Você está na página 1de 19

PAIXÃO DE CRISTO 2024

Cia. de Teatro Cena Viva


Direção: Felipe Veiga

1
CENA 01 – PÁSCOA
(Pedro e João entram exaustos de tanto caminhar)

Pedro – João, a Festa dos Pães sem Fermento já está acabando... Estamos
andando há horas e ainda não achamos ele. Estou cansado! Vamos fazer
uma pausa?!

João – Não Pedro! Precisamos continuar. O mestre confia em nós pra


preparar o jantar de Páscoa. E acaso não lembra o que o ele disse quando
perguntei onde queria que preparássemos a ceia pascal? (Pedro fala a
frase junto com João) “Ide à cidade e encontrarão um homem carregando
um cântaro de água, sigam-no até onde ele entrar.”

Pedro – Sim, você já repetiu várias vezes... Eu só estou preocupado...


Com tudo que vem acontecendo, estar aqui em Jerusalém é perigoso. E se
soldados romanos nos virem?

João – Eu entendo você estar com medo Pedro.

Pedro – (Corajoso) Eu não estou com medo!

João – Pedro, eu te conheço... (Eles se encaram) Acaso esqueceu da


calorosa recepção que tivemos ao chegar em Jerusalém quatro dias atrás?
Jesus veio até montado em um jumento.

Pedro – Não esqueci. E é justamente isso que me preocupa, muita gente


nos viu aquele dia, e se...

João - O ponto é: Temos que fazer o que mestre nos pediu... Além do
mais, já devemos estar perto, e outra, não estamos devendo nada pra
ninguém...

(Entra em cena um homem carregando um cântaro de água)

Pedro – Olha João, não será aquele homem? Ele traz um cântaro de água.

João – Não sei... vamos perguntar.

Pedro – Mas o que dizemos a ele?

João – O que o mestre nos pediu pra falar.

Pedro – Tá, mas e se não for ele?

João - Só tem um jeito de saber...

(Eles se entreolham e Pedro sai em direção ao homem, João o segura)

João – Pedro! Espere! Precisamos perguntar pelo dono.

2
Pedro – (Se aproximando do homem) Ei! Poderia me dizer onde posso
encontrar o dono da casa?

Homem – Sim, sou eu mesmo.

João – (Tomando a frente) O Mestre pergunta: “Onde está o cenáculo em


que comerei a Páscoa com meus discípulos?”

Homem – O Mestre? (Sorri) Oh sim! Claro! O cenáculo é aqui.

Pedro – Até que enfim...

(João e Pedro começam a seguir o homem e param)

Pedro – João, espere... E os outros?

João – Volte avisá-los.

Pedro – Eu? Porque eu?

João – Você conhece melhor o caminho... E eu preciso resolver as


coisa por aqui.

(O homem aparece no meio deles)

Homem – Vocês vão ficar parados aí?

João – Eu o acompanho.

Homem – Vem... É lá no andar de cima.

(João olha para Pedro e sai. Pedro sai pelo outro lado)

Jesus – (Voz) “Ele mostrará uma grande sala mobiliada. Preparem ali o
jantar da Páscoa.”

(Blackout)

CENA 02 – SANTA CEIA


(Os doze discípulos entram em cena, montam a mesa, colocam os copos e
jarros e preparam a ceia)

Tiago – (Intrigado e com medo) Pedro, Pedro... (Puxando Pedro pelo


braço) Pedro, isso é muito perigoso, nós não deveríamos estar aqui em
Jerusalém e se os soldados nos encontrarem? As pessoas estão falando
da chegada do messias em Jerusalém...

3
Pedro – (Interrompendo) Olha, não quero falar nisso, eu quase tive uma
discussão com João sobre isso. (Corajoso) O mestre pediu para que a
ceia fosse realizada aqui... O porquê eu não sei, mas saiba que eu
morrerei com ele, se assim for necessário.

(Pedro sai e junta-se aos outros que estão espalhados pelo cenário,
uns sentados e outros de pé)

Tiago – (Medo) Morrer? (Procurando) Pedro...? (Vai até João) João...

João – (Arrumando a mesa) Que foi?

Tiago – Você não acha que é muito perigoso fazer essa ceia aqui? Estamos
praticamente no centro de Jerusalém e Pedro vem me falar de Morte...

João – (Interrompendo) Tiago, sei que tem muita coisa acontecendo, mas
nós precisamos confiar em Jesus, ele confiou a nós o jantar de Páscoa.

(Jesus entra em cena, olha todos os seus discípulos, então ele pega
uma toalha, um vaso de água e derrama em uma bacia e começa a lavar
os pés dos discípulos e enxugá-los com a toalha)

Pedro – (Tirando o pé e levantando) Senhor, queres lavar-me os pés?

