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Capítulo 15

MANEJO DO GRANDE
QUEIMADO NA SALA DE
EMERGÊNCIA
NATÃ LOPES FERNANDES¹
MATEUS BARBOSA MENEZES1
NATALINO LUCAS NETTO SANCHES1
ISABELA CHRISTIE PARANAIBA MARQUES1
REGINA GRACE NUNES RODRIGUES²

1
Discente – Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser.
²Médica Dermatologista e Docente – Medicina do Centro Universitário Alfredo Nasser.

Palavras Chave Grande Queimado; Trauma Térmico; Emergências Dermatológicas

10.29327/567533.5-15 111 | P á g i n a
entífica e médica, com constantes atualizações
INTRODUÇÃO na urgência e emergência sobre o assunto.
Estando entre uma das mais importantes
MÉTODO
situações de atendimento na urgência/emergên-
cia médica, a queimadura se enquadra em tal Trata-se de uma revisão sistemática reali-
parâmetro justamente pela sua capacidade de zada no período de janeiro a junho, de 2021, por
comprometer e/ou causar disfunção no organis- meio de pesquisas nas bases de dados: PubMed,
mo humano com potencial morbidade e mor- LILACS e Scielo. Foram utilizados os des-
talidade, a depender do quão acometido se en- critores: “Grande queimado”, “Queimadura
contra o doente. elétrica”, “Queimadura química”, “big burned”.
Antes de aprofundar na temática deste capí- Desta busca foram encontrados 33 artigos que,
tulo, se torna interessante conhecer o conceito de acordo com a leitura do resumo, haviam
do que seria uma lesão por queimadura. De ma- possibilidade de fornecer informações relevan-
neira geral, queimadura poder ser definida co- tes para o estudo. Posteriormente, foram sub-
mo uma injúria, de teor grave, na pele ou algum metidos aos critérios de seleção.
outro tecido, acabando por gerar um quadro Os critérios de inclusão foram artigos
agudo ou crônico debilitante (OLIVEIRA & originais, meta-análises, revisões sistemáticas e
PERIPATO, 2017). Por outro lado, pode-se revisões de especialistas, publicados entre 2010
fazer uso de um conceito mais completo e espe- e 2022, nas línguas portuguesa e inglesa, que
cífico como: feridas traumáticas com capaci- tiveram enfoque no manejo clínico do paciente
dade de ocasionar necrose tecidual, de variável grande queimado, sobretudo, na sala de emer-
extensão e profundidade, causadas por diversos gência e, além disso, nos aspectos epidemioló-
agentes físicos, químicos ou biológicos, levan- gicos e classificatórios desse tipo de trauma.
do a distúrbios hístico-humorais potencialmen- Por fim, objetivando localizar artigos não en-
te fatais, mas que quando não o são, podem dei- contrados na primeira etapa de seleção, foram
xar sequelas debilitantes ou deformantes para o utilizadas as listas de referências bibliográficas
paciente que foi acometido (HERNÁNDEZ et dos artigos incluídos no processo de busca, que
al, 2019). preenchiam os critérios descritos. Os critérios
A partir disso, se torna evidente a neces- de exclusão foram: artigos duplicados, disponi-
sidade de uma equipe altamente capacitada na bilizados na forma de resumo, que não abor-
identificação da extensão e tipo de lesão presen- davam diretamente a proposta estudada e que
te no paciente queimado, para que, ao seguir não atendiam aos demais critérios de inclusão.
condutas assertivas, não ocorra ou minimize as Após os critérios de seleção restaram 21 artigos,
complicações como rabdomiólise, arritmia car- os quais foram submetidos à leitura minuciosa
díaca, graves distúrbios hidroeletrolíticos ou para a coleta de dados. Essa análise dos mate-
ainda síndrome compartimental por altas repo- riais permitiu a seleção dos artigos que abor-
sições volêmicas (ATLS, 2018). davam o manejo direto do tema abordado nesse
Nesse contexto, viu-se a necessidade de capítulo, em ambiente de emergência, além da
produzir este material com o objetivo de com- concordância da série de ações a serem tomadas
pilar os conhecimentos gerais e analíticos ao te- quando, na sala vermelha, o profissional médi-
ma, sabendo obviamente que ainda há muito o co e a equipe multidisciplinar, se deparam com
que ser discutido e agregado à comunidade ci- esse tipo de paciente, sendo que estes deveriam

