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MEDEIA NEGRA Um Grito Candente
MEDEIA NEGRA Um Grito Candente
No mês de abril, a Prefeitura de Salvador lançou o Curto Circuito de Teatro, ação que promoveu
a circulação de oito espetáculos teatrais em teatros e espaços culturais da periferia da cidade,
de forma gratuita. Foi aí que eu pude assistir o monólogo Medeia Negra, no SESI Casa Branca,
espetáculo protagonizado pela atriz Márcia Limma. Com direção de Tânia Farias e direção
musical de Roberto Brito, fui lançado à potência da voz de uma medeia brasileira.
O espetáculo não é novo, vem circulando o país há cinco anos. Em Salvador, estreou em 2018,
com produção do grupo VilaVox. Em 2019, Márcia Limma foi indicada ao prêmio Braskem na
categoria melhor atriz. Durante a pandemia, se adaptou ao formato online através da
plataforma SESC. Entretanto, naquele momento em que pude sentir a força da medeia negra,
tive absoluta certeza de que o espetáculo carregava o frescor de uma obra ainda pulsante,
cheia de vida.
O espetáculo traz referências à ancestralidade negra, com alguns elementos cênicos ligados ao
candomblé. Em dado momento, o corpo de Márcia se transmuta em um búfalo, animal que
representa a força selvagem de Oiá – a iabá que solta fogo pela boca, que nunca perde a
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https://www.youtube.com/watch?v=lPj5VtV81jE&ab_channel=SescPompeia
coragem. No início da peça, Márcia equilibra duas cumbucas, rodeadas de búzios e em chamas,
em um lento caminhar. É o fogo interno que nunca se apaga até o fim do espetáculo.
E, sem dúvida, mesmo quando vamos para casa – ainda com as imagens do corpo e com a voz
perfurante da atriz em nossas mentes – algo revira em nosso interior, o fogo permanece aceso.
Medeia Negra é um manifesto de luta, porque relembra da verdadeira história brasileira, nos
causa fogo. Antes de tudo, uma arte revolucionária tem a ver com isso: estimular a memória do
passado, causar fogo no público e nos deixar com o gosto de coragem na boca.