Jesus – O que faço não compreendes agora, mas compreenderá em breve.

Pedro – Jamais me lavarás os pés!

Jesus – (Levanta e olha bem nos olhos de Pedro) Se eu não os lavar, não
terás parte comigo.

Pedro – Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.

(Pedro se senta e Jesus lava seu pé)

Jesus – (Se dirigindo a todos) Aquele que tomou banho não tem
necessidade de lavar-se, pois está inteiramente puro. Vocês estão puros
(Olhando fixamente pra Judas). Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais de
Mestre e Senhor, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre,
vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros.
Pois o servo não é maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do
que aquele que me enviou.

(Jesus chama os discípulos para se sentarem ao redor da mesa)

Jesus – Amem... uns aos outros assim como eu vos amei... Vós sois meus
amigos e não a amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos...
Eu desejei ardentemente comer desta páscoa convosco, pois não vou mais
comer dela até que se realize plenamente o reino de Deus. (Pegando o
pão) Tomai todos e comei, este é o meu corpo. (Distribui o pão, pegando

4
o cálice de vinho) Tomai todos e bebei, este é o meu sangue, o sangue
da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos para a
remissão dos pecados, façam isso em minha memória... (Distribui o vinho)
Eu vos digo agora antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês
acreditem. É para que o mundo saiba que eu faço como o Pai me mandou
(Pausa). Em verdade, em verdade vos digo, vocês chorarão e se
lamentarão, e o mundo se alegrará, mas a sua tristeza se converterá em
alegria, porém para onde vou, vocês não podem ir... ainda.

Judas – Senhor.

Jesus – Sim... Judas?

Judas - Se não sabemos aonde está indo, como saberemos o caminho?

(Pausa, Jesus olha para Judas e depois pros demais discípulos)

Jesus – Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vai ao Pai se não


por mim... (Pausa) Pois eu afirmo um de vós a de me trair.

(Os discípulos ficam agitados, começam a falar uns com os outros,


alguns até se levantam)

João – Silêncio... (Todos param) Senhor! E quem será?

Jesus – Aquele a quem eu der um pedaço de pão.

(Jesus calmamente pega o pedaço de pão e vai na direção de Judas)

Pedro – O que?

Tiago – Nâo é pode ser.

(Entrega o pão para Judas, que olha fixamente para Jesus)

Judas – (Para Jesus) É isso então?

Jesus – Judas... Faz logo o que tens que fazer.

(Eles se encaram por um instante, Judas sai do correndo, os


discípulos ficam agitados e conversam)

Jesus - Todos vocês... (Os discípulos silenciam) Se escandalizarão por


minha causa esta noite, porque está escrito: “Ferirei o pastor e as
ovelhas do rebanho se dispersarão.”, mas depois da minha ressurreição
eu encontrei vocês na Galileia.

Tiago – (De súbito) Ressurreição?

5
Pedro – (Interrompendo Tiago) Mestre, mestre... Embora todos se
escandalizem por sua causa, eu jamais me escandalizarei. Para onde for
Senhor, eu te seguirei, para a prisão... e até mesmo para a morte.

Jesus – (Se dirigindo a Pedro) Eu declaro a você essa verdade: Esta


noite, antes que o galo cante três vezes me negará.

Pedro - Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei.

(Blackout)

CENA 03 - ORAÇÃO E PRISÃO


(João e Tiago entram)

João – Tiago, o que será que está acontecendo?

Tiago – Não sei. Faz tempo que... Espera, porque só viemos nós três?

(Pedro entra em cena interrompendo a conversa)

Pedro – Tiago... João... O que está acontecendo?

Tiago – E o que queremos saber...

(Entra Jesus apressado e perturbado)

Pedro – Senhor... Senhor.... espere, porque os outros não vieram


conosco? Eu jamais...

Jesus – (Interrompe Pedro com arrogância) Agora não Pedro! Estou muito
angustiado, minha alma está com uma tristeza mortal. Fiquem ali e
vigiem, enquanto vou ficar aqui rezando.

Todos – Sim, Senhor.

(Jesus vai até o procênio, os discípulos deitam e dormem)

Jesus - Pai me defende e me salva das armadilhas que me preparam. Afasta


de mim este cálice. Se não for possível que seja feita a vossa vontade...
Tenho tanto medo de não suportar...

Diabo – (Voz) Jesus, seu Pai não o ajudará, Ele quer que passe por cada
passo doloroso que vem pela frente...

Jesus – É o desejo Dele!

