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Vera Maria Vidal Peroni

Organizadora

Redefinições das fronteiras


entre o público e o privado:
implicações para a
democratização da educação

2013
© Autores e autoras – 2013

Editoração e impressão: Oikos


Capa: Juliana Nascimento
Revisão: Rui Bender
Arte-final: Jair de Oliveira Carlos

Conselho Editorial
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Iria Brzezinski
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R314 Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: impli-


cações para a democratização da educação. / Organizado-
ra Vera Maria Vidal Peroni. Brasília: Liber Livro, 2013.
352 p.; 16 x 23cm.
ISBN 978-85-.......-......-......
1. Educação. 2. Política educacional – Relação – Público-
privado. 3. Democratização da educação. 4. Relação – Edu-
cação pública e privada. I. Peroni, Vera Maria Vidal.
CDU 37
Catalogação na publicação:
Bibliotecária Eliete Mari Doncato Brasil – CRB 10/1184
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social


e as redes de políticas globais em educação*

Stephen J. Ball
Antonio Olmedo

Um novo grupo de conceitos e métodos é necessário para lidar com


as contínuas mudanças em governança educacional dentro de uma estrutu-
ra global. As formas como a política educacional, as empresas, a filantro-
pia e o desenvolvimento internacional se organizam e se inter-relacionam
estão mudando em função dos métodos daquilo que pode ser entendido
como “capitalismo social global”. Dentro dessa nova configuração, solu-
ções inovadoras e velhas soluções para problemas sociais e de desenvolvi-
mento ‘baseadas no mercado’ estão sendo privilegiadas e fortalecidas atra-
vés do surgimento de uma nova elite global, conectada em rede, formada
por promotores de políticas e ‘novos’ filantropos. O que há de ‘novo’ na
‘nova filantropia’ é a relação direta entre a caridade e os ‘resultados’ e o
envolvimento direto dos doadores nas ações filantrópicas e nas comunida-
des de políticas.
Estamos agora oficialmente na era dos “filantro-empresários”, onde a dife-
rença entre um fundo de capital de risco e uma fundação, uma startup pro-
missora e um empreendimento social torna-se totalmente turva.1

Essas novas sensibilidades da caridade têm levado a um crescente


uso de modelos de práticas comerciais e empresariais como uma nova for-
ma genérica de organização, prática e linguagem filantrópica – filantropia
de risco, investimentos e portfólios filantrópicos, due diligence (o termo in-
glês é usado correntemente no mercado financeiro no Brasil, mais que “di-
ligência devida”, soluções empresariais, etc. Os ‘novos’ filantropos querem

* Texto traduzido por Lisa Gertum Becker e revisado por Jaqueline Marcela Villafuerte Bittencourt.
1
http://marmoogle.blogspot.com/2007/04/global-philanthropy-forum-that-is.html.

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BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

ver impactos claros e mensuráveis e resultados de seus ‘investimentos’ de


tempo e dinheiro. A nova filantropia está trazendo novos jogadores à arena
do desenvolvimento internacional, estabelecendo novos papéis e relações
de políticas e desenvolvimento, criando novos terrenos de políticas e retra-
balhando as redes de políticas existentes. Ainda que aparentemente bem
recebidas em círculos filantrópicos, empresariais e políticos, essas mudan-
ças trazem consigo boa dose de controvérsias e problemas. As organiza-
ções envolvidas apresentam uma variedade de identidades e compromissos
diferentes e cambiantes. Financeiramente, organizacionalmente e moral-
mente, seu status e posição são muitas vezes, à primeira vista, obscuros.
Essa reconfiguração se apoia sobre uma dupla mudança moral na concep-
ção da relação entre caridade, auxílio e lucro. De um lado, as fundações
corporativas e familiares e os indivíduos filantrópicos estão começando a
‘assumir deveres sociomorais que até agora eram da responsabilidade de
organizações da sociedade civil, entidades governamentais e agências esta-
tais’ (SHAMIR, 2008). De outro lado, esses novos filantropos não renunciam
totalmente à possibilidade de lucro; de fato, como eles próprios dizem, é
possível ‘fazer o bem e ter lucro também’2. Ted Turner, o fundador da CNN,
argumenta que ‘certas áreas do construir um mundo melhor se adaptam
muito comodamente a operações com fins lucrativos. Por que devemos ter
medo disso?’3. Tudo isso re-situa o escopo e os objetivos da filantropia tra-
dicional. Isso indica uma mudança em três etapas: da caridade paliativa
(ou seja, a filantropia tradicional ou a ‘filantropia 1.0’) à caridade para o
desenvolvimento (‘filantropia 2.0’) e, finalmente, à caridade ‘lucrativa’, cons-
tituindo aquilo que é chamado de ‘filantropia 3.0’. Essa tomada de respon-
sabilidades por parte de uma nova filantropia e do capitalismo social tam-
bém levanta questões fundamentais sobre a participação democrática e a
responsabilidade dos governos e outras instituições públicas na provisão de
serviços sociais e direitos civis. A vinda de interesses morais, ideológicos e
econômicos para o campo de atividade da caridade cria novos espaços e
dinâmicas na ‘governança filantrópica’, conforme se sugere abaixo.