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estar alinhados com a última atualização do apresentadas em sua superfície corporal. Diante
Advanced Trauma Life Suport (ATLS) e mate- disso, as lesões podem ser estabelecidas em re-
rais provenientes do Ministério da Saúde do lação à profundidade e à sua extensão, (BRA-
Brasil. Houve uma discussão para definição de SIL, 2012; ATLS, 2018).
quais artigos norteariam cada tópico a ser abor-
dado nesse capítulo, a fim de extrair o melhor Classificação por profundidade
de cada material. Em relação à profundidade, as lesões divi-
dem-se em três graus. Sendo as de primeiro
RESULTADOS E DISCUSSÃO grau (1º grau) atingindo somente a epiderme
Epidemiologia (também conhecida como eritema solar), apre-
Mundialmente, em torno de 90% das mor- senta como um eritema sem presença de bolhas
tes de pacientes queimados ocorrem em países e com discreto edema local, importante falar
de subdesenvolvidos, onde o sistema de saúde que a dor é bastante presente. Normalmente
é precário. Já em países de primeiro mundo, a descama em 4 a 6 dias, (BRASIL, 2012).
maior estatística se encontra em classes sociais As de segundo grau (2º grau) atingem tanto
marginalizadas. Idosos acima de 65 anos tem a epiderme quanto a derme. Sua característica
como a quinta maior causa de óbito por lesões básica é a presença de eritema importante asso-
acidentais as queimaduras, sendo pacientes que, ciado ao aparecimento de bolhas ou flictenas e
devido a idade, levam mais tempo na inter- nestas lesões, a dor é acentuada. Elas ainda
nação, recuperação e com maior possibilidade subdividem em Superficial (quando a base da
de complicações (HERNÁNDEZ et al, 2019). bolha é rósea, úmida e dolorosa) ou Profunda
Nos Estados Unidos da América, entre (quando a base da bolha é branca, menos do-
2002 e 2011 ocorreram mais de 180 mil casos lorosa, seca). Normalmente ocorre restauração
de atendimento ao queimado, onde cerca de 20 com 7 a 21 dias, (BRASIL, 2012).
mil tiveram pelo menos 25% da área corporal Já as lesões de terceiro grau (3º grau)
acometida. O sexo masculino se destaca como atingem todas as camadas da pele e subcutâneo,
sendo maioria a sofrer com a doença. 20% do sendo essas, epiderme, derme e hipoderme. Po-
total de casos relatados correspondem a crian- dem também afetar músculos, nervos e ossos. O
ças com menos de 5 anos (MADOFF & PE- aspecto dessa lesão varia de uma placa esbran-
REYRA, 2017). A Revista Brasileira de Quei- quiçada a uma lesão enegrecida, demonstrando
madura de 2016, 15(3):137-41 mostra dados es- assim uma necrose da pele. Um aspecto im-
tatísticos relevantes entre crianças de 7 a 12 portante dessa lesão é a ausência de dor, pois,
anos vítimas de queimaduras, internadas no as terminações nervosas que levariam o im-
Centro de Tratamento de Queimados de Lon- pulso de dor estão destruídas pela queimadura,
drina, onde constatou-se o agente causal e sua (BRASIL, 2012).
ocorrência, sendo: fogo/álcool 48,97%; escaldo
28,57%; fogos de artificio 8,16%; contato Extensão das queimaduras
6,12%; incêndio em residência 4,08%; eletri- Em relação à extensão, as lesões podem ser
cidade 4,08% (FRANCISCONI et al, 2016). classificadas de acordo com a superfície cor-
pórea queimada (SCQ) calculada pela “Regra
Classificações dos Nove” ou pela “Superfície palmar do pa-
Ao avaliar uma pessoa com queimaduras, é ciente”.
importante saber como classificar as lesões
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O cálculo da SQC a partir da “Regra dos Cálculo de superfície corpórea queimada
Nove” baseia-se que cada região do cor- pela superfície palmar do paciente
po/segmento corporal corresponde percentual- O cálculo através da superfície palmar do
mente ou ao numeral 9 ou à um múltiplo de 9, paciente ocorre pelo número de palmas (inclu-
demonstrado na Figura 1. Sendo assim, no adul- indo os dedos) necessárias para contemplar à
to ficou estabelecido: área da lesão. Normalmente, a palma da mão de
um indivíduo representa 1% de sua superfície
• Cabeça e pescoço (anterior e posterior):
corporal. Assim, o número de palmas será a
9%
porcentagem de SCQ (PICCOLO et al, 2008).
• Tronco (anterior): 18%
Após o cálculo da SCQ, classifica através
• Tronco (posterior): 18%
da porcentagem encontrada se a lesão é leve,
• Membro Superior cada (anterior e
média ou grave, ditando assim, um pequeno
posterior): 9%
queimado, médio queimado e grande queimado
• Membro Inferior cada (anterior e
respectivamente (ATLS, 2018).
posterior): 18%
Um pequeno queimado ocorre quando atin-
• Genitália: 1% ge menos que 10% de SCQ de segundo grau em
adultos. Também por queimaduras de primeiro
Na criança estabeleceu-se: grau em qualquer extensão e em qualquer idade.
• Cabeça e pescoço (anterior e posterior): E até 5% de SCQ em crianças, (PICCOLO et
21% al, 2008).
• Tronco (anterior): 18% Um médio queimado se dá quando obtém
• Tronco (posterior): 18% entre 10 e 20% de SQC de segundo grau em
• Membro Superior cada (anterior e adultos. E entre 5 a 15% em crianças de se-
posterior): 9% gundo grau. Qualquer queimadura de segundo
• Membro Inferior cada (anterior e grau envolvendo mão ou pé ou face ou pescoço
posterior): 12% ou axila ou grande articulação em qualquer
• Genitália: 1% idade. E queimaduras de terceiro grau que não
envolvam face ou mão ou períneo ou pé, de
Figura 15.1 Representação da Regra dos Nove em
terceiro com até 10% da SCQ em adultos. E até
crianças e adultos
5% de SCQ em crianças de terceiro grau, (NS
et al., 2008).
Se as lesões de terceiro grau passarem uma
porcentagem de 2% em crianças ou 5% em
adultos, está indicada a internação. E se as
lesões de segundo grau ultrapassarem 10% em
crianças e 15% em adultos também é indicado
internação hospitalar, (NS et al., 2008).

