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Nesta aula continuaremos estudando o conceito de limite finito, com a apresentação de novas
propriedades.
Primeiro façamos uma observação geométrica sobre o limite finito no plano cartesiano. Se-
jam f uma função, p ∈ Df0 e L ∈ R. Se L = limx→p f (x), então, no plano cartesiano, o seg-
mento de comprimento f (x) “aproxima-se” do segmento de comprimento L quando x tende a p.
Também o ponto (x, f (x)) ∈ Gf aproxima-se, ao longo do gráfico de f , do ponto (p, L) quando
x tende a p. Deve-se ter em mente tal interpretação geométrica quando L = limx→p f (x), como
esboçado na figura 1.
Lembrete 1. Dado um ponto p ∈ R e uma vizinhança aberta de p, isto é, um intervalo aberto I
contendo p, dizemos que o conjunto I − { p } é uma vizinhança aberta estrita de p. Em outras
palavras, uma vizinhança aberta estrita de p é qualquer vizinhança aberta de p sem o ponto p,
conforme a figura 2. Sendo X ⊂ R, p ∈ X 0 e I uma vizinhança aberta de p, dizemos que o
conjunto X ∩ (I − { p }) é uma vizihança aberta estrita de p em X.
1
2
F IGURA 2. Vizinhanças de p em R.
A proposição 1 diz que se duas funções estão definidas e coincidem numa vizinhança aberta
estrita de um ponto, e uma delas possui limite nesse ponto, então a outra também possui limite
no mesmo ponto e os limites são iguais, conforme a ilustração na figura 3.
Exemplo 1. Usaremos a proposição 1 para encontrar o limite, em 3, da função f definida por
x2 − 9
f (x) = .
x−3
Observe que não há como calcular o limite de f em 3 utlizando a propriedade operatória do
limite finito, que dá o limite do quociente, pois limite de (x − 3), em 3, é igual a zero. Tem-se
que
∗ f não está definida em 3, isto é, 3 6∈ Df ,
∗ Df = { x ∈ R | x 6= 3 } e
2
∗ f (x) = xx − − 9 = (x + 3).(x − 3) = x + 3 qualquer que seja x ∈ D , isto é,
3 x−3 f
x2 − 9 lim (x2 − 9) −5
x→2
lim = = = 5.
x→2 x − 3 lim (x − 3) −1
x→2
Neste exemplo não é feito o uso da proposicao 1, mas sim das propriedades operatórias do
limite finito.
Exemplo 3. Seja f a função dada por
x3 − 8
f (x) = .
x2 − 4
4
Neste exemplo, também, não há como calcular o limite de f em 2, utlizando a propriedade
operatória do limite finito que dá o limite do quociente, pois limite de (x2 − 4), em 2, é igual a
zero. Tem-se
∗ Df = { x ∈ R | x 6= −2 e x 6= 2 } e
3 (x − 2).(x2 + 2x + 4) 2
∗ f (x) = x2 − 8 = =x + x+2
2x + 4 qualquer que seja x ∈ D .
f
x −4 (x − 2).(x + 2)
Sendo g a função definida por
x2 + 2x + 4
g(x) = ,
x+2
tem-se
∗ Dg = { x ∈ R | x 6= −2 },
∗ g(x) = f (x) qualquer que seja x 6= −2 e x 6= 2, e
2
∗ limx→2 g(x) = limx→2 x + x+2
2x + 4 = 12 = 3.
4
Como f e g estão definidas e são idênticas na vizinhança aberta estrita (−2, 2) ∪ (2, +∞) de
2, segue pela proposição 1, que 12 é limite de f em 2, isto é,
x3 − 8 (x − 2).(x2 + 2x + 4) x2 + 2x + 4
lim f (x) = lim = lim = lim = 3.
x→2 x→2 x2 − 4 x→2 (x − 2).(x + 2) x→2 x+2
Observe que limx→2 g(x) foi calculado usando o limite do quociente, enquanto limx→2 f (x) foi
calculado usando a proposição 1.
Cada limite
f (x)
lim ,
x→p g(x)
onde
lim f (x) = 0 e lim g(x) = 0,
x→p x→p
x2 − 1 x3 − 8 x2 − 1
lim , lim 2 , lim 2 ,
x→1 x − 1 x→2 x − 4 x→1 x − 2x + 1
x2 − 9 x2 − 2x x16 − 1
lim , lim 2 e lim 3 .
x→2 x − 3 x→2 x − 4x + 4 x→1 x − 1
Observe, no próximo exemplo, o modo de proceder (de escrever), bem mais simples, para o
cálculo do limite, o qual é uma indeterminação do tipo 00 .
x3 − 1 (x − 1).(x2 + x + 1)
lim = lim − = lim −(x2 + x + 1) = −3.
x→1 1 − x x→1 x−1 x→1
Esta igualdade é plenamente justificada pela proposição 1, como foi feio de forma detalhada,
nos exemplos 1 e 2. Mas o referido detalhamento, sempre que possı́vel, não voltará a ser feito
daqui em diante. Utilizaremos a abordagem direta e simples no cálculo dos limites do tipo 00 .
