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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Fonseca, Edson Nc ry da, 1921-


lntrodução à biblioteconomia / Edson Nery da
Fonseca ; prefácio de Antonio Houaiss . - São Paulo :
Pioneira, 1992. - (Manuais de estudos)

Biblior,rafi a.

1. Bibliot economi a 1. Título: li . Sé ri e.


92-2788 CD~020

Índices para catálogo sistemático:


1 . Bibioteconorni a 0 20
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P'b / Edson Nery da Fonseca
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, INTRODUÇAO
A BIBLIOTECONOMIA
PREFÁCIO DE
Antônio Houaiss ,

e
LIVRARIA PIONEIRA EDITORA
São Paulo
, 11

Capa de
Jairo Porfírio

(Óleo sobre tela 114x146cm, de Maria Helena Vieira da Silva,


"A Biblioteca", Paris, 1949. Museu Nacional de Arte Moderna, Paris.)

Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida sejam


quais forem os meios empregados (mimeografia, xerox,
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sem a permissão, por escrito, da Editora.
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Telefone: 858-3199 - Fax: 858-0443 - São Paulo - SP

Impresso no Brasil
Prínted in Brazil
,
'l

Isso é a grandeza admirável da biblioteconomia! Ela


torna perfeitamente acháveis os livros como os seres, e
alimpa a escolha dos estudiosos de toda suja confusão.
Este o seu mérito grave e primeiro.

Mário de Andrade. "Biblioteconomia", 1937.


Os filhos da Candinha
,
l

SUMÁRIO

~ Prefácio de Antônio Houaiss .......................................................................... 13


\ 1rtrodução...................................................................: ................................. 15

1 O LIVRO .................................................................................. :.... .............. 33

" 1.1 A PAI.AVRA'LJVRO ............................................................................. 35


,; 1.2 O LIVRO COMO "FORMA DE VIDA HUMANA" ................................... 36
J 1.3 O LIVRO COMO CONFLITO ............. .................................................... 37
.J l.4 A BASE FÍSlCA DO LIVRO .................................................................. 38
~ 1.5 O LIVRO, SUAAUTORIAE SEU CONTEÚD0 ..................................... 42
,{ 1.6 O LIVRO NO BRASIL .......................................................................... 45
1. 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 52

2 A BIBLIOTECA .................. ........................................................................ 57

j\ 2.1 A PAI.AVRA BIBLIOTECA .............................. ....................................... 59


2.2 NOVO CONCEITO DE BIBLIOTECA. ................................................... 59
j 2.3 DIFERENTES CATEGORIAS DE BIBLIOTECAS .................................. 61
v 2.4 BIBLIOTECAS NO .BRASIL .................................................................. 65
2.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 68

3 LEITOR/LEITURA .................................................................................... 73

~ 3.1 AS PALAVRAS LEITOR E LEITURA ..................................................... 75


~ 3.2 LEITOR E ·NÃO-LEITOR ........................................................... ........... 77
\ 3.3 LEITURA ............................................................................................ 80
) 3.4 LEITOR/LEITURA NO BRASIL ........................................................ ·.... 91
3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 94
1

l QBIBLIOTECARIO .... ............................................................................... 99


4
#

~ 4.1 A PALAVRA BIBLIOTECÁRIO.................. .. ....... ................................. 101


~ - DO BIBLIITTECARIO
4.2 MISSOES . ........................................................ 101
~-4.3 FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO .................................................... 105
J 4.4ATUALIZAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO.................................. ............. .. 106
J 4.5 O BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL ........................................ .............. .. 111
4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................... 116

\
'
APÊNDICE: TEXTOS DE AUTORES BRASILEIROS
'
.................................. 121

Apresentação ........... ... ..... ........................................................................... 121

~ BIBLIOTECONOMIA
Mário de Andrade ............................................................................... 128

\ POESIA E UTILIDADE DE SIMÕES DOS REIS


Carlos Drummond de Andrade ........................................................... 129

J UM BIBLIOTECÁRIO
Gilberto Freyre ................................................... ................................. 131

\ REFLEXÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL E FUTURA DO


BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL
Otto Maria Carpeaux .......................................................................... 132

i UM EDITOR NO CÉU
Carlos Drummond de Andrade ........................................................... 136

J
~ DOLEITOR
O G:::: :::::;~ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Lêdo Ivo .............................................................................................. 141

j O BIBLIOTECÁRIO ·
Emílio Carrera Guerra .......................................................... ~ ............. 144

j PARA UMA FEIRA DO LNRO


João Cabral de Melo Neto ................................................................... 145

-12-
,
t

PREFÁCIO

t Se me fosse dado sonhar a relação ideal autor-obra, eu proporia três


r~ptos: que o autor fosse - por sua vida de prático e por sua vida de teórico -
senhor e mestre do tema, pois que isso o capacitaria para balanceá-lo como
essência e esperança; que o tema fosse tratado como que inauguralmente, mas
com tal clareza experimentada e tal lucidez de horizontes havidos e havituros,
que seus leitores haurissem a impressão de evidência, lógica e racionalidade,
estranhando (a estranharem algo) que o dito tema tivesse sido objeto de passa-
das sombras, penumbras, controvérsias e litígios; que a clareza expositiva, por
sua eficácia incontrastável, se amenizasse de graça e doçura e humor, pois o
autor já haveria superado (se os tivesse tido) as amarguras e tropeços de sua
caminhada para o fazer, o saber fazer, o saber fazer fazer. De tudo isso fica-me
aqui a certeza dos três reptas integrados, após a leitura amorosamente minu-
dente desta Introdução à Biblioteconomia. Porque, se outrem tivesse no Brasil
· elaborado uma obra deste tipo, para mim - e para quantos! - ficaria prova-
velmente a impressão de que se trataria de uma usurpação, pois esse alguém
estaria exercendo uma função que não lhe cabia.
A maneira por que Edson Nery da Fonseca tem exercido su@ Üopráticà)
vem sendo, desde o início, a de um(b~ue chegaria a uma~iosofia)
íntegra, de pés na terra - já que sabeae polpas de papel. de tintas, de carac-
teres, de composições, de manchas e ilustrações, de encadernações, de preser-
vação, de restauração, de armazenamento, de locais, de acondicionamentos
ambientais - e de olhos no céu - já que busca para cada livro sua mensagem,
seu conteúdo formativo, informativo, recreativo, lúdico, sua adequação etária,
seu curso de honra, sua inserção na história: de permeio, entre os pés e os
céus, quer, com o coração, que os livros sejam objetos amaráveis, como cimen-
tos e tijolos de humanização, mesmo os ruins e as controvérsias que geram
com seqüelas quase sempre de redenção; e com o figado, que dele quer que se
possa haurir alegrias retemperantes, eventuais rancores magoados mas supe-
ráveis, certos ímpetos corretivos, alguns temperos didáticos - fontes de vida
havida, vida vivente e vida futura.
Não me cabe 'provar' o que digo de Edson Nery da Fonseca: o seu currículo
de vida prova-o à saciedade, convencendo não apenas como argumento, mas
como militância - oral, escrita, ativa, funcional, histórica-, dele fazendo um
,
l
marco miliar no derroteiro do livro (de um modo geral), do livro lusofônico (de
modo especial) e do livro brasileiro (de modo particular). Dele dizer - com
palavra neste texto por ele criada(ad hoê)- que é um serlan!ropgbiblio~ritfico
é fazer justiça, pois poucos sabem como ele que o Homem - como espécie e
como indivíduo - se faz cada vez mais a si mesmo graças a um instrumento
- o livro - de que derivam todos os instrumentos, fisicos e mentais._
A esse respeito, talvez me caiba sublinhar uma lição impllcita e não raro
explícita nesta obra: que o livro, ao contrário do que certa modemosidade
pusca impingir, está. agora dando os seus melhores frutos de uma floração que
perdurará pelos milênios por vir. Daí tamb~m me cabe rogar ao leitor que não
perca, nesta exposição-narração-dissertação, os momentos de ira sacra com
que Edson Ne:ry da Fonseca se levanta contra a ignorância crassa de certas
'autoridades' ditas brasileiras no trato ou destrato do livro.
Não nos esqueçamos de que, só com a escrita e seu vetor (o barro, a pedra,
o mármore, a parede, o couro, o pergamínho, o papiro, o papel, a magnetofita),
o Homem começou a História restritivamente dita, inventando a transmissão
do saber institucionalizadamente, fazendo de certas línguas de três mil pala-
vras línguas de 600 mil, multiplicando as duas únicas profissões iniciais nas
50 dos fins da Idade Clássica, nas 90 do fim do Antigo Regime, nas 420 do
Romantismo, nas 30 mil de hoje em dia - graças em boníssima parte ao 'livro',
qualquer que seja o seu su11orte. ·
~ Este livro, assim, trata- s06úanamente do livro, como vetor e criador da
modernidade - essa só que distingue o Homem@gfãfÕ1luee xístiu na Terra por
q uasé dois milhões de anos do Homemtgráfico,. que há aqui e agora na Terra,
mas ainda não planetizado, de apenas uns poucos - seis, cinco, quatro, três?
- milênios para cá: só a sua universalizaçãq abrirá as portas a uma humani-
dade sem desenvolvidos , subdesenvolvidos, em vias de desenvolvimento e em
vias de subdesenvolvimento. Assim ainda, este livro, vocativamente, não pode
deixar de ser lido, e relido, e reri-elido, pelos fbiblioteconomista~ e •bibliômanos)
em geral, e em especial pelosfoibli'!.P"i-átic~lbiblioteÓricÕs0 '·
Mas que quem lê não se iluda: quem quer que já saiba ler lerá com
encantamento esta introdução à\ biblioventura)- e se enriquecerá de (pelo
menos) esperança. -

Rio de Janeiro, 20 de julho de 1991

ANTÔNIO HOUAISS

-1 4 -
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~
INTRODUÇÃO

! 0.1 A palavra biblioteconomia é composta por três elementos gregos -


ÍW21f.Q!l (livro) + ~ (caixa)+ 11Q!11Q§ (regra) - aos quais juntou-se o sufixo.bh
Etimologicamente, portanto, biblioteconomia é o conjunto de regras de acordo
com as quais os livros são organizados em espaços apropriados: estantes,
salas, edifícios.
0 .2 Organizar livros implica tanto em ordená-los segundo um sistema
lógico de classificação dos conhecimentos e em conservá-los para que resistam
a condições desfavoráveis de espaço e de tempo, como em tomá-los conhecidos
- por meio de catálogos, bibliografias, resumos, notícias, exposições, etc. -
para que sejam utilizados pelo maior número possív~l de pessoas interessadas
nos elementos formativos, informativos, estéticos ou simplesmente lúdicos ne-
les contidos. A organização começa antes mesmo do ingresso dos livros nas
bibliotecas - que se faz por compra, doação ou permuta - através de uma
seleção cuidadosamente atenta aos perfis dos respectivos usuários.
0.3 No Vocabularium bibliothecarii da Unesco estão indicadas as seguin-
tes palavras ou expressões correspondentes ao português biblioteconomia em
cinco línguas: .libr:y-ianship na Inglaterra e libr{YY scienct;. nos Estados Unidos
da América; bibliothéconol!]ie na frança; Bibliothekswissenschaít, Bibliotheks-
wesen_ou Bibliotheksfach na Alemanha; bibliotecología na Espanha e em paí-
~ hispanO-ãillericãilÕs; e Bibliotekovendenie ou Bibliotecnoe Delo na Rússia
(transliteração do alfabeto cirilico)1.
0.4 Em relação à palavra bibliotecología impõe-se o esclarecimento de que
é usada mais na América Hispânica do quen a Espanha, onde biblioteconomía
está consagrada em titulas de livros, revistas e instituições. O bibliotecário
argentino Domingo Buonocore tem razão ao proclamar que, etimologicamente,
bibliotecología é denoiliiiiãçãÔ mais abrangente que biblioteconomía, pois em
grego o logos é muito mais amplo que o nomos2 • -

0.5 O que me leva a pensar na obra O logos heraclílico, do erudito Fran-


ciscano teuto-brasileiro Frei Damião Berge: obra na qual se informa que o logos
"é a palavra, o discurso, a coligir o saber a respeito da physis, a tomar vj sível,

~
em sua enunciação, ~ physis ~sível'' 3 .fE c-õmõ não hã lõgica na tradiç~ã .o
~üistíca, a pãlavra biblioteconormãCõnsagrou-se tanto na Espanha em em

-----
ortugal como no Brasil, como o ramo da bibliologia que trata da organização
administração de bibliotecas.
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0.6 A disciplina Introdução à Biblioteconomia não figurava nos cursos
brasileiros de formação de bibliotecários, que se graduavam, conseqüentemen-
te, com uma visão fragmentária do fazer biblioteconômico: aquisição, classifi-
cação, catalogação, referência etc. É verdade que nas disciplinas História do
Livro e Organização e Administração de Bibliotecas poderia o estudante captar
o elemento unificador. Mas dependia dele mesmo ou do professor.
O. 7 Coube à Universidade de Brasília ia primazia em considerar Organiza-
. ção e Administração de Bibliotecas menos como disciplina do que como maté-

1
tria, desdobrada esta em tantas disciplinas quantas são exigidas pelo aumento
da produção bibliográfica e conseqüente complexificação dos seiviços bibliote-
cários: Documentação é uma delas; Reprografia outra; e Introdução à bibliote-
conomia, da qual nos encarregamos. Disciplina cujo ob_jeiiVo é mostrar ao
MuroWbliotecário as relaçôes tanto entre os diferentes rocessos técnicos -e
informa ivos-=- relações intradiscip inares - como entre ela e as demais disci-
plinas bibliológicas - relações transdisciplinares - e até entre a bibliolog§ e
Õs conliec1menfc>sêientíficos e humarústicos - relações interdisciplinares.
0.8 Trata-se, portanto, de uma disciplina integradora, gue procura unifi-
car o que na prática administrativa e didática se oferece de modo disperso; que
procüra -1:!!!1ª visão_de conjunto e, portanto, uma filosofia da biblioteconomia-:
0.9 Comecemos, portanto, procurando situar a biblioteconomia no qua-
dro geral dos conhecimentos. Para tanto, necessitamos de um pouco de feno-
menologia. Não da fenomenologia no sentido filosófico dado à palavra por Ed-
mund Husserl em sua obra Investigações lógicas; e sim num sentido mais
genérico, como "pura descrição daquilo que aparece", pois em grego fenômeno
significa "o que aparece".
0.10 Olhando para a realidade que nos rodeia e de que somos parte,
verificamos que, de um lado, existem as coisas e os fenômenos: coisas e fenô-
menos que vemos ou testemunhamos; de outro lado, existem os conhecimen-
tos dessas coisas e desses fenômenos: conhecimentos que resultam de uma
sistematização do que nossas inteligências aprendem de modo fragmentário;
ainda em outro plano, existem os registros dos conhecimentos, resultantes de
nossa necessidade de comunicação. Teilhard de Chardin denominou os dois
primeiros planos biosfera (conjunto dos seres vivos) e noosfera ("o invólucro
pensante") 4 ; e Antônib Houaiss cunhou a palavra grafosfera, definindo-a como
o "envoltório escrito"5 •
0.11 Os conhecimentq_s~ acumulados pelo homem através dos tempos fo-
( ram pela primeira vez sistematizados na ~tig~; os _gregos, porém, deram
maior ênfase a essa sistematização, principalmente com a obra de ~stóteles,

I primeiro filósofo a tratar de matérias variadas, como a lógica, a física, a psico-


logia e a antropologia, a zoologia, a metafisica, a ética, a política, a retórica e a
/ poética.
\ -16 -
,
~
0.12 Até a Idade Média os conhecimentos estiveram mais ou menos uni-
ficados na filosofia. Basta ver o número de tópicos compreendidos numa de
suas subdivisões clássicas, a cosmologia ou filosofia da natureza: leis gerais da
natureza, espaço, tempo, movimento, matéria, força e energia, quantidade e
número. A partir do RenasciJ:.!!el!,to, começa a dispersão dos conhecimentos.
0.13 Dispersão e sucessão, porque uns geram outros, como a história
natural, porexemplo,aa qual sairam a biologia, a zoologia e a botânica. Da
biologia, pot sua vez, surgiram a citologia, a microbiologia e várias outras
pisciplinas. A fragmentação disciplinar generalizou-se de tal maneira que o
1
' esquisador moderno passou a saber cada vez mais de cada vez menos coisas,
cÕmo obsefVüu Õ.K. Chesterton. .
0.14 Culturas pessoais como a de Aristóteles ou a de Leonardo da Vinci
não são mais possíveis; entretanto, a unidade básica dos conhecimentos re-
ponta nas relações tanto entre ciências do mesmo tronco - biofísica, bioquí-
mica - como de troncos diferentes - psicolingüística, sociobiologia - e até
entre conhecimentos científicos e humanísticos, como sociologia da arte, ciber-
nética. As pesquisas interdisciplinares ajudam o homem na recuperação da
unidade perdida6 •
0.15 O que ocorre na noosfera projeta-se inexoravelmente na grafosferq,
confirmando a observação de Mallarmé, para quem "tciüt au mõBtie, eXfst~
ÓÜ.r â~tiraun 1~· 1 . Conseqüência da multiplicação das ciências e de suas
aplicações tecnológicas é a explosão documental, fenômeno comparável à ex-
plosão demográfica. Não há exagero na comparação, pois segundo o Britannica
World Data foram publicados em 1985 mais de 700.000 livros e mais de 100.000
revistas, calculando-se que tais números tendem a duplicar de dez em dez anosª.
- 0.16 Preocupados com este problema, os pesquisadores belgas Henri L:'.!),,,.j\,~
Fontaine
...--- - .(1854-1943) e Paul Otlet (1868-1944) fundaram em Bruxelas, no ano
de 1895, um Instituto Internacional de Bibliografia. Seu objetivo era registrar
em 'nchas a produção mundial de impressos: o Repertório Bibliográfic_9 Univer-
sal_, então inaugurado naquela cidade9 •
0.17 O desenvolvimento da ciência e o da tecnologia- que são mutua-
mente corolários - provocaram o advento de documentos não impressos, como
as patentes de invenções e as marcas de fábricas, a que se juntaram os resul-
tantes de ap. erfeiçoamentos nas técnicas de registro do som e da imagem. O) ,
norte-americano Thomas Alva Edison (1847-1931) - que durante sua vida\~»"'
registrou mais de mil patentes, inclusive as da lâmpada elétrica incandescente,
do fonógrafo e do projetor cinematográfico - ,Propôs a substituição da e~
~ão bibliographic explosion por documentation ewlosion. Por ocasião de seu
10º congre,sso anual (Haia, 1931), o Instituto Internacional de Bibliografia pas-
sou a denominar-se Instituto Internacional de Documentação. Seis anos de-
poís, fundava-se nos Estados Unidos o American Documentation Institute.
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Estava constituída a nova ciência, sistematizada por Otlet em seu Traité de
documentation 1º.
0.18 Enquanto a matéria-prima da biblioteconomia sempre fora o texto
o _impresso - avulso (livro) ou eriódico (revista) - a documentação passou a i -_f
interessar-se pe os ocumentos de qualquer natureza, também chamados do- jf
i cumentos não convencionais. Mas documento é, por definiçao, o suporte da
lnfmmaçao, cujaongem, transmissão e uso passaram a ser estudados por
especialistas em diferentes áreas do conhecimento científico e humanístico.
J 0.19 Já em 1924 começara a funcionar em Londres uma Association of
e!\
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Special Libraries and Infonnation Bureau (ASLIB}, sob os auspícios de institui-


i
1 ções de pesquisas metalúrgicas. Em 1958 fundou -se na mesma cidade o Insti-
tute of Infonnation Scientists. E dez anos depois o American Documentation
Institute transformava-se em American Society. for Infonnation Science. Estava
~ ·institucionalizada a ciência da infonnação, chamada por alguns infonnatoiogia 11 •
0.20 Temos, portanto, uma visão pessoal do relacionamento entre a biblio- 'drr ~
~ teconomia, a documentação e a çiência da informação. Jamais aceitamos a idéia
- tão definida, nos anos 60, por bibliotecários norte-americanos e brasileiros -
~ de ser a documentação um nome novo Rara tarefas que a biblioteconomia já
~ha desempenhando _s_e_c.ulannente:_parãSefm-os e xatos, desde 162 7, quandó Jl
1
o médico francês Gabriel Naudé (1600-1653) publicou seus Advis pour dresser
~ une bibliothêque. Também consideramos inaceitável que a ciência da informa-
·~· ~o tenha surgido p a.[a:-sl!bstitpir é!...documentaç~o. Cada uma delas tem seus
~ oDj~evenaa,-porem, atuar "de.mãos dadas , como o poeta Carlos Dmm-
-7J1
mond de Andrade recomendava aos homens do "tempo presente": um tempo de
i interdependência - entre indivíduos, instituições, nações e especializações - e
de unificação, de integração e harmonia, de visão holística do mundo 12 •
. ~- 0.21 A fundação, em 1937, do American Documentation Institute (ADI)
~· desmistificou uma falácia utilizada por certos bibliotecários brasileiros: a de
-~ que a documentação surgira na Europa em face da ineficiência das bibliotecas
. . ~ . daquele continente no estabelecimento de sistemas de armazenagem e recupe-
~ - ração da informação (infonnation storage and retrie.val}. Ficou far ea'-a frase
:..'4 . de .P.~ator norte-,americano citado por Suzanne Briet: "la science~ trouvé son
·" l!:_ Wat enoo dans les bibliothéques" 13 • Nos Estados Unidos - argumentavam - a
' · documentação jamais seria acolhida, por causa da eficiência das bibliotecas
desse país. É verdade que houve reações à documentação qa parte de bibliote-
cários estadunidenses assustados com o advento dos documentalistas. A pala-
\ •.
.. . vra documentação tornou-se para eles um v~rdadeiro tabu. Ainda em 1951, em
· obra coletiva da importância histórica de Bibliographic Organization, procu-
rou-se evitar a palavra como que maldita - maldita, certamente, por sua
origem européia - com esta curiosa entrada remissiva no índice: "Documen-
-
. tation; see Bibliographic organization" 14•
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' 0.22 O receio da palavra documentação parece ter passado logo, tanto \ ·
que no ano seguinte o bibliotecário Mortimer Taube fundava em Washington a
empresa Documentation Incorporated, vitoriosa até sua morte, em 1965, a
julgar pelo número e importância de seus associados - mais de 500 - dois
dos quais a Administração Nacional do Espaço Aéreo (NASA) e a Força Aérea
dos Estados Unidos 15 (USAF). E em 1956 os mesmos organizadores da obra
Bibliographic Organization publicavam outra obra coletivajá com o título Do-
·cumentation in Action 16 • . .

!
•)
0.23 Mortimer Taube foi dos primeiros bibliotecários norte-americanos
que tiveram a corajosa lucidez de aceitar a documentação como exigência na-
tural de nossa época, tanto quarito como fenômeno comum na história das
ciências, desconhecendo conflitos entre juristas, sociólogos e psicólogos em
f51ce do advento da criminologia, ou entre biólogos e químicos d!ante do nasci-
mento da bioquímica, ou entre engenheiros e fisiologistas por causa da ciber-
nética etc.: apenas alguns exemplos de novas disciplinas resultantes de outras 17 •
Taube talvez tenha sido também o último desses bibliotecários corajosos e
lúcidos, pois pouco depois de sua morte o ADI mudava seu nome para Ameri-
can Society for Information Science (ASIS). E quase ninguém mais falou em
documentação naquele país. ,
0.24 A Ciência da Informação surgiu em conseqüência de um acordo ~
(t~entre bibliotecários e documentalistas, tendo estes aceito a nova deno-
ffiinaçaô e aqueles imposto a palavra biblioteca, do que resultou a frase hifeni-
zada por George E. Bennett library-and-infonnation science1ª: frase consagra-
da, sem os hífens, tanto nosllõiiles de várias escolas de pós-graduação como
nos títulos de importantes obras de referência. ,Uma delas, a monumental
Encyclopedia ofLibrary and Infonnation Science, cujo corpus principal, em 36
volumes, vem sendo permanentemente atualizado por suplementos 19 •
0.25 Tudo parecia consolidado, quandqfJesse_Sh,@- c_onsiderado 12or '1--
Curtis Wright como ''uma ponte entre a biblioteconomia~ a ciência da infor-
mação" - faz esta surpreendente declaração, naquele que talvez tenha sido o
'último dos inúmeros textos por ele e~tos: w~enty years ~g~. 1 ffioogI'it of
what is now called information science as IJ)TIW1 ing the intellectual and theo-
retical fôundationsoflibrarians hi_p, bÜt Iám now convinced that I was wrong" 20 !.
0.26 É oportuno analisar, mesmo de passagem, o itinerário dessa figurat
exponencial da biblioteconomia. O primeiro livro de Shera é uma exaltação da ao;-.._;,
biblioteca pública: The Foundations of the Public Library21 • Mas em 1953, ao
escrever, em colaboração com Margaret Egan, a longa introdução para a se-
gunda edição da obra Documentation, do inglês S.C. Bradford, ela recrimina as
bibliotecas públicas por terem negligenciado os "problemas bibliográficos" da
ciência e da tecnologia, para cuidar apenas da "cultura popular''22 •
0.27 Já manifestamos, em outra oportunidade, nossa discordância dessa
assertiva dos insignes)autores, procurando mostrar que as bibliotecas públicas

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l
devem continuar dedicadas à cultura popular, à educação de adultos e à de-
mocratização da cultura, deixando os problemas bibliográficos da ciência e da
tecnologia para as bibliotecas especializadas e os serviços de documentação23 •
No mesmo ano da introdução ao livro de Bradford, Jesse Shera deixou de ser
professor ' da Graduate Library School da Universidade de Chicago - uma
escola de orientação tradicionalmente humanística - para dirigir a School of
Library Science da Universidade Westem Reserve, que logo passou a denomi-
13ar-se School of Library and Information Science. Problemas pessoais com
Jp.mes W. Peny - diretor do Center for Documentation and Communication
Research da mesma universidade e seu colaborador na organização de várias
obras colet~vas - ~am _Shera a repudiar a ciência da informação24 •
0.28 E um caso de sociologia da ciência e foi, como tal, magistralmente
.. estudado por (Teorge E. Bennetp em sua já citada obra@ brarians in 'Search o1
Science ana" Identity. Tlle Elus1ve Professiô[DQuando se fizer a his~ -
relacionamento, no Brasil, da biblioteconomia com a documentação e a ciência
da informação, ver-se-á que, guaraaaas as aistâncias, conflitos semelhantes
ocorreram entre nós. Os rumos do Instituto Brasileiro de Bibliografia e Docu-
mentação, por exemplo, teriam sido outros, se a orientação do consultor da
Unesco, Herbert Coblans, tivesse prevalecido sobre a de Lydia de Queiroz Sam-
baquy, com quem ele teve debates nada suaves (sobre o assunto existe disser-
tação de mestrado ainda inédita, de autoria de Luis Antonio Gonçalves). Outro
exemplo: na origem da resistência que alguns bibliotecários de São Paulo opu-
seram à documentação nos anos 50 estava o conflito entre a diretora da Biblio-
teca Central - nossa douta e saudosa amiga Maria Luisa Monteiro da Cunha
- e o diretor do Serviço de Documentação da Universidade de São Paulo,
Guelfo Oscar Campiglia.
0.29 É claro que tais conflitos não devem perturbar nossa visão do pro-
blema. Eles retardam, mas jamais deterão o progresso da ciência, que é inexo-
rável. O fato dos norte-americanos terem substituído a documentação ela
ciência a i armação não deve obrigar-nos a adotar essa simplificação do
problema, talvez decorrente de um complexo de superioridade que os leva a
subestimar tudo o que é europeu, inclusive textos escritos em línguas neolati-
nas. Acontece que os melhores textos sobre documentação são de autores
dessas lín uas, como o belga ~, a francesa~~ann~ e os espa-
nhóis asso de la Ve~e~epef?
0.30 Repetimos que, para ~ · ay iblioteconomia, ~-doc_umentação e a
ciência da informação têm objetivos diferentes. Dentre os da primeira, podemos
Sãiieiilar a democratização da cultura - através de bibliotecas públicas-, a
preservação e difusão do patrimônio bibliográfico de cada nação - tarefa das
bibliotecas nacionais e das bibliografias nacionais correntes e retrospectivas-,
o apoio documental ao ensino e à pesquisa oferecidos pelas bibliotecas univer-

- 20-
1
1t,.
si:tárias; à documentação compete fornecer resumos de pesquisas - em pro-
cesso ou já concluídas -, tanto quanto de artigos, comunicações a congressos,
relatórios, teses, patentes etc., e, eventualmente, traduções e reproduções des-
. ses documentos, muitos dos quais não impressos; a ciência da informação não
veio substituir a documentação, eis que seu objetivo é estudar a gênese, trans-
õiTilação e utilização da informa ão.
ao nos alongaremos a respeito da comunicação e da ciência da
.informação, porque este livro é uma introdução apenas à biblioteconomia,
fie struturada ~1!1 tomo de seus elementos principais, que são _o livro, a bibliote-
E· o leitor e o bibliotecáriu. No quadro geral dos conhecimentos - ou das
ciências no sentido mais amplo da palavra - a biblioteconomia aparece como
parte das ciências documentológicas. Estas, pôr.sua vez, se inserem no campo
~de uma Ciência das Ciências, proposta pelo fisico irlandês John Desmond
'ri Bemal (1901-1971) em sua obra The Social Function ofScience • Encaramos
' 25

o a Ciência das Ciências como um dos três ramos do conhecimento, que com-
~
.preende as Ciências da Natureza - denominação proposta, em 1878, por Du
Bois-Reymond26 - e as Ciências da Cultura .- como as chamava Rickert27 -
ou Ciências do Espírito, denominação preferida por Dilthey28 •
0.32 Classificamos a biblioteconomia entre as ciências documentológicas
aplicadas: ao lado, portanto, da arquivologià, da museologia e dos serviços de
'document~ção científica (a palavra documentação é aqui usada em sentido
restrito). &_ ciên_cias documentológicas de naturezª- históriço-descritiva são a
bibliologia, a bibliografia ~ a biblio_rg_e.!_ria.(.{!ibliolog1ª]ê ~iência histórica do
)ivro - como surgiu e se desenvolveu até nossos dias - havendo proposta
recente de que passe a denominar-se bibliomática, em face da aplicação de
processos informatizados na produção e d_ifus_ão do livro29 • Na visão original do
sociólogo francês Victor Zoltowski,[bibliografi~ é a "ciência concreta [que) pro-
cura recensear o mundo dos livros na sua totalidade, da mesma forma pela
qual a demografia procede recenseando a população"3 0 .fBibliometrl;lé a aplica-
ção da análise estatística tanto à bibliografia geral - macrobibliometria - e à
bibliografia especializada- microbibliometria- como, a partir dos anos 60, às
citações contidas em textos científicos31 ; mediante o cruzamento de documen-
tos citados com documentos citantes, consegue-se aquela "estatística das idéias"
com a qual sonhou Ortega y Gasset e_!!l 1935, ao a~ribuir ao bibliotecário do
futuro a tarefa de "precisar com todo o rigor o instante cronológico em que uma
1
idéia brota, o processo de sua expansão, o período exato que dura como vigên-
. eia coletiva e logo a hora de seu declínio, de seu anquilosamento em mero
tópico, enfim, seu ocaso por trás do horizonte do tempo histórico"32 •
0.33 Essa tarefa, que vem sendo executada por Eugene Garfield e seus
colaboradores do Institute for Scientific Information, em Filadélfia, é, para
nós, o núcleo da ciência da informação 33• Em 1967 o ensaísta francês Henri

- 21 -
~
~
e~y Jrt j(\,ef
""""~
r 1
l 1
~fe;lvre 34 retomou a idéia de Ortega, supomos que sem conhecê-la. Ele fala na
possível reconstituição de "cadeias de citações" que mostrariam "quão raramen-
te se introduz nos textos uma idéia nova[ ... ) onde determinada idéia foi introdu-
zida, por quem, aquilo que ela se tomou, como ela se metamorfoseou, onde
morreu, onde está seu túmulo". FeJÍvre desconhecia que as "cadeias de citações"
são, desde 1963, uma esplêndida realidade, com os principais produtos do Ins-
titute for Scientific Information: o Scíence Citation Index (1963 -), o Social
Sciences Citation Index( 1973-) e o Arts and Humanities Citation Index( 1978-).

***
0.34 Este livro não é um manual, como foram, no passado, os dos fran-
ceses Naudé (1627) e Namur (1834) e dos alemães Petzholdt (1866) e Graesel
(1893) ou como são, modernamente, os da mexicana Juana Manrique de Lara
ou da brasileira Heloísa de Almeida Prado. Os manuais de biblioteconomia
ensinam a organizar e administrar bibliotecas. ~§la intrQdução procura ofere-
cer uma visão panorâmica da biblioteconomia, seguindo, com nossas limita-
.ções, os exemplos dospioneTros-Pierce Bütler (1933), A Broadfield (1949) e S.
R. Ranganathan (1949) e, mais recentemente, A K. Mukherjee(l966), Jesse H.

--
Shera (1976) e Donald Urquhardt (1981). O esclareciffiêllto é necessário, põf-
- como o da obra de Edmund Corbert, que,
que existem títulos enganadores,
sendo um manual, se intitulaAn Introduction to Librarianship 35 • A bibliografia
que, a seguir, recomendamos, procura ser exaustiva em relação à filosofia da
biblioteconomia, mas é muito seletiva quanto à documentação e à ciência da
informação.

***
0.35 Agradecemos ao Departamento de Biblioteconomia da Faculdade de
Estudos Sociais Aplicados da Universidade de Brasília e as duas licençast[abá-
\ · ticaS]que me foram concedidas para redação desta obra; a Cordélia Robalinho
-\ Cavalcanti a leitura crítica do@ãTI!oscri@ e o fornecimento de textos moder:g_os
Sõõreãíliãtéria; e a Antônio Houaiss, tanto por seu generoso prefácio como
pela honrosa atenção com que paciente e competentemente revisou os originais .
.. ,

-22-
{"--

BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTAÇÃO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO: OBJETIVOS, INSTRUMENTOS E CIÊNCIAS CONEXAS

OBJETIVOS INSTRUMENTOS CIÊNCIAS CONEXAS

BIBLIOTECONOMIA Formação, informação e ·recreação Organização e administração de Bibliografia


através de todos os tipos de bibliotecas nacionais, públicas, Bibliologia
documentos infantis, escolares, universitárias Administração
e especializadas Organização e Métodos
Bibliografias nacionais Psicologia
Catálogo coletivo História da Civilização
Intercâmbio nacional e internacional Documentação
de publicações Ciência da Informação
ISBN Informática
Arquivologia
Museologia

DOCUMENTAÇÃO Apoio documental à pesquisa Organização e administração de Bibliografia


científica, humanística e serviços de documentação Biblioteconomia
tecnológica, através da Publicações secundárias e terciárias Bibliometria
indexação, resumo, tradução e Reprografia Artes gráficas
resumo de publicações Normas técnicas Ciência da Informação
primárias Bases de dados Lingüística
Disseminação seletiva Informática
Serviço de alerta Arquivologia
ISSN Museologia

CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO Gênese e comunicação da Estatística da produção bibliográfica Bibliografia


informação Bibliometria Estatística
Emergência de novas disciplinas Índices de citações Informática
Interdisciplinaridade Colégios invisíveis Lingüística
História da ciência
Biblioteconomia
Documentação
\'.

A BIBLIOTECONOMIA NO UNIVERSO DOS CONHECIMENTOS* r---

M.ATEMÁTICAS
FISICAS
EXATAS E DESCRITIVAS QUÍMICAS
BIOLÓGICAS
1 MISTAS
CIÊNCIAS DA NATUREZA

MÉDICAS
APLICADAS AGRONÔMICAS
{
ENGENHARIAS*

FILOSÓFICAS
TEOLÓG)CAS
PSICOLOGICAS
HUMANIDADES LETRAS
{ Af1TES PLÁSTICAS
· MUSICA

CIÊNCIAS DA CULTURA
LINGÜÍSTICA*
ANTROPOLOGIA CULTURAL
CIÊNCIAS SOCIAIS SOCIOLOGIA
ECONOMIA
HISTÓRIA
EDUCAÇÃO*
1 ADMINISTRAÇÃO*
---- TEORIA DA INFORMAÇÃO*
TEÓRICAS TEORIA GERAL DOS SISTEMAS*
{ METODOLOGIA*
CIÊNCIA DAS CIÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA*
BIBLIOMETRIA*
BIBLIOLOGIA*
DOCUMENTOLÓGICAS BIBLIOTECONOMIA*
. ARQUIVOLOGIA
MUSEOLOGIA
1 DOCUMENTAÇÃO SENTIDO RESTRITO)*

OBSERVAÇÃO: A biblioteconomia presta serviços a todas as ciências interdisciplinaridade de contribuição) e se utiliza das assinaladas com asterisco
(interdisciplinaridade de utilização).
1
1
"'

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAS CITAÇÕES
t
1 IBOMPSON, Anthony. Vocabularium bibliothecarii, 2ª ed. Paris: Unesco, 1962, p. 151.
WERSIG, Gemot&NEVELING , Ulrich. Terminologyofdocumentation. Paris: Unesco, 1976, p. 99.
2 BUONOCORE, Domingo. Diccionario de bibliotecología, 2ª ed. aum. Buenos Aires: Ma rymar,
1976, p. 90.
3 BERGE, Damião, O.F.M. O Jogos heraclítico; introdução ao estudo dos fragmentos. Rio de
Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1969, p. 87.
4 CUYPERS, Hubert. Vocabulário de Teilhard. Trad. de frei Eliseu Lopes. Petrópolis: Vozes, 1967,
pp. 16, 17 e 76.
5 HOUAISS, Antônio . Elementos de bibliologia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1967,
V. II, p. 3.
6 APOSTEL, Léo et alii, ed. L'interdisciplinarité; problémes d'enseignement et de recherche dans
Jes universités. Paris: Organization de Coopération et de Développment Économiques, 1972, p.
9 etpassim.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976, pp.
182-203.
7 MALLARME, Stéphane. "Le livre, instrument spirituel". Em suas Oeuvres complétes. Texte
établi et annoté par Henri Mondar et G. Jean-Auvry. Paris: Gallimard, 1945, pp. 378-382. O
artigo é de 1895. Sobre as diferentes versões da frase , ver:
FONSECA, Edson Nery da. 'Tudo o que no mundo existe começa e acaba em livro". Ciência da
Informação (Brasília), 10 (1): 5-11. 1981. Reproduzido em Ser ou não ser bibliotecário e outros
manifestos contra a rotina. Brasília: ABDF, 1988, pp. 108-117.
8 ENCYCLOPEDIA BRlTANNICA. 1990 Britannica Book of the Year. Chicago, 1990, pp. 888-893.
PRlCE, Derek de Solla. A ciência desde a Babilônia. Trad. de Leônidas Hegenberg e Octanny
Mota. Belo Horizonte: Itatiaia; Editora da USP, 1976, pp. 143- 171.
9 OTLET, Paul. Traité de documentation; Je livre sur le livre; théorie et pratique. Bruxelles:
Editiones Mundaneum, 1934, pp. 404-406.
BRADFORD, S. C. "Fifty Years of Documentation". Em seu: Documentation, 2ª ed. Londres:
Crosby Lockwood , 1953, pp. 132-143. Ed. Brasileira: Documentação. Trad. de M. E. de Mello e
Cunha. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura 1961 , pp. 180-95.
10 OTLET, Paul. Traité de documentation. Op. cit., n 2 9.
11 OTTEN, Klaus & DEBONS, Anthony. 'Towards a Metasclence of Information: Informatology".
Joumal oftheAmerican Society for Information Science (Washington) , 2(1): 89-94, jan./ fev. 1970.
FONSECA, Edson Nery da. "Informatologia". ln: Enciclopédia Mirador Internacional. Rio de
Janeiro: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1975, v. 11 , pp. 6114- 115.
12 ANDRADE, Carlos Drummond de. "Mãos dadas". Em sua: Obra completa. Rio de Janeiro:
Aguilar, 1964, p. 111. Deste poema - do qual disse Otto Maria Carpeaux que o ajudou a

-25-
l ,suportar o exílio - ousamos fazer uma paráfrase. Vide Edson Nery da Fonseca, "Paráfrase de
Carlos Drummond de Andrade''. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG (Belo Horizon-
te), 1 (2): 93-100, 1972. Reproduzido em: Ser ou não ser bibliotecário. Op. cit., n º 7, pp . 77-8 1.
'lll- 13 BRlET, Suzanne, Qu'est-ce que la documentation? Paris: Éditions Documentaires, Industrielles
et Techniques, 1951 , p . 10.
14 SHERA, Jesse H. & EGAN, Margaret E., ed . Bibliographic Organization. Chicago: University of
Chicago Press, 1951, p . 270.
15 WHITE, Herbert S. 'Taube, Mortimer" . ln: ALA World Encyclopedia of Library and lnformaüon
Service. Chicago: American Libraiy Association, 1980, pp. 555-56.
16 SHERA, Jesse H. et alii, ed. Documentation in Action. Nova York: Reinhold; Londres: Cha pman
! & Hall, 1956. · -
f17 LEMAINE, Gerard et alii, ed. Perspectives on the Emergence of Scientiflc Disciplines. The
Hague: Mouton; Paris: Maison des Sciences de l'Homme, 1976.
18 BENNElT, George K Librarians ln Search of Science and ldentity: The Elusive Profession.
Metuchen: Scarecrow, 1988, p. 9 et passim.
19 KENT, Alen & LANCOUR, Harold, ed. Encyclopedia of Library and lnformation Science. Nova
York: M. Dekker, 1968.
20 SHERA, Jesse H. "Librarianship and Information Science". ln: Machlup, Fritz & Mansfield, Una,
ed . The Study of lnformation: lnterdisciplinary Messages. Nova York: Wiley, 1983, p. 383. Ver
sobre o assunto: Wright, H. Curtis. "Shera as a Bridge between Librarianship and Information
Science". Journal of Library History, 20(2): 137-56, Spring 1985; Bennett, George E. Librarians
in Search ofldenüty. Op. cit., n º 18.
21 SHERA, Jesse H. Foundaüons ofthe Public Library. Chicago: University ofChicago Press, 1949.
22 SHERA, Jesse H. & EGAN, Margaret E. "A Review of the Present State of Librarianship and
Documentation''. ln. Bradford, S. C. Documentation. Op. cit. nº 9, pp. 11-45. Ed. brasileira: 15-60.
23 FONSECA. Edson Nery da. "Importância da biblioteca nos programas de alfabetização e de
educação de base''. Revista do Serviço Público (Rio de Janeiro), 94(3): 99-108, jul. / set. 1962.
Reproduzido em: Problemas brasileiros de documentação. Brasília: IBICT, 1988, pp. 129-38.
24 BENNElT, George E. Librarians in Search of Science and ldentity: The Elusive Profession. Op.
cit., nº 18.
25 BERNAL, John Desmond. The Social Function of Science. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1939.
Ver López Yepes, José. Teoria de la documentación . Pamplona: Universidad de Navarra, 1978,
p. 14. Ver também, do mesmo autor, Historia social de la ciencia. 3ª ed. Barcelona: Península, 1973.
26 DU BOIS-REYMOND. Kulturgeschichte und Narurwissenschaften. 1878. ApudNicolaAbbagna·-
no. Dicionário de filosofia . São Paulo: Mestre Jou, 1962, p. 130.
27 RlCKERT, Heinrich, Logik der Kultmwissenschaften. 1942. Apud Nlcola Abbagnano. Dicionário
de filosofia . Op. cit., nº 26, p. 130.
28 DILTHEY, Wilhelm. Einleitung in die Geisteswissenschaften. Apud Maria Nazaré de Camargo
Pacheco Amaral. Dilthey: um conceito de vida e uma pedagogia. São Paulo: Perspectiva e
Editora da USP, 1987, p. XVII.
29 BATICLE, Robert L. "Propos sur la bibliomatique''. Revue de Bibliologie, Schéma et Schémati-
sation (Paris) 24: 13-18; 25: 69-74, 1986.
30 ZOLTOWSKI, Victor. "Les cycles de la création intellectuelle et artistique''. Li'lnnée Sociologique
1952. Paris: Presses Universitaires de France, 1955, pp . 163-206. Edição brasileira: "Os ciclos
da criação intelectual e artistica". Trad. de Ivanilda Fernandes Costa Rolim, rev. por Cordélia
Robalinho Cavalcanti. ln: Edson Nery da Fonseca, ed. Bibliometria, teoria e prática. São Paulo:
Cultrix e Editora da USP, 1986, pp. 71-111.
31 FONSECA, Edson Nery da, ed. Bibliometria, teoria e prática. Op. cit., nº 30.
32 ORTEGA Y GASSET, José. Misión dei bibliotecario y otros ensayos afines. 2ª ed. Madrid: Revista
de Occidente, 1967, p. 88. Para outras edições, ver adiante, em OBRAS RECOMENDADAS.

- 26 -
l-'~ ~· ""
,
t
33 GARFIELD, Eugene. "Historiographs, Librarianship, and the Histoiy of Science". ln : Rawski,
Conrad H., ed. Towards a Theol)' of Librarianship. Metu chen: Scarecrow, 1973, pp. 380-402.
Ed. brasileira: "Historiógrafos, biblioteconomia e a história da ciência". Trad. de José Paulo
Paes. ln: Edson Neiy da Fonseca, ed. Bibliometria, teoria e prática. Op. cit., nº 30, pp. 11 3-35.
GARFIELD, Eugene. Citation Indexíng, its Theo!J' and Application in Science, Technology, an d
Humanities. Nova York: Wiley, 1979. ·
34 LEFEBVRE, Henri. Posição: contra os tecnocratas. Trad. de T. C. Netto. São Paulo: Documen-
tos, 1969, p. 182.
35 CORBET, Edmund V. An lntroduction to Librarianship. Cambridge & Londres: J. Clarke, 1963.
\ 2ª ed. éompletely rev. and enl. with supplement. 1969.
~
DE OBRAS RECOMENDADAS

BRIET, Suzanne. Qu'est-ce que la documentation? Op. cit. nº 13. Quarenta anos depois, ainda é
um texto válido, embora com dados superados.
BUTLER. Pierce. An lntroduction to Libral)' Science. Chjcago: University of Chicago Press, 1933.
2ª ed. with an introduction by Lester Asheim. Chicago: University gf Chicago Press, 1961
(Phoenix books , 59) . Ed. brasileira: Introdução à ciência da biblioteconomia. Trad. de Maria
Luiza Nogueira. Rio de Janeiro: Lidador, 1971. Esta obra é um dos primeiros produtos da
Graduate Libraiy School da Universidade de Chicago, que renovou a biblioteconomia nos
Estados Unidos, dando-lhe orientação humanística. O autor (1886-1953) disserta inicial-
mente sobre a natureza da ciência e aborda a biblioteconomia sob os aspectos sociológico,
psicológico e histórico , concluindo com considerações de ordem prática. Não concordamos
com o título da edição brasileira porque libral)' science em nossa língua é biblioteconomia.
BRADFORD, S. C. Documentation. Op. cit., nº 9. Formado em química, o autor (1878-1948)
deixou-se atrair pela documentação ao estudar na biblioteca do Museu Nacional de Ciência
de Londres, no qual passou a trabalhar. Os ensaios reunidos neste volume são baseados na
prática bibliotecária de um entusiasta da Classificação Decimal Universal e do Instituto
Internacional de Bibliografia.
BROADFIELD, A. Philosophy of Librarianship. Londres: Grafton, 1949. Quinze anos depois do
"apelo" de J. Periam Danton "por uma filosofia da biblioteconomia" (ver adiante), este autor
inglês publicou o primeiro livro sobre a matéria.
COBLANS, Herbert. Libraríanship and Documentation, an Intemational Perspective. Londres: A.
Deutsch, 1974. Doutor em fisico-química e bibliotecário o autor foi, durante 10 anos, diretor
do serviço de informação científica da °'rganização Européia de Pesquisa Nuclear (CERN) em
Genebra. Como consultor da Unesco, projetou vários serviços informatizados de d.ocumen-
tação, como o INIS em Viena e o AGRIS em Roma. Obra muito importante, pela visão
internacional do autor.
CURRÁS, Emilia. Las ciencias de la documentación: bibliotecología, archivología, documentación,
infonnación. Barcelona: Mitre, 1982.
DANTON, J . Periam. "Plea for a Philosophy of Librarianship". Libra!J' Quarteiiy (Chicago) 4(4):
527-551, outubro, 1934. Professor da Graduate Libraiy School da Universidade de Chicago
- já referida no comentário ao livro de Pierce Butler (vide supra), o autor foi quem primeiro
~ou em filosofia da biblioteconomia, embora reconhe ~ue em trabalhos anteriores possa- ")><
mos vislumbrar uma aborda em filosófica da matéria. Ele cita as obras de Pierce Butler e S.
R. Ranganat an (ver adiante) .
ESCARPIT, Robert. Théorie générale de J'information et de la communicatíon. Paris: Hachette,
1976. Obra indispensável pela abordagem humanística de assuntos geralmente estudados

- 27 - .
\, n
Q~ O't ) (}·. &ltl.f'-'-)/ \-f ;rth r
'
l
sob o aspecto estritamente tecnlcista. Recomendamos especialmente os capítulos 8 - "L'ln-
formation et le document" (pp. 118-45) - e 9- "Les problêmes documentaires" (pp. 146-64).
ESTIVALS, Robert. La bibliologie. Paris: Presses Universitaires de France, 1987 (Que sals-je? 2374).
O que escrevemos de Escarpit pode ser dito de Estivais e de sua ampla e lúcida visão de
assuntos técnicos. Esta é uma síntese magistral das idéias do autor, expostas em obras
anteriores, algumas já dificeis de encontrar.
FEDERAÇÃO INTÉRNACIONAL DE DOCUMENTAÇÃO. Cuide de la Fédération Intemationale de
Documentation. La Haye, 1955.
GATES, Jean Key. Inlroduction lo Librarianship. Nova York: McGraw-Hill, 1968, 2ª ed. 1976: Em
! três capítulos a autora oferece uma história das bibliotecas, fala da biblioteconomia como
fi profissão e indica as categorias de bibliotecas e de serviços por elas prestados.
iHAYES, Robert M. ''The Histoiy of Libraiy and Information Science: A Commentaiy", Joumal of
\ Library History, 20(2): 173-78, Spring 1985. Comenta as comunicações apresentadas ã
!!!esa-redonda sobre história d ~ _bibliotec~romovida pela American Libraiy Associa-
tion por W. Boyd Rayward, H. Curtis Wright e Francis L. Miksa (ver pelos nomes destes autores) .

