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O Princípio do Bem

(Entram Carlos e Lúcio)


Carla – Ah Lúcio, sei lá! Eu acho que já perdi minhas esperanças nesse
mundo. Não tem mais jeito!
Lúcio – Como assim, Carla?
Carla – É tanta tragédia, pessoas se matando por motivos bobos, outras
passando fome, morando na rua, se afundando nas drogas, e no final, ninguém
se importa com ninguém. De verdade? Parece que eu só consigo ver ingratidão
e egoísmo. Esse mundo tem que acabar! Jesus tem que voltar logo!
Lúcio – É... Nisso Você está certa! São tempos difíceis, mas nós não podemos
pensar assim não! Ainda tem muita gente boa por aí.
Carla – Então elas estão com medo de sair de casa...
Lúcio – E quem não está, Carla? A vida pode ser dura, mas ainda tem muito
amor por aí, só temos que achar. Você não pode esquecer que é nosso dever
tentar mudar esse mundo pra melhor!
Carla – Mas como? Onde está esse amor? Eu só vejo tristeza e ingratidão!
Nem obrigado as pessoas dizem mais!!
Lúcio – Eu não sei! Mas, às vezes, só precisa que alguém seja bom uma vez,
pra que esse amor apareça e se espalhe. Tipo aquele versículo, onde o pecado
abundou, superabundou a graça.
Carla – Mas como eu posso fazer isso? (Entra João com um chapéu
engraçado)
Lúcio – Está vendo aquele cara ali de chapéu engraçado? Ei amigo, você
trabalha com chapéus? Porque o seu é muito estiloso, você fica ótimo nele!
(João fica um pouco receoso, mas logo abre um grande sorriso)
Carla – Mas só isso?
João – Muito obrigado, amigo!
Lúcio – Imagina! Isso pode parecer pouca coisa, mas daqui dá pra ver um belo
sorriso naquele rosto. Fizemos a diferença na vida dele. E ele disse “obrigado”!
Carla – Entendi! Mas sei lá! Parece meio difícil isso funcionar, nós somos
apenas dois, num mar de coisas ruins!
Lúcio – (já saindo) Carla, o que é o mar, se não um imenso amontoado de
gotas?! (João vai para o meio do palco)
Narrador – João é um simples vendedor de chapéus, estava tendo um dia
difícil, poucas vendas, por vezes pensou em abandonar tudo e sair por aí. Mas
para onde iria? A lojinha era a única coisa que lhe restara. Mas... Depois
daquele gentil elogio de um completo estranho, seus ânimos foram reavivados,
seus chapéus não eram cafonas, eram bonitos! As esperanças de João
estavam mais uma vez renovadas...
(entra um mendigo com frio)
João – Boa noite, caro senhor! Qual é o seu nome? Você parece estar com frio,
gostaria de ganhar um casaco?
José – (meio desconfiado) Me chamo José! O que você quer comigo?
João – Nada! Só pensei que você gostaria de uma ajudinha... (oferece o
casaco)
José – Sério? Muito... muito obrigado, senhor... (tentando adivinhar o nome)
João – João!
José – Obrigado mesmo! Eu estava morrendo de frio!
João – Disponha! (João sai de cena)
Narrador – Esse é o José. Catador de latinhas, não tem família, mora num
abrigo, mas nunca perdeu as esperanças. A vida pode ser difícil, mas pode
melhorar. Ainda mais depois de ganhar este belo casaco. Suas noites serão
mais quentes e confortáveis. A vida se mostrava boa mais uma vez...
(entra outro Moisés)
(José tira uma quentinha da bolsa, mas percebe a entrada de Moisés).
José – Ei amigo! Você tá com fome?
Moisés – To sim! Por quê? (José pega outra quentinha na bolsa)
José – Eu também to! Senta aqui e come comigo!
Moisés – Sério? Não precisa não...
José – Precisa sim, irmão! Toma!
Moisés – Cara, obrigado mesmo!!
José – Senta aí! (Moisés senta ao lado de José e começam a comer)
Moisés – Por que você me deu sua quentinha?
José – Como assim?
Moisés – Eu já te vi na rua catando latinha, essa comida devia ser seu almoço
de amanhã!
José – É verdade!
Moisés – Então por que você deu sua comida pra mim?
José – Por que sim, cara! Olha, eu recebi a grande benção hoje de ganhar uma
quentinha a mais. Por que não dividir essa benção com alguém?
Moisés – Mas você vai ficar com fome amanhã!
