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1
CAPÍTULO 1
crítica da coisa

o estudo do ritmo (dos ritmos) pode se principiar de duas


maneiras, cuja convergência se quer mostrar aqui. Casos po-
dem ser estudados e comparados: os ritmos dos corpos, vivos
ou não (respirações, pulsos, circulações, assimilações - dura-
ções e fases destas durações etc.). Nesses casos, permanece-se
próximo da prática: confrontando os resultados, o espírito

-----
científico e/ou filosófico deveria chegar a conclusões gerais.
Não sem riscos: o salto do particular ao geral nunca ocorre
sem perigos de erros, de ilusões, em uma palavra, de ideolo-

-gia. O outro procedimento consiste em partir de conceitos, de


categorias definidas. Ao invés de partir do concreto ao abstra-
to, parte-se, em plena consciência, do abstrato para alcançar
o concreto.
O segundo método não exclui o primeiro; eles se com-
pletam. Os especialistas, médicos, psicólogos, geólogos, his-
toriadores, tendem a seguir o primeiro; sem conseguir sem-
pre chegar a ideias e conclusões válidas para todos os ritmos.
Aqui, seguiremos o segundo, mais filosófico, com seus riscos:
a especulação em lugar da análise, o arbitrário subjetivo em
lugar dos fatos. Com muita atenção e precauções, avança-se
esclarecendo o caminho.
Existe um conceito geral de ritmo? Resposta: sim, e cada
um o possui. Porém, quase todos aqueles que empregam esta

55
56
ELEMENTOS DE
RllM
AN Ã
palavra acreditam do m in ~llSt
ar e po ss ui r se u conteúd
tido. No entanto, os senti'd d
os o te rm o pe rm an o, seu
ros. Confunde-se faci.lmen . sen,
te ritmo co m movimenec t
ern ob
de, encadeamento dos gesto seu_
s ou do s objetos (máqo,u.Veloc1·d
~m pl of .í ii um a tendênci a-
a de se at ri bu ir ao-; ritmos
inas, Por
ção e1· xand o de 1ado o aspec t urna
o or ga.. nico dos 1e. e1-
vimentos ritmados. Os mus , .
1cos que se envo1vem dire
ta
rno-
com os ritmos, ao produzi-l . rn
os, os re du ze m frequente ente
à contagem dos compassos: "u mente
m-dois-três-um-dois-três»
historiadores e os econom . Os
istas falam de ritmos: da
ou da lentidão dos período rapidez
s, das épocas, dos ciclos;
dem a só ver neles os efeitos eles ten-
das leis impessoais, sem re
coerentes com os atores, as lações
ideias, as realidades. Aqu
ensina ginástica acaba vend ele que
o nos ritmos apenas a suce
gestos colocando em movim ssão de
ento tais ou tais músculos,
tal energia fisiológica etc. tal ou
O procedimento que parte
das generalidades teria co
origem abstrações? Não! No mo
domínio do ritmo, certos co
tos muito vastos têm, contud ncei-
o, uma especificidade: vale
logo a repetiçãof~ ão exist citar
e ritmo sem repetição no
e no espaç~, sem reprises, se tem20
m retornos, isto é, sem med
-
Mas não há r~ eti ção abso
Decorre disso a relação entre
trate do cotidiano, dos ritos
luta, idêntica, indefinidam
a ~ etição e a diferença. Q
ida.1~
ente.
ue se
, das cerimônias e das festa
regras e das leis, há sempre s, das
algo de imprevisto, algo novo
se introduz no repetitivo: um que
a diferença.
Tomando-se então um caso
bem significativo: a repetição
da unidade (l+ l+ l. ..), não
somente gera a infinidade
meros inteiros, mas també de nú-
m a infinidade dos números
pri-

1
Em francês, a pa lav ra me
sure significa, ao mesmo tem
pa sso . Or a op tam os po r po, medida e com-
medida, or a op tam os po r
do contexto. co mpasso, dependendo
57

crrtic3 da coisa • priedades específicas já são sabi-


cuJa s pro orte s (dº1versos,
divisor ), ,, . d cob rir os sup
E preciso es . d
(seJ1l dif erenc1a l, ten o
Jllºs de os gregos. d petitivo e do
des d , ida) o re o, cabe
das enhul11ª uv 1 es estão incluídas. no conceit
N

.
sefll 11 essas re aço
rltente que conhecê-las nos ntm os reais ...
em !P trá-las e re época moderna (compreendend o o
,, reencon b a
enta0 'pido so re
lJJJl olhar ra R lução Francesa) revela verdades-reali-
X desde a evo -
século XI ' 'tidas. Após a Revolução, contra.os valo , .
itas vezes om1
dades rnuevoluc1 . , . s (e apesar dos protestos dos reacionarias,__ ___,
onano · tw
res dos r no ao passado), um a sociedade n
erendo o retor • d
·zação socioeconom1ca, a uela · a. .........
A

qu ~ ...-.. . •->-- -- -- --
ra· umaborgan1 -~ - -ca~ Qâ .ªX ~ -c.,A-
· esta tal-mer can til. mer
d de ur anO- - ~
~
espaço soc1a
( ' e)
l o tem po (soc ial), dominados pelas trocas, se
.
tempo e o esp aço dos mer cad os; inco rporam-se nos
. . . .
tornam o coisas, mas 1nd u1n do ritm os.
s mes mo que não sendo . .
produto , A • , •

o cotidiano se estabelece, criando ex1gencias, _horanos,


coisas
tra~sportes, em resumo, sua organizaç~A-repetitiya.As
ulgada
importam pouco; a coisa é somente uma m~táfora, div
lam a
pelo discurso, divulgando representações que dissimu
não tem
produção do tempo e do espaço repetitivos. A coisa
ra ma-
mais existência que a identidade pura (que a coisa figu
terialmente). Há somente coisas e pessoas.
or
Com o reino da mercadoria, a filosofia muda. Para exp
ativida-
o processo social, é preciso então apelar à soma das
lta uma
des e dos produtos: a natureza - o trabalho. Daí resu
Quase
dupla filosofia, uma reacionária, outra revolucionária.
fetichi-
simultaneamente: Schopenhauer e Marx. O primeiro
oco
za a natureza, a vida, não sem ver nelas um abismo, um
no en-
de onde surge o efêmero. A música evoca este abismo,
, Marx
tanto este filósofo fala pouco dos ritmos. Do seu lado
alho
insiste sobre a transformação da natureza bruta pelo trab
cons-
humano, pelas técnicas e invenções, pelo labor e pela
ciência. Tampouco descobre os ritmos ...
r ~ ª™~~~ R1r111ANA
llst
Houve, no âmago dos séculos posteriores à R
,. d e"olu .
crítica de direita e uma critica e esquerda da Çao
uma . . realid '
humana (social). O presente escrito se engaJa deliberada;de
te em uma crítica de esquerda. en.
Desde O início, o tema se impõe: o que é a repetição? Q
. · Ua}
, 0 seu sentido? Como, quando e por que existem rep .
e rises
retornos do passado, micro e macro, nas obras e nos tempos?..:
a) A repetição absoluta é apenas uma ficção, no pensamento
lógico e matemático, sob a figura da identidade; ''A==A" (o
sinal se lê "idêntico" e não "igual"). Serve de partida ao

1 pensamento lógico, com correções imediatas. O segundo


''A,, difere do primeiro pelo fato de ele ser o segundo. A
repetição da unidade, o número um (1), engendra a se-
quência de números.
b) Nesta sequência, diferenças aparecem desde logo: o par e
o ímpar (2, 3, 4, 5 etc.), o número divisível (4 etc.) e o in-
divisível ou primo (5, 7, 11 etc.). ~o SOJ11!_nte a repetição

1 não exclui as diferenças, mas ela as engendra; ela as pro-


---duz.
=------=------!..~~---~-.._;,_----:-:-:--
--------
Encontra cedo ou tarde o evento, que vem ou, melhor
dizendo, advém em relação à sequência ou série produzida
repetitivamente. Dito de outra forma: a diferença.

1 c) Este ç]_o do difere12!_e pelo~ (repetido) não


produz1na até aqui uma insuficiência teórica? Ela não
permite a seguinte fórmula (afirmação), de grande alcan-
ce: "As diferenças, induzidas ou produzidas pelas repeti-
ções, constituem a trama do tempo"?

A repetição cíclica e a repetição linear se dissociam na aná-


lise, porém interferem constantemente na realidade. o cíclico
provém do cósmico, da natureza: dias, noites, estações, ondas
do
. mar.e marés, ciclos mensais etc. O linear viria mais da pra,_
t1ea soc1a1' por conseguinte da atividade humana: monotonia
das ações e dos gestos, quadros impostos. Os grandes ritmos
. da coisa
59
cr111ca
eríodo e recomeçam: a aurora sem
. têrll utn P pre nova
dchcos .
te deslumbrante, inaugura o retorn '
ent o do co tidia-
freql.l ern ·d en
d conflituosa das relaço- es entre o cic , 1·ico
;\ l.ln1 a e e O linear
no, acordos, ora perturbações. O percu
rso circular das
or:
gera sobre os quadros dos relógios
(tradicionais) é acompa-
agl.llha de um tic-tac 1ine
· ar, e e, est l -
ar e açao que permite . , ou, me-
nhad~izendo, constitui a medida do tem
1hor po (isto é, dos ritmos).
tempo e o espaço, o cic , 1. . ,.
0 ico e o 1inear tem essa ação re-
a· eles se medem um pelo outro; cad
dproc , a um se faz me-
indo-medido; tudo e, repeti.çao - , 1·
cic ica atraves, d
as repetições
~neares. Uma relação dialética (unida
de na oposição) toma
também sentido e alcance, isto é, ge
neralidade. Por essa via,
como por outras, se atinge a profundid
ade da dialética.
Assim, juntam-se os conceitos indisp
ensáveis para definir
0
ritm o. Ai nda falta um, essencial: a medida.
Um paradoxo
a mais: o ritmo parece natural, espon
tâneo, sem outw lei que
não seja seu espraiamento; logo, o ritm
o, sempre particular
(música, poesia, dança, ginástica, ma
rcha etc.), implica sem-
pre uma medida. Onde houver ritm
o, há medida, isto é, lei,
obrigação calculada e prevista, projet
o.
Longe de resistir à quantidade, o tem
po (a duração) se quan-
tifi.ca pela medida, pela melodia na mú
sica, como também na
linguagem e nos atos. A harmonia, qu
e resulta de um conjunto
espontâneo ou de uma obra, é, ao me
smo tempo, quantitativa
e qualitativa (em música e alhures: lin
guagem, gestos, arqui-
teturas, obras e artes diversa~ etc .). O
ritmo reúne aspectos e
elementos quantitativos, que marca
m o tempo e daí distin-
guem os instantes - e elementos ou asp
ectos qualitativos , que
juntam, criam os conjuntos e resultam
deles. O ritmo aparece
como um tempo regrado, regido por
leis racionais, mas em li-
gação com o menos racional do ser hu
mano: o vivido, o carnal,
o corpo. Aos múltiplos ritmos naturais
do corpo (respir~çã~,
coração, fome e sede etc.) se superpõem
, não sem modifica-
ELEMENTOS DE RITMt.l,
60 '1J~Ause
ricos, quantitativos e qual.1tativ
-1os, n•tmos r · , numé .
aci·onais
. t de ri·tmos naturais é embr ulhado por ritn--l0S coos. 4
O COilJUn o . A • "

_ . 1ou mental· Daí a efic1encia da operação a na1íti lll


funçao socia
. t m abrir e em desfazer o pacote. O distu'rb·10 eca
que cons1s e e ~
doença - no ll
·mi·te, a morte - se encarregam da operaÇao N0a
atural e o racion al não desempenham rna.is ·que
entanto, o n ,. .
.mitad o na analis e dos ntmo s. Estes são ao n--leslllo
um pape 111 . . ' " 4

rais e rac1ona1s, e nem um nem. o outro .


O ntlllo
tempo, natu , . ·
de uma valsa de Chopin e natural ou artificial? Os ritrnos das
e., ulas nietzschianas - aquelas de.Zaratustra - são nat Urais
.
1orm
ou racionais? Eles têm, por vezes, o ntmo do andar: 0 andar do
corpo, 0 deambular do pensador-poeta.
Os filósofos (incluindo Nietzsche, o filósofo-poeta) so.
mente pressentiram a importância do ritmo. É de um portu-
guês, Dos Santos, que Bachelard, na Psicanálise do Fogo, em.
presta a palavra: "ritmanálise", sem desenvolver, no entanto,
2
0 seu sentid o, não mais que Dos Santo s. Contudo, o conceito
de ritmo, e consequentemente o projeto ritmanalítico, sai aos
poucos da sombra.