(Congela, entra Judas e um soldado)

6
Judas – (Trêmulo) Ele está em um lugar chamado Getsêmani, eu já fui lá
com os outros, eu os guiarei.

Soldado – Quantos estarão lá?

Judas – Doze.

Soldado – E como saberemos quem é ele?

Judas – Aquele que eu beijar é Jesus.

(Judas sai, em seguida o soldado, descongela a cena do Getsêmani.


Jesus se aproxima dos discípulos e vê Pedro dormindo)

Jesus – (Indignado) Pedro, não pode vigiar uma hora comigo? (Pedro
levanta) Vigiai e orai para que não entrem em tentação... O espírito
está pronto, mas a carne é fraca.

Pedro – (Curioso) Senhor, o que aconteceu?

João – (Atencioso) Quer que chamemos os outros?

Jesus – (Aterrorizado) Não! Não João, não quero que eles me vejam assim.

Tiago – (Medo) Devemos fugir?

Jesus – Não Tiago. Fiquem aqui, vigiem (Se afasta) e orem.

Pedro – Ele parece aterrorizado. O que aconteceu?

João – Não sei, na ceia ele falou de perigo, traição e...

Todos – Morte! (Efeito sonoro: Corvo).

(O Diabo se aproxima de Jesus que está ajoelhado no procênio)

Diabo – O Desejo Dele você disse? O desejo dele é que você seja açoitado,
cuspido, humilhado, arrastado nas ruas, jugado, condenado e
crucificado. Você viu, mas não sabe como é ter pregos perfurando suas
mãos e seus pés, horas e horas de agonia, seu próprio corpo esmagando
seus pulmões e você ali... Sufocando. Vai suportar tudo isso sozinho?
Veja eles... (Aponta os discípulos) Não conseguem nem ficar acordados.
Você realmente acredita que um só homem pode carregar todo esse fardo?
É pesado demais... eu te asseguro, ninguém pode. Será tudo em vão Jesus.

Jesus – Não! (Levanta) Não é em vão, através de mim Deus vai revelar
seu Amor pela humanidade.

Diabo – Amor? Deus? Humanidade? (Ri) Esse Deus invisível que castiga e
deixa seus filhos morrerem de fome?

7
Jesus – (Afrontando) Não é em vão!

Diabo – (Afrontando de volta) Sim é em vão. Deixe-me lhe falar sobre o


futuro. Cruzadas em seu nome. “Jesus Cristo” gritam enquanto matam.
(Efeito sonoro: “Em nome de Jesus Cristo” 2x). Matar em Nome de Cristo
será negócio ao longo dos séculos. É por isso que você está morrendo,
dando-lhes mais outro motivo para se matar e torturar uns aos outros,
é isso que você quer? Ora, não estou pedindo para que se ajoelhe, essa
conversa nós já tivemos, o que eu quero dizer, é que é só você desistir
disso tudo e simplesmente, fugir. Fuja!

(Jesus ajoelha. Efeito sonoro: Bombas, gritos, guerra, metralhadora)

Diabo - Você pode impedir isso esta noite é só descer da cruz. Porque
morrer quando pode assumir o controle? Faça da Terra o paraíso! Acabe
com a pobreza, a fome, a guerra, você pode fazer isso está dentro do
seu poder. Faça!

Jesus – (Reflete) Não... Não posso! Não é o desejo de Deus.

Diabo – (Sarcástico) Como não é o desejo de Deus acabar com a guerra?


Que tipo de Deus é esse?

Jesus – (Se levanta, convicto) O Deus que ama tanto a humanidade que
lhes deu a oportunidade de escolha. Ele não criou os homens para se
tornar seu ditador. Ele lhes de a escolha de fazer o bem ou o mal.

Diabo – E foi o mal que eles escolheram.

Jesus – (Conformado) Sim... E eu o perdoo.

Diabo – (Gritando) Eu não preciso do seu perdão! (Se acalmando) Olha,


é só você querer e seu Pai pode vir lá dos céus e cuidar de você.

Jesus – (Ignora e se ajoelha) Protegei-me Pai. Confio em ti. Em ti


busco refúgio. (Ênfase) Afasta de mim esse cálice! Porém.... Não faça
como eu quero e sim como tu queres.

Diabo – Jesus! Sabe que Judas está bem próximo, vindo com os soldados.
É sua última chance... Fuja e viva!

Jesus – Meu Pai!

(O Diabo vai se afastando sem conseguir enxergar)

Jesus - Se for possível, que passe sem que eu beba, afasta de mim este
cálice. Mas seja feita a tua vontade.

