Você está na página 1de 42

5

UNIDADE 5

Produção acadêmica: tipos de


trabalhos científicos

Objetivos de aprendizagem
 Distinguir os tipos de resumo e conhecer os principais
procedimentos para resumir.
 Conceituar e identificar a estrutura da resenha critica.

 Identificar os tipos e a estrutura da ficha de leitura.

 Distinguir os tipos de paper.

 Conhecer a estrutura do projeto de pesquisa.

 Conhecer os tipos e a estrutura do artigo científico.

 Conceituar relatório técnico-científico e monografia.

Seções de estudo
Seção 1 Resumo

Seção 2 Resenha crítica

Seção 3 Fichamento

Seção 4 Paper

Seção 5 Artigo científico

Seção 6 Projeto de pesquisa

Seção 7 Relatório técnico-científico

Seção 8 Monografia
Universidade do Sul de Santa Catarina

Para início de estudo


Um trabalho acadêmico, segundo a Associação Brasileira
de Normas Técnicas (2005), consiste num “documento
que representa o resultado de estudo, devendo expressar
conhecimento do assunto escolhido, que deve ser
obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo
independente, curso, programa e outros ministrados. Deve ser
feito sob a coordenação de um orientador”.

Nesta unidade você conhecerá os principais tipos de trabalhos


acadêmicos solicitados no cotidiano da vida universitária: o
conceito, os tipos e os principais procedimentos para resumir,
para fazer fichamentos, papers, artigo científico, projeto de
pesquisa, relatório técnico-científico e monografia.

— Após o estudo dessa unidade, realize as atividades de auto-


avaliação sugeridas no final. Elas ajudarão você a estudar o conteúdo
desta disciplina de maneira estruturada.

SEÇÃO 1 - Resumo
O resumo é a apresentação concisa das principais idéias de um
texto. Resulta da capacidade analítica e compreensiva que o leitor
adquire no momento em que faz sua leitura. Quanto mais se tem
domínio e compreensão do texto, maior será a capacidade de
síntese e de apresentação de forma breve.

Na apresentação do resumo, o aluno deve evitar a manifestação


Sobre esse assunto você de opinião sobre o tema ou analisá-lo criticamente. O acréscimo
estudará na próxima seção da crítica no resumo caracteriza um outro tipo de trabalho,
desta unidade. denominado resumo crítico ou resenha crítica.

No meio acadêmico, o desenvolvimento de um resumo é


importante, por que permite “[...] em rápida leitura, recordar o
essencial do que se estudou e [apresentar] a conclusão a que se
chegou” (GALLIANO, 1986, p. 89).

154
Ciência e Pesquisa

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003b),


existem três tipos de resumos, que são:

 Resumo crítico: resumo redigido por especialistas com


análise crítica de um documento. Também chamado de
resenha. [...].
 Resumo indicativo: indica apenas os pontos principais
do documento, não apresentando dados qualitativos,
quantitativos etc. De modo geral, não dispensa a consulta
ao original.
 Resumo informativo: informa ao leitor finalidades,
metodologia, resultados e conclusões do documento, de
tal forma que este possa, inclusive, dispensar a consulta
ao original.
O resumo é útil para difundir as idéias contidas em obras
de diversos tipos, como também, para favorecer ao leitor a
possibilidade de escolha ou consulta do texto no original.

Quais procedimentos devem ser seguidos na


elaboração de um resumo?

Para elaborar um resumo você deve seguir os seguintes


procedimentos:

a) Leitura integral para adquirir uma visão de conjunto


da unidade (capítulo). Alguns alunos preferem não fazer
a leitura integral do texto achando que vão perder tempo e
partem logo para a elaboração do resumo, mas, ao contrário
do que se pensa, a leitura integral do capítulo permitirá
uma visão ampla da estrutura do texto, possibilitando
diferenciar o que é essencial e o que é secundário.

b) Delimitação das unidades de leitura do texto. Delimitar


significa decompor as partes constitutivas do texto. Cada
unidade de leitura possui um sentido completo e é composta
por: idéia central ou diretriz, explicitação da idéia e
conclusão. Aprendemos em linguagem e produção textual
que a função do parágrafo é apresentar uma idéia nova com

Unidade 5 155
Universidade do Sul de Santa Catarina

uma totalidade de sentido, aprendemos que devemos mudar de


parágrafo quando mudamos a idéia no texto. Esse procedimento
fez com que por um período muito longo da história os autores
escrevessem parágrafos longos.

Entretanto, hoje, os autores preferem escrever textos com


parágrafos breves, curtos e, muitas vezes, um parágrafo não dá
conta de apresentar o sentido completo da informação. Assim, é
possível que encontremos textos onde os autores utilizam mais
de um parágrafo para expor uma idéia. Por isso, é importante
separar as unidades de leitura do texto, decompondo-o
analiticamente, antes de iniciar o resumo.

c) Esquematização (na forma de tópicos) ou preparação das


anotações da leitura. Consiste na estruturação gráfica e visual do
texto com divisões e subdivisões. O esquema pode ser elaborado
por meio de chaves, marcadores ou divisão numérica das idéias.
A esquematização do texto servirá de base para a redação do
resumo.

d) Redação do resumo com frases breves e objetivas. Observe


as sugestões apresentadas por Marconi e Lakatos (2003, p. 69,
grifo do autor) para a redação da ordem em que aparecem as
idéias no texto:

a) conseqüências (quando se empregam palavras tais


como: em conseqüência, por conseguinte, portanto, por
isso, em decorrência disso etc.);

b) justaposição ou adição (identificada com expressões de


tipo: e, da mesma forma, da mesma maneira etc.);

c) oposição (com a utilização das palavras: porém,


entretanto, por outra parte, sem embargo etc.);

d) incorporação de novas idéias;

e) complementação do raciocínio;

f) repetição ou reforço de idéias ou argumentos;

g) justaposição de proposições (por intermédio de um


exemplo, comprovação etc.);

h) digressão (desenvolvimento de idéias até certo ponto


alheias ao tema central do trabalho).
156
Ciência e Pesquisa

Acompanhe, a seguir, exemplos de resumo indicativo e


informativo, elaborados com base nos procedimentos citados
nesta seção. Observe que as palavras grifadas indicam que o
resumo indicativo está dentro do resumo informativo:

Resumo indicativo:

LUCKESI, Cipriano Carlos et al. O leitor no ato


de estudar a palavra escrita. In:______. Fazer
universidade: uma proposta metodológica. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 1985. cap. 3, p. 136-143.

Estudar significa o ato de enfrentar a realidade.


O enfrentamento da realidade pode ocorrer pelo
contato direto ou indireto do sujeito que conhece
com o objeto que é conhecido. As duas formas de
estudar (direta ou indireta), podem ser classificadas
como críticas ou a-críticas. O leitor poderá ser sujeito
ou objeto, dependendo da postura que assume
frente ao texto.

Resumo informativo:

LUCKESI, Cipriano Carlos et al. O leitor no ato


de estudar a palavra escrita. In:______. Fazer
universidade: uma proposta metodológica. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 1985. cap. 3, p. 136-143.

Estudar significa enfrentar a realidade para


compreendê-la e elucidá-la. Este enfrentamento
pode ocorrer, de um lado, pelo contato direto do
sujeito com o objeto. Isso se dá quando o sujeito
opera “com” e “sobre” a realidade. De outro lado, o
enfrentamento pode ocorrer pelo contato indireto.
Neste caso, o sujeito recebe o conhecimento
por intermédio de outra pessoa ou por símbolos
orais, mímicos, gráficos, etc. O ato de estudar
indiretamente crítico equivale à objetividade
na elucidação. O ato de estudar indiretamente
crítico equivale a descrição da realidade como
ela é, sem magnetização pela comunicação em si.
A atitude a-crítica corresponde à abdicação da
capacidade de investigar, à alienação e à retenção
mnemônica. O leitor que assume uma postura
de objeto frente ao texto de leitura é verbalista, ou
seja, a aprendizagem não se dá pela compreensão,
mas pela reprodução intacta e mnemônica das
informações. O leitor sujeito, por outro lado,
compreende e não memoriza, avalia o que lê e tem
uma atitude constante de questionamento.

