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CONSERVAÇÃO E REABILITAÇÃ O

DE PONTES METÁ LICAS

N U N O E D U A R D O S A N T O S

Dissertação para obtenção do grau de Mestre


em Estruturas de Engenharia Civil
pela Faculdade de Engenharia
da Universidade do Porto

Sob orientação do Professor


Aníbal Guimarães da Costa

Apoio financeiro da JNICT

Porto, Agosto de 1998


1ª edição
A elaboração desta dissertação, levantou muitas dessas linhas curvas que tornam o espírito inseguro. Sempre
acreditei na minha teimosia, de resolver essas interrogações, mas de facto a tarefa é ingrata. Não se consegue por termo a
tão vasto poder de querer saber mais. A mesquinhez de querer tudo bem feito, perfeito por ventura, separa-nos cada vez
mais do fim. Há que correr o risco de ser minimalista, e tentar finalizar o que não tem fim, com a consciência de que nada
está acabado. Que me perdoem aqueles, que me apoiaram no pouco que consegui fazer.
Nuno Eduardo Santos
À minha família,
Resumo analítico

Esta dissertação apresenta algumas metodologias de análise e processos de intervenção


directamente ligadas à área de Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas. A apresentação
destas questões é concretizada em três exemplos decorridos com pontes portuguesas, concretamente:

• a Ponte Metálica do Pinhão

• a Ponte Internacional de Valença-Tuy

• a Ponte Luiz I

Estes exemplos particularizam, quer as análises quer as soluções de reforço adoptadas,


resultando daí um método de trabalho globalmente comum a todos eles, e que se pretende seja útil
em análises futuras.

São também apresentadas outras questões de carácter mais geral e que surgem de uma
pesquisa bibliográfica dentro da área aqui referida. Essas questões prendem-se essencialmente com
problemas, metodologias e soluções que mais comunmente vêm sendo exibidas em livros da
especialidade. Juntamente procurou-se investigar junto daqueles cuja ligação profissional a estas
obras, lhes confere um crédito importante e que contribuíram com a sua experiência, para um
aumento de conhecimentos nesta área da engenharia.

Pretendendo-se com os estudos aqui descritos, dotá-los de um carácter prático, optou-se


assim por apresentar uma proposta para uma ficha de inspecção a ser usada neste tipo de projecto e
igualmente salientar as questões mais relevantes com ele relacionadas, decorrentes do envolvimento
e experiência pessoal.
Summary

This thesis presents some methodologies for analysis and intervention processes concerning
Conservation and Rehabilitation of Steel Bridges. This presentation is substantiated with three
examples, that occurred within portuguese bridges, namely:

• Pinhão Steel Bridge

• Valença-Tuy International Bridge

• Luiz I Bridge

These examples detail both the analysis and reinforcement solutions adopted for each case.
This work method, which is common to all of them, is expected to be useful in further developments.

Other general questions related with a bibliographic research done within this area are also
presented. These questions are specially linked to the most common problems, methods and
rehabilitation solutions found in specialised bibliography. Research was also conducted near those
people, whose professional life and experience is a valuable contribution to the knowledge in this
field of engineering.

Being the intent of this presentation to be practical, an inspection checklist is proposed,


meant to be used in this kind of projects and also emphasizing their most relevant issues, based in
my involvement and experience in this type of projects.
Resumé

Cette thèse présent quelques métodologies d’analyse et procès d’intervention liés à la


Conservation et Réhabilitation de Ponts Métalliques.Ces sujets sont adressés en utilisant trois
examples de ponts portugais, à voir:

• Pont Métallique de Pinhão

• Pont Internacional Valença-Tuy

• Pont Luiz I

Ces examples détaillent soit les analyses, soit les solutions de renforcement adoptées, d’y
provenant une métode de travail commune, qu’on prétend soit utile dans le futur.

On présente aussi d’autres questions plus générales, parvenues d’une recherche


bibliographique dans ce domaine. Ces questions adressent surtout les problèmes, métodologies et
solutions plus souvent montreés dans livres spécialisés. En même temps, on a conduit une recherche
auprès de ceux dont la liaison professionelle à ce type d’ouvres, leurs donnent un crédit important et
qui ont contribué, avec leur expérience, à une augmentation de la connaissance dans ce domaine
particulier.

Puisqu’on prétendait doter ces études d’un caractère pratique, on a décidé de présenter une
fiche d’inspection, pour être utilisée dans ce type de projects, et aussi de détailler les questions les
plus importantes parvenues de mon engagement et expérience dans ce type de projets.
Prefácio

Esta dissertação surge como forma de organizar e culminar o trabalho desenvolvido na área
das Pontes Metálicas, concretamente em estudos de reabilitação.

Desde as primeiras referências à construção metálica no curso de engenharia civil, que a


minha sensibilidade e interesse despertaram. Mais concretamente no 5º ano do curso e durante a
parte escolar do mestrado, em que desenvolvi trabalhos baseados em projectos reais de pontes
metálicas sob orientação do Prof. José Mota Freitas.

O início da minha vida profissional coincidiu com o final da licenciatura, ingressando na


equipa de engenheiros civis do Instituto da Construção, que entre 1995 e 1996 desenvolveu o Estudo
da Viabilidade de Utilização da Ponte Luiz I pelo Metro Ligeiro do Porto, estudo esse que serviu de base a
alguns dos desenvolvimentos desta dissertação. Posteriormente e continuando nesta área, participei
no Estudo Prévio de Reforço da Ponte Internacional de Valença-Tuy, e desenvolvo actualmente o projecto:
Ponte Metálica do Pinhão — Inspecção e Reabilitação da Obra de Arte, estando a trabalhar nestes projectos
no G.E.G. - Gabinete de Estruturas e Geotecnia, Lda.

Agora o G.E.G. e no início o I.C. proporcionaram um ambiente de trabalho e meios


disponíveis que permitiram o desenvolvimento dos estudos aqui exibidos, colocando ao meu inteiro
dispor os equipamentos informáticos, bem como bibliografia da especialidade. Facultando-me assim
uma sólida base de trabalho. Deste modo consegui avançar com as minhas intenções no
desenvolvimento do tema proposto, sempre apoiado pelos profissionais que em ambos os gabinetes
integraram as equipas de projecto.

O desenvolvimento de alguns pontos desta dissertação, não são de todo exaustivos, por um
lado as limitações de tempo inerentes a todo o processo de elaboração da dissertação não permitem
uma contínua pesquisa de determinados assuntos, obrigando ao cancelamento de certas ambições de
querer completar tudo o mais possível. Por outro lado a dependência de terceiros, compromete os
rendimentos pretendidos. Houve assim a partir de certa altura, que avançar com a informação
disponível, não podendo esperar mais por resultados e informações prometidas e que não mais
chegaram. Alheio a estes atrasos, vi-me obrigado a avançar com prejuízo de não responder a todas as
questões que me propus inicialmente.

Muitos foram aqueles no entanto, cuja atitude contrária merece não ser esquecida, para esses
me inclino agradecendo o seu esforço.
Agradecimentos

A todos os que contribuíram para a concretização desta dissertação.

Em especial:

Ao Prof. Aníbal Guimarães da Costa, como orientador e grande apoiante desta dissertação,
cuja disponibilidade deve ficar realçada.

Ao Prof. António Campos e Matos, cujo convite para ingressar no G.E.G., me permitiu
participar em projectos de estruturas metálicas que se desenvolvem no seu gabinete. Como
co-orientador, por partilhar os seus conhecimentos nesta área da engenharia civil.

Ao Eng. Vaz Pinto por me colocar o equipamento técnico e informático do G.E.G. à


disposição, e dar um forte apoio a esta dissertação.

Ao Prof. Mota Freitas, por me ter sensibilizado para as estruturas metálicas, pelas suas
excelentes aulas durante o curso, que foram a base de muitos dos desenvolvimentos posteriores. E
também pela sua disponibilidade para trocarmos impressões durante a elaboração desta dissertação.

À Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, cujo apoio financeiro foi muito
importante.

Ao Prof. Manuel Azeredo, cujo ímpar sentido crítico, foi imprescindível no estudo efectuado
da Ponte Luiz I.

Ao Prof. Carlos Sousa Oliveira, pela sua preciosa ajuda na elaboração da caracterização
dinâmica da estrutura, disponibilizando a aparelhagem e efectuando os ensaios in situ.

Ao meu amigo José Sena Cruz, que trabalhando comigo no estudo da Ponte Luiz I,
contribuiu de forma decisiva para o sucesso do mesmo.

Aos colegas do gabinete G.E.G. pelas sempre úteis trocas de impressões, em especial ao
Carlos Félix e ao Ricardo Leite com quem desenvolvi o estudo da Ponte Internacional de Valença-
Tuy.

Ao Prof. Fernando de Oliveira do DEMEGI, cujos esclarecimentos relacionados com os


ensaios de materiais foram imprescindíveis na elaboração da secção a eles dedicado nesta
dissertação.
Ao colega Rui Calçada, pelo sua contribuição nos estudos dinâmicos.

Ao Sr. Antero Pinto, pela sua disponibilidade em prestar esclarecimentos sobre a sua
actividade na J.A.E.

Ao Sr. Alberto Borges, contramestre dos núcleos de manutenção da C.P., pelos


esclarecimentos prestados sobre a actividade da C.P., bem como toda a bibliografia que me facultou.

Ao Eng.º. Clemente, por toda a muito útil informação sobre as reabilitações efectuadas pela
C.P.

Ao Eng.º Andrade Gil pelas conversas esclarecedoras.

Ao Eng.º Vítor Damião pelas informações prestadas.

À D. Lúcia Cerca, presidente da Junta de Freguesia do Pinhão, pela informação fornecida


relativamente à Ponte Metálica do Pinhão.

Ao António Alexandre e ao Fernando Vaguinho, pelos desenhos desenvolvidos.


Apoios

JNICT – Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica

COPISINDE, Centro de Cópias Lda.

Á LVARO MONTANHA Designers, Lda.


Simbologia

ºF – Graus Farenheit

ºC – Graus Celsius

xG – Abcissa do centro de gravidade

yG – Ordenada do centro de gravidade

A – Á rea da secção transversal

Ix – Momento de inércia segundo o eixo dos x

Iy – Momento de inércia segundo o eixo dos y

i – raio de giração

kN – Kilonewton

m3 – metro cúbico

m2 – metro quadrado

m – metro

cm – centímetro

mm – milímetro

MPa – Megapascal

GPa – Gigapascal

Hz – Hertz

M – Momento flector

N – Esforço axial

λ- Coeficiente de esbelteza

ϕ - Coeficiente de encurvadura

σ - Tensão normal

τ - Tensão tangencial
Índice do capítulo 1
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ................................ ................................ ................................ .................. 2
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Capítulo 1 - Introdução

As primeiras pontes surgiram por acaso, quando pedras ou árvores se depositavam sobre o
leito dos rios, permitindo o seu atravessamento. Educado pela natureza e orientado pelas suas
necessidades, o homem começa a modelar estas acções do acaso e inicia ele a construção de singelos
0atravessamentos, derrubando ele próprio as árvores e movimentando as pedras. Nasciam assim as
primeiras pontes.

Segundo Theotónio Rodrigues [10], a mais antiga ponte que existe ainda em serviço (isto em
1949) é a Ponte das Caravanas, sobre o rio Meles, em Smyrna. Tem um único vão de 14 metros e
conserva ainda a maior parte da estrutura primitiva. No entanto, a mais antiga de que há menção
surgiu sobre o Nilo, construída por Menés, rei dos egípcios, no ano 2.560 a.c. Mas é na Babilónia,
sobre o rio Eufrates, em 780 a.c., que é construída uma ponte em madeira com pilares de pedra, de 36
metros de vão. Descrita com minúcia por Herodoto, em 484 a.c., é a primeira que é notícia histórica.
Muitas outras pontes surgiram ainda antes da nossa era, mas foi com o império romano que
sofreram grande evolução, nomeadamente as de alvenaria em arco.

A primeira ponte metálica foi construída sobre o rio Severn na Inglaterra em Coalbrookdale,
decorria o ano de 1776. Era feita em ferro fundido, e manteve-se em serviço até à cerca de 50 anos
atrás (ano de referência, 1949) [10]. Ao ferro fundido sucedeu o emprego do aço laminado na
construção de pontes, tendo a primeira sido construída em 1863 em Maastricht na Holanda.

As pontes metálicas em Portugal marcaram uma época, quer ao nível histórico-cultural, quer
ao nível da própria história da engenharia civil portuguesa. Obras como a Ponte Luiz I e D. Maria Pia
no Porto e a Ponte Internacional de Valença-Tuy, em Valença do Minho, para citar alguns exemplos,
constituem autênticas obras de arte, revestindo-se de um elevado valor patrimonial, quer ao nível da
cidade onde se inserem, quer nacional ou mesmo mundialmente, como é o caso da Ponte Luiz I.

A sua reutilização ou manutenção, com a preservação desse valor, deve ser uma prioridade,
conseguindo-se deste modo o prolongamento do seu valor arquitectónico e estrutural. Importa aqui
referir que algumas das mais notáveis pontes metálicas nacionais não foram nem projectadas nem
construídas por portugueses. No entanto, o seu acompanhamento quer ao nível da avaliação dos
projectos, quer da fase de construção, foi efectuada por portugueses. Mais ainda, algumas dessas
pontes, foram alvo de projectos de reabilitação ou alteração elaborados por engenheiros portugueses.
Isto para dizer que o empenho nacional no acompanhamento destas obras faz parte da nossa história.
No entanto, em muitas delas, já passaram alguns anos desde as últimas intervenções de conservação.

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Capítulo 1 - Introdução

Casos houve em que o total abandono da sua utilização acabou por imperar, caso da Ponte Maria
Pia, actualmente fechada ao trânsito, ou a ponte da Régua (Figura 1.1). Outras há em que não
obstante continuarem em exploração, não são reparadas há diversos anos. É o caso da Ponte Luiz I,
que já possuiu uma equipa permanente, responsável sua conservação, não tem intervenção de
beneficiação há mais de 16 anos [52].

Figura 1.1 – Ponte da Régua, desactivada.

Presentemente o interesse na recuperação das pontes metálicas, quer rodoviárias quer


ferroviárias, tem vindo a ser mais divulgado e a ter lugar, podendo desde já apontar-se exemplos
desse empenho. A Ponte Luiz I foi objecto de estudos entre 1995 e 1996 com vista à sua utilização na
linha do Metro Ligeiro do Porto. No caso da Ponte Internacional de Valença-Tuy está a ser elaborado
um projecto de reabilitação e reforço, com o objectivo de permitir cargas e velocidades de circulação,
ao nível do caminho de ferro, mais elevadas. Outra ponte que também se encontra em fase de
projecto de recuperação é a Ponte Metálica do Pinhão sobre o Rio Douro. Outras há já reabilitadas,
como é o caso da Ponte sobre o Lima em Viana do Castelo, exemplo de uma ponte mista, rodoviária
e ferroviária. Quanto às ferroviárias, citam-se alguns exemplos [50]: Ponte de Alcácer, Ponte de
Padrões, Ponte do Corona na linha do Sado; na linha da Beira Baixa as pontes da Ribeira de Canas,
da Ribeira de Caímbros e de Ulmeiros e na linha do Douro a Ponte de Vargelas e de Arnozelo, a
Ponte do Tua e do Vale do Nudo. Pode ainda dentro das ferroviárias citar-se exemplos das que
foram completamente substituídas mas que se mantiveram metálicas, a ponte de Meimoa na linha da
Beira Baixa e a ponte do Mondego na linha do Norte.

Se por um lado a reabilitação das pontes metálicas pode ter apenas um carácter de
preservação da obra, cujas funções para as quais foi projectada se mantêm, outras há cujas novas
funções para as quais se pretende a sua utilização, acarretam normalmente problemas estruturais de

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

reforço, em resposta ao aumento das cargas actuantes e velocidades de circulação, acompanhadas


pelo cumprimento de novos regulamentos em vigor.

Dentro deste cenário interessa estabelecer critérios e metodologias de trabalho que resultem
numa eficiente intervenção na obra, respondendo com eficácia aos fins em vista. Nisto reside
essencialmente o objectivo da presente dissertação. Todo o processo é acompanhado com exemplos
que demonstram o funcionamento de tais metodologias de análise e processos de intervenção.

Associada à área da reabilitação, aparece a manutenção das obras, logo referida no início
deste trabalho. Não basta recuperar, é necessário manter. Neste ponto residem outras tantas e não
menos importantes questões que não podem deixar de ficar registadas, completando assim as
intenções de todo o processo aqui exibido. Estas questões prendem-se com os métodos, materiais e
equipamentos que têm vindo a ser usados nestas obras. No entanto, a maior experiência nesta área
decorreu há alguns anos atrás, já que ultimamente as questões da manutenção a nível nacional têm-
se esbatido com o decorrer dos anos e a prova está nos exemplos já citados em que as equipas de
manutenção deixaram pura e simplesmente de existir. Pergunta-se então, se hoje a informação
disponível é de facto significativa, se chega a ser inovadora, ou se vamos recuar a tempos passados.

As informações recolhidas nas entidades, responsáveis pelas pontes nacionais, não permitem
afirmar que a manutenção das pontes metálicas é inovadora, quer as técnicas, quer os materiais
utilizados enquadram-se num quadro de evolução que se mistura com o que se fazia há alguns anos
atrás, embora relativamente a estes últimos se possam apontar diferenças.

Constata-se nas diversas vertentes da manutenção, uma diminuição ou mesmo


desaparecimento das equipas de manutenção, ou seja, neste ponto nem aos tempos passados
recaímos, para tristeza de muitos que se interrogam sobre o dia de amanhã. Conforme se verá a
atitude relativa à manutenção das nossas pontes metálicas está longe de atingir os níveis anteriores.

Apesar destas dificuldades e simultaneamente para que nem tudo se desvaneça com o
tempo, ficam registadas algumas das questões ainda hoje tratadas, na área da manutenção das
pontes metálicas e que resultaram duma experiência de vida de vários homens.

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Índice do capítulo 2
CAPITULO 2 – METODOLOGIAS DE ANÁ LISE E PROCESSOS DE INTERVENÇÃO ................. 7

1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................7

2 RECOLHA DE DADOS............................................................................................................................ 10

3 PROBLEMAS TÍPICOS............................................................................................................................. 16

4 CARACTERIZAÇÃO DA PONTE .......................................................................................................... 25


4.1 CARACTERIZAÇÃO HISTÓ RICA .............................................................................................................. 25

4.2 CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA E MECÂNICA ...................................................................................... 25

5 ACÇÕES E COMBINAÇÕES................................................................................................................... 28
5.1 ACÇÕES PERMANENTES ......................................................................................................................... 28
5.2 ACÇÕES VARIÁ VEIS ............................................................................................................................... 29

6 MATERIAIS............................................................................................................................................... 32

7 ENSAIOS LABORATORIAIS E IN SITU ................................................................................................ 35


7.1 ENSAIOS LABORATORIAIS ...................................................................................................................... 35
7.1.1 Observação da obra .................................................................................................................... 35
7.1.2 Escolha das amostras.................................................................................................................. 36
7.1.3 Obtenção das amostras .............................................................................................................. 36
7.1.4 Referenciação das amostras ....................................................................................................... 36
7.1.5 Escolha dos ensaios .................................................................................................................... 37
7.1.6 Escolha dos provetes .................................................................................................................. 38
7.1.7 Execução dos ensaios ................................................................................................................. 38
7.2 ENSAIOS IN SITU .................................................................................................................................... 39
7.2.1 Equipamento e metodologia...................................................................................................... 39

8 CÁ LCULO ................................................................................................................................................. 40
8.1 PROGRAMAS ......................................................................................................................................... 40
8.2 LIMITAÇÕES DOS PROGRAMAS............................................................................................................... 41
8.3 CÁ LCULO MANUAL............................................................................................................................... 42

9 RESULTADOS........................................................................................................................................... 43

10 CENÁ RIOS DE REFORÇO..................................................................................................................... 45


10.1 GENERALIDADES................................................................................................................................. 45
10.2 SOLUÇÕES DE REFORÇO ....................................................................................................................... 46
10.2.1 Alvenarias.................................................................................................................................. 47
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

10.2.2 Aparelhos de apoio .................................................................................................................. 47


10.2.3 Estrutura metálica .................................................................................................................... 48

11 MANUTENÇÃO..................................................................................................................................... 54
11.1 ALVENARIAS ...................................................................................................................................... 54
11.2 APARELHOS DE APOIO ........................................................................................................................ 55
11.3 ESTRUTURA METÁ LICA ....................................................................................................................... 58
11.3.1 Limpeza e pintura..................................................................................................................... 58
11.3.2 Rebites ....................................................................................................................................... 60
11.3.3 Substituição de elementos........................................................................................................ 61

12 O ESTADO DAS PONTES METÁ LICAS NACIONAIS...................................................................... 63


12.1 A JUNTA AUTÓ NOMA DE ESTRADAS .................................................................................................. 63

12.1.1 A actividade da brigada da Ponte Luiz I................................................................................ 68


12.2 OS CAMINHOS DE FERRO PORTUGUESES ............................................................................................. 72

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Capitulo 2 – Metodologias de análise e processos


de intervenção

1 Introdução

As soluções estruturais das pontes metálicas são bastante distintas entre si, assim podemos
deparar com soluções de pontes suspensas, tipo pênsil, atirantadas ou constituídas por um sistema
reticulado de barras simples ou compostas com ligações soldadas, aparafusadas ou rebitadas. Estas
últimas em maior número do que qualquer das restantes, pelo menos no nosso país, apresentam
diversas configurações estruturais das quais se apresentam alguns exemplos na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Pontes constituídas por perfis compostos, Ponte do Vale do Nedo (esq. cima), Ponte de Padrões
(dir. cima), Ponte de Valença-Tuy (esq. baixo), Ponte de Garvão durante a substituição (dir. baixo)

As metodologias e processos de intervenção aqui apresentados focalizam essencialmente as


pontes que se caracterizam por soluções estruturais de barras constituídas por perfis compostos, com
ligações rebitadas, em alguns casos aplicáveis a pontes com ligações aparafusadas e soldadas.

7
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Grande parte destas estruturas provaram a sua durabilidade e funcionalidade durante


dezenas de anos, algumas com mais de 100 anos continuam em serviço (Ponte Luiz I). Esta
durabilidade e estabilidade estrutural só é possível garantir se houver uma manutenção regular que
contemple inspecções, reparações, reforço e pintura e eventualmente ensaios que permitam avaliar
estados de tensão, fadiga, etc. Se todos estes cuidados forem subtraídos à ponte, serão os agentes
erosivos que determinarão o seu tempo de serviço.

Uma das principais causas da degradação estrutural e funcional destas obras é a corrosão,
que acompanhada de um ambiente propício à oxidação do aço e da falta de pintura, desencadearão
um processo de perda de secção resistente, entre outros fenómenos. Danos provocados por acidentes
com veículos que chocam com elementos da estrutura, ou provocados por catástrofes naturais, como
sismos, tempestades, fogo e a fissuração do próprio material, devido à existência de ciclos de carga e
descarga durante longos períodos, assim como as variações de temperatura que podem provocar
oscilações de algumas dezenas de graus.

O projectista, terá ainda de ter em atenção que podem existir nas imediações da obra
industrias que, devido à libertação de gases ou lançamento de detritos nas proximidades, possam de
algum modo explicar um determinado tipo de degradação que a ponte evidencia.

A título exemplificativo de um factor deste tipo, cita-se o caso da zona central do arco da
Ponte Luiz I, que aloja um elevado número de pombas. Os excrementos destes animais provocam a
corrosão dos aços, que é naquele caso responsável por algumas das anomalias detectadas.

Outra questão que importa referir, diz respeito à evolução das cargas que circulam na ponte.
Muitas destas obras projectadas para determinados valores de carregamento, sofreram ao longo dos
tempos e de forma progressiva, um aumento dos valores das cargas, de acordo com a evolução
natural dos próprios veículos que nela circulam. Esta evolução não foi muitas vezes acompanhada
com estudos de verificação de estabilidade das obras.

Sucederam-se assim, situações em que as pontes foram sofrendo assentamentos diferenciais,


deformações não recuperáveis, fracturação de alguns elementos, enfim, uma degradação gradual do
seu estado que, sem comprometer um possível colapso, lhes diminuiram progressivamente o tempo
de vida.

As decisões de intervenção passam necessariamente pela ponderação entre factores


essencialmente económicos, que ditarão uma recuperação ou um abandono da obra, pelo menos para
os fins em vista inicialmente. De facto em alguns casos, a construção de uma nova ponte que
responda eficazmente às necessidades, é revestida de atractivos económicos e de execução em
detrimento de uma recuperação da ponte existente. Note-se no entanto que, uma ponte sem

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

condições para manter uma circulação ferroviária, pode com uma recuperação eficaz ser usada para
peões, preservando assim o seu valor arquitectónico. Assim se pode afirmar que, o valor patrimonial
das obras pode ser aproveitado quando o abandono parece inevitável. Deste modo se coloca a
primeira grande questão, recuperar ou abandonar? A partir deste ponto desenrola-se um completo
processo de avaliação da capacidade resistente da ponte e das necessidades futuras de capacidade
resistente, concluindo antes de avançar para qualquer projecto de recuperação propriamente dito, do
grau de recuperação necessário.

Para efectuar esta avaliação é necessário proceder a uma correcta avaliação do estado da
ponte. Tal obriga a uma recolha de dados eficiente, e à sua cuidadosa análise, de modo a que seja
possível efectuar um estudo credível, ainda que preliminar da obra. Só assim se depositará confiança
em futuros estudos que venham a ter lugar, e que podem culminar na elaboração de um projecto de
reabilitação para a ponte.

As intervenções de recuperação ou mesmo substituição, terão de ter carácter permanente,


acompanhadas desde o momento em que são concluídas, duma manutenção sistemática das obras
que avalie a sua estabilidade à medida que os carregamentos sofram alterações. Terão assim as
soluções de reabilitação de admitir cenários futuros de carregamento, não se limitando unicamente a
resolver o problema para a solicitação presente.

As questões das novas solicitações acabam no entanto por ser um assunto delicado e de
difícil resposta, já que, a regulamentação nacional ou internacional, não perspectiva grandes
alterações aos valores actuais das acções intervenientes nestes estudos. Convém no entanto, ter
sempre presente que quando estas obras foram projectadas, respeitando regulamentos então em
vigor, pensar-se-ia eventualmente da mesma maneira e afinal, tudo mudou. Parece assim mais lógico
olhar para o futuro da obra.

9
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

2 Recolha de dados

Sendo uma das fases mais importantes num projecto de reabilitação, a recolha de dados
representa um pilar onde nascerá todo o restante processo de recuperação. Daí, desde já se alertar o
projectista para um investimento cuidado, tanto na recolha como no tratamento de dados. Note-se
que uma deficiente recolha e tratamento de dados, resultarão num ineficaz processo de recuperação,
comprometendo todo o propósito de uma reabilitação.

A recolha de dados, passará obviamente por uma consulta dos documentos disponíveis
relacionados com a ponte: o projecto original; projectos de alterações posteriores, pertencentes ou
não ao mesmo projectista; documentos históricos; artigos de jornais ou revistas, que tenham
retractado acontecimentos particulares da obra, acidentes por exemplo. Estes artigos podem revelar-
se bastante importantes, dado que muitas vezes apresentam informação bastante pormenorizada,
podendo conter informações que documentos oficiais integrantes do projecto não possuem. Nestes
documentos integram-se as folhas de cadastro que os Caminhos de Ferro Portugueses (C.P.)
possuem (ver Figura 2.2), onde se pode encontrar uma vasta informação sobre as obras. A Junta
Autónoma de Estradas (J.A.E.) também possuí este tipo de documentos (Figura 2.3), não se
apresentando no entanto tão completos.

Figura 2.2 – Ficha de cadastro da C.P.

10
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.3 – Folha de inspecção da J.A.E.

Será oportuno referir que as primeiras dificuldades podem ser encontradas na recolha de
dados, nomeadamente nos que se referem aos documentos escritos anteriormente referidos. Existem
situações, como a da Ponte Metálica do Pinhão, onde praticamente não existem informações sobre o
projecto original, no que se refere à identidade do projectista, se se verificaram intervenções
posteriores, a data do início da construção, etc. Isto porque e segundo indicações dos responsáveis
da J.A.E. [53] todos os documentos que integravam o processo da Ponte Metálica do Pinhão
desapareceram num assalto (ou incêndio, as opiniões divergem) que os arquivos sofreram em
Lisboa. Assim se fica automaticamente entregue ao ponto inicial, não podendo recorrer-se a qualquer
tipo de informação histórica.

Deste modo, há que iniciar um processo de levantamento da obra existente, para prosseguir
com os estudos. Importa salientar a importância de que se revestem as visitas à obra, mesmo
dispondo de um completo processo histórico. Estas visitas permitem efectuar quer uma comparação
entre os dados constantes dos projectos que existem, quer um levantamento das anomalias
existentes. Acompanhando todo este processo com um levantamento fotográfico ou videográfico
eficiente, será possível criar uma base de trabalho em gabinete que evite sucessivas visitas à ponte
para esclarecer dúvidas que vão surgindo. O levantamento fotográfico é de facto
extraordinariamente importante; permite uma consulta sistemática da obra, clarificando muitas

11
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

dúvidas de geometria, das secções, etc. É um eficaz meio de guardar informação para consulta
futura. Permite deixar registadas muitas das anomalias detectadas, poupando trabalho escrito nunca
tão completo como uma imagem, do observado. Por outro lado, as fotografias podem muitas vezes
servir para determinar, ainda que de forma aproximada, as dimensões de alguns elementos
inacessíveis, pelo menos sem equipamento especializado.

As visitas à obra deverão ter também um carácter comparativo, isto é, apesar de existir o
projecto original ou de posteriores intervenções, devem no entanto efectuar-se algumas medições in
situ, de modo a se poder concluir da exactidão das peças desenhadas disponíveis. De facto, acontece
que a obra existente nem sempre está de acordo com ao projecto disponível.

Na Ponte Luiz I por exemplo, detectaram-se algumas diferenças na geometria entre o


projecto original e a obra que de facto foi construída. Muitas destas diferenças não são detectáveis
por simples observação, há que despender algum investimento num conhecimento profundo da
estrutura, passando por uma contínua observação e comparação das peças desenhadas disponíveis e
da estrutura existente.

Por último, ainda relativamente às visitas efectuadas à obra e fazendo parte do método que
aqui se pretende deixar descrito, acrescentam-se os relatórios que deverão ser elaborados no fim de
cada visita. Prolongando-se por um longo período de tempo, um projecto de recuperação, obriga a
que as observações fiquem registadas periodicamente, evitando-se deste modo que todas as
observações efectuadas se percam, quando se deixa que o tempo passe até se proceder à sua
compilação.

Não nos esqueçamos que as inspecções só por si, não colocam a descoberto todas as
anomalias que uma ponte possa conter. Na realidade algumas surpresas a este nível podem ocorrer
quando se iniciam algumas recuperações nos elementos da estrutura. Quando se levam a cabo acções
de reparação podem surgir situações de anomalias que não tinham sido detectadas anteriormente.
Há portanto, que colocar algumas reservas, relativamente à situação real da obra.

Até esta fase do estudo, pode ainda não se ter concluído sobre a decisão de proceder ou não
a uma recuperação. No entanto, será oportuno proceder a uma primeira avaliação do estado da obra,
especulando acerca da segurança. Se as inspecções levadas a cabo detectam automaticamente
anomalias que se consideram graves, há que alertar rapidamente as entidades responsáveis,
aconselhando o encerramento da ponte ou uma restrição à sua utilização, nomeadamente quanto ao
valor das cargas rolantes e respectiva velocidade de circulação. Não nos esqueçamos que a segurança
das pessoas está em primeiro lugar. Portanto uma avaliação primordial da segurança da obra,
mesmo antes de qualquer análise da potencial reparação, deve ser levada a cabo pelo engenheiro,

12
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

que deverá tomar medidas adequadas, visando a segurança da obra, que garantam uma anulação do
risco de colapso.

Resumindo, pretende-se que a inspecção seja utilizada no sentido de se avaliar a constituição


e o nível de degradação dos diversos elementos estruturais, que irão permitir um conhecimento
correcto da ponte e também sustentar decisões que visem a escolha das técnicas de reabilitação, ou
em primeira análise, a escolha entre as opções de conservação, demolição parcial ou total da obra ou
ainda a tomada de medidas preventivas de segurança.

Directamente relacionada com as visitas efectuadas à obra, encontra-se a recolha de amostras


para futuros ensaios em laboratório e também ensaios in situ.

Os ensaios laboratoriais são de extraordinária importância, pois só a partir deles é possível


determinar as características do material, químicas e mecânicas, de modo a poder concluir-se sobre a
resistência residual que apresenta, índices de fadiga, etc. Estes ensaios devem ser levados a cabo por
técnicos especializados, garantindo um tratamento estatístico dos resultados, já que serão estes
resultados a base de trabalho para futuros estudos.

A retirada dos provetes para ensaio, reveste-se de alguns critérios [32] que importa deixar
registados. O local escolhido para a retirada da amostra deve ser ponderado. A escolha de elementos
que não careçam de reparação é uma hipótese. No entanto, deve optar-se por elementos que não
comprometam durante a retirada da amostra, a estabilidade da estrutura, e cuja execução seja
facilitada. Os elementos mais esforçados serão porventura os que apresentam, estados de tensão
mais elevados e que consequentemente se encontram mais deteriorados. A substituição dos troços de
elementos retirados é na grande maioria dos casos absolutamente indispensável. Esta substituição é
efectuada com os aços actuais que permitem todo o tipo de ligação, soldada, aparafusada e rebitada.
No entanto, os aços antigos não são tão versáteis, proibindo, devido aos elevados níveis de carbono,
a soldadura. Há portanto que não descurar este facto, optando como medida preventiva pelo uso de
parafusos, de execução mais simples do que os rebites. Colocar-se-á a questão ao nível estético entre
as duas opções anteriores, já que a maioria destas obras antigas eram rebitadas, porém como se está
a tratar de uma questão temporária, este ponto parece ultrapassável sem prejuízo da estética da obra,
pois em fase de execução será de considerar o uso de rebites que é preferível aos parafusos.

Além dos ensaios laboratoriais, outros há a realizar no local que permitem obter informações
bastantes úteis. Podem por exemplo levar-se a cabo medições de frequência próprias da ponte,
utilizando equipamento especializado. Este tipo de ensaios, proporcionam resultados que servem
para calibrar os resultados que se obtêm usando modelações da estrutura em programas de cálculo
automático, permitindo muitas vezes depositar confiança no modelo de cálculo que estamos a
utilizar.

13
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A medição de algumas deformações pode e deve sempre que possível ser efectuada, quer
usando ao nível local equipamento que permite medir extensões dos elementos e movimentos dos
aparelhos de apoio, quer ao nível global usando material topográfico para medir flechas,
movimentos transversais e longitudinais.

Outro ensaio in situ de simples execução, permite por exemplo a detecção de fendas nas
peças metálicas, usando por exemplo um líquido corante que evidencia as zonas fendilhadas.

A título conclusivo deste ponto relativo à recolha de dados, importa deixar registados os
itens mais importantes que o engenheiro deve ter em conta quando inicia um projecto de reabilitação
de uma ponte metálica.

1. Recolha de documentos relativos ao projecto original e/ou de posteriores intervenções de


modificação ou mesmo de recuperação. Estes documentos estão normalmente disponíveis
nos arquivos da Junta Autónoma de Estradas no caso das pontes rodoviárias e nos
Caminhos de Ferro Portugueses para as ferroviárias.

2. Recolha de documentos históricos em jornais ou revistas. Estes documentos possuem


muitas vezes informação, como relatos de acidentes por exemplo, sempre útil para uma
correcta caracterização da obra.

3. Consulta dos regulamentos em vigor na altura e que serviram para o dimensionamento


da obra, comparando-os com os regulamentos em vigor actualmente. Esta comparação é
útil para efectuar posteriormente uma comparação dos esforços.

4. Visitas à obra para inspecção de patologias e verificação dos elementos de projecto


disponíveis, devendo ser sempre acompanhadas por um completo levantamento
fotográfico ou videográfico e ainda de relatórios de inspecção. A criação de fichas de
inspecção adequadas a cada caso podem nesta altura ser utilizadas facilitando a recolha
de informação.

O contacto com as populações vizinhas pode vir a demonstrar-se bastante útil, resultando
na recolha de episódios históricos, que podem eventualmente nunca terem ficado
registados a não ser na sua memória.

5. Ensaios in situ usando métodos não destrutivos e em laboratório após retirada de


amostras da ponte. Primeiras informações importantes a reter sobre os materiais
constituintes.

14
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

6. Compilação das primeiras informações e elaboração de um relatório preliminar sobre o


estado da ponte, podendo adiantar-se já medidas preventivas sobre a sua utilização,
tendo sempre presente a segurança das pessoas.

15
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

3 Problemas típicos

O engenheiro responsável por um projecto de recuperação de uma ponte metálica, deverá


estar bem atento ao tipo de problemas que pode encontrar, sensibilizando-se progressivamente para
uma eficaz detecção. Até ao momento já foram identificados alguns desses problemas. Pretende-se
no entanto, neste ponto, sem prejuízo de se efectuar repetições exaustivas, deixar registadas as
patologias mais comuns neste tipo de obra.

Corrosão: a corrosão é sem dúvida um dos problemas mais comuns em pontes metálicas, o
tipo de secções compostas de muitas pontes, tipo caixão com um lado semi aberto ou em U,
propiciam a acumulação das águas da chuva e detritos, que acompanhados de um deficiente
escoamento conduzem a um estado progressivo de corrosão dos aços (Figura 2.4).

Figura 2.4 – A configuração do banzo inferior favorece a acumulação de água e detritos

Outro importante meio de corrosão são as águas com algum teor em sal, que contactando
sistematicamente com os aços traduz-se na sua oxidação. Assim as obras que se encontram perto do
mar, estarão obrigatoriamente mais sujeitas a este fenómeno. Mas só a situação de existência de
humidade é suficiente para avançar com o processo, como por exemplo as obras que se encontram
em zonas sujeitas a nevoeiros.

De entre os diversos elementos das partes susceptíveis de serem atacadas por este fenómeno,
encontram-se num estado mais favorável todas aquelas que apresentam esforço de tracção tão
elevado que lhes possam ter provocado micro-fendilhações e que favorecem a aceleração da
corrosão.

16
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

A Figura 2.5 mostra a “casa” de uma pomba, não mais do que uma das barras do arco da
Ponte Luiz I no Porto. A corrosão provocada pelos excrementos dos animais é nesta obra uma
situação problemática. O elevado número destes animais que se alojam na zona superior do arco,
tem contribuído para o acelerar da corrosão desta obra. Este problema não é único nesta ponte,
outras há que devido à sua estratégica localização, favorecem a fixação destes animais para fazerem
os seus ninhos. É de facto uma situação que só é identificada com visitas pormenorizadas, e não
olhando em termos gerais para a obra. A acessibilidade a estas zonas mais recatadas e normalmente
mais elevadas, onde se encontram os animais, é dificultada, não se detectando à vista desarmada o
estado corrosivo provocado por este fenómeno.

Figura 2.5 – Pomba na Ponte Luiz I

No caso anteriormente apresentado, só foi possível detectar o fenómeno quando se


percorreu o passadiço de visita que atravessa a ponte. Não era perceptível no entanto, por
observação a partir dos terrenos acidentados, devido à elevada altura a que aquela zona se encontra.

No caso de transporte de animais, quer rodoviário quer ferroviário [14], a deposição de


dejectos dos mesmos nas obras não é de todo de ignorar. A situação estende-se a outros
componentes que pelas suas características químicas, ao cairem dos vagões de transporte,
depositam-se sobre as obras, sendo responsáveis por alguns estados de corrosão.

Outra questão importante ligada à corrosão tem a ver com a proximidade de fábricas, pelo
lançamento de vapores na atmosfera, ou resíduos nos cursos de água. Se os fumos ou resíduos forem
corrosívos, podem atacar a estrutura metálica. A passagem de veículos que transportem produtos
com estas características são também de salientar. Bem como a proximidade de zonas de manobras
no caso dos caminhos de ferro.

17
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A corrosão manifesta-se pela formação de óxido de ferro (ferrugem) entre as chapas ligadas,
quer pela formação de covas e aberturas, na superfície das chapas. No primeiro caso as chapas
chegam a abrir-se conforme o esquema da Figura 2.6 exemplifica.

Figura 2.6 – Formação de bolsas de ferrugem entre chapas

Figura 2.7 – Alguns exemplos de avançados estados de corrosão [1]

Estes efeitos provêm, em geral, de conservação insuficiente ou de qualquer disposição


defeituosa, o exemplo da Figura 2.6, resulta normalmente por demasiado espaçamento entre rebites,
acompanhado do colapso da pintura. A camada de ferrugem que se forma entre as chapas torna-se
por vezes de grande espessura, chegando a encurvar as chapas e a forçar os rebites, fazendo-lhes
saltar a cabeça [16]. O reduzido espaço entre barras, onde se torna difícil limpar e pintar, é outro
ponto sensível a ser atacado pela corrosão.

A corrosão dos elementos metálicos pode atingir proporções preocupantes (Figura 2.7), que
em muitos casos pode obrigar a trabalhos de reparação imediatos.

É curioso referir uma questão relacionada com a corrosão, de grande especificidade e pouco
falada, que aqui se apresenta por estar relacionada com a Ponte Luiz I. A electrificação da linha de
transporte pública que atravessava o tabuleiro superior da ponte, foi objecto de um estudo [35], onde
se verificou a responsabilidade desta electrificação na corrosão das peças metálicas. A utilização dos

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

carris como circuito de retorno, permitia a ocorrência de fenómenos de circulação de correntes


eléctricas em percursos, que envolviam porções de terreno circundantes e peças metálicas enterradas
nessas zonas. Essas correntes eléctricas vagabundas, podiam dar origem a uma acção electrolítica,
que se traduzia na corrosão violenta das peças metálicas. Cientes deste problema, por todo o mundo
foram sendo criados dispositivos, que minimizassem o fenómeno, muitas vezes por imposições
regulamentares. Mas em Portugal a exigência de medidas preventivas, para evitar este problema,
ainda que consideradas exageradas na altura, foram responsáveis pelo sucesso da solução adoptada
e que evitou o referido fenómeno.

Defeitos de cravação: Os defeitos de cravação são muitas vezes visíveis a olho nu, mas deve
ser sempre efectuada uma verificação com o martelo de verificar rebites. Quando os rebites derem
sinal de estar “leves” ou com a cabeça fendida, descentrada, ou mal apertados contra as chapas
devem ser substituídos. A substituição pode provocar reajustes na ligação entre chapas, ou ainda um
alívio dos rebites vizinhos dos substituídos. Quando um rebite se encontra mal cravado pode
normalmente identificar-se um círculo de oxidação que se forma em torno da sua cabeça. Os defeitos
de cravação são exemplificados na Figura 2.8.

Figura 2.8 – Exemplos de rebites mal cravados.

O esquema 1, mostra um rebite descentrado, a embutideira não foi correctamente colocada


no eixo do rebite, o que provocou o descentrar da cabeça. No caso 2, há uma deficiente aplicação da
embutideira, a cabeça formada é pequena demais e não garante uma boa ligação. Por outro lado,
ferro a mais produz uma cabeça demasiado grande, (ver esquema 3), podendo no entanto não
comprometer a estabilidade do conjunto. Neste caso o material em excesso pode ser retirado com um
corta a frio circular, pois esta zona tenderá a oxidar rapidamente. A última situação refere-se à
existência de rebarbas nas chapas a ligar que dificultam, podendo mesmo impossibilitar, o encosto
da cabeça do rebite [13].

Colisões: Estragos provocados pelas colisões dos veículos, são também um factor a
considerar na degradação de uma ponte metálica. O desgoverno dos veículos nas pontes rodoviárias
ou dos comboios nas ferroviárias, podem vir a provocar colisões com alguns elementos da estrutura,
por vezes elementos importantes que carecem automaticamente de reparação. As embarcações que
navegam em rios ou canais atravessados por pontes, são responsáveis também por alguns estragos

19
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

nestas obras, quer directamente pelas embarcações, ou pela mastreação. O grau dos estragos é
variável mas pode ser responsável pelo colapso da estrutura, se medidas preventivas de reparação
não forem levadas a cabo. As Figura 2.9 e Figura 2.10 exibem duas situações, a primeira não carece
de reparação, a segunda no entanto evidencia a urgência da reparação efectuada.

Figura 2.9 – Banzo inferior de uma viga embatido por um veículo [1]

Figura 2.10 – Longarina principal reparada após impacto de um veículo, que lhe provocou
a fendilhação total da alma e do banzo inferior [1]

A título de exemplo de problemas por colisão refere-se a Ponte Luiz I onde no tabuleiro
superior, o colapso de algumas guardas, resultou do embate dos veículos [52]. Não sendo elementos
fundamentais em termos estruturais, são-no para quem utiliza o passeio. Houve assim que reparar
imediatamente esses elementos. No tabuleiro inferior os acidentes deste tipo quase não existiram. O
mais grave de que há memória ocorreu à passagem de um barco [52]. Numa altura em que o rio se
encontrava mais cheio, o barco não recolheu a grua, que embateu no tabuleiro inferior e se precipitou
sobre a embarcação. Ao contrário do tabuleiro, a embarcação sofreu grandes danos, acabando

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

mesmo por resultar no seu naufrágio. Este acidente ocorreu em 1972 na altura das cheias, mas não
implicou qualquer tipo de intervenção sobre a obra.

Incêndio: Não sendo uma situação muito comum em pontes metálicas, podem ocorrer casos
em que a temperatura dos elementos devido à ocorrência de um incêndio atinja valores superiores a
1200 ºF (≈ 650 ºC) [1], o que provoca deformações plásticas por aumento da tensão. O grau dos
estragos depende da temperatura máxima a que o aço esteve exposto e da duração da exposição.

Na generalidade quando existem riscos de ocorrência de incêndios, estas obras deverão ser
dotadas de esquemas de protecção. O fogo resulta normalmente quando inadvertidamente veículos
transportando materiais inflamáveis, entram em combustão, por simples fuga do material, ou após
impacto noutros veículos ou na própria ponte. Ocasionalmente pode ocorrer um incêndio a partir de
materiais inflamáveis que existam debaixo ou nas proximidades da obra. Relativamente a estas
últimas situações há que investigar e coordenar estas actividades com as entidades responsáveis
locais.

Não é comum acontecerem incêndios nas pontes metálicas portuguesas, há no entanto pelo
menos um exemplo ocorrido em 1943, quando o tabuleiro de madeira da Ponte da Portela do
Mondego (rodoviária), ardeu, obrigando à substituição da totalidade da obra [52].

Fadiga: A fadiga de um elemento é afectada por numerosos factores, tais como: soldaduras,
buracos de rebites ou parafusos, entalhes, perda de secção e corrosão. Estes factores podem conduzir
a fissuras ou fracturas de um elemento resultando a propagação destas fissuras ao colapso da
estrutura. A fissuração pode muitas vezes ser detectada por simples observação directa dos
elementos, se esta não estiver tapada com tinta nem com detritos.

Ciclos sucessivos de carga e descarga, são responsáveis pelo aparecimento destas fissuras
que podem, quando não visíveis a olho nu, ser detectadas usando métodos não destrutivos,
penetração de tinta corante, partículas magnéticas, ultra-sons e técnicas de raio-X.

Nos elementos constituídos por cantoneiras e chapas rebitadas, as zonas mais propícias à
ocorrência do referido problema, são: as zonas rebitadas dos banzos, ligações, particularmente as das
vigas principais e as efectuadas com goussets. É comum observar-se que a alma das longarinas, a
meio vão, desceu em relação às abas horizontais das cantoneiras do banzo superior, o que denuncia a
ovalização dos furos da ligação das cantoneiras à alma, bem como o alívio dos rebites de ligação da
longarina à carlinga [15].

Flexão desviada: A flexão para fora do plano de um dado elemento é a causa típica de falhas
relacionadas com a fadiga. Os vários elementos de uma ponte deverão ser cuidadosamente
examinados em locais susceptíveis de ocorrer este tipo de flexão. Um exemplo desta situação ocorre

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

quando há excentricidade dos eixos da rótula, em que a alma do perfil composto, sai do seu plano,
conforme se esquematiza na Figura 2.11 [16].

Figura 2.11 – Excentricidade dos eixos da rótula

Assentamentos diferenciais: Os aparelhos de apoio usados antigamente, nomeadamente


aqueles que permitiam movimentos da estrutura, não apresentavam características de durabilidade
que lhes permitissem chegar em perfeitas condições aos dias de hoje. De facto a deterioração de
alguns deles, são responsáveis pelo aparecimento de assentamentos diferenciais. A ocorrência de
variações de temperatura que provoquem deformações para além das admitidas pelos aparelhos de
apoio, podem também provocar esforços secundários na estrutura. A própria ocorrência de um
sismo pode provocar um desalinhamento dos aparelhos de apoio, induzindo esforços por
empenamento da estrutura, ou a simples passagem das cargas rolantes.

As figuras seguintes apresentam alguns tipos de aparelhos, mais comuns nas pontes
metálicas aqui analisadas.

Figura 2.12 – Aparelhos de apoio da Ponte Luiz I, do tabuleiro superior sobre


um pilar de alvenaria (esq.) e do arco (dir.)

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.13 – Aparelho de apoio da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 2.14 – Aparelhos de apoio da Ponte Metálica do Pinhão, móvel (esquerda)


e fixo (direita), ambos sobre um dos pilares

A falta de manutenção destes aparelhos, principalmente os móveis, que passa


essencialmente pela sua limpeza e lubrificação, resulta na introdução de esforços na estrutura, por
estes impedirem os seus movimentos. A Figura 2.15 apresenta, esquematicamente, o que pode
acontecer às vigas principais quando o aparelho de apoio se encontra bloqueado, impedindo os
movimentos de dilatação da ponte [16].