8
(O Diabo sai de cena, Jesus tem uma angústia suprema, em seguida
aproxima-se Judas com os soldados, Jesus e os discípulos agrupam-se)

Soldado – Procuramos Jesus de Nazaré.

Jesus – Sou eu.

(Judas tenta fugir, os soldados o seguram e ele se aproxima de Jesus)

Judas – (Amedrontado) Salve Mestre. (Beija)

Jesus – Judas! Com um beijo que entregas o filho do homem!

(Um soldado se aproxima de Jesus e então Pedro lhe corta a orelha. Os


demais Soldados imobilizam Pedro e João enquanto Tiago foge, Jesus se
ajoelha e cura o soldado com a orelha cortada)

Jesus – (Com a mão na orelha do soldado) Pedro! Solta tua espada.

Pedro – Mas Senhor...

Jesus – Solta a espada Pedro! (Pedro solta e Jesus Levanta) Pois todos
aqueles que usarem da espada, pela espada morrerão (Prendem Jesus).

Soldado – (Para o soldado caído) Vamos! Já o pegamos.

(Blackout)

CENA 04 – ACUSAÇÃO DE CAIFÁS E NEGAÇÃO DE PEDRO


(No Blackout entra em cena o povo, fazendo muito tumulto. Depois
entra João seguido de Maria e Madalena)

João – Vem Maria, Madalena, por aqui.

Madalena – João, espera.

João – Eles vão trazê-lo aqui Madalena.

Madalena – João. (Eles param) Você nos trouxe aqui no meio da madrugada
dizendo que Jesus foi preso, como isso possível? É crime...

(Pedro entra em cena como se estivesse se escondendo)

João – (Interrompendo Madalena) Vocês precisam confiar em mim.

Maria – (Olha Pedro) Pedro... Pedro...

(Pedro olha e se aproxima dos três)

9
Maria - O que aconteceu?

Pedro – Eles o prenderam mãe, em segredo, na calada da noite para


esconder de Pilatos.

Madalena – (Abismada) Não podem fazer isso! É crime fazê-lo desta


maneira. Nâo podem prender Jesus, ele não fez nada.

Pedro – Soube que vão acusá-lo de violar as leis do Templo...

(Pedro se mistura no meio da multidão, João, Maria e Madalena vão


para um canto. Os soldados entram com Jesus e em seguida os fariseus
entram pelo outro canto, muito sérios e começam a acusar)

Fariseu 1 – Caifás. Este é Jesus de Nazaré, o agitador.

Caifás – Jesus, você é Rei?... Onde fica teu reino?... De que casa real
descendes? Fala!... Ora, não passa de um filho de carpinteiro.

(Os fariseus e o povo riem)

Fariseu 1 – (Vai até Jesus) Porque não diz nada? Foste trazido aqui
como blasfemo, defende-te!

Jesus – Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo


onde todos se reúnem. Porque me perguntas? Pergunta aos que me ouviram,
estes sabem o que eu ensinei.

(Um soldado entra na frente de Jesus e lhe dá um tapa na cara)

Soldado – (Puxando pelo cabelo) É assim que responde ao sumo sacerdote?

Jesus – Se falei mal, me mostre em que, mas se falei bem, porque me


bates?

(Tumulto do povo. Maria, Madalena e João saem de cena)

Caifás – (Acalmando o tumulto) Vamos escutar as blasfêmias.

Fariseu 2 – (Espalhafatoso) O homem que cura demônios com a ajuda dos


demônios.

Fariseu 3 – Este homem se proclama o rei dos Judeus! Não.... Pior! Ele
se proclama o Filho de Deus.

Fariseu 2 – (Com raiva) Este homem disse: “Posso destruir o templo de


Deus e reconstruí-lo em três dias. E não será feito pela mão dos homens.”
Blasfêmia!

10
Fariseu 1 – (Amenta o tom de voz) Ele se diz o pão da vida, quem não
comer da sua carne e não beber do seu sangue não terá vida eterna.

Povo – (Tumulto) Blasfêmia... Blasfêmia... Blasfêmia...

Caifás – Silêncio! Vocês estão todos enfeitiçados, mostrem alguma prova


do que dizem ou calem-se... (Para Jesus) Não tens nada a dizer em tua
defesa? Ora, diga-nos! És Cristo? O Filho de Deus vivo?

Jesus – (Sereno e calmo) Sim! E verá o filho do homem sentado à direita


de Deus Todo-Poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu.

Caifás - (Grita) Não temos a necessidade nem de testemunhas. Isso saiu


da sua boca. Todos acabaram de ouvir a blasfêmia! Qual o seu Destino?
(O povo reunido junto aos fariseus diz “morte” repetidamente, então
Caifás se aproxima cospe e dá um tapa na cara de Jesus). Adivinha só ó
Cristo quem acaba de te bater. (Fala então aos soldados) Prendam-no,
no calabouço. O levaremos a Pilatos ao amanhecer.