José É... Talvez... Mas você não vai ficar com fome hoje! E isso pra mim já vale
o sacrifício. A gente que vive da rua tá acostumado com o pouco, então dividir
é mais que obrigação! Talvez eu fique com fome amanhã, assim como estava
ontem, assim como provavelmente estarei daqui uns dias... Mas o que posso
fazer? Infelizmente nosso mundo é assim! Mas eu tento fazer minha parte pra
melhorar as coisas.
Moisés – Eu entendi... Muito... muito obrigado mesmo!
José – (Levanta) Eu já vou indo, amigo! Ainda tenho que catar umas latinhas...
Moisés – (levanta também) Tudo bem... De novo, obrigado!
José – Que nada... (sai de cena e Moisés fica olhando)
Narrador – Moisés já não comia há quase dois dias, mora numa kitnet e está
desempregado. Mais do que sem emprego, estava realmente sem esperança.
Porém, depois de um tamanho gesto de generosidade, um quase morador de
rua dividir sua única refeição?! Alguém havia se importado com ele! Agora,
Moisés estava disposto a tentar mais uma vez. (Entra Cristina cheia de
papéis) (Deixa tudo cair)
Cristina – Ai como eu sou desastrada! Sempre faço besteira!
Moisés – Com licença! (Ajuda a juntar os papéis) Desculpa perguntar, mas
você tá vindo de onde?
Cristina – Tô vindo do trabalho e indo pra faculdade! Por isso que estou cheia
de papel!
Moisés – Ah sim! Tá tudo bem? Você parece meio agitada...
Cristina – É que eu peguei ônibus errado e vim parar aqui, to procurando o
ônibus que passa na rua do meu trabalho há um tempão!
Moisés – Qual ônibus?
Cristina – 435!
Moisés – Ah o parador passa aqui mesmo! Mas o direto só passa lá na
esquina!
Cristina – Muito obrigado! Muito mesmo! Acho que vou conseguir chegar na
hora. (dá um suspiro de desespero) Ah não!! (começa a mexer nas bolsas
e na carteira) Não é possível!! Eu não posso ter sido tão idiota...
Moisés – O que foi? O que aconteceu?
Cristina – Não pode ser!! Eu esqueci meu riocard no trabalho! Meu Deus do
céu... O quê que eu vou fazer??? Se eu voltar pro trabalho, vou perder minha
aula e...
Moisés – (tira um riocard do bolso) Olha, eu posso te dar o meu se você
quiser!
Cristina – Que isso, moço! Não precisa! Eu vou tentar pedir um uber aqui... Ah
mas é muito longe, vai dar muito caro...
Moisés – Pode pegar! Eu faço questão! Olha ele deve ter menos de dez reais,
mas acho que dá pra você chegar no seu trabalho!
Cristina – Ai moço do céu! Então eu aceito! Nossa você não tem ideia de como
está me ajudando!
Moisés – (dá um pequeno sorriso e olha na direção que José saiu) Eu acho
que tenha ideia sim...
Cristina – Muito obrigado, moço! Eu não tenho palavras pra te agradecer!
Moisés – De nada, menina! Eu já vou, boa aula pra você!
Cristina – Obrigado, moço!
(Moisés sai de cena)
(Cristina fica muito feliz)
Narrador – Essa é a Cristina! Ela é muito guerreira, trabalha, estuda. Mas é
muito solitária, sente como se fosse invisível, como se ninguém se importasse
com ela. Mas, depois de uma enorme gentileza como a de Moisés, além de
mostrar o caminho para faculdade, ainda lhe deu seu próprio riocard... Mais do
que nunca Cristina se sentia muito especial.
(Entra Jorge bem cabisbaixo com um violão) (para ao lado de Cristina)
Cristina – Dia difícil?
Jorge – o quê?
Cristina – Seu dia, foi difícil?
Jorge – Bastante!
Cristina – Você não é o cara que fica tocando violão naquela praça perto do
mercado?
Jorge – Sou eu mesmo! Em pele, osso e fracasso...
Cristina – Fracasso? Como assim?! Você é supertalentoso! Sempre que passo
lá, você tá tocando uma música superanimada. Fico até mais feliz! Faz toda
diferença no meu dia.
Jorge – Jura? Eu pensei que ninguém me notasse ali...
Cristina – Claro que notam! Eu sou só uma das pessoas que te notam, pode ter
certeza! Muita gente ali gosta do que você faz. Não fica pensando essas
bobeiras não! Você é superimportante!
Jorge – Eu... eu não tinha ideia que fazia diferença pra alguém. Isso significa
muito pra mim!
Cristina – (olhando o relógio) Bom, nossa conversa está muito boa, mas acho
que tenho que ir andando pra pegar outro ônibus, já que o daqui não está
passando...
Jorge – Tudo bem! Muito obrigado mesmo!