~
HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliografia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, -~
Quase meio século depois da publicação do Traité de documentation de Paul Otlet_ (ver
adiante), surge em nossa língua o segundo tratado sobre a matéria. O título é modesto para
a importância tratadística da obra, escrifã por um dos mais vigorosos ensaístas brasileiros
, e ensinando tudo a respeito do livro: como pensá-lo, redigi-lo, ilustrá-lo, datilografá-lo,
"- imprimi-lo, revisá-lo, citá-lo e referenciá-lo.
KEMP, D. A. The Nature ofKnowledge, an Introduction for Librarians. Londres: Bingley; Hamden,
Conn.: Linnet Books, 1976.
LASSO DE LA VEGA. Javier. Manual de biblioteconomia. Madrid: Mayfe, 1952. O capítulo inicial
sobre a biblioteconomia é, ainda hoje, de grande interesse. -
LASSO DE LA VEGA, Javier. "Bibliotecario y documentalista, una fricción y un problema". Revista
de Archivos, Bibliotecas y Museos (Madrid) 60(2): 451-76, jul./dez. 1954. O melhor estudo
sobre as relações da biblioteconomia com a documentação . Por nossa iniciativa foi traduzido
e publicado no Brasil: "Bibliotecário e documentalista: uma divergência e um problema".
Trad. de Lygia N. Fernandes. Revista do Serviço Público (Rio de Janeiro) 86(3): 137-155, mar.
1960.
- Manual de documentación. Barcelona: Labor, 1969.
LÓPEZ YEPES, José. Teoría de la documentación. Pamplona: Universldad de Navarra, 1978.
MIKSA, Francis L. "Machlup's Categories of Knowledge as a Framework for Viewing Libraiy and
Information Science Histoiy". Joumal ofLibrary History, (1111) 20(2): 157-172, Spring 1985.
MUKHERJEE, A. K. Librarianship, its Philosophy and History. Bombay: Asia Publishing House,
1966. Considerando a biblioteconomia como ciência social, o autor destaca suas funções de
ensino, pesquisa e recreação. Também são analisadas as relações da biblioteconomia com a
/ história, as ciências básicas, as ciências sociais, a educação, a literatura, a ética e a psico-
')( !agia. O último capítulo é um comentário das cinco leis de Ranganathan (ver adiante).
NITECKI, Joseph Z. "Metaphors of Librarianship: A Suggestion for a Metaphysical Model". Joumal
ofLibrary Hislory, 14(1):· 21-42, Winter 1979.
- ''The Concept oflnformation-Knowledge Contlnuum: Implications for Librarianship". Joumal of
Library Hislory, 20(4): 387-407, Fall 1985.
ORTEGA Y GASSET, José. "Misión dei bibliotecario". Revista de Occidente (Madrid) maio, 1935.
Tan1bém nas Actas y trabajos de] II Congreso Internacional de Bibliotecas y Bibliografia.
Madrid: Librería de Juliân Barbazân, s. d., pp. 100-22. Obras completas. Madrid: Espasa-
Calpe, 1943, v. 2, pp. 1297-322. El libro de la misiones. Buenos Aires: Espasa-Calpe Argen-
tina, 1940, pp. 11-50. Misión del bibliotecaiio y otros ensayos afines. Madrid: Revista de

- 28-
\ i\
1 ~
l
Occidente, 1962, pp. 59-98. A mais profunda reflexão sobre "o livro como conflito" e 0
. bibliotecário "como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e o homem". Só um
filósofo poderia fazê-la e um ensaísta literário escrevê-la. ortegaerãã:s duas cois~
previu o advento do computador e sua a licação nas filoliotecas ao faiãfãe "uma nQVã
técnica i liográfica, de um automatismo rigoroso". Sobre este ensaio existe sugestiva inter-
pretação do professor H. J. de Vleeschauwer, da Universidade da África do Sul: Méditation
sur un discours. Pretoria: Université de l'Afrique do Sud, 1961 (Mousaion 45). Ver, ainda,
sobre o mesmo ensaio, as páginas que lhe dedica José Yepes em Teoría de la documentación
(vide referência supra), pp. 75-8.
qTLET, Paul. Traité de documentation; le livre sur le livre; théorie et pratique. Bruxelles: Editiones
t. Mundaneum, 1934. Obra ao mesmo tempo teórica e prática - como indica o subtítulo-, o
1
' tratado de Otlet, além de notável para a época, ainda hoje pode ser lido com proveito.
Pioneiro na fonnulação de vários conceitos, como o de documento amplamente considerado,
e o de bibliometria, do qual autores de língua inglesa quiseram se apropriar. Ver, a propósito,
nosso artigo "Bibliografia estatística e bibliometria: uma reivindicação de prioridades". Ciên-
cia da Informação, Rio de Janeiro 2 (1): 5-7, 1973.
- Documentos e documer:itação. Trad. de Francisco Martins Dias Filho. Rio de Janeiro: Departa-
mento Administrativo do Serviço Público, 1947, 31 pp. (Publicação avulsa nQ 254). Separata
da Revista do Serviço Público (Rio de Janeiro) 1(3): 28-31, mar. 1946; 2 (1): 43-9, abr. 1946.
Síntese magistral do Traité de documentation, este discurso no Congresso da Documentação
Universal (Paris, 1937) desenvolve o conceito amplo de documento. Merece a mais ampla
divulgação, sendo sua leitura indispensável à compreensão do relacionamento da biblioteco-
nomia com a documentação.
RANGANATHAN, S. R. Five Laws of Libraiy Science. Delhi: University of Delhi, 1931, 2ª ed. Bom-
bay: Asia Publishing House, 1963. Parecendo insistir sobre o óbvio, o autor indiano formado
na Inglaterra toca em pontos importantíssimos da biblioteconomia moderna. Eis as cinco
leis: Livros são para uso; Cada leitor seu livro; Cada livro seu leitor; Poupe o tempo do leitor;
Bnilloteca é um organismo.em crescimento. A primeira lei aponta para o livro como um meio
e não como tendo um lio em si mésmo; a segunda para a seleção de acordo com o perfil do
leitor; a terceira para a importância da divulgação do livro, antecipando a estética da recep-
ção; a quarta para o livre acesso às estantes, o serviço de referência e a simplificação dos
processos técnicos; a quinta lei decorre da explosão bibliográfica que exige atualização das
coleções e previsão do crescimento da área ocupada pela biblioteca.
- Preface to Libraiy Science. Delhi: University of Delhi, 1949.
RAWSKI, Conrad H., ed. Toward a Theoiy o[ Librarianship; Papers in Honor o[ Jesse Hauk Shera.
Metuchen: Scarecrow, 1973. Obra coletiva de múltiplo e permanente interesse, inclui na
parte II os seguintes textos de interesse para uma filosofia da biblioteconomia: ''The Interdis-
ciplinarity of Librarianship" (Conrad H. Rawski). pp. 116-146; ''The Nature of Information
Science" (B. C. Vickery). pp. 147-168; ''The Contribution of Classification to a Theory of
Librar.ianship" (D. J. Foskett), pp. 169-86.
RAYWARD, W. Boyd. "Library and Information Science: An Historical Perspective". Journal of
Libr~. 20(2): 120-136, Spring 1985. --
ROBREDO, Jaime & CUNHA, Murilo Bastos da. Documentação de hoje e de amanhã: uma abor-
dagem informatizada da biblioteconomia e dos sistemas de informação, 2ª ed. rev. e ampl.
Hr-as.Ula: Edição dos Autores, 1986.
!ARAC~-~!Ç) Tefko, ed. Introduction to Information Science. Nova York: R. R. Bowker, 1970.
~~e~~e H.' & EGAN, Margaret E. "Exam~ do es~do a;ual da biblioteconomia e da documen- f
taçao . ln. Bradford, S. C. Documentaçao. Op. c1t., n- 9, pp. 15-60.
- Introduction to Libra1y Science; Basic Elements of Libraiy Service. Littleton, Col.: Libraries
Unlimited, 1976. !Jma das melhores, se não a melhor introdução à biblioteconomia, este livro

- 29 -
1

l
de~sse ~hera) altamente estimulante. Como o tratado de Otlet, esta é uma obra ao mesmo
tempo- teorica e prática, sendo a biblioteconomia do título completada pelo seiviço bibliote-
cário do subtítulo. A abordagem histórica do primeiro capítulo se alonga na visão sociológica
do segundo. Vem a seguir um capítulo sobre livros e outros sobre bibliotecas, este de autoria
de La Vahn Overmyer. No capítulo quinto o autor faz uma objetiva análise do relacionamento
entre a biblioteconomia, a documentação e a ciência da informação. O capítulo sexto é
dedicado à organização institucional e bibliográfica da biblioteconomia e o sétimo ao ensino
e à pesquisa. O último capítulo, dedicado ao planejamento nacional de serviços de biblioteca
e de informação, é de autoria de Margaret Anderson.
r "Llbrarianship, Philosophy of". ln: AIA World Encyclopedia ofLibrary and Inforrnation Services.
l Chicago: American Library Association, 1980, pp. 314-17.
THOMPSON, James. Libraiy Power; A New Philosophy of Librarianship. Londres: Bingley, 1974. A
abordagem do autor é realmente nova, além de aliciante. A começar pelos títulos dos 12
capítulos curtos: "Imagem", "Contrapartida", "Elite", "Estrutura", "Atividades", "Sociedade",
. "Educação'', "Cultura", "Influência", "Compromisso", "Futuro", "Conclusão". Dentre os bi-
bliotecários ingleses e norte-americanos, Thompson é o primeiro que cita Ortega y Gasset,
através da tradução ao inglês de Misión dei bibliotecário: 'The Mission of the Librarian".
Antioch Review, v. 21, 1961. Também cita muito seu patrício e predecessor A. Broadfield (ver
supra). Leitura imprescindível!
-A History o[ the Principies of Librarianship. Londres: Bingley. 1977. Com a mesma originalidade
com que escreveu uma nova filosofia da biblioteconomia, apresenta o autor uma história dos
17 princípios que sumaria no último capítulo: 1) as bibliotecas são criadas pela sociedade;
2) as bibliotecas são conservadas pela sociedade; 3) as bibliotecas existem para armazena-
gem e disseminação do conhecimento; 4) as bibliotecas são centros de poder (conhecimento
é poder); 5) as bibliotecas são para todos; 6) as bibliotecas devem crescer; 7) uma biblioteca
nacional deve reunir toda a literatura nacional com as obras mais representativas de outras
literaturas; 8) cada livro deve. ser utilizado; 9) um bibliotecário deve ter boa formação intelec-
tual; 10) um bibliotecário é um educador; 11) o papel do bibliotecário só pode ser importante
quando integrado no sistema social e político predominante; 12) o bibliotecário necessita de
treinamento e/ou foi;mação profissional; 13) é dever do bibliotecário aumentar o acervo de
sua biblioteca; 14) uma biblioteca deve ser organizada de acordo com normas, oferecendo
uma lista do que contém; 15) desde que bibliotecas são armazéns do conhecimento, elas
deveriam ser organizadas por assuntos; 16) a conveniência prática deveria determinar como
os assuntos são agrupados numa biblioteca; 17) uma biblioteca deve ter um catálogo por
assuntos.
UNESCO. Unisisl: informe dei esludio sobre la posibilidad de establecer un sistema mundial de
infomiación cientifica. Montevideo: Oficina de Ciencias de la Unesco para América Latina, 1971.
- National lnforrnation System (NA TIS): Objectives for National and lntemationaJAction. Paris, 1974.
URQUHART, Donald. The Principies o[ Librarianshíp. Metuchen: Scarecrow, 1981. Tendo organi-
zado e dirigido a National Lending Library for Science and Technology, o autor transforma
sua importante experiência em princípios, incluindo sua passagem pela Biblioteca do Museu
de Ciências. Q._pJimeiro desses princípios -: as bibliotecas são para os usuários - é_quase
j ~ ~~smo estabelecido porRanganathân-na primeira de_suas cjnco leis da bjblioteconomia:
,os livros são par~ uso. Mas Urquhart não fala em Ranganathan, citando abundantem~nte
\ ~a!ho_s ~e sua pról_l~ia autoria. Parece Descartes n? Discurso do método, fazendo ta,.bula
\ rasa de tudo o que se escreveu antes dele. Trata-se, entretanto, de uma obra que deve ser
- Hda, por ser fruto daquele "saber só de experiência feito" a que se refere Camões. Tem
observações interessantes, como a de que "no library is an island", título, aliás, do penúltimo
capítulo. O autor esqueceu de esclarecer que apenas parafraseou o verso "no man is an
island" de seu eminente patricio John Donne (1573-1631).

-30-
,
l
VLEESCHAUWER, H. J. de. Ambiguities ln the Present-Day Library. Pretoria: University ofSouth
Africa, .1960 (Mousa!on, 36).
_ Library Science as a Science. Pretoria University of South Africa, 1960 (Mousaion, 37-40).
_ The Fundamentál Líbrary Phenomenon ofour Time. Pretoria: University ofSouth Africa, 1964-65
(Mousaion, 77-78).
As obras do autor se caracterizam pela predominância da teoria; são ensaios densa-
mente filosóficos, nos quais não encontramos uma referência de ordem prática. As poucas
citações de outros autores não são devidamente referenciados. São, entretanto, importantes
contribuições a uma filosofia da biblioteconomia.
WmGHT. H. Curtis. "OfMirrors, Monkeys, and Apostles". Joumal ofLibrary History, 13(4): 388-407,
~ Fall 1978.
- "Shera as a Bridge between Librarianship and Information Science". Op. cit., nQ 20.
ZAHER. Célia Ribeiro. Introdução à documentação, 2~ ed. rev. Rio de Janeiro: Êdição daAutora, 1968.

_. 31 -
1

Tout, au monde, existe pour aboutir à un livre.


' Stéphane Mallarmé. "Le livre, instrument spirituel" Revue Blanche, 1895.

O Copista
Escultura em calcário pintado. ca. 2.500 a.e.
Museu do Louvre, Paris
( ~- ~ ~ ~ }-i~ e1'.o.. i'f--=f-''-- 98
..e, ~ ~v~ O-ô ~ ·)

-- - We- ). ~ {) T~-, il. o t l..P-/ '-·" Q


1

l·l A PALAVRA LIVRO


1.1.1 Tanto em línguas neolatinas como nas anglo-saxônicas a etimologia
da palavra livro-indica o material com qu;-$e fabricava o papel na antiguidade,
isto é, a entrecasca de certos vegetais que, transformada em pasta, adquire a
forma laminada. Livro em português, libra em ' espanhol e italiano, livre em
francês 'têm a raiz latina liber, libri; book em inglês e Buch em alemão têm a
raiz grega byblos e byblion. Ensinam os lexicógrafos que a palavra livro data,
em nossa língua, do século XIII.
1.1.2 Em conseqüência dessa etimologia, a palavra livro é definida pelos
dicionários como reunião de cadernos de papel contendo um texto manuscrito
ou impresso. Prefiro a boutade de ~do Pessoa: no poema Liberdade ele
disse que "livros são papéis pintados com tinta" 1 • A definição está de acordo
com o vitalismo antiintelectualista e whitmaniai1o do poeta.
- 1.1.a ·A pal~a livro trun""bém é definida - definição mais apropriada -
como obra cientifica, literária ou artística; e ainda como parte desta obra (por
exemplo, "o segundo livro da Eneida"). Os dicionários consignam também pa-
lavras derivadas de livro, como, por exemplo, os depreciativos livreco, livrete,
livrório, livroxada, bem como palavras compostas pela adjetivação de livro,
como, por exemplo, livro falado ou falante (do inglês talking book), sendo como
tal conhecidos, entre bibliotecários, os textos gravados em discos fonográficos
e em fitas magnetofônicas, para uso de deficientes visuais, pessoas hospitali-
zadas etc., tanto quanto por qualquer apreciador da voz dos poetas e dos
grandes intérpretes.
1.1.4 Recorde-se ainda que a palavra livro é usada às vezes em sentido
figurado, podendo ser citada como exemplo a expressão livro da vida: "suposto
livro em que está escrita a duração da vida de cada um", como a defineAntenor
Nascentes, em seu Tesouro da fraseologia brasileira 2 • É neste sentido que a
expressão aparece tanto no Velho como no Novo Testamento. Alguns exemplos:
"Vi então os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono, e abriram-se
livros. Também foi aberto outro livro, o da vida" (Apocalipse 20: 12); "O vence-
dor se trajará com vestes brancas e eu jamais apagarei seu nome do livro da
l

l !
vida" (Apocalipse 3: 5); "Entrarão somente os que estão inscritos no livro da
' vida do Cordeiro" (Apocalipse 21: 27); também São Paulo se refere aos que o
ajudaram "na luta pelo evangelho, em companhia de Clemente e dos demais
auxiliadores meus, cujos nomes estão no livro da vida" (Filipenses 4: 3). Ainda
a propósito da expressão do livro da vida, vale a pena citar o comentário dos
editores da Bíblia de Jerusalém: "Os primeiros livros abertos contêm as ações
boas o~ más dos homens; o livro da vida contém os nomes dos predestinados3 ".
1.1.5 Também registra Nascentes a expressão livro do destino: "suposto
livro em que se imaginam escritos todos os acontecimentos que estão por vir".
E acrescenta frases pitorescas, como abrir o livro sobre alguém - o mesmo que
t "soltar-lhe uma descompostura" - falar como um livro - que é "usar de
palavras esmeradas e escolhidas - e isso é dos livros, significando "é regular,
não oferece dúvidas"4 •
1.1.6 Para uma relação exaustiva de epítetos ou adjuntos terminativos de
que se faz acompanhar a palavra livro, consulte-se a obra de Antônio Houais~
Elementos de b!bliografia 5 : título modesto demais para um trabalho que só tem
um símile em qualquer língua: o Traité de documentation, do belga Paul Otlet6 •

1.2 O LIVRO COMO "FORMA DE VIDA HUMANA"

1.2.1 O livro que nos interessa estudar nesta obra não é o artefato de
papel impresso das definições que acabamos de expor. Por isso, não aprecia-
mos a história desse artefato:-- como surgiu e evoluiu até seu aspecto atual -
mesmo porque essa história é objeto de outra disciplina do currículo de biblio-
teconomia.
Interessa-nos, isto sim, o livro como "forma de vida humaa", segundo
Ortega y Gasset: "tremenda realidade humana", como escreveu ainda o grande
ensaísta espanhoF.
1.2.2 Recordo ter encontrado na Casa do Livro de Brasília - simpática
livraria do casal Noemí (infelizmente já falecida) e Wilson Hargreaves, onde tive
tantas alegrias bibliográficas - um volume bem encadernado, em cuja sobre-
capa está impresso este título enigmático: .~ Noth_!ng Book 8 • Comprei-o jus-
tamente para entreter-me com meus alunos sobre a "realidade humana" de
que fala Ortega. Porque apenas a sobrecapa está impressa: na sólida encader-
nação, como guardas cor-de-rosa e no miolo imaculadamente branco, nada foi
escrito; e só quando o abrimos se desvenda o enigma do título: l_um livro de
mentira, o livro de nada, como se diz na gíria de pessoas inócuas: "fulano não
é de nadÇ,
1.2.3 A rigor, The Nothing Book não é um livro, ou melhor ainda não é
um livro. Poderá sê-lo, se alguém escrever em suas páginas uma obra científica,

-36 -
,Só e IZ-tvrE ,r :
1

Ltv/l..,OS sP.o '''f>IC..éR(Ç i;scR1ToS'


1

1

literária ou artística. Só então ele estará de acordo com a sabedoria socrática: ~
livros são "dizeres escritos". A definição está no Fedro, um dos mais interes-
Sãiltes-diálogos de- Platão, ·collSideiado como legitima continuação do Banque-
te 9. E Ortega a e m iéfueceu de comentários em Misión de bibliotecário1º.
- 1.2.4 Definido os livros como "dizeres escritos", Sócrates ensina Fedro a \
distinguir o~eiro do falso livro. O verdãdeifoêaq~ele cujo autor tem algo
*
de novo a revelar. OCl1'SclifSoae Lísias, que tanto empolgara o jovem Fedro,
devia ser desprezado por sua esterilidade: por não conter em si aquelas "se-
lnentes que produzem noVãs s ementes em outras almas".- - --
i~-L2.5-Eríüiíciaâafiá vinfe e- três séculos, esta definição de livro aponta
para ~elação que parece nova: a do auto!: com o J eitor. Para que exista
livro, é indispensável que haja "dizeres escritos", que esses dizeres sejam epi-
~ fãnicos (como queira Joyce, que redescobriu esta palavra teológica) e enrique-
_çam os leitores. Ql!_vrobJm dos veículos.Q~_~_omuni~'!Ç~.e. como é sabido, no
processo comunlcahvo o receptor da mensagem é tão importante quan!o seu
emissor. Como observa Ciãf:ra n Picon; se não é para outrem que a obra é
escritã, ela é "inseparável desse outro e a ele se entrega" 11 • Por isso existe hoje
toda uma corren~e de teoria literária em tomo da estética da_recepção.

) 1.3 O LIVRO COMO CONFLITO

1.3.1 Mais de uma vez recorro a Ortega y Gasset, agora intitulando esta
parte do primeiro capítulo com um dos subtítulos de seu ensaio-conferência
Misión dei bibliotecário. Se os livros, como os definia Platão, são dizeres escri-
tos que, uma vez lidos, se transformam em novos livrosÉ!d ~nflnitum,)podemos
falar, sem hipérbole, em explosão bibliográflca, tão assustadora quanto a ex-
plosão demográflca, da qual é, ao mesmo tempo, origem e conseqüência. Já
tratamos do assunto em posfácio da coletânea Bibliometria: teoria e prática, do
qual reproduzimos os seguintes parágrafos 12 •
1.3.2 Sabe-se que a primeira explosão demográfica - ocorrida no período
paleolítico, quando a população mundial era de 5 milhões - foi provocada pela
generalizada utilização de instrumentos. Com um desses instrumentos o ho-
mem primitivo gravou em pedra seus primeiros dizeres escritos: antecedentes
remotíssimos do livro.
1.3.3 Devo esclarecer que, ao apontar os pictogramas como antecedentes
do livro, estou falando em sentido amplo, porque a escrita - representação da
linguagem verbal articulada - somente surgiria muito depois e já em papiro:
no ano de 2200 a.C., para ser exa!Q. E o alfabeto apareceria mais de mil anos ,,1'
depois, isto é, em ~3ÕQ a.e. Mas em sentido amplo - repita-se - podemos )( 3~~ ·
0

considerar como escrita "qualquer sistema semiótico de caráter visual e espa- 11 J,eo? ,
cial", como ensina Antônio Houaiss 13•

- 37

* E.f 1 c:::~N1LD - EP1~A..J lA -7 A ,f'VV-r--i5 """ ~~µ-._u.) d.0.,-v-v......__ • .J),..._ Jt. ~~


' .-..n....o_tL..J_.. .--.1-~..-..c._,c.l".LAl'\~L...n..._~
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.L pJ' 1-0 ~ rr-c.'-Yl- cb~ .._ G-o €, T H t

l
1
{ 1.3.4 A segunda explosão demográfica - ocorrida quando, em oito mil
anos, a popliiação mundiãl multiplicou-se por cem - fui provocada pela revo-
lução agrícola, denominação proposta por Vere Gordon Childe 12ara substituir
o termo neolítico. O aperfeiçoamento da cerâmica é uma das peculiaridades
tecnológicas ae8se periodo. E ninguém ignora a importância das placas de
barro cozido como antecedentes do pergaminho, do papiro e do papel.
1.3.5 Finalmente, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia, principal-
mente na área biomédica, aumentando a média de vida, fez a população mun-
dial crescer assustadoramente, prevendo-se que, no ano 2000, poderá atingir
l seis bilhões. E o desenvolvimento científico e tecnológico é, ao mesmo tempo,
9 causa e efeito da explosão bibliográfica, ~gora caracterizada menos em termos
de livros do que ae outros veículos textuais: artigos de periódicos, comunica-
ções a congressos, relafórios de pesquisas etc. -
= .3.6 Em seu monumental Traité de documentation, Paul Otlet estimou
em 12 milhões o número de livros publicados no mundo ~pós a inven@q da
imprensa de caracteres móveis (meados do século XV). A estimativa atual é de
50 milhões , porque houve outras revoluções além da que Gutenberg desenca-
deou. Um ano após a publicação do Traité de documentation, isto é, em 1935,
iniciava o editor inglês Allen Lane a série dos Penguin Books que, em 1945 e
graças ao advento da fotocomposição, deflagrava a chamada revolução da bro-
chura (paperback revolution}, cuja culminância foi o aparecimento, cinco anos
depois, do livro de bolso (pocket book}1 4 • ·

1.3. 7 O conflito a que se refere Ortega decorre tanto da explosão biblio-


gráfica quanto da constatação de que grande número de livros que se produ-
zem no mundo "são inúteis ou estúpidos". No capítulo desta obra dedicado ao
bibliotecário, veremos a solução que Ortega sugere para este conflito. Mas aqui
pedimos licença para acrescentar que, além de inúteis ou estúpidos, alguns
livros podem ser perniciosos. Já tratamõSdo assunto em outro lugar, ao qual
· remetemos os interessados 15 • ·

. 1.3.8 É necessário, portanto, evitar o endeusamento ou a mitificação do


livro, que se exprime em frases mais ou menos bovaristas como "o livro é um

t1 so que aborrece; e pode, mesmo quando bem escrito, desencadear tragédias,


como os suicídios dos que leram, em 177_1, Dien Leiden des jungen Werther,
um romance de Goethe. Est modus in rebus, sunt certi denique flnes, como
escreveu Horácio em conhecido verso de suas Sátiras: "Há uma medida em
[todas! as coisas, existem afinal certos limites". d.. W:: .J.-1 . ,1
T~ ~ ~ . ~1'.... e..~t~~ Os ~~cri ~ ~
~ 1.4 A BASE FÍSICA DO LIVRO
1.4.1 A base fisica do espírito é o título de uma das últimas obras do
pensador brasileiro farias Brito. E o insigne neotomista francês Jacques Maritain

;;t;:;:;-- -- - 38 - -- ~
~-1~ ~ ~
11
K,t\M PF .._p l+\Xf RA-__J
- - - -
1

l
deu a uma de suas obras este lindo bibliônimo: Quatre essais sur l'esprit dans
sa condition chamelle. Como esclareceu Maritain, a união do espírito com o
corpo "afeta de modo intrínseco sua maneira de ser e de agir" 16 • O mesmo
ocorre com o livro.
1.4.2 Embora considerando insuficiente a definição que o restringe a um
"conjunto de cadernos impressos", temos de analisá-lo em sua condição mate-
rial e não apenas como "instrumento espiritual", como o chamou o grande
poeta francês Stéphane Mallarmé. O próprio Mallarmé preocupava-se com a
pase física do livro. Tanto que ao planejar o livro supremo - o "livro absoluto"
que não chegou a escrever - fez anotações e cálculos neuroticamente minu-
ciosos sobre o papel e suas dobras, a diagramação do texto e os espaços em
branco, etc. E ao imprimir seu célebre poema Un coup de dês jamais n 'abolira
le hasard, na revista Cosmopolis de maio de 1987, exigiu grandes espaços
brancos, diferentes caracteres gráficos e uma disposição caprichosa dos versos
em páginas duplas 17• Recorde-se que, 28 anos depois, nosso também grande
poeta Manuel Bandeira escreveu o poema Evocação do Recife com a mesma
exigência de espaços brancos e versos não alinhados pela margem esquerda:
exigência respeitada por Gilberto Freyre ao publicar o poema no Livro do Nordeste 18 •
1.4.3 Após este intróito mais ou menos literário, consideremos a base
física do livro, principalmente em seus aspectos normativo e terminológico.
Quando produzido artesanalmente, o livro podia e pode ainda obedecer a capri-
chos artísticos de seus autores e impressores. Ao tornar-se um produto indus-
trial, ele tem de se submeter-se a normas técnicas. _
1.4.4 O papel empregado na produção de livros deve ser desacidificado ~
com vistas à sua permanente durabilidade. A acidez causada pelas fibras vege-
tais atrai os insetos bibliófagos. Por isso os iiVfos antigos, impressos em papel
fãoricado com trapos, chegaram incólumes até nós, enquanto os modernos já (
estão amarelados e somente sobrevivem quando desacidificados por meio do
hidróxido e do bicarbonato de cálcio.
1.4.5 O formato do livro decorre do número de vezes em que a folha de
papel é dobrada ao meio. Primitivamente, a folha sem dobra que saía da forma
- chamada in plano - era dobrada uma vez, produzindo o formato in-fólio (2
folhas); este ao. ser dobrado suscitava o formato ín-quarto (4 folhas), que, do-
brado mais uma vez, dava lugar ao formato in-oitavo (8 folhas) e assim por
diante, até o formato menor, o ín-sessenta e quatro, com menos de 7,5 mm de
altura.
1.4.6 A fabricação de papel contínuo, enrolado em bobinas e depois cor-
tado em folhas, tanto quanto a modernização das máquinas de impressão
tornaram obsoleta a nomenclatura tradicional do papel artesanal. A produção
erh massa exige a uniformização dos formatos, tal como proposta pela norma-

-39 -
li

,
l lização industrial alemã e aceita hoje em todo o mundo. Trata-se de séries
' metódicas de formatos conhecida como formato in ternacional ou formato DIN
(Deutsche Industrie-Normen) . A mais conhecida e aplicada em documentos é a
série A. A partir do formato AO (A Zero), de superficie igual ao metro quadrado
(84lx l 189 mm) obtêm-se os demais formatos pela divisão ao meio de cada um
dos formatos anteriores, evitando-se o desperdício das aparas.
1.4.7 Em sua condição material, o livro compõe-se de dpis elementos: a
caea e o !Ei!2lE: Da capa podemos dizer o que Hamlet ensina sobre o céu e a
· terra em conhecida tragédia de Shakespeare: há nela muito mais coisas do que
t a vã filosofia do leigo pode imaginar. Basta dizer que todo livro tem quatro
capas e não apenas uma: a primeira, que é a face externa da capa anterior; a
segunda, que é a face interna da mesma; a terceira, que é a face interna da
posterior; e a quarta, que é a face externa da mesma. Mestre Antônio Houaiss
chama a quarta capa de contracapa 19 , mas o que outros mestres designam
como tal são as faces internas da segunda e terceira capas. Consulte-se, por
exemplo, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira2 º e Frederico Porta2 1 •
1.4.8 Na primeira capa aparecem o(s) nome(s) do(s) autor(es), o titulo da
obra e o nome do editor (publisher}. Nela é possível distinguir os planos ou
pastas (anterior e posterior), o cJgr§Q ou ~ombo, os cantos (superiores interno e
externo; inferiores interno e externo), e os cortes (da cabeça ou superior, e do pé
ou inferior e de abertura ou da frente ou, ainda, lateral) . Há quem distinga
íf.w:s_a ou lombo de lombada, designando com esta palavra a tira de couro ou
pano que êobre o dorSõõü lombo na meia-encadernação (com o mesmo material
são cobertos, neste gênero de encadernação, os cantos externos superior e inferior).
1.4.9 Alguns livros encagernados e, por vezes, até algumas prochuras são
cobertos pela sobrecapa: cobertura móvel de papel que protege a capa -com
ilustrações atraentes e informações úteis a respeito do autor e da obra, estas
impressas em abas ou orelhas, que são prolongamentos das sobrecapas e das
capas das brochuras, dobradas para as faces internas.
1.4.10 Da capa fazem parte, ainda, as folhas-de-guarda, ou simplesmente
guardas: folhas de papel branco ou colorido, m armoreado ou de fantasia, dobra-
das ao meio e com uma parte colada nas faces internas da segunda e terceira
capas e outra solta. As guardas servem para dar acabamento à encadernação e
proteger as primeiras e últimas folhas do primeiro e último caderno, respectiva-
mente. As guardas também são chamadas resguardo. Outros elementos que
contribuem para melhor acabamento do volume são a coifa (curvatura dada às
extremidades do dorso) e a cabeçada, também chamaciãCabeçado, ou cabecea-
do, ou cabeceira, ou requife, ou sobrecabeceado, ou tranchefila, ou ainda trin-
cafio ("pequeno c ordãÕvariadarríente colorido, de sedaõü algodão merceri~ado,
que .P encadernador põe nas extremidades do lombo do livro, cabeça e pé, como
elemento ornamental", segundo a definição de Frederico Porta)22 •

-40 -
e:_'+ r~ )'- ~· oL.
. ~f1J(..!.t t .... ú~ \.\.·. ~

l
1.4.11 Ao tratar do corpo ou miolo do livro, devemos recordar, inicialmen-
te, a distinção entre folha e página. Frederico Porta define folha como "cada um
dosretângulos de papel que, uniaos na lombada e compreendendo duas pági-
nas, recto e verso, vão formar livro ou caderno": excelente definição que já
dispensa a de páginas23 • As páginªs, portanto - e como diria o Sr. Lá Palice da
canção francesa do século XVI-, são partes da folha: as da frente ou recto,
~empre ím~es, e as detrás ou verso, sempre pares.
1.4.12 Distinga-se, em cada página, além da mancha (retângulo dentro
do qual está impresso o texto}, as margens: superim:.õ üda cabeça, inferior ou
do pé, interna (do dorso) e externa ou dianteira (a correspondente ao corte de
·aberturã). Na margem ~abeça é usual imprimir o número de página, o nome ·
do autor e o tí!ulo da obra, ?Iguns editores preferindo o nome do autor nas
páginas ímpares e o título da obra nas páginas pares. A impressão dos três
elementos em cada página toma-a auto-identificável e, portanto, econômica
para efeitoreprográfico. Na margem do pé são tradicionalmente impressas as
chamadas notas · de pé-de-páginas ou notas de rodapé (a moderna estética
gráfica aconselha que elas sejam transferidas para o fim de cada capítulo). -Nos
livros antigos costumava-se imprimir na margem do pé o chamado reclamo:
sílaba ou palavra igual à que aparece na página seguinte. Alguns autores fazem
imprimir, na margem externa, breves resumos do texto e até indicações biblio-
gráficas e notas remissivas.
1.4.13 Devemos distinguir no miolo as folhas pré-textuais, as textuais e
as pós-textuais. As folhas pré-textilâfSSão, nesta ordem: (a) falsa folha-de-
rosto (ou falso rosto;õ·u ante-rosto, em inglês half-title), na qual se imprime
ãj)eiÍas o título da obra; (b) folha-de-rosto (ou simplesmente rosto, em inglês
title-page), na qual são impressos o nome do autor, o título da obra, eventuais
indicações de edição, tradutor, prefaciador, etc. e, no rodapé, os nomes da
cidade, editor e ano da edição; (c) frontispício, folha de papel especial em cujo f#
lado
-·-
par... (o que precede o rosto) se reproduz, nas biografias, o retrato do biogra-
fado, nas obras póstumas, o retrato do autor, e nas obras em homenagem, o
retrato do homenageado; (d) .sumário, indicação das partes e/ou capítulos em
que o texto está seccionado, na mesma ordem em que essas partes e/ou capí-
tulos se 'sucedem, e dos números das páginas respectivas. Se houver páginas
especiais para !'.Pígrafes e dedicatórias, devem elas aparecer entre as folhas
pré-textuais, ántes do sumário. Prefácios são geralmente incluídos entre as
folhas pré-textuais e nos livros anglo-americanos aparecem antes do sumário.
Introduções, entretanto, fazem parte das folhas textuais.
1.4.14 Somos radicais em relação ao seccionamento do texto. O sistema
de numeração progressiva é tão racional e objetivo que, depois dele, tod,a s as
formas tradicionais devem ser abolidas. A numeração progressiva é o quantum
satis (quanto basta) dos antigos farmacêuticos. Ela tomou obsoletos e qisp~n-

-41 -
B1 ~Lt~<iíí'V<..J\-yl A
...,.,. R( r:c. R~~· A-;, ~ - 13 wo c;t~S f~ 1 <..,1....-J
,
l sáveis tanto os algarismos romanos como as palavras parte, capítulo, seção e
outras que tais. Aos que atacam o sistema de numeração progressiva (não
confundir com o sistema decimal de classificação dÕs conhecimentos) como
invenção de documentalistas bitolados, lembramos que ele tem um precedente
ilustre (a numeração de cada um dos livros da Bíblia) e foi utilizado por um
filósofo da categoria de Ludwig Wittgenstein em seu Tratado lógico-fllosófico 24 •
1.4.15 As folhas pós-textl!__ai!?_ são, eventualmente, os apêndices ou --ª!le-
xos ou, ainda apensos (reprodução de documentos ou textos-de outros autores)

~
e,- necessariamente (pelo menos em obras . de pesquisa científica, filosófica,
literária e artística), as referências bibliográficas e o índice. Foi Louise-Noelle
Malclés quem sugeriu as ubstttuição da palavra bibliografia pela expressão
referências bibliográficas, !!_mito mais apropriada para indicar obras cons~·
das pelo autor e/ou recomendadas por ele25 • Fique a palavra bibliografia restri-
ta aos repertórios individuais ( or exemplo: BibliograJla de Joaquim Nabuco),
nacionais por exem lo: Bíblia afia brasileira) e especializados (por exem lo: O
cõiffõl5ras1 eira e sua crítica).
1.4.16 O que podemos dizer, quanto ao índice é, inicialmente, que não
deve ser confundido com sumário ou tábua de matérias (em inglês contents).
O índice relaciona autores citados, temas tratados e, eventualmente, obras
estudadas: em orâem alfabêtica e não, como o sumário, na ordem em que se
suceàem no texto. Diga-se, de passagem, que são redundantes expressões
tradicionais como índice remissivo e índice analítico. ApenãS se-admitem, quan-
do o autor prefere separar autores citados, temas tratados_e' obras estudadas,
as expressões índice onomástico, ou ~ndice temático, ou ~ndice biblionímico.

1.5 O LIVRO, SUA AUTORIA E SEU CONTEÚDO

1.5.1 "No princípio era o Verbo", como diz o Evangelho segundo São João
(João 1:1). Depois o Verbo se encarnou: "E o Verbo se fez carne" (João 1:14).
Também assim como o livro: no princípio somente idéias, imagens, hipóteses
em gestação, dizeres não escritos. Depois é que vem a forma textual. _O te~
como ensina Paul Ricoeur, é "o discurso fixado pela escri~" 26 •
1.5.2 O livro é, pois, o produto de todo um processo. Abraham Moles
estudou magistralmente este processo, dividindo-o em duas etapas: concepção
e textualização. No tempo de concepção distingue Moles outros dois tempos: o
de gestação e o de formulação explícita. Entre o discurso ainda em gestação e
sua formulação explícita na escrita existe, às vezes, um abismo27 •
1.5.3 Num poema de insólita beleza, nosso grande Augusto dos Anjos
exprimiu este fenômeno. Refiro-me ao soneto A Idéia. "De onde ela vem?!", ele
pergunta e exclama ao mesmo tempo, com pontos de interrogação e de excla-

-42-
r

l
mação. E em toda a primeira estrofe repete, explicitando a interrogação inter-
jetiva: "De que matéria bruta / Vem essa luz sobre as nebulosas / Cai de
incógnitas criptas misteriosas / Como as estalactites de uma gruta/!". Nas
estrofes seguintes vem a resposta na qual dramatiza, em termos anatômico-
fisÍológico, a dialética discurso-texto: "Vem da psicogenética e alta luta / Do
feixe em moléculas nervosas, / Que, em desintegrações maravilhosas, / Deli-
bera, e depois, quer e executa! //Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas da laringe, /Tísica, tênue, mínima, raquítica ...
(,
V/ Quebra a força centrípeta que a amarra, /Mas, de repente, e quase morta,
esbarra/ No molambo da língua paralítica!"28 •
1.5.4 Mas ninguém pense que, formulada a hipótese ou explicitada a
idéia, se pode passar diretamente do tempo de concepção ao de textualização.
Entre esses dois grandes tempos insinua-se, como adverte ainda, Moles, um
tempo de documentação, destinado a verificar 1se outros nos precederam nas
mesmas cogitações, como as explicitaram e textualizaram__,_É a ocasião adequa-
da para medir o grau de originalidade contida na mensagem que se pretende
transmitir. Lembre-se que a infarmação consiste exatamente nessa mectícla.-
1.5.5 Há quem procure evitar essa consulta às fontes, preferindo abordar
qualquer tema desconhecendo intencionalmente os eventuais precursores des-
sa abordagem. Estes correm o grave risco de inventar o guarda-chuva ou
descobrir a América. A rigor, não existe originalidade absoluta, definind_o-se
çomo original a ca2'!cilli!Ji~P.arª-reunir__eJementoSilunCã ãllteifurmente rela-
cionados. E é sempre nobre proclamar o que devemos aos que nos precederam.
·sirlsããc Newton deu este exemplo de nobreza, ao dizer- ele que era um gênio!
- que se viu mais longe foi porque estava de pé "sobre os ombros de gigantes".
Frase em torno da qual o insigne sociólogo norte-americano Robert K. Merton
escreveu admirável ensaio: On the Shoulders of Giants 29 •
1.5.6 Voltando a Abraham Moles e suas considerações a respeito do pro-
cesso de criação, diremos que o tempo de textualização (por ele denominado
temps d'emballage) compreende as seguintes operações: redação, referenciação
das citações, datilografia, contrato de edição, impressão e comercialização. Re-
corde-se que alguns autores, em vez de escrever, ditam suas obras a uma
secretária individual ou eletrônica. Outros escrevem a mão ou a máquina. E
ainda outros queimam esta etapa, utilizando um microprocessador. Graças a
este equipamento eletrônico, o autor entrega ao editor, em vez de um datilos-
.crito, disquetes que diminuem consideravelmente tanto o tempo como o custo
da produção gráfica.
1.5. 7 Não cabe nos limites da presente obra uma análise do processo cria-
tivo. Aos que desejam aprofundar a matéria é aconselhável a leitura de autobio-
grafias, diários e outros depoimentos pessoais de cientistas e artistas. Indico
alguns exemplos, como, em ciência, A dupla hélice, de James D. Watson30, em

-43-
,
l
literatura, Joumal des Faux-Monnay eurs, de André Gide 31 , em música, Poética
da música, de Igor Stravinsky 3 2 •
1.5 .8 Os exemplos brasileiros mais expressivos são Com o e por que sou
romancista, de José de Alencar 3 3 , Itinerário de Pasárgada, de Manuel Bandeira34 ,
Como e porque sou e não sou sociólogo, de Gilberto Freyre 3 5 e Uma poética de
romance: matéria de carpintaria, de Autran Dourado 3 6 •
1.5 .9 Dentre as inúmeras obras dedicadas à análise e interpretação do
processo criativo, destacamos The Act of Creation, de Arthur Koestler 37 e So-
ciodinâmica da Cultura, de Abraham A. Moles 3 8 • Moles também é autor de
outra obra fundamental para a compreensão da criatividade no campo da
ciência: A criação científica 39 ; ainda no campo científico recomendamos Du
rêve à la découverte, de Hans Selye 4 0 , Diálogo sobre a lógica do conhecimento,
de Anísio Teixeira e Maurício Rocha e Silva 41 , e Lógica da invenção, de Maurício
Rocha e Silva, que provocou a correspondência com Anísio Teixeira reunida na
obra anterior 42 •
1.5. 10 No campo das humanidades, merecem destaque O escritor e sua
sombra, de Gaetan Picon 43 , A criação literária. de Massaud Moisés 4 4, La struc-
ture du texte artislique, de Iouri Lotman 4 5 , e Philosophie et invention textuelle,
de Jean-Louis Galay 46 •
1.5. 11 Deixemos, agora, o problema da criatividade, para tratar de aspe-
tos terminológicos da (autoriãl e lconteú do]do livro. A autoria pode ser atribuída
tanto a pessoas físicas como jurídicas. Estas são chãílla ctãs, em@lãfoga~""
autores coletivos ou entidades coletivas (em inglês, corporate body). Portanto,
· não apenas um indivíduo pode ser autor de um livro, mas, por igual, qualquer
pessoajurídica de Direito Público ou Privado.
1.5.12 Tanto no caso de pessoas físicas como no de pessoas jurídicas, a
autoria pode ser única ou partilhada por duas ou mais pessoas ou entidades,
A autoria partilhada se apresenta em duas modalidades: a das obras em ço-
. autoria e a das obras em colaboração. As obras em co-autoria são aquelas que
não indicam as contribuições de cada autor; as que faze m esta indicação são
obras em colaboração. O responsável pela organização de Õbras em colabora-
ção, seja pessoa física ou jurídica, é chamado editor (não confundir com publi-
cador), organizador, diretor, ou ainda, compilador.
1.5. 13 Quanto ao cont ~J}c!g , os livros podem ser classificados em dois
grupos: ,de leitura ~ d~ consulta ou referência (em inglês, reference book). Os
primeiros podem ser classificados de acordo com diferentes critérios. Quanto à
natureza do discurso, os livros podem ser didáticos, científicos, filosóficos ,
religiosos, literários, históricos, técnicos, artísticos, classificando-se os literá~
rios segundo seus gêneros: poesia, ficção (romance, novela, conto), drama,
ensaio, crônica etc. Recorde-se que assim como existem gêneros mistos (ro-
mance e drama poéticos, por exemplo), há livros cujos discursos são ao mesmo

- .44 -
,
l
terripo científicos e literários - matéria cientifica e forma literária ou matéria
literária e tratamento científico -, religiosos e filosóficos - matéria religiosa e ·
tratamento filosófico - etc.
1.5.14 Obras de consulta ou de referência são aquelas cujos textos são
organizados iiãõ- para leitura da primeira à última páginas e sim para facilitar
õellêõn.tro de informações. A organização do texto em verbetes pode ser alfa-
bética, sistemática ou cronológica, sendo indispensável, no caso de arranjos
s\stemático ou cronológico, o índice alfabético. Os exemplos mais freqüentes de
liyros de consulta são as enciclopédias, os dicionários (lingüísticos ou temáti-
cos), as bibliografias, os r~pertórios bibliográficos, as cronologias, os almana-
que;; (estatísticos, geográficos, de fatos etc.), os índices ~os resumos etc. - ·
1.5.15 Em seu excelente Dicionário de bibliotecologg o bibliotecário ar-
gentino Domingo Buonocor.e_ clas§ifica as formas do livro de acordo com os
· seguintes tipos: (a) obras gerais ou de conjunto (tratados, manuais, enciclopé-
dias etc.), (b) obras particulares ou especializadas (monografias, teses, trabalho
de seminário, ensaios etc.), (e) obras de referência (anuários, guias, almana-
ques, catálogos etc.), (d) publicações periódicas (diários, revistas, boletins etc.)4 7 •
1.5. 16 Paul Otlet, em seu Traité de documentaüon, havia enunciado esta
classificação: (a) obras especializadas (brochuras, monografias e ensaios) e (b)
obras de conjunto (tratados e manuais, dos quais fornece sugestivo histórico:
enciclopédias e dicionários; e revistas e periódicos propriamente ditos) 48 •

J 1.6 O LIVRO NO BRASIL


1.6.0 Embora o Brasil seja, historicamente, produto do Renascimento 49 ,
a arte de imprimir - origem e, ao mesmo temp0 , fruto desse movimento - só
muito tardiamente passou a ser cultivada entre nós. Isso porque, como assina-
la Wilson Martins, "a cronologia real desmente a cronologia aparente e o Brasil
do século XVI é, do ponto de vista intelectual, uma entidade pré-renascentista" 5 0 •
.Tendo trazido para o Nord~s..t~ çlo BrasiJ o p,IÍncjpe Mau~io d~Nassa~
escritores,_si.tnl istas...f_ artistas, também pensou·numa.Jjpografi_a, qile chegou a
·ser providenciada pela Companhia das Índias Ocidentais, com o respectivo mes-
tre tipográfico. A morte deste, porém, fez o projeto gQrar. É verdade que na folha-
de-rosto de um opúsculo holandês de 1647 - .Brasilsche Gelt-Sack - está
indicado o Recife como lugar de impressão: "Gedruckt in Brasilien op't Reciff".
Trata-se, porém, como observa José Honório Rodrigues, "de um embuste com o
fito de ocultar os autores e impressores deste libelo" contra diretores da Compa-
nhia das Índias Ocidentais51 • Do assunto se ocuparam os pesquisadores per-
nambucanos José Higino Duarte Pereira52 e Alfredo de Carvalho 53 • [icou para
Pernambuco o consolo de s ~ o berço não da !!Q_Qgrafia, mas da lite-

-45-
f

l
ratura brasileira, porque em Olinda o português Bento Teixeira compôs a Pro-
sopopéia, primeiro poema escrito no Brasil54 •

\ 1.6.1 "Incunábulos" Brasileiros


1.6.1.1 A palavra incunábulo vem do latim incunabulum, incunabili, que
significa berço, começo, princípio e foi usada pela primeira vez por Van Beu-
ghem em sua obra Incunabula typographiae (1688) para indicar livros impres-
sos desde os primeiros anos da arte de im@mk_ate o ano de 15DD55 • Usada
·entre aspas, pooeindicar os_primeiros livros impressos no Brasil, como fez
Rubens Borba de Moraes ao tratar da matéria56 •
1.6. 1.2 Só no século XVIII a famosa arte da imprimissão - título da
belíssima obra do pesquisador português Américo Cortez Pinto57 : _ começou a
ser cultivada no Brasil. O tipógrafo Antonio Isidoro da Fonseca transferiu-se de
Lisboa para o Rio de J~ onde instalou sua "segunda ofk ina". Dela saiu,
em 1747, o opúsculo no qual Luiz Antonio Rosado da Cunha descreve as festas
da posse do novo bispo do Rio de Janeiro: REI.AÇÃO/ DA ENTRADA QUE FEZ
/O EXCELLENTISSIMO, E REVERENDISSIMO SENHOR/ D. F. ANTONIO DO
DESTERRO MALHEYRO [... ]RIO DE JANEIRO/ Na Segunda Officina de AN-
TONIO ISIDORO DA FONSECA. [fio] Anno de M. CC. XLVII. / Com licenças do
Senhor Bispo.
1.6.1.3 Durante muitos anos estimado apenas por bibliógrafos e historia-
dores da tipografia no Brasil, este "incunábulo bras~r9", como o chamou
Rubens Borba de Moraes, foi reafilniãao porWilSõn-Martins, que teve a 2-_achor-
ra de o ler ao preparar sua monumentãl-:fflstória da inteligência brasileira.
-SugereOénticõ brãsilêirÕ_:_-há anos professor de nossa literatura na-New York
University - que as festas de recepção do bispo Dom Frei Antonio do Desterro
Malheyro serviram de modelo e fonte de emulação para as que se realizaram,
dois anos depois, em Mariana, na posse do bispo Dom Frei Manuel da Cruz:
"imortalizadas" no Aureo Trono Episcopal, de Francisco Ribeiro da Silva58 •
Assim o primeiro opúsculo impresso no Brasil seria modesto precursor da
literatura barroca, tão bem esfudada~em suas IliãnrrestaçõeSmineira s,- pelo
~critico Affonso Ávila59 •
1.6.1.4 Depois de imprimir mais alguns opúsculos politicamente neutros
como a Relação da entrada, ~onio Isidoro da Forn?eca viu s_ua segunda oficina
---
fechada por provisão real de 6 de julho do mesmo ano de 1647. Voltaram para
Lisboa ..a~ tipografia e seu fundador, que, três anos depois, tentou novamente
estabelecer-se no Rio de Janeiro, mas teve seu requerimento negado. "Nada
mais se sabe a seu respeito", informa Rubens Borga de Moraes6 0 , como que
sugerindo uma pesquisa em arquivos portugueses sobre a misteriosa figura do
precursor da tipografia no Brasil.