Unidade 5 157
Universidade do Sul de Santa Catarina

Os resumos que precedem trabalhos científicos assumem


características diferentes dos resumos de textos didáticos, são
normatizados pela NBR 6028 da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (2003) e devem ressaltar o objetivo, o método,
os resultados e as conclusões do trabalho.

A extensão dos resumos científicos conforme a Associação


Brasileira de Normas Técnicas (2003, p. 2) deve ter:

a) de 150 a 500 palavras para trabalhos acadêmicos


(teses, dissertações e outros) e relatórios técnico-
científicos;
b) de 100 a 250 palavras para artigos de periódicos;
c) de 50 a 100 palavras para indicações breves.
O resumo do artigo escrito por Guimarães e outros (2006, grifo
nosso), publicado pela Revista de Nutrição, indica, de forma clara
a estrutura de um resumo que precede trabalhos científicos. Leia:

Fatores associados ao sobrepeso em escolares

Objetivo: Identificar variáveis associadas ao sobrepeso


em escolares de Cuiabá, MT, Brasil. Métodos: Foi feito
um estudo de caso-controle a partir de um inquérito
antropométrico, aplicado em uma amostra aleatória
de alunos da primeira série do ensino fundamental,
com idades entre 6 e 11 anos. Foram incluídos, como
casos, os 158 escolares que apresentaram sobrepeso
(índice de massa muscular >P85) e, como controles, 316
crianças sorteadas entre as que apresentaram índice de
massa muscular<P85. Informações socioeconômicas,
do domicílio, da família e de atividade física dos
escolares foram obtidas por meio de entrevistas. Foram
tomadas medidas de peso e altura da criança e dos
pais por antropometristas treinados. Os dados foram
submetidos à análise de regressão logística múltipla
hierarquizada. Resultados: O sobrepeso foi maior em
escolares com renda familiar per capita >3 salários
mínimos (OR= 3,75), que tinham mães de idade
entre 25 e 29 anos (OR=1,74) e com nível mais alto
de escolaridade (OR=1,91) e com história de apenas
uma união conjugal (OR=2,53); também foi maior nos
escolares, de sexo feminino (OR=2,15), que possuíam

158
Ciência e Pesquisa

no máximo um irmão (OR=1,94), brincavam <10h por


semana (OR=2,58), tinham mães e pais com índice de
massa muscular >30 (OR= 7,27 e 2,65, respectivamente)
e nasceram com peso >3500g (OR= 2,27). Conclusão:
Os resultados apontam que variáveis de diferentes
níveis hierárquicos se associam na configuração de
contextos favoráveis ao aumento do sobrepeso em
escolares e fornecem subsídios para o desenvolvimento de
intervenções que considerem os grupos mais vulneráveis à
presença de sobrepeso.

SEÇÃO 2 - Resenha crítica


A Resenha Crítica é uma modalidade de trabalho científico que
consiste no desenvolvimento de uma síntese sobre uma obra,
no sentido de expressar um juízo de valor acerca do assunto
abordado. Corresponde à apreciação crítica de um texto com o
objetivo de discussão das idéias nele contidas.

Segundo Oliveira Netto (2005, p. 73), a resenha pode ser


definida como “a apresentação do conteúdo de uma obra,
acompanhada de uma avaliação crítica ou indicativa”. Este
resumo deve apresentar as idéias da obra, a avaliação das
informações e a forma como foram expostas, bem como a
justificativa da avaliação desenvolvida no resumo.

Para proceder a essa avaliação, é necessário que se recorra ao


posicionamento de outros autores da comunidade científica em
relação às defendidas pelo autor da obra criticada, estabelecendo
uma espécie de comparação principalmente no que se refere ao
enfoque, método de investigação e forma de exposição das idéias.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003), por


meio da NBR 6028, denomina a resenha de resumo
crítico.

Normalmente, a Resenha é desenvolvida por especialistas, pois


exige, por parte do resenhista, conhecimento completo da obra,
capacidade crítica e maturidade intelectual. Salvador (1979 apud

Unidade 5 159
Universidade do Sul de Santa Catarina

MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 264) apresenta os seguintes


requisitos básicos para a elaboração de uma resenha crítica:

a) conhecimento completo da obra;


b) competência na matéria;
c) capacidade de juízo de valor;
d) independência de juízo;
e) correção e urbanidade;
f) fidelidade ao pensamento do autor.

A apresentação da estrutura da resenha crítica pode variar


de autor para autor. Em geral, dois elementos são essenciais:
o resumo e a crítica. Dos diversos modelos encontrados na
literatura de metodologia científica adotamos aqui o roteiro
descrito por Marconi e Lakatos (2003, p. 264) apresentado a
seguir:

a) Obra – apresentação dos dados de identificação da


referência bibliográfica.
b) Credenciais da autoria – nacionalidade, formação
acadêmica, outras obras escritas pelo autor.
c) Conclusões da autoria – síntese das principais
conclusões da obra apresentada no final de cada
capítulo ou no final da obra.
d) Digesto – resumo das principais idéias dos capítulos
ou da obra como um todo;
e) Metodologia da autoria – descrição do tipo de
método e das técnicas utilizadas pelo autor da obra.
f) Crítica do resenhista – julgamento da obra do ponto
de vista da coerência e consistência na argumentação,
originalidade, emprego adequado de métodos e
técnicas, contribuição para o desenvolvimento da
ciência e estilo empregado. É importante salientar que
a crítica deve ser bem fundamentada e o resenhista
deve confrontar as idéias da obra com outras idéias de
outras obras e autores.

160
Ciência e Pesquisa

g) Indicação do resenhista – indicação da obra para qual


público (estudantes, especialistas) e para qual curso ou
área do conhecimento.
— Nessa seção você conheceu mais uma modalidade de trabalho
científico: Resenha Crítica que em outras palavras, é uma síntese na
qual você expressa um juízo de valor. A próxima seção convida você a
estudar sobre o fichamento. Bom estudo!

SEÇÃO 3 - Fichamento
A leitura é uma atividade constante na vida acadêmica e se torna,
no decorrer do curso, a base de sua formação. Você é sujeito
ativo de sua aprendizagem e não pode esperar que tudo seja
transmitido pelos professores. A iniciativa de aprender sempre
deverá ser sua.

O estudante tem de se convencer de que sua


aprendizagem é uma tarefa eminentemente pessoal; tem
de se transformar num estudioso que encontra no ensino
escolar não um ponto de chegada, mas um limiar a partir
da qual constitui toda uma atividade de estudo e de
pesquisa [...] (SEVERINO, 2000, p. 35).

A leitura é um instrumento de aprendizagem que


permite a você ter o conhecimento e a compreensão
do mundo, por isso, você deve ser especialista nela.

Você pode perceber que estamos diante de uma cultura que se


complexifica a cada dia que passa e nem sempre se consegue
assimilar o conjunto das informações que nos rodeia. E,
dependendo da leitura que estamos fazendo, seja pelo interesse ou
pela necessidade, algumas anotações precisam ser feitas.

A maneira mais adequada para reter essas informações é o


registro em algum suporte físico. Achar que a memória vai dar
conta de armazenar tudo, é um grande engano. Na memória,
infelizmente, não podemos confiar.

