptado de Jeniffer A Robinson & Anne E Burke – Women´s Health (2013) 9 (5), 453-466
20 revista.hupe.uerj.br
Gestação e obesidade: um problema emergente
Critério de Elegibilidade Médica (CEM) para escolha de métodos contraceptivos em mulheres após cirurgia
bariátrica – Adaptado de Jeniffer A Robinson & Anne E Burke, 2013.
D.I.U Categoria 1:
1 1
(contracepção intrauterina) sem restrição ao uso
Categoria 1:
Implante de progestágeno 1 1
sem restrição ao uso
“Minipílulas” Categoria 1:
1 1
(progestágeno isolado) sem restrição ao uso
22 revista.hupe.uerj.br
Gestação e obesidade: um problema emergente
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24 revista.hupe.uerj.br
Fatores angiogênicos e antiangiogênicos na fisiopatologia
da pré-eclâmpsia e seu uso na prática obstétrica atual
Angiogenic and antiangiogenic factors in the pathophysiology of
preeclampsia and its use in current obstetrics practice
Resumo
A pré-eclâmpsia é uma das principais causas de morbimortalidade materna, morte perinatal, parto pré-termo e
restrição de crescimento intrauterino. Apesar de a maioria das gestantes apresentar um bom desfecho, o atraso
no seu diagnóstico pode favorecer a evolução para sua forma mais grave, a eclâmpsia. Um grande número de
pesquisas já foi publicado sobre este assunto, no entanto, a etiologia da pré-eclâmpsia continua desconhecida.
O estudo dos fatores angiogênicos, como o fator de crescimento vascular endotelial (VEGF) e o fator de cres-
cimento placentário (PlGF), e dos fatores antiangiogênicos, como o receptor FMS-like tirosina quinase-1 solúvel
(sFlt-1), permitiu a ampliação do conhecimento sobre a fisiopatologia da pré-eclâmpsia. Pacientes analisadas após
o diagnóstico de pré-eclâmpsia possuíam níveis séricos maiores de sFlt-1 e menores de PlGF e VEGF que o grupo
controle pareado por idade gestacional. O sFlt-1 funciona como antagonista ao se ligar aos fatores angiogênicos e
prevenir a interação com seus receptores de superfície celular. Essas alterações foram mais pronunciadas quando
a paciente apresentou pré-eclâmpsia precoce (< 34 semanas) ou restrição do crescimento intrauterino. Estes
fatores já estão sendo utilizados no rastreamento da doença no primeiro trimestre de gestação, principalmente
para as apresentações precoces da doença, e mostraram-se promissores para o auxílio no diagnóstico diferencial
entre pré-eclâmpsia e doenças que apresentam o quadro clínico similar, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES).
Esta doença autoimune acomete principalmente mulheres em idade reprodutiva e está associada a resultados
gestacionais adversos. Poucos estudos avaliaram os fatores angiogênicos e antiangiogênicos em gestantes com
LES. Aparentemente, há um aumento do sFlt-1 em pacientes com LES e pré-eclâmpsia, entretanto, os resultados
ainda não podem ser aplicados na prática clínica considerando a escassez de dados. Estudos prospectivos em
gestantes com LES estão sendo desenvolvidos para o diagnóstico diferencial de síndromes hipertensivas durante
a gestação, podendo influenciar diretamente a assistência prestada às gestantes de alto risco.
Descritores: Pré-eclâmpsia; Lúpus eritematoso sistêmico; Fatores de crescimento do endotélio vascular; Nefrite
lúpica; Hipertensão.
Abstract
Pre-eclampsia is a leading cause of maternal morbidity and mortality, perinatal death, premature birth and
intrauterine growth restriction. Although most of women present a good outcome, the delay in diagnosis may
contribute to the evolution to a more severe form, eclampsia. A large number of studies have been published
on this subject, yet the etiology of pre-eclampsia remains unknown. The study of angiogenic factors, such as
vascular endothelial growth factor (VEGF) and placental growth factor (PlGF), and antiangiogenic factors, such
as soluble FMS-like tyrosine kinase-1 (sFlt-1), allows the expansion of knowledge about the pathophysiology of
pre-eclampsia. Patients analyzed after diagnosis of pre-eclampsia had higher serum levels of sFlt-1 and lower PlGF
and VEGF than the control group matched for gestational age. sFlt-1 acts as antagonist as it binds to angiogenic
factors and prevents their interaction with cell surface receptors. These changes were more pronounced when
the patient developed early pre-eclampsia (< 34 weeks) or intrauterine growth restriction. These factors are
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):25-31 Av. Prof. Manoel de Abreu, 500, 1º andar,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12134 E-mail: guilhermedejesus@gmail.com
already being used for prediction of the disease in the first trimester, especially the early presentations of the
disease, and are promising to help in the differential diagnosis between pre-eclampsia and diseases that have
similar clinical picture, such as systemic lupus erythematosus (SLE). This autoimmune disease affects mainly
women of reproductive age and is associated with adverse pregnancy outcomes. Few studies have evaluated the
angiogenic and antiangiogenic factors in women with SLE. Apparently, there is an increased sFlt-1 in patients with
SLE and pre-eclampsia, however the results can not yet be applied in clinical practice considering the paucity
of data. Prospective studies in pregnant women with SLE are being developed for the differential diagnosis of
hypertensive disorders during pregnancy, and may directly influence the support provided to women with high
risk pregnancy.
Keywords: Pre-eclampsia; Lupus erythematosus, systemic; Vascular endothelial growth factors; Lupus nephritis;
Hypertension.
Resumen
La preeclampsia es una de las principales causas de morbimortalidad materna, muerte perinatal, parto pretérmino
y restricción de crecimiento intrauterino. A pesar de que la mayoría de las gestantes llegan a buen término, el
atraso en el diagnóstico puede favorecer la evolución a su forma más grave, la eclampsia. Un gran número de
investigaciones ya fue publicado sobre este asunto, aun así, la etiología de la preeclampsia continua desconocida.
El estudio de los factores angiogénicos, como el factor de crecimiento vascular endotelial (VEGF) y el factor de
crecimiento placentario (P1GF), y dos factores antiangiogénicos, como el receptor fms-like tirosina kinasa-1 soluble
(sFlt-1), permitió la ampliación del conocimiento sobre la fisiopatología de la preeclampsia. Pacientes analizadas
después del diagnóstico de preeclampsia poseían niveles séricos mayores de sFlt-1 y menores de PlGF y VEGF
que el grupo control pareado por edad gestacional. El sFlt-1 funciona como antagonista al unirse a los factores
angiogénicos y prevenir la interacción con sus receptores de superficie celular. Estas alteraciones fueron más
pronunciadas cuando la paciente presentó preeclampsia precoz (< 3 semanas) o restricción del crecimiento
intrauterino. Estos factores ya están siendo utilizados en el seguimiento de la enfermedad en el primer trimestre
de gestación, principalmente para las presentaciones precoces de la enfermedad, y se mostraron alentadores
para el auxilio en el diagnóstico diferencial entre preeclampsia y enfermedades que presentan un cuadro clínico
similar, como el lupus eritematoso sistémico (LES). Esta enfermedad autoinmune afecta principalmente a mujeres
en edad reproductiva y está asociada a resultados gestacionales adversos. Pocos estudios evaluaron los factores
angiogénicos y antiangiogénicos en gestantes con LES y preeclampsia, sin embargo, los resultados todavía no
pueden ser aplicados en la práctica clínica considerando la escasez de datos. Estudios prospectivos en gestantes
con LES están siendo desarrollados para el diagnóstico diferencial de síndromes hipertensivos durante la gesta-
ción, pudiendo influenciar directamente la atención prestada a las gestantes de alto riesgo.
Palabras clave: Preeclampsia; Lupus eritematoso sistémico; Factores de crecimiento del endotelio vascular;
Nefritis lúpica; Hipertensión.
26 revista.hupe.uerj.br
Fatores angiogênicos e antiangiogênicos na fisiopatologia da
pré-eclâmpsia e seu uso na prática obstétrica atual
obstétricas durante a vida de 1:4.000 a 1:10.000, growth factor) e o fator de crescimento placen-
enquanto nos países com baixa renda esse risco tário (PlGF, do inglês placental growth factor).
varia entre 1:15 e 1:50, apresentando uma taxa de Concentrações elevadas de VEGF livre também
mortalidade 100 a 200 vezes maior que na Europa são importantes para manter em repouso o endo-
e América do Norte.3 télio, apesar do estresse inflamatório típico que
O presente estudo tem por objetivo revisar o envolve uma gestação normal. Outras funções do
papel dos fatores angiogênicos e antiangiogêni- VEGF incluem induzir a produção de óxido nítrico
cos na fisiopatologia da pré-eclâmpsia e discutir e prostaciclinas vasodilatadoras pelas células en-
propostas de uso destes marcadores na prática doteliais, reduzindo o tônus vascular e a pressão
obstétrica atual, principalmente na predição da arterial; promover a recuperação glomerular de
doença e no diagnóstico diferencial com outras glomerulonefrite e microangiopatia trombótica;
patologias. e aumentar a permeabilidade vascular. Estudos
sobre fatores antiangiogênicos demonstraram
Fatores angiogênicos e que o bloqueio de seus sinalizadores resultou em
hipertensão e proteinúria. Considerando estes
antiangiogênicos na fisiopatologia dados, o VEGF apresenta um papel importante
e no diagnóstico da pré-eclâmpsia não apenas na regulação da pressão sanguínea,
mas também em manter a integridade da barreira
Um grande número de pesquisas já foi publi- de filtração glomerular durante a gestação.5,6
cado sobre este assunto, contudo a etiologia da O PlGF, membro da família VEGF, possui
pré-eclâmpsia continua desconhecida. Existem uma função significativa na neovascularização
duas correntes de pensamento atuais: o modelo em adultos, contribuindo na cicatrização de fe-
isquêmico, no qual a isquemia e a reperfusão le- ridas através da angiogênese, além de promover
vam a um estresse oxidativo e à doença vascular; quimiotaxia de monócitos, crescimento de vasos
e o modelo imunológico, que considera uma má colaterais, mobilização de células precursoras na
adaptação imune maternopaternal, isto é, uma medula óssea e aumento da atividade do VEGF.7
reação aloimune materna disparada pela rejeição O VEGF e PlGF expressam seus efeitos quando
do aloenxerto fetal.1 se ligam aos receptores VEGF Flt-1 da membrana
A disfunção endotelial generalizada pode ser da célula endotelial ou dos monócitos.
responsável por todos os aspectos clínicos en- Maynard e colaboradores estudaram o perfil
contrados na pré-eclâmpsia, e a identificação de genético de tecido placentário em mulheres com
fatores circulantes que servem como mediadores e sem pré-eclâmpsia e constataram que o mRNA
desta disfunção tornou-se assunto de grande do receptor fms-like tirosina quinase-1 solúvel
interesse nas últimas décadas. Diversos grupos (sFlt-1, do inglês soluble FMS-like tyrosine kina-
publicaram alterações em citocinas, fatores de se-1) encontrava-se com expressão aumentada
crescimento e químicos, como fator de necrose nas mulheres com pré-eclâmpsia. O sFlt-1 é uma
tumoral-alfa, Interleucina (IL-6, IL-1 α, IL-1 β), Fas variante do receptor VEGF Flt-1 que não possui
Ligand, produtos lipídicos oxidados, neuroquini- domínios transmembrana e citoplasmáticos. Livre
na-B e dimetil arginina assimétrica (ADMA), que na circulação atua como potente antagonista do
são liberados pela placenta e/ou outras fontes VEGF e PlGF, apresentando, assim, um perfil an-
maternas na pré-eclâmpsia.4 tiangiogênico. Seu papel fisiológico, no entanto,
Independentemente do modelo proposto ainda não está bem estabelecido. Sabemos que
como causa da pré-eclâmpsia, sabe-se que na ges- ele é normalmente encontrado na circulação de
tação normal existe uma interação do trofoblasto homens e mulheres, é produzido por células en-
endovascular e dos leucócitos deciduais, especial- doteliais e monócitos e sua produção é aumentada
mente células natural-killer, resultando na libera- quando estas duas células são ativadas.8
ção de mitógenos responsáveis pela angiogênese Continuando seu estudo, Maynard e cola-
necessária para o desenvolvimento placentário, boradores formularam a hipótese que o sFlt-1
principalmente o fator de crescimento endotelial circulante em excesso secretado pela placenta
vascular (VEGF, do inglês vascular endotelial na pré-eclâmpsia levaria a disfunção endotelial,
hipertensão e proteinúria ao antagonizar o VEGF níveis de PlGF encontrados foram menores a partir
e PlGF circulantes. Eles demonstraram que os ní- das 13 a 16 semanas e também apresentaram queda
veis séricos de sFlt-1 medidos pelo método ELISA 11 a 9 semanas antes do diagnóstico, com redução
(do inglês Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay) substancial nas 5 semanas antes do aparecimento
em pacientes com pré-eclâmpsia era maior que os de hipertensão ou proteinúria. As concentrações
de gestantes com pressão normal, chegando o au- de VEGF mantiveram-se baixas durante toda a
mento a 5 vezes no caso de pré-eclâmpsia grave.5 gestação sem diferença entre os grupos, exceto nos
Este achado foi confirmado por outros autores.9 casos de coleta de material entre 37 e 41 semanas
Considerando que o sFlt-1 funciona como das pacientes que posteriormente desenvolveram
antagonista ao ligar-se aos fatores angiogênicos pré-eclâmpsia e nos casos em que o soro foi colhido
e prevenir a interação com seus receptores de entre 21 e 32 semanas e até 5 semanas antes do
superfície celular, foi demonstrado nesse grupo de aparecimento do quadro. Essas alterações foram
pacientes que os valores séricos das frações livres mais pronunciadas quando a paciente apresentou
de VEGF e PlGF estavam reduzidos proporcional- pré-eclâmpsia precoce (< 34 semanas) ou restrição
mente ao aumento de sFlt-1. Por fim, utilizando do crescimento intrauterino.10
um modelo animal no qual foi administrado um O autor sugere que, fisiologicamente, o estado
adenovírus recombinante produtor de sFlt-1, hou- pró-angiogênico do segundo trimestre (aumento
ve desenvolvimento de hipertensão e proteinúria de PlGF com sFlt-1 baixo) seria convertido para um
em ratas gestantes e não gestantes, inclusive estado antiangiogênico (aumento do sFlt-1 e queda
com análise histopatológica renal evidenciando do PlGF e VEGF), sendo que nas pacientes com
endoteliose glomerular, lesão característica da pré-eclâmpsia esta conversão seria mais precoce
pré-eclâmpsia.5 e abrupta, como um exagero do processo normal
Posteriormente a este estudo, Levine utilizou de controle do crescimento e funcionamento
o banco de soros de um estudo prospectivo rando- placentário.10
mizado anterior (Calcium for Preeclampsia Pre- Alguns autores já relataram a associação do
vention – CPEP) e comparou os valores de sFlt-1, sFlt-1 com disfunção miocárdica em pacientes com
PlGF e VEGF das pacientes com pré-eclâmpsia PE e miocardiopatia periparto. A função cardíaca
pareadas com pacientes normotensas de mesma avaliada de forma não invasiva através do índice
idade gestacional na primeira coleta sérica (120 de performance miocárdica (IPM) demonstrou
casos e 120 controles), utilizando o mesmo pro- uma disfunção diastólica em pacientes com pré-
cedimento de Maynard (método ELISA). O autor eclâmpsia quando comparadas com gestantes
comprovou que as pacientes analisadas após o sem doenças, sendo que esta alteração do IPM
diagnóstico de pré-eclâmpsia possuíam níveis estava correlacionada com os níveis circulantes de
séricos maiores de sFlt-1 e menores de PlGF e sFlt-1. Ratos expostos ao sFlt-1 durante 3 semanas
VEGF que o grupo controle. Depois, em uma apresentaram queda significativa da densidade
análise longitudinal, ele observou que, durante vascular e fração de encurtamento miocárdico
a gestação normal, a concentração de sFlt-1 identificados através de ecocardiografia, resultando
manteve-se constante até 33 a 36 semanas, apre- em insuficiência cardíaca e corroborando a teoria
sentando posterior subida semanal até o parto; a inicialmente proposta. Além disso, pacientes
de PlGF manteve-se constante nos dois primeiros que desenvolveram miocardiopatia periparto
trimestres, apresentou pico entre 29 a 32 semanas apresentaram valores séricos de sFlt-1 maiores
e posterior queda contínua; o VEGF manteve-se que controles quatro a seis semanas após o parto,
baixo durante toda gestação.10 enquanto geralmente há normalização deste
Avaliando o grupo de pacientes com pré- marcador entre 48 a 72 horas após o parto.11 Os
eclâmpsia, Levine relatou que, antes do diagnóstico, resultados expostos sugerem que o sFlt-1 também
houve elevação da concentração de sFlt-1 entre 21 pode apresentar um papel no aumento do risco
e 24 semanas de gestação, sendo esta elevação cardiovascular, especialmente relacionado à
mais rápida de 11 a 9 semanas antes da abertura disfunção cardíaca.