Observação 1. Preste atenção: 00 não é um número real. É apenas um sı́mbolo que denota um
certo conjunto de limites. Entendeu? Não saia dizendo por aı́ que este texto ensina a dividir
zero por zero!
Proposição 2. São verdadeiras as seguintes implicações.
∗ Dados x, y ∈ R e n ∈ N∗ par maior que 1, se x > y ≥ 0, então xn > y n .
∗ Dados x, y ∈ R e n ∈ N∗ par maior que 1, se x < y ≤ 0, então xn > y n .
∗ Dados x, y ∈ R e n ∈ N∗ ı́mpar, se x > y, então xn > y n .
Demonstração. Seja n ∈ N, com n ≥ 2. Dados x, y ∈ R,
xn − y n = (x − y) · (xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1 )
Daı́, se x, y ∈ [0, +∞) e x > y, então (x − y) > 0, x > 0 e, portanto,
xn−1 + xn−2 · y + · · · + x · y n−2 + y n−1 > 0.
Logo,
(x − y) · (xn−1 + xn−2 y + · · · + xy n−2 + y n−1 ) > 0,
isto é, xn − y n > 0. Assim, está demonstrado que
x, y ∈ [0, +∞) e x > y =⇒ xn > y n .
Se n é par, tem-se a implicação
x, y ∈ (−∞, 0] e x > y =⇒ −x, −y ∈ [0, +∞) e − x < −y
=⇒ −x, −y ∈ [0, +∞) e − y > −x
=⇒ (−y)n > (−x)n =⇒ y n > xn
=⇒ xn < y n .
Assim, está demonstrado que, para n par,
x, y ∈ (−∞, 0] e x > y =⇒ xn < y n .
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Isto prova, neste caso, que dado > 0 existe δ > 0 tal que
√ √
0 < |x − p| < δ =⇒ | n x − n p| < .
Caso 3: p = 0. Neste caso dado > 0, escolhendo δ = n , tem-se δ > 0 e
p √ √ √ √
0 < |x − p| < δ =⇒ |x| < n =⇒ n |x| < n n =⇒ | n x| < =⇒ | n x − 3 p| < .
8
A proposicao 3 diz que, dados n ∈ N∗ e p ∈ R,
√ √
lim n x = n p,
x→p
sempre que estiver definda a raiz n-ésima de p. Guarde este resultado para quando for apresen-
tado o conceito de continuidade.
Exemplo 4. O limite √
x−2
lim
x−4
x→4
√
não pode ser encontrado usando o limite do quociente, pois x − 2 e x − 4 têm limites nulos
em 4. Mas, pela proposição 1,
√ √ √
x−2 x−2 x−2
lim = lim √ 2 2 = lim √ √
x→4 x − 4 x→4 ( x) − 2 x→4 ( x − 2).( x + 2)
1 1 1
= lim √ = √ = .
x→4 x+2 lim ( x + 2) 4
x→4
Exemplo 5. O limite √
3
s−1
lim 2
s→1 s − 1
é uma indeterminação e, assim, não pode ser calculado usando a propriedade operatória que
dá o limite do quociente. Entretanto, pela proposição 1,
√ √ √
3
s−1 3
s−1 3
s−1
lim 2 = lim = lim √
s→1 s − 1 s→1 (s − 1).(s + 1) s→1 (( s) − 13 ).(s + 1)
3 3
√3
s−1
= lim √ √ 2
√
s→1 ( s − 1).(( s) + 3 s + 1).(s + 1)
3 3
1 1 1
= lim √ 2
√ = = .
3
s→1 (( s) + 3
s + 1).(s + 1) 3.2 6
A seguinte proposição, junto com a unicidade do limite finito, servirá para demonstrar, em
próximas aulas, a não existência de certos limites. Guarde-a!.
Proposição 4. Sejam f e g funcões, p um ponto de acumulação de Df e de Dg , L ∈ R e
M ∈ R. Se
L = lim f (x), M = lim g(x)
x→p x→p
e existe A ⊂ R tal que p é ponto de acumulação de A, f e g estão definidas em A, e f e g
coincidem em A, então L = M .
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Exercı́cio 3. Seja f a função definida por f (x) = 12 . Encontre, em existindo, os limites abaixo.
x
f (x) − f (1) f (x) − f (p)
limx→1 x−1 limx→p x−p para p 6= 0
f (x) − f (p)
lim para p > 2
x→p x−p
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