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"Requiem - Introito» (1625), de Frei Manuel Cardoso (1566-1650): a expressividade

mística nas seis vozes da Missa dos Defuntos do Mestre da Capela do Convento do
Carmo

Frei Manuel Cardoso faz parte de uma notável geração de compositores portugueses que
desenvolveram a sua obra num período designado por «Idade de Ouro» da polifonia portuguesa,
um tipo de música litúrgica composta para um coniunto de vozes sem qualquer acompanhamento
instrumental

A importância do seu trabalho decorre não só do rigor técnico e da capacidade inventiva que
incutiu às suas peças como também da circunstância de ter sido um dos compositores que mais
obras publicou em vida, emprestando, deste modo, uma forte contribuição ao estudo da História
da Música em Portugal.

Natural da vila alentejana de Fronteira, na altura pertencente ao arcebispado de Évora, com


apenas 9 anos foi mandado pelos seus pais para o Colégio dos Meninos do Coro da Sé de Évora,
talvez por desde cedo lhe terem reconhecido invulgares dotes musicais.

Aí, o jovem pupilo desenvolveu uma ampla aprendizagem teórica e prática no âmbito da música,
tendo sido discípulo de Frei Manuel Mendes

(c. 1547-1605), Mestre do Claustro da Catedral de Évora e um dos mais destacados compositores
da época, que formou, entre outros, Duarte Lobo e Fi-Lipe de Magalhães, polifonistas que
marcaram a chamada «Escola de Évora».

Após terminar os estudos, ingressou no Convento do Carmo, em Lisboa, em 1588, tomando os


votos da Ordem dos Carmelitas no ano seguinte. Nos 62 anos seguintes, Frei Manuel Cardoso
viveu no convento, onde foi Mestre da Capela e escreveu toda a sua obra musical.

Desde logo, o frade carmelita evidenciou bons conhecimentos musicais não só na arte da
composição como também na execução de órgão. O seu mérito terá sido reconhecido pelo Duque
de Bragança, futuro rei D. João IV, o Restaurador, ele próprio também músico e compositor, que o
convidou para a sua residência no Paço Ducal de Vila Vicosa (1618-1625) e Lhe financiou a edição
de algumas obras.

É durante a dinastia filipina (1580-1640) que a maior parte da sua obra é publicada. Impresso em
Lisboa por Pedro Craesbeeck, como, aliás, os res-tantes, o primeiro dos seus livros de polifonias, o
Cantica Beatae Mariae Virginis, é publicado em 1613, a que se seguem três livros de Missas (entre
1625 e 1636) e o Livro de Vários Motetes (em 1648). Porém, admite-se que muito mais da sua
obra polifónica terá sido destruída no terramoto de 1755.

As missas de Frei Manuel Cardoso recorrem a uma técnica frequente no


Renascimento designada «paródia», segundo a qual as composições eram construídas a partir de
material preexistente. Assim, no primeiro livro, as obras são baseadas em motetes de Palestrina
(1525-1594), destacado compositor italiano, no segundo livro, são submetidas a orientações do
futuro

D. João IV, enquanto, no terceiro livro, as seis missas são escritas sobre temas da autoria do rei
Filipe III, que financiou a sua publicação.

O Livro de Vários Motetes inclui as «Lições da Semana Santa», uma das obras mais significativas do
Maneirismo musical português. A sua obra mais conhecida é a Missa dos Defuntos para seis vozes,
incluída no livro de Missas de 1625, na qual evidencia um grande virtuosismo técnico, uma
fecunda inspiração e uma acentuada expressividade rústica.

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