(Os soldados levam Jesus, os fariseus saem de cena, permanecendo


apenas o povo e Pedro, então algumas pessoas reconhecem Pedro)

Acusador 1 – (Pega ele pela gola da túnica) Este homem também estava
com Jesus o Galileu. Sim, tu és um dos discípulos dele.

Pedro – (Se soltando) Não, eu não o conheço. Nunca vi este homem antes.

Acusador 2 – (Puxando pelo braço e chamando o soldado) Soldado, vem


aqui, olha, és Pedro, um dos discípulos de Jesus.

Pedro – (Desesperado) Não, está enganado. Eu não sou. Nunca o vi antes.

Acusador 3 – (Chamando os outros para verem) Vejam, este homem também


é Galileu, também estava com Jesus de Nazaré, predam-no imediatamente.

Pedro – (Espantando todos ao seu redor) Seus malditos, estão enganados.


Eu não conheço este tal Jesus.

(Jesus acorrentado, o povo e os soldados congelam, então Jesus para


na frente de Pedro e ele se lembra do que foi dito na ceia e começa a
chorar desesperadamente, descongela e Jesus sai de cena. Maria,
Madalena e João entram pelo outro lado e avistam Pedro)

Maria – Pedro? Porque está chorando? (Vai pôr a mão sobre Pedro)

Pedro – (Se esquivando) Não! Não Mãe. (Olha para Maria) Não sou digno.

João – O que houve Pedro?

Pedro – Não existe motivo que justifique o que eu fiz...

11
João – (Segurando pelos braços) Pedro, o que você fez? O que aconteceu?
Porque está chorando?

Pedro – (Chorando) Eu o neguei João, eu o neguei três vezes. (Sai)

(O Povo sai de cena. Maria, Madalena e João vão pro canto do palco e
do outro lado entram Judas e Caifás)

Judas – (Desesperado, vai ao encontro de Caifás) Soltem-no, entreguei


sangue inocente. (Tira o saco de moedas) Toma! Aqui está o seu dinheiro.

Caifás – Se pensa que entregou sangue inocente o problema é seu. Agora


pega o teu dinheiro e vai embora... Agora!

(Blackout)

CENA 05 – PILATOS (HERODES)


(Pilatos e sua esposa Cláudia estão sentados no centro, soldados e
Jesus entram, seguido dos Fariseus)

Pilatos – (Pasmo) É assim que tratam seus prisioneiros, antes de serem


julgados?... Do que acusam este homem?

Caifás – Se não fosse malfeitor não teríamos trazido a ti.

Pilatos – (Autoridade) Não foi esta a pergunta! E julguem-no segundo


suas leis.

Caifás – Sabes que não temos autoridade para condenar ninguém a morte.

Pilatos – (Pilatos se assusta) Morto? Mas como assim? O que este homem
fez para receber esta pena?

Caifás – Violou nosso sábado santo, este homem entrou no templo e disse
blasfêmias diante de todos ensinando doutrinas inaceitáveis.

Pilatos – (Confuso) Mas este não é o profeta que recebeu boas-vindas


em Jerusalém cinco dias atrás? E agora o querem morto? Explique!

Fariseu 1 – (Para Pilatos) Excelência. O Sumo Sacerdote não falou o


maior crime deste homem... Ontem ele afirmou ser o Messias, declarou-
se filho de Deus diante de todos nós. Ele se proclama rei dos judeus.

Caifás – Também disse aos seguidores para não pagarem impostos ao


Imperador.

(Pilatos e Jesus entreolham-se)

12
Pilatos – Aproxime-se! (Soldado empurra Jesus) Então, és tu o rei dos
judeus?

Jesus – Diz isso por si mesmo? Ou porque eles disseram isso de mim?

Pilatos – Eu não sou judeu. Teu povo trouxe-te a mim. Você é rei?

Jesus – Meu Reino não é deste mundo, porque se meu reino fosse deste
mundo, meus guardas teriam combatido para que não fosse entregue aos
judeus. Mas meu reino não é daqui.

Pilatos – (Calmo) Hum... reino, guardas... Então és Rei!

Jesus – Tu o dizes, eu sou Rei, para isto vim ao mundo, para isto nasci,
para dar testemunho da verdade, todo aquele que é da verdade, escuta
minha voz.

