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Engenharia Civil
Júri
Presidente: Professor Doutor Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida
Outubro de 2017
“You need to spend time crawling alone
Shaun Hick
I
II
Resumo
As fachadas em betão pré-fabricado permitem uma redução do desperdício em obra, uma redução da
intervenção humana (industrialização) e uma aceleração do processo de conclusão da obra. Estas
vantagens das fachadas em betão pré-fabricado são coincidentes com alguns dos desígnios da
construção em todo o mundo, podendo dizer-se que se trata de uma tecnologia com potencial de
crescimento no futuro. A presente dissertação apresenta uma pesquisa ao nível técnico e normativo,
sobre painéis de fachada pré-fabricados em betão e a sua patologia.
Para aprofundar o conhecimento sobre a patologia destas fachadas foram desenvolvidos inquéritos
às empresas de pré-fabricação de betão. De modo a enquadrar as anomalias dos painéis de fachada
pré-fabricados em betão e perceber os problemas de uma forma global, as questões nos inquéritos
foram elaboradas com crescente especificidade, iniciando-se com uma abordagem geral do mercado
da pré-fabricação e finalizando com as causas das anomalias dos painéis de fachada. Foram também
realizadas inspecções visuais a edifícios, recorrendo a fichas de inspecção.
Foi possível constatar que o mercado da pré-fabricação de betão é dominado por pequenas e micro
empresas, com reduzida especificidade, apresentam a certificação de produto, marcação CE, como
certificação mais usada e fase de fabrico é considerada como estando na origem das principais
anomalias. As manchas e os defeitos de planeza foram considerados os defeitos mais importantes.
Os casos de estudo permitiram revelar a importância das fissuras como anomalia muito significativa e
destacar a importância e o rigor necessários em cada fase da pré-fabricação.
III
IV
Abstract
Precast concrete facades allow a waste reduction on the job site, a reduction of human intervention
(industrialization) and an acceleration of the process of "delivery" of the work. These advantages of
precast concrete facades coincide with some of the building goals around the world, which can be said
to be a technology with future growth potential. The following dissertation presents a research at the
technical and normative level, to understand the state of the art in relation to precast concrete facade
panels and their problems.
To deepen the knowledge about these facades pathology, surveys were made among precast
concrete companies. To put in perspective the pre-fabricated concrete facade panels anomalies and
understand the problems in a global way, questions in the surveys were elaborated with the increasing
specification, starting with a general approach of the precast market and finishing with the causes of
facade panel anomalies. Visual inspection of buildings was also carried out using inspection
worksheets.
It was possible to verify that the precast concrete market is dominated by small and micro enterprises,
with low specificity, present the product certification, CE marking, as the most used certification and
the manufacturing phase is considered to be the origin of the main anomalies. Flat spots and defects
were considered the most important defects.
The case studies revealed the importance of fissures as a very significant anomaly and highlight the
importance and rigor required at each stage of precast.
V
VI
Agradecimentos
Esta dissertação é o culminar de um percurso académico com muitos altos e baixos, e bastante
longo. Durante este percurso, muitas foram as pessoas que contribuíram e me acompanharam para o
final feliz desta importante etapa da minha vida. Entre as quais destaco:
O Engenheiro Romeu Reguengo, da empresa Concremat, pela partilha de informação sobre os casos
de estudo, disponibilidade e possibilidade de visitar as obras com PFPB.
O Engenheiro Rui Pragosa, da empresa Aníbal Oliveira Cristina Lda, pela partilha de conhecimentos,
disponibilidade e possibilidade de visitar a obra da superfície comercial em Montemor-o-Novo.
O Professor Luís Castro, pela disponibilidade, pela partilha de experiência, pelo esclarecimento de
dúvidas e pelas palavras de incentivo e motivação numa altura tão complicada, do meu percurso
académico.
À minha mãe, pela presença constante, apoio permanente e incentivo, compreensão, paciência,
carinho e persistência, que permitiram chegar ao fim.
Aos meus avós Maria Casimira e Leandro Alberto, pelo apoio permanente, pela coragem em dizerem
o que pensam, pela humildade, pela lição de vida e pela sua casa ser sempre um porto seguro. Ao
meu avô, que apesar de já não estar entre nós, ser a minha referência. A eles, dedico a minha
dissertação.
O meu primo Carlos e o filho Pedro, pelo apoio incondicional e permanente sob as mais variadas
formas.
À minha irmã e aos meus sobrinhos, que entretanto nasceram, pelo carinho, e por se tornarem em
mais um motivo, para ser mais e melhor.
VII
O Ricardo, pelo apoio e motivação, pela paciência, pelas revisões e críticas construtivas aos
capítulos, e pela grande amizade.
O Nélson, pelo apoio e motivação, pela paciência, por ter partilhado a sua experiência e
conhecimentos, por ter sido tantas vezes o meu “coach” e pela grande amizade.
À Andreia e a Isabel, por terem sido um apoio constante no meu percurso académico e muito mais
que isso.
À Marta, pelo carinho, pela compreensão, amizade e por apesar de não termos o mesmo tipo de
relação, ter também sido um exemplo para mim.
Por fim, gostaria de agradecer a todos aqueles que se cruzaram no meu percurso, ou que de algum
modo me influenciaram a chegar até aqui.
VIII
Índice
Resumo .................................................................................................................................................. III
Abstract.................................................................................................................................................... V
1 Introdução ........................................................................................................................................ 1
3 Inquéritos ....................................................................................................................................... 29
IX
4.2 Metodologia utilizada ..................................................................................................................43
4.3 Caracterização dos casos de estudo .........................................................................................43
4.3.1 Caso A ........................................................................................................................... 45
4.3.2 Caso B ........................................................................................................................... 46
4.3.3 Caso C ........................................................................................................................... 47
4.3.4 Caso D ........................................................................................................................... 50
4.4 Discussão e síntese dos resultados ...........................................................................................50
4.4.1 Caso A ........................................................................................................................... 50
4.4.2 Caso B ........................................................................................................................... 53
4.4.3 Caso C ........................................................................................................................... 55
4.4.4 Caso D ........................................................................................................................... 58
4.4.5 Análise Crítica ................................................................................................................ 60
4.5 Proposta de classificação de anomalias ....................................................................................62
4.6 Conclusões do capítulo ..............................................................................................................62
Anexos ..................................................................................................................................................... A
X
Índice de figuras
XI
FIGURA 4.21- VISTA DA FACHADA PRINCIPAL DA SUPERFÍCIE COMERCIAL. É VISÍVEL A SEPARAÇÃO ENTRE O PARAMENTO SUPERIOR E O
PARAMENTO INFERIOR ........................................................................................................................................ 52
FIGURA 4.22- PONTOS DE FERRUGEM À SUPERFÍCIE DO PARAMENTO INFERIOR. SÃO TAMBÉM VISÍVEIS MANCHAS DE ESCORRÊNCIA
SUPERFICIAL ..................................................................................................................................................... 52
FIGURA 4.23- PONTOS DE OXIDAÇÃO À SUPERFÍCIE DO PARAMENTO SUPERIOR NA FACHADA PRINCIPAL DA SUPERFÍCIE COMERCIAL .. 53
FIGURA 4.24- PONTOS DE OXIDAÇÃO À SUPERFÍCIE DO PARAMENTO INFERIOR (OUTRA VISTA). SÃO TAMBÉM VISÍVEIS MANCHAS DE
ESCORRÊNCIA SUPERFICIAL .................................................................................................................................. 53
FIGURA 4.25- PONTOS DE OXIDAÇÃO NA FACHADA LATERAL. FRACTURAÇÃO DO BETÃO JÁ VISÍVEL COM GEOMETRIA CONCÊNTRICA.. 53
FIGURA 4.26- PONTOS DE OXIDAÇÃO E FRACTURAÇÃO CONCÊNTRICA DO BETÃO. É TAMBÉM VISÍVEL A TRANSPARÊNCIA DE AGREGADOS
(CANTO INFERIOR ESQUERDO) .............................................................................................................................. 53
FIGURA 4.27- FACHADA PRINCIPAL DO EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS COM MANCHAS VISÍVEIS ........................................................ 55
FIGURA 4.28- FACHADA PRINCIPAL DO EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS COM MANCHAS VISÍVEIS ........................................................ 55
FIGURA 4.29- FACHADA PRINCIPAL (EXTREMIDADE INFERIOR ESQUERDA) COM MANCHAS VISÍVEIS NOS PAINÉIS E NOS PILARES DA
FACHADA ......................................................................................................................................................... 55
FIGURA 4.30- FACHADA PRINCIPAL EM 13/09/2002 [W8] .............................................................................................. 55
FIGURA 4.31- FACHADA DE TARDOZ SEM ANOMALIAS APARENTES (EXTREMIDADE DIREITA) ...................................................... 56
FIGURA 4.32- FACHADA DE TARDOZ SEM ANOMALIAS APARENTES (EXTREMIDADE ESQUERDA) .................................................. 56
FIGURA 4.33- COLOCAÇÃO DE PFPB NA POSIÇÃO FINAL COM RECURSO DE GRUA E CABOS DE AÇO ............................................ 56
FIGURA 4.34- DESAGREGAÇÃO DO BETÃO NA EXTREMIDADE DO APOIO PARA A LAJE ............................................................... 57
FIGURA 4.35- DESAGREGAÇÃO/DESTACAMENTO NA SUPERFÍCIE DE UM PAINEL. SÃO AINDA VISÍVEIS OS PRUMOS QUE LHE SERVEM DE
SUSTENTAÇÃO................................................................................................................................................... 57
FIGURA 4.36- MANCHAS NA SUPERFÍCIE DOS PAINÉIS ....................................................................................................... 57
FIGURA 4.37- PORMENORES DO PROJECTO DE ESTRUTURAS DOS PAINÉIS.............................................................................. 57
FIGURA 4.38- AMPLIAÇÃO DO PORMENOR DO ACABAMENTO, RETIRADO DO PROJECTO (FIG.4.37) ........................................... 58
FIGURA 4.39- FACHADA FRONTAL DO EDIFÍCIO PRINCIPAL DO EDIFÍCIO DE HABITAÇÃO NA COSTA DA CAPARICA (PARALELA À LINHA DE
COSTA) ............................................................................................................................................................ 59
FIGURA 4.40- FISSURAÇÃO E DESTACAMENTO DO BETÃO. É POSSÍVEL VER TAMBÉM O VARÃO JÁ OXIDADO .................................. 59
FIGURA 4.41- FISSURAÇÃO DO BETÃO EM PORMENOR (AMPLIAÇÃO DA FIGURA 4.39) ............................................................ 60
FIGURA 4.42- FISSURAÇÃO E DESAGREGAÇÃO DO BETÃO. MANCHA DE COR ALARANJADA TAMBÉM VISÍVEL ................................. 60
FIGURA 4.43- FISSURAÇÃO DO BETÃO EM PORMENOR (AMPLIAÇÃO) ................................................................................... 61
FIGURA 4.44- SEPARAÇÃO DE BETÃO E MANCHA ALARANJADA NA SUPERFÍCIE DE BETÃO .......................................................... 61
XII
Índice de tabelas
TABELA 2.1- IMPERFEIÇÕES DE COR MAIS COMUNS E AS SUAS CAUSAS (FIB, 2003) ................................................................ 16
TABELA 2.2- TAMANHO MÁXIMO E QUANTIDADE DE FRACTURAS VISÍVEIS EM SUPERFÍCIES DE BETÃO .......................................... 17
TABELA 2.3- NORMAS MAIS RELEVANTES NO PROCESSO DE PRÉ-FABRICAÇÃO DOS PAINÉIS DE FACHADA ...................................... 25
TABELA 4.1- PROPOSTA DE “CHECKLIST” DE ACORDO COM A PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO (1ªPARTE) ....................................... 63
TABELA 4.2- PROPOSTA DE “CHECKLIST” DE ACORDO COM A PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO(2ªPARTE) ........................................ 64
XIII
XIV
Abreviaturas
PF - Painéis de fachada
BA - Betão arquitectónico
XV
1 Introdução
A pré-fabricação é uma das duas grandes vias de construção industrializada, que teve viabilidade
económica após a 2ª Guerra Mundial. A evolução da pré-fabricação, de uma maneira geral, e
nomeadamente em França (CSTB, 1997), fez-se através de um primeiro período de 1947 até meados
da década de 70, com o começo da industrialização da construção, marcado pela quantidade e pela
necessidade da massificação da construção. Um segundo período ocorreu a partir de meados da
década de 70, no qual a qualidade se foi sobrepondo à quantidade. Em Portugal, embora com atraso,
houve um desenvolvimento mais intenso da pré-fabricação pesada a partir de 1964 até meados da
década de 70. Nesta altura estimava-se haver uma carência de 500.000 fogos, representativos de
uma significativa carência no sector da habitação e que este desenvolvimento contribuiu para
colmatar (Pinto, 2000).