do quadro, chegando ao pico 5 semanas antes e Diversos autores continuaram esta linha de
mantendo-se neste patamar até o diagnóstico. Os pesquisa, estudando fatores angiogênicos e an-
28 revista.hupe.uerj.br
Fatores angiogênicos e antiangiogênicos na fisiopatologia da
pré-eclâmpsia e seu uso na prática obstétrica atual
tiangiogênicos urinários,12,13 a associação dos fa- O tratamento difere entre estas patologias e o
tores séricos com achados ultrassonográficos14-16 diagnóstico incorreto pode levar a uma elevada
e principalmente a possibilidade de utilizar estes morbimortalidade materna e fetal.21
marcadores como preditores da pré-eclâmpsia.17-19 Entre as patologias mencionadas, o LES
Entre estas novas aplicações, sem dúvidas a merece atenção especial. É uma doença autoi-
predição da pré-eclâmpsia no primeiro trimestre mune caracterizada pelo depósito de complexos
da gestação, especialmente a sua forma grave antígeno-anticorpo nos capilares e em diversas
e precoce, é a mais promissora e já está sendo vísceras. A maioria das pacientes com LES está
utilizada na prática clínica em alguns países,20 em idade reprodutiva (entre 26 e 40 anos), e os
inclusive no Brasil. achados clínicos podem ser leves ou graves com
acometimento de múltiplos órgãos, incluindo rim
Fatores angiogênicos e (nefrite), pulmão (pleurite ou pneumonite), fígado
(hepatite) e cérebro.22 Entre as pacientes com
antiangiogênicos na predição da nefrite lúpica, os achados clínicos e laboratoriais
pré-eclâmpsia são semelhantes àquelas com pré-eclâmpsia
grave, apresentando hipertensão, proteinúria e
Em uma série de trabalhos realizados no edema.23 A exacerbação grave do LES pode ocor-
King’s College, em Londres, um grupo de pes- rer em 25-30% das gestantes, inclusive podendo
quisa investigou prospectivamente marcadores ocorrer pela primeira vez durante a gravidez ou
identificados em gestações únicas entre 11 e 13 no período pós-parto. O tratamento inclui o uso
semanas que estariam associados com o futuro de corticosteroides, hidroxicloroquina e outras
desenvolvimento de pré-eclâmpsia. A associação drogas imunossupressoras.22
de características maternas com marcadores bio- Em uma revisão sistemática recente de
físicos, avaliados através da dopplerfluxometria 2751 gestações em 1842 pacientes com LES, foi
das artérias uterinas, e marcadores laboratoriais, encontrada reativação da doença em 25,6% dos
incluindo o PlGF, foi capaz de detectar 91% dos casos, hipertensão em 16,3%, nefrite em 16,1%,
casos de pré-eclâmpsia precoce (antes de 34 pré-eclâmpsia em 7,6%, eclâmpsia em 0,8%
semanas) e 60,9% dos casos de pré-eclâmpsia e prematuridade em 39,4% dos partos. Houve
que ocorrem no termo, com uma taxa de falso associação positiva entre parto prematuro e nefrite
positivo de 5%.20 ativa, assim como entre hipertensão e nefrite ativa
Apesar da queda da taxa de detecção nos ou história de nefrite.24
casos mais tardios, o benefício na identificação A revisão de 76 gestações em 63 pacientes
dos casos precoces é significativo, visto que a com lúpus no Hospital Universitário Pedro Er-
incidência de resultados adversos maternos e nesto encontrou resultados semelhantes. 15%
fetais está inversamente relacionada com a idade das pacientes desenvolveram pré-eclâmpsia, 30%
gestacional do surgimento da doença.20 hipertensão arterial, 27% dos fetos apresentaram
sofrimento fetal crônico e 14 pacientes precisaram
Fatores angiogênicos e aumentar corticoesteroides durante a gestação.
O parto ocorreu numa idade gestacional média
antiangiogênicos no diagnóstico de 35 semanas e foi notado um aumento do óbi-
diferencial da pré-eclâmpsia to fetal em pacientes com nefrite comparados
quando comparado com pacientes sem nefrite
Além da dificuldade de predição e de en- (37% x 12,2%).25
tendimento da fisiopatologia, a pré-eclâmpsia Além dos resultados adversos maternos e
apresenta semelhança clínica e laboratorial com perinatais associadas à pré-eclâmpsia e ao LES,
várias patologias obstétricas, clínicas e cirúrgicas, o diagnóstico diferencial entre as duas condições
como por exemplo o fígado gorduroso agudo da é complexo: ambas podem apresentar aumento
gravidez, a púrpura trombocitopência trombó- de proteinúria, hipertensão, trombocitopenia e
tica, a síndrome hemolítica urêmica, a sepse e a deteriorização da função renal. A queda do com-
reativação do lúpus eritematoso sistêmico (LES). plemento sérico, esperada durante a atividade
30 revista.hupe.uerj.br
Fatores angiogênicos e antiangiogênicos na fisiopatologia da
pré-eclâmpsia e seu uso na prática obstétrica atual
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Resumo
São denominados fetos pequenos para a idade gestacional (PIG) aqueles que têm o peso estimado abaixo do per-
centil 10. A Restrição do Crescimento Intrauterino (CIR) é a principal causa de fetos PIG e está associada à alta
taxa de morbimortalidade fetal e neonatal. Seu adequado diagnóstico, além do acompanhamento, tem impacto
como marcador de assistência à mãe e ao feto. Esta revisão tem como objetivo auxiliar o manejo desta grave
condição, tentando auxiliar na diminuição dos efeitos deletérios sobre o feto e o neonato. Atualmente, além do
investimento em tratamento neonatal, tem-se procurado investir no reconhecimento precoce das pacientes com
maior risco de terem fetos com CIR e nas formas terapêuticas de aumentar sua prevenção, diminuindo, assim,
sua incidência e gravidade. As principais causas de CIR são: alterações genéticas, infecções e insuficiência pla-
centária. Reconhecer estas causas ajuda na decisão do momento apropriado do parto. De todas, a insuficiência
placentária é a mais comum e a que apresenta os maiores desafios, por ser paradoxalmente a que tem menor
potencial letal e, ao mesmo tempo, a que mais mata em nosso meio. O adequado manejo de gestações com CIR
causado pela insuficiência placentária impõe a necessidade do pleno conhecimento da sequência das alterações
hemodinâmicas feto-placentárias ao Doppler, para a decisão em relação a necessidade e o momento adequado,
dependendo da idade gestacional (IG), de se antecipar o parto, tendo em vista a ação danosa que a prematuridade
pode somar a estes fetos, com repercussões desfavoráveis que podem ir além do período perinatal.
Descritores: Retardo do Crescimento Fetal, RCIU; Ultrassonografia doppler; Insuficiência placentária.
Abstract
Are called ferns small for gestational age (SGA) those who have the estimated weight percentile below 10.
Intrauterine growth restriction (IUGR) is the leading cause of SGA fetuses and is associated with high rate of fetal
and neonatal morbidity and mortality. Proper diagnosis and monitoring has an impact as a marker of assistance
for the mother and the fetus. This review aims to assist the management of this serious condition, trying to
assist in reducing the deleterious effects on the fetus and the neonate. Currently, in addition to the investment
in neonatal treatment, has sought to invest in the early recognition of patients with higher risk of having fetuses
with IUGR and in therapeutic ways to increase its prevention, thus decreasing its incidence and severity. The
main causes of IUGR are: genetic changes, infections and placental insufficiency. Recognize these causes help in
the decision of the appropriate time of childbirth. Of all, the placental insufficiency is the most common and which
presents the greatest challenges because it is paradoxically the least lethal potential and at the same time the most
kills in our midst. The appropriate management of pregnancies with IUGR caused by placental insufficiency imposes
the necessity of the full knowledge of the sequence of the hemodynamic changes fetus-placental Doppler to, for the
decision about the necessity and the appropriate time, depending on the gestational age (GA), to anticipate the birth
with a view to damaging action that prematurity can sum these ferns, with unfavourable repercussions that may
go beyond the perinatal period.
Keywords: Intrauterine Growth Retardation, IUGR; Ultrasonography, doppler; Placental insufficiency.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):32-39 Av. Prof. Manoel de Abreu, 500, 1º andar,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12135 E-mail: dailsondamian@globo.com
32 revista.hupe.uerj.br
Restrição de crescimento intrauterino
Resumen
Son denominados fetos pequeños para la edad gestacional (PEG) aquellos que tienen el peso estimado bajo el
percentil 10. La restricción del crecimiento intrauterino (RCIU) es la principal causa de fetos PEG y está asociada
a la alta tasa de morbimortalidad fetal y neonatal. Su adecuado diagnóstico y acompañamiento tienen impacto
como marcador de asistencia a la madre y al feto. Esta revisión tiene como objetivo ayudar en el manejo de esta
grave condición, intentando disminuir los efectos deletéreos sobre el feto y el neonato. Actualmente, más allá de
la inversión en tratamiento neonatal, se ha buscado invertir en el reconocimiento precoz de las pacientes con
mayor riesgo de tener fetos con RCIU y en las formas terapéuticas de aumentar la prevención, disminuyendo,
así, la incidencia y gravedad. Las principales causas de RCIU son: alteraciones genéticas, infecciones e insufi-
ciencia placentaria. Reconocer estas causas ayuda en la decisión del momento adecuado para el parto. De todas,
la insuficiencia placentaria es la más común y la que presenta los mayores desafíos, por ser paradójicamente
la que tiene menor potencial letal y al mismo tiempo la que más mata en nuestro medio. El adecuado manejo de
gestaciones con RCIU causado por la insuficiencia placentaria exige la necesidad del pleno conocimiento de la
secuencia de las alteraciones hemodinámicas feto-placentarias al Doppler, para la decisión respecto a la necesidad
y el momento adecuado, dependiendo de la edad gestacional (EG), de anticiparse al parto, teniendo en cuenta la
acción dañina que la prematuridad puede sumar a estos fetos, con repercusiones desfavorables que pueden ir
más allá del periodo perinatal.
Palabras clave: Retardo del Crescimiento Intrauterino, RCIU; Ultrasonografía doppler; Insuficiencia placentaria.
34 revista.hupe.uerj.br
Restrição de crescimento intrauterino
Figura 1. Comparação entre a evolução do comprometimento fetal de instalação precoce e tardia. A figura
sumariza a evolução temporal das alterações biofísicas observadas na dopplervelocimetria, volume do líquido
amniótico, na cardiotocografia e no perfil biofísico fetal. Os “índices” se referem aos “Índices de Resistência e de
Pulsatilidade” da dopplervelocimetria. AU, artéria umbilical; ACM, artéria cerebral média; CTG, cardiotocografia;
VLA, volume de líquido amniótico; MR, movimento respiratório. Adaptado de BASCHAT, Ultrasound Obstet
Gynecol, 2011.
36 revista.hupe.uerj.br
Restrição de crescimento intrauterino
USG = PIG
≥ 34 semanas
oligodramnia normodramnia
*
Não ultrapassar a 39a semana
Figura 2: Condução dos fetos com restrição de crescimento com trinta e quatro semanas de gravidez ou mais.
USG = PIG
30 ≥ 34 semanas
diástole zero
ou reversa doppler da AU normal
doppler inalterado
e normodramnia doppler inalterado doppler normal
e CTG normal
corticosteroide
antecipação antecipação
do parto cesariana com seguir conduta para do parto seguir conduta para
por cesariana 34 semanas* IG ≥ 34 sem por cesariana IG ≥ 34 sem
Figura 3: Condução dos fetos com restrição de crescimento entre trinta e trinta e quatro semanas de gravidez.
USG = PIG
24 a < 30 semanas
diástole zero
doppler da AU normal
ou reversa
Figura 4: Condução dos fetos com restrição de crescimento entre 24 e 30 semanas de gravidez.
com a proposta de condução dos fetos com diag- 8. Figueras F, Gardosi, J. Intrauterine growth
nóstico de restrição do crescimento intrauterino, restriction: new concepts in antenatal surveillance,
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Diabetes en la gestación
Raquel C. Abi-Abib, Carolina A. Cabizuca, João Regis I. Carneiro,* Fernanda O. Braga,
Roberta A. Cobas, Marília B. Gomes, Guilherme R. de Jesús, Fátima R. D. Miranda
Resumo
Devido ao aumento da idade materna e à epidemia de obesidade, a prevalência de gestantes com diabetes tipo 2
ou que desenvolvem diabetes mellitus gestacional (DMG) tem sido cada vez maior. A associação do diabetes com
aumento do risco de complicações materno-fetais é conhecida há muitos anos, mas foi apenas em 2008 que a
forte e contínua relação entre níveis glicêmicos acima do normal e risco de complicações fetais foi confirmada
por meio de um grande ensaio clínico prospectivo. Atualmente, a investigação quanto à presença de diabetes na
gestação é recomendada para todas as gestantes, pela realização de glicemia de jejum na primeira consulta do
pré-natal e de TOTG (Teste Oral de Tolerância à Glicose) entre a 24ª e a 28ª semanas. O tratamento realizado
por equipe multidisciplinar e com objetivo de manter o controle glicêmico o mais próximo possível do normal
possibilita a redução das taxas de morbimortalidade materno-fetais. O objetivo desta revisão é discorrer sobre
epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico, complicações, acompanhamento e tratamento de gestantes portadoras
de diabetes tipo 1 ou 2 e das portadoras de DMG, ressaltando-se as semelhanças e peculiaridades de cada caso,
com base nos principais estudos e consensos mais recentes.
Descritores: Diabetes mellitus; Diabetes gestacional; Gestação.
Abstract
Due to maternal aging and the obesity epidemic, the prevalence of type 2 diabetes mellitus among pregnant women
and gestational diabetes mellitus is increasing. The association of diabetes and increasing risk of maternal and
fetal complications has been known for several years, but only in 2008 the strong and continuous relationship
between high glucose levels and the risk of fetal complications was confirmed in a large prospective clinical
trial. Currently, diabetes screening is warranted in every pregnant woman through the measurement of fasting
plasma glucose in the first pre-natal evaluation and OGTT (Oral Glucose Tolerance Test) between the 24th and 28th
gestational weeks. Treatment is carried out by a multidisciplinary team, aiming at achieving near-normal glucose
levels, leading to the reduction of maternal and fetal morbidity. The purpose of this review article is to discuss
the epidemiology, physiopathology, diagnosis, complications, treatment and follow-up of pregnant women with
pregestational diabetes and gestational diabetes, pointing out the similarities and peculiarities of each condition
based on the most important studies and the most recent consensus.
Keywords: Diabetes mellitus; Diabetes, gestational; Pregnancy.
Resumen
Debido al aumento de la edad materna y a la epidemia de obesidad, la prevalencia de gestantes con diabetes
tipo 2 o que desarrollan diabetes mellitus gestacional (DMG) ha sido cada vez mayor. La asociación de la
diabetes con aumento del riesgo de complicaciones materno-fetales es conocida hace muchos anos, pero fue
apenas el 2008 que la fuerte y continua relación entre niveles glicémicos por encima de lo normal y riesgo
de complicaciones fetales fue confirmada por medio de un gran ensayo clínico prospectivo. Actualmente, la
investigación en cuanto a la presencia de diabetes en la gestación es recomendada para todas las gestantes,
mediante la realización de glicemia de ayuno en la primera consulta del prenatal y el Test de tolerancia oral a
*
Endereço para correspondência:
Serviço de Diabetes, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):40-47 Boulevard 28 de Setembro, 77, 3º andar,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20551-030.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12136 E-mail: endoregis@uol.com.br
40 revista.hupe.uerj.br
Diabetes na gestação
la glucosa (TTOG) entre la 24ª y la 28ª semanas. El tratamiento realizado por equipo multidisciplinario, con el
objetivo de mantener control glicémico lo más próximo posible de lo normal posibilita la reducción de las tasas
de morbimortalidad materno-fetales. El objetivo de esta revisión es discurrir sobre la epidemiología, fisiopato-
logía, diagnóstico, complicaciones, acompañamiento y tratamiento de gestantes portadoras de diabetes tipo 1
o 2 y de las portadoras de DMG, resaltándose las semejanzas y peculiaridades de cada caso, con base en los
principales estudios y consensos más recientes.
Palabras clave: Diabetes mellitus; Diabetes gestacional; Gestación.
Apenas um valor acima do limite estabelecido é nas também são relevantes, especialmente na
suficiente para o diagnóstico de DMG (Tabela 1). presença de retinopatia e nefropatia, sobretudo
naquelas que já apresentavam tais complicações
Complicações materno-fetais previamente.
Mulheres com DMG têm um risco aumen-
Mulheres com diabetes pré-gestacional dife- tado de desenvolverem pré-eclâmpsia (de 10 a
rem daquelas com DMG porque a hiperglicemia 30%) quando comparadas àquelas com tolerân-
poderá estar presente no momento da organo- cia normal à glicose (de 5 a 7% de risco).32 Além
gênese fetal, aumentando substancialmente o disso, DMG aumenta substancialmente a chance
risco de malformações congênitas. Estas são
de desenvolver diabetes após o parto, de acordo
observadas em 6 a 12% dos filhos de mães diabé-
com alguns estudos mostrando que este risco é
ticas. As anomalias congênitas mais comuns são
de aproximadamente 40% após um período de
as cardíacas, esqueléticas e neurológicas, sendo a
seguimento de 10 anos.10
síndrome de regressão caudal de 250 a 600 vezes
mais frequente em filhos de mães diabéticas.4
A macrossomia fetal, definida quando o peso Aconselhamento pré-natal nas
do recém-nato é maior que 4 kg na gestação a diabéticas prévias
termo ou maior que o percentil 90 para a idade
gestacional, é a manifestação mais característica. A paciente diabética deve ser orientada, desde
É observada em até 30% dos casos e pode predis- a puberdade, sobre os riscos de uma gravidez não
por a traumas obstétricos e distocia de ombro.5 planejada e a importância de um bom controle
A hiperinsulinemia fetal, que resulta do diabetes glicêmico anterior à gestação. Idealmente, os
materno, é um fator importante no crescimento níveis glicêmicos e a hemoglobina glicada devem
fetal excessivo. Outros fatores maternos além da ficar o mais próximo da normalidade. Ela deve
hiperglicemia, como obesidade e concentração ser avaliada também quanto à presença de com-
sérica de aminoácidos e lipídeos, também influen- plicações crônicas como nefropatia, retinopatia,
ciam o peso fetal.6 Filhos hiperinsulinêmicos de neuropatia e cardiopatia. A pressão arterial deve
mães diabéticas possuem um risco aumentado de estar controlada, com valores < 130/80 mmHg, e
hipoglicemia após o parto. Esta complicação se os inibidores da enzima conversora de angioten-
torna menos comum em filhos de gestantes que sina e bloqueadores do receptor da angiotensina
permaneceram euglicêmicas durante o parto e na devem ser descontinuados antes da concepção.
maior parte da gestação.6,7 Nas diabéticas tipo 1, a função tireoidiana deve ser
Outras complicações neonatais relacionadas avaliada com objetivo de manter o TSH entre 1,3 e
ao DMG são hiperbilirrubinemia, a hipocalcemia, o 2,5 µU/L. No quadro 1 estão resumidas as contrain-
retardo de crescimento intrauterino, a policitemia dicações potenciais para gravidez em diabéticas.11
e a síndrome de angústia respiratória.7 Estudos
demonstram que indivíduos expostos ao diabetes Objetivos do tratamento
materno (tipo 1, 2 ou DMG) intraútero têm aumen-
to do risco de obesidade e intolerância à glicose Sabe-se que há uma associação contínua en-
na infância e no início da vida adulta.8 Além dos tre os valores glicêmicos na gestação e a taxa de
resultados adversos fetais, complicações mater- complicações materno-fetais. No entanto, o limiar
Tabela 1. Critérios para o diagnóstico de DMG da International Association of Diabetes and Pregnancy Study
Groups -2010.