2
http://www.nytimes.com/2006/11/13/us/13strom.html?pagewanted=print.
3
http://www.nytimes.com/2006/11/13/us/13strom.html?pagewanted=print.

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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

Em tudo isso, o perigo é que o governar seja entendido e analisado em


termos daquilo que pode ser novo e diferente, sem tratar adequadamente
daquilo que permanece igual, e também que acontecimentos que não “se
enquadram” no mundo de acordo com a governança sejam subestimados ou
ignorados. Este capítulo é parte de um programa emergente e exploratório
de investigação, através do qual pretendemos abordar essas questões. O foco
principal da agenda da nossa pesquisa é substancial e analítico. Nós estamos
interessados em explorar como e por quem a governança educacional está
sendo realizada, e se isso é indicativo e ilustrativo de deslocamentos e mu-
danças mais gerais nos métodos e mecanismos de governança. Sabemos que
as questões e temas aqui levantados necessitam de análises e discussões mais
profundas. Por essa razão, este texto deve ser considerado uma tentativa ini-
cial de entender o intricado caráter desse novo fenômeno, e ele será elabora-
do mais substancialmente em outras publicações, ainda que já tenhamos co-
meçado a desenvolver algumas dessas ideias em trabalhos anteriores (ver
BALL, 2012; BALL e JUNEMANN, 2011; OLMEDO, 2013).
Este capítulo apresenta um breve esboço de alguns conceitos-chave
articulados nessas novas sensibilidades de políticas e caridade e apresenta
exemplos que ilustram a complexidade e a interconexão das novas formas
de filantropia dentro das redes de políticas globais, o papel desses novos
agentes e seus impactos nos campos da educação e do desenvolvimento.
Para fazer isso, trabalhamos na direção de um método de pesquisa que
pode ser chamado de ‘etnografia de redes’, uma combinação da Análise de
Redes Sociais (ARS) com métodos etnográficos (ver HOWARD, 2002). Nos-
so interesse é identificar e analisar a criação e a operação dessas redes, as-
sim como as conexões que as constituem. Também investigamos as trocas e
transações entre os participantes e os papéis, ações, motivações, discursos e
recursos dos diferentes atores envolvidos. Em termos mais gerais, esse ‘mé-
todo’ surge dentro de um amplo conjunto de deslocamentos epistemológi-
cos e ontológicos através da ciência política, da sociologia e da geografia
social, que envolve uma diminuição do interesse nas estruturas sociais e
uma ênfase crescente em fluxos e mobilidades (de pessoas, capital e ideias,
ex.: ‘políticas em movimento’) – que às vezes é chamado de ‘virada da mobi-
lidade’. Em outras palavras, um foco na ‘espacialização’ das relações sociais,
em viagens e em outras formas de movimento e de socialidade e interações

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BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

transnacionais. Tudo isso é, obviamente, concomitante com o interesse ex-


traordinário nos processos de ‘globalização’ dos anos recentes. A rede é um
mecanismo analítico e um tropo-chave dentro desse redirecionamento da
atenção, como se fosse um tipo de tecido conectivo que une e oferece algu-
ma durabilidade a essas distantes e fugazes formas de interação social. Para
atingir essa extensa e ‘profunda’ rede, buscas foram realizadas em múlti-
plas fontes (documentos de políticas, relatórios oficiais, comunicações pes-
soais, etc.). A internet oferece um vasto potencial de materiais relevantes,
que podem ser obtidos em websites governamentais e de empresas, assim
como em blogs pessoais, serviços de vídeo e da rede social (como Twitter,
YouTube, Facebook, etc.), e relatórios de reuniões, conferências e eventos e
páginas da web. Reiterando, a pesquisa realizada aqui é inovadora e explo-
ratória, seus dados e análise são projetados de forma a gerar um conjunto
de questões para pesquisas posteriores, focalizadas nos complexos efeitos e
consequências sociais e políticas da mudança de governo para governança
nas políticas globais de educação.

