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Com base na reclamação apresentada pelo traba-

lhador, o Juiz poderá determinar a realização de perícias


de Engenharia de Segurança do Trabalho para Ações de
Cobrança de Adicional de Insalubridade e de Periculo-
sidade, bem como de Ação Indenizatória por Acidente
de Trabalho.

2.3. Metodologia para Perícia

Para Ações de Cobrança de Adicional de Insalu-


bridade e de Periculosidade seguem as orientações.
De acordo com a CLT, art.195, a caracterização e
classificação da Insalubridade e da Periculosidade ocorre-
rá por meio de perícia a cargo do Médico do Trabalho
ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do
Trabalho e segundo as normas do Ministério do Trabalho.
Durante as perícias, o Perito deve sempre respon-
der aos quesitos efetuados. Poderá ainda apresentar e
esclarecer aspectos técnicos identificados por ele e que
são parte do contexto, mesmo que não tenham sido
questionadas pelas partes.
Deve, do mesmo modo, o Perito estar ciente da
necessidade de reconstituir fatos passados por meio de
fontes fidedignas.
O Laudo Pericial pode ser estruturado com os se-
guintes tópicos:
1. Introdução;
2. Considerações Iniciais;
3. Laudo Pericial.

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Na Introdução são apresentadas as informações
relativas ao Requerente:
○ sua identificação;
○ instituição onde trabalha ou trabalhou;
○ período de trabalho na instituição;
○ o teor da ação movida contra a instituição em-
pregadora;
○ o que o Requerente alega ou pleiteia;
○ qual o objetivo da ação.

Nas Considerações Iniciais são apresentadas in-


formações relativas ao tipo de atividade exercida pelo
Requerente:
○ função desempenhada pelo Requerente;
○ período em que o mesmo exercia a atividade e
duração diária;
○ informações relativas ao posto de trabalho, con-
dições de trabalho e outras informações que concor-
riam para o desenvolvimento da atividade do Reque-
rente e que sejam necessárias para o entendimento da
situação analisada.

Na atividade, devem estar descritas todas as tarefas


executadas pelo Requerente englobando:

• as tarefas e subtarefas que integravam sua atri-


buição, apresentando produtos e materiais necessários
para realização da tarefa; se era determinada a obrigato-
riedade de uso de EPI e se os mesmos eram fornecidos;
se os EPI apresentavam CA; existência de Ordens de

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Serviços sobre segurança e medicina do trabalho e se
foi dada ciência ao empregado, conforme determinado
pela NR1, item 1.7.b;
• as máquinas, equipamentos e ferramentas que
eram utilizados, sendo identificadas suas características,
seu funcionamento, se sofreram reformas, adaptações
ou outras alterações efetuadas ao longo do tempo e
quando as alterações foram efetuadas; se os equipamen-
tos que eram utilizados pelo Requerente foram substitu-
ídos; se os equipamentos caracterizavam-se como fonte
de agentes de risco como ruído, calor, por exemplo. Se
agentes forem avaliados quantitativamente, como ruído
e calor, por exemplo, devem ser indicados os instru-
mentos empregados para avaliação, marca, modelo, ca-
libração e metodologia de avaliação;
• devem ser relatados os agentes de risco a que o
Requerente estava exposto, com base em observação, se
o ambiente de trabalho e as condições se mantiverem
as mesmas de quando o Requerente atuava na empresa
ou com base em documentos disponíveis na empresa;
• as características ambientais do local onde o Re-
querente trabalhava, incluindo as características cons-
trutivas do local e as condições de trabalho existentes;

Esta descrição ocorre como resultado de visto-


ria efetuada no local de trabalho do Requerente, por
pesquisas realizadas no setor onde o Requerente atua-
va demonstrando quais tarefas este executava e de qual
maneira, considerando orientações estabelecidas pelo
empregador para o Requerente. A pesquisa também

