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1
CAPÍTULO 1
crítica da coisa
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científico e/ou filosófico deveria chegar a conclusões gerais.
Não sem riscos: o salto do particular ao geral nunca ocorre
sem perigos de erros, de ilusões, em uma palavra, de ideolo-
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56
ELEMENTOS DE
RllM
AN Ã
palavra acreditam do m in ~llSt
ar e po ss ui r se u conteúd
tido. No entanto, os senti'd d
os o te rm o pe rm an o, seu
ros. Confunde-se faci.lmen . sen,
te ritmo co m movimenec t
ern ob
de, encadeamento dos gesto seu_
s ou do s objetos (máqo,u.Veloc1·d
~m pl of .í ii um a tendênci a-
a de se at ri bu ir ao-; ritmos
inas, Por
ção e1· xand o de 1ado o aspec t urna
o or ga.. nico dos 1e. e1-
vimentos ritmados. Os mus , .
1cos que se envo1vem dire
ta
rno-
com os ritmos, ao produzi-l . rn
os, os re du ze m frequente ente
à contagem dos compassos: "u mente
m-dois-três-um-dois-três»
historiadores e os econom . Os
istas falam de ritmos: da
ou da lentidão dos período rapidez
s, das épocas, dos ciclos;
dem a só ver neles os efeitos eles ten-
das leis impessoais, sem re
coerentes com os atores, as lações
ideias, as realidades. Aqu
ensina ginástica acaba vend ele que
o nos ritmos apenas a suce
gestos colocando em movim ssão de
ento tais ou tais músculos,
tal energia fisiológica etc. tal ou
O procedimento que parte
das generalidades teria co
origem abstrações? Não! No mo
domínio do ritmo, certos co
tos muito vastos têm, contud ncei-
o, uma especificidade: vale
logo a repetiçãof~ ão exist citar
e ritmo sem repetição no
e no espaç~, sem reprises, se tem20
m retornos, isto é, sem med
-
Mas não há r~ eti ção abso
Decorre disso a relação entre
trate do cotidiano, dos ritos
luta, idêntica, indefinidam
a ~ etição e a diferença. Q
ida.1~
ente.
ue se
, das cerimônias e das festa
regras e das leis, há sempre s, das
algo de imprevisto, algo novo
se introduz no repetitivo: um que
a diferença.
Tomando-se então um caso
bem significativo: a repetição
da unidade (l+ l+ l. ..), não
somente gera a infinidade
meros inteiros, mas també de nú-
m a infinidade dos números
pri-
1
Em francês, a pa lav ra me
sure significa, ao mesmo tem
pa sso . Or a op tam os po r po, medida e com-
medida, or a op tam os po r
do contexto. co mpasso, dependendo
57
.
sefll 11 essas re aço
rltente que conhecê-las nos ntm os reais ...
em !P trá-las e re época moderna (compreendend o o
,, reencon b a
enta0 'pido so re
lJJJl olhar ra R lução Francesa) revela verdades-reali-
X desde a evo -
século XI ' 'tidas. Após a Revolução, contra.os valo , .
itas vezes om1
dades rnuevoluc1 . , . s (e apesar dos protestos dos reacionarias,__ ___,
onano · tw
res dos r no ao passado), um a sociedade n
erendo o retor • d
·zação socioeconom1ca, a uela · a. .........
A
qu ~ ...-.. . •->-- -- -- --
ra· umaborgan1 -~ - -ca~ Qâ .ªX ~ -c.,A-
· esta tal-mer can til. mer
d de ur anO- - ~
~
espaço soc1a
( ' e)
l o tem po (soc ial), dominados pelas trocas, se
.
tempo e o esp aço dos mer cad os; inco rporam-se nos
. . . .
tornam o coisas, mas 1nd u1n do ritm os.
s mes mo que não sendo . .
produto , A • , •
2O autor apontado aqui por Lefebvre é Lúcio Alberto Pinheiro dos Santos,
filósofo português que vem ao Brasil fugido da ditadura salazarista. Aqui,
escreve sobre a Ritmanálise em diferentes periódicos, como o ensaio sobre
Ritmanálise e Psicanálise, publicado no Rio de Janeiro em 1945, em OJor-
nal. Participa de sociedades científicas e encontra em Nietzsche as primei-
ras reflexões sobre a importância dos ritmos . Buscava afastar este autor
de aproximações com o nazifascismo. Ainda segundo Geraldo Dias, Pi-
nheiro dos Santos aponta a ritmanálise como "uma nova reflexão filosófica
sobre o Tempo", capaz de abrir caminho para novos trabalhos de "inves-
tigação filosófica" e novas reflexões epistemológicas". A partir de pesquisa
sistemática em arquivos, Geraldo Dias encontra ainda a participação de
Pinheiro dos Santos na coordenação de reuniões da Liga dos Portugueses
Antifascistas, dentre outras atuações. Ver: DIAS, Geraldo. Nietzsche, pre-
cu~sor da Ritmanálise? A recepção luso-brasileira do pensamento nietzs-
chiano pelo Filósofo fantasma Lúcio Pinheiro dos Santos. Revista Trágica :
est udos de filosofia da imanência, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 41-58, 2018.
d
da coisa 61
crrt1ea
ara seu desenvolvimento, uma panóplia de catego-
· -
tv1as, p ·tos) e d e opos1çoes, ·1·1zada metodicamente p
uti
. (coneel , a-
oas . dispensável:
rece in
tição e diferença
repe ,. .
,. nico e organ1co
Jlleca . _
erta e cnaçao
descob
'clico e linear
Cl ,
, uo e descontinuo
conun . .
·tativo e qualitativo ...
quanti
.
A análise e o conhecimento supõem conceitos (categorias)
.
.da (permit. indo con-. ,
'm um ponto d e parti , ~&•Por e
mas t ambe .
numera r uma escala). Sabe-se que um ntmo e lento ou tá .
aos nossos,
Pi-
do somente em relação _ te
a outros (freque. ntemen
s de nosso andar, .de nossa respiraçao, de nosso cora.·
aquele .
- ). Se bem que cada ntmo tem .sua medida própria e es.