A ‘nova’ filantropia, os grandes desafios


e a política educacional
Em 2008, Bill Gates, o terceiro homem mais rico do mundo4, esbo-
çou sua visão de filantropia como ‘capitalismo criativo’. Num discurso no
Fórum Econômico Mundial em Davos, ele apresentou-a como ‘uma abor-
dagem onde governos, empresas e organizações sem fins lucrativos traba-
lham juntos a fim de expandir o alcance das forças do mercado para que
mais pessoas possam ter lucro ou ganhar reconhecimento, realizando um
trabalho que diminua as desigualdades no mundo’5. Sua mensagem foi ine-
quívoca e unidirecional: onde os estados, as multilaterais e as ONGs tradi-
cionais fracassaram, o mercado pode ter sucesso. Gates disse então: ‘O de-
safio aqui é projetar um sistema onde incentivos de mercado, incluindo o
lucro e o reconhecimento, impulsionam esses princípios para fazer mais

4
http://www.f orbes.com/20 08/03/05/ri chest-people-billionaires-bil lionaires08-
cx_lk_0305billie_land.html.
5
http://www.microsoft.com/presspass/exec/billg/speeches/2008/01-24wefdavos.mspx.

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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

pelos pobres’. Essa nova concepção de filantropia e ajuda borra intencio-


nalmente a linha divisória entre negócios, empreendimento, desenvolvimen-
to e o bem público e levanta questões fundamentais sobre os métodos e o
futuro papel das agências de desenvolvimento tradicionais. De um ponto
de vista semelhante, a Clinton Global Initiative (CGI) afirma que:
As formas tradicionais de ajuda não são suficientes para lidar com os gran-
des desafios globais da nossa era. Soluções baseadas no mercado mostram
uma incrível promessa para resolver esses imensos problemas num nível sis-
têmico e amplamente difundido. Essas abordagens, no entanto, ainda estão
num estágio nascente. As empresas estão pesquisando e desenvolvendo me-
lhores práticas de negócios que produzem resultados sociais e ambientais e,
ao mesmo tempo, geram lucro. As organizações sem fins lucrativos estão
encontrando modelos inovadores baseados em empreendimentos, que ofe-
recem potencial de sustentabilidade a longo prazo. Os governos estão con-
tribuindo com seus recursos para estimular e apoiar abordagens baseadas no
mercado. 6

Esses discursos propositalmente deixam de tratar das causas da desi-


gualdade – como aponta Zizek (2008, p. 20); para dar, o capitalista tem que
antes tirar. O mercado é apresentado de forma acrítica como um espaço com-
pensatório e como uma nova fonte de soluções alternativas para problemas
de desenvolvimento. Esse novo modelo de filantropia é aquilo que Edwards
(2008) chama de ‘filantro-capitalismo’, uma combinação de filantropia em-
preendedora com empreendedorismo social, como uma nova ‘racionaliza-
ção econômica da doação’ (SALTMAN, 2010, p. 70). Esses ‘novos’ filantro-
pos ganharam suas fortunas bilionárias por meio de suas atividades nos mer-
cados capitalistas e acreditam que a sua filosofia empresarial pode ser tradu-
zida e posta a serviço da caridade. Sua atividade filantrópica é impulsionada
por sua intenção de ‘fazer mais com menos’7. Essa é uma mistura intencional
entre o importar-se e o calcular, ou, como dizem Bronfman e Solomon (2009)
no subtítulo de seu livro The Art of Giving [A Arte de Dar], é aqui que ‘a alma
encontra um plano de negócios’. Há uma reconfiguração do campo do de-
senvolvimento internacional e um deslocamento do foco de ‘corrigir para’
para ‘conectar-se ao mercado’ (BROOKS et al., 2009, p. 10).

6
http://www.clintonglobalinitiative.org/ourmeetings/2010/meeting_annual_actionareas.asp?
Section=OurMeetings&PageTitle=Action%20Areas.
7
http://blogs.wsj.com/financial-adviser/2010/03/08/not-your-parents-philanthropy/tab/print/.

