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AMAZÔNIA

ESTUDOS AMAZÔNICOS

ADESÃO À INDEPENDÊNCIA E REBELIÕES NO PARÁ (1822-1834)

Até o começo da segunda metade do século XIX, a Amazônia tinha a sua sede
em Belém; o que hoje corresponde ao atual Estado do Amazonas ainda era
subordinado, como capitania, ao Pará. As autoridades portuguesas, que
sempre dedicaram uma atenção muito especial a esta região, tinham bases
administrativa e econômicas muito sólidas. Proclamada a Independência do
Brasil, em 1822, poucos reflexos o fato despertou no território paraense.
Apenas alguns idealistas pugnavam pela separação de Portugal. Mas, sem a
ajuda do novo Império, nada poderiam fazer contra as forças militares sediadas
em Belém, que continuavam fiéis a Portugal. As oposições entre grupos civis e
militares se fazia no meio da nova vida política com eleições para as Juntas e
com a presença dos líderes. A vida no Pará foi marcada, durante uns 14 anos,
por diversas rebeliões e acontecimentos dramáticos.

Em 1823 nas eleições são vitoriosos os partidários da emancipação política da


Colônia. Os defensores da vinculação do Pará à metrópole portuguesa
tentaram anular a eleição, mas sem sucesso. Em março deste mesmo ano, a
tropa prende os membros da Junta e restabelece uma Junta favorável aos
interesses de Portugal. Em abril de 1823 há a revolta em Belém e Muaná
dando apoio à Independência do Brasil e do Pará.

O sentimento separatista se refletiu por ocasião das eleições realizadas para a


primeira Câmara Constitucional de Belém, no dia 25 de fevereiro de 1823.
Vereadores brasileiros foram eleitos, enchendo de espanto e revolta o
comandante das Armas, general José Maria de Moura, e seguidores de sua
linha de fidelidade ao governo português. Os descontentes reuniram-se a fim
de ser estudada uma atitude a tomar. Foi concedido o plano de anular o pleito.
No dia primeiro de março, o coronel João Pereira Vilaça mandou prender, em
suas próprias residências, os componentes da Junta, restabelecendo a antiga
Câmara, composta de conservadores. Os detidos foram deportados para
diversos pontos do interior amazônico. O líder Batista Campos escapou,
escondendo-se na mata próxima de Belém.
Contudo os partidários da Independência não haviam desistido, e tiveram início
reuniões secretas, principalmente na casa de um italiano, de nome João Balbi,
na rua do Laranjal. Os membros trataram em conseguir apoio militar, que veio
através do capitão Domiciano Ernesto Dias Cardoso, do capitão Boaventura
Ribeiro da Silva, entre outros. Os conspiradores acertaram o movimento para a
madrugada do dia 14 de abril. Ao amanhecer, o 1º regimento surgiu à rua
Santo Antônio. Vinham à frente, o comandante das Armas, José Maria de
Moura, o coronel Vilaça e o Coronel Francisco José Rodrigues Barata (bisavô
de Magalhães Barata). Houveram instantes de indecisão entre os revoltosos,
pois até então não havia violência nem mortes. O cadete Bernal do Couto quis
disparar uma peça de artilharia. Porém, Boaventura da Silva o impediu. Desta
forma, a revolta nacionalista fracassara. Todos os revoltosos foram presos e
recolhidos à Fortaleza da Barra (os oficiais) e à cadeia pública (os civis). Entre
os civis estavam Bernardo de Souza Franco, cônego Jerônimo Pimentel, José
Pio de Araújo Nobre, Honório José dos Santos, Manoel Evaristo da Silva, João
Balbi, etc.

Após o julgamento foram condenados à morte. Porém, interferências de


pessoas influentes (como o bispo D. Romualdo Coelho), fizeram com que a
pena se transformasse em prisão e degredo. Para isto, transferiram-nos para
Lisboa. Muitos dos que sobreviveram retornaram ao Pará após a adesão à
Independência do Brasil.

Adesão do Pará à Independência

O Lord Cochrane, após de se conseguir, no final de 1823, a adesão do


Maranhão à Independência do Brasil, voltou à Amazônia, o último reduto
português no Norte. Incumbiu o capitão John Pascoe Greenfell para
desempenhar a missão. Comandando o brigue (navio a vela) “Maranhão”, com
uma tripulação de 96 homens, no dia 5 de agosto, Greenfell tomou rumo ao
Pará.