Figura 2.15 – Aparelho de apoio bloqueado

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A desagregação das alvenarias dos apoios, são também causa da deformação e esforços na
ponte, estas deficiências provocam no plano de assentamento de apoio, um tombamento [16], que
torna aquele plano desnivelado conforme se visualiza na Figura 2.16.

Figura 2.16 – Desagregação das alvenarias dos apoios

Descreveram-se deste modo os problemas mais comuns que ocorrem em pontes metálicas,
para que seja mais fácil durante uma inspecção a procura das anomalias e a razão de ser das
mesmas.

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

4 Caracterização da ponte

4.1 Caracterização histórica


A caracterização histórica é um passo bastante importante na elaboração do projecto de
reabilitação. A compilação de toda a informação recolhida por ordem cronológica ajudará à
compreensão da história da ponte e permitirá ao engenheiro absorver e organizar os dados
recolhidos. Esta caracterização pretende também ser um documento integrante do próprio projecto
de reabilitação e servirá para reunir e deixar registada, para futuras consultas ou desenvolvimentos,
toda a informação encontrada relativa à obra. A sua elaboração deverá assim ser revestida de algum
cuidado na escolha dos textos, e ser tão completa quanto possível, sendo constantemente actualizada
no decorrer do processo, à medida que novas informações vão tendo lugar.

Deve-se procurar investir um pouco de tempo na elaboração da história da ponte que se


estiver a analisar, pois será porventura uma oportunidade de organizar toda a informação que existe
sobre a obra, deixando assim escrito um documento histórico de valor. Principalmente nos casos em
que isso nunca foi feito, ou onde a informação se encontra dispersa, ou simplesmente não existe,
como já se citaram exemplos. Não será assim, nenhum exagero valorizar esta fase do projecto, pois
basta pensar-se nas dificuldades com que se depara, quando se pretende desenvolver um projecto
desta natureza e a informação escasseia. Quanto não seria desejável que anteriormente alguém
tivesse tido esta preocupação.

Há no entanto que distinguir à posteriori o que de facto interessa aos estudos em vista,
organizando um texto apenas com assuntos digamos que estruturais, deixando os culturais de parte.
Este texto não fará parte integrante do projecto, mas será certamente útil para consulta durante o seu
desenvolvimento. Caberá ao engenheiro, decidir a utilidade desta sugestão, deve-se no entanto
salientar o seu interesse, já que pode constituir um resumo organizado de análise, não sendo
necessário procurar os assuntos, dentro do primeiro texto, tornando-se em parte uma perda de
tempo maior, do que na elaboração do segundo.

4.2 Caracterização geométrica e mecânica


A caracterização geométrica e mecânica de uma ponte, passa por uma cuidadosa análise das
peças desenhadas disponíveis, acompanhada de uma interactiva comparação com a estrutura real,
pelo menos nos pontos que apresentem alguma interrogação, no decorrer do processo de análise dos
elementos disponíveis. Esta comparação entre a obra real e o respectivo projecto original, não
servirá apenas para esclarecer dúvidas que possam surgir, mas também para confirmar a confiança a

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

depositar nos elementos de projecto, que não se esqueça, serão a base de trabalho de todo o processo,
a menos que a comparação anterior demonstre o seu carácter obsoleto. Quando isto acontece, ou no
caso de não existirem elementos disponíveis que permitam aferir aquelas informações, há que
proceder a um levantamento da obra, tão completo quanto possível. O uso de equipamento
topográfico é indicado para efectuar o levantamento da geometria geral da obra e terreno adjacente.
Há também que efectuar “à mão” o levantamento das secções das peças, ligações, etc. Um trabalho
bastante moroso, mas que não deve ser minimizado, pois além de ser a base de trabalho para todos
os procedimentos seguintes, irá permitir a elaboração de documentos com valor histórico, já que
serão o testemunho de um projecto que já existiu. Assim, o empenho na elaboração do levantamento
da obra, resultará num desenvolvimento eficaz de documentos e peças desenhadas importantes para
futuras intervenções.

Tal como já se referiu, a necessidade de efectuar estes levantamentos das obras, decorre da
não existência do projecto original ou de projectos posteriores de intervenções, importando a razão
deste desaparecimento a roubos, incêndios, ou outras razões alheias às entidades responsáveis. Isto
porque até agora, tanto a J.A.E. como a C.P. têm como regra a centralização num arquivo só, dos
seus projectos [53]. Cabe assim deixar aqui um alerta, para que se possuam mais cópias das obras
noutros locais. E com as capacidades informáticas, de guardar informação em tão pouco espaço,
parece lógico chamar a atenção, de que será fácil de evitar aquilo que aconteceu com o projecto
original da Ponte Metálica do Pinhão.

Outras dificuldades surgem, durante a caracterização geométrica e mecânica da ponte. Uma


muito comum é a inacessibilidade de alguns elementos, como já se disse, pelo menos sem material
especializado. Para ultrapassar esta dificuldade, pode-se recorrer às fotografias que permitem por
comparação com elementos conhecidos, a caracterização dos desconhecidos. Neste ponto há que
distinguir entre aqueles elementos em que a caracterização, devido à sua importância na estrutura,
deve ser exacta e aqueles em que uma aproximação é aceitável. As aproximações que forem sendo
feitas deverão ser ponderadas de modo a não provocarem alterações nos cálculos a efectuar. Cabe
assim ao projectista a sensibilidade para este problema, avaliando os elementos cuja caracterização
deverá ser exacta, recorrendo aos meios necessários para aferir os dados pretendidos, e aqueles em
que uma aproximação é perfeitamente válida. A decisão passa também pela fase em que o projecto se
encontra, já que à medida que nos aproximamos duma fase de execução, a pormenorização em
princípio é maior.

Sendo a maioria das barras destas obras constituídas por perfis compostos, o cálculo das
características mecânicas não é imediato, o que acontece com a maioria dos perfis simples actuais,
recorrendo-se a tabelas existentes, onde consta toda a informação necessária à sua caracterização.
Assim sendo, é necessário para aqueles elementos compostos, recorrer a folhas de cálculo que

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

facilitam a determinação das características mecânicas das suas secções. Esta opção demonstra-se
bastante útil, já que muitas vezes se verificam, variações de espessuras e número de chapas, mas
geometrias semelhantes entre secções. Consegue-se assim uma grande economia de tempo no cálculo
das características mecânicas das secções e conjuntamente se torna simples efectuar alterações ao
longo do trabalho, obtendo-se instantaneamente as novas características da mesma. Alerta-se no
entanto, que as operações matemáticas, podem envolver um elevado número de células na folha de
trabalho, podendo ocultar erros, que se transportam para outros campos da folha, assim e mais uma
vez se refere a utilidade de efectuar manualmente algumas verificações, garantindo plena confiança
nos passos seguintes.

Não será demais, reforçar novamente, a importância desta fase dos estudos, permitindo ao
mesmo tempo que se prepara a base de trabalho, “entrar na estrutura”, ficar sensibilizado para a sua
constituição, compreender o seu funcionamento e eventualmente as suas necessidades, extrapolar
situações já experimentadas pela mesma, problemas que persistam ou anomalias que se adivinham,
em duas palavras, conhecer a obra.

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

5 Acções e combinações

As acções a considerar têm vindo a sofrer alterações ao longo dos tempos, de uma forma
geral, em termos crescentes, obviamente com efeitos mais gravosos para a estrutura. Assim
verificam-se grandes diferenças, quando se analisam os regulamentos mais antigos, nacionais e
internacionais, nos valores das acções a considerar. Mais, durante muito tempo e já no século XIX se
projectaram obras em que acções como o vento e o sismo não eram consideradas, ignorância ou
dificuldade na sua materialização e quantificação, provocaram a sua omissão nos cálculos então
efectuados. A evolução na engenharia foi acompanhada de um aperfeiçoamento na quantificação das
acções, numa tentativa de aproximar da forma mais real possível, as acções consideradas no cálculo e
aquelas a que a estrutura vai estar sujeita quando posta em serviço.

A evolução natural que as acções foram experimentando, e como já se referiu, não foi
acompanhada de uma adaptação das obras, ficando estas sujeitas a valores de cargas mais elevados,
sem para isso estarem preparadas, pelo menos em termos de projecto. Há assim, que cada vez mais
nos preocuparmos em verificar a segurança destas obras, eventualmente em estudos menos
exaustivos que um projecto de recuperação, mas que permitam avaliar o estado da ponte para as
novas acções que tem vindo a experimentar. Não nos esqueçamos que algumas destas obras
ultrapassam a centena de anos, sem nunca terem sofrido obras de reforço significativas.

5.1 Acções permanentes


Para as acções permanentes, não há grandes considerações a acrescentar, em relação às tidas
no projecto da ponte em causa. Pode-se no entanto alertar o engenheiro para questões que
eventualmente, contribuam para uma melhor eficácia na sua avaliação.

Assim a primeira questão prende-se com o grau de desenvolvimento que o estudo requer,
ou seja, a precisão pretendida. Obrigando a diferentes níveis de avaliação das cargas permanentes.
Uma primeira situação em que uma aproximação àqueles valores é satisfatória, admitindo erros,
para alguns elementos, desde que o seu peso na estrutura global não comprometa os resultados
pretendidos, é aquela em que a sua localização dificulta a determinação exacta das suas
características. No caso do peso desses elementos representarem uma parte importante da acção é
necessário um levantamento exaustivo da obra. Estas questões já foram anteriormente referidas de
forma mais sumária, parecendo-me no entanto, correndo o risco de repetição, deixá-las registadas de
novo. É claro que, as situações anteriores só ocorrem quando os documentos disponíveis, não
permitem uma caracterização completa da obra, de resto situação bastante corrente. Quando esses
elementos estão disponíveis, a avaliação das cargas permanentes é obtida com toda a precisão.

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Um outro ponto a salientar, prende-se com as intervenções que podem ter ocorrido ao longo
do tempo, e que podem ter resultado, tanto num aumento de carga como numa diminuição. Estas
intervenções foram de facto tendo lugar no nosso país nomeadamente ao nível dos tabuleiros das
pontes rodoviárias. Os primeiros revestimentos usados nestas obras eram travessas de madeira, que
mais tarde foram substituídas por lajes de betão com tapetes betuminosos, mais ou menos por volta
dos anos 50. Na Ponte Luiz I essa substituição foi da responsabilidade do Eng.º Edgar Cardoso, que
segundo documentos da época provocou um aligeiramento significativo no peso dos tabuleiros.
Apesar deste tipo de intervenção parecer ter sido o mais característico, outros podem ter ocorrido,
devendo por isso estar o engenheiro atento a estas questões. Isto porque algumas destas intervenções
não careceram de projectos detalhados, dificultando numa primeira análise a avaliação das cargas
correctas, por exemplo, por não se conseguir detectar a espessura dos tabuleiros, a menos que se
proceda à carotagem dos mesmos.

Por último e ainda relativamente à avaliação das acções permanentes, uma questão que se
coloca é a avaliação do peso de peças digamos de secundárias, como escadas, passadiços de visita,
passeios, guarda-corpos e ainda rebites e pintura. Muitas vezes a avaliação do peso destes elementos
não é de facto imediata, mas também não tem de todo de ser exacta, por isso se tem vindo a utilizar
uma percentagem variável mas que, na maioria dos casos, se concentra entre os 5 e 10% do peso
próprio da estrutura metálica, conforme o número de elementos considerados nessa percentagem.

Quanto aos valores a adoptar para os pesos próprios dos materiais que mais comummente
compõem estas obras, apresenta-se o Quadro 2.1.

Quadro 2.1 – Peso específico dos materiais

3
material peso específico (kN/ m )
Ferro/aço 77
betão 25
betão de enchimento 9
betuminoso 24
madeira 8,5

Na eventualidade da ocorrência de outros materiais que não só os aqui apresentados,


aconselha-se a consulta das tabelas técnicas portuguesas, ou outra bibliografia especializada.

5.2 Acções variáveis


A quantificação das acções variáveis, nomeadamente as sobrecargas actuais, são
substancialmente mais gravosas, pelas razões lógicas da evolução das capacidades de carga dos
veículos que nelas circulam. A regulamentação tenta nesta medida responder à actualização dessas
cargas, de forma que as pontes antigas teriam, quanto mais não fosse, para estarem de acordo com os

29
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

regulamentos actuais, de sofrer esta actualização. Já se disse no entanto, que esta exigência para
algumas obras, obrigaria ao imediato cancelamento do trânsito já que estes cumprimentos não se
verificam. No entanto, se por um lado seria desejável contarmos com essa segurança, por outro não
faria sentido economicamente, reforçar uma obra, que para o papel que desempenha se encontra em
perfeitas condições. Assim parece lógico ponderar esta actualização das sobrecargas para algumas
pontes. Criando talvez para casos pontuais uma verificação não regulamentar, mas sim de acordo
com as necessidades das regiões envolventes da obra. Esta postura tem cabimento se atentarmos ao
facto que, as sobrecargas são de modo geral, acções com valores bem conhecidos ou pelo mesmo de
fácil contabilização. O mesmo não acontece para outras acções variáveis.

Como já se referiu durante alguns anos, as pontes não eram projectadas para resistir, a
acções como o vento, o sismo ou a temperatura, principalmente porque o conhecimento nesta área
carecia de método na sua contabilização. É hoje sabido que alguns problemas de algumas pontes
ocorreram pela não consideração destas acções durante o projecto. E só passados largos anos as
anomalias são detectáveis a olho nu. No entanto estas acções sempre existiram, sempre houve vento
e sempre houveram sismos, hoje em dia no entanto, ajudados pelas tecnologias da informação,
estamos sempre ao corrente de acidentes que tenham ocorrido por estas razões, e daí mais alertados
e conferindo grande importância à contabilização destas acções.

Há assim que perceber se a ponte que está a ser estudada, foi ou não calculada para resistir a
estas acções variáveis, e não só às sobrecargas da altura. Esta análise permitirá avaliar os resultados
esperados, na resposta da estrutura, no estudo proposto para a sua reabilitação. Não se espera à
partida um bom comportamento ao vento se a obra não foi para isso preparada ou vice-versa.
Estando alertado para estas questões, o engenheiro terá um melhor controlo dos resultados, não se
regendo pura e exclusivamente pelo estudo que está a efectuar. Cabe aqui uma palavra aos
regulamentos da época que existindo, possam ser uma grande ajuda na interpretação da obra e na
comparação de resultados. Alguns dos regulamentos que presidiram ao dimensionamento de obras
nacionais não eram portugueses, de facto existem exemplos de regulamentos estrangeiros que foram
usados nesse dimensionamento, cita-se o exemplo da Ponte Internacional de Valença-Tuy que foi
projectada usando o regulamento francês de pontes metálicas, datado de 1891.

A contabilização das acções propriamente dita, deve ser efectuada ou de acordo com a nova
utilização a que a obra será sujeita, ou usando valores regulamentares, ou como já se disse avaliando
as necessidades exigidas à obra, que se inserem à partida numa gama de exigência menor. Esta
última contabilização não está prevista na regulamentação nacional, mas gostaria de deixar mais uma
vez a ideia registada, por parecer ter algum cabimento. Relativamente às duas primeiras, se por um
lado no primeiro caso o engenheiro fica com os valores automaticamente definidos no segundo caso
a situação é bem diferente. Isto porque, hoje em dia além dos regulamentos actuais a união europeia,

30
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

tenta uniformizar a questão das acções criando regulamentos europeus que se pretende, sejam
usados por todos os estados membros. Além disso, e tal como antigamente aconteceu, o recurso a
regulamentos estrangeiros não é posto de parte. Assim em termos de acções regulamentares, o
horizonte é mais vasto, devendo-se analisar esses regulamentos e não só os nacionais que para
algumas questões são incompletos, ou pelo menos, menos específicos.

De entre todas as acções variáveis, destacam-se as de características dinâmicas,


nomeadamente a acção do comboio-tipo, do vento e do sismo. Nos dimensionamentos correntes, a
contabilização dinâmica das acções é feita dotando os valores das cargas de factores correctivos, que
tentam transmitir à estrutura a componente dinâmica. Parece no entanto evidente que para algumas
obras, o estudo dinâmico deve ser levado a cabo com toda a exactidão já que cada vez mais os meios
de cálculo isso permitem. As acções dinâmicas não eram bem conhecidas há 100 anos e por isso o
estudo destas obras antigas, com estas acções reveste-se de algumas surpresas. As questões
dinâmicas ligadas às pontes ferroviárias são objecto de regulamentação especializada da qual se
destacam as fichas da U.I.C.1, bastante pormenorizadas a este nível e que são referência obrigatória
neste estudo.

Como se sabe as acções dinâmicas são responsáveis pela introdução de vibrações na


estrutura, que aumentam os níveis de fadiga dos elementos e também pela amplificação das acções,
reduzindo-lhe a sua vida útil. Assim parece óbvia a preocupação de pormenorizar estes estudos a
fim de saber o seu impacto na estrutura. Por outro lado outras questões se levantam, relativamente
às acções dinâmicas. Essas questões prendem-se com a utilização da ponte, nomeadamente o
conforto e a confiança dos utentes. Para um utilizador não é agradável sentir vibrações na ponte que
lhe transmitam insegurança, por muito segura que a obra seja, comprometendo também o seu
conforto. Sabemos que antigamente este tipo de exigência não era ponderado. Hoje em dia as
exigências dos utilizadores, aliados a novos padrões de qualidade, obrigam o engenheiro a ter em
conta este tipo de situação, quando procede a projectos de reabilitação.

Os valores a considerar para cada acção variável, estará assim de acordo com as disposições
regulamentares seguidas, Eurocódigo 1, regulamento português (RSAEEP2), ou outros cuja utilização
se justifique.

1 Union Internationale des Chemins de Fer


2 Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes

31
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

6 Materiais

Quando se fala dos materiais, há que ter sempre presente a distinção entre os que constituem
a obra e os que serão utilizados na sua reabilitação. Relativamente a estes últimos, o engenheiro tem
de uma forma geral um conhecimento das suas características, ou pelo menos tem à sua
disponibilidade imediata, um vasto leque de materiais que poderão ser usados numa reabilitação.
Dentro desta variedade podem no entanto distinguir-se os materiais tradicionais, e os designados
novos materiais, fruto da evolução tecnológica dos mesmos. Pode assim, às vezes surgir por parte do
engenheiro, uma vontade de experimentar novas soluções, fugindo um pouco ao tradicionalismo das
soluções de reforço destas obras, onde se usam os aços actuais. Não querendo desacreditar estes
novos materiais, parece oportuno referir, que este tipo de atitude pode encaminhar para algumas
incertezas no comportamento da obra, principalmente se a experiência que existe nesse campo não
for tão vasta como seria desejável. Se acrescentarmos que as obras de reforço se encontram recheadas
de particularidades que muitas vezes só a experiência ensina, então parece lógico optar, com alguma
ponderação dos custos que lhe estiverem associados, por materiais que tenham já sido
suficientemente testados em situações semelhantes. Não se pretende com esta postura pôr termo à
investigação na área dos novos materiais, e muito menos impor barreiras à sua utilização nas obras
de reforço, pois há que investir também neste ponto. No entanto, parece evidente, que o uso de
novos materiais altera um pouco, ou totalmente a arquitectura da obra, que acima de tudo se
pretende manter. Recai assim, mais uma vez a escolha, para o uso de materiais o mais parecidos
possível com os originais, usados na construção. Os aços actuais, são assim e dentro destes os que
mais vão de encontro a estas exigências, quer pelo completo conhecimento do seu comportamento e
características, quer por mais não serem do que o resultado da evolução dos que se usaram na obra.

Hoje em dia e no nosso país os aços mais utilizados são o Fe360, Fe430 e Fe510. Existem
ainda aços específicos para o uso de pré-esforço de características diferentes dos descritos. As
características de resistências daqueles aços encontram-se exibidas no Quadro 2.2.

Quadro 2.2 – Valores de cálculo das tensões resistentes

Tipos de aço Tensões normais Tensões tangenciais


σrd=fyd (MPa) τrd=1/31/2 fyd (MPa)
Fe 360 235 135
Fe 430 275 160
Fe 510 355 205

32
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Novas questões se colocam na caracterização dos aços antigos, afinal um dos objectos de
estudo dum projecto de reabilitação de uma ponte. Os aços que constituem estas obras apresentam
características diferentes dos aços actuais, que só são possíveis de determinar recorrendo a ensaios
especializados para o efeito. Os próprios meios de fabricação dos aços antigamente, conferiram-lhes
uma heterogeneidade que vem agora a ser verificada nos ensaios e que inviabiliza muitas vezes
conclusões generalizantes das suas características resistentes. Cabe assim aqui e mais uma vez o
indispensável papel dos ensaios, que permitem uma correcta caracterização dos materiais existentes
na obra.

Os materiais metálicos usados nas pontes são constituídos por espécies siderúrgicas onde
predomina a composição ferro-carbono [10]. Pode no entanto, e acontece frequentemente, o
aparecimento de mais elementos, que constituem impurezas ou são adicionados intencionalmente, de
modo a conferir ao metal determinadas características de resistência e elasticidade. Esses elementos
juntos propositadamente, são o silício, o manganês, o cromo, o níquel e o vanádio. Como impurezas
podem encontrar-se o arsênio, o enxofre e também o silício. Como breve resumo podem adiantar-se
as principais características que distinguem estes produtos siderúrgicos [12]. Assim, a gusa ou ferro
fundido com alto teor em carbono (>2%), não maleável, sem grande resistência à tracção, nem às
acções dinâmicas, é essencialmente usada em parapeitos, guardas, nos apoios das pontes de pequena
importância e em decorações. Os ferros e os aços, distinguem-se essencialmente pela sua
percentagem em carbono, e pelas alterações que o tratamento de têmpera provoca nas suas
características de resistência e elasticidade. O ferro apresenta normalmente percentagens de carbono
inferiores a 0.4, e quando esta se encontra entre 0.2% e 0.3% é designado de aço macio. Os aços têm
percentagens que podem atingir os 1.7% de carbono, são menos maleáveis que o ferro e são
susceptíveis de caldear e tomar têmpera. No entanto esta distinção não é tão simples, acabando por
se adoptar em Portugal a designação de aços para todas as espécies ferro-carbono, em que o carbono
não ultrapassa os 1.5%, também designados de aços duros.

Existem classificações para os aços, conforme o seu processo de fabrico. O aço laminado,
quando obtido por laminagem, processo mecânico que permite a obtenção de várias formas
perfiladas. O aço forjado, aquecido e martelado na forja e o aço trefilado, usado no fabrico de aços de
alta resistência, por exemplo para pré-esforço. A eliminação do carbono e outras impurezas era nos
finais do séc. XIX, obtida por pudelagem da gusa, queimando-a ou combinando-a com fundentes
para a formação de escórias.

As características de resistência destes aços eram obtidas sujeitando-os a provas de


resistência antes de serem aplicados, única forma de avaliar o sua adequação à obra em vista. Atente-
se ao texto que acompanha um dos documentos da Ponte Luiz I, “...O ferro laminado ou forjado,
destinado à construção da ponte, nas provas das peças isoladas, a que for submetido, deverá suportar, sem

33
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

quebrar, a tracção de 32 kilogramas por milímetro quadrado de secção. O limite de alongamento será de um
décimo...”.

34
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

7 Ensaios laboratoriais e in situ

Enaltecendo a elevada importância que os ensaios desempenham em todo o processo, não é


objectivo deste item, o desenvolvimento exaustivo dos métodos de ensaio mais comuns,
vocacionados para este tipo de intervenção, mas sim, dar a conhecer os vários métodos de que
dispomos para uma caracterização da obra. Certamente que alguns não serão mencionados,
esperando-se apesar disso e correndo o risco de deixar este ponto incompleto, referir os suficientes
para uma boa cobertura dos fins em vista. Ao mesmo tempo que se apresenta cada um deles,
pretende-se deixar presente alguns pontos de carácter geral, suficientemente importantes para ter em
conta quando se procedem a ensaios na obra ou de elementos dela. Parte do que aqui se refere, foi
absorvido durante o estudo da Ponte Luiz I.

7.1 Ensaios laboratoriais


Os ensaios laboratoriais vocacionam-se essencialmente para a determinação das
características dos materiais constituintes da obra. Este conhecimento pressupõe a recolha de
amostras, que tal como os ensaios, obedecem a regras de recolha e métodos de execução que não
podem ser descurados. Por este motivo, pretende este ponto definir e dar a conhecer essas regras
básicas bem como o tipo de ensaios que se fazem para a caracterização completa dos materiais.

Assim se definem várias etapas de trabalho [32], aqui direccionadas para os ensaios dos
aços, em todo caso a maioria do material que constitui a ponte.

7.1.1 Observação da obra


A retirada das amostras não será à partida efectuada pelo engenheiro que efectua o estudo
da ponte, mas sim por um especialista nesta área. Este especialista terá pois que se familiarizar com a
obra, apercebendo-se das dificuldades que poderão advir da escolha das amostras em determinados
locais. Cabe assim ao engenheiro encaminhar de certa forma esta observação, que não se deverá
limitar ao gabinete de trabalho, mas sempre acompanhada de visita ao local. Pretende-se que o
especialista fique sensibilizado quanto às limitações na recolha das amostras, encaminhando
soluções, que definam logo de início os locais de mais fácil acesso. Para uma melhor compreensão da
estrutura, e note-se que durante as visitas, a distância física entre o observador e os elementos da
obra pode atingir algumas dezenas de metros, deve também proceder-se a uma interpretação das
peças desenhadas. O técnico que fará os ensaios pode assim aperceber-se de pormenores das peças
que não eram detectáveis durante as visitas.

35
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A observação metódica da obra poderá assim, ser uma ferramenta eficaz no planeamento da
retirada das amostras.

7.1.2 Escolha das amostras


A escolha das amostras não é feita de modo aleatório, nem pela maior ou menor facilidade
na obtenção das mesmas, pelo contrário obedece a determinados critérios de escolha, que devem ser
sempre tidos em conta para uma correcta adequação das amostras aos ensaios pretendidos. Deste
modo se apresentam de forma resumida os principais critérios de escolha:

• As amostras devem pertencer, garantidamente a peças que estejam em serviço desde a


construção da ponte.

• As quantidades das amostras devem ser as mínimas possíveis e se necessário,


substituídas imediatamente por elementos de igual resistência.

• Devem ser representativas dos perfis das formas mais comuns que se encontram na obra
e de barras com as maiores e menores espessuras.

• As amostras devem ser retiradas das peças que, ao longo da vida da ponte, tenham
estado submetidas a elevados esforços e outras, que tenham estado submetidas a esforços
reduzidos.

7.1.3 Obtenção das amostras


A obtenção das amostras é um tarefa que terá de ser revestida de alguns cuidados que
evitem alterações no comportamento da estrutura nessa zona localizada, ou seja, a retirada de um
elemento ou de parte dele, não pode comprometer a estabilidade dos restantes. Por isso também,
como já se referiu, a substituição das amostras retiradas deve estar garantida se necessário, fazendo
parte do mesmo processo.

A retirada das amostras deve ser assim efectuada preferencialmente por uma equipa
experiente neste tipo de operação, de modo a que se garanta o sucesso da mesma.

Todo o processo deve ser acompanhado de uma reportagem fotográfica ou videográfica, já


que será parte integrante dos estudos em curso, e ao mesmo tempo servirá como mais um exemplo a
desenvolvimentos futuros.

7.1.4 Referenciação das amostras


Apesar do número de amostras poder não ser tão elevado, de tal modo a comprometer a sua
identificação, é sempre útil proceder à sua referenciação, pois evitar-se-á enganos na sua
identificação, se por exemplo o período de tempo que decorre entre a retirada das amostras e os

36
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

ensaios for grande, ou se simplesmente não for a mesma equipa que faça as duas coisas. Essa
referenciação não obedece a critérios rigorosos, mas adianta-se no entanto um exemplo concreto
(Figura 2.17, Figura 2.18 e Figura 2.19), seguido aquando da referenciação das amostras da Ponte
Luiz I, atribuindo a cada amostra um número e uma letra. Podendo este exemplo servir de
demonstração para o leitor, se confrontado com situações semelhantes.

V.N. GAIA SECÇÃO A


S1 325X12

A
100X100X12

190X12
S2

Figura 2.17 – Localização da diagonal da viga principal donde foram retiradas duas amostras de material [32]

12 391

44 S1

Figura 2.18 – Amostra S1 retirada da aba da diagonal da viga principal [32]

12 393

67
S2

Figura 2.19 – Amostra S2 retirada da alma da diagonal da viga principal [32]

7.1.5 Escolha dos ensaios


Os tipos de ensaios a realizar dependerão daquilo que se pretende obter. Não seria
interessante estar neste ponto a especular sobre as várias hipóteses de resultados pretendidos e os
ensaios respectivos. O que parece mais útil, é exibir os vários ensaios que normalmente fazem parte
de um estudo deste tipo. Conforme se pode observar cada ensaio é traduzido por uma letra de
referência, usada para referenciar os provetes que serão sujeitos a esses ensaios. Conforme se verá os
provetes são orientados para determinados tipos de ensaios, sendo assim necessário organizar
dentro de cada amostra os vários provetes.

O Quadro 2.3 exibe então os vários ensaios disponíveis e as respectivas letras por que são
referenciados.

37
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Quadro 2.3 – Ensaios

Ensaio Letra de referência


de tração T
de resiliência C
COD - Crack Opening Displacement N
de propagação de fenda da/dN-DK P
de fadiga de ligação rebitada R
Macrografia e dureza M
de impacto instrumentado I
Análise de composição química E
Determinação de características elásticas Q

7.1.6 Escolha dos provetes


Conforme já se referiu a escolha dos provetes depende dos ensaios a efectuar. Assim para
cada ensaio, as dimensões dos provetes variam, e a sua escolha é também ponderada mediante as
amostras disponíveis. É necessário portanto proceder a um planeamento entre os provetes
necessários e as amostras disponíveis, pois é necessário evitar o desperdício de material. Este
planeamento passa por exemplo por desenhar da forma mais eficaz possível, os provetes nas
amostras, conforme exibe a Figura 2.20, ainda referente ao mesmo estudo da Ponte Luiz I. Note-se
também que todos os provetes estão referenciados, pelo código da amostra, pela letra do ensaio a
que se destina e pelo seu número de ordem, ou seja o provete S1P1, é um provete proveniente da
amostra S1, destinado ao ensaio de propagação de fenda, P e é o provete número 1.

S1I1 S1T1 S1C1

S1I2 S1M1 S1P1 S1C2

S1I4 S1Q1
S1I3 S1C3

Figura 2.20 – Localização dos provetes retirados da secção S1 [32]

7.1.7 Execução dos ensaios


A execução dos ensaios será porventura a etapa mais importante, dentro destas etapas de
trabalho que têm vindo a ser descritas. É a partir dos resultados obtidos destes ensaios, que se
formará uma base de confiança para os estudos posteriores de estabilidade da obra. Parece ser razão
suficiente para chamar a atenção de toda a acreditação que é necessário dotar esses mesmos
resultados. Por este motivo, a execução dos ensaios deverá mais uma vez ser efectuada por técnicos
experientes, e ao mesmo tempo usando equipamento adequado e em perfeitas condições para que se
minimizem ao máximo possível os erros na execução. Cada ensaio obedece a determinados métodos
e condições ditas de ensaio, que só estando garantidas permitirão a aplicação das teorias
desenvolvidas em torno destas matérias. Há portanto que contrariar atitudes minimalistas e de
remedeios, que possam comprometer a validade dos resultados.

38
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

7.2 Ensaios in situ


Os ensaios in situ mais utilizados, pelo menos os que foram realizados na Ponte Luiz I e do
Pinhão consistem, basicamente na medição dos movimentos da estrutura. Conseguindo-se assim a
determinação das frequências da mesma e respectivos modos de vibração associados. A obtenção
destes valores revela-se muito útil para comparação com os valores obtidos com os modelos
matemáticos desenvolvidos, e servem também para a sua calibração. Estes ensaios experimentais
podem ser mais ou menos complexos, com as consequentes alterações dos custos, claramente um
entrave à sua utilização. Os utilizados nas referidas pontes, foram os mais simples e economicamente
mais atractivos [28].

7.2.1 Equipamento e metodologia


Concretizando este ponto com o exemplo anterior, pode referir-se que para a Ponte Luiz I foi
utilizado um instrumento do tipo “strong motion” da marca GSR, munido de três sensores de
aceleração “Terra” com uma dinâmica de 12 bits. Os sensores foram colocados de tal forma a registar
o movimento segundo três componentes ortogonais de translação, um segundo a vertical, outro na
direcção do eixo da ponte e o terceiro perpendicular ao eixo. O sensores do sistema são tipo
“Force-Balanced” os quais estão ligados a uma unidade de aquisição que controla e grava os sinais
recebidos. Esta unidade é programada através de um computador portátil com protocolo de
comunicação com os sensores, onde se podem alterar a hora do disparo, o nível do disparo, etc.
Utilizando software próprio do sistema, os registos são posteriormente transferidos para o
computador portátil, sendo a sua análise e tratamento efectuados seguidamente.

Quanto à forma de excitação, no caso da Ponte Luiz I, recorreu-se ao forte vento que soprava
de Oeste, e ao tráfego que circulava em ambos os tabuleiros. No entanto, poder-se-ia recorrer a
outros procedimentos de excitação: a queda de uma massa previamente agarrada à ponte, por ensaio
com ressalto ou mesmo recorrendo à vibração forçada produzida por vibradores mecânicos. No
entanto, qualquer uma das técnicas anteriormente descritas, tornam a realização do ensaio bastante
mais complexa e de custos bastante mais elevados, obrigando em alguns casos à interrupção
temporária do trânsito. Refira-se que na Ponte do Pinhão foi usada como excitação a passagem de
veículos, que é uma técnica habitual.

39
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

8 Cálculo

As questões relacionadas com o cálculo, e que são exibidas nesta secção, não pretendem de
forma alguma impor métodos, mas sim expor ideias que decorreram de casos reais e cujas
dificuldades encontradas, soluções adoptadas e resultados obtidos, permitem aqui exemplificar esses
métodos que se entendem sejam úteis em situações semelhantes.

8.1 Programas
Nos dias de hoje, cada vez mais se recorre às potencialidades dos programas de cálculo
automático, para resolver questões cada vez mais complexas, e que usando cálculo manual poderiam
levar dias, enquanto no computador pode demorar algumas horas. Esta ambição pela rapidez, pode
criar alguma cegueira, ou seja, a utilização do computador deve ser acompanhada de duas coisas
bastante importantes, um sentido permanentemente crítico durante todo o processo e tendo em
mente o facto destas obras terem sido calculadas, sem nenhum computador. Pode considerar-se esta
uma posição conservadora e até antiquada, mas a pessoal tem mostrado que não deve ser colocada
de parte. É claro que esta posição não vai de todo em desencontro do uso de computadores, muito
pelo contrário, muito estaria por fazer se não ocorresse a sua evolução.

A escolha do processo de cálculo a utilizar tem recaído sistematicamente e pelas razões já


apontadas pelo uso de programas de cálculo automático, cuja gama no mercado é bastante
diversificada, terá de ser o utilizador a tomar a decisão de escolha, informando-se junto das
empresas vendedoras, daquele que vai mais de encontro às suas necessidades. Não se pretende aqui
apresentar nomes desse programas, com prejuízo de influenciar o utilizador pela escolha dos aqui
referidos e o esquecimento de alguns igualmente eficientes. As referências que são apresentadas a
programas utilizados, encontram-se nos exemplos das três pontes estudadas, apenas como forma de
justificar o aparecimento dos resultados e permitir a sua confirmação por parte do leitor se assim o
entender, estando fora de questão qualquer fim publicitário.

Poderá não ser tarefa fácil a decisão por um programa, até certo ponto existe um certo risco
na sua aquisição, no entanto, hoje em dia cada vez mais, existem as versões demonstração à
disponibilidade de potenciais compradores e que poderão ser a forma mais eficiente para um
primeiro contacto com os mesmos.

40
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

8.2 Limitações dos programas


Já se enumeraram questões relacionadas com os programas de cálculo automático,
nomeadamente a dificuldade em simular a perda de rigidez de algumas ligações, a fadiga localizada
do material, corrosão pontualizada, para citar alguns exemplos, que não são fáceis, eventualmente
impossíveis de simular. Há que estar alertado para estas limitações. Um exemplo de uma simulação
que foi efectuada na Ponte Luiz I, pela impossibilidade de simular correctamente os apoios entre os
pilares metálicos e o tabuleiro superior, é a que seguidamente se transcreve:

“...os apoios do tabuleiro superior nos pilares metálicos foram definidos usando um conjunto
de barras de configuração estrutural bastante simples, mas que simulam correctamente o seu
funcionamento, (...): as barras verticais de muito elevada rigidez axial e fraca rigidez à flexão
(AB,CD) simulam os apoios, introduzindo-se os contraventamentos (AC,BD) para evitar o
funcionamento à torção das barras (EF,GH) no coroamento dos pilares metálicos...”

Os modelos numéricos de algumas estruturas podem atingir proporções de elevado número


de barras e nós, (1563 nós e 4170 barras foram usados no estudo da Ponte Luiz I), donde resultarão
algumas centenas de números relacionados com os esforços nos elementos, cuja análise será difícil.
Será assim útil para a visualização tanto dos resultados como da introdução de dados, uma eficiente
visualização gráfica, cuja interacção com a base de dados seja rápida, permitindo alterações da
estrutura em ambas as frentes, facilitando a tarefa do utilizador. Alguns programas têm saídas
gráficas deficientes, e que não permitem alterar a estrutura a partir desse ponto, obrigando o
utilizador a, para qualquer alteração, recorrer ao ficheiro de dados. Esta questão é de algum modo
desconfortável pela perda de tempo que gera entre abrir e fechar ficheiros, por isso se deixa aqui esta
referência. Pode assim, este ser mais um ponto a ponderar na escolha de um programa.

A complexidade de alguns programas, apesar de apresentarem performances excelentes,


requerem uma ambientação de bastante tempo até se obter um perfeito controlo das suas
potencialidades, há por isso também que ponderar o factor tempo, em relação à utilização do
programa, é preferível recorrer a um que apesar de não estar especialmente vocacionado para os
estudos em questão, tem o domínio do utilizador, principalmente em erros que possam ocorrer e
cuja detecção só é possível se se estiver habituado ao programa. Esta é uma questão bastante
importante, não basta ter um bom programa, é necessário conhecê-lo e saber utilizá-lo bem.

Podem enumerar-se outras questões relacionadas com os programas, como por exemplo: os
que já trazem bases de dados importantes, como legislação, tabelas de perfis metálicos, ou saídas
gráficas para programas de desenho, isto para falar dos que se enquadram no estudo de pontes
metálicas. Estas questões podem revelar-se muito úteis no desenvolvimento do trabalho, e ser
também um ponto de decisão de um programa em detrimento de outro.

41
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

As qualidades dum programa também são medidas em termos de cálculo propriamente


dito, e do tipo de análise que faz. Se calcula tensões com encurvadura, análises de segunda ordem,
acções dinâmicas, etc. Pontos muito importantes na sua performance, do que resultará certamente
em resultados mais ou menos completos. As questões dinâmicas são particularmente importantes
nos dias de hoje, como já se referiu, e se exemplificarão mais adiante nos estudos relacionados com
as pontes ferroviárias.

8.3 Cálculo manual


O cálculo automático é sem dúvida uma ferramenta de trabalho muito importante nos dias
de hoje. Cada vez mais rapidamente se consegue fazer cálculos mais complexos, situações que
manualmente pelos processos tradicionais demorariam tempos infinitos. Os problemas do cálculo
estrutural são cada vez mais direccionados para os programas de computador, o que provoca muitas
vezes uma abstracção das formas “tradicionais” de cálculo manual. Esta posição deve ser evitada. Se
já em projectos actuais é importante ter sensibilidade para analisar os resultados de um cálculo
computacional, efectuando à mão algumas verificações desses resultados para ganhar confiança nos
mesmos, então quando se fala de um estudo de uma ponte antiga, esta questão torna-se ainda mais
importante. O cálculo manual deve ser, principalmente para estes casos, evidenciado como
importante meio de verificação dos resultados processados, mas também dos efectuados pelos
projectistas das obras em causa, ou das alterações posteriores. Consegue-se assim uma sensibilidade
com a estrutura, que de outra forma não chegará a existir.

Esta preocupação, devendo estar sempre presente, não tem de se tornar exaustiva e
sistemática durante todo o processo de estudo. O que se pretende são verificações pontuais dos
resultados, que permitam ganhar confiança nos cálculos efectuados ou a efectuar. Não faria sentido,
tornar o processo de verificação, tão exaustivo que comprometesse o tempo disponível. Há que
seleccionar as verificações de modo a rentabilizar esta questão do controlo de resultados. Estas
verificações são úteis pois a dimensão de alguns modelos matemáticos é como já se exemplificou,
elevada, estando sujeita a erros que globalmente se podem tornar imperceptíveis, assim uma
confrontação de alguns resultados, pode ajudar ao seu despiste, garantindo a fiabilidade do modelo.

Não é imediato exemplificar situações típicas a este nível, mas o que se pode dizer é que nos
estudos das três pontes aqui exibidos, situações de erro não foram singulares, detectadas pelos
processos expostos. Barras sobrepostas, características de barras trocadas ou incompletas, condições
de apoio e simetria, muitos seriam os exemplos a dar relacionados com esta problemática. Parecendo
que o mais importante foi dito, deve-se acrescentar a importância de neste ponto estar
constantemente atento.

42
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

9 Resultados

Este é sem dúvida um dos pontos mais importantes em todo o desenvolvimento de um


estudo de reabilitação. Efectuando uma primeira análise dos resultados é possível concluir, ainda
que de forma preliminar, o nível de reforço necessário, por simples avaliação das tensões instaladas
na estrutura. Certo é que esta aproximação, é um pouco grosseira, carecendo de outras análises, mas
permite obter uma primeira ideia do nível de reforço necessário. Esta questão estende-se à própria
viabilidade da reabilitação, ou seja, como já se referiu a decisão de prosseguir ou abandonar a ideia
de reabilitar a obra, se obviamente o horizonte for apenas a resposta a novas solicitações. A pergunta
é colocada no início de todo o estudo mas, a resposta só é clara nesta fase. Se a análise de resultados
evidencia elevados níveis de reforço, economicamente incomportáveis, o estudo terminará por aqui,
pois a opção será a de construir uma nova ponte, ficando apenas por saber, se se prossegue com uma
recuperação para preservar a obra, mas não para a manter em funcionamento. Em qualquer dos
casos o estudo é encerrado neste ponto. Não é objectivo pôr a questão nestes termos, mas sim
admitir a viabilidade da reabilitação e prosseguir com os estudos.

A análise de resultados pode mostrar-se mais fácil ou mais difícil, conforme a forma com
que os mesmos são apresentados ao engenheiro, ou seja, uma apresentação de resultados eficiente
resultará numa fácil e também eficiente análise de resultados. De facto, muitas podem ser as formas
de apresentar resultados, haverá no entanto algumas que se adaptam melhor ao tipo de análise que
se pretende. Da experiência nesta área, pode-se concluir que a visualização gráfica dos esforços ou
tensões em intervalos de valores, em que para cada intervalo é designada uma cor, ficando a
estrutura colorida conforme os valores dos esforços de cada um dos elementos que a constituem, é
sem dúvida de evidenciar. Este tipo de apresentação foi usada nos três estudos que aqui se
apresentam relativos às três pontes portuguesas. Conforme se verá nesses exemplos a panorâmica de
esforços em toda a obra torna-se bastante fácil de visualizar, tendo-se uma análise de conjunto
eficiente. Aos olhos de alguns, estas questões das apresentações gráficas, são secundárias, o
importante é a fiabilidade do cálculo. Pessoalmente penso que ambas são igualmente importantes,
não adiantando ter bons resultados se a sua análise resultar deficiente e for propícia, por falta de
clareza, a serem cometidos erros. Esta posição fará ainda mais sentido quando se fala numa análise
global da estrutura, quando o número de barras, acções e combinações, complicam a visualização
analítica dos resultados.

Quando os resultados se referem a zonas específicas da estrutura, onde se efectuam análises


locais, muitas vezes planas, o problema já não se coloca, bastando muitas vezes cálculos simples, que
não contemplam a estrutura envolvente, mas apenas determinada barra ou conjunto limitado de

43
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

barras. Como exemplo citam-se análises estáticas a duas dimensões, das carlingas e longarinas, para
uma primeira avaliação da sua capacidade resistente.

Nas obras adiante apresentadas, além das análises globais, com tratamento gráfico dos
resultados já descritos, também foram efectuadas algumas e não menos importantes análises locais,
que conforme se verá se demonstraram bastante úteis.

Na elaboração dos modelos computacionais procede-se muitas vezes a simplificações na


definição da estrutura quer geométricas quer mecânicas, outras vezes a alterações na estrutura por
necessidade de introdução de barras fictícias. Este tipo de situação conduz muitas vezes a resultados
irreais para alguns elementos, sendo necessário na análise dos resultados ter estas questões sempre
presentes. É preciso no entanto, não esquecer que estas alterações estruturais, geométricas ou
mecânicas, não devem pôr em risco os resultados dos restantes elementos, pois isso deitaria por terra
a confiança que é necessário ter no modelo elaborado para o cálculo. É necessário ponderar portanto,
efectuando eventualmente ensaios com modelos mais simples, variando as características desses
elementos fictícios, de modo a concluir da sensibilidade do modelo a essas variações, podendo assim
confiar-se nos resultados obtidos, não comprometendo desta forma a sua análise.

A análise de resultados como se vê, é uma tarefa complicada, da qual resultará uma ou mais
soluções de reforço para a obra. Encontrada uma ou várias propostas de reforço, é possível
introduzi-las no modelo da estrutura existente, obtendo novos resultados comparáveis com os
anteriores entre soluções de reforço. É assim possível comparar a eficiência das soluções
nomeadamente em termos estruturais, resultando dessas comparações a eventual decisão por
determinada solução de reforço.

Os resultados a que se referem os pontos anteriores, estão condicionados, pela própria


especificidade dos modelos matemáticos, às questões puramente estruturais. É importante não
esquecer, que a solução de reforço, não pretende responder apenas a essas questões, mas também a
um enquadramento estético com a obra. Assim a melhor solução em termos estruturais pode não ser
a que melhor se enquadra com a obra e vice-versa. Propõe-se assim uma discussão entre soluções
que pese estas duas vertentes da reabilitação.

44
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

10 Cenários de reforço

10.1 Generalidades
Analisados os resultados e distinguidos os elementos da estrutura que carecem de reforço,
há que estabelecer o cenário ou cenários de reforço para esses elementos. Estes cenários podem ainda
dividir-se num reforço local ou global. Isto porque, existem elementos que podem ser encarados de
forma isolada no cálculo estrutural, como por exemplo as carlingas e as longarinas, ou por outro lado
aqueles que são objecto de um estudo de reforço global, o caso das vigas principais quando a opção
de reforço passa por exemplo pelo uso de pré-esforço externo. Esta divisão pode não ser tão clara, ou
mesmo deixar de fazer sentido, quando falamos de reforço por adição de novos elementos, por
substituição de parte ou totalidade de determinada barra ou por reforço dos elementos existentes
com adição de perfis ou chapas adicionais. Estas situações apresentam todas uma interpretação do
reforço de forma localizada, já que cada elemento pode ser estudado separadamente, ainda que
englobado numa estrutura, sabidos os esforços instalados e a sua capacidade resistente inicial.

A interpretação do carácter global ou local da intervenção deve também ser realçado. De


facto, quando se fala em reabilitação, subsiste a ideia duma intervenção geral na estrutura, em que o
reforço é visto como uma intervenção de fundo na mesma, na realidade reabilitação pode significar
intervenções pontuais em determinados pontos críticos da estrutura, podendo confundir-se com a
própria manutenção. Acaba assim por ser delicado estabelecer esta barreira, a partir de que ponto a
manutenção passa a reabilitação. À partida a reabilitação pressupõe estudos, como os que até agora
se têm vindo a propor, cuja solução passa pelo reforço dos elementos, enquanto que a manutenção
pelo seu carácter regular e periódico, não carece de estudos estruturais de estabilidade. Como se
disse a posição no limite não é clara, parecendo no entanto que, uma aproximação pode ser
encontrada na frase anterior, ficando a última análise para o leitor. Acaba assim por ficar a distinção
entre intervenção local ou global nessa fronteira, parecendo ser logicamente associada ao número de
elementos a reabilitar.

Em qualquer das situações que se possa falar, local ou global, existem uma série de factores
que poderão condicionar a escolha da solução de reforço. Podem citar-se alguns exemplos:

• factores económicos, sempre presentes durante todo o estudo e que mais uma vez
desempenham um papel de decisão;

45
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

• a estética da estrutura que deve tanto quanto possível ser mantida, este ponto têm vindo
a ser defendido desde o início, e parece ser mais uma vez oportuno enfatizar, já que é
como se disse uma imposição saudável, não permitindo dentro de determinados limites,
alterações que mexam com o valor arquitectónico da obra, nem provoquem impactos
ambientais negativos;

• as implicações que a intervenção acarreta em termos de utilização, a interrupção de


trânsito pode não poder ter lugar, obrigando a um planeamento minucioso do processo
de intervenção;

• a exequabilidade da própria solução, deve ser muito bem analisada, a forma de executar
o reforço proposto, os equipamentos necessários, as consequências para a estrutura
durante a execução, etc;

• eficaz planeamento do processo de intervenção, estabelecendo etapas bem definidas e


detalhadas, que garantam a eficácia da reabilitação e que não provoquem paragens
desnecessárias, que se traduzem em custos adicionais;

• instrumentação da obra, para posteriormente se avaliar o seu comportamento real e


avaliar a eficácia, tanto da intervenção como dos modelos de cálculo desenvolvidos.

