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Saúde

Freud e a hipnose
Antes de criar a psicanálise, Sigmund Freud usou a hipnose para investigar os
problemas de seus pacientes.
Por Alexandre De Santi
27 Fev 2020 13h57

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Antes de criar a psicanálise, Sigmund Freud usou a hipnose para investigar


os problemas de seus pacientes. E a técnica ajudou o austríaco a bolar, mais
tarde, sua ideia revolucionária: o conceito do inconsciente.

Texto: Agência Fronteira | Edição de Arte: Jorge Oliveira | Design: Andy Faria | Imagens:

Getty Images

Era primavera de 1889 quando Sigmund Freud recebeu a paciente Emmy


Von N. em seu consultório. A viúva rica de 40 anos vivia mal desde a morte
do marido, 14 anos antes. Sofria de depressão, insônia, dores, crises de
pânico. Seu nome verdadeiro era Fanny Moser, mas Freud consagrou o
pseudônimo Emmy no relatório que escreveu sobre o caso. No primeiro
contato, o médico notou que a mulher tinha gagueira e tiques na fala.

Registrou também movimentos convulsivos e xingamentos pronunciados


sem qualquer razão. Os indícios indicavam um caso de “histeria”, uma
denominação genérica para todo tipo de desordem física com fundo
emocional em mulheres e que surgia, supostamente, no útero. Hoje, o termo
está obsoleto. Freud, de qualquer forma, recomendou internação, banhos
quentes, massagens duas vezes ao dia e sessões de hipnose. Nada muito
diferente do que vinha receitando desde 1885, quando voltou de Paris e abriu
um consultório em Viena para tratar doenças da mente.

Para hipnotizar Emmy, Freud primeiro pedia que a paciente fixasse o olhar
em um ponto, depois ela ouvia sugestões para relaxar, baixar as pálpebras e
ficar com sono. Em um minuto, estava em transe, à mercê das orientações do
terapeuta, que dava ordens diretas para a paciente parar de gaguejar, estalar
a boca, tremer e xingar. Freud também aproveitava o estado hipnótico de
Emmy para investigar a origem dos problemas. Pedia para a mulher lembrar
em quais circunstâncias cada um dos sintomas havia se manifestado pela
primeira vez. Ao falar sobre as lembranças, Emmy parecia melhorar. Após
três semanas de hipnose, Freud havia feito diversos avanços. Emmy disse
que sentia medo porque na infância foi constantemente assustada pelos
irmãos, que nela jogavam animais mortos ou apareciam fantasiados de
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fantasmas. A gagueira começou quando ela precisou ficar muito tempo


quieta para não acordar a filha doente. E listou ainda dezenas de outros
traumas relacionados.

Depois de sete semanas, Freud deu alta para a mulher. O caso de Emmy Von
N. ficou famoso na história da psicanálise. Em primeiro lugar, porque mostra
Freud usando hipnose. Depois, porque evidencia que o médico aproveitava o
transe para utilizar métodos distintos de tratamento: um focado em
simplesmente fazer desaparecerem os sintomas, outro com objetivo de
desvendar a gênese desses distúrbios. A mescla é reflexo das diferentes
visões com as quais o médico de 33 anos se apoiava para desenvolver o seu
estudo sobre as doenças da mente. A hipnose era um instrumento valioso de
investigação.

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Freud percebeu que a hipnose servia para resgatar memórias traumáticas. Bettmann/CORBIS/Getty Images

Sigmund Freud concluiu o curso de medicina na Universidade de Viena em


1881. Era fascinado por pesquisas de laboratório, mas, para ganhar mais
dinheiro, foi atender pacientes no hospital geral da capital austríaca. Vendo
que a psiquiatria não era um ramo desenvolvido entre os colegas e que era
possível progredir quase sem concorrências no terreno, Freud começou a
estudar doenças nervosas. Em março de 1885, conseguiu uma bolsa de
estudos de seis meses em Paris. Foi onde conheceu Jean Martin Charcot,
médico que gozava de grande renome por conta de seus avanços nos campos
da neurologia e da psiquiatria.

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Freud ficou encantado com Charcot. Em cartas enviadas para a noiva,


definiu o médico francês como “estimulante, instrutivo e brilhante”. De fato,
Charcot era um figurão na França. O cientista tinha identificado e nomeado
uma porção de males neurológicos, entre eles o aneurisma cerebral. Era
capaz de diferenciar doenças físicas de distúrbios mentais. Além disso, ele
tinha resgatado a hipnose para fazer dela uma ferramenta para combater
uma variedade de sintomas.