No dia 11, Greenfell enviou à Junta o oficio de Lord Cochrane, avisando que o
Brasil, do Sul ao Maranhão, encontrava-se sob o governo de D. Pedro I; faltava
apenas o Pará para que a nação ficasse independente. A notícia de que a
esquadra de Cochrane se encontrava fora da barra e que se emissário se
achava perto da ilha Periquitos, alvoroçou Belém. Foi convocado o Conselho,
para discutir o assunto. Após algumas horas de debates, o Conselho decidiu
aderir à Independência, contra os votos do general Moura. Lavraram uma ata e
enviaram-na a Greenfell. Desta forma, a data de adesão do Pará à
Independência do Brasil é 11 de agosto; no entanto, é festejada no dia 15, em
virtude de nesse dia ela ter sido oficializada.

Adesão do Pará à Independência.

Contudo a eleição da Junta Provisória do Governo, após a adesão do Pará à


Independência, não satisfez os nacionalistas. Ela era composta em sua maioria
por conservadores. Isso significava que, embora aderindo ao Império Brasileiro,
o Pará continuava sendo governado por elementos nitidamente comprometidos
com a Coroa Lusa. As preferências dos nacionais dividiam-se entre o cônego
Batista Campos e o bispo D. Romualdo Coelho.

Imediatamente após a posse, numerosos brasileiros enviaram à Junta uma


petição em que exigiram a demissão de cargos civis e militares de todos os
portugueses ou pessoas ligadas ao passado, que de uma maneira ou outra se
tinha mostrado contrários à incorporação do Pará ao Império. Como
encontraram resistência, uma coluna, sob o comando do alferes Pereira de
Brito, dirigiu-se para a residência de Batista Campos. O comandante pediu-lhes
que ordenasse a abertura das portas do Trem de Guerra. Apreciando os
sucessos, e ante à gravidade da situação, resolveram atender às exigências
dos revoltosos, e as portas do depósito de armas foram-lhe abertas. Depois
disso, conseguiram que todos os portugueses fossem demitidos de seus
cargos públicos e que Giraldo José de Abreu fosse substituído na presidência
por Batista Campos.

Entretanto, Greenfell e seus navios estavam fundeados na baía do Guajará. Na


noite do dia imediato, sabendo do que ocorria na cidade, mandou seus marujos
para à terra a fim de prenderem todas as pessoas que fossem suspeitas, sem
obedecer qualquer distinção social. Centenas de pessoas foram aprisionadas.
Na manhã seguinte (dia 17), Greenfell mandou que o Parque de Artilharia se
postasse no Largo do Palácio. Escolheu entre os prisioneiros cindo deles e
mandou fuzilá-los. Mandou prender Batista Campos. A prisão do líder
nacionalista foi efetuada pelo capitão Joaquim José Jordão. O inglês mandou
amarrar Batista Campos na boca do canhão. No instante em que ia ordenar o
disparo, muitas pessoas influentes, que ali se encontravam (entre elas o bispo
D. Romualdo Coelho), intercederam e o cônego foi poupado. Todavia, levaram-
no preso para bordo do brigue “Maranhão”, sendo de lá transferido para a
charrua “Gentil Americana”. Os civis e militares que tinham sido presos na noite
de 16 foram coletivamente assassinados no porão do brigue “Palhaço”. Foi a
maior chacina que havia ocorrido até então na história paraense; nada menos
de 252 pessoas ali perderam a vida. Em outubro de 1823, em Cametá houve
uma rebelião contra o morticínio no brigue “Palhaço”, bem como nas vilas de
Baião, Oeiras, Portel, Melgaço, Moju, Igarapé-Miri, Marajó, Abaeté, Muaná,
entre outras.