Condições que classificam como grande


queimado/queimadura grave
O grande queimado em adultos ocorre em
Fonte: BRASIL, 2012 maior de 20% de SQC em lesões de segundo

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grau, já em crianças, ocorre em maior de 15% 2017; ATLS, 2018; BRASIL, 2012; NETO. et
de SQC em lesões de segundo grau. Todas essas al, 2021; BRUXEL. et al, 2012; CASTRO. et
situações são indicativos de internação hos- al, 2013):
pitalar, (NS et al., 2008).
Outras características que definem são: Conduta de admissão
• Queimaduras de terceiro grau maior 1. Interrupção da agressão: deve-se remo-
10% em adultos, já em crianças, em maior ver toda roupa do doente, exceto aquela
que 5% de terceiro grau. aderida à pele, expondo toda superfície cor-
• Queimaduras elétricas. poral, avaliando traumas associados e ado-
• Queimaduras de períneo de segundo ou tando providências imediatamente. Em ca-
terceiro grau em qualquer idade. so de suspeita de agente químico a aborda-
gem deve ser de interromper o contato do
• Ter idade maior que 65 anos ou menor
material com a pele do paciente seguido de
que 3 anos.
descontaminação com solução salina. Já,
• Queimaduras associadas à lesão inalató-
quando o agente for elétrico, o desligamen-
ria.
to da fonte eletrizada é a conduta de esco-
• Queimaduras químicas.
lha.;
• Queimaduras relacionadas à volência,
2. Perviedade de vias aéreas (A): avaliação
maus-tratos e tentativa de autoextermínio.
da obstrução das vias aéreas por corpos es-
• Queimaduras com envolvimento de
tranhos, lesão por inalação e edema secun-
áreas nobres: Orelhas, face, mão, pé, olhos,
dário à queimadura, garantindo sua pervie-
pescoço, região inguinal, grandes articu-
dade e mantendo a cabeceira elevada a 30°,
lações (ombro, axila, cotovelo, punho, arti-
se descartada lesão de coluna vertebral, pa-
culação coxofemural, joelho e tornozelo) e
ra atuar contra o edema de parede do pes-
órgãos genitais.
coço e tórax. Dessa forma, nesse momento
• Queimaduras que atingiram estruturas do atendimento pode-se proceder com a
profundas como músculos, nervos e ossos.
obtenção de uma via aérea definitiva, sendo
as indicações para essa medida as seguintes:
Tratamento
A conduta preconizada da abordagem ao • História de queimadura com confina-
paciente grande queimado centra-se nos prin- mento
cípios de interrupção da agressão, independen- • Queimaduras faciais extensas e profun-
temente do agente, primando pelos princípios das
de segurança daquele que socorre, e abordagem • Queimaduras da cavidade oral
inicial preconizada pelo American Trauma Life • Sinais de obstrução de vias aéreas (rou-
Suport (ATLS). Seguindo esses pilares, é pos- quidão, estridor e/ou uso de musculatura
sível tecer uma lista de ações que devem ser acessória)
tomadas tanto à admissão quanto no segui- • Queimadura extensa (superfície quei-
mento desses pacientes no departamento de mada maior que 40%)
emergência, lembrando que, muitas vezes, es- • Edema significativo ou risco de edema
sas condutas são executadas simultaneamente, de orofaringe (lesões térmicas da faringe)
porém, para fins didáticos, estão sistematizadas • Disfagia
a seguir em uma cronologia (AZULAY. et al,