Cristina – Disponha! (Cristina sai)
Narrador – Jorge ganhou o dia depois dessa conversa. Não tinha ideia de que
sua música era realmente ouvida por alguém. Se sentiu especial, se sentiu útil.
Depois de tanto tempo achando que era um péssimo cantor, através de um
simples elogio, algo bom iniciou-se em sua vida.
(Entra Renata e senta no banco)
(Jorge percebe a tristeza, dá uma afinada no violão e começa a cantar
suavemente).
(Música ?)
Renata – Por que você fez isso?
Jorge – Sei lá! Quando eu fico triste a coisa que mais me anima é escutar uma
música bem legal. Essa que eu cantei é uma das minhas prediletas, sempre
me anima.
Renata – Você tá certo! Me animou um pouco mesmo, eu nem lembrava que
conhecia essa música...
Jorge – Todo mundo conhece. Pensa da letra dela, eu sei que provavelmente
você está passando por alguma coisa muito ruim, mas Deus tá no controle de
tudo. Às vezes o melhor que a gente pode fazer é manter a calma, se planejar,
e confiar que as coisas vão melhorar...
Renata – Qual é seu nome mesmo?
Jorge – Jorge Bento!
Renata – Jorge, muito obrigado mesmo! Você não faz ideia de como foi
importante ouvir isso! Era exatamente o que eu precisava!
Jorge – Eu que agradeço! Meu dia também foi salvo hoje. Eu já vou indo...
Renata – Vai com Deus!
Narrador – Renata sempre foi muito esforçada, trabalha duro, mas as coisas
parecem que não colaboram com ela. O salário atrasou de novo, o filho mais
novo está doente... Mas não é hora de desânimo, ainda mais depois de uma
mensagem de Deus tão clara... (Entra Régis tentando falar no celular)
Régis – Alô? Alô? Cláudia tá me ouvindo? Alô? Busca ele na escola pra mim!
Entendeu? Alô? Não, buscar o Felipe! Alô? Ah droga descarregou!
Renata – Ei colega, pode usar o eu se quiser.
Régias – O seu o quê?
Renata – O telefone! Você não tá tentando ligar pra alguém?
Régis – Ah claro! Muito obrigado mesmo! (pega o telefone e começa a ligar)
Eu não vou conseguir chegar a tempo de buscar meu filho hoje, precisava
avisar minha irmã.
Renata – Você é pai solteiro ne?
Régis – Sim! Como você sabe?
Renata – A minha mãe também era! Vida complicada ne!
Régis – E põe complicada nisso! Alô? Cláudia? É o Régis! Meu celular estava
meio sem sinal e descarregou. Tem como você buscar o Felipinho pra mim
hoje? Isso! Eu passo aí pra buscar ele. Tá ótimo! Tchau!
Renata – Deu certo?
Régis – Deu sim! Valeu mesmo por emprestar seu celular! Eu já estava ficando
desesperado, morro de medo de deixar meu filho sozinho.
Renata – (dá uma pequena risada) Tá certo...
Régis – Que foi?
Renata – Nada... Você me lembra minha mãe... O tempo inteiro tentando me
proteger dos perigos desse mundo...
Régis – Mas é isso que um bom pai faz, não é?
Renata – Não sei... Mas era o que minha mãe fazia.
Régis – E deu certo?
Renata – Acho que sim... Mas eu não deixei de sofrer com as coisas do
mundo, não tem como evitar.
Régis – Eu sei... No fim, a gente faz o nosso melhor e torce pra dar tudo certo.
Sua mãe fez um ótimo trabalho, você deveria dizer isso pra ela!
Renata – Eu disse isso muitas vezes...
Régis – Então diga mais uma!
Renata – Eu bem que gostaria, mas infelizmente ela faleceu um tempo atrás...
Régis – Oh... Me desculpa! Eu sou um idiota! Eu não queria...
Renata – Está tudo bem! Eu... Tá tudo bem!
Régis – Mas... faz quanto tempo?
Renata – Alguns meses... Mas eu to bem...
Régis – Tem certeza?
Renata – Sim... Eu só fico lembrando dela às vezes, e pensando em tudo que
ela me ensinou, em tudo que ela foi pra mim. Nós estávamos super bem
quando ela se foi, não tenho nenhum arrependimento sobre nossa relação,
mas... É saudade! Eu só queria que ela vivesse pra sempre... Não queria
precisar ficar de luto!
Régis – É como dizem, o luto é o amor que perdura...
Renata – Eu só queria poder sentar com ela e tomar um café, conversar sobre
o meu dia, reclamar dos netos dela, agradecer por tudo que ela foi pra mim
Régis – Ela com certeza tinha muito orgulho da filha que você se tornou...
