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Patologia de fachadas pré-fabricadas em betão armado

João António Alberto Abreu

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadora: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen

Júri
Presidente: Professor Doutor Nuno Gonçalo Cordeiro Marques de Almeida

Orientadora: Professora Doutora Inês dos Santos Flores Barbosa Colen

Vogal: Doutor Rui Vasco Pacheco Santos da Silva

Outubro de 2017
“You need to spend time crawling alone

through shadows to truly appreciate what it is to stand in the sun”

Shaun Hick

I
II
Resumo

As fachadas em betão pré-fabricado permitem uma redução do desperdício em obra, uma redução da
intervenção humana (industrialização) e uma aceleração do processo de conclusão da obra. Estas
vantagens das fachadas em betão pré-fabricado são coincidentes com alguns dos desígnios da
construção em todo o mundo, podendo dizer-se que se trata de uma tecnologia com potencial de
crescimento no futuro. A presente dissertação apresenta uma pesquisa ao nível técnico e normativo,
sobre painéis de fachada pré-fabricados em betão e a sua patologia.

Para aprofundar o conhecimento sobre a patologia destas fachadas foram desenvolvidos inquéritos
às empresas de pré-fabricação de betão. De modo a enquadrar as anomalias dos painéis de fachada
pré-fabricados em betão e perceber os problemas de uma forma global, as questões nos inquéritos
foram elaboradas com crescente especificidade, iniciando-se com uma abordagem geral do mercado
da pré-fabricação e finalizando com as causas das anomalias dos painéis de fachada. Foram também
realizadas inspecções visuais a edifícios, recorrendo a fichas de inspecção.

Foi possível constatar que o mercado da pré-fabricação de betão é dominado por pequenas e micro
empresas, com reduzida especificidade, apresentam a certificação de produto, marcação CE, como
certificação mais usada e fase de fabrico é considerada como estando na origem das principais
anomalias. As manchas e os defeitos de planeza foram considerados os defeitos mais importantes.

Os casos de estudo permitiram revelar a importância das fissuras como anomalia muito significativa e
destacar a importância e o rigor necessários em cada fase da pré-fabricação.

Palavras-chave: Betão; Pré-fabricação; Fachadas; Anomalias; Painéis de fachada; Betão-pré-


fabricado.

III
IV
Abstract

Precast concrete facades allow a waste reduction on the job site, a reduction of human intervention
(industrialization) and an acceleration of the process of "delivery" of the work. These advantages of
precast concrete facades coincide with some of the building goals around the world, which can be said
to be a technology with future growth potential. The following dissertation presents a research at the
technical and normative level, to understand the state of the art in relation to precast concrete facade
panels and their problems.

To deepen the knowledge about these facades pathology, surveys were made among precast
concrete companies. To put in perspective the pre-fabricated concrete facade panels anomalies and
understand the problems in a global way, questions in the surveys were elaborated with the increasing
specification, starting with a general approach of the precast market and finishing with the causes of
facade panel anomalies. Visual inspection of buildings was also carried out using inspection
worksheets.

It was possible to verify that the precast concrete market is dominated by small and micro enterprises,
with low specificity, present the product certification, CE marking, as the most used certification and
the manufacturing phase is considered to be the origin of the main anomalies. Flat spots and defects
were considered the most important defects.

The case studies revealed the importance of fissures as a very significant anomaly and highlight the
importance and rigor required at each stage of precast.

Key words: Concrete; Precast; Facades; Anomalies; Facade panels.

V
VI
Agradecimentos

Esta dissertação é o culminar de um percurso académico com muitos altos e baixos, e bastante
longo. Durante este percurso, muitas foram as pessoas que contribuíram e me acompanharam para o
final feliz desta importante etapa da minha vida. Entre as quais destaco:

A Professora Inês Flores-Colen, minha orientadora científica, pela transmissão de conhecimentos,


disponibilidade, rigor, excelente orientação, paciência e palavras de incentivo. Foi um absoluto
privilégio e honra, ser orientado por alguém com tão extraordinárias qualidades técnicas e humanas.

O Engenheiro Barros Viegas, da Associação Nacional dos Industriais de Prefabricação em betão –


ANIPB - pela colaboração e partilha de conhecimentos, disponibilidade, contribuição para os
inquéritos e utilização dos recursos da ANIPB junto das empresas.

O Engenheiro Romeu Reguengo, da empresa Concremat, pela partilha de informação sobre os casos
de estudo, disponibilidade e possibilidade de visitar as obras com PFPB.

O Engenheiro Rui Pragosa, da empresa Aníbal Oliveira Cristina Lda, pela partilha de conhecimentos,
disponibilidade e possibilidade de visitar a obra da superfície comercial em Montemor-o-Novo.

O Professor José Silvestre pela partilha de informação, disponibilidade e contribuição para o


desenvolvimento do tema da dissertação.

O Professor Luís Castro, pela disponibilidade, pela partilha de experiência, pelo esclarecimento de
dúvidas e pelas palavras de incentivo e motivação numa altura tão complicada, do meu percurso
académico.

O Gonçalo, pela disponibilidade, incentivo e motivação, críticas construtivas e fundamentais para o


evoluir da dissertação. Por ter sido fundamental para a dissertação sair de um impasse e por puxar
por mim, até o objectivo estar cumprido.

À minha mãe, pela presença constante, apoio permanente e incentivo, compreensão, paciência,
carinho e persistência, que permitiram chegar ao fim.

Aos meus avós Maria Casimira e Leandro Alberto, pelo apoio permanente, pela coragem em dizerem
o que pensam, pela humildade, pela lição de vida e pela sua casa ser sempre um porto seguro. Ao
meu avô, que apesar de já não estar entre nós, ser a minha referência. A eles, dedico a minha
dissertação.

O meu primo Carlos e o filho Pedro, pelo apoio incondicional e permanente sob as mais variadas
formas.

À minha irmã e aos meus sobrinhos, que entretanto nasceram, pelo carinho, e por se tornarem em
mais um motivo, para ser mais e melhor.

VII
O Ricardo, pelo apoio e motivação, pela paciência, pelas revisões e críticas construtivas aos
capítulos, e pela grande amizade.

O Nélson, pelo apoio e motivação, pela paciência, por ter partilhado a sua experiência e
conhecimentos, por ter sido tantas vezes o meu “coach” e pela grande amizade.

À Andreia e a Isabel, por terem sido um apoio constante no meu percurso académico e muito mais
que isso.

À Marta, pelo carinho, pela compreensão, amizade e por apesar de não termos o mesmo tipo de
relação, ter também sido um exemplo para mim.

Por fim, gostaria de agradecer a todos aqueles que se cruzaram no meu percurso, ou que de algum
modo me influenciaram a chegar até aqui.

VIII
Índice
Resumo .................................................................................................................................................. III

Abstract.................................................................................................................................................... V

Agradecimentos ..................................................................................................................................... VII

1 Introdução ........................................................................................................................................ 1

1.1 Enquadramento geral ...................................................................................................................1


1.2 Objectivos e metodologia do trabalho ..........................................................................................1
1.3 Organização do trabalho ..............................................................................................................2

2 Patologia e inspecção de elementos pré-fabricados ...................................................................... 5

2.1 Considerações gerais ...................................................................................................................5


2.2 Importância da pré-fabricação ......................................................................................................6
2.3 Betão arquitectónico ...................................................................................................................10
2.4 Patologia em fachadas de betão arquitectónico ........................................................................12
2.4.1 Anomalias estéticas em betão arquitectónico: Cor e variação de tonalidade ............... 13
2.4.2 Anomalias de forma e superfície em betão arquitectónico ........................................... 14
2.4.3 Eflorescências ............................................................................................................... 21
2.4.4 Corrosão ........................................................................................................................ 21
2.5 Aspectos gerais de classificação................................................................................................22
2.5.1 Nível de segurança ........................................................................................................ 22
2.5.2 Durabilidade................................................................................................................... 23
2.5.3 Aspectos estéticos ......................................................................................................... 24
2.5.4 Normalização ................................................................................................................. 24
2.6 Metodologia de inspecções ........................................................................................................25
2.7 Síntese do capítulo ...........................................................................................................................27

3 Inquéritos ....................................................................................................................................... 29

3.1 Objetivos .....................................................................................................................................29


3.2 Considerações gerais .................................................................................................................29
3.3 Metodologia utilizada ..................................................................................................................29
3.4 Respostas aos inquéritos ...........................................................................................................31
3.5 Análise Crítica.............................................................................................................................39
3.6 Conclusões do capítulo ..............................................................................................................41

4 Casos de estudo ............................................................................................................................ 43

4.1 Considerações gerais .................................................................................................................43

IX
4.2 Metodologia utilizada ..................................................................................................................43
4.3 Caracterização dos casos de estudo .........................................................................................43
4.3.1 Caso A ........................................................................................................................... 45
4.3.2 Caso B ........................................................................................................................... 46
4.3.3 Caso C ........................................................................................................................... 47
4.3.4 Caso D ........................................................................................................................... 50
4.4 Discussão e síntese dos resultados ...........................................................................................50
4.4.1 Caso A ........................................................................................................................... 50
4.4.2 Caso B ........................................................................................................................... 53
4.4.3 Caso C ........................................................................................................................... 55
4.4.4 Caso D ........................................................................................................................... 58
4.4.5 Análise Crítica ................................................................................................................ 60
4.5 Proposta de classificação de anomalias ....................................................................................62
4.6 Conclusões do capítulo ..............................................................................................................62

5 Conclusões e desenvolvimentos futuros ....................................................................................... 65

5.1 Conclusões gerais ......................................................................................................................65


5.2 Desenvolvimentos futuros ..........................................................................................................66

6 Referências bibliográficas ............................................................................................................. 67

Anexos ..................................................................................................................................................... A

A.1 Ficha de inspecção- Caso de estudo A ............................................................................................ A


A.2 Ficha de inspecção- Caso de estudo B ............................................................................................ C
A.3 Ficha de inspecção- Caso de estudo C ............................................................................................ E
A.4 Ficha de inspecção- Caso de estudo D ............................................................................................ G

X
Índice de figuras

FIGURA 2.1- PORMENOR DE PAREDE COM VAZIOS (DAAB, 2008) ...................................................................................... 11


FIGURA 2.2- DETALHE DA FIGURA ANTERIOR COM PORMENOR DE FOLHAS IMPRESSAS (DAAB, 2008) ........................................ 11
FIGURA 2.3- EDIFÍCIO EM CONSTRUÇÃO COM PAINÉIS AUTOPORTANTES. COLORADO, USA (PCI, 2007). ................................... 12
FIGURA 2.4- EDIFÍCIO CONSTRUÍDO COM PAINÉIS AUTOPORTANTES JÁ CONCLUÍDO. COLORADO, USA (PCI, 2007). ..................... 12
FIGURA 2.5- EDIFÍCIO COM PAINÉIS DE CISALHAMENTO. SARASOTA, FLORIDA (PCI, 2007) ...................................................... 13
FIGURA 2.6- EXEMPLO DE PAINÉIS DE CORTINA OU REVESTIMENTO. HUNTINGTON AVENUE, BOSTON, MASSACHUSETTS (PCI, 2007)
...................................................................................................................................................................... 13
FIGURA 2.7- POROS/VAZIOS (NPCA, 2013) ................................................................................................................. 17
FIGURA 2.8- DESTACAMENTO (NPCA, 2013)................................................................................................................ 17
FIGURA 2.9- FISSURAÇÃO MAPEADA (DAAB, 2008) ........................................................................................................ 18
FIGURA 2.10- FISSURAÇÃO (NPCA, 2013) ................................................................................................................... 18
FIGURA 2.11- SUPERFÍCIE COM EFLORESCÊNCIAS (MOREIRA, 1991) ................................................................................... 21
FIGURA 2.12- CORROSÃO PONTUAL (NUNES, 2013)........................................................................................................ 22
FIGURA 2.13- EXPOSIÇÃO DE ARMADURAS (NUNES, 2013) ............................................................................................... 22
FIGURA 3.1- PERCENTAGEM DE EMPRESAS COM ASSOCIAÇÃO À ANIPB ............................................................................... 31
FIGURA 3.2- DIMENSÃO DAS EMPRESAS DE PRÉ-FABRICAÇÃO DE BETÃO EM PORTUGAL ........................................................... 32
FIGURA 3.3- CERTIFICAÇÕES MAIS USADAS NAS EMPRESAS DE PRÉ-FABRICAÇÃO ..................................................................... 33
FIGURA 3.4- TIPOS DE PRÉ-FABRICAÇÃO MAIS PRODUZIDOS ............................................................................................... 34
FIGURA 3.5- COTA DE MERCADO DOS PRODUTOS DAS EMPRESAS ........................................................................................ 35
FIGURA 3.6- PRODUTOS MAIS PRÉ-FABRICADOS PELAS EMPRESAS ....................................................................................... 36
FIGURA 3.7- PRODUTOS MAIS PRÉ-FABRICADOS PELAS EMPRESAS EM SEGUNDO LUGAR ........................................................... 36
FIGURA 3.8- PRODUTOS MAIS PRÉ-FABRICADOS PELAS EMPRESAS EM TERCEIRO LUGAR ........................................................... 37
FIGURA 3.9- NORMAS USADAS NA PRODUÇÃO DOS ELEMENTOS MAIS FABRICADOS ................................................................. 38
FIGURA 3.10- PRINCIPAIS PATOLOGIAS NOS PFPB, SEGUNDO A OPINIÃO DAS EMPRESAS INQUIRIDAS ......................................... 38
FIGURA 3.11- FASES DA PRÉ-FABRICAÇÃO QUE ORIGINAM AS PRINCIPAIS ANOMALIAS NOS PAINÉIS DE FACHADA .......................... 39
FIGURA 3.12- CAUSAS PARA OS ÍNDICES DE PRODUÇÃO NÃO AUMENTAREM .......................................................................... 40
FIGURA 4.1- PROPOSTA DE FICHA DE INSPECÇÃO – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ....................................................................... 44
FIGURA 4.2- PROPOSTA DE FICHA DE INSPECÇÃO- DADOS DAS SUPERFÍCIES VISTORIADAS ......................................................... 44
FIGURA 4.3- PROPOSTA DE FICHA DE INSPECÇÃO- ANOMALIAS E CAUSAS PROVÁVEIS .............................................................. 45
FIGURA 4.4- LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO EM RELAÇÃO À CIDADE DE LISBOA................................................................. 45
FIGURA 4.5- LOCALIZAÇÃO NO MONTIJO ....................................................................................................................... 46
FIGURA 4.6- FACHADA LATERAL.................................................................................................................................... 46
FIGURA 4.7- LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO B NA CIDADE DE LISBOA ............................................................................. 47
FIGURA 4.8- LOCALIZAÇÃO JUNTO AO ESTÁDIO DE ALVALADE ............................................................................................. 47
FIGURA 4.9- FACHADA PRINCIPAL (VISTA PRÓXIMA DA EXTREMIDADE DIREITA)....................................................................... 47
FIGURA 4.10- FACHADA DE TARDOZ .............................................................................................................................. 47
FIGURA 4.11- FACHADA LATERAL DIREITA E VISTA PARCIAL DA FACHADA DE TARDOZ ............................................................... 48
FIGURA 4.12- FACHADA PRINCIPAL (PORMENOR DA EXTREMIDADE DIREITA QUE SE APRESENTA RECUADA) .................................. 48
FIGURA 4.13- LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO C EM RELAÇÃO A LISBOA .......................................................................... 48
FIGURA 4.14- LOCALIZAÇÃO EM MONTEMOR-O-NOVO .................................................................................................... 48
FIGURA 4.15- VISTA ÁREA DO EDIFÍCIO DO CASO DE ESTUDO B (IMAGEM COM ORIENTAÇÃO) ................................................... 49
FIGURA 4.16- LEVANTAMENTO E COLOCAÇÃO EM POSIÇÃO FINAL, DO PFPB, COM RECURSO A GRUA......................................... 49
FIGURA 4.17- AJUSTE DA POSIÇÃO FINAL DO PAINEL USANDO CUNHAS E ALAVANCAS .............................................................. 49
FIGURA 4.18- ESQUADROS METÁLICOS USADOS PARA FIXAÇÃO DOS PFPB AO EDIFÍCIO PREEXISTENTE ........................................ 50
FIGURA 4.19- ELEVAÇÃO DE UM PFPB COM GRUA E FIXAÇÃO (AUXÍLIO DE GRUA DE BRAÇO ARTICULADO, ALAVANCAS E CUNHAS NA
BASE) .............................................................................................................................................................. 50
FIGURA 4.20- LOCALIZAÇÃO DO CASO DE ESTUDO D EM RELAÇÃO À CIDADE DE LISBOA ........................................................... 51

XI
FIGURA 4.21- VISTA DA FACHADA PRINCIPAL DA SUPERFÍCIE COMERCIAL. É VISÍVEL A SEPARAÇÃO ENTRE O PARAMENTO SUPERIOR E O
PARAMENTO INFERIOR ........................................................................................................................................ 52
FIGURA 4.22- PONTOS DE FERRUGEM À SUPERFÍCIE DO PARAMENTO INFERIOR. SÃO TAMBÉM VISÍVEIS MANCHAS DE ESCORRÊNCIA
SUPERFICIAL ..................................................................................................................................................... 52
FIGURA 4.23- PONTOS DE OXIDAÇÃO À SUPERFÍCIE DO PARAMENTO SUPERIOR NA FACHADA PRINCIPAL DA SUPERFÍCIE COMERCIAL .. 53
FIGURA 4.24- PONTOS DE OXIDAÇÃO À SUPERFÍCIE DO PARAMENTO INFERIOR (OUTRA VISTA). SÃO TAMBÉM VISÍVEIS MANCHAS DE
ESCORRÊNCIA SUPERFICIAL .................................................................................................................................. 53
FIGURA 4.25- PONTOS DE OXIDAÇÃO NA FACHADA LATERAL. FRACTURAÇÃO DO BETÃO JÁ VISÍVEL COM GEOMETRIA CONCÊNTRICA.. 53
FIGURA 4.26- PONTOS DE OXIDAÇÃO E FRACTURAÇÃO CONCÊNTRICA DO BETÃO. É TAMBÉM VISÍVEL A TRANSPARÊNCIA DE AGREGADOS
(CANTO INFERIOR ESQUERDO) .............................................................................................................................. 53
FIGURA 4.27- FACHADA PRINCIPAL DO EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS COM MANCHAS VISÍVEIS ........................................................ 55
FIGURA 4.28- FACHADA PRINCIPAL DO EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS COM MANCHAS VISÍVEIS ........................................................ 55
FIGURA 4.29- FACHADA PRINCIPAL (EXTREMIDADE INFERIOR ESQUERDA) COM MANCHAS VISÍVEIS NOS PAINÉIS E NOS PILARES DA
FACHADA ......................................................................................................................................................... 55
FIGURA 4.30- FACHADA PRINCIPAL EM 13/09/2002 [W8] .............................................................................................. 55
FIGURA 4.31- FACHADA DE TARDOZ SEM ANOMALIAS APARENTES (EXTREMIDADE DIREITA) ...................................................... 56
FIGURA 4.32- FACHADA DE TARDOZ SEM ANOMALIAS APARENTES (EXTREMIDADE ESQUERDA) .................................................. 56
FIGURA 4.33- COLOCAÇÃO DE PFPB NA POSIÇÃO FINAL COM RECURSO DE GRUA E CABOS DE AÇO ............................................ 56
FIGURA 4.34- DESAGREGAÇÃO DO BETÃO NA EXTREMIDADE DO APOIO PARA A LAJE ............................................................... 57
FIGURA 4.35- DESAGREGAÇÃO/DESTACAMENTO NA SUPERFÍCIE DE UM PAINEL. SÃO AINDA VISÍVEIS OS PRUMOS QUE LHE SERVEM DE
SUSTENTAÇÃO................................................................................................................................................... 57
FIGURA 4.36- MANCHAS NA SUPERFÍCIE DOS PAINÉIS ....................................................................................................... 57
FIGURA 4.37- PORMENORES DO PROJECTO DE ESTRUTURAS DOS PAINÉIS.............................................................................. 57
FIGURA 4.38- AMPLIAÇÃO DO PORMENOR DO ACABAMENTO, RETIRADO DO PROJECTO (FIG.4.37) ........................................... 58
FIGURA 4.39- FACHADA FRONTAL DO EDIFÍCIO PRINCIPAL DO EDIFÍCIO DE HABITAÇÃO NA COSTA DA CAPARICA (PARALELA À LINHA DE
COSTA) ............................................................................................................................................................ 59
FIGURA 4.40- FISSURAÇÃO E DESTACAMENTO DO BETÃO. É POSSÍVEL VER TAMBÉM O VARÃO JÁ OXIDADO .................................. 59
FIGURA 4.41- FISSURAÇÃO DO BETÃO EM PORMENOR (AMPLIAÇÃO DA FIGURA 4.39) ............................................................ 60
FIGURA 4.42- FISSURAÇÃO E DESAGREGAÇÃO DO BETÃO. MANCHA DE COR ALARANJADA TAMBÉM VISÍVEL ................................. 60
FIGURA 4.43- FISSURAÇÃO DO BETÃO EM PORMENOR (AMPLIAÇÃO) ................................................................................... 61
FIGURA 4.44- SEPARAÇÃO DE BETÃO E MANCHA ALARANJADA NA SUPERFÍCIE DE BETÃO .......................................................... 61