2O autor apontado aqui por Lefebvre é Lúcio Alberto Pinheiro dos Santos,
filósofo português que vem ao Brasil fugido da ditadura salazarista. Aqui,
escreve sobre a Ritmanálise em diferentes periódicos, como o ensaio sobre
Ritmanálise e Psicanálise, publicado no Rio de Janeiro em 1945, em OJor-
nal. Participa de sociedades científicas e encontra em Nietzsche as primei-
ras reflexões sobre a importância dos ritmos . Buscava afastar este autor
de aproximações com o nazifascismo. Ainda segundo Geraldo Dias, Pi-
nheiro dos Santos aponta a ritmanálise como "uma nova reflexão filosófica
sobre o Tempo", capaz de abrir caminho para novos trabalhos de "inves-
tigação filosófica" e novas reflexões epistemológicas". A partir de pesquisa
sistemática em arquivos, Geraldo Dias encontra ainda a participação de
Pinheiro dos Santos na coordenação de reuniões da Liga dos Portugueses
Antifascistas, dentre outras atuações. Ver: DIAS, Geraldo. Nietzsche, pre-
cu~sor da Ritmanálise? A recepção luso-brasileira do pensamento nietzs-
chiano pelo Filósofo fantasma Lúcio Pinheiro dos Santos. Revista Trágica :
est udos de filosofia da imanência, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 41-58, 2018.

d
da coisa 61
crrt1ea
ara seu desenvolvimento, uma panóplia de catego-
· -
tv1as, p ·tos) e d e opos1çoes, ·1·1zada metodicamente p
uti
. (coneel , a-
oas . dispensável:
rece in
tição e diferença
repe ,. .
,. nico e organ1co
Jlleca . _
erta e cnaçao
descob
'clico e linear
Cl ,
, uo e descontinuo
conun . .
·tativo e qualitativo ...
quanti

, . destes conceitos e .oposições são conhecidos·


varios . . .
os inventariados , utilizados; outros são menos·
empregad ' . .
. ~ e diferença, por exemplo, ou ainda cíclico e li-
repeuça 0 , _
erá preciso emprega-los com precauçao, de manei-
near. S
erfeiçoá-los, fazendo uso deles. Estes convergem no
ra a ap . -
conceito central de me. d1da. Noçao aparentement e lumino-
mas de fato obscura. O que determina o mensurável e
sa,
não mensurável? Não seria o tempo aquilo que se mede,
0
apesar de parecer escapar à medida, por que é fluidez? Dos
milionésimos de segundo aos ciclos das galáxias, das horas,
às estações e aos meses? Por que e como? Seria a espaciali-
zação do tempo a operação prévia à sua medida? Em caso
afirmativo, será que esta operação gera erros ou, ao con-
trário, estimula o conheciment o ao mesmo tempo em que
a pratica?
A maior parte dos analistas do tempo (ou melhor, desta
ou daquela temporalidad e: psíquica, social, histórica etc.) não
utilizou mais que uma parte, muitas vezes mínima, das cate-
gorias já citadas acima. O relativo permanece suspeito, apesar
das descobertas do século XX. Prefere-se o substancial (e se
faz frequentemen te do tempo uma sorte de substância, o pro-
grama vindo de uma transcendênc ia divina).
• 62 ELEMENTOS DE RITM
ANAusr

.
A análise e o conhecimento supõem conceitos (categorias)
.
.da (permit. indo con-. ,
'm um ponto d e parti , ~&•Por e
mas t ambe .
numera r uma escala). Sabe-se que um ntmo e lento ou tá .
aos nossos,
Pi-
do somente em relação _ te
a outros (freque. ntemen
s de nosso andar, .de nossa respiraçao, de nosso cora.·
aquele .
- ). Se bem que cada ntmo tem .sua medida própria e es.
çao ,. .
pecífica: velocidade, freq uencia, ,.un~dades. Espon~aneamente,
suas prefere. ncias, .suas referencias, suas
cada Um. de nós tem
frequências; cada um deve apreciar os ntmos referindo-se a si
mesmo, coração ou respiração, mas também horas de traba.
lho, de repouso, de vigília, de sono. As preferências se medem•
a medida (noção e prática) passa pela frequência. Técnica:
definidas permitem medir as frequências.
Nossas sensações e percepções, aparen tement e plenas e
contínuas, contêm figuras repetitivas, dissimulando-as. As-
sim como os sons, as luzes e as cores, os objetos. Nós mesmos
contemos a diversidade dos nossos ritmos , dissimulando-os:
nós somos corpo e carne, para nós, quase objetos. Não total-
mente, no entanto. Mas o que perceb e um mosqu ito, cujo cor-
po não tem quase nada em comum com o nosso e cujas asas
batem ao ritmo de mil vezes por segund o? Este inseto nos faz
ouvir um som agudo e nós enxerg amos uma pequen a nuvem
de asas, ameaçadora, que busca nosso sangue . Em resumo, os
ritmos escapam à lógica, contud o eles contêm uma lógica, um
cálculo possível, número s e relações numér icas.
Aqui se reencontra um sentido da pesqui sa, um objetivo
filosófico: a relação do(a) lógico(a) e do(a) dialético(a), isto é,
do idêntico e do contraditório.
O procedimento intelec tual caracte rizado pelo dual (a
dualidade) tem aqui seu lugar com as oposiç ões tomad as nas
s~as relações, mas também cada uma por ela mesma . Foi pre-
ciso levantar a lista das oposiç ões e dualid ades que entram
· · d o primei ramen te a velha assimi lação en-
na an ª'fise, reJeitan
63
crrtica da coisa

'álogo (a duas vozes) e dialética (a três termos). Mesmo


tre d 1 . .
- Apostava-se na oposição
f usoes.
marxista, houve con
do ladO • •
sia-proletariado, a d01s termos, omitindo-se o terceiro·
burgue ·
lo a propriedade e a produção agrícolas, os camponeses,
o so , d .A • , •

lônias com pre om1nancia agrana.


asco ' l' d 1
Como método, a ana 1se ua se desprende lentamente
sições ideológicas, metafísicas e religiosas: o Diabo e
das opO
born Deus, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, o Imanente
0
Transcendente. A análise ficou muito tempo no nível in-
eo .
ferior: unilateral, atribu1?do a uma oposição (sujeito-objeto)
urn valor ilimitado (filosofico). Do mesmo modo, nascimento
e declínio, vida e morte, saber e.jogo, antes e depois ... Somente
recentemente, com Hegel e Marx, é que a análise entendeu
caráter triádico da abordagem, se dialetizando a partir do
0
esquema: tese-antítese-síntese.
A análise, assim dialetizada, se ocupa de três termos. O
que _não quer dizer que se perca nos usos (e abusos) des-
se nome sagrado: rumo à metafísica e à teologia, rumo à
trindade da imagem, das três referências do universo (os
infernos, a terra, o céu) - rumo àquela dos três períodos do
tempo e do pensamento (o camelo, o leão, a criança, segun-
do Nietzsche, ou a Lei, a Fé, a Alegria, segundo Joachim de
Flore). Esta imensa fabulação em torno desse número mos-
tra sua importância; a concepção triádica se desprende dos
mitos desde Hegel. Seguido por Marx, Hegel laicizou esse
número sagrado; em resumo, a análise dialética constata ou
constitui relações entre três termos, cambiantes segundo as
conjunturas: indo do conflito até a aliança e reciprocamente.
Esse movimento se põe em presença do mundo, seja tratan-
do-se das relações passado-pre~ente-futuro, ou do possível-
-provável-impossível, ou ainda do conhecimento-informa-
ção-manipulação etc. A análise não isola um objeto, ou um
sujeito, ou uma relação. Busca captar.1:1ma complexidade em
' 64

. t mas
ELEMENTOS DE RITM

determinada (a dete rmin ação não levando


ANAuse

mov imen o,
a um determinismo).
. t os' Nestes apon tame
_ ntos, o term o análise aPare-
I nsis am . .
,
vana . s vez es, sem definiçao, tom ado com o na linguagem
ce .
O ra, a abordagem analítica se complexifica a partir
comum. plex as, com proce-
que aborda realidade s com
.
d o mome nto , .
. t refin ados . A análise classica isola
. _ um elemento, 0
d imen os
aspecto do objeto. É redutora por definiçao: A análise dita
estrutural coloca à luz term os opos tos - dois a dois _ para
estudar suas relações e interações (assim com o: o tempo e 0
espaço, 0 significante e o significado etc.). Qua nto à análise
dialética, hesitante dura nte mui to temp o, mes mo após He-
gel e Marx, ela revela três term os em inter ação : conflitos ou
alianças. Assim como: "tese-antítese-síntese" em Hegel, ou
em Marx: "econômico-social-político". Ou há pouco: "tem
-
po-espaço-energia". Ou ainda: "melodia-harmonia-ritmo».
A análise triádica se disti ngue da anál ise dua l bem com
o da
análise banal. Não chega em uma sínte se segu ndo o esquema
hegeliano. Assim, a tríad e "tem po-e spaç o-en ergi a" liga três
termos que ela deixa disti ntos sem fund i-los em uma síntese
(que seria um terceiro termo).
Alcançamos a leis que aind a não tem nom es e talvez não
possam tê-los jamais. Eis aqui:
1. O prazer e a alegria exigem o reco meç o; o agua rdam ,
mas
ele escapa. A dor, essa, sim, volta. Rep ete- se, enqu anto a
repetição do praz er enge ndra dor (dores). Con tudo , a ale-
gria e o praz er têm uma pres ença , enq uan to a dor resulta
de uma ausência (de uma funç ão, de um órgã o ou de uma
pessoa, de um objeto, de um ser). A aleg ria e o praz er são,
eles são o ser; não o sofrimento. Os pess imis tas afirmavam
0
inverso: somente o sofr imen to é ou exis te. As proposi-
ções ~ue precedem fund am um otim ismo , apes ar de tudo.
2· Qual eª relação do lógico e do(a) dialé tico( a)? A lei lógica
65
crrtica da coisa

. . "Não há pensamento nem realidade sem coerência". A


d1Z, "N- h,
. !ética proclama: ao a nem pensamento, nem reali-
d1a d' _ ,, p
de sem contra 1çoes . arece que a segunda afirmação
da·mina a primeira . ; os d'1scursos, que se querem verdadei-
eli se declaram coerentes: e1es nao - se querem jamais iló-
ros, As contrad'1çoes _ d .
. po em se enunciar em proposições
gicos. ._
.c.órmulas sem contrad1çao? Questão aberta.
ou em i,
é demonstrar? O que é pensar (o pensamento)?.
3. O que

matemáticas que ao mesmo tempo demonstram e des-


As \ -
não contêm a resposta a questao colocada? Ou então
corem
b
~ , preciso levantar de outro modo as questões, para que
ºªº e
matemáti cas respondam (que desde ha 25 seculos avan-
I I

·
asam sem pretender «.e.1a1ar verdadeuament e" a' maneira dos
ltósofos)? Destacar, elucidar, formular tais articulações - em
termos familiares, um imbrqglio - são tarefas da filosofia e
dos filósofos. Por vezes souberam e dis~eram que a dialética
não destrói a lógica - e a(o) lógica(o) penetra na(o) dialética(o).
Sem elucidar este ponto.
o espectro das interrogações teóricas vai da abstração
pura - a lógica da identidade - à complexidade plena de con-
tradições do real. Imenso questionário, cujas respostas se dão
no seio das questões e, no entanto, se escondem sob palavras,
locuções, fórmulas . É necessário, muitas vezes, desentocá-los,
trazê-los à luz: mostrá-los.
Os amantes de paradoxo~ (frequentemente fecundos) po-
dem afirmar que a matemática é impossível: para numerar
as afirmações (1 °, 2°, 3° etc.), é preciso dispor dos números.
Petição de princípio? Sim, mas as matemáticas avançam dei-
xando lá atrás o paradoxo inicial.
Os índices e indicadores se associam e vão todos no mes-
mo sentido. Hoje em dia, os homens, a humanidade, a espécie
humana, atravessam um p~ríodo de provações onde tudo é

111
r
66 ELEMENTOS DE R
ITMANAL
~ ISE

colocado em questão: inclusive a existência da espéc. .


d , . Ie, Incl
sive os fundamentos do saber, a pratica, das sociedade ll-

Provação, por ela mesma, da espécie, debatendo-s:·


suas próprias criações, as técnicas, as armas; ela pode coni
. , d . d. se des
truir pelo nuclear, esvaziar seu ceu o 1n 1spensável ( -
º~~
da atmosfera), esgotar os solos. Em resumo, os perigos se
. d , . h acu-.
mulam. Caso ela saia essa, a espec1e umana entrar ,
. - a no si-
lêncio das anhafirmaçoes, nos chamados aos diabos, aos d
, d . eu-
.
ses, às Leis. Tera prova o a s1 mesma sua capacidade de viver•
de se organizar. Porém, o período do risco total não se pode.
evitar. Existe aqui o destino - e, ao fim do destino, a prova
da provação suprema. Acreditou-se que a ciência e a técnica
bastam. Ora, necessárias e não suficientes, ciências e técnicas
colocam o problema dos problemas. Um problema absoluto:
o que pode a filosofia? Revelar a situação? Apreciar o risco?
Designar uma orientação?
Indo longe na hipótese, o ritmo (ligado, por uma parte, a
categorias lógicas e cálculos matemáticos e, por outra parte,
a um corpo vital e visceral) conteria segredos e a resposta às
estranhas questões. O ritmo por si só, e não a música em geral,
como acredita Douglas Hofstadter no livro Godel-Escher-Ba-
ch, no qual dedicou um grande lugar à melodia e à harmonia
- e pouco aos ritmos.
Se o autor americano desse livro notável assimila e trans-
forma uma parte da cultura europeia (de Bach à lógica ma-
temática), ele parece deixar fugir uma outra parte. Na dança
dos Davidsbündler (Schumann), o ritmo ganha sobre a me-
lodia e a harmonia. Na medida em que o estudo do ritmo se
inspira na música (e não somente na poesia, no andar ou no
correr etc.), se aproxima de Schumann mais que de Bach. O
que não elucida a confrontação e o parentesco entre o pensa-
mento matemático e a criação musical, mas desloca a questão.
A música e os ritmos musicais não tomarão, em seguida,
·sa 67
crrtica da co1

. ortância desmedida. Os tempos soe


rna unP d-~,;--:- . _____:e-:------ ' - - ~
u . ·i·dades diversas, contra 1tonas: atrasos e avan os rea-
ss1b1 t d d .
Pº . ões (re eti ões e um assa o nco a arentemente e
art ,, rnu~e~ in:!!t;!;.ro~d::.u.::;;z=.:e:.;:m
~ b;..r..;.
;. u..;.s~ca:.:.m
;~ e=
n.:.:
te:...u=m ~o~v.:,:o~co~n!.!t~eu~'d:!!o
::.:..n
oluçoes '1.
rev modificam a forma da sociedade. Os tempos his-
às vezes, ~::::;:.:..:..----:-----
e, . lentificam ou se aceleram, avançam ou retrocedem,
'ricos se
to m prospecção ou em retrospecção. Segundo qual
seguem e - d .- ,
. , . 1 Segundo as representaçoes e as ec1soes pohticas,
cnteno. .. d d
bém segundo a perspectiva a ota a pelo historiador.
rnas tam . d , .
. . ....,ente para que exista uma mu ança, e reciso ue
0bJeuvau~ , .
rupo socia, uma casse ou uma casta intervenha i ;,.ri-
u~ ~o um ritmo a uma época, seja ela for a sej,a.de.manejra_
1111n d . . _ ,. ,
. ante No curso e uma cnse, em uma s1tuacao cntica e
instnu · .I '
~ que um grupo se designe como inovador ou produtor
prec1s
~
e ~~?:,.:.;.!----~------~- --
- E gye seus atos_se inscre~am na realidade. A<ip-'
j@9 não se comanda nem milita:mente, nem politicamen-
te, nem mesmo ideologicamente. As vezes, somente muito
tempo após as ações, percebe-se a emergência da novidade. É
preciso perspicácia, atenção e, sobretudo, abertura. O esgota-
mento se percebe mais rapidamente e melhor, na prática e na
cultura, que o surgimento e a inovação, realidades e idealida-
des mais obscuras.
Este livro não pretende desvendar todos os segredos nem
dizer como funciona esta sociedade moderna, seguramente
mais complexa que aquelas descritas (de maneira crítica) por
Marx e depois por Lênin.
Simbolicamente, aconteceu com a sociedade (dita moder-
na) alguma coisa que lembra as grandes mudanças nas comu-
nicações. Sobre as máquinas a vapor, observavam-se os cilin-
dros, os pistões, os jatos de vapor; se via a máquina arrancar,
puxar, andar. As locomotivas elétricas somente oferecem ao
olhar uma grande caixa que contém e esconde os aparelhos.
Vê-se ela arrancar, puxar, avançar, mas como? O fio elétrico
p
68 ELEMENTOS DE R
1n~AN'
11L1se
ctor que O roça não dizem nada sobre a e
e o Cone , . nergia
transmitem. Para compreender, e preciso um engenh . que
, . e1r0
especialista e conhecer seu vocabu1ano, seus cone . , lllQ
eitos, seus
cálculos ...
o mesmo em nossa sociedade econômico-políti
. . ca. Os
canismos visíveis escondem a maqu1 nana. llle.
Não resta nada de visível, de sensível? Será que n
, , . , .
po é acess1vel somente apos pacientes analises, que osso te
fra 111-
tam a complexidade e se esforçam, em seguida, para r!~en.
os pedaços? Não e, preciso. . t- 1
ir ao onge: uma verdade emolar
, de seus 1·imites
. se torna erro.
rada para a1em O olhar e .PUr-
. o inte-
lecto podem ainda apreen d:r diretam ente aspectos, ricos em
significações, da nossa realidade: notada mente o cotidiano e
os ritmos.
Por onde exista interação entre um lugar, um tempo e um
·. ~:
~ · dispêndio de energia, existe ritmo. Portant o:
a) Repetição (de gestos, de atos, de situações, de diferenças);
b) Interferências de processos lineare s e de processos cíclicos;
c) Nascimento, crescimento, apogeu , em seguida, declínio e
fim.