çao ,. .
pecífica: velocidade, freq uencia, ,.un~dades. Espon~aneamente,
suas prefere. ncias, .suas referencias, suas
cada Um. de nós tem
frequências; cada um deve apreciar os ntmos referindo-se a si
mesmo, coração ou respiração, mas também horas de traba.
lho, de repouso, de vigília, de sono. As preferências se medem•
a medida (noção e prática) passa pela frequência. Técnica:
definidas permitem medir as frequências.
Nossas sensações e percepções, aparen tement e plenas e
contínuas, contêm figuras repetitivas, dissimulando-as. As-
sim como os sons, as luzes e as cores, os objetos. Nós mesmos
contemos a diversidade dos nossos ritmos , dissimulando-os:
nós somos corpo e carne, para nós, quase objetos. Não total-
mente, no entanto. Mas o que perceb e um mosqu ito, cujo cor-
po não tem quase nada em comum com o nosso e cujas asas
batem ao ritmo de mil vezes por segund o? Este inseto nos faz
ouvir um som agudo e nós enxerg amos uma pequen a nuvem
de asas, ameaçadora, que busca nosso sangue . Em resumo, os
ritmos escapam à lógica, contud o eles contêm uma lógica, um
cálculo possível, número s e relações numér icas.
Aqui se reencontra um sentido da pesqui sa, um objetivo
filosófico: a relação do(a) lógico(a) e do(a) dialético(a), isto é,
do idêntico e do contraditório.
O procedimento intelec tual caracte rizado pelo dual (a
dualidade) tem aqui seu lugar com as oposiç ões tomad as nas
s~as relações, mas também cada uma por ela mesma . Foi pre-
ciso levantar a lista das oposiç ões e dualid ades que entram
· · d o primei ramen te a velha assimi lação en-
na an ª'fise, reJeitan
63
crrtica da coisa
. t mas
ELEMENTOS DE RITM
mov imen o,
a um determinismo).
. t os' Nestes apon tame
_ ntos, o term o análise aPare-
I nsis am . .
,
vana . s vez es, sem definiçao, tom ado com o na linguagem
ce .
O ra, a abordagem analítica se complexifica a partir
comum. plex as, com proce-
que aborda realidade s com
.
d o mome nto , .
. t refin ados . A análise classica isola
. _ um elemento, 0
d imen os
aspecto do objeto. É redutora por definiçao: A análise dita
estrutural coloca à luz term os opos tos - dois a dois _ para
estudar suas relações e interações (assim com o: o tempo e 0
espaço, 0 significante e o significado etc.). Qua nto à análise
dialética, hesitante dura nte mui to temp o, mes mo após He-
gel e Marx, ela revela três term os em inter ação : conflitos ou
alianças. Assim como: "tese-antítese-síntese" em Hegel, ou
em Marx: "econômico-social-político". Ou há pouco: "tem
-
po-espaço-energia". Ou ainda: "melodia-harmonia-ritmo».
A análise triádica se disti ngue da anál ise dua l bem com
o da
análise banal. Não chega em uma sínte se segu ndo o esquema
hegeliano. Assim, a tríad e "tem po-e spaç o-en ergi a" liga três
termos que ela deixa disti ntos sem fund i-los em uma síntese
(que seria um terceiro termo).
Alcançamos a leis que aind a não tem nom es e talvez não
possam tê-los jamais. Eis aqui:
1. O prazer e a alegria exigem o reco meç o; o agua rdam ,
mas
ele escapa. A dor, essa, sim, volta. Rep ete- se, enqu anto a
repetição do praz er enge ndra dor (dores). Con tudo , a ale-
gria e o praz er têm uma pres ença , enq uan to a dor resulta
de uma ausência (de uma funç ão, de um órgã o ou de uma
pessoa, de um objeto, de um ser). A aleg ria e o praz er são,
eles são o ser; não o sofrimento. Os pess imis tas afirmavam
0
inverso: somente o sofr imen to é ou exis te. As proposi-
ções ~ue precedem fund am um otim ismo , apes ar de tudo.
2· Qual eª relação do lógico e do(a) dialé tico( a)? A lei lógica
65
crrtica da coisa
·
asam sem pretender «.e.1a1ar verdadeuament e" a' maneira dos
ltósofos)? Destacar, elucidar, formular tais articulações - em
termos familiares, um imbrqglio - são tarefas da filosofia e
dos filósofos. Por vezes souberam e dis~eram que a dialética
não destrói a lógica - e a(o) lógica(o) penetra na(o) dialética(o).
Sem elucidar este ponto.
o espectro das interrogações teóricas vai da abstração
pura - a lógica da identidade - à complexidade plena de con-
tradições do real. Imenso questionário, cujas respostas se dão
no seio das questões e, no entanto, se escondem sob palavras,
locuções, fórmulas . É necessário, muitas vezes, desentocá-los,
trazê-los à luz: mostrá-los.
Os amantes de paradoxo~ (frequentemente fecundos) po-
dem afirmar que a matemática é impossível: para numerar
as afirmações (1 °, 2°, 3° etc.), é preciso dispor dos números.
Petição de princípio? Sim, mas as matemáticas avançam dei-
xando lá atrás o paradoxo inicial.
Os índices e indicadores se associam e vão todos no mes-
mo sentido. Hoje em dia, os homens, a humanidade, a espécie
humana, atravessam um p~ríodo de provações onde tudo é
111
r
66 ELEMENTOS DE R
ITMANAL
~ ISE
,
-
cAPíTULO 2
Oritmanalista
Retrato preditivo
73
ELEMENTOS DE RITM
74 ANAuse
isso sobr e uma tela, simp les supe rfíci e. A met amo rfos e não
imp ede a resti tuiç ão da cois a tal qua l. Ao mes mo tem po enig-
st0
mát ico e simples, pov oan do uma simp les supe rfíci e, o ge
do pint or tem o pod er de evo car um tem po (o gast o do par
de
Oritrnanalista 79
a p ad
Ç e u m a lo n g a m is é ri a . P
apat re se n o r c o n s e g u in te
s os,).e de prese ntes. A presença d o ,
urna serie , q u a d ro tr a z to d o s est
b é m a p re s e n ç a es
te s e e taro d e V a n G o g h ,
presen d in a d a pelo . d e s u a v id a
ob Illas oro g e st o c n a d o r.