XII
Índice de tabelas
TABELA 2.1- IMPERFEIÇÕES DE COR MAIS COMUNS E AS SUAS CAUSAS (FIB, 2003) ................................................................ 16
TABELA 2.2- TAMANHO MÁXIMO E QUANTIDADE DE FRACTURAS VISÍVEIS EM SUPERFÍCIES DE BETÃO .......................................... 17
TABELA 2.3- NORMAS MAIS RELEVANTES NO PROCESSO DE PRÉ-FABRICAÇÃO DOS PAINÉIS DE FACHADA ...................................... 25
TABELA 4.1- PROPOSTA DE “CHECKLIST” DE ACORDO COM A PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO (1ªPARTE) ....................................... 63
TABELA 4.2- PROPOSTA DE “CHECKLIST” DE ACORDO COM A PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO(2ªPARTE) ........................................ 64

XIII
XIV
Abreviaturas

ANIPB - Associação Nacional dos Industriais de Prefabricação em Betão

PPB - Produtos pré-fabricados de betão

PF - Painéis de fachada

PFPB - Painéis de fachada pré-fabricados em betão

BA - Betão arquitectónico

XV
1 Introdução

1.1 Enquadramento geral


A invenção do betão armado por Lambot (1848) e a intervenção do arquitecto Perret (1898) serviram
de bases para o uso do betão como material de construção, dando um passo importante no
desenvolvimento da construção do séc. XX. As primeiras obras de betão armado apareceram na
segunda metade do séc. XIX, nos Estados Unidos e França, devido ao esforço de François
Hennebique. A função inicial do betão era a de conferir resistência, camuflando-se por baixo de
outros materiais (pedras, tijolos, ladrilhos e rebocos), devido a considerar-se um material “rude” para
o gosto da época (Moreira, 1991)

A pré-fabricação é uma das duas grandes vias de construção industrializada, que teve viabilidade
económica após a 2ª Guerra Mundial. A evolução da pré-fabricação, de uma maneira geral, e
nomeadamente em França (CSTB, 1997), fez-se através de um primeiro período de 1947 até meados
da década de 70, com o começo da industrialização da construção, marcado pela quantidade e pela
necessidade da massificação da construção. Um segundo período ocorreu a partir de meados da
década de 70, no qual a qualidade se foi sobrepondo à quantidade. Em Portugal, embora com atraso,
houve um desenvolvimento mais intenso da pré-fabricação pesada a partir de 1964 até meados da
década de 70. Nesta altura estimava-se haver uma carência de 500.000 fogos, representativos de
uma significativa carência no sector da habitação e que este desenvolvimento contribuiu para
colmatar (Pinto, 2000).

O betão apresenta-se como um produto industrial com elevadas possibilidades na materialização da


concepção arquitectónica devido à sua fluidez, moldabilidade e devido ao facto de se tratar de um
material composto (Inácio, 2005).

1.2 Objectivos e metodologia do trabalho

Os revestimentos exteriores representam a primeira e simultaneamente a mais externa, camada que


separa o espaço interior dos agentes ambientais e por esta razão são particularmente propensas a
falhas e defeitos, que terão consequências directas na qualidade do espaço urbano, conforto dos
utilizadores e custos de reparação e manutenção (Gaspar & Brito (2007), citando Kirkham &
Boussabaine (2005)).

Com o presente trabalho pretende-se atingir os seguintes objectivos:

i. Com os inquéritos: pretende-se aprofundar os conhecimentos sobre as empresas e o


mercado da pré-fabricação de betão em Portugal, de uma forma geral. Pretende-se incidir, em
particular, nas empresas e mercado da pré-fabricação de Painéis de Fachada Pré-fabricados em
Betão (PFPB).

I
ii. Com os inquéritos pretende-se também, compreender quais as principais anomalias nas
superfícies das fachadas pré-fabricadas em betão, as suas origens e os principais factores que
contribuem para o aparecimento das mesmas anomalias.
iii. Com os casos de estudo, pretende-se ilustrar casos reais de anomalias de betão
arquitectónico, tratado e não tratado, nos PFPB; pretende-se ainda entender o impacto que o
processo de pré-fabricação dos PFPB, pode ter no produto final. Para esta compreensão, as
anomalias são analisadas e caracterizadas, através dos critérios de patologia de betão.

O presente trabalho inicia-se com um levantamento bibliográfico, baseado em livros, publicações


científicas, atas de congressos e conferências e documentos normativos. Com esta pesquisa,
pretende-se criar um enquadramento teórico que servirá de base aos inquéritos e aos casos de
estudo.

De modo a perceber o funcionamento do mercado da pré-fabricação de betão e em particular o


mercado dos PFPB, os seus condicionalismos e as patologias desta solução de revestimento de
fachada, entendeu-se necessário conhecer esta realidade sob a perspectiva das empresas. Para isso
foram usados os inquéritos às empresas nacionais deste sector.

De uma perspectiva diferente, seria imprescindível, na opinião do autor, analisar a realidade da


patologia dos PFPB do ponto de vista da “obra feita” e a sua evolução em estado de utilização, e foi
isso que foi feito com os casos de estudo. Um dos casos de estudo foi analisado, ainda em fase de
obra, o que permitiu enriquecer os conhecimentos obtidos, sob a referida perspectiva, e conhecer
melhor a fase de transporte e montagem destes painéis.

1.3 Organização do trabalho


O presente trabalho divide-se em 5 capítulos, que são: introdução, patologia e inspecção de
elementos pré-fabricados, inquéritos, casos de estudo e por último, conclusões.

No presente capítulo, faz-se uma explicação do tema abordado na dissertação, destacando o seu
enquadramento no quotidiano e relevância no panorama da construção nacional.

No capítulo 2, é feita uma caracterização da tecnologia disponível actualmente, sobre as anomalias


em painéis de fachada de betão arquitectónico. São explicitados os vários conceitos envolvidos na
temática da dissertação, com especificidade crescente. Posteriormente são elencadas as patologias
em betão arquitectónico, e introduzidas formas de classificar os painéis de fachada pré-fabricados em
betão arquitectónico. Por fim, são introduzidas as inspecções aos edifícios que possuem estes
painéis na sua fachada, e feita uma síntese do capítulo.

No capítulo 3, apresenta-se a pesquisa que foi feita ao mercado da pré-fabricação de betão em


Portugal, através de inquéritos às empresas de pré-fabricação. Os inquéritos são apresentados
inicialmente, é explicada a metodologia e reveladas as respostas aos inquéritos. É feita uma análise
crítica dos inquéritos, que pretende avaliar as mais-valias e limitações dos inquéritos.
2
No capítulo 4, são apresentados 4 casos de estudo que possuem esta tecnologia de revestimento de
fachadas. Nos casos de estudo, são usadas fichas de inspecção que permitiram uma aquisição de
conhecimento mais intuitiva, aquando das visitas aos locais de inspecção. Estas fichas tiveram por
base, a pesquisa feita anteriormente.

No capítulo 5, são apresentadas as conclusões da dissertação e desenvolvimentos futuros.

Em anexo, são incluídas algumas das normas importantes para os painéis de betão pré-fabricado, as
questões dos inquéritos e as fichas de inspecção para os quatro casos de estudo.

3
4
2 Patologia e inspecção de elementos pré-fabricados

2.1 Considerações gerais


De acordo com Moreira (1991), o “betão é uma pedra artificial, constituída por pedras naturais com
dimensões variáveis que vão das areias às britas, cimento e água, que misturados dão origem a um
material que se pretende o mais homogéneo e plástico possível”.

A definição de pré-fabricação, segundo Freyssinet citado por OE (1968), é um “método de construção


por montagem rápida de elementos idênticos, fabricados em série, mecânica e antecipadamente”.

Segundo a OE (1968), a pré-fabricação é dividida em 2 géneros distintos:

- Pré-fabricação leve – que se caracteriza pela produção de elementos de dimensões consideráveis


mas os quais têm um peso que ainda permite o seu transporte a grandes distâncias bem como a
montagem com equipamento rudimentar.

- Pré-fabricação pesada – caracteriza-se pelos elementos pré-fabricados poderem atingir pesos da


ordem das 8 a 9 toneladas (painéis maciços de betão) pelo que a sua produção, transporte e
montagem recorrem a equipamento pesado e dispendioso. Neste tipo de pré-fabricação procura-se
incluir de forma significativa o acabamento e os painéis são dimensionados com toda a altura do pé-
direito do edifício.

O betão aparente ou betão arquitectónico define-se segundo Moreira (1991), como “todo aquele cujas
superfícies vistas não sejam recobertas por qualquer material aplicado após a descofragem, com
exclusão de tintas e vernizes. Em particular, vai ser abordado o betão aparente não tratado, ou seja,
o betão exposto por descofragem em que os paramentos não têm qualquer tratamento posterior,
segundo o mesmo autor.

O betão arquitectónico pré-fabricado apresenta-se sob a forma de um “produto com um determinado


nível de aparência uniforme, detalhes de superfície, cor e textura. O betão arquitectónico possui um
elevado padrão de qualidade de acabamento e com uma tolerância mais rigorosa do que os restantes
produtos pré-fabricados” (NPCA, 2013).

A degradação visual da fachada (devido a manchas, fendilhação, e frequentemente efeitos


combinados de mecanismos de degradação) possui um forte impacto na qualidade do ambiente
urbano (Gaspar & Brito, 2008). A degradação das fachadas ocorre devido aos efeitos combinados da
chuva, vento, luz solar e poluentes biológicos e atmosféricos. Este processo é despoletado pela água
da chuva e pela sua escorrência através da fachada, da qual resultará lavagem ou deposição de
sujidade sobre a sua superfície (Gaspar & Brito, 2008).

São também causas fundamentais da não qualidade dos edifícios: a falta de sistematização do
conhecimento; a ausência de informação técnica; a inexistência de um sistema efectivo de garantias
e seguros; a velocidade exigida ao processo de construção; as novas preocupações arquitectónicas;

5
a aplicação de novos materiais, sem que previamente tenha havido um estudo de caracterização
experimental do seu desempenho; e a não existência na equipa de projecto de um especialista em
física das construções.

O investimento na reabilitação urbana em Portugal é reduzido, atingindo os 6,2% do peso da


Reabilitação Residencial na Produção Total da Construção (AECOPS, 2009) contrariamente a muitos
países da União Europeia em que esse factor corresponde a uma fatia superior a 20% (AECOPS,
2009)). A ausência de investimento na reabilitação tem como consequência a degradação dos
centros urbanos e da qualidade de vida dos cidadãos.

É necessário inverter esta situação nas próximas décadas, o que exige: o desenvolvimento de
metodologias para a elaboração de projectos de reabilitação de edifícios, a implementação de
estudos de diagnóstico suportados por medições in situ e em laboratório, o conhecimento das
anomalias mais correntes, o conhecimento do desempenho dos materiais e tecnologias utilizadas em
reabilitação, bem como a elaboração de cadernos de encargos exigenciais (Freitas, 2003).

O presente capítulo pretende explicitar o estado e os conhecimentos actuais sobre a temática da


patologia de elementos pré-fabricados de betão, particularizando para o caso de fachadas de
edifícios. Este capítulo pretende fornecer bases, para o conhecimento de um tema, sobre o qual há já
significativas realizações (painéis de fachada em betão), mas que, devido a variados
condicionalismos (que serão explicitados), é relativamente pouco divulgada em Portugal.

2.2 Importância da pré-fabricação

O interesse por sistemas pré-fabricados tem aumentado na indústria da construção. Os motivos que
impulsionaram esta tendência foram as vantagens inerentes a este tipo de produção que permitem
alcançar objectivos impossíveis de cumprir com o método tradicional. Os benefícios principais deste
tipo de sistema são a rapidez de execução em obra e a qualidade das peças produzidas. Este tipo de
produção racionalizada foi transposto para a produção de fachadas, emergindo novos sistemas e
tecnologias (Fernandes, 2008).

A 2ª Guerra Mundial, devido à sua significativa destruição, trouxe a necessidade da rápida construção
de casas, tanto na Europa como na América e foi por isso um ponto importante para a evolução
técnica da pré-fabricação, associada ao grande desenvolvimento verificado na indústria devido aos
esforços da guerra. Era necessário construir bem e depressa mas com qualidade, para que não se
cometessem erros passados em que as construções pré-fabricadas não correspondiam aos padrões
de qualidade exigidos, tendo sido, por essa razão, deixadas ao “abandono”. Surgem então, inúmeros
esquemas de sistemas de construção pré-fabricada, os quais submetidos a um controle oficial
oportunamente estabelecido, deram origem a algumas dezenas de protótipos reproduzidos depois em
construções definitivas. Com a construção massificada foi possível corrigir erros de concepção e
trazer uma evolução significativa, às técnicas de pré-fabricação (Pereira, 2010).

6
A competitividade no ramo da construção obrigou as empresas a uma constante actualização e
desenvolvimento tecnológico, e à criação de novos processos construtivos com vista a uma maior
eficiência e economia. Um dos grandes problemas que a construção enfrenta é a escassa
industrialização do ramo, pela necessidade da realização de muitas tarefas “in loco”(Alves, 2008).

Pode-se afirmar que a indústria da construção vai sofrer a evolução natural de cada vez mais se
industrializar, ou seja, “vai desenvolver métodos baseados essencialmente em processos
organizados de natureza repetitiva, nos quais a variabilidade incontrolável e casual da cada fase de
trabalho, que caracteriza as acções artesanais, é substituída por graus pré-determinados de
uniformidade e de continuidade de execução, características das modalidades operacionais ou
totalmente mecanizadas” (Couto e Couto, (2007), citado por Pereira (2010)).

Este método de produção terá um maior impacto no futuro, em comparação com as soluções
tradicionais, se houver uma maior informação e aprovação por parte dos projectistas (Alves, 2008). É
aqui que a pré-fabricação assume um papel fulcral e mostra que é o caminho a ser tomado no futuro
para uma construção mais eficaz, de maior qualidade e mais competitiva (Pereira, 2010).

Os produtos pré-fabricados, nomeadamente os painéis de fachada, são produtos industriais e, como


tal, a sua produção está sujeita a um sistema de tolerâncias dimensionais. No entanto, em obra, os
elementos pré-fabricados são combinados com elementos betonados in situ, nos quais são aplicadas
as regras da construção tradicional, com as respectivas tolerâncias dimensionais, que são maiores.
Como resultado, um plano integrado de tolerâncias, terá que ser definido, de maneira a combinar os
dois tipos de construção, e reduzindo as incompatibilidades em obra. Deste modo, tem que haver
uma boa circulação de informação mas também uma clara divisão de responsabilidades, entre as
partes envolvidas no processo: arquitecto, engenheiro, fabricante dos elementos pré-fabricados e
empreiteiro, assegurando a qualidade da construção (FIB, 2007). Dessa forma, o tempo utilizado para
planeamento, tem o seu retorno na forma de economia de tempo e de custos [W1].

As soluções designadas por soluções mistas compõem o pré-fabricado com o moldado no local,
podendo no entanto, esta definição abarcar casos que englobam o pré-moldado com outros sistemas
construtivos. A interface entre o sistema pré-moldado e outro sistema construtivo é perfeitamente
viável, devido à grande flexibilidade dos elementos pré-fabricados de betão [W1].

Em Portugal, a utilização da pré-fabricação na construção ainda não tem tanto significado como o
registado em outros países da Europa e do resto do Mundo (ANIPB, 2008). Um dos principais
entraves para que a pré-fabricação seja implementada, é o facto da mão-de-obra em Portugal ser de
baixo custo, o que faz com que grande parte das construtoras não tenha interesse em investir em
mão-de-obra especializada e nas tecnologias necessárias para executar a pré-fabricação, que
necessita de ter grande rigor tanto em fase de projecto como na fase de execução. Existe ainda o
facto de haver uma tendência para os arquitectos deixarem um cunho pessoal ao procurarem fazer,
para cada edifício que projectam, uma obra singular, em detrimento de actuarem numa óptica de
repetições de processos construtivos. Esta situação dificulta a utilização da pré-fabricação, que para

7
ser rentável necessita de uma quantidade mínima de elementos iguais a fabricar, o que não se tem
verificado, conduzindo a que a pré-fabricação não se consiga impor em Portugal (Pereira, 2010).

Como vantagens da pré-fabricação, e particularizando para o caso do betão pré-fabricado, pode-se


fazer a seguinte divisão [W2, Inácio (2005), Cunha (2011);

i) Vantagens da concepção

 Controle de qualidade: a pré-fabricação permite um controle “apertado”, levando a uma


fachada uniforme, de elevada qualidade, com formas, texturas e as cores desejadas. A
superfície acabada pode ser inspeccionada antes da montagem;
 Plasticidade: a plasticidade inicial do betão pré-fabricado permite a realização de formas e
configurações complexas, com viabilidade económica e atendendo às necessidades criativas
do projectista;
 Liberdade conceptual: para obter as expressões estéticas desejadas, é possível uma
grande amplitude nas particularidades do projecto, flexibilidade de concepção da cor, da
textura, do tamanho e da forma. O betão pré-fabricado pode ser concebido de modo a
permitir uma harmonização com outros materiais de construção (Figura 2.1 e 2.2).

ii) Vantagens funcionais:

 Invólucro eficiente: a construção em painéis de betão pré-fabricado, que possuem uma


menor quantidade de juntas, permite uma excelente protecção contra as condições
climáticas. A alta densidade e o bom controlo do ruído destes elementos estão na origem da
sua estanquidade, ao ar e à água,
 Propriedades térmicas: um elevado grau de eficiência energética pode ser atingido, através
de uma concepção das paredes com características térmicas específicas para cada face da
estrutura, satisfazendo assim a orientação solar e o ambiente natural. O isolamento térmico
pode ser aplicado no interior deste tipo de painéis, designando-se assim os painéis por
painéis “sandwich”;
 Isolamento acústico: a densidade do betão pré-fabricado permite um controlo eficiente e
económico, do som;
 Resistência ao fogo: o betão pré-fabricado não é combustível e permite a proteção das
armaduras;
 Durabilidade: a resistência ao desgaste por acção do tempo e a resistência à corrosão são
duas características dos painéis em betão pré-fabricado;
 Manutenção reduzida ou inexistente: a produção destes painéis, permite um produto
acabado com reduzidas patologias. As superfícies dos painéis são limpas e densas,
originando uma acumulação de sujidade e bactérias mais difícil.