42 revista.hupe.uerj.br
Diabetes na gestação
Estado nutricional inicial Ganho total no 1[º] Ganho semanal no 2[º] e Ganho total na gestação
(IMC) trimestre (kg) 3[º] trimestres (kg) (kg)
da monitoração da glicemia capilar. Pacientes que uma vez que há risco de piora do controle glicê-
apresentem apenas elevação da glicemia pós- mico, cetoacidose e hipoglicemia, no período de
prandial podem ser adequadamente tratadas com início da terapia de infusão contínua.20
o uso de insulina regular ou ultrarrápida, antes das
refeições. Caso tanto a glicemia de jejum quanto Hipoglicemiantes orais
as glicemias pós-prandiais estejam elevadas, o
esquema de múltiplas doses de insulina, em regime A glibenclamida pode ser utilizada, como uma
basal bolus, é a melhor opção de tratamento.13 alternativa à insulina, em mulheres com diabetes
Pacientes portadoras de diabetes tipo 2, mellitus gestacional com mais de 25 semanas
em uso de hipoglicemiantes orais, devem ser de gestação e que apresentem glicemia de jejum
recomendadas a suspender essas medicações e menor do que 110 mg/dL.11,21
iniciar tratamento com insulina quando estive- Ao contrário da glibenclamida, a metformina
rem planejando engravidar, uma vez que não há atravessa a barreira placentária. No entanto,
comprovação de segurança do uso de hipoglice- estudos recentes demonstram segurança no seu
miantes no primeiro trimestre.17 Pacientes com uso em portadoras de diabetes gestacional com
diabetes pré-gestacional que já faziam uso prévio mais de 24 semanas e, em seus filhos, até os dois
de insulina, em geral, necessitam de redução da anos de idade.22,23 As vantagens são praticidade
dose de insulina em 10 a 20% no primeiro trimes- do uso, ausência de hipoglicemia e baixo custo.
tre, devido à maior ocorrência de hipoglicemia A segurança do uso da glibenclamida e da
nesse período. Após a 18a semana, é frequente a metformina na gestação em pacientes com dia-
necessidade de aumento progressivo da dose de betes pré-gestacional ainda não foi estabelecida.
insulina, sendo que, ao final da gestação, a dose Não há dados sobre a eficácia e a segurança de
diária de insulina utilizada é, em média, o dobro outros hipoglicemiantes na gestação.
da dose pré-gestacional.18
As insulinas ultrarrápidas lispro e aspart são Acompanhamento
seguras na gestação e têm a vantagem de pro-
porcionar maior flexibilidade de estilo de vida e As mudanças hormonais que ocorrem ao
melhor controle da glicemia pós-prandial do que longo da gestação interferem no metabolismo
a insulina regular, embora com a desvantagem glicídico de forma dinâmica, de modo que o acom-
do custo mais elevado.11,17,19 A insulina ultrarrápida panhamento de gestantes diabéticas deve ser
glulisina ainda não tem segurança comprovada na feito em consultas frequentes, recomendando-se
gestação e não deve ser utilizada nessas pacientes. intervalos quinzenais até a 30a semana e semanais
Recomenda-se que gestantes diabéticas com a partir de então.13 Como o nível de hemoglobina
alto risco de hipoglicemia façam uso da insulina glicada (HbA1C) reflete o controle glicêmico dos 3
detemir, análogo de insulina de ação longa, cuja meses anteriores, não é o melhor parâmetro para
segurança na gravidez já foi bem estabelecida.11,20,21 guiar o tratamento do diabetes na gestação. A
Estudos com insulina glargina na gestação não monitoração da glicemia capilar é fundamental no
demonstraram efeitos adversos, mas apresentam seguimento dessas pacientes, recomendando-se
limitações que comprometem a interpretação dos aferições diárias antes e 1 hora após o início das
resultados, sendo ainda necessária a realização três principais refeições, mas podendo ser menos
de estudos prospectivos e controlados para que a frequente em portadoras de diabetes gestacional
segurança desse análogo seja de fato estabelecida. em tratamento apenas com dieta.
Pacientes que, antes de engravidar, apresen- Pacientes com diabetes prévio têm risco de
tavam bom controle glicêmico com o uso da te- piora de complicações microvasculares durante
rapia de infusão contínua de insulina subcutânea a gestação e devem realizar exame oftalmológico,
devem manter o tratamento durante a gestação. com fundoscopia, antes ou logo após o diagnós-
Por outro lado, não se recomenda o início do uso tico de gravidez. Caso seja diagnosticada retino-
da bomba de insulina durante a gestação, exceto patia, o exame deve ser repetido a cada trimestre
para pacientes que não obtiveram sucesso tera- e três meses após o parto. Avaliação da função
pêutico com os outros esquemas de insulinização, renal e de proteinúria deve ser realizada a cada
44 revista.hupe.uerj.br
Diabetes na gestação
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46 revista.hupe.uerj.br
Diabetes na gestação
Resumo
Os riscos perinatais das alterações do crescimento fetal já estão bem estabelecidos; o peso ao nascer é, portanto,
um importante parâmetro preditivo da morbidade e da mortalidade perinatal, e sua correta estimativa, uma impor-
tante ferramenta na boa prática obstétrica. Os erros na estimativa do peso fetal na ultrassonografia bidimensional
(USG2D), mesmo em condições ideais, podem variar de 7 a 10 %, podendo chegar a 14%, o que aumenta o risco
de insucesso nas situações extremas, tornando clara a necessidade de melhora na precisão da sua estimativa.
Assim, este estudo tem por objetivo realizar uma revisão da literatura acerca da estimativa ultrassonográfica do
peso fetal, na busca de métodos com melhor acurácia e que possam influenciar positivamente a prática clínica.
Os erros na estimativa de peso fetal na USG2D, notadamente próximo ao termo, se devem, em parte, porque não
é possível medir o compartimento muscular e o tecido celular subcutâneo com essa tecnologia, e as variações
nestes compartimentos são responsáveis por 46% das alterações do peso ao nascer. Atualmente, há evidências
de que a volumetria de membros fetais associada às medidas bidimensionais é o melhor preditor da estimativa
de peso fetal, apresentando margem de erro de 6 a 7%. Vários estudos têm utilizado tais parâmetros, obtendo-
se resultados mais fidedignos que com as fórmulas tradicionais utilizadas pela USG2D. No entanto, a literatura
permanece controversa com relação ao tema, havendo trabalhos que questionem a superioridade do método.
Considerando-se que, no acompanhamento de uma gestação, notadamente as de alto risco, a avaliação do peso
fetal é um importante parâmetro avaliado, ressalta-se a relevância na busca de métodos com melhor acurácia, o
que pode incluir a incorporação de medidas volumétricas.
Descritores: Peso fetal; Coxa/ultrassonografia; Braço/ultrassonografia.
Abstract
The perinatal risks of the changes in fetal growth are well established and the birth weight is therefore an important
predictive parameter of perinatal morbidity and mortality, and its correct evaluation is an important tool to obstetrics
best practice. The margin of errors in estimated fetal weight with bidimensional ultrassonography (USG2D), even
in ideal conditions, may vary 7 to 10%, with a peak of 14%, which increases the risk of failure in extreme situations,
making clear the need to improve the precision of its estimate. Therefore, the aim of this study is to review the
literature about ultrassonographic estimated fetal weight, searching for methods with better accuracy that can
positively influence clinical practice. The errors in estimated fetal weight by USG2D, notedly near term, should
be in part because it’s not possible to measure the muscle compartment and soft tissue with this technology, and
the variations in these compartments are responsible to 46% of the alterations in birth weight. Currently there
is evidence that fetal limbs volumetry associated with bidimensional measures is the best predictor of estimated
fetal weight, with margin of error of 6 to 7%, and several studies have used this parameters, reaching more reliable
results than the traditional formulas used by USG2D. However, the literature remains controversial in the topic,
with studies questioning the advantage of the method. Considering that in pregnancy follow up, notedly high risk,
estimated fetal weight is an important parameter analysed, we emphasize the relevance of the search for methods
with better accuracy, which can include the incorporation of volumetric measures.
Keywords: Fetal weight; Thigh/ultrasonography; Arm/ultrasonography.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):48-53 Av. Prof. Manoel de Abreu, 500,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12137 E-mail: alecaputo@globo.com
48 revista.hupe.uerj.br
Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia
Resumen
Los riesgos perinatales de las alteraciones del crecimiento fetal ya están bien establecidos, y el peso al nacer es,
por lo tanto, un importante parámetro predictivo de la morbilidad y de la mortalidad perinatal; y su correcta es-
timación, una importante herramienta en la buena práctica obstétrica. Los errores en la estimación del peso fetal
en la ultrasonografía bidimensional (USG2D), incluso en condiciones ideales, puede variar de 7 a 10%, pudiendo
llegar a 14% lo que aumenta el riesgo de fracaso en las situaciones extremas, haciéndose clara la necesidad de
mejora en la precisión de su estimación. Así, este estudio tiene por objetivo realizar una revisión de la literatura
acerca de la estimación ultrasonográfica del peso fetal, en la búsqueda de métodos con mejor exactitud y que
puedan influenciar positivamente la práctica clínica. Los errores en la estimación de peso fetal en la USG2D,
especialmente próximo al término se deben, en parte, a que no es posible medir el compartimento muscular y el
tejido celular subcutáneo con esa tecnología, y las variaciones en estos compartimientos son responsables del
46% de las alteraciones del peso al nacer. Actualmente hay evidencias de que la volumetría de miembros fetales
asociada a las medidas bidimensionales son los mejores predictores de la estimación de peso fetal, presentando
un margen de erros del 6 al 7% y varios estudios han utilizado tales parámetros, obteniéndose resultados más
fidedignos que las fórmulas tradicionales utilizadas por el USG2D. Sin embargo, la literatura es aún controversial
con relación al tema, existiendo trabajos cuestionando la superioridad del método. Considerándose que, en el
acompañamiento de una gestación, especialmente las de alto riesgo, la evaluación del peso fetal es un importante
parámetro a valorar, se resalta la relevancia en la búsqueda de métodos con mayor exactitud, lo que puede incluir
la incorporación de medidas volumétricas.
Palabras clave: Peso fetal; Muslo/ultrasonografía; Brazo/ultrasonografía.
insucesso nas situações extremas onde a estima- o volume da coxa como o parâmetro com melhor
tiva de peso fetal é fundamental para a decisão de correlação com marcadores de gordura neonatal.9
interrupção da gestação e da via de parto. A estimativa de peso fetal usando a USG3D
As fórmulas utilizadas na USG2D não são pode ser feita por meio de medidas volumétri-
capazes de avaliar o compartimento muscular e o cas de diferentes partes ou órgãos e criando-se
tecido celular subcutâneo. As observações suge- diferentes fórmulas, que podem incluir ou não
rem que, após a 28a semana de gestação, há maior medidas realizadas pela USG2D. Atualmente há
crescimento do volume destes compartimentos evidências que o uso do volume de membros fe-
do que o crescimento observado no comprimento tais, notadamente a coxa e o braço, associado às
ósseo,11,21 ocorrendo um aumento exponencial na medidas bidimensionais, é os melhor preditor da
deposição de gordura fetal até o parto.21-23 Tais estimativa de peso fetal,1,8,9 apresentando margem
mudanças são refletidas em estudos longitudi- de erro de 6 a 7%.7,8 O uso do volume da coxa e
nais de volume de fração dos membros de fetos do braço já estão bem estabelecidos como mar-
com crescimento normal.8,23 O uso da avaliação cadores de crescimento e nutrição fetais.1,9,11,23 A
volumétrica foi validado por estudos utilizando partir desses conhecimentos, vários estudos têm
a ressonância nuclear magnética, com margem utilizado o volume dos membros como o melhor
de erro de 5%.7 Foram feitas várias tentativas preditor do peso ao nascimento, obtendo-se
de medir volumes fetais usando USG2D, mas a resultados mais fidedignos que em relação às
acurácia dessas avaliações não foi satisfatória fórmulas tradicionais utilizadas pelo USG2D.8-15
e não foi mostrada qualquer vantagem sobre as O conceito de volume de fração da coxa foi
fórmulas convencionais.24 introduzido por Lee e colaboradores15 visando
Os estudos que utilizam a ultrassonografia diminuir as dificuldades técnicas impostas quando
tridimensional (USG3D) foram inicialmente re- é realizada a avaliação de todo o membro fetal.
alizados por Chang e colaboradores12 e Liang e Este parâmetro de avaliação do compartimento
colaboradores,13 que descreveram o uso do volu- muscular e subcutâneo fetal é derivado da porção
me do braço e da coxa para a estimativa do peso central da diáfise do membro, onde os contornos
fetal durante o 30 trimestre de gestação. Schild e são mais fáceis de serem delimitados, evitando-se
colaboradores10 descreveram uma combinação de áreas de sombras acústicas próximas às articula-
parâmetros bidimensionais e tridimensionais para ções. As medidas se mostraram reprodutíveis en-
o cálculo da estimativa de peso fetal. tre examinadores em estudo duplo cego e podem
Atualmente há tabelas com curvas de norma- ser calculadas por bases de dados de volume que
lidade de volume de membros fetais, tendo impor- levam aproximadamente 2 minutos para serem
tante papel na predição do peso ao nascer.22 Com realizadas27 Tal método apresenta margem de erro
o exame 3D pode-se avaliar de forma mais acu- de 4,6%26 a 6,6%,8 significativamente menor que
rada o volume de diversos órgãos fetais e assim a do correspondente modelo de Hadlock, além
obter-se um diagnóstico mais precoce e preciso de melhor acurácia e precisão das estimativas de
dos distúrbios do crescimento e desenvolvimento. peso.8,26,27 Assim, o volume de fração da coxa pode
Os membros fetais espelham o estado nutricional ser acrescentado a medidas bidimensionais para
e de crescimento intrauterino,10-14,21,25 e o acesso aumentar a precisão da estimativa de peso fetal.
deste compartimento muscular e subcutâneo Esta abordagem permite a inclusão da análise dos
fetal, seja por meio de medidas diretas ou como compartimentos muscular e subcutâneo fetais
parte da estimativa de peso, pode favorecer a como parte da estimativa de peso, ligando-se ao
detecção precoce e o monitoramento de fetos mal estado nutricional fetal.
nutridos.22,23,26 Lee e colaboradores demonstraram Da mesma forma, em fetos com desvios do
que o volume da coxa foi o parâmetro pré-natal crescimento, a estimativa do peso encontra me-
com melhor correlação com o percentual de lhor precisão e menor margem de erro quando
gordura corporal do recém-nascido, explicando, utilizada a volumetria da coxa fetal.27 Em fetos
por si só, 46% da variabilidade deste parâmetro cujo peso é menor que 2000 g foi observada
neonatal,23 dado corroborado pelo estudo de uma margem de erro de 7,8%, em oposição aos
Khoury e colaboradores, que também identificou 10% obtidos com a fórmula de Hadlock; ao passo
50 revista.hupe.uerj.br
Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia
que fetos com mais de 4000 g de peso apresen- de detectar fetos macrossômicos em um grupo
taram margem de 5,8%, comparados com 8,3% de alto risco é maior com a utilização de fórmulas
da fórmula de Hadlock.27 Schild e colaboradores, com parâmetros tridimensionais,30 apresentando
em estudo com fetos que pesam menos de 1600 g, em fetos com peso estimado maior que 4300 g
também mostraram superioridade das fórmulas uma taxa de detecção de 93% com uma taxa de
utilizando medidas volumétricas.28 Com relação falso positivo de 38%.30
à macrossomia, observa-se maior especificidade
na sua predição com a avaliação do volume da Conclusão
fração da coxa do que com a utilização da fórmula
de Hadlock.29 A acurácia da estimativa de peso fetal é com-
Assim, vem surgindo como método promissor prometida pela magnitude dos erros randômicos,
na estimativa do peso fetal a utilização do volume que podem alcançar percentuais de até 14%.7
de fração da coxa. Para tal cálculo, inicialmente Esforços devem ser feitos para minimizar esta
posiciona-se o transdutor no plano padrão para variabilidade, principalmente em situações nas
medida do fêmur. O comprimento do fêmur é defi- quais a estimativa do peso fetal é clinicamente útil
nido como a maior distância entre as extremidades e parte do processo é de tomada de decisão, como
da diáfise óssea. Uma imagem tridimensional mul- ocorre em grande parte dos casos de gestações
tiplanar é utilizada para identificar o ponto médio de alto risco.