I
ii. Com os inquéritos pretende-se também, compreender quais as principais anomalias nas
superfícies das fachadas pré-fabricadas em betão, as suas origens e os principais factores que
contribuem para o aparecimento das mesmas anomalias.
iii. Com os casos de estudo, pretende-se ilustrar casos reais de anomalias de betão
arquitectónico, tratado e não tratado, nos PFPB; pretende-se ainda entender o impacto que o
processo de pré-fabricação dos PFPB, pode ter no produto final. Para esta compreensão, as
anomalias são analisadas e caracterizadas, através dos critérios de patologia de betão.
No presente capítulo, faz-se uma explicação do tema abordado na dissertação, destacando o seu
enquadramento no quotidiano e relevância no panorama da construção nacional.
Em anexo, são incluídas algumas das normas importantes para os painéis de betão pré-fabricado, as
questões dos inquéritos e as fichas de inspecção para os quatro casos de estudo.
3
4
2 Patologia e inspecção de elementos pré-fabricados
O betão aparente ou betão arquitectónico define-se segundo Moreira (1991), como “todo aquele cujas
superfícies vistas não sejam recobertas por qualquer material aplicado após a descofragem, com
exclusão de tintas e vernizes. Em particular, vai ser abordado o betão aparente não tratado, ou seja,
o betão exposto por descofragem em que os paramentos não têm qualquer tratamento posterior,
segundo o mesmo autor.
São também causas fundamentais da não qualidade dos edifícios: a falta de sistematização do
conhecimento; a ausência de informação técnica; a inexistência de um sistema efectivo de garantias
e seguros; a velocidade exigida ao processo de construção; as novas preocupações arquitectónicas;
5
a aplicação de novos materiais, sem que previamente tenha havido um estudo de caracterização
experimental do seu desempenho; e a não existência na equipa de projecto de um especialista em
física das construções.
É necessário inverter esta situação nas próximas décadas, o que exige: o desenvolvimento de
metodologias para a elaboração de projectos de reabilitação de edifícios, a implementação de
estudos de diagnóstico suportados por medições in situ e em laboratório, o conhecimento das
anomalias mais correntes, o conhecimento do desempenho dos materiais e tecnologias utilizadas em
reabilitação, bem como a elaboração de cadernos de encargos exigenciais (Freitas, 2003).
O interesse por sistemas pré-fabricados tem aumentado na indústria da construção. Os motivos que
impulsionaram esta tendência foram as vantagens inerentes a este tipo de produção que permitem
alcançar objectivos impossíveis de cumprir com o método tradicional. Os benefícios principais deste
tipo de sistema são a rapidez de execução em obra e a qualidade das peças produzidas. Este tipo de
produção racionalizada foi transposto para a produção de fachadas, emergindo novos sistemas e
tecnologias (Fernandes, 2008).
A 2ª Guerra Mundial, devido à sua significativa destruição, trouxe a necessidade da rápida construção
de casas, tanto na Europa como na América e foi por isso um ponto importante para a evolução
técnica da pré-fabricação, associada ao grande desenvolvimento verificado na indústria devido aos
esforços da guerra. Era necessário construir bem e depressa mas com qualidade, para que não se
cometessem erros passados em que as construções pré-fabricadas não correspondiam aos padrões
de qualidade exigidos, tendo sido, por essa razão, deixadas ao “abandono”. Surgem então, inúmeros
esquemas de sistemas de construção pré-fabricada, os quais submetidos a um controle oficial
oportunamente estabelecido, deram origem a algumas dezenas de protótipos reproduzidos depois em
construções definitivas. Com a construção massificada foi possível corrigir erros de concepção e
trazer uma evolução significativa, às técnicas de pré-fabricação (Pereira, 2010).
6
A competitividade no ramo da construção obrigou as empresas a uma constante actualização e
desenvolvimento tecnológico, e à criação de novos processos construtivos com vista a uma maior
eficiência e economia. Um dos grandes problemas que a construção enfrenta é a escassa
industrialização do ramo, pela necessidade da realização de muitas tarefas “in loco”(Alves, 2008).
Pode-se afirmar que a indústria da construção vai sofrer a evolução natural de cada vez mais se
industrializar, ou seja, “vai desenvolver métodos baseados essencialmente em processos
organizados de natureza repetitiva, nos quais a variabilidade incontrolável e casual da cada fase de
trabalho, que caracteriza as acções artesanais, é substituída por graus pré-determinados de
uniformidade e de continuidade de execução, características das modalidades operacionais ou
totalmente mecanizadas” (Couto e Couto, (2007), citado por Pereira (2010)).
Este método de produção terá um maior impacto no futuro, em comparação com as soluções
tradicionais, se houver uma maior informação e aprovação por parte dos projectistas (Alves, 2008). É
aqui que a pré-fabricação assume um papel fulcral e mostra que é o caminho a ser tomado no futuro
para uma construção mais eficaz, de maior qualidade e mais competitiva (Pereira, 2010).
As soluções designadas por soluções mistas compõem o pré-fabricado com o moldado no local,
podendo no entanto, esta definição abarcar casos que englobam o pré-moldado com outros sistemas
construtivos. A interface entre o sistema pré-moldado e outro sistema construtivo é perfeitamente
viável, devido à grande flexibilidade dos elementos pré-fabricados de betão [W1].
Em Portugal, a utilização da pré-fabricação na construção ainda não tem tanto significado como o
registado em outros países da Europa e do resto do Mundo (ANIPB, 2008). Um dos principais
entraves para que a pré-fabricação seja implementada, é o facto da mão-de-obra em Portugal ser de
baixo custo, o que faz com que grande parte das construtoras não tenha interesse em investir em
mão-de-obra especializada e nas tecnologias necessárias para executar a pré-fabricação, que
necessita de ter grande rigor tanto em fase de projecto como na fase de execução. Existe ainda o
facto de haver uma tendência para os arquitectos deixarem um cunho pessoal ao procurarem fazer,
para cada edifício que projectam, uma obra singular, em detrimento de actuarem numa óptica de
repetições de processos construtivos. Esta situação dificulta a utilização da pré-fabricação, que para
7
ser rentável necessita de uma quantidade mínima de elementos iguais a fabricar, o que não se tem
verificado, conduzindo a que a pré-fabricação não se consiga impor em Portugal (Pereira, 2010).
i) Vantagens da concepção
8
iii) Vantagens da execução em fábrica:
9
A qualidade final da execução é outro ponto importante, que tem como objectivo responder cada vez
melhor às expectativas dos donos de obra e utilizadores, sendo cada vez mais valorizada (Alves,
2008). À medida que as inovações de projecto e maquinarias aumentam de produtividade, as
vantagens destacam-se. Quando as peças são executadas em fábricas especializadas pode-se
contar com inúmeras vantagens associadas, em comparação com os métodos tradicionais.
Actualmente, em Portugal, é possível adquirir produtos pré-fabricados com Certificado de Qualidade,
que obedecem às exigências da Norma NP EN ISO 9001:2000 (Alves, 2008).
As ligações entre as peças e o seu comportamento, que por vezes é difícil de prever, podem
tornar-se numa desvantagem aquando da opção pela pré-fabricação (Cunha, 2011).
As soluções industrializadas têm vindo a ser progressivamente mais utilizadas, por serem
economicamente viáveis e atenderem a cronogramas cada vez mais rígidos, respeitando a liberdade
arquitectónica, a criatividade e a plasticidade [W1].
Nos últimos anos tem-se assistido a um desenvolvimento acentuado de novos betões, resultante da
investigação levada a cabo nas diversas áreas que integram o seu processo construtivo, As
inovações introduzidas induziram, consequentemente, uma renovação das tecnologias de
acabamentos de superfícies em betão e introduziram na gíria da construção o conceito algo vago de
Betão Arquitectónico [BA].
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O BA tem assim por génese os diversos avanços tecnológicos mais recentes que o material tem
vindo a sofrer, nomeadamente ao nível dos materiais constituintes e das tecnologias de fabrico com
destaque para a pré-fabricação (Faria & Inácio, 2007).
O BA possui exigências de ordem técnica intrínsecas ao material superior aos betões correntes
apenas com funções estruturais. Têm que apresentar uma maior homogeneidade, opacidade,
compacidade e durabilidade de aparência, pelo que existe objectivos de se atingir um bom
desempenho durante o ciclo de vida (Faria & Inácio, 2007). Segundo Marques (2012), as
características intrínsecas dos painéis de betão pré-fabricado, dão origem a uma presença de
anomalias nestas superfícies, menos significativa, do que em superfícies de betão feito in situ.
De acordo com NPCA (2012), os tipos de painéis pré-fabricados geralmente mais usados como
revestimento exterior de edifícios de pré-fabricado são os painéis autoportantes, (Figuras 2.1 e 2.2,)
painéis de cisalhamento e painéis de cortina ou de revestimento. Estes painéis resistem e transferem
cargas de outros elementos e não podem ser retirados sem alterar a estabilidade do edifício.
Figura 2.1- Pormenor de parede com vazios Figura 2.2- Detalhe da figura anterior com
(Daab, 2008) pormenor de folhas impressas (Daab, 2008)
Os painéis de cortina ou de revestimento, Figura 2.3, são os mais usados para o fecho dos edifícios,
e não transmitem cargas verticais, exceptuando o peso próprio. São projectados para resistir ao vento
e às forças sísmicas resultantes do seu peso.
Os painéis de cisalhamento, Figura 2.4, resistem às cargas laterais quando se combina o seu peso
com a acção de diafragma das lajes de piso. A eficácia destes painéis é largamente dependente das
conexões entre painéis.
11
Por vezes usam os painéis pré-fabricados como cofragens para betão betonado in situ. Enquanto
estes painéis servem como forma e servem também de acabamento, o betão in situ vai ter função
estrutural (Gaudette, 2009). Os painéis de betão pré-fabricados assumem um carácter estrutural
assim como o betão in situ. No caso dos elementos pré-fabricados- pré-lajes- que possuem
armaduras, e que após serem colocadas na posição final, são betonadas e vão aguentar o peso do
betão complementar colocado por cima até ficar tudo autoportante.
Figura 2.3- Edifício em construção com Figura 2.4- Edifício construído com
painéis autoportantes. Colorado, USA painéis autoportantes já concluído.
(PCI, 2007). Colorado, USA (PCI, 2007).
As ligações entre painéis são essencialmente metálicas e quanto à sua forma de fixação podem ser
soldadas, aparafusadas e ancoradas. Devem apresentar características de ductilidade, resistência
mecânica e resistência à corrosão. Quanto ao tipo de fixação podem ser de alinhamento, de apoio
vertical e de apoio lateral segundo FIB (2011) citado por Marques (2012).
Proceder a uma reparação sem um diagnóstico correcto das causas, frequentemente leva à
eliminação dos sintomas de uma forma ineficaz e temporária e consequentemente ao seu
reaparecimento, ou até, a intervenções inadequadas que podem piorar a situação já analisada
(Ribeiro et al, 2003).
12
Figura 2.5- Edifício com painéis de Figura 2.6- Exemplo de painéis de cortina
cisalhamento. Sarasota, Florida (PCI, ou revestimento. Huntington Avenue,
2007) Boston, Massachusetts (PCI, 2007)
Segundo Piferi (2006), as fachadas de betão arquitectónico sem defeitos são praticamente
impossíveis. No entanto é possível estabelecer limites, para que esses defeitos possam ser ou não
aceites. Este autor refere que o estabelecimento destes limites é complexo, em particular para os
defeitos e anomalias que possuem um carácter estético, devido à subjectividade dos julgamentos
qualitativos.
O aspecto final da superfície depende do tipo de constituintes do betão - cimento, água, areia,
agregados e aditivos – e da relação entre eles, da grande variedade de moldes que podem ser
usados, das diferentes técnicas de moldagem (orientação das superfícies expostas durante o fabrico
e procedimentos de compactação, entre outros) (Inácio, 2005).
Neste contexto, Piferi (2006) divide as anomalias, de forma genérica, em estéticas e de forma e
superfície.
A tonalidade do betão é influenciada pelo tipo de cimento, pela superfície do molde, pela cor dos finos
e pela relação a/c. Com o uso de diferentes pigmentos corados e agregados, o betão pode ser
produzido com praticamente qualquer superfície corada de betão. Uma certa variação de cor é
normal em superfícies de betão. Até uma superfície cinzenta de betão tem variações na tonalidade e
na cor. A norma ISO 2470 classifica a brancura do betão numa escala de 0 a 100, em que ao valor
100 se considera o branco e ao valor 0 se considera o preto. Um betão branco encontra-se, nesta
escala, com um valor de 75-80 e um betão Portland normal encontra-se com um valor de 24-30.