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iii) Vantagens da execução em fábrica:

 Economia de tempo: a combinação entre montagem e pré-fabricação permite que a


construção total tenha uma duração mais reduzida. A pré-fabricação dos painéis pode
desenvolver-se em simultâneo com outros trabalhos em obra, possibilitando a chegada ao
estaleiro e respectiva montagem, de acordo com o plano de trabalhos e evitando atrasos.
Deste modo, as operações de betonagem podem desenvolver-se de uma forma flexível e
contínua, nomeadamente através da supressão dos tempos despendidos com a cura inicial
do betão e com a montagem das cofragens;
 Montagem económica: a produção em estaleiro tem uma duração reduzida e é
independente dos factores meteorológicos;
 Fecho rápido do edifício: o uso destes painéis permite um acesso mais rápido ao edifício,
bem como uma conclusão célere da obra e consequentemente uma redução de prejuízos e
um retorno financeiro mais ágil;
 Planificação de trabalhos: os painéis pré-fabricados permitem uma redução da
sobreposição de trabalhos e por conseguinte uma aceleração do processo construtivo;
 Eliminação de cofragens: A construção com painéis pré-fabricados não necessita de
cofragens e escoramentos. Visto que o trabalho é realizado a partir do interior do edifício,
geralmente dispensam-se os andaimes, possibilitando um incremento de segurança no
trabalho;
 Qualidade do produto final: há uma maior qualificação de mão-de-obra, pois há
possibilidade de tornar os trabalhadores especialistas nos produtos que estão a executar;
existem melhores instalações e equipamentos nas fábricas, próprios para as tarefas
específicas; a possibilidade de automação de procedimentos, o que implica menor esforço
humano; há um maior controlo, para proporcionar as melhores condições para a cura do
betão; obtém-se uma maior precisão das peças, o que implicará melhores acabamentos e
existe também a possibilidade de inspecções com maior regularidade e avaliações
experimentais, para um melhor controlo da qualidade do produto.

iv) Vantagens económicas:

 Poupança de recursos humanos, comparativamente com os métodos tradicionais de


construção (Alves, 2008). A quantidade de trabalho em obra, relativamente à construção
tradicional, é mais reduzida e por consequência os riscos de acidentes de trabalho também
são mais baixos, bem como os custos a eles associados;
 Redução do prazo da obra - diminuição do tempo que dura a construção e naturalmente o
custo do financiamento irá também diminuir.

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A qualidade final da execução é outro ponto importante, que tem como objectivo responder cada vez
melhor às expectativas dos donos de obra e utilizadores, sendo cada vez mais valorizada (Alves,
2008). À medida que as inovações de projecto e maquinarias aumentam de produtividade, as
vantagens destacam-se. Quando as peças são executadas em fábricas especializadas pode-se
contar com inúmeras vantagens associadas, em comparação com os métodos tradicionais.
Actualmente, em Portugal, é possível adquirir produtos pré-fabricados com Certificado de Qualidade,
que obedecem às exigências da Norma NP EN ISO 9001:2000 (Alves, 2008).

Como desvantagens de pré-fabricação podem-se destacar (Cunha ,2011, [W2])

 Necessidade de vias de acesso;


 Devido às formas e apoios das estruturas pré-fabricadas, as verificações de segurança e
avaliação de resposta às acções, são diferentes das usadas nas estruturas “correntes”. Esta
situação propicia uma utilização mais reduzida, deste tipo de construção;
 Este tipo de construção é preterido em relação à construção tradicional, no que diz respeito
ao objecto de estudo, nas principais instituições ligadas ao conhecimento.
 Importância do acompanhamento, de todas as fases da pré-fabricação, devido à eventual
falta de rigor que pode originar erros sistemáticos e consequentemente à rejeição das peças;
 Em obras de pequenas dimensões, torna-se uma solução dispendiosa.

As ligações entre as peças e o seu comportamento, que por vezes é difícil de prever, podem
tornar-se numa desvantagem aquando da opção pela pré-fabricação (Cunha, 2011).

2.3 Betão arquitectónico


O BA distingue-se do betão corrente pelo incremento da dosagem mínima de ligante e dos elementos
finos, pela redução da relação água/cimento – A/C (com o recurso a superplastificantes que permitem
obter valores muito elevados da relação A/C, 20% a 30%, para trabalhabilidades iguais, sem
influência no processo de hidratação. Assim, no denominado BA há um incremento significativo das
suas propriedades, o que lhe confere qualidade ao nível da aparência, do desempenho e da sua
durabilidade (Faria & Inácio, 2007).

As soluções industrializadas têm vindo a ser progressivamente mais utilizadas, por serem
economicamente viáveis e atenderem a cronogramas cada vez mais rígidos, respeitando a liberdade
arquitectónica, a criatividade e a plasticidade [W1].

Nos últimos anos tem-se assistido a um desenvolvimento acentuado de novos betões, resultante da
investigação levada a cabo nas diversas áreas que integram o seu processo construtivo, As
inovações introduzidas induziram, consequentemente, uma renovação das tecnologias de
acabamentos de superfícies em betão e introduziram na gíria da construção o conceito algo vago de
Betão Arquitectónico [BA].

10
O BA tem assim por génese os diversos avanços tecnológicos mais recentes que o material tem
vindo a sofrer, nomeadamente ao nível dos materiais constituintes e das tecnologias de fabrico com
destaque para a pré-fabricação (Faria & Inácio, 2007).

Os painéis pré-fabricados de betão arquitectónico apresentam-se como alternativa à construção


tradicional, dado que são constituídos por betão pré-fabricado ou moldado no local, podendo ter
utilização em obras industriais, comerciais e residenciais. Constituem uma tecnologia de construção
relativamente inovadora e configuram-se como práticas frequentes na Engenharia Civil (Piedade,
2003).

O BA possui exigências de ordem técnica intrínsecas ao material superior aos betões correntes
apenas com funções estruturais. Têm que apresentar uma maior homogeneidade, opacidade,
compacidade e durabilidade de aparência, pelo que existe objectivos de se atingir um bom
desempenho durante o ciclo de vida (Faria & Inácio, 2007). Segundo Marques (2012), as
características intrínsecas dos painéis de betão pré-fabricado, dão origem a uma presença de
anomalias nestas superfícies, menos significativa, do que em superfícies de betão feito in situ.

De acordo com NPCA (2012), os tipos de painéis pré-fabricados geralmente mais usados como
revestimento exterior de edifícios de pré-fabricado são os painéis autoportantes, (Figuras 2.1 e 2.2,)
painéis de cisalhamento e painéis de cortina ou de revestimento. Estes painéis resistem e transferem
cargas de outros elementos e não podem ser retirados sem alterar a estabilidade do edifício.

Figura 2.1- Pormenor de parede com vazios Figura 2.2- Detalhe da figura anterior com
(Daab, 2008) pormenor de folhas impressas (Daab, 2008)

Os painéis de cortina ou de revestimento, Figura 2.3, são os mais usados para o fecho dos edifícios,
e não transmitem cargas verticais, exceptuando o peso próprio. São projectados para resistir ao vento
e às forças sísmicas resultantes do seu peso.

Os painéis de cisalhamento, Figura 2.4, resistem às cargas laterais quando se combina o seu peso
com a acção de diafragma das lajes de piso. A eficácia destes painéis é largamente dependente das
conexões entre painéis.

11
Por vezes usam os painéis pré-fabricados como cofragens para betão betonado in situ. Enquanto
estes painéis servem como forma e servem também de acabamento, o betão in situ vai ter função
estrutural (Gaudette, 2009). Os painéis de betão pré-fabricados assumem um carácter estrutural
assim como o betão in situ. No caso dos elementos pré-fabricados- pré-lajes- que possuem
armaduras, e que após serem colocadas na posição final, são betonadas e vão aguentar o peso do
betão complementar colocado por cima até ficar tudo autoportante.

Figura 2.3- Edifício em construção com Figura 2.4- Edifício construído com
painéis autoportantes. Colorado, USA painéis autoportantes já concluído.
(PCI, 2007). Colorado, USA (PCI, 2007).

As ligações entre painéis são essencialmente metálicas e quanto à sua forma de fixação podem ser
soldadas, aparafusadas e ancoradas. Devem apresentar características de ductilidade, resistência
mecânica e resistência à corrosão. Quanto ao tipo de fixação podem ser de alinhamento, de apoio
vertical e de apoio lateral segundo FIB (2011) citado por Marques (2012).

2.4 Patologia em fachadas de betão arquitectónico


As anomalias em elementos de betão aparente, devidas ao projecto, produção, transporte e
montagem, normalmente não têm influência na capacidade resistente deste elemento, mas afectam a
sua durabilidade. Embora este problema seja actualmente extremamente difícil de quantificar, as
condições que reduzem a durabilidade do elemento podem, frequentemente, ser compensadas com
tratamentos superficiais, que ainda assim, terão que ser sujeitos a um acordo entre a empresa de
pré-fabricação e o cliente (FIB, 2007).

Proceder a uma reparação sem um diagnóstico correcto das causas, frequentemente leva à
eliminação dos sintomas de uma forma ineficaz e temporária e consequentemente ao seu
reaparecimento, ou até, a intervenções inadequadas que podem piorar a situação já analisada
(Ribeiro et al, 2003).

12
Figura 2.5- Edifício com painéis de Figura 2.6- Exemplo de painéis de cortina
cisalhamento. Sarasota, Florida (PCI, ou revestimento. Huntington Avenue,
2007) Boston, Massachusetts (PCI, 2007)

Segundo Piferi (2006), as fachadas de betão arquitectónico sem defeitos são praticamente
impossíveis. No entanto é possível estabelecer limites, para que esses defeitos possam ser ou não
aceites. Este autor refere que o estabelecimento destes limites é complexo, em particular para os
defeitos e anomalias que possuem um carácter estético, devido à subjectividade dos julgamentos
qualitativos.

O aspecto final da superfície depende do tipo de constituintes do betão - cimento, água, areia,
agregados e aditivos – e da relação entre eles, da grande variedade de moldes que podem ser
usados, das diferentes técnicas de moldagem (orientação das superfícies expostas durante o fabrico
e procedimentos de compactação, entre outros) (Inácio, 2005).

Neste contexto, Piferi (2006) divide as anomalias, de forma genérica, em estéticas e de forma e
superfície.

2.4.1 Anomalias estéticas em betão arquitectónico: Cor e variação de tonalidade

A tonalidade do betão é influenciada pelo tipo de cimento, pela superfície do molde, pela cor dos finos
e pela relação a/c. Com o uso de diferentes pigmentos corados e agregados, o betão pode ser
produzido com praticamente qualquer superfície corada de betão. Uma certa variação de cor é
normal em superfícies de betão. Até uma superfície cinzenta de betão tem variações na tonalidade e
na cor. A norma ISO 2470 classifica a brancura do betão numa escala de 0 a 100, em que ao valor
100 se considera o branco e ao valor 0 se considera o preto. Um betão branco encontra-se, nesta
escala, com um valor de 75-80 e um betão Portland normal encontra-se com um valor de 24-30.

O sistema CIELAB Colouring System é um sistema de medida que pode ser usado na avaliação de
superfícies de referência tanto em betão cinzento como em betão corado. Estes sistemas, são muito
precisos mas envolvem um esforço considerável, bem como um custo elevado, justificando-se o seu
uso, apenas em obras de significativa importância, em que sejam exigidos elevados níveis de
controlo da cor. A um nível mais prático, o controlo da cor pode ser especificado sobre uma superfície
de betão usando como referência um painel de teste ou quadro que mostra a gama de tons.

13
Para betões cinzentos ou levemente corados, o relatório CIB W-29 nº 24 “Tolerances on blemishes of
concrete” (CIB report no. 24, 1973) pode ser usado para avaliar a superfície acabada. A aceitação
de coloração de determinada superfície vai variar consoante a classe de acabamento que se
pretende dar à referida superfície. De acordo com relatório CIB W-29 nº24, para as superfícies da
classe AA e classe A poderá haver uma discrepância máxima de 2 tons e na classe B, de 3 tons. A
comparação é feita com o betão seco, à sombra e visto a uma distância mínima de 3 metros da
superfície.

Para superfícies de betão coradas, o método mais prático é usando o painel de teste. Este deverá ser
parte integrante da documentação de projecto podendo ser usado como mecanismo de controlo. O
painel deverá ser largo o suficiente de modo a mostrar a amplitude de tons aceitáveis. As variações
entre o painel de teste e a superfície do edifício podem ser inspeccionadas e avaliadas segundo os
critérios de aceitação especificados.

Imperfeições em superfícies de betão corado são muito difíceis de resolver. Os métodos para resolver
estas imperfeições, vão depender da classe de acabamento requerida e do tipo de betão usado e
podem variar de projecto para projecto. Para superfícies cinzentas, a rectificação pode ir, desde
fricção ou lapidação à superfície para menores descolorações até revestimentos com base de
cimento aplicado em casos de imperfeições severas. Para a rectificação de superfícies coradas, as
opções são muito limitadas e qualquer coisa que não seja uma pequena imperfeição pode requerer a
aplicação de um acabamento sobre a totalidade da superfície. Para dar uma cor mais homogénea da
superfície, recomenda-se que a pasta de cimento endurecido seja removida das superfícies coloridas
através de algum tipo de tratamento ou decapagem ácida (FIB, 2007).

2.4.2 Anomalias de forma e superfície em betão arquitectónico

2.4.2.1. Uniformidade das superfícies

Dentro da estética, a uniformidade das superfícies tem uma relevância significativa e as imperfeições
mais correntes são: indentações, poros, nódulos, cavidades, destacamento, zonas de cicatriz na
costura do molde e zonas de curvatura e ondulação da superfície (FIB, 2007). De seguida especifica-
se cada um destes defeitos (BY 40 (2003), citado por FIB, (2007)):

 nódulos - normalmente causados por uma reentrância no interior do molde. Caracteriza-se


por altura e largura;
 cavidades - normalmente causadas pela subida ou pela falta de limpeza, da superfície do
molde. Caracterizam-se por profundidade e largura;
 costuras extrudidas - causadas por betão extrudido da costura do molde. Caracterizam-se
por largura e altura;
 cicatrizes - causadas por betão que se separou nas juntas do molde. Caracterizam-se por
largura e profundidade;

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 indentações - causadas pela falta de nivelamento entre as placas de forma. Caracterizam-se
por uma dimensão que mede o desnivelamento entre as superfícies;
 poros - pequenas cavidades redondas criadas por bolhas de ar ou água, que se acumularam
junto da superfície. Caracterizam-se por largura e profundidade (Figura 2.7);
 separação da superfícies exterior ou outros defeitos - usualmente causadas por um
destacamento, reduzida percentagem de finos ou insuficiente vibração. Caracterizam-se por uma
área, ou seja duas dimensões (Figura 2.8);
 curvatura e ondulação da superfície - causadas pela falta de nivelamento da superfície do
molde (nódulos, cavidades e poros não fazem parte deste desvio). Caracterizam-se pela máxima
medida do desvio por cada 1,5m (FIB, 2007);

A Tabela 2.1 descreve imperfeições de cor típicas e suas causas prováveis de acordo com FIB
(2003).

2.4.2.1 Fracturação das superfícies

A fracturação da superfície do betão pode influenciar a durabilidade da estrutura para além de poder
constituir um problema estético. Fracturas com aberturas inferiores a 0,05 mm são denominadas
micro-fracturas e normalmente não são consideradas. Neste documento não serão igualmente
consideradas. Fracturas com aberturas de 0,3 mm são consideradas mais normais e precisam de
algum tipo de tratamento para superar a durabilidade e/ou problemas estéticos. A tabela 2.2 (BY 40,
2003) menciona alguns valores limite para fracturas visíveis. O primeiro valor na tabela, significa a
2
largura da fractura e o segundo significa comprimento total da fenda numa área máxima de 1 m .
Fracturação abaixo 0,05 mm não é tida em conta. Em superfícies revestidas, fracturas não podem ser
observadas após a aplicação do revestimento. Os requisitos de durabilidade são avaliados
separadamente (FIB, 2007).

2.4.2.3. Deflexão e curvatura

O betão é um material que possui características que variam ao longo do tempo. A fluência e a
retracção ocorrem ao longo do tempo e são causas fundamentais que têm influência nas
deformações. É muito complicado avaliar as deformações exactas de uma estrutura.

Esta situação torna-se ainda mais significativa quando a estrutura é construída com elementos
betonados in situ e pré-fabricados, com partes fabricadas com diferentes betões, de diferentes idades
e resistências e consequentemente, com valores de fluência e retracção distintos.

Estes aspectos, somados às normais complexidades do betão, levam uma avaliação exacta das
deformações da estrutura ao longo do tempo, a tornar-se difícil e pouco rigorosa. As deformações
reais podem diferir dos valores estimados, particularmente se os valores dos momentos aplicados
estiverem próximos do momento de fendilhação. As diferenças vão depender da dispersão das
propriedades dos materiais, das condições ambientais, da história de carregamento, das restrições
impostas pelas condições de apoio, condições do solo, etc..

15
Tabela 2.1- Imperfeições de cor mais comuns e as suas causas (FIB, 2003)
Imperfeição Descrição Causa Provável
Materiais: tipo de cimento ou variação de
Variação de cor qualidade; mudança da origem dos materiais;
Variação da cor da
ao longo da variação nas misturas.
superfície
superfície Mistura de betão: variação nos processos de
mistura
Cofragem: demasiado flexível e resulta numa
Superfície aparece acção de bombeamento durante a
mosqueada com áreas compactação
Transparência
escuras de tamanho e forma
dos agregados Mistura de betão: quantidade de finos
semelhante aos agregados
insuficiente; deficiente calibração da areia
grossos
Métodos de colocação: Vibração excessiva
Superfície aparece Materiais: Agregados secos ou demasiado
Transparência mosqueada com áreas porosos
dos agregados claras de tamanho e forma
Cura: Secagem rápida da superfície devido a
em negativo semelhante aos agregados
uma cura inadequada
grossos
Variação na sombra da Cofragem: absorvência variável da superfície;
superfície devido ao fuga através das juntas
movimento da humidade Mistura de betão: elevada relação a/c; mistura
Descoloração de dentro do betão plástico. com elevada água superficial
hidratação Manchas e descolorações Agente descofrante: irregular ou usado de
tendem para ser piores no forma inadequada
topo de um elevador e nas
juntas Cura: cura irregular
Variação da cor, sombra ou Cofragem: reduzida absorção da superfície;
textura devido à separação água no fundo do molde
Descoloração de
das partículas finas e Mistura de betão: mistura de má qualidade
segregação ou
presença de água com elevada relação água-cimento
movimento de
superficial. Resulta numa
areias Métodos de colocação: Vibração excessiva do
aparência manchada da
superfície. betão; Baixas temperaturas de colocação
Cofragem: manchas, alteração de cor,
sujidade na cofragem, manchas de madeira,
ferrugem devido às armaduras ou
Descoloração do componentes de metal
Descoloração devido à
corante ou Agente descofrante: impuro ou usado de
contaminação de materiais
contaminação forma imprópria
Materiais: Sujos ou contaminados
Cura: componentes de cura impuros; água de
cura suja; coberturas de cura sujas

Além das cargas verticais e horizontais, temperatura, humidade e agentes químicos é importante
avaliar as deformações. Normalmente, a deformação ao longo do tempo é avaliada, multiplicando a
deformação devido a cargas instantâneas, por um coeficiente que tem em conta a fluência, a
retracção, o conteúdo em armadura e a duração da carga. Em lajes de piso de edifícios comuns, a
deformação a longo prazo é aproximadamente 2,8 vezes a deformação instantânea, ainda que esta
informação seja de relevância pouco significativa, num texto que aborda essencialmente o envelope
exterior dos edifícios e em particular as fachadas. Actualmente, a maioria dos textos faculta maneiras
aproximadas de calcular deformações reais (FIB, 2007).