- 46
l

,
t
1.6.1.5 Com a transferência da familia real portuguesa para o Brasil, foi
criada a Impressão Regia, por decreto de 13 de maio de 18-08. Dela saíram·
Outrõs "incunábulos" brasileiros, o primeiro dos quais de intere'sse apênas
ácfministrativo: RELAÇÃO/ DOS/ DESPACHOS PUBLICADOS NA CORTE/
PELO EXPEDIENTE / DA SECRETARIA DE ESTADO DOS NEGÓCIOS / ES,.
TRANGEIROS, E DA GUERRA / NO / FAUSTISSIMO DIA DOS ANNOS DE S.
A. R. / O/ PRINCIPE REGENTE N.S. /E de todos os mais, que se tem expedido
pela mesma Se- / cretaria desde a feliz chegada de S.A.R. aos Esta- / dos do
~razil até o dito dia.
~ 1.6.1.6 Mas da produção que se seguiu - que conhecemos graças à
competência e dedicação de Alfredo do Valle Cabral61 - observou Wilson Mar-
tins que reflete "a curiosa atmosfera de liberalismo e cientificismo que domina-
va naquele momento os meios intelectuais brasileiros". Se é verdade que a
Impressão Régia publicou obras de interesse apenas literário, "é inegável -
como observou ainda Wilson Martins - que predominam nas suas edições os
livros de ciência, de economia política, de direito. As 'novas idéias' faziam a sua
entrada no Brasil por um inesperado viés, e o liberalismo econômico achava
meio de se conciliar perfeitamente com o absolutismo político, fato que, aliás,
nada tem de extraordinário. Sente-se, igualmente, a situação de um país des-
provido dos livros fundamentais e que traduz a toda pressa os tratados de
química, de medicina, de ótica, de matemática ... A Impressão Régia facilita,
dessa maneira, com as suas várias edições aparentemente anódinas, a mu-
dança do clima intelectual. Ela prepara, sem o saber, tal como o fizera D. João
VI, a independência do Brasil"62 • / P
1.6.1. 7 A tipografia, que a nível universal deflagara o Renascimento, davc;r lii
~o Brasil, onde chegou atrasada, mais uma demonstração de seu poder. ~ QíJ;:__úcJ
contribuição de impressores estrangeiros - os Leuzinger, os Laemmert, ~s
Plancher, os Garnier e outros-, com experiência gráfica européia, foram im
portantíssimas. Como importante é também a contribuição das tipografias
estaduais e, mais recentemente, as das universidades. O mal das publicações
governamentais e universitárias é sua precária distribuição comercial. Ai do
autor que tem livro publicado por repartição federal, estadual e municipal, ou
mesmo por universidades, com exceção das de Brasília' e São Paulo: está con-
denado a não ser lido!
1.6.1.8 Para discussão deste e de outros problemas suscitados pelas pu-
blicações governamentais foi criada uma Comissão Brasileira de Publicações
Oficiais: iniciativa das bibliotecas da· Câmara dos Deputados e do Senado Fe-
deral. Essa comissão realiza reuniões anuais e publica a Bibliografia brasileira
de publicações oficiais.
1.6.1.9 De modo geral, as publicações oficiais não primam pela obediên-
cia às normas técnicas de editoração nem pelo bom gosto gráfico. Duas exce-
ções devem ser feitas, uma a nivel federal e outra no plano estadual. Refiro-me

-47-
,
l ao SeIViço de Documentação do Ministério da Educação e Cultura ao tempo em
que foi dirigido pelo médico e professor paraibano José Simeão Leal. Destaco,
além da excelente revista Cultura, a coleção de opúsculos Os Cadernos de
Cultura e vários livros artísticos, como The 12 Prophets of Antonio Francisco
Lisboa, de Hans Mann, com sua bela folha-de-rosto dupla (1958) 63 • A nível
estadual, merece destaque a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, que
além do bem mensário D.O. Leitura, publicou livros de notável apuro gráfico,
como São Paulo em três tempos e Barra Funda, ambos em 1982.

t
\ 1.6.2 O Livro Artístico

1.6.2.1 O livro artisticamente concebido e realizado - objeto de contem-


plação e não apenas veículo de comunicação - deve muito, no Brasil, à sensi-
bilidade e dedicação de artistas gráficos, alguns dos quais detentores de prelos
manuais. Há uma bibliofilia estática e outra dinâmica. Estática é a bibliofilia
dos que se contentam em colecionar livros preciosos. A bibliofilia dinâmica
pode ser descritiva ou operativa. Descritiva é a bibliofilia dos que, além do
prazer de colecionar, se entregam à paciência beneditina de referenciar e co-
mentar: os casos, no Brasil, de José Carlos Rodrigues com sua Biblioteca
brasiliense (1907) e de Rubens Borba de Moraes com sua Bibliografia brasilia-
na (1958 e 1983). Aqui tratarei dos principais representantes da bibliofilia que
estou denominando operativa: a que se manifesta na confecção de livros artísticos.
1.6.2.2 O precursor terá sido o pernambucano José Maria de Albuquerque
Melo, que imprimia em sua casa no Recife a Revista do Norte (1923-1947) e os
primeiros opúsculos de Gilberto Freyre. Deste escritor também se pode dizer
que foi precursor do livro artístico. Com a colaboração do pintor Luis Jardim,
. ele fez imprimir no Recife, em 1934, seu Guia pratico, historico e sentimental
da cidade do Recife, numa tiragem de 105 exemplares, em papelVidalon-Mont-
val, folha-de-rosto colorida a mão por aquele artista, capitular e vinhetas.
1.6.2.3 Gilberto Freyre descobriu, como ilustrador, o pintor M. Bandeira,
insuperável em bicos-de-pena para documentar paisagens, edifícios e monu-
mentos históricos. Com ele foi organizado, em 1925, o Livro do Nordeste, a que
se fez referência em 1.4, obra de excelente diagramação, prejudicada, porém,
pelo papel ordinário em que foi impressa. A obra-prima de M. Bandeira é outro
texto de Gilberto Freyre: Olinda; 2º guia pratico, historico e sentimental de
cidade brasileira. Tem 56 desenhos e uma planta da cidade, além de lindas e
variadas capitulares, vinhetas e fundos-de-lâmpada. Tiragem de 500 exempla-
res, sendo 350 em papel Buetten cinzento-marrom e 150 em papel off-set cinza.

-48-
r
t
1.6.2.4 Também pernambucano foi o grande pintor Vicente do Rego Mon-
teiro (1899-1970) , que teve oficinas artesanais em Paris (1925-1928) e no Recife
(1939-1946). Como José Maria de Albuquerque Melo, Vicente do Rego Monteiro
imprimia uma revista - Renovação - e opúsculos como seus próprios Poemas
de bolso e a tese de João Cabral de Melo Neto Considerações sobre o poeta
dormindo. Era exímio monotipista e caligramista, sendo notáveis os 9 caligra-
mas para cada uma das estrofes do poema Lisboa, 1956, obra póstuma de
.Edson Regis (1923-1966), editada em 1976.
f, 1.6.2.5 Alguns poetas foram capistas de seus próprios livros, como o
igrande Manucl Bandeira. Merêce -desfaqÜe ãc apa de sua quarta obra, Liberti-
nagem; publicada em 1930, dela escreveu o poeta em sua autobiografia Itine-
rário de Pasárgada: "Para de certo modo disfarçar o que pudesse parecer cínico
no título, compus a capa seccionando a palavra em três linhas"64 • O resultado
foi muito feliz:
L 1 B E
R T 1 N
A G E M

1.6.2.6 Em 1942, o bibliófilo Raymundo de Castro Maya (1894-1968)


fundou a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Brasil, que durou até sua morte.
Destaquem-se ainda, na década de 40, as iniciativas de João Condé - outro
pernambucano! - e de Murilo Miranda. O primeiro foi responsável pelas Edi-
ções Condé', infelizmente de curta duração: publicou apenas 1O poemas em
manuscrito (1945), Bichos (1947). Murilo Miranda (1912-1971) editou a Revis-
ta Acadêmica de 1933 a 1948, tendo lançado livros ilustrados por grandes
artistas como Guignard e o então recém-chegado ao Brasil Axel Leskoschek. A
editora aparecia com as iniciais da revista: R.A.
1.6.2. 7 A@écada de 5Q) começa com as edições Hipocampo, dos poetas
Thiago de Mello e Geir Campos. O primeiro lançamento foi A Mesa, de Carlos
Drummond de Andrade. O último de que tenho notícia é o sétimo, de Cecília
Meireles, Amor em Leonoreta (1951). Todos incluem xilogravuras fora do texto.
1.6.2.8 Retomando a tradição pernambucana da Revista do Norte quanto
aos meios artesanais, mas já em termos coletivos que a época exigia, surgiu no
Recife, em 1955, O Gráfico Amador: iniciativa de jovens escritores e artistas
recifenses, como Aloísio Magalhães, e recifensizados, como Ariano Suassuna.
É deste o primeiro lançamento: Ode.
1.6.2.9 Concomitantemente com O gráfico amador no Recife, surge no Rio
de Janeiro a editora Philobiblion. Fundou-a o poeta e gravador espanhol Ma-
nuel Segalá, também conhecido como Manolo. Nascido em Barcelona (1917),
viveu no Rio de Janeiro de 1955 a 1958, quando morreu. Era exímio em xilo-
gravuras, com as quais ilustrou poemas de grandes autores brasileiros.

-49-
,
Na~há
1
l 1.6.2.10 quatro iniciativas notáveis. O escritor baiano
' Pedro Moacir Maia lança em Salvador as Edições Dinamene (1960). Inaugurada
em 1962, a Universidade de Brasília monta uma Gráfica Piloto em seu Instituto
Central de Artes, sob a direção de um grande artista gráfico: Claus A. Bergner.
O primeiro trabalho foi a edição de um dos Carmina Burana, traduzido do latim
pelo professor Jair Gramacho com uma gravura de Marília Rodrigues. O título
é Exiit diluculo (1965). Na mesma Gráfica Piloto foram impressos os Poemas -
coronarianos, do romancista e memorialista mineiro Ciro dos Anjos, então
professor do Instituto de Letras da UnB. Em 1967, sendo cônsul geral do Brasil
em Barcelona, o poeta João Cabral de Melo Neto montou uma gráfica na qual
imprimiu lindos livros em tiragens limitadas: O Livro Inconsútil. A mais impor-
tante iniciativa da década foi o aparecimento, em 1968, das Edições Alumbra-
mento, com Amor canto primeiro, reunindo poemas de autores brasileiros e
estrangeiros. Ao completar 10 anos de existência, Carlos Drummond de Andra-
de saudou-a em crônica no Jornal do Brasil de 29.06.1978, em que sugere este
acréscimo no verbete alumbramento no dicionário de Aurélio: "Editora de livros
de pequena tiragem e extremo apuro gráfico, existente há 1O anos no Rio de
Janeiro, sob a responsabilidade de Salvador Monteiro e Leonel Kaz, que reman-
do contra a maré cultivam e incentivam a sensualidade e a espiritualidade da
'arte de imprimissão' tal como se praticava há séculos, na melhor tradição do oficio".
1.6.2.11 Duas iniciativas marcam a füada de 70] a de Calasans Neto, na
Bahia - Edições Macunaíma - e a de Gastão de Holanda, no Rio de Janeiro,
com a Editora Fontana. Poeta e ficcionista, Gastão de Holanda fez parte do
Gráfico Amador do Recife. Contando, no Rio de Janeiro, cqm forte a-goio finan-
ceiro do bibliófilo José Mindlin e de sua empre sa Metal Leve S.A., Gastão de
HOianda fez edições deapurado bom gosto: cÕmo O Rio, de João Cabral de Melo
Neto (1974) e D. Quixote, de Cervantes (21 desenhos de Cãndido Portinari e 21
glosas de Carlos Drummond de Andrade). Este foi patrocinado pela Fundação
Raymundo Ottoni de Castro Maya.
1.6.2. 12 A ~ili se inicia com a editora paulista Berlendis &
Vertecchia. Apoiada pelo Fundo Internacional para a Promoção da Cultura, da
Unesco, esta editora iniciou, em 1980, a coleção Arte para Crianças, com muito
bom gosto e esta singularidade: a escolha do pintor para cada livro precede a
do autor do texto, sendo este suscitado pela imagem, ao contrário do que
ocorre tradicionalmente. A mesma editora lançou, em 1979, o livro Caminho,
de Pedro Xisto: livro originalíssimo tanto pelo formato (21-21 cm) como pelos
poemas concretos e logogramas do autor, alguns impressos em papel colorido
e em relevo sobre o branco. Em 1988 aparece o primeiro lançamento da Boca
da noite editora: o livro de Dante Milano Poemas traduzidos de Baudelaire e
Mallarmé, com ilustrações de Antonio Carlos Rodrigues e introdução de Virgílio
Costa, escritor e pintor que é o responsável pela iniciativa. O projeto gráfico de
Victor Burton foi logo distinguido com um prêmio internacional.

-50-
,
l
, 1.6.2.13 Impõe-se um parágrafo especial para o pintor e escultor baiano
Emanoel Araújo. Radicado em São Paulo, com freqüentes viagens a New York,
onde é professor visitante da N.Y.U., Emanoel Araujo iniciou-se como entalha-
dor e gráfico em Santo Amaro da Purificação, sua cidade natal. Destacou-se
também como cenógrafo e gravador. Como artista gráfico estreou em 1960,
ilustrando um livro de Contos de Graciliano Ramos. Em 1976 organizou a obra
Genaro de Carvalho - Seleta: para Clarival do Prado Valladares "a maior
edição serigráfica de documentação artística que já se fez no Brasil"65 • Autor do
jirojeto gráfico da obra Orixás, de Carybé, Emanoel Araujo vem lançando um
.Avro artístico por ano, utilizando-se dos recursos gráficos da Raízes Artes Grá-
ficas e obtendo apoio financeiro de empresas como a Construtora Norberto
Odebrecht e outras.
1.6.2.14 Restrito a escritores e artistas que procuram restaurar, no Bra-
sil, a tradição inglesa dos William Blake (17 5 7 -182 7), dos Au brey Beardsley
(1872-1898) e dos William Morris (1834-1896) - exemplos máximos do que
venho chamando bibliofi11a operativa - este capítulo deve registrar, embora de
passagem e à guisa de conclusão, algumas iniciativas de empresas editoriais
não dedicadas exclusivamente ao livro artístico.
Mencionem-se, como exemplares, a Coleção Rubayat da Livraria José Oly-
mpio Editora, a Confraria dos Amigos do Livro da Editora Nova Fronteira - que
se deve à sensibilidade literária de Carlos Lacerda-, alguns lançamentos da
Livraria Agir Editora - como tiragens de luxo de obras de Alceu Amoroso Lima
e Gustavo Corção, além da admirável A vida de Nossa Senhora, de Nazareth
Costa e Odylo Costa, filho - e edições de livros de viajantes estrangeiros sobre
o Brasil da Livraria Kosmos Editora, a quem tanto devem os bibliófilos brasileiros.
1.6.2.15 Um estudo exaustivo sobre editores e impressores de livros no1
-
,_ de Antonio Isidoro da Fonseca
Brasil, a noS'Sõs-diãs, foi realizado pelo pesqui-
sàdor inglês Laurence Hallewell 66• Como o Brasil é um país em desenvolvimen-
to, outras editoras surgiram após as pesquisas de Hallewell, merecendo realce \
a Companhia das Letras. Criada em São Paulo por Luiz Schwarcz, ex-gerente
editorial da Editora Brasiliense, a nova editora radicalizou na qualidade e na )
quantidade, chegando a fazer seis lançamentos por mês.

-51 -
,
l

11 1.7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. 7 . 1 DAS CITAÇÕES
t 1 PESSOA, Fernando. "Liberdade". Em sua Obra poética. Rio de Janeiro: NovaAguilar, 1976, p. 189.
2 NASCENTES, Antenor. Tesouro da fraseologia brasileira, 3ª ed. rev. por Olavo Aníbal Naséentes.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 167.
3 Bíblia de Jernsalém, Nova ed. bras., rev. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 2125, nota.
4 NASCENTES, Antenor. Loc. cit.
5 HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliografia. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1967,
V. II, pp. 27-36.
6 OTLET, Paul. Traité de documentaüon; le livre sur le livre; théorie et pratique. Bruxelles:
Editiones Mundaneum, 1934.
7 ORTEGA Y GASSET, José. Misión del bibliotecário y otros ensayos afines, 2ª ed. Madrid: Revista
de Occidente, 1967, p. 95. Também em suas Obras completas. 7ª ed. Madrid: Revista de Occi-
dente, 1970, t. 5, pp. 207-34.
8 The Nothing Book. Nova York: Harmony Books, 1974.
9 PLATÃO. Phaedrns. ln: The Dialogues of Plato. Transl. by Benjamin Jowett. Chicago: Encyclo-
paedia Britannica, 1952 (Great books ofWestern World, 7), pp. 139-40.
10 ORTEGA Y GASSET, José . Op. cit., pp. 93-8.
11 PICÓN, Gaetan. O escritor e sua sombra. Trad. de Antonio Lázaro de Almeida Prado. São Paulo:
Companhia Editora Nacional e Editora da Universidade de São Paulo, 1970, p. 14.
12 FONSECA, Edson Nery da. Bibliometria: teoria e prática. São Paulo: Cultrix e Editora da
Universidade de São Paulo, 1986, pp. 137-40. ·
13 HOUAISS, Antônio. "Escrita". ln: Enciclopédia Mirador Internacional. Rio de Janeiro: Encyclo-
paedia Britannica do Brasil, 1955, v. 8, pp. 4052-067.
14 ESCARPIT, Robert. La révolution du livre. Paris: Unesco, 1965.
15 FONSECA, Edson Nery da. "Seriam os livros sempre benéficos e as bibliotecas hospitais de
almas?". Em seu: Ser ou não ser bibliotecário e outros manifestos contra a rotina. Brasília:
Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal, 1988, pp. 126-35.
16 MARITAIN, Jacques. Cuatro ensayos sobre e] espíritu en s u condición carnal. Buenos Aires:
Desclé, De Brouwer, 1944, p. 19.
17 SCHERER, Jacques. Le "Livre" de Mallarmé. Nouv: éd. rev. et augm. Paris: Gallimard, 1957. O
poema "Um lance de dados jamais abolirá o caso" foi magistralmente traduzido por Haroldo de
Campos, in Campos , Augusto de et alii. Mallarmé. São Paulo: Perspectiva e Editora da Univer-
sidade de São Paulo , 1975, pp. 149-73.
18 BANDEIRA, Manuel. "Evocação do Recife". ln: Freyre, Gilberto , ed. Livro do Nordeste. Recife:
Officinas do Diário de Pernambuco, 1925, pp. 121 -23.
19 HOUAISS, Antônio . Elementos de bibliologia (op. cit., nº 5), v. 11, p. 46.
20 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1975, p. 374.

- 52 -
,
l
21 PORTA, Frederico. Dicionário de artes grá ficas. Porto Alegre: Globo, 1958, p. 91.
22 PORTA, Frederico. Op. cit., p. 404.
23 PORTA, Frederico. Op. cit., p. 159.
24 WITfGENSTEIN, Ludwig. Tractatus logico-philosophicus. Trad. e apres. de José Arthur Gian-
notti. São Paulo: Companhia Editora Nacional e Editora da Universidade de São Paulo, 1968.
25 MALCLÊS, L. N. La bibliographie. Pans: Presses Universitaires de France, 1956, p. 12, nota 1.
26 RICOEUR, Paul. Du texte a l'action; essai d'herméneutique II. Paris: Seuil, 1986, p. 137.
27 MOLES, Abraham A. Sociodinámica da cultura . São Paulo: Perspectiva e Editora da Universi-
dade de São Paulo, 1974, pp. 73-8.
2~ ANJOS, Augusto dos. "A Idéia". Em seu Eu (poesias completas), 29ª ed. Rio de Janeiro: Livrana
t São José, 1963, p. 61.
2·9 MERTON, Robert K. On the Shoulders ofGiants, a Shandean Postscript. Nova York: Harcourt,
Brace & World, 1965.
30 WATSON, James D. A dupla hélice.Lisboa: Gadiva, s.d.
31 GIDE, André. Joumal des Faux-Monnayeur. Pans: Gallimard, 1927.
32 STRAVINSKY, Igor. Poética da música. Lisboa: Dom Quixote, 1971.
33 ALENCAR, José de. Como e porque sou romancista. Rib de Janeiro: Typ . de G. Leusinger &
Filhos, 1893.
34 BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Jornal de Letras, 1954, 4ª ed. Rio
de Janeiro, Nova Fronteira, 1984.
35 FREYRE, Gilberto. Como e porque sou e não sou sociólogo. Brasília: Editora Universidade de
Brasília, 1968. ·
36 DOURADO, Valdomiro Autran. Uma poética de romance: Matéria de carpintaria. São Paulo:
Difel, 1976.
37 KOESTLER, Arthur. The Act ofCreation. Londres: Hutchinson, 1964.
38 MOLES, Abraham A. Sociodinâmica da cultura. Op. cit. nº 27.
39 MOLES, Abraham A. A criação científica. São Paulo: Perspectiva e Editora da Universidade de
São Paulo, 1971.
40 SELYE, Hans. Du rêve à Ia découverte. Pans: La Presse, 1973.
41 TEIXEIRA, A. & SILVA, M. R. e. Diálogo sobre a lógica deconheciinento. São Paulo: EDARD, 1968.
42 SILVA. M. R. e. Lógica da invenção. Rio de Janeiro: Livrana São José, 1965. ·
43 PICON, Gaetan, Op. cit., nº 11.
44 MOISÉS, Massaud. A criação literária. São Paulo: Cultrix, 1967.
45 LOTMAN, Ioun. La stmcture du texte artistique. Paris: Gallimard, 1973.
46 GALAY, J. L. Philosophie et invention textuel/e. Paris: Klincksieck, 1977.
47 BUONOCORE, Domingo. Diccionario de bibliotecologia, 2ª ed. aum. Buenos Aires: Marymar,
1976, pp. 284-85.
48 OTLET, Paul. Traité de documentation. Op. cit., nº 6, pp. 127-83.
49 VILLAÇA, Antonio Carlos. "A literatura no renascimento''. ln: Museu Nacional de Belas Artes.
O renascimento. Rio de Janeiro: Agir, 1978, p. 29.
50 MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. São Paulo: Cultrix, 1976, v. !, p. 17.
51 RODRIGUES, José Honóno. Historiografla e bibliografla do domínio 110landés no Brasil. Rio de
Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1949, pp. 272-73.
52 PEREIRA, José Higino Duarte. "A Bolsa do Brasil ... Trad. e notas Revista do Instituto Arqueo-
lógico, Histórico e Geográfico Pernambucano (Recife) 28: 127-201, 1883.
53 CARVALHO, Alfredo de. "Da introdução da .i mprensa em Pernambuco pelos holandeses". Revis-
ta do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (Recife) 11 (64): 710-16, 1904.
54 MELLO, José Antônio Gonçalves de. "Bento Teixeira, autor da Prosopopéia". Em seus: Estudos
pernambucanos, 2ª ed. aum. Recife: FUNDARPE, 1986, p. 13-52.

-53 -
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l
55 CUNHA, Antônio Geraldo da. Dicionário etimológico. Nova Fronteira da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1982, p. 432.
56 MORAES, Rubens Borba de. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Rio de J aneiro: Livros
Técnicos e Científicos, 1979, p. 102.
57 PINTO, Américo Cortez. Da famosa arte da imprimissão. Lisboa: Ulisseia, 1948.
58 MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira. Op. cit., nº 50, v. 1, p. 346.
59 ÁVILA, Affonso. Resíduos seiscentistas em Minas; textos do século do ouro e as projeções do
mundo barroco. Belo Horizonte: Centro de Estudos Mineiros, 1967, 2 v.
60 MORAES, Bubens Borba de. Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Op. cit. nº 56, p. 66.
61 CABRAL, Alfredo do Valle. Annaes da Imprensa Nacional. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
1881.
62 PLACER, Xavier et alii. Catálogo da s publicações do Sernço de Documentação, 1947-1965. Rio
de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1965.
64 BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada, 4~ ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. p. 87.
65 VALLADARES, Clarival do Prado. "Introdução''. ln: Klintowitz, Jacob . O construtivismo afetivo
de Emanoel Araujo. São Paulo: Raizes, 1091, p. 16.
66 HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil (sua história). Trad. de Maria da Penha Villalobos e
I..ólio Lourenço de Oliveira, rev. e atual. pelo autor. São Paulo: T. A. Queiroz e Editora da USP, 1985.

1.7.2 DE OBRAS RECOMENDADAS

ARAUJO, Emanuel. A construção do livro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.


ARNS, Paulo Evaristo, O.F.M. La technique du livre d'aprês saint Jerôme. Paris: E. de Boccard, 1953.
CENTRE D'ÉTUDE ET DE RECHERCHE TYPOGRAPHIQUES. De plomb d'encre & de lumiêre; essai
sur la typographie & la communication écrite. Paris: Imprimerie Nationale, 1982.
CUVELIER, Femand. Histoiredu livre, voieroyaledel'esprithumain. Monaco: Éditiondu Rocher, 1982.
DREYFUS, John & RiCHAUDEAU, François, ed. La chose imprimé; histoire, techniques, estheti-
que et realisations de J'imprimé. Paris: Retz, 1977.
ESCARPIT, Robert. La révolution du livre. Op. cit., n º 14.
Ili! li
- L'écrit et la communication. Paris: Presses Universitaires de France, 1973.
ESCOLAR SOBRINO, Hipólito . Historia social dei libro. Madrid: Asociación Nacional de Biblioteca-
rios, Archiveros y Arqueólogos, 1974, 75. 4 v.
- História do livro em cinco mil palavras. Trad. de Aida Nery da Fonseca. São Paulo: Quíron, 1977.
- Historia dei libro. Nueva ed. corr. y ampl. Madrid: Fundación Germán Sánchez, 1988.
FARIA, Maria Isabel & PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do livro. Lisboa: Guimarães, 1988.
FEBVRE, Lucien & MARTIN, H. J. L'aparition du livre. Paris: A. Michel, 1958.
FERREIRA, Orlando da Costa. Imagem e letra; introdução à bibliologia brasileira; a imagem grava-
da. São Paulo: Melhoramentos, 1976.
GENETTE, Gérard, Seuils. Paris: Seuil, 1987.
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. Op. cit., nº 66.
HOUAISS, Antônio. Elementos de bibliologia. Op. cit., nº 5.
KATZENTEIN, Úrsula Ephraim. A origem do livro; da idade da pedra ao advento da impressão
tipográfica no Ocidente. São Paulo: HUCITEC , 1986.
KNYCHALA, Catarina H. O livro de arte brasileiro. Rio de Janeiro: Presença, 1983-84. 2 v. v. l :
Teoria, história, descrição. v. 2: Bibliografia descritiva de 50 livros de arte.

- 54 -
,
l
LEE. Marshall. Bookmaking: The Illustrated Cuide to Design/Production/Editing. Nova York: R. R.
Bowker, 1979. ·
McMURTRIE, Douglas C. O livro, impressão e fabrico. Trad. de Maria Luísa Saavedra Machado.
Pref. e notas de Jorge Peixoto. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1969.
MARTINS, Wilson. A palavra escrita. Op. cit.. n 2 62.
MOURÃO-FERREIRA, David. "O livro, o leitor, a leitura". Boletím Cultural (Lisboa) Fundação
Calouste Gulbenkian, Serviço de Bibliotecas Itinerantes e Fixas, 6ª série, n 2 6, março 1986.
MORAES. Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1965.
- Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Op. cit., n 2 56.
!MORISON, Stanley & DAY, Kenneth. The Typographic Book, 1450-1935. Londres: E. Benn, 1963.
~MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO. História da tipografia no Brasil. São Paulo: 1979. (O texto é de
Cláudia Marino Semeraro.)
ORTEGA y GASSET, José. Misión dei bibliotecarlo. Op. cit., n 2 7.
OTLET, Paul. Traité de documentation. Op. cit., n 2 6.
PORTA. Frederico. Dicionário de artes gráficas. Op. cit., n 2 21.
RICOEUR, Paul. Du texte a l'action; essai d'herméneutique II. Op. cit., n 2 26, espedalmente
"Qu'est-ce qu'un texte" (pp. 137-59) e "Le paradlgme du texte" (pp. 184-97).
RIZZINI. Carlos. O livro, o jornal ea tipografia no Brasil, 1500-1822. Rio de Janeiro: Kosmos, 1946.

-55-
Yo, que me figuraba e/ Paraíso
Bajo la especie de una biblioteca.
Jorge Luís Borges. "Poema de los dones". E/ Hacedor, 1960.

Livros e Janela. 1975


JOSÉ PAULO Moreira da Fonseca, n. 1922
Óleo sobre tela. 27x19cm.
Coleção do autor
1
1..

k.1 A PALAVRA BIBLIOTECA


2.1.1 A palavra biblioteca vem do grego bibliothéke, através do latim bi-
bliotheca, tendo como raiz biblíon e théke. A primeira, como já vimos em 1.1,
significa livro, apontando, como a raiz latina liber, para a entrecasca de certos
vegetais com a qual se fabricava o papel na antiguidade. Théke, por sua vez, é
qualquer estrutura que forma um invólucro protetor: cofre, estojo, caixa, es-'
tante, edifício.
2.1.2 Mestre Aurélio consigna as seguintes definições: 1. Coleção pública
ou privada de livros e documentos congêneres, organizados para estudo, leitu-
ra e consulta; 2. Edifício ou recinto onde se instala essa coleção; 3. Estante ou
outro móvel onde se guardam e/ou ordenam livros; 4. Processamento de Da-
dos. Coleção ordenada de modelos ou de rotinas' ou sub-rotinas por meio da
qual se podem resolver os problemas e suas partes.
2.1.3 A palavra- acrescente-se ao Novo dicionário da língua portuguesa
- também é usada em sentido institucional, designando órgãos da administra-
ção pública (a Biblioteca Nacional, a Biblioteca Pública Estadual, a Biblioteca
Municipal Mário de Andrade etc.) ou privada (a Biblioteca do Real Gabinete
Português de Leitura do Rio de Janeiro, a Newbeny Library, de Chicago etc.) e
como título de coleções bibliográficas (Biblioteca Pedagógica Brasileira, da Com-
panhia Editora Nacional, Biblioteca Histórica Paulista, da Editora Martins etc.)
e mesmo de obras individuais (La bibliotheque idéale, de Charles Lannoye,
Pour une bibliotheque idéale, de Raymond Queneau, etc.) e coletivas (Biblio-
theca internacional de obras celebres}.

2.2 NOVO CONCEITO DE BIBLIOTECA

2.2.1 Assim como se diz, em Medicina, que não há doença e sim doentes,
podemos dizer que .!filo há, concretamente, biblioteca no singular e sim biblio-
tecas, na pluralidade que se impõe em nossos dias.40'.._A_b_ib_l_io_t_ec_a_p~_ú_b_li_ca_é_t_ã_
o
diferente da biblioteca nacional quanto a biblioteca escolar da biblioteca espe-
,
\
-cializada. Essas diferentes categorias não existiam na antigüidade, sendo urna
exigência da nossa época: urna época em que <! planejamento se irnp~~o
condição síne qua non 'ª"º desenvol~rnento . Devemos isso a alguns economistas
de gênio como o austro-americano Joseph Alais Schurnpeter (1883-1950) e o
inglês John Maynard Keynes (1883-1946). O primeiro com sua Theorie derwirtschaf-
tlichen Entwicklung (1912) e o segundo com The End of Laissez-Faíre (1924) e,
sobretudo, com a General Theory of Employment, Interest and Money (1936).
1(. . 2.2.2 Também na história das bibliotecas - neste livro evitada por ser
1 objeto de outra disciplina do currículo de biblioteconomia - houve o fim do
Ç laissez-faire: o fim da formação de bibliotecas ao sabor de circunstâncias, como
· 'doações, heranças etc. Inicialmente considerada no planejamento educacional,
~ biblioteca é lioje é'"ncarada pe~s plan~adores "como p~rte in~gr~te ~
meios de comunicação de massa", como ficou estabelecido pelos participantes
de reuniões promovidas pela Unescõeffi Lima (1973) e Turrialba, na Costa Rica
(1974) 1 • E o planejamento incluI'Il:êéessariarilente, -a formaçã o de coleções
SêgüllCio rigoroso critério seletivo, direcionado para os usuários de cada cate-
goria de biblioteca. Donde a inclusão, no currículo rrúnimo de biblioteconomia,
'de uma disciplina dedicada à Seleção. Por isso Ortega y Gasset imaginava ~
futuro bibliotecário como um filtro que se interpõe entre a torrente de livros e
o hornem" 2 • E ~orge I,,uis Borge~ disse num poema: "Ordenar bibliotecas é
exercer, de modo silencioso e modesto, a arte da crítica3 •
2.2.3 Estudando as diferentes categorias de bibliotecas menos de acordo
com a cronologia de seu aparecimento - as reais na antigüidade, as monásti-
·i '" cas e universitárias na idade média, as nacionais no século XIX, as públicas e
especializadas no século XX - do que segundo a faixa etária dos respectivos
usuários, partimos de um novo conceito de biblioteca, análogo ao conceito de
Igreja estabelecido pelo Concílio Vaticano II: conc__eito que, aliás, não é novo, na
medida em que retoma a idéia veterotestamentária de Povo de Deus. De qual-
quer modo, foi bom que o Vaticano II nos lembrasse que a Igreja é menos uma
instituição hieraticamente sediada em Roma e autocraticamente governada
pelo Romano Pontífice do que sim12lesmente ~~ovo de D~us..:. - - -
2.2.4 O conceito que venho propondo é o de biblioteca menos como "cole-
ção de livros e outros documentos, devidamente classificados e catalogados" do
que como assembléia de usuários da informação 4 • Conseqüentemente, ao bi-
bliotecário compete não mais classificar e catalogar livros - operações realiza-
das por um serviço central e cooperativo devidamente computadorizado - e
sim orientar usuários, fornecendo -lhes a informação que seja do interesse de
cada um. Note-se que já não me refiro mais à informação simplesmente solici-
tada. e sim àquela que o perfil do usuário - perfil elaborado por serviços de
disseminação seletiva - indique ser de seu interesse, mesmo que ele eventual-
mente a desconheça.

- 60-
r
l
2.2.5 Assim, a _missão do bibliotecário, que era qu ase exclusivamente
bibliocêntrica, passa a ser também antropocêntrica; ou antes antropobiblio- ~
cêntrica: designação que evidencia ser o elemento humano ainda mais impor:
tante que o documento. Transferindo o objeto da biblioteconomia da informa-
ção para o usuário, acompanhamos a evolução da teoria literária, que se ini-
ciou com ênfase no autor, passando ao texto e chegando recentemente ao
leitor, com a estética da recepção de que falam Hans Robert J auss e outros
modernos exegetas do fenômeno artístico5 • Voltarei a tratar da estética da
1ecepção em 3.3.2.2.2.8 a 3.3.2.2.11. .
i Se, do ponto de vista cronológico, é importante saber como e quando
surgiram as diferentes categorias de bibliotecas, mais importante ainda é veri-
ficar quais os diferentes tipos de usuários para os quais as bibliotecas foram se
diferenciando.

2.3 DIFERENTES CATEGORIAS DE BIBLIOTECAS

Examinemos, portanto, as diferentes categorias de bibliotecas, de acordo


com as faixas etárias e/ ou os tipos de usuários.

2.3 .1 Bibliotecas Infantis

2 .3.1.1 Em sua excelente Introduction to Librmy Science, Jesse H. Shera


cita outra bibliotecária norte-americana - Frances Henne -, para quem a
biblioteca infantil é "a.mais importante de todas". Trata-se, como acrescenta
Shera, de um serviço vital tánto para o futuro da biblioteconomia como p.a ra o
bem-estar social. Isto porque "a criança de hoje é o eleitor de amanhã"~ Como
poderia esse eleitor votar erri legisladores ignorantes dos beneficias que as
bibliotecas proporcionam?
2.3.1.2 Está nas observações e na pergunta de Jesse H. Shera a explica-
ção mais plausível para a pouca ou nenhuma atenção que as autoridades
brasileiras - até mesmo as dos Ministérios chamados da Educação e da Cul-
tura - dispensam às nossas bibliotecas: já que delas não se beneficiaram na
infância e na mocidade, como podem, depois de adultos, avaliar sua importân-
cia que, no máximo, apenas platonicamente admitem? Infelizmente, desse des-
conhecimento padecem tanto autoridades governamentais como profissionais
do mais alto nível. Conversando com o genial urbanista e arquiteto Lúcio Cos-
. ta, per untamos como se explica tenha ele pensado, ao projetar Brasília, em
e alhes tão importantes como o das bancas de jornais e até o das sombras
prop1c1as aos namorados, esquecendo-se, porém, de bibliotecas nas chamadas
' '

- 61 -
,
l unidades de vizinhan . Sua resposta foi muito franca: esquecera-se das bi-
liotecas J?Orque nunca as vira uncionar em nosso PaísJ_ .
2 .3 . 1.3 Estava, evidentemente, aludindo às bibliotecas públicas,_ç_uja omis-
são, em guase todos os municípios brasileiros, é o grande escândalo da biblio-
leConomia nacional; porque o grande urbanista deve ser um dos mais freqüen-
te~ usuários da biblioteca especializada da Secretaria do Patrimônio Histórico
e Artístico Nacional, tanto quanto da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
2 .3.1.4 Encontra-se no primeiro volume das Obras completas de Õrtega
y Gasset um artigo por ele publicado em EI Imparcial de 21 de fevereiro de
fi 1908. Manifestando-se contrário à construção de um teatro em Madrid, quan-
v do a capital da Espanha não possuía uma só biblioteca atualizada, Ç)rtegg
afirma que "o-2!.oblemª-espanhol é U!!l prQblema_e_ducativo". E conclui drama-
ticamente: "Puede vivir dignamente una nación sin un teatro nacional: sin una
biblioteca me-dianamente provista, Espaiia vive deshonrada" 7 • -

·- -2.3-:-1.5 Diga-se de passagem que a situação mudou: graças à competên-


cia e ao dinamismo de Hipólito Escolar Sobrino, Madrid dispõe hoje de uma
Biblioteca Nacional que junta a seu riquíssimo aceIVo uma organização mode-
lar. Quanto a nós, tendo o Governo do Distrito Federal optado por um Teatro
Nacional, Brasília continua.sem uma biblioteca pública digna deste nome. Não
nos antecipemos, porém, e voltemos à biblioteca infantil para dizer o·seguinte:
o que essa categoria de biblioteca exige do bibliotecário em conhecimentos de
1 li psicologia, pedagogia, literatura infantil e outras matérias justifica a obseIVa-
ção de Jesse H. Shera, para quem "the librarian's service to children requires
as much scholarship as any other párt of the library rofession"ª.
1
2.3.1.6 Não é lícito falar de i io ecas infantis o Brasil sem mencionar
111 li o pioneirismo de Lenyra Fraccaroli e~ulo e o de sua discípula l)enise .
Fernandes Tavares na Bahia: a .primeira na década 40 e a segunda nos anos
50. Fraccaroli fundou uma rede b_!.t?liote_ç_áriª·para_as crianças de São Paulo~.
sendô ainda autora da primeira bibliografia de literatura infantil em língua
portuguesa: bibliografia modelar 10 • Denise Tavares fundou em Salvador a Bi-
blioteca Infantil Monteiro Lpbato. Ambas também escreveram manuais de or-
ganização desta importante categoria de bibliotecas 11 •
1

2.3.2 Bibliotecas Escolares


2.3.2.1 As bibliotecas escolares são irmãs siamesas das infantis. O ideal
é que ao ingressar-na escola a criança já tenha se utilizado dos seIViços de uma
biblioteca infantil. Circunstâncias locais podem admitir que a biblioteca infan-
til seja mantida pela escola. Mas a biblioteca escolar tem o objetivo específico
de rnecer livros e material didãtico tanto a estudantes como a 12rofessores.
Ela oferece a infra-estrutura bibliográfica e audiovisu o ensino de primeiro
e segundo graus. -

-62-
,
l
2.3.3 Bibliotecas Universitárias

2.3.3.1 Depois de utilizar a biblioteca escolar, quem deseja seguir um


curso superior encontra à sua disposição a biblioteca universitária. Entre a
biblioteca escolar e a universitária a diferença é apenas de grau, pois o objetivo
da segunda é fornecer infra-estrutura bibliQgráfica e documental aos cursos,
pesquisas e serviços mantidos pela universidade. Lembre-se, . a propósito, a
Crefini_ção de faculdade de direito enunciada pelo _professor Haroldo Valladão
qbe alongamos à universidade: é uma biblioteca cercada de laboratórios e salas
d~ aulas: laboratórios e salas onde se aplica e discute o que foi aprendido na
· bibliotecá12 • E a propósito de laboratórios, recorde-se esta observação dopes-
quisador norte-americano. E. Bright Wilson Jr., em sua obra An Introduction
to Scientific Research: "six hours in the library may save six months in the
laboratory" 13 •

2.3.4 Bibliotecas Especializadas

2.3.4.1 A designação se refere tanto à especialização das coleções como à


tipologia dos usuários, podendo estes serem agrupados entre pesquisadores
altamente diferenciados ou deficientes físicos, prisioneiros e hospitalizados etc.
Tanto na Grã-Bretanha como nos Estados Unidos a designação tradicional é
ambígua. for que special e não specialized librarieS? O verbete da A.L.A. é
prolixo e confuso 14 , ao contrário da tradicional claridade francesa que se mani-
festa na definição da AFNOR 15 • O vocabulário da Unesco ofere~e três exemplos
esclarecedores 16 •
As bibliotecas especializadas surgiram com o extraordinário desenvolvi-
mento da ciência e da tecnologia. Por isso, as 12rimeiras bibliotecas desta cate-
goria foram as dos laboratórios e das grandê's empresas industriais e comer-
ciais, t,anto quanto de associações prorfssfonais. Em 1909 fundou-se em Nova
York à Special Libraries ASsociation, que edita, a partir daquele ano, a revista
Special Libraries. A congênere britânica surgiu em 1924, com o nome de Asso-
ciation of Special Libraries and Information Bureau (ASLIB). também editora de
excelente revista.