A Abrilada de 1833

Em julho de 1831 Bernardo José Gama, Visconde de Goiana, tomou posse no


governo do Pará, em substituição ao Barão de Itapicuru-Mirim, José Félix
Pereira de Burgos. Seu governo durou apenas 18 dias; uma revolta, chefiada
pelos caramurus tirou-o da chefia da Província. No Pará, desde a adesão à
Independência do Brasil, a política se dividia em dois grupos: Filantrópicos
(nacionalistas, chefiados por Batista Campos) e Caramurus (conservadores).
Os motins se sucediam. Os presidentes nomeados pela Corte enfrentavam,
logo após a posse, o problema de contentar um partido e descontentar o outro,
ou seja, a política paraense situava-se entre dois fogos. Com o Visconde de
Goiana aconteceu exatamente isto, suas medidas, como a extinção das formas
de trabalho forçado, recebiam apoio dos nacionalistas e a condenação dos
conservadores. Depois de 19 dias, o governador foi deposto e seu substituto, o
cônego Batista Campos foi preso dentro de um navio da esquadra imperial. A
nomeação do desembargador José Mariani (12 de dezembro de 1832) para a
presidência do Pará foi recebida festivamente pelo grupo que compunha o
Partido Caramuru, que começou a hostilizar, mais do que nunca, os partidários
Filantrópicos. Estes, vendo-se ameaçados tomaram suas providências:
dispuseram o povo a representar, por intermédio dos juízes de paz, à Câmara
Municipal, sobre a necessidade de sustar a deliberação do afastamento do
presidente Machado de Oliveira, até a deliberação da Regência.

Em 16 de abril de 1833, os juízes de paz das freguesias da capital foram


reunidos, à presença do coronel Machado de Oliveira, para comunicar-lhes
algumas exigências populares: a) sua permanência no governo da Província,
justamente com seu comandante de Armas; b) caso aceitasse que a Província
fosse administrada pelo Conselho Presidencial, contando que o
desembargador Mariani não tomasse posse. No dia 17, Machado de Oliveira
oficiou a Mariani, colocando-o a par do acontecimento. O desembargador
percebeu que não adiantava forçar sua posse. Isto significava a derrota do
Partido Caramuru. A abrilada representa o término das lutas entre os Partidos
Filantrópico e Caramuru; foi uma prestação de contas entre as duas
organizações que h á muito lutavam pela supremacia política no Pará. O
coronel governou o Pará até 4 de dezembro de 1833, quando foi substituído
por Lobo de Souza. No governo deste eclodiria a Cabanagem.

Os grandes projetos e a economia regional

Grandes Projetos: "desenvolvimento e progresso”.

Amazônia torna-se uma região-programa

A partir da década de 1950 houve, no Brasil, a consciência de que o Pará e a


Amazônia não deviam mais ficar isolados do resto do país. A Amazônia, por
sua enorme riqueza natural, começou a ser cobiçada por alguns países, que
defendiam a tese de que a Amazônia era um patrimônio extraordinário, não
explorado, e que devia ser internacionalizada: desta forma, um conjunto de
países poderia supostamente gerenciar os recursos naturais da Amazônia. É
assim que o Governo Federal teve a idéia de implantar um desenvolvimento
planejado para a região.
Para desenvolver a Amazônia, marcar a presença do governo federal na região
e protegê-la da cobiça internacional, foi criada a Superintendência do Plano de
Valorização Econômica da Amazônia (SPVA), em 1954. Foi a primeira
experiência no país de um plano governamental visando a valorização de uma
região. Com o Primeiro Plano Qüinqüenal (1955-59), o governo federal queria
constituir uma economia rentável e estável na região e converter a população
extrativista numa sociedade assentada em uma economia de base agrícola. O
governo não cogitou, de fato, de explorar a riqueza da floresta e dos rios da
Amazônia, embora este propósito estivesse no Primeiro Plano Qüinqüenal:

1 – produção de alimentos, em uma proporção pelo menos equivalente as suas


necessidades de consumo;
2 – produção de matérias-primas e produtos alimentares necessários à
economia nacional e que o país precisa importar;
3 – exploração das riquezas extrativistas e minerais;
4 – conversão da economia extrativista e comercial numa economia agrícola,
industrial e pecuária;
5 – aperfeiçoamento dos transportes;
6 – elevação do nível de vida e da cultura política e técnica de sua população.

O plano do governo federal possuía de fato diversos equívocos. A maior


riqueza da região conhecida na época eram a floresta e os rios. Mas o plano
visava dominar o meio de forma agressiva, isto é, derrubar a floresta a fim de
produzir a agricultura e a pecuária, após a derrubada ou a queimada da
mesma. Nesse período verifica-se o desenvolvimento do setor madereiro que
teve como conseqüência a derrubada de grandes extenções de mata, sem
qualquer preocupação com o reflorestamento. A produção de matérias-primas
estava voltada para serem exportadas, ou seja, gerando lucros no exterior. De
fato, o governo federal não aprendera a lidar com a Amazônia.