Ponderados estes e outros factores, que particularmente cada obra fará surgir, é necessário
acompanhar o estudo com os modelos de reforço propostos, e finalmente concluir sobre a melhor
solução, que podendo não cumprir todas as exigências de projecto, é a que melhor se adapta. As
soluções de reforço que vão sendo analisadas no modelo de cálculo desenvolvido, são assim
progressivamente afinadas, culminando o processo na escolha de uma só solução. Mais uma vez se
referem algumas verificações que devem ser feitas manualmente, controlando agora os resultados de
uma nova estrutura reforçada.

10.2 Soluções de reforço


As soluções de reforço são bastante diversificadas, em termos de intervenção geral na
estrutura, existindo entre essas soluções pontos comuns, que interessa aqui deixar registados, já que
de uma forma ou de outra constituem situações típicas que mais vulgarmente se deparam em
soluções de reforço. Essas soluções são escolhidas mediante as necessidades que a obra apresenta,
resultando desta forma, uma equivalência entre problema e reforço associado, ainda que a
versatilidade de algumas soluções permita responder com eficácia a vários problemas.

Tem-se até agora falado quase sempre nas soluções de reforço associadas à estrutura
metálica, eventualmente não referindo com a mesma importância questões relacionadas com as
alvenarias dos encontros, pilares e os aparelhos de apoio. Na realidade, não nos podemos esquecer

46
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

destas questões, pois sem a sua consideração, a solução de reforço que se encontre, estará sempre
incompleta. Ao mesmo tempo, diga-se que algumas soluções têm implicações directas sobre aqueles
elementos estruturais, sendo preciso dotá-los de capacidades que garantam o seu bom
comportamento.

10.2.1 Alvenarias
Relativamente às alvenarias, as soluções têm passado pela consolidação dos seus elementos,
usando argamassas de alta resistência, que permitem uma melhor interligação entre as pedras que as
constituem. O uso de betão armado no envolvimento, de algumas partes, nomeadamente no
coroamento dos pilares, também se verifica, cujo exemplo se direcciona para a Ponte Internacional de
Valença-Tuy, ao qual a Figura 2.21 se refere. No entanto a grande maioria das soluções adoptadas
para as alvenarias, enquadram-se na rubrica da manutenção e por isso são tratadas na subsecção
11.1.

Figura 2.21 – Coroamento dos pilares com cintas de betão

10.2.2 Aparelhos de apoio


Os aparelhos de apoio destas obras, não aguentam por vezes as novas exigências, ou
simplesmente o seu estado actual, carece de imediata substituição ou importante reparação. Nos dias
de hoje, o conhecimento nesta área e a gama de aparelhos à escolha, é bastante completa, sendo
possível encontrar boas soluções para a obra, que podem resultar na substituição dos mesmos. A
questão dos aparelhos de apoio é fundamental no comportamento da estrutura, estes elementos irão
impedir ou permitir, os deslocamentos associados a acções térmicas, de lacete, de frenagem, enfim
todas as que obrigam a um movimento longitudinal ou transversal da obra. Estas forças podem
resultar também gravosas para os encontros e pilares, sendo função dos aparelhos atenuar, tais
acções nestes elementos. A conjugação da solução a estes níveis, parte duma cumplicidade entre os

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

deslocamentos que se pretende, sejam admissíveis, e que ocorrendo são favoráveis ao


comportamento da estrutura, e aqueles que devem ser impedidos pela mesma razão. A Figura 2.22
apresenta uma solução de substituição dos aparelhos de apoio na ponte de Seiça (ferroviária),
podendo ainda identificar-se no encontro, o negativo para os aparelhos oleodinâmicos de que foi
dotada para responder às acções dinâmicas que poderá vir a estar sujeita.

Figura 2.22 – Novos aparelhos de apoio da Ponte de Seiça

Não adiantaria aqui apresentar soluções específicas a este nível, já que cada situação obriga a
uma análise particular da estrutura. Deixando-se essa exemplificação para os estudos que se
apresentam nos capítulos seguintes. Importa apenas referir e de acordo com a U.I.C., uma última
questão relacionada com os aparelhos de apoio. Para as pontes mais leves, aconselha aquele
organismo, manter os aparelhos de apoio originais, ou substituí-los por semelhantes, isto porque
esses aparelhos são mais indicados para oscilação de cargas significativa, o que acontece sempre que
um comboio passa, o aparelho fica subitamente muito carregado e logo após a passagem
descarregado, sujeito apenas ao peso próprio da ponte. Estas oscilações de carga são nefastas para os
aparelhos de neoprene, além de provocarem a fadiga das pastilhas, obrigando a substituições
periódicas, podem provocar deslocações dos mesmos, por poder não ficar garantida a compressão
mínima dos mesmos. Pelo contrário os aparelhos antigos, pelo seu elevado peso próprio, funcionam
melhor para essas oscilações de carga, garantindo maior durabilidade [56].

10.2.3 Estrutura metálica


Relativamente às soluções de reforço, para a estrutura metálica propriamente dita, podem
apontar-se as que se têm vindo a divulgar de forma mais persistente na bibliografia da especialidade.

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

O uso de novos elementos mais resistentes, por substituição dos existentes, é à partida uma
solução evidente, não fosse muitas vezes a dificuldade da sua execução. Exagerando, esta solução
transportar-nos-ia para a substituição de todos os elementos que apresentam problemas. Na
realidade, este pensamento é inviável, quanto mais não seja pelo seu carácter totalmente
anti-económico. Esta solução é apenas plausível, para alguns elementos, por exemplo,
contraventamentos de algumas peças, em que se torna fácil a sua execução, quer pelo tipo de ligação
que apresentam aos restantes elementos, quer pela sua importância na estrutura. Assim a opção pela
substituição de elementos, passa por ponderar factores económicos, de exequabilidade e
consequências para a circulação na ponte.

Nas situações em que não é possível efectuar esta substituição, e que são a maioria, o
aumento da área das peças, com a adição de perfis comerciais ou chapas, é uma solução adequada e
que tem vindo a ser usada em várias situações. O uso de chapas faz-se sentir de uma forma mais
evidente, em perfis cujo posicionamento e dimensões, não permite o uso de perfis adicionais. As
carlingas e longarinas são um exemplo típico desta situação, o uso de chapas de banzo e de alma é a
solução mais comum que se verifica. O uso de perfis comerciais noutras situações, aparafusados ou
rebitados aos elementos existentes, com o cuidado de não alterar a geometria da obra, é também uma
solução a apontar em termos de melhoramento das característica mecânicas. Para estes exemplos, as
soluções de reforço apresentam-se em termos teóricos como relativamente simples, o que dificulta a
solução é a forma de as colocar em prática, como efectuar a ligação entre elementos, as implicações
em termos de peso próprio para a estrutura, os factores económicos. A resposta não é de todo
imediata, e requer alguma reflexão.

Algumas intervenções de complexidade reduzida, resultam em eficientes melhorias de


resistência e comportamento da estrutura. Como exemplo pode explanar-se o de uma ponte
constituída por vários tramos simplesmente apoiados, com problemas de esforços provocados por
elevado momento flector. A solução pode passar pela alteração para viga contínua, adoptando os
respectivos reforços, ao nível dos apoios e elementos próximos destes. Tal como em qualquer outra
solução, pressupõe-se uma integração estrutural correcta da solução. Conforme adiante se verá
existem outras soluções de carácter pontual, que melhoram significativamente o comportamento de
alguns elementos, prevenindo ou eliminando deficiências.

Outra solução também, bastante comum prende-se com o uso de cabos, pré-esforçados ou
não, cuja configuração geométrica e posicionamento na estrutura, permitem uma significativa
melhoria no seu comportamento. Um exemplo desta solução encontra-se na Ponte do Lima em Viana
do Castelo, onde um conjunto de cabos colocados pelo exterior das vigas principais se ligam a uma
estrutura de suporte secundária, constituída por grelhas de perfis metálicos (carlingas), colocadas
entre pilares por baixo do tabuleiro inferior, conferindo novas zonas de apoio à estrutura e aliviando

49
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

as cargas transmitidas aos existentes (Figura 2.23). As cargas transmitidas a estas grelhas são por sua
vez transmitidas aos cabos que percorrendo toda a estrutura, são ancorados em maciços localizados
nas traseiras dos encontros. Os cabos furam as alvenarias dos encontros, conforme se exibe na Figura
2.24, para serem ancorados, o que pode estar na origem de algumas fissuras detectadas nas
alvenarias. O resultado estético desta solução é discutível já que a dimensão dos cabos, os torna
perceptíveis na restante estrutura.

Figura 2.23 – Cabos pré-esforçados como solução de reforço (esq.) e carlingas de suporte da estrutura (dir.)

50
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.24 – Passagem dos cabos pelas alvenarias dos encontros para serem ancorados

A solução de cabos pré-esforçados e escoras igualmente pré-esforçadas que será apresentada


no estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy, é outra a evidenciar pela sua simplicidade e
reduzido impacto visual no conjunto da obra. É uma solução cujo principal objectivo é reduzir os
esforços nos banzos das vigas principais, recorrendo-se ao uso de cabos pré-esforçados no banzo
inferior, diminuindo-se as tracções, e escoras no superior, objectivando a redução das tensões de
compressão, resultando assim o alívio global das tensões que ocorreriam naqueles elementos, por
aumento da carga ferroviária.

As considerações seguintes, apresentam imagens relativas às soluções de alguns problemas,


referentes nomeadamente a pontes ferroviárias [16], mas que também se podem verificar em
rodoviárias, acompanhando as apresentações com as soluções de reparação desses problemas.
Comecemos por apresentar a solução do problema apresentado na Figura 2.11 da subsecção 3 deste
capítulo. A deformação das almas do perfil composto de uma viga principal pode ser impedida ou
reparada, colocando cantoneiras nas extremidades das almas, ligadas por uma treliça de réguas
metálicas, conforme se esquematiza na Figura 2.25. Nas Figuras 2.26 a 2.29 são apresentados alguns
problemas, essencialmente ligados a fissuras em elementos, e as respectivas propostas de reparação.

51
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 2.25 – Solução de reforço que impede a deformação das almas para fora do seu plano

Figura 2.26 – Ligação das carlingas aos montantes

Figura 2.27 – Ligação das carlingas às vigas principais

52
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.28 – Ligação das longarinas às carlingas

Figura 2.29 – Reparação de almas fissuradas

53
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

11 Manutenção

11.1 Alvenarias
As alvenarias dos pilares e encontros quando em contacto sistemático com a água ou
parcialmente submersas carecem de atenção especial. Dever-se-á ter em atenção as subidas das águas
em épocas de cheias que por vezes provocam buracos sensíveis nos pilares. Sempre que possível
dotar os mesmos de protecção que evite a situação anterior, por meio de enrocamentos de protecção
e construção de diques que quebrem as águas [10], também o descalçamento de fundações,
provocado pelas velocidades elevadas que as águas atingem. Estas entre outras deficiências podem
ser minimizadas ou reparadas, adoptando medidas preventivas e de recuperação [15]. Entre essas
medidas salientam-se:

• conservar enrocamentos existentes;

• aperfeiçoar a forma dos pilares;

• consolidação de fundações;

• proteger as pontes descarnadas pelas águas;

• betonagem de cavidades existentes nas alvenarias;

• refechamento de juntas com injecção;

• empregar processos de vigilância, recorrendo a mergulhadores, para as partes submersas.

Para as alvenarias não submersas as considerações são também dignas de nota, assim
situações de infiltrações, formação de estalactites, juntas abertas, fractura dos paramentos, entre
outras, têm causas conhecidas e soluções experimentadas que têm dado respostas satisfatórias a
esses problemas.

As infiltrações, são causadas pela existência de materiais porosos ou fissurados, é


aconselhável o uso de produtos betuminosos que voltem a repor a estanquicidade. As injecções de
cimento, podendo dar bons resultados, não são muito comuns [14].

Quanto às estalactites, resultam do empobrecimento das argamassas, por dissolução devido


às infiltrações de água. Quando a evolução é significativa, a solução a adoptar é idêntica à
anteriormente descrita. O empobrecimento das argamassas, provoca também a abertura das juntas,
as quais devem ser refeitas depois de escavadas 3 a 5 cm.

54
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Relativamente à fractura dos paramentos, várias são as razões apontadas para a sua
ocorrência: a formação de gelo em grandes superfícies, passando a solução pela secagem das pedras,
a reconstrução da estanquicidade do paramento. As fracturas podem ainda ocorrer pela existência de
pedras muito porosas ou betão de fraca dosagem ou empobrecido pelas infiltrações, ainda a acção da
água combinada com fumos, provoca o ataque dos materiais devido à formação de ácido sulfúrico
[14]. A reparação consiste em limpar o paramento e refazer a camada de estanquicidade.

Por último refere-se a decomposição do betão que se pulveriza sem coesão, que resulta da
ocorrência de tensões superiores às admissíveis no material. Quando este problema ocorre na pedra,
observa-se também o esmagamento e fracturação da mesma. Ainda o contacto com materiais em
combustão, com águas sulfatadas ou carregadas de dióxido de carbono.

11.2 Aparelhos de apoio


Os aparelhos de apoio destas pontes, já anteriormente exibidos, carecem duma permanente
conservação, que nem sempre é levada a cabo resultando normalmente a introdução de esforços na
estrutura metálica, mas também nas alvenarias onde estes apoiam. Muitos destes aparelhos são de
difícil acesso, o que acaba por provocar a referida falta de manutenção.

Os apoios do tipo fixo, permitem apenas pequenas rotações e impedem os deslocamentos


horizontais. Os de tipo móvel, podem ser de rolos ou de pêndulo, permitindo deslocamentos
horizontais. Hoje em dia não é comum o uso destes aparelhos, mas a necessidade de lidar com os
existentes e de garantir o seu bom funcionamento, justifica a apresentação de algumas considerações
a seu respeito, que poderão ser úteis.

Comecemos por referir algumas questões relativas à manutenção. A limpeza dos aparelhos
deve ser feita a ar comprimido, principalmente os móveis, não devendo durante as pinturas, pintar
as suas articulações, rolos e placas de apoio. Devem, isso sim, ser bem limpos de qualquer tipo de
oxidação e serem lubrificados com frequência. Caso contrário, desenvolve-se atrito entre superfícies
não lubrificadas, provocando o arranque das placas e fissuras nas alvenarias. Os aparelhos de rolos,
mais comuns em obras de grande vão, são propícios a cuidados específicos, nomeadamente: verificar
se algum rolo excedeu a placa inferior, ou embateu na espera respectiva, ficando aí imóvel; ainda se
cada rolo está em contacto com a placa superior ao longo de toda a sua geratriz. Quando não existem
dispositivos de travamento, podem ocorrer deslizamentos transversais dos rolos em relação às
placas superiores. Se isto se verificar, deverá ser providenciada a colocação dos referidos
dispositivos de travamento.

Quando a manutenção é insuficiente, o conjunto de peças que constituem o apoio, começam


a ganhar folgas, que se agravam à medida que vai havendo batimento dos elementos, resultante da

55
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

circulação das cargas, de choques importantes que tendem a esmagar as placas de chumbo,
provocando desnivelamentos, acentuam-se assim os choques que originam esforços locais
importantes, fazendo deslocar as placas e deteriorando as alvenarias. As vigas devem estar bem
assentes nos apoios e estes nas câmaras, com supressão de qualquer jogo. A colocação do apoio que
recebe os aparelhos e o seu nivelamento requer grande precisão, evitando os choques e as
irregularidades das superfícies de apoio das alvenarias. Para tal podem calçar-se os aparelhos com
barrotes de madeira ou metálicos e usando placas de chumbo. O chumbo pode ainda ser despejado
fervente, pelo que deve haver o máximo cuidado em garantir a ausência de água, nas cavidades do
apoio. Podem ainda empregar-se argamassas de cimento, resina epoxy ou argamassa sem retracção
para calçar os aparelhos.

As placas de chumbo, requerem normalmente renovação frequente e o chumbo despejado


fervente põe em risco a saúde dos trabalhadores, por isso é de investir na mudança para outras
soluções, quer de produtos que substituam o chumbo, ou mesmo os aparelhos por completo. O uso
de aparelhos de apoio actuais, repercute-se em alguns casos em melhoramentos significativos no
comportamento da estrutura metálica e das alvenarias. De facto os apoios actuais, constituídos por
neoprene, evitam o batimento, deslocação dos apoios e fendas nas alvenarias, reduzem vibrações do
tabuleiro e ruídos. Nos casos em que as placas de chumbo estão partidas e existem fendas nas
alvenarias, o neoprene é bastante indicado. As placas de neoprene devem ultrapassar a placa de
apoio metálica, em pelo menos 2 cm para a encastrar. Os aparelhos devem ser nivelados, ajustando a
palmilha de neoprene às alvenarias.

É sem dúvida muito importante o correcto nivelamento dos aparelhos de apoio. Só desta
forma se garante o correcto funcionamento da superestrutura, evitando o problema conhecido por
martelagem. Este problema, como já se descreveu, é provocado pelo facto dos apoios não se
encontrarem de nível. Este fenómeno origina patologias já descritas. Há no entanto uma questão
relacionada com os aparelhos de apoio que merece mais alguma pormenorização. É necessário nos
apoios de rolos que as placas de apoio, estejam em contacto com todos os rolos, se isso não acontece
é porque, ou os rolos têm diâmetros diferentes, ou as placas superiores ou inferiores não estão
perfeitamente planas ou não são paralelas. É possível verificar este fenómeno, retirando as réguas
laterais e tentando deslocar o rolo à mão, se isso acontecer é porque não está carregado. O mesmo se
pode verificar em apoios de pêndulos, retirando as réguas laterais os pêndulos descarregados,
deslocar-se-ão também facilmente ou simplesmente tombam. Quando os rolos estão igualmente
carregados pode ainda acontecer que não girem, por ter ocorrido desgaste na sua superfície, que
deixa de ser perfeitamente cilíndrica, dificultando o seu movimento. A reparação passa por colocar
novos rolos ou tornear os existentes, bem como alisar as placas superiores e inferiores.

56
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Há pois que em qualquer dos casos apresentados proceder à reparação das peças
defeituosas, que obriga normalmente ao levantamento do tabuleiro e à retirada do aparelho,
calçando temporariamente a ponte.

A regulação horizontal e vertical dos apoios destas obras é também um ponto a referir. A
regulação horizontal só é efectuada em apoios móveis e é função da temperatura a que o trabalho é
efectuado e dos deslocamentos a que a obra ficará sujeita. A Figura 2.30 mostra esquematicamente o
processo utilizado.

Figura 2.30 – Esquema de colocação de um aparelho de rolos

a
com x =
2

a – deslocamento da obra sob influência da temperatura, em relação ao apoio.

x – distância do eixo do conjunto dos rolos aos eixos das placas de apoio superior e inferior

Relativamente à regulação vertical esta divide-se em dois casos. Um primeiro em que as


reacções de apoio não são medidas e no segundo caso em que são. No primeiro os aparelhos de
apoio são colocados sobre calços de madeira, entrepostos com chapas metálicas de pouca espessura,
após o que são selados com argamassa de cimento. No segundo caso são medidas as reacções de
apoio pelo menos para o peso próprio, utilizando macacos munidos de manómetros, cujos valores
lidos são comparados com os calculados [19]. Em obra é assim possível regular as reacções em cada
apoio, garantindo um correcto nivelamento e posterior selagem dos apoios.

Esta técnica de pesagem das reacções de apoio é também usada para nivelar tabuleiros.
Medindo as reacções de apoio existentes é possível determinar os desníveis existentes e proceder ao
nivelamento dos mesmos. O principal cuidado a ter na execução das medições das reacções é a
colocação dos macacos o mais perto possível do apoio, para garantir uma leitura tão correcta quanto
possível.

57
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

11.3 Estrutura metálica


Já foram apresentados os vários problemas a que as pontes metálicas estão sujeitas. A
solução de alguns deles, passa pelo reforço da obra, quer recorrendo à substituição de elementos
novos, quer pelo aumento das suas características resistentes, ou alívio das tensões instaladas, com
uso de outras estruturas. Por outro lado, existem outros problemas solúveis com o recurso a uma
conservação da obra, eliminando patologias e mantendo uma manutenção sistemática da mesma.
Assim se apresentam de seguida algumas considerações respeitantes à conservação das obras,
respondendo com soluções a alguns problemas anteriormente exibidos, apresentando também mais
alguns exemplos de avarias que podem ocorrer e suas soluções de reparação.

11.3.1 Limpeza e pintura


Como se referiu por diversas vezes, a oxidação dos aços (corrosão) é eventualmente o
principal problema das pontes metálicas. A solução essencial deste problema é a pintura periódica.
No entanto, outras questões se levantam conforme o nível de corrosão instalado. A solução anterior
(pintura) deve ser aplicada após limpeza das partes envolvidas, quando o nível de oxidação é
normal, apenas na superfície do elemento. Quando o estado é mais avançado, por acção de fumos ou
da água em conjunto com o ar, há que dotar a estrutura de protectores de fumos, como madeira ou
fibrocimento, ou mesmo envolvendo em betão algumas das partes [13]. O escoamento das águas
deve pois ser garantido, mantendo em bom funcionamento os dispositivos de escoamento. O uso de
furos no banzo inferior das vigas principais, que pela sua configuração geométrica favorecem
acumulação de água, como já se referiu e demonstrou, é uma técnica comum, mas nem por isso
muito eficaz se não existir uma limpeza frequente, de resto outro ponto importante a registar, a
limpeza da obra. Não havendo limpeza, os detritos que se vão depositando, acabam por obstruir os
furos, impedindo o escoamento das águas. Esses mesmo furos muitas vezes, acabam mesmo por
encaminhar as águas para outros elementos, o que anula de vez com o potencial efeito benéfico dos
mesmos.

As operações de limpeza e pintura, não estão isentas de dificuldades, muitas vezes o


reduzido espaço entre elementos, dificulta estas operações, implicando a necessidade de efectuar
intervenções mais amiudemente do que na restante estrutura, esta situação deve pois ser evitada o
mais possível, entretelando os elementos. Casos há em que a inacessibilidade de alguns deles, não
permite a sua manutenção, esta situação torna-se ainda mais gravosa e caso exista, tal como a
anterior, deve procurar ser eliminada, substituindo as peças cuja manutenção, pelas dificuldades
exibidas, tende a não ser eficiente ou simplesmente não existir.

A pintura é sempre precedida de uma limpeza do ferro, para o que se usam, picadeiras,
raspadeiras e escovas de aço. Após se obter uma superfície lisa, polida e bem limpa, então o ferro

58
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

bem seco deve ser imediatamente pintado, pois que este exposto ao ar, oxida rapidamente e tanto
mais quanto mais polido estiver e quanto mais húmido for o ar no local de trabalho. Por isso,
também não deve a pintura ser feita com tempo húmido, mas sim em tempo seco e com sol quente.
Quanto mais quente estiver o ferro na altura de aplicação da tinta, melhor. As considerações
anteriores levam a referir o seguinte: nunca se deve deixar o ferro limpo, para se pintar no dia
seguinte, quando isso acontecer, deve o ferro ser polido novamente antes de aplicar a tinta. Esta
aplicação pode ser feita à mão com trinchas ou brochas, ou a ar comprimido. Quando a aplicação é
manual, usam-se três demão de tinta, com cores diferentes para ser possível distinguir cada
aplicação. A primeira demão é normalmente dada com tinta vermelha, sendo uma pintura parcial, a
pintura geral é feita com duas demão de tinta cinzenta, a 1ª demão com tinta escura (nº1) e a segunda
com cinzenta clara (nº2) [13]. A tinta usada é normalmente de base metálica, anti-corrosiva e bastante
pesada. É também referido [15] o uso de 4 demãos em que as duas primeiras são de minium de
chumbo, e as restantes idênticas às anteriormente descritas.

Quando a pintura é efectuada a ar comprimido, é normalmente suficiente uma demão de


tinta cinzenta, porque a camada de pintura é mais espessa, correspondendo às duas demão da
pintura normal. A dificuldade maior desta pintura, é a regulação do jacto e a distância ao elemento, a
fim de garantir que a camada de tinta seja igual e suficiente sem haver desperdício. Este método é
bastante indicado para superfícies largas, como as almas cheias, para certas barras, diagonais por
exemplo, a situação inverte-se, sendo mais indicada a pintura manual. É mesmo necessário fazer
retoques à brocha, em determinados elementos que pela sua posição não foram totalmente cobertos
com a pintura mecânica.

Da mesma forma que se refere a pintura a ar comprimido, também a limpeza, assim pode
ser efectuada. E do mesmo modo é necessário fazê-lo manualmente em partes específicas.

Apesar dos trabalhos descritos pressuporem a remoção da tinta velha, esta é muitas vezes
difícil de remover, tal não é preocupante, pelo contrário, deve deixar-se a tinta antiga que apresente
estar em condições de boa aderência, pois irá contribuir por si só numa boa camada protectora.

As pinturas das pontes metálicas, obedecem a intervalos de tempo variáveis, conforme a


localização da obra e agressividade do meio e ainda das suas necessidades de manutenção. Deste
modo podem as pontes ser sujeitas às designadas, pinturas gerais, de 4 em 4 anos ou atingir
intervalos de 10 anos. Há exemplos de períodos mais apertados, que podem atingir pelo menos
teoricamente a necessidade de serem pintadas total ou parcialmente de dois em dois anos.

Durante a execução de limpeza e pintura da obra, nomeadamente na altura em que os


elementos forem limpos da tinta existente, é possível e aconselhável proceder a uma inspecção dos
mesmos, numa tentativa de identificar anomalias, anteriormente encobertas pela pintura, como é o

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

caso de fissuras. Não se devendo, no caso de isso se verificar, pintar a peça, mas sim proceder
previamente a uma reparação. Uma medida preventiva para parar o prolongamento da fenda é
executar nas suas extremidades furos de 5mm de diâmetro, após o que se procede à colocação de
cobrejuntas ou mesmo à substituição da peça [14].

Refere-se de seguida o tipo de intervenção relativo às bolsas de ferrugem que se formam


entre chapas (ver Figura 2.6). A operação consiste em remover essa ferrugem, raspando bem as
chapas, não hesitando, descravar alguns rebites, se tal se demonstrar útil para a eficácia da acção de
limpeza, após a qual as partes serão pintadas e os espaços entre elas cheios de massa. Quando as
chapas a ligar já se encontram encurvadas pela formação das bolsas, nem sempre é possível eliminar
essa curvatura. Se as bolsas são relativamente pequenas pode recorrer-se ao uso de rebites
intermédios, embora possa disso resultar a fendilhação das chapas, esta operação só deve ter lugar,
após serem efectuados ensaios em amostras de material da ponte [15] a fim de avaliar a sua
fragilidade. Quando as bolsas são grandes a cravação de rebites intermédios está fora de questão. De
facto, o ferro antigo continha bastante percentagem de azoto, o que o torna quebradiço. Ao ser
tentada a cravação em sentido contrário, as chapas podem fissurar. Quando ocorre fissuração, a
cravação não pode ser perfeita, ou porque a ferrugem não saiu completamente, ou porque as chapas,
devido à excessiva deformação não voltam completamente ao sítio. Por estas razões o procedimento
que tem dado melhores resultados é o que se refere nos pontos seguintes [15]:

1. Limpar bem a zona entre chapas;

2. picar cuidadosamente as partes interessadas;

3. fazer penetrar entre as chapas, minium de chumbo fluído com óleo;

4. garantir estanquicidade do intervalo, preenchendo com mastique de minium de chumbo;

5. recobrir toda a zona com uma demão de tinta de minium de chumbo;

6. finalmente aplicar duas camadas de tinta anti-corrosiva.

11.3.2 Rebites
As questões relacionadas com os rebites como elemento isolado, revestem-se de algumas
considerações, merecedoras de referência, até porque são eles os responsáveis pela ligação de todo o
conjunto da estrutura. Assim é necessário verificar se os rebites se encontram bem apertados, ou
como é costume designar, não se encontram leves. Detecta-se se um rebite se encontra leve, pelo
toque ou pelo círculo de ferrugem que se forma em torno da sua cabeça. A existência de rebites
nestas condições, faz com que fiquem fora de serviço, provocando maiores esforços nos vizinhos,
podendo fazer com que estes fiquem também leves. Assim se deve proceder a uma verificação
periódica dos mesmos, substituindo por novos, todos os que apresentarem o referido problema, ou

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

por parafusos de alta resistência com aperto controlado. Durante a operação de substituição, e
devido ao aperto, é preciso verificar se agora os rebites vizinhos não aliviaram. O uso de rebites
novos passa pelos seguintes passos essenciais para uma boa execução [15]:

1. mandrilar os furos;

2. escolher rebites cujo diâmetro a frio, não seja inferior em mais de 1 mm ao do furo
mandrilado;

3. aquecer o novo rebite uniformemente até atingir rubro cereja claro (cerca de 900ºC);

4. efectuar a cravação com equipamento em boas condições de funcionamento,


abandonando o rebite ainda com cor vermelho sombrio, não batendo no rebite já meio
frio.

A simples cravação de rebites em aços mais antigos, devido às características já


apresentadas, partem-nos facilmente quando actuados no sentido perpendicular à laminagem.
Constatam-se fendas na espinha das cantoneiras, fendas nas almas das longarinas e nos banzos em
U, das vigas principais.

O posicionamento de alguns rebites dificulta a sua substituição, pelo pouco espaço


disponível para manobrar o equipamento, recorre-se então ao uso de parafusos.

Entendendo-se que a substituição de alguns elementos da obra, é uma tarefa que se engloba
na secção da manutenção e não no reforço da mesma, optou-se assim por apresentar algumas
considerações ligadas à substituição de elementos.

11.3.3 Substituição de elementos


A substituição de um elemento de uma ponte, seja uma chapa de banzo, uma cantoneira ou
um gousset, além das tarefas directamente associadas, carecem de método específico que tem de ter
em conta a rapidez das operações, já que na maior parte dos casos, principalmente nas pontes
ferroviárias, não se faz interrupção de trânsito. A substituição de uma peça da ponte deve além disso
satisfazer alguns cuidados, que garantam durante o período dos trabalhos o normal funcionamento
da estrutura. Desta forma pretendem os parágrafos seguintes dar a conhecer ao leitor, quer as
tarefas, quer os cuidados a ter na execução de substituição. Podem resumir-se em cinco as acções
essenciais desenvolvidas na substituição de uma peça metálica destas pontes:

1. retirar os rebites existentes;

2. substituir os rebites por parafusos;

3. retirar a peça antiga e colocar no seu lugar a nova;

61
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

4. refazer as ligações usando parafusos;

5. substituir os parafusos por novos rebites.

A substituição dos rebites, temporariamente por parafusos, tem como fim garantir que a
ligação entre peças não fica enfraquecida. Isto porque, e como se referiu, a circulação na ponte
continua, ao mesmo tempo que se executam os trabalhos. Daquela forma o elemento em causa
mantém-se em funcionamento. Nas pontes ferroviárias o intervalo entre comboios é conhecido, é
assim possível nesse intervalo, trocar o velho pelo novo elemento, estando a ponte sujeita ao seu peso
próprio. Nas pontes rodoviárias não é assim, podendo obrigar a uma interrupção do trânsito.

Nem sempre é necessário substituir todos os rebites retirados por parafusos, isso vai
depender da peça em questão, do estado geral da obra, do tempo em que a ligação fica garantida
apenas pelos parafusos e no caso das pontes ferroviárias do intervalo entre passagem de comboios.
Em algumas peças aconselha-se pela sua importância, na estrutura, à substituição total dos rebites
por parafusos. Como exemplo referem-se as ligações das longarinas às carlingas e destas às vigas
principais.

Os cuidados a ter na colocação dos próprios parafusos são também dependentes das
questões anteriores. Se a circulação na ponte é importante, se os parafusos vão permanecer por
algum tempo até serem cravados novos rebites, então haverá cuidados redobrados na sua colocação,
para não enfraquecer essas ligações, mesmo provisórias. Em qualquer situação porém, nunca deve
deixar-se mais de um furo livre entre parafusos [13]. As mesmas regras se aplicam aquando da
substituição pela peça nova. Relativamente à cravação de novos rebites, além dos pontos já
explanados, há a acrescentar que, caso existam furos livres, esses serão os primeiros a serem
preenchidos, só depois se passa aos restantes. Quando não existem furos livres, a substituição por
rebites deve ser alternada, ou como genericamente se designa, em pé de galinha [52], efectuando a
cravação partindo do centro do elemento em direcção a um e outro lados. Após substituídas as peças
os rebites devem ser pintados de acordo com as prescrições anteriores.

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

12 O estado das pontes metálicas nacionais

A particularização do estado das pontes metálicas nacionais, rodo e ferroviárias, é um ponto


importante a registar. As informações a este respeito foram obtidas junto de funcionários da J.A.E. e
da C.P., aos quais foram colocadas questões relacionadas com a situação das pontes metálicas
nacionais, o seu estado de conservação, as acções que têm sido levadas a cabo no campo da
reabilitação e conservação, as que se encontram em recuperação, enfim, elementos que permitissem
caracterizar o melhor possível a situação, de cada uma das entidades, em relação ao tema em
questão. Procurou também saber-se a evolução ao longo dos tempos da recuperação e manutenção
das obras, como se fazia e como se faz. As equipas que existiam e as que existem agora. Traçando
desta forma as principais linhas históricas nacionais ligadas ao tema da presente dissertação.

Se por um lado era importante incluir nesta dissertação o estado da arte relativo à
reabilitação e conservação das pontes metálicas no contexto nacional, por outro lado era importante
reunir a informação disponível numa forma sucinta e que permita aos interessados nesta matéria
dispor de uma base de trabalho focalizada. Procurando sistematicamente recolher informação que
completasse o melhor possível este item da dissertação, não se encontrou nenhuma bibliografia que
tocasse nestes assuntos e nos que anteriormente se desenvolveram, de forma específica. Grande parte
da informação foi recolhida junto dos que trabalham nestas obras, cujos anos de experiência os
enriqueceu de conhecimentos.

12.1 A Junta Autónoma de Estradas


Longe vão os tempos em que a J.A.E. possuía 4 brigadas ligadas à conservação e manutenção
das pontes metálicas. Segundo indicações do Sr. Antero Pinto [52], homem cuja vida inteira está
ligada às pontes metálicas, particularmente à Ponte Luiz I. As 4 brigadas existentes dividiam-se da
seguinte forma. Existia uma brigada em Vila Franca de Xira com cerca de seis homens, responsável
ou pelo menos mais vocacionada para a zona sul do país. Uma segunda sediada em Almada com
cerca de 10 homens era a responsável pela manutenção da Ponte 25 de Abril. Esta equipa extinguiu-
se por completo, bem como parte da de Vila Franca de Xira, acabando as duas por ficarem agregadas
numa só, hoje em dia a única existente e constituída apenas por 3 homens. Esta equipa é a que ainda
hoje se desloca por todo o país quando é necessária a reparação de alguma obra metálica. É claro que
o âmbito e a grandeza das reparações, como será fácil de concluir, é bastante limitado. Sendo as
intervenções de carácter pontual e envolvendo apenas recursos e tecnologia disponível pela brigada.
As grandes intervenções de limpeza e reabilitação, são entregues a empreitadas por concurso, como
foi o caso da última intervenção na Ponte Luiz I.

63
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Uma das outras duas brigadas, constituía o então designado “carro oficina”, formado por
uma equipa de 6 homens que se deslocavam por todo o país para efectuar intervenções. O "carro
oficina” conforme se pode visualizar na Figura 2.31, Figura 2.32 e Figura 2.33, possuía todo o
equipamento necessário às intervenções a efectuar. Este carro encontra-se nos armazéns da J.A.E. na
cidade do Porto, bem como uma série de equipamento a que será feita referência ao longo desta
secção.

Figura 2.31 – O “carro oficina”

Figura 2.32 – Aspecto do interior do “carro oficina”

As figuras apresentadas são actuais e evidenciam o seu excelente estado de conservação,


atendendo a que já têm mais de 50 anos, constituindo uma autêntica peça de museu e é sem dúvida
um elemento de destaque na história das pontes metálicas portuguesas.

64
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.33 – Outra vista do interior do “carro oficina”

A última equipa que falta referir, merece especial atenção. Esta equipa constituída por 23
homens, era uma equipa permanente que se ocupava quase exclusivamente da Ponte Luiz I.
Chefiada durante os últimos anos da sua existência pelo Sr. Antero Pinto, desapareceu há cerca de 20
anos. Mas durante o seu tempo de funcionamento ocupava-se da conservação daquela ponte. Alguns
dos seus elementos eram ocasionalmente destacados para intervenções noutras obras, quando não
era possível à equipa do “carro oficina” responder a tal pedido. Para isso um conjunto de 6 ou 8
homens deslocavam-se no veículo exibido na Figura 2.34, transportando consigo diverso
equipamento que adiante se exibirá, do qual se destaca o compressor da Figura 2.35.

Figura 2.34 – Veículo de deslocação da equipa da Ponte Luiz I

65
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 2.35 – Compressor com reboque

Estes equipamentos, tal como o “carro oficina” e muitos outros, encontram-se guardados,
exaltando-se desde já a necessidade de os colocar em lugares mais dignos, contribuindo de alguma
forma como uma homenagem àqueles cuja vida esteve ou está ligada à conservação e reabilitação de
pontes metálicas.

Desde o fim da existência destas brigadas, das quais apenas resta a de Vila Franca de Xira,
pouco tem sido feito para continuar o trabalho de recuperação das pontes [53]. Não querendo fazer
juízos de valor e tendo em conta apenas as informações prestadas pelos entrevistados, parece que a
postura perante o problema não é a mais atraente. Por outro lado com o desaparecimento das
brigadas, coloca-se a questão da sua continuidade. É certo que existem várias obras em recuperação,
outras com projecto já elaborado. No entanto a sensibilização perante o problema de revitalizar toda
uma atitude, com acções de formação vocacionadas para os problemas específicos da manutenção e
reabilitação das pontes, parece não ter lugar. A experiência pessoal relativamente à Ponte Metálica
do Pinhão, é exemplo dessa falta de empenhamento. A Ponte Luiz I cuja última intervenção teve
lugar em 1980, não tem desde essa altura qualquer tipo de intervenção, a não ser situações de
carácter pontual, quando o Sr. Antero que ainda se encontra vigilante, requer à brigada de Vila
Franca de Xira a necessária intervenção. De facto, parece oportuno sensibilizar todos para esta
questão e manter uma atitude de respeitosa revolta contra todos, cuja responsabilidade está a este
problema ligada.

Cada vez à menos incentivos nesta área da engenharia dentro da J.A.E. [53], acompanhada
da não existência de especialistas na área. Não há um acompanhamento continuado das obras, que
seja transmitido eficazmente pelos que por lá vão passando. Apesar de algumas obras terem vindo a

66
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

ser recuperadas, não tem havido uma manutenção satisfatória e estudos que permitam recolher
informação a vários níveis, contribuindo para a actualização histórica destas obras.

67
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

12.1.1 A actividade da brigada da Ponte Luiz I


Falar destas brigadas e não falar da sua actividade, do modo como trabalhavam, deixaria
decerto este ponto bastante incompleto. Assim e como forma de manter viva a história destas
pessoas, satisfazendo a curiosidade daqueles que, não tiveram a oportunidade de contactar de perto
com os equipamentos que se usavam, alguns ainda se usam, nas reabilitações. Assim se procede a
uma breve descrição da sua utilização, acompanhando-a de uma exibição de figuras relativas a esses
equipamentos que muito gentilmente o Sr. Antero permitiu tirar, explicando ao mesmo tempo a
função de cada um.

A brigada chefiada pelo Sr. Antero nas manutenções que levava a cabo, ocupava-se
essencialmente da anulação da corrosão que começava a ter lugar. Esta era sem dúvida a principal
função das manutenções. Assim e em traços gerais, a ideia era descravar as chapas, limpar as zonas
oxidadas, pintar e voltar a cravar as partes. Muito raramente se substituíam peças. De facto apenas
alguns contraventamentos foram substituídos, todos os restantes elementos são os originais, isto na
Ponte Luiz I.

Figura 2.36 – O massacote (1º), os corte a frio (2º e 4º) e o saca rebites (3º)

68
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Como é sabido estas obras tinham os seus elementos constituídos por chapas e cantoneiras
rebitadas, formando o que se designa por perfis compostos. A corrosão inicia-se normalmente e
como já foi apontado, entre contactos de chapas. Havia assim a necessidade de descravar as chapas,
usando para tal um tipo de martelos designados por – corte a frio – conforme a Figura 2.36, 2º e 4º da
esquerda para a direita, que se posicionavam junto da cabeça do rebite, quando solicitados por uma
marreta cortavam a cabeça do rebite, este era posteriormente removido com um saca rebites, 3º
elemento da esquerda para a direita da mesma figura.

Descravados e separados os elementos era então possível efectuar a operação de limpeza dos
elementos, que nos casos mais simples era conseguida apenas usando piaçabas e escovas, mas nas
situações mais avançadas, recorria-se ao uso de raspadeira e picadeira, cujos sugestivos nomes,
tornam desnecessários mais detalhes. Após efectuada a limpeza, as partes eram pintadas nas zonas
de contacto e colocados em lugar dos rebites, parafusos de carácter provisório, enquanto se
preparava nova rebitagem. A colocação dos novos rebites era efectuada em pé de galinha, ainda hoje
assim designada, para garantir uma melhor execução e melhor ligação entre elementos constituintes.
A colocação de novos rebites era durante muito tempo feita manualmente, recorrendo apenas à força
física de cada um. O rebite era aquecido numa forja junto, ou o mais próximo possível da zona a
rebitar, uma das cabeças já estava feita conforme se visualiza na Figura 2.37, era então colocado no
furo existente ou em novo furo, os furos novos eram feitos com um saca bocados, exibido na
Figura 2.38. Os furos novos ou existentes eram ainda e quando necessário mandrilados (alargados)
com a máquina de mandrilar Figura 2.39.

Figura 2.37 – Rebites

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Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 2.38 – O saca bocados Figura 2.39 – Máquina de mandrilar

O rebite era seguro do lado da cabeça com um massacote de encostar rebites, já exibido na
Figura 2.37, cuja extremidade superior era encaixada na cabeça do rebite, do lado contrário eram
então colocadas as embutideiras que existiam em várias medidas, conforme o tamanho da nova
cabeça a efectuar, estas embutideiras inicialmente manuais encontram-se na Figura 2.40. Malhava-se
nas embutideiras para dar a forma esférica à cabeça do rebite e garantir a ligação das partes. Todo o
trabalho era feito como se disse manualmente, sendo tanto o massacote como as embutideiras
seguros com as mãos dos trabalhadores, estando a garantia da ligação inteiramente ligada à sua força
física.

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Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.40 – Embutideiras manuais

Só mais tarde o processo foi facilitado quando em vez do malho para as embutideiras se
começou a usar os “revólveres” a ar comprimido, em cuja extremidade se colocavam embutideiras.
Estes revólveres, garantiam uma mais fácil, eficiente e rápida ligação. Conforme se pode visualizar
na Figura 2.41 e Figura 2.42 existiam e existem, já que actualmente estes equipamentos são
semelhantes, vários tamanhos de embutideiras e revólveres.

Figura 2.41 – Revólveres

Figura 2.42 – Embutideiras para revólver

Após completada a rebitagem, ou quando eram introduzidos novos elementos estruturais,


tudo era pintado com as tintas seguintes: uma demão de primário vermelho, uma demão de

71
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

vermelho 1B, uma demão de cinzento metálico nº1 e por fim uma demão de cinzento metálico nº2.
Eram na altura todas as tintas da marca Esfinge [52].

Procedia-se amiudemente à verificação dos rebites em alguns elementos que evidenciavam


folgas, e também quando se efectuavam novas rebitagens, para tal usava-se um martelo de verificar
rebites. Conforme o barulho que o rebite fazia quando solicitado pelo martelo era possível saber se se
encontrava com folga, de resto procedimento já explicado.

A conservação das pontes passava também pela verificação dos aparelhos de apoio e juntas
de dilatação. Refira-se para o caso concreto da Ponte Luiz I, os aparelhos de apoio e as juntas de
dilatação da ponte são os originais. Ocorreram algumas situações de intervenção ao nível dos
aparelhos de apoio, quando ocorreram desalinhamentos, a ponte foi levantada, alguns milímetros
com macacos, foi calçada temporariamente para a eventualidade dos macacos cederem, enquanto se
efectuava a reparação. As juntas de dilatação também sofreram algumas intervenções principalmente
de reaperto ou substituição dos parafusos de fixação, pois à passagem dos veículos o efeito de
degrau na passagem de aterro para a ponte provoca vibrações suficientes para iniciar o aparecimento
ou mesmo desgaste desses parafusos.

Durante muitos anos assim eram as intervenções na Ponte Luiz I em particular, mas também
em outras tantas obras. Muita história e conhecimentos terão a partilhar os que a elas estiveram
ligados. Trabalhando por vezes a muitos metros de altura em singelos estrados de madeira sem
qualquer protecção, estes homens jogavam a sua vida para trás da dedicação a estas obras. A eles
devemos muito, parecendo ser a melhor forma de os relembrar, continuar o seu trabalho. Espera-se
ter encontrado aqui uma singela forma de homenagem ao seu trabalho e assim perpetuar a sua
memória.

12.2 Os Caminhos de Ferro Portugueses


Actualmente o número de funcionários ligados às pontes metálicas é bastante menor quando
comparado com o que existia há uns anos atrás, altura em que a C.P. procedeu a uma diminuição de
pessoal [55].

Antigamente existiam áreas geográficas de conservação que envolviam todas as


especialidades ligadas à manutenção das obras, nomeadamente especialidades de geotécnia, pontes,
via férrea, construção civil, catenária, etc. Não existia qualquer distinção relativamente às obras
metálicas. Só mais tarde a conservação das pontes metálicas foi destacada, com a formação dos então
designados Cantões de Obras Metálicas, que se dedicavam exclusivamente à conservação e reabilitação
de pontes metálicas. Existiam 13 áreas de influência espalhadas pelo país, cada uma destas áreas
possuía um mínimo de dois Cantões, mas em alguns casos atingia os quatro Cantões.

72
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

A situação foi evoluindo para cada vez menos pessoal, até que a organização em Cantões
desapareceu, dando lugar à formação de 4 núcleos de manutenção, cada um responsável por uma
zona do país, cujas sedes são nas cidades: do Porto, da Guarda, de Lisboa e de Faro. Cada um destes
núcleos é composto por 4 homens, sendo um deles chefe de brigada. O chefe de brigada comunica,
por intermédio de relatórios de inspecção, toda a informação recolhida nas inspecções efectuadas à
obra e eventuais materiais necessários para qualquer intervenção, ao contramestre dos núcleos de
manutenção, elemento que coordena os quatro núcleos referidos.

A função dos núcleos de manutenção é essencialmente garantir uma vigilância das obras,
procedendo para isso a inspecções periódicas [54]. Estas inspecções têm uma vertente essencialmente
visual, sem grande detalhe. Procedem igualmente à limpeza da obra, à verificação dos aparelhos de
apoio, enfim tarefas que não envolvam nem tecnologia, nem equipamento especializado. Quando as
anomalias detectadas não são de grande importância, os núcleos de manutenção efectuam as
reparações necessárias. Os núcleos podem ainda agrupar-se em situações em que o número de
pessoal é insuficiente para levar a cabo a intervenção, para isso um determinado núcleo é destacado
para outra zona que não a sua.

Quando a escala da intervenção atinge determinada fasquia de tecnologia ou das


necessidades de pessoal, então a obra é feita por empreitada, recorrendo-se a empresas
especializadas nestas área. Actualmente já extinta a oficina de Ovar dava resposta à grande maioria
das intervenções levadas a cabo. Foram efectuadas nesta oficina muitos trabalhos ligados à
reabilitação das pontes metálicas. Extinta há cerca de 3 anos, a oficina de Ovar privou as pontes
metálicas ferroviárias de um forte apoio[55].

73
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 2.43 – Oficina de Ovar

Actualmente a C.P. conta com uma oficina bastante mais pequena no Entroncamento, onde
para pequenas tarefas de manutenção vai sendo suficiente.

Um dos grandes objectivos actuais na área das pontes metálicas da C.P., prende-se com a
inspecção das mesmas. É objectivo que os núcleos de manutenção inspeccionem pelo menos uma vez
por ano, as pontes metálicas envolvidas na sua área de influência. Segundo informações dos
responsáveis este objectivo não tem sido completamente satisfeito, pois os núcleos são por vezes
destacados para intervenções em áreas que não a sua, não sendo assim possível proceder a um
trabalho continuado e sistemático nesta área.

A C.P. possui ainda uma brigada específica para efectuar inspecção detalhada, que veio
substituir a antiga brigada de revisão. Esta brigada efectua uma inspecção às obras, bastante mais
detalhada do que os núcleos anteriormente descritos. As inspecções feitas por esta brigada procuram
assim efectuar um levantamento rigoroso das anomalias, do seu grau de gravidade, etc. Constituída
por um contramestre, dois chefes de brigada, três operários, um encarregado geral de obra e um
encarregado de obra, possuí equipamento especializado e a sua actividade estende-se também às
pontes de betão armado e pré-esforçado. Pretende-se com este serviço, conseguir que todas as pontes
sejam sujeitas a uma inspecção rigorosa de 5 em 5 anos. No entanto e segundo informações [55], este
objectivo não tem sido completamente conseguido, em parte pela dificuldade em aceder a algumas
das obras, ou a algumas das suas componentes. Paralelamente a C.P. possui ainda um plano de
observação e instrumentação das obras, para as situações mais delicadas, completando assim o leque
das actividades de conservação e reabilitação.