P re, s m .in.,ades de te x to s e cit . -
açoes sobre o s n.
Entreª tm o s , a q u i.
a bem si.n gular: " Q u a n d o o lh a m o s u m
esta uill de que u m ri tm a constelação,
o v e m d o s a s tr .
esta 11.-v• 'los certos orq o s , n tm o q u e
ue p e n s a m o s q 'l '
nÓ5 supoJl. lO,S p . c u e 3: e m c1. m~,
. se p a s s a 'a l-
coisa que ombina esses ele m e n to s ,
guma . c e q u e s e n.a m a .
b tancia1que a d a e strela to m a d a s is
su s . a ordem e p a ra d a m e n te " . E s tr a -
1
das constelaçõe
nho' Pois s, q u e d a ta d a A . .
· d e n ominações (as U n ti g u id a d e ,
corn suas rs a s , o Co ch e.u ) , b' ,
. te laç õ . o e tc ., e a r lt ra -
na As cons es re s u lt a m .d e , .
· u m g e st o magico: s e m
tore sem saber, desde o s C a ld e u s , e s ta au-
'b s o b ra s re in a m se lh e s
atn ue m i•nfluências. O te x to d e C ,
dade (desejada) ex o rt a z a r, d e u m . .
trema, descreve a 1ngenu1-
senão abismos, u m a o rd e m lá o
distorção fa b u lo nde não há
em conflito. A atra s a e , talvez, forças
ção n e w to n ia n a colossais
uma figura de h a rm ? K a n t chegava a v e r n
o n ia : " o c é u e s is s o
Mas hoje o céu est tr e la d o .. . a L e i m o ra l. ..".
relado se p e rc e
ravelmente-mais v be e se conceb
asto e s e m fo rm e in c o m p a -
explosões, galáxia a (b u ra c o s n e g ro s ,
s cíclicas, re d e fu n is ,
simultaneizava o c m o in h o s ). O gesto h u m a n
éu, p ro je ta n d o o
apreciando os desl n e le u m ri tm o
ocamentos a p a re humano,
O Céu\ Pensem n n te s d o s o b je to s
a q u il o q u e ele celestes.
de Kant, cujo racio re -p re s e n ta l N ã o a
nalismo m o ra l quele
va tr.aço t d' · m u it o m o d e rn
s ra 1c1ona1· s, m o c o n s e rv a -
en. viava sem a s o c é u q u e falava,
cessar m e n s a g e q u e re s p o n d ia ,
ciam, aquel d
ns, e o n d e o
e o nde a prese~ s querubin .s
ç~ ç:eleste m o ra des-
v a e p a ra o n d e
os
1 .
Mas quando a Presenç a se manifes ta, seria nece , .
também sublinh ar seu inverso: a ausênci a dotada de um 0
ao eu.
ssari
der maléfico, o Negativo, o Diabóli co, o Nada ativo persona-
po-
lizado frente ao Ser (aos Seres). Em resumo , o demoníaco, au-
tor de todos os desastre s e catástro fes. Tendo seus ritmos que
incomo dam àqueles do bem, ele também evocado por certos
gestos, ritos, sinais e ritmos. E mestre das forças destrutivas,
o fogo e a sombra, a tempest ade e a torment a, sobre a super-
fície situada ao inverso do Céu, nas sombra s infernais. Como
não se pode alojar Satã ao lado de Deus no Céu, imaginou-se
a sua queda, o primeir o pecado, antes daquele de Eva, talvez
durante uma existência anterior , uma potênci a já feminina, a
enigmát ica Lilith. O anjo caído toma lugar com as potências
maléficas. É a soberba cosmolo gia de Dante, mais distante
para nós que as estrelas de Cortáza r.
. Mas o ritmana lista não tem nada em comum com um pro-
feta ou um feiticeiro. Nem com um metafís ico ou um teólogo.
Seu gesto e seu ato o relacion am à razão. Ele espera espalhá-la,
levá-la para mais longe e mais alto, reencon trando o sensível.
Em resumo, ele não é um místico! Sem, entretan to, se colocar
como um positivista, para aquele que constata : o empiristª·
Ele modifica o que constata : o coloca em movime nto, reco-
nhece seu poder. Neste sentido, ele parece próxim o do poeta,
s,
·unaoal1s1a
on
,. do hornern de teatro. A a rt e , a p o e s ia • a m ú s ic
, a, o
a l
ou
entªº trou)(eram g u m a coisa (mas o q u e"?. ) a o c o -
Il
teatro se llPsrenão . d o r descia n
o espe lharadrn. O c r ia as ruas da
·dianº· E e b·tan h a b it a v a m e n tr
u h a tes re tr a ta os e o s c i d a da- o s .
d s
cida e·' ot1
1
d.
1iatrl a v1·da cita in a.
E,les ass~manalist . a lo n g o te
a p o d e n a ,b s r m o , te
f/0 r1 náloga: que as r e to r n e m a o c o• 1~ 1-:a!"
"!n=-o~ e a1
j
·sa d o r a
co1 e haatrl· se d a r a v id a ,
. terven rn Pre te n d e r m ~. m a s r e s ti tu in d
o
in , l n a s c onsc1e ... n c ia s e n o p e n s a m e n to , e l
lenarne nte o sens1ve
p uzaria urna p m a
la d a tr a n s 1 o r ç ã o revolucioná
.e d e
are~ d d e m ria e s te
rea d d e c lí ,.