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BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

A outra característica-chave da abordagem dos ‘novos’ filantropos


globais é sua ambição de assumir ‘grandes desafios’, recorrendo a ‘receitas
mágicas’ (BROOKS et al., 2009). As receitas mágicas estão centradas em
soluções genéricas e escaláveis, projetadas de forma que possam ser imple-
mentadas independentemente do contexto em níveis diferentes (local, na-
cional e internacional). Os grandes desafios levam mais longe a ideia da
receita mágica e implicam a criação de toda uma agenda motivada por ob-
jetivos políticos, que enfatiza a escalabilidade rápida de tecnologias especí-
ficas. Eles envolvem o uso de ‘todas as ferramentas, todos os métodos para
financiar mudança social’8. Entretanto, conforme sugerem Brooks et al.
(2009, p. 7), ao escolher a solução ‘mais rápida e barata’ e ignorar as poten-
ciais consequências de tais decisões, o modelo do grande desafio está ‘su-
plantando questões cruciais sobre ‘de que forma’, ‘por que’, ‘para quem’ e
‘quem diz’ com a preocupação prévia e predominante com ‘quanto’, ‘com
que rapidez’ e ‘quando’. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM) da ONU são um dos focos dos grandes desafios e receitas mágicas,
mas atualmente existem outros exemplos em que fundações e organizações
filantrópicas reorganizam suas agendas e portfólios de investimento de acor-
do com esse modelo. Por exemplo, a Fundação Bill & Melinda Gates ado-
tou essa abordagem no campo da saúde com o programa Grand Challenges
in Global Health9 [Grandes Desafios da Saúde Global] e, mais recentemente,
também no campo da educação. A Fundação declara em seu website:
Nosso foco principal é prover educação pública. (...) Também usamos o
ativismo para promover conscientização a respeito das questões que enfren-
tamos, informamos políticas governamentais e desenvolvemos formas no-
vas e inovadoras de financiar iniciativas que melhoram os resultados.10

Em educação, as Charter Schools dos Estados Unidos tornaram-se o


paradigma da receita mágica e constituem atualmente a principal referên-
cia para as políticas educacionais inglesas do governo de coalizão britânico

8
Jane Wales, President and CEO World Affairs Council of Northern California and Global Phi-
lanthropy Forum in the 2007 Sixth Annual Global Philanthropy Forum. Available in: http://
www.philanthropyforum.org/images/forum/PastConferences/2007/GPF_2007Transcripts_
FINAL.pdf.
9
http://www.gatesfoundation.org/global-health/Pages/grand-challenges-explorations.aspx.
10
http://www.gatesfoundation.org/united-states/Pages/program-overview.aspx.

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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

(ver BALL e JUNEMANN, 2011) e, de forma similar, para o governo con-


servador espanhol (ver OLMEDO, 2013). Elas são apresentadas como uma
solução baseada-no-mercado adaptável, confiável, eficaz e ‘rápida’11 para o
subdesempenho educacional e as desigualdades concomitantes, e que tam-
bém é portátil e escalável. Essa abordagem pressupõe uma concomitante
estandardização da avaliação, dos métodos de ensino e do currículo (SALT-
MAN, 2010) e rejeita formas alternativas de intervenção educacional e trans-
formação social:
As escolas charter de alto desempenho – e as redes charter que apoiam seu
crescimento em nível nacional – desempenham importante papel na nossa
estratégia de preparação para a universidade, pilotando, acelerando e ex-
pandindo a inovação em educação. (...) E dada a flexibilidade das escolas
charter em comparação com outras escolas públicas, elas podem pilotar e
implementar projetos com rapidez e fidelidade.12

Em resumo, o que é diferente aqui é a relação direta entre a caridade


e a política, o envolvimento mais aparente dos doadores com comunidades
políticas e uma abordagem mais ‘prática’ ao uso das doações. Os novos
filantropos operam numa ‘esfera parapolítica’ (HORNE, 2002), dentro da
qual eles podem criar sua própria agenda de políticas. De fato, na última
década, quatro fundações filantrópicas dedicaram um total de $4,4 bilhões
a diferentes programas relacionados com a reforma educacional nos Esta-
dos Unidos13. Dada a dimensão da situação, Michael Petrelli, do Instituto
Thomas B. Fordham, recentemente reconheceu que ‘não é incorreto dizer
que a agenda da Fundação Gates tornou-se a agenda educacional do país’14.
O que estamos enfrentando aqui não é apenas o fato de doadores estarem
‘votando com seus dólares’ (SALTMAN, 2010), mas uma intervenção di-
reta da ação filantrópica no campo da política educacional. Essa nova situa-
ção tem implicações conceituais e práticas em relação ao conceito de de-
mocracia e à fonte e agência da formulação de políticas na esfera pública. É

11
Embora as escolas charter sejam, em princípio, escolas sem fins lucrativos, e não estejam autori-
zadas a cobrar mensalidades, algumas empresas com fins lucrativos, EMOs Educational Mana-
gement Organization, têm funcionado como Escolas charter e o caráter não-lucrativo do progra-
ma tem sido questionado.
12
http://www.gatesfoundation.org/college-ready-education/Pages/charter-schools-networks.aspx.
13
http://www.newsweek.com/2011/05/01/back-to-school-for-the-billionaires.html.
14
http://www.bizjournals.com/seattle/stories/2009/05/18/story2.html.