Isto fornecendo o quadro das análise s sobre os casos parti-


culares, por conseguinte reais, e concretos, que se trate da mú-
sica, da história, da vida individ ual ou daquel a de um grupo.
A análise deveria, em cada caso, percor rer os movimentos a
termo, em tal obra, em tal sequên cia de ações.
A noção de ritmo traz ou exige alguns complementos: as
noções implicadas, mas diferentes de polirri tmia, eurritmia e
de a-ritmi a. Ela as eleva ao nível teórico , a partir do vivido. A
polirrit mia? Basta consult ar seu corpo; o cotidia no também
se revela, desde a primei ra escuta, uma polirri tmia. A eurrit-
mia? Os ritmos se aliam, no estado de saúde, na cotidianidade
norma l (isto é: normat izada!) ; a partir do momen to em que
69
·sa
critica da co1
há sof rim ent o, estado patológico (cuja a-rit-
cord am ,
se desa nte ao me sm o tempo, sintoma, efeito, c~usa).
, gera1me ' ritm os pro voc a aquela organização ante-
Jllͪ e . dos
. rdânc1a mortal. A polir-
;... disco eur ri'tmi ca rum o a um a des ord em
te e, a
rior me n i·sa . Pro spe ctiv a fun dam ent al: cedo ou tard
. se ana 1 com seu rit-
ritt11 ª
1 iso lar est e ou aquele mo-vimento, ,.
,r1se chega a
·un to org ani zad o. A ope raç ao ana htic a, frequen-
ana , .ca a especu aço- es (como
1
o' no conJ l da de ma nei. ra em pin
.rn
nte acop a re, ao mesmo tempo,
teme . a aus cul taç ão etc.), descob . . .
éd1cos n a uni cid ade de det ~rm ina do
os JI1 . licidade dos ritm os e
a. multip )_. .A ntm· ana' l'1se, aq~i. defi ni'd a
( coração, os rin s etc.
0 a este trabalho
ritmo n"létodo e teoria, dá pro sse gui me nto • d ,.
corno .l.l.l
em
,
atic

a e
,
teo

nca , JUn tan o pra ticas
. ar de ma nei ra sist d. . h. , .
rnden , ersas e saberes mu ito . d. e es: me ic1n a, istona,
ito div 11e rent
. Sem omitir, é
rn_u t Ologia cosmologia, poe sia (poética) etc
chrna '
o primeiro pla-
claro, a sociologia e a psicologia, que ocu pam
no e fornecem o essencial.
ental, por
Temos gir ado em tor no de um a questão fundam
basta levantá-la
isso, perpétua. Vamos evitá-la? Não, ma s não
O que significa
explicitamente par a enc ont rar um a resposta.
sa quando você
pensar? E mais pre cisa me nte : o que você pen
algo do pensar,
fala de ritmos? As reflexões, os discursos, são
ou simplesmente alg um com ent ário ver
bal dos ritmos con-
cretos?
A tradição car tes ian a em filosofia rein
ou durante muito
tempo.
gito..." sig-
Ela se esgota, em bor a per ma neç a atual. O "Co
etir, acentuando
nifica: pensar é pen sar o pensamento; é se refl
rente ao ato de
(colocando o acento) sob re a consciência ine
so das páginas
pensar. Pois, o que nós temos pensado ao cur
pensar. É pen-
precedentes implica um a out ra concepção do
· o, o amor, a arte, a
· o e o nsc
sar o que não e' pen sam ent o: o Jog
• A
. mente as div
. precisa . ersas
v1olencia , 1·st o e,, o mundo, ou mais
70 ELEMENTOS DE R
IH,1ANAust
relações entre o ser humano e o universo. O pens ar faz
.
d ISSO, mas não pode pretender ser a totalidade e Parte
' O.mo
ditaram muitos filósofos. O pens amen to explora fo acre.
ração .
pode reservar surpresas. Assim, talvez ' r.rnu1a
eXplo . , .
. · A.
' os r1t1110
e sua análise (ntmanahse). s
Visto que esta introdução anun cia o que segue, di
.
desde agora que a ntma na, I'ise pod e mud ar a perspe t·galllos
quilo que nos cerca, p01s . - eivada.
mud a a conc epça o dessa apree _
, .
em relação à filoso fi a c1assic . d d . nsao
a, ain a om1nante neste
po. O sensível, este escândalo dos filósofos de Platão acarn.
. .
gel' toma (retoma) a primazia, trans1orm e d lie.
. a a sem magi· (
metafísica). Nada de inert e no mundo, nada de coisas: ritmos a sern
muito diversos, lentos ou rápidos (em relação a nós).
(Este jardi m que tenho sob os olho s me aparece de outro
jeito, nestes últimos instantes. Com pree ndi os ritmos: árvo-
res, flores, pássaros, insetos. Com os arred ores, eles formam
uma polirritmia: a simu ltane idade do pres ente - por conse-
guinte da presença -, a imob ilida de apar ente que contém mil
e um movimentos etc.)
Talvez uma problemática dos ritmo s, ou pelo menos um
esboço, viria aqui em seu lugar, ao lado de uma primeira aná-
lise do presente e da presença?
Haveria ritmo s escondidos, secre tos, isto é, movimentos e
temporalidades inacessíveis?
Não, pois não há segredos. Tudo se sabe , mas nem tudo se
diz nem se torna público. Não se pode conf undi r o silêncio
com o segredo! A inter dição de dizer, seja exter ior, seja ínti-
ma, prod uz uma zona obsc ura, mas não secre ta. Ao contrário.
1 Não some nte tudo se sabe, mas todo mun do sabe , e sabe aqui-
lo que se pode falar e aquilo que pode ou deve perm anec er em
silêncio. Basta, para exibi r essa evid ência _ que o segredo não
existe -, pens ar no sexo, na sexu alida de. Aque les que nunca
falam sobr e isso (pudor, proib ição, mora lidad e etc.) não igno-
71
·sa
critica da co1
da coisa. É possível que saibam mais que os outros,
d
na a
raJJl aJ11 daquilo. . .
qt1e fal lassificar os ntmos s_e gundo tais perspectivas,
P0 de-se e
d noção de ritmo com aquelas do secreto e do
.,,.,binan o a d . .
cOJv • do exterior e o interior.
púbbCO, eretos: primeiro, os ritmos fisiológicos, mas
1runos se
a) 1 , s psicológicos (a lembrança e a memória, o dito
tambeJ11 o
não dito etc.); . . , .
e0 pu' blicos (então sociais): os calendanos, as festas,
RitJJlOS
b) . "nias as celebrações; ou aqueles que são declara-
as cenmo , . . . .
eles que são exibidos, como vtrtualzdade, como
dos e aqU .
ressão (a digestão, a fadiga etc.);
e:xp
. " . os n·tmos verb ais,
fictícios: a e1oquenc1a, . mas tam-
c) Ritmos .
bém a elegância, os gestos e as aprendizagens . O que pode
se relacionar com os falsos segredos, ou pseudo-dissim u-
la ões (os cálculos e especulações a curto termo, a meio
ç )O' . ,.,
termo, a longo termo . 1mag1nano.
d) Ritmos dominadores-dominados. Forjados: na música,
ou no discurso, visando a um efeito além deles mesmos,
cotidiano ou durável.

Antes de detalhar os ritmos e até explicitar os métodos, re-


tomemos o concreto: o agente (o analista).
Um filósofo poderia aqui perguntar: "Você não abre sim-
plesmente uma descrição dos horizontes, uma fenomenologia
a partir da sua janela, a partir de um ego consciente demais,
uma fenomenologia indo até o final da rua, aos Inteligíveis: o
Banco, o Fórum, o Hôtel de Ville, os cais, Paris etc.".
Sim e, no entanto, não! Esta fenomenologi a (termo técni-
co um pouco pesado) vagamente existencial (mesma observa-
ção), da qual você fala e da qual ·você acusa estas páginas, esta
fenomenologia passa ao lado daquilo que, justamente, liga o
espaço e o tempo e as energias que se espalham aqui e lá: os
72 ELEMENTOS DE RIT
MANAusE

ritmos. Isso seria apenas um instrumento, mais ou


bem utilizado. Dito de outra forma, um discurso q lllenos
. ,. . ou como ser.
gra aqui·1o como ex1stenc1a
ue cansa-
Ora, 0 estudo dos ritmos cobre uma zona imensa. d0
natural (fisiológico, biológico) ao mais sofisticado. · lllais
A análise consiste, tentando isolar este ou aquel .
e ritm
em compreender o que lhe vem da natureza e o que é ad ~,
rido, convencional, ou até sofisticado. Análise difícil d qui-
, , 1 h 1 ' t· . , a qual
e poss1ve que se ten a um a cance e ico, isto é, prático 0 .
· o sab er d o v1v1
de outra maneira: 1 caria o vivi·do. sem
. 'do mo d'fi ito
saber, o metamorfosearia. Aqui se reencontra o pensamento
da metamorfose, abordado diferentemente, porém O mesmo.

,
-

cAPíTULO 2
Oritmanalista
Retrato preditivo

f. z-se O retrato de alguém que existe e que tenta o


Ern gera' a1
. romancista, o dramat urgo. O retrato de quem não
0
pintor, • da e que o deveria . e, pos-
. . d ar a ch egar a, 1uz: Isso
. aJU
existe ain .
, s·m caso se encont rem traços que se Inscrev em em um
s1ve17. 1 '
rosto futuro, que afastar ão as semelh anças enganosas, permi-
tindo assim prever as dessem elhanç as.
o ritmanalista terá alguns pontos comuns com o psicana-
lista, mas se diferencia dele; as diferenças vão mais longe que
as analogias.
Ele estará à escuta, mas não apenas de palavras ou de in-
formações, de confissões e confidências de um parceiro, de
um cliente. Escuta rá o mundo e, sobretu do, o que se chama
desdenhosamente de barulh os, ditos como sem significação,
e os rumores, plenos de significação - por fim, ele escutará os
silêncios.
Será que o psicana lista encont ra dificuldades, quando se
põe a escutar, para orienta r seu saber, esquecer seu passado,
s~ fazer novo e passivo e não interpr etar prema a..m,.e.ut.tlJ""'--- - - -
ntmanalista não terá essas obrigações metodol.<lftlCaiS: •.,,....,. ..
·
-se p sivo,
as esquecerJeu saber para reapresent,:....::::.....s:..:::.:.- =~-- -~-, ,..
ro na interpr etaçãol Éle escuta - e primei ro seu corpo; nele
aprende os n·1 mos para, em seguida, apreciar os ritmos exter-
nos. Seu corpo lhe serve de metrô nom~i tuação e tarefa di-

