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técnica
vocal
aula
aquecimento
vocal
introdução
Nessa aula eu vou compartilhar com vocês o meu modus operandi, meu raciocínio e
mentalidade e meus hábitos de aquecimento de voz básico.
Como vocês sabem, eu trabalho com a Dra. Blacy Gulfier, minha produtora vocal, há muito
tempo e sob orientação e com o acompanhamento dela faço exercícios específicos
desenhados para a combinação exata do meu aparelho fonador com o repertório que
hoje executo; não são estes os exercícios que eu vou compartilhar com vocês, porque
dizem respeito às particularidades específicas do meu corpo e do meu repertório. Aqui
vou falar do aquecimento de forma mais ampla, de princípios e exercícios que podem ser
de proveito de todos.
Mesmo quando você for utilizar os mesmos exercícios que você faz para fortalecimento
vocal ou para treinamento de consciência ou acurácia, o objetivo agora e seu foco é
outro: é preparar a sua voz para efetuar a atividade vocal específica daquele momento.
passo 02 - inalação
Então começo a com inalação. A inalação faz parte do processo de me preparar para
cantar. Aí você pode perguntar: mas como? Quanto pode? Quanto não pode?
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Procure um profissional que vai te orientar nesse sentido. Não cabe a mim. Tem
individualidades a serem respeitadas aí, como o tipo de pulmão que você tem, se você
tem alguma predisposição, alguma doença pulmonar. Além disso, tem todo o cuidado
com o inalador, de limpar, mantê-lo seco, de não usar o soro fisiológico velho, de guardar
o soro fisiológico na geladeira ou de abrir um novo soro fisiológico toda vez que você for
fazer o seu aquecimento. Enfim, procure um profissional. De maneira geral, eu não faço
mais do que 15 - 30 minutos de inalação durante meu aquecimento.
Já ouvi dizer que há cantores (famosos, internacionais) que fazem aquecimento de mais
de uma hora. Dentro do meu conceito – e do conceito da Dra. Blacy – isso não faz
sentido. Imagine um jogador de futebol ficar fazendo uma hora e meia de exercícios
pesados antes de um jogo que terá essa mesma duração! Muitas das minhas
apresentações têm duração de uma hora e vinte, uma hora e meia. Imagina, se eu fizer
uma hora e meia de exercício físico, vou chegar já cansado no jogo. Então, acredito que
não faz sentido. O aquecimento precisa ser bem direcionado para não cansar seu
aparelho fonador desnecessariamente.
Inclusive, no dia que você for cantar, o ideal é que esteja em razoável repouso vocal.
Não é ideal que se passe o dia inteiro dando aula, falando muito, para cantar à noite.
Claro que tem muita gente cuja realidade é essa e cada um tem de fazer o que pode
dentro de sua realidade, mas é evidente que isso não é ideal. Então, em uma situação
ideal, no dia da apresentação eu falo o mínimo possível ou paro de falar pelo menos
umas 3 - 4h antes de cantar.
Daí eu parto pra conferir como está a estabilidade da minha emissão passando pelas
vogais “aaaéééêêêiiióóóôôôuuu uuuôôôóóóiiiêêêéééaaa”.
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Mas claro que o aquecimento tem como objetivo fazer com que mesmo um dia ruim seja
ainda um dia bom. Eu, por exemplo, me sinto muito mal quando entrego uma
performance com nota menor do que oito, dentro daquilo que eu sou capaz de fazer. Sete
e meio eu já fico meio incomodado. Oito é o mínimo que eu quero entregar e é
justamente por isso que eu me preparo. É justamente por isso que eu treino. É justamente
por isso que eu faço o aquecimento.
Especialmente nos eventos de teatro, de turnê que eu, mesmo, estou organizando, eu
chego antes no teatro, duas, três ou até quatro horas para estar tranquilo, para ter o meu
momento. Eu converso pouco e não falo muito com os membros da equipe e da banda,
todo mundo já sabe qual é o meu esquema. Como eu disse, estou em repouso vocal e
faço esse “aaaéééêêêiiióóóôôôuuu uuuôôôóóóiiiêêêéééaaa” e vou aumentando o tom.
Faço mais rápido, mais lento e não faço mais do que uma oitava. Raramente chega a uma
oitava, normalmente fico em uma quinta. Vou ajustando as vogais, vou vendo posição de
língua, percebendo o que está acontecendo, por que não está ficando tão bom, por que
não está tão fluido. Faço isso.
A próxima coisa que eu faço é afinar a minha voz (como se fosse um instrumento, um
violão, por exemplo). Eu faço aquele exercício básico de afinação com vogais que
também tem no curso de afinar todos os intervalos dentro de uma oitava. Como este
exercício não é tão fácil, pra quem for mais iniciante, pode ficar apenas afinando a 5ª, 4ª e
3ª, como ensinei pra vocês em um dos primeiros exercícios de afinação. Só lembrando: é
o mesmo exercício, mas o objetivo não é mais conhecer a voz, nem fortalecer a voz.