da coxa, onde as medidas da circunferência serão Fórmulas que utilizam volumes fetais, nota-
realizadas em torno do contorno externo da pele, damente dos membros, apresentam vantagens
de modo a incluir pele e tecido celular subcutâneo. ao considerar os compartimentos muscular e do
Sendo assim, calipers eletrônicos são posicio- tecido celular subcutâneo em sua avaliação fetal.
nados para medida do comprimento femural e o Desta forma, vem crescendo a pesquisa sobre
software do aparelho automaticamente define um a utilização da ultrassonografia tridimensional
volume da coxa que corresponde a 50% do com- para cálculo da estimativa de peso fetal, método
primento da diáfise femural. Este volume parcial que tem apresentado melhor acurácia na avalia-
da coxa é então dividido em cinco subseções de ção do estado nutricional fetal, diminuindo, como
igual tamanho, permitindo o traçado manual do consequência, os erros randômicos e mostrando
contorno através de um plano axial.8,15 um benefício importante especialmente nas ges-
Apesar dos vários estudos descritos relatan- tações de alto risco.
do melhor acurácia da estimativa de peso com a
ultrassonografia 3D, ainda existem controvérsias Referências
com relação a estes dados. Bennini e colabora-
dores,17 ao estudar 210 pacientes, não relataram 1. Nardozza LMM, Araújo Júnior E, Vieira MF, Rolo LC,
Moron AF. Estimativa do peso ao nascimento utilizando
diferença de acurácia entre a ultrassonografia bi- a ultrassonografia bidimensional e tridimensional.
dimensional e tridimensional. Argumentaram que Rev Assoc Med Bras. 2010;56(2):204-8. http://dx.doi.
as maiores fontes de discrepância na estimativa org/10.1590/S0104-42302010000200020
de peso fetal devem-se às diferenças fenotípicas 2. Baschat AA, Galan HL, Ross MG, Gabbe SG.
entre as populações utilizadas na criação e apli- Intrauterine Growth Restriction. In: Gabbe SG,
cação das fórmulas, e não à melhor precisão entre Niebyl JR, Simpson JL, editors. Obstetrics, Normal
and Problem Pregnancies, 5ª edition. Filadelfia:
os métodos utilizados.17 Nardozza e colaboradores
Elsevier; 2007. p.774.
concluíram que o peso fetal estimado por fór-
mulas que utilizam volumes de coxa e braço não 3. Barker DJP. Long term outcome of retarded fetal
growth. Clin Obstet Gynecol. 1997;40(4):853-63.
apresenta acurácia superior àquele estimado por
fórmulas tradicionais.16 Da mesma forma, Lindell 4. Shepard MJ, Richards VA, Berkowitz RL, Warsof SL,
Hobbins JC. An evaluation of two equations for
e Marsal, em 2009, quando estudaram gestações predicting fetal weight by ultrasound. Am J Obstet
com mais de 41 semanas, não observaram diferen- Gynecol. 1982;142(1):47-54.
ças entre ultrassonografia bidimensional e tridi- 5. Hadlock FP, Harrist RB, Sharman RS, Deter RL, Park
mensional.18 Estes mesmos autores, no entanto, SK. Estimation of fetal weight with the use of head,
em estudo de 2012, mostraram que a habilidade body, and femur measurements-a prospective study.
52 revista.hupe.uerj.br
Estimativa do peso fetal por meio de ultrassonografia
Alessandra L. C. Magalhães
Unidade Docente Assistencial de Obstetrícia. Hospital
Universitário Pedro Ernesto. Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Dailson D. S. Pereira
Unidade Docente Assistencial de Obstetrícia. Hospital
Universitário Pedro Ernesto. Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Nilson R. de Jesús
Disciplina de Obstetrícia. Departamento Ginecologia
e Obstetrícia. Faculdade de Ciências Médicas.
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,
RJ, Brasil.
Alexandre J. B. Trajano
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade
de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade
de Medicina. Universidade Unigranrio. Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
Resumo
Doença trofoblástica gestacional é anomalia de gravidez que engloba formas clínicas benignas (mola hidatifor-
me completa e parcial) e malignas (mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico do sítio placentário e
tumor trofoblástico epitelioide). Sua forma mais comum, a mola hidatiforme, acomete 1:200 grávidas brasileiras.
No passado era comum a paciente com mola hidatiforme apresentasse sintomatologia exuberante: hemorragia
copiosa, cistos teca-luteínicos dos ovários, útero aumentado para a idade gestacional, pré-eclâmpsia precoce,
hiperemese e hipertireoidismo. Hoje, com o diagnóstico precoce feito pela ultrassonografia, muitas pacientes
são diagnosticadas com gestação molar ainda em fase assintomática. Todavia, este diagnóstico precoce tem
dificultado a análise histopatológica do material molar, tornando as técnicas imuno-histoquímica e de biologia
molecular importantes para a confirmação diagnóstica. Por seu potencial de evoluir para neoplasia trofoblástica
gestacional, as pacientes acometidas por gravidez molar devem ser atendidas em Centros de Referência, onde são
inicialmente submetidas ao esvaziamento uterino pela técnica de vácuo-aspiração. Nestes serviços especializados,
elas também terão monitorados seus níveis de gonadotrofina coriônica humana a fim de detectar precocemente a
persistência da doença e sua progressão maligna. Vale salientar que o uso rigoroso de contracepção hormonal é
fundamental para manter fidedigno o marcador tumoral dessa doença. Espera-se que cerca de 20% das pacientes
com mola hidatiforme evolvam para neoplasia trofoblástica, cujo tratamento quimioterápico é capaz de curar a
grande maioria das pacientes, preservando sua capacidade reprodutiva que, pelo geral, não se altera. O objetivo
desse artigo é rever aspectos clínicos, genéticos, patológicos e terapêuticos da doença trofoblástica gestacional,
importante causa de hemorragia da gestação.
Descritores: Mola hidatiforme; Gonadotrofina Coriônica Humana; Contracepção.
Abstract
Gestational trophoblastic disease is disorder of pregnancy that encompasses clinical benign forms (complete
and partial hydatidiform mole) and malignant forms (invasive mole, choriocarcinoma, placental site trophoblastic
tumor and epithelioid trophoblastic tumor). Its most common form, hydatidiform mole, affects 1:200 pregnant
in Brazil. In the past it was common for a patient with hydatidiform mole present exuberant symptoms: copious
bleeding, theca lutein cysts of the ovary, enlarged uterus for gestational age, early preeclampsia, hyperemesis
and hyperthyroidism. Nowadays, with early diagnosis made by ultrasound, many patients are still diagnosed
asymptomatic. However, this situation has hindered early diagnosis histopathological analysis of molecular material,
making immunohistochemistry and molecular biology major in the diagnostic. For its potential to develop into
gestational trophoblastic neoplasia, patients affected by molar pregnancy should be followed in the Reference
Centers, where they are initially subjected to uterine vacuum aspiration technique. In these specialized services
they have also monitored levels of human chorionic gonadotropin in order to early detect residual disease and
its malignant progression. It is noteworthy that the rigorous use of hormonal contraception is critical to maintain
reliable tumor marker for this disease. It is expected that about 20 % of patients with hydatidiform mole progress to
gestational trophoblastic neoplasia whose chemotherapy can cure the majority of patients, preserving reproductive
capacity which, generally, does not affected. The purpose of this paper is to review clinical, genetic, pathological
and therapeutic aspects of gestational trophoblastic disease, a major cause of hemorrhage of pregnancy.
Keywords: Hydatidiform mole; Corionic Gonadotropin, Human; Contraception.
*
Endereço para correspondência:
Centro de Doença Trofoblástica, Maternidade Escola, UFRJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):54-60 Rua das Laranjeiras, 180,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 22240-003.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12124 E-mail: bragamed@yahoo.com.br
54 revista.hupe.uerj.br
Doença trofoblástica gestacional – atualização
Resumen
Enfermedad trofoblástica gestacional es una anomalía del embarazo que engloba formas clínicas benignas (mola
hidatiforme completa y parcial) y malignas (mola invasora, coriocarcinoma, tumor trofoblástico del sitio placen-
tario y tumor trofoblástico epiteloide). Su forma más común, la mola hidatiforme, afecta a 1:200 embarazadas
brasileras. En el pasado era común que la paciente con mola hidatiforme presentase sintomatología abundante:
hemorragia copiosa, quistes tecaluteínicos en ovarios, útero aumentado para la edad gestacional, preeclampsia
precoz, hipéremesis e hipertireoidismo. Hoy, con el diagnóstico precoz hecho por la ultrasonografía, muchas
pacientes son diagnosticadas con gestación molar aún en fase asintomática. Todavía, este diagnóstico precoz ha
dificultado el análisis histopatológico del material molar, volviendo las técnicas inmunohistoquímica y de biología
molecular importantes para la confirmación diagnóstica. Por el potencial de evolucionar a neoplasia trofoblástica
gestacional, las pacientes afectadas por embarazo molar deben ser atendidas en Centros de Referencia, donde
son inicialmente sometidas al vaciamiento uterino por la técnica de aspiración al vacío. En estos servicios espe-
cializados, ellas también tendrán monitoreados sus niveles de gonadotrofina coriónica humana a fin de detectar
precozmente la persistencia de enfermedad y su progresión maligna. Vale destacar que el uso riguroso de contra-
cepción hormonal es fundamental para mantener fidedigno el marcador tumoral de esa enfermedad. Se espera que
cerca del 20% de las pacientes con mola hidatiforme evolucionen para neoplasia trofoblástica, cuyo tratamiento
quimitoterápico es capaz de curar la gran mayoría de las pacientes, preservando su capacidad reproductiva que,
por lo general, no se altera. Este artículo pretende examinar aspectos clínicos, genéticos, patológicos y terapéu-
ticos de la enfermedad trofoblástica gestacional, importante causa de hemorragia de la gestación.
Palabras clave: Mola hidatiforme, Gonadotrofina coriónica humana; Contracepción.
Figura 1. Cisto teca-luteínico bilateral dos ovários. Figura 2. Macroscopia de mola hidatiforme com-
Caso operado pelo professor Antonio Braga no Centro pleta de segundo trimestre. Material obtido por
de Referência do Hospital Universitário Antonio Pedro esvaziamento uterino por vácuo-aspiração feita pelo
da Universidade Federal Fluminense devido rotura e professor Antonio Braga no Centro de Referência da
hemoperitônio. Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Notar as vesículas de grandes dimensões e a
ausência de anexos fetais.
de sangramento vermelho-vivo que se alterna e que deve ser tratada de modo rigoroso com
com borra de café, com intensidade variável, anti-hipertensivo e anticonvulsivante nos casos
por vezes de grande monta, excepcionalmente graves, não se devendo postergar o esvaziamento
acompanhado por eliminação de vesículas. Ainda uterino.
assim, apenas 5% das pacientes vão cursar com Determinadas complicações clínicas devem
hemoglobina < 10 g/dL.11 ser consideradas após o procedimento de retirada
Cerca de 50% das pacientes apresentam útero da MH, dentre as quais insuficiência pulmonar,
aumentado para a idade gestacional, que diminui que pode ocorrer em 27% dos casos de MH com
após o sangramento e volta a crescer pela prolife- útero medindo ≥ 16 centímetros.6 Clinicamente es-
ração do trofoblasto remanescente intrauterino.7 sas pacientes apresentam-se obnubiladas, taquip-
Possivelmente pelo reflexo dos elevados neicas e taquicárdicas logo após o esvaziamento
níveis de estrogênio, progesterona e gonadotro- uterino. O caráter multifatorial do acometimento
fina coriônica circulantes, as pacientes com MH pulmonar descrito resulta da embolização do te-
cursam com hiperemese gravídica, não raro ne- cido molar aos vasos pulmonares, determinando
cessitando de internação hospitalar e tratamento as complicações cardiovasculares.6,11 Estes casos
específico. Felizmente, com o diagnóstico da MH tornam-se ainda mais dramáticos quando está
sendo realizado cada vez mais precocemente, associado o hipertireoidismo.1-3
a prevalência da hiperemese gravídica nestas
pacientes, que era de cerca de 30%, hoje não
Aspectos genéticos
chega a 10%.7,11 De modo a analisar as diferenças genéticas
As pacientes com MH podem apresentar entre MHC e MHP, deve-se atenção especial ao
cistos teca-luteínicos dos ovários, encontrados fato de que a MHC é geralmente diploide.12 Há
em cerca de 16% das pacientes.7 Sua regressão de assinalar-se ainda que seus cromossomos
espontânea determina a abstenção cirúrgica, nucleares são de origem paterna, e, desta forma,
exceto nos excepcionais casos de torção anexial é a maioria 46 XX.12 A utilização de marcadores
ou ruptura hemorrágica (Figura 1). polimórficos demonstrou que geralmente a MHC
Da mesma forma, houve redução dos casos caracteriza-se pela monoespermia, surgindo a
de pré-eclâmpsia precoce (menos de 20 semanas partir da fertilização de oócito anucleado por
de gestação), que acometia um terço das pacien- apenas um espermatozoide haploide que então
tes com MH, mas que hoje é raro.7 Ainda assim, se duplica. Ao passo que na MHP o cariótipo é
trata-se de importante intercorrência clínica triploide, havendo duas possibilidades: a primeira
56 revista.hupe.uerj.br
Doença trofoblástica gestacional – atualização
Patologia
Chama atenção o contraste macroscópico e
microscópico de ambos os tipos de MH. A MHC
apresenta-se, à macroscopia, com vesículas na to-
talidade placentária, vigente ausência de concepto
Figura 3. Macroscopia de mola hidatiforme parcial de
e anexos (cordão / membranas). As vesículas, segundo trimestre. Material obtido por esvaziamento
descritas como “cachos de uva”, são translúcidas, uterino feito pelo professor Antonio Braga no Centro
cheias de líquido claro, com diâmetro de 1 a 1,5 mm de Referência da Santa Casa da Misericórdia do Rio
de Janeiro. Observar malformação fetal grosseira no
no primeiro trimestre e de 1,5 a 3 cm no segundo fechamento da parede abdominal e presença placen-
trimestre (Figura 2). tária focal de vesículas hidatiformes.
Já a MHP caracteriza-se pela presença focal
de vesículas hidatiformes na placenta, associada na atualidade pacientes assintomáticas.5,6
à presença de concepto ou anexos fetais. As ve- Sem dúvida, a dosagem de HCG mostra
sículas são menores (5 mm no primeiro trimestre valores elevados, frequentemente maior que
até 2 cm no segundo trimestre) e menos hidró- 100.00,00 mUI/mL, muitas vezes não compatível
picas e entremeiam área de vilosidades normais com a idade gestacional, auxiliando no diagnós-
(Figura 3). tico. Ainda de valia será a dosagem de HCG nos
A microscopia segue os critérios morfológi- casos em que a histopatologia é inconclusiva
cos exarados por Szulman & Surti.13 A descrição (notadamente em casos de aborto hidrópico) ou
clássica da MHC, válida para os casos de segundo quando não se dispõe de avaliação histopatológica
trimestre, apresenta todas as vilosidades coriais de produto de esvaziamento uterino.
volumosas-gigantes, avasculares, com dilata- O diagnóstico da MH foi revolucionado pelo
ção cística, hidropisia, com cisterna central. Há emprego da US. A MHC é facilmente visualizada
marcada e universal hiperplasia e anaplasia tro- pela US, quando se observa eco endometrial
foblástica. Estão ausentes embrião-feto / anexos. hiperecoico, preenchido por imagens hipo-ane-
Já a MHP apresenta algumas vilosidades coriais cogênicas, irregulares, centrais ou margeando o
volumosas, cisternas centrais menos evidentes, miométrio, na ausência de embrião-feto (Figura 4).
entremeada por vilosidades sem hidropisia. As É frequente o útero encontrar-se aumentado para
membranas ovulares estão sempre presentes e o a idade gestacional e os ovários apresentarem
concepto, por vezes. A hiperplasia trofoblástica policistose (múltiplas formações císticas, de 4 a
é multifocal, com discreta anaplasia, e envolve 8 cm, anecogênicas, bem delimitadas, geralmente
frequentemente só o sinciciotrofoblasto. Há bilaterais - Figura 4). Nesses casos, 80% das MHC
vasos contendo hemácias nucleadas, fetais, a são diagnosticadas a US.15 O impacto da idade
indicar existência de concepto, ainda que seus gestacional nesse diagnóstico é inquestionável.
remanescentes não possam ser evidenciados pela Estima-se que cerca de 25 a 50% das gestações
consequente degeneração do embrião.14 molares não sejam diagnosticadas pela US pela
idade gestacional precoce com que os exames
Diagnóstico da mola hidatiforme são feitos.16
O diagnóstico da MH ocorre geralmente no O diagnóstico da MHP não será difícil após
primeiro trimestre de gravidez. A anamnese e o a 12a semana de gestação, quando a visualização
exame físico deixam entrever situações suspeitas: do feto (pelo geral hidrópico) acompanhado de
hemorragia, útero aumentado para a idade ges- placenta com áreas hiperecogênicas tipo “flocos
tacional, vômitos incoercíveis, massas pélvicas de neve” traz a suspeição dessa anomalia da ges-
anexiais e pré-eclâmpsia precoce; não sendo raro tação (Figura 5). O feto apresenta malformações
Figura 4. Ultrassonografia sugestiva de mola hidatifor- Figura 5. Ultrassonografia compatível com mola
me completa. São evidentes as formações anecogêni- hidatiforme parcial. Percebe-se a presença embrioná-
cas permeando a cavidade endometrial. Imagem feita ria algo hidrópica diante de área placentária repleta
pela Dra. Valéria Moraes no Centro de Referência do de material amorfo e sonoluscente. Imagem feita
Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade pela Dra. Valéria Moraes no Centro de Referência do
Federal Fluminense. Hospital Universitário Antonio Pedro da Universidade
Federal Fluminense.
grosseiras, melhor vistas no segundo trimestre. A de hemácias deve ser feita para todos os casos.