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BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

a isso que nos referimos como ‘governança filantrópica’, enfatizando como,


através de sua ação filantrópica, esses atores são capazes de modificar sig-
nificados, mobilizar ativos, gerar novas tecnologias de políticas e fazer pres-
são ou até mesmo decidir sobre a direção da política em contextos específi-
cos. Ainda que seja difícil demonstrar e expor as conexões entre os interes-
ses econômicos, ideológicos, políticos e filantrópicos, é preciso elaborar mai-
ores considerações e discussões sobre as implicações e consequências des-
sas novas formas de filantropia dentro dos campos do desenvolvimento in-
ternacional e da política educacional em geral.

Conectando as partes: a ‘nova’ filantropia


e os negócios educacionais edu-businesses
A Filantropia 3.0 faz parte de uma nova configuração e lógica de
ações de ajuda e desenvolvimento e de um novo conjunto de relações liga-
das a problemas de desenvolvimento e aos grandes desafios. Chamamos
essa lógica e relações de ‘filantropia de rede’. Ao usar esse termo, estamos
sugerindo que, para entender o trabalho das ‘novas’ organizações filantró-
picas e seus ‘parceiros’, precisamos considerá-los não sob uma perspectiva
individual, como atores isolados, mas sim como nós interconectados que
operam de acordo com lógicas de rede e configuram suas agendas e ligações
de formas mutantes e fluídas. Essas redes retrabalham e repovoam a comuni-
dade de políticas de ajuda e desenvolvimento, conectando de novas maneiras
os interesses e as atividades de empresas, governos, filantropia e agências não
governamentais. Nesse sentido, trazer interesses filantrópicos e empresariais
ao campo do desenvolvimento internacional envolve um prolongado e sofis-
ticado trabalho de ativismo e interação em rede. Durante a última década, a
ação de atores-chave, como Bill Clinton e Bill Gates, remodelou as redes
internacionais existentes, constituindo novos locais e possibilidades de ex-
pansão do ‘capitalismo criativo’. Esses novos locais poderiam ser entendidos
como ‘nós geradores,’ que visam facilitar novas conexões e oportunidades de
ligação. Eles são ‘novos locais de mobilização de políticas’ e ‘microespaços
globalizantes’, que operam entre e além das áreas de formulação de políticas
tradicionalmente definidas, tais como localidades, regiões e nações. Um exem-
plo de um desses nós é o Fórum Global de Filantropia, que:

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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

visa construir uma comunidade de doadores e investidores sociais compro-


metidos com causas internacionais, e informar, possibilitar e fortalecer a
natureza estratégica do seu trabalho.
(…) o FGF conecta doadores a problemas; a estratégias eficazes; a potenci-
ais parceiros co-financiadores; e a agentes de mudanças emblemáticos no
mundo inteiro. Construindo e continuamente renovando uma comunidade
de aprendizado duradoura, o FGF busca expandir o número de filantropos
que serão estratégicos na busca de causas internacionais.15

A principal atividade desses nós geradores é facilitar parcerias, novos


projetos e agendas de investimento. Eles criam ‘redes dentro de redes’, ba-
seadas no capital simbólico e econômico dos participantes que conseguem
mobilizar. Esses são canais para a promoção de políticas e o compartilha-
mento epistêmico através dos quais o modelo e as ideias delineados no
trecho anterior se formam e são colocados em prática. Além disso, ao pos-
sibilitar conexões sociais, políticas e econômicas globais, esses nós gerado-
res se tornam espaços-chave no campo do desenvolvimento internacional.
A Clinton Global Initiative (CGI) é mais um exemplo desses ‘nós geradores’.
Conforme declara seu website, a ‘CGI atua como mercado para uma diver-
sificada comunidade de agentes transformadores para criar compromissos
que se adequem a seu negócio principal e seus objetivos filantrópicos’ e
segue enfatizando o caráter específico de seu campo de operação:
A Clinton Global Initiative (CGI) é diferente de qualquer outra organização
ou evento. Ao invés de diretamente implementar projetos, a CGI facilita
parcerias entre diferentes setores que, por sua vez, criam e realizam projetos
que eles mesmos escolhem. Os membros da CGI vêm de uma ampla gama
de profissões, origens culturais e religiosas, e regiões geográficas. Chefes de
estado, executivos de companhias com e sem fins lucrativos, acadêmicos,
representantes da mídia, líderes religiosos, estudantes universitários e cida-
dãos globais se unem dentro da comunidade CGI para criar soluções singu-
lares para alguns dos desafios mais urgentes do mundo.16