111undo e esta soc1e a e n io . S e m p o s iç
ã o p o h t1 c a
declarada~ , o c a d it a m o
A partir da ep derna, o conc
. e it o d e o b r a
m d esaparecer, a o c o n tr á r io , s e e s te se
obscurece se n d e e s e d if e -
. uc . produto e
renc1a s edaneamente . o a c o is a . O r 1. tm .
r zará obras, renov a n d o o p r ó p r io c o . a n a l1 s ta
rea i d . do q n c e it o d e o b r a .
u a l se te m ta n
to f a la d o ( e m
0 , eseJO, m o
cos), e, ao mes te m p o o b r a e te r m o s ps1,qu1.
p r o d u to d e o -
, b r a s . Or
tem seu rl·tmo·, ele é u m r it . . a , e le
m o , a in d a q u
finalidade) se sit e s e u ob3et1vo
ue f o r a d o s e u (sua
lhes permaneçam a to ( o p e ração) ou que
in te r io r e s . O esses
meiro caso; o des d e s e jo s e n s u a
ejo e s té ti c o , n o l entra no pr
s e g u n d o . E n tr i-
e o desejo, existe e a n e c e s s id a d
u m a d if e r e n ç a e
descontinuidade. b e m c o n h e c id
A in te r v e n ç ã o a, mas não há
escava um abism d a p a la v r a e d
o. A n e c e s s id a a m e m ó r ia n ã
d e e o
0
trabalho e o r e p o o .d e s e jo , o s o n o e a v ig
u s o s ã o r it m o íl ia ,
temp \º1d d s e m in te r a ç ã
ora a e n a- o d o . E s s a v is ã o
da
definições· n e f in e n e m uns nem o
· a a n a,11· se. Re u tr o s ; e la e n t
s ta s u r p r e e n d ra nas
de, o deseJ· o a fl e r ( c a p ta r ) a n
, s re e x o- e s e e c e s s id a -
Neste fim 1 a s p<}~~ões, n o
mos· d' t · . s outros.
. l erença e
' ª g u n s c o n c e it o s
s e e s ta b e le c e
elinea f r e p e t· - . m . R e c a p it u le
r - req iç a o - 1n ~ e r a ç - . -
ritnüa... A • a o e c o m p o s iç ã o
u e n c ia s e m e d - c íc li c o
id ~ s .. . e u r r i t
mia, a-ritmia
, polir-
1
1
CAPÍTULO 3
Visto da janela
1
NT· E ·
· scntora francesa de romance que teve inúmeras obras publicadas
sob o pseud • ·
quem onimo do marido, que teria se apropria do de suas obras e com
febv ~mpreendeu uma batalha pelos direitos autorais. A obra a que Le-
· e, p ans
re 1az referê ncia · de ma fenêtre, com primeira edição de 1942.
83
84
ELEMENTos
DE RIH,11\N
ter sido apreendido por ele; é preciso se d . Atisi
ezxar le
abandonar à sua duração. Como na mús • Var, se d
1ca, na a ar s
de uma língua (somente se entende bem Prendiza ' e
os senrd gelll
deamentos quando se consegue produzi-l . 1 os e e
ritmos falados). os, isto , llca
e, Prod,, .'
"Zlr
Então, para apreender este objeto fugid ·
. , . . io, que não ,
mente um o b'}eto, e preciso situar-se ao mes e exata
' mo tem o ,
e fora. Em relação à rua, uma sacada serve . P , dentro
. , . muito bem
isso, e e por esta mirada (da rua) que se dev Para
invenção das sacadas e aquela do terraço, de d e a lllara 'Ih
vi 0sa
, ~e~~·
tambem a rua e os transeuntes. Na falta disso lllinaA
, voce pode
contentar com uma janela, com a condição de ue _ se
. . b q nao lhe
proporcione uma vista so re um canto sombrio ou sobr
úmido pátio interior. Ou sobre um gramado sempre d e urn
eserto
Da janela aberta sobre a rua R., em frente ao célebre centr~
2
P. , não é necessário se debruçar muito para ver ao longe. À
direita, o centro-palácio P., o Forum, até o Banco da França
(central). A esquerda até os Arquivos. Perpendicularmente a
esta direção, o Hôtel de Ville e do outro lado a Arts et Métiers.
Toda Paris antiga e moderna, tradicional e criadora, ativa e
preguiçosa.
Aquele que caminha na rua, lá embaixo, está imerso na
multiplicidade de barulhos, dos rumores, dos ritmos (incluin-
do aqueles do corpo, mas será que ele presta atenção niss~,
exceto no momento que atravessa uma rua, pois · Ihe é prec1-
so calcular aproximadamente o número dos seus passos). Ao
.contrário, da janela, os baruIhos se d 1stinguem,
. . os fluxos se
separam, os ritmos se respondem. Em d ireçao · a direita, em-
N '
pornpidou,
2NT: R. referente à Rua Rambuteau e P. referente a Centre
Henri Lefebvre morava nesta esquina.
85
· nela
Visto da•Jª
, vozes confu-
avessam, fraco mu rm úri o, passos
tres ar t a perigosa, sob
d
pe es,. e conversa atravessando um a esquin
stos a saltar, táxis, ônibus,
sas- Nao sde feras e elefantes dispo
nsequentemente, silêncio
a ameaÇ: s veículos diversos. Co , vezes
, .o, as
minboe 't multidão. Um tip . o d e d oce mu rm un
ca
relatiVO nes a
·to um apelo.
ículos param, produzem
uJll gn,. 'as pessoas, qu an do os ve . a' esquerd a
Entao , s e pa lavras. D a d.ireita
o ba rul ho : pe
todo outr re as calçadas.
um nte E pe la ru a pe rpe nd icu lar , sob
inversame . pa ram . Um segun, do de si-
e . rde passos e palavras
Ao sina1 ve da' a largada, a pa rti.da de dezenas-de veiculos, os
e é da . rapi'd amente possi,-
1vendo o mais
A •
po
fun do da marcha, salvo
retomada brutal, pé no acelerador, ao
rdo en tre isso que se vê e
engarrafamento... ). É notável o aco
ta concordância. Talvez
aquilo que se ouve (da janela). Es tri
oc up ad o pela imensa loja
porque o ou tro lad o da ru a esteja
qu e imortaliza um Presi-
apelidada Beaubourg, de ste no me
e vindo, numerosos e si-
dente. Desse lado, tra ns eu nte s ind o
ens e velhos misturados,
lenciosos, turistas e su bu rba no s, jov
lo ao longo da cultura.