O sistema CIELAB Colouring System é um sistema de medida que pode ser usado na avaliação de
superfícies de referência tanto em betão cinzento como em betão corado. Estes sistemas, são muito
precisos mas envolvem um esforço considerável, bem como um custo elevado, justificando-se o seu
uso, apenas em obras de significativa importância, em que sejam exigidos elevados níveis de
controlo da cor. A um nível mais prático, o controlo da cor pode ser especificado sobre uma superfície
de betão usando como referência um painel de teste ou quadro que mostra a gama de tons.
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Para betões cinzentos ou levemente corados, o relatório CIB W-29 nº 24 “Tolerances on blemishes of
concrete” (CIB report no. 24, 1973) pode ser usado para avaliar a superfície acabada. A aceitação
de coloração de determinada superfície vai variar consoante a classe de acabamento que se
pretende dar à referida superfície. De acordo com relatório CIB W-29 nº24, para as superfícies da
classe AA e classe A poderá haver uma discrepância máxima de 2 tons e na classe B, de 3 tons. A
comparação é feita com o betão seco, à sombra e visto a uma distância mínima de 3 metros da
superfície.
Para superfícies de betão coradas, o método mais prático é usando o painel de teste. Este deverá ser
parte integrante da documentação de projecto podendo ser usado como mecanismo de controlo. O
painel deverá ser largo o suficiente de modo a mostrar a amplitude de tons aceitáveis. As variações
entre o painel de teste e a superfície do edifício podem ser inspeccionadas e avaliadas segundo os
critérios de aceitação especificados.
Imperfeições em superfícies de betão corado são muito difíceis de resolver. Os métodos para resolver
estas imperfeições, vão depender da classe de acabamento requerida e do tipo de betão usado e
podem variar de projecto para projecto. Para superfícies cinzentas, a rectificação pode ir, desde
fricção ou lapidação à superfície para menores descolorações até revestimentos com base de
cimento aplicado em casos de imperfeições severas. Para a rectificação de superfícies coradas, as
opções são muito limitadas e qualquer coisa que não seja uma pequena imperfeição pode requerer a
aplicação de um acabamento sobre a totalidade da superfície. Para dar uma cor mais homogénea da
superfície, recomenda-se que a pasta de cimento endurecido seja removida das superfícies coloridas
através de algum tipo de tratamento ou decapagem ácida (FIB, 2007).
Dentro da estética, a uniformidade das superfícies tem uma relevância significativa e as imperfeições
mais correntes são: indentações, poros, nódulos, cavidades, destacamento, zonas de cicatriz na
costura do molde e zonas de curvatura e ondulação da superfície (FIB, 2007). De seguida especifica-
se cada um destes defeitos (BY 40 (2003), citado por FIB, (2007)):
14
indentações - causadas pela falta de nivelamento entre as placas de forma. Caracterizam-se
por uma dimensão que mede o desnivelamento entre as superfícies;
poros - pequenas cavidades redondas criadas por bolhas de ar ou água, que se acumularam
junto da superfície. Caracterizam-se por largura e profundidade (Figura 2.7);
separação da superfícies exterior ou outros defeitos - usualmente causadas por um
destacamento, reduzida percentagem de finos ou insuficiente vibração. Caracterizam-se por uma
área, ou seja duas dimensões (Figura 2.8);
curvatura e ondulação da superfície - causadas pela falta de nivelamento da superfície do
molde (nódulos, cavidades e poros não fazem parte deste desvio). Caracterizam-se pela máxima
medida do desvio por cada 1,5m (FIB, 2007);
A Tabela 2.1 descreve imperfeições de cor típicas e suas causas prováveis de acordo com FIB
(2003).
A fracturação da superfície do betão pode influenciar a durabilidade da estrutura para além de poder
constituir um problema estético. Fracturas com aberturas inferiores a 0,05 mm são denominadas
micro-fracturas e normalmente não são consideradas. Neste documento não serão igualmente
consideradas. Fracturas com aberturas de 0,3 mm são consideradas mais normais e precisam de
algum tipo de tratamento para superar a durabilidade e/ou problemas estéticos. A tabela 2.2 (BY 40,
2003) menciona alguns valores limite para fracturas visíveis. O primeiro valor na tabela, significa a
2
largura da fractura e o segundo significa comprimento total da fenda numa área máxima de 1 m .
Fracturação abaixo 0,05 mm não é tida em conta. Em superfícies revestidas, fracturas não podem ser
observadas após a aplicação do revestimento. Os requisitos de durabilidade são avaliados
separadamente (FIB, 2007).
O betão é um material que possui características que variam ao longo do tempo. A fluência e a
retracção ocorrem ao longo do tempo e são causas fundamentais que têm influência nas
deformações. É muito complicado avaliar as deformações exactas de uma estrutura.
Esta situação torna-se ainda mais significativa quando a estrutura é construída com elementos
betonados in situ e pré-fabricados, com partes fabricadas com diferentes betões, de diferentes idades
e resistências e consequentemente, com valores de fluência e retracção distintos.
Estes aspectos, somados às normais complexidades do betão, levam uma avaliação exacta das
deformações da estrutura ao longo do tempo, a tornar-se difícil e pouco rigorosa. As deformações
reais podem diferir dos valores estimados, particularmente se os valores dos momentos aplicados
estiverem próximos do momento de fendilhação. As diferenças vão depender da dispersão das
propriedades dos materiais, das condições ambientais, da história de carregamento, das restrições
impostas pelas condições de apoio, condições do solo, etc..
15
Tabela 2.1- Imperfeições de cor mais comuns e as suas causas (FIB, 2003)
Imperfeição Descrição Causa Provável
Materiais: tipo de cimento ou variação de
Variação de cor qualidade; mudança da origem dos materiais;
Variação da cor da
ao longo da variação nas misturas.
superfície
superfície Mistura de betão: variação nos processos de
mistura
Cofragem: demasiado flexível e resulta numa
Superfície aparece acção de bombeamento durante a
mosqueada com áreas compactação
Transparência
escuras de tamanho e forma
dos agregados Mistura de betão: quantidade de finos
semelhante aos agregados
insuficiente; deficiente calibração da areia
grossos
Métodos de colocação: Vibração excessiva
Superfície aparece Materiais: Agregados secos ou demasiado
Transparência mosqueada com áreas porosos
dos agregados claras de tamanho e forma
Cura: Secagem rápida da superfície devido a
em negativo semelhante aos agregados
uma cura inadequada
grossos
Variação na sombra da Cofragem: absorvência variável da superfície;
superfície devido ao fuga através das juntas
movimento da humidade Mistura de betão: elevada relação a/c; mistura
Descoloração de dentro do betão plástico. com elevada água superficial
hidratação Manchas e descolorações Agente descofrante: irregular ou usado de
tendem para ser piores no forma inadequada
topo de um elevador e nas
juntas Cura: cura irregular
Variação da cor, sombra ou Cofragem: reduzida absorção da superfície;
textura devido à separação água no fundo do molde
Descoloração de
das partículas finas e Mistura de betão: mistura de má qualidade
segregação ou
presença de água com elevada relação água-cimento
movimento de
superficial. Resulta numa
areias Métodos de colocação: Vibração excessiva do
aparência manchada da
superfície. betão; Baixas temperaturas de colocação
Cofragem: manchas, alteração de cor,
sujidade na cofragem, manchas de madeira,
ferrugem devido às armaduras ou
Descoloração do componentes de metal
Descoloração devido à
corante ou Agente descofrante: impuro ou usado de
contaminação de materiais
contaminação forma imprópria
Materiais: Sujos ou contaminados
Cura: componentes de cura impuros; água de
cura suja; coberturas de cura sujas
Além das cargas verticais e horizontais, temperatura, humidade e agentes químicos é importante
avaliar as deformações. Normalmente, a deformação ao longo do tempo é avaliada, multiplicando a
deformação devido a cargas instantâneas, por um coeficiente que tem em conta a fluência, a
retracção, o conteúdo em armadura e a duração da carga. Em lajes de piso de edifícios comuns, a
deformação a longo prazo é aproximadamente 2,8 vezes a deformação instantânea, ainda que esta
informação seja de relevância pouco significativa, num texto que aborda essencialmente o envelope
exterior dos edifícios e em particular as fachadas. Actualmente, a maioria dos textos faculta maneiras
aproximadas de calcular deformações reais (FIB, 2007).
16
Figura 2.7- Poros/Vazios (NPCA, 2013) Figura 2.8- Destacamento (NPCA, 2013)
O controlo das deformações é relevante por razões estruturais. As deformações têm que ser também
controladas por razões relacionadas com o uso dos edifícios e normalmente são estas restrições que
limitam o projecto. Por exemplo, em edifícios, as restrições são requeridas para controlar
deformações de divisórias e fachadas (FIB, 2007).
17
horizontais. Limitações às deformações e curvaturas podem ser encontradas nas normas EN 13225,
e EN 1992-1-1 (FIB, 2007).
2.4.2.4. Fendilhação
As fendas são inerentes ao betão armado e a sua ocorrência não implica necessariamente
problemas. Enquanto que as fendas são normalmente, mais uma preocupação estética do que uma
preocupação estrutural, estas poderão ser um indicador de problemas no exterior, nomeadamente um
projecto inadequado ou carga excessiva.
Para elementos pré-fabricados de betão, as fendas podem ser divididas nos seguintes tipos: fendas
térmicas; fendas devidas a assentamento plástico e retracção autogénea; fendas devidas a retracção
de secagem; e fendas mecânicas (FIB, 2007).
i) Fendas térmicas
Figura 2.9- Fissuração mapeada (Daab, 2008) Figura 2.10- Fissuração (NPCA, 2013)
18
e do teor de cimento. Quanto menos calor for produzido, menores serão as hipóteses de se
formarem fendas. Betões baseados em Sulfate Resistant Portland Cement geralmente
originam temperaturas mais baixas do que betões normais baseados em cimento Portland.
Betões baseados na substituição de cimento por outros materiais nomeadamente cinzas
volantes ou escória de alto forno poderão auxiliar na redução das temperaturas mais
elevadas. O aumento do teor de cimento dá origem a maior calor e a um aquecimento do
betão e consequente expansão. O teor de cimento é designado através dos requisitos de
resistência e durabilidade. Elevados teores de cimento podem originar outros problemas, tais
como elevadas retracções de secagem e coesão excessiva (FIB, 2007).
Tipo de agregados - betão com um baixo coeficiente de expansão térmica reduz
significativamente o risco de fendilhação térmica. O coeficiente de expansão térmica do betão
é dependente dos coeficientes de expansão térmica dos agregados (FIB, 2007).
Método de cura - o método de cura pode ter influência nas fendas térmicas. Elementos pré-
fabricados de betão são normalmente cobertos por películas de polietileno até o betão chegar
à resistência à compressão pretendida. Isto minimiza a taxa de variação da temperatura e
reduz a probabilidade de fendas térmicas (FIB, 2007).
Fendas devidas a assentamento plástico, aparecem imediatamente depois do betão ser colocado e
são causadas pelo movimento ascendente da água para a superfície e pelo assentamento do betão.
As fendas devidas à retracção autogénea, ocorrem quando o betão ainda está húmido ou quando
ainda está num estado muito precoce (FIB, 2007).
19
iv) Fendas mecânicas
As fendas mecânicas podem ser devidas a acidentes, a manuseio incorrecto dos elementos de betão
ou projecto inadequado para resistir às acções aplicadas. Estes são geralmente, os problemas pós-
produção. As fendas que ocorrem durante o empilhamento e o manuseamento do produto podem ser
o resultado de: sobrecarga na fábrica; problemas de elevação; ou de erros de empilhamento.
As fendas que ocorrem durante a montagem podem indicar um problema mais sério e devem ser
referidas ao projectista para avaliação (FIB, 2007).
As fendas relacionam-se com, a transferência das forças de pré-esforço, para os membros de betão.
O uso mais típico do pré-esforço em construção com betão pré-fabricado, é a pré-tensão, na qual os
cabos de pré-esforço estão ancorados ao betão por ligação dos cabos ao betão. As fendas por
fragmentação, divisão e ruptura podem ocorrer nas zonas terminais dos elementos pré-esforçados
onde as forças se concentram e passam para uma distribuição de tensões linear ao longo da secção
de betão. Esta zona é conhecida como o “comprimento de transferência”. No EC-2 (EN 1992, 2004)
“comprimento de transferência” é chamado “comprimento de dispersão”.
Num elemento pré-fabricado as tensões compressivas e de tracção não são distribuídas linearmente.