16
Figura 2.7- Poros/Vazios (NPCA, 2013) Figura 2.8- Destacamento (NPCA, 2013)

O controlo das deformações é relevante por razões estruturais. As deformações têm que ser também
controladas por razões relacionadas com o uso dos edifícios e normalmente são estas restrições que
limitam o projecto. Por exemplo, em edifícios, as restrições são requeridas para controlar
deformações de divisórias e fachadas (FIB, 2007).

Tabela 2.2- Tamanho máximo e quantidade de fracturas visíveis em superfícies de betão


(BY 40, 2003).
Tratamento da superfície Classe AA Classe A
Superfície clara do molde, aço polido, agregados finamente
lavados, projecção de areia fina ou tratamento superficial não permitido 0,1/500
com ácido
Superfície escura do molde, madeira polida, escovado ou 0,1/500 0,2/500
projecção superficial de areia média 0,2/500 0,1/500
Superfícies revestidas
0,2/1000
Estrutura interior
0,1/5000
0,3/3000
Estrutura exterior
0,2/5000

Curvatura é a deflexão ascendente de um elemento, devido ao pré-esforço. Esta deformação é muito


dependente da resistência do betão quando os cabos de pré-esforço são libertados, estado de tensão
do elemento, humidade, temperatura e tempo em carga. Assim o cálculo da curvatura depende de
muitos factores que fazem com que seja difícil conseguir um resultado preciso. Por exemplo o tempo
de armazenamento tem mais influência na curvatura do que qualquer outro factor. Os limites de
curvatura na altura da montagem são frequentemente especificados para os elementos pré-
fabricados. No entanto, esta situação fornece pouca informação sobre o desempenho do elemento
dentro da estrutura completa. Coberturas de betão feitas in situ podem afectar as deformações e
podem ser usadas para mascarar curvaturas excessivas. Quando os elementos pré-fabricados são
colocados adjacentes entre si, as deformações relativas podem ter que ser limitadas por razões
estéticas ou razões funcionais, se não existir nenhum betão feito in situ, a ligá-los. Informação sobre
deflexões para membros a resistir a cargas verticais, quer sejam vigas ou lajes, é fornecida em
muitos textos, mas há pouca informação sobre deformações em elementos verticais devido a cargas

17
horizontais. Limitações às deformações e curvaturas podem ser encontradas nas normas EN 13225,
e EN 1992-1-1 (FIB, 2007).

2.4.2.4. Fendilhação

A fendilhação no betão pode ser o resultado de um ou da combinação de factores, todos eles


envolvendo alguma forma de restrição. A causa mais comum das fendas inclui a secagem de
retracção, contracção ou expansão térmica ou tensões aplicadas. As forças podem acumular-se no
interior do betão devido a qualquer um destes factores e quando as forças excederem a resistência
do material, as fendas desenvolvem-se. A fendilhação é influenciada pela qualidade dos materiais
constituintes do betão, condições meteorológicas, cura, processo de manufactura e manuseamento.

As fendas são inerentes ao betão armado e a sua ocorrência não implica necessariamente
problemas. Enquanto que as fendas são normalmente, mais uma preocupação estética do que uma
preocupação estrutural, estas poderão ser um indicador de problemas no exterior, nomeadamente um
projecto inadequado ou carga excessiva.

Para elementos pré-fabricados de betão, as fendas podem ser divididas nos seguintes tipos: fendas
térmicas; fendas devidas a assentamento plástico e retracção autogénea; fendas devidas a retracção
de secagem; e fendas mecânicas (FIB, 2007).

i) Fendas térmicas

O betão dilata e contrai com as variações de temperatura. As fendas devido às diferenças de


temperatura ocorrem quando as tensões de tracção induzidas, durante o período de arrefecimento,
são maiores do que a capacidade de tracção do betão (FIB, 2007).

Figura 2.9- Fissuração mapeada (Daab, 2008) Figura 2.10- Fissuração (NPCA, 2013)

Os factores que afectam a fendilhação térmica são os seguintes:

 Tipo de cimento e do conteúdo - a hidratação do cimento é uma reacção exotérmica. A


quantidade total de calor e taxa de produção de calor é uma característica do tipo de cimento

18
e do teor de cimento. Quanto menos calor for produzido, menores serão as hipóteses de se
formarem fendas. Betões baseados em Sulfate Resistant Portland Cement geralmente
originam temperaturas mais baixas do que betões normais baseados em cimento Portland.
Betões baseados na substituição de cimento por outros materiais nomeadamente cinzas
volantes ou escória de alto forno poderão auxiliar na redução das temperaturas mais
elevadas. O aumento do teor de cimento dá origem a maior calor e a um aquecimento do
betão e consequente expansão. O teor de cimento é designado através dos requisitos de
resistência e durabilidade. Elevados teores de cimento podem originar outros problemas, tais
como elevadas retracções de secagem e coesão excessiva (FIB, 2007).
 Tipo de agregados - betão com um baixo coeficiente de expansão térmica reduz
significativamente o risco de fendilhação térmica. O coeficiente de expansão térmica do betão
é dependente dos coeficientes de expansão térmica dos agregados (FIB, 2007).
 Método de cura - o método de cura pode ter influência nas fendas térmicas. Elementos pré-
fabricados de betão são normalmente cobertos por películas de polietileno até o betão chegar
à resistência à compressão pretendida. Isto minimiza a taxa de variação da temperatura e
reduz a probabilidade de fendas térmicas (FIB, 2007).

ii) Fendas devidas a assentamento plástico e retracção autogénea

Fendas devidas a assentamento plástico, aparecem imediatamente depois do betão ser colocado e
são causadas pelo movimento ascendente da água para a superfície e pelo assentamento do betão.
As fendas devidas à retracção autogénea, ocorrem quando o betão ainda está húmido ou quando
ainda está num estado muito precoce (FIB, 2007).

iii) Fendas devidas à retracção de secagem


A retracção de secagem a longo prazo é causada pela saída de água dos poros de gel, dentro da
pasta de cimento do betão. Isto dá origem à existência de tensões internas, que se forem superiores
à capacidade de tracção do betão, vão levar à fendilhação. As fendas aparecem quando a taxa de
evaporação da água da superfície do betão é superior à subida de água para a superfície. Esta
situação é comum, quando está calor, tempo seco e/ou ventoso ou quando a cura é adiada
A retracção de secagem normalmente ocorre da seguinte forma:

 14 a 34% da retracção última ocorre em 2 semanas;


 40 a 80% da retracção última ocorre em 3 meses;
 66 a 85% da retracção última ocorre em 1ano.

Os factores que afectam a retracção de secagem incluem: relação agregado-pasta; volume-área de


superfície dos componentes; relação água-material cimentício; distribuição do tamanho dos poros;
tipo e quantidade de cimento; e quantidade de agregados finos e grosseiros.
A fendilhação pode ser reduzida usando um projecto de mistura de betão com uma quantidade
mínima de água necessária para distribuir a pasta sem vazios (FIB, 2007).

19
iv) Fendas mecânicas

As fendas mecânicas podem ser devidas a acidentes, a manuseio incorrecto dos elementos de betão
ou projecto inadequado para resistir às acções aplicadas. Estes são geralmente, os problemas pós-
produção. As fendas que ocorrem durante o empilhamento e o manuseamento do produto podem ser
o resultado de: sobrecarga na fábrica; problemas de elevação; ou de erros de empilhamento.

As fendas que ocorrem durante a montagem podem indicar um problema mais sério e devem ser
referidas ao projectista para avaliação (FIB, 2007).

2.4.2.5. Fragmentação, divisão e ruptura

As fendas relacionam-se com, a transferência das forças de pré-esforço, para os membros de betão.
O uso mais típico do pré-esforço em construção com betão pré-fabricado, é a pré-tensão, na qual os
cabos de pré-esforço estão ancorados ao betão por ligação dos cabos ao betão. As fendas por
fragmentação, divisão e ruptura podem ocorrer nas zonas terminais dos elementos pré-esforçados
onde as forças se concentram e passam para uma distribuição de tensões linear ao longo da secção
de betão. Esta zona é conhecida como o “comprimento de transferência”. No EC-2 (EN 1992, 2004)
“comprimento de transferência” é chamado “comprimento de dispersão”.

Num elemento pré-fabricado as tensões compressivas e de tracção não são distribuídas linearmente.
Esta situação frequentemente gera tensões de pico superiores ao que é permitido para a resistência
à tracção do betão em distribuições lineares de tensão. Também ocorrem outras tensões de tracção,
perpendiculares ao eixo do elemento.

i) Fendas de divisão

As fendas de divisão resultam de forças de tracção nos cabos de pré-esforço, que são transferidas
por ligações, para o betão. Estas só podem ocorrer em elementos pré-tensionados.

ii) Fendas de ruptura

As fendas de ruptura são devidas à divisão da força principal de tracção. Ocorrem muito perto dos
cabos de pré-esforço e dão origem a tensões de tracção circunferenciais.

iii) Fendas de fragmentação

As fendas de fragmentação resultam de uma força secundária de divisão. A força de tracção neste
caso é essencialmente vertical e muito próxima do final do elemento. Podem ocorrer em elementos
pré-tensionados e pós-tensionados. Os elementos pré-fabricados podem sofrer danos acidentais
devido ao manuseamento, a qualquer altura, desde a manufactura até à montagem em obra. Estes
danos não cobrem defeitos que surgem consistentemente de situações específicas (tal como
fissuração sistemática durante a elevação) que são, em vez disso, indicação de um projecto
defeituoso ou manuseamento inadequado. Danos acidentais que ocorrem durante a manufactura,

20
armazenamento, expedição ou montagem são difíceis de classificar e enumerar a vasta gama de
situações envolvidas.

Grandes danos ocorrem quando elementos são largados durante a montagem, ou envolvidos em
acidentes de expedição, fogos ou semelhantes situações, embora seja necessários casos de estudo
específicos (FIB, 2007).

2.4.3 Eflorescências

As eflorescências constituem depósitos de cristais, que se apresentam sob a forma de manchas


brancas de cor branca, à superfície do betão, (Figura 2.11). Resultam da evaporação à superfície, de
soluções aquosas com sais dissolvidos, que circulam no interior do betão (Silva, 2015). O mesmo
autor refere, que esta anomalia pode ser também originada por capilaridade de águas provenientes
dos solos.

Figura 2.11- Superfície com eflorescências (Moreira, 1991)

Flores et al. (2010) inclui esta anomalia na categoria das manchas, de cor branca, e apresenta outras
duas origens possíveis para além da existência de sais solúveis, nomeadamente a presença de
matéria orgânica nos agregados ou água de amassadura.

Segundo Nunes (2013), o agente descofrante ou os adjuvantes podem possuir na sua composição
química, elementos que potenciem o aparecimento das eflorescências. Segundo o mesmo autor, a
escolha dos mesmos deverá criteriosa e se possível previamente testada em protótipos.

Para esta anomalia ocorrer, terão que ocorrer condições de humidade propícias nos poros do betão,
para haver dissolução dos sais, aliada à pressão hidrostática que possibilite a sua migração,
evaporação superficial e posterior depósito dos sais à superfície (PCI (2007), citado por Silva (2015)).

2.4.4 Corrosão

As manchas de corrosão, devem-se à deposição de óxidos metálicos à superfície do betão. Podem


ter origem na oxidação das armaduras, óxidos metálicos presentes nos agregados que se depositam
à superfície ou elementos circundantes que mancham a superfície (Coelho, 2015). A oxidação das

21
armaduras de espera, pode também dar origem a estas manchas, através do aumento de volume do
aço (Nunes, 2013).

Frequentemente estas manchas, estão associadas a outros problemas, com origem na oxidação das
armaduras e consequente perda de secção, constituindo problemas de natureza estrutural. Outra
possível origem destas manchas, será a oxidação dos arames de atar, que poderão ficar virados para
fora do elemento a betonar, e ao oxidar originam pontos de ferrugem (Figura 2.12) na superfície do
elemento (Nunes, 2013).

Segundo Silva (2015) este fenómeno, pode estar associado a descasques do betão, devido à
expansão do aço, expondo as armaduras (Figura 2.13).

A oxidação das armaduras, pode estar associada a recobrimentos insuficientes, movimentação das
armaduras aquando das betonagens, colocação incorrecta de espaçadores ou erros de projecto. O
uso de cofragens inox, não permite a acumulação de corrosão, sendo por isso recomendado o seu
uso (Brito et al. (2009) e Nunes (2013) citados por Silva (2015)).

A vibração do betão deve ser um requisito a ter especial atenção, de modo a evitar manifestações
patológicas capazes de expor a armadura.

Figura 2.12- Corrosão pontual (Nunes, Figura 2.13- Exposição de armaduras


2013) (Nunes, 2013)

2.5 Aspectos gerais de classificação


2.5.1 Nível de segurança

A uniformidade da cor e a intensidade da sombra são avaliadas visualmente, e por essa razão são
sujeitas à subjectividade do observador. Alguma diferença de tom entre painéis idênticos é inevitável,
mas uma variação de cor entre e dentro de painéis tem que ser mantida dentro de certos limites (PCI,
2007).

O nível de segurança requerido é definido pelos códigos (regulamentos) segundo os quais a estrutura
é projectada. Estudos prévios mostram que o nível de segurança atingido é essencialmente o
mesmo, qualquer que seja o código, e na prática as diferenças entre eles são mais devidas aos
22
coeficientes de correcção de segurança que dependem da qualidade de construção em cada país do
que questões conceptuais.

Qualquer falha, seja nas dimensões, qualidade do material ou na engenharia da estrutura, pode-se
traduzir numa redução da capacidade resistente. O principal problema é estabelecer o limite superior
para o qual o membro em questão é tecnicamente aceitável e não necessita de intervenção. Isto
naturalmente, não impede ajustes financeiros, dado que não é esperado que os criadores paguem o
mesmo preço por componentes com falhas aceitáveis, ou por elementos conformes. Mesmo onde
este limite é ultrapassado, certos elementos podem ainda ser tecnicamente aceitáveis, quando
sujeitos a reparação ou reforço. Finalmente, há um segundo e último limiar, para lá do qual a rejeição
é inevitável, porque o elemento não é tecnicamente aceitável e a reparação ou reforço, são
impraticáveis ou tecnicamente impossíveis.

No caso de um elemento imperfeito, ou séries de elementos, então, o impacto da imperfeição tem


que ser determinado em termos da perda de capacidade resistente no respectivo membro.

Onde as características e extensão da falha são conhecidos, tal como baixa resistência do betão ou
falta de armadura, o elemento ou elementos podem ser reformulados para comparar a sua
capacidade real com os requisitos especificados. O projectista pode fazer então o julgamento racional
sobre o uso ou não dos elementos.

Onde as características da falha não forem conhecidas, uma abordagem prática e realista terá que
ser feita para resolver o problema. Na indústria da construção não existem suficientes dados
estatísticos disponíveis para realizar um estudo puro e simples, que iria fornecer uma forte base
científica para determinar a segurança de elementos imperfeitos.

Uma tal abordagem prática inspira-se fortemente em (Campbell-Allen, 1979) e aborda


essencialmente dois cenários:

- em que o número de elementos são imperfeitos e apenas informação semi-probabilísticas


está disponível sobre as consequências da imperfeição em questão.

- em que normalmente afectam um número muito pequeno de elementos, nos quais


informação determinística sobre a falha, pode ser obtida, porque é financeiramente e praticamente
possível levar a cabo uma profunda investigação sobre a qualidade do material, arranjo das
armaduras, dimensões reais do elemento, e daí em diante.

2.5.2 Durabilidade

Imperfeições em projecto de elementos pré-fabricados, manufactura, expedição ou montagem,


frequentemente não têm impacto na força mas afectam a durabilidade. Embora este problema seja
extremamente difícil de quantificar, tendo em conta o estado da arte actual, as condições que mais
vezes reduzem a durabilidade do elemento podem ser frequentemente compensadas com –

23
tratamentos comuns de superfície, embora qualquer solução tenha que ser objecto de acordo entre o
fabricante do elemento pré-fabricado e o cliente.

Outra possibilidade seria o estudo da vida útil do membro, analizando a falha específica e a condição
real do elemento, na medida em que os betões usados para pré-esforço (devido a propriedades, tais
como quantidade de cimento e relação a/c) são geralmente mais duráveis do que os seus homólogos
feitos no local. Outra consideração a ter em conta neste contexto é o ambiente envolvente.

Uma vez definidas a vida útil e as condições reais, o engenheiro de projecto está numa posição de
decidir se aceita o elemento ou elementos imperfeitos ou estuda a possibilidade de adoptar uma das
medidas protectoras mencionadas acima (FIB, 2007).

2.5.3 Aspectos estéticos

Muitos dos danos nos elementos causados durante a expedição e montagem afectam apenas a sua
aparência. Os padrões estéticos variam naturalmente de forma significativa de caso para caso e até
dentro da mesma estrutura ou tipo de elemento, os requisitos são muito dependentes da localização.

Um assunto particularmente importante é o efeito de possíveis fendas, para as quais devem ser
dirigidas duas considerações:

- Como regra geral, a maioria das pessoas pode ver uma fenda, se a sua largura, medida em
milímetros, é o mesmo valor que a distância, medida em metros, entre o observador e a superfície
com a fenda.
- Em Campbell-Allen (1979) é possível consultar as larguras admissíveis para as fendas
estéticas, em termos da distância mínima ao observador e da classe da estrutura.
Independentemente, das larguras admissíveis para as fendas estéticas, referidas no ponto
anterior, estas fendas frequentemente podem ser reparadas, de modo a restaurar o aspecto geral dos
elementos e verificando os padrões estéticos previamente aceites (FIB, 2007).

2.5.4 Normalização

As normas EN 206-1 e a EN 13670-1 completam-se, constituindo com as normas dos aços para
armadura e pré-esforço (Anexo 1), a base para a aplicação da EN 1992 Eurocódigo 2: Projecto de
estruturas de betão. A norma EN 206-1 é uma norma do produto fresco, já que o transporte,
colocação, cura e protecção deste betão são tratados na EN 13670-1, mas tem em conta as
propriedades do betão endurecido - produto final (Faria & Inácio, 2007). As normas referidas
anteriormente estão na Tabela 2.3, com os títulos e designação da Norma Portuguesa em vigor.

A norma 13369 estabelece que, os PPB devem satisfazer a EN 206-1. No anexo informativo A, a EN
13369 reclassifica as classes de exposição ambiental da EN 206-1 e estabelece as regras para fixar o
recobrimento das armaduras ordinárias e de pré-esforço, baseadas em parte na EN 1992.

24
No Documento Nacional de Aplicação da NP EN 206-1, nas matérias relacionadas com a
durabilidade do betão, introduziu disposições complementares à EN 206-1.

A norma 13369 estabelece para os produtos pré-fabricados de betão (PPB) que, a cura do betão está
ligada às classes de exposição ambiental. Esta situação implica que o fabricante saiba o ambiente a
que o PPB vai ser exposto, excepto se aplicar a classe G, que é a classe mais exigente. Segundo a
norma 13369, as armaduras ordinárias e de pré-esforço, devem estar conformes com a EN 10080 e a
EN 10138 ou com as normas ou as disposições nacionais relevantes (caso das especificações
LNEC). A EN 13369 não tem especificações para 100 anos de vida útil. No anexo 1, estão
apresentadas algumas das normas portuguesas e europeias para produtos pré-fabricados com as
designações em português.