Nesse período criaram-se as universidades e centros de pesquisa científica


como a Universidade Federal do Pará - UFPA, a Faculdade de Ciências
Agrárias do Pará - FCAP (atualmente UFRA) e a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária do Estado do Pará – EMBRAPA, em Belém. Em
Manaus foi criado o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA.

Os Grandes projetos

O Estado do Pará, pelo seu potencial energético e mineral, passou a ser foco
de atenção. No Pará houve instalação de Grandes Projetos econômicos
voltados para o mercado internacional ou destinados à produção de insumos
para indústrias localizadas em outras regiões do país.

A década de 1970 no Brasil irá marcar um momento em que emerge no âmbito


político e econômico brasileiro um novo padrão de desenvolvimento baseado
na ocupação territorial, comandado pelo Estado e pelos Grandes Projetos,
postos em ação no âmbito dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs).
Isto surge inicialmente no governo do general Emilio Garrastazu Médici(1970-
1974).

A estratégia de desenvolvimento do governo Médici, que buscava a


recuperação econômica e a superação do subdesenvolvimento do Brasil,
pretendia realizar isto através de uma política nacional que visava transformar
o país em “nação desenvolvida” dentro de uma geração.

Texto e Contexto

“O objetivo síntese da política nacional é o ingresso do Brasil, até o fim do


século, no mundo desenvolvido. Para isso, construir-se-á, no País, uma
sociedade efetivamente desenvolvida, democrática e soberana, assegurando-
se, assim, a viabilidade econômica, social e política do Brasil como grande
potência.”

(SUDAM. Amazônia: política e estratégia de ocupação e desenvolvimento.


Política Nacional. Belém-Pará: Sudam/Divisão de Documentação, 1973. p. 5.)

Médici foi sucedido, em 1974, pelo general Ernesto Geisel (1908-1996). O


presidente Geisel, o quarto presidente da República (1974-1979) do ciclo
militar, governou com dificuldades econômicas devido à crise mundial do
petróleo.
Porém, Geisel optou por ampliar os programas de modernização
econômica para consolidar a base industrial, energética e tecnológica do país.

Neste contexto, um conjunto de medidas começou a transformar a economia


regional a fim de fomentar o tão pretendido desenvolvimento regional na
Amazônia. Cria-se a Superintendência de Desenvolvimento da
Amazônia (SUDAM), em substituição à SPVEA, e o Banco da
Amazônia (BASA), em substituição ao antigo Banco de Crédito da Amazônia.
Estruturas estas subordinadas diretamente à tecnocracia dos Ministérios e à
ação do poder central. Com isto pretendia-se afastar a influência do poder local
no tocante à tomada de decisões; isto mais um dos exemplos do autoritarismo
do regime militar imposto à região.

A ação de desenvolvimento econômico para a região amazônica adotada pelo


governo Geisel e consolidada no II Plano Nacional de Desenvolvimento e no II
Plano de Desenvolvimento da Amazôniadestacou ênfases ao processo de
desenvolvimento e modernização da economia regional, através da estrutura
industrial juntamente com a preocupação da exploração dos recursos naturais.
A finalidade desses planos era intensificar a integração da Amazônia na
economia do país e promover a ocupação territorial e a elevação do nível de
segurança na área por meio do alargamento da fronteira econômica e, com
isto, realizar a manutenção de altas taxas de crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB).

De fato, a Amazônia era vista como uma região marcada negativamente pelo
“rudimentarismo” de suas forças produtivas que a deixavam “à margem da
evolução econômica” do país.

Texto e Contexto

Durante três séculos e meio, o eixo econômico da Amazônia se desenvolve em


torno do rio, em cujas margens se instalaram as cidades e as comunidades
rurais. Durante três séculos e meio, com a mentalidade dominante voltada
quase exclusivamente para o extrativismo vegetal, dependendo
tradicionalmente da coleta da borracha, da castanha, das madeiras, das peles
de animais silvestres, a região se manteve à margem da evolução econômica
brasileira.
(SUDAM. A Amazônia e seus problemas. Economia. Belém-Pará:
Sudam/Divisão de Documentação, 1972. p. 16.)

Os Planos de Desenvolvimento para a região amazônica faziam parte da


ideologia da ditadura militar no Brasil; uma “ideologia do desenvolvimento”.
Traçaram e sustentaram as estratégias e os planos de crescimento nacional e
regional marcado por uma euforia desenvolvimentista para preservar e
legitimar a própria ditadura. Desempenharam um papel essencial na cantata
“Brasil Grande”, “Brasil Potência”, e pela busca da manutenção do “Milagre
Brasileiro”.

