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UM RIO DE CÂMERAS COM OLHOS SELETIVOS: USO DO

RECONHECIMENTO FACIAL PELA POLÍCIA FLUMINENSE

NUNES, P; SILVA M. R; OLIVEIRA S. S. R.

No ano de 2019 foi implementado no Estado do Rio de Janeiro, um projeto no qual o intuito
era ter um monitoramento por reconhecimento fácil pelo policiamento militar fluminense,
para colaborar com o combate da criminalidade e tendo uma “promessa” de uma maior
segurança e inovação nas políticas públicas para tentar apaziguar nos conflitos sociais. No
início, foi escolhido a época do carnaval para ser um teste de tal projeto, por ser uma época
com bastante movimento não somente de moradores da cidade como também de turistas,
tendo assim um aumento no índice de pessoas e assim também um maior índice de roubos e
muitas das vezes tendo uma dificuldade maior para conseguir auxiliar na identificação dos
suspeitos. Contudo na maioria das vezes, no processo de identificação por reconhecimento
facial, os suspeitos são na maioria das vezes pessoas negras. Foram feitos então, estudos para
saber se como foi feito o uso dos equipamentos de monitoramentos por reconhecimento
facial, sendo assim possível identificar se houve uso adequado ou não, no qual poderia violar
os direitos atribuídos a todos.  Contudo, em outros contextos marcados por extremas
desigualdades raciais, étnicas e de gênero, grupos historicamente vulnerabilizados estão mais
expostos as consequências dos erros cometidos por esses equipamentos.
Um dos problemas é que, em muitas das vezes o reconhecimento facial feito por esses
equipamentos, não obtiveram resultados nos quais foram esperados no início do projeto. Isso
porque, muitas das vezes os suspeitos foram presos por “engano”, como por exemplo na qual
uma mulher foi presa por engano por ser confundida pelo sistema de reconhecimento facial da
Polícia Militar. Logo após os testes feito no Carnaval de Copacabana, foram feitas
implementações na favela do Jacarezinho, na qual a mesma foi feita uma operação, havendo a
morte de 28 pessoas, tendo assim uma suspeita da violação dos direitos humanos. Mesmo
com o uso de câmeras de monitoramentos por reconhecimento facial, o número de crimes não
houve redução, como era o esperado no início do projeto.
Com tudo isso ocorrido no projeto, puderam perceber que o que muda não é a implementação
de novas tecnologias para monitoramento e sim precisa recompor a capacidade do Estado de
exercer o controle responsável de armas e munições, reforçar a atuação constitucional das
polícias. É importante frear projetos baseados em tecnologias com alto potencial
discriminatório, que potencializam a capacidade do Poder Público de ferir a dignidade
humana e ameaçar direitos humanos básicos, como o direito à liberdade e até mesmo o direito
à vida. A decisão sobre quem deve ser considerado suspeito ou continuar em liberdade não
deve ser delegada às máquinas.
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1
NUNES, Pablo. UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro / Rio de Janeiro State University, Instituto de
Estudos Sociais e Políticos, Doutorado em Ciências Políticas. Universidade Candido Mendes, Centro de Estudos
de Segurança e Cidadania ( CESeC), Research Assistant. UERJ- Universidade do estado do Rio de Janeiro/ Rio de
Janeiro, Laboratório de Análise da Violência (LAV-UERJ).
2
SILVA, Mariah Rafaela. Doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense. Mestre
interdisciplinar em Ciências Humanas pela Universidade do Estado do Amazonas com ênfase em História, teoria
e crítica da cultura. Bacharel em História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
3
OLIVEIRA, Samuel Silva Rodrigues. Pesquisador e professor CEFET-RJ. Pós doutor em História pela UFRJ.
Doutor em História, Política e Bens Culturais pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História

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