US reconhecerá 90% das MHP com as alterações Salienta-se que estão proscritos os métodos de
clássicas descritas. Infelizmente, esse não é o ce- esvaziamento uterino por prostaglandinas ou
nário mais frequente.17 Em verdade, o cenário da ocitocina, incriminadas em aumentar o risco de
MHP diagnosticada precocemente é tão inespe- embolização trofoblástica.6 Recomenda-se o uso
cífico que faz com que mais de 70% desses casos de vácuo-aspiração, uma vez que a curetagem
não sejam diagnosticados pela US.18 concorre para maior chance de perfuração uteri-
Tratamento na, amolecidos e aumentados estão estes úteros.
Recomenda-se parcimônia na infusão de ocitocina
Uma vez identificadas as pacientes com sus- durante o esvaziamento uterino, reservada para
peita de DTG, elas deverão ser encaminhadas para os casos de hemorragia.6
Centros de Referência onde serão submetidas ao
esvaziamento uterino da mola hidatiforme.19 No
Estado do Rio de Janeiro estão vinculados à So-
Seguimento pós-molar
ciedade Brasileira de Doença Trofoblástica Ges- Após o esvaziamento uterino inicia-se o segui-
tacional os Ambulatórios de Doença Trofoblástica mento pós-molar, cujo objetivo é monitorar a cur-
da Maternidade Escola da Universidade Federal do va de HCG a fim de detectar evolução para NTG.
Rio de Janeiro (que incorporou o Centro de Doen- A molécula de HCG é complexa e há inúmeros
ças Trofoblásticas da Santa Casa da Misericórdia
testes para sua dosagem, ainda que nenhum deles
do Rio de Janeiro) e do Hospital Universitário An-
tenha sido feito especificamente para o seguimen-
tonio Pedro da Universidade Federal Fluminense.
to da DTG, tão somente para o diagnóstico de
Demais de anamnese minuciosa e exame físico
gravidez.20,21 Para o seguimento pós-molar, reco-
completo, são recomendados os seguintes exames
pré-operatórios: tipo sanguíneo, fator Rh (aplicar menda-se o uso do kit DPC Immulite, pois é capaz
imunoglobulina anti-Rh nas pacientes com MHP de analisar todas as frações de HCG. Quando
que forem Du negativo), hemograma completo, isto não for possível, deve-se dar preferência ao
AST, ALT, EAS, RX de tórax, HCG. Pacientes com uso do mesmo kit a fim de evitar-se variações no
fundo de útero maior que 20 cm deve ter avaliado método de leitura hormonal. Fundamental no se-
ainda os níveis de TSH, T4 livre a fim de diagnosticar guimento pós-molar é a contracepção sistemática
hipertireoidismo e eletrocardiograma para avaliar a fim de evitar-se gravidez, cujo HCG placentário
a função cardíaca.1-3 Reserva de concentrados não permitiria diferençar HCG de origem tumoral.
58 revista.hupe.uerj.br
Doença trofoblástica gestacional – atualização
20. Delmanto LRMG, Maestá I, Braga A, Michelin OC, Programa de Pós-graduação em Obstetrícia. Hospital
Passos JRS, Gaiotto FR, Rudge MVC. A curva de Universitário Antonio Pedro. Universidade Federal
Fluminense. Niterói, RJ, Brasil.
regressão da gonadotrofina coriônica humana é útil
no diagnóstico precoce da neoplasia trofoblástica
gestacional pós-molar? Rev Bras Ginecol Obstet. Valéria Moraes
2007;29(10):506-10. Serviço de Obstetrícia. Maternidade do Hospital
Universitário Antonio Pedro. Universidade Federal
21. Cole LA. New discoveries on the biology and Fluminense. Niterói, RJ, Brasil.
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60 revista.hupe.uerj.br
Síndrome alcoólica fetal – revisão sistematizada
Fetal alcohol syndrome – sistematic review
Resumo
A ingestão de álcool (etanol) pela mãe durante a gravidez pode resultar em variedade de consequências rela-
cionadas ao neurodesenvolvimento, incluindo retardo mental e deficiências em capacidade cognitiva, atenção,
função executiva, controle motor e comportamento. O conjunto dessas manifestações é conhecido como Sín-
drome Alcóolica Fetal (SAF). O objetivo deste estudo é identificar os possíveis efeitos do uso do etanol durante
a gravidez sobre o embrião humano. Foi realizada ampla pesquisa na literatura médica procurando identificar e
extrair informações da literatura nacional e internacional por meio das seguintes bases de dados: Medline (por
meio do PubMed), SciELO, LILACS e Cochrane. As principais complicações dos fetos, cujas mães fizeram uso
do álcool na gravidez são: baixo peso ao nascer (BPN), crescimento intrauterino restrito (CIUR), prematuridade,
retardo no neurodesenvolvimento e microcefalia. O uso de álcool entre as mulheres em idade fértil é causa evitável
de anomalias congênitas e deficiências de desenvolvimento. Para prevenir a SAF é aconselhável evitar o uso do
álcool na gestação, visto que ainda é difícil definir a dose mínima que irá afetar o desenvolvimento do embrião.
Descritores: Síndrome alcoólica fetal; Alcoolismo; Gestação.
Abstract
The consumption of alcohol (ethanol) by the mother during the pregnancy can result in a range of consequences
related to the neurodevelopment, including mental delay and deficiencies in the cognitive capacity, attention,
executive function, motor control and behavior. The assembly of those manifestations is known like Fetal Alcoholic
Syndrom (SAF). The objective of this study is going to identify the possible effects of the use of the ethanol during
the pregnancy about the human embryonary. It was carried out broad research in the medical literature finding
identify and extract information of the international and national literature by means of the following databases:
Medline (by means of the PubMed), SciELO, LILACS and Cochrane. The main complications of the fetuses,
whose mothers did use of the alcohol in the pregnancy are: low birth weight, intrauterine growth restriction,
prematurity, delay in the neurodevelopment and microcefalia.The use of alcohol between the women in fertile
age is avoidable cause of congenital anomalies and deficiencies of development. To prevent SAF is recommended
to avoid alcohol in the gestation, due to the fact that still difficult to defined the minimum dose that is going to
affect the development of the embryo.
Keywords: Fetal alcohol syndrome; Alcoholism; Pregnancy.
Resumen
La ingestión de alcohol (etanol) por la madre durante el embarazo puede resultar en una variedad de consecuen-
cias relacionadas al neurodesarrollo, incluyendo retardo mental y deficiencias en capacidad cognitiva, atención,
función en la ejecución, control motor y comportamiento. El conjunto de esas manifestaciones es conocido
como síndrome alcohólico fetal (SAF). El objetivo de este estudio es identificar los posibles efectos del uso de
etanol durante el embarazo sobre el embrión humano. Se realizó una amplia investigación en la literatura médica
buscando identificar y extraer informaciones de la literatura nacional e internacional por medio de las siguientes
bases de datos: Medline (por medio del PubMed) SciELO, LILACS y Cochrane. Las principales complicaciones
de los fetos, cuyas madres hicieron uso de alcohol en el embarazo son: bajo peso al nacer (BPN), crecimiento
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):61-66 Av. Prof. Manuel de Abreu, 500,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12128 E-mail: denimonteiro2@yahoo.com.br
Quadro 1. Critérios para o diagnóstico de DMG da International Association of Diabetes and Pregnancy Study
Groups – 2010.
Critérios de inclusão Critérios de exclusão
1. Estudos sobre a relação entre uso de álcool na 1. Artigos baseados em estudos com animais.
gestação e a síndrome alcoólica fetal.
2. Textos que não falam da relação entre alcoolismo na
2. Estudos que abordam os efeitos do álcool sobre o gestação e a síndrome alcoólica fetal.
desenvolvimento fetal.
3. Artigos que abordam as consequências maternas do
3. Estudos sobre consequências fetais em gestações uso do álcool na gestação.
nas quais as mães fizeram uso do álcool.
4. Artigos que incluem outras drogas, além do álcool
4. Estudos que falam exclusivamente do uso do álcool (mesmo abordando consequências fetais).
acarretando repercussões fetais.
5. Estudos sobre o prognóstico de bebês com SAF após
5. Artigos em português, inglês, francês e espanhol. intervenção.
62 revista.hupe.uerj.br
Síndrome alcoólica fetal – revisão sistematizada
D Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais.
infância ou até mais tarde na vida adulta, espe- mais de 90 g etanol/bebida).16,17 (B)
cialmente se o dano envolve o Sistema Nervoso Quanto às características da síndrome alco-
Central (SNC).14 (B) Além disso, muitos dos efeitos ólica fetal, as principais incluem: atraso no cres-
teratogênicos no SNC podem ocorrer no segun- cimento pré e pós-natal9,11 (A,B), baixa estatura9
do e no terceiro trimestres de gravidez, quando (A), atraso no desenvolvimento11 (B), microcefalia9
a maioria dos outros órgãos já passou da fase (A), BPN,8,9 (B,A) dificuldade na realização de mo-
de organogênese ativa (o córtex cerebral, por vimentos finos e dismorfismo facial. Além disso,
exemplo, continua a se desenvolver ativamente pode haver fenda palatina, anomalias articulares
durante toda a gestação, principalmente ao for- e cardíacas e vincos alterados palmares. O dis-
mar as diferentes camadas corticais, no cresci- morfismo facial descrito acima tende a melhorar
mento neuronal e brotação de formação, sinapse com o avanço da idade dos indivíduos afetados.
e mielinização).14,15 (B) Assim, tal efeito tardio não Hutson e colaboradores (2012)8 mostraram que
será necessariamente manifestado por alterações o uso de álcool na gravidez prejudica o trans-
morfológicas no SNC, mas sim por mudanças porte de folato para o feto devido à alteração na
mais sutis na capacidade intelectual, capacidade expressão de proteínas de ligação e transporte,
de aprendizagem de atenção e comportamento. acarretando defeito na formação do tubo neural
Quanto à quantidade de álcool ingerida neces- e anomalias cardíacas. O álcool pode levar à hi-
sária para afetar o desenvolvimento fetal, parece póxia fetal causando CIUR e aumento do número
haver três categorias de exposição pré-natal ao de vasos cerebrais, porém com lúmen reduzido.12
etanol relacionada com a quantidade de álcool (B) Além disso, a prematuridade é considerada
ingerida. O grau elevado de exposição (mais de importante consequência da Síndrome Alcoólica
48-60 g de etanol/dia) pode causar a síndrome Fetal8,11 (B). No entanto, em um estudo de coorte
alcoólica fetal; exposição moderadamente alta (B), o álcool foi associado a menor número de
ao álcool (entre 24 e 48 g etanol/dia), o que pode nascimentos pré-termo, mas como parcela da
resultar na maior parte em “os efeitos do álcool” população estudada consumia outras drogas
(as diferenças entre estas categorias não são ní- como a maconha e cocaína, este fato pode ter
tidas); e exposições ocasionais ao álcool (no total influenciado esse resultado.
64 revista.hupe.uerj.br
Síndrome alcoólica fetal – revisão sistematizada
O diagnóstico de SAF é baseado em alguns gestantes que fizeram uso do álcool são: baixo
critérios como: deficiência de crescimento, fe- peso ao nascer, CIUR, prematuridade, retardo no
nótipo facial e danos no sistema nervoso central, neurodesenvolvimento e microcefalia.
associados à história de exposição ao álcool na Assim sendo, o ideal é suspender o consumo
gestação. de álcool durante a gestação, já que não existe
Em um estudo de coorte (B), incluindo 24.679 consenso sobre qual é a dose mínima capaz de
gestações, foi observado risco aumentado de afetar o desenvolvimento fetal. Tendo em vista
aborto espontâneo no primeiro trimestre (de 7 a os resultados deste estudo, medidas educativas
11 semanas completas de gestação) para as mu- devem ser aplicadas para mulheres em idade fértil
lheres que consomem ≥ 5 drinques / semana. No usuárias de bebidas alcoólicas visando prevenir a
entanto, não foi encontrada associação entre o instalação da Síndrome Alcoólica Fetal.
consumo de álcool e aborto espontâneo durante
o segundo trimestre.18 (B) Referências
Os principais mecanismos para explicar os
efeitos teratogênicos do álcool sobre o embrião 1. Silva EAF. Alcoolismo e a mulher. Bezerra Informa.
em desenvolvimento incluem: (1) aumento do 2003;11:4-5
estresse oxidativo (formação de radicais livres); 2. Boehm SL 2nd, Moore EM, Walsh CD, Gross CD,
(2) distúrbio no metabolismo da glicose, proteí- Cavelli AM, Gigante E, et al Using drinking in
the dark to model prenatal binge-like exposure
nas, lipídios e DNA; (3) neurogênese diminuída
to ethanol in C57BL/6J mice. Dev Psychobiol.
e aumento da apoptose celular, em particular de 2008;50(6):566-78.
células da crista neural.19-22 (D)
3. Floyd RL, Weber MK, Denny C, O’Connor MJ.
A principal limitação deste estudo foi a
Prevention of fetal alcohol spectrum disorders. Dev
heterogeneidade dos estudos que avaliaram as Disabil Res Rev. 2009;15(3):193-9.
complicações fetais, não apresentando resultados
4. MMWR. Alcohol Use and Binge Drinking Among
idênticos a respeito dos sinais e sintomas da SAF, Women of Childbearing Age – United States,
exceto em relação ao crescimento. Também não 2006-2010. Disponível em: http://www.cdc.gov/
foi possível definir a dose mínima ideal de álcool mmwr/preview/mmwrhtml/mm6128 a4.htm?s_
para consumo durante a gravidez. O ideal, para cid=mm6128a4_e. Acesso em: 19 Jul 2013.
prevenir a SAF, é suspender o consumo de álcool 5. Ethen MK, Ramadhani TA, Scheuerle AE, Canfield
durante a gestação, visto que ainda não existe um MA, Wyszynski DF, Druschel CM, et al. Alcohol
consenso quanto à dose mínima necessária para consumption by women before and during
pregnancy. Matern Child Health J. 2009; 13(2):274-85.
afetar o desenvolvimento do embrião.23 Caso a http://dx.doi: 10.1007/s10995-008-0328-2.
mãe tenha feito uso de álcool durante a gestação
e supondo-se que o estresse oxidativo é uma das 6. Floyd RL, O’Connor MJ, Sokol RJ, Bertrand J, Cordero
JF. Recognition and prevention of fetal alcohol
principais vias de danos induzidos pelo etanol, syndrome. Obstet Gynecol. 2005;106(5 Pt 1):1059-64
uma medida que pode ser tomada é a suplemen-
7. Fetal Alcohol Syndrome: Guidelines for referral
tação antioxidante, num esforço para atenuar
and Diagnosis. National Center on Birth Defects
este dano. Os antioxidantes, como a vitamina C, and Developmental Disabilities Centers for Disease
vitamina E, ácido fólico, betacaroteno e os flavo- Control and Prevention Department of Health and
noides podem ser complementados pela ingesta Humam Services. July 2004. Available at www.cdc.
gov/ncbddd/fas/default.htm. Acesso em 10 Jan 2013.
de alimentos.24 (D)
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Conclusão BM. Folic acid transport to the human fetus is
decreased in pregnancies with chronic alcohol
exposure. PLoS One. 2012;7(5):e38057. http://dx.doi:
A ingestão de álcool durante a gestação pode
10.1371/journal.pone.0038057
ter efeitos deletérios sobre o SNC, crescimento
e desenvolvimento do feto em graus variados, 9. Feldman HS, Jones KL, Lindsay S, Slymen D, Klonoff-
Cohen H, Kao K, et al. Prenatal alcohol exposure
dependendo da duração da exposição e da época
patterns and alcohol-related birth defects and
da gestação. De acordo com os resultados en- growth deficiencies: a prospective study. Alcohol
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66 revista.hupe.uerj.br
Câncer de mama na gravidez: diagnóstico e tratamento
Breast cancer in pregnancy: diagnosis and treatment
Resumo
O objetivo do estudo é avaliar o diagnóstico e a terapêutica do câncer de mama em gestantes, visto que a gravidez
pode potencialmente gerar retardo na abordagem da doença e, consequentemente, pior prognóstico do que
na mulher não gestante. Associa-se ainda o baixo índice de suspeição da doença neste período e relutância de
médicos e pacientes em realizar testes radiográficos e procedimentos invasivos. O câncer de mama é a neoplasia
maligna feminina mais frequente. Sua incidência na gestação é baixa, variando de 1:3000 a 1:10.000 gravidezes,
apresentando-se geralmente em estágio avançado durante a gravidez. A condução do caso frequentemente gera
dificuldades e angústia para a gestante, sua família e para os profissionais de saúde envolvidos, em função do
dilema criado entre a terapia ideal para a mãe e o bem-estar do feto. O diagnóstico baseia-se no teste triplo que
consiste em exame clínico, imagem e biópsia, visando avaliar a extensão da doença na mama e nos linfonodos,
identificar múltiplos focos ou eventual tumor bilateral, bem como prevenir metástases sistêmicas e controlar
localmente a doença. O adiamento da terapêutica, a fim de proteger o concepto, pode comprometer a saúde
materna. A mastectomia radical modificada e a radical clássica podem ser utilizadas com segurança. Deve-se
realizar o esvaziamento axilar, pois metástases são comumente encontradas na gravidez e o comprometimento
linfonodal influencia na escolha da quimioterapia. Evidências sugerem segurança e eficácia do esquema
5-fluorouracil, doxorrubicina (ou epirrubicina) e ciclofosfamida durante o segundo e o terceiro trimestres da
gestação. A radioterapia deve ser adiada, sempre que possível, para depois do parto. Este estudo visa ainda
incentivar o exame das mamas durante o exame ginecológico de rotina e pré-natal, conscientizando paciente e
equipe de saúde de sua importância no ciclo grávido-puerperal.