Tabela 2.3- Normas mais relevantes no processo de pré-fabricação dos painéis de fachada
Norma europeia Título Norma Portuguesa em vigor

EN14992 Painéis de fachada NP EN


14992:2007+A1:2015

EN13369 Regras gerais para PPB NP EN 13369:2015-pt

Betão; Parte 1: Especificação,


EN 206 desempenho, produção e NP EN 206-1:2007-pt
conformidade

EN13670 Execução de estruturas de betão NP EN 13670:2011-pt

2.6 Metodologia de inspecções


A inspecção de edifícios enquadra-se dentro das operações de manutenção, devendo ter a sua
própria metodologia e serem sustentadas por técnicas de diagnóstico apropriadas, que permitam uma
avaliação correcta do estado de degradação de cada camada (por ex.: condições de acabamento,
limpeza, aderência do fundo, e fissuras em fachadas em gesso) (Flores-Colen & Brito, 2010). A
inspecção e o diagnóstico das anomalias em edifícios só devem ser levadas a cabo por técnicos
qualificados e coordenadas por um engenheiro experiente (Ribeiro e Cóias, 2003).

A especificidade de cada revestimento de fachada, e o seu comportamento em serviço implicam


diferentes necessidades de manutenção. Numa inspecção, a observação visual permite uma
identificação das anomalias e avaliação das possíveis causas e em condições de serviço,
complementando as informações obtidas em fases anteriores, nomeadamente: registo de
reclamações, elementos de projecto, relatórios de intervenções, entre outros. Esta avaliação também
permite a conhecer a necessidade de testes complementares (Flores-Colen et al., 2008). Informação
prévia, pode ajudar com a preparação de uma inspecção e plano de manutenção na fase de projecto,
o que irá permitir uma optimização de recursos, controlo do tempo e minimização de custos (Flores-
Colen & Brito, 2010).

Na fase de projecto, o projectista e o construtor/promotor, devem realizar um plano de


manutenção/conservação para o edifício para ser entregue aos novos donos de modo a garantir a

25
durabilidade da sua propriedade. Este plano deve definir a frequência das inspecções, se são de
rotina ou detalhadas e especificar procedimentos de teste aplicáveis, medidas correctivas que
possam ter que ser tomadas quando os parâmetros monitorizados são atingidos e a vida útil estimada
para cada elemento do edifício quer seja estrutural ou não (Ribeiro e Cóias, 2003).

A primeira informação directa, da descrição construtiva do edifício, a ser considerada, inclui a


situação técnica e funcional do edifício, no momento do estudo. É a parte principal, do estudo
histórico, arqueológico e documental do edifício, e deve indicar a condição do edifício e da sua
envolvente, para ser incorporada no diagnóstico. Isto vai facilitar a compreensão dos problemas
patológicos e ajudar na tomada de decisão para a intervenção. Para isto organizaram-se 3 itens:
(Monjo-Carrió et al., 2003)

i) Descrição construtiva

Um registo completo dos diferentes sistemas e elementos do edifício, deve incluir: estimativa de
critérios de projecto; materiais; estado de conservação geral; desenhos, já existentes ou feitos
propositadamente (fotogrametria) para saber a geometria do edifício e dos seus elementos; detalhes
construtivos, para explicar as juntas; e fotografias.

Se a documentação de projecto estiver disponível, deverá ser incorporada indicando possíveis


diferenças com a presente construção. Se, pelo contrário não estiver disponível, medidas e cálculos
deverão ser feitos de modo a ter um conhecimento completo do edifício.

ii) Ambiente

O ambiente urbano e paisagem devem ser descritos de forma a conhecer a possível influência das
suas características, cobrindo os seguintes aspectos: geográfico; meteorológico; e artificial.

iii) História da construção

A “história da construção” dos edifícios deve ser incluída, de acordo com os estudos históricos
referidos anteriormente, mencionando: datas da construção; intervenções prévias e modificações do
edifício; e modificações funcionais (Flores-Colen et al., 2008).

Todos os processos patológicos têm que ser descritos para um melhor entendimento do problema e
para decidir a solução técnica correcta. De acordo com isto, em todos os processos os seguintes
items têm que ser descritos: (Monjo-Carrió et al., 2003).

 Origem das causas, directas e indirectas causas directas, todas as acções externas nos
elementos de construção afectados pelo processo; causas indirectas, qualquer erro de
projecto, material ou construção.
 Evolução do processo (primeira ocorrência, periodicidade, última ocorrência).
 Sintoma (falha).

26
Normalmente, uma inspecção visual é feita apenas no piso térreo e a poucos metros das paredes. De
modo a sistematizar procedimentos, recomenda-se uma distância de 5 metros para uma primeira
inspecção visual generalizada. Uma inspecção mais detalhada vai permitir a obtenção de mais
pormenores sendo também necessário fazer testes de desempenho. De modo a obter-se uma
identificação precisa, registo e classificação das anomalias e respectivas causas, são usadas
normalmente tabelas e matrizes de correlação. Estas tabelas são um meio para reduzir a
subjectividade do diagnóstico, mas também uma forma de identificar as causas das anomalias e
prevenir o seu reaparecimento (Flores-Colen et al., 2008).

As técnicas complementares de diagnóstico permitem dar indicações precisas, quer sejam


quantitativas ou qualitativas, sobre as características dos materiais usados (caracterização química,
composição mineralógica, características petrográficas e propriedades físicas, mecânicas e hídricas)
assim como os defeitos patológicos e os mecanismos de degradação presentes. Estas técnicas
poderão ser in situ ou em laboratório (classificação segundo o local onde a técnica é executada) e ser
destrutivas ou semi-destrutivas (classificação consoante o grau de destruição induzido no elemento).
Parâmetros tais como o custo, facilidade de aplicação, informação útil recolhida, facilidade na
interpretação de resultados, intrusividade, fiabilidade de resultados, necessidade de meios de acesso,
entre outros, conduzem o inspector a decidir quais as técnicas de diagnóstico mais relevantes para o
caso em análise. Usualmente as técnicas in situ são menos dispendiosas, os resultados são fáceis de
interpretar, e necessitam de uma mão-de-obra pouco especializada, enquanto que as técnicas
laboratoriais são mais demoradas e dispendiosas, incrementando, deste modo, o custo da inspecção
(Flores-Colen et al., 2008).

As inspecções a edifícios não se devem só focar nos problemas conhecidos, mas devem também ser
encaradas como um mecanismo de ajuda à manutenção periódica que é essencial para uma correcta
conservação do edifício. Embora a importância das inspecções e testes na manutenção e
conservação, seja reconhecida de uma forma geral, hoje em dia, os utilizadores e donos
normalmente só intervêm quando as anomalias já estão a afectar o edifício. Esta política apenas adia
os custos de manutenção, significando que o dono ou o utilizador terão que pagar mais no futuro,
porque as reparações precoces de anomalias são mais simples e menos dispendiosas (Ribeiro e
Cóias, 2003).

2.7 Síntese do capítulo


O betão arquitectónico pré-fabricado possui um elevado padrão de qualidade de acabamento e uma
tolerância mais rigorosa do que os restantes produtos pré-fabricados. A aplicação deste betão numa
fachada impõe uma exposição visual significativa e susceptibilidade aos efeitos combinados da
chuva, vento, luz solar e poluentes biológicos e atmosféricos que consequentemente levam a
degradação visual. Este betão difere do betão corrente pelo aumento da dosagem mínima de ligante,
redução da relação A/C para trabalhabilidades iguais. Assim há um incremento das suas
propriedades, havendo um incremento de qualidade, de desempenho e durabilidade. O betão pré-
fabricado apresenta numerosas vantagens, nomeadamente: controle de qualidade; plasticidade;

27
liberdade conceptual; resistência ao fogo e manutenção reduzida ou inexistente. A nível de vantagens
económicas, permite uma poupança de recursos humanos e uma redução do prazo da obra.

Segundo a NPCA (2012), os tipos de painéis pré-fabricados geralmente mais usados são: painéis de
cortina ou de revestimento, painéis autoportantes e painéis de cisalhamento. As ligações entre
painéis são essencialmente metálicas e quanto à sua forma de fixação podem ser soldadas,
aparafusadas e ancoradas.

As anomalias neste tipo de superfície são menos frequentes do que nos betões correntes, havendo
no entanto uma preocupação acrescida devido ao grau de exposição elevado e intrínseco numa
fachada. Apesar do incremento de qualidade, desempenho e durabilidade deste tipo de betão, as
fachadas sem defeitos são praticamente impossíveis. Entre as anomalias que se destacam,
salientam-se as manchas, as mudanças de cor e mudanças de tonalidade (anomalias estéticas) e as
fissuras (anomalias de forma e superfície). As manchas, mudanças de cor e tonalidade, são
anomalias difíceis de resolver e cuja resolução depende da importância da obra. No entanto, importa
ter em conta, que é necessário estabelecer um critério de aceitação desses defeitos, ainda que
constitua uma tarefa difícil.

As normas mais relevantes para os PFPB são a EN 14992; EN 13369; EN 206 e EN 13670 que
constituem normas para o betão. Estas normas devem ser articuladas com as normas respeitantes
aos aços.

As inspecções devem estar inseridas num plano de manutenção do edifício que deve ser pensado na
fase de projecto. A recolha de informação relativa a anteriores inspecções e intervenções, servirá de
base à identificação de anomalias e respectivas causas.

As inspecções devem reunir o maior número de elementos possível, de modo a reduzirem ao máximo
a subjectividade. As inspecções têm como base uma observação visual mas caso seja necessário
deverá recorrer-se a meios auxiliares de diagnóstico, de modo a avaliar correctamente o estado de
degradação do edifício.

28
3 Inquéritos

3.1 Objetivos
Este capítulo tem como objectivo aprofundar os conhecimentos sobre as empresas e o mercado de
pré-fabricação de betão em Portugal. Pretende-se particularizar este conhecimento para as empresas
de pré-fabricação de PFPB.

Pretende-se compreender quais as principais anomalias que surgem nas superfícies das fachadas
pré-fabricadas em betão e as suas origens, mas, também, os principais factores que contribuem para
o aparecimento das mesmas anomalias.

3.2 Considerações gerais


O desenvolvimento do inquérito contou com a colaboração da Associação Nacional dos Industriais da
Prefabricação em Betão (ANIPB). Foi usado um questionário “on-line” através da ferramenta “Google
Forms” (Anexo 1).

Com os inquéritos pretendeu-se responder às seguintes questões:

i. Conhecer o mercado actual da pré-fabricação de betão, mercado este onde se insere a


patologia de PFPB;
ii. Quantificar a produção de fachadas pré-fabricadas em betão, em território nacional;
iii. Identificar as normas e regulamentações associadas ao processo de pré-fabricação de betão
e ao produto final;
iv. Clarificar o impacto das normas e regulamentações no produto final da pré-fabricação de
betão;
v. Perceber a dimensão do problema da patologia de fachadas pré-fabricadas em betão, em
território nacional;
vi. Identificar as principais anomalias dos PFPB e quais as suas origens;
vii. Esclarecer quais as medidas a implementar, no âmbito da patologia de betão, de modo a
aumentar os níveis de produção dos PFPB.

3.3 Metodologia utilizada


O contacto com as empresas foi feito por email (Anexo 2) e contou com a colaboração da ANIPB.
Foram obtidas 30 respostas que correspondem a 30 empresas.

Os destinatários dos inquéritos foram as empresas de prefabricação de betão em Portugal. Assim, foi
usada uma base de dados de empresas, cedida pela ANIPB. Nesta base de dados constavam 2 listas
com contactos, de empresas associadas à referida entidade e também as empresas não associadas
à ANIPB. A lista de empresas associadas, era composta por 34 empresas e a lista de empresas não
associadas, era composta por 99 empresas.

29
Foi informado no cabeçalho, que o questionário seria anónimo e confidencial entre os participantes,
sendo os mesmos posteriormente informados da estatística das respostas.

Após o término do período de recepção de respostas, e devido à participação no referido inquérito de


9 empresas, foi feita uma sensibilização telefónica junto das empresas presentes na base de dados.
Desta forma, foi obtido o número de respostas aceitável (30 respostas), que representa uma
percentagem de 27,5% inserida num universo de 109 empresas em actividade (empresas associadas
e não associadas). Chegou-se a este universo através da remoção de algumas empresas da lista
inicial: 5 empresas que estavam em falência/encerramento/baixa produção; 11 empresas que se
recusaram a responder por estarem fora do âmbito do questionário; 1 empresa que se recusou sem
apresentar justificação; 7 empresas que não responderam por falta de tempo/férias/outros motivos.

Independentemente dos painéis de fachada entrarem na lista de produtos fabricados por determinada
empresa, foi requerida a colaboração destas empresas, de modo a ter a noção da quantidade que se
produz de outros elementos pré-fabricados. Desta forma, é possível ter uma noção da produção de
painéis de fachada face ao restante mercado dos elementos pré-fabricados.

O questionário está segmentado em 3 partes distintas. A materialização desta ideia foi feita da
seguinte forma: 1ª parte - “Caracterização da empresa”, 2º parte - “Pré-fabricação”, 3ª parte - “Painéis
de Fachada”. No total são 14 perguntas, apresentando-se divididas por 3 partes: “Caracterização da
empresa”- 3 perguntas; “Pré-fabricação” - 5 perguntas; “Painéis de fachada”- 6 perguntas. O tempo
de resposta foi de 20 minutos. O inquérito pretende, com esta divisão de perguntas, ir do geral para o
particular.

As perguntas foram apresentadas por esta ordem:

i. Indique o nome da empresa a que pertence?


ii. A sua empresa encontra-se associada à ANIPB?
iii. Qual o cargo que ocupa na sua empresa?
iv. Qual a dimensão da sua empresa (pessoal ao serviço)?
v. Quais as certificações que a sua empresa possui?
vi. Quais as percentagens de cada tipo de pré-fabricação que atribuiria aos produtos da sua
empresa (seriada; leve; pesada)?
vii. Qual a cota de mercado dos produtos que a sua empresa fabrica?
viii. Da lista que segue indique apenas os 3 elementos que têm mais produção na sua empresa
por ordem decrescente.
ix. Quais as normas usadas/consideradas na pré-fabricação dos produtos referidos na questão
anterior?
x. Quais as principais patologias/problemas que os painéis de fachada apresentam?
xi. Em que fase do ciclo de pré-fabricação se origina a parte mais significativa dos problemas
referidos?
xii. Na sua opinião, quais as principais causas para os índices de produção não aumentarem?
30
xiii. Consegue estimar o impacto que a marcação CE, tem nas patologias/problemas dos painéis
de fachada?
xiv. Tendo em conta a temática do inquérito, haverá na sua opinião, algum assunto que seja
importante desenvolver/estudar?
xv. Estaria disponível para um futuro contacto com o objectivo de detalhar algumas das
informações fornecidas no inquérito?

Uma parte do questionário teve por base, um estudo da ANIPB feito às empresas de pré-fabricação
de betão, publicado em ANIPB (2008). Este estudo pretendia “efectuar uma caracterização fiável do
sector, posicionando-o face às circunstâncias actuais, nomeadamente perfil das empresas, tipologia
do mercado e dos produtos, regulamentação e marcação CE, inovação e desenvolvimento, formação
e cenários expectáveis”.

3.4 Respostas aos inquéritos


Dentro da secção “Caracterização da Empresa” foi possível conhecer, através dos questionários, a
percentagem de empresas que estão associadas à ANIPB. No total de empresas inquiridas, 50%
estão associadas à ANIPB. É possível verificar que a percentagem de empresas associadas é
elevada, mas próxima da percentagem de empresas não associadas- 40% (Figura 3.1).

60,0%
Percentagens atribuídas a cada tipo de

50%
50,0%

40%
40,0%
respostas

30,0% Não
Não sei
20,0% Sim
10%
10,0%

0,0%
Total
Tipos de respostas

Figura 3.1- Percentagem de empresas com associação à ANIPB

Foi possível conhecer a dimensão das empresas no território nacional por número de trabalhadores
como se pode verificar pela Figura 3.2. É possível verificar através desta figura que 90% das
empresas presentes no estudo, possuem menos de 50 trabalhadores. A observação da figura 3.2.
permite ver também que, a maioria das empresas (63%) possui entre 10 e 49 trabalhadores. Foi

31
possível concluir que o sector se apresenta algo fragmentado, com um número significativo de
pequenas empresas. Estes dados vêm confirmar o que tinha já sido estudado por ANIPB (2008),
sobre a dimensão das empresas do sector.

3%

7% Até 9
27% trabalhadores
Entre 10 e 49
trabalhadores
Entre 50 e 249
trabalhadores
63% Informação não
disponível

Figura 3.2- Dimensão das empresas de pré-fabricação de betão em Portugal

A certificação de produto e a certificação do sistema de gestão permitem um incremento de qualidade


no produto acabado. Isto significa que a certificação assume importância crítica para tornar o
mercado da pré-fabricação mais competitivo. Assim foi criada uma pergunta sobre as principais
certificações usadas, resumida na Figura 3.3.

Ao observar a Figura 3.3 é importante destacar que as duas certificações com maior presença nas
empresas inquiridas, com as percentagens aproximadas de 40% e 77% respectivamente, dizem
respeito a certificações aplicadas em situações distintas. A certificação ISO 9001 corresponde a
certificação do sistema de gestão da qualidade e organização da empresa, a marcação CE diz
respeito a certificação de produto, respectivamente.

Junto da ANIPB, recolheu-se a informação que a certificação de produto (marcação CE) é


significativamente relevante para as empresas de pré-fabricação, visto que, permite que os seus
produtos circulem legalmente pelos países da União Europeia e assim a sua comercialização fora das
fronteiras portuguesas, torna-se viável.

É possível verificar na Figura 3.3 que das 30 empresas que responderam ao inquérito, 23 possuem
certificação de produto. Este número equivale a cerca de 77% do total de empresas que
responderam, 12 empresas possuem a certificação ISO 9001, constituindo cerca de metade das
empresas que optaram pela certificação anterior (Marcação CE). Importa também esclarecer que as
empresas, ao responder, podiam identificar mais do que uma certificação tendo em conta as que
foram apresentadas no inquérito.

32
25 23
Número de empresas/respostas

20

15
12

10

5 4
2 2

Certificações

Figura 3.3- Certificações mais usadas nas empresas de pré-fabricação

As possibilidades de resposta a esta questão, foram baseadas no estudo da ANIPB (2008). Foi
deixado, no final do inquérito uma secção de resposta aberta, caso a empresa que estivesse a
responder achasse importante adicionar alguma informação, nomeadamente hipóteses de resposta
que não estavam presentes, tal como nesta questão nº4.

A pré-fabricação de betão pode apresentar produtos variados. Pode ir da fabricação de painéis de


GFRC- Glass Fibre Reinforced Concrete (Betão reforçado com fibras de vidro) (pré-fabricação leve)
até à fabricação de PFPB (pré-fabricação pesada), passando pela fabricação de blocos de alvenaria,
vigotas ou lancis (pré-fabricação seriada). De modo a conhecer-se o universo em estudo no que diz
respeito a produtos, e tendo em conta que esta questão se encontra no sector de especificidade
intermédia do inquérito, inquiriram-se as empresas no sentido de conhecer o tipo de pré-fabricação
que realizam (Figura 3.4).