73
ELEMENTOS DE RITM
74 ANAuse

, . . m romper O temp o, sem pert urba r os ritmo s, Perce


f1ce1s. se . . . . .
" d'stintos e d1st1ntam ente. Esta disciplina preparatór· -
be-1os 1 1
a
ercepção do exterior beira a patologia e a evita
para a p . . , . Por ser
, dica. Todo tipo de práticas Jª conhecidas, mais ou Illenos
me ot . .
• turadas à ideol ogia, se apro xima m dela e podem servir. •
m1s _
domínio da respiração e do coraçao, usos dos músculos e dos.
membros etc.
o corpo. Nosso corpo. Tão negligenciado na filosofia que
.
acaba se falando dele e protestos aparecem. Deixado à fiSIO-
logia e à medicina ... Ele c?nsiste em um conjunto de ritmos
diferentes, mas afinados. E somente na música que se produ-
zem acordes perfeitos. O corpo produz um feixe de ritmos,
poderia se dizer um arranjo, mas estas palavras sugerem uma
arrumação estética, como se a natureza artística tivesse pre-
visto a beleza - a harmonia do corpo (dos corpos) - que resul-
ta de toda a sua história.
O certo é que a harmonia por vezes (frequentemente) exis-
te: a eurritmia. O corpo eu-rítmico, composto de ritmos di-
versos - cada órgão, cada função tendo o seu - lhes guarda
em equilíbrio metaestável, sempre comprometido, frequente-
mente restabelecido, salvo perturbação (a-ritmia) que se torna
cedo ou tarde doença (estado patológico). Porém, os entornos
dos corpos, seja na natureza, seja no social, são também con-
juntos, arranjos, feixes de ritmos, que é preciso escutar para
apreender os conjuntos naturais ou produzidos.
O ritmanalista não será obrigado a pular de dentro para
fora dos corpos observados; ele deveria conseguir escutá-los
juntos e os conjugar tomando por referência seus próprio~ rit-
mos: integrando o fora e o dentro, e reciprocamente.
Para ele, nada de imóvel. Ele ouve O vento, a chuva, a tem-
pestade; mas, se ele considera uma pedra, um muro, um tron-
co, compreende a lentidão desses, 0 movimento interminável.
Este objeto não é inerte; o tempo não é reservado ao sujeito.
oritrnanalista 75

omente com relação ao nosso tempo, ao nosso


, lento S
Ele e edida dos ritmos. A floresta, este objeto aparente-
corpo, _rn, el se mexe multiplamente: movimentos combina
\
te 1IJ10V , -
rnen da terra , do sol. Ou das moléculas e átomos que
doso1o, . -
dos õern. Resiste a mil agressoes, mas se desagrega na
o(a) cornP no limo, a profusão de vida minúscula. À escu
idade ou ta
urn .
ciosa, sussurra como uma concha.
aten
o sens1'vel, então, este escândalo da filos . ofia após Platão,
,
~ dignidade no pen sam ento , assim
torna sua como na prática
re enso. Jamais desapareceu, mas tam bém não sofreu
no bom s
~ a ç ã o que lhe dá luga r de hon ra no pensamento
esta trans . , - ,
. • seu sentido e sua nqu eza. O sens1vel? Este nao eo
e restitui
aparente, nem o fenomenal, mas o presente.
ritrnanalista apela a todo s os seus sentidos .
0 . Ele se ser-
ve, como referências, de sua respiração, da circulação de seu
sangue e dos bati men tos do seu coração, da rapidez de
sua
fala. -Sem privilegiar, em detr ime nto de outr a, estas ou aque
-
las sensações ergu idas por ele na perc epçã o dos ritmos. Pen
sa
com seu corpo, não no abst rato , mas na tem pora lida de vivi
da.
Portanto, ele não negligencia, sob retu do, o olfato, os chei
ros,
as impressões tão fort es na cria nça e em mui tos seres vivo
s,
que a sociedade atrofia, neu tral iza, para cheg ar ao incolor,
ao
inodoro, ao insensível (ma s isto não seri a uma questão
para
além do individual, rela cion ada ao meio, ao ambiente?).
Ora,
os cheiros fazem part e dos ri~mos, os revelam: odores da
ma-
nhã e do fim de tard e, das hor as enso lara das ou sombrea
das,
da chuva e do tem po bom . O ritm ana lista obs erva e reté
m os
cheiros como os rast ros que bali zam os ritm os. Ele se reve
ste
st
de e tecido, do vivi do, do coti dian o. Mas as dificuldades
não
cessam jamais para ele. Esta ndo atrá s das interações, dos
en-
trelaçamentos dos ritm os, o ~sforço para atin gir e nota
r este
ou aquele se imp õe perp etua men te. Nor mal men te, apre
ende-
mos apenas relações entr e r_itmo s, que os con fund em.
E, no
76 ELEMENTOS DE RIT
MANAust

entanto, esses têm todos uma existência distinta l.. r


• 'IOr
• .&.
mente, nenhum deles se classifica; no entanto, no sofrin-. llla}_
- este ou aquele ntmo
na perturbaçao, . surge, se imp ~ .A•iento,
oe. Pal ·
tação, opressão, dores, em lugar de saciedade. O ritmanaI. Pi-
deve alcançar tal ritmo sem se colocar na situação patoló I~ta
e sem colocar nela o observado. Como? Na rua um g . gica
. . , rito, u
rangido de freios ou um acidente tornam sensíveis O . lll
. . s ritmos
confusos e os rompem. Ora, o ntmanahsta não tem O dº .
1re1to
de provocar um acidente. Ele deve ao mesmo tempo a
garrar
um ritmo e o perceber no conjunto, tal como os não-anal·
istas
as pessoas, o percebem. Deve chegar pela experiência ao '
- -~~- "';;-:-;---:,-:..._-.:=~~ con-
creto. De fato e na prática, um "saber" já adquirido entra em
cena e desenha o jogo. (Por que as aspas em torno da palavra
"saber"? Porque é difícil de saber se o saber chega até a ciência
e, consequentemente, evitar as ideologias, as interpretações,
as construções especulativas; de tal modo que a entrada da
ideologia é, sem dúvida, inevitável, como mostram muitos
casos recentes e realmente exemplares: a psicanálise, o mar-
xismo, e mesmo a informática.)
O (futuro) ritmanalista deverá se profissionalizar? Deve-
rá constituir e dirigir um laboratório onde se confrontariam
documentos: gráficos, frequências, curvas diversas? Mais pre-
cisamente, aceitará cuidar dos clientes? Dos pacientes? Sem
dúvida, mas daqui a muito tempo. Deverá, primeiramente, se
educar (se adestrar ou aceitar uma formação), por conseguin-
_te trabalhar muito, modificar sua percepção e sua concepção
do mundo, do tempo, do ambiente. Em consequência, suas
próprias emoções se modificam de maneira não patol~gica e
coerente (de acordo com seus conceitos). Tal como ele toma
emprestado e recebe de todo O seu corpo, de todos os seu~
sentidos, ele recebe também dados de todas as ciências: psi-
cologia, sociologia, etnologia, biologia, e mesmo da físic~ e
das matemáticas. Ele precisa conhece_r.._ as represent~es
-~-----..------------
77
o,nrnanalista
fases, Períodos, recorrências. Em relação a estes
or curvas, ue especialistas lhe fornecem, ele segue uma
p rl1ento s q .. , 1 .1
·ostrU1•.. dt'sciplinar. Sem omitir , e c aro, o espaci a e
1
111 trans
abordage torna mais .sensível aos tempos do que aos
es ele se .
os lugar , , a "escutar" uma casa, uma rua, uma cidade ,
os Chegara . e .
espaÇ · . te
rn 0 uv1n escuta uma s1n1on1a.
co.t11° u d'z mas os sentidos das palavras se enfraque-
0111e o i ,
seu n
orno temp. O•... · ·
o pre~el)te se .ofer:ece
,
_em toda inocência
cem e b rto
Idade: a e , evidente, aqui e la. Pode se ornamentar ·
e crue . tingir-se de melancolia, provocar as lágri-
urn sorriso, .
com
>

t evidência, enganadora, se fabrica. E um pro-


as Ora, es a . -
m · do que simula a presença como uma falsifi.c açao
duto adu1tera .
. e to da natureza, fruta, flor etc. Tipo do presente
imita urn ia .
. 1 dor (e dissimulante): a imagem!
s1mu a
Se você a toma pelo que é (um pedaço de papel manchado
ou colorido), ela falha em seu objetivo. Caso você a tome pelo
ue ela quer evocar, ela o atinge. Você deve lhe "dar confi.an-
~a", foto, pintura, desenho. Tornou-se um tipo de obrigação
social (não moral), dita estética, que acarreta abusos. Mas, se
você tem a habilidade de considerar os fluxos ou a profusão
de imagens (TV, imprensa etc.) como um ritmo dentre outros,
você evita a armadilha do presente que se passa por presença
e que quer os efeitos das presenças. Estas são fatos, ao mesmo
tempo, da natureza e da cultura, simultaneamente sensíveis,
afetivas, morais, mais que imaginárias.
Por um tipo de magia, as image ns modificam o que elas
alcançam (e pretendem reproduzir) em coisas, e a presença
em simulacro, o presente, o isto. A palavra e o exorcismo exis-
te ? s· .
m. im. Nada mais simple~:.. uma criança pode fazer. isso. .
Necess' ·
_ . ano, um gesto basta: tomar as imagens pelo que elas
sao, s1mulacr , .
. os, copias d.itas conformes, paródias da presença.
O ntmanal· t
sente e is a prestara, conta dessa relação entre o pre-
ª presença: entre seus ritmos. Relação dialética: nem a
r
78 ELEMENTOS DE RIT
MANAusE

incompatibilidade, nem a iden tida de, nem a inclusão


. . 'nem a
exclusão. Um cham a o outr o, su b stltu 1 este outr o. o pre
. . d. . guível a sente
imit a (simula), por veze s d e man eira 1n 1stin
. , . , ' Presen,
ça: retra to, cópia, dupl a, fac-s 1md e etc., pore m a (uma )
_ . d . d um ntm . Pre,
sença surge e se imp oe 1ntr o uz1n o o (um tem )
e d P0 .o
ença s incl .
gesto ritm anal ítico trans1orma tu o em pres ' us1ve
o pres ente, capt ado e perc. ebid o com o tal. O gest o não s e apri,
. .
siona na ideologia da coisa. Perc ebe a coisa na proximidade
do presente, no caso desse pres ente , com o a imag em é um ou,
tro caso. Tam bém a coisa se faz pres ente , mas não presen a
No entanto, o gesto ritm anal ítico inte gra essas coisas _ es~e·
mur o, esta mesa, estas árvo res - num porv ir dramático, num
conjunto cheio de sent idos , os tran sfor man do não mais em
diversas coisas, mas em pres ença s.
Magia? Sim e não. Pod er de met amo rfos e, mai s racional e
até (talvez) fund ame nto da raci onal idad e. Este ato, este ges-
to, esta oper ação perp étua , não tem nad a de maléfica. Eles
com port am apen as um risc o (fraco) para aque le que se cons-
titui um mun do dife rent e das coisas imó veis e desprovidas
de sentidos. O ritm anal ista se apro xim aria assi m do poeta?
Sim, em uma larg a med ida, mai s que do psic anal ista, e mais
aind a que do esta tísti co que con ta coisas e que, com razão, as
descreve em sua imo bilid ade. Com o o poe ta, o ritmanalista
realiza um ato verbal, que tem alca nce esté tico . O poet a se
preo cupa , sobr etud o, com as pala vras , com o verb o, enquanto
o ritm anal ista se preo cupa com as tem pora lida des e com suas
relações nos conj unto s.
De um obje to qual quer , de uma simp les coisa (os sapatos
de Van Gogh), um gran de artis ta cria uma forte presença,
e

isso sobr e uma tela, simp les supe rfíci e. A met amo rfos e não
imp ede a resti tuiç ão da cois a tal qua l. Ao mes mo tem po enig-
st0
mát ico e simples, pov oan do uma simp les supe rfíci e, o ge
do pint or tem o pod er de evo car um tem po (o gast o do par
de
Oritrnanalista 79

a p ad
Ç e u m a lo n g a m is é ri a . P
apat re se n o r c o n s e g u in te
s os,).e de prese ntes. A presença d o ,
urna serie , q u a d ro tr a z to d o s est
b é m a p re s e n ç a es
te s e e taro d e V a n G o g h ,
presen d in a d a pelo . d e s u a v id a
ob Illas oro g e st o c n a d o r.
P re, s m .in.,ades de te x to s e cit . -
açoes sobre o s n.
Entreª tm o s , a q u i.
a bem si.n gular: " Q u a n d o o lh a m o s u m
esta uill de que u m ri tm a constelação,
o v e m d o s a s tr .
esta 11.-v• 'los certos orq o s , n tm o q u e
ue p e n s a m o s q 'l '
nÓ5 supoJl. lO,S p . c u e 3: e m c1. m~,
. se p a s s a 'a l-
coisa que ombina esses ele m e n to s ,
guma . c e q u e s e n.a m a .
b tancia1que a d a e strela to m a d a s is
su s . a ordem e p a ra d a m e n te " . E s tr a -
1
das constelaçõe
nho' Pois s, q u e d a ta d a A . .
· d e n ominações (as U n ti g u id a d e ,
corn suas rs a s , o Co ch e.u ) , b' ,
. te laç õ . o e tc ., e a r lt ra -
na As cons es re s u lt a m .d e , .
· u m g e st o magico: s e m
tore sem saber, desde o s C a ld e u s , e s ta au-
'b s o b ra s re in a m se lh e s
atn ue m i•nfluências. O te x to d e C ,
dade (desejada) ex o rt a z a r, d e u m . .
trema, descreve a 1ngenu1-
senão abismos, u m a o rd e m lá o
distorção fa b u lo nde não há
em conflito. A atra s a e , talvez, forças
ção n e w to n ia n a colossais
uma figura de h a rm ? K a n t chegava a v e r n
o n ia : " o c é u e s is s o
Mas hoje o céu est tr e la d o .. . a L e i m o ra l. ..".
relado se p e rc e
ravelmente-mais v be e se conceb
asto e s e m fo rm e in c o m p a -
explosões, galáxia a (b u ra c o s n e g ro s ,
s cíclicas, re d e fu n is ,
simultaneizava o c m o in h o s ). O gesto h u m a n
éu, p ro je ta n d o o
apreciando os desl n e le u m ri tm o
ocamentos a p a re humano,
O Céu\ Pensem n n te s d o s o b je to s
a q u il o q u e ele celestes.
de Kant, cujo racio re -p re s e n ta l N ã o a
nalismo m o ra l quele
va tr.aço t d' · m u it o m o d e rn
s ra 1c1ona1· s, m o c o n s e rv a -
en. viava sem a s o c é u q u e falava,
cessar m e n s a g e q u e re s p o n d ia ,
ciam, aquel d
ns, e o n d e o
e o nde a prese~ s querubin .s
ç~ ç:eleste m o ra des-
v a e p a ra o n d e
os

i Citado por Lefebv


P. 54. d .
re a segum te forma: Julio C
ortázar, Os Prêmios, trad.
- 80
ELEMENTos D
ER1n,1ANAt.1
seres ascendiam; e, em primeir o lugar, 0 Filho de D SE
Santa Mãe testemu nhando a imensid ão da ausê .eus e sua
terra. Sábios e eruditos , os teólogos e astrôno ncia Sobre a
. mos te
apreender e anuncia r na terra esta presenç a celeste ntaralll
tensidade sem limites. O sonho de Dante! Algumade urna in.
· · e ntos
mágicas, a1guns s1na1s · buscaram alcança r s Palavras
este ob· .
e realizar a Presença de deus no mundo. Para os ~etivo
fiéis, os deuses e o Deus suprem o estão em todos crentes e
08 1
os
" d . t .
contem tu o, on1presen es, o imenso a bsoluto das e . ugares,
do por ritmo a descida ou a ascensã o (ou re-ascensão)oisasC, ten
-