A CGI trabalha facilitando parcerias, em sua própria terminologia,


Commitments to Action [Compromissos para a Ação], em torno de proble-
mas educacionais, saúde, sustentabilidade e igualdade sexual, entre outras
áreas. Cada novo membro da rede deve ‘desenvolver um novo modelo de

15
http://www.philanthropyforum.org/forum/About_Us.asp?SnID=743149094.
16
http://www.clintonglobalinitiative.org/aboutus/ourmodel.asp?Section=AboutUs&PageTitle=
Our%20Model.

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BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

negócios que gere valor social, ambiental e econômico; iniciar, escalar ou


re-direcionar um projeto de negócios ou serviços; ou prover apoio financei-
ro ou em espécie para uma organização de sua escolha’17. Vamos fazer um
breve esboço de compromissos que ilustram a ação dessas redes no campo
da educação.
Na reunião da CGI em 2001, a Opportunity International18 compro-
meteu incialmente $10m19 em parceria com a Sutter Family Foundation e a
Gray Matters Capital, para expandir suas já existentes iniciativas de micro-
financiamento em educação na África, Ásia e América Latina20. O microfi-
nanciamento é outro exemplo de ‘receita mágica’, atualmente onipresente
na nova agenda de desenvolvimento internacional (STEWART et al., 2010).
Como resultado do compromisso, foram feitos empréstimos para a criação
de grupos de escolas particulares em duas redes sob as marcas: Microschools
of Opportunity e IDP Rising Schools.
Inspirada e informada pela pesquisa de James Tooley’s21, a Opportu-
nity International, em parceria com o Sinapi ABA Trust22 e a Ghana Mi-
crofinance Institution Network, lançou o programa Microschools of Opportu-
nity [Microescolas de oportunidade] em 2007. Tooley constitui um claro
exemplo da ligação entre esses grupos filantrópicos e o trabalho de ativistas
do mercado. Ele é citado e trabalha intimamente com um significativo nú-
mero de fundações, entidades filantrópicas e organizações internacionais, e
sua pesquisa é tratada como o elo perdido entre as agendas dessas organi-
zações e as realidades locais que necessitam de financiamento. A iniciativa

17
http://www.clintonglobalinitiative.org/aboutus/ourmodel.asp?Section=AboutUs&PageTitle=
Our%20Model.
18
Opportunity International é uma organização não-governamental cristã internacional com sede
em Chicago. Ela trabalha em mais de 20 países e é financiada por contribuições de caridade e
subsídios do governo. Ela também reúne recursos de outras fontes (por exemplo, da Fundação
Gates Bill & Melinda e Omidyar Network). Seus escritórios estão estrategicamente situados em
EUA, Austrália, Canadá, Alemanha e Reino Unido. Sua principal atividade é o microcrédito
(empréstimos, poupança, microsseguros e treinamento) de projetos em diferentes áreas.
19
http://www.clintonglobalinitiative.org/commitments/commitments_search.asp?Section=
Commitments&PageTitle=Browse%20and%20Search%20Commitments.
20
Initially in Colombia, Dominican Republic, Ghana, India, Malawi, Mozambique, Rwanda and
Uganda.
21
http://www.communityintl.com/documents/Microschools_Opportunity_092407.pdf.
22
Sinapi é uma organização sem fins lucrativos, cristã e membro do Opportunity Rede Internacio-
nal. Tem base em Gana e seu principal foco de ação é microfinanças e treinamento.