Pilatos – Mas o que é a verdade? (Pausa, então Jesus volta e Pilatos


se dirige ao povo) Não acho nele culpa alguma para condenação. (Povo
grita revoltado) Mas já que este homem é Galileu, é súdito do rei
Herodes, que Herodes o julgue. Levem-no!

(Todos saem, permanece em cena no palco apenas Pilatos e Cláudia)

Pilatos – Cláudia, o que é a verdade? Você ouve ou reconhece quando


alguém diz?

Cláudia – (Atenciosa) Sim! A verdade vem dos céus. Eu ouço! Você não?

Pilatos – Como?

Cláudia – Se você não quer ouvir, ninguém pode te dizer. (Segura na mão
de Pilatos) A vida desse homem é a sua resposta. Mas o seu interesse
não se prende à verdade em geral. (Entreolham-se) Este homem não poderia
negar a verdade. Ele e seus seguidores são fiéis à missão. Essa verdade
é importante, digna de se devotar a própria vida a ela. Mas os que
detêm o poder enxergam apenas o que vai de encontro aos seus
interesses...

Pilatos – (Interrompe) Verdade? Quer ouvir minha verdade, Cláudia? Onze


anos sufocando revoltas. Se eu não condenar este homem, Caifás começará
uma revolta, se eu o condenar os discípulos dele é que vão... De qualquer
maneira vai haver sangue. César me avisou.

Cláudia – Me parece que o temor da morte não influenciou este homem.


Acredite. Um homem não morreria por uma mentira. Não faça nada a ele,
este homem é Santo!

(Blackout)

13
CENA 06 - HERODES
(Dançarinas se apresentam diante Herodes que está sentado ao centro.
Enquanto alguns convidados estão em pé próximos a mesa, outros estão
sentados. Todos em festa desfrutando de um banquete. Após a dança, um
soldado vai até Herodes e sussurra em seu ouvido)

Herodes - Jesus de Nazaré está aqui? Aquele que todos dizem que faz
milagres? Onde ele está?

Caifás – Rei Herodes. Aqui, este é...

Herodes – Tá, tá, tá... (Curioso) Você que é o tal Jesus de Nazaré?
Pilatos o enviou para mim porque és Galileu e a Galileia está sob minha
jurisdição. Estão querendo condená-lo por perjúrio, dizendo que você
se declarou Rei. (Lembrando) Sabe... há uns anos, trinta e três anos
atrás pra ser mais exato. Meu pai soube do nascimento de um rei em
Belém, por acaso não seria você, não é? Acaso você é aquele cujo
nascimento foi predito?

(Herodes encara Jesus fixamente, enquanto os fariseus e os convidados


cochicham sobre o que estão vendo e ouvindo)

Herodes – Chegou até mim muitos boatos sobre você, dizem até que faz
milagres. (Os convidados riem, chega próximo a Jesus e sussurra) Tenho
ouvido muitas coisas sobre você. É verdade que faz os cegos voltarem a
enxergar? Que os coxos voltaram a andar? Que és capaz de trazer os
mortos de volta à vida. É verdade? De onde vem teu poder? (Ri, depois
fica nervoso) Vamos responda-me! Tu és rei? E quanto a mim? (Aponta
para si mesmo) Faça algum milagre para mim, para que eu possa ver.
.
Caifás – Peça pra ele ressuscitar João Batista!

Herodes – Como poderia? Sendo que eu entreguei a cabeça de João numa


bandeja pra Salomé. (Ri e voltando-se pra Jesus) A propósito cometi um
erro com seu parente João Batista, jamais quis matá-lo.

(Jesus o olha com desprezo)

Herodes – Prove-me que és realmente especial, que és um Rei. Sabes que


posso te libertar, não sabes? Vamos, estou ordenando! (Começa a rir)
Ora! Tirem este homem da minha presença, este homem é uma farsa, não
percebem que é apenas um louco e mais nada? Para mim merece homenagem
dos tolos (Todos riem e gargalham). Que crime pode ter cometido? Digam
a Pilatos que a partir de hoje ele tem minha afeição, e levem este
homem daqui.

(Blackout)

14
CENA 07 – PILATOS (AÇOITE)
(Centurião entra desesperado e vai até Pilatos)

Centurião – (Ofegante) Governador! Herodes se recusa a condenar Jesus,


estão trazendo-o de volta. Vamos precisar de reforços.

Pilatos – Não, eu não quero começar uma rebelião.

Centurião – Desculpe Senhor, mas a rebelião já começou.