Em termos de realização de Grandes Projetos, os principais empreendimentos


produtivos que se instalaram na região amazônica foram estes: a Usina
Hidrelétrica de Tucuruí (UHT), sobre o rio Tocantins; o da Mineração Rio do
Norte (MRN), de exploração de bauxita metalúrgica, a noroeste do Estado, no
município de Oriximiná; o da Albrás e Alunorte de produção de alumínio e
alumina, respectivamente, localizados nas proximidades de Belém, no
município de Barcarena; o Projeto de Ferro Carajás (PFC), no sudeste do
Estado, no município de Parauapebas.

Algumas informações:

1 – bauxita: esta rocha é a matéria-prima para a produção de alumínio (ela é o


minério que dá origem ao alumínio);

2 – celulose: matéria-prima retirada da madeira e usada na produção de papel;

3 – caulim: argila necessária para a fabricação de papel;

4 – bauxita refratária: utilizada para tijolos de alto-fornos que funcionam com


temperatura superior a 1 500 graus, onde o tijolo comum não resistiria;

5 – alumina: obtida da bauxita; é a base da fabricação do alumínio;

6 – alumínio: metal utilizado na fabricação de panelas, aviões, estruturas


metálicas, janelas, etc.;

7 – silício metálico: amplamente utilizado em eletrônica (chips de


computadores, etc.);

8 – minério de ferro: rocha que contem uma grande proporção de ferro;

9 – ferro-gusa: ferro simples;

10 – ferro-liga: ferro aliado ao manganês; fica mais resistente que o ferro;

11 – cobre: metal muito utilizado em material elétrico;

12 – manganês: metal utilizado em ligas metálicas;

A Amazônia brasileira se insere no contexto da ideologia de desenvolvimento


regional e segurança nacional do regime militar. Era um período marcado pelo
autoritarismo, repressão, perseguição policial e militar, supressão de direitos
constitucionais e da liberdade de expressão nos meios de comunicação
mediante a adoção da censura prévia. Porém, contraditoriamente, foi um
momento também marcado por uma euforia desenvolvimentista.

A construção da rodovia Transamazônica e a implantação de Grandes Projetos


industriais e infra-estruturais, como a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, tinham de
certa forma um estreito relacionamento; faziam parte da estratégia geopolítica
militar para a região. Isto representou um processo expansionista
profundamente idealizado que buscava atingir o objetivo de ocupar os “espaços
vazios” da região amazônica. As conseqüências sobre o meio ambiente, a rica
biodiversidade regional e seus recursos naturais, e sobre o homem, em uma
região de povos e culturas diversificadas, eram vistas como parte de um projeto
maior.

Projeto ALBRAS-ALUNORTE

O Projeto Albras/Alunorte localiza-se no município de Barcarena e está voltado


para a produção industrial de alumínio a partir das jazidas de bauxita do rio
Trombetas (município de Oriximiná, Estado do Pará).

A origem dos projetos está na descoberta da jazida de bauxita no rio


Trombetas, entre as melhores do mundo. O minério encontrava-se quase na
superfície. Era retirada do estéril (as rochas sem valor) com uma “drag-line”,
máquina que retira 8 milhões de toneladas por ano. O início da implantação da
ALBRÁS/ALUNORTE foi dirigida pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)
que comunicou ao governo do Pará sobre o projeto destinado à produção de
alumina e alumínio tendo como sócios empresários japoneses que investiram
no projeto.

A Bauxita.

A Alumina.

Lingotes de Alumínio na Albras.

O projeto Albras/Alunorte, criado durante o período do regime militar, inserido


em um contexto de busca pelo desejado desenvolvimento regional,
crescimento econômico e segurança nacional, gerou (e gera) graves danos ao
meio ambiente e a população existente nas proximidades deste grande
empreendimento industrial.

Na região de influência do Projeto Albrás-Alunorte, nas redondezas do


município de Barcarena, ocorre com freqüência danos ao meio ambiente, como
os casos de poluição do rio Murucupi, situado no município de Barcarena, que
geraram envenenamento em suas águas, em decorrência de poluição
provocada pela Alunorte, o que atingiu diretamente o meio ambiente e
pescadores e ribeirinhos e suas relações de trabalho, a pesca, já que provocou
a morte de várias espécies de peixes no rio.