42
Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

das Microschools oferece empréstimos a ‘edupresários’ para abrir escolas pri-


vadas em áreas pobres. O programa começou em Gana com um programa
piloto envolvendo 50 bairros e cidades, mas foi rapidamente exportado para
Uganda, Malaui e Índia. Nos próximos três anos, o Opportunity Internatio-
nal visa atingir um milhão de crianças, os “futuros Heróis Econômicos que
Sistema de
empréstimos para os
vivem em cada comunidade”23. Citando um estudo interno, eles afirmam
empresários em que suas escolas estão superando o desempenho das escolas públicas locais
educação.
em suas áreas, o que levou Christopher A. Crane, presidente e CEO da orga-
nização, a declarar que eles estão “confiantes que esses ‘edupresários’ conti-
nuarão a oferecer educação de qualidade a seus estudantes” e, portanto, “fa-
remos todo o possível para oferecer a eles e a milhares como eles serviços
financeiros e outros tipos de apoio”. Até hoje, eles concederam 350 emprés-
timos a escolas privadas, atingindo 87.000 crianças24.
Seguindo o mesmo padrão, a IDP Rising Schools é uma associação
entre a IDP Foundation Inc, a Opportunity International US e o Sinapi
Aba Trust. O objetivo desse programa é ‘construir um modelo educacional
sustentável que pode ser apoiado através de empréstimos de microfinancia-
mento e capacitação para ser posteriormente replicado em Gana, na África
subsaariana e por todo o mundo em desenvolvimento’25. De acordo com o
website da IDP Foundation, em 2010 eles esperam ter 120 escolas inscritas
no programa, alcançando uma população de 31.000 crianças. Além disso,
a IDP Rising Schools também se associou ao Ministério da Educação e aos
Serviços Educacionais de Gana e criou um conselho consultivo para a for-
mação de professores, que será presidido pelo Dr. Josiah A. M. Cobbah,
professor no Ghana Institute of Management and Public Administration, uma
instituição que visa promover “o entendimento e a cooperação entre insti-
tuições dos setores público e privado no que tange a administração pública
e obrigações de gerenciamento”26.
A nova filantropia também requer novas ferramentas e ‘informação’
para impulsionar decisões de investimento e medir o retorno sobre os inves-

23
http://www.opportunity.org/wp-content/uploads/2010/06/Impact-2007-Fall.pdf.
24
http://www.opportunity.org/blog/meeting-ugandan-students-reflections-of-an-american-teenager/.
25
http://globalpf.org/strategic-advisors.html?show=8.
26
http://www.gimpa.edu.gh/index.php?option=com_content&view=article&id=56&Itemid=54.

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BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

timentos. Essa necessidade de claros indicadores de desempenho levou à


criação de um conjunto de companhias e organizações internacionais com
fins lucrativos (ex.: Geneva Global, Rockefeller Philanthropy Advisors e o Proje-
to do Milênio da ONU) e empreendimentos sociais (ex.: New Philanthropy
Capital), que oferecem consultoria a organizações filantrópicas e avaliação
de seus portfólios. Como investidores, consultores e conselheiros de entida-
des quase governamentais, esses transatores passaram a envolver-se direta-
mente nos processos de formulação de políticas, tomada de decisão e im-
plementação de políticas:
A Geneva Global foi fundada por um grupo internacional de investimentos
chamado Legatum (anteriormente conhecido como Sovereign Global), que bus-
cava uma assessoria filantrópica profissional que satisfizesse os padrões ban-
cários a que estava acostumado. A ausência de tais serviços levou-o a fundar
o Geneva Global em 1999. O grupo equipou a nova firma internacional de
assessoria filantrópica para oferecer pesquisa e assessoria de classe interna-
cional para indivíduos, empresas e fundações.

Ao lado desses intermediários vem sendo desenvolvidos outros ti-


pos de análise dos mercados sociais. Por exemplo, a School Ventures, uma
empresa de informação mercadológica, em colaboração com o Economist
Intelligence Unit criou o African Private Schools Investment Index (APSI) [Índi-
ce de investimento em escolas privadas africanas] em 200727, destinado a
avaliar as possibilidades de investimento privado em trinta e seis países afri-
canos, baseando-se na análise do “potencial de crescimento de cada país
com base na existência de condições favoráveis”. De acordo com a School
Ventures, o índice “oferece uma avaliação totalmente nova do cenário da
educação privada na África subsaariana e é projetado especificamente para
avaliar o atual ambiente de investimentos em educação privada na Áfri-
ca”28. A crescente emergência de tais empreendimentos e ferramentas é re-
toricamente direcionada a informar as decisões de formuladores de políti-
cas, investidores potenciais e existentes e grupos filantrópicos. No entanto,
se poderia argumentar que a implementação dessas tecnologias de políticas
também introduz novas formas de competição entre países e regiões e no-

27
http://www.prnewswire.com/news-releases/silent-revolution-of-african-education-markets-fin-
ds-expression-in-the-new-apsi-index-58736087.html.
28
http://schoolventures03.goodbarry.com/FAQRetrieve.aspx?ID=35960&Q=.