Esta situação frequentemente gera tensões de pico superiores ao que é permitido para a resistência
à tracção do betão em distribuições lineares de tensão. Também ocorrem outras tensões de tracção,
perpendiculares ao eixo do elemento.
i) Fendas de divisão
As fendas de divisão resultam de forças de tracção nos cabos de pré-esforço, que são transferidas
por ligações, para o betão. Estas só podem ocorrer em elementos pré-tensionados.
As fendas de ruptura são devidas à divisão da força principal de tracção. Ocorrem muito perto dos
cabos de pré-esforço e dão origem a tensões de tracção circunferenciais.
As fendas de fragmentação resultam de uma força secundária de divisão. A força de tracção neste
caso é essencialmente vertical e muito próxima do final do elemento. Podem ocorrer em elementos
pré-tensionados e pós-tensionados. Os elementos pré-fabricados podem sofrer danos acidentais
devido ao manuseamento, a qualquer altura, desde a manufactura até à montagem em obra. Estes
danos não cobrem defeitos que surgem consistentemente de situações específicas (tal como
fissuração sistemática durante a elevação) que são, em vez disso, indicação de um projecto
defeituoso ou manuseamento inadequado. Danos acidentais que ocorrem durante a manufactura,
20
armazenamento, expedição ou montagem são difíceis de classificar e enumerar a vasta gama de
situações envolvidas.
Grandes danos ocorrem quando elementos são largados durante a montagem, ou envolvidos em
acidentes de expedição, fogos ou semelhantes situações, embora seja necessários casos de estudo
específicos (FIB, 2007).
2.4.3 Eflorescências
Flores et al. (2010) inclui esta anomalia na categoria das manchas, de cor branca, e apresenta outras
duas origens possíveis para além da existência de sais solúveis, nomeadamente a presença de
matéria orgânica nos agregados ou água de amassadura.
Segundo Nunes (2013), o agente descofrante ou os adjuvantes podem possuir na sua composição
química, elementos que potenciem o aparecimento das eflorescências. Segundo o mesmo autor, a
escolha dos mesmos deverá criteriosa e se possível previamente testada em protótipos.
Para esta anomalia ocorrer, terão que ocorrer condições de humidade propícias nos poros do betão,
para haver dissolução dos sais, aliada à pressão hidrostática que possibilite a sua migração,
evaporação superficial e posterior depósito dos sais à superfície (PCI (2007), citado por Silva (2015)).
2.4.4 Corrosão
21
armaduras de espera, pode também dar origem a estas manchas, através do aumento de volume do
aço (Nunes, 2013).
Frequentemente estas manchas, estão associadas a outros problemas, com origem na oxidação das
armaduras e consequente perda de secção, constituindo problemas de natureza estrutural. Outra
possível origem destas manchas, será a oxidação dos arames de atar, que poderão ficar virados para
fora do elemento a betonar, e ao oxidar originam pontos de ferrugem (Figura 2.12) na superfície do
elemento (Nunes, 2013).
Segundo Silva (2015) este fenómeno, pode estar associado a descasques do betão, devido à
expansão do aço, expondo as armaduras (Figura 2.13).
A oxidação das armaduras, pode estar associada a recobrimentos insuficientes, movimentação das
armaduras aquando das betonagens, colocação incorrecta de espaçadores ou erros de projecto. O
uso de cofragens inox, não permite a acumulação de corrosão, sendo por isso recomendado o seu
uso (Brito et al. (2009) e Nunes (2013) citados por Silva (2015)).
A vibração do betão deve ser um requisito a ter especial atenção, de modo a evitar manifestações
patológicas capazes de expor a armadura.
A uniformidade da cor e a intensidade da sombra são avaliadas visualmente, e por essa razão são
sujeitas à subjectividade do observador. Alguma diferença de tom entre painéis idênticos é inevitável,
mas uma variação de cor entre e dentro de painéis tem que ser mantida dentro de certos limites (PCI,
2007).
O nível de segurança requerido é definido pelos códigos (regulamentos) segundo os quais a estrutura
é projectada. Estudos prévios mostram que o nível de segurança atingido é essencialmente o
mesmo, qualquer que seja o código, e na prática as diferenças entre eles são mais devidas aos
22
coeficientes de correcção de segurança que dependem da qualidade de construção em cada país do
que questões conceptuais.
Qualquer falha, seja nas dimensões, qualidade do material ou na engenharia da estrutura, pode-se
traduzir numa redução da capacidade resistente. O principal problema é estabelecer o limite superior
para o qual o membro em questão é tecnicamente aceitável e não necessita de intervenção. Isto
naturalmente, não impede ajustes financeiros, dado que não é esperado que os criadores paguem o
mesmo preço por componentes com falhas aceitáveis, ou por elementos conformes. Mesmo onde
este limite é ultrapassado, certos elementos podem ainda ser tecnicamente aceitáveis, quando
sujeitos a reparação ou reforço. Finalmente, há um segundo e último limiar, para lá do qual a rejeição
é inevitável, porque o elemento não é tecnicamente aceitável e a reparação ou reforço, são
impraticáveis ou tecnicamente impossíveis.
Onde as características e extensão da falha são conhecidos, tal como baixa resistência do betão ou
falta de armadura, o elemento ou elementos podem ser reformulados para comparar a sua
capacidade real com os requisitos especificados. O projectista pode fazer então o julgamento racional
sobre o uso ou não dos elementos.
Onde as características da falha não forem conhecidas, uma abordagem prática e realista terá que
ser feita para resolver o problema. Na indústria da construção não existem suficientes dados
estatísticos disponíveis para realizar um estudo puro e simples, que iria fornecer uma forte base
científica para determinar a segurança de elementos imperfeitos.
2.5.2 Durabilidade
23
tratamentos comuns de superfície, embora qualquer solução tenha que ser objecto de acordo entre o
fabricante do elemento pré-fabricado e o cliente.
Outra possibilidade seria o estudo da vida útil do membro, analizando a falha específica e a condição
real do elemento, na medida em que os betões usados para pré-esforço (devido a propriedades, tais
como quantidade de cimento e relação a/c) são geralmente mais duráveis do que os seus homólogos
feitos no local. Outra consideração a ter em conta neste contexto é o ambiente envolvente.
Uma vez definidas a vida útil e as condições reais, o engenheiro de projecto está numa posição de
decidir se aceita o elemento ou elementos imperfeitos ou estuda a possibilidade de adoptar uma das
medidas protectoras mencionadas acima (FIB, 2007).
Muitos dos danos nos elementos causados durante a expedição e montagem afectam apenas a sua
aparência. Os padrões estéticos variam naturalmente de forma significativa de caso para caso e até
dentro da mesma estrutura ou tipo de elemento, os requisitos são muito dependentes da localização.
Um assunto particularmente importante é o efeito de possíveis fendas, para as quais devem ser
dirigidas duas considerações:
- Como regra geral, a maioria das pessoas pode ver uma fenda, se a sua largura, medida em
milímetros, é o mesmo valor que a distância, medida em metros, entre o observador e a superfície
com a fenda.
- Em Campbell-Allen (1979) é possível consultar as larguras admissíveis para as fendas
estéticas, em termos da distância mínima ao observador e da classe da estrutura.
Independentemente, das larguras admissíveis para as fendas estéticas, referidas no ponto
anterior, estas fendas frequentemente podem ser reparadas, de modo a restaurar o aspecto geral dos
elementos e verificando os padrões estéticos previamente aceites (FIB, 2007).
2.5.4 Normalização
As normas EN 206-1 e a EN 13670-1 completam-se, constituindo com as normas dos aços para
armadura e pré-esforço (Anexo 1), a base para a aplicação da EN 1992 Eurocódigo 2: Projecto de
estruturas de betão. A norma EN 206-1 é uma norma do produto fresco, já que o transporte,
colocação, cura e protecção deste betão são tratados na EN 13670-1, mas tem em conta as
propriedades do betão endurecido - produto final (Faria & Inácio, 2007). As normas referidas
anteriormente estão na Tabela 2.3, com os títulos e designação da Norma Portuguesa em vigor.
A norma 13369 estabelece que, os PPB devem satisfazer a EN 206-1. No anexo informativo A, a EN
13369 reclassifica as classes de exposição ambiental da EN 206-1 e estabelece as regras para fixar o
recobrimento das armaduras ordinárias e de pré-esforço, baseadas em parte na EN 1992.
24
No Documento Nacional de Aplicação da NP EN 206-1, nas matérias relacionadas com a
durabilidade do betão, introduziu disposições complementares à EN 206-1.
A norma 13369 estabelece para os produtos pré-fabricados de betão (PPB) que, a cura do betão está
ligada às classes de exposição ambiental. Esta situação implica que o fabricante saiba o ambiente a
que o PPB vai ser exposto, excepto se aplicar a classe G, que é a classe mais exigente. Segundo a
norma 13369, as armaduras ordinárias e de pré-esforço, devem estar conformes com a EN 10080 e a
EN 10138 ou com as normas ou as disposições nacionais relevantes (caso das especificações
LNEC). A EN 13369 não tem especificações para 100 anos de vida útil. No anexo 1, estão
apresentadas algumas das normas portuguesas e europeias para produtos pré-fabricados com as
designações em português.
Tabela 2.3- Normas mais relevantes no processo de pré-fabricação dos painéis de fachada
Norma europeia Título Norma Portuguesa em vigor
25
durabilidade da sua propriedade. Este plano deve definir a frequência das inspecções, se são de
rotina ou detalhadas e especificar procedimentos de teste aplicáveis, medidas correctivas que
possam ter que ser tomadas quando os parâmetros monitorizados são atingidos e a vida útil estimada
para cada elemento do edifício quer seja estrutural ou não (Ribeiro e Cóias, 2003).
i) Descrição construtiva
Um registo completo dos diferentes sistemas e elementos do edifício, deve incluir: estimativa de
critérios de projecto; materiais; estado de conservação geral; desenhos, já existentes ou feitos
propositadamente (fotogrametria) para saber a geometria do edifício e dos seus elementos; detalhes
construtivos, para explicar as juntas; e fotografias.
ii) Ambiente
O ambiente urbano e paisagem devem ser descritos de forma a conhecer a possível influência das
suas características, cobrindo os seguintes aspectos: geográfico; meteorológico; e artificial.
A “história da construção” dos edifícios deve ser incluída, de acordo com os estudos históricos
referidos anteriormente, mencionando: datas da construção; intervenções prévias e modificações do
edifício; e modificações funcionais (Flores-Colen et al., 2008).
Todos os processos patológicos têm que ser descritos para um melhor entendimento do problema e
para decidir a solução técnica correcta. De acordo com isto, em todos os processos os seguintes
items têm que ser descritos: (Monjo-Carrió et al., 2003).
Origem das causas, directas e indirectas causas directas, todas as acções externas nos
elementos de construção afectados pelo processo; causas indirectas, qualquer erro de
projecto, material ou construção.
Evolução do processo (primeira ocorrência, periodicidade, última ocorrência).
Sintoma (falha).
26
Normalmente, uma inspecção visual é feita apenas no piso térreo e a poucos metros das paredes. De
modo a sistematizar procedimentos, recomenda-se uma distância de 5 metros para uma primeira
inspecção visual generalizada. Uma inspecção mais detalhada vai permitir a obtenção de mais
pormenores sendo também necessário fazer testes de desempenho. De modo a obter-se uma
identificação precisa, registo e classificação das anomalias e respectivas causas, são usadas
normalmente tabelas e matrizes de correlação. Estas tabelas são um meio para reduzir a
subjectividade do diagnóstico, mas também uma forma de identificar as causas das anomalias e
prevenir o seu reaparecimento (Flores-Colen et al., 2008).
As inspecções a edifícios não se devem só focar nos problemas conhecidos, mas devem também ser
encaradas como um mecanismo de ajuda à manutenção periódica que é essencial para uma correcta
conservação do edifício. Embora a importância das inspecções e testes na manutenção e
conservação, seja reconhecida de uma forma geral, hoje em dia, os utilizadores e donos
normalmente só intervêm quando as anomalias já estão a afectar o edifício. Esta política apenas adia
os custos de manutenção, significando que o dono ou o utilizador terão que pagar mais no futuro,
porque as reparações precoces de anomalias são mais simples e menos dispendiosas (Ribeiro e
Cóias, 2003).
27
liberdade conceptual; resistência ao fogo e manutenção reduzida ou inexistente. A nível de vantagens
económicas, permite uma poupança de recursos humanos e uma redução do prazo da obra.
Segundo a NPCA (2012), os tipos de painéis pré-fabricados geralmente mais usados são: painéis de
cortina ou de revestimento, painéis autoportantes e painéis de cisalhamento. As ligações entre
painéis são essencialmente metálicas e quanto à sua forma de fixação podem ser soldadas,
aparafusadas e ancoradas.