Área de recomposição de rejeito da bauxita da Alunorte Na época de chuvas


intensas no Pará, é comum está área transbordar e provocar poluição em sua
área de influência (ver em Texto Complementar).
Projeto Ferro-Carajás.

A Serra dos Carajás, serra do estado do Pará, ficou logo famosa pela imensa
riqueza mineral, principalmente ferro, cujo volume foi cubado em 5.000.000 de
toneladas. Formada de rochas cristalinas, corresponde a um planalto residual
que tem expressão no setor meridional dos estados do Amazonas e Pará. Os
planaltos residuais da Amazônia correspondem a um agrupamento de relevos
interpenetrados pela superfície pediplanada da depressão amazônica. Em
1967, ricas jazidas de ferro foram descobertas na serra dos Carajás pela
Companhia Meridional de Mineração, subsidiária da United States Steel
Corporation. A importância da descoberta originou o interesse da participação
da Companhia Vale do Rio Doce, tendo sido criada, em 1970, a Amazônia
Mineração S/A para desenvolver o Projeto Carajás. Outras reservas foram
descobertas: cobre, manganês, bauxita, níquel, estanho e ouro. Na região, logo
se deu muitos conflitos pela posse de terras.

Jornal O Globo, 07/07/1974.

O Projeto Ferro-Carajás corresponde a exploração da região, localizada no


Brasil, muito significativa em termos de riquezas minerais; uma das mais
importante do mundo. Abrange o sudoeste do Pará, o norte de Tocantins e o
oeste do Maranhão. A área tem potencial hidrelétrico, amplas florestas e
condições que permitem o reflorestamento para produção de celulose e carvão
vegetal. É cortada pelos rios Tocantins, Araguaia e Xingu. Foi em 1967, ano
em que foram descobertas suas riquezas minerais, que a região se tornou
extremamente valiosa. Essas riquezas, estimadas em aproximadamente 20
bilhões de toneladas, consistem em jazidas de cobre, estanho, ouro, bauxita,
manganês e níquel, e são passíveis de exploração por meio de tecnologia
simples, o que significa baratear o custo.

O minério de ferro, extraído na mina da Serra de Carajás, era então


transportado para o Maranhão. Lá fazia-se os lingotes de ferro, que são
exportados pelo porto de Itaqui. E o ferro ocupava, na época do início da
implantação do projeto, o terceiro lugar na pauta dos produtos de exportação
do Brasil. Daí vem a importância de Carajás e da sua Estrada de Ferro
Carajás; esta última construída na década de 80, uma obra de 900 km, através
da floresta.
Projeto Ferro Carajás na Serra dos Carajás.

A Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT)

A Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) foi construída pela Eletronorte no rio


Tocantins, na mesorregião do Sudeste Paraense, a treze quilômetros de
Tucuruí e a cerca de 350 quilômetros de Belém.

Rio Tocantins antes da formação do lago (16/06/1984). Imagem do Satélite


Landsat.

Rio Tocantins após a formação do lago (22/06/1992). Imagem do Satélite


Landsat.

Texto e Contexto

O Govêrno Federal procurando evitar e superar todos os pontos de


estrangulamento que retardam o desenvolvimento harmônico da área
amazônica envidará, no triênio 1972/74, todos os esforços no sentido de dotar
o setor Energia de um complexo compatível com as reais necessidades.
(SUDAM. Plano de Desenvolvimento da Amazônia (1972-1974). Capítulo 4,
Serviços Básicos. Belém-Pará, 1971. p. 65.)

O objetivo de construir a Usina de Tucuruí foi para gerar energia elétrica para
atender os projetos de extração mineral e a industrialização, principalmente, ao
Distrito Industrial de Alumínio em Barcarena e ao Projeto de Ferro em Carajás.

A Usina Hidrelétrica de Tucuruí, Tucuruí, Pará.

A Barragem da UHE de Tucuruí no Rio Tocantins. Imagem de satélite do


Google Earth.

Texto e Contexto

A construção dessa usina permitirá a criação de um pólo industrial com base


na metalurgia do alumínio a partir da bauxita do rio Trombetas. Marginalmente,
contribuirá para a exploração do minério de ferro da Serra dos Carajás, não
somente nos aspectos relacionados à lavra, terminais e siderurgia, como,
especialmente, no tocante ao transporte ferroviário, com a eletrificação da
ferrovia ligando a mina a Itaqui, no Maranhão. (SUDAM. II Plano Nacional de
Desenvolvimento; programa de ação do governo para a Amazônia (1975-
1979). Capítulo 7, Ação programada do Governo Federal para a Amazônia.
Belém, 1976. p. 75.)