Unidade 5 161
Universidade do Sul de Santa Catarina

A ficha de leitura pode se tornar um instrumento útil no


momento da recuperação de uma informação e pode ser realizada
com diferentes fins:

a) como instrumento de coleta de dados na realização de


uma pesquisa bibliográfica;
b) como trabalho acadêmico em disciplinas de graduação
e pós-graduação;
c) como preparação de textos na apresentação oral de
trabalhos em sala de aula; e,
d) como um instrumento auxiliar na leitura e registro das
idéias de um texto.

Quando se fala em ficha de leitura automaticamente pensamos


naquele papel de cartolina que é vendido em livrarias e que
possui em média 10,5 x 15,5cm. Entretanto, com os recursos
disponibilizados pela tecnologia, é possível fazer os registros
diretamente no computador e depois imprimi-los em papel A4.

Para fazer a ficha de leitura, primeiramente, é necessário


delimitar a unidade de leitura do texto.

Unidade de leitura pode ser compreendida com


sendo um setor do texto que possui um sentido
completo, ou seja, um livro, um capítulo de um livro,
um artigo científico, uma matéria de jornal ou revista,
ou qualquer outro texto que precise ser estudado.

Classificação das fichas


De maneira geral, as fichas podem ser classificadas em 2 tipos:
bibliográfica e temática. A bibliográfica, como o próprio nome
diz, ocupa-se de uma obra e, a temática, de um tema pesquisado
em várias obras.

162
Ciência e Pesquisa

Se o objetivo é fazer a leitura e apontamentos da obra


“A semente da vitória”, de Nuno Cobra, teríamos um
fichamento bibliográfico. Mas se o objetivo é a leitura
e a tomada de apontamentos sobre o tema “sono”, em
várias obras, teríamos um fichamento temático.

As atividades desenvolvidas na leitura também podem servir para


classificar os tipos de ficha. No momento da leitura podemos
resumir, transcrever fragmentos considerados importantes ou
simplesmente comentar analiticamente o texto.

Dessas atividades podem resultar a ficha resumo, a ficha de


citação e a ficha de comentário analítico. Acompanhe a seguir.

a) Ficha resumo - resumir significa apresentar de forma concisa


as principais idéias de um texto. O resumo deve ser elaborado na
fase da leitura analítica, no exato momento em que conseguimos
assimilar e compreender as idéias do texto. Quanto maior a
compreensão das idéias, tanto maior será nossa capacidade
resumir. Veja os procedimentos para a elaboração do resumo na
seção 1 desta unidade.

b) Ficha de citação - nesse tipo de ficha copia-se literalmente, na


forma de transcrição textual (cópia fiel), fragmentos considerados
relevantes para o estudo do texto. A parte a ser transcrita não
deverá ser muito extensa, pois não faz muito sentido copiar por
copiar. As fichas desse tipo podem dar origem às citações no
texto quando se está elaborando um trabalho acadêmico.

c) Ficha de comentário analítico – nessas fichas podem ser


registradas as nossas reflexões sobre o material que está sendo
lido (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 233). As
reflexões podem resultar em:

 afinidade - quando a análise manifesta nossa


concordância e aceitação das idéias do texto;

Unidade 5 163
Universidade do Sul de Santa Catarina

 antagonismo – quando manifestamos discordância


e, neste caso, é importante fundamentar bem nossas
idéias com argumentos lógicos e convincentes, pois
simplesmente não podemos discordar por discordar; e
 conexões com outras idéias – neste caso, podemos
comparar as idéias do autor com as idéias de outros
autores e, assim, possuir uma visão mais ampla sobre o
tema.
A estrutura da ficha de leitura é constituída de três partes:
Veja como fazer cabeçalho, referência e texto. No cabeçalho deve aparecer o título
referências na Unidade 6. ou assunto da ficha; na referência os elementos de identificação
da e no texto o conteúdo da ficha (resumo, transcrição ou
comentário). Veja o exemplo:

TÍTULO DA FICHA

Referência

Espaço livre para você inserir o texto (resumo, transcrição ou comentário


analítico).

SEÇÃO 4 - Paper
O paper é um trabalho científico que tem como objetivo
principal analisar um tema/questão/problema, por meio do
desenvolvimento de um ponto de vista de quem o escreve. O
paper geralmente trata do particular ou da essência do problema.

Se o autor apenas compilou informações sem fazer


avaliações ou interpretações sobre elas, trata-se
simplesmente de um relato e não de um paper. Assim,
a composição de um paper decorre do estudo e do
posicionamento de quem o escreve. Para isso, o autor do paper
deve manter certo distanciamento crítico ou evitar, na medida
do possível, deixar transparecer suas crenças e preferências.

164
Ciência e Pesquisa

Segundo Heerdt e Leonel (2005, p. 141), neste tipo de


trabalho “[...] as reflexões devem ser mesmo do autor do paper”
caracterizando-o principalmente pela originalidade.

Conforme Roth (apud MEDEIROS, 1996, p. 186), para a


composição do paper é necessário seguir cinco passos: “1) escolher
o assunto; 2) reunir informações; 3) avaliar o material; 4)
organizar as idéias; e 5) redigir o paper”.

Quanto à estrutura do paper, assim se organiza: folha


de rosto; sinopse, introdução (objetivo e delimitação
do tema); desenvolvimento; conclusão e referências.

Position paper
Segundo Heerdt e Leonel (2005, p. 143), o position paper consiste
no desenvolvimento da:

capacidade de reflexão e criatividade [do aluno] diante do


que está escrito (livro, artigo, revista, jornal, etc.), diante
do que é apresentado (palestra, congresso, seminário,
curso, etc.) e também diante do que pode ser observado
numa determinada realidade (empresa, projeto, entidade,
viagem de estudos, etc.).

Sua composição decorre do posicionamento de quem o


escreve, exigindo, também, revisão de literatura para conhecer
e sistematizar o posicionamento de outros autores sobre o tema/
questão/problema.

Para Heerdt e Leonel (2005, p. 144), a estrutura do position


paper é assim organizada: capa; folha de rosto; sumário;
introdução (objetivo, delimitação do tema, metodologia); revisão
bibliográfica sobre o assunto (no mínimo, dois outros autores);
reflexão e posicionamento do autor sobre o assunto; conclusão;
referências.

Unidade 5 165
Universidade do Sul de Santa Catarina

Paper – comunicação científica


É a informação concisa que se apresenta em congressos,
simpósios, reuniões, academias, sociedades científicas, expostos
em tempo reduzido. “Sua finalidade é fazer conhecida a
descoberta e os resultados alcançados com a pesquisa, podendo
por fim fazer parte de anais [ou revistas]” (HEERDT;
LEONEL, 2005, p. 142).

A comunicação não necessita de abrangência de aspectos


analíticos, compondo-se basicamente da introdução, do
desenvolvimento e da conclusão.

SEÇÃO 5 - Artigo científico


Na vida acadêmica, são várias as atividades de pesquisa
realizadas, tanto pelo corpo docente como pelo discente. Essas
atividades resultam de trabalhos didáticos e científicos elaborados
freqüentemente nas disciplinas, cursos ou em grupos de pesquisa.

Os trabalhos didáticos e científicos, muitas vezes, pelo nível de


excelência que apresentam, são merecedores de publicação. As
instituições de ensino, de maneira geral, e os cursos que a elas
pertencem, em particular, dispõem de revistas especializadas
para a publicação desses trabalhos produzidos por alunos e
professores na forma de artigo científico.

Artigo científico pode ser entendido como um trabalho completo


em si mesmo, mas possui dimensão reduzida. Köche (1997, p.
149) afirma que “o artigo é a apresentação sintética, em forma
de relatório escrito, dos resultados de investigações ou estudos
realizados a respeito de uma questão”.