O uso da hipnose por Charcot era simples. Ele primeiro colocava os


pacientes em estado hipnótico. Depois, ordenava que, ao acordar, o doente
não apresentasse mais determinado sintoma. Após a ordem, o paciente era
acordado. Na maioria das vezes, o sintoma realmente desaparecia, sem que o
enfermo soubesse o motivo. Era a técnica da sugestão hipnótica direta. Freud
percebeu que, se a sugestão hipnótica era capaz de livrar os pacientes dos
sintomas, a histeria não era uma doença fisiológica com origem no útero,
mas um mal psicológico. Desbravar esse terreno oculto passou a ser seu
grande objetivo de vida.

Quando retornou de Paris a Viena, Freud pediu demissão do hospital e abriu


um consultório de psiquiatria. Até então, casos de histeria eram tratados
com massagens, banhos quentes, choques elétricos e medicamentos. Freud
fez da hipnose sua principal arma para aliviar os sintomas dos pacientes. Ele
tentou convencer médicos vienenses dos benefícios da hipnose, traduziu
textos de Charcot, deu palestras, mas, cansado do que chamou de rejeição

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obtusa das suas ideias, decidiu se afastar da academia. E seguiu com a


hipnose no consultório. Mas, ao longo dos meses, percebeu que sua atuação
era quase mecânica. Freud desejava compreender as origens das
perturbações dos pacientes. Não estava feliz no papel de burocrático
hipnotizador.

Em 1889, Freud viajou novamente para a França, dessa vez para Nancy, onde
foi aprimorar sua técnica de hipnose com o neurologista Hyppolyte
Bernheim. E foi Bernheim quem mostrou a Freud que memórias traumáticas
podiam ser resgatadas da mente de pacientes em transe. O médico francês
dizia que, em condições normais, os doentes mantinham uma vigília que os
impedia de rememorar certos episódios. O transe hipnótico derrubava a
barreira. Então bastaria pedir insistentemente para que os doentes se
lembrassem do trauma. Essa hipótese ajudou Freud a pressupor uma mente
dividida em níveis, com algumas lembranças mais escondidas que outras.
Freud estava descobrindo o inconsciente, teoria que iria desenvolver melhor
ao lançar as bases da psicanálise.

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A hipnose ajudou Freud a pressupor uma mente dividida em níveis, com algumas lembranças mais
escondidas que outras. Ele estava descobrindo o inconsciente. Piotr Powietrzynski/Getty Images

Mas seu principal motor foi a parceria que manteve em Viena por dez anos
com o médico Josef Breuer, que também tratava casos de histeria com a
ajuda da hipnose. Os dois colegas, que trocavam informações sobre os
tratamentos, escreveram juntos artigos como Estudos Sobre a Histeria, de
1893. Breuer, de maneira semelhante a Bernheim, percebeu que sob hipnose
os pacientes conseguiam se lembrar de traumas. Mas ele não perguntava
diretamente ao hipnotizado sobre os episódios, apenas pedia ao paciente
para falar tudo que passasse pela sua cabeça. À medida que o hipnotizado
falava algumas coisas, o terapeuta atuava como investigador. Pedia para o

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doente em transe falar mais sobre determinado fato e conduzia o paciente


até as lembranças negativas. Era o chamado método catártico, em que os
sintomas da histeria desapareciam após o paciente em transe recordar as
situações em que os distúrbios surgiram.

Funcionava. O problema era que, passado algum tempo, as crises voltavam.


Foi o caso da própria Emmy Von N., que em 1890, um ano após ter sido
considerada curada, voltou a procurar Freud para tratar os mesmos
sintomas. Ele percebeu que a melhora era passageira porque, ao sair do
transe, as pessoas não se lembravam mais do que haviam externalizado
quando estavam hipnotizadas. Para Freud, isso fazia do paciente “um viciado
dessa espécie de terapia”.

Freud decidiu procurar um novo método de investigação. Com a técnica da


associação livre, o médico pedia ao paciente, agora consciente e deitado em
um divã, para falar o que viesse à sua mente, permitindo ao analisado expor
temores, desejos, pensamentos, sonhos e lembranças. Freud foi duro ao
refletir sobre a hipnose em 1918. “O tratamento pela hipnose é um
procedimento inútil e sem sentido”, disse em carta para a filha ao relembrar
o trabalho feito com Emmy. A psicologia, no entanto, iria redescobrir a
hipnose no século 20.

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