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• Sinais de comprometimento respiratório lecidos acessos venosos de grande calibre
(incapacidade de eliminação de secreções (mínimo gelco 16) preferencialmente peri-
brônquicas, dispneia e/ou ventilação insu- féricos e em áreas não queimadas. Em situ-
ficiente) ações nas quais o acesso em regiões não
• Escala de Coma de Glasgow (ECG) me- queimadas é impossível deve-se introduzir
nor que 8 o cateter sob a superfície queimada ou, na
• PaO2 menor que 60 mmHg impossibilidade dessa também, existem as
• PaCO2 maior que 55 mmHg opções de acesso central e infusão intra-
• Dessaturação maior que 90% na oxi- óssea. O volume a ser administrado, em pa-
metria cientes classificados como graves, é regido
• Pacientes com alta probabilidade de le- pela fórmula de Parkland (2 a 4 ml x SCQ x
são por inalação e área queimada corporal peso) e a avaliação do satisfatoriedade da
significativa (maior que 20% em adultos e perfusão é feita pelo cálculo do débito uri-
10% em crianças e maiores de 50 anos) nário, viabilizado após a sondagem vesical.
3. Ventilação adequada (B): essa porção Além disso, a avaliação de possíveis sín-
da avaliação é baseada investigação e cor- dromes compartimentais e a escarotomia
reção de três principais situações: hipóxia, devem ser feitas, a fim de preservar a per-
intoxicação por monóxido de carbono e a fusão periférica de membros e expansibi-
lesão inalatória; lidade torácica. Portando, nessa porção da
avaliação devem ser feitos:
• Hipóxia: determinada pela ventilação
adequada, seja qual for a via em vigência, • Acesso periférico calibroso, na sua im-
ou qualquer condição que comprometa a possibilidade o central e o intraósseo são
ventilação pulmonar (queimaduras toráci- opções viáveis;
cas circunferenciais, necessitando de esca- • Administração de soluções cristaloides,
rotomia de tórax, que será abordada poste- sobretudo ringer lactato, calculada fórmula
riormente nesse capítulo, ou traumas asso- de Parkland, e, desse total, a metade do va-
ciados ao processo de queimadura) lor total deve ser administrado nas pri-
• Intoxicação por monóxido de carbono: meiras 8 horas após a queimadura e a outra
administração de oxigênio a 100%, em metade a ser administrado nas 16 horas
máscara não reinalante por, no mínimo, 4 seguintes. Pacientes vítimas de traumas elé-
horas. Essa conduta pode ser empírica, sem- tricos, devem usar a fórmula 4 ml x SCQ x
do que a suspeita, principalmente em víti- peso;
mas de incêndio em ambiente fechado, já • Sondagem vesical e cálculo de débito
fator indicativo de execução; urinário (DU), para classificados com quei-
• Lesão inalatória: avaliação de rouqui- maduras graves, objetivando um débito uri-
dão, estridor, escarro carbonáceo, dispneia, nário de 0,5 ml/kg/h em adultos, 1 ml/kg/h
queimadura de vibrissas e/ou insuficiência em crianças e, em vítimas de traumas elé-
respiratória em paciente vítima de queima- tricos, o ideal é o DU girar em torno de 1,5
dura em ambiente fechado ml/kg/h com diurese clara;
4. Avaliação do comprometimento circu- • Síndrome compartimental deve ser sus-
latório (C): inicialmente devem ser estabe- peita em pacientes que queixam-se de dor
desproporcional e ao recrutamento mus-