A construção de grandes empreendimentos hidrelétricos provoca


muitos impactos sociais e ambientais negativos. Pode gerar a desaparição de
espécies devido ao alagamento de florestas.
Movimentos migratórios de peixes podem ser interrompidos, gerando o
desaparecimento de algumas espécies, o que pode atingir a relação de
trabalho da população local.

Um dos impactos sociais mais negativos diz respeito ao remanejamento das


populações atingidas pelo alagamento causado pelos reservatórios de
barragens, pois pode implicar em perda de qualidade de vida e em ameaças à
existência de vários grupos sociais.

As sociedades indígenas Parakanã, Asurini (ambos grupos Tupi) e os


chamados “Gaviões da Montanha” (um grupo local dos Parkatêjê, Jê-Timbira)
foram diretamente afetados com a construção e operação da Usina Hidrelétrica
de Tucuruí.

Esses grupos indígenas perderam parte de suas terras devido o alagamento


das mesmas pelas águas do reservatório da Usina de Tucuruí. As terras
desses grupos indígenas passaram a ser invadidas com freqüência,
principalmente por madereiros que realizam a retirada ilegal de madeira e
provocam queimadas nas florestas.

A população da região de Tucuruí também foi afetada devido ao enchimento do


reservatório da Usina de Tucuruí, sendo que muitas foram remanejadas de
suas casas, aproximadamente 1.500 famílias foram desabrigadas.

Arca - boletim do movimento dos desapropriados pela Eletronorte, 1983.

Aspectos administrativos e econômicos dos grandes projetos

Todos os grandes projetos foram decididos fora do Pará, a nível nacional


(governo federal) e internacional (empresas multinacionais de mineração). A
sociedade local pouco pôde interferir nas negociações.

Todos tratam de produção extrativa de minerais e de produção de energia


elétrica e, no caso da bauxita, da primeira transformação do minério.
Esses projetos todos visavam à exportação. Não há industria de transformação
dos minérios em produtos manufaturados (de consumo). Não há, no caso dos
minerais, empreendimento que não seja do interesse de outros países: o Pará
continua a importar produtos manufaturados de ferro e alumínio. Foi o mesmo
no caso da borracha e da madeira.

Todos utilizam tecnologia que faz uso intensivo de capital e poupa mão-de-
obra. Assim, geram poucos empregos.

Os países estrangeiros dominam o mercado da produção, de compra e venda


dos minérios, através de empresas multinacionais que operam na região no
mercado internacional, controlando os preços e a própria produção.
Finalmente, parecem poucas vantagens para o Estado do Pará e os municípios
da região.

Aspectos humanos dos grandes projetos

Praticamente todos os projetos provocaram uma grande mobilização de mão-


de-obra durante a sua implantação. Contudo, economizaram trabalhadores na
fase de funcionamento. Na fase de negociação, foram previstos 100.000
empregos na mineração e na metalurgia, mas, após a implantação foram
gerados somente 2.000 pela Alunorte e Albrás e 8.000 pelo Projeto Ferro-
Carajás.
Alguns projetos tiveram efeitos piores para as famílias que antes viviam em
Barcarena, onde foram construídas as fábricas dos projetos metalúrgicos e na
região que foi inundada pelo lago da represa de Tucuruí, provocando a
desapropriação de cerca de 10.000 famílias de pequenos agricultores e o
deslocamento de povos indígenas, como os Pacuruí e os Parakanã.

O surto da garimpagem

Até os anos 60, menos de 10.000 homens garimpavam no Pará. O número


subiu até 150.000 nos anos 80 (a metade do país), e cerca de 400.000 no
começo da década de 90. Foi a corrida de garimpeiros vindos de muitos
Estados pelas rodovias.

Desde o século XVI, os portugueses tiveram grande interesse em encontrar


ouro no Brasil, para isso organizando-se as entradas e bandeiras. A produção
aurífera expandiu-se até 1760, quando a diminuição dos veios, a baixa
tecnologia e o contrabando provocaram uma contínua decadência.

No século XIX novas tecnologias permitiram a retomada, mais modesta, da


produção e no século XX descobriram-se novas reservas auríferas em outros
estados, como a de Serra Pelada, no Pará.