As anomalias neste tipo de superfície são menos frequentes do que nos betões correntes, havendo
no entanto uma preocupação acrescida devido ao grau de exposição elevado e intrínseco numa
fachada. Apesar do incremento de qualidade, desempenho e durabilidade deste tipo de betão, as
fachadas sem defeitos são praticamente impossíveis. Entre as anomalias que se destacam,
salientam-se as manchas, as mudanças de cor e mudanças de tonalidade (anomalias estéticas) e as
fissuras (anomalias de forma e superfície). As manchas, mudanças de cor e tonalidade, são
anomalias difíceis de resolver e cuja resolução depende da importância da obra. No entanto, importa
ter em conta, que é necessário estabelecer um critério de aceitação desses defeitos, ainda que
constitua uma tarefa difícil.
As normas mais relevantes para os PFPB são a EN 14992; EN 13369; EN 206 e EN 13670 que
constituem normas para o betão. Estas normas devem ser articuladas com as normas respeitantes
aos aços.
As inspecções devem estar inseridas num plano de manutenção do edifício que deve ser pensado na
fase de projecto. A recolha de informação relativa a anteriores inspecções e intervenções, servirá de
base à identificação de anomalias e respectivas causas.
As inspecções devem reunir o maior número de elementos possível, de modo a reduzirem ao máximo
a subjectividade. As inspecções têm como base uma observação visual mas caso seja necessário
deverá recorrer-se a meios auxiliares de diagnóstico, de modo a avaliar correctamente o estado de
degradação do edifício.
28
3 Inquéritos
3.1 Objetivos
Este capítulo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos sobre as empresas e o mercado de
pré-fabricação de betão em Portugal. Pretende-se particularizar este conhecimento para as empresas
de pré-fabricação de PFPB.
Pretende-se compreender quais as principais anomalias que surgem nas superfícies das fachadas
pré-fabricadas em betão e as suas origens, mas, também, os principais factores que contribuem para
o aparecimento das mesmas anomalias.
Os destinatários dos inquéritos foram as empresas de prefabricação de betão em Portugal. Assim, foi
usada uma base de dados de empresas, cedida pela ANIPB. Nesta base de dados constavam 2 listas
com contactos, de empresas associadas à referida entidade e também as empresas não associadas
à ANIPB. A lista de empresas associadas, era composta por 34 empresas e a lista de empresas não
associadas, era composta por 99 empresas.
29
Foi informado no cabeçalho, que o questionário seria anónimo e confidencial entre os participantes,
sendo os mesmos posteriormente informados da estatística das respostas.
Independentemente dos painéis de fachada entrarem na lista de produtos fabricados por determinada
empresa, foi requerida a colaboração destas empresas, de modo a ter a noção da quantidade que se
produz de outros elementos pré-fabricados. Desta forma, é possível ter uma noção da produção de
painéis de fachada face ao restante mercado dos elementos pré-fabricados.
O questionário está segmentado em 3 partes distintas. A materialização desta ideia foi feita da
seguinte forma: 1ª parte - “Caracterização da empresa”, 2º parte - “Pré-fabricação”, 3ª parte - “Painéis
de Fachada”. No total são 14 perguntas, apresentando-se divididas por 3 partes: “Caracterização da
empresa”- 3 perguntas; “Pré-fabricação” - 5 perguntas; “Painéis de fachada”- 6 perguntas. O tempo
de resposta foi de 20 minutos. O inquérito pretende, com esta divisão de perguntas, ir do geral para o
particular.
Uma parte do questionário teve por base, um estudo da ANIPB feito às empresas de pré-fabricação
de betão, publicado em ANIPB (2008). Este estudo pretendia “efectuar uma caracterização fiável do
sector, posicionando-o face às circunstâncias actuais, nomeadamente perfil das empresas, tipologia
do mercado e dos produtos, regulamentação e marcação CE, inovação e desenvolvimento, formação
e cenários expectáveis”.
60,0%
Percentagens atribuídas a cada tipo de
50%
50,0%
40%
40,0%
respostas
30,0% Não
Não sei
20,0% Sim
10%
10,0%
0,0%
Total
Tipos de respostas
Foi possível conhecer a dimensão das empresas no território nacional por número de trabalhadores
como se pode verificar pela Figura 3.2. É possível verificar através desta figura que 90% das
empresas presentes no estudo, possuem menos de 50 trabalhadores. A observação da figura 3.2.
permite ver também que, a maioria das empresas (63%) possui entre 10 e 49 trabalhadores. Foi
31
possível concluir que o sector se apresenta algo fragmentado, com um número significativo de
pequenas empresas. Estes dados vêm confirmar o que tinha já sido estudado por ANIPB (2008),
sobre a dimensão das empresas do sector.
3%
7% Até 9
27% trabalhadores
Entre 10 e 49
trabalhadores
Entre 50 e 249
trabalhadores
63% Informação não
disponível
Ao observar a Figura 3.3 é importante destacar que as duas certificações com maior presença nas
empresas inquiridas, com as percentagens aproximadas de 40% e 77% respectivamente, dizem
respeito a certificações aplicadas em situações distintas. A certificação ISO 9001 corresponde a
certificação do sistema de gestão da qualidade e organização da empresa, a marcação CE diz
respeito a certificação de produto, respectivamente.
É possível verificar na Figura 3.3 que das 30 empresas que responderam ao inquérito, 23 possuem
certificação de produto. Este número equivale a cerca de 77% do total de empresas que
responderam, 12 empresas possuem a certificação ISO 9001, constituindo cerca de metade das
empresas que optaram pela certificação anterior (Marcação CE). Importa também esclarecer que as
empresas, ao responder, podiam identificar mais do que uma certificação tendo em conta as que
foram apresentadas no inquérito.
32
25 23
Número de empresas/respostas
20
15
12
10
5 4
2 2
Certificações
As possibilidades de resposta a esta questão, foram baseadas no estudo da ANIPB (2008). Foi
deixado, no final do inquérito uma secção de resposta aberta, caso a empresa que estivesse a
responder achasse importante adicionar alguma informação, nomeadamente hipóteses de resposta
que não estavam presentes, tal como nesta questão nº4.
É possível verificar que, 6 empresas fazem pré-fabricação pesada com uma frequência relativa (face
ao total de pré-fabricação da empresa) que se encontra no intervalo [80 a 100%]. A pré-fabricação
pesada é o tipo de pré-fabricação onde se enquadram os PFPB. Em termos absolutos, 6 empresas
não parece ser um número significativo, mas relativamente ao total de empresas que responderam ao
inquérito, 20% parece ser um valor relevante. Esta dúvida, parece reflectir a incerteza no presente
estudo, quanto à significância estatística- amostra de 30 empresas face a uma população de 109
empresas. Assim, o raciocínio lógico de um estudo desta natureza, que seria, inferir para a
população, através do comportamento da amostra, deverá ser questionado.
33
A observação da Figura 3.4 permite verificar que, cerca de metade das 30 empresas inquiridas
produzem, uma pequena parte (0-20%) dos três tipos de pré-fabricação o que significa que 15
empresas fazem os 3 tipos de pré-fabricação com baixas frequências relativas [0-20%] (face ao total
de pré-fabricação da empresa). Esta percentagem de empresas (50%) é um valor significativo, que
permite concluir que há um número relevante e muito próximo, de empresas, que realizam os 3 tipos
de pré-fabricação.
De modo a saber qual o posicionamento que cada empresa tem no mercado, foi questionada qual a
cota de mercado dos produtos fabricados pelas empresas. O conhecimento da cota de mercado das
empresas, enquadra-se no objectivo do sector do questionário em que a pergunta se insere ou seja, o
incremento do conhecimento sobre o mercado da pré-fabricação. Uma questão desta natureza
impõe-se, porque as empresas, essencialmente por razões de competitividade do sector, não
divulgam estes dados. O resumo das respostas pode ser visto na Figura 3.5. É possível ver nesta
figura que apenas cerca de 17% das 30 empresas inquiridas, apresenta produtos com cotas de
mercado com uma frequência relativa (face à produção nacional total do produto em causa) mais alta-
[75-100%].
16 15
14 14
14
12
10
nº de empresas
8
Pesada
6 6
6 Leve
5
4 4 4 4 4 Seriada
4 3 3
2 2
2
0
80-100% 60-80% 40-60% 20-40% 0-20%
Percentagens relativas de cada tipo de pré-fabricação, em relação ao total de
produção de cada empresa
A observação da Figura 3.5 permite verificar também que as cotas de mercado de mais de metade –
52% - das empresas inquiridas, apresentam valores de [0-10%] e [10-25%]. Esta cota de mercado é
dada pelas frequências relativas de determinado produto pré-fabricado face ao seu total nacional.
34
No sentido crescente de refinamento da informação obtida com o questionário, e ainda dentro do
conhecimento do sector da pré-fabricação, importa saber em termos de produção qual era o negócio
de cada empresa. Neste sentido, surge a pergunta sobre quais os três produtos mais pré-fabricados
por ordem decrescente. Com o objectivo de melhorar a compreensão dos resultados, apresenta-se as
respostas sintetizadas em 3 gráficos correspondentes à ordem decrescente de produção
respectivamente: Figura 3.6 a 3.8.
5; 17% 0-10%
9; 31% 10-25%
5; 17% 25-50%
50-75%
4; 14% 6; 21% 75-100%
Através das referidas figuras, verifica-se que os blocos de alvenaria são os produtos que mais
empresas- 8 empresas- consideram o seu produto de maior produção. Os PFPB aparecem como
sendo a opção de maior produção, para 5 empresas ou seja 16,7% do total de empresas que
responderam ao inquérito. Este valor é muito próximo do número de empresas que apresenta pré-
fabricação pesada com uma frequência relativa face à sua produção total (6 empresas), no intervalo
80-100%. A coincidência de valores pode revelar uma relação directa entre as respostas para ambas
as perguntas. Esta relação parece intuitiva, se considerarmos que nas respostas presentes nas
Figuras 3.6 a 3.8 não há outros produtos de pré-fabricação pesada, além dos painéis de fachada.
35
9 8
8
7
Escolhas das empresas para os
produtos mais pré-fabricados
6 5 5
5 4
4
3 2 2
2 1 1 1 1
1 0
0
Produtos pré-fabricados
Ainda na 2ª parte do inquérito (2ª parte- “Pré-fabricação”), cujos objectivos se encontram em, é
importante saber as normas que presidem ao fabrico dos produtos mais realizados por cada
empresa (Figura 3.9). Observando a Figura 3.9, é possível ver que as normas EN 15037 e EN 771
[w7] são as mais usadas pelas empresas inquiridas. As normas menos usadas são: EN 13747, EN
13369, EN 772 e EN 1433 [w7].
6
5
produtos mais pré-fabricados em
5
Escolhas das empresas para os
4
4
3 3 3 3 3
3
segundo lugar
2 2 2
2
1
0
0
Produtos pré-fabricados
36
9 8
8
produtos mais pré-fabricados em terceiro
7
7
Escolhas das empresas para os
6 5
5
4 3
3 2 2
lugar
2 1 1 1
1 0 0
0
Produtos pré-fabricados
A norma EN 15037 é sobre pavimentos com vigotas e blocos de cofragem e tem 5 partes distintas. A
norma EN 15037-1 é a mais referida nas respostas, e é sobre pavimentos com vigotas e blocos de
cofragem. Parte 1: Vigotas. A norma EN 771 é dedicada às alvenarias e tem 6 partes distintas. Esta
norma será naturalmente mais usada, pelas empresas que produzem mais blocos de alvenaria. A
observação das respostas, permite ver que a EN 771-3, que tem o título “Especificações para
unidades de alvenaria. Parte 3: Unidades de betão de agregados (blocos de betão de agregados
correntes e leves)” é a norma mais utilizada. Na Figura 3.9 é possível verificar as normas mais
referidas nos inquéritos, a sua versão portuguesa (as que estão disponíveis) e o assunto no qual
incidem.
Já na parte do questionário com maior refinamento do conhecimento (3ª parte- Painéis de fachada)
que aborda a patologia de fachadas pré-fabricadas em betão, foi possível saber qual a opinião das
empresas inquiridas sobre quais as principais anomalias que afectam estes paramentos (Figura
3.10).
É possível verificar nesta figura que, cerca de 20 empresas (66,7% das 30 empresas que
responderam) consideram as manchas como uma das principais anomalias. Os defeitos de planeza
foram a anomalia que apresentou a escolha de 10 empresas (33,3% das 30 empresas que
responderam). Estes resultados estão de acordo com a classificação de Piferi (2006), com a anomalia
“manchas” a ser incluída na divisão “Patologias estéticas” e a anomalia “defeitos de planeza” a ser
incluída na divisão “Patologias de forma e superfície”, de acordo com o mesmo autor.