1 .
Mas quando a Presenç a se manifes ta, seria nece , .
também sublinh ar seu inverso: a ausênci a dotada de um 0
ao eu.
ssari
der maléfico, o Negativo, o Diabóli co, o Nada ativo persona-
po-
lizado frente ao Ser (aos Seres). Em resumo , o demoníaco, au-
tor de todos os desastre s e catástro fes. Tendo seus ritmos que
incomo dam àqueles do bem, ele também evocado por certos
gestos, ritos, sinais e ritmos. E mestre das forças destrutivas,
o fogo e a sombra, a tempest ade e a torment a, sobre a super-
fície situada ao inverso do Céu, nas sombra s infernais. Como
não se pode alojar Satã ao lado de Deus no Céu, imaginou-se
a sua queda, o primeir o pecado, antes daquele de Eva, talvez
durante uma existência anterior , uma potênci a já feminina, a
enigmát ica Lilith. O anjo caído toma lugar com as potências
maléficas. É a soberba cosmolo gia de Dante, mais distante
para nós que as estrelas de Cortáza r.
. Mas o ritmana lista não tem nada em comum com um pro-
feta ou um feiticeiro. Nem com um metafís ico ou um teólogo.
Seu gesto e seu ato o relacion am à razão. Ele espera espalhá-la,
levá-la para mais longe e mais alto, reencon trando o sensível.
Em resumo, ele não é um místico! Sem, entretan to, se colocar
como um positivista, para aquele que constata : o empiristª·
Ele modifica o que constata : o coloca em movime nto, reco-
nhece seu poder. Neste sentido, ele parece próxim o do poeta,
s,
·unaoal1s1a
on
,. do hornern de teatro. A a rt e , a p o e s ia • a m ú s ic
, a, o
a l
ou
entªº trou)(eram g u m a coisa (mas o q u e"?. ) a o c o -
Il
teatro se llPsrenão . d o r descia n
o espe lharadrn. O c r ia as ruas da
·dianº· E e b·tan h a b it a v a m e n tr
u h a tes re tr a ta os e o s c i d a da- o s .
d s
cida e·' ot1
1
d.
1iatrl a v1·da cita in a.
E,les ass~manalist . a lo n g o te
a p o d e n a ,b s r m o , te
f/0 r1 náloga: que as r e to r n e m a o c o• 1~ 1-:a!"
"!n=-o~ e a1
j
·sa d o r a
co1 e haatrl· se d a r a v id a ,
. terven rn Pre te n d e r m ~. m a s r e s ti tu in d
o
in , l n a s c onsc1e ... n c ia s e n o p e n s a m e n to , e l
lenarne nte o sens1ve
p uzaria urna p m a
la d a tr a n s 1 o r ç ã o revolucioná
.e d e
are~ d d e m ria e s te
rea d d e c lí ,.
111undo e esta soc1e a e n io . S e m p o s iç
ã o p o h t1 c a
declarada~ , o c a d it a m o
A partir da ep derna, o conc
. e it o d e o b r a
m d esaparecer, a o c o n tr á r io , s e e s te se
obscurece se n d e e s e d if e -
. uc . produto e
renc1a s edaneamente . o a c o is a . O r 1. tm .
r zará obras, renov a n d o o p r ó p r io c o . a n a l1 s ta
rea i d . do q n c e it o d e o b r a .
u a l se te m ta n
to f a la d o ( e m
0 , eseJO, m o
cos), e, ao mes te m p o o b r a e te r m o s ps1,qu1.
p r o d u to d e o -
, b r a s . Or
tem seu rl·tmo·, ele é u m r it . . a , e le
m o , a in d a q u
finalidade) se sit e s e u ob3et1vo
ue f o r a d o s e u (sua
lhes permaneçam a to ( o p e ração) ou que
in te r io r e s . O esses
meiro caso; o des d e s e jo s e n s u a
ejo e s té ti c o , n o l entra no pr
s e g u n d o . E n tr i-
e o desejo, existe e a n e c e s s id a d
u m a d if e r e n ç a e
descontinuidade. b e m c o n h e c id
A in te r v e n ç ã o a, mas não há
escava um abism d a p a la v r a e d
o. A n e c e s s id a a m e m ó r ia n ã
d e e o
0
trabalho e o r e p o o .d e s e jo , o s o n o e a v ig
u s o s ã o r it m o íl ia ,
temp \º1d d s e m in te r a ç ã
ora a e n a- o d o . E s s a v is ã o
da
definições· n e f in e n e m uns nem o
· a a n a,11· se. Re u tr o s ; e la e n t
s ta s u r p r e e n d ra nas
de, o deseJ· o a fl e r ( c a p ta r ) a n
, s re e x o- e s e e c e s s id a -
Neste fim 1 a s p<}~~ões, n o
mos· d' t · . s outros.
. l erença e
' ª g u n s c o n c e it o s
s e e s ta b e le c e
elinea f r e p e t· - . m . R e c a p it u le
r - req iç a o - 1n ~ e r a ç - . -
ritnüa... A • a o e c o m p o s iç ã o
u e n c ia s e m e d - c íc li c o
id ~ s .. . e u r r i t
mia, a-ritmia
, polir-
1

1
CAPÍTULO 3
Visto da janela

'tulo pertenc e a Colette. 1 Eu escrevo: "Visto das


(Não! Este t1 ento em
.
Pans, logo
. las em cima de um cruzam
rninhas Jane ,
sobre a rua".) . .
Barulho. Barulhos. Rumor es. Quand o os ntmos se v1ven-
se mesclam, eles se disting uem mal. O barulho,
.
c1am, e então
caótico, não tem ritmo. Entreta nto, o ouvido atento começa a
separar, a disting uir fontes, a aproximá-las, apreendendo in-
terações. Se paramo s de escutar os sons e os barulho s e escu-
tamos nosso corpo (nunca será demais insistir sobre sua im-
portância), não costum amos apreen der (não ouvimos) nem
os ritmos nem suas associações que, entreta nto, nos consti-
tuem. É somente no sofrim ento que determ inado ritmo se
sobressai, modificado pela doença. A análise se aproxima da
patologia mais que da a-ritmi a habitua l.
Para apreender e analisa r os ritmos, é preciso sair deles,
porém não comple tament e: seja pela doença, seja por uma
técnica. Uma certa exterio ridade permit e ao intelecto analíti-
co funcionar. Entreta nto, para apreen der um ritmo, é preciso

1
NT· E ·
· scntora francesa de romance que teve inúmeras obras publicadas
sob o pseud • ·
quem onimo do marido, que teria se apropria do de suas obras e com
febv ~mpreendeu uma batalha pelos direitos autorais. A obra a que Le-
· e, p ans
re 1az referê ncia · de ma fenêtre, com primeira edição de 1942.

83
84
ELEMENTos
DE RIH,11\N
ter sido apreendido por ele; é preciso se d . Atisi
ezxar le
abandonar à sua duração. Como na mús • Var, se d
1ca, na a ar s
de uma língua (somente se entende bem Prendiza ' e
os senrd gelll
deamentos quando se consegue produzi-l . 1 os e e
ritmos falados). os, isto , llca
e, Prod,, .'
"Zlr
Então, para apreender este objeto fugid ·
. , . . io, que não ,
mente um o b'}eto, e preciso situar-se ao mes e exata
' mo tem o ,
e fora. Em relação à rua, uma sacada serve . P , dentro
. , . muito bem
isso, e e por esta mirada (da rua) que se dev Para
invenção das sacadas e aquela do terraço, de d e a lllara 'Ih
vi 0sa
, ~e~~·
tambem a rua e os transeuntes. Na falta disso lllinaA

, voce pode
contentar com uma janela, com a condição de ue _ se
. . b q nao lhe
proporcione uma vista so re um canto sombrio ou sobr
úmido pátio interior. Ou sobre um gramado sempre d e urn
eserto
Da janela aberta sobre a rua R., em frente ao célebre centr~
2
P. , não é necessário se debruçar muito para ver ao longe. À
direita, o centro-palácio P., o Forum, até o Banco da França
(central). A esquerda até os Arquivos. Perpendicularmente a
esta direção, o Hôtel de Ville e do outro lado a Arts et Métiers.
Toda Paris antiga e moderna, tradicional e criadora, ativa e
preguiçosa.
Aquele que caminha na rua, lá embaixo, está imerso na
multiplicidade de barulhos, dos rumores, dos ritmos (incluin-
do aqueles do corpo, mas será que ele presta atenção niss~,
exceto no momento que atravessa uma rua, pois · Ihe é prec1-
so calcular aproximadamente o número dos seus passos). Ao
.contrário, da janela, os baruIhos se d 1stinguem,
. . os fluxos se
separam, os ritmos se respondem. Em d ireçao · a direita, em-
N '

1 baixo, um semáforo; no vermelho, os automoveis , . param, os

pornpidou,
2NT: R. referente à Rua Rambuteau e P. referente a Centre
Henri Lefebvre morava nesta esquina.
85
· nela
Visto da•Jª
, vozes confu-
avessam, fraco mu rm úri o, passos
tres ar t a perigosa, sob
d
pe es,. e conversa atravessando um a esquin
stos a saltar, táxis, ônibus,
sas- Nao sde feras e elefantes dispo
nsequentemente, silêncio
a ameaÇ: s veículos diversos. Co , vezes
, .o, as
minboe 't multidão. Um tip . o d e d oce mu rm un
ca
relatiVO nes a
·to um apelo.
ículos param, produzem
uJll gn,. 'as pessoas, qu an do os ve . a' esquerd a
Entao , s e pa lavras. D a d.ireita
o ba rul ho : pe
todo outr re as calçadas.
um nte E pe la ru a pe rpe nd icu lar , sob
inversame . pa ram . Um segun, do de si-
e . rde passos e palavras
Ao sina1 ve da' a largada, a pa rti.da de dezenas-de veiculos, os
e é da . rapi'd amente possi,-
1vendo o mais
A •

Ien c10 sen vo


. os dos ca rro s de ,. i'b us
ntm m . os: tra ns eu ntes a, esquerda, on
nsc
idade. Co
vela ve1oC í lentidão e retomada (tem-
bli uamente, ou tro s veículos. Da'd- . ar; tempo tres:
o um q : partida; tem po dois · : 1en tl ao pa ra vir A

po
fun do da marcha, salvo
retomada brutal, pé no acelerador, ao
rdo en tre isso que se vê e
engarrafamento... ). É notável o aco
ta concordância. Talvez
aquilo que se ouve (da janela). Es tri
oc up ad o pela imensa loja
porque o ou tro lad o da ru a esteja
qu e imortaliza um Presi-
apelidada Beaubourg, de ste no me
e vindo, numerosos e si-
dente. Desse lado, tra ns eu nte s ind o
ens e velhos misturados,
lenciosos, turistas e su bu rba no s, jov
lo ao longo da cultura.
solteiros e casais, ma s ne nh um veícu
uida, a corrida barulhenta
Após o sinal vermelho, logo em seg
feras, pe qu en as ou gra nd es, os monstruosos caminhões
das
rum o à Ba stil le, a ma ior pa rte dos pequenos veículos
vir am
mo vim ent a em dir eçã o ao Hô tel de Ville. O barulho cres-
se
cresce em int en sid ad e e po tên cia , em altura, tornando-se
~e,
tentado pelo mau cheiro
Insustentável, em bo ra bastante sus
novo pedestres. Períodos:
do~ carburadores. Depois pa ra. De
s mi nu tos . Du ran te a fúr ia do s aut omóveis, os pedestres se
doi
po r aqui, po r ali; o cinza
:!I o~ era m, um coágulo, um gru mo
e estes amontoados se
mina com ma nc ha s multicoloridas,
- 86
ELEMENTos
DERITMA1¼
1st
desfazem para a corrid a que segue. As veze
nam no meio da passag em e os pedes tres os e s, carros estac'
ontorna 10,
as ondas em um rochedo, não sem conde nar lll, co"'
com olh •110
contentes os motor istas dos veículos mal po . . ares des,
mos duros: altern âncias de silêncio e de estros1c1ona
d
d
os. Rit-
multa neame nte quebr ado e marca do, impressi· n o te
, lllpo si,
que de sua janela se põe a escuta r, o que sur onando
O aquele
. h , 1· d
que o movim ento eteroc 1to a multid ão. preend e in .
ais
Multi dões heteró clitas, sim, turist as de pa'
tes, F1n. l"andº1a, Suec1a,
, . p ortug al . carros têmisesd.fid'istan
, CUJOS
1 cuida.
-
.
des para encon trar estaci onam ento, compradores v· d
10
longe, negoc iantes , aman tes de arte ou de novidades ·os de
, Jovens
subur banos que irrom pem entre as horas ditas de pico, de
forma que há sempr e muita gente do mund o em volta dos
enorm es bibelôs metál icos; rapaz es e moças avançam fre-
quent emen te de mãos dadas , como para se apoiar nesta pro-
vação da mode rnidad e, na explo ração destes aerólitos caídos
no meio da velha Paris, vindo de um plane ta vários séculos à
frente do nosso , e ainda por cima fracassado!...Muitos dentre
estes joven s andam , andam sem trégu a, ao redor dos edifí-
cios, do Beaub ourg, do Fórum ; podem ser vistos várias vezes,
agrup ados ou solitá rios; camin ham incansavelmente, masti·
gando chicle tes ou um sandu íche. Não param senão para se
deitar , certam ente cansa dos, no chão da esplanada, nas ga·
lerias do Fórum chiraq uiano3 ou sobre os degra us da Fonte
dos Inoce ntes, que agora so, serve m para este uso. o barulho .
e. . -
que per1u ra o ouvid o nao prove, m dos transe untes, mas sun.
dos moto res arran cando com toda potên cia. Nenhum 0uv1·s
do, nenh um apare lho poder ia apree nder este conJu . t fluxo
n o,