É despertar a voz, ver como está a situação, ver o quanto eu vou poder arriscar ou não
naquele dia. E eu faço esse exercício por bastante tempo, normalmente no tom da
primeira música que eu vou cantar. Eu já sei que música vai ser a primeira, então eu já
entro na vibe da primeira música, entendeu?
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Depois disso eu volto a ficar em silêncio. Fico fazendo só inalação, no máximo eu faço
aquele “hmm hmmm hmm” do começo.
Além disso, você não precisa realizar esse teste com o mesmo volume, porque se você
estiver alcançando a nota já está tudo certo, o volume a gente coloca na hora, tem todo o
contexto da apresentação para isso. Claro, isso partindo do pressuposto que você treinou
isso e já fez isso nos treinos e ensaios.
Ok, eu fiz todos os exercícios e estou fazendo mais um pouquinho de inalação, mas ainda
tenho tempo sobrando. O que fazer? Eu canto a primeira estrofe da primeira música que
eu vou cantar. Coloco o playback no celular e treino a primeira estrofe até o primeiro coro.
O objetivo é fazer isso no tom certo, porque o momento mais crítico da vida do cantor
normalmente está nos primeiros 30, 40 segundos, ou até no primeiro minuto do que ele
vai cantar. Então, quanto mais você puder estar preparado para esse primeiro minuto da
música, melhor. Normalmente (e acontece com muito cantor grande), o cara não entra
preparado na primeira música, na primeira estrofe, na primeira nota. E o que é isso? Falta
de aquecimento, falta de se colocar mentalmente no lugar de cantar aquela música e
naquele momento, naquele contexto.
Passar som também é muito importante para que você não perca os primeiros minutos
da sua apresentação tentando se comunicar com o técnico de som. Tem que chegar
antes. Antes de abrir o teatro, antes da galera chegar na igreja ou seja lá o que for, para
você passar o som, para você ter segurança de que tudo vai estar funcionando do jeito
que você precisa para a hora em que você começar a cantar.
Ok, eu fiz tudo isso aí, mas, sei lá, atrasou a apresentação e tenho mais cinco, dez
minutos. Fique em silêncio, faça mais um pouquinho de inalação. Mas não se permita
chegar na hora do jogo cansado, você tem que estar bem!
A minha voz está desperta. Eu sei em que situação eu me encontro e agora eu estou em
cima do palco. Está tocando a introdução da música, eu afasto o microfone e fico
cantando a primeira nota. “Ah, mas é feio pra quem está de fora.” Bom, eu não estou na
televisão e o meu ofício é cantar. Eu prefiro cantar bem do que estar bonito na foto, essa
é minha opinião. Eu prefiro entrar na primeira nota com segurança, já entrando na música
plenamente, por assim dizer, do que me preocupar se as pessoas vão achar que eu estou
distraído, falando sozinho. Eu sei que eu não estou distraído, estou justamente bem
focado na minha performance.
Eu entendo que existem artistas que não compartilham dessa mesma realidade, mas
para mim o ponto principal da minha performance é vocal. Isso, claro, deixando de lado
espiritualidade ou qualquer outra coisa, estou falando aqui do que é palpável, do que é
físico e vocal. E eu quero entrar na primeira nota com segurança, com firmeza, com
confiança e sem dúvidas.
E isso tudo tem a ver com o som, tem a ver com o aquecimento, tem a ver com a
tonalidade que eu já estou acostumado e, sim, tem a ver com a primeira nota. Cara,
nunca subestime a primeira nota. E curiosamente eu vejo pouca gente fazer isso, mas
pode reparar, qualquer vídeo meu ao vivo, enquanto está tocando a introdução eu estou
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com o microfone longe da boca e estou cantando a primeira nota. Eu estou cantando a
primeira nota pra entrar nela com 100%!
Conclusão
Enfim, esse é o jeito que eu faço meu aquecimento vocal. Adapte para a sua realidade,
que talvez não seja a mesma que a minha e tudo bem, mas adapte este pensamento por
detrás de como eu monto o meu aquecimento.
Sempre lembrando, tem outros exercícios que eu faço no aquecimento, que tem a ver
com o ajuste vocal que eu estou usando naquele momento; mas timbragem e ajuste é
algo que eu não cubro nesse curso porque, de fato, não creio que caiba a mim falar sobre
isso. Não sou o profissional adequado para isso. A Dra. Blacy tem cursos também, não
sei se online atualmente, mas tem. Ela também faz atendimento individual e ela, sim, é a
pessoa com quem vocês devem conversar sobre isso, especificamente.
Espero que isso sirva como ponto de partida, como inspiração e como reflexão para você
e que tenha utilidade no seu dia a dia.
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