37
Nenhuma
Não sabe
Não responde
Norma EN 14992
Designação das normas
Norma EN 13747
Norma EN 15037
Norma EN13369
Norma EN771
Norma EN1916
Norma EN772
Norma EN1917
Norma EN1340
Norma EN1338
Norma EN1433
0 2 4 6 8 10
Número de empresas
Dentro do estudo da patologia dos painéis de fachada foi possível identificar, em que fase do ciclo de
pré-fabricação é que se origina o maior número de problemas (Figura 3.11).
Desgaste/erosão 2 1
Ninhos de agregados/chochos 10
Descasque 10
Marcas de espaçadores ou conectores 20
Esbabaçado 10
Anomalias
Desagregação 2 2
Defeitos de planeza 6 4
Eflorescências 4 2
Fissuração direccionada 3 2
Fissuração mapeada 7 1
Bolhas de pele 10
Incrustações de cofragem 2 1
Manchas 16 4
0 5 10 15 20 25
Número de empresas
Figura 3.10- Principais patologias nos PFPB, segundo a opinião das empresas inquiridas
A observação da Figura 3.11 permite verificar que em 67% das empresas inquiridas (20 empresas),
ou seja, dois terços do total, consideram que a fase da pré-fabricação é a que mais contribui para as
anomalias dos painéis de fachada. Nesta figura pode-se observar também, que 3% das empresas
38
inquiridas considera a fase de projecto, como origem das principais anomalias nos painéis de
fachada.
Foi também possível recolher informações acerca das causas que motivam o reduzido crescimento
dos índices de produção das empresas de prefabricação. Ainda na caracterização do mercado da
pré-fabricação de betão, foi possível saber as razões que levam a que os índices de produção, não
sejam mais elevados (Figura 3.12).
9; 30%
20; 67%
1; 3%
Figura 3.11- Fases da pré-fabricação que originam as principais anomalias nos painéis de
fachada
Destaca-se na Figura 3.12 como principal causa apontada pelas empresas, para os índices de
produção não aumentarem, a recessão na construção face à reabilitação. Esta mesma causa é
apontada por cerca de 22 empresas, o que representa um valor superior ao dobro do valor
apresentado pela segunda causa apontada pelas empresas- “Falta de divulgação”.
39
8
3
Causas
7
6
22
3
0 5 10 15 20 25
Número de empresas
Falta de divulgação
Falta de investigação e estudos científicos
Preço
Questões culturais
recessão na construção face à reabilitação
Escassez de mão obra especializada
Figura 3.12- Causas para os índices de produção não aumentarem
Ao inquirir-se as empresas, acerca das cotas de mercado dos seus produtos, importa ter em conta
que esta informação só seria do conhecimento de um engenheiro ou quadro da empresa. No entanto,
não havia qualquer indicação de quem deveria preencher o inquérito, sendo também este facto, uma
limitação do presente estudo. Importa igualmente dizer, que para saber a cota de mercado dos
produtos de uma empresa, é essencial ter uma noção da cota de mercado dos produtos
concorrentes. Também esta informação é de difícil acesso e constitui também uma limitação neste
estudo.
Na pergunta 6, correspondente aos produtos que cada empresa mais pré-fabrica, 2 empresas,
apresentam como produto de pré-fabricação pesada mais produzido, os blocos pavé, tubos e
manilhas.
Dentro das empresas que apresentam como produto de pré-fabricação mais produzido, os painéis de
fachada, apenas existem como já referido, 5 empresas. Uma destas 5 empresas, encontra-se a fazer
pré-fabricação pesada com uma frequência relativa de 60 a 80% face ao seu “output” total, o que é
40
significativo. Assim é possível dizer que existem 5 empresas que se dedicam quase exclusivamente
aos painéis de fachada.
Nos inquéritos foi possível verificar que as normas EN 15037 e EN 771 são as mais usadas pelas
empresas inquiridas. Estas normas são respeitantes a pavimentos com vigotas e blocos de cofragem
(EN 15037) e alvenarias (EN 771). É relevante ter atenção que, normas que foram opção de um
número significativo de empresas, são normas que regulamentam os produtos mais fabricados por
essas mesmas empresas. Em concreto, empresas que mais produzem pavimentos com vigotas e
blocos de cofragem, destacaram a EN 15037 como norma relevante, e da mesma maneira, empresas
que mais produzem alvenarias, responderam a EN 771 como norma relevante. Na pré-fabricação de
betão, naturalmente que consoante os produtos específicos que cada empresa pré-fabrica, as
normas específicas desses mesmos produtos se tornam mais relevantes. Normas como a NP EN
13670-1 “Execução de estruturas de betão” e NP EN 206-1,”Betão - especificação, desempenho,
produção e conformidade”, não são mencionadas como escolhas de normas importantes, pelas
empresas, mas são normas essenciais na produção dos PFPB.
Também a norma NP EN 13369-1 foi apenas opção para duas empresas entre as 30 empresas que
responderam aos inquéritos. Esta norma foi opção de resposta por parte de 2 empresas, que
correspondem a cerca de 7% do total. Esta norma, possui as regras mais comuns para produtos pré-
fabricados de betão, impõe regras para a cura do betão (implica o conhecimento das classes de
exposição ambiental por parte do produtor), para armaduras e recobrimentos. A importância da
referida norma é significativa para os pré-fabricados de betão e a relevância atribuída pelas respostas
de 2 empresas não parece reflectir esta importância.
Para o caso específico dos painéis de fachada, as normas mais relevantes são a NP EN 13670, EN
13369 e NP EN 206-1, como normas gerais e em particular para os painéis de fachada, a norma NP
EN 14992. Estas normas apresentam-se no Anexo1 bem como a sua versão portuguesa. Destaca-se
também para o fabrico dos PPB, as especificações LNEC, em particular E459, E452, E453, E449,
E455 a E458 e E460 respeitantes aos aços. Na figura 3.11 apresenta-se um fluxograma que indica o
assunto de cada uma destas normas e a relação entre si (Ferreira, 2008).
41
conhecimento sobre as indústrias que fazem pré-fabricação de betão em geral e que fazem os PFPB,
em particular.
Neste capítulo foi possível verificar que as empresas que apostam na pré-fabricação pesada de
painéis de fachada são em número limitado. Foi possível verificar que há 5 empresas, num universo
de 30 empresas que responderam ao inquérito, com uma produção aproximadamente exclusiva de
painéis de fachada.
As anomalias nos PFPB, segundo as empresas inquiridas, são essencialmente manchas e defeitos
de planeza. Já no “0” tinha sido proposta uma classificação para as anomalias nestas superfícies, e
que parece ser viável tendo em conta as opções de resposta das empresas inquiridas.
De modo a enquadrar a problemática da patologia dos PFPB foi necessário ter uma visão em
perspectiva do mercado da pré-fabricação de betão em geral, e para isso foram usados estes
inquéritos. O resultado obtido com esta metodologia foi o conhecimento dos fabricantes dos PFPB,
das principais anomalias, as suas origens e os principais factores que contribuem para o seu
aparecimento. Com o capítulo seguinte pretende-se analisar, através de critérios de patologia de
betão, casos reais das superfícies em estudo.
42
4 Casos de estudo
Pretende-se compreender o impacto que o processo de prefabricação dos PFPB, pode ter no produto
final, e para isso as anomalias serão analisadas e caracterizadas, através de critérios da patologia de
betão. Os casos de estudo foram visitados entre Agosto e Setembro de 2016.
A ficha de inspecção apresenta as opções mais comuns tendo em conta o §2, e permitiu fazer um
preenchimento fácil e célere, na altura da visita aos locais dos casos de estudo. As informações
foram sintetizadas e colocadas em §4.3 e as fichas preenchidas foram colocadas em anexo.
A informação para os casos de estudo foi recolhida através de inspecções visuais com registo
fotográfico nas quais se preencheram as fichas de inspecção. Simultaneamente, foi recolhida
informação junto do fabricante e dos instaladores dos PFPB, que permitiu complementar os dados
das fichas de inspecção.
Os PFPB analisados resultaram dos contactos estabelecidos com a ANIPB e com uma empresa que
se dedica exclusivamente à produção de PFPB. A referida empresa, foi uma das empresas que
colaborou no preenchimento dos inquéritos, o que permitiu também conhecer melhor o processo de
fabrico dos mesmos. O número de casos de estudo, foi o que se julgou relevante para o cumprimento
dos objectivos propostos em “ Considerações gerais”.
43
Figura 4.1- Proposta de ficha de inspecção – Dados de identificação
44
Figura 4.3- Proposta de ficha de inspecção- Anomalias e causas prováveis
4.3.1 Caso A
O caso de estudo A, superfície comercial do Montijo (Figura 4.4), tem 2 tipos de paramentos de
fachada, superior e inferior, ambos em betão arquitectónico não tratado. Trata-se de uma superfície
comercial no Montijo, de propriedade privada, que está geminada com outra superfície comercial. A
superfície comercial em estudo foi construída no ano de 2010, anterior ao edifício ao lado, que foi
construído em 2014. A superfície comercial que foi construída posteriormente, apresenta um
revestimento distinto dos PFPB e por essas razões não foi considerado.
A visita a este local foi feita no final de Agosto, num dia de calor e com baixa humidade relativa. O
edifício apresenta uma altura uniforme de cerca de 9 metros. O último metro é uma platibanda.
Foram tidas em conta, a fachada principal e de tardoz e a fachada lateral, que apresentam uma altura
uniforme de cerca de 8 metros. A fachada principal apresenta uma extensão de aproximadamente 50
metros e uma altura de cerca de 8 metros. A fachada de tardoz apresenta uma extensão de cerca de
56 metros. A fachada lateral possui 3 segmentos com aproximadamente 85 metros no total
(34+7+44).
Divididos pelas 3 fachadas existem 2 paramentos. Um paramento constituído por painéis de betão
cinzento ao nível do piso térreo até uma altura de aproximadamente 3 metros. O outro paramento em
posição superior ao anterior, como se pode ver na Figura 4.6, tem uma altura de 3 m até
45
aproximadamente aos 8 m de altura. Os painéis deste paramento eram inicialmente em betão
cinzento, mas foram posteriormente pintados de branco (Figura 4.6). A informação acerca da pintura
dos painéis foi recolhida junto da empresa que fabricou os painéis.
4.3.2 Caso B
Este edifício possui 7 pisos elevados, 3 pisos enterrados e uma altura total de cerca de 27 metros. No
2
total possui 2080 m de PFPB. A obra foi concluída em 2003. Trata-se de um edifício de escritórios
que foi concluído em 2003. As fachadas que possuem PFPB são as fachadas principal (Figura 4.9),
de tardoz (Figura 4.10) e uma das fachadas laterais (Figura 4.11). A fachada principal possui cerca de
47 metros de extensão horizontal e tem um recorte que apresenta um segmento recuado com uma
extensão de aproximadamente 8 metros, numa extremidade do edifício (Figura 4.12).
46
Figura 4.7- Localização do caso de estudo B Figura 4.8- Localização junto ao estádio de
na cidade de Lisboa Alvalade
4.3.3 Caso C
O caso de estudo C, ainda em fase de obra, apresenta os painéis de fachada em betão arquitectónico
não tratado, que seriam posteriormente pintados, mas ainda sem qualquer revestimento. O referido
caso de estudo, refere-se à remodelação e ampliação de uma superfície comercial em Montemor-o-
Novo, Alentejo (Figura 4.13 e 4.14).
47
Figura 4.11- Fachada lateral direita e vista Figura 4.12- Fachada principal (pormenor da
parcial da fachada de tardoz extremidade direita que se apresenta recuada)
O referido edifício apresenta uma superstrutura mista, constituída por pórticos e paredes. Aquando da
visita realizada, a referida superfície comercial, permanecia aberta ao público em simultâneo com o
decorrer da obra- Figura 4.15.
A ampliação do edifício, que se encontra destacado na Figura 4.6, estava a ser feita a partir da
extremidade noroeste do edifício, aproveitando-se a zona do parque de estacionamento coberto com
os toldos azuis, como estaleiro de obra. A obra encontrava-se em fase de montagem dos PFPB
(Figura 4.16 e Figura 4.17) e foi recolhida a informação junto do empreiteiro que a superfície
comercial encerraria temporariamente, quando se entrasse em fase de acabamentos.
48
Figura 4.15- Vista área do edifício do caso de
estudo B (imagem com orientação)
Os PFPB foram içados com o auxílio de uma grua (Figura 4.16), e colocados na posição visível na
Figura 4.17. Posteriormente, foram nivelados e colocados na sua posição final, fazendo uso de
cunhas e alavancas.