2.3.5 Bibliotecas Nacionais

2.3.5.1 Embora circunstâncias históricas e nacionais possam diferenciar


esta categoria de uma nação para outra, pode-se estabelecer como objetivos

-63-
,,...
,
l
básicos de uma biblioteca nacional: (a) reunir, presexvar e difundir a documen-
tação bibliográfica e audiovisual produzida no território naci011.ê_Jela se vale,
para reunir, do chamado depósito legal e para difundir da bibliografla nacional
corrente; (b) reunir o que em qualquer parte se publica a respeito da n~_ç)
coordenar a permuta nacional e internacional de publicações; (d) coordenar
·programas nacionais de aquisição de publicações estrangeiras; (e) coordenar a
· rede nacional de bibliotecas; (fJ manter catálogo coletivo nacional de livros e
periódicos 17 •
2.3.5.2 Com tais atribuições, já se vê que a biblioteca nacional não deve
i estar à disposição de qualquer tipo de~ us~ário, 1!1ªS de uma clientelã quâliflca-
êfà. Para o público, em geral, existe, como veremos, a biblioteca pública, desig-
n ação tradicional em língua inglesa, mas um tanto ambígua em português.
Lembre-se, a propósito de nomenclatura, que na Grã-Bretanha a biblioteca
nacional se chama .British Library e nos Estados Unidos, Lif:J["'iii õTtongress.
Esta, que talvez sejã a maior biblioteca do mundo, foi inaugurada erlll 80Õ,
com a mudança da capital norte-americana de Filadélfia para Washington. Em
1965 inaugurou-se q_segunda bibliottcª nacionª1 dos Estados Unid_os: Natio-
nal Library of Medicine, em Bethesda, Estado de Maryland; e em 1962 a Natio-
nal Agricultura] Library, que até aquele ano fazia parte do Departamento de
.Agricultura. Se até as bibliotecas nacionais se especializam, os últimos redutos
de coleções enciclopédicas são as bibliotecas universitárias, quando, evidente- ,
mente, centralizam não apenas os processos técnicos e administrativos, mas
as coleções. A dispersão de livros e periódicos por institutos, faculdades, depar-
tamentos e até laboratórios é um desastre tanto do ponto de vista interdiscipli-
nar como economicamente.

2.3.6 Bibliotecas Públicas '


2.3.6.1 Traduzida em língua portuguesa, a expressão public libraryperde
toda a sua força, em face das bibliotecas públicas mantidas pelos governos
estaduais e municipais, vítimas, em sua maior parte, da inoperante burocracia
governamental. Uma biblioteca pública, no sentido anglo-americano da expres-
são, nada tem a ver com uma repartição pública brasileira, "com livrõde ponto,
exp~diente, protocõio e manifestações de. apreço ao sr. diretor", para citar a
Poética de Manuel Bandeira.
2.3.6.2 Como recorda Jesse H. Shera, em sua já citada Introduction to
Library Science, a idéia da verdadeira biblioteca pública surgiu no começo do
século XIX, com o movimento liderado por Horace Mann e Henry Barnard, em
favor da educação para todos os segmentos da sociedade. Já havia as bibliote-
cas escolares, mas aqueles notáveis educadores queriam muito mais. Para eles
'

- 64-
r
1f.

0 programa nacional de educação somente se completaria com o estabeleci-


mento de pibliotecas para todo o ºovo, enfaticamente consideradas "a glória
suprema de nossas escolas públicas" 1ª. · .
2.3.6.3 No Brasil, o esforço-pelo desenvolvimento científico e tecnológico
levou os bibliotecários mais capazes para as bibliotecas especializadas, quase
todas mantidas por .e mpresas públicas, o que significava, até 1990, altíssimos
salários e até mordomias. O que há de errado em tudo isso é o exclusivismo,
pois os países mais desenvolvidos continuam apoiando as bibliotecas de outras
~alegorias, sobretudo as bibliotecas públicas, cujos objetivos são assim resu-
rbidos pelo' bibliotecário inglês .Bany Totterdell em obra coletiva que organizou,
Public Librmy Purpose: educação, informação, cultura e lazer 19 • ·
2.3.6.4 Com raríssimas exceções - dentre as quais destaco a Biblioteca
Municipal Mário de Andrade, de São Paulo, a ·Estadual do Paraná e a Municipal
de Mossará - as bibliotecas públicas brasileira~ são antes bolorentas reparti-
ções estaduais ou municipais do que, como na América do Norte e na Europa,
·órgãos dinamicamente integrados em programas sistemáticos de educação,
informação, cultura e lazer. Fossem nossas autoridades educacionais cons-
*
cientes da importância que as bibliotecas públicas podem exercer, por exem-
plo, na alfabetização de adultos e na educação permanente - importância
proclamada pela Unesco desde suas primeiras publicações e comprovada em
países dos mais diferentes níveis econômicos - e as campanhas nacionais
contra o alfabetismo não teriam sidó desfechadas, como ocorreu e ainda ocor-
re, sem a indispensável infra-estrutura bibliográfica e audiovisual: campanhas
depois das quais ocorreu o fenômeno da regressão ao analfabetismo.
2.3.6.5 ,A biblioteca infantil, a· biblioteca escolar, a biblioteca universitá-
ria, a biblioteca espec~ada e a biblioteca nacional são peças indispensáveis
numa rede bibliotecária que sirva de infra-estrutura ao sistema nacional âe
.~açãQ. A biblioteca pública, entretanto, é a mais importante de todas as
categorias, pois, além de seus objetivos específicos, pode complementar as
atribuições das demais categorias e até, com serviços adequàdos, substituir
,illgumas delas, como a infantil e aescolar. Como costumam di°Zer ·a s ingleses,
all things to all men is exactly what the public libraiy could be 20 •

~­ 1/ j) 1 f!J'T"''"'~
J 2.4 BIBLIOTECAS NO BRASIL

2.4.1 As primeiras bibliotecas brasileiras foram organizadas pelos Jesuí-


tas em seus colégios, "a começar pelo da Bahia, que - informa Serafim Leite
S. J . - , se no princípio tinha caráter privado, com o tempo se tomou pú blico~ 1 •
Estávamos nos meados do século XVI.

- 65
1

l
2.4.2 Também na Bahia surgiu a primeira biblioteca monástica, ~om a
fundação, é~m mosteiro beneditino, elevado à categoriãde abadia
eii11 584: a primeira do Brasil22 • Outras ordens religiosas foram se estabelecen-
do no Brasil ~ Franciscanos, Carmelitas, Oratorianos, Mercedários etc. - e,
com elas, novas bibliotecas. de acordo com a tradição de que c laustrum sine
anna.Tio, quasi castrum sine annamentario (claustro sem livros é como quartel
sem armamento).
2.4.3 Em 1811 inaugura-se a l2_iblioteca Pública da Bahia.três anos antes.
da abertura ao público êla Biblioteca Real, criada em 1810. A Biblioteca da
t Bahia tem aindã outra vantagem sobre a Biblioteca Real, porque esta resultou
de uma circunstância histórica - a transferência da familia real portuguesa
para o Brasil-, enquanto aquela surgiu de acordo com um plano muito bem
concebido, inspirado, ao que parece, pelas bibliotecas públicas de subscrição
'que ·apareceram durante o século XvIII nos Estados Unidos e na Europa.
- - -2.4-:-4 Escrito por Pedro Gomes Ferrão Castello Branco e impresso na
conhecida Typographia de Manuel Antonio da Silva Serva, o Plano para o
estabelecimento de huma bibliotheca publica na cidade de S. Salvador Bahia
de Todos os Santos impressionou o insigne jornalista e homem público ..!:!ipólito
José da Costa Pereira, que o reproduziu integralmente no jornal por ele editado
em Londres23 • Visitando a biblioteca, em 1817, o missionário francês Louis
François de Tollenare considerou-a "un établissement três remarquable"24 •
2.4.5 Somente em meados do século XIX é que foram surgindo outras
bibliotecas estaduais no Brasil, como as de Sergipe (1851). Pernambuco (1852).
Espírito Santo (1855). Paraná (1857). Paraíba (1858). Alagoas (1865), Ceará
(1867). Amazonas e Rio Grande do Sul (1871). Ao contrário do que ocorre na
maior parte dos Estados, a biblioteca pública é mantida pela prefeitura da capital.
2.4.6 Depois de alcançar períodos de esplendor, a maior parte dessas
bibliotecas entrou em decadência, vítimas, talvez, da burocracia governamen-
tal. Poucas chegaram a nossos dias renovadas e atualizadas. É o caso da
Biblioteca Municipal de São Paulo e da Biblioteca Estadual do Paraná. Elas
sobreviveram graças à clarividência do prefeito Fábio Prado - auxiliado, no
Departamento de Cultura, pelo escritor Mário de Andrade e, no setor de biblio-
tecas, pelo bibliotecário e bibliógrafo _B.ubens Borba de Moraes - e, no caso do
Paraná, do gÕvernador BentoMunhoz da Rocha e seu secretário Newton Carneiro.
2.4.7 Quando, em 1952 e 1953, tentei _em vão modernizar a Biblioteca
Pública da Paraíba, ouvi de ilustre paraibano radicado no Rio de Janeiro a
advertência de que o objeto era prematuro, porque seria preciso antes educar
o povo. Ele desconhecia a vitoriosa experiência de países nos quais a biblioteca
P.úbliça fl!..n ciona como instituição educativ~ muito mais dinâmica do que a
escola: a escola com suas-matrículas, se_!ls exames e outras exigências castra-
doras da aventura dê ser e conhecer. A maior parte das autoridades brasileiras

- 66-
,
l
- a níveis federal, estadual e municipal - ignora esse papel da biblioteca
pública: a "biblioteca pública como força viva para a educação popular", segun-
do um manifesto da Unesco25• ·
2.4.8 Embora a biblioteca nacional tenha objetivos distintos dos objetivos
da biblioteca públicá, como indicado em 2.3.5, a omissão das autoridades
explica por que nossa Biblioteca Nacional tenha passado por fases de esplendor
e decadência. Fundada em 1810, só quatro anos depois foi aberta ao público.
Acomodada no hospital da Ordem Terceira do Carmo, foi transferida para o
àetigo cemitério da mesma Ordem. Aí ficou até 1858, quando se mudou para
a 1Rua do Passeio, onde hoje funciona a Escola Nacional de Música.
2.4.9 Louve-se o diretor que promoveu essa transferência: o monge bene-
ditino Camilo de Monserrate (1818-1870). Muito melhor diretor foi o barão
Benjamin Franklin Ramiz Galvão (1846-1938), que o sucedeu no cargo; escre-
veu-lhe a biografia e mandou fazer-lhe o busto. Médico e helenista, historiador
e biógrafo, ;Ramiz Galvão foi diretor de 1870 a 1882. A Biblioteca Nacional deve-
lhe sua primeira grande reforma- consubstanciada no Decreto nº 6.141, de 4
de março de 1876-, os primeiros concursos público_s para selecionar bibliot~..:­
cários - chamados, na época. oficiais de biblioteca-, os Anais da Biblioteca
"FTaéional, iniciados em 1876, edições de obras raras - -como, em 1873, a dâ
f>rosopope;, dé Bento Teixeira e, em 1877, a da Arte da Grammatica da Língua
Brazilica da Nação Kiriri, do Padre Mamiani - e a monumental Exposição de
História do Brasil, de cujo Catalogo escreveu Fidelino de Figueiredo que "honra
a cultura biblioteconômica do tempo" 26 •
2.4.10 Outros grandes diretores da Biblioteca Nacional foram Manoel
Cicero Peregrino da Silva (1866-1956). Rubens Borba de Moraes (1899-1986) e
Jannice de Mello Monte-Mór, que a dirigiu de 1971a1976. Grandes escritores
a dirigiram: um deles, o notável romancista Raul Pompéia. Aqui, porém, men-
ciono somente os que promoveram grandes reformas.
2.4.11 O Brasil pode orgulhar-se de suas bibliotecas especializadas, como
. a Biblioteca Regional de Medicina, em São Paulo, a da Fundação Instituto
Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, a da Empresa Brasileira de Pesquisas Agro-
ecuárias (EMBRAPA) em Brasília, a do Museu Paraense Emílio Goeldi_, em
Belém. Infelizmente, não foram bem sucedidas as tentativas para o estabeleci-
mento de um sistema nacional de informação científica e técnica (SNICT) . O
Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação (IBBD), criado em 1954,
passou a denominar-se, em 1976, Instituto Brasileiro de Informação em Ciên-
cia e TecnologiaJIBICT). Ele possui a melhor biblioteca do País especializada em
biblioteconomia, bibliografia, documentação e ciência da informação. Publica,
desde 1972, a revista semestral Ciência da Informação. Com a extinção, em
a
1990, ~o Instituto Nacional do Livro, o IBICT passou ser o unico órgão

-u
govemamentãl de aglutinação de bibliotecários, documentalistas e cientistas
·aa mformação. Voltaremos ao assunto no capítulo 4 desta obra.

- 67-
""
1 11)

f' ,

. ,', l

2.5.: REFERÊNCIAS. BI;BLIOGRÁFICAS

2.5.1 DAS CITAÇÕES

1 PENNA, C. V. et alil. Serviços d'e informação ·e biblioteca: um manual para planejadores. Trad.
de Neyde Pedroso Póvoa, Rosmarie Appy, Maria Virgínia Leite Ribeiro e Norma Soares Rocha.
São Paulo: Pioneira, ·1979, p. 29.
2 ORTEGA Y GASSET, José. "Misión dei bibliotecario". Em suas Obras completas .. ?ª ed. Madrid:
Revista de Occidente, 1970, t. V, p. 229. Para outras edições desta conferência de Ortega y
Gasset ver 4.6.1, referência nº 3.
3 BORGES, Jorge ):.,uis. "Junio, 1968". Em seu: Elogio de la sombra. Buenos Aires: Emecé, 1969,
p. 91. Também em suas Obras completas. Buenos Aires: Emecé, 1974, p. 998. Ed. brasileira:
Elogio da sombra [~]Perfis. Trad. d.e Carlos Nejar e Alfredo Jacques, 2ª ed. Porto Alegre: Globo,
1977, p. 32.
4 FONSECA, Edson Nery da. "Um novo conceito de biblioteca e uma nova missão para o bibliote-
cário". Em seu: Problemas brasileiros de documentação. Brasília: IBICT, 1988, pp. 152-57.
5 JAUSS, Hans Robert et alii. A literatura e o leitor; textos de estética da recepção. Seleção,
coordenação e tradução de Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
6 SHERA, .Jesse H. Introduction to Library Science; Basic Elements of Library SeIVice. Littleton,
Col., Libraries Unlimited,@Z§:i p. 57. ,
7 ORTEGA Y GASSET, José. "Pidiendo una biblioteca". El Imparcial (Madrid) 21 febrero 1908.
Também em suas Obras completas, 7ª ed. Madrid: Revista de Occidente, 1966, t. 1, p. 85.
8 SHERA, Jesse H. Loc. cit., nº 6. ·
9 FRACCAROLI, Lenyra C. "Biblioteca Infantil do Departamento Municipal de Cultura". Revista
do Arquivo Municipal (São Paulo), 64: 291-324, 1940.
,10 FRACCAROLI, Lenyra C. Bibliografia de literatura infantil em língua portuguesa. São Paulo:
Prefeitura do Município de S. Paulo, 1953.
11 FRACCAROLI, Lenyra C. A biblioteca infantil: organização e funcionamento , sua influência n.a
sociedade. San José: Universidade de Costa Rica, 1956.
TAVARES, Denise Fernandes. Sugestões para organização duma pequena biblioteca infantil.
Salvador: Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, 1953.
12 VALLADÃO, Haroldo. O ensino e o estudo do direito, especialmente do direito internacional
privado no velho e no novo mundo: São Paulo: Revista dos Tribunais, 1940, p. 202.
13WILSON, E. Bright, Jr. Anlntroduction toScientificResearch. Nova York, McGraw-Hill, 1952, p. 10.
14 YOUNG, Heartsill, ed. The ALA Glossary of Library and Information Science. Chicago, American
Library Association, 1983: "Special Library. A library established, supported and administered
by a business firm, private corporation, association, government agency, or other special-
interest group or agency to meet the information needs of its members or staff in pursuing the
goals of the organization. Scope of collections and services is limited to the subject interests of
the host or parent organization". ·

- 68-
,
11,.
15 ASSOCIATION FRANÇAISE DE NORMALISATION, Paris. Vocabulaire de la documentation .
Glossal}' o[ libral}' terms, 2ª éd. Paris: AFNOR. 1987: "Bibliothêque spécialisé. Special Jibrary.
Bibliothêque consacrée à une discipline ou à un domaine part!culier de la connaissance. Note:
dans certains cas, le terme 'bibliothêque spécialisée' peut être appliqué à une bibliothêque
consacrée à une catégorie spécifique d'usagers ou de documents". '
16WERSIG, Gemot & NEVELING , Ulrich, ed. TerminologyofDocumentation. Paris: Unesco, 1976,
p. 179: "Special LibralJ'... (1) A 'library' primarily serving one discipline or particular field ... (2)
A 'library' primarily- serving a specific category of user... (3) A 'library' primarily devoted to a
specific fom1 of doc11ment ".
lf GOODRUM, Charles A. "National Libraries". ln: ALA World Encyclopedia of Library and lnfor-
9 mation Services, 2ª ed. Chicago: American Library Association, 1986, pp. 580-92.
· LINE, Maurice B. & LINE, Joyce, ed. National Libraries. Londres: Aslib, 1979-79. 2 v. (Aslib
reader series, v. 1e6). V. 1, 1955-1976; v. 2, 1977-1985.
18 SHERA, Jesse H. lntroduction to Library Science. Op. cit., nQ 6, p. 37.
19 TOTIERDELL, Barry, ed. Public Library Purpose, a Reader. Londres: Clive Bingley; Hamden,
Conn., Linnet Books, 1978, p. 11. ,
20 TOlTERBELL, Barry, ed. PÚblic Libral}' Purpose, a Reader. Op. cit., nQ 19, p. 10.
21 LEITE, Serafim, S.I. Smria Histórica da Companhia de Jesus no Brasil (Assistência de Portugal}
1549-1760. Lisboa: Junta de Investigações do Ultramar, 1965, pp. 109-13.
22 ENDRES, José Lohr, O.S.B. A Ordem de São Bento no 'Brasil quando Província, 1588-1827.
Salvador: Editora Beneditina, 1980, passim.
23 CORREIO Braziliense (Londres). 7(39): 219-223, agosto, 1811.
24 TOLLENARE, Louis-François de. Notes dominicales. Édition et commentaires ... par Léon Bour-
don. Paris: Presses Universitaires de France/Centre Culturel Portugais, Fondation Calouste
Gulbenkian, 1971-73, t. III, p. 744. ,
25 UNESCO. ta biblioteca ptíblica, fuerza viva para la educación pop11lar. Paris, 1959.
26 FIGUEIREDO, Fidelino de. "Da bibliografia geral em Portugal e no Brasil". En~ seu: Aristarchos;
quatro conferencias sobre methodologia da critica !iteraria no Departamento Municipal de
C111t11ra de São Paulo, 2ª ed. rev. Rio de Janeiro: H. Antunes, 1941, pp. 35-67.

2.5.2 DAS OBRAS RECOMENDADAS

AFFEULPIN, Gustave. La soi-disant 11topie d11 Centre Bea11bourg. Paris: Entente, 1976.
BARLOW, Richard. Team Librarianship; lhe Advent of P11blic Libral}' Team Strnct11res. Londres:
Clive Bingley, 1989.
BRADFORD, S. C. Doc11mentação. Trad. de M. E. de Mello e Cunha. Rio de Janeiro: Fundo de
Cultura, 1961.
BRIQUET DE LEMOS, Antonio Agenor. A Portrait o[ Librarianship in Developing Societies. Cham-
paing/Urbana: University of Illinois, Graduate School of Library and Information Science,
1981 (Occasional papers nQ 148).
CANFORA, Luciano. La véritable histoire de la bibliothêque d'Alexandrie. Trad. de l'italien par
Jean-Paul Manganaro et Danielle Dubroca. Paris: Desfonquêres, 1988, Ed. brasileira: A
biblioteca desaparecida; histórias da biblioteca de Alexandria. Trad. de Federico Carotti. São
Paulo: Companhia das Letras, 1989.

- 69 -
1

l COBLANS, Herbert. Librarianship and Documentation, an Intemational Perspective. Londres: A.


Deutsch, 1974.
EL-ABBADI, Mostafa. The Life and Fate ofthe Ancient Library ofAlexandria. Paris: Unesco, 1990.
ELLSWORTH, Ralph E. La biblioteca escolar. Trad. de Andrés Pirk. Buenos Aires, Troquei, 1971.
ESCOLAR SOBRINO, Hipólito. Planeamiento bibliotecario. Madrid: Asociación de Bibliotecarios,
Archiveros y Arqueólogos, 1971.
- Historia de las bibliotecas. Madrid: Fundación Gennán Sánchez Ruipérez y Ediciones Pirámide, 1985.
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das e descentralizadas. São Paulo: Pioneira, 1980.
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KEMP, D. A. The Nature of Knowledge; An Introduction for Librarians. Londres: C. Bingley; Ham-
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LINE, Maurice B.& LINE, Joyce, ed. Natíonal Libraries. Londres: Aslib, 1979-87. 2 v.
McGARRY, K. J. Commiínication Knowledge and lhe Librarian. Londres: C. Bingley; Hamden,
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MARTINS, Myriam Gusmão de. Planejamento bibliotecário para alunos de graduação em bibliote-
conomia. São Paulo: Pioneira, 1980.
MILANESI, Luiz. O que é biblioteca. São Paulo: Brasiliense, 1983. (Primeiros passos, 94).
- Ordenar para desordenar; centros de cultura e bibliotecas públicas. São Paulo: Brasiliense, 1986.
MOLLARD, Claude. L'enjeu du Centre Georges Pompidou. Paris: Union Générale d'Édition, 1976.
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Estudante do Brasil, 1943, 2ª ed. Brasília: Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal, 1983.
- Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo:
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OLIER, J. H. d'. La planillcatíon des infrastructures nationales de documentation, de bibliothêques
et d'archives; esquisse d'une politique générale. Paris: Unesco, 1974.
PENNA, C.V. et alii. Serviços de informação e biblioteca: um manual para planejadores. Trad. de
Neyde Pedroso Póvoa, Rosmarie Appy, Maria Virgínia Leite Ribeiro e Norma Soares Rocha.
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RIGAUD, Jacques. La culture pour vivre. Paris: Gallimard, 1975.
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da Paraíba; Mossará: Escola Superior de Agricultura, 1978.
SHERA, Jesse H. Introduction to Library Scíence. Op. cít., nº 6.
SUAiDEN, Emir José. Biblioteca pública brasileira: desempenho e perspectiva. São Paulo: Livros
Irradiantes, 1980.
THOMPSON, James. Library Power; A New Philosophy of Librarianship. Londres: C. Bingley, 1974.
-A History ofthe Princíples o{Librarianship. Londres: C. Bingley; Hamden, Conn., Linnet Books, 1977.
- The End of Líbraries. Londres: C. Bingley, 1982.
THOMSEN, Carl et alii. La biblioteca publica y la educacíón de adultos. Paris: Unesco, 19$0.
TOTIERDELL, Barry, ed. Public Library Purpose, a Reader. Op. cít., nº 19.
UNESCO. La biblioteca publica, fuerza viva para la educación popular. Paris: 1949.

-70-
t

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Chicago: American Library Assoclation, 1986. -
WILSON, Louis R. & TAUBER, Maurice F. La biblioteca unlversitaria, su organizaclón, adminlstra.-
ción y funciones. Trad. al espaflol de la 2ª ed. por Jorge Aguayo. Washington: Union Pana-
mericana, 1963.

-71 -
1

Que otros se jacten de las páginas que han escrito;


a mí me enorgul/ecen las que he leído.
Jorge Luís Borges. "Un ledor''. Elogio de la sombra, 1969.

.
A Leitura. 1892
José Ferraz de ALMEIDA JÚNIOR, 1850-1899
Óleo sobre tela. 95x41 cm.
Pinacoteca do Estado de São Paulo
,
l

,.1 AS PALAVRAS LEITOR E LEITURA J


3.1.l Ambas vêm do verbo latino legere, com a dupla significação de
"percorrer com a vista e interpretar o que está escrito", tanto quanto de "reci-
tar, prelecionar e lecionar". Leitor vem de lector, lectoris, de lectum, que é o
supino de legere. Leitura vem do latim tardio lectura, significando originalmen-
te comentário (no latim clássico, lectio, lectionis). Retoma-se este sentido origi-
nal quando se fala em ler determinado acontecimento ou a própria história. Em
obra clássica sobre A arte de ler, Émile Faguet recorda que, em latim, legere
tanto significa ler como colher 1 •
3.1.2 ~ corresponde ao ~emão Leser, ao espanhol lector, ao francês
lecteur e ao inglês reader. Em nossos dias, a palavra leitor vem sendo substi-
tuída por .usyário, em Portugal estente (em aj~mão Benu~er, em es2anh9l
usuario, em francês usage e em i_nglês user; anote-se como equivalentes, no
inglês dos Estados Ullidos da América, as palavras .vatron e clit;!.1!_ 2 .) Prefir..Q_
Ç.Q!ltinuar usando a palavra leitor, fazendo minhas, a propósito, estas conside-
rações do bibliotecário argentino Domingo Buonocore em seu Diccionario de
bibliotecologia:
3.1.3 "Com referência a uma biblioteca, entendemos que os usuários são
aqueles que utilizam habitualmente um ou mais de seus serviços. Entretanto,
o termo usuário, de sentido lato, não se identifica em sua equivalência, com a
palavra leitor. Entre ambos, parece-nos que existe uma relação de gênero e
espécie. Usuário, de acordo com este critério, seria a pessoa que faz um apro-
veitamento intensivo, ativo e assíduo, não só do serviço de leitura, mas também
de outros que as bibliotecas proporcionam, como o de fotocópia, bibli,ografias
especializadas, traduções, resumos analíticos etc. O leitor, em troca, é o que
somente se utiliza do livro - regular ou esporadicamente - seja na mesma
biblioteca, isto é, in situ, ou fora dela, por meio do empréstimo domiciliar. (... )
Em síntese, no campo da informação, poderíamos afirmar com propriedade que
todo leitQr é, só por este fato, um usuário, mas a recíproca nem sempre é exata, ,
o
'õis às vezes usuário di~pensa o serviço ·específico de leitura para servir-se
de outros" 3 •
Ili
,
1 ·---
'· 3.1.4 Além do que - acrescente-se a Buonocore -, para sermos coeren-
tes em matéria de terminologia, precisaríamos começar trocando a palavra
biblioteca, por ser, etimologicamente, lugar em que são reunidos livros, organi-
'Zãdc;s para consulta7 por expressões mais abrangentes, como serviço de docu-
men táção ou cen tro cultural. Neste ponto , prefiro o tradicionalismo terminoló-
gico dos Estados Unidos: embora reunindo preciosa documentação iconográfi-
ca, audiovisual, arquivográfica e museológica, e mesmo depois de tomar-se
biblioteca nacional, a grande e prestimosa Biblioteca do Congresso continuou
l a chaniar-se Library of Congres~, sendo seu diretor the Librarian of Congress.
~ 3.1.5 Em biblioteconomia, a palavra leitor designa tanto o 'Usuário dos
serviços oferecidos pelas bibliotecas como o aparelho que amplia microformas
(microfilmes e microfichas), para que possam ser lidas num vídeo ou copiadas
em papel. Alguns aparelhos apenas permitem a leitura, sendo, por isso , .c ha-
mados leitoras. de microformas (microform readers}, enquanto outros possibili-
tam a cópia ampliadà: as leitoras-copiadoras de microformas (microform rea-
ders -copiers).
3.1.6 Fora da biblioteconomia, a palavra leitor (ou lente), tem outras
acepções: nas upiversidades medievais indicava os professores, porque a trans-
missão de conhecimentos era feita na base da leitura dos textos; nas universi-
dades modernas indica o professor estrangeiro, comissionado para erisinar a
língua e a literatura de seu país; nas editoras, costuma-se chamar de leitor ao
que tem a incumbência de ler e julgar as obras inéditas propostas; nos estabe-
lecimentos gráficos, o leitor é aquele que lê em voz alta as provas tjpográficas,
1; 11 enquanto o revisor anota as emendas das erradas; na hierarquia eclesiástica,
o leitor é o diácono que, tendo recebido as chamadas ordens menores, pode
1. exercer, entre outros ministérios, o de ler o Evangelho durante as celebrações
litúrgicas; nos seminários e mosteiros, a palavra designa aquele que lê alto
durante as refeições, em escalas semanais; em informática, a palavra ficou
ainda mais polissêmica, requerendo suas acepções' um parágrafo especial.
3.1. 7 Aurélio Buarque de Holanda Ferreira consigna em seu Novo dicio-
nário da língua portuguesa apenas a forma feminina, para a qual fornece uma
só acepção4 • Mas no Glossárjo de informática, de Paulo César Bhering Cama-
rão, estão consignadas nada menos que quatro formas masculinas e trinta e
uma na feminina. Comecemos com esta, que corresponde ao inglês reader e
designa dois dispositivos: o "que converte informação numa forma de armaze-
namento para outra forma de armazenamento" e "uma parte do escalonador
que lê um fluxo de entrada pará o sistema" 5 • Mas no índice remissivo portu-
guês-inglês da citada obra encontraremos, além da forma feminina simples,
trinta formas compostas 6 • No gênero masculino existem apenas quatro formas
compostas: leitor (acompanhador) de curva (curve follower). leitor de cassete
(cassete reader), leitor/gravador de disquete (diskette drive) e leitor/interpreta-
dor(reader/interpreter) 7 •

- 76 -
',,,

l
, 3.1.8 Voltando às definições enunciadas em 3.1.1, esclareço que embora
seja válida a moderna utilização da palavra leitura como cosmovisão ou metá-
fora - "nova leitura da Bíblia", "leitura da televisão pelos analfabetos" - neste
livro.se considera apenas a "leitura do escrito"ª. Sendo apenas uma das moda-
lidades de leitura,. nem, por isso é limitada, . na medida em que .pode envolver
outros septidos e não apenas o da visão. Assim como o genial escultor inglês
Heniy Moore disse a Gilberto Freyr~ que via a forma a ser esculpida como que
~palpando-a, certas leituras envolvem (ou dão a impressão de envolver) o tato
q até ª .audição e o olfato . A
. obra ~ Marcel Prou~,_por exeII1plo, é da~ que
ffiroporcio:µam leituras assim envolventes e com9 que gest.altianas 9 •

3.2 LEITOR E NÃO-LEITOR

3.2.1 Leitor

3.2; 1.1 A noção de que "todo ser tem uma finalidade'', como dizia Aristó-
teles, é freqüentemente esquecida na chamada "luta pela vida" (strugle for life):
nesta "agitação feroz e sem finalidade" que é a vida, segundo um dos circuns-
tantes do impressionante poema de Manuel Bandeira Momento num café.
Vejâ-se, por exemplo, o ·que aconteceu com o Natal: num de seus primeiros
poemas - O que fizeram do Natal - Carlos Drummond de Andrade manifesta
sua perplexidade ·em face da prevalência das festas mundanas sobre a teofania
do presépio.
3.2.1.2 O mesmo acontece com o livro e com a biblioteca em face daquele
para quem livro e biblioteca existem: o leitor. Já vimos, em 1.2, citando Platão,
-que o verdadeiro livro é aquele que acrescenta algo a quem o lê: algQ que
contribui para a fõiTilação,· a informação e/ õu o simples prazer do leitor. Em
Õbra que-tem o Significativo título O prazer do texto, RÕland Barthes escreveu:
"Texto de prazer: aquele que contenta; enche, dá euforia; aquele que vem da
cultura, não rompe com ela, está ligado a uma prática confortável da leitura.
Texto de fruição: aquele que coloca em situação de perda, aquele que descon-
forta (talvez até chegar a um certo aborrecimento), faz vacilar as bases históri-
cas, culturais, psicológicas, do leitor, a consistência dos seus gostos, dos seus
valores e das suas recordações, faz entrar em crise a sua relação com a lingua-
gem"10.
3.2.1.3 Entretanto, como dizia Ortega y Gasset em 1935, muitos dos,
livros que se publicam são "inúteis ou estúpidos" 11 • Já no Fedro, citad_o expres-
samente por Ortega, Platão falava de tais imposturas, nas quais se envolvem
hoje autores, editores, livreiros, publicitários e até fãbricantes de camisetas e
outras utilidades, com o grandiloqüente auxílio dos meios de comunicação social.

-77-
1

l
~+~t,d.
- -~ - -~-:~
3.2.1.4 Também as bibliotecas freqüentemente esquecem sua finalidade.
Como surgiraiilêiii. época de livros raros e nas quais a cultura era privilégio de
elites governamentais, religiosas ou econômicas, yoltaram-se antes para a pre-
servação do que para a utilização dos acervos. O advento das democracias e o
progresso da indústria gráfica contribuíram para a valorização · do leitor-º.!!
usuário. A educação e a cultura não são mais privilégiÕde elites, e os livros -
com exceção dos raros ou valiosos pela data em que foram impressos e/ou pelo
requinte de sua produção gráfica - ~arn-se acessívei§, graças à revolução.

il 11
11 ~ ~
. --da brochura (paper back) a que se fez referência em 1. 3.6 .
3.2.1.5 O leitor passou a ser o elemento mais importante da biblioteca:
para ele é que os livros e outros documentos bibliográficos e audiovisuais são
1! 1 . ..i selecionados, adquiridos, classificados, catalogados, encadernados e colocados
[' 1 -,,, nas vitrinas, estantes, arquivos etc. Pens~! gue a biblioteca possui outro obje-
i'1, 'L _tiva que não seja_o_~eitor ~ incorrer n~ burocratizante - o da administra-
:-f~ ção com um fim em si mesma - ou biblioteconomizante: o da biblioteca para
j o bibliotecário. Foi o que me levou a definir biblioteca menos como coleção de
~ livros do que como assembléia de leitores: defini_ção i_gspirada na da Igreja
C) c omo povo de-Deus - a que emanou do concílio Vaticano II - e não como
estrutura exclusivamente clerical 12 •
3.2. 1.6 Até meados do século XIX, predominavam na biblioteca as ativi-
dades de aquisição e organização. Foi exatamente em ~ um ano impor-
tantíssimo para a biblioteconomia, com a E.!1meira_reunião nacional de biblio-
tecários dos Estados Unidos, durante a qual se fundou a American Library
a
ÃSSõciatiõn, e publicação tanto da Classificação Decimal, de Melvil Dewey,
como das Regras para o Catálogo Dicionário, de Charles Ammi Cutter - que o
bibliotecário Samuel Sweet Green proferiu seu histórico discurso ''The Desira-
bleness of Establishing Personal Intercourse and Relations between Librarians
and Readers in Popular Libraries" 13 : o texto germinal dos posteriormente cha-
li mados Serviços de Referência. Em 1884 Melvil Dewey nomeava os dois primei-
j ros bibliotecários de referência para a biblioteca da Universidade Colúmbia, em
regime de dedicação exclusiva 14 •

3 3 .2.1. 7 Naturalmente moderado em seus começos - limitando-se a com-


pilar bibliografias e a orientar o leitor, quando solicitado-, o serviço de refe-
' rência d~olveu-se de modo notável, ~dotando uma atitude que um de seus
~ , historiadores - Samuel Rothstein - define como liberal e se exerce por full
inforrnation service 15• Utilizando-se de todos os meios de comunicação - do
j- J .telefone ao f~ - OSerViÇO de referência atua hoj~anto na Simples resposta a
j uma pergunta como no f.Q_m ecJmento de textos e na exposição sobre o estado
atual de ~ 2roblema (state-of-the-art r eport}. Nele nasceram os modernos
serviços de alerta (alerting services}, definidos como fornecimento a leitores
potenciais de doêumentos relevantes para seu trabalho, tanto quanto os de

- 78 -
,
t
disseminação seletiva ~a informação (selective dissemination of inforrnation},
que enviam documentos, referências, res~mos e êlaâos selecionados de acordo
com o perfil de interesse dos usuários. Mencione-se também, como aperfeiçoa-
menrodo serviço de r iferência, o conceito de centro de orientação (referrai cen-
tre). O inforrnaüon and referrai service (abreviadamente conhecido como I&R),
envia o leitor a oütras bibliotecas ou serviços nos quais ele encontrará respostas
mais adequadas às suas indagações, fazendo contatos prévios e mesmo contra-
tando tarefas específicas.
l 3.2.1.8 Não se pense, porém, que o serviço de referência é útil apenas em
bíbliotecas especializadas e universitárias. De seu idealizador - Samuel Sweet
Green - recorde-se que era bibliotecário da Worchester Free Library. Recorde-
se também o envolvimento das bibliotecas públicas nos programas de educa-
ção de adultos e de educação permanente, que é uma das atribuições regulares
do serviço de referência; atribuições às quais se somam, como assinala Charles
A. Bunge, a assistência aos econômica e educacionalmente desfavorecidos, aos
idosos, às pessoas com disfunções psicológicas e de comportamento etc 16 •

3.2.2 Não Leitor ~

no sentido filosófico de estar em ação e não


em potência - existe or!_eilor virtu"f!J o que por diferentes motivos não utiliza
os serviços das bibliotecas. Compe e à biblioteca pública transformar os leito-
res virtuais em leitores atuais. Se, como escreveu o bibliotecário inglês Barry
Totterdell, all things to all men is exactly what the publiclibrary should be 17 , é
preciso que os leitores virtuais sejam incluídos nos programas educacionais da
biblioteca pública. Eles não - perdoe-se a comparação talvez irreverente -
como os doentes e pecadores aos quais foi prometido o reino dos céus: mais
para eles do que para os sadios e santos é que Deus enviou o Salvador (cf.
Mateus9: 12-13; Marcos2: 17; Lucas5: 31-32).
3.2.2.2 Classificando os leitores virtuais em 4 grupos, Hipólito Escolar
Sobrino dedica-lhes várias páginas de sua obra EI Lector. La Lectura. La Co-
municacion18. São considerações muito lúcidas e oportunas de quem se dedi-
cou à educação de adultos, às bibliotecas e aos autores/leitores de uma grande ·
editora, tendo encerrado sua carreira profissional como diretor /reformador da
Biblioteca Nacional de Madrid.
3.2.2.3 Para Escolar Sobrino a escala mais baixa e distante é a dos "nâo
leitores em absoluto": os analfabetos e os que possuem deficiência da visão. No
Brasil, infelizmente, procura-se combater o analfabetismo com "campanhas"
puramente cenográficas, ao fim das quais se apresentam estatísticas fantasio-
sas: O resultado é a regressão ao analfabetismo, pela inexistência de bibliote-

-79-
1

l
, cas fixas .e itinerantes, comQ, por exemplo, as mantidas em Portugal pela bene-
mérita Fundação ·Calouste Gulbenkian. Todas as publicações da Unesco sobre
o assunto insistem na importância das bibliotecas em programas nacionais de
alfabetização .de adultos e de educação de base 19 • Mas o nosso Ministério da
Educação e Cultura sempre fez ouvidos de mercador e continua desfechando
"campanhas" dispendiosíssimas e - o que é pior - inócuas.
3.2.2.4 Para os deficientes de visão existem vários recursos, largamente
utilizados pelas bibliotecas públicas, sendo que, nos· Estados Unidos, é a pró-
pria Biblioteca do Congresso que coordena a rede nacional de recursos táteis e
fônicos para os deficientes de visão: o sistema de leitura e escrita inventado
pelo educador francês Louis Braille (1809-1852) e os livros falados ou livros
falantes (talking books).
3.2.2.5 No segundo grupo de leitores virtuais Escolar Sobrino inclui os
1 j
que não dispõem de bibliotecas nos lugares onde moram e os que se encontram
hospitalizados, aquartelados, embarcados ou presos. Também compete à bi-
blioteca pública manter seiviços de extensão em zonas marginalizadas, hospi-
tais, quartéis, navios e prisões.
1.
3.2.2.6 O grande poeta Mário Quintana disse uma vez que os verdadeiros
analfabetos são os que sabem ler mas não lêem20 • Destes podemos dizer que
são vítimas dos meios de comunicação social: jornais, semanários, rádio e,
1,. 1·
1
sobretudo, televisão. Não consideramos tais meios como maus em si mesmos,
;l:f pois são, ao contrário, potencialmente muito válidos e até poderiam contribuir
1
para transformar leitores virtuais em atuais. Mas o modelo norte-americano
11..•

11: l seguido infelizmente pelo Brasil é responsável pela mediocrização em massa


das chamadas audiências. .
3.2.2. 7 Os que sabem ler mas não lêem constituem o terceiro grupo da
classificação de não leitores de Hipólito Escolar Sobrino. Trata-se, 'irlfelizmente,
de um grupo "muito numeroso e que se abre como um leque, alcançando todas
as classes sociais", comó ele mesmo salienta. E no quarto grupo estão os que
gostam de ler mas não são usuários de bibliotecas públicas, porque possuem
suas próprias bibliotecas21 •

3.3 LEITURA

3.3.1 Aspectos Gerais

3.3.1.1 Há na leitura - parafraseemos o Hamlet de Shakespeare - muito


mais coisas do que ensina a psicolingüística experimental, em seu afã de redu-
zi-la a simples resposta a um estímulo; ou a teoria da comunicação, que a
· define como segunda etapa do processo emissão/recepção; ou, ainda, os adep-

-80-
l
to~ do marketing cultural, para os quais o ato de ler equivale à consumação do
texto.
3.3.1.2 Todas estas definições de leitura pecam pelo reducionismo. Ler é
muito mais do que responder a um estimulo psicofisiológico, receber uma
mensagem ou consumir um bem cultural. Ternos de reconhecer, entretanto,
que das diferentes teorias da leitura emanaram estudos e pesquisas de grande
interesse tanto para a biblioteconomia, em particular, como para o bem-estar
individual e social, a ciência e a cultura, em geral.
\ 3.3.1.3 A psicolingüística experimental, por exemplo, forneceu elementos
hecisivos para o tratamento médico de dislexias, para a alfabetização de crian-
ças e adultos, a leitura dinâmica etc. Todos os aspectos da leitura são de
interesse para o bibliotecário; mas dois deles prevalecem sobre os demais: o
~rgonômico e o bibliográfico.

\ 3.3.2 Aspectos Ergonômicos

3.3.2.1 Ergonomia - palavra não dicionarizada por Aurélio Buarque de


Holanda Ferreira - é a ciência da integração do homem a equipamentos e
objetos por ele utilizados no trabalho, no estudo e no lazer. O planejamento de
bibliotecas suscita problemas ergonôrnicos corno, pór exemplo, os modelos de
estantes, balcões, mesas e assentos, o grau de luminosidade etc.
3.3.2.2 "Um bom livro não basta para garantir uma boa leitura. Por
melhor que seja o livro, uma poltrona ou cadeira desconfortável e urna ilumi-
nação inadequada podem transformar um prazer num pesadelo. E não só para
os ávidos devoradores de romances. Quem não lê um jornal, urna revista ou
um gibi, nem que seja ocasionalmente?"
3.3.2.3 "Ler não consiste somente em folhear o objeto lido. A leitura é
precedida por urna série de atividades conexas que visam encontrar condições
confortáveis: urna posição agradável e urna iluminação que não incomode."
3.3.2.4 "Essa procura do bem-estar para a leitura é em geral inconscien-
te. Não reconhecer essa atividade dificulta a escolha dos melhores acessórios.
Mas urna condição imposta pode, às vezes facilmente, ser convertida num
ambiente adequado."
3.3.2.5 "As premissas são simples. 'Uma poltrona deve, antes de tudo,
permitir que a coluna permaneça em posição ereta', diz o reumatologista José
Knoplich, presidente do Centro Brasileiro de Estudos da Coluna Vertebral.
Segundo ele, 'a posição sentada é a mais confortável, com apoio nas costas e
sem deixar a cabeça cair, senão pode dar dor de cabeça'."

- 81 -
1
1

COMO LER A BÍBLIA


Por ser pesada, a bíblia
deve estar apoiada numa
mesa e, se possível,
inclinada, para que o leitor
possa manter a coluna
ereta. As letras pequenas
exigem uma iluminação
11111
mais intensa, e uma
1
proximidade maior do leitor.
1

COMO LER UM LIVRO


A poltrona deve permitir ao
''I leitor manter a coluna ereta
e apoiar os braços nos
encostos laterais, para
segurar o livro
confortavelmente. A
iluminação pode vir de trás
da poltrona, mas não deve
provocar sombras nem
reflexos.

COMO LER UM JORNAL


O importante é evitar
contra-luz e sombras.
Por ser leve, o jornal pode
ser segurado sem qualquer
auxílio. Para leituras
prolongadas, no entanto, se
recomenda a mesma
atenção que se deve tomar
ao ler um livro.

-82-
1

t
3.3.2.6 "Quanto à iluminação, o oftahnologista Paulo Augusto de Arruda
Mello diz que 'a luz deve ser difusa, nem muita nem pouca'. Nesse caso, se
considera a luz que chega à superfície do papel, e não a potência da lâmpada.
Quanto mais distante esteja a lâmpada do livro, menor a intensidade da luz
incidente."
3.3.2. 7 "Além desses princípios básicos, há outras recomendações que
podem tomar a leitura mais agradável. O leitor deve evitar se curvar sobre o
livro. Se esse for muito pesado, como a Bíblia, deve ser colocado sobre uma
n~esa e, se possível, inclinado. Para isso, existe um §Uporte especial, chan_iado
atril. Leituras prolongadas também devem ser feitas sobre uma mesa."
- - 3.3.2.8 "É importante que a poltrona, ou a cadeira, seja proporcional ao
tamanho da pessoa", diz o Dr. Knoplich. Senão, o braço pode ficar numa
posição ruim para segurar o livro. No Brasil ainda não se faz muito uso da
ergonometria para desenvolver formas mais adaptadas ao corpo humano.
3.3.2.9 "Há outros detalhes de iluminação que também podem facilitar a
leitura. Quanto mais próximo o livro estiver dos olhos, mais cansativa se toma
a leitura. Por isso, convém segurá-lo a uma distância de 37cm a 40cm, a partir
da ponta do nariz, se bem que isso possa variar com a idade. Livros com letras
pequenas exigem uma aproximação maior, e mais luz também. A iluminação
deve evitar sombras ou reflexos nas páginas do livro. 'O contraste claro/escuro
cansa a visão', diz o Dr. Arruda Mello. Por esse motivo, não é recomendável
apoiar o livro em superfícies pretas."
3.3.2.10 "Um modo de se controlar a iluminação é afastar ou aproximar
o foco de luz do livro. Se a luminária for fixa, pode-se optar por um interruptor
com potenciômetro, que permite o controle da intensidade da luz."
3.3.2.11 "Ao contrário do que muita gente pensa, ler com excesso ou falta
de luz não causa nenhuma lesão ao olho. Uma iluminação equilibrada, no
entanto, permite uma leitura mais agradável e prolongada. Já a posição inade-
quada do corpo, se freqüente durante um longo período, pode levar a doenças
de postura."
3.3.2.12 "Qualquer objeto a menos de seis metros precisa ser focalizado
pelo olho. Para isso, se usa o chamado mecanismo de acomodação, que atua
sobre o músculo ciliar e o cristalino. Quanto menos e mais próximo o objeto,
mais difícil e cansativa se toma a focalização. 'Esse mecanismo decai natural-
mente com a idade, e não há nada que se possa fazer", diz o Dr. Arruda Mello.
Pessoas com mais de quarenta anos normalmente precisam de óculos para ler."
3.3.2.13 "O tipo de luz (fluorescente, halógena ou a filamento) também
não tem nenhuma influência na leitura. Mas a lâmpada a filamento esquenta
mais do que as outras, e isso pode incomodar se a luz estiver próxima. O foco
de luz, porém, não deve incidir diretamente sobre o olho."
3.3.2.14 "A leitura pode ser feita na cama, mas isso implica normalmente
num maior esforço de alguns músculos, que ficam contraídos. Toma-se necessário,

-83-
1
,.J
,
l

~ 1
POSIÇÃO
RECOMENDÁVEL
~
-1
Sente recostado em uma
almofada que apare das
~~ nádagas ao início do

~~_/
pescoço, e procure deixar
os braços apoiados.

~ POSIÇÕES NÃO
RECOMENDÁVEIS
De bruços com os cotovelos
apoiados no colchão:
prejudica a região lombar
e cervical e pode,
ocasionalmente, dar dor de
cabeça.

De lado apoiando a cabeça


com a mão: contrai a
musculatura dos braços e
entorta vários pontos da
coluna.

-84-
1

l
então, mudar constantemente de posição, para relaxar os músculos. Mesmo
assim, algumas posições na cama não são recomendáveis. Se praticadas du-
rante um longo período, podem causar problemas de postura"22 •

~ 3.3.3 Aspectos Bibliográficos

. 3.3.3.0 É tradicional, em bibliotecas, a distinção entre leitura formativa,


il~ormativa e recreativa. Tal distinção, porém, não é rígida, sendo possível
cblher informação objetiva em leitura formativa e recreativa, tanto quanto en-
riquecer a personalidade em leitura recreativa e até utilizar leitura informativa
e formativa como distração. Exemplos de casos mistos serão apresentados na
análise de cada tipo de leitura.