solteiros e casais, ma s ne nh um veícu
uida, a corrida barulhenta
Após o sinal vermelho, logo em seg
feras, pe qu en as ou gra nd es, os monstruosos caminhões
das
rum o à Ba stil le, a ma ior pa rte dos pequenos veículos
vir am
mo vim ent a em dir eçã o ao Hô tel de Ville. O barulho cres-
se
cresce em int en sid ad e e po tên cia , em altura, tornando-se
~e,
tentado pelo mau cheiro
Insustentável, em bo ra bastante sus
novo pedestres. Períodos:
do~ carburadores. Depois pa ra. De
s mi nu tos . Du ran te a fúr ia do s aut omóveis, os pedestres se
doi
po r aqui, po r ali; o cinza
:!I o~ era m, um coágulo, um gru mo
e estes amontoados se
mina com ma nc ha s multicoloridas,
- 86
ELEMENTos
DERITMA1¼
1st
desfazem para a corrid a que segue. As veze
nam no meio da passag em e os pedes tres os e s, carros estac'
ontorna 10,
as ondas em um rochedo, não sem conde nar lll, co"'
com olh •110
contentes os motor istas dos veículos mal po . . ares des,
mos duros: altern âncias de silêncio e de estros1c1ona
d
d
os. Rit-
multa neame nte quebr ado e marca do, impressi· n o te
, lllpo si,
que de sua janela se põe a escuta r, o que sur onando
O aquele
. h , 1· d
que o movim ento eteroc 1to a multid ão. preend e in .
ais
Multi dões heteró clitas, sim, turist as de pa'
tes, F1n. l"andº1a, Suec1a,
, . p ortug al . carros têmisesd.fid'istan
, CUJOS
1 cuida.
-
.
des para encon trar estaci onam ento, compradores v· d
10
longe, negoc iantes , aman tes de arte ou de novidades ·os de
, Jovens
subur banos que irrom pem entre as horas ditas de pico, de
forma que há sempr e muita gente do mund o em volta dos
enorm es bibelôs metál icos; rapaz es e moças avançam fre-
quent emen te de mãos dadas , como para se apoiar nesta pro-
vação da mode rnidad e, na explo ração destes aerólitos caídos
no meio da velha Paris, vindo de um plane ta vários séculos à
frente do nosso , e ainda por cima fracassado!...Muitos dentre
estes joven s andam , andam sem trégu a, ao redor dos edifí-
cios, do Beaub ourg, do Fórum ; podem ser vistos várias vezes,
agrup ados ou solitá rios; camin ham incansavelmente, masti·
gando chicle tes ou um sandu íche. Não param senão para se
deitar , certam ente cansa dos, no chão da esplanada, nas ga·
lerias do Fórum chiraq uiano3 ou sobre os degra us da Fonte
dos Inoce ntes, que agora so, serve m para este uso. o barulho .
e. . -
que per1u ra o ouvid o nao prove, m dos transe untes, mas sun.
dos moto res arran cando com toda potên cia. Nenhum 0uv1·s
do, nenh um apare lho poder ia apree nder este conJu . t fluxo
n o,
comuna eJll
3NT: Referente a Jacques Chirac, primei ro prefeito desde ª
1871, eleito em 1977.
87
· nela
Visto da 1ª
etáli cos ou carn ais. É preciso, para apre ende r os
de corpos rn ouco de temp o, um tipo de med itaçã o sobre o
. mos, urn p
r1t a cidade, as pess oas. -
ternPº' . inexorável, que se aten ua apen as a noite , se
A este ritrn o . . .
,l"). tr·08 rimo s men os vivos, mais lentos: a ida das
õern ou
sobrep escola algu ns cham ados muit o barulhentos,
. ças para a '
tride ntes, grito s de reco nhec imen to matinal.
crian
/ ~~º~ os com prad ores , segu
.
idos
ate . nove e meia , cheg am
D pois pe1as. .
e ' elos turis tas, segu ndo um horá rio, quase sempre
de perto p alvo exce ções (temp orais - publ'icita-
. ou oper açao . ,
0 mesmo, s
. fl xos as aglo mera ções se suce dem ; eles engo rdam ou
na); os u , s, para em
e m mas semp re se acum.ulam nos canto . .
emag rec , dos
•da abrir um cam inho , se mist urar e sair do meio
segui
veículos.
Estes últim os ritm os (alun os, com prad ores , turistas) ten-
deriam a ser cíclicos, com perío dos long os e simples, no bojo
de ritmos mais vivos, alternativos, com perío do curto , os car-
ros, os frequentadores, os emp rega dos, os clientes dos botecos.
A interação de ritm os dive rsos, repe titivo s e diferentes faz a
animação, com o se diz, da rua e do bairr o. O linear, em resu-
mo, isto é, a sucessão, se faz de idas e vindas: ele se combina
com o cíclico, os mov imen tos de long o perío do. O cíclico é a
organização social que se man ifest a. O linea r é o dia a dia, o
rotineiro, por cons egui nte, o perp étuo , feito de acasos e de
encontros.
A noite não inter rom pe os ritm os diurn os, mas os modifi-
ca e, sobretudo, os torn a mais lentos. Cont udo, mesm o às três
ou ~uatro hora s da man hã, há semp re algu ns carro s diante
v Ih A
ddo sinal erme o. s vezes, U;m deles, cujo moto rista volta
s e uáma noitada, avan ça o sinal. As vezes tamb ém, dian te do
em foro e se . .
não há . ~s sinai s alter nado s (vermelho, amarelo, verde),
deses eninguem, e o sina l não deix a de funcionar, no vazio,
p rante mec anis mo social, em. inexorável marc ha no
88
ELEMENTos
DE AITM
u tan eo
•
, o 1m
,
ove_. us1vo
P so s O _ .