Descritores: Câncer de mama; Gravidez; Diagnóstico; Tratamento.
Abstract
The aim of the study is to evaluate diagnosis and treatment of breast cancer in pregnant women, since pregnancy
can potentially generate delay in disease approach and consequently worst prognosis than in non-pregnant women.
There is also a low index of suspicion of the disease in this period and reluctance of patients and physicians to
perform radiographic tests and invasive procedures. Breast cancer is the most common female malignancy. Its
incidence in pregnancy is low, ranging from 1:3000 to 1:10,000 pregnancies, usually presenting at an advanced
stage during pregnancy. The disease management often generates difficulties and distress for the mother, her
family and health professionals involved, depending on the dilemma created between the ideal therapy for the
mother and fetus welfare. Diagnostic approach is based on triple test consisting of clinical, imaging and biopsy
examination to evaluate disease extension in breast and lymph nodes, identify possible multiple foci or bilateral
tumors, and prevent systemic metastasis and manage local disease. Therapy delay in order to protect fetus can
compromise maternal health. Modified radical mastectomy and classic radical mastectomy can be safely used.
Axillary dissection should be performed, since metastases are commonly found in pregnancy and lymph node
involvement defines chemotherapy. Evidence suggests safety and efficacy of 5-fluorouracil, doxorubicin (or
epirubicin) and cyclophosphamide during the second and third trimester of pregnancy. Radiotherapy should
be postponed whenever possible after delivery. This study also aims to encourage breast examination during
routine gynecologic evaluation and prenatal care, making patient and health team aware of its importance during
pregnancy and childbirth.
Keywords: Breast Cancer; Pregnancy; Diagnosis; Treatment.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):67-71 Av. Prof. Manuel de Abreu, 500,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12129 E-mail: denimonteiro2@yahoo.com.br
Resumen
El objetivo del estudio es evaluar el diagnóstico y la terapéutica del cáncer de mama en gestantes, ya que el
embarazo puede potencialmente producir retraso en el abordaje de la enfermedad y, consecuentemente, peor
pronóstico que en la mujer no gestante. Se asocia el bajo índice de sospecha de la enfermedad en este periodo
y la resistencia de médicos y pacientes a realizar tests radiográficos y procedimientos invasivos. El cáncer
de mama es la neoplasia femenina más frecuente. Su incidencia en la gestación es baja, variando de 1:3000 a
1:10.000 embarazos, presentándose generalmente en estadio avanzado durante el embarazo. El manejo del caso
frecuentemente genera dificultades para la gestante, su familia y para los profesionales de salud involucrados en
el dilema creado entre la terapia ideal para la madre y el bien estar del feto. El diagnóstico se basa en el test triple
que consiste en el examen clínico, imagen y biopsia, pretendiendo evaluar la extensión de la enfermedad en la
mama y en los linfonodos, identificar múltiples focos o un eventual tumor bilateral, así como prevenir metástasis
sistémica y controlar localmente la enfermedad. El avance en la terapéutica, a fin de proteger el producto, puede
comprometer la salud materna. La mastectomía radical modificada y la radical clásica pueden ser utilizadas con
seguridad. Se debe realizar el vaciamiento axilar, pues las metástasis son comúnmente encontradas en el embarazo
y el compromiso linfonodal influencia en la elección de la quimioterapia. Evidencias sugieren seguridad y eficacia
del esquema 5-fluorouracil, doxorrubicina (o epirrubicina) y ciclofosfamida durante el segundo y el tercer trimestre
de la gestación. La radioterapia debe ser retrasada para después del parto. Este estudio pretende incentivar el
examen de las mamas durante el examen ginecológico de rutina y prenatal, concientizando a la paciente y equipo
de salud sobre su importancia en el ciclo grávido puerperal.
Palabras clave: Cáncer de mama; Embarazo; Diagnóstico; Tratamiento.
68 revista.hupe.uerj.br
Câncer de mama na gravidez: diagnóstico e tratamento
fases da gravidez por causa do seu efeito abortivo ambígua, hipertrofia de clitóris e fenda palatina.26
e teratogênico potencial.22
Antraciclinas – o esquema mais utilizado em Lactação
grávidas com câncer de mama é o esquema FAC:
5-fluorouracil, doxorrubicina (ou epirrubicina) e A lactação parece ser segura e possível. O
ciclofosfamida. Evidências sugerem segurança e aleitamento na mama contralateral não é afetado.
eficácia do uso das antraciclinas durante o se- Em casos de cirurgia conservadora e radioterapia,
gundo e o terceiro trimestres da gestação, com a produção de leite na mama tratada poderá ser
nível de evidência 2B (Oxford Level of Evidence menor. Alguns fatores, como incisão próxima a
[LOE] 2B).23 O uso da QT no primeiro trimestre aréola e mamilo, localização do tumor, além de
está associado a malformações em mãos e pés, mi- dose e tipo de radiação, podem alterar a produ-
crognatia e ventriculomegalia entre 10 a 20% dos ção de leite. De qualquer forma, o aleitamento
fetos.24 Portanto, o tratamento quimioterápico não na mama irradiada não é recomendado devido ao
deve ser protelado. No entanto, é recomendável risco da mulher desenvolver mastite, que, caso
evitar a quimioterapia de três a quatro semanas ocorra, será de manejo delicado.27,28
antes do parto para prevenir a mielossupressão A maioria das drogas (principalmente, os
agentes alquilantes) é excretada no leite huma-
transitória neonatal e potenciais complicações da
no. De forma geral, a lactação deve ser evitada
sepse, além da morte.23
durante a quimioterapia, uso de transtuzumab,
lapatinib e terapia endócrina. Não há evidências
Radioterapia de que o aleitamento em mulheres com câncer de
É utilizada para melhorar a sobrevida de mu- mama tratado modifique o prognóstico materno.28
lheres de alto risco tratadas com mastectomia, Apesar de informações fundamentadas em evi-
otimizando o controle local da doença.25 Seu uso dências limitadas, o tratamento de câncer durante a
deve ser adiado sempre que possível para depois gravidez pode ter sucesso, fornecendo para esta po-
do parto, pois o efeito dessa terapia sobre o con- pulação a melhora do prognóstico materno e fetal.
cepto depende tanto da dose empregada quanto
da idade gestacional, podendo variar de morte do Referências
blastocisto e abortamento até retardo de cresci-
1. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do
mento, microcefalia, lesões oculares e alterações Câncer. Câncer de Mama. Disponível em: http://
comportamentais e cognitivas.3,17,25 www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/
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70 revista.hupe.uerj.br
Câncer de mama na gravidez: diagnóstico e tratamento
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Hipertiroidismo en la gestación
Bárbara B. G. R. Bártholo, Denise L. M. Monteiro,* Alexandre J. B. Trajano
Resumo
O objetivo desta revisão é destacar que a identificação precoce do hipertireoidismo na gestação possibilita início
precoce de tratamento, evitando graves consequências para a saúde materno-fetal. A prevalência de hipertireoi-
dismo na gestação varia entre 0,1 a 0,4% e pode se manifestar clinicamente como hipertireoidismo subclínico,
tireotoxicose e crise tireotóxica. O diagnóstico é suspeitado pela ocorrência de perda de peso, sudorese, ansie-
dade, taquicardia, hipertensão arterial e aumento do volume da tireoide, sendo confirmado por supressão ou não
detecção dos níveis séricos de TSH e por elevação do T4L. O TRAb deverá ser solicitado quando a etiologia for
desconhecida, nas pacientes submetidas a tratamento com iodo radioativo ou tireoidectomia por doença de Graves
(DG) antes da gestação ou com achados clínicos compatíveis com a doença. As gestantes com hipertireoidismo
devem ser acompanhadas com dosagem de TSH, T4L e T3L na primeira consulta de pré-natal e mensalmente.
O tratamento do hipertireoidismo baseia-se no uso de propiltiouracil (PTU) e metimazol (MMZ). No primeiro
trimestre de gestação deve-se usar o PTU devido aos efeitos do MMZ em nível embrionário. Entretanto, o PTU
deverá ser substituído pelo MMZ após este período por sua hepatotoxicidade. Pacientes em uso de PTU devem ter
as enzimas hepáticas monitoradas durante o tratamento a cada quatro semanas assim como a função tireoidiana.
O diagnóstico precoce, a identificação da etiologia e o tratamento precoce e adequado do hipertireoidismo são
importantes para evitar complicações como: crise tireotóxica, abortamento, hipertensão gestacional, baixo peso
ao nascer, restrição de crescimento intrauterino, natimortalidade, disfunção tireoidiana neonatal, parto prematuro
e descolamento prematuro de placenta.
Descritores: Hipertireoidismo; Gravidez; Tratamento.
Abstract
The aim of this review is to highlight that early identification of hyperthyroidism during pregnancy allows
early initiation of treatment, avoiding serious consequences for maternal and fetal health. The prevalence of
hyperthyroidism in pregnancy ranges from 0.1 to 0.4% and may manifest clinically as subclinical hyperthyroidism,
thyrotoxicosis and thyroid storm. The diagnosis is suspected by the occurrence of weight loss, sweating, anxiety,
tachycardia, hypertension and increased thyroid volume, being confirmed by deletion or non-detection of serum
TSH and free T4 (FT4) elevation. The TRAb should be requested when the etiology is unknown, those undergoing
treatment with radioactive iodine or thyroidectomy before pregnancy due to Graves’ disease (GD) or clinical
findings compatible with the disease. Pregnant women with hyperthyroidism should be accompanied with TSH,
FT4 and FT3 at the first prenatal consultation and monthly. The treatment of hyperthyroidism is based on the
use of propylthiouracil (PTU) and methimazole (MMZ). In the first trimester of pregnancy PTU should be used to
from the effects of MMZ embryonic level. However, the PTU should be replaced by MMZ after this period for its
hepatotoxicity. Patients using PTU should have liver enzymes monitored during treatment every four weeks as
well as thyroid function. Early diagnosis and identification of the etiology and early and appropriate treatment of
hyperthyroidism are important to avoid complications such as thyroid storm, miscarriage, gestational hypertension,
low birth weight, intrauterine growth restriction, stillbirth, neonatal thyroid dysfunction, premature birth and
placental abruption.
Keywords: Hyperthyroidism; Pregnancy; Treatment.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):72-79 Av. Prof. Manuel de Abreu, 500,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12131 E-mail: denimonteiro2@yahoo.com.br
72 revista.hupe.uerj.br
Hipertireoidismo na gestação
Resumen
El objetivo de esta revisión es destacar que la identificación precoz del hipertiroidismo en la gestación posibilita
el inicio adelantado del tratamiento, evitando graves consecuencias para la salud materno-infantil. La prevalencia
de hipertiroidismo en la gestación varia entre el 0,1 al 0,4% y puede manifestarse clínicamente como hipertiroidis-
mo subclínico, tirotoxicosis y crisis tirotóxica. Se sospecha el diagnóstico por la ocurrencia de perdida de peso,
sudores, ansiedad, taquicardia, hipertensión arterial y aumento del volumen de la tiroides, siendo confirmado por
la supresión o no detección de los niveles séricos de TSH y por elevación del T4L. El TRAb deberá ser solicitado
cuando la etiología fuese desconocida, en aquellas pacientes sometidas al tratamiento con yodo radioactivo o
tiroidectomía antes de la gestación por enfermedad de Graves (DG) o con hallazgos clínicos compatibles con la
enfermedad. Las gestantes con hipertiroidismo deben ser acompañadas con dosificación de TSH, T4L y T3L en la
primera consulta prenatal y mensualmente. El tratamiento del hipertiroidismo se basa en el uso de propiltiouracil
(PTU) y metimazol (MMZ). En el primer trimestre de gestación se debe usar el PTU debido a los efectos del MMZ
en nivel embrionario. Sin embargo, el PTU deberá ser substituido por el MMZ después de este periodo por su
hepatotoxicidad. Pacientes que usan PTU deben tener enzimas hepáticas monitoreadas durante el tratamiento
a cada cuatro semanas, así como la función tiroidea. El diagnóstico precoz, la identificación de la etiología y el
tratamiento precoz y adecuado del hipertiroidismo son importantes para evitar complicaciones como: crisis ti-
rotóxica, aborto, hipertensión gestacional, bajo peso al nacer, restricción de crecimiento intrauterino, mortalidad
al nacer, disfunción tiroidea neonatal, parto prematuro y desprendimiento prematuro de placenta.
Palabras clave: Hipertireoidismo; Embarazo; Tratamiento.
74 revista.hupe.uerj.br
Hipertireoidismo na gestação
Sinais Sintomas
Falha de ganho ponderal a despeito de dieta adequada Intolerância ao calor e aumento de temperatura corporal
Bócio
Pode cursar com tireotoxicose e hiperemese gravídica.
Sintomatologia Exoftalmia
Perda ou ausência de ganho ponderal
Tireotoxicose
Acompanhamento Exame físico e TSH e T4L 3-4 semanas. Melhora gradual no 2º e 3º Tri.
76 revista.hupe.uerj.br
Hipertireoidismo na gestação
alvo do T4L ou T4T descritos abaixo. A dose do baseado na dosagem sérica mensal dos hormônios
MMZ é de 5 a 15 mg/dia (300 mg de PTU corres- tireoidianos.4 O T4L deve permanecer no limite
ponde a 10-15 mg MMZ).4 Pode ser necessário superior da normalidade e o T4T até 1,5 vezes do
associar betabloqueadores como propranolol valor normal para gestantes. O TSH não é solici-
20-40 mg 8/8h via oral (VO). tado na monitorização do tratamento porque se
Há ainda o risco de agranulocitose com o uso mantém baixo. A melhora dos sintomas ocorre em
de drogas antitireoidianas, ocorrendo em 0,1% dos 3 a 4 semanas de tratamento, mas a resposta plena
pacientes. Antes de iniciar a terapia medicamento- ocorre por volta de oito semanas pós-tratamento.
sa com essas drogas deve-se solicitar leucograma Pode-se avaliar a suspensão da medicação antiti-
de base. Pacientes com dor de garganta ou febre reoidiana após a paciente manter-se eutireoideia
devem ter hemograma solicitado imediatamente. próxima ao termo.5,6,15
Caso ocorra agranulocitose, todas as medica- Fetos de mães em uso de drogas antitireoidia-
ções antitireoidianas devem ser imediatamente nas devem ser avaliados quanto aos sinais de hi-
descontinuadas.6 potireoidismo por exame clínico para crescimento
Os agentes betabloqueadores, como o pro- e cardiotocografia para avaliação de bradicardia
pranolol e metoprolol, podem ser usados para fetal. Aproximadamente 10% dos expostos a estas
controle de sintomas hipermetabólicos, além drogas desenvolverão hipotireoidismo fetal e ne-
de inibir a conversão de T4 em T3 nos tecidos onatal. A USG deverá ser solicitada para avaliação
periféricos. Na maioria dos casos, a droga pode de biometria fetal e avaliação de sinais de bócio
ser descontinuada em duas a seis semanas. O fetal: presença de massa paratraqueal simétrica,
tratamento por longo período de tempo pode estar hiperextensão do pescoço e polidramnia.6,14
associado com crescimento intrauterino restrito, Caso a mulher seja exposta à terapia ablativa,
bradicardia fetal e hipoglicemia neonatal.2,5 deve manter-se em uso de contraceptivo seguro
Aproximadamente de 20 a 30% das pacientes por, no mínimo, seis meses. Este tratamento é
no último trimestre da gestação têm condições contraindicado durante a gestação e lactação
clínicas de descontinuar a terapia medicamentosa devido ao seu efeito teratogênico.6
na DG, exceto aquelas que se encontram com
altos títulos de TRAb, em que a terapia deve ser Complicações
continuada até o parto. Os sintomas frequente-
mente se agravam após o parto.2 Mulheres com O controle inadequado da tireotoxicose é
DG antes da gestação, adequadamente tratadas responsável pelas seguintes complicações: abor-
e em remissão da doença, apresentam baixo risco tamento, hipertensão gestacional, baixo peso ao
de recorrência durante a gestação.4 nascer, restrição de crescimento intrauterino,
MMZ de 20 a 30 mg/dia é considerada a droga natimortalidade, tempestade tireotóxica, dis-
antitireoidiana de primeira linha a ser utilizada na função tireoidiana neonatal, parto prematuro e
amamentação.2 O PTU também pode ser usado, descolamento prematuro de placenta.2,5,6,7,11
pois não causa alterações na função tireoidiana
nem no desenvolvimento físico e psíquico do Crise tireotóxica
recém-nascido, porém deve ser lembrado o risco
de hepatotoxicidade.14 É evento raro na gestação. O controle ina-
A tireoidectomia deve ser considerada em dequado do hipertireoidismo pode evoluir para
caso de alergia, contraindicações às drogas an- tempestade (crise) tireotóxica com aumento da
titireoidianas, em pacientes que requerem altas mortalidade materno-fetal.16
doses das medicações (MMZ 30 mg/dia e PTU 450 O diagnóstico é clínico com atividade adre-
mg/dia) ou quando não há resposta ao tratamento nérgica exacerbada, taquicardia desproporcional
medicamentoso. O segundo trimestre é o melhor à idade gestacional, aumento da temperatura
momento para realização da cirurgia, pois esta é corporal, agitação ou confusão mental, podendo
fator de risco para parto prematuro (risco entre evoluir para ICC e arritmia cardíaca.6 Pode ocor-
4,5 e 5,5%).4,5,14 rer ainda delirium, psicose, convulsão, diarreia e
O acompanhamento do tratamento deve ser evolução para estado comatoso.10 Durante a crise
SOLICITAR
-TSH, T4L, T3L, hemograma completo, transaminases hepáticas e cálcio
- descartar outras causas de síndrome adrenérgica
Aumento de T4L, T3L e queda do TSH. Sem outras causas de síndrome adrenérgica
*
Iodo e o corticoide podem ser descontinuados após a estabilização clínica.