\ 3.3.1 Leitura Informativa

3.3.3.1.1 Também chamada objetiva, ou instrumental, ou ainda, utilitá-


ria, a leitura informativa é a que se faz com objetivo de estudo, pesquisa e
informação. Hipólito Escolar Sabrina observa que a leitura informativa é a que
proporciona mais beneficias sociais, exemplificando: a leitura do professor be-
neficia os alunos, a do médico, seus clientes, a do engenheiro proporciona o
bem comum etc23 •
3.3.3.1.2 Abordando magistralmente o fenômeno da criação científica e 0
técnica, Abraham Moles recorda, em sua obra Sociodinâmica da cultura, que ~
para estar atualizado sobre determinada questão deve-se proporcionar ao pes- ~
quisador o que ele. chama tempo de documentação • O que nos leva a citar o
24

professor Bright Wilson, para quem "seis horas na biblioteca podem poupar }-
seis meses no laboratório"25 • Observação que exemplifica a importância da
leitura informativa, geralmente propiciada por ~rês tiROS de obras: as de refe- . (.
rênçia ou consulta, as de estudo e as de circulação restrit<!:, . lff 1,
3.3.3. f .3 Obras de referência ou consul ta podem ser, quanto à matéria, f
gerais ou especializadas; e quanto ao arranjo do texto podem ser alfabéticas, t
sistemáticas, tabulares, geográficas, cronológicas etc. O arranjo alfabético tem \'
duas modalidades: a geral ou abrangente e a específica. Exemplos de arranjo
abrangentemente alfabéticos são os das enciclopédias Britannica e Mirador
internacional. Dentre as especificamente alfabéticas pode-se exemplificar com
a Grande Enciclopédia Delta-Larousse. Recorde-se que, excetuando-se o ar-
ranjo alfabético específico, todos os demais tipos de arranjo exigem índices.
3.3.3.1.4 .f.s obras de estudo podem ser didáticas ou não. As didáticas são
necessariamente especializadas em matérias ou grandes áreas do saber cientí-

85 -
,
l fico e humarústico (Filosofia, Ciências sociais, Matemática, Ciências biológicas
' etc.) ou em disciplinas (Estética, Economia, Álgebra, Evolução etc.), escalonan-
do-se de acordo com os diferentes níveis de ensino: primeiro e segundo graus,
superior, pós~graduado, pós-doutorado. Obras didáticas são geralmente cha-
madas manuais, compêndios, introduções, tratados etc. As não didáticas são
dê natureza e:iisaística, devendo-se recordãr do gênero ensaio que tanto pode
ser geral (o caso da famosa obra de Montaigne, Essais) como especializado ou
monográfico (um exemplo que nos ocorre é a obra do filósofo francês Henri
Bergson, Essai sur les données immédiates de la conscience).
3.3.3.1.5 Obras de circulação restri~. também chamadas documentos,
são, de modo geral, textos não bibliográficos e até não tipografados (mimeogra-
fados, xeroxados etc.) que emanam de entidades nacionais ou internacionais
(governamentais ou privadas), contendo informações de grande interesse para
especialistas em diferentes áreas do saber científico e humanístico.
3.3.3.1.6 A palavra documento é tradicionalmente definida como infor-
mação registrada em qualquer tipo de suporte (gráfico, visual, fônico, audiovi-
sual) suscetível de ser utilizado para estudo, consulta ou prova. Assim, são
considerados documentos tanto os textos escritos para leitura como os grava-
dos para ser vistos e/ ouvidos.

3.3.3.2 Leitura Formativa ~


3.3.3.2.1 A leitura formativa é, sem dúvida, a mais importante. Em L'écrit
et la communication, Escarpit a denomina leitura projetiva, porque esta moda-
lidade de leitura "empenha o conjunto da personalidade do leitor, sendo impos-
sível limitá-la à simples recepção de uma mensagem" 26 • Em outra obra publi-
cada no mesmo ano - La faim delire - Escarpit mostra como o ato de ler é,
neste caso, a contrapartida do ato de escrever. E acrescenta estas lúcidas
obseivações que preferimos reproduzir integralmente:
3.3.3.2.2 "L'évrivain conçoit un projet qui est à la fois pensée et expres-
sion et qui s'élabore simultanément comme conception d'idées, d'images, de
raisonnements et comme fabrication d'objets-mots et d'objets-phrases. Au bout
de ce processus d'élaboration le projet est codé dans le texte que le document
imprimé fixe et authentifie mais ce texte n'est qu'une coupe dans l'immense
richesse de l'expérience vécue par l'auteur."
3.3.3.2.3 "La lecture est la reconstruction d'une oeuvre nouvelle par le
lecteur à partir de cette coupe. C'est une autre expérience. Elle se caractérise
par un affrontement entre les contraintes du texte et la prédisposition que le
lecteur apporte à son acte de lecture. Plus les contraintes sont fortes et déter-
minantes, plus l'oeuvre est 'fonctionelle' et moins elle se laisse de marge à

-86-
t
l'il)iciative du lecteur: c'est le cas des ouvrages didactiques, techniques ou
scientifiques. Plus le lecteur dispose de latitude pour exercer sa prédisposition,
plus l'oeuvre est littéraire" 27 •
3.3.3.2.4 Em seus Primeiros passos para uma história da leitura, o pes-
quisador norte-americano Robert Darnton oferece três exemplos magníficos da
"freqüência com que a leitura alterou o curso da história - a leitura de Paulo
por Lutero, a leitura de Hegel por Marx, a leitura de Marx por Mao". Exemplos
(te como a leitura formativa pode contribuir para reforma da religião, da econo-
fiia e da própria sociedade. "Esses pontos - continua Darnton - sobressaem
:fium processo mais amplo é mais vasto: o esforço infindável do homem em
encontrar sentido no mundo em tomo e dentro dele mesmo. Se conseguísse-
mos compreender como ele lia, poderíamos vir a compreender melhor como ele
entendia a vida, e, por essa via- a via histórica-, quem sabe chegaríamos a
satisfazer uma parte de nosso próprio anseio por um sentido28."
3.3.3.2.5 A importância da leitura formativa foi reconhecida na Antigüi-
dade, como demonstra o dístico mandado colocar na porta da biblioteca do
Fóro de Trajano: HOSPITAL DA ALMA29 • Em religião podem ser lembrados -
exemplificada e não exaustivamente - os casos dos santos Jerônimo e Bento.
De viris illustribus é obra escrita por São Jerônimo (c. 347-419) com esta
finalidade, como salienta Paulo Evaristo Ams, O.F.M. - o hoje cardeal-arcebis-
po de São Paulo - em notável ensaio um tanto inexplicavelmente esquecido:
La techniquedu livred'aprêsSaintJérôme 30 • NaRegradeSãoBento (c. 470-547)
há um capítulo no qual o patriarca dos monges ocidentais estabelece a unidade
fundamental entre oração, leitura e trabalho manual: opus Dei, lectio divina,
labor manuum3 1.
3.3.3.2.6 Para muitos a filosofia não é apenas a "investigação dos primei-
ros princípios'', mas fonte de consolação. Exemplo significativo desse aspecto
das leituras filosóficas é a obra De consolatione philosophiae, escrita na prisão,
antes de cumprir pena de morte, pelo pensador e político romano Boécio (480-524).
3.3.3.2.7 Na literatura é que vamos encontrar maior número de exemplos
de leitura formativa. Para alguns autores as obras literárias são apenas recrea-
tivas e certos romances, de fato, o são. Afrânio Peixoto, por exemplo, definia
literatura como "sorriso da sociedade", definição lamentável que aparece em
seu Panorama da literatura brasileini 2 , logo contestada por Álvaro Lins, com
esta exclamação: "... fico a pensar que espécie de sorriso seria o da literatura
de um Dostoievski, ou, nos tempos atuais, de um Mauriac, de um Bemanos,
de um Charles Morgan!" 33• É preciso não confundir a literatura policial, folhe-
tinesca, pornográfica ou .sentimental com a arte literária, que é uma forma de
conhecimento da realidade: conhecimento no qual leitor e autor se envolvem
naquela "misteriosa comunhão de afinidades" a que se refere Álvaro Lins ao
prefaciar suas Notas de um diário de critica 34•

-87-
,
l
3.3.3.2.8 Em torno do relacionamento autor-leitor surgiu toda uma cor-
rente de teoria e história literárias, conhecida como estética da recepção. Tais
estudos teriam como pioneiro o professor alemão Hand RobertJauss, com uma
conferência de 1967. A Jauss se juntaram, na chamada Escola de Constança,
os professores Wolfgang Iser, Karlheinz Stierle e Hans Ubrich Gumbrecht. Os
textos fundamentais da estética da recepção foram traduzidos, reunidos e co-
mentados, no Brasil, pelo professor Luis Costa Lima35 , havendo ainda, em
.nosso País, o livro da professora Regina Zilberman36 •
t 3.3.3.2.9 Como bibliotecário, sinto-me no dever de lembrar que, muito
vantes da Escola de Constança, houve um russo genial que talvez seja o verda-
deiro precursor da estética da recepção. Refiro-me a Nicolau Rubakin (1862-1946),
autor da obra Introduction à la psychologie bibliologique, traduzida ao francês
por um de seus filhos e publicada em Paris, no ano de 192237 •
3.3.3.2.10 Acolhida entusiasticamente por Lenine, a psicologia bibliológi-
ca foi utilizada na URSS como base para o desenvolvimento de bibliotecas
populares38 • Antes mesmo da vitória da Revolução Comunista, já o insigne
belga que foi Paul Otlet (1868-1944) se interessava pelas idéias de Rubakin,
depois consolidadas na obra citada. Tendo fundado, no começo do século XX,
um Instituto Internacional de Bibliografia, Otlet promoveu, em 1916, a criação,
no Instituto Jean-Jacques Rousseau, de Genebra, de uma seção especializada
em bibliopsicologia, que, em 1928, se ampliaria em Instituto Internacional de
Psicologia Bibliológica, com sede em Lausanne.
3.3.3.2.11 Em seu monumental Tm!.!-t de documeJJlation, publicado em
1934, Paul Otlet abre espaço para a matéria39 , também versada pelo bibliote-
cário espanhol Jav:ier Lasso de la Vega em capítulo de sua obra Çomo se hace
Jm_a_tesis doctoral 40 • Recorde-se, ainda: outro precursor da estética da recep-
ção: o bibliotecário argentino José Edmundo Clemente, com sua obra Estétis:a
<dellectw:; notas para un estúdio bibliopsicológico de la literatura41 •
3.3.3.2.12 Recorde-se ainda, a propósito de leitura formativa, a obra
admirável na qual Valery Larbaud - tão grande como ensaísta quanto como
romancista e tradutor do Ulysses de Joyce para o francês - reuniu seus
ensaios sobre escritores ingleses e franceses: Ce vice impuni la lecture. Para
este feliz bibliônimo valeu-se Larbaud de palavras de Logan Pearsall Smith,
assim traduzidas por Philippe Neel: "... ce vice raffiné et impuni, cette égoiste,
sereine et durable ivresse". Smith escreveu-as depois de pensar que entre as
alegrias reservadas à nossa vida- o vinho, a glória, a amizade, a boa mesa, o
amor, a consciência da virtude - talvez a maior seja a leitura. Ao que Larbaud
acrescenta: "Une espêce de vice, en effet, la lecture". E cita Emerson, para
quem "ler não importa o que durante cinco horas por dia" permite-nos ser
sábios em poucos anos. Segundo Larbaud, "o homem normal lê por necessida-
de profissional ou para se distrair de suas ocupações e de seus trabalhos; os

-88-
,
\ 1
que lêem pelo exclusivo prazer da leitura e que procuram este prazer com ardor
são éxceções". E acrescenta: "Podemos compor um tratado sobre o nascimento
e as sucessivas fases e os progressos desta paixão. Podemos até, parafraseando
John Bunyan - autor do Pilgrim's Progress -, redigir um tratado sobre O
Progresso do Leitor"42.

3.~.3.3 Leitura Recreativa J


i 3.3.3.3.1 Voltando a esclarecer que não é rígida a distinção entre leituras
informativa, formativa e recreativa, vamos tratar destã, insistindo em outra
distinção entre obras de arte literária - que proporcionam leitura formativa - '
e obras escritas mais para distrair o leitor - e às vezes o próprio autor - do
que para sua formação.
3.3.3.3.2 Como salientou Álvaro Lins, citado em 3.3.3.2. 7, é inadmissível
fazer da leitura de certos autores simples recrea ão. Ninguém se diverte lendo,
por exemp o, Os irmãos Karamasov, de Dostoievski ou Sous le solei] de Satan,
de(BernanoS) para exemplificar com dois dos autores por ele citados. Também
não terá sido para divertir leitores que~ compôs a Odisséia, [Qant!a A
divina comédia, jShakespeareJ suas tragédias e seus sonetos, ~o Ulysses
ou os contos de Dubliners.
3.3.3.3.3 Há, entretanto, obras de arte literária que podem suscitar leitu-
ra recreativa, Ôcorrendo-nos logo o exemplo máximo do Dom Quixote de Cer-
vantes. Há, também, autores que escrevem tanto para a formação como para
diversão dos leitores: o caso, por exemplo, do inglês G. K. Chesterton: além de
obras de leitura formativa como Orthodoxye Heretics, ele nos deixou romances
policiais muito respeitados. Outro inglês, Graham Greene, é autor tanto de
romances como O poder e a glória - leitura formativa - como de novelas de
intriga internacional como O terceiro homem, diversão tanto para ele como
para seus leitores.
3.3.3.3.4 Exemplos de leitura recreativa são, ainda, a proporcionada pelo
chamado romance gótico ou de mistério, gênero no qual se destacaram artistas
da categoria do inglês Horace Walpole e escritores secundários como Marion
Bradley Zimmer, autora do best seller As brumas de Avallon.
3.3.3.3.5 O romance policial é outro gênero de leitura recreativa no qual
se destacaram autores da categoria literária do alemão E. T. A. Hoffrnann e do
norte-americano E. A. Poe, este, além de ficcionista, poeta dos maiores em
qualquer língua, que chegou a influenciar o fundador da poesia moderna:
Charles Baudelaire.
3.3.3.3.6 Produto da explosão cientifica e tecnológica, surgiu em nossos
dias um gênero novo de leitura recreativa, conhecido como ficção cientifica:

- 89-
l
·gênero do qual o francêsWes veITie)e o inglês H. G. Well são precursores. Na
ficção científica de nossos dias, destacam-se Isaac Asimo e Ray~~
Lembre-se que a ficção cientifica também é conhecida na França cdrilõ"ittêrã-
ture d'anticipation";

3.3.4 'Modos de Ler _J

t 3.3.4.1 A leitura pode ser classificada segundo vários critérios. Nicole


·-
Robin e - pesquisadora do Instituto de Literatura e de Técnicas Artísticas de
fylassa (Bordéus) e autora de um dos me lhores textos sobre a matéria - distin-
gue três modos de leitura: a oral, a real e a direta43 •
3.3.4.2 Oral é a leitura do contador de estórias, que as narra em voz alta
diante de um auditório. Existe no Brasil uma história or:al muito rica, da qual
se ocupam vários folcloristas nacionais e estrangeiros. Luis da Câmara Cascu-
do é autor de obra notável sobre este modo de leitura44 •
3.3.4.3 Como observa Robine, a leitura oral é, ao mesmo tempo, audição
e espetáculo, sendo o pensamento traduzido por sons que, ouvidos, se trans-
formam em pensamentos pelos ouvintes. É uma leitura muito utilizada Bas
bibliotecas infantis e escolares. A hora do cÓnto é sempre muito estimada pelos
usuários de tais bibliotecas. - .-
3.3.4.4 Real, para Robine, é a leitura de um documento redigido para o
público em geral, ou para determinado grupo e mesmo para uma só pessoa.
Era muito comum no passado, sob a forma de avisos à população, lidos por
..
guardas rurais; ou em serões familiares, quando uma 'pessoa mais habilitada
lia para a família, a corte etc. Recorda Robine que os próprios autores costu-
mavam ler suas obras para seus mecenas. .
3.3.4.5 Na leitura direta da classificaçãp de Robine - a mais comum em
nossos dias - utiliza-se tanto a vista como o ouvido e o tato. Com a vista são
lidas as histórias em quadrinhos e os sinais rodoviários; com o ouvido, as fitas
magnetofônicas; e com o tato, o alfabeto Braille.
3.3.4.6 Mas a leitura direta do texto pode ser feita em voz alta ou silen-
ciosamente. Exemplo de leitura em voz alta é a que se faz nas celebrações
litúrgicas e nos refeitórios dos mosteiros. Para Robine, a mensagem de um
texto ouvido por intermédio de um leitor é diferente da fornecida pela leitura
silenciosa, que, sendo absorvente, mobiliza todo o ser do leitor.
. 3.3.4. 7 Estando à disposição de todo o público, ~ibliotec~ó pode ad-
mitir_o modo silencioso de ler. Deve, porém, ~ispor de espaços apropriados para
estudos em grupo, representações dramáticas e a hora do conto em bibliotecas
infantis e escolares, já mencionada em 3.3.4.3.

- 90-
3~4 ~EITOR/LEITURA NO BRASIL j
3.4.1 Os primeiros livros lidos no Brasil devem ter sido os breviários
trazidos pelos Franciscanos que acompanharam Pedro Álvares Cabral na sua
viagem de Lisboa à Bahia, em março de 1500: os breviários e o missal com que
frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa, em 26 de abril de 1500.
Era o primeiro domingo depois da Páscoa, chamado na época de Domingo de
Pascoela e, depois, Domingo in albis. "Frei Henrique pregou sobre o evangelho
dt dia. A ressurreição do Salvador, as ªP?-rições misteriosas aos discípulos, a
incredulidade de Tomé, o apóstolo das Indias, diziam bem com a situação
estranha", escreve Capistrano de Abreu, citando o cronista Pero Vaz de Caminha45 •
Recorde-se da cena estranha que foi fixada por mais de um pintor brasileiro,
de Vitor Meireles (Museu Nacional de Belas Artes) a Cândido Portinali (Banco
Boa Vista). ,
3.4.2 Depois vieram os Jesuítas, também com breviários, missais, rituais
e ainda - informa Serafim Leite - "as regras do Colégio de Coimbra feitas pelo
Pe. Simão Rodrigues, o livrinho dos exercícios espirituais de Santo Inácio, que
Nóbrega usou pouco depois ao receber na Companhia um candidato, algum
breve método para ensinar o ABC aos meninos, (... )alguma cartilha da doutri-
na cristã( ... ) o Manual do Doutor Navarro, (... ) - estes, e decerto mais cilguma
obra pia de uso pessoal e ainda algum exemplar da Bíblia."
3.4.3 Por solicitação de Nóbrega vieram também "obras de teologia moral
e de direito para a solução de escrúpulos ou casos de consciência", informa
ainda Serafim Leite, acrescentando: "Em Portugal não se esqueceram do pedi-
do, e antes do fim do ano chegaré;l.lll à Bahia duas caixas de livros, humilde
início da que seria daí a doiS séculos a maior biblioteca do Brasil"46 •
- 3.4.4 Acontece que, "daí a dois séculos", as leituras não eram mais tão
piedosas. Mesmo em Seminários, como os de Mariana e Olinda, as obras do
Iluminismo se infiltraram, fazendo com que deles saíssem padres liberais. Al-
guns deles tomaram parte nas "revoluções libertárias" a que se refere Manuel
Bandeira em sua Evocação do Recife. "O padre João Ribeiro Pessoa - informa
Muniz Tavares em sua História da Revolução de Pernambuco de 1817 - coad-
juvado por seus amigos, já começava a formar uma [biblioteca] particular na
sua habitação, que a todos era aberta"47 •
3.4.5. Infelizmente, a biblioteca desse padre pernambucano não encon-
trou quem lhe examinasse as obras com paciência, sensibilidade e erudição do
ensaísta mineiro .Eduardo Frieira, ao estudar a coleção particular do cônego
Luís Vieira da Silva: estudo de que resultou sua obra O Diabo na Livraria do
Cônego. Como salienta Frieira, o· cônego Luís Vieira da Silva era "filho da
Ilustração e sua biblioteca, arrolada no Auto da devassa da Inconfidência Mi-
neira, refletia o chamado "século das luzes" 48•

- 91 -
,
l
3.4.6 Contrastando as leituras predominantes no Brasil dos séculos XVI,
XVII e parte do XVIII com as adotadas posteriormente por influência dos Enci-
clopedistas e revolucionários franceses e anglo-americanos, Gilberto Freyre
j salienta a vantagem destas como estimulantes da "curiosidade de saber", do
"gosto de conhecer", das "aventuras de inteligência, de sensibilidade e de ex-
ploração científica· da natureza". São muito sugestivas as páginas dedicadas
pelo autor de Sobrados e Mucambos às "leituras no Brasil patriarcal"49 •
· 3.4.7 Não é difícil saber o que se lia no Brasil durante os séculos XIX e
t começos do XX. Os catálogos impressos das bibliotecas aí estão como que
pedindo pesquisas com este objetivo. Catálogos de bibliotecas públicas - co-
mo, por exemplo, a do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, orga-
nizado por Ramiz Galvão 5 º - e privadas, como a de Alfredo de Carvalho, orga-
nizada por ele mesmo 51 • A única pesquisa do gênero que conheço é a de Maria
Beatriz Nisa da Silva, sobre as obras de história existentes na Biblioteca Públi-
ca da Bahia 52 •
3.4.8 Em artigo sobre "livros para crianças", publicado em 1925, Gilberto
Freyre afirmou que "o menino brasileiro não tem o que ler em português". Mas
ao reproduzi-lo, em 1934, em seu livro Artigos dejomal, acrescentou esta nota
de rodapé: "Hoje não haveria motivos tão fortes para o pessimismo deste artigo.
O menino brasileiro já tem o que ler - graças, principalmente, a Monteiro
Lobato"53 • Realmente, antes de Monteiro Lobato só havia adaptações dos clãs- ..
sicos da literatura infantil em outras línguas.
3.4.9 Destaque-se o pioneirismo da grande poetisa Cecília Meireles ao
dirigir um inquérito sobre o assunto, promovido em novembro/dezembro de
1931 pelo Instituto de Pesquisas Educacionais do Rio de Janeiro: inquérito do
qual resultou seu livro Leituras infantis54. Já foi mencionado em 2.3.1.6, o
importante papel desempenhado pela Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, de
São Paulo, e de sua principal animadora, Lenyra Fraccaroli. Lobato, Meireles e
Fraccaroli não pregaram no deserto. O coroamento de seus esforços pioneiros
foi a criação, em 1968, de uma tão eficiente quanto prestimosa entidade.
3.4.10 Refiro-me à Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, organi-
zação privada cujo objetivo é reunir todos os que, no Brasil, se interessam por
livros e por crianças. Trata-se da versão brasileira de uma associação interna-
cional filiada à Unesco: o Internacional Board on Books for Young People (IBBY).
A FNLIJ tem sede no Rio de Janeiro e sua criação foi incentivada pelo Centro
Brasileiro de Pesquisas Educacionais. Por ser particular, sobreviveu ao CBPE,
estupidamente extinto, juntamente com os Centros Regionais a ele articulados,
pela ditadura militar instalada em 1964. O Boletim Informativo da FNLIJ,
publicação bimestral iniciada em 1968, demonstra a importância dessa entida-
de no chamado "pacto da leitura" em favor da criança brasileira55 •
3.4.11 Não seriajusto concluir este capítulo sobre leitor/leitura no Brasil
sem mencionar outros pioneirismos nacionais, como p método Paulo Freire de

- 92-
alfabetização. Também condenado pela chamada Revolução de 1964, ele de-
monstrou sua eficiência tanto em outros países sul-americanos como nos afro-
lusófonos. Restabelecida a democracia, voltou Paulo Freire a seu País, am-
pliando suas idéias numa perspectiva global do ato de ler56 • Dentro desta pers-
pectiva constituíram-se grupos de estudos e pesquisas nas Universidades de
Campinas e de São Paulo:(Escola de Comunicações e Artes). Dentre as pesqui-
sas pioneiras sobre hábitos de leitura no Brasil destacam-se as de Ecléa Bosi57 ,
Carlos Alberto Medina e M. L. Almeida58 •

d. 3.4.12 A leitura induzida teve um precursor no maranhense Domingos de


astro Perdigão. Diretor da hoje decadente Biblioteca Pública de seu Estado,
Perdigão preocupou-se com o que o povo devia ler, publicando, com este obje-
tivo, interessante vade mecum bibliographico, subtítulo de um livro hoje injus-
tamente esquecido. Ele divide-se em três partes, correspondentes às leituras
preparatórias (oito a dez anos), educativas e instrutivas (doze a quinze anos) e
ilustrativas (quinze a dezoito anos) 59• Em 1950 a educadora Virgínia Cortes de
Lacerda retomou a idéia de Domingos de Castro Perdigão, adotando acertada-
mente a publicação periódica. Infelizmente, sua revista trimestral Leitores e
livros teve existência efêmera. Também efêmera foi a iniciativa da Editora Vo-
zes, de Petrópolis, publicando Que hei de ler?, uma original bibliografia em fichas.

- 93-
,
l

3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

3 .5.1 DAS CITAÇÕES

1 FAGUET, Émile. L'art de /ire. Paris: Hachette, 1912, p. 165.


2 TIIOMPSON, Anthony. Vocabularium bibliothecarii, 2ª ed. Paris: Unesco, 1962, p. 176.
3 BUONOCORE, Domingo. Diccionario de bibliotecología, 2ª ed. aum. Buenos Aires: Maiymar,
1976, p. 420.
4 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1975, p. 828.
5 CAMARÃO, Paulo César Bhering. Glossário de informática. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e
Científicos, 1989, p. 460.
6 CAMARÃO, P. c. B. Op. cit., p. 672.
7 CAMARÃO, P. c. B. Loc. cit.
8 PERROTI1, Edmir. Confinamento cultural, infância e leitura. São Paulo: Sumus, 1990, p. 13.
9 FREYRE, Gilberto. Prefácio a Clarival do Prado Valadares, Lula Cardoso Ayres, revisão critica e
atualidade, 2ª ed. Rio de Janeiro: Spala e Construtora Norberto Odebrecht, 1979, p. IX.
10 BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. de Maria Margarida Barahona. Lisboa: Edições 70,
1974, p. 49.
11 OITTEGA Y GASSET, José. Misión dei bibliotecario y otros ensayos afines, 2ª ed. Madrid: Revista
de Occideríte, 1967, p. 89.
12 FONSECA, Edson Neiy da. "Um novo conceito de biblioteca e uma nova missão para o bibliote-
cário" (1981). Em seu Problemas brasileiros de documentação. Brasília: IBICIT, 1988, pp. 152-57.
13 BUNGE, Charles A. "Reference services". ln: ALA World Encyclopedia ofLibrary and Information
Services. Chicago: Amerlcan Libraiy Assoclatlon, 1980, p. 469.
14 BUNGE, Charles A. Loc. cit.
15 ROTHSTEIN, Samuel. 711e Development ofReference Seivices. Chicago: American Libraiy Asso-
clatlon, 1955 (ACRL monograph 14).
16 BUNGE, Charles A Loc. cít.
17 TOTTERDELL, Bariy, ed. Public Libral}' Purpose, a Reader. Londres: Bingley, Hamden, Conn. :
Linnet Books, 1978, pp. 10-11.
18 ESCOLAR SOBRlNO, Hipólito. EI Jector. La Jectura. La comunicación. Madrid: Asociación Na-
cional de Bibliotecarios, Archiveros y Arqueólogos, 1972, pp. 18-48.
19 UNESCO. La biblioteca piíblica, fuerza viva para la educación popular. Paris, 1949.
THOMSEN, Carl et alii. La biblioteca publicay la educación de adultos. Paris: Unesco, 1950.
HOULE, Cyril. Función de las bibliotecas en la educación de adultos y en la educación funda -
mental. Paris: Unesco, 1951.
FONSECA, Edson Neiy da. "Importância da biblioteca nos programas de alfabetização e educa-
ção de base". Em seu: Problemas brasileiros de documentação. Op. cit., nº 12, pp. 129- 138.
20 QUINTANA, Mário. "Discurso em Porto Alegre". Jomal do Brasil (Rio de Janeiro) 28 set. 1979,
· Informe JB, p. 6.

- 94 -
r

\
21 ESCOLAR SOBRINO, Hipólito. Op. cit., nº 18, pp. 42-8.
22 SÁCCOMANDI, Humberto. "Luz e assento ajudam boa leitura". Folha de S. Paulo, 22, maio, 1990.
23 ESCOLAR SOBRINO, Hipólito. Op. clt., nº 18, p. 51.
24 MOLES, Abraham A. Sociodinâmica da cultura. Trad. de Mauro W. Barbosa de Almeida. São
Paulo: Perspectiva, 1974, pp. 73-78.
25 WILSON, E. Bright, Jr. An lntroduction to Scientiílc Research. Nova York: McGraw-Hill, 1952, p. 1o.
26 ESCARPJT, Robert. L'écrit et la communication. Paris: Presses Universltaires de France, 1973
(Que sais-je, nº 1546), p. 54.
27 ESCARPJT, Robert. "Les habitudes de lecture". ln: Baker, R. & Escarplt, R., ed. La faim delire.
·Paris: Unesco, 1973, p. 114.
28,DARNTON, Robert. "Primeiros passos para uma história da leitura''. Em seu: O beijo de Lamou-
rette; mídia, cultura e revoluçãoTrad. de Denise Bottmann. São Paulo: Companhia das Letras,
1990, p. 172.
29 YOURCENAR, Marguerite. Memórias de Adriano. Trad. de Martha Calderaro. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, i980, p. 226.
30 ARNS, Paulo Evaristo, O. F. M. La technique du livre d'apres saint Jérôme. Paris: E. de Boccard,
1953, p. 162.
31 BENTO, São. A Regra de São Bento. Latim-português. Trad. e notas de D. João Evangelista
Enout, O. S. B., 2ª ed. rev. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1980, pp. 103- 105. Outros comen-
tários ~o artigo 48 da Regra podem ser encontrados em Garcia M. Colombas, La Regia de san
Benito. Madrid: Biblioteca de Autores Crlstinianos, 1979; Adalbert de Vogüé, La Regle de saint
Benoit, tome VII: Commentalre doctrinal et splrituel. Paris: Cerf, 1977; Dom Ildefonso Herwe-
gen, Sentido e espírito da Regra de são Bento. Trad. dos monges do Mosteiro de São Bento cio
Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Lumen Christi, 1953.
32 PEIXOTO, Afrânio. Panorama da literatura brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
33 LINS, Álvaro. "Panoramas". Em seu: Jornal de crítica, 1i! série. Rio de Janeiro: José Olympio,
1941, pp. 215-220. Artigo de novembro de 1940 também Incluído em seu: Os mortos de sobre-
casaca. Rio ele Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, pp. 343-347.
34 LINS, Álvaro. Notas de um .diário de critica. Rio de Janeiro: José Olymplo, 1943, 2ª ed. :
Literatura e vida literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963, p. 16.
35 LIMA, Luiz Costa, ed. A literatura e o Jeito; textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1979. Os textos Incluídos são ele Hans Robert Jauss, Wolfgang !ser, Karlheinz Stierle e
Hans Ulrich Gumbrecht.
36 ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Átlca, 1989.
37 RUBAKlN, Nicolau. lntroduction à la psychologie bibliologique. Paris: Povolozky, 1921.
38 SIMSOVA, S., ed. Nicholas Rubakin and Bibliopsychology. Transl. by M. Mackee and G. Pea-
cock. Londres: Archon Books & Clive Bingley, 1968.
39 OTLET, Paul. "La psychologle et les actlvltés de l'esprlt ou Psychologie bibliologlque". Em seu:
Traité de documentation; le livre sur Je livre; théorie et pratique. Bruxelles: Editlones Munda-
neum, 1934, pp. 32-5.
40 LASSO DE LA VEGA JIMENEZ PLACER, Javler. "La biblio-pslcología". Em seu: Cómo se hace
una tesis doctoral. San Sebastián: Editora Internacional, 1947, pp. 121-24.
41 CLE.MENTE, José Edmundo. Estética dei Jector; notas para un estudio bibliopsicológico de la
literatura. Buenos Aires: El Atheneo, 1950.
42 LARBAUD, Valecy. Ce vice impuni la lecture. Paris: Gallimard, 1951, t. 1, pp. 17-44.
43 ROBINE, Nicole. "La lecture". ln: Escarpit, Robert, ed. Le litléraire et le social; éléments pour
une sociologie de la littératüre. Paris: Flammarion, 1970, pp. 221-44.
44 CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral. Rio ele Janeiro: José Olympio, 1952 (Coleção
documentos brasileiros, 64).

-95-
,;

\
45 ABREU, J. Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500-1800) & Os caminhos antigos e
o povoamento do Brasil, 5ª ed. rev., pref. e anot. por José Honório Rodrigues. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1963, p. 52.
46 LEITE, Serafim, S. 1. Suma histórica da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Junta de
Investigações do Ultramar, 1965, pp. 109-10.
47 TAVARES, Francisco Muniz. História da revolução de Pernambuco de 1817, 2ª ed. Recife:
Governo do.Estado de Pernambuco, 1969, p. 31.
48 FRIEIRO, Eduardo. O diabo na livraria do cônego. Belo Horizonte: Livraria Cultura Brasileira,
1945, 2ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1957.
i 49 FREYRE, Gilberto. Sobrados e mucambos; decadência do patriarcado rural e desenvolvimento
~ do urbano, 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1990, p. 316.
50 RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin. Catálogo do Gabinete Português de Leitura no Rio de
Janéiro. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Commercio, 1906. 2 v.
5 l CARVALHO, Alfredo Ferreira de. Biblioteca brasiliense selecta. Recife: Livraria Economica, 1916.
52 SILVA, Maria Beatriz Nisa da. "A livraria pública da Bahia em 1818 - obras de história''.
Revista de História (São Paulo), 41: 225-240, 1971.
53 FREYRE, Gilberto. Artigos de jornal. Recife: Edições Mozart, 1934, p. 93.
54 MEIRELES, Cecília. Leituras infantis. Rio de Janeiro: Departamento de Educação, 1934.
55 PERROTTI, Edmir. Op. cit., nº 8, pp. 25-82. Trata da FNLIJ e do IBBY e faz interessante análise
do Boletim Informativo da entidade brasileira.
56 FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. 2ª ed. São Paulo:
Editora Autores Associados/Cortez Editora, 1982.
57 BOSI, Ecléa. Cultura de massa e cult11ra pop11lar: leituras de operários. Petrópolis: Vozes, 1972.
BOSI, Ecléa, ed. A cult11ra do povo. São Paulo: Cortez e Moraes, 1979.
58 MEDINA, C. A. & ALMEIDA, M. L. Rodrigues de. "Hábitos de leitura: uma abordagem sociológi-
ca". América Latina (Rio de Janeiro). 17: 70-129, 1976.
59 PERDIGÃO, Domingos de Castro. O que se deve ler: vade-mecum bibliographico. São Luís:
Imprensa Official, 1922.

3.5.2 DAS OBRAS RECOMENDADAS

ADLER. Mortimer J. & VAN DOREN, Ch?I'les. Como ler um livro. Ed. rev. e atual. Trad. de Aulyde
Soares Rodrigues. Rio de Janeiro: Guanabara, 1990.
BAKER. Ronald E. & ESCARPIT, Robert. La faim delire. Op. cit., nº 27.
BARBOSA José Juvéncio. Alfabetização e leit11ra. São Paulo: Cortez, 1990.
BELLENGER, Lionel. Os métodos de leitura. Trad. de Dora Flaksman. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
CACÉRÊS, Genevieve. La Jecture. Paris: Seuil, 1961.
CASTAGNA, Edwin. Ga11ght in the Act; Decisive Reading of some Notable Men and Women and its
Infl11eríce on their Actions and Attit11de. Metuchen, Scarecrow, 1982.
COELHO, Nelly Novaes. A literat11ra infantil: história, teoria, análise (das origens orientais ao Brasil
de.hoje). São Paulo: Quíron, 1981.
CONFERÊNCIA DE INTERCÂMBIO MONÁSTICO BRASILEIRO (CIMBRA). A lectio divina ontem e
hoje. Salvador, 1989. (Coleção valores monásticos à luz das ciências modernas.)
DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. Op. cit., nº 28.
DECAUNES, Luc. La lect11re. Paris: Seghers, 1976.
ESCARPIT, Robert. Sociologia da literatura. Trad. de Anabela Monteiro e Carlos Alberto Nunes.
Lisboa: Arcádia, 1969.

- 96
1

l
- La révolution du livre. 2ª éd. rev. et mise àjour, 1969. Paris: Unesco, 1972.
- L'ecrit et la communication. Op. cit., nº 26.
ESCOLAR SOBRINO, Hipólito. EI lector. La lectura. La comunicación. Op. cit., nº 18.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. Op. cit., nº 56.
LAJOW, Marisa & ZILBERMAN, Regina. Leitura rarefeita: livro e literatura no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1991.
Leitura: Teoria & Prática. Campinas: Associação de Leitura do Brasil; Porto Alegre: Mercado Aberto,
1982 - Semestral_.
LIMA, Luiz Costa, ed. A literatura e o leitor. Op. cit., nº 35.
M1RnNs, Maria Helena. O que é leitura: São Paulo: Brasiliense, 1982 (Col. Primeiros Passos, 74).
M~URIER, Maurice & ROPAR~. Marie-Claire, ed. "Lecture 1: !'espace du texte". Esprit (Paris) 12:
. 769-968, décembi'e 1974. Mesa-redonda seguida de excelentes artigos.
NISIN, Arthur. La literatura y el lector. Trad. y estudlo prelim. de Amella Sánchez Garrido. Buenos
Aires: Editorial Nova, 1962.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discursos & Leitura. São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Universi-
dade Estadual de Campinas, 1988. ·
PERROTI, Edmir. Confinamento cultural, infância e leitura. Op. cit., nº 8.
P01TS, John. Leitura e leituras nos ensino primário e secundário. Trad. de Saul Dias Barata,
Lisboa: Livros Horizonte, 1979.
RICHAUDEAU, François. Le processus de lecture, essai. Paris: Centre d'Étude et de Promotion de
la Lecture, 1968.
- La lisibilité. Paris: Retz, 1969-76.
ROBINE, Nicole .."La lecture". Op. cit., nº 43.
RUBAKIN, Nicolau. Introduction à la psychologie bibliologique. Op. cit., nº 37. Trechos desta obra
foram reproduzidos em Robert Escarpit, ed. Le littéraire et le social, op. cit., nº 43, pp. 285-96.
SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler; fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia ela
leitura. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1981.
- Leitura & realidade brasileira, 3ª ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986.
- Leitura na escola e na biblioteca. Campinas: Papirus, 1986.
SPIRE, Antoine & VIALA, Jean-Pierre. La bataille du livre. Paris: Édltlons Soclales, 1976.
STAIGER, Ralph C. Les chemins de la lecture. Paris: Unesco, 1979.
TENGARRINHA, José. A novela e o leitor português: estudo de sociologia da leitura. Ensaio intro-
dutório de Luís .de Sousa Rebelo. Lisboa: Prelo, 1973.
VIGNER, Gérard. Lire: du texte ao sens; elements pour un apprentissage et un enseignement de la
lecture. Paris: Cle lntematlonat, 1979.
ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. Op. cit., nº 36.

-97-
l

. .. . . .. . ··: . . ... . .. ·. . .. " ,:::·····.·· . :· ·: '.=· . ··· ·:::=:·: .... ··· . ·..·::...:·.-.:. •', '• ..... ·.:· .· -:=)>:::··=:·::::::::-::::;:;:.: .:::;::,.·.=··· .... · :: ..· .

Do sono aparente nasce um catálogo.


Inanimados jardins de ordem, flores de paciência.
Revela-se o parentesco infinito das séries,
Mapas, referências, dicionários,
Dos galhos pendem respostas maduras,
Todas ao alcance de qualquer,
Sob tua vista complacente, zelosa
De guardião do pomar.
Emílio Carrera Guerra. "O Bibliotecário". Canto grosso e outros poemas, 1948.

O Bibliotecário. ca. 1566


Giuseppe ARCIMBOLDO, 1527-1593
Óleo sobre tela. 97x71 cm.
Skoklosters Slott, Bãlsta, Suécia

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4.1 A PALAVRA BIBLIOTECÁRIO


t 4.1.1 O substantivo bibliotecário (em alemão Bibliothekar, em francês
bibliothécaire, em inglês librarian, igual ao vernáculo em espanhol e italiano)
vem do latim bibliothecarius. Lembre-se que o sufixo ario forma outros subs-
tantivos de cunho erudito, com várias noções básicas, como, no caso de biblio-
tecário, a pessoa que exerce uma atividade em biblioteca. Supél't-se, mas não
está explícito, que tal pessoa tenha conhecimentos de biblioteconomia. O Novo
dicionário da língua portuguesa procura dirimir a questão, consignando para
o especialista em biblioteconomia a palavra biblioteconomista 1• Esta, entretan-
to, é muito pouco usada, tanto no Brasil como em Portugal, permanecendo a
ambigüidade em torno de bibliotecário, que designa tanto o que dirige outra-
balha em biblioteca como o que é diplomado por um curso de biblioteconomia.
4.1.2 Antigamente, o concluinte de cursos de biblioteconomia recebia o
certificado ou diploma de bibliotecário. A lei nº 4.084, de 30.06.1962, regula-
J
~
mentada pelo decreto nº 56. 725, de 16.08.1965, consagrou a expressão bacha-
rel em biblioteconomia, havendo, na pós-graduação, os graus de mestre em
· füblioteconomia e doutor em biblioteconomia.
4.1.3 Como ás bibliotecas são, em grande parte, órgãos da administração
pública (federal, estadual ou municipal), os responsáveis por elas ocupam car-
gos de diretores ou diretores-gerais. No Museu Britânico, o responsável pelo
Departamento de Livros Impressos chãína-se guardião 7keeper). Na Biblioteca
ao Cõllg~sõ dos Estados Unidos, as palavras diretor e chefe designam os
responsáveis por divisões e seiviços, sendo a ~ireção-gera!_ exercida pelo J}iblio-
tecário do Congresso (Librarian of Congress}, com a assistência de bibliotecá-
riüsauxiliãres (depuly librarians).- . -
4.1.4 Recorde-se que existe a acepção adjetiva de bibliotecário, consigna-
da pelo NDLP para qualificar substantivos2 como organização (organização bi-
bliotecária brasileira) ou rede (rede bibliotecária nacional).