É possível verificar que, 6 empresas fazem pré-fabricação pesada com uma frequência relativa (face
ao total de pré-fabricação da empresa) que se encontra no intervalo [80 a 100%]. A pré-fabricação
pesada é o tipo de pré-fabricação onde se enquadram os PFPB. Em termos absolutos, 6 empresas
não parece ser um número significativo, mas relativamente ao total de empresas que responderam ao
inquérito, 20% parece ser um valor relevante. Esta dúvida, parece reflectir a incerteza no presente
estudo, quanto à significância estatística- amostra de 30 empresas face a uma população de 109
empresas. Assim, o raciocínio lógico de um estudo desta natureza, que seria, inferir para a
população, através do comportamento da amostra, deverá ser questionado.

33
A observação da Figura 3.4 permite verificar que, cerca de metade das 30 empresas inquiridas
produzem, uma pequena parte (0-20%) dos três tipos de pré-fabricação o que significa que 15
empresas fazem os 3 tipos de pré-fabricação com baixas frequências relativas [0-20%] (face ao total
de pré-fabricação da empresa). Esta percentagem de empresas (50%) é um valor significativo, que
permite concluir que há um número relevante e muito próximo, de empresas, que realizam os 3 tipos
de pré-fabricação.

De modo a saber qual o posicionamento que cada empresa tem no mercado, foi questionada qual a
cota de mercado dos produtos fabricados pelas empresas. O conhecimento da cota de mercado das
empresas, enquadra-se no objectivo do sector do questionário em que a pergunta se insere ou seja, o
incremento do conhecimento sobre o mercado da pré-fabricação. Uma questão desta natureza
impõe-se, porque as empresas, essencialmente por razões de competitividade do sector, não
divulgam estes dados. O resumo das respostas pode ser visto na Figura 3.5. É possível ver nesta
figura que apenas cerca de 17% das 30 empresas inquiridas, apresenta produtos com cotas de
mercado com uma frequência relativa (face à produção nacional total do produto em causa) mais alta-
[75-100%].

16 15
14 14
14

12

10
nº de empresas

8
Pesada
6 6
6 Leve
5
4 4 4 4 4 Seriada
4 3 3
2 2
2

0
80-100% 60-80% 40-60% 20-40% 0-20%
Percentagens relativas de cada tipo de pré-fabricação, em relação ao total de
produção de cada empresa

Figura 3.4- Tipos de pré-fabricação mais produzidos

A observação da Figura 3.5 permite verificar também que as cotas de mercado de mais de metade –
52% - das empresas inquiridas, apresentam valores de [0-10%] e [10-25%]. Esta cota de mercado é
dada pelas frequências relativas de determinado produto pré-fabricado face ao seu total nacional.

34
No sentido crescente de refinamento da informação obtida com o questionário, e ainda dentro do
conhecimento do sector da pré-fabricação, importa saber em termos de produção qual era o negócio
de cada empresa. Neste sentido, surge a pergunta sobre quais os três produtos mais pré-fabricados
por ordem decrescente. Com o objectivo de melhorar a compreensão dos resultados, apresenta-se as
respostas sintetizadas em 3 gráficos correspondentes à ordem decrescente de produção
respectivamente: Figura 3.6 a 3.8.

5; 17% 0-10%
9; 31% 10-25%

5; 17% 25-50%
50-75%
4; 14% 6; 21% 75-100%

Figura 3.5- Cota de mercado dos produtos das empresas

Através das referidas figuras, verifica-se que os blocos de alvenaria são os produtos que mais
empresas- 8 empresas- consideram o seu produto de maior produção. Os PFPB aparecem como
sendo a opção de maior produção, para 5 empresas ou seja 16,7% do total de empresas que
responderam ao inquérito. Este valor é muito próximo do número de empresas que apresenta pré-
fabricação pesada com uma frequência relativa face à sua produção total (6 empresas), no intervalo
80-100%. A coincidência de valores pode revelar uma relação directa entre as respostas para ambas
as perguntas. Esta relação parece intuitiva, se considerarmos que nas respostas presentes nas
Figuras 3.6 a 3.8 não há outros produtos de pré-fabricação pesada, além dos painéis de fachada.

35
9 8
8
7
Escolhas das empresas para os
produtos mais pré-fabricados

6 5 5
5 4
4
3 2 2
2 1 1 1 1
1 0
0

Produtos pré-fabricados

Figura 3.6- Produtos mais pré-fabricados pelas empresas

Ainda na 2ª parte do inquérito (2ª parte- “Pré-fabricação”), cujos objectivos se encontram em, é
importante saber as normas que presidem ao fabrico dos produtos mais realizados por cada
empresa (Figura 3.9). Observando a Figura 3.9, é possível ver que as normas EN 15037 e EN 771
[w7] são as mais usadas pelas empresas inquiridas. As normas menos usadas são: EN 13747, EN
13369, EN 772 e EN 1433 [w7].

6
5
produtos mais pré-fabricados em

5
Escolhas das empresas para os

4
4
3 3 3 3 3
3
segundo lugar

2 2 2
2
1
0
0

Produtos pré-fabricados

Figura 3.7- Produtos mais pré-fabricados pelas empresas em segundo lugar

36
9 8
8
produtos mais pré-fabricados em terceiro
7
7
Escolhas das empresas para os

6 5
5
4 3
3 2 2
lugar

2 1 1 1
1 0 0
0

Produtos pré-fabricados

Figura 3.8- Produtos mais pré-fabricados pelas empresas em terceiro lugar

A norma EN 15037 é sobre pavimentos com vigotas e blocos de cofragem e tem 5 partes distintas. A
norma EN 15037-1 é a mais referida nas respostas, e é sobre pavimentos com vigotas e blocos de
cofragem. Parte 1: Vigotas. A norma EN 771 é dedicada às alvenarias e tem 6 partes distintas. Esta
norma será naturalmente mais usada, pelas empresas que produzem mais blocos de alvenaria. A
observação das respostas, permite ver que a EN 771-3, que tem o título “Especificações para
unidades de alvenaria. Parte 3: Unidades de betão de agregados (blocos de betão de agregados
correntes e leves)” é a norma mais utilizada. Na Figura 3.9 é possível verificar as normas mais
referidas nos inquéritos, a sua versão portuguesa (as que estão disponíveis) e o assunto no qual
incidem.

Já na parte do questionário com maior refinamento do conhecimento (3ª parte- Painéis de fachada)
que aborda a patologia de fachadas pré-fabricadas em betão, foi possível saber qual a opinião das
empresas inquiridas sobre quais as principais anomalias que afectam estes paramentos (Figura
3.10).

É possível verificar nesta figura que, cerca de 20 empresas (66,7% das 30 empresas que
responderam) consideram as manchas como uma das principais anomalias. Os defeitos de planeza
foram a anomalia que apresentou a escolha de 10 empresas (33,3% das 30 empresas que
responderam). Estes resultados estão de acordo com a classificação de Piferi (2006), com a anomalia
“manchas” a ser incluída na divisão “Patologias estéticas” e a anomalia “defeitos de planeza” a ser
incluída na divisão “Patologias de forma e superfície”, de acordo com o mesmo autor.

37
Nenhuma
Não sabe
Não responde
Norma EN 14992
Designação das normas

Norma EN 13747
Norma EN 15037
Norma EN13369
Norma EN771
Norma EN1916
Norma EN772
Norma EN1917
Norma EN1340
Norma EN1338
Norma EN1433
0 2 4 6 8 10
Número de empresas

Figura 3.9- Normas usadas na produção dos elementos mais fabricados

Dentro do estudo da patologia dos painéis de fachada foi possível identificar, em que fase do ciclo de
pré-fabricação é que se origina o maior número de problemas (Figura 3.11).

Desgaste/erosão 2 1
Ninhos de agregados/chochos 10
Descasque 10
Marcas de espaçadores ou conectores 20
Esbabaçado 10
Anomalias

Desagregação 2 2
Defeitos de planeza 6 4
Eflorescências 4 2
Fissuração direccionada 3 2
Fissuração mapeada 7 1
Bolhas de pele 10
Incrustações de cofragem 2 1
Manchas 16 4
0 5 10 15 20 25
Número de empresas

Patologia associada Patologia isolada

Figura 3.10- Principais patologias nos PFPB, segundo a opinião das empresas inquiridas

A observação da Figura 3.11 permite verificar que em 67% das empresas inquiridas (20 empresas),
ou seja, dois terços do total, consideram que a fase da pré-fabricação é a que mais contribui para as
anomalias dos painéis de fachada. Nesta figura pode-se observar também, que 3% das empresas

38
inquiridas considera a fase de projecto, como origem das principais anomalias nos painéis de
fachada.

Foi também possível recolher informações acerca das causas que motivam o reduzido crescimento
dos índices de produção das empresas de prefabricação. Ainda na caracterização do mercado da
pré-fabricação de betão, foi possível saber as razões que levam a que os índices de produção, não
sejam mais elevados (Figura 3.12).

9; 30%

20; 67%
1; 3%

Fabricação Projecto Transporte e montagem

Figura 3.11- Fases da pré-fabricação que originam as principais anomalias nos painéis de
fachada

Destaca-se na Figura 3.12 como principal causa apontada pelas empresas, para os índices de
produção não aumentarem, a recessão na construção face à reabilitação. Esta mesma causa é
apontada por cerca de 22 empresas, o que representa um valor superior ao dobro do valor
apresentado pela segunda causa apontada pelas empresas- “Falta de divulgação”.

3.5 Análise Crítica


À semelhança do que já havia sido feito em ANIPB (2008), existia a possibilidade de, na pergunta “2”
se conhecer a dimensão das empresas através dos valores de facturação ou através do número de
trabalhadores. A escolha pela segunda hipótese, foi feita devido à maior facilidade de obtenção dos
dados respeitantes ao número de trabalhadores. Num mercado com concorrência significativa,
pensou-se que a divulgação, mesmo para efeitos académicos, dos valores de facturação das
empresas, iria levar a uma redução da amostra de empresas (30). De modo a obter o maior número
de respostas por parte das empresas, optou-se por inquirir acerca da dimensão das empresas,
usando o número de trabalhadores.

39
8
3
Causas

7
6
22
3

0 5 10 15 20 25
Número de empresas

Falta de divulgação
Falta de investigação e estudos científicos
Preço
Questões culturais
recessão na construção face à reabilitação
Escassez de mão obra especializada
Figura 3.12- Causas para os índices de produção não aumentarem

Ao inquirir-se as empresas, acerca das cotas de mercado dos seus produtos, importa ter em conta
que esta informação só seria do conhecimento de um engenheiro ou quadro da empresa. No entanto,
não havia qualquer indicação de quem deveria preencher o inquérito, sendo também este facto, uma
limitação do presente estudo. Importa igualmente dizer, que para saber a cota de mercado dos
produtos de uma empresa, é essencial ter uma noção da cota de mercado dos produtos
concorrentes. Também esta informação é de difícil acesso e constitui também uma limitação neste
estudo.

Na pergunta 6, correspondente aos produtos que cada empresa mais pré-fabrica, 2 empresas,
apresentam como produto de pré-fabricação pesada mais produzido, os blocos pavé, tubos e
manilhas.

Os produtos anteriores, não se enquadram na definição de pré-fabricados pesados, referida no


Capítulo “ Considerações gerais” por OE (1968), revelando assim alguma inconsistência nesta
resposta das 2 empresas. As mesmas 2 empresas anteriores, na pergunta correspondente ao tipo de
pré-fabricação que cada empresa faz (pergunta 5), responderam que fazem pré-fabricação pesada na
classe (80-100%). Ao analisar o grupo de empresas dedicadas essencialmente à pré-fabricação
pesada e considerando as respostas anteriores, pode-se dizer que este grupo será ainda mais restrito
do que as 6 empresas que dedicam a sua produção com uma percentagem entre 80-100% da sua
produção total.

Dentro das empresas que apresentam como produto de pré-fabricação mais produzido, os painéis de
fachada, apenas existem como já referido, 5 empresas. Uma destas 5 empresas, encontra-se a fazer
pré-fabricação pesada com uma frequência relativa de 60 a 80% face ao seu “output” total, o que é
40
significativo. Assim é possível dizer que existem 5 empresas que se dedicam quase exclusivamente
aos painéis de fachada.

Nos inquéritos foi possível verificar que as normas EN 15037 e EN 771 são as mais usadas pelas
empresas inquiridas. Estas normas são respeitantes a pavimentos com vigotas e blocos de cofragem
(EN 15037) e alvenarias (EN 771). É relevante ter atenção que, normas que foram opção de um
número significativo de empresas, são normas que regulamentam os produtos mais fabricados por
essas mesmas empresas. Em concreto, empresas que mais produzem pavimentos com vigotas e
blocos de cofragem, destacaram a EN 15037 como norma relevante, e da mesma maneira, empresas
que mais produzem alvenarias, responderam a EN 771 como norma relevante. Na pré-fabricação de
betão, naturalmente que consoante os produtos específicos que cada empresa pré-fabrica, as
normas específicas desses mesmos produtos se tornam mais relevantes. Normas como a NP EN
13670-1 “Execução de estruturas de betão” e NP EN 206-1,”Betão - especificação, desempenho,
produção e conformidade”, não são mencionadas como escolhas de normas importantes, pelas
empresas, mas são normas essenciais na produção dos PFPB.

Também a norma NP EN 13369-1 foi apenas opção para duas empresas entre as 30 empresas que
responderam aos inquéritos. Esta norma foi opção de resposta por parte de 2 empresas, que
correspondem a cerca de 7% do total. Esta norma, possui as regras mais comuns para produtos pré-
fabricados de betão, impõe regras para a cura do betão (implica o conhecimento das classes de
exposição ambiental por parte do produtor), para armaduras e recobrimentos. A importância da
referida norma é significativa para os pré-fabricados de betão e a relevância atribuída pelas respostas
de 2 empresas não parece reflectir esta importância.

Para o caso específico dos painéis de fachada, as normas mais relevantes são a NP EN 13670, EN
13369 e NP EN 206-1, como normas gerais e em particular para os painéis de fachada, a norma NP
EN 14992. Estas normas apresentam-se no Anexo1 bem como a sua versão portuguesa. Destaca-se
também para o fabrico dos PPB, as especificações LNEC, em particular E459, E452, E453, E449,
E455 a E458 e E460 respeitantes aos aços. Na figura 3.11 apresenta-se um fluxograma que indica o
assunto de cada uma destas normas e a relação entre si (Ferreira, 2008).

3.6 Conclusões do capítulo


Os inquéritos permitiram saber que o mercado nacional da pré-fabricação de betão é constituído
essencialmente por pequenas empresas e por ser um mercado com um número significativo de
empresas sem uma parcela de mercado relevante. Este facto está relacionado com, os custos de
transporte, que são inerentes ao mercado da pré-fabricação de betão e que são um custo que tem
que ser tido em conta ao usar a tecnologia de PFPB. Os custos de transporte, tratando-se de um
gasto extra mas essencial, são tão reduzidos quanto possível conduzindo a uma fixação das
indústrias a distâncias relativamente curtas, dos estaleiros das obras. Importa realçar que, no
presente estudo não foi incluída informação sobre a distribuição geográfica das empresas que
responderam aos inquéritos. Um estudo sobre esta temática seria relevante e contribuiria para

41
conhecimento sobre as indústrias que fazem pré-fabricação de betão em geral e que fazem os PFPB,
em particular.

A certificação de produto, marcação CE, assume um papel de acentuada relevância no mercado da


pré-fabricação nacional. Este facto permite que as empresas assumam relevância internacional, ao
poderem realizar exportações do seu produto.

Neste capítulo foi possível verificar que as empresas que apostam na pré-fabricação pesada de
painéis de fachada são em número limitado. Foi possível verificar que há 5 empresas, num universo
de 30 empresas que responderam ao inquérito, com uma produção aproximadamente exclusiva de
painéis de fachada.

As normas mais relevantes na pré-fabricação de betão em território nacional, são a NP EN 13670, EN


13369 e NP EN 206-1.Tendo em conta, a análise feita em “0”, julga-se necessário que seja feita uma
análise mais fina, sobre as normas mais relevantes.

As anomalias nos PFPB, segundo as empresas inquiridas, são essencialmente manchas e defeitos
de planeza. Já no “0” tinha sido proposta uma classificação para as anomalias nestas superfícies, e
que parece ser viável tendo em conta as opções de resposta das empresas inquiridas.

De modo a enquadrar a problemática da patologia dos PFPB foi necessário ter uma visão em
perspectiva do mercado da pré-fabricação de betão em geral, e para isso foram usados estes
inquéritos. O resultado obtido com esta metodologia foi o conhecimento dos fabricantes dos PFPB,
das principais anomalias, as suas origens e os principais factores que contribuem para o seu
aparecimento. Com o capítulo seguinte pretende-se analisar, através de critérios de patologia de
betão, casos reais das superfícies em estudo.

42
4 Casos de estudo

4.1 Considerações gerais


Com este capítulo pretende-se ilustrar casos reais de anomalias em betão arquitectónico, tratado e
não tratado, nos PFPB. Serão analisados casos de estudo em fase de obra e em fase de serviço.

Pretende-se compreender o impacto que o processo de prefabricação dos PFPB, pode ter no produto
final, e para isso as anomalias serão analisadas e caracterizadas, através de critérios da patologia de
betão. Os casos de estudo foram visitados entre Agosto e Setembro de 2016.

4.2 Metodologia utilizada


Foi feita uma ficha de inspecção, Figura 4.1 a 4.3 com base na pesquisa feita e conforme referido em
§1.3 para registar as informações recolhidas nos casos de estudo.

A ficha de inspecção apresenta as opções mais comuns tendo em conta o §2, e permitiu fazer um
preenchimento fácil e célere, na altura da visita aos locais dos casos de estudo. As informações
foram sintetizadas e colocadas em §4.3 e as fichas preenchidas foram colocadas em anexo.

A informação para os casos de estudo foi recolhida através de inspecções visuais com registo
fotográfico nas quais se preencheram as fichas de inspecção. Simultaneamente, foi recolhida
informação junto do fabricante e dos instaladores dos PFPB, que permitiu complementar os dados
das fichas de inspecção.

Os PFPB analisados resultaram dos contactos estabelecidos com a ANIPB e com uma empresa que
se dedica exclusivamente à produção de PFPB. A referida empresa, foi uma das empresas que
colaborou no preenchimento dos inquéritos, o que permitiu também conhecer melhor o processo de
fabrico dos mesmos. O número de casos de estudo, foi o que se julgou relevante para o cumprimento
dos objectivos propostos em “ Considerações gerais”.

4.3 Caracterização dos casos de estudo


Nas fichas de inspecções, são descritas as características das inspecções, nomeadamente as
anomalias detectadas, o mapeamento e o levantamento fotográfico das anomalias (com referências e
escala), o resultado dos ensaios in situ (caso tenham sido realizados), e também as zonas que
deverão merecer maior atenção em futuras inspecções (Silvestre, 2005)

43
Figura 4.1- Proposta de ficha de inspecção – Dados de identificação

Figura 4.2- Proposta de ficha de inspecção- Dados das superfícies


vistoriadas

44
Figura 4.3- Proposta de ficha de inspecção- Anomalias e causas prováveis

4.3.1 Caso A

O caso de estudo A, superfície comercial do Montijo (Figura 4.4), tem 2 tipos de paramentos de
fachada, superior e inferior, ambos em betão arquitectónico não tratado. Trata-se de uma superfície
comercial no Montijo, de propriedade privada, que está geminada com outra superfície comercial. A
superfície comercial em estudo foi construída no ano de 2010, anterior ao edifício ao lado, que foi
construído em 2014. A superfície comercial que foi construída posteriormente, apresenta um
revestimento distinto dos PFPB e por essas razões não foi considerado.

Figura 4.4- Localização do caso de estudo


em relação à cidade de Lisboa

A visita a este local foi feita no final de Agosto, num dia de calor e com baixa humidade relativa. O
edifício apresenta uma altura uniforme de cerca de 9 metros. O último metro é uma platibanda.