Foi possível saber a evolução da atitude perante estes assuntos ao longo de todos estes anos
e concretamente a situação actual. Resta agora saber o que o futuro nos reserva.

A C.P. possui actualmente já inseridos nos seus núcleos, alguns elementos que se espera
continuem o trabalho daqueles cuja idade já vai avançada. No entanto, a situação começa a delinear-
se preocupante, já que não há novos elementos a entrarem para esta actividade [56]. Talvez
desincentivados pela vida nómada que estes homens têm, estão em todo o lado e em lado nenhum,
privados maioritariamente da companhia das suas famílias. Parecendo ser esta razão suficiente para
as pessoas rejeitarem tal tarefa. Haverá pois que criar condições, que não fará aqui sentido especular,
mas que contribuam definitivamente para a inversão da situação. Ao mesmo tempo seria de idealizar
acções de formação vocacionada para esta área das estruturas metálicas. A C.P. possui um
organismo, a FERNAVE que realiza acções de formação para o seu pessoal, mas não especificamente
nesta área, o que é pena. Já que muitos dos conhecimentos adquiridos passam de palavra em
palavra, com o iminente risco de alguma informação ficar perdida. Apesar de todas as dificuldades

74
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

encontradas, a maioria das pontes metálicas com deficiências estruturais têm vindo a ser
recuperadas, nomeadamente as da linha principal e secundária. Uma terceira linha, quase sem
circulação ferroviária, e por isso classificada de desactivada, é a que pela sua prioridade se encontra
em situação mais precária.

Pelo menos desde 1989 e até 1995 a C.P. publicou pequenas brochuras relativas às
reabilitações efectuadas em determinado ano pelo seu pessoal ou por empresas que efectuaram os
trabalhos de reabilitação, o que espelha a vontade de manter viva a era do ferro. Algumas dessas
obras são exibidas nas figuras seguintes como forma de exemplificar este empenho.

Figura 2.44 – Reforço da ponte de Vargelas, Linha do Douro, 1991

Figura 2.45 – Reforço da ponte da Ribeira de Canas, Linha da Beira Baixa, 1991

75
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 2.46 – Reforço do tabuleiro da ponte de Murça, Linha do Douro, 1990

Figura 2.47 – Reforço da ponte da Ribeira de Nisa, Ramal de Cáceres, 1992

76
Capítulo 2 – Metodologias de Análise e Processos de Intervenção

Figura 2.48 – Reforço da ponte de Ceira, Ramal da Lousã, 1988

Figura 2.49 – Reforço da ponte da Portela, Ramal da Lousã, 1989

77
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 2.50 – Reforço da ponte do Tejo, Linha da Beira Baixa, 1989

Figura 2.51 – Substituição da ponte de Meimoa, Linha da Beira Baixa, 1992

Figura 2.52 – Reforço da Ponte de Espinhaço de Cão, Sado, 1988

78
Índice do capítulo 3
CAPITULO 3 – ESTUDO DA PONTE METÁ LICA DO PINHÃO ................................ ...................... 74

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 74

2 RECOLHA DE DADOS............................................................................................................................ 76
2.1 DOCUMENTAÇÃO ................................................................................................................................. 76
2.2 INSPECÇÕES .......................................................................................................................................... 77

3 CARACTERIZAÇÃO DA PONTE .......................................................................................................... 84


3.1 HISTÓ RIA DA PONTE ............................................................................................................................. 84

3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA E MECÂNICA ...................................................................................... 85


3.2.1 Caracterização geométrica ......................................................................................................... 85
3.2.2 Caracterização mecânica ............................................................................................................ 89

4 ACÇÕES E COMBINAÇÕES................................................................................................................... 91
4.1 ACÇÕES PERMANENTES ......................................................................................................................... 91
4.1.1 Peso próprio da estrutura actual ............................................................................................... 91
4.1.2 Peso próprio da nova estrutura................................................................................................. 93
4.2 ACÇÕES VARIÁ VEIS ............................................................................................................................... 93
4.2.1 Sobrecargas ................................................................................................................................. 93
4.3 COMBINAÇÕES ...................................................................................................................................... 94

5 MATERIAIS............................................................................................................................................... 95

6 ENSAIOS ................................................................................................................................................... 96
6.1 ENSAIOS IN SITU .................................................................................................................................... 96

7 CÁ LCULOS ............................................................................................................................................... 97
7.1 CALIBRAÇÃO DO MODELO ..................................................................................................................... 97
7.2 ESFORÇOS INSTALADOS ......................................................................................................................... 99
7.2.1 Tensões sem encurvadura.......................................................................................................... 99
7.2.2 Tensões com encurvadura ....................................................................................................... 101
7.3 ANÁ LISE LOCAL .................................................................................................................................. 103
7.3.1 Estudo das longarinas .............................................................................................................. 103
7.3.2 Estudo das carlingas................................................................................................................. 104

8 ANÁ LISE DOS RESULTADOS ............................................................................................................. 106

9 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO.......................................................................................................... 108


Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Capitulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

1 Introdução

Este capítulo tem como base o projecto genericamente designado por “Ponte Metálica do
Pinhão – Rio Douro - Inspecção e Elaboração do Estudo de Reabilitação da Obra de Arte” nesta data
ainda em fase de desenvolvimento. Este projecto está a ser desenvolvido pelo G.E.G., tendo-se
iniciado em Setembro de 1996, quando se efectuou a primeira visita à obra. Desde essa altura, os
desenvolvimentos têm sofrido alguns impasses, nomeadamente por falta de documentação que
permita efectuar uma caracterização histórica da obra, permitindo ao mesmo tempo o seu melhor
conhecimento em termos estruturais. A este nível a situação é ainda mais complicada já que, como já
se referiu no início desta dissertação, não se conseguiram até ao momento quaisquer peças
desenhadas da obra. Outra questão que resultou no atraso dos estudos refere-se aos ensaios de
materiais que se pretendem efectuar, os quais são imprescindíveis para o completo conhecimento e
caracterização da obra. Sem estes ensaios efectuados, valores tão importantes como o módulo de
elasticidade e a tensão de cedência do material, não serão possíveis de determinar com toda a
exactidão. A proposta para efectuar os referidos ensaios foi dirigida à J.A.E. em Dezembro de 1996,
mas até à data, não houve qualquer resposta, para se avançar ou não, com a retirada das amostras
que já na altura foram propostas. Foi assim impossível analisar a estrutura com as características
reais dos materiais. No entanto a decisão de avançar com os estudos, pela vontade de os incluir nesta
dissertação, prendeu-se com a experiência da Ponte Luiz I, em que se admitiu inicialmente para as
características dos materiais, os valores preconizados pelo regulamento, quando ainda não se
dispunha dos valores dos ensaios. Conforme se demonstrará no capítulo 5, os valores admitidos
aproximaram-se pelo lado da segurança dos valores obtidos pelos ensaios. Confiando nesta
experiência, e também no relatório de ensaios de várias pontes elaborado pela C.P., de idades
semelhantes, o presente estudo será assim baseado, quanto às características mecânicas dos
materiais, nestas informações.

Relativamente à ausência de peças desenhadas, optou-se por efectuar um levantamento da


obra, de qualquer maneira, a única forma de avançar com os estudos. Este levantamento foi levado a
cabo recorrendo a medições das peças no local, feito à fita métrica e da geometria geral usando
equipamento topográfico. Ao mesmo tempo que se efectuava este levantamento da obra existente,
continuavam as várias tentativas direccionadas para a obtenção de quaisquer documentos, artigos,
etc. relacionados com a ponte. As entidades contactadas foram várias, no entanto as únicas respostas
até ao momento obtidas, foram, da Junta de Freguesia do Pinhão, única fonte de informação história

74
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

e pela Junta Autónoma de Estradas de Vila Real, que enviou escassa informação relativa à geometria
da obra e um relatório de inspecção. Todos os restantes contactos foram em vão, pois todas as
respostas obtidas, se resumiram à inexistência de qualquer informação disponível. Dessas entidades
destacam-se a Casa do Douro, a Câmara Municipal da Régua e a J.A.E. de Lisboa

Demonstrou-se desta forma, como informação mais importante a obtida pelo levantamento
efectuado. Deste levantamento resultou um grande número de peças desenhadas, intencionalmente
pormenorizadas, já que poderão vir a demonstrar-se os únicos documentos desenhados da obra num
futuro próximo. A caracterização histórica por outro lado e pelas razões apresentadas, encontra-se
extraordinariamente difícil de efectuar, acabando por ficar bastante incompleta para o que seria
exigível.

Apesar de todas estas barreiras informativas encontradas, faz todo o sentido avançar os
estudos, contribuindo assim para uma actualização da informação disponível, organizando-a e
complementado-a eventualmente.

75
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

2 Recolha de dados

Conforme já se referiu a recolha de dados ficou condicionado, pela escassa informação


disponível. Na realidade em termos de documentação encontrada, apenas se obtiveram dois
documentos, nenhum dos quais relativo à época da obra, na realidade bastante recentes e com pouca
informação. Quanto a peças desenhadas de qualquer espécie, são completamente inexistentes.

Foram efectuadas três visitas à obra acompanhadas sempre de inspecção. Estas visitas
serviram também para efectuar o levantamento da obra, como forma de reunir dados suficientes
para iniciar os estudos. A última visita foi ainda acompanhada pela realização de ensaios dinâmicos.

2.1 Documentação
Relembrando o que já se disse, a documentação e peças desenhadas na posse da J.A.E.,
desapareceram dos arquivos em Lisboa, o que dificultou em muito a recolha de dados e a
compreensão da estrutura, bem como a sua definição geométrica. O levantamento efectuado com o
aparelho de topografia e com a fita métrica, permitiu definir com alguma exactidão a geometria da
obra e a maioria dos seus perfis, tendo ficado alguns elementos, nomeadamente do pontão de acesso
e do contraventamento superior, cujo acesso sem equipamento especializado não é possível de ser
efectuado, por medir.

Apesar desta dificuldade, os estudos prosseguiram já que relativamente ao


contraventamento foi possível por comparação com outros elementos estimar as suas dimensões.
Quanto ao pontão de acesso, não foi possível caracterizar com margens de erro reduzidas. Mesmo o
seu estado de conservação não é fácil de avaliar, quer pela configuração estrutural que apresenta,
quer devido à elevada altura a que se encontra, não permitindo visualizar com proximidade
suficiente os seus elementos. Apenas foi possível visualizar melhor as duas vigas de bordadura,
pavimentos, passeios e guardas.

Em termos de documentação, podem referir-se os únicos que fazem parte da disponibilizada


pelas entidades contactadas.

Ficha de identificação, elaborada pela Direcção Geral do Serviço de Pontes da J.A.E. Esta
ficha descreve a geometria geral da obra e caracteriza-se de forma bastante sumária a infra-estrutura
e a superestrutura, exibindo ainda o esboço da ponte. Este documento não se encontra datado,
embora pareça ser da mesma data do que seguidamente se apresenta, refira-se a curiosidade de neste
desenho o esboço da ponte indicar as diagonais com orientação contrária à existente.

76
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Ficha de inspecção, elaborada pela Direcção do Serviço de Pontes da J.A.E. Esta ficha datada
de 5 de Agosto de 1992 exibe uma grelha de avarias possíveis de ocorrer, resultando numa espécie
de relatório do estado de conservação da obra, embora com falhas que automaticamente se evidencia
se a análise for pormenorizada. A primeira interrogação que se coloca na análise deste documento,
prende-se com o facto de nele vir referido que este tipo de inspecção deve ser levado a cabo de dois
em dois anos, no entanto e segundo indicações da J.A.E. de Vila Real, entidade que facultou esta
documentação, nada mais existe. Seria de esperar no entanto pelo menos mais duas inspecções até à
data. A dúvida persistirá, até se comprovar o contrário.

Da análise desta ficha conclui-se que a generalidade das partes analisadas, se encontram em
bom estado, relativamente aos encontros e pilares de alvenaria, é verificada a boa verticalidade e
alinhamento, ausência de fissuração ou fendilhação, não havendo sinais de erosão e infra-escavações
e ainda o bom estado das fundações. Relativamente ao tabuleiro a situação repete-se considerando-se
na generalidade em bom estado de conservação, nomeadamente a ausência de deformações ou
flechas, fissuras ou fendas nas peças metálicas, os aparelhos de apoio também em bom estado, ainda
que na coluna das observações se fale da necessidade de efectuar uma inspecção cuidada, que
igualmente se refere para as peças metálicas. Os únicos elementos que são referidos em mau estado
de conservação são as guardas. Não se verifica nenhuma referência ao estado de corrosão dos
elementos. Nas inspecções efectuadas recentemente destacam-se vários sinais de corrosão, passados
portanto cinco anos. Conforme adiante se verá, outras questões se levantam relativamente ao estado
de conservação de alguns elementos, cuja opinião formada nas visitas mais recentes se desvia das
retiradas em 1992.

Carta da Junta de Freguesia do Pinhão, que inclui um excerto de um livro, onde é referida
uma curta resenha histórica da ponte.

Brochura de Turismo do Pinhão, onde pela importância que constituiu para a vila é referida
a Ponte.

2.2 Inspecções
Já foi de alguma forma referido nos pontos anteriores, as características das inspecções
efectuadas. No entanto algo mais há a referir sobre essas três visitas realizadas, onde se verificaram
algumas situações que comprometem a segurança da obra.

A primeira visita efectuada à obra teve lugar no final do mês de Setembro de 1996. A
principal motivação desta deslocação, foi efectuar o levantamento tão pormenorizado quanto
possível, da obra existente, quer da geometria da obra, quer das dimensões dos elementos que
constituem a estrutura. Mediu-se ainda a geometria da via e passeios, caracterizando a sua secção

77
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

transversal. A medição das secções das peças foi efectuada apenas para as que eram acessíveis, sem
equipamento especializado. Os valores obtidos para a geometria e secções das peças será exibido
mais à frente.

Apesar da preponderância no levantamento do existente, também se orientou esta visita


para o âmbito da inspecção. Assim se verificou relativamente ao estado geral da estrutura, a
ausência de pintura e um estado de oxidação avançado em alguns elementos, nomeadamente no
banzo inferior, cuja secção transversal em caixão favorece a deposição de detritos e humidade que
ajudam o desenvolvimento dessa corrosão, conforme se pode visualizar na Figura 3.1.

Figura 3.1– Deposição de detritos no banzo inferior

Numa tentativa de anular a acumulação de água no banzo, procedeu-se (não se sabe


quando) à efectuação de furos nas chapas inferiores para escoar a água, nestes orifícios é notório o
ataque do material e o colapso da pintura nas imediações, conforme exibe a Figura 3.2.

78
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Figura 3.2 – Corrosão no banzo inferior

Um outro local onde a corrosão se destaca é a zona inferior do tabuleiro, junto ao encontro
do lado do Pinhão, de resto a única zona que permite contactar directamente com a estrutura, já que
todas as restantes se encontram a grande altura.

As guardas também se encontram em mau estado, ocorrendo na generalidade a ausência de


pintura, havendo mesmo uma situação de colapso da ligação destes elementos aos elementos
metálicos do passeio, na zona do pontão de acesso como mostra a Figura 3.3.

Figura 3.3 – Colapso da ligação das guardas ao passeio

79
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Verificou-se também a existência de parafusos na fixação de algumas chapas nos montantes


de extremidade sobre os pilares e encontros, indicando eventualmente uma intervenção posterior à
construção da ponte, já que todas as restantes ligações são rebitadas.

Uma parte que chamou particular atenção foram as diagonais, que à passagem de veículos
mais pesados oscilavam fortemente. Apesar de se sentir uma vibração global da estrutura, as
diagonais destacam-se pelo facto da observação directa permitir visualizar a deformação que a meio
vão, para um e outro lado da posição de equilíbrio, parecer atingir alguns centímetros. Estas
diagonais encontram-se ligadas ao banzo superior e inferior de painéis consecutivos e ao montante
que os divide (um painel é o espaço entre dois montantes consecutivos). São constituídas por duas
barras iguais em secção e comprimento que se ligam aos banzos, uma pelo interior, outra pelo
exterior das vigas principais, ocorrendo um ponto entre as duas junto aos montantes em que se ligam
por um ferrolho, conforme exibe a Figura 3.4. Apesar de na sua maioria se encontrarem traccionadas,
a elevada esbelteza de muitas delas será responsável pelas vibrações observadas.

Figura 3.4 – Ligação entre diagonais junto dos montantes

A existência de vibrações nestas barras, de algum modo frequentes, já que vários foram os
veículos pesados em circulação durante o período que a equipa permaneceu na ponte, e a existência
deste ponto de ligação entre diagonais, explica a curvatura destas peças junto a esses pontos, não
sendo mais do que o ponto de inflexão da deformada que as barras apresentam, repare-se na
Figura 3.5.

80
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Figura 3.5 – Curvatura das diagonais

Repare-se nas chapas de forra que se destacam dos montantes, estas chapas parecem ter sido
soldadas entre montantes e diagonais, não sendo clara a razão de ser, nem mesmo a altura em que
terá sido feita essa intervenção, certo é que em todas estas ligações houve a fracturação do cordão de
soldadura e o destacar das chapas de forra.

Após esta primeira inspecção, foi possível iniciar os estudos de estabilidade da obra, com as
informações recolhidas, surgindo de imediato dúvidas que foram sendo eliminadas com a análise
das fotografias que se obtiveram na visita à obra, que mais uma vez demonstraram a sua grande
utilidade. Outras questões permaneceram sem resposta, que só seria possível de obter recorrendo a
nova visita. Concluiu-se ainda do observado e com o primeiro contacto com a estrutura, que as
anomalias detectadas não eram graves, ainda que a tonelagem dos veículos pesados devesse ser
condicionada, pois a vibração que ocorre na estrutura à sua passagem é bastante prejudicial à sua
estabilidade.

A segunda visita efectuada à obra foi em Outubro de 1996. Com esta segunda deslocação,
pretendeu responder-se a interrogações relacionadas com a geometria da obra e das secções das
peças. Continuou a não ser possível avaliar as dimensões e o estado dos apoios sobre os pilares, pois
o portão de acesso a um dos pilares, tal como da primeira vez, permanecia fechado. Esta visita
coincidiu com as vindimas da região. Foi assim possível visualizar mais uma vez a vibração da ponte
e particularmente das diagonais, desta vez bastante mais forte do que da primeira. O movimento
vertical da obra ainda que não sendo visível, era verificável quando nos mantínhamos imóveis sobre

81
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

a ponte. Os deslocamentos horizontais também se verificavam quando se observava a junta de


dilatação entre tramos. De facto ainda que pouco perceptível, era possível, colocando um pé em cada
tramo, sentir o movimento horizontal.

Ao mesmo tempo que se efectuou esta segunda visita teve lugar no local uma reunião com o
responsável da J.A.E., sobre alguns pontos ainda por esclarecer relativamente à recuperação da obra.
Dessa reunião salientaram-se três pontos que interessa deixar registados:

• previsão de iluminação para a obra;

• prever caleiras adequadas para a passagem dos cabos, que de momento se encontram no
banzo inferior;

• Alargamento da faixa de rodagem, com passagem dos passeios para o exterior.

O último ponto referido é o que mais interessa em termos estruturais e de estabilidade da


estrutura, já que traduz uma alteração dos valores e do tipo de carregamento.

Com esta segunda visita foram respondidas as questões e esclarecidas as dúvidas levantadas
até então, por forma a se prosseguir com os estudos. No entanto e por razões distintas uma terceira
visita foi levada a cabo.

A terceira e última visita efectuada, apesar de ter contribuído para eliminar novas dúvidas
que surgiram com o desenrolar dos estudos, foi essencialmente vocacionada para a medição das
frequências de vibração dos diferentes modos da estrutura. Os resultados destas medições, serão
adiante exibidos. Estes ensaios, (Figura 3.6) foram efectuados pelos Professores Carlos Sousa Oliveira
e Aníbal Guimarães da Costa.

82
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Figura 3.6 – Execução do ensaio expedito de caracterização dinâmica

Com esta tarefa terminaram as visitas à obra, que formaram a base de trabalho fiável para os
estudos em causa, sem as quais nada seria possível. Ao mesmo tempo foram detectadas anomalias
que não sendo graves, comprometem a longo prazo a segurança da obra. Nomeadamente, o
comportamento verificado com as diagonais, que urge ser resolvido. Outra questão diz respeito à
eliminação dos detritos que se acumulam no banzo inferior, responsáveis pela aceleração do
processo de corrosão. O pontão de acesso que apesar de não ter sido possível, por razões já expostas,
avaliar o seu estado de conservação, parece não apresentar problemas ao nível do tabuleiro. O
mesmo não se podendo afirmar relativamente às guardas que ladeiam os passeios, que sendo a única
protecção para os utentes, merece ser melhorada com urgência.

83
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

3 Caracterização da Ponte

3.1 História da Ponte


Por razões já anteriormente exibidas a documentação disponível, não permite elaborar uma
história completa da Ponte Metálica do Pinhão. Na realidade só será possível referir poucos factos
históricos, que nem sequer contemplam o início da sua construção, o projectista, o construtor. Mas
não querendo que o pouco que existe caia em completo esquecimento, assim se apresenta a história
que se conseguiu reunir.

Esta ponte sobre o rio Douro, encontra-se inserida na E.N. 323 ao km 31.604, único local de
travessia do rio Douro entre as barragens da Régua e da Valeira. A sua construção foi da
responsabilidade da Junta Autónoma de Estradas de Vila Real, apontando-se o ano de 1906 como
ano da sua construção, não se sabendo quanto tempo decorreu e quando foi inaugurada ao trânsito.
A ponte contribui de forma decisiva para a ligação dos concelhos de Tabuaço, S. João da Pesqueira,
Sabrosa e Alijó, assumindo desta forma neste último, o Pinhão, lugar de maior importância.

Figura 3.7 – Vista da Ponte

84
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Não se sabendo exactamente quando, existem sinais que evidenciam intervenções


posteriores na obra. O mais evidente é a existência de uma laje em betão com tapete betuminoso, que
terá substituído as travessas de madeira, que eram normalmente usadas na época. O uso de
parafusos e soldadura em algumas ligações, levam também a concluir sobre uma intervenção
posterior. Outra intervenção prende-se com a electrificação da obra, possuindo do lado de montante
alguns lampiões eléctricos, não havendo sinais de ter existido outro tipo de candeeiros noutras
épocas, o que acontecia em algumas das obras, cuja iluminação era efectuada com candeeiros a
petróleo, aos quais era dedicado alguns cuidados na concepção, como é o caso dos da Ponte Luiz I.

Relativamente às intervenções de beneficiação da estrutura metálica como pintura, reforço


ou limpeza, não é sabido quando ocorreram intervenções a esse nível, se é que ocorreram. Certo é
que passados 91 anos da sua construção esta elegante obra merece ser recuperada rapidamente. A
única intervenção confirmada [52] ocorreu há dois ou três anos numa junta de dilatação.

3.2 Caracterização geométrica e mecânica

3.2.1 Caracterização geométrica


A caracterização geométrica da obra foi efectuada recorrendo ao levantamento topográfico
efectuado, bem como à medição directa sobre as peças constituintes da estrutura. Só após efectuado
este levantamento, se teve acesso à ficha de identificação da J.A.E., onde constavam algumas
características geométricas, ainda que não totalmente de acordo com as obtidas. Estas diferenças, não
eram significativas, sendo então a ponte considerada constituída por: quatro tramos simplesmente
apoiados, três constituem a ponte principal com cerca de 69.2 m de vão cada, dizendo respeito o
quarto ao pontão de acesso com 12 m de vão, aproximadamente (Figura 3.8). Cada um dos três
tramos referidos é dividido em 16 painéis conforme a Figura 3.9.

Figura 3.8 - Alçado de montante

Figura 3.9 – Alçado de um tramo

85
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Esses painéis apresentam comprimentos diferentes, segundo se constatou. Assim os de


extremidade variam entre os 4.20 e 4.21 m de comprimento e os restantes entre 4.29 e 4.31 m. As
vigas principais em arco semi-parabólico, descrevem uma parábola no banzo superior, atingindo a
meio vão os 8.9 m de altura, relativamente ao banzo inferior. Esta configuração parabólica foi obtida
por tratamento das medições efectuadas, tendo-se chegado à seguinte expressão que melhor traduz
essa geometria.

y = 5.24125934542E-3 . x2

A escolha desta expressão foi ponderada de acordo com a explicação que se segue.

As cotas adoptadas para o banzo superior no alinhamento de cada montante, foram obtidas
inicialmente a partir do levantamento topográfico. Nesse levantamento mediu-se a altura entre o
passeio e a zona superior daquele banzo. Note-se que o número de chapas que compõem o banzo
nessa zona variam significativamente de painel em painel. À quela distância adicionou-se a altura do
passeio, do banzo inferior e do espaço entre eles, por modo a se obter a altura total da ponte no
alinhamento do eixo de cada montante. No entanto considerou-se para ambos os banzos apenas uma
chapa. Assim se podem atingir erros de alguns centímetros, mas que à partida não comprometem o
desenvolvimento do estudo em curso, nem os resultados dos cálculos efectuados.

Adivinhando uma configuração parabólica do banzo superior das vigas principais,


efectuou-se uma verificação, esperando conseguir uma equação que regesse essa configuração
geométrica. De facto, isso veio a acontecer confirmando que o banzo superior das vigas principais
apresenta uma configuração parabólica em alçado, representada pela equação anterior.

A escolha desta equação foi ponderada perante 3 situações. A primeira em que se usou as
cotas à esquerda do eixo de simetria, a segunda, as cotas à direita e uma terceira, as cotas médias. A
diferença que existe entre as cotas à esquerda e à direita evidenciou-se no levantamento topográfico
efectuado. Ainda que sejam diferenças reduzidas, justificadas por exemplo pelas imperfeições do
próprio passeio onde se assentou a mira, deformações ao longo do tempo e no próprio
manuseamento do equipamento. Decidiu-se por efectuar a referida comparação com o objectivo de
encontrar a melhor aproximação possível, que garantisse fiabilidade nos futuros desenvolvimentos.
Adianta-se no entanto, que para uma aproximação mais correcta, ter-se-á de num futuro
direccionado para projecto de execução, proceder ao levantamento das variações que as chapas de
banzo apresentam e medir aquelas cotas em ambos os lados da ponte (montante e jusante) e em
todos os tramos. Já que as que foram até agora efectuadas apenas se centraram no 1º tramo do lado
de jusante.

Transversalmente a ponte apresenta aproximadamente 4.60 m de faixa de rodagem e 1.40 m


repartidos em passeios de 0.70 m de largura em ambos os lados. Esta configuração transversal

86
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

mantém-se aproximadamente na zona dos encontros e no pontão de acesso, ainda que este último
seja em curva. A largura total medida pelo extradorso dos banzos é de aproximadamente 7.0 m. A
Figura 3.10 apresenta o corte transversal da ponte.

Figura 3.10 – Corte transversal

A ponte encontra-se a uma altura aproximada de 13 m do nível médio das águas na quase
totalidade, ficando apenas parte do 1º tramo sobre a margem direita, a alturas que diminuem à
medida que nos aproximamos do encontro do lado do Pinhão (ver Figura 3.8).

Em termos de desenvolvimento longitudinal total, admitindo para as juntas de dilatação um


valor médio de 20 cm, temos para os três tramos entre encontro e pilar-encontro, 208 m de
comprimento. Se adicionarmos o pontão de acesso e o pilar-encontro da margem esquerda, resultam
cerca de 225 m de comprimento total.

Os pilares de alvenaria, cujas dimensões não foram determinadas de forma precisa,


apresentam duas configurações geométricas distintas. Os dois primeiros inteiramente localizados no
rio, apresentam uma configuração próxima da oval, mas com dois lados rectos paralelos entre si, o
terceiro, pilar-encontro, tem uma forma próxima da prismática. A Figura 3.11 pretende esclarecer a
visualização do que foi descrito, exibindo uma planta simplificada da estrutura.

87
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 3.11 – Planta superior

O tabuleiro de betão armado, apoia-se numa grelha de carlingas e longarinas. Existindo uma
carlinga no alinhamento de cada montante, espaçadas deste modo das medidas já referidas para os
painéis. As longarinas são cinco, afastadas entre si de um metro, de secção composta, tal como as
carlingas, com cantoneiras e chapas em forma de I. Os banzos das vigas principais igualmente
compostos por chapas e cantoneiras, são em forma de U, em que o superior é ainda reforçado por
uma treliça de chapas pelo lado inferior. O banzo inferior por seu lado é totalmente aberto. As
chapas de banzo destes elementos são em número variável, não sendo possível definir o máximo
número que ocorre, tendo-se pelo menos identificado 5 chapas. Os montantes são caracterizados por
um perfil I composto, de alma rota, composta por chapas em zig-zag (ver Figura 3.10). As diagonais
são na sua maioria de secção rectangular, bastante variável, apresentando secção em cantoneiras
apenas as diagonais centrais.

Formam-se desta forma uma série de secções tipo que se repetem entre tramos e dentro do
próprio tramo, existindo simetria transversal e longitudinal. A Figura 3.12 apresenta as algumas
secções identificadas na estrutura de cada viga principal e que serão usadas nos cálculos de
estabilidade a efectuar.

88
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Figura 3.12– Secções tipo, banzos superior e inferior, montantes e diagonais

Relativamente ao pontão de acesso não foi possível, como já se disse, determinar as


dimensões dos perfis metálicos que compõem as longarinas. O que se pode concluir é que os perfis
são do tipo IPE, em número de 8, contraventados por 2 chapas cruzadas de secção rectangular. A
obtenção das dimensões destes perfis foi obtida usando comparação fotográfica com outras peças
conhecidas, tendo-se obtido como perfil provável um IPE550 ou IPE600. Transversalmente a estas
longarinas estão dispostas chapas quinadas, do mesmo tipo das usadas na ponte, que recebem a laje
de betão. A laje do tabuleiro apresenta uma espessura que varia entre os 32 e 22.8 cm, conforme
medidas retiradas no local, tendo-se considerado um valor médio de 27.5 cm para efeitos de cálculo.

Exibem-se ainda as secções das carlingas e longarinas dos tramos principais na Figura 3.13,
que serão objecto de um estudo local na secção 7.

Figura 3.13 – Secções das carlingas (esq.) e longarinas (dir.)

3.2.2 Caracterização mecânica


A caracterização mecânica das secções tipo foi obtida recorrendo à programação em folhas
de cálculo do tipo da apresentada na Figura 3.14, que permitem alterações nas dimensões das peças
recalculando de forma automática, as características respectivas das secções compostas.

89
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Banzo superior e banzo inferior

xG yG A IxG IyG
nºde chapas (m) (m) (m2) (m4) (m4)
1 0,25 0,1213 2,0150E-02 3,9238E-04 2,0593E-04
2 0,25 0,1074 2,4650E-02 4,5065E-04 2,5281E-04
3 0,25 0,0991 2,9150E-02 4,9830E-04 2,9968E-04
4 0,25 0,0942 3,3650E-02 5,4016E-04 3,4656E-04
5 0,25 0,0916 3,8150E-02 5,7889E-04 3,9343E-04

Diagonais

xG yG A IxG IyG
2 4 4
diagonal nº (m) (m) (m ) (m ) (m )
4 0,0075 0,1750 5,2500E-03 5,3594E-05 9,8438E-08
6 0,0075 0,2100 6,3000E-03 9,2610E-05 1,1813E-07
7 0,0055 0,1500 3,3000E-03 2,4750E-05 3,3275E-08
9 0,0050 0,1200 2,4000E-03 1,1520E-05 2,0000E-08
11 0,0055 0,0925 2,0350E-03 5,8040E-06 2,0520E-08
12 0,0045 0,0750 1,3500E-03 2,5313E-06 9,1125E-09
13 0,0045 0,0675 1,2150E-03 1,8453E-06 8,2013E-09
14 0,0053 0,0500 1,0500E-03 8,7500E-07 9,6469E-09
15 0,0045 0,0450 8,1000E-04 5,4675E-07 5,4675E-09
17 0,0045 0,0500 9,0000E-04 7,5000E-07 6,0750E-09

Carlingas, longarinas e montantes

xG yG A IxG IyG
perfil tipo secção nº (m) (m) (m2) (m4) (m4)
Carlingas 18 0,1250 0,3050 1,6510E-02 1,0594E-03 3,6260E-05
Longarinas 19 0,0735 0,2000 7,5600E-03 1,9281E-04 4,8572E-06
Montantes 5 0,0950 0,1375 6,2000E-03 8,2552E-05 1,0370E-05
Montantes 8 0,0850 0,1375 4,9200E-03 6,7842E-05 6,6359E-06
Montantes 10 0,0750 0,1375 3,7600E-03 5,3869E-05 3,9859E-06

Figura 3.14 – Folhas de cálculo das características mecânicas das secções

Como já se referiu algumas dessas secções são aproximadas, por impossibilidade de


confirmação directa das suas dimensões. Esta situação ocorre numa minoria de elementos e as
opções efectuadas garantem a fiabilidade dos resultados.

90
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

4 Acções e combinações

Embora desejável, não foi possível saber as acções consideradas no dimensionamento desta
obra, nenhum dos poucos documentos disponíveis, fazia referência a esse facto. Por este motivo não
foi possível avaliar o nível de tensões para as quais a ponte foi projectada e consequentemente o
coeficiente de segurança. As questões colocam-se essencialmente ao nível das sobrecargas, já que o
peso próprio, à parte da laje do tabuleiro, será essencialmente o mesmo.

4.1 Acções permanentes


As acções permanentes dividem-se entre peso da estrutura metálica, constituída pelas
barras, a laje do tabuleiro em betão, passeios em betão com chapa estriada e guarda corpos.

Consideraram-se os valores usuais dos pesos específicos dos materiais aço e betão,
respectivamente 77 kN/m3 e 25 kN/m3. Será discutível este valor, ao nível dos passeios onde se tem
vindo a considerar 9 kN/m3. A questão dos passeios e da consideração do seu peso próprio,
encontra-se ainda com alguma indefinição, visto haver a vontade por parte da J.A.E., de os transpor
para o lado exterior das vigas principais, permitindo um maior conforto quer para peões, quer para
os condutores, devido ao consequente alargamento da faixa de rodagem. Partindo desta base de
trabalho acabou por se considerar a existência de um passadiço exterior em ambos os lados e o
alargamento da faixa de rodagem. O dimensionamento desse passadiço não será objecto deste
trabalho, não se podendo garantir a aceitação da sua concessão, já que não será provável a avaliação
a curto prazo do mesmo pela J.A.E. No entanto e pela importância de obter uma estimativa do peso
destes passadiços e respectivas acções a transmitir à ponte, foi necessário proceder a uma hipotética
idealização do mesmo, garantindo igualmente a sua exequabilidade. Relativamente ao tabuleiro,
manter-se-á uma laje de betão de espessura semelhante à existente.

A avaliação da massa actual da estrutura é igualmente importante, para o cálculo das


frequências e modos de vibração da estrutura existente, com o modelo de cálculo elaborado para a
determinação automática desses valores, para posterior comparação com os valores desta grandezas
obtidas nos ensaios efectuados in situ.

4.1.1 Peso próprio da estrutura actual


O peso próprio da estrutura actual apresenta-se no Quadro 3.1 para um tramo, já que sendo
uma estrutura de 3 tramos independentes, com características de uma viga simplesmente apoiada
bastará analisar apenas um.

91
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Quadro 3.1– Peso próprio de um tramo

Designação quant. secção l g p.p/m peso total


(m2) (m) (kN/m3) (kN/m) (kN)
laje de betão 1 1.287000 69.200 25 32.175 2226.510
betuminoso 1 0.280800 69.200 24 6.739 466.353
contrav. inferior 32 0.003840 7.300 77 0.296 69.071
longarinas 5 0.007560 69.200 77 0.582 201.414
carlingas 17 0.017100 6.200 77 1.317 138.780
longarinas dos passeios 4 0.002350 69.200 77 0.181 50.087
chapas dos passeios 2 0.007000 69.200 77 0.539 74.598
guardas 2 69.200 1.000 138.400
diagonais 4 4 0.005250 4.300 77 0.404 6.953
diagonais 6 4 0.006300 8.200 77 0.485 15.911
diagonais 7 4 0.003300 8.900 77 0.254 9.046
diagonais 9 4 0.002400 9.600 77 0.185 7.096
diagonais 11 4 0.002035 10.400 77 0.157 6.519
diagonais 12 4 0.001350 10.900 77 0.104 4.532
diagonais 13 4 0.001215 11.400 77 0.094 4.266
diagonais 14 4 0.001050 11.800 77 0.081 3.816
diagonais 15 4 0.000810 12.000 77 0.062 2.994
diagonais 16 4 0.000940 12.000 77 0.072 3.474
diagonais 17 4 0.000900 12.000 77 0.069 3.326
banzo inferior 2 0.029150 69.200 77 2.245 310.646
banzo superior 2 0.029150 69.200 77 2.245 310.646
cantoneiras dos montantes
5 4 0.006200 4.098 77 0.477 7.826
8 4 0.004920 5.361 77 0.379 8.124
10 4 0.003760 6.430 77 0.290 7.446
10 4 0.003760 7.305 77 0.290 8.460
10 4 0.003760 7.985 77 0.290 9.247
10 4 0.003760 8.471 77 0.290 9.810
10 4 0.003760 8.763 77 0.290 10.148
10 2 0.003760 8.860 77 0.290 5.130
1 4 0.028212 2.675 77 2.172 23.244
chapas dos montantes 2 111.036 77 0.072 15.960
chapas+cantoneiras do
banzo superior
P1 4 4.300 77 0.197 3.389
P2 4 4.500 77 0.197 3.546
P3 4 4.450 77 0.197 3.507
P4 4 4.400 77 0.197 3.467
P5 4 4.350 77 0.197 3.428
P6 4 4.350 77 0.197 3.428
P7 4 4.300 77 0.197 3.389
P8 4 4.300 77 0.197 3.389
contravaventamento
transversal superior
1 2 6.200 77 0.365 4.526
2 2 6.200 77 0.486 6.021
3 2 6.200 77 0.495 6.138
4 2 6.200 77 0.458 5.679
5 2 6.200 77 0.467 5.791
6 1 6.200 77 0.467 2.895
sub total (kN) 4218.426
10% de peso total para diversos pintura e ligações 0.1 421.843

Peso total (kN) 4640.268

92
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

4.1.2 Peso próprio da nova estrutura


A nova estrutura não está ainda definida, pois não estão previstas ainda quaisquer soluções
de reforço, a única questão que interessa avançar, refere-se aos passeios pelo exterior e ao
consequente alargamento da faixa de rodagem. Deste modo interessa também analisar em termos de
estabilidade, a estrutura alterada, respondendo assim com a solução de reforço às novas exigências
de utilização. Deste modo e mediante o dimensionamento da nova estrutura para os passeios, o seu
peso próprio é de 351 kN e a laje de betão passou a pesar mais 11.6 kN/m. O peso total de um tramo
passou assim de 67 kN/m para 80 kN/m.

4.2 Acções variáveis


Numa análise mais completa dever-se-ía considerar todas as acções variáveis intervenientes
num dimensionamento vocacionado para um projecto de execução, as sobrecargas, vento e sismo.
No entanto atendendo ao tipo de estudo efectuado apenas se considerou a acção das sobrecargas.

As sobrecargas consideradas são as regulamentares para pontes rodoviárias da classe I.

4.2.1 Sobrecargas
As sobrecargas consideradas são:

• Sobrecarga uniformemente distribuída na faixa de rodagem de 4kN/m2, adicionada de


uma carga transversal de 50 kN/m também aplicada na faixa de rodagem.

• Ou, veículo-tipo cujas características geométricas e de carga já foram anteriormente


exibidas.

• Sobrecarga uniformemente distribuída nos passeios de 3 kN/m2 ou carga concentrada de


20 kN.

93
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

4.3 Combinações
As combinações consideradas admitiram para todas as acções coeficientes de segurança de
1.5, tendo-se efectuado as seguintes:

Combinação 1: 1.5 × (cargas permanentes + sobrecargas distribuídas)

Combinação 2: 1.5 × (cargas permanentes + veículo-tipo)

Combinação 3: 1 × (cargas permanentes) + 0.4 × (sobrecargas distribuídas)

Para ambas as combinações C1 e C2, tanto a carga transversal de 50 kN/m ou o veículo-tipo


foram colocados para a apresentação dos resultados na secção 7, a meio vão da viga, provocando os
máximos esforços de flexão e consequentemente os máximos esforços axiais nos banzos. Para a
obtenção das tracções máximas nas diagonais e montantes, aquelas forças têm de percorrer toda a
estrutura entre apoios. Mas este estudo exaustivo justificar-se-ía se outras considerações de detalhe
tivessem sido efectuadas, ou se os estudos estivessem direccionadas para um projecto de execução.
Para os estudos propostos e dentro de uma pormenorização simplista, apenas se verificaram
algumas posições daquelas acções, exibindo-se na secção 7, a título de exemplo a posição já
explanada. As restantes posições avaliadas, conduziam a uma assimetria correspondente na
distribuição das tensões, mas os valores das mesmas não se traduziam em acréscimos ou
decréscimos significativos nas barras, apenas na zona central se deparou com a inversão em algumas
barras das tensões de compressão para tracção.

94
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

5 Materiais

Não existem documentos que permitam aferir os materiais que constituem a ponte e
consequentemente as suas características de resistência. Admite-se que apresentam valores de
acordo com os aços usados na altura e perante este princípio foi desenvolvido o estudo em causa. A
única forma de caracterizar o aço que constitui a obra, seria com o recurso a ensaios com provetes
retirados da ponte, permitindo assim uma análise mais rigorosa. No entanto e apesar desta lacuna na
informação, decidiu-se avançar admitindo, de acordo com bibliografia especializada, um módulo de
elasticidade idêntico ao dos aços actuais (200 GPa) e para a tensão de cálculo (160 MPa) o que
equivale a uma tensão de serviço de aproximadamente 105 MPa, de resto uma metodologia
igualmente seguida no estudo da Ponte Luiz I.

95
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

6 Ensaios

No início dos estudos desta obra, estavam previstos ensaios de caracterização dos materiais,
do mesmo tipo dos efectuados para a Ponte Luiz I. No entanto e até ao momento não houve uma
resposta da J.A.E. que permitisse avançar com os mesmos, estando mesmo neste momento o projecto
temporariamente parado. Assim e como já se referiu, sem a sua autorização não é possível efectuar a
retirada das amostras para caracterizar o material, o mesmo é dizer que não foram efectuados
quaisquer ensaios laboratoriais.

Quanto a ensaios in situ, foi possível efectuar um ensaio expedito de caracterização dinâmica
com as mesmas características do efectuado na Ponte Luiz I.

6.1 Ensaios in situ


O ensaio foi efectuado no dia 24 de Julho de 1997, altura em que além da ausência de vento,
circulava tráfego moderado na ponte, de resto uma observação comum em todas as visitas
efectuadas à obra.

Foram usadas duas estações em simultâneo, que efectuaram medições em três pontos
diferentes. A primeira estação mediu as vibrações a meio e ao quarto do vão do tramo central e a
segunda também a meio vão dos tramos central e do lado do Pinhão. O Quadro 3.2 exibe
resumidamente as frequências medidas e as direcções predominantes. O objectivo destas medições
além de permitir uma caracterização complementar da estrutura foi também útil para comparar com
um breve estudo dinâmico efectuado, conforme adiante se mostrará. De resto este estudo também foi
efectuado nas outras duas obras aqui exibidas.

Quadro 3.2 – Frequências do tramo central

Frequências Direcção
(Hz) predominante Modo
2.26-2.73 vertical simétrico
5.8 vertical anti-simétrico
5.2 vertical parcial
1.66-1.72 transversal simétrico
3.2 transversal anti-simétrico
5.8 transversal simétrico

96
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

7 Cálculos

Se os estudos desta obra não estivessem dependentes de um projecto real, com


caracterização geométrica e mecânica da estrutura, da caracterização dos seus materiais, da alteração
de utilização da obra, enfim, de um projecto real de reabilitação, os caminhos seguidos teriam sido
diferentes, tentando um aprofundamento das análises de estabilidade da obra, para além dos que
aqui serão exibidos. De facto, quando se optou por apresentar a Ponte Metálica do Pinhão, como
mais um exemplo de um estudo de reabilitação de uma ponte metálica, não se imaginava que o
processo se arrastasse por tanto tempo e muito menos que parasse por completo. Apenas por
vontade própria se decidiu avançar com um estudo simplificado e em tudo hipotético, o que não era
de todo o objectivo. Não servindo como um exemplo real a seguir. Servirá certamente para ilustrar
algumas dificuldades inerentes a um estudo com estas características.

Assim e dentro do que foi referido, decidiu-se efectuar uma análise da obra que englobasse
várias questões diferentes e não apenas vocacionado para a solução de reforço. Optou-se antes por
efectuar uma análise bidimensional das vigas principais em três aspectos:

• Avaliar as tensões instaladas nas barras para as acções regulamentares sem alterar a
geometria das peças;

• Analisar a estrutura modificada, com passeios exteriores e faixas de rodagem mais largas
e calcular o aumento das tensões instaladas;

• Calcular cargas compatíveis com a estrutura existente.

Procurar ainda efectuar uma análise local das longarinas e das carlingas, de forma tanto a
obter tensões instaladas para as actuais cargas regulamentares, como também para determinação das
características máximas de carregamento admissível, no caso das tensões medidas ultrapassarem as
máximas.

No estudo efectuado foi utilizado o programa de cálculo automático ROBOT V6.

7.1 Calibração do modelo


O primeiro cálculo realizado teve como principal objectivo a calibração do modelo de cálculo
desenvolvido. Assim e admitindo a geometria obtida no levantamento efectuado e calculadas as
características mecânicas das secções, determinaram-se os deslocamentos resultantes do peso próprio
da estrutura existente em dois modelos distintos nas condições de apoio. Isto porque apesar da
estrutura existente apontar para vigas simplesmente apoiadas, nem sempre os aparelhos de apoio
móveis de que são dotadas permitem a obtenção desse funcionamento estrutural. As razões

97
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

prendem-se com o bloqueamento que pode ocorrer (ver capítulo 2) impedindo os deslocamentos
horizontais, acabando por funcionar o aparelho, como fixo. Ainda as reacções verticais
desenvolvidas, podem também ser responsáveis pelo desenvolvimento de atritos que provoquem
este funcionamento.

O interesse desta análise de duas condições de apoio para a estrutura (simplesmente apoiada
ou duplamente), foi orientada para o cálculo das frequências. Verificou-se que a primeira frequência
calculada com a estrutura munida de apoios duplos, aproximou-se das medidas no ensaio expedito.

Admitindo a estrutura exibida na Figura 3.15 (a preto), foram calculados os deslocamentos


para o peso próprio da estrutura existente, também exibidos na mesma figura, bem como a
respectiva deformada (a vermelho).

Figura 3.15 – Deslocamentos devidos ao peso próprio

O modelo matemático para o cálculo das frequências, foi o de uma barra com as mesmas
condições de apoio, em que os deslocamentos calculados no modelo determinam para a viga simples
uma rigidez equivalente que traduza o comportamento da viga real. No caso de uma viga
semi-parabólica, como esta, a aproximação a uma barra é um pouco grosseira, não permitindo
determinar com rigor todas as frequências. Para isso o modelo deverá ser discretizado da mesma
forma que para o cálculo estrutural. Não foi viável esta tarefa, mas fica certamente um ponto
interessante em aberto, para um futuro desenvolvimento.

As frequências medidas no ensaio já foram exibidas no Quadro 3.2, as calculadas


encontram-se no Quadro 3.3. Como se verifica pela sua comparação, apenas a primeira frequência é
concordante, por razões já apresentadas no parágrafo anterior. De qualquer modo é possível
depositar confiança no modelo obtido para o cálculo automático.

Quadro 3.3 – Frequências calculadas

Modo Frequência (Hz)


1 2.483
2 9.934
3 22.352

98
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Os respectivos modos de vibração associados às frequências apresentam-se nas figuras


seguintes.

Figura 3.16 – Primeiro modo de vibração

Figura 3.17 – Segundo modo de vibração

Figura 3.18 – Terceiro modo de vibração

7.2 Esforços instalados


Apesar do modelo com apoios duplos se ter demonstrado como mais real com a estrutura
existente, admite-se após uma verificação do apoio que este volte a funcionar correctamente. Assim
nos cálculos dos esforços na estrutura devidos à acção das cargas permanentes (peso próprio) e
variáveis (sobrecargas) optou-se pela consideração de um apoio móvel e um apoio fixo.

Para as combinações consideradas foram calculados os esforços nas barras da estrutura


admitindo que o fenómeno da encurvadura não existe, de resto situação comum, quando estas obras
eram projectadas. Não é um procedimento regulamentar actualmente, mas pretende-se mostrar a
influência da consideração da encurvadura no modelo. Assim se calculou posteriormente as tensões
com encurvadura. As comparações que se pretendem efectuar relativamente ao existente e aos novos
carregamentos é válida para ambas as situações, já que o aumento dos esforços será proporcional.

7.2.1 Tensões sem encurvadura


O primeiro cálculo foi efectuado para a estrutura existente, tal qual como está, sem qualquer
alteração. O resultado esquematiza-se graficamente na Figura 3.19 e Figura 3.20 e foi obtido
directamente do programa de cálculo automático utilizado, referindo-se as figuras respectivamente
às tracções e compressões.

99
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 3.19 - Tracções nas barras da estrutura existente

Figura 3.20 - Compressões nas barras da estrutura existente

Conforme se verifica, as tensões atingem praticamente os 160 MPa máximos admissíveis, não
esquecendo no entanto que estes valores não contabilizam a encurvadura para as barras
comprimidas, o que agravará aqueles valores nomeadamente as diagonais e montantes de grande
esbelteza.