Salvador (1977, p. 24) apresenta cinco razões para escrever


artigos científicos. São elas:

166
Ciência e Pesquisa

a) Expor aspectos novos por nós descobertos, mediante


o estudo e a pesquisa, a respeito de uma questão, ou
de aspectos que julgamos terem sido tratados apenas
superficialmente, ou soluções novas para questões
conhecidas; b) expor de uma maneira nova uma questão
já antiga; c) anunciar resultados de uma pesquisa, que
será exposta futuramente em livro; d) desenvolver
aspectos secundários de uma questão que não tiveram o
devido tratamento em livro que foi editado ou que será
editado; e) abordar assuntos controvertidos para os quais
não houve tempo de preparar um livro.

O artigo é um meio de atualização de informações e por isso,


enquanto fonte de pesquisa, jamais pode ser ignorado por alunos
e professores no processo de busca e aquisição de conhecimentos.

Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003)


os artigos são classificados em dois tipos: original e revisão.
O artigo original “parte de uma publicação que apresenta
temas ou abordagens originais [...] (relatos de experiência de
pesquisa, estudo de caso etc.)”. O artigo de revisão “parte de
uma publicação que resume, analisa e discute informações já
publicadas”.

O resumo do artigo escrito por Dalgalarrondo e outros (2004),


publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria, exemplifica um
artigo original. Acompanhe a seguir:

Unidade 5 167
Universidade do Sul de Santa Catarina

Religião e uso de drogas por adolescentes

Introdução: Estudos internacionais e nacionais


mostram que a religiosidade é um modulador importante
no consumo de álcool e drogas entre estudantes
adolescentes. Objetivos: verificar se diferentes variáveis
da religiosidade influenciam o uso freqüente e/ou
pesado de álcool e drogas entre estudantes de 1º e 2º
graus. Métodos: Estudo transversal com uma técnica
de amostragem do tipo intencional. Foi utilizado
um questionário anônimo de autopreenchimento. A
amostra foi constituída por 2.287 estudantes de escolas
públicas periféricas e centrais e escolas particulares da
cidade de Campinas, SP, entrevistados no ano de 1998.
As drogas estudadas foram: álcool, tabaco, solventes,
medicamentos, maconha, cocaína e ecstasy. As variáveis
independentes incluídas na análise de regressão logística
foram: fi liação religiosa, freqüência de ida ao culto/
missa por mês, considerar-se pessoa religiosa e educação
religiosa na infância. Para identificar como as variáveis
de religiosidade influenciam o uso de álcool e drogas
utilizaram-se análises bivariadas e a análise de regressão
logística para resposta dicotômica. Resultados: O uso
pesado de pelo menos uma droga foi maior entre os
estudantes que tiveram educação na infância sem religião.
O uso no mês de cocaína e de “medicamentos para
dar barato” foi maior nos estudantes que não tinham
religião. O uso no mês de ecstasy e de “medicamentos
para dar barato” foi maior nos estudantes que não
tiveram educação religiosa na infância. Conclusões:
Várias dimensões da religiosidade relacionam-se com
o uso de drogas por adolescentes, com possível efeito
inibidor. Particularmente interessante foi que uma maior
educação religiosa na infância mostrou-se marcadamente
importante em tal possível inibição.

O resumo do artigo escrito por Pedroso e outros (2006, grifo


nosso), publicado pela Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul,
exemplifica um artigo de revisão. Leia o texto a seguir:

168
Ciência e Pesquisa

Expectativas de resultados frente ao uso de álcool,


maconha e tabaco

Este artigo teve como objetivo realizar uma revisão


teórica acerca do construto expectativas de resultados
frente ao uso de álcool, maconha e tabaco. As
expectativas de resultados são determinadas a partir
do que as pessoas acreditam acerca dos efeitos de
determinada droga, sendo uma variável importante no
tratamento de dependentes químicos. Foram realizadas
buscas de artigos publicados nas bases de dados
MEDLINE, PsycINFO, ProQuest, Ovid, LILACS e
Cork, usando os descritores belief, expectancy, expectation,
drugs, psychoactive e effect. Os resultados demonstraram
que as expectativas de resultados frente ao uso dessas
substâncias podem surgir de fontes como: exposição a
estímulos condicionados, dependência física, crenças
pessoais e culturais e fatores situacionais e ambientais.
Conclui-se que ainda há necessidade de novas pesquisas
quanto às expectativas relacionadas às diferentes
substâncias psicoativas e faixas etárias para uma melhor
compreensão deste construto.

Para a publicação de um artigo científico é necessário que se


observem as recomendações estabelecidas pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (2003) que estrutura, de maneira
geral, os seguintes elementos: pré-textuais, textuais, pós-textuais.

Os elementos pré-textuais apresentam, na página de abertura,


as informações que identificam o artigo; os elementos textuais
apresentam os resultados do estudo em três partes logicamente
encadeadas: introdução, desenvolvimento e conclusão; e
os elementos pós-textuais apresentam as informações que
identificam o artigo, traduzidos para uma língua estrangeira,
conforme indicação da própria revista, como também, as
referências, apêndices e anexos.

Unidade 5 169
Universidade do Sul de Santa Catarina

Conheça os itens que compõem cada um dos elementos da


estrutura de um artigo.

Elementos pré-textuais - os elementos pré-textuais são os


seguintes:

a) título - contém o termo ou expressão que indica o


conteúdo do artigo;
b) autoria - nome do autor ou autores, acompanhado de
um breve currículo em nota de rodapé;
c) resumo - apresenta objetivos, metodologia, resultados
e conclusões alcançadas. Deve ser elaborado de acordo
com a Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2003);
d) palavras-chave - termos indicativos do conteúdo do
artigo.

Elementos textuais - Os elementos textuais são constituídos das


seguintes partes:

a) introdução - apresenta o tema-questão-problema,


justifica-o, expõe os objetivos e descreve a metodologia
que foi adotada na realização da pesquisa;
b) desenvolvimento - apresenta fundamentação teórica e
os resultados do estudo;
c) conclusão - analisa criticamente os resultados do
estudo e abre perspectivas para novas investigações.

Elementos pós-textuais - Os elementos pós-textuais são os


seguintes:

170
Ciência e Pesquisa

a) título e subtítulo (se houver) - escrito em língua


estrangeira;
b) resumo - o mesmo resumo que aparece como elemento
pré-textual, porém escrito em língua estrangeira;
c) palavras-chave - escritas em língua estrangeira;
d) notas explicativas - citadas para evitar notas de
rodapé;
e) referências - apresenta as obras que foram citadas no
corpo do artigo conforme a Associação Brasileira de
Normas Técnicas (2002).
f) Glossário - definição, em ordem alfabética, de termos
que assumem significado específico no artigo;
g) Apêndice - texto escrito pelo autor, que complementa
as idéias contidas no desenvolvimento;
h) Anexo - texto não escrito pelo autor, que
fundamenta, comprova ou ilustra aspectos contidos no
desenvolvimento;

É importante salientar que nem todas as revistas científicas


seguem rigorosamente a ordem dos elementos apresentados nesta
seção. Alguns itens podem variar de acordo com as necessidades
e/ou exigência de cada conselho editorial.

Independentemente disso, é importante que professores e


alunos sintam-se motivados para publicar os resultados de suas
atividades científicas ou didáticas.

SEÇÃO 6 - Projeto de pesquisa


Para Gil (2002, p. 19), projeto de pesquisa “[...] é o documento
explicitador das ações a serem desenvolvidas ao longo do processo
de pesquisa”. Trata-se, portanto, do documento que nos permite
planejar todas as ações inerentes à pesquisa.

Unidade 5 171
Universidade do Sul de Santa Catarina

Pesquisa não é pura coleta de dados mas um conjunto


de ações orientadas por metas e estratégias a serem
atingidas na tentativa de buscar respostas para um
determinado problema.