Figura 2. Conduta mediante diagnóstico de crise tireotóxica.6,8
tireotóxica, pode haver aumento de transaminases American Thyroid Association for the diagnosis and
management of thyroid disease during pregnancy
hepáticas, leucocitose e hipercalcemia. Além dis- and postpartum. Thyroid. 2011;21:1081-125. http://
so, deve-se atentar para fatores desencadeantes dx.doi.org/10.1089/thy.2011.0087.
como infecções, cirurgias, complicações clínicas,
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em Unidade de Terapia Intensiva.6,16
4. Bahn RS, Burch HB, Cooper DS, Garber JR, Greenlee
A crise tireotóxica não indica interrupção da
MC, Klein I, et al. Hyperthyroidism and other causes of
gestação. O parto por demais indicações obstétricas thyrotoxicosis: management guidelines of the American
não deverá ocorrer antes da compensação clínica Thyroid Association and American Association of
da paciente, visto que o parto cesáreo ou via vaginal Clinical Endocrinologists. Thyroid. 2011;21(6):593-646.
http://dx.doi.org/10.1089/ thy.2010.0417.
podem exacerbar a crise tireotóxica (Figura 2).16
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Conclusão Barbour L, Cobin RH, et al. Management of thyroid
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O médico obstetra deve estar atento às Endocrine Society clinical practice guideline. J Clin
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manifestações clínicas compatíveis com hiperti-
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reoidismo, a fim de diagnosticar e tratar precoce-
mente as pacientes, reduzindo as complicações 6. Fitzpatrick DL, Russell MA. Diagnosis and
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Hipertireoidismo na gestação
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Resumo
HTLV-1/2 são retrovírus com três vias de transmissão: sexual, hematogênica e vertical (TV). Em áreas endêmicas,
a TV tem o papel principal na cadeia de transmissão, principalmente pelo aleitamento materno. A infecção é
perene e 90% dos pacientes são portadores assintomáticos, porém existe associação com uma gama de doenças
inflamatórias, de dermatites inespecíficas até patologias graves e de prognóstico reservado, como a leucemia/
linfoma de células T do adulto (LTA) e a mielopatia associada ao HTLV-1, ou paraparesia espástica tropical (MAH).
Até hoje não existem formas de prevenção ou tratamento eficaz para a infecção por HTLV-1/2 nem para as doen-
ças decorrentes da mesma. Os dados sobre a infecção por HTLV-1/2 em gestantes brasileiras ainda são escassos
e isolados, pois a maioria dos artigos estuda doadores de sangue, a infecção não tem notificação compulsória
e o rastreio não faz parte da rotina pré-natal preconizada pelo Ministério da Saúde. O objetivo deste trabalho
é reunir o conhecimento disponível sobre o tema na literatura internacional. Ainda não há estudos publicados
sobre a prevalência da infecção em nosso estado, mas o projeto “Estudo da prevalência e da transmissão verti-
cal de HIV, HTLV e Sífilis em gestantes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro”, de professores da UERJ com
financiamento da FAPERJ, identificou prevalência de 0,66% em parturientes na região metropolitana do Rio de
Janeiro. Com base neste resultado, foi proposta a inclusão do exame para o HTLV na rotina pré-natal do HUPE/
UERJ.O melhor conhecimento sobre a prevalência de HTLV-1/2 em gestantes nas diferentes regiões brasileiras é
fundamental para orientar a elaboração de políticas educacionais, sociais e de saúde pública que possam cons-
cientizar a população sobre a doença e reduzir as taxas de transmissão vertical.
Descritores: HTLV; Doenças sexualmente transmissíveis; Prevalência; Gravidez; Transmissão vertical de doença
infecciosa.
Abstract
HTLV-1/2 are retroviruses with three modes of transmission: sexual, blood borne and from mother to child /
vertical (VT). In endemic areas VT plays the major role in the chain of transmission, mainly by breastfeeding.
Infection is lifelong and 90% of the patients are asymptomatic carriers. However, there are associations to a
range of inflammatory conditions, from nonspecific dermatitis to severe diseases with poor prognosis such as
adult T-cell leukemia/lymphoma (ATL) and HTLV-1 associated myelopathy/tropical spastic paraparesis (HAM/
TSP). So far there is no efficient prevention or treatment of HTLV-1/2 infection or the diseases caused by it. Data
on HTLV-1/2 on Brazilian pregnant women is still scarce and isolated because most articles study blood donors,
the infection is not notifiable and screening is not part of the antenatal routine recommended by the Ministry of
Health. The goal of the present work is to gather the knowledge available on the subject in international literature.
There are still no published studies about the prevalence of HTLV-1/2 infection in pregnant women in our State,
however the project “Study of the prevalence and vertical transmission of HIV, HTLV and SYPHILIS in pregnant
women on the metropolitan area of Rio de Janeiro” carried out by UERJ professors and funded by FAPERJ,
identified a prevalence of 0.66% in women admitted for delivery on the metropolitan area of Rio de Janeiro. Based
on this result, the inclusion of HTLV screening in the routine antenatal care of HUPE/UERJ was proposed. Better
knowledge about the prevalence of HTLV-1/2 in pregnant women among the diverse Brazilian regions is crucial to
guide the development of educational, social and public health policies to increase awareness about the condition
and reduce mother to child transmission rates.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):80-87 Av. Prof. Manuel de Abreu, 500,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12132 E-mail: denimonteiro2@yahoo.com.br
80 revista.hupe.uerj.br
Infecção pelo HTLV-1/2 em gestantes brasileiras
Keywords: HTLV; Sexually transmitted diseases; Prevalence; Pregnancy; Infectious disease transmission vertical.
Resumen
HTLV-1/2 son retrovirus con tres vías de transmisión: sexual, hematógena y vertical (TV). En áreas endémicas,
la TV tiene el papel principal en la cadena de transmisión, principalmente por el amamantamiento materno. La
infección es perenne y el 90% de los pacientes son portadores asintomáticos, sin embargo existe asociación con
una gama de enfermedades inflamatorias, de dermatitis inespecíficas hasta patologías graves y de pronóstico
reservado, como la leucemia/linfoma de células T del adulto (LTA) y la mielopatía asociada al HTLV-1, o parapa-
resia espástica tropical (MAH). Hasta hoy no existen formas de prevención o tratamiento eficaz para la infección
por HTLV-1/2 ni para las enfermedades derivadas de la misma. Los datos sobre la infección por HTLV-1/2 en
gestantes brasileras todavía son escasos y aislados, pues la mayoría de los artículos estudia donadores de sangre,
la infección no tiene notificación establecida y la detección no hace parte de la rutina prenatal preconizada por
el Ministerio de Salud. El objetivo de este trabajo es reunir el conocimiento disponible sobre el tema en la lite-
ratura internacional. Todavía no hay estudios publicados sobre la prevalencia de la infección en nuestro estado,
pero el proyecto “Estudio de la prevalencia y de la transmisión vertical de HIV, HTLV y Sifilis en gestantes de
la región metropolitana de Rio de Janeiro”, de profesores de la UERJ con financiamiento de la FAPERJ, identificó
prevalencia del 0,66% en parturientas en la región metropolitana de Rio de Janeiro. Con base en este resultado
fue propuesta la inclusión del examen para el HTLV en la rutina prenatal del HUPE/UERJ.Un mejor conocimiento
sobre la prevalencia de HTLV-1/2 en gestantes en las diferentes regiones brasileras es fundamental para orientar
la elaboración de políticas educacionales, sociales y de salud pública que puedan concientizar a la población sobre
la enfermedad y reducir las tasas de transmisión vertical.
Palabras clave: HTLV; Enfermedades sexualmente transmisibles; Prevalencia; Embarazo; Transmisión vertical
de enfermedad infecciosa.
82 revista.hupe.uerj.br
Infecção pelo HTLV-1/2 em gestantes brasileiras
Quadro 1. Critérios para o diagnóstico de DMG da International Association of Diabetes and Pregnancy Study
Groups-2010.
2. estudo limitado ao Brasil; 2. estudos sobre infecção pelo HTLV em outras popu-
lações;
3. estudos que abordam a prevalência da infecção pelo 3. estudos em idiomas de difícil compreensão.
HTLV na gestação ou puerpério;
de ainda não haver dados publicados sobre a pre- diversos países europeus, foi demonstrado que a so-
valência da infecção em nosso estado, o projeto roprevalência para HTLV é proporcional (em média
“Estudo da prevalência e da transmissão vertical de 5 a 10 vezes maior) em gestantes e em doadores
de HIV, HTLV e Sífilis em gestantes da Região Me- de sangue na mesma área.17 Desta forma, a mesma
tropolitana do Rio de Janeiro” – desenvolvido por peculiaridade na distribuição geográfica da infecção
um grupo de pesquisadores da UERJ e aceito para pode ser antecipada em ambas as populações.
publicação no periódico PLOS Neglected Tropical Uma pesquisa detalhada avaliou a preva-
Diseases – identificou prevalência de 0,66% em lência da infecção por HTLV-1/2 em doadores
1204 parturientes na região metropolitana do Rio de sangue das 27 capitais brasileiras (Figura 2).
de Janeiro. O teste de triagem durante a gestação Mais de seis milhões de doações foram avalia-
não é preconizado como rotina no Estado do Rio das, entre 1995 e 2000, por meio dos dados de
de Janeiro, mas, tendo em vista a prevalência bancos de sangue públicos. A heterogeneidade
encontrada, que pode corresponder à segunda entre as regiões foi considerável, variando de
maior do Brasil, os coordenadores do projeto 0,4/1.000 em Florianópolis (SC) a uma taxa 25
propuseram a inclusão do exame para o HTLV na vezes maior (10,0/1.000) em São Luís (MA). É
rotina pré-natal do HUPE/UERJ. importante salientar o padrão de distribuição da
Sabe-se que as gestantes representam melhor a doença, com maior soroprevalência nos estados
população em geral do que os doadores de sangue, Norte e Nordeste (Pará, Pernambuco, Bahia e
porém ambos refletem de alguma forma a ende- Maranhão) e taxas significativamente mais baixas
micidade da infecção. Em um estudo envolvendo nos estados do Sul, como Santa Catarina (Figura
2).18 Estes achados foram corroborados por uma dos retrovírus humanos. No entanto, mesmo na
publicação mais recente em que a prevalência de África, a soroprevalência para HTLV em gestantes
HTLV-1/2 em doadores de sangue de Pernambuco apresenta significativa variabilidade, indo de 0,2%
foi mais que o dobro da de São Paulo (2,22/1.000 na África do Sul, passando por 0,7% na República
x 1,01/1.000).19 Infelizmente não há um estudo tão do Congo e alcançando 5,5% na Nigéria.1
abrangente e metodologicamente criterioso que
permita a comparação direta dos dados da infec- Impacto da infecção por HTLV-1/2
ção em grávidas com os de doadores de sangue
obtidos por Catalan-Soares.18 no ciclo gravídico-puerperal
A heterogeneidade regional da prevalência Nenhum dos artigos sobre HTLV-1/2 em
de HTLV-1/2 no Brasil pode ser explicada pelas gestantes e puérperas brasileiras abordou espe-
características étnicas da população, pois o cificamente o impacto da infecção no desfecho
Nordeste tem maior proporção de descenden- da gestação, e apenas quatro fazem referência
tes de africanos e ameríndios do que o Sul. A à história obstétrica, mais especificamente de
endemicidade do HTLV-2 foi documentada por abortamento espontâneo (Tabela 1).
estudos epidemiológicos em grupos indígenas da Os estudos conduzidos no Mato Grosso do
Amazônia.20 Por outro lado, evidências filogené- Sul, Pará e Espírito Santo, que juntos contabilizam
ticas demonstraram a introdução das cepas de mais de 130.000 pacientes, relatam incidência
HTLV-1 na Bahia por meio da migração forçada da de abortamento de 26,8%, 29,7% e 22,6% res-
África,14,21 que é a maior área endêmica de HTLV-1 pectivamente,15,22,23 notavelmente maior do que
no mundo, sendo considerada o local de origem a esperada. Por outro lado, a taxa encontrada
Figura 2. Prevalência de HTLV-1/2 em doadores de sangue rastreados no Brasil entre 1995 e 2000. Reproduzido
com permissão dos autores.18
84 revista.hupe.uerj.br
Infecção pelo HTLV-1/2 em gestantes brasileiras
Bittencourt et al,
Salvador, BA 6.754 0,84 (0,59-1,03) 3,8 9,6
200116
Figueiró-Filho et al,
MS 32.512 0,13 (0,08-0,16) NA NA
200728
Magalhães et al,
Cruz das Almas, BA 408 0,98 NA NA
200821
Guimarães de Souza
São Luís, MA 2.044 0,3 NA NA
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ou secreções e por transmissão vertical (TV). A Nagata Y. HTLV-1 transmission from mother to fetus
TV ocorre em cerca de 20% dos filhos de mães via placenta. Lancet. 1992;340(8828):1157.
infectadas, sendo sua principal via o aleitamento 10. Saito S, Furuki K, Ando Y, Tanigawa T, Kakimoto K,
materno prolongado. A prevalência da infecção Moriyama I, et al. Identification of HTLV-1 sequence
sofre variações regionais, indo de 0,13% no Mato in cord blood mononuclear cells of neonates born
to HTLV-1 antigen/antibody-positive mothers
Grosso do Sul a 0,8% na Bahia. O maior impacto by polymerase chain reaction. Jpn J Cancer Res.
da infecção pelo HTLV-1/2 em mulheres ocorre 1990;81(9):890-5.
no puerpério, em função da recomendação para
11. Satow Y, Hashido M, Ishikawa K, Honda H, Mizuno
a não prática do aleitamento materno. M, Kawana T, et al. Detection of HTLV-1 antigen in
peripheral and cord blood lymphocytes from carrier
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Sífilis en el embarazo
Alessandra B.A. Damasceno, Denise L. M. Monteiro,* Luiza B. Rodrigues,
Danielle B. S. Barmpas, Luciane R. P. Cerqueira, Alexandre J. B. Trajano
Resumo
A sífilis é causada pelo Treponema pallidum e transmitida por via sexual, hematogênica ou vertical (TV) durante
qualquer período da gravidez. Por orientação do Ministério da Saúde, seu rastreio seu e tratamento são oferecidos
de rotina a todas as gestantes que realizam o pré-natal. No entanto, as taxas de morbidade materna, infecção
congênita e mortalidade perinatal permanecem altas, representando ainda desafio à saúde pública. A persistên-
cia da alta prevalência de sífilis congênita, apesar dos programas específicos de prevenção, é inquietante. Esta
revisão visa contribuir para a divulgação do conhecimento atual no país e a elaboração de medidas que possam
reduzir a transmissão vertical e a morbimortalidade materno-infantil da sífilis. A prevalência de sífilis em ges-
tantes no Brasil é de 1,6%. A região Sudeste possui a maior taxa de notificação de sífilis congênita, e o Estado do
Rio de Janeiro tem as maiores taxas de incidência por nascidos vivos (9,8/1.000), segundo dados do Ministério
da Saúde. O custo da prevenção da infecção congênita, incluindo teste e tratamento, é menor que US$ 1,50 por
pessoa, e o risco de transmissão vertical na gravidez varia de 70 a 100%, nos casos de sífilis recente, e 30 a 40%,
na sífilis tardia. Nesta revisão, apresentamos uma discussão sobre o diagnóstico e o tratamento precoce da sífilis
na gravidez, que, quando realizado adequadamente, pode prevenir resultados gestacionais desfavoráveis para o
binômio mãe-filho. Um melhor entendimento da doença permite buscar formas de melhorar as políticas públicas,
colaborando com a diminuição da prevalência da sífilis e suas complicações no Brasil.
Descritores: Sífilis; Doenças sexualmente transmissíveis; Prevalência, gravidez; Transmissão de doença infec-
ciosa; /prevenção & controle.
Abstract
Syphilis is caused by the Treponema pallidum and its mode of transmission is sexual, blood borne or from
mother-to-child (vertical) throughout the pregnancy. According to the guidance of the brazilian Ministry of
Health, serological screening and treatment are routinely offered to all pregnant women attending antenatal
care, nevertheless rates of maternal morbidity, congenital infection and perinatal mortality remain high and the
disease still represents a challenge for public health. The persistence of the high prevalence of congenital syphilis
despite the targeted prevention programs is unsettling. This review aims to contribute to the spread of the current
knowledge in our country and the elaboration of measures which can reduce vertical transmission and mother
and child morbimortality. The prevalence of syphilis in pregnant women in Brazil is 1.6%. The Southeast region
has the highest rate of congenital syphilis notification, and the State of Rio de Janeiro has the highest incidence
per live births (9.8/1,000), according to data of the Ministry of Health. The cost of preventing congenital syphilis,
testing and therapy included, is lower than U$ 1.50 per person and the risk of mother-to-child transmission during
pregnancy ranges from 70 to 100% in cases of recent syphilis to 30 to 40% in late syphilis. This review presents
a discussion about the diagnosis and early treatment of syphilis in pregnancy, which can prevent unfavourable
pregnancy outcomes for both mother and child when properly administered. A better understanding of the
condition allows the search for improvement in public policies, collaborating to the reduction of the prevalence
of syphilis and its complications in Brazil.
