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METODOLOGIAS DE ANÁLISE DE ILHAS DE CALOR URBANA: BREVE ESTADO DA ARTE

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RESUMO
A população dos principais núcleos urbanos tende a crescer, exponencialmente, nas próximas décadas,
tornando-se necessário uma nova ótica sobre o processo de controle/gestão/planejamento da expansão
urbana. Diante de questões como alterações climáticas e qualidade ambiental dos núcleos urbanos, bem
como a necessidade do incremento de ações de políticas públicas voltadas para este enfoque na realidade
brasileira, este artigo possui o objetivo, portanto, de apresentar uma matriz comparativa de “método versus
técnica” de pesquisas voltadas para mensuração de Ilhas de Calor Urbana (ICU), estabelecendo um breve
panorama de pesquisas nacionais e internacionais.
Palavras-chave: ilhas de calor urbana; temperatura de superfície; sensoriamento remoto.

ABSTRACT
The population of the main urban centers tends to grow exponentially in the coming decades, making it
necessary to have a new perspective on the process of control/management/planning of urban expansion.
Faced with issues such as climate change and the environmental quality of urban centers, as well as the need
to increase public policy actions aimed at this focus in the Brazilian reality, this article has the objective,
therefore, of presenting a comparative matrix of "method versus technique ” of research aimed at measuring
Urban Heat Islands (ICU), establishing a brief overview of national and international research
Keywords: urban heat island; land surface temperature; remote sensing.
1. INTRODUÇÃO
A população dos principais núcleos urbanos tende a crescer, exponencialmente, nas próximas décadas,
tornando-se necessário uma nova ótica sobre o processo de controle/gestão/planejamento da expansão
urbana. O gradual adensamento dos núcleos urbanos produz impactos sobre o clima e a qualidade de vida no
ambiente urbano, portanto, o processo de urbanização de uma cidade incide inevitavelmente sobre os
aspectos ambientais, de forma que é capaz de, gradativamente, aumentar a temperatura do ar, alterar a
dinâmica dos ventos, incrementar o índice pluviométrico, degradar o solo natural e reduzir a qualidade do ar
(IPCC, 2016).
Os valores da temperatura e a concentração de poluentes são considerados indicadores expressivos de
degradação ambiental, espera-se um incremento significativo tendencial das temperaturas nas regiões
centrais dos núcleos urbanos, devido à carência de vegetação e de corpos d’água (LOMBARDO, 1985).
Outros parâmetros, como o da densidade construída e superfície impermeabilizada, também possuem grande
potencial de alterações ambientais visto que contribuem tanto para formação de fenômenos climáticos (“ilhas
de calor urbana”), como para o esgotamento do sistema de drenagem urbana, o qual está cada vez mais
comprometido pela maior recorrência de enchentes provocadas pelas alterações climáticas no regime de
chuvas (ACCIOLY e DAVIDSON, 1998).
De acordo com Lombardo (1985), Ilha de Calor Urbana (ICU) corresponde a uma área na qual a
temperatura da superfície é mais elevada que as áreas circunvizinhas, o que propicia o surgimento da
circulação local. Segundo Amorim (2019), a espacialização da intensidade das ICU’s é um problema
recorrente na climatologia porque resulta na criação de um campo contínuo a partir de observações
individuais (pontos) por meio da interpolação espacial. Segundo Foissard (2015 apud Amorim, 2019), tais
interpolações podem se processar por dois grupos de métodos: os métodos geoestatísticos e os métodos
multicritérios. De acordo com a autora, a modelagem espacial da intensidade da temperatura do ar,
considerando o método multicritério, quando realizada para a análise da evolução diária da ilha de calor
atmosférica inferior nos diferentes períodos e estações do ano, permite o detalhamento no intraurbano e rural
próximo, podendo ser um importante instrumento para a tomada de medidas mitigadoras para a amenização
das ilhas de calor.
Oke et. al. (2017) apresentam 4 tipos de ICU: superfície, sub-superfície, camada de dossel e camada
limite. Cada um dos quais é gerado por diferentes processos físicos dominantes e exibe padrões temporais e
espaciais distintos, embora todos sejam conduzidos principalmente pela transformação do natural e da
paisagem em um superfície rugosa, com uso do solo intenso e menos vegetada. Amorim (2019) sintetiza a
definição de ICU para 3 tipos: Ilha de Calor Atmosférica Superficial (ICUS), mensurada pelo cálculo da
temperatura dos alvos registrados por meio de técnicas de sensoriamento remoto; Ilha de Calor Atmosférica
Inferior (canopy layer), cuja a temperatura é registrada entre o nível do solo e o nível médio dos telhados;
Ilha de Calor Atmosférica Superior (boundary layer), sobreposta à anterior e se estende até a atmosfera livre.

Figura 1: Modelos de Ilhas de Calor, segundo Oke et. al. (2017).