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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

vas classificações comparativas baseadas em sua “atratividade (…) como


destinos para investimentos privados”29.
A fonte e o motor dessas novas formas de conhecimento para o de-
senvolvimento dentro das iniciativas e movimentos delineados acima cla-
ramente não são os atores individuais, mas sim a comunidade discursiva –
e esse discurso e seus sujeitos e práticas poderíamos denominar de neolibe-
ralismo. Aqui existem claramente aspectos daquilo que Peck e Tickell (2002)
chamam de normatização da lógica neoliberal, mas frequentemente de for-
mas ‘impuras’ e como híbridos confusos e em parcerias diversas.
As redes são locais e domínios para a lógica neoliberal e produzem
novos tipos de objetos de políticas através de um duplo processo de como-
dificação e financialização e empreendedorismo moral (SHAMIR, 2008).
As ideias das políticas não se movimentam num vácuo elas são criações
sociais e políticas que são contadas e recontadas em microespaços e redes
de políticas. Os participantes desenvolvem e negociam com várias formas
de capital social e de redes, que se traduzem no direito de falar e na neces-
sidade de ser ouvido. Esses são os ‘novos espaços de possibilidades emara-
nhadas’ (ONG, 2006, p. 499), os novos espaços do neoliberalismo e da
‘economização do social’. Os processos aqui envolvidos não só agem ‘so-
bre’ como também agem ‘contra’ o Estado e a educação estatal. Resumin-
do, problemas arraigados de desenvolvimento e de qualidade e acesso edu-
cacional estão agora sendo tratados através envolvimento de empresas so-
ciais e do negócio educacional na provisão de serviços educacionais tanto
de forma privada como em nome do Estado.

Observações finais
As mudanças e os movimentos aqui envolvidos são formados e im-
pulsionados por um complexo conjunto de processos políticos e econômi-
cos implicando o ativismo (por Empreendedores de Políticas e Redes de
Promoção Transnacionais), interesses empresariais (novas oportunidades

29
http://www.prnewswire.com/news-releases/silent-revolution-of-african-education-markets-fin-
ds-expression-in-the-new-apsi-index-58736087.html.

45
BALL, S. J.; OLMEDO, A. • A ‘nova’ filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação

de lucro), a ‘nova’ filantropia e mudanças na forma e modalidades do Esta-


do – e isso é uma transição de governo a governança; de burocracia a redes,
da provisão de serviços ao estabelecimento de metas, monitoramento e re-
gulação. Cada um desses elementos precisa ser contemplado na análise da
nova filantropia e das novas formas de política educacional. De forma mais
geral, para os governos nacionais, principalmente aqueles de Estados pe-
quenos e frágeis, isso tudo pressagia uma diminuição da sua capacidade de
conduzir seus sistemas educacionais. Agências multilaterais, ONGs e in-
fluências e interesses comerciais podem, separada ou conjuntamente, cons-
tituir uma alternativa potente ao ‘fracasso’ do Estado.
Cada vez mais, a ajuda internacional e a filantropia deixam de ser
‘doadas’ como subvenções a governos e ONGs e passam a ser ‘investidas’
em negócios educacionais e no desenvolvimento de soluções baseadas no
mercado para problemas educacionais. Os métodos empresariais e as ini-
ciativas de empreendedorismo social são vistos como formas mais efica-
zes de oferecer acesso mais amplo à educação e uma educação de melhor
qualidade do que, argumenta-se, aquilo que os governos ou a ajuda ou
caridade tradicional podem oferecer.
O que estamos tentando capturar e transmitir nesta análise – um tan-
to insatisfatória e superficial – de algumas formas de ‘empreendimento’ e
de indivíduos empreendedores da nova política social e educacional são os
cruzamentos, obscurecimentos, interlaçamentos e hibridismos cada vez mais
complexos, que constituem e animam esse cenário de ‘doação’ e empreen-
dimento. Pessoas, dinheiro e ideias movem-se através dessas redes e organi-
zações e através dos limites que elas abarcam. Linhas e demarcações tradi-
cionais, o público e o privado, o mercado e o Estado, estão sendo rompidas
e misturadas em tudo isso, e elas deixaram de ser analiticamente úteis. Os
pesquisadores precisam de uma nova linguagem e de novas técnicas para
que sejam capazes de acompanhar as novas formas em que as políticas
educacionais e as soluções educacionais estão sendo geradas e aplicadas
dentro dessas redes de políticas globais.

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Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação

Referências
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