Figura 4.16- Levantamento e colocação em Figura 4.17- Ajuste da posição final do painel
posição final, do PFPB, com recurso a grua usando cunhas e alavancas
Para fazer a fixação ao edifício pré-existente foram usados esquadros metálicos visíveis na Figura
4.18 e foi usada uma plataforma articulada. Na Figura 4.16, é visível, no chão, um pilar pré-fabricado
que será posteriormente elevado e colocado num cabouco já feito. Durante a visita que foi feita a esta
obra foi possível presenciar a elevação de um PFPB com uma grua (Figura 4.19), a colocação no seu
local definitivo e fixação à estrutura preexistente.
49
Figura 4.18- Esquadros metálicos usados Figura 4.19- Elevação de um PFPB com grua
para fixação dos PFPB ao edifício e fixação (auxílio de grua de braço articulado,
preexistente alavancas e cunhas na base)
4.3.4 Caso D
Foi o único edifício que não foi visitado presencialmente, e o registo fotográfico foi cedido pelo
fabricante dos PFPB. A fachada principal possui cerca de 27 metros de altura, uma extensão de
aproximadamente 55 m e os PFPB encontram-se nesta mesma fachada (Figura 4.20). Apresenta
uma estrutura reticulada em betão, com 3 caves e 9 pisos acima do solo, com 60 fogos. Recorreu-se
a fundações especiais e contenções periféricas em paredes moldadas.
Na superfície comercial do Montijo foi identificada a mesma anomalia nos painéis superiores e
inferiores (Figura 4.21). Esta anomalia consiste nos pontos de coloração alaranjada, visíveis na
Figura 4.22 e Figura 4.24 (painéis inferiores) e na Figura 4.23 (painéis superiores). Esta coloração
alaranjada, consiste na deposição de óxidos de ferro na superfície de betão. Segundo Silva (2015)
estes óxidos, estão associados a problemas na estrutura, devido à redução de secção e oxidação das
armaduras. Valores insuficientes de recobrimento, erro de projecto, colocação incorrecta de
espaçadores e/ou movimento das armaduras aquando da betonagem, potenciam significativamente
este fenómeno.
50
Figura 4.20- Localização do caso de estudo D em
relação à cidade de Lisboa
.O mesmo autor refere ainda que, a oxidação poderá também ocorrer devido a um erro que ocorre
durante o processo construtivo, que consiste em deixar os arames de atar com as extremidades
“viradas para fora” do elemento a betonar, conduzindo à oxidação dos mesmos e originando a
referida anomalia.
A origem destes óxidos à superfície poderá ser também devida à presença de óxidos metálicos nos
agregados, que oxidam próximo da superfície, ou por elementos circundantes que acabam por
originar estas manchas (Coelho, 2015).
De referir que uma primeira inspecção visual, a alguns metros, pode deixar dúvidas sobre as causas
que deram origem a esta deposição de óxidos. Uma observação atenta e a menor distância das
superfícies, pormenor das Figuras 4.25 e 4.26, permite verificar que, na zona onde se origina esta
deposição de óxidos, é visível um padrão de betão fissurado concêntrico, com ausência de
descasque.
A repetição desta anomalia em vários painéis, inferiores e superiores, sempre associada ao padrão
concêntrico de fissuração do betão, fez eliminar a hipótese da origem da anomalia ser a oxidação de
armaduras resistentes (tendo em conta o posicionamento “tradicional” dos varões nestes painéis).
Desta forma, a hipótese dos pontos de oxidação originados por corrosão dos arames de atar, ganhou
mais consistência. A ausência de meios auxiliares de diagnóstico não permitiu uma análise mais
detalhada, de modo a confirmar esta hipótese. No entanto, o contacto com o fabricante dos painéis,
permitiu recolher a informação que confirmou a hipótese, destas anomalias se tratarem de facto de
pontos de oxidação.
Nas Figuras 4.25 e Figura 4.26 é possível ver em detalhe, que a coloração alaranjada característica
do óxido de ferro, passou para uma área da superfície de betão maior do que a área circunscrita pelo
betão fissurado. Esta situação, deve-se essencialmente à escorrência superficial, na fachada, da
água da chuva.
51
Figura 4.21- Vista da fachada principal da
Figura 4.22- Pontos de ferrugem à superfície
superfície comercial. É visível a separação
do paramento inferior. São também visíveis
entre o paramento superior e o paramento
manchas de escorrência superficial
inferior
No caso de estudo A, e observando com atenção as Figuras, 4.24 e 4.25, é possível ver que na zona
superior dos painéis inferiores se encontram manchas de sujidade, de coloração escura, com
deposição de diferencial partículas, de acordo com Silva (2015). Em concreto, são visíveis, zonas
alternadas sem sujidade com longas manchas no sentido do escorrimento. Segundo o mesmo autor,
o padrão não uniforme das manchas, permite indicar que as mesmas estão relacionadas com a
escorrência da água à superfície da fachada, que depende dos caminhos preferenciais de
escorrimento da água.
Esta mancha, devida à escorrência, consiste também numa anomalia estética. Esta mancha surge,
devido à contaminação da água de escorrência superficial com partículas de óxido de ferro e que são
depositadas ao longo dos trajectos por onde a água circula. Esta anomalia estética, resultante de
uma contaminação, foi já analisada no Capítulo 2, no entanto não foi referida a situação específica
em que foi encontrada na superfície comercial no Montijo. Esta mancha surge associada à anomalia
referida previamente (a corrosão ou pontos de corrosão) o que consiste num fenómeno de patologia
associada. Este fenómeno foi já apontado pelas empresas de pré-fabricação de betão, nos inquéritos,
como um problema muito relevante nos PFPB (Figura 3.10), visto que nas 13 anomalias possíveis,
todas as empresas responderam que as anomalias surgiam pelo menos uma vez de forma
associada.
Brito e Flores-Colen (2005), citados por Silva (2015) apontaram como principais causas para
acumulação de partículas devido à escorrência superficial, os erros de projecto ou execução, em
particular falta de pormenorização na fase de projecto e/ou deficiente execução, ausência de
capeamentos de remate de platibandas, deficiente escoamento em varandas e terraços e deficiente
ou inexistente execução de juntas e pingadeiras.
52
Figura 4.24- Pontos de oxidação à superfície
Figura 4.23- Pontos de oxidação à
do paramento inferior (outra vista). São
superfície do paramento superior na
também visíveis manchas de escorrência
fachada principal da superfície comercial
superficial
4.4.2 Caso B
No edifício de escritórios em Lisboa é possível ver na fachada principal que alguns painéis
apresentam manchas com um padrão irregular. Segundo Piferi (2006) e como já observado em 2.4.,
as manchas enquadram-se na categoria de anomalias estéticas em betão arquitectónico.
Segundo Nunes (2014), as manchas em betão arquitectónico podem estar associadas a problemas
de projecto, problemas nas cofragens (absorção diferencial, sujidades, resinas na madeira ou
53
oxidação da cofragem metálica, reacções com o óleo descofrante/viscosidade desadequada), e
problemas na colocação e/ou cura do betão.
Caso as referidas manchas tivessem origem na escorrência superficial devida à precipitação, poderia
ser apontado um eventual problema de projecto por drenagem deficiente. Importa dizer, que Nunes
(2014), Silva (2015) e Coelho (2015) usaram sistemas de classificação para as causas das anomalias
em betão arquitectónico, sem diferenciarem, o betão arquitectónico fabricado em obra do betão
arquitectónico pré-fabricado. Tendo em conta que as superfícies analisadas são em betão
arquitectónico pré-fabricado, algumas das causas, já referidas, não estarão na lista de possíveis
origens das manchas visíveis nas superfícies do caso de estudo B. Esta exclusão à partida deve-se
ao elevado controlo que é verificado durante o projecto e a pré-fabricação, nomeadamente a nível de
cofragens e materiais.
De modo a eliminar definitivamente, o projecto como uma das causas das manchas, pode-se verificar
a Figura 4.30. No dia 13 de Setembro de 2002, ainda antes da conclusão da obra e durante as obras
de construção do novo estádio de Alvalade (visível na figura), as manchas já existiam na fachada,
impossibilitando assim, como origem das manchas, a escorrência de águas superficiais (projecto).
Apesar de se ter provado anteriormente que a causa das referidas manchas, não é um problema de
projecto, importa relembrar o elevado rigor presente num projecto de elementos pré-fabricados, como
foi explicitado em 2.2. A origem das referidas manchas estará então relacionada com problemas nas
cofragens e/ou problemas na colocação e/ou cura do betão. Sem um acesso fácil à superfície dos
painéis e o uso de meios auxiliares de diagnóstico (condições em que se verificaram as inspecções),
não é fácil perceber a origem das referidas manchas. O contacto com o fabricante permitiu recolher a
informação de que as manchas tiveram origem na ausência de limpeza da mesa de pré-fabricação
(cofragem suja). Aquando do enchimento da mesa de prefabricação com o betão líquido, a própria
mesa não foi correctamente limpa, o que levou a uma superfície dos PFPB já com algumas partículas
de sujidade à saída da central de pré-fabricação. Esta situação parece confirmar uma das hipóteses
já avançada anteriormente, em concreto, os problemas nas cofragens. Estas superfícies apesar de
estarem visualmente dentro dos padrões de qualidade, após montagem e com alguns (poucos) anos
de utilização, possibilitaram a acumulação de partículas que é bem visível nas Figuras 4.29 e 4.30.
Esta anomalia foi já incluída, no capítulo 2, nas anomalias estéticas segundo a classificação baseada
em Piferi (2006). As anomalias que afectam a cor das superfícies dos PFPB, devido à contaminação
de materiais presentes na cofragem, foi descrita em detalhe na tabela 2.
A colocação em serviço do edifício implica que a sua fachada esteja sujeita à chuva, ao vento, ao
contacto com fuligem, partículas de solo e às escorrências superficiais. Os efeitos referidos
anteriormente ao actuarem numa fachada já previamente manchada, vão dar origem a um
incremento de manchas de deposição diferencial, mas também a manchas de deposição uniforme.
Os efeitos combinados originam o padrão visível nas Figuras 4.27 a 4.29.
54
Figura 4.27- Fachada principal do edifício de Figura 4.28- Fachada principal do edifício de
escritórios com manchas visíveis escritórios com manchas visíveis
4.4.3 Caso C
A ampliação e remodelação da superfície comercial, como já foi referido em 4.3.3. é o único caso em
que se podem ver PFPB em superfícies de BA não tratado. Estas superfícies serão posteriormente
pintadas para serem colocadas em serviço. A possibilidade de assistir ao processo de montagem dos
PFPB em obra, torna-se relevante para perceber melhor o processo de ligação entre os vários
elementos da fachada, transporte dos painéis, as suas limitações, condicionantes e a relação com o
aparecimento de anomalias.
A observação da Figura 4.33 permite perceber que a colocação em obra exige equipamento
adequado, em particular uma grua e cabos de aço. Para operar a grua, tem que estar atribuído um
manobrador qualificado.
55
Figura 4.31- Fachada de tardoz sem Figura 4.32- Fachada de tardoz sem
anomalias aparentes (extremidade direita) anomalias aparentes (extremidade esquerda)
A deslocação do PFPB até à sua posição final, apesar de não ser visível nas fotografias, também tem
que ser feito com os devidos cuidados, de modo a evitar embates com estruturas/obstáculos
presentes em obra, originando fissurações, fracturas ou destacamentos. Também o seu transporte
tem que ser feito, com correntes/cabos de aço, que sejam conectados ao painel de forma simétrica,
evitando tensões diferenciais (Figura 4.33).
Nas Figuras 4.34 e 4.35 é possível visualizar duas anomalias, que se encontram destacadas a
vermelho. Na Figura 4.34 verifica-se uma reentrância na superfície do painel devido
desagregação/descasque na extremidade “zona de canto” do suporte onde posteriormente vai
assentar a laje de piso.
56
As superfícies dos painéis em causa, por ainda não terem sido pintadas, poderão revelar defeitos,
que ao serem pintados, sejam impossíveis de detectar. Estes problemas serão essencialmente,
anomalias estéticas/anomalias de superfície. Na realidade, ao fazer-se a observação atenta dos
painéis, e também devido a possuírem um bom acabamento (consultar ficha de inspecção no Anexo
3- Caso de estudo C), encontram-se manchas, visíveis na Figura 4.36, que são pouco significativas.
Como se pode ver na Figura 4.37, estes painéis têm uma massa de aproximadamente 9 toneladas,
constituindo produtos de pré-fabricação pesada segundo classificação usada em 2.1, e para o seu
transporte torna-se necessário uma grua automóvel. Na Figura 4.37, apresentam-se os pormenores
do projecto de estruturas de um PFPB, nomeadamente as suas dimensões: 6,3 m – altura; 2,1 m –
largura; 2,5 m – profundidade.