Os resultados anteriores são igualmente úteis para se verificar que eliminando o problema
da encurvadura, a estrutura respeitará aproximadamente as cargas regulamentares, a menos que o
estudo das longarinas e carlingas traga alterações.

Analisando agora a situação hipotética de alterar a estrutura existente, colocando os passeios


no exterior das vigas principais e alargando a faixa de rodagem, depara-se obviamente com um
aumento de cargas e consequentemente aumento das tensões. Verificou-se que esse valores
aumentaram cerca de 25%, o que torna a estrutura existente, mesmo eliminando os problemas de
encurvadura, incompatível com as alterações que se propõem fazer. Os resultados destes valores são
exibidos na Figura 3.21 e na Figura 3.22.

100
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Figura 3.21 - Tracções nas barras da nova estrutura

Figura 3.22 - Compressões nas barras da nova estrutura

7.2.2 Tensões com encurvadura


Para os elementos comprimidos é importante ainda avaliar, o valor real das tensões. Estes
valores são exibidos no Quadro 3.4, tendo sido foi contabilizados, para as cargas regulamentares e
para a estrutura existente.

Quadro 3.4 – Comparação das tensões com e sem encurvadura em algumas barras

barra i mínimo comprimento λ ϕ Á rea A*ϕ Nsd σ s/ enc. σ c/ enc.


(m) (m) (m2 ) (m2 ) (kN) (MPa) (MPa) %
2º montante 0,0409 3,60 88 0,548 0,00620 0,003399 518 84 152 82
3º montante 0,0367 5,00 136 0,259 0,00492 0,001275 190 39 149 286
4º montante 0,0326 4,20 129 0,289 0,00376 0,001085 98 26 90 247
diagonal 0,0026 6,00 2309 0,001 0,00081 0,000001 2,5 3 3428 110965
diagonal 0,0026 6,00 2309 0,001 0,00090 0,000001 15 17 18511 110965
banzo sup. 0,1011 4,30 43 0,850 0,02015 0,017135 3018 150 176 18
banzo sup. 0,1013 4,50 44 0,838 0,02465 0,020651 3913 159 189 19
banzo sup. 0,1014 4,45 44 0,841 0,02915 0,024526 4319 148 176 19
banzo sup. 0,1015 4,40 43 0,845 0,03365 0,028431 4593 136 162 18
banzo sup. 0,1016 4,35 43 0,848 0,03815 0,032365 4738 124 146 18
banzo sup. 0,1016 4,35 43 0,848 0,03815 0,032365 4823 126 149 18
banzo sup. 0,1016 4,30 42 0,852 0,03815 0,032490 4895 128 151 17
banzo sup. 0,1016 4,30 42 0,852 0,03815 0,032490 4944 130 152 17

As tensões calculadas com encurvadura (10ª coluna), demonstram que ao nível do banzo
superior ocorre um aumento de cerca de 20 % (11ª coluna), o que coloca a tensão instalada acima do

101
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

valor máximo admissível. Já para os montantes exibidos no quadro, apesar do aumento de tensão ser
superior ao dobro, não é ultrapassada a tensão máxima.

Repare-se que as tensões calculadas nas diagonais são excessivas, fruto da elevada esbelteza
que possuem (2309), o que as coloca fora de serviço após ser atingida a tensão máxima.
Relativamente às barras traccionadas importa ainda avaliar também a esbelteza máxima de algumas
delas, pois apesar de não estarem sujeitas a encurvadura, existem valores máximos regulamentares,
o regulamento português impõem 250 para elementos secundários e 180 para elementos principais
com possibilidade de alternância de esforços, prescrições estas para edifícios, para pontes
rodoviárias não há qualquer tipo de especificação. Tendo aqueles valores como esbelteza máxima
admissível, algumas das barras traccionadas são colocados em situação anti-regulamentar. Outros
regulamentos estrangeiros permitem valores superiores de esbelteza atingindo mesmo os 300, o caso
do BS1531 e da CAN3-S16.12. Um dos problemas de esbelteza elevada prende-se com a vibração das
barras, situação presenciada nesta obra e que os ingleses designam de “flutter” que significa “bater de
asas”. O Quadro 3.5 exibe algumas esbeltezas calculadas, bastante elevadas para as diagonais.
Admitindo que as diagonais apresentam um ponto fixo quando se cruzam com os montantes,
diminuiria o seu comprimento de encurvadura para metade o que mesmo assim é manifestamente
insuficiente.

Quadro 3.5 – Esbelteza de algumas barras

barra i mínimo comprimento λ λ/2


(m) (m)
6º montante 0.032559 7.5 230
7º montante 0.032559 8.0 246
8º montante 0.032559 8.4 258
diagonal 0.002887 9.5 3291 1645
diagonal 0.003175 10.3 3244 1622
diagonal 0.002598 10.8 4157 2078
diagonal 0.002598 11.0 4234 2117
diagonal 0.002598 11.3 4349 2175

Os resultados até agora apresentados, exibiram um estudo simplificado das vigas principais
em modelos bidimensionais simplificados que não tiveram em consideração a acção do vento ou do
sismo. Estas acções agravariam possivelmente os esforços nas barras, nomeadamente devido à
elevada esbelteza transversal das diagonais. De facto estes elementos são muito esbeltos,
necessitando de uma intervenção a curto prazo, pelas razões, já apresentadas.

1 British Standart (153)


2 Canadian Standart Association

102
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Relativamente à deformação da ponte, para estados limites de utilização, foram calculados e


comparados com o valor máximo admissível que é de 17.25 cm (l/400), os valores dos deslocamentos
a meio vão. As flechas foram medidas em vários nós do banzo inferior para a combinação C3 e
exibem-se na Figura 3.23. Como se verifica a flecha máxima que ocorre a meio é menos de metade da
admissível.

Figura 3.23 – Deformação para a combinação frequente

7.3 Análise local


A análise local efectuada direccionou-se, para o estudo das carlingas e longarinas,
calculando-se os esforços instalados para as cargas regulamentares e determinando-se no caso das
tensões ultrapassarem os 160 MPa , para essas cargas, o valor máximo admissível para as mesmas.

7.3.1 Estudo das longarinas


As longarinas têm uma área de influência de 1 m, o seu comprimento teórico é igual à
largura de cada painel, sendo o mais desfavorável de 4.306 m. Admitindo uma viga simplesmente
apoiada como modelo estrutural obtêm-se os seguintes esforços:

Momento devido às cargas permanentes MG = 19.52 kN.m

Momento devido às sobrecargas distribuídas: MQ = 63.09 kN.m

Momento devido ao veículo-tipo: MVT = 172.95 kN.m

Considerando um coeficiente de segurança de 1.5,

Msd,Q = 124 kN.m (acção base: sobrecargas distribuídas)

Msd,VT = 289 kN.m (acção base: veículo-tipo)

Calculando as tensões nas longarinas, verifica-se que o veículo-tipo provoca tensões


incompatíveis com a resistência da peça, senão vejamos:

σVT = 289/Ix × 0.20 = 299 MPa

103
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

σQ = 124/Ix × 0.20 = 129 MPa

Assim se conclui que a sobrecarga regulamentar é compatível com a resistência admitida


para as peças, encontrando-se mesmo 20% abaixo daquele valor.

Procurou então saber-se qual o valor da carga admissível para o veículo-tipo compatível com
uma tensão de 160 MPa. O valor encontrado foi de 48 kN por roda, o que praticamente chega a
metade da carga regulamentar para pontes da classe I.

7.3.2 Estudo das carlingas


A análise das carlingas foi efectuada nos mesmos moldes, dos apresentados para as
longarinas. O vão teórico das carlingas foi calculado em 6.5 m com uma largura de influência
máxima de 4.306 m. Nelas descarregam as longarinas. Foram calculados momentos parciais para
cada tipo de carga, para posteriormente se individualizar as cargas máximas admissíveis,
compatíveis com a tensão de cálculo.

Os momentos valem:

Momento devido às cargas permanentes MG = 220.33 kN.m

Momento devido às sobrecargas distribuídas: MQ = 91.00 kN.m


(excluindo a sobrecarga transversal de 50 kN/m)

Momento devido à sobrecarga transversal: MF = 264.00 kN.m

Momento devido ao veículo-tipo: MVT = 517.50 kN.m

Considerando um coeficiente de segurança de 1.5

Msd,Q = 467 kN.m (acção base: sobrecarga distribuída, excluindo sobrecarga transversal)

Msd,F+Q = 863 kN.m (acção base: sobrecarga distribuída, incluindo sobrecarga transversal)

Msd,VT = 1107 kN.m (acção base: veículo-tipo)

As respectivas tensões foram calculadas, verificando-se igualmente que o veículo-tipo


regulamentar bem como a sobrecarga transversal provocam tensões acima dos 160 MPa.

σQ = 467/Ix × 0.305 = 134 MPa

σF+Q = 863/Ix × 0.305 = 249 MPa

σVT = 1107/Ix × 0.305 = 319 MPa

De onde se procurou calcular o valor da sobrecarga transversal máxima, supondo a


distribuída constante, compatível com a peça, obtendo-se o valor de 11 kN/m, bastante abaixo do

104
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

regulamentar, mesmo para obras da classe II. Relativamente ao veículo-tipo tomou-se o mesmo
procedimento, chegando a 30 kN por roda o que também é manifestamente insuficiente.

105
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

8 Análise dos resultados

Apesar dos estudos exibidos serem simplificados e baseados em dados que não são mais do
que hipóteses propostas, torna-se evidente que esta obra não se encontra em condições para respeitar
as acções regulamentares, nomeadamente as carlingas e as longarinas. Conforme se demonstrou
estes elementos, não permitem a acção do veículo-tipo regulamentar, nem a simultaneidade das
sobrecargas preconizadas, distribuída (4 kN/m2) e transversal (50 kN/m). Como se viu apenas a
sobrecarga uniformemente distribuída é compatível com a resistência daqueles elementos.

Relativamente às vigas principais, apenas algumas barras não exibem problemas ligados à
encurvadura, isto admitindo a situação existente. O banzo inferior não apresenta problemas de
maior, enquanto o superior apresenta tensões superiores em alguns casos aos 160 MPa. Quanto às
peças traccionadas apesar de algumas apresentarem baixos níveis de tensão, nomeadamente
montantes e diagonais, possuem problemas de vibração já explicados e que não podem ser
ignorados, independentemente das tensões serem baixas, acrescidos dos problemas de esbelteza.

O outro ponto apresentado, referente ao comportamento das vigas principais com a


alteração da configuração geométrica do perfil transversal da obra e consequente aumento do
carregamento, demonstrou que, os níveis de tensão aumentam o suficiente para tornar a hipótese
incompatível com a estrutura actual, pois mesmo as barras traccionadas apresentam valores
superiores aos 160 MPa (nomeadamente os banzos superior e inferior). Donde se conclui da
necessidade duma intervenção global na estrutura, no caso de se optar pela solução de alargamento
da obra.

As análises de resultados efectuadas tiveram sempre como horizonte, as características de


resistência admitidas para os materiais e as acções regulamentares. No caso da tensão máxima
admissível ser superior à considerada, o que só poderá ser confirmado recorrendo a ensaios dos
aços, então podem os resultados tomar outra configuração, estando a estrutura mais ou menos
adequada às acções impostas. Ao mesmo tempo este exemplo servirá para ilustrar o que inicialmente
se defendeu, podendo a obra, mesmo não respeitando os regulamentos, estar apta para as funções
que desempenha. Nunca pondo de parte a necessidade de uma reabilitação, porque essa é necessária,
mas poderá ser conseguida à custa de uma intervenção de menor monta do que a que ocorreria se a
obra for obrigada a respeitar o regulamento e mais ainda se se proceder ao alargamento proposto
pela J.A.E.

106
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

Importa ainda realçar que as combinações consideradas admitem um factor de segurança de


1.5 para todas as acções. Não será de ignorar a hipótese de para as cargas permanentes aquele
coeficiente diminuir para 1.35, o que só será de qualquer modo aconselhável depois de haver
certezas quanto às características do material que constitui a obra, mas que faria reduzir obviamente
os esforços instalados. No presente estudo isso não foi tido em conta exactamente pelas razões
inversas.

107
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

9 Proposta de intervenção

A proposta de intervenção que aqui se descreve, pretende responder, aos problemas


detectados de facto na estrutura e não em soluções de reforço que se baseassem nos cálculos de
esforços anteriores, procurando baixar os níveis de tensão instalados.

Assim adianta-se a necessidade evidente de uma limpeza do banzo inferior e uma


verificação do estado das chapas desses elementos pelo interior, o que até agora não é possível
devido a se encontrar cheio de detritos. Ao mesmo tempo procurar evitar a acumulação de água no
mesmo, mantendo limpos os furos que nele se encontram para o efeito. Deverá ainda ser estudada
uma forma de passar as tubagens que circulam pelo banzo inferior do lado de montante, por outro
local que não comprometa a limpeza do mesmo. Haverá ainda que encontrar uma equipa que efectue
esta limpeza sempre que necessário, visto nas imediações a presença de vegetação é vasta e mesmo
junto à obra, o que resulta na deposição de folhas no caixão do banzo inferior. O mesmo se refere
relativamente ao próprio asseio da faixa de rodagem, onde os dispositivos para escoamento das
águas, também se encontravam entupidos.

As guardas dos passeios devem também ser verificadas, eliminando os casos em que as
mesmas não estão fixas, como já se exemplificou. As chapas dos passeios também necessitam duma
intervenção que elimine a acumulação de água por se encontrarem abauladas, o que tem favorecido a
corrosão das mesmas, sendo ao mesmo tempo desconfortável para os utentes.

Relativamente aos problemas de vibração das diagonais, à que proceder a um aumento de


rigidez essencialmente no plano transversal o que poderá ser conseguido à custa duma substituição
por elementos mais rígidos, ou acrescentar aos existentes, talvez uma solução de mais fácil execução,
perfis que provoquem esse aumento. Isso pode ser conseguido usando por exemplo perfis UNP
ligados pela alma às chapas que constituem as diagonais, travando todo o conjunto com pequenas
chapas, sistema idêntico ao usado no banzo superior (nesse caso com cantoneiras) e que evita o
enfunamento das almas do caixão. Seria ainda conveniente garantir uma ligação eficiente aos
montantes que anule as rotações que ocorrem nesses pontos, responsáveis pelo problema já exibido
na Figura 3.5. Os perfis UNP propostos teriam dimensões compatíveis com as chapas das diagonais
permitindo uma boa ligação destas àqueles e ainda da treliça de chapas que uniriam a diagonal
exterior com a interior.

Cabe ainda uma palavra aos aparelhos de apoio que deverão igualmente ser lubrificados, já
que segundo os estudos dinâmicos efectuados se adivinha um bloqueamento dos móveis, há ainda

108
Capítulo 3 – Estudo da Ponte Metálica do Pinhão

que verificar os alinhamentos dos mesmos, pois as vibrações detectadas na obra podem ter
provocado movimentos que tenham resultado em desalinhamento dos apoios.

109
Índice do capítulo 4

CAPÍTULO 4 - ESTUDO DA PONTE INTERNACIONAL DE VALENÇA-TUY ............................ 107

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 107

2 RECOLHA DE DADOS.......................................................................................................................... 109


2.1 DOCUMENTAÇÃO ............................................................................................................................... 109
2.2 INSPECÇÕES ........................................................................................................................................ 111

3 CARACTERIZAÇÃO DA PONTE ........................................................................................................ 114


3.1 HISTÓ RIA DA PONTE ........................................................................................................................... 114

3.2 CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA E MECÂNICA .................................................................................... 115


3.2.1 Caracterização geométrica ....................................................................................................... 115
3.2.2 Caracterização mecânica .......................................................................................................... 116
3.2.2.1 Banzo superior e banzo inferior ....................................................................................... 117
3.2.2.2 Montantes correntes .......................................................................................................... 118
3.2.2.3 Montantes sobre os apoios................................................................................................ 118
3.2.2.4 Diagonais............................................................................................................................ 118
3.2.2.5 Longarinas do tabuleiro superior..................................................................................... 119
3.2.2.6 Carlingas do tabuleiro superior........................................................................................ 119

4 ACÇÕES E COMBINAÇÕES................................................................................................................. 120


4.1 ACÇÕES PERMANENTES ....................................................................................................................... 120
4.2 ACÇÕES VARIÁ VEIS ............................................................................................................................. 120
4.2.1 Sobrecargas ............................................................................................................................... 120
4.3 COMBINAÇÕES .................................................................................................................................... 121

5 MATERIAIS............................................................................................................................................. 122

6 CÁ LCULOS ............................................................................................................................................. 123


6.1 A NÍVEL GLOBAL................................................................................................................................. 123
6.1.1 Modelo de cálculo..................................................................................................................... 123
6.1.2 Resultados ................................................................................................................................. 123
6.1.3 Análise dinâmica ...................................................................................................................... 126
6.1.3.1 Modelação .......................................................................................................................... 126
6.1.3.2 Coeficientes de amplificação dinâmica............................................................................ 127
6.1.3.3 Conclusões ......................................................................................................................... 130
6.2 A NÍVEL LOCAL................................................................................................................................... 131
6.2.1 Estudo das vigas principais ..................................................................................................... 131
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

6.2.1.1 Modelo de cálculo ............................................................................................................. 131


6.2.1.2 Resultados.......................................................................................................................... 131
6.2.2 Estudo das longarinas do tabuleiro superior ......................................................................... 134
6.2.2.1 Acções ................................................................................................................................ 134
6.2.2.2 Cálculos de estabilidade. Resultados............................................................................... 134
6.2.3 Estudo das carlingas do tabuleiro superior............................................................................ 135
6.2.3.1 Acções ................................................................................................................................ 135
6.2.3.2 Cálculos de estabilidade. Resultados............................................................................... 136
6.3 CONCLUSÕES ...................................................................................................................................... 136

7 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ......................................................................................................... 138


7.1 A NÍVEL GLOBAL ................................................................................................................................ 138
7.1.1 Realinhamento da ponte .......................................................................................................... 138
7.1.2 Reforço das vigas principais da estrutura .............................................................................. 138
7.1.2.1 Generalidades.................................................................................................................... 138
7.1.2.2 Solução adoptada .............................................................................................................. 139
7.1.3 Esquema de apoio da ponte .................................................................................................... 143
7.1.3.1 Generalidades.................................................................................................................... 143
7.2 A NÍVEL LOCAL .................................................................................................................................. 144
7.3 ASPECTOS GERAIS DA REABILITAÇÃO .................................................................................................. 148

8 METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO ................................................................................................ 149


8.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 149
8.2 METODOLOGIA PROPOSTA .................................................................................................................. 149

106
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Capítulo 4 - Estudo da Ponte Internacional de


Valença-Tuy

1 Introdução

O estudo aqui exibido baseia-se num estudo prévio de reforço proposto pelo G.E.G. Esse
estudo [37] propõe um reforço total da ponte de modo a responder aos novos requisitos de
circulação ferroviária, e pôr termo às restrições de circulação que perduram há quase 10 anos. Estas
restrições prendem-se essencialmente com a circulação ferroviária, só as locomotivas mais leves com
cargas rebocadas não superiores a 16 ton./eixo e 5 ton./m podem circular a velocidades que não
excedam os 10 km/h. Pretende-se com o referido reforço permitir a circulação de comboios até 100
km/h com cargas de 22.5 ton./eixo e 8 ton./m.

Ao estudo de reforço era ainda imposto, a não introdução de alterações geométricas


significativas nas vigas principais, facto que em muito importou a solução adoptada que como se
verá parece responder eficazmente a esta exigência. Outras questões relacionadas com cargas
dinâmicas foram alvo de estudo, nomeadamente as acções de frenagem e arranque que para as novas
velocidades obrigaram a um estudo de estabilidade dos encontros em alvenaria, não preparados
para acções horizontais desta ordem de grandeza. A influência das acções dinâmicas na estrutura da
ponte foram objecto de estudo, tendo-se calculado frequências e modos de vibração da ponte, cujos
resultados são exibidos neste capítulo.

Neste estudo as questões relacionadas com os ensaios de materiais não figuram em nenhuma
das secções, isto porque dos dados fornecidos pela C.P. constavam os valores das tensões de corte e
flexão, obtidas em 1976, aquando dos trabalhos de beneficiação da ponte, levados a cabo pela J.A.E.,
em que se retiraram barretas para ensaio. Assim adoptaram-se esses valores como referência para o
presente estudo.

Foi efectuada uma visita ao local da obra, com o intuito de efectuar uma breve inspecção ao
estado da mesma e recolher algumas fotografias para posteriores consultas. Também não foram
efectuados quaisquer ensaios no local para medição de frequências. A realização de apenas uma
visita ao local ficou a dever-se ao carácter preliminar dos estudos, e à informação disponível que em
termos de projecto era suficiente. Parte desta informação foi fornecida directamente pela C.P. logo no
início dos estudos, outra foi obtida nas instalações da C.P. na estação de caminho de ferro de Santa
Apolónia, onde se encontrava ao dispor toda a informação constante do processo da ponte.

107
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

O principal objectivo da intervenção proposta, era dar resposta às necessidades de circulação


actuais tanto ferroviária como rodoviária, garantindo conforto e segurança a quem utiliza a ponte e
eliminando por completo os condicionalismos a que a mesma está, de momento, sujeita. A
necessidade de circularem locomotivas bastante mais pesadas, respeitando as normas de segurança
estrutural em vigor, são os principais responsáveis pela necessidade do reforço em questão, pois no
que respeita à circulação rodoviária prevê-se a proibição de tráfego pesado.

Esta intervenção passará por um reforço ou substituição de elementos estruturais que se


encontrem em situação precária e por dotar a obra de dispositivos que lhe confiram um adequado
comportamento estrutural quando sujeita às acções como o arranque e a frenagem. Além disso
interessa também efectuar a substituição dos carris por novos, que incluam dispositivos de fixação
das travessas mais eficientes do que os que lá se encontram, bem como a colocação de contra-carris,
carriladores e aparelhos de dilatação de via.

O sistema de reforço a utilizar depende, naturalmente, do grau de deficiência da segurança


estrutural. Qualquer sugestão de um sistema de reforço deve ser baseado em estudos que confirmem
a possibilidade de sucesso da proposta, ou seja, os estudos actualmente desenvolvidos devem ser
suficientemente evoluídos para garantir que na fase seguinte a viabilidade da solução se mantém.

Quando se iniciou esta dissertação e se decidiu incluir o estudo aqui exposto, não era ainda
sabido se seria o G.E.G. a ganhar o concurso lançado pela C.P., não sendo isso que condicionava a
decisão seria bom que tivesse acontecido, pois poderia permitir um maior desenvolvimento dos
estudos. Mas nada era certo.

Tratando-se de um concurso público na altura em que esta dissertação estava a ser


terminada, já outro gabinete concorrente tinha ganho a proposta de reforço, tendo os estudos
desenvolvidos no G.E.G. sido dados por terminados. Apesar disso, entendeu-se defender a solução
proposta e completar um pouco mais os estudos, embora não se ambicione desenvolver um projecto
de execução. No entanto as horas investidas nesse estudo prévio, não merecem cair no esquecimento
e pensa-se com esta apresentação anular essa injusta probabilidade.

108
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

2 Recolha de dados

A recolha de dados apoiou-se essencialmente nos documentos escritos e peças desenhadas


disponíveis, já que o número de visitas efectuados se reduziu apenas a uma.

2.1 Documentação
A documentação que se encontrava disponível era bastante vasta. Entre peças desenhadas,
ofícios, pareceres técnicos, etc., destacam-se dos restantes os seguintes documentos:

a) Relatório Preliminar elaborado pelo Prof. Edgar Cardoso, de 28 de Abril de 1969; este relatório
descreve uma vistoria efectuada à ponte e as recomendações que daí advieram, face às anomalias
detectadas. Refere-se o mau estado em que a ponte se encontrava, pormenorizando as anomalias
mais evidentes: as diagonais mais esbeltas tinham sofrido empenamentos, atingindo em alguns
casos flechas de 10 cm, o contraventamento horizontal superior também com o mesmo tipo de
deficiências e ainda uma curvatura em planta quer ao nível do tabuleiro superior quer do inferior.
Adiantam-se também algumas razões justificativas da ocorrência destas situações como por
exemplo, excessos de sobrecarga responsáveis pela curvatura de algumas peças. Relativamente à
curvatura em planta, aponta-se como razão provável a ocorrência de um sismo, em 1969, que terá
provocado o desvio dos encontros e dos pilares. Por fim refere-se a necessidade de efectuar uma
análise detalhada que permitisse avaliar o estado de tensão e de deformação da estrutura e daí
tomar posição sobre a segurança da obra.

b) Ofício da Direcção Geral de Transportes Terrestres, de 3 de Maio de 1969 ; este documento


aconselha à tomada de providências no intuito de limitar a carga das composições que aí
circulam, mantendo os comboios uma velocidade reduzida e uniforme.

c) Relatório Final elaborado pelo Prof. Edgar Cardoso, de 22 de Maio 1969; em sequência de uma
segunda vistoria efectuada a 3 e 4 de Maio daquele ano com o objectivo de determinar valores
quantitativos das deformações e tensões instaladas. Neste relatório pode encontrar-se os valores
das cargas permanentes e sobrecargas que foram usadas no projecto original e as respectivas
tensões esperadas. Concluiu-se então que apenas o tabuleiro ferroviário apresentava situações de
insegurança para essas cargas.

São também apresentados assentamentos e deformações quer em planta quer verticais dos
apoios, e deformações das diagonais das vigas principais. É ainda descrita a análise experimental
efectuada, que permitiu obter as tensões instaladas em alguns dos elementos, tendo-se medido
tensões superiores ao que era corrente admitir, em cerca de 50 a 100%. Salvaguarda-se ainda a
não contemplação de acções importantes, tais como: efeitos dinâmicos, vento, temperatura, lacete,

109
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

etc., as quais agravariam certamente os valores medidos. Adiantam-se medidas correctivas, de


substituição e reforço de algumas peças de modo a garantir a segurança estrutural da obra. Em
hipótese de não se efectuarem estes trabalhos, e segundo o mesmo relatório, torna-se necessário
tomar medidas preventivas no que se refere a velocidades máximas de circulação ferroviária,
máximo de 15 Km/h, cargas máximas de 3 a 4 toneladas por metro para cargas rebocadas e
locomotivas que não excedam as 15 toneladas por eixo.

d) Parecer da Direcção dos Serviços de Pontes da Junta Autónoma de Estradas, de 4 de Julho de


1969; este parecer subscreve as medidas de segurança que eram preconizadas naquele relatório.
Acrescentando todavia, algumas restrições também na circulação rodoviária, tais como:
diminuição, para 25 Km/h, a velocidade de passagem dos camiões, que deverão percorrer a
ponte isoladamente e nunca em simultaneidade com a passagem de comboios.

e) Projecto de beneficiação elaborado pelo Prof. Edgar Cardoso, de Janeiro de 1970 ; onde se
apresenta o estudo efectuado, as anomalias detectadas, as insuficiências estruturais para as
solicitações da altura, e as respectivas soluções estruturais que permitam restabelecer a segurança
estrutural da ponte.

Relativamente às peças desenhadas foram disponibilizados elementos suficientes para uma


boa compreensão da estrutura, como o da Figura 4.1, referente ao corte transversal do projecto
original. Parte da informação foi obtida a partir de desenhos existentes, outra por intermédio da
visita efectuada à obra, sendo o seu grau de precisão o possível para esta fase dos estudos.

110
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 4.1 – Corte transversal do projecto original

2.2 Inspecções
Efectuou-se uma inspecção à obra com a intenção de clarificar algumas dúvidas, e também
com o objectivo de obter mais alguma informação de interesse. Fizeram-se verificações de algumas
medidas e retiraram-se outras em falta para alguns elementos. Um dos pontos importantes a
salientar foi a obtenção de um contacto visual com o apoio fixo sobre um dos pilares centrais, não
tendo sido possível no entanto visitar os restantes, pois os alçapões localizados no passadiço lateral
para peões encontravam-se fechados. Depararam-se ainda com situações de corrosão nomeadamente
no tabuleiro ferroviário, também o mais fácil de inspeccionar. As chapas dos passeios também se
encontravam bastante degradadas, constituindo algum desconforto para os peões que
constantemente atravessam a ponte, não tendo qualquer outra alternativa. Nas vigas principais
algumas peças evidenciavam o colapso global da pintura, chegando em alguns pontos a detectar-se
estados de corrosão.

As intervenções de que foi objecto detectam-se essencialmente pelo uso de parafusos na


ligação dos elementos, parafusos estes que de forma geral se encontram fortemente atacados pela
corrosão (ver Figura 4.2). O uso de parafuso em detrimento dos rebites, não parece de qualquer
modo a melhor opção já que estes se encontram sem sinais de degradação. Pelas razões já
oportunamente apontadas noutros capítulos o uso de soldadura nestas obras antigas é de uma forma
geral uma má opção, esta não fugiu a essa regra. A retirada de alguns rebites, em algumas das
ligações existentes, e colocação de parafusos, deixou em aberto alguns dos furos, que tentaram ser
tapados usando soldadura, pressupõe-se, para disfarçar as aberturas, depara-se então em todos os
locais em que isso aconteceu, com o destacar da soldadura dos contornos do orifício, tornado-se
esteticamente desagradável, conforme se pode testemunhar na Figura 4.3.

111
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 4.2 – Corrosão dos parafusos

Relativamente ao cumprimento das velocidades de circulação, algumas interrogações se


levantam, já que durante a visita assistimos à passagem de duas composições, que pareciam circular
a mais de 10 km/h. A circulação rodoviária não era intensa nesse dia, e a passagem de veículos
pesados não se verificou, enquanto permanecíamos na ponte, não foi assim possível tomar contacto
com situações de maior vibração da obra, que poderão mostrar-se desconfortáveis para os
utilizadores.

A visita foi ainda acompanhada de registo fotográfico, o que mais uma vez se demonstrou
bastante útil para futuras consultas durante as fases seguintes do estudo.

112
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 4.3 – Destaque da soldadura do contorno dos orifícios

113
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

3 Caracterização da ponte

3.1 História da Ponte


A inauguração oficial da Ponte Internacional sobre o Rio Minho, que une Espanha e Portugal
nesta zona fronteiriça, foi realizada em 25 de Março de 1886, substituindo as barcas que garantiam a
ligação de pessoas e mercadorias entre os portos de Tuy e Valença do Minho. A ponte acabou assim
com os antigos meios de comunicação, ligando as duas vilas com um novo meio de transporte, o
caminho de ferro.

A escolha do local em que o caminho de ferro devia cruzar o rio Minho, unindo a linha já
construída de Ourense a Vigo em Espanha, com a também já construída em Portugal até Segadães,
foi objecto de discussão, apresentando-se na altura três alternativas. A primeira propunha a foz do
rio Louro, uma segunda conhecida por “Porta da Raposeira” necessitava da construção de um túnel
de 285 m e por último um traçado intermédio, o qual foi o que finalmente se adoptou.

Apesar da inauguração ter tido lugar na data acima referida, a ponte já estava construída um
ano e meio antes, em Outubro de 1884. O projecto foi realizado por um jovem engenheiro espanhol,
Pelayo Mancebo y Agreda, em Julho de 1879. Em 1881 a obra foi adjudicada à empresa belga Braine le
Comte por 205 766 000 réis, a qual ganhou entre outras sete concorrentes uma das quais liderada por
Gustave Eiffel. A empresa construtora propôs algumas modificações ao projecto original, entre as
quais se destaca a substituição dos pilares metálicos por pilares em alvenaria. A obra foi executada
em trinta e quatro meses, desde Novembro de 1881 a Outubro de 1884, tendo-se aplicado 700 kg de
chumbo e 1 540 365 kg de ferro [39].

As provas de carga iniciaram-se de seguida e prolongaram-se até Janeiro de 1885, utilizando


para os ensaios estáticos locomotivas de 63 e 68 toneladas e, para os ensaios dinâmicos, locomotivas
de 60 toneladas lançadas a 40 Km/h. O regulamento aplicado foi o francês, datado de 1877. A ponte
resistiu perfeitamente a todos os ensaios e à utilização posterior até ao ano de 1975.

Apenas em 1976 foram levados a cabo os trabalhos de beneficiação da ponte, altura em que
se efectuaram ensaios de barretas, concluindo que as tensões máximas de serviço a considerar não
deveriam ultrapassar os 100 MPa à flexão e os 60 MPa ao corte. Com base nestes resultados,
prosseguiu a beneficiação referida projectada pelo Prof. Edgar Cardoso. Estes trabalhos não
contemplaram no entanto, qualquer intervenção ao nível do tabuleiro ferroviário e constituíram a
última grande intervenção que a obra sofreu.

Em 1989 procedeu-se à verificação da sua estabilidade por parte da Divisão de Obras de


Arte da C.P. Conclui-se então da necessidade de um reforço importante das secções do tabuleiro

114
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

superior e suas ligações. Este reforço pressupõe, eventualmente, a necessidade de substituição das
longarinas, visto os seus banzos superiores se encontrarem rasgados pela fixação das travessas, de
resto um problema comum nas pontes ferroviárias não balastradas. Aconselha-se a colocação de
chapas que garantam a continuidade das mesmas. Para as referidas travessas pretende-se uma
fixação mais adequada que limite vibrações para velocidades de circulação mais elevadas. Refere-se
ainda a necessidade de reforçar os tramos de margem, tanto do tabuleiro (carlingas e longarinas)
como das vigas principais.

O último estudo de que a ponte foi objecto, foi elaborado em 1995 pelo Centro de Estudios y
Experimentacion de Obras Públicas do Laboratório de Estruturas y Materiales de Madrid. Nesse
relatório afirma-se que a ponte, na sua generalidade, se encontra em razoável estado de conservação
mas chama-se a atenção para uma série de deficiências como: plataforma ferroviária, travessas e suas
ligações às longarinas, apoios sem manutenção e diversas avarias em montantes e diagonais,
provocadas pelo tráfego rodoviário.

Actualmente a ponte encontra-se com o trânsito ferroviário condicionado, devido à situação


precária do tabuleiro superior onde este circula. Destaca-se ainda a degradação no aspecto geral que
apresenta, tornado-se evidente a necessidade de uma intervenção eficiente, que ponha cobro às
anomalias detectadas.

3.2 Caracterização geométrica e mecânica

3.2.1 Caracterização geométrica


Conforme se visualiza na Figura 4.1, a ponte é constituída por dois tabuleiros, um ferroviário
(superior) e um rodoviário (inferior). As vigas principais são constituídas em Cruz de Santo André
de rótula múltipla, medindo 6.645 m de altura média entre banzos. A solução estrutural é de viga
contínua com 5 tramos, medindo os 3 centrais cerca de 69 metros e os de extremidade 62 metros. Na
Figura 4.4 apresenta-se um alçado de um dos tramos. A distância entre eixos de vigas principais
perfaz 5.51 m, atingindo 8.525 às extremidades dos passeios inferiores, que se desenvolvem em
consola na totalidade do comprimento da obra. Existem ainda ao nível do tabuleiro superior dois
pontões de acesso, quer do lado de Espanha, quer do lado de Portugal, o primeiro com vigas
principais de alma cheia, e o segundo com vigas principais em Cruz de Santo André de rótula
simples. Este último com um vão de 15 m e 1.7 m de altura e o primeiro com 74 cm de altura e um
vão de 9.39 m.

115
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 4.4 – Alçado de um tramo

Mais uma vez as secções são do tipo composto, com perfis e chapas ligadas por rebites,
embora se deparem com ligações aparafusadas resultantes de intervenções posteriores, como se pode
visualizar na Figura 4.5. Identificam-se secções transversais em U, I e em T, conforme adiante se verá.
A geometria destas secções serão exibidas na subsecção 3.2.2, aquando da apresentação das
características mecânicas das mesmas.

Figura 4.5 – A ligação aparafusada, testemunho de intervenções.

3.2.2 Caracterização mecânica


As secções utilizadas no modelo foram obtidas a partir dos desenhos, existindo no entanto
alguma falta de informação que se tentou completar com a visita, não se conseguindo contudo,
responder a todas as dúvidas. De facto, apesar de se ter obtido a quase totalidade das secções
intervenientes, deparou-se com alguma dificuldade relativamente às chapas adicionais que existem
tanto no banzo inferior como no superior e cuja variação não é de todo visível nos elementos
fornecidos. Este problema repete-se nas diagonais das vigas principais, onde existem chapas de

116
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

reforço de espessuras variadas. Numa tentativa de minimizar estas incertezas recorreu-se a


fotografias que, embora contribuindo para uma clarificação, não permitem responder a todas as
dúvidas. Optou-se, assim, por efectuar algumas simplificações que não comprometem a globalidade
dos cálculos. Salvaguarda-se no entanto que, numa fase mais avançada dos estudos, será
indispensável um levantamento exaustivo das secções.

3.2.2.1 Banzo superior e banzo inferior

O banzo inferior e superior, apresentam uma secção composta em T, com variações no


número de chapas que formam o respectivo banzo, conforme se exibe na Figura 4.6 e
Figura 4.7. É ainda apresentado o Quadro 4.1 que resume as características mecânicas do perfil
composto à medida que o número de chapas de banzo varia.

Figura 4.6 - Secção do banzo inferior Figura 4.7 - Secção do banzo superior

Quadro 4.1 - Características mecânicas dos banzos das vigas principais

nºchapas 1 2 3 4 5 6
2
A(m )= 0.02478 0.03528 0.04578 0.05628 0.06678 0.07728
4
Ix(m )= 0.000476048 0.000556923 0.000620443 0.000679725 0.000740379 0.000805607
4
Iy(m )= 0.000450095 0.000878845 0.001307645 0.001736345 0.002165145 0.002593845

117
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

3.2.2.2 Montantes correntes

Os montantes correntes apresentam uma secção composta de cantoneiras e chapas conforme


a Figura 4.8.

Figura 4.8 - Secção dos montantes correntes

A = 0.00739 m2 Ix = 8.21071E-6 m4 Iy = 1.666295E-4 m4

3.2.2.3 Montantes sobre os apoios

Pelo facto de não existirem desenhos que permitam aferir a secção correcta destes elementos,
optou-se, tendo em conta a sua elevada rigidez e influência no modelo considerado, por atribuir
valores estimados às características mecânicas dos mesmos, de tal modo que o comportamento da
estrutura não seja alterado.

3.2.2.4 Diagonais

As diagonais do projecto original eram constituídas por um perfil U composto com


cantoneiras de extremidade numa chapa de alma. Esta secção foi alterada para um perfil U do tipo
do da Figura 4.9 reforçado ou não, com chapas de alma de espessura variável, após a intervenção
definida no projecto do Professor Edgar Cardoso.

Figura 4.9 - Secção das diagonais

A = 0.00594 m2 Ix = 3.577333E-5 m4 Iy = 2.32758E-6 m4

118
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

3.2.2.5 Longarinas do tabuleiro superior

Como se pode observar na Figura 4.10, as longarinas apresentam a configuração geométrica


de um perfil I composto, formado por duas cantoneiras em cada extremidade da chapa que constitui
a sua alma cheia. Apresentam-se também as características mecânicas do perfil composto.

Figura 4.10 - Secção das longarinas do tabuleiro superior

A = 0.007916 m2 Ix = 1.96717E-4 m4 Iy = 4.97707E-6 m4

3.2.2.6 Carlingas do tabuleiro superior

A Figura 4.11 apresenta a geometria da secção tipo das carlingas. As carlingas são formadas
por um perfil I composto, com a mesma disposição de cantoneiras e chapa de alma que as
longarinas, diferindo destas pelo acrescento de chapas de banzo. As características mecânicas do
perfil são também apresentadas.

Figura 4.11 - Secção das carlingas do tabuleiro superior

119
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A = 0.01684 m2 Ix = 1.39438E-3 m4 Iy = 2.049771E-5 m4

4 Acções e combinações

4.1 Acções permanentes


As cargas permanentes adoptadas no projecto inicial, de cerca de 60 kN/m, revelaram-se
relativamente inferiores às obtidas neste estudo, ainda que de forma aproximada, que foram de
76 kN/m. Assim se refere a necessidade de avaliar, após levantamento pormenorizado da obra,
correctamente este valor.

4.2 Acções variáveis

4.2.1 Sobrecargas
Relativamente às cargas rodoviárias não se registam restrições e considera-se que não se
verificará qualquer agravamento futuro. Considerou-se que o valor actual, 25kN/m, não deveria
sofrer agravamentos futuros e poderia, inclusive, vir a ser reduzido. Optou-se por manter este valor.
A sobrecarga rodoviária é constituída, como é sabido por dois tipos, um veículo-tipo e uma carga
distribuída cujas características seguidamente se exibem [44].

Pelo contrário e no que diz respeito ao tabuleiro ferroviário as restrições são bem definidas
quer em termos de carga rolante, quer em termos de velocidade de circulação. De facto, indica-se
que apenas as locomotivas mais leves das séries 1200 e 1400, pesando cerca de 16 toneladas por eixo,
podem circular na ponte rebocando cargas que não pesem mais do que 40 kN por metro a
velocidades não superiores a 10 Km/h. A situação futura das cargas ferroviárias é quantificada de
acordo com [44] e as normas da U.I.C. [49], ou seja, locomotiva com uma carga por eixo igual a
250kN, num total de 1000kN em 6.40m, e carga corrente de 80kN/m. Estas acções foram agravadas
por um coeficiente dinâmico igual a 1.10 para as vigas principais.

Conforme indicação regulamentar, as sobrecargas rodoviárias a considerar para a ponte são:

• uma carga uniformemente distribuída de 4 kN/m2 nas faixas de rodagem;

• uma carga transversal linear de 50 kN/m;

• uma carga uniformemente distribuída de 3 kN/m2 nos passeios.

Relativamente a cargas horizontais transversais, o sistema actualmente existente, com todos


os apoios fixos, pode considerar-se adequado e não é afectado pelo aumento de cargas verticais. A

120
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

acção “vento transversal” mantém-se e a acção “lacete”, apesar de agravada, tem influência
basicamente a nível local por se tratar de uma acção de carácter pontual.

Para as acções horizontais longitudinais a situação é diferente na medida em que se prevê


um agravamento importante da acção de frenagem.

Actualmente a acção de frenagem é pouco importante porque, oportunamente, entraram em


vigor severas restrições à circulação. Futuramente pretende-se não só eliminar essas restrições mas
também aumentar as cargas verticais e, consequentemente, as forças de frenagem a absorver pelo
sistema de apoio. O agravamento das cargas verticais correntes é de 40 para 80kN/m, ou seja, o
dobro.

O único apoio fixo da ponte, no pilar central do lado de Portugal, e o próprio pilar, não têm
capacidade para absorver estes esforços e os que resultam de acções parasitas nos restantes apoios
(móveis).

4.3 Combinações
Para o modelo plano representativo das vigas principais, consideraram-se combinações que
produzissem momentos positivos máximos, C1 e C2, combinações que produzissem momentos
negativos máximos, C3 e C4, e combinações que permitissem avaliar as deformações, C1 e C5.

C1 - peso próprio + (comboio-tipo+sobrecargas), no vão à esquerda

C2 - peso próprio + (comboio-tipo+veículo-tipo), no vão à esquerda

C3 - idem C1 , com cargas nos dois vãos

C4 - idem C2 , com cargas nos dois vãos

C5 - peso próprio

121
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

5 Materiais

O aço utilizado nas peças que constituem a ponte é na sua maioria o aço original, obtido na
altura por processos já descritos no capítulo 2, o que lhe conferia uma percentagem de carbono
relativamente elevada quando comparada com os valores actuais.

As peças que sofreram substituição já não são deste tipo de aço. São de aço de características
semelhantes ao dos dias de hoje. Saliente-se aqui o facto de o aço mais antigo se encontrar com
menos sinais de corrosão do que o mais recente. O mesmo se aplica às ligações originais e
posteriores. De facto pode observar-se in situ, a corrosão de grande parte das ligações aparafusadas
efectuadas a posteriori. As originais, por seu lado e na sua maioria, não apresentam corrosão,
conforme já se referiu.

Salienta-se ainda a utilização de betão armado no reforço da laje do tabuleiro rodoviário e na


cintagem do coroamento dos pilares de alvenaria, conforme se pode visualizar na Figura 4.12.

Figura 4.12 – Cintagem do coroamento dos pilares

Relativamente à tensão máxima admissível para o material original e de acordo com os


ensaios efectuados, tal como já se referiu anteriormente é de 100 MPa à flexão e 60 MPa ao corte. Para
as peças que sofreram substituição as tensões admissíveis eram na altura da sua aplicação, superiores
àquelas, atingindo 160 MPa à flexão e 96 MPa ao corte, conforme dados constantes dos documentos
disponibilizados.

122
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

6 Cálculos

Os cálculos de estabilidade dividiram-se em dois níveis, global e local. O estudo a nível


global pretende avaliar as implicações que o agravamento das solicitações implica para as vigas
principais, tendo-se ainda acompanhado o cálculo com uma análise dinâmica simplificada, conforme
seguidamente se apresenta. A análise ao nível local centrou-se no tabuleiro ferroviário,
concretamente na grelha de longarinas e carlingas, já que serão estas as responsáveis pela
estabilidade do mesmo para o aumento das acções. Esta análise estendeu-se ainda aos encontros,
com um carácter qualitativo e não quantitativo como adiante se verá.

6.1 A nível global

6.1.1 Modelo de cálculo


Por forma a permitir quantificar de uma forma rápida a influência do agravamento de cargas
rolantes e a eliminação das restrições de velocidade, considerou-se conveniente efectuar um estudo
em dois modelos distintos:

• Modelo 1, simulando os cinco vãos num pórtico plano com elementos de barra
equivalentes à totalidade da secção transversal;

• Modelo 2, discretizando dois vãos centrais, num pórtico plano em que se individualizam
banzos, montantes e diagonais.

O modelo 1, mais simplificado, serviu para avaliar o nível de segurança actual, ponderar e
decidir sobre o reforço e a sua viabilidade e estimar esforços de calibração do modelo 2.

O modelo 2, mais complexo, serviu para confirmar os esforços nas barras e ligações de forma
mais detalhada e para mostrar o modelo estrutural que seria utilizado em fase seguinte de projecto.

No modelo 1 foram calculadas envolventes de momentos flectores, esforços transversos e


deslocamentos verticais para as situações actual e futura. O cálculo envolveu o traçado de linhas de
influência conjuntas de sobrecargas ferro e rodoviárias. Procurou-se, de uma forma expedita, avaliar
variações de forças e tensões nos banzos das vigas principais e, ao mesmo tempo, balizar análises
mais específicas efectuadas no modelo 2.

6.1.2 Resultados
Apresenta-se, nas Figura 4.13, Figura 4.14 e Figura 4.15 as envolventes de momentos
flectores, esforços transversos e deslocamentos verticais, respectivamente, para as cargas actuais e
futuras definidas na secção 4, para o modelo 1.

123
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Cada figura tem duas envolventes (actual e futura) e, portanto, quatro diagramas. Os dois
diagramas exteriores correspondem aos máximos e mínimos para as cargas futuras, obviamente mais
gravosas do que as actuais.

A amplitude das envolventes, e não só o valor máximo, é consideravelmente agravada,


conforme se pode observar nas mesmas figuras.

Figura 4.13 – Comparação de envolventes actuais e futuras de momentos flectores (kN.m)

Figura 4.14 – Comparação de envolventes actuais e futuras de esforços transversos (kN)

124
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 4.15 – Comparação de envolventes actuais e futuras de deslocamentos verticais (mm);


a) Acção conjunta das sobrecargas rodoviária, ferroviária e peso próprio (superior);
b) acção conjunta das sobrecargas rodoviária e ferroviária (inferior)

Relativamente aos momentos flectores máximos verifica-se que:

• Os máximos negativos (sobre os pilares) são muito semelhantes entre si e aumentam de


cerca de 65 MN.m para cerca de 90 MN.m, ou seja aproximadamente 40%;

• Os máximos positivos (nos vãos) são significativamente maiores nos vãos laterais do que
nos vãos centrais e aumentam de cerca de 47 MN.m para cerca de 68 MN.m nos vãos
laterais e de cerca de 43 MN.m para cerca de 63 MN.m nos vão centrais.

A obtenção de forças nos banzos a partir dos momentos flectores no tabuleiro é imediata,
dadas as características da secção resistente, constituída por duas zonas, em cima e em baixo, a uma
distância conhecida com uma boa aproximação.

A obtenção de tensões a partir das forças axiais nos banzos é, também, imediata se se
conhecer com precisão a área dessas peças. Verifica-se, como é corrente neste tipo de obras, que a
área é muito variável de ponto para ponto e que essa variação não está bem definida nos elementos
disponíveis.

Esta questão é fundamental para definir o nível de reforço nas vigas principais.

125
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A consideração de uma secção média traduz-se, de acordo com os cálculos efectuados, na


necessidade de reforços ligeiros nas zonas de meio vão e reforços mais consequentes nas zonas sobre
os pilares. Uma tentativa no sentido de definir as zonas dos banzos em que há uma, duas ou mais
(eventualmente seis) chapas de reforço, efectuada com base numa visita à obra, traduz-se em
resultados de cálculo completamente diferentes e indiciam a necessidade de efectuar um reforço
ligeiro em quase toda a extensão da ponte.

A variabilidade dos resultados que se pode obter descredibiliza qualquer tentativa de


definição muito quantitativa de um reforço das vigas principais sem proceder previamente a um
levantamento cuidado das secções exactas dos perfis e chapas que constituem a superestrutura da
ponte. Será, porém, pertinente afirmar desde já que o reforço das vigas principais deverá requerer
uma solução com influência em grande parte da ponte mas de importância limitada, em termos de
aumento de secções ou introdução de estados de tensão iniciais.