EnganO ,
O
espetáculo? Na o e sim. Nao: eles co - ~ - - - - - -. . . .
o quad ro, en te ampliol.4-,apro-
_ resente. A mo de rn ida de cu rio sam ase
0 cL o e
saod p e, ao m- ;sm o tem po, dilapi
fun ou e do s de la)!.S (pelas mídia$). ª P112lifi-
--res-s ão da s dis tân cia s
sup o ma is gue reflexos e
cãÕ presente, ma s estas mí dia s nã o dã
an tes festas ou massacres,
so'mbras. Vocês ass ist em às inc ess
as explosões; os mísseis
vocês v~ m os cadáveres, co nte mp lem
lam em fre nte ao s se us olh os . Vo cês estão ali!... Mas não,
deco
o est ão , se u pr es en te se co mp õe de simulacros; a ima-
vocês nã
o persegue, nã o está ali, e a
gem diante de vocês sim ula o real,
o tem na da de dramático,
simulação do dr am a, o mo me nto , nã
senão no verbal.
qu e mo str a a jan ela ab ert a so br e um a das ru as mais mo-
O
quilo, seria
vimentadas de Pa ris , o ue pa rec~
e caráter um pou-
esse ttmento do es pe tác ulo At rib uir est
jor ati vo a est a vis ão (co mo tra ço do mi na nte ) seria injus -
co pe
é, do sentido. Os traços ca-
to e passaria ao lad o do real, isto1
tem po rai s e rítmicos, não
racterísticos sã o ve rd ad eir am en te
uais. Ide nti fic ar, es cu tar os rit mo s, req ue r um a atenção,
vis
palavras, isso serve de gol-
com um ce rto tem po . Em ou tra s
or, barulhos, gritos. O
pe de vista ap en as pa ra en tra r no rum
clá ssi co em fil os ofi a, "o ob ie't o" nã o convém ao ritmo.
termo J ,
"
nd o o en qu ad ram en to estreito da
Objetivo"? Sim, ma s ex ce de
lti pli cid ad e dos sentidos
objetividade, ap or tan do -lh e a mu
(sensoriais e significativos).
A sucessão da s alt ern ân cia s e
da s repetições diferenciais
sugere qu e, em algu ma pa rte . deste presente, h a, um a ord em
o , - d ºd ( d . ) .
tambem sao pro uz1 os e pro utivos ainda que se lhes
d z·
c1amem «z•zvres,, e ate, mesmo "tempo e zberdade"· Mas esta
liberdade não é ela também um produto?
o, azeres
pro.
D
pa ra se r vi sta , m as pa ra dar
a ver? O ra , e1as ve,. m para _ve-Gi- la,
pa ra da r um a ol ha da di str aí
da so br e aquilo que ela expoe.
ra -s e em to rn o desse vazio, qu . de pessoas
e se en ch e de coisa se ..
pa ra se es va zi ar e as sim vai. Se ãov 1na
rá qu e estas pessoas n . J11si,
so br et ud o, pa ra se ver, se en
co nt ra r? A m u1t1•dao " dana a
'd" 1
m es m a, in co ns ci en te m en te , . ,. . de m ul ti ao.
um a consc1enc1a . a e as
A ja ne la re sp on de . Pr im ei ro
, o es pe tá cu lo da esquio
93
aJanela
visto d
. 1 res que, ainda há pouco tempo, formavam
end1cu a
ruas perp
. roda i
e· dade, povoada por um tipo de nativos, com
u.rn batr _ equenos comércios. Em resumo: as pessoas
rtesaos, p ,
.,.,uitoS ª s que ficam, moram nos sotãos, nas
jl' • Aque1a , _ man-.
do bairro. . . hos chineses ou arabes. A produçao deixou
corn v1z1n , .
sardas, e até mesmo a .Parte dos comercios, que deman-
lugares, . , . N d
estes . rmazéns estoques,,vastos escntonos. · a a
depósitos, a , . . .
dam. tes fatos, super ,conhecidos, arquiconhec1dos,
. r sobre es . .
a dize onsequências. Por exemplo: as multidões, as
. ue suas e .
mais q b esplanada de B.eaµ,bourg, em torno da Saint-
asso re a
mass . d' 1ou sobre a Place des Innocents, da qual seria
Merrt rne ieva . A •
. 'd d ti ·t de su1eitos e
ente e O viver em toda sua d 1vers1 a e, e1 ab. tivas Aqui. se
s fi . b'eto e
,ietos de estad os subje tivos e de guras o 1e
Ob1 • ·t e o o1
'
reen cont ra a velha ques tão filosó fica (o su1e1 .º róximo s
suas relações) posta em term os não especulativos, p
95
ajanela
Visto d na 1·anela sa be .qu e . to m a co m o_ pr i-
or .
. 0 observad m as qu e a pn m ei ra 1m pr es sa o
se
tt' ª·
rá ênc1a seu . te m po
, nd i-
da P
er de os rit m os m ai s di ve rs os , co m a. co
.
,,,eira ref mpreen
w ,o
ne ça m na es ca la . A pa ss ag em do su;eito ao
desloca e
Ies pe nn a um sa lto po r ci m a de um ab is m o, ne m
e e
Ção. qu ~o exige
. - ne nh •
pr e ne ce ss id ad e de
A
0 n~ d deserto. O s rit m os te m se m
ob;et
s de ou tro s da do s pe r-
a travessi~ ~ a, . a in ic ia l pe rs ist e, at ra vé
s,
eferenc1
di çã o fil os óf ica le va nt ou pr ob le m as m ei o re ai
uJllª r .
1 os
b'd A tra
e sã o m al re so lv id os ca so se pe rm an eç a na
ce · , . s qu .
fict1c10 ' gu em li-
111 . 'd de especulativa. O ol ha r e a m ed ita çã o se
eio
a111b1gu1 a
rça qu e vê m do pa ss ad o, do pr es en te , do po ss ív el
'"o
nhas de i,
no ob se rv ad or , qu e po r su a .vez é ce nt ro e
reúnem .
e que Se
periferia. re en co nt ra m , se re co -
mo alh ur es , os op os to s se
Aqui co
id ad e ao m es m o te m po m ai s real e m ai s
nhecem em uma un
so
ma is co mp lex a qu e se us el em en to s já en um er ad os. Is
ideal,
a e ~tua liz a o co nc ei to de pe ns amento dialético, qu e
aprofund
im pr eg na r es sa s pá gi na s co m m ui ta s qu es tõ es e
não cessa de
algumas respostas!
CAPÍTULO 4
Adestramento
97
98
ELEMENTos
DE RilMNt~
ses árabe s. Esses gesto s, essas mane iras _ lSt
apren didos . , sao ad
_ quirid
Os e
A repre senta çao do natu ral falsifica as 't
passa por natur al preci same nte quan do se s1 uações. Algu.
ment e e sem esfor ço apare nte aos modelosconfo. rnia Perfeitell\
tos valor izado s por uma tradi ção (por veze aceitos, aos háb·a.
vigor). Não está longe a époc a quan do pars recent .
e
, rnasem
1-
1 d
INT•C'd
• ª e, na Antiguidade.