(Entram mais soldados, trazem Jesus. Os fariseus devem estar em cima


do palco, à frente descentralizados. Pilatos olha fixamente para
Cláudia e fala aos fariseus)

Pilatos – Vós que me apresentais este homem, acusando-o de agitar o


povo, eu o interroguei diante de vós e não encontrei culpa alguma dos
crimes que o acusais, Herodes também não, pois o mandou de volta a mim
(Tumulto do povo). Como podem ver, ele não fez nada para merecer a
morte. Mas existe o costume entre vós que eu solte um preso pela páscoa.
(Centurião traz Barrabás) Temos o famoso assassino preso o pior,
Barrabás. Então? (Olha pra Caifás) Então Caifás. Quem quereis que eu
solte? Barrabás, o assassino ou Jesus de Nazaré, o Messias.

Caifás – Ele não é o Messias! É um impostor! (Aponta pra Barrabás).


Soltem Barrabás! (O povo acompanha).

Pilatos – (Para o povo) De novo lhes pergunto, qual querem que eu solte?

Povo – (Gritando) Soltem Barrabás! Soltem Barrabás!

Pilatos – (Se dirige ao Centurião) Soltem Barrabás!

(Centurião solta Barrabás que dá um grito de liberdade e em seguida


olha pra Jesus e sai)

Pilatos – (Para Caifás) E agora o que querem que eu faça com Jesus de
Nazaré?

Caifás – (Convicto) Crucifica-o! Crucifiquem este homem. (O povo se


agita e grita junto) Crucifica-o! Crucifica-o!

Pilatos – (Olha para sua mulher, dá um tempo, respira e grita) Não! Ele
não fez nada para merecer a morte, por isso vou castiga-lo e vou libertá-
lo (Diz ao Centurião). Assegurem uma punição severa, mas não o deixem
que o matem. Levem!

(Blackout)

15
CENA 08 - AÇOITE
(Uns soldados amarram as mãos de Jesus no cepo de madeira, enquanto
outros escolhem o flagelo que irão usar, sempre bebendo com muita
risada e sarcasmo, os fariseus entram e assistem e se divertem de um
lado e do outro esta Maria, Madalena e João que lamentam)

Jesus – Meu coração está pronto Pai.

(Dão dez chicotadas nas costas, Jesus fica de joelhos e param. Jesus
resiste e levanta)

Soldado 2 – Sua resistência é incrível. (Batem com mais força)

(Mais dez chicotadas, a cena congela. Entra o Diabo com um bebê


demônio no colo. Maria não congelada e vê o Diabo, não se assusta)

Diabo - Não é divina? A relação entre mãe e filho? Uma mãe não faria
tudo por um filho? Uma boa mãe não lutaria contra tudo e contra todos
para que seu filho não sofra?

Maria – Agora entendo o que Simeão quis dizer, pois eu sinto como se
uma longa espada me transpassasse o peito! (Fecha os olhos com força)
Quase não é possível suportar essa dor!

Diabo – Maria, você pode acabar com isso. Uma súplica sua, Mãe. E ele
desistirá., ou você realmente acredita que os homens vão se importar
com esse sacrifício daqui a mil, dois mil anos? Não! Será tudo em vão!

(Maria chora ainda mais. Em desespero, negando com a cabeça. O Diabo


gosta do que vê)

Maria – Não é em vão. O meu coração, pode estar despedaçado, mas eu


entendo o amor de Jesus pela humanidade. Eu e meu filho somos um só,
em sacrifício.

Diabo – (Sarcástico) Ah, mas que comovente. São um só, são?! (Começa a
perder a paciência) Que tipo de mãe deixa o filho sofrer torturas e não
faz nada?

Maria – (Olhando para Jesus) É à vontade Dele.

(O Diabo sai gritando de ódio, descongela e os soldados batem até


Jesus ficar estirado no chão)

Soldado – Vire-o.

(Viram e chicoteiam a barriga mais dez vezes, sempre com sarcasmo e


risada, então entra o Centurião)

16
Centurião – (Interrompendo) Chega! A ordem era punir este homem, não o
flagelar até a morte. (Desamarra Jesus e sai)

(Os soldados estão sempre rindo e bebendo, pegam Jesus e colocam


sentado no procênio)

Soldado 1 – (Pegando uma coroa de espinhos) Veja! Uma coroa para o Rei.
Salve Majestade! (Ri e faz reverência)

Soldado 2 – (Batendo em Jesus com cajado) E o cajado hein?! (Olhando


para os outros) Um rei precisa de um cajado. (Entrega o cajado, onde
Jesus se apoia para levantar). Olhem o Rei. (Ri)

Soldado 3 – (Lembrando e pegando uma túnica) Ah, E a túnica? Dá uma


túnica ao Rei. (Ri)

Todos – Viva o rei dos judeus! Viva o rei!