6.1.3 Análise dinâmica


Foi efectuada uma análise dinâmica simplificada do tabuleiro ferroviário, tendo em vista:

• Avaliar as frequências e modos de vibração do tabuleiro para definir a sua adequação


para velocidades de circulação de 100Km/h;

• Avaliar os coeficientes de amplificação dinâmica para comboios reais e para o esquema de


cargas da U.I.C., considerando uma velocidade de circulação de 100 Km/h.

6.1.3.1 Modelação

A estrutura da ponte foi assimilada à de uma viga contínua com cinco tramos, com a
geometria indicada na Figura 4.16 e as seguintes características:

E = 180 GPa; I = 1.660 m4; m = 7.747 t/m.

L1 = L5 = 62.06 m; L2 = L3 = L4 = 69.03 m

Figura 4.16 - Modelação da ponte

As frequências e modos de vibração da viga foram obtidos através de um programa de


cálculo automático, o mesmo usado no estudo da Ponte Luiz I, tendo-se obtido os resultados
indicados na Figura 4.17.

126
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

a) 1º Modo - n0 = 2.18 Hz

b) 2º Modo - n1 = 2.58 Hz

c) 3º Modo - n2 = 3.20 Hz

d) 4º Modo - n3 = 3.90 Hz

Figura 4.17 - Frequências e modos de vibração da ponte

6.1.3.2 Coeficientes de amplificação dinâmica

a) Comboios reais

Dependendo da velocidade do comboio, as cargas são aplicadas mais ou menos rapidamente


à ponte, originando vibrações da estrutura e dos veículos, que são ainda amplificadas pelos impactos
provocados pelas irregularidades das rodas e da via. Os efeitos referidos provocam variações
dinâmicas das cargas por eixo, que se somam às cargas estáticas. Os efeitos totais, Sdyn, podem ser
obtidos multiplicando os efeitos estáticos, Ssta, por um coeficiente de amplificação dinâmica, (1+ϕ):

Sdyn = (1 + ϕ ) ×S sta

em que:

1 + ϕ = 1 + ϕ '+ ϕ '' .

Nesta expressão, ϕ’é a parcela de amplificação dinâmica correspondente a uma via perfeita
e ϕ’’é a parcela correspondente às irregularidades da via.

127
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

ϕ’ e ϕ’’ dependem ainda de um comprimento de referência, Lφ expresso em metros,


dependente da deformabilidade do elemento estrutural em causa. Para uma viga contínua com n
tramos o comprimento de referência é obtido multiplicando o vão médio dos tramos, Lm, pelo factor
(1+0.1×n), não devendo este factor ser tomado com valor superior a 1.5;

Para a ponte em estudo e para v = 100 km/h = 27.78 m.s-1 obtém-se:

Lm = 1/5×(L1+L2+L3+L4+L5) = 66.24 m

Lφ= (1+0.1×n)×Lm=(1+0.1×5)×66.24 = 99.36 m

As expressões dos coeficientes de amplificação dinâmica indicados na ficha U.I.C. 776-1-R


são válidos apenas quando a frequência fundamental da estrutura, n0, se encontra dentro dos
seguintes limites (Figura 4.18):

i) Limite inferior

n0,i = 23.58×Lφ- 0.592 = 1.549 Hz

ii) Limite superior

n0,s = 94.76×Lφ- 0.748 = 3.038 Hz

100

50
40

30

20

Limite superior

n0 (Hz) 10

5
4
Limite inferior
3

1
1 2 3 4 5 10 20 30 40 50 100
L (m)
φ

Figura 4.18 - Limites inferior e superior para a frequência fundamental n0

A frequência obtida para a ponte em estudo, n0 = 2.18 Hz, situa-se dentro dos limites de
validade das expressões referidas, donde:

ϕ '= 0.0685 ; ϕ ' ' = 0.000

128
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

resultando:

(1 + ϕ ) = 1.069

b) Esquema de cargas U.I.C. 71

O coeficiente Φ que afecta os efeitos estáticos, SU.I.C., produzidos pelo esquema de cargas
U.I.C. 71 (Figura 4.7) para ter em conta os efeitos dinâmicos resultantes do tráfego ferroviário, foi
determinado pela seguinte condição:

φ×SUIC ≥ (1 + ϕ ) ×Ssta .

Este coeficiente Φ não tem o significado de um coeficiente dinâmico mas apenas de um


coeficiente de cálculo, válido somente para o esquema de cargas referido.

250kN 250kN 250kN 250kN

80kN/m 80kN/m

0.80 1.60 1.60 1.60 0.80

Figura 4.19 - Esquema de cargas U.I.C. 71

Tendo como objectivo eliminar a influência da frequência fundamental da estrutura, Φ foi


calculado, como o mais desfavorável dos valores dentro da gama de frequência das pontes
ferroviárias, (ver Figura 4.18) dependendo assim apenas do comprimento de referência do elemento
estrutural em causa. Os valores deste coeficiente encontram-se representados graficamente na Figura
4.20, sendo obtidos através das seguintes expressões:

0.96 1.44 2.16


Φ1 = + 0.88 ; Φ 2 = + 0.82 ; Φ 3 = + 0.73 .
Lφ − 0.2 Lφ − 0.2 L φ − 0.2

Os coeficientes referidos deverão ser sempre superiores à unidade e inferiores a 1.44, 1.67 e
2.00 respectivamente para os coeficientes Φ 1, Φ 2 e Φ 3 [49].

Para as vias em que é garantido o bom estado de conservação utilizam-se os coeficientes Φ 3


para o cálculo dos momentos flectores e Φ 2 para o cálculo dos esforços transversos. Os coeficientes
Φ 2 e Φ 1 correspondem às vias em que é exigido um estado de conservação particularmente bem
cuidado.

129
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

3.61 67.24
3.0

2.5

Φ 3 2.00
2.0

Φ 2 1.67

Φ 1.5
Φ1 1.44

1.0

0.5

0.0
1 2 3 4 5 10 20 30 40 50 100
L (m)
Φ

Figura 4.20 - Coeficientes para o esquema de cargas U.I.C. 71

Para a ponte em estudo obtiveram-se os seguintes valores:

1.44
Φ3 = + 0.82 = 0.967
99.36 − 0.2
2.16
Φ2 = + 0.73 = 0.951
99.36 − 0.2

devendo, portanto, serem considerados iguais à unidade.

6.1.3.3 Conclusões

Os estudos foram efectuados com base na deformada para o peso próprio e permitem tirar
as seguintes conclusões:

• As frequências correspondentes aos primeiros modos de vibração, que são da ordem dos
2 a 3 Hertz, estão dentro dos limites admissíveis para pontes ferroviárias com estes vãos e
velocidades de circulação de 100 Km/h.

• Os coeficientes de amplificação dinâmica de cargas verticais são inferiores ao mínimo


recomendado no Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e
Pontes, que é igual a 1.1.

130
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

6.2 A nível local


A análise efectuada a nível local dividiu-se em duas orientações distintas em termos de
cálculo estrutural. Por um lado optou-se por desenvolver para as vigas principais, um modelo plano,
modelo 2 anteriormente explanado, obtendo uma análise de conjunto, entre banzos, diagonais e
montantes, conforme adiante se especificará. E por outro lado, um estudo isolado das carlingas e
longarinas do tabuleiro ferroviário.

6.2.1 Estudo das vigas principais


6.2.1.1 Modelo de cálculo

O estudo da ponte foi efectuado utilizando o programa de cálculo automático, ROBOT V6.
Nesta fase dos estudos optou-se por um modelo plano simplificado, modelo 2, definido em 6.1,
composto por dois vãos centrais de 69 m cada conforme a Figura 4.21. Definindo com exactidão a sua
geometria, segundo a Figura 4.22. A modelação da estrutura teve como base a documentação e os
desenhos facultados.

69 m 69 m

Figura 4.21 - Modelo plano das vigas principais

Figura 4.22 - Pormenor do modelo

6.2.1.2 Resultados

Como se pode verificar, os cálculos de estabilidade apenas contemplam acções de carácter


estático. A apresentação dos resultados é feita de forma gráfica de modo a facilitar a leitura das
tensões instaladas na estrutura, com coloração das barras conforme o intervalo de tensões nelas

131
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

instalado. Essa apresentação apenas se efectua para as combinações mais gravosas. A Figura 4.23 e a
Figura 4.24 apresentam para as combinações C1 e C3 respectivamente, os níveis de tracção e
compressão na estrutura modelada. A Figura 4.25 por sua vez exibe os deslocamentos obtidos para
as combinações C1 e C5.

Figura 4.23 – Tensão instalada nas barras para a combinação C1

Figura 4.24 - Tensão instalada nas barras para a combinação C3

132
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 4.25 – Deslocamentos para as combinações C1 e C3

Como se pode verificar na Figura 4.23, o nível de tensão de compressão de algumas peças,
encontra-se acima do limite máximo de 100 MPa, nomeadamente as diagonais do primeiro tramo,
junto aos apoios. Relativamente às tracções, a proximidade do valor máximo é evidente,
destacando-se nesta situação, além das diagonais, alguns elementos dos banzos superior e inferior.
Relativamente a estes últimos, pelo facto de haver alguma incerteza em relação ao número exacto de
chapas em algumas secções, prevê-se alguma variação na localização dos valores máximos das
tensões.

No que respeita à Figura 4.24, o panorama é em tudo idêntico, destacando-se apenas uma
maior simetria dos valores das tensões em toda a estrutura, pelo facto do cálculo ser efectuado com
as sobrecargas em ambos os tramos (para obtenção do momento máximo negativo) e não apenas no
primeiro, como na Figura 4.23 (para obter o momento positivo máximo). No entanto, verifica-se que
o intervalo de tensão é próximo do anterior, ainda que ligeiramente inferior.

Note-se que estes valores resultam dum estudo simplificado, quer em termos de estrutura,
quer de solicitações, admitindo-se alguma variação daqueles valores em estudos mais aprofundados.

A Figura 4.25, representativa de duas situações de deformação, pretende mostrar o


acréscimo das flechas quando se passa duma situação de descarga total, onde só actua portanto o

133
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

peso próprio, para a situação em que todas as sobrecargas actuam. Verifica-se então, um acréscimo
significativo do valor das deformações.

6.2.2 Estudo das longarinas do tabuleiro superior


Neste estudo pretende-se avaliar a tensão instalada nas longarinas quando sujeitas às novas
cargas de projecto, de modo a se concluir da necessidade de reforçar ou substituir as mesmas.
Apresenta-se também alguns valores relativos ao estudo efectuado pelo Prof. Edgar Cardoso que
são, no meu entender, bastante úteis como termos de comparação dos resultados obtidos.

As longarinas são consideradas simplesmente apoiadas entre carlingas, com um vão de 3


metros entre eixos destas, conforme a Figura 4.26 representa. Considera-se que o grau de
encastramento das longarinas nas carlingas é desprezável, uma vez que não há continuidade do
banzo superior das longarinas sobre as carlingas.

3.0 m

Figura 4.26 - Modelo de cálculo das longarinas

6.2.2.1 Acções

As acções permanentes consideradas foram, além do peso próprio dos perfis, o peso dos
carris, das travessas e das chapas metálicas entre carris. Considerou-se ainda um acréscimo de 10%
do peso da longarina para atender às ligações e pinturas. Assim se obteve o valor de 2.3 kN/m, carga
uniformemente distribuída em toda a extensão da longarina.

Relativamente às acções variáveis, apenas se considerou nesta fase dos estudos a sobrecarga
do comboio-tipo conforme o preconizado pelas fichas da U.I.C. Assim resulta como situação mais
desfavorável para momentos flectores uma roda a meio vão da longarina, transmitindo uma carga de
125 kN.

6.2.2.2 Cálculos de estabilidade. Resultados

Na quantificação dos esforços foram calculados os coeficientes dinâmicos conforme as fichas


da U.I.C., os quais seguidamente se apresentam:

•para linhas que exigem um estado de conservação de alta qualidade,

1.44 1.44
φ2 = + 0.82 = + 0.82 = 1.46
L − 0.2 3 + 3 − 0.2
•para as restantes linhas

134
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

2.16 2.16
φ3 = + 0.73 = + 0.73 = 1.69
L − 0.2 3 + 3 − 0.2

Sendo L a distância entre carlingas mais 3 metros.

Considerando o factor mais gravoso para a estrutura, resulta para o momento flector,

125 2.3 × 3 2
M= × 1.69 × 1.5 + = 161 kN.m
2 8

Valendo a respectiva tensão normal, ao nível das fibras extremas,

161
σ= × 0.2 = 164 MPa
1.96717E − 4

Interessará neste ponto referir, ainda que brevemente, o estudo efectuado pelo Prof. Edgar
Cardoso onde, apesar de ter usado um coeficiente dinâmico de 1.55, já nessa altura se concluía da
necessidade de reforçar aqueles elementos estruturais, pois para essas condições a tensão já atingia
os 1380 Kgf/cm2, o que equivale aproximadamente a 135 MPa.

Conclui-se deste modo, e de acordo com os dados fornecidos relativos aos valores
admissíveis para as tensões de serviço, que as sobrecargas agora consideradas provocariam tensões
superiores às admissíveis em mais de 60%. Resulta como óbvio a necessidade de reforçar ou
substituir aqueles elementos estruturais.

6.2.3 Estudo das carlingas do tabuleiro superior


Num processo equivalente ao efectuado para as longarinas pretende-se, neste ponto, avaliar
o valor máximo da tensão a que as carlingas ficarão sujeitas perante a circulação de comboios mais
pesados do que os que actualmente aí circulam. Da mesma maneira que anteriormente apresenta-se,
mais uma vez a título comparativo, alguns dos valores obtidos no projecto do Prof. Edgar Cardoso.

5.510 m

Figura 4.27 - Modelo estrutural das carlingas

6.2.3.1 Acções

Além do peso próprio da carlinga e do acréscimo de 10% sobre esse valor tendo em conta
ligações e pintura, considera-se incluído nas cargas permanentes as forças de tipo permanente
transmitidas a estas pelas longarinas. Resulta assim uma carga uniformemente distribuída de
1.43 kN/m e duas cargas concentradas de 6.9 kN.

135
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

O mesmo se indica para as sobrecargas. Para além das directamente aplicadas nas carlingas,
são também consideradas as transmitidas pelas longarinas. Resultando assim duas forças
concentradas com o valor de 221 kN.

6.2.3.2 Cálculos de estabilidade. Resultados

Os coeficientes dinâmicos utilizados são também os preconizados pelas fichas da U.I.C.,


resultando para a situação mais gravosa, tal como foi anteriormente demonstrado, o seguinte:

2.16 2.16
φ3 = + 0.73 = + 0.73 = 1.93
L − 0.2 4 − 0.2

No entanto no projecto do Prof. Edgar Cardoso depara-se com um coeficiente dinâmico,


bastante inferior, de apenas 1.52, do que resulta um valor para a tensão instalada no elemento,
inferior ao aqui obtido, senão vejamos:

O momento instalado no perfil vale,

1.43 × 5.51 2
M = 221 × 1.93 × 1.8 + 6.9 × 1.8 + = 786 kN.m
8

Obtendo-se para a tensão de serviço, ao nível das fibras extremas,

786
σ= × 0.36 = 203 MPa
1.39436E − 3

No projecto no Prof. Edgar Cardoso, constata-se para a mesma situação, o valor de


1940 Kgf/cm2, o que equivale aproximadamente a 190 MPa. O valor agora calculado, 203 MPa é
100% superior ao admissível actualmente, o que implica a necessidade de se proceder a um reforço
importante.

6.3 Conclusões
Considerando os resultados dos cálculos efectuados e a análise dos dados disponibilizados
pela C.P. parece, em resumo, ser de concluir o seguinte:

• A estrutura existente é, em termos de rigidez e de frequências próprias de vibração,


compatível com velocidades de circulação de 100Km/h;

• As vigas principais necessitam de um reforço, relativamente pouco importante, devido ao


aumento das sobrecargas;

• As diagonais e montantes parecem ter, na sua maioria, resistência suficiente para absorver
o aumento de cargas ferroviárias. Os reforços devem limitar-se a uma pequena

136
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

percentagem de peças, percentagem essa ainda condicionada pela quantidade de peças


que foi substituída na última intervenção importante de recuperação da ponte;

• O tabuleiro ferroviário (carlingas, longarinas e contraventamento) necessita de uma


recuperação muito importante, com substituição de algumas peças ou introdução de
peças novas;

• O actual sistema de apoio para acções horizontais longitudinais (frenagem e arranque) é


incompatível com o aumento de velocidades e de cargas, e mesmo a simples eliminação
das restrições em vigor, pelo que deve ser profundamente revisto.

A particularização destas conclusões só deve, naturalmente, ser efectuada a nível de projecto


de execução, depois de levado a cabo um levantamento exaustivo das características reais das peças
que constituem a superestrutura.

Deverá, nessa fase, ser analisada em pormenor a influência do aumento das cargas rolantes
do tabuleiro superior na estabilidade global das peças que unem os dois tabuleiros e materializam a
transmissão de esforços para os apoios.

A análise da adequação das ligações deve, também, ser efectuada em fase de projecto de
execução. Esta questão mereceu um interesse comparativamente menor nesta fase já que os
esquemas de reforço propostos (na secção 7) aliviam fortemente as condições de serviço das ligações
existentes e não parecem susceptíveis de serem inviabilizados por deficiências destas.

As estruturas que realizam a transição da ponte para os encontros devem ser objecto de um
estudo para determinar a eventual necessidade de um reforço.

Do reconhecimento visual que se tem dos pilares e encontros, ou seja, da obra de alvenaria, a
opinião é de que está em boas condições. Contudo, esta constatação apenas significa que as infra e
mesoestruturas estão aptas a suportar um incremento de cargas verticais e nunca as acções
horizontais longitudinais de frenagem e arranque.

137
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

7 Proposta de intervenção

7.1 A nível global

7.1.1 Realinhamento da ponte


Na secção 2 chamou-se a atenção para a influência dos deslocamentos dos apoios (pilares e
encontros) nos níveis de tensão de determinadas peças da estrutura.

Efectuou-se, em 1976, uma intervenção no sentido de anular esses deslocamentos e recuperar


ou substituir as peças que sofreram avarias. Sendo necessário, para eliminar os condicionalismos de
utilização actuais (velocidades, frenagem), rever o sistema de apoio da ponte, recuperando ou
substituindo os aparelhos de apoio, é de toda a conveniência verificar se houve assentamentos de
apoio desde 1976 e, em tal caso, anulá-los. Esta intervenção poderá ser feita sem mais consequências
uma vez que não se notam deformações plásticas.

7.1.2 Reforço das vigas principais da estrutura


7.1.2.1 Generalidades

Os cálculos efectuados, apresentados na secção 6, parecem permitir concluir que um ligeiro


alivio de tensões nos banzos das vigas principais será suficiente para garantir os níveis de segurança
exigidos decorrentes de acções verticais. As acções horizontais (frenagem) obrigam a um tipo de
intervenção diferente, ao nível dos aparelhos de apoio.

O reforço das vigas principais pode ser conseguido à custa de:

• aumento das secções existentes (incremento das áreas);

• introdução de forças de alívio por recurso a pré-esforço externo;

• idem, por recurso a pré-esforço interno.

O aumento das secções existentes é fortemente condicionado pela existência de um estado de


tensão instalado, devido ao peso próprio da estrutura e pela reduzida resistência do material em
causa. O estado de tensão instalado nos banzos das vigas principais é significativo na medida em que
o peso próprio da ponte é uma componente substancial (40%) das cargas totais. As peças de reforço
só poderiam, como consequência, trabalhar a tensões muito reduzidas já que os módulos de
elasticidade do aço pouco dependem da sua resistência e não será admissível aumentar de forma
significativa a altura das vigas.

Apresenta-se, na Figura 4.28, uma justificação gráfica desta questão.

138
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 4.28 - Condições de serviço de reforços de secção

O recurso ao pré-esforço externo (amarrações dos cabos totalmente independentes da ponte)


implica, neste caso, alguns condicionalismos que parecem dificilmente contornáveis:

• Dificuldade de passagem dos cabos nos tramos da margem, dado ser necessário manter
acessos laterais para a circulação rodoviária;

• Necessidade de reformular completamente os passeios existentes para permitir a


passagem dos cabos. Haveria ainda que criar elementos junto aos novos passeios para
protecção dos cabos;

• Interdependência das forças instaladas nos cabos com os movimentos da ponte


resultantes de acções horizontais e com as extensões de origem térmica, significativas
numa estrutura contínua com um desenvolvimento de 330m.

Necessidade de criar maciços de amarração rígidos e não susceptíveis de sofrer


deslocamentos diferidos. A cedência de um apoio traduz-se numa transformação do tipo de
pré-esforço externo, sem compressão do tabuleiro, para interno com compressão do tabuleiro.
Refira-se ainda que o historial de deslocamentos e assentamentos de apoio, concretamente do
encontro do lado de Portugal tornaria indispensável um acompanhamento contínuo e muito cuidado
desses deslocamentos e a afinações de pré-esforço com alguma frequência.

7.1.2.2 Solução adoptada

Dadas as características da obra em causa e o grau de deficiência de segurança, considera-se


vantajoso optar por um sistema de pré-esforço interno, em princípio apenas nos vãos.

O sistema é materializado por tirantes (cabos) e escoras (tubos) pré-esforçados nas posições
genéricas indicadas na Figura 4.29, de forma esquemática e na Figura 4.30 e Figura 4.31 de forma
mais detalhada.

139
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 4.29 - Esquema de reforço das vigas principais

Figura 4.30 – Alguns detalhes da materialização do pré-esforço, nas escoras

Figura 4.31 - Alguns detalhes da materialização do pré-esforço, nos tirantes

Em fase de projecto de execução, podem ser estudadas soluções alternativas de colocação de


cabos e escoras na secção transversal, no interior dos banzos ao contrário do representado na Figura
4.29. O funcionamento estrutural é praticamente idêntico.

140
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Esta solução apresenta as seguintes vantagens:

• garantia de exequabilidade;

• reduzido impacte visual;

• reduzida perturbação no tráfego ferroviário;

• possibilidade de controlo ou ajuste ao longo da vida da obra.

O conjunto tirante/escora tem uma influência directa no alívio de tensões nos vãos e
indirecta nas zonas sobre os apoios, devido ao facto de o tabuleiro ser contínuo. Um breve estudo
deste efeito, hiperestático, é apresentado na Figura 4.32.

A variação da amplitude do efeito hiperestático com a extensão dos reforços nos vãos deve,
obviamente, ser aproveitada e optimizada por dois ou três conjuntos tirante/escora de
desenvolvimentos distintos.

A título de exemplo apresenta-se na Figura 4.33, uma série de envolventes de momentos


flectores no tabuleiro, considerando as cargas futuras e os reforços apresentados na Figura 4.32, nas
seguintes proporções, a) e b) da mesma figura:

a) Elementos de reforço com 32 m nos vãos centrais e 30 m nos laterais;


N = 2000 kN nos tirantes e escoras (superior);

b) Elementos de reforço com 50 m nos vãos centrais e 51 m nos laterais;


N = 2000 kN nos tirantes e escoras (inferior)

Figura 4.32 – Diagrama de momentos flectores (kN.m), devidos aos tirantes e escoras pré-esforçadas;

141
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

a) Cargas futuras sem reforço

b) Cargas futuras com reforço previsto na Figura 4.32 a);

c) Cargas futuras com reforço previsto em Figura 4.32 b);

d) Situação média da Figura 4.33 b) e c).

Figura 4.33 – Envolventes dos momentos flectores (kN.m), no tabuleiro;

142
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Pretende-se, com a apresentação destas envolventes, chamar a atenção para a flexibilidade


do processo de reforço. A solução particular a adoptar em fase de projecto de execução resultará de
uma optimização a ser efectuada nessa fase, em função dos pontos de aplicação e dos níveis de pré-
esforço.

7.1.3 Esquema de apoio da ponte


7.1.3.1 Generalidades

A situação actual é caracterizada pela existência de um alinhamento de apoios fixos, sobre


um dos pilares centrais e por alinhamentos de apoios móveis nos restantes pilares e nos encontros,
na direcção longitudinal.

Este sistema, conceptualmente isostático, é indicado para absorver, sem gerar esforços,
deslocamentos de origem térmica, longitudinais.

A desvantagem do sistema consiste em ter apenas um ponto de apoio para reagir a acções
horizontais longitudinais como frenagem e arranque.

Estas acções são, presentemente, absorvidas quase totalmente pelo pilar, em alvenaria, com
apoios fixos, situação que não se pode aceitar se se pretender, como é o caso, eliminar as severas
restrições à circulação em vigor.

As restrições resultam também da deficiente capacidade das carlingas e respectivos


contraventamentos para transferir estas acções para os banzos superiores das vigas principais. Esta
última questão será abordada na subsecção 7.2.

A solução preconizada para o reforço das vigas principais é, ao contrário do que sucede com
a solução de pré-esforço externo, independente da solução que se vier a adoptar para o esquema de
apoio da ponte. Como consequência torna-se possível optar pela solução que nos parece mais
adequada e que, com algumas variantes possíveis de pormenor consiste em:

• substituir os apoios fixos por aparelhos de neoprene ancorados, libertando o pilar de


esforços horizontais sem eliminar totalmente a rigidez;

• melhorar os apoios móveis existentes com a inserção de chapas em neoprene para


absorver vibrações. No caso de se verificar que estes aparelhos não são recuperáveis
devem ser substituídos por aparelhos novos em neoprene, no outro pilar central, ou de
deslizamento em PTFE1, nos restantes pilares e nos encontros;

1 Poli Tetra Flúor Etileno

143
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

• instalar aparelhos do tipo oleodinâmico de duplo efeito nos encontros, para absorver o
essencial das acções horizontais longitudinais.

Dadas as características da estrutura e à existência de tramos nas margens considera-se que a


instalação dos aparelhos oleodinâmicos deve ser efectuada de acordo com Figura 4.34.

As soluções a adoptar para os sistemas de apoio que, como se refere, variam desde o total
aproveitamento até à substituição, deverá ser objecto de análise cuidadosa pois não é sempre
evidente que a substituição seja uma solução que implique melhorias directas.

Considera-se, contudo, que este tipo de estrutura poderá ser muito beneficiada com a
colocação de placas de neoprene entre os apoios e os pilares, como forma de absorver deslocamentos
resultantes de deformações parasitas sem implicar esforços na estrutura.

Figura 4.34 - Esquema de instalação dos aparelhos oleodinâmicos

A solução apresentada na Figura 4.34 pode considerar-se conservativa em termos de


atravancamentos. Admite-se como provável que a dimensão dos aparelhos oleodinâmicos seja
suficientemente reduzida para que estes sejam instalados no interior dos encontros existentes, sem
interferir com os tramos das margens e sobre os encontros.

7.2 A nível local


Engloba-se neste ponto a intervenção a efectuar nas longarinas e carlingas, bem como no
contraventamento do tabuleiro superior.

Os cálculos efectuados, apresentados sucintamente na secção 6, permitem concluir que as


longarinas e carlingas serão sujeitas a um significativo agravamento de acções, estáticas e dinâmicas.

144
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Parecem, aliás, ser estes os elementos com níveis de tensão mais elevados e, portanto, com menor
folga para absorver acções adicionais.

Verifica-se que as carlingas, dadas as condições de fixação nas extremidades, devem ser
assimiladas a vigas simplesmente apoiadas. No que diz respeito às longarinas o funcionamento
actual é do mesmo tipo mas pode, de acordo com a C.P., ser alterado pela colocação de chapas de
continuidade sobre as carlingas.

A alteração do tipo de funcionamento das longarinas não parece suficiente para absorver o
aumento de sobrecargas explícito nas normas da U.I.C.

Uma das soluções de reforço possíveis, que parece eficaz e de execução relativamente
simples é apresentada na Figura 4.35. Consiste fundamentalmente na colocação de cabos de pré-
esforço fixos nas extremidades das carlingas ou directamente nos banzos superiores das vigas
principais e actuando sobre as longarinas. Por este processo consegue-se induzir um estado de tensão
inicial favorável tanto nas longarinas como nas carlingas.

A compressão no banzo superior das carlingas é absorvida pelo reforço que constitui a chapa
de união das longarinas, sugerida pela C.P. O funcionamento deste reforço não enferma da
desvantagem esquematizada na Figura 4.28 para os banzos das vigas principais, uma vez que nas
carlingas o estado de tensão inicial, devido ao peso próprio, é insignificante quando comparado com
o que resulta da passagem das cargas rolantes.

Figura 4.35 - Sistema de reforço do tabuleiro superior

145
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

O sistema de cabos indicado na Figura 4.35 constitui um contraventamento eficaz do


tabuleiro superior, libertando as peças existentes para este efeito para encaminhar as forças de
frenagem para os banzos das vigas principais.

Um pré-dimensionamento da força a aplicar aos cabos, efectuado para induzir um estado de


tensão inicial da ordem dos 40% (com sinal menos) do que resulta da aplicação das cargas rolantes,
permite apontar para valores da ordem dos 250 a 300 kN, em cabos com diâmetro de 20mm ou
menos.

O pré-esforço nos cabos depende, obviamente, da altura dos desviadores. O


pré-dimensionamento foi efectuado partindo do princípio de que o gabarit rodoviário não deve ser
reduzido e que, portanto, todo o sistema de reforço deve ficar acima do banzo inferior das carlingas.

A aplicação dos cabos, amarrações e desviadores pode, com facilidade, ser executada com
reduzida interferência no tráfego ferroviário.

Este esquema de reforço é apenas um de entre vários possíveis e como tal deve ser
entendido.

Outra solução é por exemplo o uso de carlingas intermédias ou mesmo a sua substituição
por peças de dimensão previsivelmente semelhante mas mais resistentes, aproveitando as
características dos aços actualmente disponíveis. A colocação de carlingas intermédias está sujeita ao
espaço disponível entre as longarinas e a extremidade inferior do banzo superior da vigas principais,
esta distância é de 32 cm. Conforme se verá a seguir, este espaço é incompatível com o uso de perfis
comerciais simples, obrigando ao reforço dos que nesse espaço cabem ou à composição de perfis,
conforme os existentes, de resto uma solução esteticamente agradável.

O modelo estrutural existente das carlingas é o que se exibe na Figura 4.36, com este modelo
as carlingas têm uma largura de influência de 3.0 m, se colocarmos carlingas intermédias, esta
largura de influência passa para metade. A Figura 4.37 apresenta esquematicamente essa
interposição. Sem a interposição de carlingas intermédias, a tensão nas existentes é como se viu de
203 MPa. Se considerarmos essa interposição a tensão baixa para 115 MPa, que não sendo ainda
suficiente, resultará perante um cálculo mais refinado em valores próximos de 100 MPa, pois as
carlingas são consideradas simplesmente apoiadas, por simplificação de cálculo, podendo contar-se
com alguma rigidez à rotação das ligações.

146
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

Figura 4.36 – Modelo estrutural actual das carlingas

Figura 4.37 – Interposição de carlingas intermédias

As novas carlingas, intermédias, admitindo em aço Fe510, poderiam ser um IPE 500 ou
HEB 340, que não cumprem a altura livre disponível, sendo este último de geometria bastante
diferente das existentes. Assim se estudou a hipótese de reforçar perfis IPE300 com chapas de banzo,
resultando para esta secção de 20×2.5 cm2, outra hipótese colocada foi de reforçar esse mesmo perfil
com chapas de banzo e cantoneiras, simplesmente compôr uma secção tal como antigamente se fazia.

A Figura 4.38, exibe estas soluções, em ambas se adoptou cantoneiras de 90 mm de lado na


primeira com 9 mm de espessura e chapas de banzo com 1.5 cm, na segunda com 13 mm de
espessura e chapas de banzo com 15 mm e de alma com 11 mm.

Figura 4.38 – Possíveis soluções compostas para as carlingas intermédias

147
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Em qualquer dos casos haverá necessidade, em fase de projecto de execução, de verificar as


ligações das peças existentes e, se necessário, definir em pormenor as intervenções a efectuar.
Convirá, no entanto sublinhar que a solução de instalação de um estado de tensão inicial é
particularmente favorável uma vez que se está a lidar com subestruturas praticamente isostáticas em
que as tensões induzidas por cargas rolantes são sempre do mesmo sinal.

7.3 Aspectos gerais da reabilitação


De acordo com o referido pela C.P., será estudada uma solução geral de reforço e melhoria
da via férrea, incluindo:

• Substituição dos carris;

• Sistema de fixação das travessas do tabuleiro ferroviário;

• Colocação de contracarris e carriladores;

• Melhoria das juntas de dilatação nos encontros.

A solução preconizada para o travamento longitudinal da ponte torna necessário substituir


os aparelhos de apoio fixos por aparelhos em neoprene ou de deslizamento, fixos transversalmente.

Os restantes aparelhos de apoio devem ser objecto de uma análise cuidada, no sentido de
definir se, como se espera, podem ser mantidos com recuperação e com ou sem inserção de uma
chapa de neoprene ou mesmo substituídos.

Deverá ainda ser verificado o estado de conservação das alvenarias dos pilares e dos
encontros. Relativamente aos primeiros convirá referir que foram objecto de uma intervenção para
melhorar a degradação de cargas dos apoios e rectificação de fracturas existentes.

Considera-se indispensável proceder à definição da recuperação de peças danificadas pelo


tráfego rodoviário, uma vez que estas serão fortemente afectadas pelo aumento de cargas no
tabuleiro ferroviário.

O estado das ligações será objecto de um estudo cuidadoso, tendo desde já sido detectados
sinais evidentes de corrosão das ligações aparafusadas, executadas aquando das últimas obras de
recuperação, há cerca de vinte anos.

O projecto, nomeadamente as peças escritas, deverá atender a toda a questão de reabilitação


nas áreas de reaperto, substituição de rebites, pintura, etc..

148
Capítulo 4 – Estudo da Ponte Internacional de Valença-Tuy

8 Metodologia de intervenção

8.1 Introdução
Pretende-se, neste ponto, enumerar as etapas principais a cumprir pelo projectista em fase de
projecto de execução. A metodologia poderá, naturalmente, vir a sofrer algumas alterações de
pormenor na sequência de contactos a estabelecer com a C.P., depois de estarem disponíveis
elementos de projecto mais desenvolvidos.

8.2 Metodologia proposta


A metodologia a seguir no desenvolvimento do projecto será, em princípio, a seguinte:

1. Levantamento exaustivo do existente, nomeadamente:

• secções exactas das peças, sua localização e material constituinte;

• ligações (caracterização e estado de conservação);

• estado geral de conservação;

• avarias localizadas;

2. análises estática e dinâmica;

3. estudo comparativo de duas ou três soluções de reforço do tabuleiro ferroviário;

4. estudo detalhado da solução de reforço das vigas principais;

5. estudo da solução de distribuição e absorção de forças horizontais;

6. estudo de soluções de melhoria da via férrea, incluindo dispositivos de apoio;

7. análise conjunta e tomada de decisões de projecto;

8. estudo detalhado da solução de reforço do tabuleiro ferroviário;

9. elaboração de peças escritas e desenhadas que integram o projecto de execução.

149
Índice do capítulo 5

CAPÍTULO 5 – ESTUDO DA PONTE LUIZ I ................................ ................................ ...................... 149

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................... 149

2 RECOLHA DE DADOS.......................................................................................................................... 151


2.1 DOCUMENTAÇÃO ............................................................................................................................... 151
2.2 INSPECÇÕES ........................................................................................................................................ 152

3 CARACTERIZAÇÃO DA PONTE ........................................................................................................ 155


3.1. HISTÓ RIA DA PONTE .......................................................................................................................... 155

3.2. CARACTERIZAÇÃO GEOMÉTRICA E MECÂNICA ................................................................................... 160


3.2.1 Caracterização geométrica ....................................................................................................... 160
3.2.2 Caracterização Mecânica.......................................................................................................... 162

4 ACÇÕES E COMBINAÇÕES................................................................................................................. 163


4.1 ACÇÕES PERMANENTES ....................................................................................................................... 163
4.1.1 Peso próprio da estrutura metálica ......................................................................................... 163
4.1.2 Peso próprio da laje do tabuleiro superior ............................................................................. 164
4.1.3 Peso próprio da laje do tabuleiro inferior............................................................................... 164
4.1.4 Peso total do tabuleiro inferior e montantes de suspensão................................................... 164
4.2 ACÇÕES VARIÁ VEIS ............................................................................................................................. 165
4.2.1 Sobrecarga segundo R.S.A. ...................................................................................................... 165
4.2.2 Comboio-tipo ............................................................................................................................ 165
4.2.3 Vento.......................................................................................................................................... 166
4.2.4 Sismo.......................................................................................................................................... 169
4.3 COMBINAÇÕES .................................................................................................................................... 169
4.3.1 Combinações em que a acção base é o comboio-tipo ............................................................ 170
4.3.2 Combinações em que a acção base é o vento ......................................................................... 171
4.3.3 Notação utilizada para designar as combinações .................................................................. 171
4.3.3.1 Acção base comboio-tipo .................................................................................................. 171
4.3.3.2 Acção base vento ............................................................................................................... 172

5 MATERIAIS............................................................................................................................................. 172

6 ENSAIOS ................................................................................................................................................. 173


6.1 ENSAIOS EM LABORATÓ RIO ................................................................................................................. 173

6.2 ENSAIOS IN SITU .................................................................................................................................. 174

7 CÁ LCULOS ............................................................................................................................................. 175


Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

7.1 PROGRAMAS ....................................................................................................................................... 175


7.1.1 Programa Femix ....................................................................................................................... 175
7.1.2 Módulo para a análise do comportamento dinâmico do sistema ponte-veículo ................ 175
7.1.3 Programa EIGENF.................................................................................................................... 178
7.1.4 Outros Programas .................................................................................................................... 180
7.2 MODELAÇÃO DA ESTRUTURA ............................................................................................................. 180
7.2.1 Modelação do tabuleiro superior ............................................................................................ 180
7.2.2 Modelação do tabuleiro inferior e montantes de suspensão ................................................ 182
7.2.3 Modelação do arco ................................................................................................................... 186
7.2.4 Modelação dos pilares ............................................................................................................. 187
7.2.5 Modelação dos apoios.............................................................................................................. 189
7.2.6 Agrupamento das subestruturas modeladas ......................................................................... 190

8 RESULTADOS ........................................................................................................................................ 191


8.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 191
8.2 TRATAMENTO DOS RESULTADOS DO FEMIX ......................................................................................... 191
8.3 ANÁ LISE DOS RESULTADOS DO FEMIX ................................................................................................. 192
8.3.1 Envolvente das tracções........................................................................................................... 193
8.3.2 Envolvente das compressões................................................................................................... 193
8.3.2.1 Envolvente das compressões sem encurvadura ............................................................. 193
8.3.2.2 Envolvente das compressões com encurvadura............................................................. 193
8.3.3 Análise dos resultados dos estudos dinâmicos ..................................................................... 193
8.3.4 Análise dos resultados do EIGENF ........................................................................................ 195
8.3.4.1 Comparação das frequências com o ensaio expedito..................................................... 198
8.3.4.2 Forças estáticas equivalentes à acção sísmica ................................................................. 198

9 CONCLUSÕES FINAIS.......................................................................................................................... 199

10 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO........................................................................................................ 201


10.1 OS CONTRAVENTAMENTOS ............................................................................................................... 201
10.2 OS MONTANTES CORRENTES DAS VIGAS PRINCIPAIS DO TABULEIRO SUPERIOR ................................... 202
10.3 AS DIAGONAIS DAS VIGAS PRINCIPAIS DO TABULEIRO SUPERIOR ........................................................ 203
10.4 AS DIAGONAIS DOS PILARES .............................................................................................................. 204
10.5 OS MONTANTES DOS PILARES ............................................................................................................ 205

148
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

1 Introdução

O último estudo que se apresenta tem como base, tal como anteriormente já se referiu, o
Estudo de Viabilidade de Utilização da Ponte Luiz I pelo Metro Ligeiro do Porto, desenvolvido no
Instituto da Construção na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.

Este estudo teve como principal objectivo avaliar as consequências da passagem do metro na
referida ponte e ao mesmo tempo efectuar um levantamento das anomalias que a obra apresenta, já
que as últimas intervenções de manutenção decorreram nos anos 80.

Inicialmente realizou-se um estudo de carácter preliminar, onde se desenvolveram análises


simplificadas de índole estático mas que permitiram as primeiras conclusões que ditariam a paragem
ou a progressão dos estudos. Dessa primeira análise concluiu-se de facto que, a menos dos
resultados dos estudos dinâmicos, de segunda ordem e dos ensaios dos aços, a ponte poderia ser
integrada no traçado da linha de Metro Ligeiro do Porto, mediante a adopção de medidas que
visassem a sua recuperação e eliminação das anomalias detectadas nas inspecções levadas a cabo ao
longo do período dos estudos.

O presente capítulo exibe assim todo o processo de estudo desenvolvido posteriormente aos
estudos preliminares, de todo o de maior interesse.

Após os primeiros resultados, prosseguiu-se com os estudos mais aprofundados que


incluíram estudos dinâmicos, com medição das frequências do tabuleiro e do arco com a respectiva
quantificação numérica, bem como a avaliação da influência da passagem do metro a diferentes
velocidades, de onde poderiam resultar amplificações dinâmicas, com as consequentes repercussões
no conforto dos passageiros e nos esforços da estrutura. Ainda a quantificação dos modos locais e
globais de encurvadura, tendo-se revelado uma análise bastante importante, pois foram detectadas
nas inspecções efectuadas, diversos problemas relacionados com a encurvadura, numa série de
elementos estruturais, o que leva a crer que as questões da encurvadura não seriam bem conhecidas
na época. O que já se detectou noutras obras.

Os estudos analíticos levados a cabo, foram acompanhados de trabalhos experimentais


realizados pelo Departamento de Mecânica da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto,

149
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

com provetes retirados da ponte. Estes ensaios permitiram avaliar as propriedades físicas e
mecânicas dos materiais, imprescindíveis para uma correcta avaliação dos cálculos efectuados.

Este estudo foi também bastante importante, pois permitiu reunir uma série de informação
de carácter histórico, desenvolvendo-se um texto cronologicamente organizado, contendo o que de
mais importante se passou ao longo destes anos nesta ponte.

150
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

2 Recolha de Dados

A recolha de dados baseou-se nas duas vertentes que se referiram: documentos escritos e
desenhados e inspecções efectuadas à obra.

2.1 Documentação
Os documentos disponíveis, incluíram o projecto original e respectiva memória descritiva,
entre outros, cujo âmbito se indica seguidamente.

a) Parte do projecto original, compreendendo designadamente, peças desenhadas, relativas aos dois
tabuleiros, dois pilares metálicos centrais e o arco, as características mecânicas de algumas secções
e diagramas de esforços do tabuleiro superior.

b) Diversos documentos referentes ao cálculo estrutural de partes da estrutura.

c) Memória descritiva original

d) 1880 – Programa das condições de concurso para a construção de uma ponte sobre o rio Douro .
Em cada artigo é apresentada uma descrição pormenorizada de todos os requisitos que a
empreitada deve cumprir, desde uma descrição da obra, os materiais a utilizar, os acessos,
sobrecargas, etc.

e) 1908 – Relatório da Comissão de Verificação da Resistência das Pontes e Construções


Metálicas. Descrição das condições em que a ponte se encontra, após vistoria efectuada,
concluindo-se com a especificação sobre as medidas a tomar para garantir o bom funcionamento
da obra.

f) 1926 – “Serviço da República”. Refere-se a análise de documentos anteriores relativos ao estado


da ponte e à substituição dos pavimentos, enfatizando mais uma vez o mau estado da ponte e a
necessidade de uma intervenção.

g) 1927 – Relatório do estado da ponte, no qual se identificam todas as peças que se encontram
danificadas.

h) 1931 – Relatório sobre a verificação da possibilidade de se efectuar o cruzamento de carros


eléctricos sobre a Ponte Luiz I. Descreve-se o estudo efectuado, apresentando resultados dos
respectivos cálculos. Refere-se ainda a constituição dos novos pavimentos.

i) 1954 – “O Comércio de Gaia”. Resumo histórico sobre a Ponte Luiz I com uma reportagem do
dia da inauguração.

151
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

j) 1954 – Relatório dos trabalhos urgentes a realizar de substituição dos pavimentos da Ponte
Luiz I. Projecto de substituição dos pavimentos dos dois tabuleiros acompanhada duma
estimativa orçamental, da responsabilidade do Eng.º Edgar Cardoso.

l) 1991 – A Ponte de S. João. Livro editado na inauguração da Ponte de S. João, que inclui resenha
histórica das pontes sobre o rio Douro, com destaque para a de S. João. (Ed. Ferdouro, ACE, Porto
1991)

m) Memória descritiva e justificativa. Refere-se esta memória a uma revista minuciosa do estado da
ponte, completada com a indicação das barras cuja substituição é recomendada, bem como a
substituição dos pavimentos, apresentando um mapa das quantidades de ferro a substituir.

n) Assentamento de via dupla para os carros eléctricos no tabuleiro superior da Ponte Luiz I no
Porto – memória descritiva. Apresentação dos cálculos justificativos de estabilidade.

o) Caderno de encargos, referente à remoção dos pavimentos e reparação da ponte.

p) Diversos artigos e memórias com referência à ponte.

Esta documentação foi obtida no arquivo da Junta Autónoma das Estradas com excepção
dos referidos nas alíneas i), l) e p) que provêm de várias fontes de que se destaca o Arquivo Histórico
da Cidade do Porto.

2.2 Inspecções
Relativamente às inspecções efectuadas, tiveram como objectivo, além do levantamento das
patologias, uma recolha de informação detalhada sobre a constituição da ponte, servindo ao mesmo
tempo para efectuar uma verificação, confrontando-a com os elementos de projecto disponíveis.

Levou-se a cabo um importante e muito útil levantamento fotográfico, que mais tarde, em
gabinete foi um indispensável elemento de consulta, conforme se verá.

As inspecções efectuadas se por um lado permitiram ganhar confiança nos elementos de


projecto disponíveis, servindo ao mesmo tempo para esclarecer dúvidas e completar informação em
falta, por outro lado puseram em destaque algumas deficiências graves que não podem deixar de
ficar registadas.

Em primeiro lugar são patentes os sinais de corrosão que atinge grande número de peças. De
um modo geral a corrosão encontra-se num estado incipiente, embora existam algumas peças que se
encontram gravemente afectadas. A situação neste aspecto, não sendo ainda grave, começa a ser
preocupante, isto é, trata-se de um alerta que urge tomar em consideração para que se proceda a
uma reparação a muito breve prazo.

152
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Figura 5.1 – Corrosão evidente no tabuleiro superior (vista inferior)

Como mais afectadas encontram-se a zona central do arco em que este se reúne com o
tabuleiro superior, e este mesmo tabuleiro do lado do Porto, Figura 5.1. A primeira, principalmente
pela acção dos excrementos de pombas que, em grande número, fazem desta zona do arco mais
afastada e escura a sua morada; a segunda por esta parte da ponte se encontrar numa zona mais
abrigada e húmida.

Uma outra deficiência que se assinala é a existência de algumas chapas dos perfis compostos
das barras do arco que se encontram enfunadas, portanto fora de serviço com o consequente
agravamento das tensões das restantes parcelas de cada barra. Este fenómeno era mal conhecido na
época da construção, como aliás a generalidade dos fenómenos de encurvadura, o que justifica o
aparecimento de diversas situações que hoje são consideradas insatisfatórias.

Junto dos encontros do arco e do tabuleiro inferior, quando os aparelhos de apoio encontram
a alvenaria dos plintos, verificou-se a deposição de lixo que favorece, juntamente com as humidades
detectadas, a deterioração daquela zona da estrutura.

Ao longo de toda a estrutura, depara-se com a folheação dos aços por acção da corrosão e
que a pintura já não consegue esconder.

Relativamente às ligações, não se depararam com situações problemáticas, nomeadamente a


ausência de rebites, o que leva a crer do bom comportamento destas ligações ao longo dos tempos.

153
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Os relatórios das inspecções anteriores, não exibiam algumas das anomalias detectadas,
nomeadamente as questões relacionadas com a encurvadura, o que leva a concluir que as obras de
reabilitação efectuadas, não tiveram em linha de conta a correcção desses problemas.

É neste ponto que é necessário efectuar uma análise cuidada dos dados obtidos nas
inspecções e tomar uma primeira posição relativamente à obra. Avaliando se as patologias se
demonstram graves e preocupantes para a segurança da obra e decidindo entre condicionar ou
impedir a utilização da mesma. No caso concreto da Ponte Luiz I, considerou-se, mediante as análise
efectuadas, que as patologias observadas não obrigavam ao condicionamento do tráfego. Apesar de
tudo, importa deixar um alerta para as patologias detectadas que deverão ser minimizadas,
independentemente da modificação da utilização da obra para servir o Metro Ligeiro do Porto.

Finalizada a primeira fase da recolha de dados é possível iniciar a análise da estrutura


conforme os pontos seguintes apresentam.

154
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

3 Caracterização da Ponte

3.1. História da Ponte


A Ponte Pênsil garantiu a ligação entre as duas margens do rio Douro, a partir de 18 de
Fevereiro de 1843, em substituição da Ponte das Barcas, cuja utilização era já muito precária,
Figura 5.2.