Foram tidas em conta, a fachada principal e de tardoz e a fachada lateral, que apresentam uma altura
uniforme de cerca de 8 metros. A fachada principal apresenta uma extensão de aproximadamente 50
metros e uma altura de cerca de 8 metros. A fachada de tardoz apresenta uma extensão de cerca de
56 metros. A fachada lateral possui 3 segmentos com aproximadamente 85 metros no total
(34+7+44).

Divididos pelas 3 fachadas existem 2 paramentos. Um paramento constituído por painéis de betão
cinzento ao nível do piso térreo até uma altura de aproximadamente 3 metros. O outro paramento em
posição superior ao anterior, como se pode ver na Figura 4.6, tem uma altura de 3 m até

45
aproximadamente aos 8 m de altura. Os painéis deste paramento eram inicialmente em betão
cinzento, mas foram posteriormente pintados de branco (Figura 4.6). A informação acerca da pintura
dos painéis foi recolhida junto da empresa que fabricou os painéis.

Figura 4.5- Localização no Montijo Figura 4.6- Fachada lateral

4.3.2 Caso B

O caso de estudo B, edifício de escritórios em Lisboa, tem os paramentos da fachada principal e da


fachada de tardoz em betão arquitectónico não tratado. A visita ao referido edifício de escritórios, foi
feita num dia de Verão com temperatura elevada no princípio de Setembro. Este edifício é de
propriedade privada e situa-se junto ao estádio de Alvalade, na zona próxima da estação de metro do
Campo Grande, em Lisboa (Figura 4.7 e Figura 4.8). A recolha de imagens, obrigou a um pedido de
autorização à empresa proprietária do edifício.

Este edifício possui 7 pisos elevados, 3 pisos enterrados e uma altura total de cerca de 27 metros. No
2
total possui 2080 m de PFPB. A obra foi concluída em 2003. Trata-se de um edifício de escritórios
que foi concluído em 2003. As fachadas que possuem PFPB são as fachadas principal (Figura 4.9),
de tardoz (Figura 4.10) e uma das fachadas laterais (Figura 4.11). A fachada principal possui cerca de
47 metros de extensão horizontal e tem um recorte que apresenta um segmento recuado com uma
extensão de aproximadamente 8 metros, numa extremidade do edifício (Figura 4.12).

46
Figura 4.7- Localização do caso de estudo B Figura 4.8- Localização junto ao estádio de
na cidade de Lisboa Alvalade

Figura 4.9- Fachada principal (vista


Figura 4.10- Fachada de tardoz
próxima da extremidade direita)

4.3.3 Caso C

O caso de estudo C, ainda em fase de obra, apresenta os painéis de fachada em betão arquitectónico
não tratado, que seriam posteriormente pintados, mas ainda sem qualquer revestimento. O referido
caso de estudo, refere-se à remodelação e ampliação de uma superfície comercial em Montemor-o-
Novo, Alentejo (Figura 4.13 e 4.14).

47
Figura 4.11- Fachada lateral direita e vista Figura 4.12- Fachada principal (pormenor da
parcial da fachada de tardoz extremidade direita que se apresenta recuada)

Figura 4.13- Localização do caso de estudo Figura 4.14- Localização em Montemor-o-


C em relação a Lisboa Novo

O referido edifício apresenta uma superstrutura mista, constituída por pórticos e paredes. Aquando da
visita realizada, a referida superfície comercial, permanecia aberta ao público em simultâneo com o
decorrer da obra- Figura 4.15.

A ampliação do edifício, que se encontra destacado na Figura 4.6, estava a ser feita a partir da
extremidade noroeste do edifício, aproveitando-se a zona do parque de estacionamento coberto com
os toldos azuis, como estaleiro de obra. A obra encontrava-se em fase de montagem dos PFPB
(Figura 4.16 e Figura 4.17) e foi recolhida a informação junto do empreiteiro que a superfície
comercial encerraria temporariamente, quando se entrasse em fase de acabamentos.

48
Figura 4.15- Vista área do edifício do caso de
estudo B (imagem com orientação)

Os PFPB foram içados com o auxílio de uma grua (Figura 4.16), e colocados na posição visível na
Figura 4.17. Posteriormente, foram nivelados e colocados na sua posição final, fazendo uso de
cunhas e alavancas.

Figura 4.16- Levantamento e colocação em Figura 4.17- Ajuste da posição final do painel
posição final, do PFPB, com recurso a grua usando cunhas e alavancas

Para fazer a fixação ao edifício pré-existente foram usados esquadros metálicos visíveis na Figura
4.18 e foi usada uma plataforma articulada. Na Figura 4.16, é visível, no chão, um pilar pré-fabricado
que será posteriormente elevado e colocado num cabouco já feito. Durante a visita que foi feita a esta
obra foi possível presenciar a elevação de um PFPB com uma grua (Figura 4.19), a colocação no seu
local definitivo e fixação à estrutura preexistente.

49
Figura 4.18- Esquadros metálicos usados Figura 4.19- Elevação de um PFPB com grua
para fixação dos PFPB ao edifício e fixação (auxílio de grua de braço articulado,
preexistente alavancas e cunhas na base)

4.3.4 Caso D

O caso de estudo D, edifício de apartamentos, apresenta as fachadas em betão arquitectónico


branco, tratado com tinta branca. O referido edifício de apartamentos na Costa da Caparica, no
Concelho de Almada, distrito de Setúbal. O projecto de arquitectura é da autoria dos arquitectos
Manuel Graça Dias e Egas Vieira e o projecto de estruturas ficou a cargo do engenheiro Sérgio Vieira
da empresa ENCEP. Na construção deste edifício esteve envolvida a construtora Vamaro e a
empresa Rodio.

Foi o único edifício que não foi visitado presencialmente, e o registo fotográfico foi cedido pelo
fabricante dos PFPB. A fachada principal possui cerca de 27 metros de altura, uma extensão de
aproximadamente 55 m e os PFPB encontram-se nesta mesma fachada (Figura 4.20). Apresenta
uma estrutura reticulada em betão, com 3 caves e 9 pisos acima do solo, com 60 fogos. Recorreu-se
a fundações especiais e contenções periféricas em paredes moldadas.

4.4 Discussão e síntese dos resultados


4.4.1 Caso A

Na superfície comercial do Montijo foi identificada a mesma anomalia nos painéis superiores e
inferiores (Figura 4.21). Esta anomalia consiste nos pontos de coloração alaranjada, visíveis na
Figura 4.22 e Figura 4.24 (painéis inferiores) e na Figura 4.23 (painéis superiores). Esta coloração
alaranjada, consiste na deposição de óxidos de ferro na superfície de betão. Segundo Silva (2015)
estes óxidos, estão associados a problemas na estrutura, devido à redução de secção e oxidação das
armaduras. Valores insuficientes de recobrimento, erro de projecto, colocação incorrecta de
espaçadores e/ou movimento das armaduras aquando da betonagem, potenciam significativamente
este fenómeno.

50
Figura 4.20- Localização do caso de estudo D em
relação à cidade de Lisboa

.O mesmo autor refere ainda que, a oxidação poderá também ocorrer devido a um erro que ocorre
durante o processo construtivo, que consiste em deixar os arames de atar com as extremidades
“viradas para fora” do elemento a betonar, conduzindo à oxidação dos mesmos e originando a
referida anomalia.

A origem destes óxidos à superfície poderá ser também devida à presença de óxidos metálicos nos
agregados, que oxidam próximo da superfície, ou por elementos circundantes que acabam por
originar estas manchas (Coelho, 2015).

De referir que uma primeira inspecção visual, a alguns metros, pode deixar dúvidas sobre as causas
que deram origem a esta deposição de óxidos. Uma observação atenta e a menor distância das
superfícies, pormenor das Figuras 4.25 e 4.26, permite verificar que, na zona onde se origina esta
deposição de óxidos, é visível um padrão de betão fissurado concêntrico, com ausência de
descasque.

A repetição desta anomalia em vários painéis, inferiores e superiores, sempre associada ao padrão
concêntrico de fissuração do betão, fez eliminar a hipótese da origem da anomalia ser a oxidação de
armaduras resistentes (tendo em conta o posicionamento “tradicional” dos varões nestes painéis).
Desta forma, a hipótese dos pontos de oxidação originados por corrosão dos arames de atar, ganhou
mais consistência. A ausência de meios auxiliares de diagnóstico não permitiu uma análise mais
detalhada, de modo a confirmar esta hipótese. No entanto, o contacto com o fabricante dos painéis,
permitiu recolher a informação que confirmou a hipótese, destas anomalias se tratarem de facto de
pontos de oxidação.

Nas Figuras 4.25 e Figura 4.26 é possível ver em detalhe, que a coloração alaranjada característica
do óxido de ferro, passou para uma área da superfície de betão maior do que a área circunscrita pelo
betão fissurado. Esta situação, deve-se essencialmente à escorrência superficial, na fachada, da
água da chuva.

51
Figura 4.21- Vista da fachada principal da
Figura 4.22- Pontos de ferrugem à superfície
superfície comercial. É visível a separação
do paramento inferior. São também visíveis
entre o paramento superior e o paramento
manchas de escorrência superficial
inferior

No caso de estudo A, e observando com atenção as Figuras, 4.24 e 4.25, é possível ver que na zona
superior dos painéis inferiores se encontram manchas de sujidade, de coloração escura, com
deposição de diferencial partículas, de acordo com Silva (2015). Em concreto, são visíveis, zonas
alternadas sem sujidade com longas manchas no sentido do escorrimento. Segundo o mesmo autor,
o padrão não uniforme das manchas, permite indicar que as mesmas estão relacionadas com a
escorrência da água à superfície da fachada, que depende dos caminhos preferenciais de
escorrimento da água.

Esta mancha, devida à escorrência, consiste também numa anomalia estética. Esta mancha surge,
devido à contaminação da água de escorrência superficial com partículas de óxido de ferro e que são
depositadas ao longo dos trajectos por onde a água circula. Esta anomalia estética, resultante de
uma contaminação, foi já analisada no Capítulo 2, no entanto não foi referida a situação específica
em que foi encontrada na superfície comercial no Montijo. Esta mancha surge associada à anomalia
referida previamente (a corrosão ou pontos de corrosão) o que consiste num fenómeno de patologia
associada. Este fenómeno foi já apontado pelas empresas de pré-fabricação de betão, nos inquéritos,
como um problema muito relevante nos PFPB (Figura 3.10), visto que nas 13 anomalias possíveis,
todas as empresas responderam que as anomalias surgiam pelo menos uma vez de forma
associada.

Brito e Flores-Colen (2005), citados por Silva (2015) apontaram como principais causas para
acumulação de partículas devido à escorrência superficial, os erros de projecto ou execução, em
particular falta de pormenorização na fase de projecto e/ou deficiente execução, ausência de
capeamentos de remate de platibandas, deficiente escoamento em varandas e terraços e deficiente
ou inexistente execução de juntas e pingadeiras.

52
Figura 4.24- Pontos de oxidação à superfície
Figura 4.23- Pontos de oxidação à
do paramento inferior (outra vista). São
superfície do paramento superior na
também visíveis manchas de escorrência
fachada principal da superfície comercial
superficial

4.4.2 Caso B

No edifício de escritórios em Lisboa é possível ver na fachada principal que alguns painéis
apresentam manchas com um padrão irregular. Segundo Piferi (2006) e como já observado em 2.4.,
as manchas enquadram-se na categoria de anomalias estéticas em betão arquitectónico.

Figura 4.26- Pontos de oxidação e fracturação


Figura 4.25- Pontos de oxidação na fachada
concêntrica do betão. É também visível a
lateral. Fracturação do betão já visível com
transparência de agregados (canto inferior
geometria concêntrica
esquerdo)

Segundo Nunes (2014), as manchas em betão arquitectónico podem estar associadas a problemas
de projecto, problemas nas cofragens (absorção diferencial, sujidades, resinas na madeira ou

53
oxidação da cofragem metálica, reacções com o óleo descofrante/viscosidade desadequada), e
problemas na colocação e/ou cura do betão.

Caso as referidas manchas tivessem origem na escorrência superficial devida à precipitação, poderia
ser apontado um eventual problema de projecto por drenagem deficiente. Importa dizer, que Nunes
(2014), Silva (2015) e Coelho (2015) usaram sistemas de classificação para as causas das anomalias
em betão arquitectónico, sem diferenciarem, o betão arquitectónico fabricado em obra do betão
arquitectónico pré-fabricado. Tendo em conta que as superfícies analisadas são em betão
arquitectónico pré-fabricado, algumas das causas, já referidas, não estarão na lista de possíveis
origens das manchas visíveis nas superfícies do caso de estudo B. Esta exclusão à partida deve-se
ao elevado controlo que é verificado durante o projecto e a pré-fabricação, nomeadamente a nível de
cofragens e materiais.

De modo a eliminar definitivamente, o projecto como uma das causas das manchas, pode-se verificar
a Figura 4.30. No dia 13 de Setembro de 2002, ainda antes da conclusão da obra e durante as obras
de construção do novo estádio de Alvalade (visível na figura), as manchas já existiam na fachada,
impossibilitando assim, como origem das manchas, a escorrência de águas superficiais (projecto).

Apesar de se ter provado anteriormente que a causa das referidas manchas, não é um problema de
projecto, importa relembrar o elevado rigor presente num projecto de elementos pré-fabricados, como
foi explicitado em 2.2. A origem das referidas manchas estará então relacionada com problemas nas
cofragens e/ou problemas na colocação e/ou cura do betão. Sem um acesso fácil à superfície dos
painéis e o uso de meios auxiliares de diagnóstico (condições em que se verificaram as inspecções),
não é fácil perceber a origem das referidas manchas. O contacto com o fabricante permitiu recolher a
informação de que as manchas tiveram origem na ausência de limpeza da mesa de pré-fabricação
(cofragem suja). Aquando do enchimento da mesa de prefabricação com o betão líquido, a própria
mesa não foi correctamente limpa, o que levou a uma superfície dos PFPB já com algumas partículas
de sujidade à saída da central de pré-fabricação. Esta situação parece confirmar uma das hipóteses
já avançada anteriormente, em concreto, os problemas nas cofragens. Estas superfícies apesar de
estarem visualmente dentro dos padrões de qualidade, após montagem e com alguns (poucos) anos
de utilização, possibilitaram a acumulação de partículas que é bem visível nas Figuras 4.29 e 4.30.
Esta anomalia foi já incluída, no capítulo 2, nas anomalias estéticas segundo a classificação baseada
em Piferi (2006). As anomalias que afectam a cor das superfícies dos PFPB, devido à contaminação
de materiais presentes na cofragem, foi descrita em detalhe na tabela 2.

A colocação em serviço do edifício implica que a sua fachada esteja sujeita à chuva, ao vento, ao
contacto com fuligem, partículas de solo e às escorrências superficiais. Os efeitos referidos
anteriormente ao actuarem numa fachada já previamente manchada, vão dar origem a um
incremento de manchas de deposição diferencial, mas também a manchas de deposição uniforme.
Os efeitos combinados originam o padrão visível nas Figuras 4.27 a 4.29.

54
Figura 4.27- Fachada principal do edifício de Figura 4.28- Fachada principal do edifício de
escritórios com manchas visíveis escritórios com manchas visíveis

Figura 4.29- Fachada principal (extremidade


Figura 4.30- Fachada principal em 13/09/2002
inferior esquerda) com manchas visíveis nos
[w8]
painéis e nos pilares da fachada

4.4.3 Caso C

A ampliação e remodelação da superfície comercial, como já foi referido em 4.3.3. é o único caso em
que se podem ver PFPB em superfícies de BA não tratado. Estas superfícies serão posteriormente
pintadas para serem colocadas em serviço. A possibilidade de assistir ao processo de montagem dos
PFPB em obra, torna-se relevante para perceber melhor o processo de ligação entre os vários
elementos da fachada, transporte dos painéis, as suas limitações, condicionantes e a relação com o
aparecimento de anomalias.

A observação da Figura 4.33 permite perceber que a colocação em obra exige equipamento
adequado, em particular uma grua e cabos de aço. Para operar a grua, tem que estar atribuído um
manobrador qualificado.

55
Figura 4.31- Fachada de tardoz sem Figura 4.32- Fachada de tardoz sem
anomalias aparentes (extremidade direita) anomalias aparentes (extremidade esquerda)

A deslocação do PFPB até à sua posição final, apesar de não ser visível nas fotografias, também tem
que ser feito com os devidos cuidados, de modo a evitar embates com estruturas/obstáculos
presentes em obra, originando fissurações, fracturas ou destacamentos. Também o seu transporte
tem que ser feito, com correntes/cabos de aço, que sejam conectados ao painel de forma simétrica,
evitando tensões diferenciais (Figura 4.33).

Figura 4.33- Colocação de PFPB na posição


final com recurso de grua e cabos de aço

Nas Figuras 4.34 e 4.35 é possível visualizar duas anomalias, que se encontram destacadas a
vermelho. Na Figura 4.34 verifica-se uma reentrância na superfície do painel devido
desagregação/descasque na extremidade “zona de canto” do suporte onde posteriormente vai
assentar a laje de piso.

56
As superfícies dos painéis em causa, por ainda não terem sido pintadas, poderão revelar defeitos,
que ao serem pintados, sejam impossíveis de detectar. Estes problemas serão essencialmente,
anomalias estéticas/anomalias de superfície. Na realidade, ao fazer-se a observação atenta dos
painéis, e também devido a possuírem um bom acabamento (consultar ficha de inspecção no Anexo
3- Caso de estudo C), encontram-se manchas, visíveis na Figura 4.36, que são pouco significativas.

Figura 4.35- Desagregação/destacamento na


Figura 4.34- Desagregação do betão na
superfície de um painel. São ainda visíveis os
extremidade do apoio para a laje
prumos que lhe servem de sustentação

Como se pode ver na Figura 4.37, estes painéis têm uma massa de aproximadamente 9 toneladas,
constituindo produtos de pré-fabricação pesada segundo classificação usada em 2.1, e para o seu
transporte torna-se necessário uma grua automóvel. Na Figura 4.37, apresentam-se os pormenores
do projecto de estruturas de um PFPB, nomeadamente as suas dimensões: 6,3 m – altura; 2,1 m –
largura; 2,5 m – profundidade.

Figura 4.36- Manchas na superfície dos Figura 4.37- Pormenores do projecto


painéis de estruturas dos painéis

O único caso de betão aparente não tratado, permite evidenciar a importância do acabamento das
superfícies do PFPB, quando sai da central de pré-fabricação. Em 2.4. foi referida a importância de
estabelecer limites para os defeitos do betão arquitectónico, que apesar de poderem ser minimizados,
são impossíveis de eliminar por completo (Piferi, 2006). De modo a poder delimitar os defeitos nos

57
painéis no referido edifício na Figura 4.38 estão referidas as imposições do projecto no que diz
respeito ao acabamento interior e acabamento exterior.

Figura 4.38- Ampliação do pormenor do acabamento, retirado do projecto


(Fig.4.37)

No capítulo 2, foi também referido que as propriedades do betão arquitectónico são incrementadas
em relação a um betão comum, e na figura 4.37 isso está bem patente, com a indicação da classe de
exposição devida à carbonatação- XC4- ser a mais elevada e o recobrimento ser de 30mm. Este
valor de recobrimento, é o valor de recobrimento de acordo com a norma NP EN 206-1, que foi
destacada em 2.4.5 e 3.5 como norma relevante para a pré-fabricação dos PFPB.