4.2 MISSÕES DO BIBLIOTECÁRIO


4.2.1 Ninguém escreveu melhor e mais profundamente sobre este assun-
José Ortega y Gasset (1883-1955). Ele não era biblio-
to do que o pensador espanhol.--
, 1.
l 1
teqirio, mas foi convidado a proferir a conferência de abertura do 2 2 Congresso
Internacional de Bibliotecas e Bibliografia, realizado em Madri, de 20 a 30 de
maio de 1935. .
4.2.2 Professor de metafisica na Universidade de Madri, Ortega já havia
publicado algumas de suas obras fundamentais, como Meditación del "Q_ufj_ote"
(1914) - na qual está o famoso elogio da circunstância - Espana Jnvertebrada
(1922), La rebelión de las masas (1930) e outras. Os organizadores do Congres-
s.o quiseram homenagear, com 6 convite, aquele que era, na época, o maior
if-telectual espanhol3.
- Y 4.2.3 Distinguindo a missão pessoal da profissional e definJ~do aquela
como "a consciência que tem cada homem de seu mais autêntico ser que está
chamado a realizar", Ortega identifica na missão profissional do bibliotecário
três momentos históricos, cada um dos quais relacionado ao que "o livro signi-
·fica como necessidade social": o Renascimento, o século XIX e a época con~
orânea.
~ - - .._____ -
- -4.2.4 Lembra Ortega que no Renascimento ainda havia relativamente
poucos livros, cabendo aos bibliotecários procurá-los. Não foi por acaso -
acrescenta - que a imprensa de caracteres móveis surgiu na mesma época4 •
Tanto quanto - acrescente-se a Ortega - a bibliografia especializada - com o
Liber de scriptoribus ecclesiasticis, de Johann Tritheim - e a geral, com a
Bibliotheca universalis, de Konrad Gesner5 •
4.2.5 A partir do ~éculo XIX diz Ortega que "o livro se faz socialmente
i[Ilprescindível", tendo o bibliotecário por missão "~omentar a leitura, procu-

, rando leitores"6 • Recorde-se, porém, que a preocupação com leitores como prin-
<2_ipal objetivo da biblioteca é anterior ao século Xl)f, devendo-se fazer justiça ao
médico francês Gabriel
.
Naudé (1600-1653). Em sua obra .......Advis J2_our dresser
une bibliotheque ele dedica o último capítulo ao que considera "le but principal
de cette bibliothêque". E este objetivo é, em suas próprias palavras, "o uso
público" e "a comunicação entre os homens" 7 •
4.2.6 Com o desenvolvimento técnico-Científico de nossa época e a conse-
qüente explosão bibliográfica, cabe ao bibliotecário - ainda segundo Ortega -
o papel de "filtro que se interpõe entre a torrent~ de livros e o hom~!!!"· Ao
detalhar esta "nova missão" do bibliotecário, Ortega faz duas profecias, uma
das quais já se concretizou. Refiro-me à utilização de computadores na pesqui-
~
sa bibliográfica.
4.2. 7 Mostrando ser urgente a necessidade de uma "estatística das idéias"
que indicasse de modo preciso "o instante cronológico em que nasce uma idéia,
o processo de sua expansão, o periodo exato que dura como vigência coletiva e
a hora de seu declínio, de sua redução a simples tópico,· enfim, seu ocaso no
horizonte do tempo histórico", ele fala explicitamente no advento de "uma nova
técnica bibliográf~, de um automatismo rigoroso" 8 • Esta profecia de 1935
,.,
-102 -
t 1

s}me~te se concretizaria ana década de 60, com os índices de citações criados


por' Eugene Garfield no Instituto de Informação Científica de Filadélfia. Ao
Science cit.ations índex, publicado a partir de 1963, seguiram-se o Social scien-
ces cit.ation índex (a partir de 1973) e o Arts & humanities citation índex
(iniciado em 1978)9 , ·
4·.2~8 Não se concretizou - e certamente jamais se concretizará - a
profecia de que, em "futuro nada longínguo", a sociedade encarregaria o biblio-
tecário de organizar a produção de livros, a fim de evitar que se publiquem "os
d,snecessários e, em troca, não faltem os reclamados pelo sistema de proble-
ní,as vivos em cada época" 10 •
4.2.9 Embora Ort~gª- explicitamente descarte a hipótese de que a tarefa
por ele proposta - "dificultar a emissão de livros inúteis ou estúpidos e fomen-
tar a de certas obras indispensáveis'C.. teria caráter autoritário, é evidente que
éõITeiiã o risco de tomar-se odiosa censura ideológica e religiosa, numa época
em que a própria Igr~a Católica aboliu o famigerado lndex librorum prohibito-
IE!lb. Os bibliotecários - ·que, nos Estados Unidos, tanto lutaram contra o
macarthismo - não aceitari;:un tal incumbência, para a qual - é duro dizê-lo,
mas é a verdade - nem sequer estão preparados.
4.2.10 - Neste ponto Ortega superestimava a_c.on.metência dos bibliote-
cários, julgando-os, talvez, pelo elevado nível de seu compatriota Javier Lasso
- ~ega. Infelizmente a hipertrofia dos processos técnicos fez dos bibliotecâ-
rios contemporâneos uma nova espécie de mandarins, tão empenhados na
discussão de filigranas catalográficas que nem se lembram do nobre objetivo da
profissão, admiravelmente definido no preceito servus servorum scientiae.
4.2.11 É a melancólica conclusão a que chegamos, pela observação do
que se passa tanto em nosso País como na cena internacional, julgando-se esta
pelo depoimento do bibliotecário inglês P. Harvard-Williams - professor emé-
rito da Universidade de Loughborough - em verbete sobre bibliotecas do Bri-
tannica book ofthe yearde 1990, do qual reproduzimos o seguinte parágrafo:
4.2.12 "As a result, in the current stringent financial climate, libraiies
and their staffs were in danger of becoming marginal. Furthermore, preoccu-
pation with technical library processes rather than service to readers and with r~_
unrealistic notions of worldwide information systems tended to alienate libra- 1"'-'
ries from users. The World Bank pointed out the importance of literacy for the
development process, but though the number of literates in the world was
increasing, so was the proportion of illiterates in the world population. Libra-
ries had not taken a broad enough view of their task, which should include
playing a leading role in the eradication of illiteracy and in the encouragement
of reading. "11
4.2.13 O mal é antigo, como prova a imagem do bibliotecário fixada na
pintura e na literatura universais. Cito, como exemplo, o óleo O Bibliotecário,

-103 -
l dp pintor italiano GiuseppeArcimboldo (c. 1527-1593). Tendo representado as
diferentes estações do ano por cabeças compostas de flores, frutos e vegetais,
'Arcimboldo decidiu que o busto do bibliotecário da corte de Maximiliano II, rei
da Boêmia, devia ser constituído quase exclusivamente por livros, do que re-
sultou uma figura de "irresistível comicidade" como salientam intérpretes do
notável pintor renascentista 12 •
4.2.14 É a representação artística do bibliotecário tradicionalmente afun-
dado entre livros, com lupas apropriadas ao exame de textos paleográficos, sem
nenhum apreço pelos usuários. Por isso Rubens Borba de Morais considerava
perigosíssimas aquelas pessoas que desejam ser bibliotecárias somente por-
11~ que, adorandõ11vros, querem à força viver no meio delêsi3. É difícil convencer
tais pessoas de que são bibliotecárias menos por amor aoslivros do que aos leitores.
4.2.15 Em literatura. pode ser citado, como exemplo de imagem desfavo-
rável do bibliotecário, o romance A revolta dos anjos, de Anatole France
(1844-1924). Publicada em 1914, esta obra tem um personagem_gue se com-
praz em afastar os leitores por meio de um complicadíssimo sistema de classi-
ficação. Recordem-se, àinda, 9s poemas BibliothêqueS, de Victor Hu@.
(1802-1885) 14 , e Les assis, de Jean-Arthur Rimbaud (1854-1891): terríveis ob-
jurgatórias contra os bibliotecários, escritas por dois dos maiores poetas de
fados os tempos e em qualquer língua.
4.2.16 Diga-se a bem da verdade que à imagem de bibliotecários profis-
sionalmente deformados pelos processos técnicos pode-se contrapor a de gran-
des eruditos que exerceram a profissão de modo correto e até digno de louvo-
res. Na antiguidade clássica - infelizmente não considerada por Ortega y
Gasset ao apreciar a missão do bibliotecário através dos tempos - podemos
destacar os bibliotecários da famosa Biblioteca de Alexandria, hoje tão em
evidência com a obra de Luciano Canfora La biblioteca scompai-sa 16 , cuja pu-
blicação coincidiu com o projeto de nova biblioteca na mesma cidade, apoiado
pelo governo do Egito e pela Unesco 17 • Quatro, pelo menos, devem ser mencio-
nados: Calímaco de Cirene (c. 305 a.C.-c. 240), um dos mais representativos
poetas da erudita e sofisticada Escola de Alexandria, foi quem organizou o
catálogo da biblioteca; Zenódoto de Éfeso (fl. c. 280 a.C.), notável gramático,
responsável pela primeira edição crítica de Homero e pela Teogonia de Hesíodo,
foi diretor da biblioteca; Aristófanes de Bizâncio (c. 257- 180 a.C.). organizou
edições de Homero, Hesíodo, Píndaro, Eurípedes, Aristófanes, Anacreonte, foi
bibliotecário-chefe em cerca de 195 a.C.; Aristarco de Samotrácea (c. 217-147
a.C.), discípulo do precedente, com ele cofaborou na edição de autores gregos,
tendo sido bibliotecário-chefe em 153 18•
4.2.17 No século XVII, além do já citado médico francês Gabriel Naudé,
pode ser me~ofo alemão Gottfried Wilhelm Leib~ (1646-1716).
de conhecida influência tanto na filosofia e nas ciências como najurisprudên-

- 104 -
, !
leia !e na história, na lógica e na matemática; Leibniz foi duas vezes bibliotecá-
rio, uma em Hanover e outra em Wolfenbüttel. Ouso levantar a hipótese de que
Toisua experiência como bibliotecário que o levou a conceber uma Scientia
generalis, tendo também idealizado uma organização internacional para per-
muta de informações entre pesquisadores.
4.2.18 Mencione-se ainda o bibliotecário do Museu Britânico William Pol-
lard (1859-1944): com seu estudÕShakes-pêaiéfolios ánd quartos (1909) ele
Tundou a bibliografia textual 19 • No Brasil, merecem destaque o médico e huma-
!Jista aucho Ben'amin Franklin Ramiz Galvão (1846-1938). que reformou a
iblioteca Nacional do Rio e Janeiro, quando a dirigiu de 1870 a 1882; o
~urista e educador pernambucano Manuel Cícero Peregrino da Silva (1866-1956). ~­
que também dirigiu a Biblioteca Nacionãl (1900-1924), promovendo sua segun-.
da reforma, ligando-a ao Instituto Internacional de Bibliografia, em Bruxelas -
· onde Paul Otlet e Henri La Fontaine montaram o Repertório Bibliográfico Uni-
~- e iniciando, em 1915, o primeiro curso de biblioteconomia da América
Latina20 ; o historiador e bibliógrafo paulista Rubens Borba de Moraes (1899-1986),
organizador da Biblioteca Pública Munici al de São Paulo e do curso de biblio-
teconomia da Escola e Sacio agia e Política, promotor da terceira grandé refor-
ma da Biblioteca Nacional, que dirigiu de 1945 a 1947, tomando-se depois
diretor da biblioteca da Organização das Nações Unidas, em Nova York, além
de ~ditar do Manual bibliográfico de estudos brasileiros (1949) e autor da
monumental Bibliographia brasiliana (1958 e consideravelmente aumentada
na segunda edição, de 1983)21 •

4.3 FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO

4.3.1 Haverá sempre bibliotecários celestes e bibliotecários pedestres, co-


mo costuma dizer o professor Antônio Houaiss. O fenômeno é comum a todas
as profissões. Para que a imagem dos celestes predomine sobre a dos pedes-
tres, impondo-se ao apreço e não ao desprezo da sociedade, é indispensável que
a formação do bibliotecário se aça a nível de pós-graduação. Graduando-se
numa as "áreas do conhecimento científico ou humanístico, pode o candidato
receber uma formação biblioteconômica de alto nível, que o habilitará ao grau
de mestre e, depois, ao de doutor. Como escreve Jesse H. Sh.era, "cursos de
graduaçãQ... de extensão e por correspondência em biblioteconomia devem ser ~
ftitados collllL.praga'.'22 • Esta é também a conclusão a que chegamos, após
longa experência como organizador, diretor e professor de cursos de biblioteco-
nomia no Nordeste (1948-195,3) e em Brasília (1962-1980).
4.3.2 A formação do bibliotecário esteve sem re polarizada entre erudição
e a técnica. A onen ação erudita é a mais antiga e teve como pioneira a École-
Nationale des Chartes, fundada em Paris, em 1821. Mais de meio de século
. --
-105 -
l
depois - em 1887 - surge nos Estados Unidos uma escola com orientação
a
técnica: School of Libr~ Economy, fundada por Melvil Dewey na Universi-
dade Columbia, Nova York. Os próprios norte-americanos, geralmente critica-
dos por seu pragmatismo anti-humanista, souberam harmonizar as duas orien-
. tacões, o que se fez já no-início do século XX, por iniciativa daAmerican Library
Association (ALA), organização da qual falaremos em 4.4.3. 1. Promovendo es-
tudos e debates sobre a matéria, a ALA assumiu a tarefa do reconhecimento
das escolas de biblioteconomia, estabelecendo normas rigorosas, sempre atua-
lijmdas. ~ Graduate Library School da Universidade de Chic_MQ. iniciada em
. . 1~26, é um dos frutos dessa desejável hannonização do humanismo com a~
técnica23 •
4 .3.3 Antes de prosseguirmos, impõe-se um parêntese terminológico para
corrigir este engano muito generalizado em países latino-americanos: o de
traduzír-se [llDrãly educatioíj) por educação do bibliotecário ou, em espanhol,
educación del bibliotecariQ. Em línguas neolatinas a palavra educação não se
confunde, como em inglês, com ensino ou formação especializada. Assim, a
I· tradução correta de lj_brmy education f. formação do b1511otecário. Recorde-se
deste erro que ele também ocorre em outras áreas do saber, sendo freqüentes,
1
no Brasil, bibliônimos como educação matemática ou educação médica, em vez
de ensino de matemática e ensino médico.
4.3.4 O mesmo importante papel da ALA na biblioteconomia norte-ameri-
cana foi desempenhado na Inglaterra pela Library Association (LA), da qual
falaremos em 4.4.3.2. Com esta diferença: em vez do reconhecimento de esco-
las, como sua congênere norte-americana, a LA reconhece bibliotecários, em
exames parecidos com os realizados entre nós, na área jurídica, pela Ordem
ãos Advogados·do Brasil.
· 4.3.5 Por outro lado, enquanto a ALA se concentrou nos limites dos Esta-
dos Unidos e, depois, do Canadá, a LA procurou dar à formação de bibliotecá-
rios uma amplitude internacional, contando, para tanto, com a colaboração da
FIAB e da FID (ver 4.4.3.4) . Como exemplo pode ser citada a International
Graduate Summer School (IGSS) mantida pelo College of Librarianship no País
de -Gales.

J 4.4 ATUALIZAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO


#
4.4.01 Gilberto Freyre detestava o título de mestre porque s_e considerava
um eterno aprendiz. Tod os os campos ao saber - o científico tanto quanto o
humanístico e o técnico - exigem essa disponibilidade para a formação perma-
nente. Ou nos atualizamos ou seremos devorados, como procedia a esfinge com
os que não decifravam seu enigma.

106 -
r

-~ ciince Principies & Pra~ (bimestral; Institute of Information Scientists/


Elsevier, Londres; 1979), p ciences de l'InTorrnation. DoCümentation/Inforrna-
timrScience. Documenlãt16iJ) conhecida como PASCAL-THEMA (10 números
por ano, mais índice acumulado; Centre National de la Recherche Scientifique;
1984).
4.4.1.3 As publicações secundárias podem ser sinaléticas (quando ape-
nas referenciam os textos divulgados nas publicações primárias) ou analíticas,
quando acrescentam às referências resumos dos textos. As sinaléticas seIVem
para buscas retrospectivas do que foi publicado por determinado autor ou
~obre determinado assunto. As analíticas permitem avaliar o que deve ou não
~er lido integralmente e até o que não precisa de ser lido por nada acrescentar
ao conhecimento do consulente. Exemplo de publicação secundária sinalética
em biblioteconomia é Librmy Literature. Tem arranjo de catálogo-dicionário e
sai trimestralmente, com acumulações anuais, bienais e trienais. Iniciou-se em
1934 o editor de Nova York H. W. Wilson, especializado em obras de consulta
para bibliotecários. Também dispõe a biblioteconomia de publicação secundá-
ria analítica: Library and Inforrnation Science Abstracts. É editada mensal-
mente, com índices anuais, pela Library Association de Londres; iniciou-se em
1950 e intitulou-se, até 1969, Library Science Abstracts.
4.4.1.4 Exposições sobre o estado atual de questões de interesse para a
biblioteconomia e a ciência da informação podem ser encontradas em.J2.ublica-
ões kfcJ,á rias ~ das quais a mais antiga é Five Year's Work in Librarianship, da
Library Association de Londres, iniciada em 1955 com o volume corresponden-
te ao qüinqüênio 1951-55. Surgiram depoisAnnuaJ Revíew oflnforrnation Scien-
ce and Technology (publicada a partir de 1966 pela American sõêiefY for Infor-
mation Science e pela editora holandesa Elsevier), Advances in Inforrnation
Systems Science (publicação anual da Plenum Press, deNova York, iniciada em
·1969) e Advances in LibrarianshiQ_(publicação anual da Academic Press de
Nova York, iniciada em 1970)25 •

4.4.2 Congressos
4.4.2.1 Ainda não se fez, salvo engano, uma classificação dos encontros
periódicos de especialistas nos quais são discutidos assuntos de interesse co-
mum. Eles são chamados arbitrariamente de congressos, conferências, jotna-
das, reuniões e simpósios. O grande poeta Joaquim Cardozo tinha, portanto,
todo o direito de imaginar um "congresso de ventos": "Na várzea extensa do
Capibaribe, .em pleno mês de agosto / Reuniram-se em congresso todos os
ventos do mundo".
4.4.2.2 A médicos, biólogos, engenheiros, economistas, magistrados, cien-
tistas sociais - a todos os que não desejam ser ultrapassados pelo progresso

- 108 -
r

l
contínuo dos conhecimentos - interessa participar de tais encontros. Pales-
tras, comunicações, relatórios, debates podem ser ainda mais importantes,
para atualização dos especialistas, do que a própria leitura sistemática de
publicações periódicas. Dos encontros bem organizados r esultam anais, cujos
conteúdos são distribuídos aos participantes sob a forma de pre-prints: textos
do maior interesse para os especialistas.
4.4.2.3 A primeira conferência internacional de bibliotecários realizou-se
em Londres, de 2 a 5 de outubro do ano remoto de 1877. Nessa conferência
tPndou-se a Library Association: um ano depois da fundação da American
Library Association, instituições das quais falaremos em 4.4.3 . Também de
interesse para os bibliotecários foi a realização em Bruxelas, em ~895 , da
Primeira Conferência Internacional de Bibliografia, durante a qual os belgas
Paul Otlet e Henri La Fontaine mostraram o Repertório Bibliográflco Universal:
um catálogo em fichas da produção bibliográfica internacional, ordenadas se-
gundo a então nascente Classificação Decimal Universal. Também fundou -se
na mesma oca~ião o Instituto Internacional de Bibliografia, hoje Federação
Internacional de Documentação, órgão do qual falaremos em 4.4 .3.4.
i
1 4 .4.3 Associações Profissionais

4.4.3.1 A fundação, em 1876, de American Library Association e, no ano


seguinte, de sua congênere inglesa - a Library Association - incentivou os
bibliotecários de outros países a se organizarem, donde a criação, em 1900, da
Ontario Lib:\ary Association, em 1906 daAssociation des Bibliothécaires Fran-
çais, em 1907 da Vereniging van Archivarissen en Bibliothecarissen van Belge
/ Association des Archivistes et Bibliothécaires de Belgique.
· 4 .4.3.2 Em 1926, por ocasião da Conferência Comemorativa do Cinqüen-
tenário da ALA (Atlantic City e Filadélfia), começou-se a pensar numa organiza-
ção internacional de bibliotecários, por analogia com o Instituto Internacional
de Bibliografia, que já promovera seis congressos internacionais. O cinqüente-
nário da ALA foi comemorado em setembro de 1927, em Edinburgo, onde repre-
sentantes de quinze associações nacionais e bibliotecários aprovaram a idéia de
Gabriel Henriot, fundando a Federação Internacional das Associações de Biblio-
tecários/International Federation of Library Associations (FIAB/IFLA). Note-se
que os bibliógrafos ainda realizaram separadamente o sétimo, oitavo e nono
congressos internacionais (Colônia, 1928, Londres, 1929 e Zurique, 1930). Mas,
sob o influxo da IFLA, bibliotecários e bibliógrafos se uniram, realizando-se em
Roma o Primeiro Congresso Mundial de Biblioteconomia e Bibliografia (1929). E,
repita-se, do Segundo Congresso Mundial de Biblioteconomia e Bibliografia,
realizado em Madrid, em maio de 1935, que foi inaugurado com a conferência
de Ortega y Gasset, da qual tratamos em 4.2. 1 e parágrafos seguintes.

- 109 -
l, 4.4.3.3 A biblioteconomia mundial deve muito à IFLA, hoje International
Federation of Library Associations and Institutions, com sede em Haia. Um de
seus mais importantes projetos-de grande interesse para os bibliotecários do
chamado Terceiro Mundo - é o Controle Bibliográfico Universal, conhecido
pela sigla UBC (Universal Bibliographic Control). Também merecem destaque o
relativo à disponibilidade universal de publicações, conhecido pela sigla UAP
(Universal Availability of Publications) e a normalização internacional da des-
crição bibliográfica, através das séries ISDB (International Standard Bibliogra-
. hic Descriptions).
f
v 4.4.3.4 Mais antiga que a IFLA, como já vimos, é a FID, título adotado em
1938 pelo primitivo Instituto Internacional de Bibliografia, que em 1931 já
passara a chamar-se Instituto Internacional de Documentação. Nascida em
Bruxelas; ela sediou-se em Haia em 1938. Proprietária dos direitos sobre o
sistema CDU (Classificação Decimal Universal), a FID possui uma Comissão
Central de Classificação (FID/CCC), com 30 subcomissões para permanente
atualização do sistema. Os resultados das revisões são divulgados na publica-
ção anual Extensions and Corrections to the UDC. Outras publicações da FID
importantes para atualização do bibliotecário são o FID News Bulletin (mensal,
com suplementos trimestrais dedicados à reprografia e à formação de especia-
listas em ciência da informação), Intemational Forum on Inforrnation and Do-
cumentation (trimestral, com texto em russo e inglês) e R&D Projects in Docu-
mentation and Librarianship (bimestral).

4.4.4 Obras de Consulta

4.4.4.1 Também de grande interesse para o trabalho do bibliotecário são


as obras de consulta especializadas em· biblioteconomia, documentação, ciên-
cia da informação e informática. O maior empreendimento é, sem dúvida, a
j ~ncyclopedia of Library and Inforrnation Science, publicada a partir de 1968
pelo editor Marcel D~kker, sob a direção de dois competentes bibliotecários
norte-americanos: Alen Kent e Harold Lancour. São 33 volumes de verbetes
alfabeticamente ordenados, completados por um índice (volumes 35-36) e su-
plementos a partir do volume 36. Poucas áreas do saber dispõem de uma
enciclopédia como esta, da qual podéiiiõsêIIZef. parafraseando Gilberto Freyre,
êitlê''atrãi o adjetivo monumental"26 . De proporções bem menores, mas bem
feito e atuãlizado é a~ World Encyclopedia ofLibraiy and Inforrnation SeIVi-
ces 27. A pioneira Encyclopedia of Librarianship tem hoje interesse apenas his-
tórico28.
4.4.4.2 Também dispõe a biblioteconomia de excelentes dicionários e vo-
cabulários. Dentre os plurilíngües, indicamos o pioneiro Vocabularium biblio-

-110 -
, l

lth~carii, compilado para a Unesco por Anthony Thompson e a 'fenninology__


29
,

o'fDocumentation, compilada por Gernot Wersig e Ulrich Neveling, também sob


os auspícios da Unesco30 • Em língua inglesa destacam-se The ALA Glossary of
Library and Infonnation Science 31 e Harold's Librarians Glossary of Tenns
. used in Librarianship, Documentation and the Book Crafts and Reference
~~. Em língua espalliiola, o pioneiro e talvez único é o do bibliotecário
argentino Domingo Buonocore33 • Para a nossa língua existem bons e até ótimos
dicionários de artes gráficas; em nenhum deles, porém, foram acolhidos os
~termos específicos da biblioteconomia e da ciência da informação. É verdade
~ue na elaboração de seu Novo dicionário da língua portuguesa contou Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira com o valioso concurso do bibliotecário Orlando
da Costa Ferreira (1915-1975). Desde 1988 temos o excelente Dicionário do
livro, das bibliotecárias da Universidade de Coimbra Maria Isabel Faria e Maria
da Graça Pericãa34 •
4.4.4.3 Para elucidação das inúmeras (siglaseabreviaturafilutilizadas em
biblioteconomia, ciência da informação e informática, Pauline M. Vaillancourt
compilou o Jntemational Directory of Acronyms in Libra~~
Computer Science§.. 35 • Biografias de bibliotecários são encontradas em repertó-
rios especializados. O primeiro terá sido o Who's who in Library Service, edità-
do em 1933 por H. W. Wilson e permanentemente atualizado36 •

4.5 O BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL

4.5.1 Serafim Leite identificou os primeiros bibliotecários dos colégios


estabelecidos pela Companhia de Jesus no Brasil. Já nos ocupamos do assun-
to, fixando os nomes desses pioneiros. Merece destaque o irmão Antonio da
Costa (1647-1722). Francês de nascimento, foi uma vocação tardia de missio-
nário, pois só ingressou na Companhia aos trinta anos. Conhecia quase todos
os oficias ligados ao livro, como os de tipógrafo; impressor, encadernador e
bibliotecário. Como tal, chegou a dirigir a biblioteca do Colégio da Bahia, cujo
catálogo organizou.
4.5.2 O catálogo organizado por Antônio da Costa foi o primeiro instru-
mento biblioteconômico produztao no Brasil, sendo lamentável que tenha de-
saparecido. Segundo um documento oficial da Companhia de Jesus, tratava-se
de um catálogo sistemático com o respectivo índice temático e onomástico.
"Sendo exímio latinista", Antonio da Costa "classificou toda a biblioteca por
assuntos, num índice muito bem ordenado e completado com os nomes dos
autores"37 •
4.5.3 Desaparecido o catálogo da biblioteca do Colégio da Bahia, nem por
isso perde a "Virginia brasileira" - como a chamou Joaquim Nabuco, por ter
dado.ao Brasil alguns de seus maiores nomes públicos- a condição de berço da

- 111 -
,
l
4.5.9 Na)Qécada de 70) surgiram 4 publicações periódicas primárias: .Ciên-
cia da Informação (semestral, IBICT, 1972), Revista da Escola de BiblioteçonQ.-
mia da UFMG (semestral, 1972); Bevista Brasileira de Biblioteconomia e Docu-
mentação (trimestral, Federação Bràsileira de Associações de Bibliotecários,
---=--
1973) e Revista de Biblioteconomia de Brasília (semestral, Departamento de
Bib1ioteconomia da Universidade de Brasília e Associação dos Bibliotecários do
Distrito Federal, 1973). Era uma demonstração de vitalidade da bibliotecono-
mia brasileira. Mas no decorrer dos anos 80 essas publicações deixaram de sair
om regularidade. Também está atrasada nossa única publicação periódica
.~ecundária: a Bibliografla Brasileira de Ciência da Infoimação. Iniciada em
1960, como mbliogrãiiaBrasileira de Documentação (v. 1-5, 18Il/1960/1980),
adotou o título atual a partir do volume 6 (1980/1983).Até o primeiro trimestre
de 1991 (quando estamos concluindo a redação desta obra) havia saído o
volume 7 (1984/1986). Entretanto, informações a respeito do que se publicou
em anos subseqüentes podem ser obtidas na base de dados do IBICT.
· 4.5.10 O primeiro Congresso Brasileiro de Biblioteconomia realizou-se no
Recife, em julho de 1954, sob os auspícios do Departamento de Documentação
e Cultura da Prefeiturada cidade. Quatorze congressos foram realizados até
1991. Desde o segundo (Salvador, 1957) eles se dizem de Biblioteconomia e
Documentação. Talvez um dia passem a se intitular de Ciência da Informação.
Poucos dispuseram de recursos para publicação de anais. Mas os textos das
comunicações estão indexados na Bibliografia Brasileira de Ciência da Infor-
mação, podendo ser obtidos na base de dados do IBICT.
.4.5.11 A Associação Paulista de Bibliotecários foi fundada em 1938, quan-
do o curso de biblioteconomia.de São Paulo diplomou seus primeiros concluin-
tes. É a mais antiga do Brasil. Quase todas as capitais brasileiras possu.em
suas .associações. Uma das mais dinâmicas é a Associação dos Bibliotecários
do Distrito Federal (ABDF), com extenso programa editorial. Por ocasião do
segundo Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (1957) fun-
dou-se ·em Salvador a Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários
(FEBAB), com sede em São Paulo. E em .!Q§Z_foi fundada em Belo Horizonte a
Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD).
4.5.12 A lei nº 4.084, de 30 de junho de 1962, dispõe sobre a profissão de "
bibliotecário e regula seu exercício. Ela foi regulamentada pelo Decreto nº
56.725, de 16 de agosto de 1965. De acordo com os referidos dispositivos legais
é privativo dos bacharéis em biblioteconomia o exercício de cargos de direção
de bibliotecas e serviços de documentação, de execução de tarefas bibliotecá-
rias e de ensino de biblioteconomia. Foram por eles criados o Conselho Federal
e Conselhos Regionais de Biblioteconomia. Para estes devem obrigatoriamente
contribuir os que exercem os cargos supramencionados. O Conselho Federal de
Biblioteconomia é órgão vinculado ao Ministério do Trabalho e Previdência Social.

-114 -
l 4.5.13 Três órgãos da administração pública federal- além da Biblioteca
Nacional, da qual tratamos em 2.4.8, 2.4.9, 2.4.10, 4.5.5 e 4.5.6 - devem
ser mencionados nesta exposição panorâmica a respeito do bibliotecário no
Brasil: o Departamento' Administrativo do Seiviço Público (DASP), o Instituto
Nacional do Livro (INL) e o Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação
(IBBD), depois transformado em Instituto Brasileiro de Informação em Ciência
e Tecnologia (IBICT). Na excelente Revista do Serviço Público- principalmente
na época em que foi dirigida por Augusto de Rezende Rocha- foram publica-
dps vár~os artigos de interesse para a biblioteconomia e a documentação, de
at.Jtores nacionais e estrangeiros. Organizada e dirigida P-Or Lydia de Queiroz
Sambaquy, a biblioteca do DASP destacou-se como inovadora de processos
técnicos e de serviços aos usuários. Era, por isso, o laboratório ideal para
estágios de concluintes dos cursos de biblioteconomia. Lá nasceram o Çatálogo
Coletivo e o Seiviço de Intercâmbio de Catalog-ª.ÇãO, depois incorporados pelo
IBBD e lamentavelmente extintos pelo IBICT. O INL, também criado em 1937,
foi um benemérito incentivador da criação e modernização de bibliotecas mu-
nicipais e da formação de bibliotecários, tendo oferecidos cursos regulares -
como o de Belo Horizonte, fundado por Etelvina Lima, depois alongado em
Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal de Minas Gerais - e inten-
sivos. Publicou ainda o INL, além de obras de grande erudição, manuais técni-
cos de biblioteconomia e o importante Guia das bibliotecas brasileiras. Criado
em _1954, o !J}J3D exerceu importante papel na dificil transição da bibliotecono-
mia para a documentação no Brasil. Tomou-se membro nacional da Federação
Internacional de Documentação (FID), reatando a ligação da biblioteconomia
brasileira com a Europa: ligação iniciada p'or Manoel Cícero Peregrino da Silv
no começo do século e interrom ida, na década de 40, or influência da biblio-
Eecõnõrn1 o e-americana. A transformação do IBBD em IBICT corresponde
à transiçao da documentação· para a ciência da informação. Jamais perdoare-
mos ao IBICT a extinção do Catálogo Coletivo e do ' Seiviço de Intercâmbio de
Catalogp.ção. Mas seria injusto negar os pontos positivos deste órgão: o único,
resentemente, com o qual podem contar os bibliotecários brasileiros, em face
da estúpida extinção do DASP e do INk.

- 115 -·
,
l

.
4.6 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
~

4.6.1 DAS CITAÇÕES

1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1975, p. 202.
2 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Loc. cit.
3 ORTEGA Y GASSET, José. "Misión dei bibliotecario". Revista de Decidente (Madrid) maio 1935.
Consultamos a segunda edição em: Federação Internacional de Bibliotecários & Asociación de
Bibliotecarios y Bibliografas de Espafla. Actas y trabajos dei II Congreso Internacional de Biblio-
tecas y Bibliografia. Madrid-Barcelona, 20-30 de maio de 1935. Madrid: Librería de Julián
Barbazán, s. d. 2 v. em 1. A parte lida em francês está nas páginas 79-99. O texto completo em
espanhol nas páginas 100-22. Saiu depois nas Obras completas. Madrid: Espasa-Calpe, 1943,
1943, v. 2, pp. 1297-322. Temos conhecimento ainda das seguintes edições: EI libra de las
misiones: Buenos Aires, Espasa-Calpe Argentina, 1940, pp. 11-50 (Colección Austral, 101);
Misión dei bibliotecario y otros ensayos afines. Madrid: Revista de Occidente, 1962, p. 59-98 (E!
arquero). Citamos, daqui em diante, as Obras completas, tomo V (1933-1941). 7ª ed. Madrid:
Revista de Occidente, 1970, pp. 209-34.
4 ORTEGA Y GASSET, José. Obras completas, ed. cit., p. 218: "No parece debido a un puro azar
que precisamente en esta época en que se siente, tan vivamente, la necessidad de que haya más
libras, la imprenta nazca".
5 MALCLÊS, L. N. La bibliographie. Paris: Presses Universitaires de France, 1956, pp. 18-9 e 24-8
(Que sais-je? 708). .
6 ORTEGA Y GASSET, José. Obras completas, ed. cit., pp. 218-19.
7 NAUDÉ, Gabriel. Advis pour dresse une bibliothêque. Réimprimé sur la deuxiême édition (Paris,
1644). Paris: Isidore Liseux, 1876, pp. 9 e 22.
8 ORTEGA Y GASSET, José. Obras completas, ed. cit., p. 228.
9 GARFIELD, Eugene. Citation Indexing- its Theoiy and Application ln Science, Technology, and
Humanities. Nova York: J. Wiley, 1979.
10 ORTEGA Y GASSET, José. Obras completas, ed. cit., p. 229.
11 HAVARD-WlLLIAMS, P. "Libraries". 1990 Britannica Book ofthe Year. Chicago: Encyclopaedia
Brittanica, 1990, 252-53.
12 LEGRAND, F.C. & SLUYS, F. Arcimboldo et les arcimboldesques: Paris: La NEF, 1955.
13 MORAES, Rubens Borba de. O problema das bibliotecas brasileiras. Rio de Janeiro: Casa do
Estudante do Brasil, 1943, p. 61. 2ª ed. Brasília: Associação dos Bibliotecários do Distrito
Federal, 1983, p. 29.
14 HUGO, Victor. "Bibliothéques". Em seu: Toute la lyre. Paris: Nelson, s. d., pp. 326-27.
15 RlMBAUD, J. A. "Les assis". Em suas: Oeuvres complêtes. Paris: Gallimard, 1954, pp. 70-1
(Bibliothéque de la Plêiade, 68). Também pode ser lido em Arthur Rimbaud, une étude par
Claude-Edmonde Magny, oeuvres choisis, bibliographie, dessins, portraits, facsimiles. Paris:
Pierre Seghers, 1956, pp. 85-6 (Poétes d'aujourd'hui, 12).

- 116 -
,
l
16 CANFORA, Luciano. La véritable histoire de la bibliotheque d'Alexandrie. Trad. de l'itallen par
Jean-Paul Manganaro et Danlelle Dubroca. Paris: Desjonquêres, 1988. A biblioteca desapareci-
da; história da biblioteca de Alexandria. Trad. de Frederico Carotti. São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
17 CI.AVEL, Jean-Pierre & TOCATLIAN, Jacques. Feasibility study for the reviva! of the ancient
library ofAlexandria. First phase. Paris: Unesco, 1987. (Serial n 2 FMR/PGI/87/102.) Em 26 de
junho de 1988 foi lançada a primeira pedra do edlficlo da nova biblioteca de Alexandria, quando
discursaram o presidente da República Árabe do Egito, Hosni Moubarak, e o diretor geral da
Unesco, Federico Mayor.
l~ EL-ABBADI, Mostafa. The Life and Fate ofthe Ancient LibraryofAlexandria. Paris: Unesco, 1990.
lf GREG, W. W. 'The Present Position of Bibliography". Em seu: Collected Papers, ed. by J. C.
1 Maxwell. Oxford: Clarendon Press, 1966, pp. 207-25.
20 SAMBAQUI, Lydia de Queiroz. "Manuel Cícero Peregrino da Silva". IBBD Boletim Informativo
(Rio de Janeiro) 2(5): 235-37, set./out. 1956.
21 FONSECA, Edson Nery da. "Moraes, Rubens Borba de". ln: AI.A World Encyclopedia of LibralJ'
and Information Services: Chicago: American Library Assoclation, 1980, p. 380. E do mesmo
autor, "Rubens Borba de Moraes". Em seu: Problemas brasileiros de documentação. Brasília:
IBICT, 1988, pp. 263-66.
22 SHERA, Jesse H. Introduction to Library Science; Baste Elements of LibralJ' Service. Littleton,
Col.: Libraries Unlimited, 1976, p. 155 (" ... Undergraduate, Extenslon, and Correspondent
Courses ln Librarlanshlp should be Avoided as the Plague"),
23 BRAMLEY, Gerald. A Histol}' ofLibrary Education. Londres: Clive Blngley, 1969, p. 87.
24 WERSIG, Gernot & NEVELING, Ulrich. TerminologyofDocumentatton. Paris: Unesco, 1976, p.
81 e 146 (state-of-the-art report).
25 PURCELL, G. R. & SCHI.ACHTER, G. N. Reference Sources ln Library and Information Services:
A Cuide to the Literature. Santa Barbara: ABC-Cllo Information Services, 1984.
26 KENr, Alen & I.ANCOUR, Harold, ed. Encyclopedia of Library and Information Science. Nova
York: Marcel Dekker, 1968.
27 WEDGEWORTII, Robert. ed. AI.A World Encyclopedia of Library and Information Services.
Chicago: American Library Association. 1980.
28 lANDAU, Thomas, ed. Encyclopaedia ofLibrarianship. Londres: Bowes; Nova York: Hafner, 1959.
29 THOMPSON, Anthony. Vocabularium bibliothecarii, 2ª ed. Paris: Unesco, 1962.
30 WERSIG, Gernot & NEVELING, Ulrich. Terminology of Documentation. Op. cit., n 2 24.
31 YOUNG, Hearstsill, ed. 171e AI.A Glossal}' of Library and Information Science. Chicago: Ameri-
can Library Association, 1983.
32 HARROD, L. M. Librarians' Glossary ofTerms Used ln Librarianship, Documentation and the
Book Crafts and Reference Book, 5ª ed. rev. and updated by Ray Bryterch. Aldershat, Ingl. :
Gower, 1984.
33 BUONOCORE, Domingo. Diccionario de bibliotecología, 2ª ed. aum. Buenos Aires: Marymar, 1976.
34 FARIA, Maria Isabel & PERICÃO, Maria da Graça. Dicionário do Livro; Terminologia Relativa ao
Suporte, ao Texto, à Edição e Encadernação, ao Tratamento Técnico, etc. Pref. de J . V. de Pina
Martins. Lisboa: Guimarães, 1988.
35 VAlLlANCOURf, Pauline. Intemational Directory of Acronyms in Library, Information and
Computer Science. Nova York & Londres: R R. Bowker, 1980.
36 WILLIAMSON, C. C. & JEWEIT, A L. ed. Who's who ln Library Service. Nova York: Wilson, 1933.
37 LEITE, Serafim, S. 1. Artes e oficias dos jesuítas no Brasil (1549-1760). Lisboa: Brotéria; Rio de
Janeiro: Livros de Portugal, 1953, pp. 102-03 e 147-48.
38 FONSECA, Edson Nery da. "Desenvolvimento da biblioteconomia e da bibliografia no Brasil".
Revista do Livro (Rio de Janeiro) 5: 95-124, mar. 1957.

- 117 -
/ .1:111
r

l
3,9 MORAES, Rubens Borba de. "A fundação da Biblioteca Pública da Bahia". Em seu: Livros e
bibliotecas no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Pa ulo: Secreta-
ria da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado, 1979, pp. 143-59.
40 FONSECA. Edson Nery da. A biblioteconomia brasileira no contexto mundial. Rio de Janeiro:
Tempo Brasileiro, 1979, pp. 22-5.
41 ARAGÃO, Antonio Ferrão Moniz de. Catalogo geral das obras .de sciencias e litteratura que
contem a Bibliotheca Publica da Bahia. 1 9 volume. Bahia: Typographia Constitucional, 1876 (ao
contrário do que diz o título, este volume inclui a Classificação methodica e encyclopedica dos
conhecimentos humanos elaborado pelo autor).
j 42 FONSECA, Edson Nery da. "A dupla significação de um centenário". Cultura (Brasília) 29:
~ 76-.80, abr./jun. 1978. Reproduzido em seu: Problemas brasileiros de documentação. Brasília,
IBICT, 1988, pp. 300-05.
43 RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin, Bibliothecas publicas da Europa. Rio de Janeiro: Ministe-
rio dos Negocios do Imperio, 1875.
44 RAMIZ GALVÃO, Benjamin Franklin. Relatorio sobre os trabalhos executados na Bibliotheca
Nacional da Corte, no anno de 1874 e seu estado actual. Rio de Janeiro: Minlsterio dos Negocios
do Imperio , 1875.
45 DIAS, Antonio Caetano. O ensino da biblioteconomia no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto de
Previdência e Assistência dos Servidores do Estado, 1955.
46 SILVA, Manoel Cícero Peregrino da. "Remodelação por que passou a Biblioteca Nacional e
vantagens daí resultantes". Anais da Biblioteca Nacional (Rio de Janeiro), 35: 1-9, 1913 [1916).
Reproduzido em seu: Conferências, discursos, comunicações. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do
Commercio, 1938, pp. 5-21.

4 .6.2 DE OBRAS RECOMENDADAS

ASHEIM, Lester. "Librarians as professionals". Library7rends(Urbana) 27{3): 225-257, Winter, 1979.


ASSOCIATION DES BIBLIOTHÉCAIRES FRANÇAIS, Paris. Le métier de bibliothécaire; cours élé-
mentaire de formation professionnelle a l'intention du personnel des médiatheques publi-
ques, 8g éd. ent. réf. Coordination: Françoise Frolssart. Paris: Cercle de la Librairie, 1988.
BENNETT, George E. Librarians in· Search of Science and ldentity: The Elusive Profession. Metu-
chen, N. J .: Scarecrow Press, 1988.
BRAMLEY, Gerald. A History of Library Education. Op. cit., nº 23.
CHRIST, John M. Toward a Philosophy of Education Librarianship. Llttleton, Col. : Libraries Unli-
mited, 1972.
ELLIOIT, Pirkko, ed. Current Research for the lnformation Profession, 1987/88. Londres: Library
Association, 1988. (Há um excelente introdutório de Jane B. Robbins sobre "Comunicação
da pesquisa na profissão da informação".)
KNAPP, Patricia B. 'The Library as a Complex Organization: lmplications for Library Education".
ln: Rawski, Conrad H., ed. Toward a Theory ofLibrarianship; Papers in Honor ofJesse Hauk
Shera. Metuchen, N. J .: Scarecrow Press, 1973, pp. 472-94.
KUNZE, Horst. "On the Professional Image and the Education ofthe Librarian". ln: Rawskl, Conrad
H. , ed. Toward a Theory of Librarianship. Op. supra cit. , pp. 515-27.
MORAES, Rubens Borba de. O problema das bibliotecas brasileiras. Op. cit., nº 13.
- Livros e bibliotecas no Brasil colonial. Op. cit., nº 39.
OLIVEIRA, Zita Catarina Prates de. O bibliotecário e sua auto-imagem. São Paulo: Pioneira, 1983.
ORTEGA y GASSET, José. Misión del bibliotecario. Op. cit., nº 3.

-11 8 -
, i
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RÀNGANATHAN, S. R. ''What and how of Documentation Trainlng" . .Jn: Rawskl, Conrad H., ed.
' Toward a Th.eor}r of Librarlanshlp. Op. supra cít., pp. 495-514.
SHAFFER, D. E. The MaturityofLibrarianshíp as a Professíon. Metuchen, N. J .: Scarecrow Press, 1968.
SHERA, Jesse H. The Foundatíons ofEducatíon for Líbrarianship. Nova York: Becher & Hayes, 1972.
- "Education and Research". Em seu: lntroduction to Library Science. Op. cit. , nº 22 , p. 139-157.
STEVENS, Norman D. & STEVENS, Nora 8. , ed. Author's Cuide to Joumals ln Library & lnfonna-
tíon Science. Nova York: The Haworth Press, 1982.

-119 -
,
l

APÊNDICE ANTOLÓGICO

TEXTOS DE
ESCRITORES BRASILEIROS

APRESENTAÇÃO

Reúne esta antologia textos em prosa e verso de autores brasileiros que


mostram ao estudante de biblioteconomia, para os quais foi escrita a presente
Introdução, como o livro, a biblioteca, o leitor e o bibliotecário são encarados
numa perspectiva abrangentemente humanística. Esta perspectiva é impor-
tantíssima para o futuro bibliotecário, libertando-o do indesejável tecnicismo
no qual se fecham tantos profissionais. Sempre combatemos o tecnicismo,
procurando exorcizá-lo com os versos atribuídos por Fernando -Pessoa a seu
heterônimoÁlvaro de Campos, que era, como informa Pessoa, engenheiro naval:

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.


Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.

Convidado a falar em agitada assembléia de operários, o grande Miguel de


Unamuno, de quem se esperava palavras inflamadas, muito de acordo com seu
temperamento, surpreendeu o auditório lendo poemas místicos e explicando-
se a um amigo: "é do que eles precisam".
O mesmo procuramos fazer com este apêndice: ao fim de uma Introdução
à biblioteconomia, oferecemos aos que se preparam para exercer funções téc-
nicas um pouco de poesia e prosa. É do que precisam, para evitar a deformação
profissional. Afinal, como escreveu Verlaine ao concluir sua Arte poética, "tout
le reste est littérature".
1 .

~ ~~o de Andrade
. O texto mais antigo é a crônica "Biblioteconomia", de Mário de Andrade
(São Paulo, 1893-1945). Sempre citamos este autor em aulas de classificação
bibliográfica, como exemplo de que é melhor reunir onomasticamente as obras
do que · di~persá-las segundo os gênerosHterários: procedimento, além de prá-
tico, concordante com a moderna teoria dos gêneros. Ele escreveu romances,
novelas, contos, poemas, ensaios, · crônicas, biografias, além de estudos de
Jiteratura, música, folclore, lingüística etc. ·
~ Mário de Andrade revelou-se também admirável executivo, na organização
e direção do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo. A reforma
da velha Biblioteca Municipal foi confiada a Rubens Borba de Moraes, seu
velho companheiro da Semana de Arte Moderna. Para preparar pessoal neces-
sário à reforma, Borba de Moraes organizou um curso de biblioteconomia na
Escola de Sociologia e Política (ver 4.5.7). Foi então, segundo supomos, que
Mário de Andrade descobriu "a grandeza admirável da biblioteconomia" de que
fala na crônica aqui antologiada.
O texto é caracteristicamente mário-de-andradiano, com frases saboro-
sas, como a que opõe "o encanto maravilhoso de Platão" à "secura sem beijo de
Aristóteles". Note-se, ainda, a velada referência à ditadura Vargas - a crônica
é de 1937 -, quando muitos jovens foram instados a trocar a "beca dificil dos
clérigos" pelo "quépi chamariz dos generais", deixando o mestre paulista de
sua geração desalentado: "vivo meio sufocando". Donde o apelo final à bibliote-
conomia para derrubar os quépis e escovar as becas ... "Biblioteconomia" é uma
das crônicas reunidas no livro Os filhos da Candinha (São Paulo, Martins,
1942, pp. 179-83).

\ Carlos Drummond de Andrade/Antônio Simões dos Reis


Reproduzimos a deliciosa crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre
Simões dos Reis e o necrológio deste bibliógrafo, procurando homenagear tanto
o autor como o assunto. Carlos Drummond de Andrade (Itabira, 1902-Rio de
Janeiro, 1987) é um dos poetas de nossa cabeceira. Guardamos entre papéis
preciosos uma carta em que ele diz haver surpreendido em artigo de nossa
autoria revelações sobre sua poesia das quais não se havia dado conta. Sempre
encontramos em seus poemas a expressão mais adequada para alegrias e
tristezas, esperanças e desilusões, entusiasmos e decepções. "Mãos dadas" é
um de seus poemas que mais ajudam a viver e nele Otto Mària Carpeaux
confessou haver encóntrado um sentido parà -seuexílio. Ousamos parafraseá-
lo num de nossos -méiliifestos contra a ·rotina, como apelo à cooperação entre
bibliotecários.

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., 1.

l 1
,Além de poeta, Drummond foi excelente prosador, destacando-se como
novelista, contista, memorialista e cronista. Ignoramos o lugar e a data da
publicação original da crônica "Poesia e utilidade de Simões dos Reis", que
reproduzimos da primeira obra em prosa do autor, Confissões de Minas (Rio de
Janeiro, Americ-Edit., 1944, pp. 101-07). O artigo "Um editor no céu" foi publi-
cado no Jornal do Brasil de 5 de julho de 1980, caderno B, p. 7.
Antônio Simões dos Reis (Aracaju, 1899-Rio de Janeiro, 1980) teimava em
trabalhar sozinho numa época em que a bibliografia, como assinala Louise-
No~lie Malclês, já deixara de ser um esforço individual para organizar-se cole-
tivhmente. Simões dos Reis escreveu obras que requeriam equipes, como a
Bibliografia nacional (1942-43), Pseudônimos brasileiros (1941) e a Bibliografia
das bibliografias brasileiras ( 1942). Foi também editor de obras literárias.
Estava sempre fazendo pesquisas na seção de periódicos da Biblioteca
Nacional, onde o encontramos em várias ocasiões. J?ava a impressão de um
louco bem intencionado e usava, em vez de fichas, cadernos escolares. Soube-
mos que, numa série de palestras sobre bibliografia oferecidas pelos Cursos da
Biblioteca Nacional, foi Simões dos Reis interpelado por uma das alunas que
reclamou: "o senhor está na última aula e ainda não deu uma definição de
bibliografia!". Resposta de Simões dos Reis, parafraseando o rei da França: "a
bibliografia sou eu!".
l
~ Gilberto Freyre/Rubens Borba de Moraes

Também procuramos homenagear autor e assunto ao reproduzir o artigo


de Gilberto Freyre sobre Rubens Borba de Moraes. Embora Gilberto Freyre
(Recife, 1900-1987) seja mais conhecido como historiador social e antropólogo
consagrado por Casa-grande & senzala (1933), Sobrados e mucambos (1936) e
Ordem e progresso (1959), ele mesmo se considerava preferentemente escritor
literário: preferência justificada por seus notáveis ensaios sobre escritores, J~ jj
artistas e políticos brasileiros, seu poema Bahia de todos os santos e de quase ·'
todos ·os pecados (1926). suas novelas Dona Sinhá e o fllho padre (1964) e O
outro amor do Dr. Paulo (1977), além de vários contos dispersos em revistas.
Lembre-se ainda sua colaboração semanal no Diário de Pernambuco (iniciada i
em 1918) e outros grandes jornais brasileiros. \''
O artigo sobre Rubens Borba de Moraes (Araraquara, 1899-São Paulo,
1986) apareceu no Diário de S. Paulo e foi reproduzido na publicação da con-
ferência O problema das bibliotecas brasileiras (1943): conferência que é, ainda
hoje, um texto de grande interesse para a compreensão da biblioteconomia no
Brasil (ver 4.5.7). O protesto de Gilberto Freyre contra a dispensa de Borba de
Moraes da Biblioteca Municipal de São Paulo levou o governo da União a

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1

lsolicitar ao bibliotecárlo paulista um relatório sobre a situação da Biblioteca


Nácional, então dirigida por Rodolfo Garcia, bem como a nomeá-lo diretor-geral
em 1943. Ficou no cargo apenas três anos, mas realizou uma reforma básica.
Desgostoso com intrigas semelhantes às que o afastaram de São Paulo, Rubens
Borba de Moraes desligou-se da Biblioteca Nacional em 1946; sendo logo apro-
veitado pela Unesco na direção de seu Serviço de Informação em Paris e, em
seguida, pela Organização das Nações Unidas, como diretor de sua biblioteça
em Nova York. ·

~ Otto Maria Carpeaux

A presença de Otto Maria Carpeaux no Brasil foi, para muitos brasilei~os,


algo de epifânico. Seus artigos no Correio da Manhã e na Revista do Brasil, a
partir de 1941, revelavam um ensaísta como, naquela época, só universidades
européias e norte-americanas podiam produzir. Nascido em Viena (1900), Otto
Maria Karpfen graduou-se em ciências da natureza e da cultura, para utilizar a
terminologia de Rickert. A segunda Guerra Mundial trouxe-o para o Brasil, tendo
vivido pouco tempo em Curitiba e São Paulo. Descoberto por Álvaro Lins, então
crítico semanal do Correio da Manhã; transferiu-se definitivamente para o Rio de
Janeiro, onde morreu em 1978. Além de culto e sensível, Otto Maria Carpeaux
tinha uma .extraordinárla capacidade de trabalho. De 1941 a 1966 ele publicou
1.500 artigos - alguns dos quais reunidos nas obras A cinza do purgatório
(1942), Origens de fins (1943), Respostas e perguntas (1953), Retratos e leituras
(1953), Presenças (1958) e Livros na mesa (1960) - e escreveu a monumental
História da literatura ocidental, em oito volumes (1959-66) e duas obras também
fundamentais: A literatura alemã (1964) e Uma nova história da música (1967).
O artigo "Reflexões sobre a situação atual e futura do bibliotecárlo no
Brasil" estava esquecido na Revista do Serviço Público, que o publicou no ano
VIII, volume 1, número 2, de fevereiro de 1945, páginas 20-23. Na época, Otto
Maria Carpeaux era diretor da biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia.
Depois foi dirigir a biblioteca da Fundação Getúlio Vargas, onde o conhecemos
em fins de 1947, durante estágio de conclusão do Curso Superior de Bibliote-
conomia da Biblioteca Nacional. Foi para nós um verdadeiro alumbramento
intelectual trabalhar como um escritor a quem tanto admirávamos. Tivemos o
privilégio de ajudá-lo na Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira
(1951); po'r isso nosso nome aparece na dedicatória da obra, a partir da segun-
da edição (1955). Otto Maria Carpeaux foi editorialista do Correio da Manhã até
o fim desse grande jornal carioca. Em seus últimos anos de vida, trabalhou,
como assistente de·Antônio Houaiss, na organização da Grande Enciclopédia
Delta-Larousse e da Enciclopédia Mirador Internacional.