comuna eJll
3NT: Referente a Jacques Chirac, primei ro prefeito desde ª
1871, eleito em 1977.
87
· nela
Visto da 1ª
etáli cos ou carn ais. É preciso, para apre ende r os
de corpos rn ouco de temp o, um tipo de med itaçã o sobre o
. mos, urn p
r1t a cidade, as pess oas. -
ternPº' . inexorável, que se aten ua apen as a noite , se
A este ritrn o . . .
,l"). tr·08 rimo s men os vivos, mais lentos: a ida das
õern ou
sobrep escola algu ns cham ados muit o barulhentos,
. ças para a '
tride ntes, grito s de reco nhec imen to matinal.
crian
/ ~~º~ os com prad ores , segu
.
idos
ate . nove e meia , cheg am
D pois pe1as. .
e ' elos turis tas, segu ndo um horá rio, quase sempre
de perto p alvo exce ções (temp orais - publ'icita-
. ou oper açao . ,
0 mesmo, s
. fl xos as aglo mera ções se suce dem ; eles engo rdam ou
na); os u , s, para em
e m mas semp re se acum.ulam nos canto . .
emag rec , dos
•da abrir um cam inho , se mist urar e sair do meio
segui
veículos.
Estes últim os ritm os (alun os, com prad ores , turistas) ten-
deriam a ser cíclicos, com perío dos long os e simples, no bojo
de ritmos mais vivos, alternativos, com perío do curto , os car-
ros, os frequentadores, os emp rega dos, os clientes dos botecos.
A interação de ritm os dive rsos, repe titivo s e diferentes faz a
animação, com o se diz, da rua e do bairr o. O linear, em resu-
mo, isto é, a sucessão, se faz de idas e vindas: ele se combina
com o cíclico, os mov imen tos de long o perío do. O cíclico é a
organização social que se man ifest a. O linea r é o dia a dia, o
rotineiro, por cons egui nte, o perp étuo , feito de acasos e de
encontros.
A noite não inter rom pe os ritm os diurn os, mas os modifi-
ca e, sobretudo, os torn a mais lentos. Cont udo, mesm o às três
ou ~uatro hora s da man hã, há semp re algu ns carro s diante
v Ih A
ddo sinal erme o. s vezes, U;m deles, cujo moto rista volta
s e uáma noitada, avan ça o sinal. As vezes tamb ém, dian te do
em foro e se . .
não há . ~s sinai s alter nado s (vermelho, amarelo, verde),
deses eninguem, e o sina l não deix a de funcionar, no vazio,
p rante mec anis mo social, em. inexorável marc ha no
88
ELEMENTos
DE AITM

deserto, diante das fachadas que declamam


~~
' as. dramarIcani
sua vocaça- o d e ruin ente
Quando uma janela se acende bruscamente ou
rio, se apaga, o sonhador solitário se pergu nta_ e, contra. ªº ,
ll1 Vão . . s
acontece uma cena de doença ou de amor, se e, Ulll e
uma criança que desperta cedo demais ou de al guem , gesto de
. Nunca aparece um a cabeça u
. "nia. qUe s •
fre de inso 0
, m rosto
de.
zenas e dezenas de vidraças. Exceto se na rua se passa ,alnas
. _
coisa, explosao, um carro de bombeiros correndo sem guma
rum o a um pedido de socorro. Resumindo' a a-n'tmia . Parar

s e circ uns tânc ias. ema,
salvo raros instante
De minha janela, .sobre pátios e jardins' a vista e a O!erta e
_ n as
de espaço sao bem diferentes. Sobre os jardins, as difere
dia)
dos ritmos habituais (diários, então ligados à noite e ao
e
se atenuam; eles parecem desaparecer em uma imobilidad
escultural. Salvo, é claro, o sol ou as sombras, os cantos
ilu-
minados e os cantos escuros, contrastes muito sumários.
Mas
olhem estas árvores, estes gramados, estas plantas. Situam-se
aos seus olhos em uma permanência, em uma simultaneida-
de espacial, em uma coexistência. Porém, olhem melhor e
por
ése-
mais tempo. Esta simultaneidade, até certo ponto, não
em
não aparente: superfície, espetáculo. Aprofundem· , escav lesmen·
tam ente em luga r d e simp
a superfície, escutem aten
te olhar, de refletirem os efeitos do espelho. Voc·tês perceb edm,
O feito de
então, que cada planta, cad a árvo re tem seu n m '
inúmeros outros: as folhas, as flores, os grãos ou frutos,:ª
r;·
um tem seu tempo. A ameixeira? As flores nasceram nd far
, . tes de ver e, ,
bran ca an ese
mavera, antes das folhas, a arvore f,01. e. m as flores qu
..
Mas sobre esta cereJetra, ao contrario, 1ora frutos ecairão,
abriram antes das folhas, que sobreviverãoeaostinuem evocês
tarde no outono, e não todas de uma vez. on d coisas)
verão este jardim e os objetos (que não• têm nada te Emlu·
,1, • amen e.
polirritmicamente, ou, se pref erirem, stn; ontc
89
Visto da-janela
seguirão cada
a coleção de coisas pa rad as, vocês
r de u rn , ten do seu tem po acima do todo. Cada um,
ga do ca da co rpo
'ns eg uin te, ten do se u lug ar, seu ritmo, com seu passado
sen , . m9 e um po rv ir · d.1stante.
or co
P , . 0 urn fu tur o pro l
x1 l? Ab . r- -- -- __ ,_ _ __.__
rox:1rn , sim
A

u tan eo

, o 1m
,

ove_. us1vo
P so s O _ .
EnganO ,
O
espetáculo? Na o e sim. Nao: eles co - ~ - - - - - -. . . .
o quad ro, en te ampliol.4-,apro-
_ resente. A mo de rn ida de cu rio sam ase
0 cL o e
saod p e, ao m- ;sm o tem po, dilapi
fun ou e do s de la)!.S (pelas mídia$). ª P112lifi-
--res-s ão da s dis tân cia s
sup o ma is gue reflexos e
cãÕ presente, ma s estas mí dia s nã o dã
an tes festas ou massacres,
so'mbras. Vocês ass ist em às inc ess
as explosões; os mísseis
vocês v~ m os cadáveres, co nte mp lem
lam em fre nte ao s se us olh os . Vo cês estão ali!... Mas não,
deco
o est ão , se u pr es en te se co mp õe de simulacros; a ima-
vocês nã
o persegue, nã o está ali, e a
gem diante de vocês sim ula o real,
o tem na da de dramático,
simulação do dr am a, o mo me nto , nã
senão no verbal.
qu e mo str a a jan ela ab ert a so br e um a das ru as mais mo-
O
quilo, seria
vimentadas de Pa ris , o ue pa rec~
e caráter um pou-
esse ttmento do es pe tác ulo At rib uir est
jor ati vo a est a vis ão (co mo tra ço do mi na nte ) seria injus -
co pe
é, do sentido. Os traços ca-
to e passaria ao lad o do real, isto1
tem po rai s e rítmicos, não
racterísticos sã o ve rd ad eir am en te
uais. Ide nti fic ar, es cu tar os rit mo s, req ue r um a atenção,
vis
palavras, isso serve de gol-
com um ce rto tem po . Em ou tra s
or, barulhos, gritos. O
pe de vista ap en as pa ra en tra r no rum
clá ssi co em fil os ofi a, "o ob ie't o" nã o convém ao ritmo.
termo J ,
"
nd o o en qu ad ram en to estreito da
Objetivo"? Sim, ma s ex ce de
lti pli cid ad e dos sentidos
objetividade, ap or tan do -lh e a mu
(sensoriais e significativos).
A sucessão da s alt ern ân cia s e
da s repetições diferenciais
sugere qu e, em algu ma pa rte . deste presente, h a, um a ord em

de ou tro lug ar. Qu e se rev ela . Onde? Nos mo nu me n-


que vem
-
90 ELEMENros D
ER1n,1ANAt
1st
tos, nos palácios, dos Arquivos ao Banco da Fran
ros caídos de um outro planeta no centro popula Ça, lllete0_
, . C d r, Por llluit
tempo abandonad o, o pat10 our es miracles 1
' ugar d0 0
Iandros. Então, ao lado do presente, um tipo de s tna.
. . Presen
sência, mal localizada e potente: o Estado, que nao _ Ça-au.
se .
janela, mas se pressente nesse presente, o Estado . \reda
on1pres
Da mesma forma que, para além do horizonte ente.
'se pre
tem, sem serem presentes, outros horizontes· pa , ssen-
, . , ' ra alem d
ordem sens1vel e v1s1vel, que revela a potência política ª
. . h 1, . d. . , outras
ord ens se ad1v1n am: a og1ca, a 1v1são do trabalh 1

o , - d ºd ( d . ) .
tambem sao pro uz1 os e pro utivos ainda que se lhes
d z·
c1amem «z•zvres,, e ate, mesmo "tempo e zberdade"· Mas esta
liberdade não é ela também um produto?
o, azeres
pro.

Os objetos secretos falam também à sua maneira, lançan-


do uma mensagem. O Palácio grita, berra, mais alto que os
carros. Grita: "abaixo o passado! Viva o moderno! Abaixo a
história, eu a engoli, digeri, devolvi ... ". Tem por testemunha
perpétua e por prova o policial da esquina, a Lei e a ordem,
e se alguém ultrapassa, ele se sabe detido, repreendido, sem
escapatória, de tal sorte que este policial solitário induz o dis-
curso da Ordem, mais e melhor que as fachadas da praça e
o cruzamento. A não ser que ele induza também o discurso
anarquizante , pois ele está sempre lá, pouco útil; o receio de
um acidente mantém a ordem dos cruzamentos mais eficaz-
mente que a polícia, cuja presença não suscita, aliás, nenhuma
contestação, cada um sabendo de antemão da sua inutilidade.
As lições da rua estariam esgotadas, ultrapassadas? E os
ensinamento s da janela? É claro que não. Eles se perpetuam
. - , I ar mental,
se renovando. A Janela sobre a rua nao e um ug
.
de ond e o oIhar interior . . perspec t·1vas abstratas; ,.lu-
. seguiria
, . . . tas que sao
gar pratico, privado e concreto, a janela oferece vis
. 1 ngadas,
mais que espetáculos; perspectivas mentalmente pro O ,.
1· çao
de sorte que a implicação no espetáculo provoca a exp ica
·anela 91
visto dª]
, A familiaridade o conser
ta cu 1o. va; ele desaparece e
deste espe rn a cot'dianidade do dentro e aquela
1 do fora. Opa-
renasce cohonz . t s obstáculos e pers
pectivas se implicam,
cidade e on e , .
. 1 se cornP lic am se imbricam ate, deix .
ar entrever ou
ois e es - nh ec
' . .
P . har o Desco ido, a cidade gigante com
adiVlíl seus espaços
dos por tempos diversos .
: os nt m os .
d1.ve rsos afetadeterminadas . -
as ~J)t_er~çpes, a an a,1·ise .
lJrnamve z
aranJiadQ,_pe.ste ;:in_d,aim h , . contin ua.
h.
e,. a u ~ a 1erarquia. U . <
Neste e · . nte< Um as m
. determina _ · - - pecto pr im or di al e coordena
ritmo · -- · · dor?
A ·anela suge re vá rias hi pó te ses, .que a ru a e a .erranci ,. .
J~ · ··· a con-
firrnarao ou ne garão. Os corpos (vivos, hu m an os , mais alguns
e . .
cachorros) qu se agitam, lá embaixo, o conJunto formig .
ante,
elos ca rros , nã o . ·e <
saqueado P im po ri am um a lei. Q ua l.
ra nd eza. As-janelas, as po rt as Uma
ordem de g , as ruas, as fachadas
se medem na proporção do
ta m_anh o hu m an o. As
se agitam, os membros, não mãos que
se re su m em em signos,
eles lancem múltiplas mensa ai nd a que
gens. M as há um a rela
esses fluxos físicos de gestos ção entre
e a cu lt ur a que se m os tr
no enorme rumor ~_o cruzam a (e berra)
ento~ Os pequenos bote
rua R., as lojas, estão à esca~c cos da
!_hu m an a, co m o os pass
frente, as construções quis antes. De
eram transcender esta
das dimensões conhecidas escala, sair
e ta m bé m de to do mod
do e possível; por isso, a ex elo passa-
ibição do metal, do en ca
imóvel, dos mais duros refle na m en to
xos. E é um meteoro ca
planeta onde reina um a tecn ído de um
ocracia se m pa rt il ha.. .
Absurdo? Ou super-racion
al? O qu e di ze m estes es
. contrastes?· o que m ur m ur . .
tr an ho s
arcaísmo atad0 ' h' , · a a prox1m1dade en tr e um
certo
a 1stona e a su pr am od er
que ela tem u ni da de exibida? Será
t , m segre do - ou segr~dos
atal-pohtica , ? Será que a or de m es-
autor? Sem d ,se .es d
crevera nes~e qu ad ro co
m a as si na tu ra do
0 te uvi a, mas que iss9 nã o
mpo que se · faça esquecer a ép oc a e
que lh d~ inscrevem ta m bé m ne st
e ao um 'd a espetacularização,
senti o. E po r que a ru
a de la Truanderie e
92
ELEMENTos
o passage des Ménéstriers, cons DER11MIINA
ervadas a List
transformações? o 1ong0
das gran
O essencial? O determinante?
O dinheiro
na-o se to rn a mais. , 1
sensive co m o ta l mesm . Mas o d·
des
do banco. Esse ce nt ro de Paris , o sobre 1nhe-tro
carrega a m
ele esconde, mas ele o esconde. arca d ª fac .
had
a
O di nh ei ro p aqu ilo qu
Há pouco tempo, este ce nt ro assa por . e
. . ca pi ta l gu ar d cir cuit
.
de provincial, de medieval: hi. ,
storico e deterav a algu
· d ma coisa
.08•
discussões e qu an to s projetos 1o
pa ra estes lug ra O· Quantas
dos ou abandonados! En qu an
to foram rentávare. s .pre ,
d st1.
, e na.
tempo! Tal projeto amável e ch eis Ja ha m.
. . ar m os o _ muito , Ulto
- assinado po r Ricardo Bofil sec u 1 o XV II1
. l - foi descartado a ,
.
Ou tro proJeto qu e fazia do ce pos adoção
. ( . . , . )d nt ro de Pa ris o ce ntro ad . . ·
trativo m in ist en os o pa is , d
se uz iu o Chefe segundo min1s-
se u falecimento cancelou esse ' parece·
projeto. E tentou-se arra ~-
jo en tre os poderes: o Estado, O
o di nh ei ro , a cultura. Vitrines
pa ra to do s os pr od ut os , in cl ui
nd o intelectuais, corrigindo a
insipidez po r im ag en s m ui to
Belle époque.
Co m o é possível qu e as pe ss
oa s (co m o se diz desde que
ce rta s palavras, co m o o "pov
o" ou os "trabalhadores'>, per-
de ra m ce rto prestígio) aceite
m es ta exibição toda? Que elas
ve nh am , em m ul tid õe s, em flu
xos perpétuos? De sorte que os
rit m os da s passagens se en fra
qu eç am ou se reforcem, mas se
en ca de ie m e nã o de sa pa re ça m
ja m ai s (mesmo à noite!).
O qu e é qu e lh es at ra i tanto?
Elas vê m simplesmente pa~a
_ver? M as o que? A gr an de co ns
tru çã o qu e foi• conceb'd i ª,.nao