O único caso de betão aparente não tratado, permite evidenciar a importância do acabamento das
superfícies do PFPB, quando sai da central de pré-fabricação. Em 2.4. foi referida a importância de
estabelecer limites para os defeitos do betão arquitectónico, que apesar de poderem ser minimizados,
são impossíveis de eliminar por completo (Piferi, 2006). De modo a poder delimitar os defeitos nos
57
painéis no referido edifício na Figura 4.38 estão referidas as imposições do projecto no que diz
respeito ao acabamento interior e acabamento exterior.
No capítulo 2, foi também referido que as propriedades do betão arquitectónico são incrementadas
em relação a um betão comum, e na figura 4.37 isso está bem patente, com a indicação da classe de
exposição devida à carbonatação- XC4- ser a mais elevada e o recobrimento ser de 30mm. Este
valor de recobrimento, é o valor de recobrimento de acordo com a norma NP EN 206-1, que foi
destacada em 2.4.5 e 3.5 como norma relevante para a pré-fabricação dos PFPB.
4.4.4 Caso D
As anomalias presentes neste edifício, não se encontram através de uma simples observação da
fachada (Figura 4.39). Na realidade, as superfícies viradas para a linha costeira, aparentemente não
têm qualquer defeito. A análise das Figuras 4.40 a 4.43, permite verificar a existência de manchas de
coloração alaranjada. Coelho (2015), atribui às manchas com esta coloração, a deposição de óxidos
metálicos na face do betão. Segundo Silva (2015) estes óxidos, estão associados a problemas na
estrutura, devido à redução de secção e oxidação das armaduras. Esta situação ocorre devido à
reacção expansiva das armaduras ao passar para o estado oxidado, com possível verificação de
fissuração do betão e descasque. Valores insuficientes de recobrimento, erro de projecto, colocação
incorrecta de espaçadores e/ou movimento das armaduras aquando da betonagem, potenciam
significativamente este fenómeno.
No caso de estudo D, foram analisadas 3 situações distintas, que são descritas nas Figuras 4.40 a
4.44. A primeira situação encontra-se ilustrada nas Figuras 4.40 e Figura 4.41. A segunda situação
encontra-se ilustrada nas Figuras 4.42 e 4.43 e a terceira situação encontra-se na Figura 4.44.
Na Figuras 4.40 e 4.41, é possível verificar que, além da mancha alaranjada, existem mais duas
anomalias, que são o destacamento do betão e a fissuração. O destacamento e separação do betão
de recobrimento do varão ocorreu devido à oxidação, que é visível na imagem, e posterior aumento
de volume que fracturou o betão.
58
As fissuras visíveis e destacadas na Figura 4.41, têm origem no aumento de volume do varão devido
à oxidação e consequente fissuração do betão.
Nas Figuras 4.40 e 4.41, em que ocorreu o destacamento do betão é também possível ver o betão
fissurado. Neste caso é possível inferir que o destacamento foi precedido pela fissuração, a que se
seguiu a desagregação e posteriormente o destacamento.
Caso a armadura não estivesse exposta, o que acontece nas Figuras 4.42 e 4.43, a origem das
anomalias deveria ser discutida, usando, se necessário, meios auxiliares de diagnóstico. Nesta
situação, o betão apresenta-se fissurado, não havendo, no entanto, exposição da armadura.
Esta fissuração não apresenta um padrão definido e, Silva (2015) destaca a relação, entre a distância
a que a anomalia é observada e a sua importância, que poderá revelar que fissuras são na realidade
fracturas, com uma observação mais próxima.
59
Situação já analisada em 2.1. devido às fachadas constituírem o envelope exterior dos edifícios, e o
seu desempenho estético ter uma relevância superior ao desempenho estético de outros elementos
do edifício.
A observação das Figuras 4.40 a 4.44, permitiu identificar uma mancha alaranjada na superfície do
betão que se atribui à deposição de óxidos, nos 3 casos distintos. Além das referidas anomalias, que
são a mesma anomalia em casos distintos, é também possível verificar que ocorreu escorrência
superficial, devido ao padrão que a mancha apresenta, bem visível na Figura 4.43. Esta escorrência
de água pela fachada foi contaminada pelas partículas de óxido de ferro, como foi já explicado 2.4.1.,
e originou a mancha em causa. É possível dizer que as anomalias: fissuração, desagregação e
destaque, têm como origem, a reacção expansiva decorrente da oxidação das armaduras, evitando
uma pesquisa aprofundada sobre outras causas eventuais, que se tornaria inconsequente. As
anomalias, mancha devido à contaminação de óxidos de ferro, constituem anomalias estéticas (Piferi,
2006) e a fissuração, desagregação e destaque, referidos anteriormente, são anomalias de forma e
superfície (Piferi, 2006) constituem fenómenos de patologia associada, destacados nos inquéritos e
em particular na Figura 3.10.
Como foi referido por Piferi (2006), e observado no capítulo 2.4, as fachadas em betão arquitectónico
totalmente livres de defeitos, são praticamente impossíveis. Segundo Nunes (2014), o controlo do
aparecimento de manchas é significativamente difícil devido às inúmeras causas que podem estar na
sua origem.
Foi possível verificar em §4.4.1 que um erro na fase de pré-fabricação, deu origem a uma anomalia
que se veio a tornar bem visível na fase de vida útil do edifício.
60
Analisando este caso de estudo, e tendo como base a informação pesquisada em §2.1, é importante
ter o conhecimento das anomalias mais correntes e ser implementado um estudo de diagnóstico
suportado por medições in situ, que, no caso de estudo em causas, parece não se ter verificado.
Também o caso de estudo analisado em §4.4.2, parece ter, na fase de pré-fabricação, ausência ou
deficiente conhecimento das anomalias mais correntes, na medida em que os arames de atar
armaduras são presença constante na pré-fabricação dos PFPB.
Como foi já referido §2.4.4, e considera-se ser a situação verificada nos anteriores casos de estudo,
estes danos nos elementos, afectam apenas a sua aparência, não havendo influência na segurança.
61
4.5 Proposta de classificação de anomalias
Como já foi referido em §1.1. por Faria & Inácio (2007), as fachadas em betão arquitectónico são
constituídas por betões de elevado desempenho, que apresentam maior compacidade e durabilidade
de aparência do que os betões correntes, apenas com funções estruturais.
Importa salientar que a classificação de Piferi foi usada para fachadas em betão arquitectónico e o
autor não particularizou, o tipo de betão arquitectónico, tendo em conta o local de fabricação. O
presente estudo, apresenta uma classificação semelhante, mas apenas para fachadas em betão
arquitectónico pré-fabricado.
Esta classificação parece fazer sentido, tendo em conta que o processo de pré-fabricação do betão
introduz um controlo de qualidade que o betão in situ não tem, e que à partida possuirá menos
anomalias. Desta forma é coerente, usar uma classificação com menos de categorias, do que uma
classificação usada para betão arquitectónico em geral, como fez Silva (2015) tendo como base a
classificação de Brito (1992).
Com o objectivo de serem feitas inspecções a estas superfícies de forma expedita, esta classificação
de anomalias baseia-se no aspecto visual das referidas superfícies. De uma forma geral, e fazendo
uma sistematização, do que já foi apresentado em §2.4., as anomalias estéticas são, de uma forma
geral, manchas, variações de cor e tonalidade.
62
Todas estas etapas podem dar origem a anomalias, que devem ser antecipadas, caso contrário, as
mesmas poderão estar patentes nas fachadas durante todo o período de vida dos edifícios. No
campo da patologia deve ser dado destaque à fissuração (anomalias de forma e superfície) e às
manchas (anomalias estéticas).
A fissuração presente na superfície destes paramentos pode ter variadas origens, em particular
fendas térmicas, fendas mecânicas, fendas devidas a retracção de secagem ou fendas devidas a
assentamento plástico e retracção autogénea.
Assim o projecto destes painéis assume particular importância, devendo ter em conta e prevenindo
estes tipos de fissuração. Paralelamente, as manchas, podem ter variadas origens, que deverão ser
tidas em conta, aquando da etapa de escolha de materiais, incluída no projecto.
Em ambos os casos, quer para as fissuras, quer para as manchas, o elevado número de possíveis
origens, torna estas patologias, muito relevantes para o estudo do PFPB. A adopção de um critério de
classificação de anomalias mais simplificado, critério de Piferi (2006) que usa um número inferior de
categorias do que os critérios para betão corrente, faz todo o sentido, tendo em conta os elevados
padrões estéticos requeridos numa superfície com o grau de exposição acrescido como são as
fachadas em betão arquitectónico.
63
Tabela 4.2- Proposta de “checklist” de acordo com a proposta de classificação(2ªparte)
II. 1. Fissuração
direccionada
II. 2. Fissuração
mapeada
é possível especificar o
tipo de fissuração?
i) fendas térmicas
.Tipo de cimento e
é possível saber quais do conteúdo
os factores que
afectaram as fendas
térmicas? .Tipos de agregados
.Método de cura
II. 6. Marcas de
espaçadores ou
conectores
II. 7. Esbabaçado
II. 8. Desagregação
II. 9. Defeitos de
planeza
II. 10. Eflorescências
II. 11. Bolhas de pele
II. 12. Incrustações de
cofragem
Observações
64
5 Conclusões e desenvolvimentos futuros
O estudo feito através dos inquéritos permitiu concluir que as manchas e defeitos de planeza são as
mais importantes, no que diz respeito às anomalias nos PFPB. O trabalho prático desenvolvido nos
casos de estudo possibilitou perceber a importância das manchas, como anomalia muito significativa,
confirmando as informações obtidas nos inquéritos acerca do relevo desta anomalia. A pesquisa
realizada revelou que, na origem das manchas, estava um número elevado de causas possíveis, o
que propicia que esta anomalia esteja presente nas fachadas pré-fabricadas, com elevada
assiduidade com os casos de estudo.
Também as fissuras se apresentaram como uma das anomalias mais significativas, nas respostas
das empresas que responderam aos inquéritos, não apresentando no entanto a expressão das
manchas e defeitos de planeza. Resultou da pesquisa efectuada que as fissuras possuem variadas
origens e, nos casos de estudo, estiveram presentes nos quatro, possibilitando assim estabelecer
uma relação directa com o que foi pesquisado e o que se verificou no terreno. Um estudo detalhado
sobre fissuras, as suas origens em casos reais e como minimizá-las, seria muito relevante e consiste
numa limitação do presente trabalho.
65
A observação dos casos de estudo permitiu confirmar o que havia já sido referido no estado da arte
sobre a importância e o rigor necessários em cada fase do processo de pré-fabricação. No caso de
estudo B, edifício de escritórios em Lisboa, as manchas na fachada estiveram presentes desde o
início da construção dos painéis. Desde o início da vida útil do edifício que as anomalias estavam
visíveis e foram sofrendo um agravamento natural que ocorre com a exposição à chuva, escorrência
superficial e poluição. Inicialmente a hipótese de erro de projecto foi colocada, mas a informação do
empreiteiro apontou para uma origem distinta da anomalia. Estas hipóteses colocadas, revelam que
ambas as fases do processo, projecto e pré-fabricação, são muito importantes, exigem um rigor
elevado e uma mão-de-obra qualificada, sob pena dos problemas perdurarem na vida útil do edifício,
como se verificou.
O presente estudo não incidiu apenas numa vertente dos PFPB, mas por essa razão apresenta
algumas limitações. Um estudo pormenorizado sobre os vários tipos de painéis, as várias ligações
entre os painéis, a superestrutura do edifício e entre os próprios painéis seria relevante, consistindo
num estudo de essência estrutural; nos inquéritos apresentados não foi obtida uma distribuição das
empresas pelo território nacional, nem uma distribuição dos produtos da pré-fabricação pelo território,
o que seria também seria relevante.
Importa sensibilizar os projectistas, com particularidade para os arquitectos, e o público em geral, que
as mais-valias desta tecnologia são muito significativas e que uma das tendências da evolução do
sector da construção será na aposta da pré-fabricação.
Os painéis de fachada constituem uma tecnologia, na qual é importante “fazer bem à primeira” e para
isso as três etapas mais relevantes do processo de pré-fabricação, (projecto, pré-fabricação e
transporte) devem ser alvo de elevado rigor técnico e permanente evolução. Numa obra,
frequentemente, são usados PFPB e elementos betonados in situ, e planos de articulação dos dois
tipos de elementos, devem ser incrementados e rigorosos.
66
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24. EN 12839 (2012); “Precast concrete products; Elements for fences”
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Anexos
A
Ficha de inspecção- Caso de estudo A (continuação)
B
A.2 Ficha de inspecção- Caso de estudo B
C
Ficha de inspecção- Caso de estudo B (continuação)
D
A.3 Ficha de inspecção- Caso de estudo C
E
Ficha de inspecção- Caso de estudo C (continuação)
F
A.4 Ficha de inspecção- Caso de estudo D
G
Ficha de inspecção- Caso de estudo D (continuação)