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poderá incluir questionamentos ou investigação junto a
outros funcionários do setor ou que atuavam juntamen-
te com o Requerente ou outros que possam contribuir
com informação que possibilite o entendimento da si-
tuação de trabalho que está sendo avaliada pelo Perito.
Observação: devem ser consideradas a função que
era desempenhada pelo Requerente e não apenas o car-
go que este ocupava, pois deve ser identificada a ativi-
dade real executada pelo mesmo. Isto está em confor-
midade com um dos Princípios do Direito do Trabalho
que é a realidade: o fato real é privilegiado em relação ao
que compõe os documentos formais.
Pode ainda ocorrer de o local de trabalho não mais
existir por encerramento das atividades da empresa, por
exemplo, ou o setor ter sido descaracterizado, em vir-
tude de alterações implementadas no processo de tra-
balho. Neste caso, cabe ao Perito Judicial responder aos
quesitos apresentados unicamente com base nos fatos
identificados, provas emprestadas de outros processos,
se for o caso, e análise da legislação pertinente.
Outra situação que pode ser objeto de perícia é
Ação Indenizatória por Acidente de Trabalho. Para
esclarecer ou identificar os fatos ocorridos que cul-
minaram no acidente são necessários inicialmente le-
vantamentos de dados relativos às condições usuais
de trabalho na data do acidente. Não havendo como
identificar tais fatores devido a alterações no ambiente
de trabalho, no processo de trabalho, substituições de
máquinas ou outros motivos, existe a possibilidade da
simulação das condições de funcionamento na época

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do acidente para que seja avaliada ou identificada a qual
condição estava exposto o Requerente.
Assim, o Laudo Pericial para situações de Ação In-
denizatória por Acidente de Trabalho pode ser elabora-
do contemplando as principais etapas:
1. Introdução;
2. Vistoria no local do acidente;
3. Causas prováveis do acidente;
4. Laudo Pericial.

Na Introdução, deve estar descrito o teor da Ação


que o Requerente apresenta contendo:
○ relato do acidente apresentado pelo Requerente;
○ o que ocorreu em decorrência do acidente;
○ levantamento de registros de perícias efetuadas
para este acidente como Perícias Técnicas e Perí-
cias Médicas, que deverão estar juntadas ao pro-
cesso;
○ informações relevantes que indiquem se o Re-
querente e o Empregador participaram ou não de
realização pericial já efetuada;
○ informações relativas à empresa: se a mesma
continua em funcionamento, se ainda permanece
o mesmo Empregador da ocasião do acidente, por
exemplo.

Para as informações obtidas em vistorias, depoi-


mentos, perícias devem ser registrados a fonte da in-
formação e a data da obtenção dos dados, bem como a
identificação do possível Assistente Técnico que pode

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ter sido indicado a participar do processo. Auxiliando
os registros a serem executados nesta etapa, a utilização
de registros fotográficos ou de filmagem para elucidar
os fatos relatados pode ser adotada.
Na Vistoria do Local devem ser descritas as se-
guintes situações:

○ as condições ambientais e de trabalho observa-


das;
○ verificado se as condições são aquelas presentes
na ocasião do acidente. Isto poderá ser confirmado
pelas informações do Requerente, do Empregador
e de outras pessoas que possam ter sido testemu-
nhas do acidente.

Havendo situação que indique que a instalação da


empresa não mais exista devido à mudança de endere-
ço ou por motivo de alteração no processo produtivo
ou desativação do setor, por exemplo, um dos possíveis
elementos a ser considerado pelo Perito é o depoimen-
to do Requerente. Desta maneira, o Perito obterá dados
sobre as condições em que o Requerente trabalhava na
empresa por ocasião do acidente. Deverão ainda ser con-
sultados documentos da empresa nos quais haja o regis-
tro das condições as quais o trabalhador estava exposto,
demonstrando avaliações quantitativas de determinados
agentes, comprovação de fornecimento de equipamentos
de proteção individual, treinamento relativo à orientação
de guarda e conservação do EPI, Programa de Preven-
ção de Riscos Ambientais (PPRA), Programa de Con-

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trole Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) com os
registros dos exames realizados pelo Requerente, Análise
Ergonômica do Trabalho (AET), entre outros.
Na identificação das Causas Prováveis do Aciden-
te, todos os relatos e informações obtidas devem ser
ordenados pelo Perito de modo a possibilitar o enten-
dimento dos fatores que contribuíram para o acidente.
Isto demonstra que a fase de Vistoria do Local é muito
importante, pois fornecerá os subsídios para o Perito
presuma como o acidente ocorreu. Os fatos identifi-
cados e analisados pelo Perito poderão confirmar ou
negar as alegações apresentadas pelo Requerente.
No Laudo Pericial, o Perito deve responder aos
quesitos apresentados nos Autos sempre de modo ob-
jetivo e, conforme o questionamento, apresentar a fun-
damentação legal e técnica para sua resposta.
De acordo com o Código de Processo Civil. no
artigo 429:

Para o desempenho de sua função, podem o perito e os


assistentes técnicos utilizar-se de todos os meios neces-
sários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, soli-
citando documentos que estejam em poder de parte ou
em repartições públicas, bem como instruir o laudo com
plantas, desenhos, fotografias e outras quaisquer peças.
(BRASIL, 1973)

Assim, a legislação estabelece os recursos à dispo-


sição do Perito para que este consiga atender aos ques-

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tionamentos dos Autos de modo a compor as informa-
ções que auxiliarão o Juiz em sua decisão.