Figura 5.2 – A Ponte das Barcas

Decorridos 33 anos, em 17 de Fevereiro de 1876, a Câmara do Porto pede ao Governo a


substituição da Ponte Pênsil, Figura 5.3, porquanto era previsível a sua falta de segurança, dada a
dificuldade em evitar a corrosão dos dispositivos de amarração dos cabos e havendo o conhecimento
de roturas em obras análogas, noutros países, em pontes com menos de 20 anos de serviço. Na
sequência daquele pedido, por portaria de 22 de Abril de 1876, o Engenheiro Bento Coutinho
d'Almeida d'Eça é encarregado de elaborar um anteprojecto da ponte, entre o Cais de Gaia e a Praça
da Ribeira. Aliás, já por altura da inauguração da Ponte Maria Pia em 11 de Novembro de 1876,
Gustave Eiffel apresentava a D. Luiz I um estudo em que considera a possibilidade da construção de
nova ponte nas imediações da Ponte Pênsil.

Em Dezembro de 1877 é concluído o anteprojecto da ponte pelo Engenheiro Bento Fortunato.


No entanto esse estudo não teve continuidade e assim, durante o ano de 1879, por Portaria do
Ministério do Reino, é nomeada uma comissão para dar parecer sobre o local mais conveniente para
a construção da ponte. Verificou-se então que o local mais votado é o da Ponte Pênsil, ou nas suas
proximidades.

155
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 5.3 – A Ponte Pênsil

Em 1879 a firma Gustave Eiffel et Cie. apresenta um projecto apenas com um tabuleiro ao
nível da Ribeira e com um sector levadiço na zona central, que daria passagem a embarcações até
35 m de altura de mastreação. Este projecto não é, no entanto, aceite por já se pretender a existência
de 2 tabuleiros sobrepostos.

Em 11 de Agosto de 1880 abre-se finalmente um concurso para a nova ponte. Aparecem


então diversos concorrentes: SOCIÉTÉ DE BRAINE LECONTE, SOCIÉTÉ DES BATIGNOLLES (com
2 soluções), GUSTAVE EIFFEL ET CIE, AUGUSTE LECOQ, ANDREW HANDYSIDE, SOCIÉTÉ
WILLEBROECK (com 2 soluções) e JOHN WIXON.

A adjudicação da obra foi efectuada em 27 de Maio de 1881 à SOCIÉTÉ ANONYME DE


CONSTRUCTIONS ET DES ATELIERS DE WILLEBROECK pela quantia de 389.000$00. Em Abril
desse ano, o Engenheiro chefe da casa Eiffel contesta a escolha do projecto. A contestação não é
atendida e em 28 de Novembro de 1881, celebra-se o contrato com a SOCIÉTÉ WILLEBROECK, que
apresenta um projecto da autoria de Teophile Seyrig, engenheiro belga, discípulo de Gustave Eiffel e
seu sócio na construção da Ponte Maria Pia.

Em 1 de Dezembro de 1881 iniciam-se os trabalhos de construção da ponte, Figura 5.4,


solenemente comemorados com a presença do Rei, da Rainha, dos príncipes, Cardeal D. Américo,
altos dignatários, autoridades, engenheiros e muito povo. O Rei D. Luiz I, depois de receber as
saudações devidas dirigiu-se ao jardim da “Esplanada da Fortaleza da Serra do Pilar” onde accionou
“uma machina electro-magnética que por meio de dous fios condutores...ligada a uma mina da encosta da Serra

156
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

onde terá de fundar-se o encontro esquerdo da mencionada Ponte”, segundo o auto então elaborado e
assinado.

Figura 5.4 – Fase construtiva da Ponte Luiz I, impondo-se à Ponte Pênsil

As características fundamentais da ponte são as seguintes: arco com 172 m de corda e 45,1 m
de flecha; tabuleiro superior com uma extensão de 391,25 m e, inferior com 174 m, valores com
ligeiras diferenças relativamente ao projecto original.

A secção transversal do tabuleiro inferior apresenta uma largura total de 8 m, sendo 5,5 m
destinados à faixa de rodagem e os restantes 2.5 m a passeios laterais, de 1.25 m cada. O tabuleiro
superior apresentava inicialmente 6 m de largura, 4 m para a faixa de rodagem e os restantes 2 m
para passeios laterais. Cedo se verificou, no entanto, que esta largura do tabuleiro superior era
insuficiente, pois punha-se a hipótese da colocação de uma linha de “tramways”. Assim, pouco antes
da conclusão da ponte, a sociedade adjudicatária fornece um estudo que prevê o aumento da largura
do tabuleiro de 6 para 8 m, datado de 16 de Dezembro de 1882. Esta alteração é aprovada em 25 de
Setembro de 1883, vindo a custar 20.476$680.

Apesar deste aumento da largura do tabuleiro superior, não ocorreram grandes alterações
estruturais para a ponte, tal como Seyrig apresenta na sua memória: “... o afastamento das vigas fica o
mesmo, as peças sob a calçada, longarinas, carlingas e chapas embutidas ficam igualmente as mesmas. As

157
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

partes que sofrem uma modificação são pois as consolas dos passeios, as longarinas bordando estas e os
contraventamentos verticais em cruz de Santo André. As vigas principais sofrem uma modificação pela adição
de banzos suplementares cuja disposição feliz permite economizar tabuleiro, e uma outra modificação relativa
ao reforço da rótula (treillis). Estas duas mudanças são pois devidas ao aumento natural do peso do conjunto do
tabuleiro.” Seyrig demonstrou ainda que apesar deste aumento de peso do tabuleiro, (mais 43%), o
arco em si apenas passa a suportar mais 16% da carga permanente, o que se compreende pelas cargas
que se encaminham directamente para os apoios exteriores ao mesmo.

Em Maio de 1886 são mandadas efectuar as primeiras provas de carga, e no dia 31 de


Outubro do mesmo ano, dia do aniversário do Rei D. Luiz I, a ponte é inaugurada pelo Rei e benzida
pelo Cardeal D. Américo. No dia da inauguração não se pagou qualquer portagem, mas a partir do
dia seguinte, os peões pagavam cinco reis para atravessar a ponte. A partir de 1 de Julho de 1913 os
peões deixaram de pagar portagem, continuando os veículos e animais a pagar, situação que se
manteve até 1 de Janeiro de 1944, data em que o pagamento de portagem foi completamente abolido.
Relativamente à inauguração não é claro que os dois tabuleiros tenham sido inaugurados na mesma
altura, de facto um roteiro da cidade refere que o tabuleiro inferior, também conhecido por “Ponte de
Baixo”, foi inaugurado um ano mais tarde.

Segundo uma publicação de “O Comércio de Gaia” de 18/10/1954, o primeiro carro


eléctrico terá atravessado a ponte no dia 28 de Outubro de 1905. Não se encontraram no entanto
outros documentos que confirmem esta data ou que indiquem o início dos trabalhos de colocação
dos carris. O que se sabe é que inicialmente apenas foi colocada uma via, ocorrendo o assentamento
da 2ª via entre 1931 e 1932. Existe uma memória descritiva referente ao assentamento da 2ª via para
carros eléctricos, que coincidiu com a alteração do pavimento. Esta memória apresenta uma sumária
descrição da verificação de estabilidade, onde se conclui pela necessidade de reforçar as carlingas
com chapas de banzo de modo a que aquelas não trabalhassem acima dos limites de resistência. Por
razões desconhecidas, essas carlingas não chegaram a ser reforçadas. A opção da colocação da 2ª via
é tomada após o relatório de 28 de Maio de 1931, elaborado pela então Comissão de Pontes, que já
em 20 de Dezembro de 1930 efectuava provas de resistência das carlingas do tabuleiro superior e
ensaios dinâmicos para detectar o perigo de eventual rotura. No relatório de 1931 descrevem-se
também ensaios estáticos e dinâmicos que conduziram à seguinte conclusão: “... não há inconveniente
nos cruzamentos de zorras e de carros eléctricos, de qualquer destes veículos com camiões e camionetas ou ainda
destes veículos entre si desde que todos eles sejam do tipo dos que actualmente circulam na região.”

Por aquela altura já a ponte tinha sofrido uma grande reparação quer ao nível da
substituição de algumas peças metálicas quer na alteração dos pavimentos, tendo ainda sido
completamente pintada. Quando da alteração dos pavimentos de madeira para os de betão, o
trânsito foi completamente cortado, circulando-se só a pé. Não se sabe exactamente quando foi

158
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

efectuada esta reparação, parece no entanto ter tido lugar posteriormente a 1908, ano em que, a 7 de
Agosto, a Comissão de Verificação da Resistência das Pontes e Construções Metálicas elabora um
relatório referente ao estado da ponte. Descrevem-se nesse documento as boas condições em que o
arco se encontra, à excepção das carlingas do extradorso que suportam a parte central do tabuleiro
superior. Explica-se também o deficiente modelo estrutural adoptado para as carlingas, onde se
considera como vão de cálculo a distância entre goussets consecutivos, em vez de se considerar a
distância entre os eixos das vigas principais. Salienta-se ainda a inexistência do passadiço de visita na
zona central do arco, que já teria sido previsto no relatório de 30 de Novembro de 1886.
Relativamente a este ponto também não se sabe a data exacta da sua execução. Refere-se a
necessidade urgente de uma pintura e da constituição de um serviço de manutenção permanente
para a ponte. Aquela comissão procedeu no dia 15 de Julho do mesmo ano (de 1908), a uma vistoria,
tendo verificado a existência de diversas peças enferrujadas, travessas do passadiço caídas e fendas
nas alvenarias dos pilares. Estas fendas foram mais tarde eliminadas quando em 1925 se colocou um
reboco no coroamento dos pilares. Este relatório aconselha ao procedimento de estudos
experimentais de resistência de algumas peças, de modo a concluir sobre a necessidade ou não de
reforçar a ponte.

Existe ainda um “Serviço da República” de 31 de Dezembro de 1926, onde, mais uma vez, se
evidencia o mau estado de ambos os tabuleiros e se apela para a sua urgente reparação. Este apelo já
teria sido efectuado num outro relatório de 1 de Maio de 1920, onde todos os problemas da ponte
teriam sido apresentados. Neste “Serviço”, aconselha-se ainda o respeito pela velocidade máxima
indicada para a ponte, ao que parece nem sempre respeitada, o que teria vindo a provocar oscilações
prejudiciais para a mesma, oscilações essas agravadas pelo mau estado do pavimento. Cita ainda este
documento um dado bastante importante e que diz respeito às sobrecargas utilizadas no
dimensionamento da ponte. Independentemente da largura da ponte, foi considerada uma carga de
2000 Kg por metro linear. O veículo-tipo utilizado no cálculo das carlingas e longarinas pesava
3000 Kg por roda com eixos afastados de 3 m pesando um total de 12 000 Kg.

Existe mais uma memória descritiva do estado da ponte, possivelmente do ano de 1927,
provavelmente a mais completa até àquela data, onde se relatam situações curiosas: “... muito maior o
número de peças cujo estado de conservação é mau do que d'aquelas para as quais esse estado já era conhecido,
acrescendo ainda agora as danificadas pelos bombardeamentos ocorridos durante a última revolução (...) Da
parte inferior do arco, o segundo montante do lado do Porto tem 32 barras cortadas por metralha (...) Alguns
goussets de ligação das barras de contraventamento horizontal dos tubos verticais médios onde se apoiam as
escadas de caracol, estão completamente cortados pela ferrugem o que constitui um perigo para a estabilidade
dos pilares (...) As guardas dos passeios do tabuleiro superior sofreram bastante com o tiroteio.”
Concluindo-se a certa altura “A conservação da ponte tem deixado tanto a desejar que, tendo em 1908
colhido n'ela a Comissão de Pontes uns pedaços de ferrugem de espessura superior a 6 m/m dizia o Director das

159
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Obras Públicas do Porto em ofício de 11 de Maio de 1920 terem passado doze anos sobre aquela data sem que
outras providências fossem tomadas além das pinturas, feitas com longos intervalos e por empreitada. Pondo os
empreiteiros os seus interesses acima das exigências de uma perfeita conservação.” Ainda nesta memória
descritiva se aconselha vivamente à substituição dos pavimentos por outros mais leves e de
características mecânicas mais adequadas, apresentando-se assim diferentes soluções para ambos os
tabuleiros, quer ao nível da faixa de rodagem quer dos passeios. Existiu também uma intervenção ao
nível dos pilares de alvenaria, que apresentando algumas fissuras, foram reabilitados, com uma
cintagem dos mesmos com maciços de betão.

Não se possui até ao momento documentos comprovativos de que outras reparações gerais
necessárias ao longo do tempo tenham sido levadas a cabo. Ao que parece as reparações foram
reiniciadas aos poucos, tendo a última grande reparação tido lugar em 1930. Como se verifica a
maioria dos documentos apresentados têm como objectivo o levantamento das anomalias da ponte,
que grosso modo se resumem ao seguinte: a ponte necessita de ser raspada e pintada, reforçada em
alguns pontos, substituídas por completo algumas peças, reforçadas outras, aligeirados os
pavimentos e criado um serviço especializado de manutenção com carácter permanente. Não se sabe
exactamente quando foi formada a equipa de manutenção da Ponte Luiz I e que se manteve até há
cerca de 20 anos, liderada pelo Sr. Antero Pinto durante vários anos, hoje sozinho mas
continuamente vigilante.

A última grande alteração que a ponte sofreu foi em 1954, mediante projecto do Engenheiro
Edgar Cardoso, que promoveu o aligeiramento dos 2 pavimentos. Esta obra já levada a cabo pela
quantia de 1.270.500$00, permitiu aligeirar os tabuleiros em mais de uma tonelada de carga
permanente por metro linear. Há 16 anos sofreu a ponte a sua última intervenção de limpeza e
pintura, trabalho que em 1981 orçamentou os 28 mil contos. Em 1986 é efectuada a última revisão de
preço, tendo o trabalho elaborado pela firma MONTACO, atingido os 52 mil contos.

Passados 110 anos da data da sua inauguração, a Ponte Luiz I continua a desempenhar um
papel fundamental para as duas cidades que liga.

3.2. Caracterização geométrica e mecânica

3.2.1 Caracterização geométrica


Os desenhos disponíveis do projecto original, Figura 5.5, permitiram quase na totalidade
definir a geometria geral da obra, a menos de algumas questões levantadas, quando se depararam
com desenhos que continham correcções feitas à posteriori. Houve assim necessidade de analisar a
obra real de modo a despistar as dúvidas que surgiram no levantamento da geometria.

160
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

A confrontação da informação disponível com a obra real, permitiu concluir que a zona central
compreendida entre os dois maiores pilares metálicos é a única que se encontra em conformidade
com o projecto original.

Figura 5.5 – Alçado de montante, reprodução do projecto original

Os restantes tramos do tabuleiro superior, quer do lado de Gaia quer do lado do Porto,
apresentam comprimentos diferentes. Verificou-se ainda que as vigas do 1º tramo do lado de Gaia se
encontram divididas em 8 aspas, em vez das 9 de projecto, e as vigas do 2º tramo constituídas por 10
aspas em vez das 11 de projecto. Aspa é a porção de viga entre dois montantes consecutivos.

A Figura 5.6 exibe a geometria geral que define a obra real, tal como foi considerada no
presente estudo. Assim se considerou a ponte constituída por: um tabuleiro superior de 391.25 m de
desenvolvimento dividido em 13 tramos; um arco de geometria parabólica, quer em alçado quer em
planta, de 172 m de corda e 45,1 m de flecha; 7 pilares, sendo 2 de alvenaria e 5 metálicos, dos quais
os dois das margens (n.º 2 e n.º 3) com 28,077 m de altura; um do lado de Gaia (n.º 1) com 23,0 m de
altura e dois bastante mais pequenos apoiados no arco; um tabuleiro inferior de 174 m de
comprimento suspenso do arco por meio de 4 montantes, dividido em 5 tramos, os de extremidade
os
com 33 m e os três centrais de 36 m de vão. Os pilares metálicos atrás referidos (n 1, 2 e 3) estão
fundados em plintos de alvenaria.

A geometria deste modo caracterizada, apenas se encontrou esquissada num anexo a um


relatório datado de 1908.

Tramo 1 Tramo 2 Tramo 3 Tramo 4 Tramo 5 Tramo 6 Tramo 7 Tramo 8 Tramo 9 Tramo 10 Tramo 11 Tramo 12 Tramo 13
GAIA PORTO

Pilar 1
Pilar 2 Pilar 3

Figura 5.6 – Geometria geral da ponte

161
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

A definição adoptada nos estudos posteriores, reflecte do melhor modo possível essa
geometria, apesar de algumas incertezas terem persistido ao longo da elaboração da geometria global
da obra. Como se entende, algumas das dimensões, foram impossíveis de confirmar com toda a
exactidão, pois só com aparelhagem e equipamento especializado, podem ganhar credibilidade. O
levantamento fotográfico, apenas permitiu eliminar disparidades nessa geometria, deixando-se para
um estudo mais aprofundado o levantamento exaustivo da obra que permita eliminar por completo
as dúvidas que se mantiveram no estudo aqui exibido, quer pela informação disponível ser escassa
ou simplesmente não existir. Entende-se, de resto que as aproximações e simplificações adoptadas,
não comprometem de todo os estudos efectuados.

3.2.2 Caracterização Mecânica


A definição das características mecânicas dos elementos que constituem a estrutura, foi
efectuada com base fundamentalmente na informação constante do projecto original. As situações
que suscitaram dúvidas foram ultrapassadas ou por medição directa na obra ou por relação de
escala, através de fotografias com peças conhecidas.

Repetindo o que se disse na caracterização geométrica, em estudos mais aprofundados,


devem ser comprovadas todas as secções das peças constituintes da estrutura naquelas condições.

Tal como a maioria das pontes datadas desta altura, as barras são constituídas por perfis
compostos por cantoneiras e chapas, rebitadas, resultando perfis em caixão, em I, em T e em U.

Durante o cálculo, foi necessário proceder a algumas simplificações e à introdução de


algumas barras que procurassem traduzir mais correctamente o comportamento de alguns elementos
estruturais. Estas simplificações, que serão referidas posteriormente, não introduzem no cálculo
qualquer erro, podendo sim nesses elementos originar resultados, que do ponto de vista prático não
terão qualquer interesse e por isso não serão considerados. Por exemplo, considerou-se para as
longarinas de suporte dos carris uma secção bastante menor que a real e para os montantes extremos
do arco uma secção idêntica aos restantes, embora na realidade esta secção esteja mais reforçada.

162
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

4 Acções e combinações

A análise em causa, pretende avaliar a resposta da estrutura, quando sujeita às acções


regulamentares actuais e ao comboio-tipo, considerado de acordo com as características particulares
do metro.

Não se encontraram nos documentos disponíveis, nenhumas referências aos regulamentos


utilizados no dimensionamento, nem mesmo nos elementos de projecto os valores das cargas
consideradas. Alguns destes valores são apresentados já em projectos posteriores de obras de
beneficiação ou alteração. Relativamente ao peso próprio, os valores encontrados na documentação
estão em conformidade com os determinados neste estudo. Quanto às sobrecargas, apenas se
encontrou uma referência num dos muitos documentos analisados, assim foi considerada uma carga
de 2000 kg por metro linear, independentemente da largura da ponte. O veículo-tipo utilizado no
cálculo das carlingas e longarinas pesava 3000 kg/roda com eixos afastados de 3m num total de
12000 kg. Comparando estes com os valores regulamentares actuais temos: uma carga
uniformemente distribuída de 4 kN/m2 que para 6 m de largura equivale aproximadamente a 2400
kg por metro linear; quanto ao veículo-tipo actual, as cargas repartem-se por 3 eixos, num total de
66000 kg. Como se vê para o veículo-tipo, é bastante maior do que inicialmente, o que já não se
verifica para a primeira acção distribuída. No entanto, o veículo-tipo não fazia parte da análise em
causa, mas sim o comboio-tipo, que traduz a acção do metro. A sobrecarga distribuída regulamentar
foi tida em conta em alguns dos cálculos efectuados, contribuindo assim para uma análise da
estrutura de acordo neste ponto com os regulamentos em vigor, nomeadamente no tabuleiro inferior.

4.1 Acções permanentes


As acções permanentes foram consideradas para os modelos estáticos em peso específico
(kN/m3) e em massa específica (kg/m3) para os modelos dinâmicos, conforme os pontos seguintes
descrevem.

4.1.1 Peso próprio da estrutura metálica


O peso próprio da estrutura metálica foi avaliado de acordo com as dimensões das secções,
tendo-se admitido um peso específico de 84 kN/m3, o qual inclui o peso dos rebites e pintura,
estimado em cerca de 9% do peso total da estrutura metálica. As acções permanentes das principais
subestruturas assim obtidas são aproximadamente:

• tabuleiro superior: 21 kN/m (por metro linear de tabuleiro),

• tabuleiro inferior: 17 kN/m (por metro linear de tabuleiro),

163
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

• arco: 63 kN/m (por metro linear de corda).

Quanto ao peso próprio das barras não caracterizadas geometricamente, designadamente as


consolas dos passeios, longarinas, chapas abauladas, guarda-corpos e apoios das consolas, foi
considerado no cálculo uma carga uniformemente distribuída de 9 kN/m.

4.1.2 Peso próprio da laje do tabuleiro superior


Corresponde a uma acção linear uniformemente distribuída de 34.9 kN/m. Este peso é
substituído por forças aplicadas nos nós do tabuleiro ao nível do banzo superior, de acordo com as
áreas de influência de cada nó, isto para a análise estática. Nos estudos dinâmicos esta carga foi
transformada num acréscimo de massa específica do banzo superior da viga principal do tabuleiro
superior. Assim o banzo superior apresenta uma massa específica de 144.96 ton./m3.

4.1.3 Peso próprio da laje do tabuleiro inferior


Tal como para a estrutura metálica, ao peso da laje corresponde uma carga uniformemente
distribuída de 3.13 kN/m2, ou seja 25.5 kN por metro linear longitudinal, que também foi traduzida
em termos de massa específica da barra que simula este tabuleiro.

4.1.4 Peso total do tabuleiro inferior e montantes de suspensão


Pelo facto do tabuleiro inferior ser materializado para os modelos dinâmicos, numa única
barra, conforme adiante se explicará, o seu peso próprio, peso da laje e sobrecarga foi traduzido em
massa específica dessa barra. Pretende-se desta forma representar em termos de área e inércias o
tabuleiro inferior, bem como o peso próprio e sobrecarga a ele associadas.

O peso próprio do tabuleiro inferior, incluindo a laje e os montantes de suspensão foi para a
modelação estática, substituído por forças aplicadas no arco, nos mesmos pontos onde cada
montante de suspensão a ele se liga. Obtendo-se assim uma mais correcta definição das forças a
transmitir ao arco. Assim para cada um dos montantes centrais corresponde uma força de 2817.6 kN
e de 2958.8 kN para cada um dos extremos. Em termos de peso específico das barras deste modelo,
considerou-se para os montantes 84 kN/m3, já para a barra que simula o tabuleiro inferior
considerou-se um peso de 463.65 kN/m3 que engloba os pesos, da estrutura metálica, da laje do
tabuleiro e a sobrecarga de 4 kN/m2 distribuída em todo o tabuleiro.

Para os modelos dinâmicos considerou-se o tabuleiro fazendo parte integrante de toda a


estrutura. Sendo a sobrecarga de 4 kN/m2, multiplicada por ψ 2=0.2, resultando assim para os dois
modelos 2D e 3D uma massa específica de 30.863 ton./m3 para a barra que simula o tabuleiro
inferior.

164
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

4.2 Acções variáveis


As acções variáveis consideradas dividiram-se entre as regulamentares e as específicas
directamente relacionadas com as novas funções a que a ponte se destina, concretamente à passagem
do metro. Assim não se considerou o veículo-tipo na análise do tabuleiro superior. Apenas se
considerou numa análise preliminar a sobrecarga uniformemente distribuída, para avaliar os
esforços na ponte, não se esperando grandes surpresas, pois esta acção é idêntica à considerada
inicialmente. Quanto ao tabuleiro inferior, a sua independência da restante estrutura e a falta de
dados relativos às secções dos seus elementos, não permitiu uma análise local da sua estabilidade.
No entanto as cargas que nele circulam, são através dos montantes transmitidas ao arco. Assim se
ponderou a situação mais gravosa para a restante estrutura.

4.2.1 Sobrecarga segundo R.S.A.


2
Esta sobrecarga uniformemente distribuída de 4 kN/m apenas foi utilizada para o tabuleiro
inferior conforme anteriormente se explicou.

4.2.2 Comboio-tipo
A carruagem-tipo apresentada para o estudo, tem 30.0 m de comprimento e apresenta três
“bogies” afastados de 11.5 m entre eixos. Cada “bogie” tem dois eixos afastados de 1.9 m e transmite
uma carga máxima de 11.4 tf. A Figura 5.7 apresenta esquematicamente a distribuição de cargas
correspondendo a uma carruagem-tipo.

11.4 t 11.4 t 11.4 t 11.4 t 11.4 t 11.4 t

1.9 1.9 1.9

3.5 m 11.5 m 11.5 m 3.5 m

30.0 m

Figura 5.7 – Carruagem-tipo

As 11.4 tf referem-se ao peso por eixo com carga máxima e equivalem aproximadamente a
112 kN.

De modo a simplificar o estudo, a carruagem-tipo foi considerada com a seguinte


configuração:

224 kN 224 kN 224 kN

11.5 m 11.5 m

Figura 5.8 – Carruagem-tipo simplificada

165
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Salvaguarda-se que a distância entre eixos de 11.5 m não foi sempre respeitada. Como o
carregamento é feito ao nível dos nós, sobre as carlingas, foi necessário ajustar as distâncias entre
cargas de acordo com as disposições dos nós. Assim resultaram situações em que essa distância é um
pouco menor e outras ligeiramente maior.

4.2.3 Vento
A quantificação da acção do vento foi efectuada com base no regulamento português R.S.A.
e no regulamento belga, IBN1.

Do R.S.A. retiraram-se os valores da pressão dinâmica do vento wk, do coeficiente de força δ

f e do factor de protecção η. Refira-se ainda que o coeficiente de força, δf depende de λ, índice de


cheios, definido pela razão entre a área efectiva, que corresponde à soma das áreas das projecções de
todos os elementos da estrutura num plano normal à direcção do vento, e a área limitada pela
projecção no mesmo plano do contorno exterior da estrutura. Relativamente ao factor de protecção η,
este depende do índice aerodinâmico de cheios ϕ = ξλ, sendo ξ = 1.6 para estruturas formadas por
barras de secção angulosa, e do coeficiente de espaçamento µ. O factor η pretende ter em conta o
efeito protector que a estrutura de barlavento confere à de sotavento. Refira-se ainda que a altura h,
medida a partir do solo foi no caso do rio considerada a partir da cota de baixa mar.

Considerou-se ainda a ponte situada na zona B em terreno com rugosidade tipo II,
obtendo-se assim a condição mais desfavorável para esta acção.

O IBN foi consultado, tendo apenas sido retido um coeficiente redutor da acção do vento,
que para estruturas de desenvolvimento superior a 100 m, o que é o caso, reduz aquela acção em
30%, o que equivale a multiplicar os valores das forças do vento obtidas pelo R.S.A. por um factor
constante, 0.7.

Mediante estas considerações a pressão dinâmica do vento, Wk, foi calculada de acordo com
diferentes intervalos de altura considerados e usando a expressão regulamentar:

2
  h 0.20 
w k =1.2×0.613×25×  + 14 
  10  
 

Os valores obtidos são apresentados no Quadro 5.1.

1 Institut Belge de Normalisation

166
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Quadro 5.1 – Pressão dinâmica do vento (wk)


h (m) wk (kN⋅m-2) wk(méd) (kN⋅m-2)

0 0,144 0.631
10 1,118 1.230
20 1,342 1.421
30 1,499 1.559
40 1,620 1.674
50 1,728 1.775
60 1,822 1.863
65 1,905

A visualização destes valores pode ser acompanhada através Figura 5.9 que seguidamente se
apresenta.

LEGENDA
Valores de w k
0.631 kN/m 2 de 0 a 10m
1.230 kN/m 2 de 10 a 20m
1.421 kN/m 2 de 20 a 30m
1.559 kN/m 2 de 30 a 40m
1.674 kN/m 2 de 40 a 50m
1.775 kN/m 2 de 50 a 60m

Figura 5.9 – Distribuição da pressão dinâmica do vento

Relativamente ao coeficiente de força, δf, o seu valor também não é constante para toda a
estrutura, mas sim de acordo com a Figura 5.10 adoptados para cada parte da estrutura.

LEGENDA
Valores de δf
1.7
1.6

Figura 5.10 – Distribuição do coeficiente de força

Falta apenas exibir a distribuição do factor de protecção, η, que se encontra de acordo com a
Figura 5.11.

LEGENDA
Valores de η Valores de η*
0.6 1.4
0.5 1.5
0.4 1.6

Figura 5.11 – Distribuição do factor de protecção

167
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Supondo o vento actuando de montante para jusante, este coeficiente significaria solicitar a
estrutura de jusante com forças 60, 50 e 40% inferiores às aplicadas nos mesmos pontos da estrutura
de montante. Optou-se no entanto e de maneira a simplificar a introdução desta acção, solicitar
apenas a estrutura de montante o que significa considerar um novo factor η* que agravará os valores
de wk, tomando então η* os valores de 1,4, 1,5 e 1,6 respectivamente e em correspondência com os
valores de η. No caso de o vento inverter o seu sentido o raciocínio é em tudo idêntico, sendo neste
caso aplicadas as forças na estrutura de jusante.

Até ao momento foi descrita a determinação da acção do vento na estrutura da ponte. No


entanto esta acção estende-se aos veículos que nela circulam, concretamente ao comboio-tipo.

A contabilização desta acção no comboio-tipo será feita ao nível do tabuleiro superior por
meio de forças horizontais, simulando a fixação deste nos carris onde circula, e forças verticais
formando um binário que contabilizará o momento desenvolvido pelas forças horizontais quando
actuando sobre o comboio-tipo, sendo estas forças aplicadas nos mesmos pontos (nós) que as cargas
equivalentes ao seu peso. Considerando este estudo fundamental na correcta contabilização do
vento, é apresentado um exemplo do cálculo dessas forças, para o primeiro e segundo tramos.

• Tramos 1 e 2

w k = 1.620 kN/m2

3.5 m

3.5 m 11.5 m 11.5 m 3.5 m

9.25 m b=1 m
11.5 m 9.25 m

Cálculo das forças nas extremidades

Fe= 9.25 × 3.5 × 1.620 = 52.4 kN

Me = 52.4 × 3.5/2 = 91.7 kN.m

fE × b = M e ⇔ fE × 1 = 91.7 kN.m ⇔ fE = 91.7 kN

52.4/2 kN 52.4/2 kN

f = -91.7 kN f = 91.7 kN
E E

Cálculo das forças no centro

Fc = 11.5 × 3.5 × 1.620 = 65.2 kN

168
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Mc = 65.2 × 3.5/2 = 114.1 kN.m

fC × b = M c ⇔ fC × 1 = 114.1 kN.m ⇔ fC = 114.1 kN

65.2/2 kN 65.2/2 kN

f = -114.1 kN f = 114.1 kN
C C

As forças resultantes da acção do vento no tabuleiro inferior serão transmitidas ao arco na


extremidade dos montantes, procedendo-se de igual modo ao que se fez para as forças verticais. O
cálculo destas forças, devidas à acção do vento, foi efectuado com um modelo estrutural distinto
tendo-se determinado as reacções no topo dos montantes. A suas componentes horizontais e
verticais foram aplicadas ao arco. Assim para os montantes extremos as forças horizontais tomam
em cada nó o valor de 16.45 kN e 53.3 kN as verticais que compõe o binário, passando
respectivamente para 62.04 kN e 764.92 kN nos montantes intermédios.

4.2.4 Sismo
A análise da acção sísmica foi objecto de estudo específico e detalhado, utilizando um
programa para esse estudo vocacionado (EIGENF), adiante serão tecidos comentários sobre esta
acção, quando se fizer referência a esse estudo, pode desde já adiantar-se que a acção sísmica não é
condicionante para a estrutura. Apresentando-se de seguida apenas as combinações das restantes
acções intervenientes na estrutura.

4.3 Combinações
Nas combinações consideradas nos cálculos de estabilidade, foi admitido um coeficiente de
segurança de 1.5 quer para as acções permanentes quer para as variáveis. Salvaguardando-se no
entanto a possibilidade de para as acções permanentes, considerar 1.35 para aquele coeficiente.

Nas combinações foram designadas duas acções base, a do vento e a do comboio-tipo,


resultando as seguintes combinações fundamentais:

169
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

• acção base comboio-tipo: Sd = 1.5 SG + 1.5 (SCT + 0.4 SW)

• acção base vento: Sd = 1.5 SG + 1.5 (SW + 0.8 SCT)

SG - acções permanentes; SCT - acção do comboio-tipo; SW - acção do vento

A acção do vento e conforme anteriormente justificado ocorrerá na ponte propriamente dita


e no comboio-tipo. Assim entenda-se que quando se fala na acção vento em cada combinação, estão
implícitas as duas situações.

4.3.1 Combinações em que a acção base é o comboio-tipo


Para esta acção base foram consideradas 4 combinações distintas. Três dessas combinações
contemplam a acção de dois comboios caminhando a par ao longo da ponte, simulando o
cruzamento em qualquer posição, formando cada um dos comboios composições de uma carruagem
com vista a obter os máximos momentos positivos nos diversos tramos, de duas carruagens
obtendo-se assim os momentos negativos máximos e três carruagens de modo a maximizar os
esforços no arco. A quarta combinação transmite ao tabuleiro uma carga excêntrica, de modo a
provocar um esforço de torção. Considerou-se assim, apenas um comboio constituído por três
carruagens. Para cada uma das 4 combinações apresentadas foram consideradas todas as posições
que os comboios vão ocupando ao longo da ponte. Resultando assim um vasto número de posições
para cada.

Para a acção do vento na estrutura importa referir que, para as 3 primeiras situações a acção
do vento no comboio-tipo tem o sentido montante-jusante e solicita a composição segundo o
esquema descrito nas páginas anteriores. Na quarta situação o comboio-tipo situa-se do lado de
montante da ponte, logo o vento é considerado em sentido contrário, isto é, de jusante para
montante, provocando o máximo esforço de torção.

Para uma melhor visualização das cargas correspondentes à acção do comboio-tipo


apresentam-se os esquemas seguintes.

112 112 112

112 112 112

112 112 112

112 112 112

11.5 m 11.5 m

Figura 5.12 – Esquema para 2 comboios compostos por 1 carruagem

170
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

112 112 112 112 112 112

112 112 112 112 112 112

112 112 112 112 112 112

112 112 112 112 112 112

11.5 m 11.5 m 7.0 m 11.5 m 11.5 m

Figura 5.13 – Esquema para 2 comboios compostos por 2 carruagens

112 112 112 112 112 112 112 112 112

112 112 112 112 112 112 112 112 112

112 112 112 112 112 112 112 112 112

112 112 112 112 112 112 112 112 112

11.5 m 11.5 m 7.0 m 11.5 m 11.5 m 7.0 m 11.5 m 11.5 m

Figura 5.14 – Esquema para 2 comboios compostos por 3 carruagens

Nas quatro situações contemplaram-se todas as posições que o comboio ou comboios, vão
ocupando ao longo de todo o tabuleiro superior. A título de esclarecimento apresenta-se a Figura
5.15 referente a duas distintas posições para o comboio-tipo com 1 carruagem.

POSIÇÃO 1 POSIÇÃO 8

TRAMO 1 TRAMO 2

Figura 5.15 – Duas posições do comboio-tipo

4.3.2 Combinações em que a acção base é o vento


Para esta acção base o tratamento é em tudo idêntico ao apresentado para o ponto anterior,
diferindo apenas nos coeficientes de combinação. Dispensa-se assim a repetição dos esquemas
anteriores. Refira-se ainda que o número total de posições ocupadas pelo comboio é o mesmo que
para a acção base anterior.

4.3.3 Notação utilizada para designar as combinações


4.3.3.1 Acção base comboio-tipo

Comb_21 - 1.5 × (cargas permanentes + 2 comboios cruzando-se compostos por 1 carruagem + ψ 0 × vento)

171
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Comb_22 - 1.5 × (cargas permanentes + 2 comboios cruzando-se compostos por 2 carruagens + ψ 0 × vento)
Comb_23 - 1.5 × (cargas permanentes + 2 comboios cruzando-se compostos por 3 carruagens + ψ 0 × vento)
Comb_13 - 1.5 × (cargas permanentes + 1 comboio composto por 3 carruagens + ψ 0 × vento)

4.3.3.2 Acção base vento

Vento_21 - 1.5 × (cargas permanentes + vento + ψ 0 × 2 comboios cruzando-se compostos por 1 carruagem)
Vento_22 - 1.5 × (cargas permanentes + vento + ψ 0 × 2 comboios cruzando-se compostos por 2 carruagens)
Vento_23 - 1.5 × (cargas permanentes + vento + ψ 0 × 2 comboios cruzando-se compostos por 3 carruagens)
Vento_13 - 1.5 × (cargas permanentes + vento + ψ 0 × 1 comboio composto por 3 carruagens)

5 Materiais

Dado que a ponte foi realizada com um aço do século passado, adoptou-se de acordo com
documentação adequada, para o módulo de elasticidade longitudinal o valor de 160 GPa, por não se
possuir inicialmente os resultados dos ensaios efectuados com os provetes retirados da ponte.
Posteriormente e com base nos resultados desses ensaios efectuados pelo Laboratório de Ensaios
Tecnológicos do DEMEGI sobre os provetes da Ponte Luiz I [27] foi possível obter o valor de
192.7 GPa para o módulo de elasticidade longitudinal. Relativamente ao coeficiente de Poisson e
ainda de acordo com os ensaios referidos, obteve-se para aquele coeficiente o valor de 0.2554.
Também a partir dos ensaios foi possível obter a tensão de rotura dos provetes o que possibilitou a
utilização de uma tensão de segurança admissível para o aço em serviço de 105 MPa,
correspondendo uma tensão de cálculo 1,5 vezes superior àquela, ou seja de 157.5 MPa. Para o peso
específico considerou-se o valor de 77 kN/m3.

Em relação ao programa de cálculo automático foram considerados diversos materiais tipo,


necessários para uma correcta adequação do modelo utilizado.

172
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

6 Ensaios

6.1 Ensaios em laboratório


Dos provetes recolhidos na ponte efectuaram-se diversos tipos de ensaios de caracterização
química e mecânica, e de resistência à fadiga. Já se referiu na secção 7 do capítulo 2, algumas
considerações exemplificadas com os ensaios levados a cabo sobre os provetes da ponte objecto deste
estudo. O completo desenvolvimento dos mesmos ensaios laboratoriais pode ser consultado no
trabalho apresentado em pormenor na referência [27]. Expõe-se de seguida, ainda que de forma
resumida alguns pontos importantes aí desenvolvidos. Os estudos dividiram-se em duas partes
distintas, uma primeira com a avaliação das propriedades mecânicas do material que constitui a
ponte e do comportamento das ligações rebitadas e uma segunda parte na avaliação da vida residual
da obra.

Na primeira parte efectuou-se uma análise macroscópica e microscópica do material base e


rebites e a respectiva composição química. Avaliou-se ainda as propriedades mecânicas recorrendo a
ensaios de tracção, de dureza e de tenacidade, foi também estudada a lei de propagação de fenda e a
fadiga da união rebitada.

Quanto à segunda parte, para avaliação da vida residual da ponte, foi avaliada a gama de
tensão, cálculo da vida residual recorrendo a curvas de projecto S-N e recorrendo a conceitos de
mecânica da fractura.

As principais conclusões tiradas destes ensaios foram:

• A resistência mecânica do material apresenta valores idênticos aos de pontes europeias;

• os valores da tenacidade são aceitáveis;

• os valores de duração à fadiga da ligação rebitada são compatíveis com os


recomendados por códigos da prática internacionais;

• os ensaios de propagação de fendas não foram conclusivos;

• com base na estimativa do volume de tráfego e futura utilização, pode referir-se:

§ se a ponte continuasse a ser utilizada só para tráfego rodoviário a vida


remanescente seria superior a 100 anos;

§ para as novas condições de utilização a vida remanescente seria inferior a 10 anos,


se nenhum reforço fosse levado a cabo.

173
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

6.2 Ensaios in situ


Efectuou-se ainda um ensaio in situ para determinação de algumas frequências próprias de
vibração da ponte [28]. Utilizando equipamento adequado efectuaram-se ensaios em 3 zonas a meio
do terceiro tramo, a meio do arco e a meio do 11º tramo. Os resultados obtidos são adiante exibidos.
A metodologia utilizada neste ensaio e o equipamento, foram anteriormente exibidos no capítulo 2
secção 7, dispensando aqui mais desenvolvimentos.

174
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

7 Cálculos

No cálculo estrutural da Ponte Luiz I, foram usados programas de cálculo automático


desenvolvidos ao longo dos últimos anos na Secção de Estruturas do Departamento de Engenharia
Civil da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, e que permitem fazer a análise estática
e dinâmica em regime linear de qualquer estrutura.

7.1 Programas

7.1.1 Programa Femix


Para a análise estática da estrutura da Ponte Luiz I foi usado o programa de cálculo
automático designado genericamente FEMIX 2.1. Em conjunto com o programa FEMIX podem ser
utilizados outros programas que se destinam à geração de dados e à visualização tridimensional,
quer da estrutura, quer dos resultados do cálculo efectuado. A malha relativa à estrutura da Ponte
Luiz I foi preparada com o auxílio do programa S3DCAD e a visualização de deformadas, esforços e
tensões foi realizada com o programa DRAWMESH.

7.1.2 Módulo para a análise do comportamento dinâmico do sistema ponte -veículo


O módulo que permitiu efectuar os estudos do comportamento dinâmico da Ponte Luiz I
sujeita à passagem do metro, foi desenvolvido com base no programa FEMIX, tendo sido incluídos
algoritmos que permitem considerar os efeitos de uma estrutura em movimento, o comboio, sobre
outra imóvel, a ponte. O sistema ponte-comboio é estudado como duas estruturas independentes,
calculadas simultaneamente ao longo do tempo, recorrendo-se a um processo iterativo, em cada
passo de integração no domínio do tempo, para compatibilização dos dois sistemas estruturais.

Com este módulo é possível avaliar os efeitos dinâmicos resultantes da passagem do metro,
do ponto de vista da segurança estrutural, do conforto dos peões e do conforto dos passageiros. A
avaliação destes diferentes factores é feita respectivamente, avaliando os coeficientes de amplificação
dinâmica, da determinação das acelerações e deslocamentos do tabuleiro e das acelerações registadas
nas carruagens. A comparação dos valores obtidos é feita, para os primeiros com os coeficientes
regulamentares indicados no Eurocódigo 12, a segunda com base nos critérios presentes no OHBDC3
e para os terceiros valores através das expressões apresentadas num documento técnico da comissão
de especialistas D160 da ORE4.

2 Eurocode 1
3 (1983) – “Ontario Highway Bridge Design Code”
4 Office for Research and Experiments of the International Union of Railways

175
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

As velocidades de circulação consideradas na presente análise foram de 30, 60, 90, 120 e
150 km/h. O comboio considerado é composto por três carruagens, a análise é feita a partir da
entrada do primeiro eixo da primeira carruagem na ponte, até à saída do último eixo da terceira
carruagem. Conforme já se referiu este estudo é desenvolvido num modelo tridimensional.

O número de resultados obtido é bastante vasto, apresentando-se apenas alguns exemplos


dos mesmos. A Figura 5.16 exibe para a velocidade de 90 km/h os deslocamentos a meio vão do arco
e do 11º tramo.

Figura 5.16 – Deslocamentos verticais a meio vão do arco (esq.), e do 11º tramo (dir.) (comboio a 90 km/h) [29]

Ainda na Figura 5.17 e para as mesmas subestruturas podem identificar-se os coeficientes de


amplificação dinâmica com a variação da velocidade.

176
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Figura 5.17 – Coeficientes de amplificação dinâmica com a variação da velocidade [29]

Relacionado com o comportamento dos peões, apresentam-se as acelerações verificadas para


diferentes velocidades de circulação na Figura 5.18.

Figura 5.18 – Acelerações para diferentes velocidades [29]

A Figura 5.19, apresenta uma posição do comboio, concretamente para uma velocidade de
90km/h, ao sétimo segundo do percurso. Note-se a deformação da ponte e do próprio comboio.

Figura 5.19 – Posição do comboio ao sétimo segundo [29]

177
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

As acelerações das carruagens permitem conforme se disse avaliar o conforto dos


passageiros. A Figura 5.20 exibe para 90 km/h as acelerações registadas nas caixas da primeira e
última carruagens.

Figura 5.20 – Acelerações nas caixas das carruagens, primeira (esq.) e última (dir.) [29]

7.1.3 Programa EIGENF


O programa EIGENF foi elaborado para o caso de estruturas reticuladas tridimensionais
com continuidade de deslocamentos e rotações, constituídas por barras prismáticas de secção
constante, sendo o centro de corte coincidente com o centro de gravidade em cada secção transversal
e onde são desprezadas as deformações por corte.

O programa EIGENF permite, a determinação de:

• parâmetros de carga crítica e modos de encurvadura associados;

• esforços instalados incluindo os efeitos de segunda ordem;

• frequências de vibração e modos de vibração associados;

• um sistema de acções estáticas equivalentes à acção sísmica.

Este programa permite assim avaliar a segurança da Ponte Luiz I quando sujeita à passagem
do metro considerando os efeitos de segunda ordem através da análise global da estrutura. Esta
análise foi inicialmente feita com um modelo bidimensional, para determinação da composição
ferroviária mais desfavorável e respectiva posição na estrutura. Posteriormente e para esse caso de
carga mais desfavorável a estrutura foi analisada tridimensionalmente. Para a modelação plana
consideraram-se os casos de carga seguintes:

1. comboio centrado sobre o pilar 2;

2. comboio centrado sobre o pilar 3;

178
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

3. comboio centrado a meio vão do arco;

4. comboio localizado nos tramos 3 e 4;

5. comboio localizado nos tramos 9 e 10.

Foram calculados 4 parâmetros de carga crítica para cada caso e respectivos modos de
encurvadura associados.

Para a modelação tridimensional foi também considerada a acção do vento, mas mantendo-
se a sobrecarga como acção base, tendo-se igualmente calculado os parâmetros de carga crítica agora
apenas para um caso de carga e os modos de encurvadura associados. Os resultados para a
modelação 2D resume-se no Quadro 5.2. O Quadro 5.3 refere-se à modelação 3D, apenas para o caso
de carga mais desfavorável (2.). A análise destes resultados será efectuada na secção 8.3.4.

Quadro 5.2 – Parâmetros de carga crítica para o modelo 2D

λG

Modo Caso de carga 1 Caso de carga 2 Caso de carga 3 Caso de carga 4 Caso de carga 5
1 1.243 1.137 2.057 1.506 1.384
2 2.096 2.325 2.340 2.183 2.382
3 2.302 3.287 3.306 3.403 3.266
4 21.488 20.465 20.297 16.836 16.666

Quadro 5.3 – Parâmetros de carga crítica para o modelo 3D

Modo λG
1 1.072
2 2.062

O presente programa permite ainda a determinação da resposta à acção sísmica, perfazendo


assim os 4 pontos propostos inicialmente. Para o estudo da acção sísmica foram considerados os
seguintes parâmetros regulamentares:

• coeficiente de sismicidade de 0.3, correspondente à zona D do território nacional


conforme localização da estrutura;

• terreno tipo I, correspondente à situação mais desfavorável;

• coeficiente de comportamento para esforços de valor 3.0;

• coeficiente de amortecimento de 2%, correspondente à situação mais desfavorável;

• consideração das massas da estrutura em correspondência com o valor médio das cargas
permanentes e o valor quase permanente das cargas variáveis;

179
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

• utilização dos espectros de resposta para, em função da frequência do correspondente


modo de vibração, avaliar a aceleração;

• consideração dos dois sismos regulamentares, tendo-se constatado que, de uma maneira
geral, devido às baixas frequências da estrutura, a acção sísmica não é condicionante.

A resposta à acção sísmica, foi obtida mais uma vez recorrendo a dois modelos, um 2D e
outro 3D, por forma a que no modelo 2D esteja considerada a massa do modelo 3D. Calcularam-se
então as frequências e modos de vibração da ponte e as forças estáticas equivalentes à acção sísmica.

7.1.4 Outros Programas


Foram criados alguns programas específicos para o estudo em causa. Destacam-se, o
programa que permitiu quantificar a acção do vento sobre a ponte, e o programa que permitiu
estabelecer o estado de tensão em cada barra para uma qualquer acção sobre a ponte.

7.2 Modelação da Estrutura


Atendendo à elevada dimensão da estrutura, principalmente o elevado número de nós e de
barras, esta foi dividida em 4 grandes blocos: o tabuleiro superior, o tabuleiro inferior, o arco e os 3
pilares metálicos. Esta divisão em 4 blocos visa simplificar qualquer alteração que seja necessário
fazer, permitindo retirar qualquer bloco da estrutura global, proceder a alterações e voltar a juntá-lo
à estrutura.

O sistema de eixos é cartesiano com origem em Gaia no início do 1º tramo, sendo:


x-comprimentos; y-larguras e z-alturas, x coincidente com o eixo longitudinal com o sentido
Gaia-Porto, y com o sentido montante-jusante e z com o sentido positivo ascendente.

No sentido de se avaliar a fiabilidade dos cálculos, foram previamente gerados os 4


primeiros tramos do tabuleiro superior, já que o seu funcionamento como viga contínua permitia
verificações relativamente simples. Estes cálculos prévios possibilitaram a resolução de alguns
pequenos problemas que foram surgindo e a certeza de que os dados estavam bem introduzidos,
para além de permitirem a comparação dos resultados com o modelo da estrutura global da ponte
bem como com o projecto original.

Para o estudo global, optou-se por uma modelação em Estrutura Reticulada Espacial
Contínua.