100 ELEMENTos DE
R1n,1A¾J
anz. EcJa.
roq ue eles não pro duz em um obj eto , com u-. ..... 1 a llláq •
·d"ent ·
tca s. H a' mud anç as, me sm o que apenas mente as
me sm as, t
. pe1ahora,
- 1· ·1 . - t O ent o deix a
estaçao, c 1ma, 1 um 1na çao e c. trei nam um lugar
. . , . . . . d . func i·
o ser viv o. Ass im
ao 1mpreVIsto, a 1n1c1atlva onam os
ritos de cortes1a, .
ade stra me nto s hum ano s: o sab er mil itar , os
im organizados
o trab alh o na em pre sa. O esp aço e o tem po ass
iação: à liberdade.
dão lugar, par a os hum ano s, à edu caç ão, à inic
stramentos não
Um peq uen o lug ar. Nã o há ma is ilusão: os ade
ritmos. Na rua,
des apa rec em . De ter mi nam a ma ior par te dos
da; mesmo assim,
as pes soa s pod em seg uir à dir eita ou à esquer
não mudam.
seu and ar, o ritm o do seu and ar, seu s gestos,
se reparte se-
O tem po de apr end iza gem (ad est ram ent o)
gun do um a tría de:
. Entrecortada
a) Ati vid ade int ern a de con tro le. Sob dire ção
por pau sas (pa ra o rep ous o...).
sesta, tempos
b) Par ada com ple ta. Re pou so int egr al (sono,
mo rto s).
(um pacote de
c) Div ers ões e div ert ime nto s. Re com pen sas
cig arr os, um gra nde prê mio , um a me dal ha
etc.).
· tantâneo.
som ent e as atit ude s em ins
Ser ia um err o not ar · mento que
film e). É o trei na
Ou a sér ie de mo vim ent os (um
. b Je-
imp ort a: que imp õe, que edu ca, que ade stra d se esta e
o, , que
Ess e mo del o rítm ico , em uso no mu ndo to ·s Sera
depoi ·
ce ao lon go dos ade stra me nto s, se per pet ua
arnento 101
Adestr
,
ta nt o aos exércitos qu
an to aos estabelec1• m
\e na~ 0 convern en-
e .1 sos e esc olares, aos es cn·to' no · s, t b '
tos relig ° co
, ·os? Corn al gu m as -va ri an te s: razão o u desraz
m o am em aos
inonasten .· d recitaçã ~
ão, se-
o ou do m an ej o da s ar m as ? E
gund °
as leis a
es ta belece. S en. a se u ca ra, . , d'
pelos
ue e1e se
ritlll05 ~ . de -r ep ou so te r tn a 1co (tn.-
-d iv er ti m en to ) qu e lh
na,n°. •. at1
. v1da
? Talvez: este se d'
e confere u m a
ri a u m pa ra 1gma dos ·t
generahdaded. l' . . n m os an -
difica os sobr e a base fisio og1c a, is to e, ,
o co rp o h um a-
tigos e ·d d e deseJ·
Necess1 a es os se pr od uz em na in
no. te ra çã o. C as o os
1rnos (e as nece ss id ad es ) se .
ja m qu eb ra do s, is so po
ri . . de re su lt ar
numa eurr itmia ou en tã o nu m a a- nt m 1a . -
Entretanto, n ão se deve su pe re st.im ar a 1m .
portan " .
c1a e os e1ee1. -
de . ,
tos desse mO lo m ilitar inst1tu1do pelas trad . _
1çoes ro m an as e
. ·dade Os países prot ,._ .
pela 1at10 1 • estantes te m pa rc ia lm en te apaga-
do este modelo, não se m
so fr er su a influência,
testação dirigida co nt ra po r m ei o da con-
a igreja ro m an a, co nt
no e contra o ensinamento ra o direito ro m a-
tr ad ic io na l na E ur op
Escreveu-se e di sc ur so a co nt in en ta l.
u- se m en os so br e o
ros do que sobre o sexo ol fa to e os chei-
. E rr o: os ch ei ro s tê
importância. O m un do m u m a gr an de
m od er no qu er o in od
Os cheiros não pa re ce m or o: hi gi ên ic o.
ob ed ec er a ri tm os . O
fisiológico do ri tm o em de sl oc am en to
di re çã o ao ri tm ad o
como a influência do ad se el uc id a as si m
es tr am en to so br e os
tidos. Ademais, este m od ór gã os do s se n-
el o re in a, qu as e se m
0
sexo feminino. O ades li m it es , so br e
tramento da s m oç as e
foi _se~p~e duro, so br et da s m ul he re s
ud o na s cl as se s di ta
resi~tencia era ig ua l à pr s privilegiadas . A
os ritmo b' · es sã o. P or quê? C er ta
" m en te po rq ue
s aszcos te m , na fe m in
il id ad e, m ai s fo rç a-e
mdentos. As figuras de ss pr ol on ga -
ª oradas at ' a re si st ên ci a ab ra ng em de sd e D eu sa
e m at ro na s re sp ei ta da s
s, do s cours d'amours2
at é as
2 logos e prát' .
séculicasXvinculªdos ao d
\A •
1
v1éd1a .
' os II e XIII esenvolv1m ento do am or cortes na A
sivas há
. . Corno figuras expres
rigoros as nas relações soc1a1s e ~o:;:~ ne ,Marie de france.
Aliéno r d'Aqui taine e a condessa a
103
rnento d
de multidões, de grupos,
.e
Adestra -
compoem
Sociedades se t·tuem povos. Elas compreendem nt-
,A.s cons I 1 ·
Pos, de classes, .
d seres VIVO , s corpos sociais, grupos ocais.
cor e seja111 e esentações vagas e confusas a
JIIOS, qu . assa das repr - , . d. -
O
conceito?