De modo geral, um projeto de pesquisa deve oferecer respostas às


seguintes indagações:

Pergunta Indicação
Determinação do objeto da pesquisa por meio da
O que pesquisar? apresentação, principalmente, do tema, delimitação do
tema e da problematização

Referencial teórico e/ou marco teórico e/ou revisão de


Com que base teórica pesquisar? literatura

Por que pesquisar? Justificativa

Que ações serão desenvolvidas na pesquisa? Objetivos

Quem pesquisar? Sujeitos

Onde pesquisar? Unidade ou local de observação e/ou coleta de dados

Quando pesquisar? Cronograma

Como pesquisar? Determinação dos métodos e técnicas

Com quanto pesquisar? Orçamento

Modelos de roteiro
É comum encontrar na literatura de metodologia científica e da
pesquisa vários modelos de roteiro de projeto de pesquisa.

O modelo apresentado a seguir não deve ser entendido como


único e absoluto, ao contrário, deve ser entendido apenas como
um roteiro que nos permite entender quais são as etapas que se
sucedem na elaboração de um projeto.

172
Ciência e Pesquisa

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A DELIMITAÇÃO DO


TEMA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
1.1 Tema
1.2 Delimitação do tema
1.3 Problematização
1.4 Justificativa
1.5 Objetivos
1.6 Definição dos conceitos operacionais

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3 DELINEAMENTO METODOLÓGICO
3.1 Tipo de pesquisa
3.2 População/amostra
3.3 Instrumentos utilizados para a coleta de dados
3.4 Procedimentos utilizados para a coleta de dados
3.5 Tratamento dos dados

4 CRONOGRAMA

5 ORÇAMENTO
REFERÊNCIAS

De acordo com o modelo exemplificado, acompanhe, a seguir, o


significado e as ações a serem desenvolvidas em cada uma dessas
etapas do projeto de pesquisa.

Unidade 5 173
Universidade do Sul de Santa Catarina

Considerações sobre a delimitação do tema e formulação do


problema
Neste primeiro capítulo você deve apresentar as informações
relacionadas ao objeto da pesquisa especificando o tema, a
delimitação do tema, a problematização, a justificativa, os
objetivos e os conceitos operacionais. Acompanhe a seguir.

Tema
Para escolher o tema da pesquisa você deve levar em conta alguns
fatores: a) interesse pelo assunto; b) qualificação intelectual; c)
existência de bibliografia especializada; d) disponibilidade de um
orientador que possa acompanhar a pesquisa; e) tempo disponível
para a realização da coleta de dados; f) recursos financeiros,
quando for o caso; g) disponibilidade de material necessário para
a coleta de dados.

A não observação de um ou mais fatores pode comprometer o


curso da investigação e, em alguns casos, a pesquisa poderá sofrer
solução de continuidade (ser interrompida).

A indicação do tema deve expressar, de modo geral, em dimensão


abstrata, o assunto da pesquisa. Observe os exemplos em algumas
áreas do conhecimento:

“Sigilo bancário”
“Ética na advocacia”
“Assédio moral”
“Avaliação da idade óssea”
“Traumatismo na dentição decídua”
“Gestão no esporte”
“Eutanásia”
“Criminalidade”
“Cidadania e movimentos sociais”
“Empreendedorismo”
“Empresa familiar”

174
Ciência e Pesquisa

Delimitação do tema
Delimitar é indicar a abrangência do estudo; é estabelecer os
limites extencionais e conceituais do tema. Enquanto princípio
de logicidade é importante salientar que quanto maior a extensão
conceitual, menor a compreensão conceitual e, inversamente,
quanto menor a extensão conceitual, maior a compreensão
conceitual.

Em outras palavras isto significa dizer que quando se escolhe


um tema muito abrangente, corre-se o risco de se ter pouco
domínio ou profundidade. Por isso você deve delimitá-lo em
uma dimensão viável, não muito abrangente, para poder alcançar
maior compreensão e domínio sobre as propriedades do assunto.

O enunciado da delimitação do tema, em alguns casos, deve


incluir os seguintes elementos: a) variáveis principais, b) a
população a ser estudada, c) o local e o período da pesquisa.
No exemplo, “Reclamações contra advogados na OAB-SC,
no período de 2004 a 2006”, a variável a ser estudada seria
“Reclamações contra advogados”, a população seria os advogados
da OAB-SC, o local seria a própria OAB-SC e o período seria
de 2004 a 2006.

Observe outros exemplos de temas delimitados em algumas áreas


do conhecimento:

Unidade 5 175
Universidade do Sul de Santa Catarina

Traumatismo dentário em crianças de 0 a 5 anos


vacinadas em 2007 em Tubarão,SC (GONÇALVES;
QUARESMA, 2006).
Avaliação da idade óssea em crianças infectadas pelo
HIV atendidas no setor de Infectologia do Hospital
Infantil Joana de Gusmão (HIJG) de Florianópolis, SC.
(ZEFFERINO; JUNKES, 2006).
O perfil dos proprietários de empresas familiares da
Região da Amurel.
Efeitos do tratamento fisioterapêutico em lesões,
durante o treinamento físico, que acometem militares
de um Batalhão de Infantaria do Sul do Brasil
(TEODORO, 2006).
A efetividade do direito a educação em escolas de
educação infantil da Rede municipal de ensino do
Município de Tubarão, SC. (PIRES, 2006)

Cabe salientar que se a pesquisa for puramente bibliográfica


devem-se destacar apenas as variáveis principais. Acompanhe
alguns exemplos:

A Responsabilidade civil dos pais pelo abandono


moral dos filhos (NORY)
Progressão de regimes nos crimes hediondos
(CAMPOS)
A legislação brasileira e a efetividade das sanções
impostas aos transgressores do meio ambiente
(SILVA)

Problematização
Delimitado o tema, o passo seguinte é a problematização. Para
que fique clara e precisa a extensão conceitual do assunto, é
importante situá-lo em sua respectiva área de conhecimento,
possibilitando, assim, que se visualize a especificidade do objeto
no contexto de sua área temática.

176
Ciência e Pesquisa

Gil (2002, p. 57-58) aponta cinco “regras” para a


adequada formulação do problema: a) o problema
deve ser formulado como uma pergunta; b) o
problema deve ser delimitado a uma dimensão viável;
c) o problema deve ter clareza; d) o problema deve
ser preciso; e) o problema deve apresentar referências
empíricas.

As regras não são absolutamente rígidas e devem ser moldadas


de acordo com a especificidade do problema. É importante,
também, lembrar que cada orientador possui uma forma própria
de problematizar as questões de pesquisa.

O texto da problematização deve ser encerrado com as perguntas


de pesquisa. É importante salientar que todo o processo de
pesquisa será desenvolvido para que se encontrem respostas às
perguntas que são formuladas nesta seção do projeto. Tome
cuidado para não apresentar perguntas que estejam fora do
alcance do tema delimitado.

Acompanhe o exemplo:

Qual a prevalência de traumatismo dentário em


crianças de 0 a 5 anos vacinadas em 2007 em
Tubarão,SC?
Qual o grau da extensão da lesão nos tecidos
dentários?

Justificativa
A justificativa situa a importância do estudo e os porquês da
realização da pesquisa. O texto da justificativa, em geral, deve
apresentar os motivos que levaram à investigação do problema
e endereçar a discussão à relevância teórica e prática, social e
científica do assunto.

Unidade 5 177
Universidade do Sul de Santa Catarina

Objetivos
Os objetivos indicam as ações que serão desenvolvidas para
a resolução do problema de pesquisa. O objetivo geral é
apresentado na forma de um enunciado que reúne, ao mesmo
tempo, todos os objetivos específicos.

Os objetivos específicos informam sobre as ações particulares


que dizem respeito à análise teórica e aos meios técnicos da
investigação do problema.

