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João Pedro: Ouro.

José Luís: Ouro.

João Pedro: Ouro.

José Luís: Ouro.

João Pedro: Ouro.

José Luís: Achou alguma coisa?

João Pedro: Nada… Zé, vamos embora. Já trabalhamos o suficiente por hoje.

José Luís: Que nada, não achamos nada hoje. Vamos ficar mais uma hora. Ouro, ouro, ouro,
mais uma pedra que o Padre gosta! Pelo menos alguém vai ficar feliz.

João Pedro: Que ótimo pro Padre, agora vamos embora, eu quero tomar uma cachaça,
vamos jogar um baralho.

José Luís: Já disse que não! Além do mais, deixar de trabalhar pra ficar na vadiagem?

João Pedro: Melhor do que ficar catando pedra pro Padre. Zé, ele já não tem o suficiente?

José Luís: Ele está fazendo isso para o Menino Jesus, João Pedro! Ele quer fazer algo bonito
com essas pedras. Ao contrário de você, ele tem D’us no coração.

João Pedro: Já não está aqui quem falou, ofender o Padre? Longe de mim.

José Luís: Certo.

João Pedro: Zé, posso te contar uma coisa?

José Luís: Pois conte.

João Pedro: Mas não fica brabo, tu vais ficar brabo?

José Luís: Vais me ofender?

João Pedro: Não vou te ofender, homem. Posso contar? Certo. Eu não quero mais ser rico,
riquíssimo. Eu quero ter uma vida tranquila, quero descansar, tomar uma cachaça, com uma
morena bem linda ao meu lado. Viver em paz e tranquilidade, o que achas?
José Luís: Tu enlouqueceu? Como pode…

João Pedro: Podes não concordar, mas não podes brabo! Vais descumprir com a própria
palavra?

José Luís: Está certo… Tudo bem… Mas por quê? Por que deixar de ser rico e viver como
um profano?

João Pedro: Porque já estou cansado de tanto trabalhar no garimpo, acho que estou virando
algum tipo de bicho. Quero voltar a viver na cidade, tenho o suficiente para começar uma
vida nova em outro lugar.

José Luís: A escolha é sua, meu amigo, mas o meu filho será um doutor advogado. Posso
ficar aqui por mais alguns dias e procurar outro garimpo. Mas não voltarei para uma vida
comum.

João Pedro: A escolha também é sua, meu amigo.

(Atores andando pelo espaço)

João Pedro: Zé, vamos embora daqui? Já foi o suficiente ficar aqui.

José Luís: Ir embora daqui?

João Pedro: Sim, vamos para um lugar de praia.

José Luís: Salvador?

João Pedro: Não, melhor.

José Luís: Recife?

João Pedro: Melhor ainda, Rio de Janeiro!

José Luís: Rio de Janeiro?

João Pedro: Imagina, Zé… Nós dois morando no Rio. Aproveitando a vida lá, perto do mar,
nos bares de lá, podemos ser sócios em um comércio. Você leva a sua mulher, tu podes criar o
seu filho lá.

José Luís: Sim, o Rio de Janeiro, podemos ter um comércio com o ouro sonegado do quinto,
será ótimo olhar para a nobreza esnobe que acha que tirou ouro de nós!

João Pedro: É claro!


José Luís: Sem eles saberem que vamos ser tão ricos quanto eles!

João Pedro: É justamente isso!

José Luís: Eles acham que passam a perna em mim? Não! Nós somos mais espertos e vamos
ter dinheiro para ser respeitados!

João Pedro: Com toda certeza! O que tu achas? Aqui não tem mais nada pra nós! É só
pegarmos as coisas e ir.

Padre: Bom dia, senhores!

Garimpeiros: Boa manhã, Padre!

Padre: Como está sendo o trabalho?

José Luís: Bem ruim Padre, quase nada de ouro e muita procura. Já estamos pensando em ir
embora daqui…

João Pedro: Sim, queremos descansar um pouco, como está nas escrituras “No sétimo dia
descansou.”, não é Padre?

Padre: Está certo, João Pedro, não podemos ficar a trabalhar todos os dias, também
precisamos apreciar os frutos do nosso trabalho. Aqui eu trouxe um almoço para os dois. José
Luís, João Pedro.

Garimpeiros: Obrigado, Padre.

Padre: João Pedro, tu poderias buscar uma garrafa de aguardente que deixei para trás? Era
muitas coisas para trazer sozinho.

João Pedro: Sem problema nenhum, eu estou indo agora mesmo. Muito obrigado, Padre.

Padre: José Luís, como está a vossa coleta de pedras para o Menino Jesus?

José Luís: Está aqui, Padre! Consegui algumas hoje, se encontrar ouro fosse tão fácil quanto
essas pedras, eu estaria mais contente.

Padre: A riqueza de Cristo mora na simplicidade, na humildade, sem a necessidade de tanto


luxo. Não que o vosso trabalho seja cheio de riqueza, vosmecê trabalha para uma vida melhor
para vossa família. Ser um homem de família, o chefe da casa não é um trabalho simples.
Além disso, vosmecê trabalha para santificar o Senhor, é muita nobreza de vossa parte. Hoje
vou dedicar mais outra oração para vos mecê, José Luís, uma alma tão boa nos tempos de
hoje!

José Luís: Não há necessidade, Padre. O senhor está me deixando sem graça.

Padre: Há necessidade sim! Você carrega a pureza e dedicação que Abel tinha com o
Senhor. Mas não se esqueça de que a nobreza de Abel também despertou o mal no coração do
irmão. Tome cuidado, José Luís. Não que o mesmo possa acontecer com vos mecê, mas as
vezes almas boas despertam a inveja dos profanos.

João Pedro: Zé trouxe a nossa aguardente!

Padre: Então, eu vou indo. Tenham um bom descanso, senhores.

João Pedro: Ouviu o Padre, Zé? Vamos descansar!

(Transição de cena)

José Luís: Ouro. Ouro. Ouro…


João Pedro (observado José e garimpando): Zé, tu de ideia sobre…
José Luís: Eu vou ficar mais um tempo aqui, quero ficar uns dois meses, só irei embora
depois do Natal.
João Pedro: Por que mudasse de ideia?
José Luís: Eu não mudei de ideia, se tu queres ir amanhã ou semana que vem, tu podes ir.
João Pedro: Eu preciso de um sócio para o comércio, eu quero alguém de confiança. Não
tem nada aqui para nós!
José Luís: É apenas isso? Tu podes ir depois, pois é tão importante que eu vá junto.
João Pedro: Eu não tenho o suficiente para começar…
José Luís: É porque tu gastaste tudo nos bordéis. Tu és muito burro, João…
João Pedro: Eu sou burro? Burro és tu que queres ficar em lugar apenas dando dinheiro para
o patrão e catanto pedra sem valor.

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