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cular e extensão da porção corporal com- um paciente que pesa 70 kg deverá receber
prometida, além de sinais de hipoperfusão 7 ml dessa, perfazendo 7 mg do agente anal-
(parestesia, palidez, paralisia, pulso ausen- gésico)
te, tempo de enchimento capilar aumentado AINE: pode-se usar a dipirona, por via EV,
e diminuição de temperatura). Esse quadro podendo-se valer de sua formulação de
é tratado por meio da escarotomia, porém 500 mg ou 1 g;
esse procedimento não costuma ser neces-
sário nas primeiras 6 horas após a queima- • Tratamento da ferida:
dura; Limpeza: água e clorexidina desgermante a
5. Avaliação neurológica (D): checagem 2%, sabão neutro e água abundante ou solu-
de nível de consciência e verificação cons- ção fisiológica à 0,9%;
tante da pontuação na ECG, tendo em vista Curativo oclusivo: deve ser feito em lesões
possíveis necessidades de via aérea defini- de face e períneo;
tiva. É importante ter em mente que a deso- Curativo exposto: deve ser feito em lesões
rientação pode ser resultado de uma condi- nas demais partes do corpo, com quatro ca-
ção hipoxêmica adjacente, dada a natureza madas e sulfadiazina de prata a 1%;
das lesões e a forma que são conduzidas; Antibiótico tópico: a cobertura local com
6. Exposição (E): essa parte do primeiro sulfadiazina de prata a 1% é indicada por ter
atendimento ao paciente crítico acaba por espectro ativo contra gram-positivas e ne-
ser uma das primeiras a ser executada. Isso gativas, além de algumas espécies fúngicas.
porque a interrupção da queimadura e a
administração volumétrica cristaloide de- • Proxilaxias:
pendem, diretamente, de ações de exposi- Tétano: imunoglobulina humana antitetâ-
ção corpórea. Nesse momento pode ser fei- nica ou soro antitetânico associado, ou não,
to o estabelecimento da profundidade das à vacinação de acordo com o estado vacinal
lesões, classificando-as de acordo com a do paciente;
gravidade; Tromboembolismo: heparina não fracio-
nada 5.000 UI SC 8/8 h;
Condutas posteriores à estabilização clí- Úlcera de estresse: omeprazol 20 mg VO
nica: 24/24 h mg ou 40 mg EV 24/24 h.
• Analgesia: os opioides são os fármacos
principais no manejo desses pacientes, sem-
• Exames a serem solicitados: hemogra-
do importante sua associação com os anti-
ma, tipagem sanguínea e provas cruzadas,
inflamatórios não esteroidais (AINES) uma
carboxihemoglobina (HbCO), glicemia,
alternativa para redução da dose e, conse-
eletrólitos, teste de gravidez (mulheres em
quentemente, dos efeitos adversos causados
idade fértil), gasometria arterial e dosagem
pelo uso de medicamentos como morfina e
de HbCO, além de radiografia torácica em
tramadol. Portanto, usa-se:
intubados ou suspeiros de lesão inalatória.
Morfina: solução 1 mg/ml (1 ampola com
Podem ser solicitados outros exames labo-
1 ml e 10 mg de morfina + 9 ml de SF 0,9%)
ratoriais e/ou de imagem conforme a ne-
a ser administrada EV, sendo preconizada 1
cessidade e indicação clínica;
mg para cada 10 kg do paciente (exemplo:

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• Sondagem gástrica: indicada se paci- entes classificados como queimados graves.
ente nauseado e/ou com episódios eméticos Nesses casos a sonda deve ser mantida
e/ou distensão abdominal, assim como paci- aberta;

Tabela 15.1 Manejo do paciente grande queimado em ambiente de emergência

Estabilização clínica

Interromper a queimadura Afastar agentes nóxicos.

Perviedade de vias aéreas Desobstrução de vias aéreas com avaliação da necessidade de via aérea definitiva.
Correção de hipoxemia, reavaliar possíveis intoxicações e lesões inalatórias para
Garantir ventilação adequada
uma ventilação efetiva.
Administração de cristaloides conforme o indicado para o paciente e o agente
Prover perfusão nóxico, avaliação de possíveis síndromes compartimentais e vigilância de débito
urinário
Avaliação e reavaliação constantes a fim de garantir que o paciente consegue
Avaliação neurológica
proteger vias aéreas
Reavaliar a superfície corporal Determinação da classificação de cada lesão para melhor condução do paciente

Condutas secundárias
Morfina 1mg para cada 10 kg de peso EV (paciente adulto)
Analgesia
Dipirona 500mg a 1g EV
Limpeza com solução fisiológica, desgermante ou água e sabão neutro
Curativo exposto em queimaduras na face e períneo
Cuidados com a ferida
Curativo em quatro camadas em queimaduras nas demais regiões do corpo
Sulfadiazina de prata à 1% tópica
Tétano: imunoglobulina humana antitetânica ou soro antitetânico associado, ou
não, à vacinação de acordo com o estado vacinal do paciente;
Profilaxias
Tromboembolismo: heparina não fracionada 5.000 UI SC 8/8h;
Úlcera de estresse: omeprazol 20mg VO 24/24h mg ou 40mg EV 24/24h.
Hemograma, tipagem sanguínea e provas cruzadas, HbCO, glicemia, eletrólitos,
Exames solicitados teste de gravidez (mulheres em idade fértil), gasometria arterial e dosagem de
HbCO e raio-X de tórax (intubados ou suspeitos de lesão inalatória)
Se náuseas, vômitos, distensão abdominal ou pacientes queimados graves.
Sondagem gástrica
Mantida aberta.
Fonte: . AZULAY. et al, 2017; ATLS, 2018; BRASIL, 2012; NETO. et al, 2021; BRUXEL. et al, 2012; CASTRO. et
al, 2013.

CONCLUSÃO ridades fisiológicas que têm maior chance de


interromper a vida, é necessário que um roteiro
O manejo rápido, organizado e embasado de ações sequenciado esteja na mente da equipe
na literatura mais atualizada e de maior cre- de profissionais que manejam vítimas de quei-
dibilidade, certamente, é o fator que determina, maduras. Este estudo visa sistematizar e propor
antecedido pela gravidade do trauma sofrido, o um roteiro de ações, disposto de forma simples
prognóstico do paciente que é abordado na sala e inteligível para que, sobretudo, à entrada no
de emergência. Para que sejam executadas serviço de emergência, esses pacientes tenham
ações sincronizadas, sequenciadas e que inter- as melhores chances de sobrevivência.
vêm de forma escalonada, em relação às prio-

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
queimados no Hospital “Celia Sánchez Manduley”, 2015
ATLS – Advanced Trauma Life Support: Manual de
– 2018. Rev. Bras. Cir. Plást. 2020;35(1):78-82.
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Trauma, 2018, Cap 9. NETO, J. S. et al. Síndrome Compartimental do
AZULAY, R. D. et al. Dermatologia. Rio de Janeiro: Antebraço. Brazilian Journal of Health Review: Curitiba,
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