4.4.4 Caso D

As anomalias presentes neste edifício, não se encontram através de uma simples observação da
fachada (Figura 4.39). Na realidade, as superfícies viradas para a linha costeira, aparentemente não
têm qualquer defeito. A análise das Figuras 4.40 a 4.43, permite verificar a existência de manchas de
coloração alaranjada. Coelho (2015), atribui às manchas com esta coloração, a deposição de óxidos
metálicos na face do betão. Segundo Silva (2015) estes óxidos, estão associados a problemas na
estrutura, devido à redução de secção e oxidação das armaduras. Esta situação ocorre devido à
reacção expansiva das armaduras ao passar para o estado oxidado, com possível verificação de
fissuração do betão e descasque. Valores insuficientes de recobrimento, erro de projecto, colocação
incorrecta de espaçadores e/ou movimento das armaduras aquando da betonagem, potenciam
significativamente este fenómeno.

No caso de estudo D, foram analisadas 3 situações distintas, que são descritas nas Figuras 4.40 a
4.44. A primeira situação encontra-se ilustrada nas Figuras 4.40 e Figura 4.41. A segunda situação
encontra-se ilustrada nas Figuras 4.42 e 4.43 e a terceira situação encontra-se na Figura 4.44.

Na Figuras 4.40 e 4.41, é possível verificar que, além da mancha alaranjada, existem mais duas
anomalias, que são o destacamento do betão e a fissuração. O destacamento e separação do betão
de recobrimento do varão ocorreu devido à oxidação, que é visível na imagem, e posterior aumento
de volume que fracturou o betão.

58
As fissuras visíveis e destacadas na Figura 4.41, têm origem no aumento de volume do varão devido
à oxidação e consequente fissuração do betão.

As Figuras 4.42 e 4.43, além da anomalia da mancha alaranjada, apresentam fissuras e o


destacamento do betão, não havendo no entanto uma separação física entre as duas partes de
betão, ao contrário do que acontece na Figura 4.40. A mancha alaranjada atribui-se à deposição de
óxidos metálicos na superfície do betão que se deve à oxidação das armaduras. Também a
fissuração e o destacamento se atribuem ao aumento de volume da armadura, por consequência da
oxidação.

Nas Figuras 4.40 e 4.41, em que ocorreu o destacamento do betão é também possível ver o betão
fissurado. Neste caso é possível inferir que o destacamento foi precedido pela fissuração, a que se
seguiu a desagregação e posteriormente o destacamento.

O destacamento do betão levou à exposição da armadura, que se apresenta oxidada, permitindo


concluir com significativa certeza, que a causa destas 2/3 anomalias é a reacção expansiva da
armadura que ocorre na passagem ao estado oxidado.

Figura 4.39- Fachada frontal do edifício Figura 4.40- Fissuração e


principal do edifício de habitação na destacamento do betão. É possível
Costa da Caparica (paralela à linha de ver também o varão já oxidado
costa)

Caso a armadura não estivesse exposta, o que acontece nas Figuras 4.42 e 4.43, a origem das
anomalias deveria ser discutida, usando, se necessário, meios auxiliares de diagnóstico. Nesta
situação, o betão apresenta-se fissurado, não havendo, no entanto, exposição da armadura.

Esta fissuração não apresenta um padrão definido e, Silva (2015) destaca a relação, entre a distância
a que a anomalia é observada e a sua importância, que poderá revelar que fissuras são na realidade
fracturas, com uma observação mais próxima.

59
Situação já analisada em 2.1. devido às fachadas constituírem o envelope exterior dos edifícios, e o
seu desempenho estético ter uma relevância superior ao desempenho estético de outros elementos
do edifício.

Figura 4.41- Fissuração do betão em Figura 4.42- Fissuração e


pormenor (ampliação da Figura 4.39) desagregação do betão. Mancha de
cor alaranjada também visível

A observação das Figuras 4.40 a 4.44, permitiu identificar uma mancha alaranjada na superfície do
betão que se atribui à deposição de óxidos, nos 3 casos distintos. Além das referidas anomalias, que
são a mesma anomalia em casos distintos, é também possível verificar que ocorreu escorrência
superficial, devido ao padrão que a mancha apresenta, bem visível na Figura 4.43. Esta escorrência
de água pela fachada foi contaminada pelas partículas de óxido de ferro, como foi já explicado 2.4.1.,
e originou a mancha em causa. É possível dizer que as anomalias: fissuração, desagregação e
destaque, têm como origem, a reacção expansiva decorrente da oxidação das armaduras, evitando
uma pesquisa aprofundada sobre outras causas eventuais, que se tornaria inconsequente. As
anomalias, mancha devido à contaminação de óxidos de ferro, constituem anomalias estéticas (Piferi,
2006) e a fissuração, desagregação e destaque, referidos anteriormente, são anomalias de forma e
superfície (Piferi, 2006) constituem fenómenos de patologia associada, destacados nos inquéritos e
em particular na Figura 3.10.

4.4.5 Análise Crítica

Como foi referido por Piferi (2006), e observado no capítulo 2.4, as fachadas em betão arquitectónico
totalmente livres de defeitos, são praticamente impossíveis. Segundo Nunes (2014), o controlo do
aparecimento de manchas é significativamente difícil devido às inúmeras causas que podem estar na
sua origem.

Foi possível verificar em §4.4.1 que um erro na fase de pré-fabricação, deu origem a uma anomalia
que se veio a tornar bem visível na fase de vida útil do edifício.

60
Analisando este caso de estudo, e tendo como base a informação pesquisada em §2.1, é importante
ter o conhecimento das anomalias mais correntes e ser implementado um estudo de diagnóstico
suportado por medições in situ, que, no caso de estudo em causas, parece não se ter verificado.
Também o caso de estudo analisado em §4.4.2, parece ter, na fase de pré-fabricação, ausência ou
deficiente conhecimento das anomalias mais correntes, na medida em que os arames de atar
armaduras são presença constante na pré-fabricação dos PFPB.

Figura 4.43- Fissuração do betão em Figura 4.44- Separação de betão e


pormenor (ampliação) mancha alaranjada na superfície de
betão

Como foi já referido §2.4.4, e considera-se ser a situação verificada nos anteriores casos de estudo,
estes danos nos elementos, afectam apenas a sua aparência, não havendo influência na segurança.

No caso de estudo C, analisado em §4.4.3., verificou-se a importância do processo de transporte e a


influência que pode ter nos PFPB. Foram verificadas anomalias em paramentos de PFPB não
tratado, e a importância de um revestimento de tinta, que permite mitigar anomalias estéticas, já
estudadas em §2.4.1. O transporte dos PFPB tem que ser feito recorrendo a equipamento pesado,
tendo em conta que se estes painéis se encontram dentro da definição de pré-fabricação que resultou
da pesquisa em §2.1. Foi possível observar a importância do projecto e, em particular, das condições
normativas que regem a produção deste betão, que foram já abordadas em §2.4.5. Neste caso de
estudo, verificaram-se as ligações entre PFPB e edifício existente.

Em §4.4.5, verificaram-se anomalias estéticas (Piferi, 2006), nomeadamente manchas de corrosão e


de escorrência (de forma associada), mas também anomalias de forma e superfície: fendilhação do
betão e destaque, (Figuras 4.34 a 4.36). Estas últimas surgem de forma associada, tendo em conta,
que têm a mesma origem. Para perceber de forma inequívoca, qual a origem destas anomalias, teria
que se fazer uso de meios auxiliares de diagnóstico.

61
4.5 Proposta de classificação de anomalias
Como já foi referido em §1.1. por Faria & Inácio (2007), as fachadas em betão arquitectónico são
constituídas por betões de elevado desempenho, que apresentam maior compacidade e durabilidade
de aparência do que os betões correntes, apenas com funções estruturais.

Devido ao número reduzido de anomalias, nomeadamente fissuração; manchas de corrosão; pontos


de corrosão e destaque, que estes painéis de betão apresentam nas suas superfícies, em relação às
superfícies de betão in situ (Marques, 2012), considerou-se relevante propor um sistema de
classificação de anomalias para superfícies de betão arquitectónico pré-fabricado. A referida proposta
de classificação tem como base o trabalho referido em §2.4. de Piferi (2006). Este autor criou uma
classificação para fachadas em betão arquitectónico, na qual fez uma divisão em duas categorias
genéricas, que englobam todas as anomalias: defeitos de cor; defeitos de forma e superfície.

Importa salientar que a classificação de Piferi foi usada para fachadas em betão arquitectónico e o
autor não particularizou, o tipo de betão arquitectónico, tendo em conta o local de fabricação. O
presente estudo, apresenta uma classificação semelhante, mas apenas para fachadas em betão
arquitectónico pré-fabricado.

Esta classificação parece fazer sentido, tendo em conta que o processo de pré-fabricação do betão
introduz um controlo de qualidade que o betão in situ não tem, e que à partida possuirá menos
anomalias. Desta forma é coerente, usar uma classificação com menos de categorias, do que uma
classificação usada para betão arquitectónico em geral, como fez Silva (2015) tendo como base a
classificação de Brito (1992).

Com o objectivo de serem feitas inspecções a estas superfícies de forma expedita, esta classificação
de anomalias baseia-se no aspecto visual das referidas superfícies. De uma forma geral, e fazendo
uma sistematização, do que já foi apresentado em §2.4., as anomalias estéticas são, de uma forma
geral, manchas, variações de cor e tonalidade.

Na categoria de anomalias de forma e superfície, incluem-se uniformidade de superfícies,


fracturação, deflexão e curvatura, fissuração/fendilhação, eflorescências e corrosão. Apresenta-se
uma checklist, Tabela 4.1 e Tabela 4.2 que pretendem auxiliar nas inspecções a edifícios, tendo por
base a classificação proposta.

4.6 Conclusões do capítulo


Os casos de estudo postos em destaque no presente capítulo permitiram perceber que a origem das
anomalias à superfície destes paramentos, pode ser variada, nomeadamente terem origem em
qualquer das 3 fases do processo de pré-fabricação dos PFPB, nomeadamente projecto, pré-
fabricação e transporte.

62
Todas estas etapas podem dar origem a anomalias, que devem ser antecipadas, caso contrário, as
mesmas poderão estar patentes nas fachadas durante todo o período de vida dos edifícios. No
campo da patologia deve ser dado destaque à fissuração (anomalias de forma e superfície) e às
manchas (anomalias estéticas).

A fissuração presente na superfície destes paramentos pode ter variadas origens, em particular
fendas térmicas, fendas mecânicas, fendas devidas a retracção de secagem ou fendas devidas a
assentamento plástico e retracção autogénea.

Tabela 4.1- Proposta de “checklist” de acordo com a proposta de classificação (1ªparte)


Designação Condições climatéricas
Classificação
Data
de anomalia
Gravidade
Orientação do
Sim Não (área
paramento
abrangida)
I. 1. Manchas
I. 2. Imperfeição de cor
? Qual?
I. 2. a) Variação de cor
ao longo da superfície
I. 2. b) Transparência
de agregados
I. 2. c) Transparência
I. Anomalias de agregados em
Estéticas negativo
I. 2. d) Descoloração de
hidratação
I. 2. e) Descoloração de
segregação ou
movimento de areias
I. 2. f) Descoloração do
corante ou
contaminação

Assim o projecto destes painéis assume particular importância, devendo ter em conta e prevenindo
estes tipos de fissuração. Paralelamente, as manchas, podem ter variadas origens, que deverão ser
tidas em conta, aquando da etapa de escolha de materiais, incluída no projecto.

Em ambos os casos, quer para as fissuras, quer para as manchas, o elevado número de possíveis
origens, torna estas patologias, muito relevantes para o estudo do PFPB. A adopção de um critério de
classificação de anomalias mais simplificado, critério de Piferi (2006) que usa um número inferior de
categorias do que os critérios para betão corrente, faz todo o sentido, tendo em conta os elevados
padrões estéticos requeridos numa superfície com o grau de exposição acrescido como são as
fachadas em betão arquitectónico.

63
Tabela 4.2- Proposta de “checklist” de acordo com a proposta de classificação(2ªparte)
II. 1. Fissuração
direccionada
II. 2. Fissuração
mapeada
é possível especificar o
tipo de fissuração?
i) fendas térmicas

.Tipo de cimento e
é possível saber quais do conteúdo
os factores que
afectaram as fendas
térmicas? .Tipos de agregados

.Método de cura

ii) fendas devidas a


assentamento plástico
e retracção autogénea
II. Anomalias
iii) fendas devidas a
de forma e
retracção de secagem
superfície
iv) fendas mecânicas
II. 3. Desgaste/erosão
II. 4. Ninhos de
agregados/chochos
II. 5. Descasque

II. 6. Marcas de
espaçadores ou
conectores
II. 7. Esbabaçado
II. 8. Desagregação
II. 9. Defeitos de
planeza
II. 10. Eflorescências
II. 11. Bolhas de pele
II. 12. Incrustações de
cofragem
Observações

64
5 Conclusões e desenvolvimentos futuros

5.1 Conclusões gerais


No estudo elaborado foi possível perceber que:

 O mercado das empresas de pré-fabricação de betão é dominado por pequenas e micro


empresas, com uma percentagem somada de 90% do total de empresas que participaram
nos inquéritos. A certificação das empresas foi abordada como um mais-valia relevante para
cimentar a presença no mercado nacional e internacional.
 A marcação CE, como certificação de produto, foi destacada pelas empresas (77% do total
de empresas) como certificação mais usada. A certificação ISO9001, respeitante à
certificação do sistema de gestão da qualidade, foi considerada como relevante para 12
empresas (40% do total de empresas).
 Cerca de 15 empresas (50% do total de empresas inquiridas) que participaram nos inquéritos,
têm produção de pelo menos dois tipos de pré-fabricação. Esta informação remete para a
falta de especificidade das empresas de pré-fabricados de betão.
 O número de empresas que se dedica essencialmente (> 60%) à pré-fabricação de painéis
de fachada é de 5 empresas (16,7% do total de empresas que responderam).
 Na opinião de 20 empresas que responderam ao inquérito (67% do total), a fabricação é a
fase do processo que está na origem das principais anomalias dos PFPB. Por outro lado,
apenas 1 empresa (3% do total), considera o projecto como origem das principais anomalias.
 22 empresas do total de 30 (73 %), responderam que a recessão na construção face à
reabilitação era a principal causa para os índice de produção de PFPB.

O estudo feito através dos inquéritos permitiu concluir que as manchas e defeitos de planeza são as
mais importantes, no que diz respeito às anomalias nos PFPB. O trabalho prático desenvolvido nos
casos de estudo possibilitou perceber a importância das manchas, como anomalia muito significativa,
confirmando as informações obtidas nos inquéritos acerca do relevo desta anomalia. A pesquisa
realizada revelou que, na origem das manchas, estava um número elevado de causas possíveis, o
que propicia que esta anomalia esteja presente nas fachadas pré-fabricadas, com elevada
assiduidade com os casos de estudo.

Também as fissuras se apresentaram como uma das anomalias mais significativas, nas respostas
das empresas que responderam aos inquéritos, não apresentando no entanto a expressão das
manchas e defeitos de planeza. Resultou da pesquisa efectuada que as fissuras possuem variadas
origens e, nos casos de estudo, estiveram presentes nos quatro, possibilitando assim estabelecer
uma relação directa com o que foi pesquisado e o que se verificou no terreno. Um estudo detalhado
sobre fissuras, as suas origens em casos reais e como minimizá-las, seria muito relevante e consiste
numa limitação do presente trabalho.

65
A observação dos casos de estudo permitiu confirmar o que havia já sido referido no estado da arte
sobre a importância e o rigor necessários em cada fase do processo de pré-fabricação. No caso de
estudo B, edifício de escritórios em Lisboa, as manchas na fachada estiveram presentes desde o
início da construção dos painéis. Desde o início da vida útil do edifício que as anomalias estavam
visíveis e foram sofrendo um agravamento natural que ocorre com a exposição à chuva, escorrência
superficial e poluição. Inicialmente a hipótese de erro de projecto foi colocada, mas a informação do
empreiteiro apontou para uma origem distinta da anomalia. Estas hipóteses colocadas, revelam que
ambas as fases do processo, projecto e pré-fabricação, são muito importantes, exigem um rigor
elevado e uma mão-de-obra qualificada, sob pena dos problemas perdurarem na vida útil do edifício,
como se verificou.

O número de empresas a realizar este tipo de revestimento de fachadas, num regime


aproximadamente exclusivo, é limitado, face ao número total de empresas de pré-fabricação de betão
nacionais.

O presente estudo não incidiu apenas numa vertente dos PFPB, mas por essa razão apresenta
algumas limitações. Um estudo pormenorizado sobre os vários tipos de painéis, as várias ligações
entre os painéis, a superestrutura do edifício e entre os próprios painéis seria relevante, consistindo
num estudo de essência estrutural; nos inquéritos apresentados não foi obtida uma distribuição das
empresas pelo território nacional, nem uma distribuição dos produtos da pré-fabricação pelo território,
o que seria também seria relevante.

5.2 Desenvolvimentos futuros


Assim, para o futuro, importa, manter e incrementar a ligação das empresas a instituições que
possam desenvolver, monitorizar e proteger este sector, tal como a ANIPB.

Importa sensibilizar os projectistas, com particularidade para os arquitectos, e o público em geral, que
as mais-valias desta tecnologia são muito significativas e que uma das tendências da evolução do
sector da construção será na aposta da pré-fabricação.

É também muito relevante apostar na divulgação e esclarecimento da importância da


modularidade/repetição de procedimentos, de projectos e de estruturas, para se poder retirar os
maiores benefícios da pré-fabricação em geral e dos PFPB em particular.

Os painéis de fachada constituem uma tecnologia, na qual é importante “fazer bem à primeira” e para
isso as três etapas mais relevantes do processo de pré-fabricação, (projecto, pré-fabricação e
transporte) devem ser alvo de elevado rigor técnico e permanente evolução. Numa obra,
frequentemente, são usados PFPB e elementos betonados in situ, e planos de articulação dos dois
tipos de elementos, devem ser incrementados e rigorosos.

66
6 Referências bibliográficas

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4. EN 771-2 (2011); “Specification for masonry units - Part 2: Calcium silicate masonry units”
5. EN 771-3 (2011); “Specification for masonry units - Part 3: Aggregate concrete masonry units
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6. EN 771-4 (2011); “Specification for masonry units - Part 4: Autoclaved aerated concrete
masonry units”
7. EN 771-5 (2011); “Specification for masonry units - Part 5: Manufactured stone masonry units”
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13. EN 15037-2:2009+A1:2011; “Precast concrete products. Beam-and-block floor systems - Part
2: Concrete Blocks”
14. EN 15037-3:2009+A1:2011; “Precast concrete products. Beam-and-block floor systems - Part
2: Clay Blocks”
15. EN 15037-4:2010+A1:2013; “Precast concrete products. Beam-and-block floor systems - Part
2: Concrete Blocks”

70
16. EN 15037-5 (2013); “Precast concrete products. Beam-and-block floor systems – Part 5:
Lightweight blocks for simple formwork”

17. EN 771-1:2011+A1:2015; “Specification for masonry units- Part 1: Clay masonry units”

18. EN 771-2:2011+A1:2015; “Specification for masonry units; Part 2: Calcium silicate masonry
units”
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soluble salts content of clay masonry units”
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tanks with a working pressure not exceeding 0,5 bar; Design and construction”
24. EN 12839 (2012); “Precast concrete products; Elements for fences”

71
Anexos

A.1 Ficha de inspecção- Caso de estudo A

A
Ficha de inspecção- Caso de estudo A (continuação)

B
A.2 Ficha de inspecção- Caso de estudo B

C
Ficha de inspecção- Caso de estudo B (continuação)

D
A.3 Ficha de inspecção- Caso de estudo C

E
Ficha de inspecção- Caso de estudo C (continuação)

F
A.4 Ficha de inspecção- Caso de estudo D

G
Ficha de inspecção- Caso de estudo D (continuação)

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