2.4. Etapas da perícia

O Trabalho de perícia caracteriza-se pelas etapas


que devem ser cumpridas, de modo a atender os prazos
estabelecidos em lei:
Depois da retirada dos autos, o Perito deverá de-
senvolver as seguintes exigências até a obtenção do
Laudo Pericial:

○ Leitura e interpretação do processo;


○ Elaboração de petições e/ou correspondências
para informar as partes sobre a realização das di-
ligências;
○ Realização de diligências incluindo exame de li-
vros, documentos técnicos legais;
○ Realização de simulações, cálculos e análises de
resultados;
○ Elaboração do Laudo com respostas aos quesi-
tos das partes;
○ Revisão final e entrega do Laudo, atendendo os
prazos estabelecidos.

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Exercícios

1) Leia as afirmações.
I) Profissional legalmente habilitado, idôneo e especia-
lista, convocado para realizar uma perícia;
II) Profissional legalmente habilitado, indicado e con-
tratado pela parte para orientá-la, assistir os trabalhos
periciais em todas as fases da perícia e, quando necessá-
rio, emitir seu parecer técnico;
III) Parecer técnico escrito e fundamentado, emitido
por um especialista indicado por autoridade, relatando
resultado de exames e vistorias, assim como eventuais
avaliações com ele relacionados;
Os conceitos à perícia apresentados em I, II e III cor-
respondem respectivamente a:
a) Perito; Empregador; Atestado de Saúde Ocupacional
- ASO
b) Juiz; Assistente Técnico; Análise e investigação de
acidente
c) Juiz; Perito; Laudo
d) Perito; Assistente Técnico; Perícia
e) Perito; Assistente Técnico; Laudo

2) Responda por que numa perícia devem ser conside-


radas e minuciosamente identificadas as tarefas e sub-
tarefas efetivamente desenvolvidas pelo Requerente e
não apenas as que constam de documentos relativos ao
cargo ou função do Requerente?

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3) Com relação às atribuições do Perito para o desen-
volvimento da Perícia: Dependendo da situação objeto
de perícia, o perito pode se eximir de:
a) Falar pessoalmente com o Requerente.
b) Ler e interpretar o processo.
c) Elaborar o Laudo Pericial e apresentá-lo cumprindo
os prazos estabelecidos.
d) Responder aos questionamentos apresentados nos
Autos com base na legislação e conhecimento técnico.
e) Todas as situações aqui apresentadas.

4) Havendo um trabalhador que é funcionário numa


gráfica e dentre suas atribuições este efetua transporte
manual de cargas: leva pacotes de papel do almoxarifa-
do até área próxima às máquinas para a impressão. Em
virtude do fato exposto, este funcionário tem direito à
percepção do adicional de insalubridade?
a) Sim, pois está exposto a agente físico.
b) Sim, porque transporte manual de cargas pode cau-
sar danos à saúde do trabalhador.
c) Não, pois este agente de riscos não se enquadra no
conceito de atividade insalubre.
d) Não, porque não ficou claramente estabelecida a du-
ração da atividade do funcionário.
e) Não, deveria receber adicional de periculosidade, in-
dependentemente da duração da tarefa durante a jorna-
da de trabalho.

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5) Numa perícia trabalhista:
I) A empresa não pode contestar a reivindicação do Re-
querente;
II) A empresa pode nomear Assistente Técnico que
aceitará ou contradirá, por meio de representação jurí-
dica, a versão apresentada pelo Requerente;
III) O Assistente Técnico, bem como o Perito Judicial,
têm prazos para apresentarem os relatórios ao Juiz.
São verdadeiras as afirmativas:
a) Apenas I e II.
b) Apenas II e III.
c) Apenas I.
d) Apenas II.
e) Apenas III.

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