D
pa ra se r vi sta , m as pa ra dar
a ver? O ra , e1as ve,. m para _ve-Gi- la,
pa ra da r um a ol ha da di str aí
da so br e aquilo que ela expoe.
ra -s e em to rn o desse vazio, qu . de pessoas
e se en ch e de coisa se ..
pa ra se es va zi ar e as sim vai. Se ãov 1na
rá qu e estas pessoas n . J11si,
so br et ud o, pa ra se ver, se en
co nt ra r? A m u1t1•dao " dana a
'd" 1
m es m a, in co ns ci en te m en te , . ,. . de m ul ti ao.
um a consc1enc1a . a e as
A ja ne la re sp on de . Pr im ei ro
, o es pe tá cu lo da esquio
93
aJanela
visto d
. 1 res que, ainda há pouco tempo, formavam
end1cu a
ruas perp
. roda i
e· dade, povoada por um tipo de nativos, com
u.rn batr _ equenos comércios. Em resumo: as pessoas
rtesaos, p ,
.,.,uitoS ª s que ficam, moram nos sotãos, nas
jl' • Aque1a , _ man-.
do bairro. . . hos chineses ou arabes. A produçao deixou
corn v1z1n , .
sardas, e até mesmo a .Parte dos comercios, que deman-
lugares, . , . N d
estes . rmazéns estoques,,vastos escntonos. · a a
depósitos, a , . . .
dam. tes fatos, super ,conhecidos, arquiconhec1dos,
. r sobre es . .
a dize onsequências. Por exemplo: as multidões, as
. ue suas e .
mais q b esplanada de B.eaµ,bourg, em torno da Saint-
asso re a
mass . d' 1ou sobre a Place des Innocents, da qual seria
Merrt rne ieva . A •

, • dizer que ela perdeu toda a inocencia. As praças


fácil derna1s .
m sua antiga função, durante muito tempo em
reencontrara . ,
, . de reunião de mtse en scene, de teatro popular es-
dechmo, '
pontâneo. ·
Eis que nessa esplanada explode uma festividade de cará-
ter medieval entre Saint-Merri e o Mo9,ernismo: cuspidores
de fogo, malabaristas, homens-serpentes, mas também prega-
dores e rodas de discussões. A abertura e a aventura ao lado
de blindagens dogmáticas. Todos os jogos possíveis, materiais
eespirituais. Impossível de classificar, de contar. Sem dúvida,
muitos errantes-aberrantes que procuram, não sabendo o quê
- eles mesmos! Mas muitos apenas buscam esquecer o lugar
de onde vêm, nem cidade, nem campo. E por horas e horas,
eles andam, reencontram as esquinas, circulam ao redor dos
lugares fechados. Eles quase não param, comendo enquan-
to andam qualquer hot-dog (americanização rápida). Sobre a
esplanada, por vezes, eles param de andar, olhando o que há
~em na frente deles, fixamente; eles não sabem mais o que
1azer. Olh d
an o, escutando um pouco os camelôs e artistas de
rua, depois
L, recuperam a marcha incansável.
Cor ª sobre a esplanada, os ritmos têm algo de marítimo.
rentes at
ravessam as massas. Destacam-se riachos, que
94
ELEMENro
SDE RI,
traze m novo s espe ctado res ou os 1 ~ Ál1~
evam• ai
reçao a goela do mon stro, que os e
N
, guns \rã
. 1
ngo e para o elll d·
b astan te rapid ez. A maré invad e . "ºlllitá ~I 1,
. a imen sa os co
retira : fluxo e refluxo. A agita ção e O b Praça, dep . lll
• h arulh o - ois se
z1n os pres taram queix a. Hora fat'd. sao tais q
. . 1 1ca: dez h Ue "i-
barulh os pro1b 1dos; então a mult idão oras da n .
, . se torna sil . oite,
ma, pore m mais mela ncóli ca; oh fatais d ez h orasenc1os a, e
, , d . a1-
espe tacul o e o rumo r desa parec idos só . ª noite! 0
, resta a tnst
Com estes lugar es, estam os no cotid iano • eza.
. ou no e
d1ano? Bem , um não impe de O outro e a p d Xtra coti-
seu o-fest .
cotid iano apen as apare ntem ente. Ela O pr 1 ª sai do
. o onga por out
meio s, com uma orga nizaç ão aperf eiçoa da qu , ros
. . e reune tudo
publ icida de, cultu ra, artes , jogos, propagandas, regras do tra--
. ·· d
balho , vida urba na... e a políc ia se mant ém vigilante, v1g1an o.
. .
Ritm os. Ritm os. Eles revel am e dissimulam . Bem mais di-
verso s na cidad e que na músi ca ou no dito código civil das
sucessões, texto s relat ivam ente simples. Ritmos: música da
Cida de, quad ro que se escut a, imag em no presente de uma
soma desc ontín ua. Ritm os perce bidos a parti r da janela invi-
sível, aber ta no muro da facha da .... Porém, ao lado das outras
janel as, ela está tamb ém num ritmo que lhe escapa ...
Nenh uma câme ra, nenh uma imag em ou sequência de
imag ens pode most rar estes ritmos. É preciso olhos e ouvid~s
igua lmen te atentos, uma cabeça, uma memória e um coraçao.
Uma mem ória? Sim, para apree nder este presente de outro
,. . . us momentos,
jeito que não o insta ntane o, o restit uir em se
. • A lembrança _
no mov imen to comp osto de diversos ntmo s.
· d· pensá vel, nao
dos outro s mom entos e de todas as h oras é 1n is olar este pre_
de

com o uma simples referencia, mas para nao is . .


• N
,.

. 'd d ti ·t de su1eitos e
ente e O viver em toda sua d 1vers1 a e, e1 ab. tivas Aqui. se
s fi . b'eto e
,ietos de estad os subje tivos e de guras o 1e
Ob1 • ·t e o o1
'
reen cont ra a velha ques tão filosó fica (o su1e1 .º róximo s
suas relações) posta em term os não especulativos, p
95

ajanela
Visto d na 1·anela sa be .qu e . to m a co m o_ pr i-
or .
. 0 observad m as qu e a pn m ei ra 1m pr es sa o
se
tt' ª·
rá ênc1a seu . te m po
, nd i-
da P
er de os rit m os m ai s di ve rs os , co m a. co
.
,,,eira ref mpreen
w ,o
ne ça m na es ca la . A pa ss ag em do su;eito ao
desloca e
Ies pe nn a um sa lto po r ci m a de um ab is m o, ne m
e e
Ção. qu ~o exige
. - ne nh •

pr e ne ce ss id ad e de
A

0 n~ d deserto. O s rit m os te m se m
ob;et
s de ou tro s da do s pe r-
a travessi~ ~ a, . a in ic ia l pe rs ist e, at ra vé
s,
eferenc1
di çã o fil os óf ica le va nt ou pr ob le m as m ei o re ai
uJllª r .
1 os
b'd A tra
e sã o m al re so lv id os ca so se pe rm an eç a na
ce · , . s qu .
fict1c10 ' gu em li-
111 . 'd de especulativa. O ol ha r e a m ed ita çã o se
eio
a111b1gu1 a
rça qu e vê m do pa ss ad o, do pr es en te , do po ss ív el
'"o
nhas de i,
no ob se rv ad or , qu e po r su a .vez é ce nt ro e
reúnem .
e que Se
periferia. re en co nt ra m , se re co -
mo alh ur es , os op os to s se
Aqui co
id ad e ao m es m o te m po m ai s real e m ai s
nhecem em uma un
so
ma is co mp lex a qu e se us el em en to s já en um er ad os. Is
ideal,
a e ~tua liz a o co nc ei to de pe ns amento dialético, qu e
aprofund
im pr eg na r es sa s pá gi na s co m m ui ta s qu es tõ es e
não cessa de
algumas respostas!
CAPÍTULO 4
Adestramento

fazem gestos; elas gesticulam. As pernas se agitam.


As pess ºas
Os gestos se fazem ora com os braços, as mãos, os dedos, a
cabeça, isto é, com a parte de cima do corpo, ora com as ancas,
as pernas: a parte inferior. Cada segmento do corpo tem seu
ritmo. Estes ritmos se acordam e se desacordam. Quando se
fala que um rapaz ou uma moça é cheio(a) de naturalidade, o
que se quer dizer? Que seus gestos são _expressivos, graciosos
etc.? De onde vem o efeito? Onde está a causa?
A natureza pode servir de referência, mas tende a ser dis-
farçada. Se fosse possível "saber,,, de fora, os batimentos do
coração de tal pessoa (do interlocutor), se entenderia muito
sobre o sentido exato de suas palavras. A respiração se ouve,
se declara. A corrida e a emoção a modificam. O coração per-
manece dissimulado, como os outros órgãos, dos quais cada
um, como sabemos, tem seu ritmo. .
Os gestos não podem ser atribuídos à natureza. Prova:
modificam-se segundo as sociedades, as épocas . Os anti-
gos filmes mostram que a maneira d_e andar se modificou
ao longo do nosso século, na nossa sociedade: antigamente
~ais saltitante, ritmo que não se explica pelas tomadas de
imagens. Cada um sabe, por ter visto ou apreciado, que os
gestos fam1·11·a res e as manei.
ras cot1.d.1anas nao
- sao
- os mes-
mos no oci·aente (na
nossa sociedade), no Japão ou nos pai-'

97
98
ELEMENTos
DE RilMNt~
ses árabe s. Esses gesto s, essas mane iras _ lSt
apren didos . , sao ad
_ quirid
Os e
A repre senta çao do natu ral falsifica as 't
passa por natur al preci same nte quan do se s1 uações. Algu.
ment e e sem esfor ço apare nte aos modelosconfo. rnia Perfeitell\
tos valor izado s por uma tradi ção (por veze aceitos, aos háb·a.
vigor). Não está longe a époc a quan do pars recent .
e
, rnasem
1-

os joven s se fazer em de mode stos, se calarem ec1a natu


. . - ra[ Para
.
d 1scnçao, respe ito . . , atuarem
e imita rem os superiores. .. colll
A educa ção, a apren dizag em e o adestramento
. · ui'dos. O sa b
vem ser d isting · er, o saber-faz poderne d
- er-v1v e-
. . er, o saber e
geral, nao coinc idem . Sem que se possa separá-los S , rn
.
cer que eles segu em Junto s. Entra r numa sociedade . ern esque
. 1·d d ,
·
nacio . 1 (
na i a e e aceit ar va ores que se ensinam) apr d , grupo ou
, en er tal
ofício segu indo tal ramo , mas tamb ém se dobrar (ser dobrado)
a deter mina das mane iras. O que significa: adestramento. Os
hum anos se ades tram como os anim ais. Eles aprendem a se
segu rar. O ades tram ento pode ir longe: até a respiração, os des-
locam entos , o sexo. Ele se basei a sobre a repetição. Adestra-se
um ser vivo fazen do com que ele repit a tal ato, tal gesto. Um ca-
valo, um cão são ades trado s ades tram por repetição, ainda que
seja nece ssári o lhes dar recom pens as. Para eles, a mesma situa-
ção é arrum ada, e eles são prep arado s para encontrar o mesmo
estad o de coisa s e de pesso as. A repet ição, talvez mecânica no
anim al (simp lesm ente comp ortam ental ), se ritualiza nos hu-
mano s. Assim , na noss a socie dade , apresentar-se ou apresentar
algue, m comp orta opera ções não some nte estereot'padas mas
D
1 '
. . .
cons agrad as: ritos. Ao curso dos quais os interessados podem .
fazer figur ação: estar ausen tes, não prese ntes na apr esentaç ao.
b'·
Os ades trado res sabe m junta r o linea r e o cic ic ' , 1· o com,
e
. ~ s umas .
nand o-os . Alte rnan do as inov açõe s e as repetiçoe .' . amen·
quen" cia. 1·inear d e impe
. . os e d e gest os repete c1d1c
rativ se têm
te. São as fases do ades tram ento. As seque ncias ,. • lineare s
99
Adestramento
. (f uentemente a partir de um sinal) e um fim: as
.101'cio req
uJil , .cas dependem menos de um signo ou sinal que
adas c1c1I ,
retoJJl .zarão geral do tempo. Isto e, da sociedade, da
a organ1 T
de um ui novamente é preciso reconhecer que o modelo
cultura.~~ ·tádo em nossas sociedades ditas ocidentais (ou
Ttar foi im1
J111 1 . erialistas). Mesmo na época dita moderna e talvez
1
rnelhor, ~;;e medieval, a partir do fim da Cité. As socieda-
1
desde ª d pelo modelo militar conservam e estendem este
as
des rnarca todas as fases de nossa temporalidade: repetição
•trno para . _ .
ri , automatismo e a memonzaçao dos gestos - d1-
Jevada ate o .
mas previstas e esperadas, outras inesperadas -, a
ferenças, u . , .
·mprevis to! Não sena este o segredo do prestig10 das
parte do 1 , . . ?
periodizações ate no cot1dia~ o. .
adestramento tem entao seus ntmos; os adestradores os
0
conhecem. A aprendizagem ten:i os seus, que sabem os edu-
cadores. A formação tem também seus ritmos, que acompa-
nham aqueles dos dançarinos e dos adestradores. Todos di-
ferentes, eles se juntam (ou devem se juntar), assim como os
órgãos em um corpo.
Os ritmos do treinamento parecem particularmente dig-
nos de análise. Não se adestra um cavalo como um cão, nem
um cavalo de carga como um cavalo de corrida, nem um cão
de guarda como um cão de caça. A origem (a linhagem, a
espécie ou a raça) entra em conta, sobretudo no início. Certos
animais se recusam ao adestramento. Adestram-se os elefan-
tes, mas não as feras (salvo caso raro!). Pode-se adestrar os
gatos? Ou somente educá-los?
As ciências do adestramento levam em conta muitos as-
p~ctos e elementos: duração, sev~ridade, punições e gratifica-
çoes. Assim se compõem os ritmos.

