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Os desafios da pesquisa qualitativa apontados no Antropólogo e os

pobres: uma introdução metodológica e afetiva

Maria Almeida de Oliveira1

Za lu a r, A. O A nt ro pó lo go e os po b re s: u ma in t rod u ção me to do ló g ica e af et iva .


In : A Má qu in a e a Re vo lt a :   As O rga n iza çõ e s Po pu la re s e o s S ign if ica do s d a
Po b re za . Sã o P au lo : B ra silie n se , 19 85 . 26 5 p p

O livro A Máquina e a Revolta:  As Organizações Populares e os


Significados da Pobreza de Alba Zaluar, escrito em 1985, é a
síntese de sua pesquisa de doutoramento.

Essa obra suscita dois polos de reflexão. Um polo, sobre renda e


pobreza; favelização e violências, participação comunitária e
lideranças; juvenização e trabalho; gênero e moradia, lazer e
vícios, enfim ausência de politicas sociais e o outro, sobre os
desafios e modo de fazer pesquisa qualitativa em áreas de
vulnerabilidades sociais.

Aqui nesse trabalho vamos nos apropriar da reflexão suscitada


sobre os desafios e o modo de fazer pesquisa qualitativa em áreas
de vulnerabilidades sociais explicita na seção O Antropólogo e os
pobres: uma introdução metodológica e afetiva. Essa parte traça o
percurso inicial da pesquisa abordando como se deu a
aproximação da pesquisadora com a comunidade Cidade de Deus,
que na época estava em evidência na mídia nacional devido o grau
de violência enfrentada no seu cotidiano.

Nessa seção Zaluar mostra o paradoxo entre o conhecido e


desconhecido. Não basta delinear a pesquisa, dominar a
“segurança” epistemológica do seu objeto de estudo se o campo

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Aluna do Componente Curricular Território e Desenvolvimento
empírico é desconhecido. O medo é realçado no ínterim da vida
acadêmica, seu espaço conhecido e da sua vida humana no
espaço desconhecido do outro, pois a posição de classe social é
intrínseca nesses espaços onde as representações construídas no
cotidiano deixam de ser latentes. O Medo e o desejo de realizar a
pesquisa se digladiam e daí surge a coragem e a ousadia de
adentrar no mundo desconhecido.

Zaluar sinaliza como se aproximar dos sujeitos escolhidos para


materializar a pesquisa e também as nuances desses sujeitos para
se envolver com o trabalho da pesquisa. Percebe-se o movimento
de aproximação e afastamento tanto da pesquisadora quanto dos
sujeitos participantes. Os acordos estabelecidos nesse processo
de estranhamento e engajamento vão modelando a metodologia da
pesquisa e ensinando a pesquisadora a não ter apego aos
instrumentos/recursos (gravador, a máquina fotográfica)
selecionados nessa trajetória ultrapassaram o seu uso. O que era
para somente ser usado pela pesquisadora passou-se a ser usado
pelos membros da comunidade ao tempo em que iam se
envolvendo e já demostravam pertencidos ao projeto, mas sem
perder a desconfiança no estranho, “no de fora”.

Esse momento realça a importância do domínio teórico por parte


da pesquisadora para não se abater diante dos desafios e
adversidades encontradas no caminho da pesquisa e ao mesmo
tempo, aponta as estratégias de como continuar o trabalho dando
brecha para os momentos de lazer, de descontração na
comunidade sem perder de vista o foco da pesquisa.

Portanto, nessa seção, pressupõe-se a sistematização da


rigorosidade metódica no percurso da pesquisa qualitativa
vinculada às relações de afetividades sem implicar no objeto de
estudo onde o medo, a ousadia e a coragem constroem a base do
estudo cientifico.

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