Os objetivos devem ser iniciados com o verbo no


infinitivo. Ex. definir, identificar, selecionar, indicar,
explicar, classificar, aplicar, avaliar, demonstrar,
analisar, comparar, diferenciar, criticar, combinar,
repetir, sumarizar, sintetizar, discutir, organizar,
relacionar, julgar, determinar, reconhecer, dentre
outros.

Os objetivos precisam ser relacionados com a parte teórica e


prática da pesquisa. Na parte teórica é importante explicitar
claramente os objetivos de cada capítulo, permitindo ao
pesquisador ter uma visão mais concreta do seu plano de estudo
e, na parte prática, relacioná-los com o instrumento de coleta de
dados (questionário, formulário, entrevista, dentre outros).

Hipótese(s)
Consiste em apresentar um ou mais enunciados sob forma
de sentença declarativa e que resolve (em) provisoriamente o
problema. A pesquisa tratará de buscar respostas que refutam ou
corroboram as suposições que forem apresentadas.

Dessa maneira, sua elaboração está ligada diretamente ao


problema da pesquisa, funcionando como uma espécie de “aposta”
do pesquisador de que a resposta a que o desenvolvimento da
pesquisa levará será a mesma ou estará muito perto da resposta
enunciada na hipótese. Para isso, o seu conteúdo deve ter
conceitos claros, ser de natureza específica e não se basear em
valores morais (SANTAELLA, 2001).

178
Ciência e Pesquisa

Definição dos conceitos operacionais


Este item consiste em apresentar o significado que os termos
do problema assumem na pesquisa. Através das definições, diz
Köche (1997, p. 117), [...] “é possível estabelecer os indicadores
que podem ser utilizados para categorizar as variáveis.”

É importante salientar que não será possível estabelecer


instrumentos e procedimentos para coleta de dados, se os
indicadores das variáveis não estiverem previamente definidos.

— Até aqui, você conheceu os itens que compõem a primeira parte


do roteiro de pesquisa. Estude, a seguir, sobre o segundo elemento do
roteiro: revisão bibliográfica.

Revisão bibliográfica
A revisão bibliográfica apresenta uma breve discussão teórica
do problema, na perspectiva de fundamentá-lo nas teorias
existentes. As idéias apresentadas no texto de revisão devem
ser organicamente ligadas aos objetivos, hipóteses, definição
conceitual e operacional das variáveis e outros elementos do
projeto.

A fundamentação teórica apresentada deve, ainda, servir de base


para a análise e a interpretação dos dados coletados na fase de
elaboração do relatório final. Os dados apresentados precisam,
necessariamente, ser interpretados à luz das teorias existentes.

— Após definidos o tema, o problema da pesquisa e realizada a


discussão teórica, o próximo passo é estruturar a pesquisa quanto aos
instrumentos para a coleta de dados. Confira a seguir.

Delineamento da Pesquisa
O delineamento da pesquisa, segundo Gil (1995, p. 70), “refere-
se ao planejamento da mesma em sua dimensão mais ampla”, ou
seja, neste momento, o investigador estabelece os meios técnicos
da investigação, prevendo-se os instrumentos e os procedimentos
utilizados para a coleta de dados.

A primeira atividade consiste na determinação e justificativa do


tipo de pesquisa ou estudo. A determinação do tipo de estudo

Unidade 5 179
Universidade do Sul de Santa Catarina

deve levar em conta três critérios de classificação: quanto ao


nível (exploratória, descritiva ou explicativa), abordagem
(qualitativa, quantitativa) e procedimento utilizado na coleta de
dados (bibliográfica, documental, experimental, estudo de caso,
estudo de caso controle, levantamento, estudo de campo, dentre
outras).

População/amostra
Neste item, você indica se a pesquisa vai abranger o universo
populacional ou se apenas uma amostra dos indivíduos
pesquisados. No caso de se optar por uma ou por outra, é
necessário informar os procedimentos e/ou critérios adotados
para a sua execução.

Aqui você informa, também, as características gerais da


população a ser investigada (cidade, município, bairro).

Instrumentos utilizados para coleta de dados


Este item consiste em indicar o tipo de instrumento utilizado
para registro dos dados que serão coletados. No caso de
questionários ou entrevistas, fichas de avaliação ou de registro
documental você deve apresentar o modelo em anexo ou em
apêndice. O anexo deve ser utilizado quando você adotar um
instrumento de coleta de dados proveniente da literatura e o
apêndice quando você elaborou o próprio instrumento.

Procedimentos utilizados na coleta de dados


Informam-se as operações e/ou atividades desenvolvidas, a forma
de aplicação dos instrumentos de coleta de dados.

Tratamento dos dados


Indicam-se os recursos que serão utilizados para a análise dos
dados.

— Os itens a seguir, compõem a parte final do modelo de roteiro de


pesquisa apresentado.

180
Ciência e Pesquisa

Cronograma
Neste item, você informa a previsão das atividades e,
respectivamente, o período de execução.

Orçamento
Este é o item em que você informa a previsão e o detalhamento
de todos os recursos financeiros necessários para a realização da
pesquisa.

Referências
Aqui você informa a relação dos documentos utilizados para a
fundamentação do problema de pesquisa (Ver NBR 6023 vigente,
encontrada em qualquer biblioteca da Unisul).

SEÇÃO 7 - Relatório técnico-científico


O Relatório técnico-científico é um documento que relata
formalmente os resultados ou progressos obtidos numa O relatório técnico-
investigação. Descreve minuciosamente a situação de uma científico geralmente é
questão técnica ou científica. desenvolvido na fase dos
estágios supervisionados
Segundo Rauen (2002, p. 235), o Relatório se define como uma em diversos cursos.

“[...] comunicação por escrito dos resultados de uma pesquisa,


no qual se podem identificar: os passos da pesquisa, a revisão
bibliográfica, a análise/interpretação dos dados e as conclusões
estabelecidas”.

Para Oliveira (2003, p. 101), o relatório constitui-se em uma “[...]


descrição objetiva [e pormenorizada] de fatos, acontecimentos ou
atividades, que incorpora uma análise metódica para a obtenção
de conclusões que se constituam em parâmetros para a escolha de
alternativas”.

Como você pode observar, o Relatório é um tipo de trabalho


que tem como finalidade descrever as etapas das investigações
realizadas diretamente na realidade (“in loco”).

Unidade 5 181
Universidade do Sul de Santa Catarina

É capaz de apresentar, sistematicamente, informação


suficiente para que se possam traçar conclusões e
fazer recomendações à resolução de determinada
situação-problema, caracterizando-se pela fidelidade,
objetividade e exatidão de relato.

De acordo com Severino (2000, p. 174), o relatório técnico-


científico “[...] visa pura e simplesmente historiar seu
desenvolvimento, muito mais no sentido de apresentar os
caminhos percorridos, de descrever as atividades realizadas e de
apreciar os resultados – parciais ou finais – obtidos”.

SEÇÃO 8 - Monografia
Você sabe de onde surgiu a palavra monografia?
Etimologicamente, essa palavra vem do prefi xo grego mono (de
onde derivam palavras como monge, mosteiro, monossílabo,
monolítico, etc.) e do prefi xo latino solus (solteiro, solitário,
solitude), que significa um só e da palavra graphein, que significa
escrever. (BITTAR, 2003, p. 1).

Com base na etimologia da palavra você pode perceber que


monografia resulta de um trabalho intelectual baseado em apenas
um assunto.

Conforme Bebber e Martinello (1996, p. 71), a monografia é


“um estudo realizado com profundidade e seguindo métodos
científicos de pesquisa e de apresentação de um assunto em todos
os seus detalhes, como contributo à ciência respectiva”.