(Os soldados fazem reverência em seguida levam Jesus, Maria se


ajoelha no sangue de Jesus)

Maria – Meu filho, onde, como e quando decidirás ficar livre disso?

(Os fariseus saem, Cláudia entrega panos para Maria, que começa a
enxugar o sangue do chão, Madalena reproduz o ato usando seu manto de
cabeça, João apenas assiste a cena)

Maria – (Chorando) Jesus!

(Blackout)

CENA 09 – PILATOS (CRUCIFICAÇÃO)


Pilatos - (Se assusta ao ver Jesus) Eis o Homem! Agora ou libertá-lo.

Caifás – (Sem paciência) Você deve crucificá-lo.

Pilatos – Não é o suficiente? Olhem para ele.

Caifás – Crucifica-o... (Pede apoio do povo)

Pilatos – (Falando para o povo) Vou crucificar o rei de vocês?

Caifás – (Enfrentando Pilatos) Não temos outro rei se não César.

Pilatos – (Se assusta e vai até Jesus) Fale comigo! Não sabes que eu
tenho o poder para te libertar ou te condenar?

Jesus – Não terias nenhum poder sobre mim, se não tivesse sido dado por
Deus, por isso quem me entregou a ti tem pecado maior.

17
Caifás – Se soltares Governador não és amigo de César! Crucifique este
homem.

Pilatos – (Fala ao ouvido de um servo, depois se dirige ao povo) Se


querem crucifica-lo, façam isso você.

(O servo retorna com uma bacia de água, e Pilatos lava suas mãos)

Pilatos - Eu lavo minhas mãos diante deste homem, não sou responsável
pelo seu sangue.

Caifás - Que seu sangue caia sobre nós, e sobre os nossos filhos! (O
povo grita repetindo a frase de Caifás) Crucifique-o.

Pilatos – (Chama o Centurião) Faça o que eles querem. (Os soldados saem
com Jesus em busca da cruz)

(Blackout)

CENA 10 - CRUCIFICAÇÃO
(Os soldados acompanham Jesus no caminho do calvário. Maria, Madalena
e João os seguem, sempre com tristeza e lagrimas. Jesus carrega a
cruz, cai a primeira vez, cai a segunda vez, então Maria vai até ele
e segura seu rosto)

Jesus – Mulher, eu renovo todas as coisas.

(Carrega a cruz cai à terceira vez. Entra Verônica, enxuga e mostra o


rosto de Jesus, os soldados o crucificam e erguem a cruz)

Gestas – (Esquerda de Jesus) Não és tu o Cristo? Salva-te então a ti


mesmo e a nós também.

(Caifás e com mais um fariseu entram em cena e se aproximam de Jesus)

Fariseu 1 – (Desdém) Vós não dissestes que era capaz de destruir o


templo e reconstruir em três dias? Faça isso agora. (Ri)

Caifás – Não és tu o rei dos judeus? Salva-te agora. (Saem lentamente)

Jesus – Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem. (Eles param e olham
para Jesus)

Dimas – (Direita de Jesus, falando para o fariseu e para o Caifás)


Olhem! Não veem? Ele ora por vocês. (Os fariseus dão as costas e saem)
Nós merecemos estar aqui, mas este homem não fez nada... Jesus, lembra-
te de mim quando entrares no paraíso.

18
Jesus – (Com dificuldade de respiração) Eu te asseguro hoje mesmo
estarás comigo no paraíso.

Jesus – Tenho Sede. (Um soldado coloca uma esponja na ponta da lança e
leva até a boca de Jesus, ele vira o rosto de nojo)

(Pausa. Maria tenta passar pelos soldados, um deles tenta impedir,


mas o centurião acaba cedendo, ela vai até o pé da cruz, seguida de
João e Maria Madalena)

Maria – (Chorando) Carne da minha carne, coração do meu coração. Meu


filho! Me deixa morrer contigo.

Jesus – Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua mãe.

(João abraça Maria que não desvia o olhar de Jesus).

Jesus – Meu Deus! Meu Deus! Porque me abandonaste?

(Olha pra baixo em seguida olha no horizonte)

Jesus – Tudo está consumado... Pai... em tuas mãos, eu entrego, o meu


espírito... (Morre)

(Trovões assustam os soldados, que quebram as pernas dos ladrões e


perfuram o coração de Jesus com uma lança e saem de cena. Música:
“Anjos de Resgate - Por Amor”. Depois, quatro soldados retornam e
retiram Jesus da cruz com a ajuda do discípulo João e eles colocam o
corpo nos braços de Maria)

Maria – Jesus! Meu filho.

(Os soldados erguem o corpo nos ombros e lavam para o sepulcro)

FIM

19

Você também pode gostar