Renata – Tomara! Eu só sinto que devia ter feito mais por ela, na verdade,
talvez eu tivesse uma dívida de amor com ela, mas que nunca conseguiria
pagar...
Régis – Mas com certeza sua mãe nunca te cobrou essa dívida... É o nosso
dever como pais né?! Dar o melhor pros nossos filhos, sem esperar nada em
troca.
Renata – Tá certo! E... você é um ótimo pai! Parabéns...
Régis – Sério? Você acha?
Renata – Claro! Se fosse outro, nem ia ligar em deixar o filho esperando...
Régis – É tá certo! Eu sou um bom pai!
Renata – Claro que é! Eu já vou indo, Boa noite!
Régis – Muito boa noite! (Renata sai)
Narrador – O maior medo da vida de Régis é não ser um bom pai. Ele teve
uma infância difícil, sempre muito pobre. Por isso faz de tudo para dar só do
bom e do melhor para o filho. Porém, as dificuldades da vida lhe fizeram
questionar seu papel como pai. Mas um simples e inesperado elogio acabou
com qualquer dúvida e trouxe à tona uma felicidade inexplicável. (Entra Júlia
muito agitada mexendo numa bolsa)
Júlia – Não pode ser! Não acredito! Não, não, não!
Régis – Moça o que que aconteceu?
Júlia – Olha só! Hoje é aniversário do meu irmão mais novo, e ele nunca me
pede nada, é um anjinho! Ele merece um presente legal. E eu achei o presente
perfeito! O problema é que eu perdi 50 reais hoje. CINQUENTA REAIS! Ai o
dinheiro que eu tenho não dá pra comprar o presente...
Régis – E quanto que falta?
Júlia – 40 reais!
Régis – Faz assim, leva esses 50 e compra um embrulho legal.
Júlia – O QUÊ?? Não eu não posso aceitar! De jeito nenhum!
Régis – Nossas crianças são uma das coisas mais importantes das nossas
vidas, eu sei muito bem, sou pai de uma. Às vezes a gente se esforça tanto,
mas não consegue dar o melhor. Eu sei muito bem como é isso. Pode ficar.
Júlia – Jura? Muito obrigado mesmo! Eu juro que um dia vou te devolver!
Caracaa eu não to acreditando! (Dá um abraço em Régis)
Régis – Fica com Deus!
Narrador – Júlia cresceu numa boa família, porém, seus pais sempre foram
muito ausentes. Por isso, ela faz de tudo pelo seu irmão caçula, para que ele
não sinta falta do apoio dos pais. Ela tem trabalhado muito e juntado dinheiro
para dar um bom presente pro irmãozinho. E graças à gentileza de Régis, ela
conseguirá... (Entra Carla bem devagar, mexendo na carteira).
Júlia – (no telefone) Regina? Você guardou aquele brinquedo que eu te pedi?
Isso! To indo ai buscar! (Carla tenta colocar a carteira, mas ela cai no chão)
(Júlia percebe)
Júlia – Moça! Moça! Sua carteira caiu! Aqui! Boa noite! (Sai bem rápido)
(Carla fica olhando meio sem entender o que aconteceu, dá um sorriso e
sai) (Luz se apaga).
Narrador – Portanto ide e pregai o evangelho a toda criatura. Esse evangelho
não pode ser pregado somente com palavras, mas deve ser espalhado através
de atitudes. Seja grato por tudo que Deus faz por você, mas também pelo que
as pessoas fazem por você. A gratidão é uma das mais belas formas de
demonstração de amor. Mesmo que pareça óbvio, diga pra quem você ama,
que você a ama! Não se deixe levar pelo comodismo. Espalhe o bem pelo
mundo. O bem ilumina o sorriso, nos dá proteção, é o nosso abrigo num mundo
de armadilhas e perigos. Pequenas atitudes fazem toda diferença na vida de
alguém, e também na vida de quem nós amamos. O amor contagia. Seja um
começo de benção na vida de alguém, desperte o desejo de ser melhor nas
pessoas, seja a fagulha que fará o mundo queimar em amor, viva o evangelho.
Se a luz do sol não para de brilhar, se ainda existe noite e luar, o mal não pode
superar o nosso amor que Deus pôs em nossos corações. Todos nós somos
capazes de amar e ser gratos pelos que estão a nossa volta. Você pode dar
início a uma onda de coisas boas na vida de alguém apenas com uma atitude
real de amor e carinho. Nunca perca as esperanças, não desanime, lute para
viver num mundo melhor, a começar por você. Seja o princípio do bem.

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