Segundo Marconi e Lakatos (2003, p. 235), a monografia


apresenta as seguintes características:

182
Ciência e Pesquisa

a) trabalho escrito, sistemático e completo;

b) tema específico ou particular de uma ciência ou parte


dela;

c) estudo pormenorizado e exaustivo, abordando vários


aspectos e ângulos do caso;

d) tratamento extenso em profundidade, mas não em


alcance (nesse caso, é limitado);

e) metodologia específica;

f) contribuição importante, original e pessoal para a


ciência.

Este tipo de trabalho científico abrange dois sentidos: o stritu,


que se identifica com a tese e a dissertação dos cursos de
doutorado e mestrado respectivamente e o latu, que se relaciona
àquelas monografias desenvolvidas nos cursos de graduação,
principalmente nas licenciaturas. Ambos os sentidos não
dispensam a rigorosa metodologia na pesquisa de um tema em
específico, a partir de um só problema, qualificando-as como de
natureza científica, pois do contrário se tratará de um simples
estudo.

Unidade 5 183
Universidade do Sul de Santa Catarina

Atividades de auto-avaliação

Leia com atenção os enunciados e realize, a seguir, as atividades:

1) Acesse o Scientific Electronic Library Online - SciELO (www.scielo.br),


selecione o artigo escrito por Sigmar de Mello Rode e Bruno das Neves
Cavalcante, publicado na revista Pesquisa Odontológica Brasileira e
faça um fichamento do tipo comentário analítico das idéias presentes
do texto. Orientações para pesquisa no SciELO:
 Primeiro passo - digite o endereço: www. scielo.br.
 Segundo passo - clique sobre a opção português.
 Terceiro passo - clique sobre a opção pesquisa de artigos.
 Quarto passo - clique sobre a opção formulário livre.
 Quinto passo - preencha o formulário de busca escrevendo as
palavras “pesquisa” e “ética” (sem aspas e sem a letra “e” entre as
palavras) e selecione o artigo escrito por Sigmar de Mello Rode e
Bruno das Neves Cavalcante.
 Sexto passo - clique sobre a opção texto em português para fazer a
leitura na íntegra do artigo e realizar a atividade.

TÍTULO DA FICHA (crie o título)

RODE, S. de M.; CAVALCANTI, B. das N.. Ética em autoria de trabalhos


científicos. Pesquisa Odontologia Brasileira, São Paulo, v. 17, p. 65-66, maio
2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S
151774912003000500010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 jun. 2004.

Comentário analítico sobre o texto

184
Ciência e Pesquisa

2) Como colocar conteúdos em um trabalho sem incorrer no erro (e no


crime) de plágio?

3) Assinale a alternativa incorreta e depois justifique o erro identificado.


a) ( ) A Resenha crítica é a apreciação de uma obra, tendo que
apresentar o resenhista conhecimento completo da obra.

b) ( ) O Position paper consiste em um resumo, elaborado pelo leitor, a


fim de identificar as principais idéias do texto.

c) ( ) O relatório técnico-científico consiste no relato formal dos


resultados de uma investigação ou a descrição minuciosa e
criteriosa de uma determinada situação-problema vivenciada na
fase do estágio supervisionado.

d) ( ) A monografia é um estudo realizado com profundidade que segue


métodos científicos de pesquisa.

Unidade 5 185
Universidade do Sul de Santa Catarina

e) ( ) Resumo é a condensação de um texto, que apresenta suas


principais idéias de maneira abreviada, permitindo ao leitor decidir
sobre a consulta ou não do texto original.

f) ( ) O artigo científico é um trabalho completo em si mesmo, que


resulta de uma pesquisa ou de uma revisão bibliográfica.

4. Leia o resumo do artigo escrito por Kerr-Correa e outros (1999) e


responda:
a) Como se classifica o artigo quanto ao tipo? Justifique sua resposta.

b) Quais são os elementos que compõem a estrutura do resumo?


Numere-os na linha a seguir e identifique-os no texto a seguir, sobre
o Uso de álcool e drogas por estudantes de medicina da Unesp,
indicando a mesma numeração da linha.
(1) Objetivo, (2) , (3) , (4)

186
Ciência e Pesquisa

Uso de álcool e drogas por estudantes de medicina da Unesp


(1) Objetivo: o objetivo deste trabalho foi analisar a prevalência do uso
de drogas por estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatu
- Unesp, comparada com outras oito escolas médicas paulistas (uso
na vida, nos últimos 12 meses e nos últimos 30 dias). A pesquisa foi
realizada entre 1994 e 1995, com 5.227 estudantes do 1º ao 6º ano de
graduação.: Foi usado um questionário de auto-respostas, anônimo,
incluindo o questionário da Organização Mundial da Saúde para
levantamento de uso de drogas e álcool. Setenta e um por cento
(3.725) dos alunos responderam ao mesmo, e destes, 421 eram de
Botucatu.: Não houve diferenças estatisticamente significantes entre
escolas e, nos 30 dias anteriores ao preenchimento do questionário,
a prevalência do uso de drogas para os estudantes de Botucatu
foi a seguinte, com a variação entre outras escolas mostrada entre
parênteses: álcool 50% (42-50%); tabaco 7% (7-13%); solventes 8%
(7-12%); maconha 6% (6-16%); benzodiazepínicos (BZD) 3% (2-9%);
cocaína 0,5% (0,2-4%); anfetaminas 1 % (0-1%). Embora tenha se
encontrado um uso crescente de todas as drogas do 1º ao 6º ano, e
em especial os BZD, os estudantes não aprovam este uso. A análise de
regressão logística indicou que o uso de álcool e drogas foi favorecido
por: a) ser homem; b) perder aulas sem razão e referir ou ter muito
tempo livre nos finais de semana; e c) ter uma atitude favorável em
relação ao uso de álcool e drogas. Diferentemente de outras escolas,
na Unesp não houve diferenças estatisticamente significantes de
gênero em relação ao uso de tranqüilizantes. No entanto, as mulheres
iniciam uso mais precocemente e o fazem mais freqüentemente.
Também as mulheres já faziam uso de maconha antes de entrar para
a faculdade (30% mulheres X 10% homens), o contrário ocorrendo
com solventes (50% homens X 2% mulheres), sendo essas diferenças
estatisticamente significantes. Embora a pesquisa tenha focalizado o
uso (não abuso ou dependência), os resultados sugerem a necessidade
de as universidades estabelecerem uma política clara de orientação
sobre uso de drogas e álcool para os estudantes, incluindo mudanças
curriculares e programas de prevenção.

Unidade 5 187
Universidade do Sul de Santa Catarina

5) Leia o resumo da pesquisa de dissertação de mestrado realizada por


Macedo (2003) e, em seguida, responda as seguintes questões:

O estudo do perfil empreendedor em empresas familiares


O objetivo do presente trabalho é identificar os fatores responsáveis
pela sobrevivência de empresas familiares através da análise do
perfil de seus empreendedores. Para isso é feito um levantamento
bibliográfico à cerca de alguns aspectos que envolvem o tema
empreendedorismo, subdividindo-se a dissertação em três temas
principais: o empreendedorismo em empresas familiares; as
características do empreendedor, como sendo as necessidades,
conhecimentos, habilidades e valores; alguns dos principais
determinantes do comportamento empreendedor como sendo a
personalidade, percepção, atitude, aprendizagem e motivação. Em
seguida, é realizada uma pesquisa de campo nas empresas familiares
dos bairros da Trindade, Pantanal, Córrego Grande e Carvoeira,
em Florianópolis, independentemente de ramo ou porte, com o
objetivo de traçar um perfil para os proprietários ou empreendedores
dessas empresas. Na pesquisa é enfatizada a importância do estudo
dos fatores comportamentais dos empreendedores em empresas
familiares, face as mudanças ocorridas nas organizações em função
do desenvolvimento tecnológico e as mudanças político econômicas
ocorridas no ambiente empresarial atual. Os resultados obtidos foram
os seguintes: os empreendedores possuem muitas das características
da tendência impulso e determinação, o que já não aconteceu com a
tendência riscos calculados/moderados, cuja média obtida ficou abaixo
da média do teste. E a maioria das tendências empreendedoras tem
maior média nas empresas com até um ano de vida e dirigidas por três
ou mais pessoas.

a) Qual o tema da pesquisa?