Foi início dos anos 80 correu a notícia de ouro em Serra Pelada. Caminhões de
paus-de-arara chegavam à região, principalmente do sudoeste do Maranhão,
uma das regiões mais miseráveis do país. O Pará chegou a possuir mais de
800 garimpos em atividade. Em termos numéricos o Vale do Tapajós detinha a
maior parte. Lá os garimpos eram flutuantes, isto é, feitos sobre balsas.

Serra Pelada, em 1982. São 80.000 garimpeiros com sacos de terra para
extrair o ouro.

A extração de ouro é feita através de balsas ancoradas no meios dos rios e que
servem de base para as máquinas de sucção. Estas extraem o cascalho do
fundo dos rios. O trabalhador principal aí é o mergulhador. Surdez, morte por
afogamento são fatos corriqueiros. Mas isto é inexpressivo se comparado com
a contaminação por mercúrio.
De fato, o grande surto da garimpagem trouxe grandes conseqüências
negativas para a região. O uso de mercúrio no tratamento do ouro criou uma
situação nunca vivida pela região em termos depoluição química. O mercúrio
causa danos renais e sobretudo neurológicos. A maioria das pessoas
lesionadas por mercúrio ficavam definitivamente inválidas. A lesão neurológica
é irreversível. Os peões “brabos” eram comumente usados no serviço de
tratamento do ouro e, quando adoecem, são despedidos e quase sempre
retornam a seu lugar de origem. As espécies animais expostas ao mercúrio
produzem crias com deformidades congênitas. Os peixes de regiões
contaminadas não podem ser consumidos.

Texto Complementar

Mortandade de peixes em Barcarena deixa em alerta os órgãos


ambientais

O Liberal, 08/04/2003, caderno Atualidades.

O pescador Edval Moraes da Silva, 52, ergue do rio um tucunaré de quase três
quilos. Em outra situação a presa daria orgulho à pescaria de qualquer
ribeirinho do rio Murucupi, bairro do Laranjal, Barcarena, há 136 quilômetros de
Belém. Mas o peixe que Edval mostra não lhe da orgulho, não caiu na rede
nem na isca. Morreu asfixiado em um rio que agoniza por um desastre
ambiental. Desde sexta-feira 4, a maré tem trazido e levado centenas de peixes
mortos, principalmente tucunarés e acarás tinga, para o rio Arrozal, onde o
Murucupi desagua.

Não há certeza de quando o fenômeno começou. Alguns moradores da área


dizem que desde quinta-feira, 3, a água do rio, antes cristalina, vem ganhando
uma coloração marrom avermelhada. Na cabeceira do rio estão localizados os
esgotos da Vila dos Cabanos e da fábrica de alumínio Alunorte. Antes ainda há
um lixão a céu aberto que recebe os rejeitos domésticos da cidade.

Sindicato dos Químicos encontra tubulação poluindo rio Murucupi

O Liberal, 12/04/2003, Caderno Atualidades.

Uma tubulação que sai da empresa Alunorte e expele resíduos de cor


avermelhada que escoam por uma estrada até atingir a nascente do rio
Murucupi foi decoberta ontem por integrantes do Sindicato dos Trabalhadores
nas Indústrias Químicas do Município de Barcarena. De acordo com o
presidente do sindicato, Manoel Paiva, a tubulação sai de um local próximo às
baias de rejeitos da Alunorte, mas não passa pela “ala 82”, local que trata os
rejeitos químicos para garantir a redução de impactos ambientais.

Os representantes do Sindicato foram recebidos ontem mesmo pela gerência


de meio ambiente da Alunorte, para a qual foi apresentada a amostra dos
rejeitos expelidos pela tubulação. A amostra do material viscoso e de cor
avermelhada com partículas sólidas foi coletada no local por Paiva, que
também é estudante do terceiro ano de Engenharia Ambiental pela
Universidade do Estado do Pará (Uepa).

Segundo Paiva, a gerência ambiental da Alunorte informou desconhecer a


tubulação. “Eles se comprometeram a investigar a origem da tubulação,
analisar as amostras e nos apresentar os resultados em uma reunião na
próxima quarta-feira”, informou. Paiva também disse estranhar o
desconhecimento da empresa sobre a tubulação. “Se eles não conhecem, há
alguma falha muito grave no controle da emissão de rejeitos e dos impacotos
ambientais”, ressaltou.

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