~ da plura1I a das interaçoes ntm1cas,
.d de
l' .
a I
.
uma a Preensao , . .
s e niveis. od s corpúsculos às ga ax1as, mais
d egrau
rsos · ·
ve bº
uma vez! . . . - não. há separação
a e distinça9, . nem a Ismo
Se há d1ferenç t ·aI·s os corpos vivos, os corpos so-
as ditos ma en ' . - .
entre os corpresentaçoe _ s, as ideologias, as tradiçoes,
. os
_ pro3e-
dais e as rep
.as. Todos se co mpõem de ritmos em
. 1nteraçao (em,
tos e,utopi ,
. s reciprocas ). Esses ritmos
. se analisam, mas .as ana-
influencia
. ensament o n a- 0 chegam 1·amais a termo - muito me-
hsesano~
nos . dos fatos sociais precisos, como .o adestramento,
analise .
do que a ana,1ise
. do teatro, da
- música, da poesia,
. . como
, . ntmos.
-
Uma auscu ltaça 0
- não esgota os ritmos biofis1olog1eos: nao
.
~~ffi
de todos ' não apreende suas interações. De maneua
-
análoga, a análise dos ritmos de adestramento nao esgota a
compreensão dos ritmos sociais. Mesmo que a formação ao
trabalho, aos gestos repetitivos da produção seja inserida no
adestramento. Outros setores têm seus ritmos próprios e es-
pecíficos: a cidade e o urbano, por exemplo, ou os transportes.
Ou a cultura, mais ou menos funcionalizada e relacionada
com as condições do mercado, A liberdade nasce em um espa-
ço-tempo reservado, ora largo, ora estreito; às vezes reduzido
ªuma lacuna não ocupada pelos resultados do adestramento,
Aatividade criadora, necessária de ser distinguida das ativi-
dades Produtivas, procede da liberdade e da individualidade
que somente 1· - ,
Certos term se amp 1am em condições exteriores (a elas),
teressantes: o inst.
os, que
. se tornaram
. coloquiais,
. não são desin-
atémesmo oco Inhvo, 0 puls1onal, o funcional, o direcional,
_ Sera~portamental,
exploraÇoes. qu t. correspondem a pesquisas, a
e a ingern o nível .concepcional? A dúvida
104
ELEMENTos
Ot~ll~
persiste. Eles parecem se desenvolver e ISt
. d . - d.
t ivas e onentaçao em ireção às repre m metáfor as sig .
sentaçõe E nific
mas permanecem abstratos, estáticos· s. sses e a.
· por Veze sque.
conta o tempo, mas quase nada os ritm s, levalll
• .e. - • - os. O ra, a fo eltt
in1ormaçao, a comunicaçao passam por . rlllaçào
meio de r·t 1 Illos: rep,a
tições e diferenças, linearmente ou ciclic
. . amente. e.
A criança, como o Jovem animal tem
. , . , seus rit
gicos que se tornam baszcos, mas se mod .fi Illos hioló.
. .e. - i cam (são
fi cad os) . 1ome, sono, excreçoes. Estes sob Illodj.
. . ,. , retudo, são .
ficados pela vida social: a familia, a materni.d ade Os .Illod1.
[I educados são ritmos humanos, isto é soei . p · ritrnos
.
,. . .
grupos - familia, vilareJo ou cidade, instituiç-
b, .
, ais. or meio d
. ._ os
oes, re11g1oes et
-, os ntmos aszcos se reencontram, mas , por vezes, metamore.
foseados. Levar em conta ritmos puros poderia e ·
. , ventualmen-
te, renovar o sentido dos termos.
O inconsciente? Esta palavra-arranjo, esta palavra-pacote
(mala) tem um ou vários sentidos. Ela designa um nível real
e uma direção de pesquisas. Recusa, justificadamente, a tra-
dição cartesiana, tão influente em filosofia, na nossa cultura,
que identifica o ser e o consciente; que rejeita o ser, o verda-
deiro, o real, do lado de fora da consciência e do pensamento.
Mas o inconsciente não seria o que se passa no corpo, nos
nossos corpos materiais e sociais? O inconsciente não resi-
diria na relação entre o cérebro e os signos? Como funciona
a memória? A partir do inconsciente, certamente, mas será
que ela é uma substância escondida nas coxias do teatro, que
· , · ão funciona
sussurraria suas réplicas ao ator? Esse cenano n
melhor que o cenário cartesiano. Chegou a vez de dar lugar
. - ue não se re·
ao corpo, à sua exploração, à sua valonzaçao, 0 q ..
. 1, . 0 corpo-suJel10
duz ao simplismo do materialismo fi s10 og1co:
é o ser no mundo. }quer
Todo desregulamento (ou, dito de outro modo, quda uJJl
0
t ha toma
desregulamentação, ainda que esta pa1avra en
105
Adestramento
. l) dos ritmos produ z efeitos conflituais. Ele des-
·do oficiab . é sintomático d
5ent1
ertur a, e um d'1stur' b'10, gera1mente
loca e P . nal e não mais funcional. Ele pode també m
do 1es10
profun ' lacuna um buraco no tempo , que deve ser
zir urna ' _ . _
prod11 r uma invençao, uma cnaçao . Isso acontece,
bido Pº
preenc te e socialmente, apenas passan do por uma
.1 1·dua1rnen
ind V • , b'os e crises têm sempr e origen s e efeitos nos e
. o1stur 1
crise. . os· aqueles das-in stituiç ões, do crescimento, da
bre os ntrn .
so • das trocas, do trabal ho, isto é, aqueles que fazem
opulaçao, . .
P m a complexidade das socied ades atuais. Nesta
0 u expressa , . .. ,
t' a as mudan ças ntm1c as que se seguir am as revolu-
erspec 1v ,
P_ s oderiam ser estudadas. Entre 1789 e 1830, os própri os
çoe p na·0 são alcançados pelas modif icaçõe s na alimen ta-
corpos
-
çao, nos gestos e nos costum es, no ritmo do trabal ho e nas
ocupações?
Seria possível atingir, por uma via indire ta e, parado xal-
mente, a partir dos corpos , o uni:versal (concreto) que a linha
direta, filosófica e política, visou, mas não atingi u, ainda me-
nos realizou: caso o ritmo conso lide seu estatu to teórico, caso
ele se revele conceito válido para o pensa mento e como su-
porte na prática, não é ele este univer sal concre to, que os sis-
temas filosóficos não atingi ram, que as organi zações políticas
esqueceram, mas que é vivido, provad o, tocado , no sensível e
no corporal?