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r 1

A~stoMeyer
Nascido em Porto Alegre, em 1902, Augusto Meyer formou-se em direito,
exerceu o jornalismo e fez parte do círculo literário da livraria do Globo. Ligan-
do-se depois a Teodomiro Tostes, passou a colaborar no suplemento literário
do Diário de Noticias. Seus primeiros livros foram de poesia: Ilusão querida
(1923), Coraçao verde (1926), Giraluz (1928), Duas orações (1928) e Poemas de
Bilú (1929). Destacou-se depois como ensaísta e crítico literário, publicando o
nptável ensaio Machado de Assis (1935), ao qual se seguiram Prosa dos Pagos
(Í943), À sombra da estante (1947), Preto & branco (1956), Camões, o bruxo e
outros estudos (1958), A chave e a máscara (1964) e A forma secreta (1965). Foi
ainda pesquisador de folclore, publicando Guia do folclore gaúcho ( 1951), Can-
cioneiro gaúcho (1952) e Gaúcho, história de uma palavra (1952). Traduziu Le
bateau ivre, de Rimbaud, com magistral ensaio de exegese (1955), além de
obras de Guiraldes, Hauptmann e Flaubert. Publicou ainda os livros de memó~
rias Segredos da infância (1949) e No tempo da flor (1966). Sua obra poética
está reunida no volume Poesias ( 1957) e seus melhores ensaios no volume
Textos críticos (1966), este organizado e admiravelmente prefaciado por João
Alexandre Barbosa.
Com uma produção intelectual tão vasta, Augusto Meyer ainda exerceu
proficientemente os cargos de diretor da Biblioteca Estadual de seu Estado
(1930-36) e de diretor do Instituto Nacional do Livro (1937-56 e 1961-67).
Morreu no Rio de Janeiro, em 1970. Tivemos o privilégio de conhecer pessoal-
mente este homem erudito, sensível e educadíssimo, que parecia um dos aris-
1
tocratas pintados por El Greco. Por sua iniciativa, inspecionamos as bibliotecas
nordestinas que recebiam doações do INL, ministramos cursos intensivos de
biblioteconomia no Recife (1950), Maceió (1951) e João Pessoa (1952 e 1953) e
dirigimos a Biblioteca Demonstrativa Castro Alves, no Rio de Janeiro (1954). ,O ,._
~nsaio "Do leitor" faz parte da obra À sombra da estante (Rio de Janeiro, José r-132_>
Olympio, 1947, pp. 11-24).

Lêdo Ivo j
Poeta, romancista e cronista, Lêdo Ivo nasceu em Maceió, em 1924, mas
recifensisou-se a ponto de dizer, num de seus primeiros poemas: "Amar mu-
lheres, várias. /Amar cidades, só uma - Recife". Transferiu-se para o Rio de
Janeiro em 1943, tendo se bacharelado pela Faculdade de Direito da antiga
Universidade do Brasil em 1949. Sua obra poética inicia-se com As imagina-
ções (1944), confirmando a vocação lírica do autor em Central poética (1976) e
A noite misteriosa (1982). Destacou-se na ficção com os romances As alianças

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r. •
l ' . . .
(1947) e O caminho sem aventura (1948), a novela O sobrinho do general (1964)
e os volumes de contos Use a passagem subterrânea (1961) e O flautim (1966).
São igualmente notáveis seus ensaios Lição de Mário de Andrade (1951), O
prêto no branco (1955), Paraísos de papel (1961), Ladrão de flor (1963), O
universo poético de Raul Pompéia (1963) e as Conflssões de um poeta (1979).
Magistral tradutor de Rimbaud, foi Lêdo Ivo quem primeiro mostrou, entre nós,
as motivações pessoais do poema Les assis, seguindo o roteiro de Êmile Noulet
em Le premier visage de Rimbaud. Como se sabe, Les assis era tido antes como
gJosa do poema Bibliotheques, de Victor Hugo. Os dois artigos sobre o assunto
f+ram reproduzidos da obra Poesia observada (Rio de Janeiro, Orfeu, 1967, pp.
105~ 110). . .

Emílio Carrera Guerra ~


Seguindo a ordem cronológica adotada com os textos em prosa, reprodu-
zimos primeiro um poema de Emílio Carrera Guerra. Descendente de espa-
nhóis, o autor nasceu em 1916 no Rio de Janeiro, onde morreu em 1958. "'CI
Formado pela Faculdade Nacional de Direito, combateu na ditadura Vargas,
que o encarcerou por duas vezes.
O poema "o bibliotecário" aparece no livro de estréia de Carrera Guerra
Canto grosso e outros poemas (Rio de Janeiro, Edições do Povo, 1948, pp.
23-4). O autor publicou ainda o ensaio A propósito do formalismo e do realismo
em arte e literatura (1953) e Poemas do companheiro (1954), tendo organizado
uma antologia poética de Maiakovski e, em colaboração com Miécio Tati, uma
edição das poesias de Fagundes Varela.
A dedicatória do poema a Oswaldino Marques revela que as "muralhas
conventuais" são do subsolo da Biblioteca Nacional, onde funcionavam os Cur-
sos de Biblioteconomia, cuja biblioteca era chefiada pelo poeta e ensaísta ma-
ranhense, depois professor de literatura em universidades norte-americanas e
na Universidade de Brasília. Destaque-se no poema - que é belíssimo! - a
comparação da biblioteca com o pomar e do catálogo com o jardim, ambos sob
a vista "complacente, zelosa" do bibliotecário.

João Cabral de Melo Neto ~


Pertencente a tradicional família de senhores de engenho da zona da Mata ·
de Pemambüco, João Cabral de Melo Neto nasceu no Recife, em 1920. Consi-
dera-se diplomado em letras pela biblioteca do ensaísta Willy Lewin, onde to-
mou conhecimento com a moderna poesia francesa e inglesa. Com Willy Lewin

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1

l
e Vicente do Rego Monteiro, organizou em 1941 o lº Congresso de Poesia do
Recite, iniciado no bar Shipchandler e concluído na Rua do Cupim, onde resi-
dia Lewin. Diplomata de carreira, Cabral é hoje embaixador aposentado. A
função mais importante foi a de cônsul geral em Barcelona , que proporcionou
ao poeta um contato demorado com uma das fontes de sua poesia, o flamenco.
A obra poética de João Cabral de Melo Neto iniciou-se com Pedra do Sono
(1942), a que se seguiram Os 3 mal amados (1943) , O engenheiro (1945),
Psicologia da composição (1947), O cão sem plumas (1950) , Poemas reunidos
(1~54), O rio (1954), Pregão turístico (1955), Duas águas (1954), Quadema
(1~60), Dois parlamentos (1961) , Terceira feira (1961), Morte e vida Severina
1

(1965), A educação pela pedra (1966), Poesias completas (1968), Museu de tudo
(1975), Poesia crítica (1982), Auto do frade (1984), Agrestes (1985), Museu de
tudo e depois (1988), Poemas pernambucanos (1988) e Sevilha andando (1989).
Na obra em prosa detaca-se o ensaio Joan Miró (1950, edição brasileira 1952).
Com respeitável fortuna crítica em várias línguas, a obra de e sobre João
Cabral de Melo Neto foi bibliografada por Zila Mamede em Civil geometria (1987).
Como acontece freqüentemente na poesia calabriana, "Para uma feira do
livro" - último poema de A educação pela pedra - é uma parábola. Na primei-
ra estrofe o autor compara a folha do livro com a da "áivore que o doa", numa
alusão às fibras vegetais de que é fabricado o papel. Na segunda estrofe são
enumerados os atributos do livro: silencioso (mesmo quando aberto}, anônimo
(quando na estante, "só expõe o lombo"} , modesto ("só se abre se alguém o
abre"}, paciente ("deixa-se ler onde queiram"), severo ("exige que lhe extraiam,
o interroguem") e anti-retórico ('1amais exala: fechado, mesmo aberto") .
O poema caracteriza-se por aquela "prosificação do verso" assinalada por
Benedito Nunes da obra de João Cabral de Melo Neto. Trata-se de uma compo-
sição de grande interesse tanto para a poesia, em geral, e a literatura em língua
portuguesa, como para quem trabalha com livros e leitores. i,.11

'

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l ''BIBLIOTECONOMIA'' \
M ária de Andrade

O contato com os livros e manuscritos dessas idades que irreverentemente costumamos chamar de
"passado':, será que nos deixa o ser mais antigo? ... Parece. Positivamente não é a mesma coisa a gente
ler Matias Aires numa edição primeira ou numa reimpressão contemporânea. A transposição moderna
conterá sempre a mesma substância, e mesmo nas raríssimas edições honestas, a substância estará
enriquecida de comentários, correções, esclarecimentos. Mas o importante é que não são apenas os dados
~a verdade que um livro pode nos fornecer. Quem julgar assim, sabe ler pelo meio. ·
~ O livro não_é ap! nas uma dádiva à compreensão; é, _dev~ ser principalmente, um fenómeno de
cultura. Quem lê indiferentemente um escrito numa edição do tempo ou noutra moderna, numa edição
·inãníiipressa ou noutra tipograficamente perfeita, num bom como num mau papel, esse é um egoísta,
cortado em meio em sua humanidade. Lê porquê sabe ler, e apenas. O livro lido apenas para se saber o
teor do escrito é sempre singularmente subversivo da humanidade que trazemos em nós. O fenómeno
mais característico desse individualismo errado, a gente encontra nos estudantes que, na infinita maioria,
são pervertidos pelos seus livros de estudo. Não que todos os livros escolares sejam ruins, os rapazes é
que ainda não aprenderam a ler. Lêem para saber a verdade que está nos livros, e apenas. O resultado
são essas almas imperialistas, tão freqüentes nos ginásios, vivendo em decretos desamorosos, incapazes
de distinguir, comendo, dormindo, respirando afirmações. O estudante pernóstico, corrigindo os êrros do pai!
Nas civilizações contemporâneas mais energicamente respeitosas do homem, as universidades, os
livreiros se esforçam por apresentar o livro, não apenas como um repositório de verdades, mas como um
fenómeno duma totalidade muito mais fecunda que isso. Pela boniteza da impressão, pela generosidade
do papel, pelo conselho encantador das gravuras, os bons livros modernos não querem nos obrigar apenas
a saber a vida, mas a gostar dela porém.
Ora já de muito, bem que venho matutando em que talvez a verdade menos deva ser um objeto
de conhecimento, que de contemplação ... Não será essl!, diferença fundamental que separa o encanto
maravilhoso de Platão, da secura sem beijo de Aristóteles, no entanto bem mais verdadeiro? ... Não será
esse engano das nossas civilizações, que torna tão rasteiras, monetárias,_dogmáticas, em oposição às
gfânãeSCívilizaÇões da Ásia, bem mais goSiõSas e subtis? - - - - ---
- - E chegue( com certo esforço adonde pressentia que desejava chegar: o livro antigo, o manuscrito
original, pela sua venerabilidade, pelo esfôrço de acomodação à leitura, pela exigência permanente de
contrôle do que diz, não nos deixa nunca apenas na psicologia individualista de quem aprende, mas no
êxtase an1plíssimo, difuso, contagioso da contemplação. Ele nos reverte à nossa antiguidade.
Deixem que eu diga, mas nas civilizações novatas que nem as desta América, os seres tão
profundamente imorais, no sentido em que a moral é uma exigência derivada aos poucos do ser tanto
indivíduo como social. Não nos custa a nós, americanos, aceitar religiões, filosofias, e mesmo importar
civilizações aparentemente completas. O nosso dicionário vai de A para Z, direitinhamente. Tem F tem
L e tem R: Fé, Lei, Rei. O que não nos é possível importar é a precedência orgânica dessa Fé, dessa Lei
e desse Rei, nascidos de outras experiências. Nós existimos pouco, demasiado pouco. Nós existimos em
desordem. É que nos falta antiguidade, nos falta tradição inconsciente, nos falta e;sa experiência por
assim dizer fisológica da nossa moralidade que, só por si, torna a palavra "passad<f' duma incompetên-
cia larvar.

~
Isso nem o ótimo livro moderno conseguirá nos fornecer. O livro anti o' é moral com a subtil
revalência de não ser uma moral ensinada (que é sempre pelo menos uvidosa') mas uma moral vivida.
E um banho inconsciente e anttgmdade. E si na mão do bibliófilo 11fvro ~i-go é duma volúpia
ncomparável, estou que devemos arrancá-lo dessas mãos pecaminosas e botá-lo nas mãos rápidas dos
moços. Convém tornar os moços mais lentos, e iniciar no Brasil o combate às velocidades do espírito.
• ,i .

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Que abundância de meninos-prodígios transfere a vida agora da beca difícil dos clérigos pro quépi
chamariz dos generais ... Vivo meio sufocando. .
Eu desconfio que ninguém achará razão nestas palavras, quando o que me intitula é a Biblioteco-
nomia. Mas pra mim foram os pensamentos sossegados que pensei e quis dizer. Para mim, que envelheço
rápido, o pensamento como a vista já não vão preciosamente perdendo aquêle dom de precisão categó-
rica, que define as idéias como as coisas nos seus limites curtos. De-fato a biblioteconomia é, dentre as
artes aplicadas, uma das mais afirmativas. Diante dêsse mundo m~steriosíssimo que é o livro, a bibliote-
conomia parece desamar a contemplação, pois categoriza e ficha. E engano quase de analfabeto imaginar
tal desanHir; e não foi senão por um velho hábito biblioteconômico que, faz pouco, me fichei na categoria
do~ envelhecidos, o que posso jurar ser pelo menos uma precipitação.
fi ~sso é a grandeza admirável da biblioteconomia! Ela torna perfeitamente acháveis os livros como
os ~eres, e ãhmpa a escôlha dos estudiosos de toda suja confusão. Este o seu mérito grave e primeiro.
Fichando o livro, isto é, escolnenoo em seu m1sténo confuso uma verdade, pouco importa qual, que o
define, a biblioteconomia torna a verdade utilizável, quero dizer: não o objeto definitivo do conhecimen-
to, pois que houve arbitrariedade, mas um valor humano, fecundo e caridoso de contemplação. E pelo
próprio hábito de fichar, de exanlinar o livro em todos os seus aspectos e desdobrá-lo em todas as suas
ofertas, a biblioteconomia rallenta os seres e acode aos perigos do tempo, tornando para nós completo
o livro, derrubando os quépis e escovando as becas.

"POESIA E UTILIDADE DE SIMÕES DOS REIS"

Carlos Drummond de Andrade

Veio de Aracajú. Mas poderia ter vindo de qualquer parte do Brasil ou do mundo. Estudou
vagan1ente direito em Niterói. Deve ter esquecido o que aprendeu então. Escreve em jornais, mas não é
jornalista. Funcionário, chefe de família, tem obrigações civis, que desempenha normalmente. Nada disso
conta, porém. Na vida de Antônio Simões dos Reis, o próprio Antônio Simões dos Reis nada significa.
A única coisa que conta é o livro.
Que livro? Qualquer livro. Todos os livros. Para Simões dos Reis, o mundo foi impresso, antes
de ser criado. A palavra escrita (um MS solto no caos) precedeu o verbo. Depois, aconteceram as coisas
que sabemos, inclusive os prelos e as bibliotecas. A existência das tipografias e das bibliotecas tornou
possível a de Antônio Simões dos Reis e deu a esse homem a felicidade, que de outra forma lhe faltaria.
Porque seria impossível compreender a vida de Simões dos Reis num mundo sem livros. Se êle é
anti-nazista, a explicação não estará no seu sentimento democrático propriamente ditõ, mas no conhe-
cimento, que tem, de que o nazismo cultiva o mau hábito de queimar livros. Semelhante prática é
intolerável a Simões dos Re is, que suponho não fumar para não usar fósforos e, assim, não carregar
consigo um agente de combustão da matéria impressa.
- Os maus livros, entretanto, lucrariam em ser queimados ...
- Nunca! brada Simões dos Reis. Os maus livros devem ser fichados e catalogádos como os
bons. Tudo é papel e é tinta, são caracteres tipográficos ordenados, todos encerram um índice, têm um /
formato, certo número de páginas. E a fôlha de rosto? E as fôlhas de guarda? Não se pode queimar um
rmau livro. ,No máximo, não o leiamos. Mas precisa figun1r nas bibliografias, cÕmo um recife é meneio-·/
nado nas cartas de navegação.
Estão vendo, por esse diálogo simulado, que Antônio Simões dos Reis possui os dois vícios
maravilhosos: é bibliófilo e bibliógrafo. Se quem possui um vício intelectuat é feliz, o que possui dois
está acima da felicidade, do tempo e da vida terrestre. Simões dos Reis cultiva ainda um requinte:
inscreveu-se naquela classe dos bibliófilos pobres, que são os mais finos bibliófilos. Ele sabe o que lhe

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Cl)Sta uma bela e ,boa edição seiscentista, tocaiada anos a fio e afinal descoberta num sebo infeto e
delicioso da rua Regente Feijó. Custa alguns contos de réis. O~a, Simões não possui fábricas, navios e
outras comodidades. Vive do seu salário de repartição de biscates jornalísticos. Se possuísse aquelas
coisas extraordinárias, seria fácil: tirava um pedaço do navio, uma roda da fábrica, e trocava-a pelo livro.
Na falta, Simões despe a camisa do corpo, contrai dívidas •.corta no gás e na luz e adquire o troféu. ,
Mas Antônio Simões dos Reis, aristocrata sergipano, cultiva ainda um segundo requinte. .E
também bibliófilo ... generoso. Já viram tal adjetivo ligado a semelhante substantivo? Eu, nunca. Pois
essa estranha fusão se operou em Antônio Simões dos Reis. O gôsto pelos livros antigos veio de um
lado, can1inhando solerte; do outro lado, vinha, distraído, o gosto de fazer presentes. No can1inho estreito
! os dois tinham de se juntar... Um simpatizou com o outro, e aí temos Simões dos Reis escarafunchando
~raridades da vetusta oficina de Inácio Rodrigues, de Lisboa, não somente para ~i, como para uso, e gozo
dos amigos, a quem as oferta Deus sabe mediante que complicadas operações orçamentárias.
Do bibliófilo ao bibliógrafo a distância é variávt;J. Alguns nunca a transpõem. Outros vencem-na
de um salto. Antônio Simões dos Reis é dêsses últimos. O muito amar os livros não fez dêle o cimento
·que mal ousa tocar cm seus tesouros. Simões serviu-se, mesmo, da bibliografia como de um instnimento
de comunicação cordial entre os livros e os seus possíveis amadores. Seus .achados bibliográficos são
logo divulgados. Sua preocupação de estabelecer uma bibliografia brasileira sistemática está presente nos
trabalhos de cada dia. Simões gostaria de poder informar a qualquer pessoa, em qualquer momento; onde
se encontra, em que estado se acha e o que contém qualquer livro de qualquer autor do Brasil. Para
ajudar o estudo ou a curiosidade do consultante, mas sobretudo para cooperar na leitura de novos livros.
111 Vejo-o catando laboriosamente os folhetos deixados sobre a mesa, tomando apontamentos telegrá-
ficos, descobrindo, num mundo de livros interessantes que convidam à leitura como mulheres convidam
ao amor, êste opúsculo de capa amarela: ''Castelo, Plácido Aderaldo - Instituto de Previdência do
,li' Estado do Ceará. Relatório apresentado pelo presidente Dr. Plácido Aderaldo Castelo ao Conselho Fiscal
li: 1 do IPEC, atinente aos serviços executados e ocorrências havidas no exercício de 1941, inclusive balanço
de contas. Ceará, Tip, Minerva, Assis Bezerra & Cia., s.d. - 65 + 4 (n. nums.) fls. desdobráveis e
páginas com gravuras''. É apenas uma ficha. Simões faz milhares delas, para os livros graves e para os
l1
frívolos, para a~ epopéias e as monografias de farmácia galênica, para os romances, os dicionários e as
ciências didáticas, jurídicas, médicas, ocultas e outras.
Já se está vendo o valor de repositório, o valor de enciclopédia viva que encerra esse homem, que
o ministro Gustavo Capanema soube aproveitar para pesquisas a fundo num oceano de livros, jornais,
revistas e processos burocráticos. Ele não tem tempo de escrever os seus livros, tanto se dedica a
descobrir, inventariar e divulgar os livros dos outros. Renunciando às veleidades de autor, no sentido de
criador, consome o melhor de si na coleta dos materiais que ifão documentar e estruturar a obra alheia.
Há, entre nós, poucos obreiros literários com essa capacidade de investigar e coligir. Entre tantas tarefas
que se propõem à vocação das letras, Simões dos R~is elegeu a t.arefa que não brilha, mas que produz
os elementos de que se nutrem as especialidades fulgurantes. Daí a poesia e a utilidade de sua obra.
Poesia e utilidade de Simões dos Reis, o homem que está sempre maquinando a caça a um alfatTábio
roído de bichos, que se embriaga com a descoberta de w~s~dônimo colonial, e que publica tôdas as
suas caçadas e orgias bibliotecárias.
De 1941 para cá, ao lado de intensa colabora_ç_ão esparsa em periódicos, êle publicou cinco séries
de Pseudônimos brasileiros, contendo mais de mi~erbetes,~três volumes da Biblioteca Nacional, com
531 verbetes, e a notável Bibliografia das b?bT10grafias br ~1teiras. Este último volume causa-me
vertigem. É como se entrasse numa galeria S}r6terrânea, que onduzisse a outra galeria, que por sua vez
conduzisse a outra galeria, que por sua v5i... Culpa, talvez, de Augusto-Mey-tr. que na introdução ao
livro, nos cita o Tratado de Documentaçao, de Otlet, prevenindo-nos da possibilidade de existência de
bibliografia de quinto grau, ou seja a bibliografia das bibliografias das bibliografias de bibliografias.
Uma suma das sumas, que excede as possibilidades do meu campo de atenção, e que me conduz a um

- 130 -
r

l
paí~ alucinante de espelhos multiplicados ao infinito. Simões dos Reis, entretanto, move-se desembara-
çadamente entre esses espelhos, e fichou -os todos. ·
Castro Alves certamente o prefigurava, ao criar a imagem do homem mostrando-se diante de Deus
com um livro na mão. O livro será o passaporte, a carteira profissional, o documento de identidade, tudo
que interêsse ao indivíduo Simões dos Reis; e fazendo entrega dele à divindade, Simões não se esquecerá
de informar, como perfeito bibliógrafo: ·
- Com licença.· Tem 0,184 x 0,126 (0,134 x 0,081). 119 páginas. É uma primeira edição,
ilustrada com mapas e gravuras. O índice onomástico... ·
Deus o mandará calar-se, não por impaciência, mas porque na sua infinita sabedoria, desde o
tjJmeço dos séculos até a consumação deles, conhece o livro, todos os livros e conhece sobretudo Simões
qps Reis.
- Foste bibliógrafo, meu filho, e isso me apraz. Vem para o reino dos bibliógrafos, que é
sossegado, e está longe do reino dos autores, êsses indivíduos de n1au coração.
(0 que espero não aconteça tão cedo).

"'UM BIBLIOTECÁRIO" )

Gilberto Freyre

· Quando ainda nos dias da primeira República, o ·senado Federal impugnou - ou ameaçou
impugnar o nome de Oliveira Lima para a representação do Brasil em Londres, o visconde de Santo-
Tirso - aquêle de quem disse d. Maria Amália Vaz de Carvalho que foi "a última ironia viva em
Portugal" - valeu-se do pretêxto para uma de suas melhores troças com a mediocridade então domi-
nante na política do Brasil. E revelou o desejo de conhecer de perto os senadores capazes de impugnar
um nome como o de Oliveira Lima para urba representação como a do Brasil em Londres. Seriam êles
- e não o Corcovado, nem o Pão-de-Açúcar, nem a Cascatinha, nem as praias de Niterói, nem a Ilha
Fiscal, nem o Jardim Zoológico - a melhor e maior atração turística do Rio. Eles é que o Visconde
irônico tinha realmente vontade de ver de perto e de fotografar em todas as posições.
Quando há pouco um amigo .querido me escreveu, escandalizado, de São Paulo, que o sr. Rubens
Borba de Moraes irnvia sido afastado da direção da Biblioteca Municipal, foi de Santo-Tirso que
imediatamente me lembrei: também diante dessa demissão escandalosa o ironista português perderia todo
o desejo de ir à capital paulista conhecer o Butantã, o Viaduto, o Teatro, para querer ver de perto os
novos e austeros romanos municipais capazes de demitir de funções como as de diretor da Biblioteca da
cidade de São Paulo o maior especialista brasileiro em organização e administração de bibliotecas.
Especialista que é ao mesmo tempo - combinação raríssima - um brasileiro com uma consciência do
dever igqal à dos suíços, tão rigorosa quanto a dos protestantes ortodoxos ou a dos quakers.
Quand0 uma cidade, um Estado ou uma nação se desfaz de um homem dêsses, nada mais natural
do que desejarmos conhecer aquêles que têm a coragem de se desfazer do auxiliar verdadeiramente
insubstituível. São êles e não o demitido que merecem ser procurados, entrevistados, fotografados. São
êles os heróis da pantomima. Santo-Tirso tem razão.
Se chego à conclusão do visconde e não a sigo é porque sou mesmo um amigo deliberado das
contradições. No momento em que o sr. Rubens Borba de Moraes é afastado da direção da Biblioteca
t\jlJ!)icipal de_.S ão~ulq, é do sr. Rubens Borba de Moraes que prefiro falar.
O Brasil tem hoje poucos técnicos e raros administradores da competência e das virtudes do sr.
Borba de Moraes. Noutro país êle seria festejado.!. adulado, disputado por todas as uni.versidades, por
todos os institutos, por todas as cidades, por todos os Estados desejosos de aperfeiçoarem a organização

- 131 -
w .. - - ·- -.- .- - -·- - ----------------------------~-------------

l ou o .sistema de suas bibliotecas. No Brasil, é afastado da direção da Biblioteca Municipal da mais culta
e progressista das nossas cidades, sem que o fato tenha a menor repercussão: como se se tratasse de um
burocrata qualquer.
É o que o sr. Rubens Borba de Moraes não é de modo algum: um burocrata qualquer. O
entusiasmo pelas coisas de sua especialidade não lhe permite acinzentar-se em bibliotecário de feitio
simplesmente burocrático. Por outro lado, está longe de ser o literato ou o erudito que gosta dos livros,
dos papéis velhos dos alfarrábios, sem interessar-se pela arte e ciência de sua conservação em bibliotecas
e de sua organização eficiente de modo a estarem sempre alfarrábios, livros e revistas ao serviço dos
pesquisadores, dos estudantes, do reduzido público interessado em leituras sérias e profundas. Pois esta
!~que é a função das verdadeiras _blbliotecas.; estarem a serviço não só dos simQles leitpres como dos
ll:esquisadores, em vez de se esconderem deles por tras de enormes paredes de fortalezas ou dentro de
1cofres e subtmâneos aonde só são admitidos illdivíduos privilegiados.
Nessesentido, prinéipalmente, é que o sr. Rubens Borba de Moraes vem revolucionando o velho
conceito brasileiro de bibliotecas públicas. À biblioteca em que os livros precisam de ser adivinhados
pelos pobres dos pesquisadores e procurados por êles como se procuram tetéias perdidas ou jóias
escondidas em depósitos, trapiches ou galpões de guardar palha sêca ou cacos velhos, êle opõe a
biblioteca que pela distribuição inteligente dos seus livros e por intermédio dos seus funcionários
esclarecidos, vai ao encontro do pesquisador, facilita-lhe o trabalho de pesquisa, colabora com êle.
O Brasil não é tão rico em organizações dêsse porte, que possa alhear-se às qualidades e às
aptidões de um Rubens Borba de Moraes. Se a cidade de São Paulo acha que pode substituí-lo com
vantagem, que o substitua. Mas que o govêrno brasileiro aproveite a oportunidade para utilizar-se da
singular competência do bibliotecário paulista em função de importância nacional: na reorganização dos
nossos arquivos, bibliotecas e museus, por exemplo.

"REFLEXÕES SOBRE A SITUAÇÃO ATUAL E FUTURA


DO BIBLIOTECÁRIO NO BRASIL"
~
Otto Maria Cárpeaux

As reflexões seguintes sôbre a situação atual e futura do bibliotecário no Brasil têm origem
puramente empírica: são o resultado de trabalho de mais de dois anos na biblioteca da Faculdade
Nacional de Filosofi'a, que o autor destas linhas tem a honra de dirigir, e das observações, feitas já antes
e durante essa época ·em outras bibliotecas brasileiras.
É evidente que nas observações empíricas, por mais empíricas que sejam, existe sempre uth fundo
de preconceitos, constituído de experiências anteriores e conhecimentos teóricos; no caso, as experiências
anteriores do autor nas grandes bibliotecas européias, que conheceu de perto, e os seus conhecimentos
de biblioteconomia. Contudo, reflexões teóricas teriam valor bastante reduzido, e, doutro lado, o método
comparativo não está isento do perigo de enganos graves. Sem dúvida, podemos aprender muita coisa
no estrangeiro; ~a aplicação de experiências assim adquiridas tem os seus limites. No caso das
bibliotecas - com em todos os casos da vida brasileira - é impossível a aplicação integral de modelos
estrangeiros. Será se pre melhor aprender nos próprios erros os meios de superá-los. Daí a resolução de
limitar-se a observações empíricas; dão resultado enquanto é possível convencer os leitores. Daí a
tentativa de dar-lh_~~_aJd~ de silogismos lógicos, cujas conclusões constituem, por sua vez, sugestões práticas.
Num livro do Sr. !!1i>uren-ço Filho encontra-se um "aperçu" espirituoso sôbre os resultados duma
viagem ao interior do Brasi\1: o viajante parte da capital, metrópole típica no estilo século XX, passa pelas
pequenas cidades do ''hinterland' ', que se encontram ainda no século passado, chega a regiões de regime
colonial ou medieval; e, enfim, a viagem acaba entre gente neolítica.

- 132 -
~
, 1

l J ssa simultaneidade de épocas diferentes da evolução, é possível observá-Ia também nas bibliote-
cas brasileiras. Existem bibliotecas modelares, organizada~ conforme os sistemas mais modernos, como
a Biblioteca Municipal eh1 S. Paulo ou a Biblioteca do Departan1ento Administrativo do Serviço Público,
nesta capital. Há outras, nas quais continua a rotina do século passado; existem, até aqui no Rio de
Janeiro, depósitos de livros, rigorosamente guardados, conservando com fidelidade comovente a poeira
medieval; não produziria surpresa, se um viajante corajoso encontrasse, em lugar determinado não muito
longe do centro da capital, uma coleção de inscrições em pedra, e o guarda tatuado à entrada da caverna
se apresentasse como funcionário público. Apenas, êsse estado de coisas já não é tão imóvel como na
época da~ experiências do Sr. Lourenço Filho no interior do Ceará. As bibliotecas brasileiras encontram-
se em franca evolução. Tive oportunidade de dirigir um desses processos de evolução, na biblioteca da
F~iuldade Nacional de Filosofia: encontrei-a como mero depósito de livros; agora, trata-se de uma
biqjioteca científica; no futuro, será um centro de documentação para estudos independentes.
Não será precipitado generalizar essas experiências. Até há pouco, não existia no Brasil a noção
moderna da biblioteca. Graças aos esforços do Departamento Administrativo do Serviço Público, do
Instituto Nacional do Livro, e dos cursos de biblioteconomia enfim radicalmente reformados, na Biblio-
teca Nacional, introduziram-se os métodos modernos da biblioteconomia, seguindo particularmente os ]
modelos norte-americanos: maior liberdade do leitor nas salas de leitura, acesso livre às estantes para
exan1e dos livros e escolha da leitura conveniente, serviços de empréstimo para casa, catalogação
suficiente, elaboração de fichários de assuntos conforme o sistema decimal.
Grande parte das bibliotecas brasileiras já se pode orgulhar dos resultados obtidos com essas
inovações, que, no comêço, parecian1 heresias perigosas. Mas nada seria mais perigoso do que a
satisfação definitiva com aquêles resultados. A heresia de ontem poder-se-ia transformar em ortodoxia,
impedindo o progresso. Convém lembrar uma frase famosa de Th. H. Huxley_: "It is lhe customary fate ]
of new truths to begin as heresies and to end as superstitions". A boa ordem na biblioteca não é o
supremo fim dos nossos esforços. O fim é o trabalho de documentação científica. E para isso é preciso algo mais.
São bastante conhecidas as grandes dificuldades com as quais se choca o trabalho científico no
Brasil: a· insuficiência das bibliotecas públicas, os sacrifícios dos particulares em arranjar as documenta-
ções indispensáveis, a falta de comunicações internacionais; em suma: a falta de organização científica,
da qual a organização bibliotecária constitui só uma parte. A essas dificuldades especificamente brasi-
leiras juntam-se outras, de caráter geral, que se referem ao futuro. É a minha firme convicção que o
trabalho científico do futuro será de índole coletiva: passou a época de descobertas individuais; começará
a época das investigações em gruno. Um dos sintomas mais interessantes dessa transformação é a
existência de relações entre ciências inteiramente separadas que um estudioso só não pode dominar ao
mesmo tempo.
Exemplo conhecido disso é apresentado pela química-física, ciência relativamente nova, situada
entre a química e a física, com a tendência cada vez mais acentuada de constituir-se eni centro de
pesquisas para ambos os lados, transformando a química e a física de outrora em ciências auxiliares.
Surge o problema da coordenação dos estudos especializados. Outro exemplo conhecido: os estudos
sociológicos de Max Weber sobre a relação entre as origens do capitalismo e a evolução do protestan-
tismo tinham como base a relação entre estudos de economia política e estudos de teologia histórica,
quer dizer, entre duas ciências inteiramente separadas e consideradas quase incompatíveis; sabemos que
essa maior descoberta da sociologia do século XX se originou de conversas casuais do sociólogo com
colegas da outra Faculdade. Mas não nos podemos confiar ao acaso; surge, outra vez, o problema da
coordenação. Enfim, a tendência para a especialização cada vez mais rigorosa, que todas as ciências
modernas revelam, deposita em nossas bibliotecas uma documentação imensa, da qual, as mais das
vezes, só o próprio bibliotecário pode ter conhecimento suficiente; o especialista não sabe da existência
de trabalhos que o interessariam vivamente, quando feitos em setores independentes de sua especializa-
ção. E quem se ocupa com trabalhos de documentação na administração pública, sabe que lá também
muita coisa fica despercebida porque só os guardadores da documentação respectiva têm conhecimento

-133 -

~-
1
dá existência dela. De tôdas essas observações resulta uma conclusão convincente: a necessidade da
colaboração do bibliotecário no trabalho científico.
- Iransformaram-se as bibliotecas de meros de ósitos de livros em instituições praticáveis para o
estudo.-Era o primerro passo. Agora, é preciso transformar as bibliotecas em cen os âeesftiOÔS,ÍlÕs
quais a colaboração de bibliotecários, às vezes em lugar decisivo, é indispensável.
O primeiro passo foi feito por meio dum trabalho pedagógico. Era preciso educar os leitores, que
estavam acostumados a tratar os livros com descuido, a enganar os bibliotecários incompetentes e mal
humorados, e mais a práticas piores. Êsse trabalho educativo já foi feito. O segundo passo está confiado,
como se viu, ainda uma vez aos bibliotecários. Mas não pode ser feito, enquanto perdurar a condição
atual do bibliotecário no Brasil.
\ Até há pouco o leitor brasileiro era um homem que, por mais estudioso que fôsse, não sabia bem
u~Iizar uma biblioteca pública. Surgiu o novo tipo de bibliotecário, introduzindo inovações inéditas e
visivelmente utilíssimas, o que lhe arranjou uma situação de certa superioridade com respeito ao leitor;
era possível, portanto, aquêle trabalho educativo. Agora, aproxima-se a fase da utilização científica da
biblioteca. E agora, o bibliotecário brasileiro encontra-se numa situação de evidente inferioridade.
Quem são os leitores das nossas bibliotecas públicas? Estudiosos especializados, funcionários
formados, professôres formados para o ensino secundário ou superior, alunos das escolas superiores. Em
geral: pessoas de formação universitária. O bibliotecári~ n_Q__B@sil, é uma pessoa com__fgw1ªç_ão
1 secundária, habilitado depois num cttrso técnicode bll5lioteconomia, eClassificado, portanto, entre os
f uncionários de formação secundária e técnica. Encontra-se, com respeito aos leitores, numa situação de
evidente inferioridade. Não será capaz nem considerado capaz de dirigir um centro de estudos çientíficos.
Como dar, então, aquêiê segundo pàSsoT - - ·-~ - - - - -· -
Nessa altura, permito-me, pela primeira vez, uma comparação com a situação do bibliotecário
europeu; mas isso só porque uma sugestão recentemente surgida se baseia, sem dúvida, naquela compa-
ração. O bibliotecário europeu tem, em geral, formação universitária. Estudou filosofia, ou letras, ou
história ou ciências sociais ou naturais, adquirindo assim os conhecimentos gue o habilitam para·dirigir
a parte respectiva duma biblioteca geral ou uma biblioteca especializada na sua_disci~; depois,
ã;êlquiriu os conhecimentos tecnicos de bi61ioteconomia. ITê~cário euro~11__é_um_
'.,'..funcionário cientíhco ", na categoria dos assistentes das universidades; mais tarde, lhe caberá o título
de professor, que, na maior parte dos países europeus, é reservado aos docentes das escolas suQeriores.
Está claro queüõifiliotecáno assim formado e classifiCado é capaz de cumprir aquelas exigências.
Baseava-se, provavelmente, nessa comparação a sugestão de incorporar o curso de bibliotecono-
mia às Faculdades de Filosofia: criar, dêsse modo, uma cadeira universitária de biblioteconomia e uma
carreira universitária de bibliotecário. E aquêle fim seria conseguido.
A proposta é realmente muito boa. A conseqüência imediata seria o melhoramento do nível
científico dos nossos bibliotecários e, portanto, uma maior consideração social da profissão. Mas com
isso, aquêle fim não seria conseguido.
A biblioteconomia é uma técnica; aprende-se em cursos teóricos - os atuais são perfeitamente
----- suficientes - e em estágio prático numa biblioteca bem organizada. O curso universitário de bibliote-
conomia não poderia dar mais, se não fôsse mais teoria biblioteconômica; teoria de cujo valor prático
muitos entendidos duvidam. Contudo, seria possível, numa Faculdade, melhorar as outras disciplinas que
ensinam no curso de biblioteconomia: literatura geral, conhecimentos de outras ciências etc.; mas essa
esperança é ilusória. Literatura, filosofia, ciências sociais e naturais, todas elas exigem um estudo sério
e especializado; não é segrêdo, absolutamente, que até o ensino especializado daquelas ciências nas
nossas escolas superiores não é ainda, até hoje, perfeitamente satisfatório. O ensino das mesmas ciências ~
como "acessório", como "complemento", produzirá só diletantes. Dêste modo, uma parte dos futuros
bibliotecários adquirirá na~ Faculdades conhecimentos teóricos para cuja aplicação nunca terá oportuni-
dade; serão logo esquecidos. Os bibliotecários; porém, que aspiram à direção dos futuros centros
científicos, não adquirirão nem.nas Faculdades os conhecimento~ ®Lquais precisariam para aquele fi\1.

- 134 - \

-------
1 (
t 1 .
Co\.itiquariam na situação de inferioridade administrativa: ontem eram considerados como almoxarifes;
amanhã seriam considerados como almoxarifes formados.
O êrro contido naquela sugestão consiste na confusão entre conhecimentos científicos e conheci-
mentos técnicos (no caso, de biblioteconomia). O bibliotecário precisa de ambos. Mas ambos não se
adquirem juntos.
A solução do problema já está delineada nas observações precedentes. Precisamos de vários tipos
de bibliotecários, com formação diferente conforme os fins para os quais têm de servir. Precisamos de
tantos tipos de bibliotecários quanto precisamos de tipos de bibliotecas.
Antes de entrar nessa classificação, será conveniente fazer, já pela última vez, uma comparação
com a situação no estrangeiro. A comparação com a situação nas bibliotecas européias será tanto mais
co~veniente que não há diferença essencial, neste ponto, entre a Europa e os Estados Unidos.
~ Existem, n_ a Europ~ e em tôda parte, quatro tipos de biblioteca:

1) as bibliotecas chamadas "nacionais", bibliotecas representativas do país e da nação;


2) as bibliotecas universitárias, destinadas ao uso das escolas superiores. Bibliotecas de tipo
idêntico encontram-se, às vezes, em cidades importantes nas quais não existe Universidade;
3) as bibliotecas científicas especializadas, juntas, em geral, a institutos de. pesquisas científicas
como de historiografia nacional, ou de ciências administrativas, ou de medicina. experimental
etc.; etc.;
4) as bibliotecas populares, destinadas à divulgação de boas leituras e conhecimentos científicos
entre a parte menos culta da população.

Verifica-se que a direção e administração dêsses quatro tipos de biblioteca é confiada a pessoas
de formação e índole muito diferentes. A "Biblioteca Nacional" confia-se a uma personalidade repre-
sentativa, cujo "Estado-Maior" se compõe de bibliotecários de todos os tipos de formação. As biblio-
tecas universitárias são dirigidas por um professor de Universidade; quer dizer, um membro da congre-
gação tem, em vez da tarefa de dar aulas, a tarefa de dirigir a biblioteca, e o seu "Estado-Maior"
compõe-se de bibliotecários-assistentes, na categoria dos outros assistentes universitários. As bibliotecas
especializadas dos institutos de pesquisas científicas são dirigidas, da mesma maneira, por especialistas.
Enfim, as bibliotecas populares confiam-se a bibliotecários profissionais, que possuem a mesma forma-
ção biblioteconômica como todos os funcionários mencionados, mais conhecimentos científicos gerais e
da técnica de divulgação ("University extension").
No Brasil, a Biblioteca Nacional é uma instituição "sui generis"; não é possível generalizar o
caso. Contudo, a reorganização atual da Biblioteca Nacional dá uma lição preciosa: foi confiada a um
intelectual de formação universitária e a um especialista em biblioteconomia cienHfica. É um caso de
precedência .
• Apesar da organ'ização da Universidade do Brasil, as Faculdades levam no Brasil vida mais ou
menos independente. Tôdas elas possuem bibliotecas especiais (biblioteca da Faculdade de Direito,
biblioteca da Faculdade de Medicina etc.; etc.), que se assemelham menos às bibliotecas universitárias
na Europa do que às bibliotecas especializadas dos institutos de pesquisas científicas; são bibliotecas
especializadas em Direito, em Medicina etc. Encontram-se na mesma categoria as bibliotecas dos
Ministérios, a bibliotecas do D.A.S.P. etc. Em todos êsses casos, não se recomenda a imitação do modêlo
europeu. A direção dessas bibliotecas por especialistas na matéria seria dispendiosa; e, considerando-se
o fato de que se tràta de bibliotecas relativamente pequenas aquêle especialista não seria plenamente
ocupado. Pará êsse caso especial, recome:1d.a-se uma variante daquela sugestão relativa aos cursos
universitários de biblioteconomia. Os bibliotecários dessas instituit;ões teriam que fazer o curso de
biblioteconomia, o·atual ou· o universiiárjo, e .além dis~o, fazer um curso no instituto para o quai se
destinam; neste último curso · adquitir'ãó conhecimento de bibliografia da respectiva ·ciência.

-135 -
1

\ Assemelha-se ao tipo da biblioteca universitária a biblioteca da Faculdade Nacional de Filosofia;


nesta se ensina Filosofia, História, Geografia, Ciências Sociais, Letras Clássicas, neolatinas e anglo-
germânicas, e tôdas as Ciências Naturais, inclusive a matemática; quer dizer, a composição típica das
universidades européias. O mesmo tipo de biblioteca encontra-se nas Bibliotecas Públicas estaduais, nas
capitais dos Estados. Essas bibliotecas constituem o núcleo dos futuros centros de documentação cientí-
fica. Só com muita hesitação se pode dizer que essas bibliotecas deveriam ser dirigidas por ''intelec-
tuais"; porque a palavra "intelectual" é ambígua e a proposta poderia abrir a porta à nomeação de
homens de cultura geral, mas superficial e autodidática. Doutro lado, só um intelectual, isto é, um
homem de cultura geral e conhecimentos variados, será capaz de transformar aquelas bibliotecas em
centros de estudos científicos. A definição seria: "um intelectual que possui formação universitária e
adf!uiriu os conhecimentos necessários de biblioteconomia".
~ Os bibliotecários das bibliotecas populares, enfim, precisarão tan1bém, como os das bibliotecas
especializadas, de formação biblioteconomista, eventualmente universitária. Nas bibliotecas populares, é
de importância muito grande o serviço de consulta: o leitor pede informações sobre o que deve ler, em
geral ou para determinado fim. O bibliotecário que está fazendo êsse serviço, deverá ser capaz de atender
às consultas mais variadas.
O resultado final seria a decomposição da atual carreira de bibliotecário em três ou pelo menos
duas carreiras distintas, além da consideração dos casos especiais mencionados. Dêste modo, o bibliote-
cário brasileiro poderá conseguir a mesma posição social elevada que possuem os seus confrades
europeus; mais importante, porém, será o outro fim, obtido ao mesmo tempo: a fundação de novos
centros de documentação e estudos científicos no Bra~il. Será mais uma heresia, entre outras, mas
melhor, em todo caso, do que a superstição, que, neste caso, se chama rotina.