Keywords: Syphilis; Sexually Transmitted Diseases; Prevalence, pregnancy; Disease transmission, infectious; /
prevention & control.
*
Endereço para correspondência:
Núcleo Perinatal, HUPE, UERJ.
Revista HUPE, Rio de Janeiro, 2014;13(3):88-94 Av. Prof. Manuel de Abreu, 500,
Recebido: 24/04/2014 | Revisado: 02/07/2014 | Aprovado: 28/07/2014 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. CEP: 20550-170.
doi: 10.12957/rhupe.2014.12133 E-mail: denimonteiro2@yahoo.com.br
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Sífilis na gravidez
Resumen
La sífilis es causada por el Treponema pallidum y transmitida por vía sexual, hematógena o vertical (TV) durante
cualquier periodo del embarazo. Por orientación del Ministerio de Salud del Brasil, su detección y tratamiento
son ofrecidos por rutina a todos las gestantes que realizan el prenatal. Sin embargo, las tasas de morbilidad
materna, infección congénita y mortalidad perinatal permanecen altas, representando todavía un desafío para
la salud pública. La persistencia de la alta prevalencia de sífilis en gestantes en el Brasil es del 1,6%. La región
sudeste posee la mayor tasa de notificación de sífilis congénita, y el Estado de Rio de Janeiro tiene las mayores
incidencias por nacidos vivos (9,8/1.000), según datos del Ministerio de Salud. El costo de la prevención con-
génita, incluyendo test y tratamiento, es menor de U$ 1,50 por persona, y el riesgo de transmisión vertical en
el embarazo varia del 70 al 100%, en los casos de sífilis reciente, y 30 al 40%, en la sífilis tardía. En esta revisión
presentamos una discusión sobre el diagnóstico y el tratamiento precoz de la sífilis en el embarazo que, cuando
es realizado adecuadamente puede prevenir resultados gestacionales desfavorables para el binomio madre-hijo.
Un mejor entendimiento de la enfermedad permite buscar formas de mejorar las políticas públicas, colaborando
con la disminución de la prevalencia de la sífilis y sus complicaciones en el Brasil.
Palabras clave: Sífilis; Enfermedades sexualmente transmisibles; Prevalencia, embarazo; Transmisión de enfer-
medad infecciosa; /prevención y control.
útil para melhor entendimento e aplicabilidade podendo chegar de 70 a 100% nos casos de sífilis
de políticas de saúde que ajudariam no combate recente e 30 a 40% nos casos de sífilis tardia.14
à doença. O quadro clínico do recém-nato variará de
acordo com a fase da gestação em que a infecção
Aspectos clínicos tiver ocorrido. Quando a infecção se instalar no
último trimestre, a criança apresentará maior
A sífilis pode ser classificada como primária, probabilidade de nascer assintomática. A sífilis
secundária, latente, terciária ou congênita. congênita pode se apresentar com quadro clíni-
A sífilis primária ocorre após três semanas co variável: desde rinite hemorrágica, erupção
de exposição; há o aparecimento de úlcera, única, eritematopapulosa, placas mucosas, condiloma
medindo entre 0,3 e 3,0 cm, indolor, no local da plano, fissuras periorificiais radiadas, pênfigo si-
inoculação, com resolução espontânea em três a filítico, microadenopatia e hepatoesplenomegalia,
seis semanas, podendo ocasionalmente aparecer choro intenso e plaquetopenia, entre outras ma-
lesões múltiplas, sendo mais comuns quando nifestações possíveis na sífilis congênita recente,
associadas à coinfecção pelo HIV.9 até ceratite intersticial, tíbia em sabre, gomas,
A sífilis secundária ocorre após seis semanas hidrartrose bilateral de Clutton e ainda outras
a seis meses da infecção primária não tratada, manifestações tardias. Estigmas como os dentes
manifestando-se como rash cutâneo eritematoso de Hutchinson, nódulos de Parrot no crânio, nariz
e simétrico em tronco e extremidades, notada- em sela, fronte olímpica e alterações no exame
mente nas regiões palmar e plantar. Os sintomas de fundo de olho, apresentando aspecto em “sal
gerais mais relatados são mal-estar, cefaleia, e pimenta”, podem estar presentes.15
febre, prurido (42%) e hiporexia. Outros, menos A estimativa da Organização Mundial da
comuns, são dor nos olhos, dor óssea, artralgia, Saúde (OMS), principalmente nos países em
meningismo, irite e rouquidão. O paciente nessa desenvolvimento, é de mais de dois milhões de
fase é muito contagioso.10 gestantes infectadas a cada ano e que quase um
A fase latente da doença inclui os pacientes milhão de recém-natos possuam o diagnóstico de
assintomáticos, sem envolvimento sistêmico da sífilis congênita. Gestantes com sífilis possuem
doença, com sorologia positiva. Pode ser precoce 12 vezes mais chances de terem algum evento
(menos de um ano de evolução) ou tardia (mais de adverso, mesmo após tratamento, do que uma
um ano de evolução). paciente soronegativa. Nas gestantes com sífilis
A sífilis terciária ocorre em 1 a 10 anos, com não tratada ou inadequadamente tratada, a taxa
casos de até 50 anos para que a evolução se ma- de abortamento ou natimortalidade é de 25%,
nifeste. É caracterizada pela formação de gomas prematuridade ou baixo peso ao nascer, de 13%,
sifilíticas, que podem acometer principalmente neomortalidade, de 11%, e 20% dos lactentes são
pele, mucosas, esqueleto. As manifestações mais sintomáticos.16,17
graves da sífilis terciária são o acometimento
neurológico (paralisia geral progressiva, pupilas Diagnóstico
de Argyll Robertson, tabes dorsalis) e cardiovas-
cular (aortite, aneurisma de aorta, regurgitação O diagnóstico da sífilis pode ser realizado
aórtica). Aproximadamente 40% dos pacientes pela visualização direta do treponema em cam-
com complicações cardiovasculares possuem po escuro ou imunofluorescência direta, sendo
acometimento neurológico associado.11 tais técnicas indicadas na sífilis primária, lesões
A sífilis congênita é adquirida usualmente mucocutâneas e na sífilis congênita recente. A
pelo feto no útero materno, quando o Trepone- microscopia em campo escuro é o padrão ouro
ma atravessa a barreira transplacentária, apesar para o diagnóstico da sífilis recente, pois os testes
de excepcionalmente poder ser transmitida no sorológicos podem ser negativos neste estágio.18
nascimento.12,13 As provas sorológicas são as mais utilizadas
O risco de transmissão na gestação varia de no diagnóstico da sífilis e dividem-se em:
acordo com o estágio da infecção materna e da testes não treponêmicos, que são utilizados no
idade gestacional em que ocorre a exposição fetal, diagnóstico e seguimento pós-tratamento, dos
90 revista.hupe.uerj.br
Sífilis na gravidez
na sífilis secundária e três na sífilis terciária, com com títulos altos de VDRL. O tratamento durante
intervalos semanais entre as aplicações. Qualquer o pré-natal pode resultar em falha em até 14% dos
outro tratamento é considerado inadequado para casos e ainda há a possibilidade de reinfecção,
a prevenção da sífilis congênita. O tratamento com caso o parceiro não tenha sido tratado simulta-
penicilina somente é considerado eficaz, tanto neamente. Por isso, o seguimento pós-tratamento
para a mulher quanto para o feto, se administrado deve ser realizado, segundo o Ministério da Saúde,
com mais de 30 dias antes do parto.26 com repetição da sorologia em 3, 6, 9, 12 e 18 me-
A elevação de títulos do VDRL em quatro ses. Considera-se cura quando há queda de três a
ou mais vezes (por exemplo, de 1:2 para 1:8) em quatro diluições no VDRL em relação à titulação
relação ao último exame realizado, justifica novo inicial no prazo de um ano.29
tratamento. Verificar se o tratamento do parceiro Apesar de a sífilis apresentar recursos diag-
foi realizado. Estes devem ser tratados mesmo nósticos e terapêuticos simples e de baixo custo,
quando apresentam VDRL negativo, com dose seu controle na gestação mostra-se um desafio
única de penicilina benzatina 2.400.000 UI IM; para profissionais de saúde e gestores. Este fato
sendo o VDRL positivo, em qualquer titulação, o ocorre devido aos entraves para a realização do
tratamento deve ser igual ao da sífilis terciária. seu diagnóstico e tratamento, assim como, difi-
A condição de parceiro não tratado caracteriza culdade de abordagem das doenças sexualmente
tratamento materno inadequado e, por conse- transmissíveis, principalmente durante a gestação;
guinte, a criança será considerada caso de sífilis parceiros sexuais que não são diagnosticados e/ou
congênita.27 tratados e provavelmente pelo desconhecimento da
No caso de alergia à penicilina, a gestante magnitude desse agravo e dos danos que ele pode
deverá ser dessensibilizada por meio da adminis- causar à saúde da mulher e do bebê pela população
tração oral de penicilina V em diluições gradati- e até mesmo pelos profissionais de saúde.30
vamente menores e em volumes inversamente
maiores, devendo ser realizada em ambiente Referências
hospitalar para melhor manejo de possíveis re-
ações. A administração da penicilina parenteral 1. Avelleira JCR, Bottino G. Sífilis: diagnóstico, tratamento
deverá ser feita somente 30 minutos após o tér- e controle. An Bras Dermatol. 2006;81(2):111-26.
mino do processo de dessensibilização. Em casos 2. Duarte G. Sífilis e a gravidez… e a história
de reações, a mesma deverá ser interrompida e continua! Rev. Bras. Ginecol Obstet. 2012;34
deverá ser instituído um tratamento alternativo. (2):49-51. http://dx.doi.org/doi.org/10.1590/S0100-
72032012000200001.
O tratamento das gestantes alérgicas com es-
tearato de eritromicina poderá levar à cura da 3. Campos AL, Araújo MA, Melo SP, Gonçalves ML.
gestante, mas não do feto. É feito na dose de 500 Epidemiologia da sífilis gestacional em Fortaleza,
Ceará, Brasil: um agravo sem controle. Cad. Saude
mg a cada 6 horas, por 15 dias na sífilis primária,
Publica. 2010; 26(9):1747-55. http://dx.doi.org/doi.
secundária e latente precoce, ou durante 30 dias org/10.1590/S0102-311X2010000900008.
na sífilis latente tardia. Deve-se ter em mente a
4. Rodrigues CS, Guimarães MD, César CC. Missed
possibilidade de falência terapêutica nos casos de
opportunities for congenital syphilis and HIV
coinfecção pelo HIV.28 perinatal transmission prevention. Rev Saude
Quando o tratamento é feito na fase secun- Publica. 2008;42(5):851-8.
dária da doença, é maior a possibilidade de ocor- 5. Krakauer Y, Pariente G, Sergienko R, Wiznitzer
rência da reação de Jarisch-Herxheimer, devido A, Sheiner E. Perinatal outcome in cases of
à liberação maciça de antígenos treponêmicos latent syphilis during pregnancy. Int J Gynaecol
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Divisão de Obstetrícia. Hospital Maternidade Carmela
Dutra. Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas.
de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Denise L. M. Monteiro
Luciane R. P. Cerqueira
Disciplina de Obstetrícia. Departamento de Ginecologia
e Obstetrícia. Centro Universitário Serra dos Órgãos Programa de Pós-graduação em Ciências Disciplina de
(UNIFESO). Teresópolis, RJ, Brasil. Obstetrícia. Departamento Ginecologia e Obstetrícia.
Faculdade de Ciências Médicas. Universidade do Estado do
Disciplina de Obstetrícia. Departamento de Ginecologia Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
e Obstetrícia. Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Alexandre J. B. Trajano
RJ, Brasil.
Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade
Luiza B. Rodrigues de Ciências Médicas. Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Iniciação Científica, FAPERJ. Faculdade de Ciências
Médicas. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Departamento de Ginecologia e Obstetrícia. Faculdade
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. de Medicina. Universidade Unigranrio. Rio de Janeiro, RJ,
Brasil.
94 revista.hupe.uerj.br
Normas da publicação
Instruções aos autores Deve-se iniciar cada uma das seções em uma
nova página: 1) página de título; 2) resumo, incluin-
A Revista HUPE considera para publicação do descritores; 3) abstract, incluindo keywords;
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saúde. Cada número versa acerca de um tema. tabelas (completas, com títulos, notas de rodapé
Os artigos dos principais especialistas da área e em páginas separadas); 8) legendas das figuras.
compõem o fascículo após convocação de um Página de título – Deve estar centrado no alto
igualmente experiente editor convidado. da folha, em destaque. Logo abaixo, colocar
Todos os manuscritos serão avaliados por os nomes dos autores (como deverão ser
membros do corpo editorial da revista e sua
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Disciplina (se aplicável). Departamento (ou
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serviço). Faculdade. Universidade (ou institui-
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responsabilidade dos autores.
mar os dados para correspondência do autor
principal (nome, endereço, telefone, e-mail).
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Resumo – Deve conter obrigatoriamente de
Os autores devem seguir rigorosamente as 250 a 300 palavras. Deve ser estruturado
normas editoriais da revista, particularmente no consistindo de três parágrafos. O primeiro
tocante ao número máximo de palavras, tabelas deve descrever o objetivo da revisão, isto é,
e figuras permitidas, bem como as regras para por que a revisão é relevante. O segundo pa-
confecção das referências bibliográficas. É per-
rágrafo descreverá os achados mais recentes
mitida a inserção de, no máximo, seis autores por
e o terceiro será um resumo descrevendo as
manuscrito. A não observância dessas instruções
principais implicações dos achados na pes-
implicará na devolução do manuscrito pela se-
quisa ou prática clínica.
cretaria da revista para que os autores façam as
correções pertinentes antes de submetê-lo aos Abstract – Deve ser uma versão exata do
revisores. resumo original para o idioma inglês.
A transcrição de imagens de outras publica-
Descritores e keywords – Devem ser forne-
ções deverá ter a prévia autorização dos respec-
cidos de três a cinco termos em português
tivos autores para dar cumprimento às normas
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que regem os direitos autorais.
abaixo do abstract) que definem o assunto do
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trabalho. Devem obrigatoriamente ser base-
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ados nos Descritores em Ciências da Saúde
maticais ou outras.
(DeCS), que disponibiliza os termos em três
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convidado por via eletrônica. O texto deve ser di-
Texto – O artigo deve conter os seguintes ele-
gitado em espaço duplo em todas as seções, com
mentos, cada um com seu respectivo subtítulo
fonte Times New Roman, tamanho 12, em arquivo
(em folhas separadas):
Word. O texto deve ter entre 2.000 e 2.500 pala-
vras, excluindo referências e tabelas. Deve conter Introdução – Deve conter, resumidamente,
no máximo cinco tabelas e/ou figuras. O número a situação atual dos conhecimentos sobre o
de referências bibliográficas não deve exceder a 30. tópico em estudo e o objetivo do estudo.
Referências – Devem ser indicadas apenas as Publicações oficiais – World Health Or-
referências utilizadas nos textos. Recomenda- ganization. Global tuberculosis control:
se o sistema sequencial, no qual as citações surveillance, planning, financing. Report No.
são numeradas na ordem de aparecimento WHO/HTM/TB/2006. 362. Geneva: World
no texto e, ao final, listadas nesta mesma Health Organization; 2006.
ordem. O número de cada citação deve Endereços eletrônicos – Cancer-Pain.org
aparecer sobrescrito em fonte do mesmo [homepage on the Internet]. New York: As-
tamanho que o restante do texto, sem sociation of Cancer Online Resources, Inc.;
parênteses e após pontuação, se houver. As c2000-01 [updated 2002 May 16; cited 2002
regras para as referências devem seguir o Jul 9]. Available from: http://www.cancer-pain.
formato Vancouver, conforme definidas pelo org/.
International Committee of Medical Journal
Ilustrações – Todas as ilustrações, exceto
Editors, disponível no site http://www.ncbi.
tabelas e quadros, recebem a designação de
nlm.nih.gov/book-shelf/br.fcgi?book=citmed.
‘Figura’. Esta denominação deverá ser colo-
Os títulos dos periódicos citados devem cada na parte inferior da ilustração seguida
ser abreviados de acordo com o estilo do número de ordem de ocorrência no texto
apresentado pela List of Journal Indexed em algarismos arábicos, do título e legenda,
em Index Medicus da National Library of quando houver. As figuras devem ser envia-
Medicine, disponibilizada no endereço http:// das em arquivos separados (TIFF ou JPG,
www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/journals/ com qualidade superior de 300 dpi), tendo
loftext.noprov.html. Para os artigos listados no corpo do texto sua referência de entrada.
que tiverem registro DOI, o mesmo deve
ser informado ao final de cada referência Tabelas e quadros devem ser colocados após
(conforme exemplo abaixo). Evitar incluir as referências bibliográficas. Recebem nume-
material não publicado e comunicações ração independente em ordem de ocorrência
pessoais. no texto. A designação ‘Tabela’ ou ‘Quadro’,
seguida da numeração correspondente,
Para todas as referências, cite todos os auto-
deverá ser colocada centralmente na parte
res até seis. Acima desse número, cite os seis
superior da ilustração. O título da tabela ou do
primeiros autores seguidos da expressão “, et
quadro será indicado logo abaixo em negrito e
al.”. Seguem alguns exemplos:
centralizado. Legendas deverão ser colocadas
Artigos originais – Cummings SR, Lillington abaixo da tabela. Quando necessário, a fonte
GA, Richard RJ. Estimating the probability of (autor, data e página) deverá ser citada abaixo
malignancy in solitary pulmonary nodules: da legenda.
a Bayesian approach. Am Rev Respir Dis.
1986;134(3):449-52. http://dx.doi.org/10.1111
/j.1600-0757.2011.00418.
96 revista.hupe.uerj.br