7.2.1 Modelação do tabuleiro superior


O tabuleiro superior apresenta, à excepção da zona de contacto com o arco, uma
configuração repetitiva de um módulo como o apresentado na Figura 5.21.

180
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Figura 5.21 – Módulo do tabuleiro superior

Para uma mais fácil correspondência com a estrutura real apresenta-se a Figura 5.22.

Figura 5.22 – Perspectiva de um módulo tipo do tabuleiro superior

Os dados relativos ao tabuleiro superior tornaram-se assim facilitados por geração


automática através da repetição do módulo ao longo de todo o tabuleiro. Note-se que se respeitaram
as medidas em conformidade com cada tramo, pois nem todos os módulos apresentam as mesmas
dimensões. Apresentando para qualquer dos casos uma altura de 5m e uma largura de 4.7 m os
comprimentos é que variam. Assim para o 1º, 2º, 11º, 12º e 13º tramos este comprimento toma o valor
de 4.225 m. Para os 3º e 10º tramos aquele valor é de 4.0 m e passa a 3.833 m para os 4º e 9º tramos.
Os restantes tramos, são na zona de contacto com o arco que teve de ser estudada conjuntamente
com este de modo a respeitar a respectiva variação parabólica. Refira-se ainda que as chapas
constituintes da viga principal, nesta zona foram substituídas por diagonais de rigidez suficiente
para traduzir o comportamento das referidas chapas.

181
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

7.2.2 Modelação do tabuleiro inferior e montantes de suspensão


Para o presente estudo modelou-se o tabuleiro inferior e montantes conforme a Figura 5.23,
com o objectivo de obter o correcto valor das reacções no topo dos montantes de suspensão, isto em
termos de peso próprio, sobrecargas e acção do vento, para o modelo estático. Estas reacções como já
foi referido, são transmitidas ao arco por forças aplicadas directamente nos nós onde ambas as
estruturas se ligam.

Figura 5.23 – Modelo simplificado do tabuleiro inferior e montantes de suspensão

Como se pode constatar, a geometria dos montantes de suspensão foi assim considerada de
acordo com a estrutura real. Já para o tabuleiro inferior considerou-se apenas uma única barra com
área, inércia e peso equivalente.

Pode ainda observar-se a existência de barras horizontais no topo dos montantes. A


colocação destas barras foi necessária de modo a permitir a definição da geometria dos montantes o
mais correctamente possível. O facto de na modelação estrutural efectuada as barras serem definidas
pelo seu eixo, implicaria que a ligação dos montantes ao intradorso do arco, resultasse numa
excessiva distância entre as barras verticais que os compõem. Assim a criação da referida barra
“fictícia” permite ligar os montantes ao arco, mas respeitando aproximadamente a sua geometria. De
facto as peças reais apresentam para o arco dimensões consideráveis, estando os montantes ligados
ao mesmo pelo interior (ver Figura 5.24), daí a ligação não ser de facto efectuada ao eixo,
justificando-se a necessidade de recorrer à descrita simulação.

182
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Figura 5.24 – Ligação do montante de suspensão ao arco

Relativamente ao estudo dinâmico, a colocação do tabuleiro inferior é fundamental para a


efectuação de uma correcta análise do comportamento global da estrutura. Assim para os estudos
dinâmicos levados a cabo, colocou-se o tabuleiro inferior da mesma forma simplificada que para o
modelo estático, mas de tal modo que traduzisse correctamente o seu comportamento. Esta
simplificação foi efectuada visto não estar propriamente em análise a estabilidade estrutural daquele
tabuleiro, mas sim a sua influência no resto da estrutura. Assim o importante é que as acções nele
aplicadas e o seu peso próprio sejam correctamente transmitidas à estrutura resistente. Não
interessando portanto definir ao pormenor a geometria do mesmo, particularmente complicada de
definir na zona das vigas principais, conforme se visualiza na Figura 5.25.

183
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 5.25 – Vista parcial do tabuleiro inferior e montantes de suspensão

As análises dinâmicas referentes à circulação do comboio-tipo foram efectuadas, recorrendo


a um modelo bidimensional da ponte. Para tal, houve necessidade de efectuar algumas
simplificações. Em termos gerais, pode dizer-se que as características mecânicas dos elementos
intervenientes no modelo 2D eram duplas das do modelo 3D. Foi ainda necessário proceder à
correcção das diferentes massas e pesos específicos das secções-tipo.

Para algumas situações de carga fizeram-se algumas verificações dos deslocamentos


ocorridos em ambos os modelos (2D e 3D) tendo-se obtido os valores dos deslocamentos constantes
do Quadro 5.4.

Quadro 5.4 – Deslocamentos verticais (m)


devidos ao peso próprio + sobrecarga 4 kN/m2 × ψ 1 no tabuleiro inferior

184
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

posição 3D 2D erro
meio 1º tramo 0.01287 0.01313 2.0%
meio 2º tramo 0.01832 0.01845 0.7%
meio 3º tramo 0.02550 0.02667 4.6%
meio do arco 0.04913 0.04957 0.9%
pilar pp lado do Porto 0.02637 0.02732 3.6%
meio 10º tramo 0.02330 0.02428 4.2%
meio 11º tramo 0.02743 0.02752 0.3%
meio 12º tramo 0.01385 0.01376 -0.6%
meio 13º tramo 0.01537 0.01550 0.8%
2º montante de suspensão 0.07063 0.06710 -5.0%

valor(2D)− valor( 3D)


erro= × 100
valor( 3D)

Como se verifica o erro é bastante pequeno, atingindo os seus valores máximos a meio do 3º
e 10º tramos e no montante de suspensão. A ocorrência destes erros deve-se ao facto do modelo 2D
apresentar valores das inércias das barras corrigidos de modo a que a inércia equivalente fique
definida no plano. Ora algumas das barras apresentam inclinações particulares que não foram
tratadas detalhadamente, assim no modelo 2D no cálculo das inércias equivalentes fizeram-se
algumas simplificações. No entanto, estas simplificações conduzem a erros desprezáveis, validando a
aproximação efectuada.

Este estudo tem como finalidade, além de obter os resultados em termos de esforços
relativos à circulação do comboio, para diferentes velocidades de circulação, saber os respectivos
coeficientes de amplificação dinâmica que possam surgir devidos a essa circulação. Pretende-se
também avaliar a comodidade associada às diferentes velocidades.

Efectuou-se ainda uma segunda comparação, desta vez interessando o modelo estático com
tabuleiro inferior e sem tabuleiro inferior mas com as respectivas forças aplicadas no arco. Da mesma
maneira compararam-se os deslocamentos que ocorrem em ambas as situações e calculou-se o
respectivo erro, do seguinte modo:

valor(c /tabuleiro)− valor(s / tabuleiro)


erro= × 100
valor(c /tabuleiro)

resumindo os valores no Quadro 5.5.

185
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Quadro 5.5 – Deslocamentos verticais (m)


devidos ao peso próprio + sobrecarga 4 kN/m2 no tabuleiro inferior

posição c/ tabuleiro s/ tabuleiro erro


meio 1º tramo 0.01288 0.01281 0.5%
meio 2º tramo 0.01795 0.01798 -0.2%
meio 3º tramo 0.02594 0.02586 0.3%
meio do arco 0.05152 0.05171 -0.4%
pilar pp lado do Porto 0.02728 0.02698 1.1%
meio 10º tramo 0.02374 0.02352 0.9%
meio 11º tramo 0.02733 0.02738 -0.2%
meio 12º tramo 0.01388 0.01389 -0.1%
meio 13º tramo 0.01537 0.01531 0.4%

Mais uma vez se verificou um reduzido erro entre os dois modelos, podendo afirmar-se a
óptima prestação do modelo sem o tabuleiro inferior.

No que respeita ao modelo 3D com o tabuleiro inferior, pretende-se determinar os modos de


vibração e encurvadura para as combinações mais desfavoráveis, podendo assim completar
correctamente o estudo em curso, que uma obra desta importância obriga.

7.2.3 Modelação do arco


Já se referiu que o arco apresenta um desenvolvimento parabólico, quer em planta quer em
alçado, tal como evidencia a Figura 5.27. A Figura 5.26, apresentam as equações que regem essas
parábolas e ainda os correspondentes desenhos em alçado e em planta.

 451 2 451  3.5


(x) = − x + Yintradorso (x) = − 3.7 − 7396 (x − 86)
Z x 2

 intradorso 73960 430
  3.4
Z extradorso (x) = − 71 x 2 + 71 x + 16.70  Yextradorso ( x) = − 3 − ( x − 86)2

 14792 86  7396

y
z 8
60 Extradorso
Extradorso 6 Intradorso
50
4
40 2
30 0 x
Intradorso
20 -2 0 20 40 60 80

10 -4

0 x -6
0 20 40 60 80 100 -8

Figura 5.26 – Alçado e planta do arco

186
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Figura 5.27 – Vista parcial do arco

Os parâmetros que definem estas equações foram encontrados por medição directa sobre os
desenhos do projecto original.

7.2.4 Modelação dos pilares


Relativamente aos pilares, salienta-se que apenas os pilares metálicos foram modelados,
Figura 5.28, dado que os de alvenaria, por apresentarem elevada rigidez, são para a ponte
considerados como apoios simples.

187
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 5.28 – Pilar metálico n.º 1 situado em Gaia

Os dois pilares bastante esbeltos entre o arco e o tabuleiro superior foram modelados pela
simples adição de barras compreendidas entre os nós daquelas duas subestruturas. Estes pilares
(designados por pilares PP), Figura 5.29, representam uma das situações em que não se dispõe de
elementos que caracterizem as barras que os compõem. Este facto adicionado à impossibilidade de
medir localmente as dimensões dos perfis, obrigou tal como já se referiu noutros capítulos, a efectuar
uma extrapolação das medidas por meio de fotografias.

Figura 5.29 – “Pilar PP” entre o tabuleiro superior e o arco

188
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

7.2.5 Modelação dos apoios


O tabuleiro superior apoia-se sobre os pilares metálicos através de dispositivos que
permitem translação longitudinal em tudo idênticos aos usados em apoios simples, tal como os que
existem sobre os pilares de alvenaria, ao qual se refere a Figura 5.30.

Figura 5.30 – Apoio sobre um pilar de alvenaria (esq.) e sobre um metálico (dir.)

Por isso, os apoios do tabuleiro superior nos pilares metálicos foram definidos usando um
conjunto de barras de configuração estrutural bastante simples, mas que simulam correctamente o
seu funcionamento, como se apresenta na Figura 5.31: as barras verticais de muito elevada rigidez
axial e fraca rigidez à flexão (AB,CD) simulam os apoios, introduzindo-se os contraventamentos
(AC,BD) para evitar o funcionamento à torção das barras (EF,GH) no coroamento dos pilares
metálicos. Apresentando as barras AB e CD elevada área, teve de considerar-se um menor peso
específico de modo a não elevar o seu peso no modelo estático, e uma correspondente massa
específica menor nos modelos dinâmicos.

B D
H
G

E
F
A

Figura 5.31 – Modelo de simulação dos apoios entre os pilares metálicos e o tabuleiro superior

189
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Quanto aos apoios dos pilares de alvenaria e dos encontros, não houve necessidade de
conceber um esquema estrutural que traduzisse a realidade, pois o próprio programa permite
simulá-los correctamente. Assim se consideraram para aqueles, apoios simples, os 3 pilares metálicos
foram considerados encastrados no terreno, o arco duplamente apoiado nas suas extremidades e o
tabuleiro inferior igualmente.

7.2.6 Agrupamento das subestruturas modeladas


Após modeladas as diferentes partes da estrutura anteriormente mencionadas, juntaram-se
formando a estrutura completa. Formada a estrutura global atribuíram-se as respectivas
características mecânicas a cada uma das barras, resultando assim um elevado número de secções
tipo.

A Figura 5.32 apresenta parte da ponte, segundo o modelo desenvolvido, onde as áreas de
cada barra são proporcionadas pelas áreas dos “tubos “ que as compõem, não sendo possível
visualizar graficamente a secção real das peças que as constituem.

Figura 5.32 – Modelo de cálculo

190
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

8 Resultados

8.1 Introdução
O cálculo efectuado envolve muitos elementos e muitas combinações de acções, pelo que os
resultados são apresentados, no que se refere à parte estática, de forma condensada, através dos
valores das tensões máximas de tracção e compressão com e sem encurvadura. Relativamente às
acções dinâmicas e aos efeitos de segunda ordem estudados, são também exibidos nesta secção,
ainda que de forma exemplificativa.

8.2 Tratamento dos resultados do Femix


A apresentação dos resultados, uma vez obtidos os ficheiros de resultados referentes aos
diferentes grupos de combinações de acções (Comb_21, Comb_22, Comb_23, Comb_13, Vento_21,
Vento_22, Vento_23 e Vento_13), foi feita retendo-se para cada barra e para cada combinação apenas
o esforço axial.

Em seguida, para cada grupo de combinações determinou-se a máxima tracção e a máxima


compressão obtendo-se, assim, as envolventes de tracções e de compressões, a seguir convertidas nas
respectivas tensões. No que diz respeito às tensões de tracção, foram obtidas meramente por divisão
do valor do esforço axial pela respectiva área efectiva da barra. Quanto às barras comprimidas, para
atender ao fenómeno da encurvadura, as tensões foram determinadas da seguinte forma:

•utilizaram-se as curvas europeias de varejamento, em que se admitiu para todas as barras a


curva tipo D ;

•na definição do coeficiente de esbelteza, utilizou-se a menor das inércias e o comprimento


efectivo da barra, isto é, o comprimento entre dois nós consecutivos;

assim definiu-se como tensão de compressão, o valor do esforço axial dividido pelo
coeficiente de encurvadura e pela área efectiva da barra.

Atendendo a que é possível actuar sobre o valor desta tensão mediante a introdução de
novas condições de contraventamento das peças comprimidas, igualmente se determinaram as
tensões reais de compressão, isto é, não afectadas do coeficiente de encurvadura.

Numa segunda fase, elaborou-se um programa que gera o desenho da ponte, colorindo as
barras conforme a tensão nelas instalada. Os intervalos de tensão correspondentes a cada cor,
idênticos para tracção e compressão, foram adoptados segundo o esquema seguinte:

191
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

σ instalado σ instalado σ instalado


0.5 ≥ 0.875 < ≤ 1.0 1.125 < ≤ 1.25
(preto) σ rd σ rd σ rd
(azul claro) (amarelo)

σ instalado σ instalado σinstalado


0.5 < ≤ 0.875 1.0 < ≤ 1.125 > 1.25
(azul escuro) σ rd (verde) σ rd (vermelho) σrd

A tensão σrd, usada para tensão de referência, foi obtida por majoração da tensão que, de
acordo com a literatura especializada, é considerada como tensão admissível para aços de obras com
idade idêntica à Ponte Luiz I, ou seja, a tensão de 105 MPa. Os ensaios experimentais efectuados com
os provetes retirados da ponte confirmaram este valor.

σrd = 1.5×105 = 157.5 MPa

A apresentação dos resultados revelou-se muito sugestiva e a sua interpretação resulta


bastante simplificada, tornando evidentes as barras cujas tensões estão próximas ou excedem o
máximo admissível. A Figura 5.33 exibe para a combinação Comb_22, conforme notação utilizada, a
coloração da ponte conforme a tensão instalada nas barras, de acordo com os intervalos
anteriormente apresentados.

Figura 5.33 – Coloração das barras para a combinação Comb_22

O estudo da encurvadura foi efectuado considerando o comprimento efectivo e o menor raio


de giração, situação que conforme já foi demonstrado poderá conduzir em algumas barras a
situações que não são as mais desfavoráveis, recomenda-se por isso que em cálculos posteriores estas
situações sejam devidamente acauteladas.

8.3 Análise dos resultados do Femix


Na generalidade as barras necessitam de ser contraventadas ou reforçadas, principalmente
no tabuleiro superior, quer nas vigas de montante e jusante, quer nas vigas de travamento. Os pilares
apresentam problemas de encurvadura, na generalidade dos casos. O arco não apresenta problemas.

192
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

8.3.1 Envolvente das tracções


Verifica-se que para as envolventes de tracção os esforços instalados nas barras não
conduzem a tensões superiores a σrd (157,5 MPa).

As tensões de tracção são em todas as barras, quer do arco quer das vigas do tabuleiro
superior, quer nos pilares, inferiores à tensão máxima de tracção, σrd.

8.3.2 Envolvente das compressões


Como já foi referido, na análise da envolvente das compressões é importante analisar em
primeiro lugar a envolvente das tensões máximas de compressão, não afectadas do problema da
encurvadura e em seguida a envolvente das tensões máximas de compressão afectadas deste
problema.

8.3.2.1 Envolvente das compressões sem encurvadura

Verifica-se que os valores dos esforços instalados nas barras, conduzem a tensões inferiores

ao valor de σrd e na generalidade das barras com valores bastante inferiores a esse valor.

As barras que fazem a ligação da viga ao arco, não apresentam tensões reais, pelo que nesta
análise não se contemplam.

8.3.2.2 Envolvente das compressões com encurvadura

Verificam-se de um modo geral problemas com várias barras, pertencentes às vigas do


tabuleiro superior e aos pilares.

As barras do arco não apresentam problemas, verificando-se que as tensões instaladas nas
barras são, normalmente, bastante inferiores à tensão máxima.

Como já foi referido é necessário em projecto verificar as secções das barras do arco dado
que algumas dessas secções foram tiradas por semelhança com outras e através das fotografias.

O mesmo se passa com os pilares, nomeadamente o pilar PP que apoia no arco, e apresenta

tensões máximas superiores a σrd e algumas barras que realizam o contraventamento dos pilares.

8.3.3 Análise dos resultados dos estudos dinâmicos


Conforme se referiu na secção 7.1.2 os resultados obtidos na análise dinâmica são avaliados
do ponto de vista da segurança estrutural, do conforto dos peões e dos passageiros. Em termos de
segurança estrutural, interessa comparar os coeficientes de amplificação dinâmica obtidos, com os
que o eurocódigo preconiza, para as mesmas subestruturas anteriormente exibidas (arco e tramo 11)
exibe-se na Figura 5.34 essa comparação.

193
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 5.34 – Comparação dos coeficientes de amplificação dinâmicos [29]

Relativamente ao conforto dos peões a Figura 5.35 confronta as flechas máximas que
ocorrem no tabuleiro superior durante a passagem do metro com os limites indicados no OHBDC,
que são função da frequência fundamental da estrutura e do grau de utilização da ponte pelos peões.

Sem passeios

Com passeios e pequena utilização

Com passeios e significativa utilização

INACEITÁVEL

T11
T10 T3
T12 T2
A
T13

ACEITÁVEL
T1

Figura 5.35 – Comparação entre as flechas máximas registadas no tabuleiro para


v = 60 km/h e os limites indicados no OHBDC [29]

Da análise da figura concluiu-se que o nível de conforto é aceitável desde que o número de
peões que utilizam a ponte seja pequeno. Se esta quantidade aumentar para significativas utilizações
os tramos 2, 3, 10 e 11 comprometem o conforto para velocidades de 60 km/h.

194
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Quanto ao conforto dos passageiros, as vibrações que ocorrem nas caixas das carruagens,
são separáveis em duas parcelas, uma dizendo respeito às componentes, harmónica da aceleração,
causada pela deformação da ponte e uma componente aleatória causada pelos defeitos de
nivelamento e irregularidades da via. A comissão ORE D160, admite para uma velocidade de
120 km/h, um valor de 95 para a primeira componente, atingindo-se assim um nível excelente de
conforto. No estudo levado a cabo para a Ponte Luiz I, aquele valor foi calculado para uma
velocidade de 90 km/h, tendo-se obtido para a primeira e terceira carruagens, 46.4 e 53.7
respectivamente, o que permite afirmar que o nível de conforto dos passageiros é excelente.

8.3.4 Análise dos resultados do EIGENF


Da análise do Quadro 5.2 da subsecção 7.1.3 verifica-se que os três primeiros modos de
encurvadura se referem a nós móveis (o EC35 define como estrutura de nós móveis aquela cujo
parâmetro de carga crítica seja inferior a 10), enquanto o quarto modo é de nós fixos, não sendo de
considerar numa análise de segunda ordem.

De todos os casos de carga analisados verifica-se que os parâmetros de carga crítica são
bastante baixos, podendo pôr em causa a estabilidade da estrutura, destacando-se o caso de carga
mais desfavorável, o que considera o comboio sobre o pilar 3. As configurações dos modos de
encurvadura para esta modelação são vários, exibindo-se como exemplo o da Figura 5.36.

Figura 5.36 – Modo de encurvadura 2D [30]

Os modos de encurvadura mais importantes são os que a seguir se descrevem:

• para os casos de carga 1 e 4 o primeiro modo corresponde à instabilização do pilar 2, o


segundo à do pilar 3 (ver Figura 5.36) e o terceiro à do pilar 1;

• para os casos de carga 2, 3 e 5 o primeiro modo corresponde à instabilização do pilar 3, o


segundo à do pilar 2 e o terceiro à do pilar 1;

• os modos de encurvadura dos pilares são do tipo consola;

5 Eurocódigo 3

195
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

• associados à instabilização dos pilares o arco apresenta deslocamento verticais


assimétricos acompanhados por movimentos verticais e longitudinais do tabuleiro
superior.

Para compreender melhor o comportamento da estrutura, esta foi recalculada impedindo o


deslocamento longitudinal do topo dos pilares. O resultado bidimensional do parâmetro de carga
para esta situação foi de 7.763, suficientemente elevado para não se recear uma instabilização global
da estrutura [30].

Relativamente à resposta à acção sísmica da estrutura, foram calculadas diversas frequências


e modos de vibração [31], quer para o modelo 2D como para o 3D e que foram comparados com as
frequências obtidas nos ensaios expeditos. Obtiveram-se ainda as forças estáticas equivalentes à
acção sísmica concluindo-se sobre a sua importância na estrutura para as combinações
regulamentares.

As frequências obtidas para o modelo 3D e para o modelo 2D encontram-se no Quadro 5.6 e


no Quadro 5.7 respectivamente.

Quadro 5.6 – Frequências de vibração do modelo 3D

Modo Frequência (Hz) Tipo

1 0.736 transversal
2 0.795 transversal
3 0.886 longitudinal, vertical e transversal
4 0.894 transversal
5 0.969 transversal
6 1.023 transversal
7 1.085 transversal
8 1.202 transversal
9 1.229 transversal
10 1.343 transversal
11 1.416 transversal
12 1.733 transversal
13 1.787 longitudinal e vertical
14 1.885 transversal
15 2.007 transversal
16 2.140 vertical
17 2.353 transversal
18 2.391 vertical

Quadro 5.7 – Frequências de vibração do modelo 2D

196
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Modo Frequência (Hz)


1 0.945
2 1.957
3 2.261
4 2.616
5 2.720
6 3.064
7 3.368
8 3.451
9 3.603
10 3.677

Como se verifica para o modelo 3D, a maioria dos modos de vibração correspondem a
movimentos transversais da estrutura, apenas um modo apresenta movimentos nas três direcções.
Os modos que apresentam componentes verticais são comparáveis com os obtidos no modelo 2D,
apenas verticais. Desta comparação resulta o Quadro 5.8.

Quadro 5.8 – Comparação entre modelo 2D e 3D

Frequência (Hz) erro


Modo 3D Modo 2D Modelo 3D Modelo 2D %
3 1 0.886 0.945 6.6
13 2 1.787 1.957 9.5
16 3 2.140 2.261 5.6
18 4 2.391 2.616 9.4

A Figura 5.37 e a Figura 5.38 exibem, a título de exemplo, a configuração de um modo de


vibração para cada um dos modelos, dos obtidos com o programa.

Figura 5.37 – Modo 3 de vibração para o modelo 2D [31]

Figura 5.38 – Modo 2 de vibração para o modelo 3D [31]

197
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

8.3.4.1 Comparação das frequências com o ensaio expedito

Os valores obtidos no ensaio expedito exibem-se no Quadro 5.9.

Quadro 5.9 – Frequências obtidas com o ensaio in situ

Ponto Frequência (Hz) Tipo


1 3.9 ; 5.0 ; 8.6 ; 10.8 ; 12 vertical
1 1.4 ; 3.2 ; 6.45 transversal
1 1.7 ; 4.0 ; 7.3 ; 9.2 ; 12 longitudinal
1 2.25 ; 3.9 ; 4.6 ; 6.3 ; 8.5 vertical
2 0.9 ; 3.2 ; 4.0 ; 6.2 ; 8.0 transversal
2 1.66 ; 4.1 ; 6.3 ; 8.5 ; 11.3 longitudinal
2 3.4 ; 4.2 ; 7.6 ; 10.8 vertical
3 1.7 ; 3.2 ; 5.08 ; 10.8 transversal
3 1.7 ; 4.4 ; 5.0 ; 12.7 longitudinal

As frequências medidas e calculadas não são coincidentes em todos os casos, em alguns


verificam-se diferenças significativas. As do Quadro 5.9 que se encontram em Bold, são as que se
apresentaram como melhor definidas durante o ensaio.

A frequência longitudinal medida situa-se entre 1.66 a 1.7 Hz, o que se aproxima
francamente do modo 13 do modelo 3D de 1.78 Hz.

Na direcção transversal o arco apresenta 0.9 Hz nas medições efectuadas e 2.25 Hz


verticalmente. Os valores do arco calculados aproximam-se transversalmente para 0.795 Hz e na
vertical 2.140 Hz (modo 16/3D).

Para o tramo 3 o 1º modo medido, 1.4 Hz transversal, quase que coincide com o modo 11
calculado no modelo 3D, 1.416 Hz. Verticalmente a proximidade não se faz sentir, medido 3.9 Hz e
calculado 3.064 Hz correspondente ao 6º modo do modelo 2D.

No caso do tramo 11 as diferenças entre medições e cálculos são ainda mais evidentes,
havendo a destacar o modo 14 no modelo 3D com 1.885 Hz de frequência transversal próximo dos
1.7 Hz medidos, mas verticalmente a comparação perde um pouco o sentido.

8.3.4.2 Forças estáticas equivalentes à acção sísmica

O programa utilizado permite calcular um sistema de forças estáticas equivalentes à acção


sísmica por modo de vibração. Para o presente estudo considera-se, atendendo aos reduzidos valores
das forças estáticas a contribuição dos 18 modos de vibração obtidos no cálculo do modelo 3D [31].
As principais conclusões dos resultados obtidos exibem-se na secção 9.

198
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

9 Conclusões finais

Atendendo ao exposto nos números anteriores, designadamente aos resultados obtidos nos
estudos efectuados, pode concluir-se que, a viabilidade de passagem do metro fica condicionada
pela satisfação dos pontos seguintes:

1. A tipologia das carruagens deverá ser semelhante à usada no presente estudo.

2. Deverão ser dimensionados e convenientemente executados os contraventamentos e/ou


reforçadas as secções, de forma a serem eliminados os riscos de encurvadura detectados.

3. Deverá ser tido em conta que a vida remanescente de algumas peças em situação crítica é
muito limitada pelo que deverão ser reforçadas para reduzir o nível geral de tensões.

4. O estado de conservação da ponte é em muitos locais precário e encontram-se focos


importantes de corrosão que urge eliminar, pelo que é imperioso efectuar uma extensa
intervenção de conservação.

5. Deverá ser feito um levantamento dos problemas de enfunamento que poderão existir em
algumas peças. Este problema foi detectado em algumas barras sendo provável a
existência de outras situações idênticas. Estas situações poderão agravar
substancialmente as tensões, pelo que se torna necessário proceder a uma verificação
completa da segurança estrutural da ponte.

6. Os apoios da ponte deverão ser revistos e eventualmente substituídos.

7. Para além da inspecção regular que uma estrutura deste tipo deve merecer, deverá nos
primeiros tempos da nova utilização da estrutura, ser previsto um especial
acompanhamento e inspecção da mesma de acordo com um plano a definir e que
contemple instrumentação da obra.

8. Deverá ser dada especial atenção aos pilares metálicos, dado que estes se revelaram como
pontos críticos da estrutura, sendo necessário que estes pilares sejam convenientemente
reforçados.

9. O nível de conforto dos peões para uma utilização intensiva da ponte não é considerado
aceitável, em determinados tramos e para determinadas velocidades de circulação, pelo
que se recomenda a adopção de dispositivos de correcção.

10. Os coeficientes de amplificação dinâmica obtidos não conduzem a qualquer compromisso


de segurança estrutural da obra, tendo-se obtido valores sempre inferiores aos do
eurocódigo.

199
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

11. Quanto ao conforto dos passageiros, verifica-se também um nível de conforto excelente
em todos os casos analisados.

12. O parâmetro de carga crítica da estrutura apresenta um valor bastante reduzido, 1.072,
que corresponde à instabilização tipo consola do pilar 3, quando se admitem
deslocamentos relativos entre o tabuleiro e os pilares em que existem aparelhos de apoio.

13. Identificam-se alguns parâmetros de carga crítica inferiores a 1.5, associados à


encurvadura de cada um dos pilares, identificando-se elementos como pontos críticos da
estrutura.

14. Os valores de carga crítica crescem consideravelmente, no caso de estarem impedidos os


movimentos relativos entre os pilares e o tabuleiro, tomando valores próximo dos
aceitáveis. Assim é indispensável uma análise do estado actual dos aparelhos de apoio e
reforço de alguns elementos no sentido de reduzir a influência dos efeitos de 2ª ordem, o
mesmo é dizer controlar o valor do seu parâmetro de carga crítica.

15. Os esforços gerados pela acção do sismo, nos elementos da estrutura eram de reduzido
valor quando comparados com os resultantes da acção do vento. Não sendo portanto
aquela acção condicionante para a estabilidade da estrutura.

16. Deverão ser previstos dispositivos que evitem a permanência das pombas.

Independentemente da Ponte Luiz I vir a ser integrada na Rede do Metro do Porto, as


análises efectuadas recomendam que a mesma merece atenções especiais, designadamente as que se
referem nos pontos 2, 4, 5, 6, 7, 8 e 16.

200
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

10 Proposta de intervenção

Nesta secção pretende-se tecer algumas considerações sobre um reforço desta obra,
comparando soluções e não propriamente desenvolver, ainda que parcialmente, um projecto de
reforço. Assim e no seguimento desta ideia são apresentadas várias hipóteses de reforço, para os
diferentes elementos constituintes da estrutura: montantes, diagonais, contraventamentos, etc. em
qualquer dos casos de forma esquemática.

É claro que esta solução de reforço, deverá passar por uma adequada limpeza de todos os
elementos estruturais, incluindo os que não serão objecto de reforço, seguindo as orientações
propostas no capítulo 2.

Em termos globais de reforço, pretendem-se cumprir, as ideias defendidas até ao momento


relativas essencialmente, à adequação das soluções de reforço à estética da obra existente, a
exequabilidade das soluções e as questões económicas.

Da análise dos esforços da estrutura, concluiu-se de forma generalizada, quais os elementos


cuja tensão excedia a admissível, sendo objectivo da solução a redução do nível da tensão instalado.
Isso será conseguido à custa da adição de chapas ou novos perfis, ou simplesmente e sempre que
possível, à substituição dos existentes. As ligações destes novos elementos aos existentes, deverá ser
efectuada com ligações rebitadas, mantendo a estética da obra, estando mais que provado o excelente
funcionamento deste tipo de ligações, que têm vindo a desaparecer da construção metálica actual.

A solução de reforço, pretenderá dar resposta a um ou à simultaneidade dos seguintes


pontos: aumento da área da peça, aumento da inércia na direcção x ou na direcção y. Satisfazendo as
necessidades mecânicas de cada elemento, avançam-se soluções esquemáticas de reforço, sem
pormenorizar dimensões exactas quer das soluções de reforço quer das peças existentes. O que
interessa discutir serão vantagens e desvantagens de algumas soluções em detrimento doutras.

10.1 Os contraventamentos
A maioria dos contraventamentos são constituídos por cantoneiras simples ou duplas, cuja
substituição na maioria dos casos será a solução a adoptar quer pela simplicidade da execução quer
pela garantia de bom comportamento do reforço. De qualquer modo, nos casos em que a tarefa de
substituição fosse impossibilitada, poderia adoptar-se a adição de novas cantoneiras quer nas
simples quer nas duplas, ou nestas últimas a adição de chapas, conforme se pode visualizar na
Figura 5.39.

201
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 5.39 – Esquemas de reforço para os contraventamentos

Das soluções apresentadas as que esteticamente prejudicam a obra são para o caso de
cantoneiras simples o uso de perfis UNP e para as cantoneiras duplas a 3ª e 4ª soluções, acrescidas do
problema de facilitarem a acumulação de lixo, no caso de ficarem voltadas para cima. Das restantes
salientam-se, para ambos os casos, as constituídas por cantoneiras, que garantem maior inércia ao
conjunto, do que as chapas simples de reforço. Certo é que junto das ligações e em algumas zonas, o
espaço disponível pode não permitir o uso de cantoneiras de reforço, por isso se poderá recorrer às
chapas, que poderão atingir espessuras consideráveis se se pretender obter inércias equivalentes ao
uso das cantoneiras. De uma forma geral o uso de qualquer das soluções propostas permite, fácil
manutenção dos elementos, pelas secções serem do tipo aberto.

10.2 Os montantes correntes das vigas principais do tabuleiro superior


Estes montantes apresentam uma secção em T, composta por duas cantoneiras, que
entretelam uma chapa de alma. A face cega desta secção é virada para o exterior, com base neste
princípio, a solução de reforço deve tentar manter esta leitura do alçado.

202
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

Figura 5.40 – Reforço dos montantes da viga principal

Das soluções propostas, Figura 5.40, as que melhor se enquadram no princípio proposto,
salientam-se a 1ª, 2ª e 4ª, se bem que esta última tem como desvantagem, a manutenção do interior
dos UNP, bem como a efectuação das ligações, entre elementos novos e existentes. As restantes,
ainda que não respeitando a leitura do existente, conferem uma fácil execução e manutenção. O
factor de decisão pode importar às necessidades mecânicas das peças, ou seja, se nos referirmos a
inércias maiores em x, as soluções 1ª e 2ª, serão mais indicadas, se for na direcção y, então será
prudente optar pela 5ª.

10.3 As diagonais das vigas principais do tabuleiro superior


Estes elementos são também em T, diferindo dos anteriores por apresentarem, uma chapa de
alma maior e também chapa de banzo, Figura 5.41. As duas soluções propostas são constituídas por
cantoneiras, a primeira respeitando o alçado da peça, conduz a uma resistência mecânica no plano
perpendicular da estrutura inferior à solução 2, não apresentando esta no entanto a vantagem de
manter a leitura da peça.

203
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Figura 5.41 – Reforço das diagonais do tabuleiro superior

As 3ª e 4ª proposta de reforço, apenas diferem das anteriores pela interposição de chapas de


alma, se se tornar necessário garantir mais área.

10.4 As diagonais dos pilares


Para estes elementos, Figura 5.42, as soluções de reforço acabam por cair em alguma
repetição relativamente às já apresentadas, consequências das semelhanças das secções existentes.
Assim se exibem soluções próximas das apresentadas na Figura 5.40, com a diferença de que para
este caso se mantém o prolongamento da chapa de alma para fora do alinhamento das cantoneiras.
Mais uma vez a solução passa pela ponderação das necessidades mecânicas do elemento.

Figura 5.42 – Reforço das diagonais dos pilares

204
Capítulo 5 – Estudo da Ponte Luiz I

As vantagens e desvantagens de cada uma são as mesmas apresentadas em 10.2 desta


secção.

10.5 Os montantes dos pilares


A secção dos montantes dos pilares (pernas), é bastante mais complexa do que qualquer uma
das restantes. Ainda dotada de esquadros de rigidez ao longo da sua altura, que dificultam o reforço
continuo da mesma. No entanto, considerou-se a existência de reforço entre esquadros, do lado onde
estes se encontram e também na totalidade nas restantes faces.

Figura 5.43 – Reforço das pernas dos pilares

205
Índice do capítulo 6

CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕ ES ................................ ................................ ................................ ............... 204


Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

Capítulo 6 - Conclusões

Não se tendo conseguido atingir todos os objectivos que inicialmente eram propostos
desenvolver, por razões que foram sendo expostos ao longo da dissertação, pensa-se, apesar disso,
que se contribuiu de uma forma positiva para as questões relacionadas com o tema. No entanto e
durante todo o período de trabalho, foram sendo assimiladas informações que ainda dentro deste
tema, se afastavam um pouco da orientação proposta, por esta razão excluída de ser aqui
apresentada, mas sem dúvida importante para ser tratada noutros potenciais desenvolvimentos que
possam surgir.

As questões ligadas à manutenção, que foram obtidas na sua maioria de documentos da C.


P., serão porventura o que de mais importante aqui se desenvolveu, não em menos valia dos
restantes assuntos, mas sim porque as referências usadas para o desenvolvimento dessa matéria,
estarem até agora no desconhecimento de muitos os que são exteriores àquela entidade. Pelo menos
foi esta a ideia com que ficamos, e que foi confirmada pelo Eng.º Andrade Gil, de resto muito
satisfeito com esta iniciativa de se compilar essa informação nesta dissertação.

As metodologias e processos de intervenção propostos resultaram da experiência pessoal e


das conversas que se teve com pessoas ligadas a esta área há muitos anos. Não objectivando dotar os
temas aí tratados de qualquer tipo de regra a seguir na análise destas obras, mas sim dar a conhecer
alguns pontos a percorrer numa análise idêntica às que aqui foram propostas e que possam servir
como orientação para quem as queira utilizar.

Os exemplos exibidos nos capítulos 3, 4 e 5, respectivamente da Ponte Metálica do Pinhão,


Ponte Internacional de Valença-Tuy e Ponte Luiz I, pretenderam mostrar as aplicações das
metodologias propostas, facilidades e dificuldades encontradas, na obtenção de informação, cálculo,
análise de resultados e propostas de intervenção. Os diversos níveis de pormenorização dos estudos,
(as três obras não foram tratadas da mesma forma) dependem quer da informação disponível, quer
da fase de projecto envolvida. Podendo nos exemplos apresentados identificar-se estas questões.

Pretendeu-se ainda sensibilizar todos os que se interessem por estes temas, para a situação
nacional, que não é satisfatória, longe disso, e que urge ser modificada. As informações recolhidas
nas duas entidades responsáveis pelas obras nacionais, J.A.E. e C.P., isso demonstraram, estando
ambas conscientes do problema, não prevêm num futuro próximo grandes alterações de atitude, que
faça regredir o problema, muito pelo contrário. De facto, cada vez é mais difícil conseguir inverter a

204
Capítulo 6 - Conclusões

situação, quer pela falta de pessoal especializado, quer pela admissão de novos elementos que não é
previsível.

Termina-se esta dissertação apresentando uma proposta para uma ficha de inspecção, com
base quer nas folhas de cadastro da C.P., quer das fichas de inspecção da J.A.E., acrescentando
alguns pontos que nessas não eram tratados e eliminando outros de carácter específico para essas
entidades. Esta proposta pretende lançar uma ideia que até agora se pensa não existir, carecerá
obviamente de refinamentos e de complementos, mas que só o tempo determinará, procurou-se isso
criar uma ferramenta de trabalho para as tarefas ligadas às inspecções destas obras, permitindo ao
mesmo tempo a criação de uma base de dados. As páginas seguintes exibem em três diferentes
figuras uma proposta para uma ficha de inspecção de pontes metálicas.

205
Referências bibliográficas

[1] Brinckerhoff, Parsons - Bridge Inspection and Rehabilitation, a Practical Guide, 1993.

[2] Xanthakos, Petros P. – Bridge Strengthening and Rehabilitation, 1996.

[3] Troitsky, M.S. – Prestressed Steel Structures, Theory anda Design, 1988.

[4] Methods of Strengthening Existing Highway Bridges, National Cooperative Highway Research
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[5] Manual for Maintenance Inspection of Bridges – AASHTO1, 1983.

[6] Standart Specifications for Welding of Structural Steel Highway Bridges, third edition - AASHTO,
1981.

[7] Welded Highway Bridges an Analysis of Inspection Factors, HRB2 Special Report 114, 1970.

[8] Fatigue Strength of Steel Beams with Welded Stiffeners and Attachments, National Cooperative
Highway Research Program Report nº 147, 1974.

[9] Repair and Strengthening of Old Steel Truss Bridges, American Society of Civil Engineers, 1979.

[10] Rodrigues, Theotónio - Edição da Revista “Engenharia”, Pontes Volumes I e II, 1948-1949.

[11] Steinman, David B. and Watson, S. R. – Bridges and Their Builders

[12] Amaral, Francisco António – Sebenta de Materiais de Construção, FEUP3, 1978.

[13] Manual sobre Pontes V.12 (extracto) – Direcção de Conservação Divisão de Obras de Arte e
Construção Civil, C. P.

[14] Gil, A. - Deficiências das Pontes, C. P. Serviço de Pontes, 1979.

[15] Gil, A. – Vigilância e Conservação de Obras Metálicas, C. P. Serviço de Pontes,1979.

[16] Gil, A. – Principais Defeitos das Pontes Metálicas, C. P. Serviço de Pontes, 1979.

[17] Gil, A. – Parafusos de Alta Resistência, C. P. Serviço de Pontes, 1979.

[18] Gil, A. – Ligações das Longarinas às Carlingas, C. P. Serviço de Pontes, 1980.

[19] Gil, A. – Aparelhos de Apoio Metálicos, C. P. Serviço de Pontes, 1979.

[20] Principais Pontes Metálicas Ferroviárias Construídas em Portugal pela Casa Eiffel, Divisão de Obras
de Arte e Construção Civil da C. P., 1992

[21] Normas pertencentes ao Núcleo de Inspecção de Pontes da C. P.

1 American Association of State Highway and Transportation Officials


2 Highway Research Board
3 Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Conservação e Reabilitação de Pontes Metálicas

[22] Dimensões e proporções práticas dos rebites, C. P. 63, Via e Obras Sala de Estudos.

[23] Pontes Metálicas Ferroviárias, Propriedades Mecânicas – Documento interno da C. P.

[24] Revista de Obras Públicas e Minas, Tomo XII - Setembro e Outubro de 1881 n.ºs 141 e 142.

[25] Guedes Coelho, A. et al - Ponte Luiz I - Viabilidade de Utilização pelo Metro Ligeiro do Porto.
Relatório Preliminar, Relatório Interno do I.C.4, FEUP, Porto, Novembro de 1995.

[26] Guedes Coelho, A. et al - Estudo da Viabilidade de Utilização da Ponte Luiz I pelo Metro Ligeiro do
Porto. Relatório Final, Relatório Interno do I.C., FEUP, Porto, Março de 1996.

[27] Fernandes, A. A. et al – Avaliação da Resistência à Fadiga da Ponte Luiz I, estudo efectuado para o
Instituto da Construção, FEUP, Março de 1996.

[28] Oliveira, C. S. e Costa, A. G. – Ponte Luiz I, Caracterização Dinâmica da Estrutura, Ensaio Expedito,
Janeiro de 1996.

[29] Calçada, R. A. B. e Delgado, R. M. – Estudo do Comportamento Dinâmico da Ponte Luiz I Sujeita à


Passagem do Metro Ligeiro do Porto, Março 1996.

[30] Azevedo, A. F. C. e Delgado, R. M. – Ponte Luiz I, Análise Elástica de Segunda Ordem, Março 1996.

[31] Azevedo, A. F. C. e Delgado, R. M. – Ponte Luiz I, Resposta à Acção Sísmica, Março 1996.

[32] Oliveira, Fernando M. F. - Ensaios de quantificação mecânica do material da Ponte Luiz I com vista à
avaliação da sua resistência à fadiga - L.E.T., Junho de 1996

[33] Revista HISTÓ RIA, n.º 42, Abril 1982.

[34] Gazeta dos Caminhos de Ferro nº1475, 1/6/1949 – Número comemorativo da reunião em Portugal
da Comissão Permanente da Associação Internacional dos Congressos dos Caminhos de Ferro.

[35] O Início da Tracção Eléctrica na Ponte D. Luís I, Ingenium, 2ª série, n.º 15, Janeiro 1997, págs. 60-65.

[36] Costa, A. G. e Oliveira, C. S. – Caracterização Dinâmica de Pontes Metálicas Através de Ensaios


Expeditos, I Encontro Nacional de Construção Metálica e Mista, págs. 577-587.

[37] Ponte Internacional de Valença-Tuy, Reforço, Proposta/Estudo Prévio. Memória Descritiva interna do
G.E.G. - Janeiro de 1997.

[38] Landmark American Bridges, Eric Delony, Historic American Engineering Record.

[39] Revista MOPU, Guia de los Puentes de Espanã, Julio-Agosto 1987.

[40] Revista MOPU n.º 400, Historia del Ferrocarril en Espanã 1843-1992.

[41] Santos, N. E., Gomes, A. T. e Vieira, C. S. – Dimensionamento de uma Ponte Ferroviária em


Estrutura Metálica, Estruturas de Aço e Mistas, 11º Curso de Mestrado em Estruturas de
Engenharia Civil, FEUP, Janeiro 1997.

[42] Santos, N. E., Pinho, R. e Brás, L. – Dimensionamento de uma Ponte Rodoviária com um Tramo de 55
metros, Estruturas Metálicas e Mistas, 5º ano da licenciatura em Engenharia Civil, FEUP, 1995.

[43] Tabelas Técnicas - J.S. Brazão Farinha e A. Correia dos Reis, 1993.

4 Instituto da Construção

210
Referências

[44] Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes, Porto Editora.

[45] Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado, Porto Editora.

[46] Regulamento de Solicitações em Edifícios e Pontes - Decreto n.º 44 041, de 18 de Novembro de


1961 e Portaria n.º 713/71, de 23 de Dezembro - Lisboa. Imprensa Nacional Casa da Moeda.

[47] Regulamento de Estruturas de Aço para Edifícios - Imprensa Nacional Casa da Moeda 1975.

[48] Pontes Metálicas (regulamento) - Imprensa Nacional 1972.

[49] Fichas da U.I.C. - 2ª edição 1/1/1974.

[50] Documentos diversos da C. P.

[51] Documentos diversos da J. A. E.

Outras referências

[52] Conversa com o Sr. Antero Pinto da J. A. E.

[53] Conversa com o Eng.º Vítor Damião da J.A.E.

[54] Conversa com o Sr. Alberto Borges da C. P.

[55] Conversa com o Eng.º Clemente da C. P.

[56] Conversa com o Eng.º Andrade Gil da C. P.

211
FICHA DE INSPECÇÃO PARA PONTES METÁ LICAS (PROPOSTA)
Nome do responsável: Ass:
Data de inspecção: Código de projecto:
Data da última inspecção: Folha n.º
Identificação

Nome da obra: Ano de construção:


Localização:
Rodoviária : Identificação da Via:
Ferroviária: Identificação da Linha ou Ramal:
Rodoviária e Ferroviária:
Nº de tramos: Contínuos: Simplesmente apoiados:
Vigas tipo:
Pilares Metálicos: Alvenaria: Betão: Outro:
Encontros Alvenaria: Betão: Outro:
Tabuleiro Superior: Médio: Inferior: Outro:
Laje Betão: Madeira: Outra:
Passeios: Betão: Metálico
Aparelhos de apoio Metálicos: Outros:
Ligações Rebitadas: Aparafusadas: Soldadas:
Caracterização

Secções compostas: Perfis comerciais:


Vigas Pilares e encontros
Tramo altura comprimento largura pilar/enc. altura secção tipo apoio

Nºde carlingas por painel: Nº de longarinas:


Comprimento total: Altura máxima: Altura livre:
Largura da faixa de rodagem: Largura dos passeios:
Esquiço da obra com identificação das partes:
FICHA DE INSPECÇÃO PARA PONTES METÁ LICAS (PROPOSTA)
Nome do responsável: Ass:
Data de inspecção: Código de projecto:
Data da última inspecção: Folha n.º

Aspecto geral Bom: Médio: Mau:


Acesso Fácil: Dificultado: Impossível:
Alvenarias

Alinhamento Bom: Médio: Mau:


Fracturação Não existe: Alguma: Bastante:
Estalactites Não existe: Algumas: Bastantes:
Sinais de erosão Não existe: Alguns: Bastantes:
Juntas descarnadas Não existe: Algumas: Bastantes:
Aspecto geral Bom: Médio: Mau:
Acesso Fácil Dificultado: Impossível:
Descrição das avarias e identificação dos apoios
Avaria Apoio Observações
Aparelhos de apoio

Pêndulos ou rolos fora de serviço


Platinas esmagadas
Balanceiros com"cama"
Descalçamento
Martelagem
Desalinhamento
Bloqueado
Corrosão
Esmagamento das placas de chumbo
Fracturação das alvenarias
Outras
Aspecto geral Bom: Médio: Mau:
Juntas de dilatação

Descrição das avarias e identificação das juntas


Avaria Junta Observações
Com folga
Desalinhada
Com efeito de degrau
Sinais de impacto
Corrosão
Outras
Aspecto geral Bom: Médio: Mau:
Pintura Bom estado: Média: Má:
Corrosão Não existe: Pontual: Avançada:
Limpeza Boa: Média: Má:
Sistemas de drenagem Existem: Não existem:
Estrutura metálica

Via Bom estado: Fissurada: Fracturada:


Passeios Bom estado: Médio: Mau:
Guardas Bom estado: Médio: Mau:
Avarias na superestrutura Localização Observações
Corrosão
Perda de secção
Deformações
Fissuras
Perda de elementos de ligação
Acumulação de detritos
Sinais de choques
Outras
FICHA DE INSPECÇÃO PARA PONTES METÁ LICAS (PROPOSTA)
Nome do responsável: Ass:
Data de inspecção: Código de projecto:
Data da última inspecção: Folha n.º

Ensaios efectuados: Sim: Não:


Breve descrição:
Ensaios
Observações

Descrição:
Avarias a detalhar

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