1 d
INT•C'd
• ª e, na Antiguidade.
100 ELEMENTos DE
R1n,1A¾J

Ao lon go de seu adestramento, os ani ma is t raba/h


SE

anz. EcJa.
roq ue eles não pro duz em um obj eto , com u-. ..... 1 a llláq •

s me mb ros . Sob a dir eÇao - . uina. , colh.,,


um a téc nic a, com seu . 1nip
seu cor eriosa do
ade stra dor ou do trei nad or, eles pro duz em
a pra ' ·
tica soc · I, 1s
1a · t o e,' h um ana . Os cor Po, que entra
em um pos dos a .
d' lliniais
adestrados têm um vaIor e uso d
.
. Seu cor po sem
o lfica e
d o os h e1r os dão lug ar ao . · ºIllo
nos hum ano s, qua n e visual 0
ef _ · ades.
tra me nto imp lem ent a um aut om atis mo de rep içoes. Mas
absoluta as
circ uns tan cia s nao sao Jam ais exa tam ent e e
- - • •
A •

·d"ent ·
tca s. H a' mud anç as, me sm o que apenas mente as
me sm as, t
. pe1ahora,
- 1· ·1 . - t O ent o deix a
estaçao, c 1ma, 1 um 1na çao e c. trei nam um lugar
. . , . . . . d . func i·
o ser viv o. Ass im
ao 1mpreVIsto, a 1n1c1atlva onam os
ritos de cortes1a, .
ade stra me nto s hum ano s: o sab er mil itar , os
im organizados
o trab alh o na em pre sa. O esp aço e o tem po ass
iação: à liberdade.
dão lugar, par a os hum ano s, à edu caç ão, à inic
stramentos não
Um peq uen o lug ar. Nã o há ma is ilusão: os ade
ritmos. Na rua,
des apa rec em . De ter mi nam a ma ior par te dos
da; mesmo assim,
as pes soa s pod em seg uir à dir eita ou à esquer
não mudam.
seu and ar, o ritm o do seu and ar, seu s gestos,
se reparte se-
O tem po de apr end iza gem (ad est ram ent o)
gun do um a tría de:
. Entrecortada
a) Ati vid ade int ern a de con tro le. Sob dire ção
por pau sas (pa ra o rep ous o...).
sesta, tempos
b) Par ada com ple ta. Re pou so int egr al (sono,
mo rto s).
(um pacote de
c) Div ers ões e div ert ime nto s. Re com pen sas
cig arr os, um gra nde prê mio , um a me dal ha
etc.).

· tantâneo.
som ent e as atit ude s em ins
Ser ia um err o not ar · mento que
film e). É o trei na
Ou a sér ie de mo vim ent os (um
. b Je-
imp ort a: que imp õe, que edu ca, que ade stra d se esta e
o, , que
Ess e mo del o rítm ico , em uso no mu ndo to ·s Sera
depoi ·
ce ao lon go dos ade stra me nto s, se per pet ua
arnento 101
Adestr
,
ta nt o aos exércitos qu
an to aos estabelec1• m
\e na~ 0 convern en-
e .1 sos e esc olares, aos es cn·to' no · s, t b '
tos relig ° co
, ·os? Corn al gu m as -va ri an te s: razão o u desraz
m o am em aos
inonasten .· d recitaçã ~
ão, se-
o ou do m an ej o da s ar m as ? E
gund °
as leis a
es ta belece. S en. a se u ca ra, . , d'
pelos
ue e1e se
ritlll05 ~ . de -r ep ou so te r tn a 1co (tn.-
-d iv er ti m en to ) qu e lh
na,n°. •. at1
. v1da
? Talvez: este se d'
e confere u m a
ri a u m pa ra 1gma dos ·t
generahdaded. l' . . n m os an -
difica os sobr e a base fisio og1c a, is to e, ,
o co rp o h um a-
tigos e ·d d e deseJ·
Necess1 a es os se pr od uz em na in
no. te ra çã o. C as o os
1rnos (e as nece ss id ad es ) se .
ja m qu eb ra do s, is so po
ri . . de re su lt ar
numa eurr itmia ou en tã o nu m a a- nt m 1a . -
Entretanto, n ão se deve su pe re st.im ar a 1m .
portan " .
c1a e os e1ee1. -
de . ,
tos desse mO lo m ilitar inst1tu1do pelas trad . _
1çoes ro m an as e
. ·dade Os países prot ,._ .
pela 1at10 1 • estantes te m pa rc ia lm en te apaga-
do este modelo, não se m
so fr er su a influência,
testação dirigida co nt ra po r m ei o da con-
a igreja ro m an a, co nt
no e contra o ensinamento ra o direito ro m a-
tr ad ic io na l na E ur op
Escreveu-se e di sc ur so a co nt in en ta l.
u- se m en os so br e o
ros do que sobre o sexo ol fa to e os chei-
. E rr o: os ch ei ro s tê
importância. O m un do m u m a gr an de
m od er no qu er o in od
Os cheiros não pa re ce m or o: hi gi ên ic o.
ob ed ec er a ri tm os . O
fisiológico do ri tm o em de sl oc am en to
di re çã o ao ri tm ad o
como a influência do ad se el uc id a as si m
es tr am en to so br e os
tidos. Ademais, este m od ór gã os do s se n-
el o re in a, qu as e se m
0
sexo feminino. O ades li m it es , so br e
tramento da s m oç as e
foi _se~p~e duro, so br et da s m ul he re s
ud o na s cl as se s di ta
resi~tencia era ig ua l à pr s privilegiadas . A
os ritmo b' · es sã o. P or quê? C er ta
" m en te po rq ue
s aszcos te m , na fe m in
il id ad e, m ai s fo rç a-e
mdentos. As figuras de ss pr ol on ga -
ª oradas at ' a re si st ên ci a ab ra ng em de sd e D eu sa
e m at ro na s re sp ei ta da s
s, do s cours d'amours2
at é as

2 logos e prát' .
séculicasXvinculªdos ao d
\A •
1
v1éd1a .
' os II e XIII esenvolv1m ento do am or cortes na A

, se espalhando pela Eu Idade


ro pa e envolvendo regr
as
sufra gistas . Não seriam ELEMENroso
os movi ment os feminin por ~ssas forças e ti1, ~
dade de ren - os (ditos: fe . . esses e
el . ovaçao nas socied d tn1n1stas) t~ ºnflitos
es modi ficara m os 't a es conten--. eni u111a que
mo d elo milita r d d
n mos · '.1.Porâ
4
cap .
impre ssos p 1 neas? S
o a estra e a,,. .1 erá ac,,
tão ultrap assa o , . mento? Certa ir1 idade que
proposito N . Illente ePelo
nem na imutabilidade . o mais, não se d ..., lllas aqu
, nem na fo . everia es,
N esta perspectiva rça decisiv a d acredita
, as mulhe O sex r
cu1os, resistido através d . res teriam, durant º·,
, d' o ntmo ao e var·
co igo de existência prom .d modelo viril ,, ios sé.
. ov1 0 e p , verdad.
mais apoiado ideologicam t ropagado pela for e1ro
t en e; o model ça eade
rame nto foi sempre reforçado 1 . o que serve ao ad .
A h e pe as 1dentifi ~ es.
o c e1e, ao soberano. Modelos . caçoes. A quem?
. ,. em arranJo têm
e grand e influencia. Seguramente e . . . grande poder·
, a iem1ni
d a pe1os sentidos dos ritmos vita. . . hdade, sustenta-
is, interiores e exterior
adestramentos, não resistiu num só bloco Ela d e I es aos
· es1a eceu por
vezes para se rebelar em seguida.
Pode-se supor que a ordem ocidental, estabelecida desde
a latinidade e a romanidade, não pôde facilmente adestrar os
orientais, os africanos. Após os esforços que a história nomeia
colonialismo e não sem efeitos notáveis, o fracasso desse ades-
trame nto ocidental é hoje evidente em escala mundial. En·
contram-se caminhos para aqueles que escapam aos nossos
. d
modelos conJu ntos (a estramento-1·dent•fi 1 ca
ço·es-diferenças
reduzidas e estereotipadas). ), e1aé
, 1 corpúsc u 1os
A matéria é multidão (ou mo1ecu as,
corpo. .d- (de células, de lí-
A multidão é corpo, o corpo é multi ao
quidos, de órgãos).

sivas há
. . Corno figuras expres
rigoros as nas relações soc1a1s e ~o:;:~ ne ,Marie de france.
Aliéno r d'Aqui taine e a condessa a
103
rnento d
de multidões, de grupos,
.e
Adestra -
compoem
Sociedades se t·tuem povos. Elas compreendem nt-
,A.s cons I 1 ·
Pos, de classes, .
d seres VIVO , s corpos sociais, grupos ocais.
cor e seja111 e esentações vagas e confusas a
JIIOS, qu . assa das repr - , . d. -
O
conceito?
~ da plura1I a das interaçoes ntm1cas,
.d de
l' .
a I
.
uma a Preensao , . .
s e niveis. od s corpúsculos às ga ax1as, mais
d egrau
rsos · ·
ve bº
uma vez! . . . - não. há separação
a e distinça9, . nem a Ismo
Se há d1ferenç t ·aI·s os corpos vivos, os corpos so-
as ditos ma en ' . - .
entre os corpresentaçoe _ s, as ideologias, as tradiçoes,
. os
_ pro3e-
dais e as rep
.as. Todos se co mpõem de ritmos em
. 1nteraçao (em,
tos e,utopi ,
. s reciprocas ). Esses ritmos
. se analisam, mas .as ana-
influencia
. ensament o n a- 0 chegam 1·amais a termo - muito me-
hsesano~
nos . dos fatos sociais precisos, como .o adestramento,
analise .
do que a ana,1ise
. do teatro, da
- música, da poesia,
. . como
, . ntmos.
-
Uma auscu ltaça 0
- não esgota os ritmos biofis1olog1eos: nao
.
~~ffi
de todos ' não apreende suas interações. De maneua
-
análoga, a análise dos ritmos de adestramento nao esgota a
compreensão dos ritmos sociais. Mesmo que a formação ao
trabalho, aos gestos repetitivos da produção seja inserida no
adestramento. Outros setores têm seus ritmos próprios e es-
pecíficos: a cidade e o urbano, por exemplo, ou os transportes.
Ou a cultura, mais ou menos funcionalizada e relacionada
com as condições do mercado, A liberdade nasce em um espa-
ço-tempo reservado, ora largo, ora estreito; às vezes reduzido
ªuma lacuna não ocupada pelos resultados do adestramento,
Aatividade criadora, necessária de ser distinguida das ativi-
dades Produtivas, procede da liberdade e da individualidade
que somente 1· - ,
Certos term se amp 1am em condições exteriores (a elas),
teressantes: o inst.
os, que
. se tornaram
. coloquiais,
. não são desin-
atémesmo oco Inhvo, 0 puls1onal, o funcional, o direcional,
_ Sera~portamental,
exploraÇoes. qu t. correspondem a pesquisas, a
e a ingern o nível .concepcional? A dúvida
104
ELEMENTos
Ot~ll~
persiste. Eles parecem se desenvolver e ISt
. d . - d.
t ivas e onentaçao em ireção às repre m metáfor as sig .
sentaçõe E nific
mas permanecem abstratos, estáticos· s. sses e a.
· por Veze sque.
conta o tempo, mas quase nada os ritm s, levalll
• .e. - • - os. O ra, a fo eltt
in1ormaçao, a comunicaçao passam por . rlllaçào
meio de r·t 1 Illos: rep,a
tições e diferenças, linearmente ou ciclic
. . amente. e.
A criança, como o Jovem animal tem
. , . , seus rit
gicos que se tornam baszcos, mas se mod .fi Illos hioló.
. .e. - i cam (são
fi cad os) . 1ome, sono, excreçoes. Estes sob Illodj.
. . ,. , retudo, são .
ficados pela vida social: a familia, a materni.d ade Os .Illod1.
[I educados são ritmos humanos, isto é soei . p · ritrnos
.
,. . .
grupos - familia, vilareJo ou cidade, instituiç-
b, .
, ais. or meio d
. ._ os
oes, re11g1oes et
-, os ntmos aszcos se reencontram, mas , por vezes, metamore.
foseados. Levar em conta ritmos puros poderia e ·
. , ventualmen-
te, renovar o sentido dos termos.
O inconsciente? Esta palavra-arranjo, esta palavra-pacote
(mala) tem um ou vários sentidos. Ela designa um nível real
e uma direção de pesquisas. Recusa, justificadamente, a tra-
dição cartesiana, tão influente em filosofia, na nossa cultura,
que identifica o ser e o consciente; que rejeita o ser, o verda-
deiro, o real, do lado de fora da consciência e do pensamento.
Mas o inconsciente não seria o que se passa no corpo, nos
nossos corpos materiais e sociais? O inconsciente não resi-
diria na relação entre o cérebro e os signos? Como funciona
a memória? A partir do inconsciente, certamente, mas será
que ela é uma substância escondida nas coxias do teatro, que
· , · ão funciona
sussurraria suas réplicas ao ator? Esse cenano n
melhor que o cenário cartesiano. Chegou a vez de dar lugar
. - ue não se re·
ao corpo, à sua exploração, à sua valonzaçao, 0 q ..
. 1, . 0 corpo-suJel10
duz ao simplismo do materialismo fi s10 og1co:
é o ser no mundo. }quer
Todo desregulamento (ou, dito de outro modo, quda uJJl
0
t ha toma
desregulamentação, ainda que esta pa1avra en
105
Adestramento
. l) dos ritmos produ z efeitos conflituais. Ele des-
·do oficiab . é sintomático d
5ent1
ertur a, e um d'1stur' b'10, gera1mente
loca e P . nal e não mais funcional. Ele pode també m
do 1es10
profun ' lacuna um buraco no tempo , que deve ser
zir urna ' _ . _
prod11 r uma invençao, uma cnaçao . Isso acontece,
bido Pº
preenc te e socialmente, apenas passan do por uma
.1 1·dua1rnen
ind V • , b'os e crises têm sempr e origen s e efeitos nos e
. o1stur 1
crise. . os· aqueles das-in stituiç ões, do crescimento, da
bre os ntrn .
so • das trocas, do trabal ho, isto é, aqueles que fazem
opulaçao, . .
P m a complexidade das socied ades atuais. Nesta
0 u expressa , . .. ,
t' a as mudan ças ntm1c as que se seguir am as revolu-
erspec 1v ,
P_ s oderiam ser estudadas. Entre 1789 e 1830, os própri os
çoe p na·0 são alcançados pelas modif icaçõe s na alimen ta-
corpos
-
çao, nos gestos e nos costum es, no ritmo do trabal ho e nas
ocupações?
Seria possível atingir, por uma via indire ta e, parado xal-
mente, a partir dos corpos , o uni:versal (concreto) que a linha
direta, filosófica e política, visou, mas não atingi u, ainda me-
nos realizou: caso o ritmo conso lide seu estatu to teórico, caso
ele se revele conceito válido para o pensa mento e como su-
porte na prática, não é ele este univer sal concre to, que os sis-
temas filosóficos não atingi ram, que as organi zações políticas
esqueceram, mas que é vivido, provad o, tocado , no sensível e
no corporal?

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