188
Ciência e Pesquisa

b) Qual o problema subjacente ao assunto pesquisado, isto é, o que o


autor quis saber ou pesquisar?

c) Cite o objetivo geral da pesquisa

d) Cite dois objetivos específicos referentes a pesquisa:


 Objetivo específico (1)

 Objetivo específico (2)

e) Que justificativa você apresentaria para a realização dessa pesquisa?

Unidade 5 189
Universidade do Sul de Santa Catarina

f) Quais foram os instrumentos utilizados para a coleta de dados?

Síntese

Nesta unidade você estudou os vários tipos de trabalhos


científicos que se podem desenvolver na universidade: resumo,
resenha crítica, fichamento, paper, artigo científico, relatório
técnico-científico e monografia.

O resumo é a apresentação concisa das principais idéias de um


texto Resulta da capacidade analítica e compreensiva que o leitor
adquire no momento em que faz sua leitura. Quanto mais se
tem domínio e compreensão do texto, maior será a capacidade de
síntese e de apresentação de forma breve. Existem basicamente
dois tipos de resumos: o indicativo e o informativo.

A resenha crítica consiste no desenvolvimento de uma síntese


sobre uma obra, no sentido de expressar um juízo de valor acerca
do assunto abordado. Corresponde à apreciação crítica de um
texto com o objetivo de discussão das idéias nele contidas. Para
desenvolver essa avaliação, é necessário que o resenhista recorra
ao posicionamento de outros autores da comunidade científica.

A ficha de leitura é um instrumento adequado para se reter as


informações resultantes de uma leitura. É o registro em algum
suporte físico. Achar que a memória vai dar conta de armazenar
tudo, é um grande engano. Na memória, infelizmente, não
se pode confiar. A ficha pode ser realizada com diferentes
fins: a) como instrumento de coleta de dados na realização de
uma pesquisa bibliográfica; b) como trabalho acadêmico em
disciplinas de graduação e pós-graduação; c) como preparação
de textos na apresentação oral de trabalhos em sala de aula; e, d)
como um instrumento auxiliar na leitura e registro das idéias de
um texto.

190
Ciência e Pesquisa

O paper tem como objetivo principal analisar um tema/questão/


problema, por meio do desenvolvimento de um ponto de vista
de quem o escreve. O paper geralmente trata do particular ou da
essência do problema. Assim, a composição de um paper decorre
do estudo e do posicionamento de quem o escreve.

O position paper é o posicionamento sobre um tema ou assunto


acompanhado de uma breve revisão de literatura para conhecer,
também, o posicionamento de outros autores.

O paper – comunicação científica é a informação concisa que


se apresenta em congressos, simpósios, reuniões, academias,
sociedades científicas, expostos em tempo reduzido.

O artigo científico pode ser entendido como um trabalho


completo em si mesmo, mas possui dimensão reduzida. Trata-se
de um meio de atualização de informações e por isso, enquanto
fonte de pesquisa, jamais pode ser ignorado por alunos e
professores no processo de busca e aquisição de conhecimentos.
Existem dois tipos de artigos: o original e o de revisão.

O Relatório Técnico-Científico é um documento que relata


formalmente os resultados ou progressos obtidos numa
investigação. Descreve minuciosamente a situação de uma
questão técnica ou científica. Trata-se de um tipo de trabalho
que tem como finalidade descrever as etapas das investigações
realizadas diretamente na realidade (“in loco”). É capaz de
apresentar, sistematicamente, informação suficiente para que
se possam traçar conclusões e fazer recomendações à resolução
de determinada situação-problema, caracterizando-se pela
fidelidade, objetividade e exatidão de relato.

A monografia se define como um trabalho intelectual


concentrado sobre um único assunto decorrente de um estudo
que é realizado com profundidade e seguindo métodos científicos
de pesquisa. Este tipo de trabalho pode assumir dois sentidos: o
stritu e o latu.

Unidade 5 191
Universidade do Sul de Santa Catarina

Saiba mais

Escrever um artigo vale a pena?


Conta-se que um colunista social, certa vez, ao ler um elogio de
um famoso artista de televisão e querendo tirar uma casquinha,
escreveu: ‘gostaria de dizer que é isso mesmo.’
Um atento crítico de outro jornal ao ver sua preciosidade, retrucou:
‘se você tem algo a acrescentar, então não é isso mesmo, mas se você
acha que é isso mesmo, então você não tem nada a acrescentar’.
No volume 37, Número ½, da Brasília Médica, o editor da revista Dr.
Maurício G. Pereira, escreveu o artigo ‘Vale a pena publicar artigo
cientifico?’, em que ele enumerou cinco razões pelas quais todos
deveriam escrever:
1. ter algo a dizer para a comunidade acadêmica
ou para o público;
2. melhorar o próprio currículo;
3. obter financiamento para pesquisas;
4. impressionar os outros;
5. força interior, que impele o articulista a escrever.

Quanto ao primeiro item, nada a discutir, pois se o médico, seja ele


um pesquisador ou não, tiver algo a dizer, deverá dize-lo, uma vez
que os assuntos com conteúdo passam a interessar ao meio médico,
mesmo que seja apenas uma única especialidade.
O segundo item é conseqüência do primeiro, porém, para se
melhorar o currículo, não basta apenas escrever. É necessário, antes
de mais nada, que o artigo apresentado tenha qualidade, seja
profícuo.
Já a obtenção de financiamento para pesquisas, mencionada no
terceiro item, também deveria ser uma conseqüência da qualidade
do trabalho. Isto, infelizmente, nem sempre se dá. Às vezes, mais vale
ter boas amizades, amigos políticos ou livre trânsito nos corredores
palacianos, o que não deixa de ser lamentável.

192
Ciência e Pesquisa

A quarta razão aventada pelo Dr. Maurício também não deixa de ser
conseqüência da primeira, sendo que é muito difícil, a priori, julgar
que tipo de impressão pode causar a quem o lê. Essa impressão pode
ser boa, mas também pode ser má ou de total indiferença. Acho
essa razão presunçosa, em total desacordo com certos princípios
inerentes à formação médica, como a humildade ou descrição, por
exemplo.
Finalmente, a quinta razão está relacionada a quem gosta e sente
prazer em escrever. Aí, é inevitável. Se a pessoa tem facilidade para
escrever, escreva. Mas por favor, escreva coisas proveitosas ou, se
inúteis, que sejam pelo menos elegantes, espirituosas.
O Dr. Maurício ainda chega a sugerir uma sexta razão: ‘manter as
revistas em circulação.’. Essa sim, é uma razão sem razão. Escrever,
por escrever, com propósito único de manter a revista viva. Somos
cerca de 8 mil médicos, em Brasília. Se apenas 1% dessa população
resolver escrever um artigo todos os meses, serão 80 artigos a
cada 30 dias. Caso isso viesse a acontecer, é possível que surgissem
algumas boas surpresas, mas, em contrapartida, teríamos muita
porcaria também.
Para finalizar, diria que se você tem algo a acrescentar, por favor
escreva. Mas se você acha que é isso mesmo, então não escreva,
porque nada tem a acrescentar.
Referência:
RETAMERA, José Navarrete. Escrever um artigo vale a pena?
BrasíliaMédica, Brasília, DF, v. 37, n. 3, p. 123, 2000.

Unidade 5 193

Você também pode gostar