"UM EDITOR NO CÉU" \

Carlos Drummond de Andrade

Antônio Simões dos Reis, falecido com discrição enquanto o Rio de Janeiro festejava ardorosa-
menteÕ Papa, foi um homem que amou a letra impressa e organizada em livro. O mundo, lli!Iª el~. era
un1a biblioteca, tendo atrás de si uma gráfica. Folhas costuradas ou coladas em volume eram sagradas.
A folha-de-rosto parecia-lhe um rosto de verdade, de uma pessoa de verdade: o-livro. Para o livro nasceu,
pelo livro _l!abalhou, "sofreu e arruinoy-se várias _vezes. §'a o grande an10r de sua yidf." - ·
-· Conheci-o em seus tempos de ouro, quando editava à revista Euclides (em homenagem ao seu
ídolo Euclides da Cunha), além de volumes e mais volumes de bibliografia brasileira, e dirigiu o Serviço
de Documentação d,o MEC, outra fonte inesgotável de publicações, por ele controlada. Meio ranzinza,
mas coração de manteiga, não se conformava com os obstáculos à pesquisa bibliográfica, e plan~java
mais coisas do que as que humanamente poderia executar. A editora que montou na Rua México
chamava-se Organização Simões e nada tinha de organizada, como também para o homem de empresa
lhe faltava ,,a menor aptidão. E assim viveu sempre: criando, imaginando, perdendo, reincidindo, obse-
quiando an1igos com obras raras, alimentando o sonho de uma superbibliografia nacional que esgotasse
todas a produção literária brasileira e tudo que sobre essa produção se houvesse escrito.
Como a tarefa era sobrehumana, ele não conseguia nunca .ir além dos p~imeiros volumes ou
fascículos de cada série planejada sobre isso ou aquilo. Sem desanimar, contudo. Inventava logo óutra
série variante do eterno tema, e ainda uma vez se empolgava e ainda uma vez era vencido pelas
circunstâncias do meio cultural pobre de estímulos e indiferente à sorte de trabalhadores intelectuais
como Simões, que nada querem para si mas querem muito, senão tudo, para as letras.
Entrevistado por Eneida em 1952, ele contou um pouco de sua vida: ·
...
- 136 -
1

l - Passei miséria e fome no Rio. Fui vendedor ambulante e vendi a prazo abajures e aparelhos
elétriéos. Fui proprietário de um colégio de primeiras letras no subúrbio e lá ensinei piano e dança. Em
1930 peguei a Livraria Católica, substituindo o poeta Schmidt e transformei aquilo numa editora até
1935. A livraria era um caos. Pertencia a Jackson de Figueiredo mas era comose não tivesse dono.
O colégio, Simões fechou-o porque só os portugueses pagavam a pequena mensaJidade das
crianças: 6 mil réis. Enquanto funcionou, Simões conseguiu da Prefeitura que a rua fosse calçada: a Rua
João Ribeiro. No período de miséria negra, morava praticamente na Biblioteca Nacional, e quase não há
coleção de. velhos jornais que não mostre em suas páginas um risquinho (aliás proibido) como a
testemunhar: "Simões passou por aqui."
· Como pesquisador e bibliógrafo, não sei de quem mais tenha servido às nossas letras, mesmo sem
corAinuidade e critério científico. Falhas apontadas em seus trabalhos não invalidam o mérito de sua
gerlerosa dedicação a um ofício que não rende proveitos materiais e glórias. Simões trabalhava para
desconhecidos que mal prestariam atenção em sua existência e pessoa, servindo-se dos n1ateriais que ele
coligia. Esse tipo de serviço é pago com a moeda do esquecimento, na forma da injustiça tradicional.
Mas se deu prazer a Simões fazer alguma coisa de inútil para ele mesmo, e de útil a grande número de
pessoas, então valeu a pena.
_Escrevendo sobre ele em tempos idos, figurei a chegada de Simões dos Reis ao céu, pois deve
haver céu para quem amou os livros e as letras, através dos quais se manifesta o Espírito Santo. Simões
apresenta-se diante de Deus com um livro na mão. Não será a Bíblia, porque esta o Senhor a conhece
de cor e salteado. Deve ser um voluminho qualquer, o que ele conseguiu apanhar quando soou a sua
hora final. O que estava mais perto da cabeceira. O ~enhor olha para Simões e para o livro, e parece,
pela expressão do olhar, que lhe indaga a espécie de obra trazida. Antes de revelar-lhe o título, o autor
e o .assunto, Simões, como oficial tarimbado do ofício, vai dizendo:
- Senhor, com sua licença. Trata-se de uma primeira edição, ilustrada com mapas e gravuras.
Contém índice onomástico, mede 0,184 x 0,126, tem 120 páginas e...
Deus faz-lhe um sinal: Não precisa continuar. Com aquelas simples palavras, Simões dera toda a
sua bibliografia, mostrara toda a sua alma. Foi entrando direto para o céu. Lá, ele já rumina publicar
uma n;wistinha quinzenal, o Boletim do Beato Anchieta, e mont~ pequena editora, sob a égide de Santo
Tomás de Aquino. E na qual, vez por outra, entre livros piedosos, lançasse uns voluminhos de .Çl!Çydes
e Canülo Cast~Io B!anco, duas de suas paixões lite~ias na Terra.

·"DO LEITOR"
~.~
.'.t~.­
·71,
Augusto Meyer
Ler um livro é desinteressar-se a gente deste mundo comum e objetivo para viver noutro munQO.
ft,.ÉnéfãTlumin.ada noite a dentro isot:ro- l"ctmrâa realiêlãaeãa ru~1Qouro aa viaa subjet~
·Arv~nrquamlo passanrprrS'snr.tâ1iõãl10estrelas ·teimôsas namoram inutilmente
a janela iluminada. O homem, prisioneiro do círculo claro da lâmpada, apenas ligado a este mundo pela
fatalidade vegetativa do seu corpo, está suspenso no ponto ideal de uma outra dimensão, além do tempo
e do espaço. No tapete voador só há lugar para dois passageiros: leitor e autor.
Os rumores do momento não conseguem despertar o sonâmbulo encantado, a can1inhar sem
vacilações sobre o fio invisível da fantasia. Descobriu, pela mão do autor, outro mundo, sublimado e
depurado, e dentro dele alguém gritou: terra! terra! Volveu a si mesmo 1•

*
O leitor ingênuo é simplesmente ator. Quero dizer que, num folhetim ou num romance policial,
procura o reflexo dos seus sentimentos imediatos, identificando-se logo com o protagonista ou herói do

-137 -
r
lromance. Isto, aliás, se dá mais ou menos com qualquer leitor, diante de qualquer livro; de modo geral,
nós nos lemos através dos livros.
- - --Masno-léitor ingênÜÕ, essa lei dos reflexos toma a forma de um desinteresse pelo livro como obra
de arte. Pouco importa a impressão literária, o sabor do estilo, a voz do autor. Quer divertir-se, esquecer
as pequenas misérias da vida, · vivendo outras vidas desencadeadas pelo bovarismo da leitura. E tem
razão. Há dentro dele uma floração de virtualidades recalcadas que, não encontrando desimpedido o
caminho estreito da ação, tentam fugir pela estrad<1 larga do sonho. No fundo, o João mais resignado
pensa com os seus demônios: ou César, ou nada!
A leitura, nesse caso, será um anestésico dos complexos de humilhação e parece dizer, como o
nosso poeta:

t Vou-me embora pra Pasárgada


Aqui eu não sou feliz 2•
No lcitbr ingênuo, é mais acentuada a dissociação entre realidade e fantasia. O mundo presente,
complexo de sensações importunas, mal consegue romper o círculo da sua concentração. A posição
incômoda na cadeira, o peso do livro, todos os tropeços que estorvam a abstração da leitura, rião sacodem
o distraído nem despertam o dorminhoco. Está roncando o seu lindo sonho.
O tipo representativo do leitor ingênuo é o devorador de romances que salta capítulos inteiros para
chegar ao fim e saber de uma vez qual foi o prêmio do herói, se o moço casou com a moça e o dedo de
Deus castigou o mau. De tal modo se identifLC.QlLCOm o herói, p_assando li. viver duua~ i_stência
sublime, .9.\Je d~scj!..:aber_.Ql_~u dCFli_~o5-omo quem quer d~d--ªL.Q..pJ2prio futuro. Ele';--simples João,
é o Conde Clc Mffnte Cristo. Ãgiglfüt111lõ,corre nas suas veias outro sangue, mais generoso. Enquadra na
grande aventura as suas aventuras. Os olhos ávidos, arrastados linha a linha, página a página, pelo galope
da fantasia, estão dizendo: esta é a verdadeira vida, a outra não passa de um pesadelo. Inconscientemente,
repete o gesto simbólico do Rubião cm Quincas Borba- com uma coroa de brisa, ele próprio se coroa Rei.
A imaginação, velha duelia experiente que protege os amores da vida e do sonho, não é aquela
folie du logis proverbial. Bem sabe que tudo depende do contrato entre o cinismo e a esperança. Vende
ilusões. Cobra caro, às vezes, mas quem poderá pagar uma ilusão? Quando Alonso Quijano deixou de
ler os livros da cavalaria andante, amargou saudades de si mesmo. /
E aí está o exemplo clássico da identificação do leitor com a personagem fictícia. Alonsô Quijano
enganchou-se à garupa dos cavaleiros andantes e Jcntou viver as ·suas leituras. Aos quinze anos, quem
já não foi mosqueteiro de Dumas, perdendo, porép1, o penacho aos primeiros desmentidos da realidade?
Relendo, por volta dos quarenta, os rom~nces devorados na adolescência, quando o mundo é
enorme, e parece inesgotável a disponibilidade da fantasia, compreendemos a importância da educação
sentimental contida nos livros de ficção.
O que predominava no leitor monstruoso que já fomos um dia, era a delícia de criar, acima da
realidade, um ambiente de refúgio, onde tudo palpitava de uma vida mais intensa. A larva dos desejos,
dos incertos e impuros desejos, vestia as asas do sonho, e abrir o livro era liquidar os cuidados
importunos, cortando qualquer nó de um só golpe, ao simples virar das folhas.
Tudo isso repetido vezes sem conta e criado o hábito da fuga, é claro que volvíamos a este mundo
estreito com uma vaga saudade daquele outro, onde não havia sabatinas complicadas nem deveres
urgentes para com a família.
É quase sempre no ginásio, aliás, que a sedução dos primeiros romances começa a exercer seu
império sobre o adolescente. A monotonia mesma da rotina escolar serve nesse caso de contraste 1
oportuno; de súbito, no rheio da análise lógica, a "Prece" do Guarani, ou qualquer página de grande
escritor, destinada a agitar a imaginação entorpecida, cai sobre o incauto como um doce raio de luz,
provoca a fermentação dos devaneios, e o livro cartonado e sujo, que parecia a bíblia do tédio, abre-se ..
em perspectivas de mistério e delícia. Começa uma vida nova para o leitor que desabrochou agora
mesmo no estudante bisonho.

-138 -
, 1
t 1 .
Gula 'tias leituras intermináveis, noite a dentro, acompanhando a sorte dos heróis com verdadeiras
angústias, enquanto os aborrecimentos rondavam a concentração do -visionário, sem licença de entrar.
Era uma ebriez como a outra e deixava, ao passar, um gosto melancólico de cabo de guarda-chuva - a
nostalgia de um paraíso perdido.
Ainda hoje as edições Garnier de capa vermelha me perturbam como velhas fraquezas mal
recalcadas. Não dizer a ninguém, rumino comigo, quanto sonho está enterrado naquelas relíquias, nem
o mal que me fizeram aos quinze anos.
E em vão, por exemplo, que Alencar se reveste de outra roupagem e ressurge sob a cor da folha
morta nesta edição Melhoramentos por sinal bastante melhorada, como feitura gráfica e revisão do texto.
Quan90 abro o volume, tenho a impressão de retomar o mesmo volume antigo, e apesar da brochura e
da CO{! P.arece que é a mesma capa encarnada que estou sentindo entre as mãos. .
f.M'â§Oiêltor mu ou, Apalpa desconfiado o miolo do livro, talvez com medo de não encontrar mais
a iluSã"o e outros tempos, quando passava horas no ópio literário e vivia, estirado na cama, as aventuras
de Arnaldo Loredo, o sertanejo, ou do altivo Estácio das Minas de Prata. Parafraseando o provérbio
alemão, ninguém passa impunemente à sombra das palmeiras de Alencar.
Para os meus quinze anos, foi um verda.deiro delírio, a ponto de sonhar acordado com as grandes
figuras que se agitavam com tanta graça e dignidade sobre um fundo magnífico das selvas, largas praias
e horizontes transfigurados pela glória de outro sol, maior que o .nosso de cada dia. Como sabiam amar
e lutar aqueles fantasmas bem falantes! Resplandeciam de uma beleza excessiva, quase inaturável. para
os limites humanos de admiração. Por isso mesmo, deixavam um rasto de saudade ao se despedirem de
nós - ora que pena! - já com um pé nos brancos da última página, rumo ao olvido.
· Não acabava então a história; de certo modo, para tortura nossa, ali recomeça.va de outra forma,
pesando em nossos ombros, no decorrer do humilde trabalho quotidiano, como um fardo de quimera e tristeza.
Pelo sim ou pelo não, devido à influência que então moldava nossas aspirações sentimentais,
entrávamos na vida prática intoxicados de um idealismo romanesco bastante ridículo, se não fosse
amargo e lamentável. Bovarizados pela ingênua tentativa de imitar algumas atitudes dos heróis predile-
tos, - porque, ainda bem, o anjo da guarda chamado bom senso nos demonstrava a impossibilidade de
transportá-los integralmente da letra de fôrma para a nossa própria pele - com um pé no sublime e outro
no prosaico, tropeçávarnos a torto e a direito, sem tirar nenhuma vantagem da lição. De tanto freqüentar
os fantasmas, o alucinado vivia ausente como eles. Desertava no mau sentido, evitava os choques
benéficos da experiência, para poder enfiar-se na primeira fresta de sonho.
Tivesse ao menos a anlargura das desilusões um salutar efeito de vomitório ... Mas aquilo não era
tristeza para se gastar logo, como as pequenas misérias familiares; pelo contrário, destilando um pouco
de volúpia, renovava o desejo do seu prolongan1ento, reacendia a vontade de prová-la com nova e
aborrecida ternura. "Que bom que é estar triste e não dizer cousa nenhuma", traduziu Machado. A flor
amarela envenenava o leitor indefeso.
Às vezes, tão intenso era o prestígio da ficção, que, entre uma cena comovente apenas imaginada
ou lida o espetáculo real das misérias humanas, a lágrima não hesitava: escolhia os olhos do leitor.
Parece que a feiúra da realidade, com seus dramas em carne e osso, a estancava logo, por não sei que
absurdo mistério da contradição. No fundo, a piedade hipócrita de um lascivo amador de sensações.

Whí1t's llecuba to him or the to Hecuba


That he should weep for her?

Eu pergunto e passo: constato apenas o prestígio dos fantasmas e um dos extremos de aberração
a que pode chegar o leitor, espécie de ator potencial, sob a influência do espírito romanesco.
Assim éramos nós então, por não sabermos ler nas entrelinhas. E daquela primeira fase de
educação sentimental, que parecia inevitável como as espinhas, passava quase sempre o jovem monstro
para uma crise de hipercrítica. Devido à necessidade de um restabelecimento de equilíbrio, o excesso

-139 -
1
1
eJgendrava o excesso contrário. A pouCQ._ e pouco, os românticos perdiam terreno em proveito dos
naturalistas. Dava-se' uma verdaãeirasubversão de valores na escala de sensibilidade e a fantasia
Cõii1praziã=Se em derrubar os antigos ídolos .. Formava-se muitas vezes, coincidindo com manifestações
mórbidas que são do domínio da psicanálise, um pedantismo da clarividência, tão nocivo como a
intemperança imaginosa ou sentimental, e talvC'Zin'âis ingênuo, pois refletia um ressentimen{Ode
na~1oraaõainaa feriêiõ nas suãS pri111eiraSITusõe~. · -

*'
. Mais tarde, se há o gosto permanente da leitura, o leitor ingênuo perde a faculdade quixotesca de
se !encarnar nos heróis ro'manceados, fazendo da sua vida uma esforçada imitação da arte, ou reagindo
caMidamente contra o seu prestígio. Com um pouco de disciplina literária, aprende a se desinteressar dll..
. pura intrigjl, já não salta sobre os cãjlliiiTõs, ~a pressa de conhecer o seu destino, JJOis para ele, a,_gora,
viajar é mais interessante do que chegar. 9 ator transformou-se em espectador. Removida a atenção da
anedota para o estílq_, do imprevisto cênico para o im revisto da inte retação, descobre o encanto
numeroso da leitura, que está mais no prisma o que no objeto. ·-
Entra neste caso, como fator importante, a sensualidade da leitura, que é o reverso da ingenuidade.
O leitor sensual cultiva a pausa consciente e lúcida, desperta por prazer de análise, interrompe o autor
em pleno vôo para apalpar-se cautelosamente, esclarecendo as origens da sua emoção e medindo a parte
de intérprete que lhe cabe. Vive mais na ambiência imediata, embora seja capaz de uma abstração mais
delicada. A bela imagem, o conceito fino são bons pretextos para fechar o volume e sorrir - um pouco
a si mesmo, um pouco ao fantasma que anima o texto.
Se no leitor arrefecido esmorece o interesse pela fabulação, de outro lado observamos que aprende
a cultivar o romance como documento psicológico e valor de arte. Além do prazer que proporciona a
experiência psicológica romanceada na obra, há um sabor especial na aventura psicológica do autor às
voltas com as criações imaginárias, no mundo da ficção.
Vê, então, que os temas sublimes não bastam para a sublimação do estilo. De uma doença entre
.quatro parede1 ~roust fez uma eoolifu. Da saudade a infância perdida, Katherine Mansfield fez um
grãílcleRQema, que se renov'a através de pequenos contos. Inesperadamente, a pequena Kezic vive tanto
como a 71fü-Je Dorrit'', a criada Françoise é tão eloqüente como o Cid.
A ilus~de vida própria que nos dão as personagens fictícias não depende, como queriam os
naturalistas, da obediência a determin.adas regras de verossimilhança, é um simples efeito dessa magia
indefinível com que o autor nos impõe a visão do seu mundo e a sua presença mais real do que a própria
realidade. Depende apenas da unidade de perspectivas. Altermrr~uma composição o processo objetivo
do naturalismo, com seus preconceitos de observação científica, e o improviso dramático de Dostoiévski,
com o seu indeterminado psicológico, é destruir a ilusão que provém dessa unidade. Na obra dos
românticos, tão complexa e quase sempre tão heterogênea, podemos notar uma falta de perspecti·v·a---
definida, que serve de exemplo.
Um\ bom romance apresenta sempre a unidade de uma consciência que se revela, será, como esta,
um mundo fechado dentro da sua órbita, girando em torno do seu eixo 3• E o grande encanto da ficção
está justan1ente em proporcionar ao leitor a conquista desse mundo novo, singular e único. Se não fosse
a literatura - poesia, ficção - nada saberían10s do mistério individual dos outros, dÔ seu mundo
interior, da muitIR!jc1dade psicológtcaaõ tiomem. O ten-eno da literatura é o da Frlebnis de Koffka,
· aquela pàrte dos outros, ou de nós mesmos, que so pode ser conhecida através da confidência.
Sob este ponto de vista, os pobres psicólogos devem tudo aos escritores. A maior riqueza de

il'"'~s psicológicas eS!á acu~ulad~ ~ dram~s, <~mances, ~em~utobiogrnfiãS;Oj[ile)!parece o


homem real concreto na sua "Vivencia medut1vel a observaçao exterior. E a hteratura e confissão
~difclãouinâireta, confiaência ou lirismo. "Madame Bovary c'est m'õf':dizia Flaubert, desmentíi1cíõ
tÕda:s as teorias esté~ ·

- 140 -
AV1 C~Nf>r

'
l
!
, Por isso mesmo, o exercício da leitura, que parece uma simples forma do prazer artístico, pode

r
ser interpretado como necessidade de simpatia humana e de compreensão psicológica. A leitura me
parece uma escola de boa vontade. Virginia Woolf, no seu Common Reader, dá um conselho admirável
ao leitor: "Do not dictate to your autl"!Q!. try to become him" 4 • ~ "
Cabe aqui o exemplo ae um leitor de boa vontade. Avicena, o filósofo árabe, depois de reler
quarenta vezes a Metafísica de Aristóteles e de saber todõõTeXto · na ponta da língua, nem àm
-conseguii'ãCOmpreender o seu sentíclü.K1as fez muito bem não desanimar; porque um belo dia, ao
comprar sem maior palpite um tratado de Alfarabi sobre a obra do mestre, a páginas tantas, sentiu o
estalo na cabeça e tornou-se o grande intérprete da filosofia aristotélica 5•
~jEncontroa comovente imagem dole1tor ideal, que neste caso é o leitor desconhecido, numa
pá~na do di.ário de Gide. . . _ .
Ao sarr do métro, na estação do Louvre, viu no corredor uma moça; caminhava tao devagar, lendo
uma brochura de grande formato, que parecia imóvel, em contraste com a pressa dos outros. Absorta na
leitura, esquecida do ambiente e de tudo, provocou-lhe o desejo de surpreender o título da obra. Nesse
instante, um operário que passava a seu lado, com uma pancada brutal, atirou o livro ao chão lamacento,
onde os cadernos se espalharam. "II eOt fallum d'un coup de poing, envoyer cet homme rejoindre le
livre à terre", diz Gide. Mas o bruto parecia disposto e estava acompanhado. Gide contentou-se com
esta chocha observação: "Ah! c'est spirituel, ce que vous venez de faire là!" Ao que o sujeito
respondeu: "Moi, ça m'amuse autant que de !ire".
Nada havia a replicar, comenta Gide. Melhor que ajudasse a pobre moça a juntar os cadernos do.
seu livro, mas é o que ela havia feito, enquanto ele seguia com o olhar os operários.
Perdido no meio da inesgotável profusão de idéias, sentimentos e fatos que é o Journal, o episódio
parece o registro de um minuto qualquer. Não obstante, a imagem da humilde leitora se reveste de uma
graça especial, um pouco triste, é verdade, mas ao mesmo tempo impregnada de serenidade, e com não
sei que sugestões de imprevista energia, feita de perseverança e resignação .

•......,..1 Proust escreveu páginas admiráveis sobre ú encanto da leitura, ao prefaciar a sua tradução de Sesame and Lilies. ~
Ver John Ruskin, Sésame et les Lys, traduction, notes et préface par Marcel Proust, quatrieme éd., Paris, Mercure
de France, 1906.
2 Manuel Bandeira, Libertinagem, 1930.
3 Ver em Virginibus, Puerisque and Later Essays, de Stevenson, - "A Note on Realism".
4 Ver em The Common Reader: Second Series, London, The Hogarth Press, 1952, p. 258: "How should one reada
book?;', excelente comentário sobre a art.e da leitura.
5 Ver Etienne Gilson, La Philosophie au Moyen Âge, Payot, 1930.

"O GLADÍOLO NO RAMALHETE" j


Lêdo Ivo

A Biblioteca Municipal de Charleville é um lugar tranqüilo. O bibliotecário, Jean Hubert, ama


permanecer sentado e escrever, na sua meticulosa caligrafia, a relação de todos os livros que o rodeiam.
Ao desincumbir-se da tarefa burocrática, ignora que um dia êsse levantamento terá a maior importância
crítico-histórica. E também não imagina que o mais turbulento dos consulentes da biblioteca o fará viajar
no estribo do carro da glória.

-141 -
l Fora da biblioteca, não reina a tranqüilidade que Jean Hubert tanto aprecia. Pois estamos em
princípios de 1871, e Charleville, situada perto da fronteira com a Bélgica, já se submeteu à humilhação
da ocupação alemã, nessa guerra com a Prússia que trouxe tantas derrotas para a França, derrubou o
Império de Napoleão III, e provocou guerra civil. São os dias da Comuna que envolvem sombriamente
a cidade, mortalha negra e vermelha.
No rosto de um dos consulentes da Biblioteca, o preocupado Jean Hubert encontra a hora que
passa. Pois não é que êsse Jean-Nicolas Arthur Rimbaud, filho do capitão de infantaria Frédéric
Rimbaud, que anda sempre longe de casa, em atividades militares, e de Vitalie Cuif, mulher de hábitos
severos, que não oculta sua dura origem camponesa, já fugiu três vezes para a.Capital, de uma feita com
.o propósito de assistir à queda de Napoleão III? A inquietação do tempo reflete-se no rosto do
!adolescente insubordinado que escreve blasfêmias nos muros, interpela os padres nas ruas, proclama-se
tepublicano e ateu.
Jean Hubert não o estima. Sabe que ele se distinguiu, na cidade, como aluno aplicado, andou
conquistando prêmios com as suas composições escolares, suscitou a admiração do professor Izambard,
aprendeu a versificação latina. E mesmo que lhe mostrasse "Au Cabaret Vert", "La Bohême" e "Le
Dormeur du Vai", que o rapazinho já produziu, durante suas fugas e vagabundagens, nossa-amizade não
mudaria de opinião. E entre os males da guerra inclui a despropositada freqüência de Jean Arthur à
biblioteca. Várias vêzes já o concitou a voltar aos seus livros escolares, aos textos de Cícero e Horácio,
aos gregos. Mas o jovem Rimbaud não pretende praticar nenhum movimento de retôrno aos bancos do
colégio aliás ocupado por uma ambulância meses atrás. E ou está na biblioteca, reclamando um tomo de
Proudhom ou de Victor Hugo, pedindo vários livros ao mesmo tempo - e a posteridade haverá de dizer
que êle se abasteceu, nessa biblioteca, de leituras ocultistas, tratados de magia! - ou dissipa a ociosidade
passeando com seu amigo Ernest Delahaye pelos arredores, até aquela muralha de goivos que hoje só pode
ser encontrada nas páginas das llluminations, ou então conversando com êsse desfrutável Charles Bretagne
que se diz amigo de Verlaine e não cessa de ostentar discutíveis conhecimentos de música, literatura e ocultismo.
Jean Arthur não consegue vencer a impaciência - a História está nas ruas, criatura de braços
abertos que impede sua carreira, opondo-se-lhe aos sonhos de viagem e aos desejos de evasão. E, para
matar o tempo, entra na Biblioteca como se fôsse um ciclone, incomoda o meticuloso Jean Hubert com
a sua irrefreável infolência, obrigando-o a levantar-se da cadeira,. interromper por um momento sua
caprichada caligrafia e atender às suas solicitações 1e munícipe.
O peralta quer ler muitos livros ao mesmo tempo, alguns inteiramente desaconselháveis para a sua
idade, seus dezessete anos aliás já estragados. Exige Rabelais e Rousseau, Helvetius e Babeuf, Saint-
Simon e Baudelaire. A verdade é que a mãe Vitalie, como tôda camponesa, é avara, e o insolente Jean
Arthur não dispõe de dinheiro para comprar livros nem para manter em dia sua jovem curiosidade. Os
francos que consegue arrancar da casa mal dão para os cigarros. Basta dizer que, semanas antes, êle
fugira para a fervilhante e sangrenta Paris, e fôra obiigado a vender o relógio para comprar a passagem do trem.
Jean Hubert não consegue sopitar a irritação que lhe inspira o consulente indesejável - em lugar
de ler Gartantua ou de gastar o tempo com êsses socialistas, o menino faria muito melhor se ficasse em
casa, estudando seu bom Cícero, capinando os clássicos!
A desestima é recíproca, entre o consulente e o severo bibliotecário. E o ambiente da biblioteca,
com os leitores sentados calmamente, alguns dormitando como se a guerra franco-prussiana não tivesse
ensangüentado a paisagem, e a Comuna não estivesse urrando nas ruas de Paris, vai fecundando no
freqüentador inquieto e faminto de leituras diversas o seu vírus particular.
"Você me paga!" - o jovem Rimbaud parece dizer ao lerdo Jean Hubert, símbolo do mundo
sentado, da rotina e da imobilidade. E sua vingança tem uma forma sonora. É um poema.

II u

Um leve enigma paira sôbre o poema "Les Assis" quando, no volume de Rimbaud ou nos
florilégios, êle esplende sozinho, antológico da cabeça aos pés. E a peça só se explica inteiramente

- 142 -
,
l
quando, evocada a circunstância de sua gênese, a figura de Jean Hubert surge, irritadiça, nesse pequeno
e súfocante universo de coisas sentadas, burocràticamente horizontais.
Em 1883, ao divulgar o poema, na revista Lutece, Verlaine conta sua história e sublinha seu teor
satírico mas se recusa a revelar o nome do bibliotecário, o qual embora lhe dançasse na ponta da pena,
era a seu ver "peu fait pour la postérité".
Vê-se, portanto, que não foi pacificamente que Jean Hubert entrou para o elenco histórico-
literário, e sua hostilidade em relação a Rimbaud fê-lo passar por alguns vexames; seu nome dançou
(inutilmente) sob a pena de um grande poeta maldito. Entra, não entra, terminou entrando; e um dia se
lhe fêz justiça. E, para os pesquisadores literários, os escafandristas da investigação livresca, Jean Hubert
surge como um patrono da classe dos bibliotecários!
! A senhora Émile Noulet, que com tanto amor e tão nobre inteligência se debruçou sôbre a primeira
ileição de Rimbaud, acentua que, atualmente, para se saber se tal obra já estava na biblioteca de
Charleville, à época do poeta, basta consultar os catálogos organizados por Jean Hubert. "Seu trabalho
específico de bibliotecário continua a servir à glória do estranho jovem cujo onívoro apetite de leitura o
indignava'', acentua a douta Noulet, em seu livro intitulado precisan1ente Le Premier Visage de Rimbaud.
Ambos dormem, agora, no cemitério de Charleville: o bibliotecário e o consulente. Jean Hubert
saiu de sua cadeira na biblioteca para um descanso maior e merecido; vivia sentado, agora vive deitado,
eternamente. Quanto ao solerte Rimbaud, que viveu sempre em pé, nas agitações da vida vertical, não
morreu na cidade. Qualquer manual de literatura ensinará que êle morreu longe, em Marselha - viera
do Oriente, da negra Abissínia, para lutar contra a morte, êle, que tanto anlaldiçoara o Ocidente, e a
religião, e a família. E foi lá que expirou, roído pelo câncer, num hospital. E teve morte cristã, a eterna
esperança o iluminou quando êle cruzou a fronteira onde não há mais oriente, nem ocidente, nem
qualquer geografia exclusiva. E foi defunto que chegou, pela última vez, a Charleville.
Mas a verdade é que estamos ainda em 1871, e o judicioso Jean Hubert não se encaminhou ainda
para a aposentadoria final, e o inquieto Jean Arthur não ultrapassou os limites dêste intolerável Ocidente.
A única fronteira que ele atravessa agora é a da Bélgica, em companhia do seu amigo Ernest Delahaye,
cm busca de tabaco para os cigarros que fumam, horas a fio, numa velha cabana das redondezas da
cidade, enquanto conversam e discutem literatura e filosofia.
Sentado em sua cadeira na biblioteca municipal, Jean Hubert pensa no dia corrente, e no ano
sangrento. Para êle, 1871 é o ano da queda de Napoleão III, de uma Assembléia Nacional na qual
quinhentos monarquistas aceitam a derrota e pregam a inteligência com a Prússia e duzentos republicanos
esbravejam, e Charleville é ocupada pelos alemães.
Meu caro Jean Hubert, 1871 não é apenas isto. Com a devida vênia - é o teu ano, é o ano em
que êsse perverso e antipático Rimbaud escreve "Les Assis'', e a "Lettre du Voyant" dirigida a Paul
Donieney, e a carta a Verlaine (êsse Verlaine sob cuj~ pena dançou teu nome), que lhe abre as portas
de Paris, onde o esperam mais desgraças e fatalidades. E o ano em que, aguardado na Capital por aquêles
que se tinham deslumbrado diante da ,beleza espantosa de seus poemas, Rimbaud escreve (será em
setembro) "Le Bateu Ivre" como quem prepara seu próprio cartão de visitas.
Delahaye, que ora solta para o ar fino uma baforada de cigarro (tabaco belga), assim contará um
dia, na sua biografia de Verlaine, a chegada de Rimbaud a Paris, desta vez não mais fugitivo, e sim
precoce homem de letras: "Rimbaud vient, iI apporte 'Bateau Ivre', cette oeuvre sans rivale dans le passé
comme sans égale depuis lors. C'est, dans son intention, un hommage de bienvenue, en réalité un
desespérant défi à tous les chanteurs. Que sera donc cet enfant qui, pour commencer, renvoie, I'on
pourrait dire, à I 'école des 'maitres ', et dont le génie efface, du premier coup, I 'art le plus raffiné du Parnasse?''
No poema que é uma sátira ao mundo silente e sentado,. uma perfídia intolerável a um burocrata
que sempre cumpriu seu dever, e mereceu um elogio póstumo da senhora Noulet, um dos maiores
ensaístas europeus, o jovem Rimbaud usa a palavra "gla'ieul". O peralta andou lendo e admirando "Les
Fleurs", de Mallarmé, publicado no Parnasse Contemporain onde, mal saído dos cueiros, ambicionava
ser admitido, tanto assim que o ano anterior mandara poemas para Théodore de Banville, que não lhe
deu bola. Do fulgurante ramalhete mallarmeano, êle surrupiou um gladíolo.

- 143 -
1 1

S~ ~robidoso
o Jean Hubert soubesse disso (mas êle agora repousa, santo leigo dos bibliotecários, no
tranqüilo cemitério), haveria de comentar, aferrado à convicção de que êsse insubordinado filho de
Vitalie Rimbaud não era boa bisca: plagiário!

~ "O BIBLIOTECÁRIO"
Emílio Carrera Guerra
A Oswaldino Marques

i É um.repouso de centro do mundo.


A terra, um disco de vitrola.
Tú, numa cadeira de molas, sentado,
Sôbre almofadas de sombra,'
Girando, girando, mas parecendo imóvel.
Muralhas conventuais a te cercarem.
Raro, o an-ebol incendeia os vitrais.
Mais pálido, entre o bolor dos séculos,
Combates a traça, a poeira, teias.
D. Quixote de lança-espanador, morteiro-flit,
Investe, inútil, contra o tempo.
Milhões de palavras em teu novo silêncio.
Trepan1 pelas paredes, arrumam-se nas estantes.
Peneira de realidade, roca e fuso do sonho,
Teus instrumentos, tua matéria-prima.
Modorra pinga das horas inteiriças,
Ceva-se em luz mortiça a preguiça criadora.
Olhas tranqüilo, sobre a mesa pousadas
As mãos sem garras, o pão sincero.
Todo tranqüilo, não mais como nós:
Homem avançando com a faca nos dentes.
Do sono aparente, nasce um catálogo.
Inanimados jardins de ordem, flores de paciência,
Revela-se o parentesco infinito das séries,
Mapas, referências, dicionários.
Dos galhos pendem respostas maduras,
Todas, ao alcance da qualquer,
Sob tua vista complacente, zelosa
De guardião do pomar.
Comandante submerso,
Periscópio assestado nas avenidas,
• I
Sorrí, sem querer, comiserado
Do movimento tão excessivo,
Alí, tão dócil, reduzido a fichas.

- 144 -
r
l Poeta enrustido,
Viaja sentado numa cadeira de molas.
Apita o tráfego de estradas imponderáveis.
Ouve a fanhosa vitrola do mundo distante
E entre lufadas de vento, apêlos da paisagem,
Intimações da rua, considerá apenas
Como arquivar as asas.

"PARA UMA FEIRA DO LIVRO"


j
Cabral de Melo Neto

A Ângel Crespo

Folheada, a fôlha de um livro retoma


o lânguido e vegetal da fôlha fôlha;
e um livro se folheia ou se desfolha
como sob o vento a árvore que o doa;
folheada, a fôlha de um livro repete
fricativas e labiais de ventos antigos,
e nada finge vento em fôlha de árvore
melhor do que vento em fôlha de livro.
Todavia a fôlha, na árvore do livro,
mais do que imita o vento, profere-o:
a palavra nela urge a voz, que é vento,
ou ventania varrendo o. podre a zero.

Silencioso: quer fechado ou aberto,


inclusive o que grita dentro; anônimo:
só expõe o lombo, pôsto na estante,
que apaga em pardo todos os lombos;
modesto: só se abre se alguém o abre,
e tanto o oposto do quadro na parede,
aberfo a vida tôda, quanto da música,
viva apenas enquanto voam suas rêdes.
Mas apesar disso e apesar de paciente
(deixa-se ler onde queiram), severo:
exige que lhe extraiam, o interroguem;
e jamais exala: fechado, mesmo aberto.

- 145 -
r
1

INDICE*

. ~reu, João Capistrano de 3.4. 1, 4.5.5 Associação dos Bibliotecários do Distrito Fe-
Meijadinho, Antônio Francisco Lisboa, chama- deral 4.5.9, 4.5.11
do 1.6.1.9 Associação Paulista de Bibliotecários 4.5.11
Alencar, José de 1.5.8 Association des Archivistes et Bibliothécaires de
Alerta, Serviços de 3. 2.1. 7 Belgique 4.4.3.1
Alexandria (biblioteca) 4.2.16 Association des Bibliothécaires Français 4.4.3.1
Alfabetização 2.3.6.4, 3.2.2.3, 3.2.2.6 Association of Special Libraries and Informa-
Almeida, M. M. 3.4.11 tion Bureau 0.19, 2.3.4.1
Almeida Prado, Heloísa 0.34 Automação (previsão de Ortega y Gasset) 4.2. 7
American Documentation Institute 0.17, 0.20, Ávila, Affonso 1.6.1.3
0.23
American Librruy Association 3.2.1.6, 4.3.2, Bandeira, Manoel 1.6.2.3, 3.4.4
4.3.4, 4.3.5, 4.4.3.1, 4.4.3.2, 4.4.4.2 Bandeira, Manuel 1.4.2, 1.5.8, 1.6.2.5, 2.3.6.1,
American Society for Information Science 0.19, 3.2.1.1
0.23, 4.4.1.2, 4.4.1.3, 4.4.1.4 Barnard, Henry 2.3.6.2
Anacreonte 4.2.16
Barthes, Roland 3.2.1.2
Baudelaire, Charles 1.6.2.12, 3.3.3.3.5

Andrade, Carlos Drummond de 0.20, 1.6.2. 7,
Beardsley, Aubrey 1.6.2.14
1.6.2.10, 1.6.2.11, 3.2.1.1
Bennett, George E. 0.24, 0.28
Andrade, Mário de 2.4.6, 4.5.7
Bento, são 3.3.3.2.5
Anjos, Augusto dos 1.5.3
Berge, Damião, O. F. M. 0.5
Anjos, Ciro dos 1.6.2.10 Bergner, Claus A. 1.6.2.10
Aragão, Antônio Ferrão Muniz 4.5.4 Bergson, Henri 3.3.3.1.4
Araujo, Emanoel 1.6.2.13 Berlendis, Donate!a 1.6.2.12 ·1
Arcimboldo, Giuseppe 4.2.13 Bernal, John D. 0.31
Aristarco de Samotrácea 4.2.16 Bernanos, Georges 3.3.3.2.7, 3.3.3.3.2
Aristófanes 4.2.16 Bibliofilia 1.6.2.1
Aristófanes de Bizãncio 4.2.16 Bibliografia 0.32, 1.4.15
Aristóteles 0.11, 0.14, 3.2.1.1 Bibliomática 0.32
Armazenagem e recuperação da informação 0.21 Bibliometria 0.32
Arns, Paulo Evaristo, O. F. M., card.-arceb. de Biblioteca de Alexandria 4.2.16
São Paulo 3.3.3.2.5 Biblioteca, Definições 2.1.2, 2.1.3
Asimov, Isaac · 3.3.3.3.6 Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos
Assentos (mobiliário) 3.3.2.5 3.1.4, 3.2.2.4, 4.1.3 1

Associação Brasileira de Escolas de Biblioteco- Biblioteca, Etimologia 2.1.1


nomia e Documentação 4.5.11 Biblioteca Municipal de Mossoró (RN) 2.3.6.4 \'

• Introdução e capítulos 1 a 4.
iblioteca Municipal Mário de Andrade 2.3.6.4, British Libraiy 2.3.5.2
'2.4.6, 4.5. 7 Broadfield, A. 0.34
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro 2.4.8 a Brochura, Revolução da 1.3.6, 3.2.1.4
2.4.10, 4.2.18, 4.5.5, 4.5.6 Bunge, Charles A. 3.2.1.8
Biblioteca, Novo conceito 2.2, 3.2.1.5 Bunyan, John 3.3.3.2.12
Biblioteca pública 0.26, 0.27 Buonocore, Domingo 1.5.15, 3.1.2, 3.1.3, 4.4.4.2
Biblioteca Púl;ilica da Bahia 2.4.3, 4.5.3, 4.5.4 Burton, Victor 1.6.2.12
Biblioteca Pública Estadual (PR) 2.3.6.4, 2.4.6 Butler, Pierce 0.34
Bibliotecário
associações 4.4.3 Cabral, Pedro Álvares 3.4.1
atualização 4.4 Campos, Geir 1.6.2.7
Brasil 4.5 Canfora, Luciano 4.2.16
como filtro (Ortega y Gasset) 4.2.6 Cardozo, Joaquim 4.4.2.1
congressos 4.4.2 Carneiro, Newton 2.4.6
formação 4.3 Carvalho, Alfredo de 1.6.0, 3.4. 7
imagem 4.2.13 a 4.2.16 Carvalho, Genaro de 1.6.2.13
legislação 4.5.12 Caiybé, Hetor Bernabó, chamado 1.6.2.13
missões 4.2 Cascudo, Luís da Cãmara 3.3.4.2
palavra 4.1 Castello Branco, Pedro Gomes Ferrão 2.4.4,
Bibliotecas · 4.5.3, 4.5.4
Brasil 2.4 Castro Maya, Raymundo de 1.6.2.6, 1.6.2.11
categorias 2.3 Catálogos de bibliotecas 3.4. 7
escolares 2.3.2 Cavalcanti, CordéliaRobalinho de Oliveira 0.35
especializadas 2.3.4 Cegos 3.2.2.4
infantis 2.3.1 Censura 4.2.9
nacionais 2.3.5 Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais
3.4. 10
planejamento 2.2.1, 2.2.2
públicas 2.3.6, 3.2.2.1
universitárias 2.3.3
CervantesSaavedra, Miguel de 1.6.2.11, 3.3.3.3.3
Chesterton, G. K. 0.13, 3.3.3.3.3
..
Childe, V. G. 1.3.4
Bibliotecologia 0.4
Cícero, Manoel 2.4.10, 4.2.18, 4.5.5, 4.5.6, 4.5.13
Biblioteconomia
Ciência da informação 0.19, 0.20, 0.24, 0.25,
congressos 4.4.2
0.27, 0.29, 0.30, 0.31
congressos brasileiros 4.5.10 Ciência das ciências 0.31
dicionários 4.4.4.2 Ciências documentológicas 0.31, 0.32
e outras ciências documentológicas 0.32 Citações
obras de referência 4.4.4 cadeias 0.33
periódicos 4.4.1 índices 4.2.7
periódicos brasileiros 4.5.9 Classificação Decimal Universal 4.4.2.3, 4.4.3.4
Biblioteconomia (palavra) Clemente, José Edmundo 3.3.3.2.11
em outras línguas 0.3 Coblans, Herbert 0.28
etimologia 0.1 College of Librarianship. International Gradua-
Biosfera 0.1 O te Summer
Blake, William 1.6.2.14 School (Pais de Gales) 4.3.5
Boécio 3.3.3.2.6 Columbia University
Borges, Jorge Luis 2.2.2 School of Libraiy Economy 4.3.2
Bo~i. Eclea 3.4.11 School of Libraiy Service 4.5.6
Bradbuiy, Ray 3.3.3.3.6 Condé, João 1.6.2.6
Bradford, S. C. 0.26, 0.27 Congresso Internacional de Bibliotecas e Biblio-
Briet, Suzanne 0.21, 0.29 grafia, 2º Madrid, 1935 4.2.·l, 4.2.2

148 -
,
l Haflewell, Laurence 1.6.2.15 Kaz, Leonel 1.6.2.10
Hargreaves, Noemi e Wilson 1.2.2 Kent, Alen 4.4.4.1
Harrod, L. M. 4.4.4.2 Keynes, John Maynard 2.2.1
Harvard-Williams, P. 4.2.11. 4.2.12 Knoplich, José 3.3.2.5, 3.3.2.8
Hegel. F. 3.3.3.2.4 Koestler, Arthur 1.5.9
Henne, Frances 2. 3.1.1
Henriot, Gabriel 4.4.3.2 Lacerda, Carlos 1.6.2. 14
Henrique de Coimbra, O. F. M. 3.4.1 Lacerda, Virgínia Cortes de 3.4. 12
Hesíodo 4.2.16 La Fontaine, Henrt de 0.16, 4.2.18, 4.4.2.3
HoITmann, E. T. A. 3.3.3.3.5 Lancour, Harold 4.4.4.1
Holanda, Gastão de . 1.6.2.11 Lane, Allen 1.3.6
1
{Homero 3.3.3.3.2, 4.2.16 Lannoye, Charles 2.1.3
"Horácio 1.3.8 Larbaud, Valery 3.3.3.2. 12
Houaiss, Antônio 0.10, 1.1.6, 1.3.3, 1.4.7, 4.3.1 Las~o de la Vega, Javler 0.29, 4.2.10
Hugo, Victor 4.2.15 Leal, José Simeão 1.6. 1.9
Lefebvre, Henri 0.33
Iluminação paraleltura 3.3.2.2, 3.3.2.3, 3.3.2.4, Leibniz, Gottfried W. 4.2.17
3.3.2.12, 3.3.2.13 Leite, Serafim, S. J . 2.4. l, 3.4.2, 3.4.3, 4.5.1
Iluminismo 3.4.4 Leitor 3.1, 3. 2.1
Imprensa Oficial do Estad.o de São Paulo 1.6.1.9 I..eitores virtuais 3.2.2.1. 3.2.2.2
Inácio de ~!ola, santo 3.4.2 Leitura 3.1.8, 3.3
Incunábulos 1.6.1.1 direta 3.3.4.5, 3.3.4.6
Índices 1.4.16 formativa 3.3.3.2
índices de citações 4.2.7 induzida 3.4.12
Informática 3.1. 7 informativa 3.3.3.1
Informatologia 0.19 oral 3.3.4.2
Institute for Scientific Information 0.33, 4.2.7 projetista 3.3.3.2.1 ,
Institute ofinformation Scientists 0.19 real 3.3.4.4
Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documen- recreativa 3.3.3.3
tação 0.28, 2.4.4, 4.5.13 Lenin, Vladimir Ilithc Ulijanov, chamado
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e 3.3.3.2.10
Tecnologia 2.4.11, 4.5.8, 4.5.9, 4.5.13 Leonardo da Vinci 0.14
Instituto Internacional de Bibliografia 0.16, 0.17, Leuzinger, Georges 1.6.1. 7
4.2.18, 4.4.2.3 I..eskoschek, Axel 1.6.2.6
Instituto Internacional de Documentação 0.17 Libraiy Assoclation 4.3.4, 4.4.3.2, 4.4.1.2,
Instituto Nacional do Livro 4.5.13 4.4.1.3, 4.4.1.4, 4.4.2.3, 4.4.3.1, 4.4.3.2
Intemational Board on Books for Young People Libraiy of Congress 2.3.5.2, 3. 1.4, 3.2.2.4
3.4.10 Lima, Alceu Amoroso 1.6.2.14
Intemational Graduate Summer School 4.3.5 Lima, Etelvina 4.5.1~
ISBD (International Standard Book Description) Lima, Luís Costa 3.3.~. 2.8
4.4.3.3 Lins, Álvaro 3.3.2. 7, 3.3.3.3.2
Iser, W. 3.3.3.2.8 Literatura infantil 3.4.8, 3.4.9, 3.4.10
Livro
Jardim, Luís 1.6.2.2 artístico 1.6.2
Jauss, Hans Robert 2.2.5, 3.3.3.2.8 autoria 1.5.11, 1.4.12
Jerônimo, são 3.3.3.2.5. base fisica 1.4
Jesuítas 3.4.2 a 3.4.4, 4.5. l, 4.5.2 capa 1.4.7 a 1.4.10
João Evangelista, são 1.5. l definições 1.1.2 a 1.1.6
João VI, rei 1.6.1.6 de referência 1. 5.14 ·
Joyce, James 1.2.5, 3.3.3.2.12, 3.3.3.3.2 dizeres escritos 1.2.3 a 1.2.5

150 -
':JA maneira por que Edson Nery da Fonseca tem exercido sua
biblioprátlca vem sendo, desde o Início, a de um bibliósofo que
chegaria a uma bibllosofia íntegra, de pés na terra - já que
sabe de polpas de papel, de tintas, de caracteres, de com-
posições, de manchas e Ilustrações, d,p encadernações, de
preservação, de restauração, de armazenamento, de locais, de
acondicionamentos ambientais - e de olhos no céu - já que
busca para cada livro sua mensagem, seu conteúdo formativo,
informativo, recreativo, lúdico, sua adequaç~o etária, seu curso
de honra, sua inserção na história; de permeio, entre os pés e
os céus, quer, com o coração, que os livros sejam objetos
amorávels, ·c9mo cimentos e tijolos de humanização, mesmo
os ruins e as controvérsias que geram com seqüelas quase
sempre de redenção; e com o fígado, que dele quer que se
possa haurir alegrias retemperantes, eventuais rancores ma-
gQE1dOs mE1s.superávels, certos ímpetos corretivos, .alguns tem-
êfo.,~ :~d!dát~cos -: fontes de vida havida, vida vivente e vida
râ•

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