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Levando-se em consideração que o calor produzido pela ação antropogênica na paisagem natural, logo
é preciso observar a forma como se ocupa e o uso do solo urbano, bem como sua legislação vigente.
literatura pertinente à questão do clima urbano, em específico sobre Ilhas de Calor (GARTLAND, 2010;
LOMBARDO, 1985; OKE et al, 2017) apontam que grande parte das pesquisas são realizadas em cidades de
grande porte, porém alguns autores como Vardoulakis et. al. (2014), dentre outros, apontam em suas
pesquisas a necessidade do estudo em cidades de pequeno e médio portes, pois estas também sofrem da
mesma forma com as anomalias climáticas como a ICU tanto quanto em grandes núcleos urbanos.
Um estudo de Zhou et. al. (2017), realizado em 5.000 mil cidades européias, aponta que as ICU’s
registradas encontram pontos de alívios em cidades pequenas, espraiadas e extensas. Os autores afirmam que
cidades grandes e com alto grau de compacidade apresentam ICU’s mais intensas do que em cidades mais
espraiadas.
Atualmente, o Brasil registra a presença de 5.570 municípios, além do Distrito Federal e do Distrito
Estadual de Fernando de Noronha. Dos quais, em 1º lugar, encontra-se o estado de Minas Gerais com 853;
em 2º lugar, São Paulo com 645; e em 3º lugar, Rio Grande do Sul, com 497 (IBGE, 2021). As pesquisas de
ICU em cidades brasileiras, majoritariamente, encontram-se com enfoque nas principais capitais do país, não
levando-se em consideração a grande parcela restante dos municípios brasileiros Vale salientar a discrepância
legislativa que ocorre quando, no Brasil, 6 grandes centros urbanos contam com Planos de Ação Climática
(PAC), porém as cidades com menos de 100.000,00 habitantes ainda não possuem ao menos um Plano
Diretor, apenas diretrizes básicas Lei de Uso e Ocupação do Solo.

2. OBJETIVO
Diante de questões como alterações climáticas e qualidade ambiental dos núcleos urbanos, bem como a
necessidade do incremento de ações de políticas públicas voltadas para este enfoque na realidade brasileira,
este artigo possui o objetivo, portanto, de apresentar uma matriz comparativa de “método versus técnica” de
pesquisas voltadas para mensuração de Ilhas de Calor Urbana (ICU), estabelecendo um breve panorama de
pesquisas nacionais e internacionais.
Dessa forma, espera-se que seja possível elucidar caminhos para construção de diretrizes e
metodologias práticas de análise e mitigação dos efeitos climáticos decorrentes do processo de urbanização
para os núcleos urbanos, em especial, para cidades de pequeno e médio portes.

3. MÉTODO
Primeiramente, as produções acadêmicas selecionadas foram analisadas e categorizadas de acordo com seus
objetivos, métodos, técnicas e a escala de análise. Em seguida, as mesmas foram tabeladas de maneira a
auxiliar na visualização do padrão de análise.

Para elaboração da matriz, primeiramente construiu-se um levantamento bibliográfico com 20 artigos,


identificou-se as principais palavras-chave, objetivos e metodologia empregada. Em seguida, o critério
Temperatura de Superfície foi escolhido como parâmetro de seleção devido a sua alta importância na
identificação de ICU’s (AMORIM, 2019; ROMERO, 2019) por meio de técnicas de sensoriamento remoto.
Diante disso, selecionou-se 10 produções com maior viabilidade para aplicação em todas as escalas de
cidade (pequeno, médio e grande portes).

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Figura 2: Fluxograma simplificado da metodologia aplicada. Autor (2023).

4. RESULTADOS

Tendo em vista os dados tabelados com as produções acadêmicas (Tabela 1), é possível, portanto,
identificar que todas as produções continham o enfoque em mapear Ilhas de Calor Urbana por meio do uso
de métodos quantitativos para mensuração de índices convergentes à temática. A maioria dos autores (YANG
et. al, 2015; AMORIM, 2019; BETCHEL et. al., 2019; SANGIORGIO et. al, 2020; CHIEPA & MITRA,
2018) apontam o uso do sensoriamento remoto como uma técnica viável para análise de ICU pois a aferição
de dados na escala microclimática (como uso de equipamentos e de transectos móveis) demanda mais tempo
e mão-de-obra para alcançar resultados que podem ser obtidos mais rapidamente por meio de tratamento de
imagem de satélite.
O cálculo do LST (Land Surface Temperature - temperatura da superfície) apresenta-se como um
parâmetro básico para identificar a oscilação da temperatura por meio da análise da refletância das
superfícies urbanas (DE-SOUZA e FERREIRA, 2012). Entretanto, a correlação deste índice a outros
parâmetros que interferem na escala climática também se mostra como metodologia de análise de ICU’s. A
correlação com NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) mostrou-se uma das abordagens mais
comuns entre as produções (SANTOS et. al., 2017; BETCHEL et. al., 2019; LIMA & AMORIM, 2015), pois
a literatura apresenta unanimidade em correlacionar alta de temperatura com com falta de vegetação. Assim
como, com outros que tenham relação com a geometria urbana como SVF (Sky View Factor), NDBI
(Normalized Difference Built-up Index), OSR (Open Space Ratio), FSI (Floor Space Index), GSI (Ground
Space Index) dentre outros.
O padrão dos agrupamentos edilícios também pode interferir na forma como o calor é refletido e
dissipado dentro do dossel urbano. O LCZ (Local Climate Zones - zonas climáticas locais) é um projeto
desenvolvido pelo World Urban Data Access Portal Tools (WUDAPT) que foi adaptado por Stewart e Oke
(2012) fornecendo dados de cobertura do solo. Chiepa e Mitra (2018) apresentam o LCZ como uma
ferramenta importante na análise da ICU, porém não prediz a sua intensidade.
Chiepa e Mitra (2018) enfatizam a questão de grande parte do levantamento bibliográfico atual
apresentar metodologias convergentes para cidades de grande porte, porém, segundo os autores, é possível
identificar anomalias climáticas como uma ICU também em cidades menores, com a mesma ou menor
intensidade.

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Tabela 1: Matriz Método x Técnica. Autor (2023).

5. CONCLUSÕES
De acordo com o breve estado da arte levantando, com enfoque em Ilhas de Calor Urbana de Superfície em
cidades de pequeno e médio porte, conclui-se que o uso do sensoriamento remoto como meio de análise
climática das cidades atende com sucesso as expectativas de gerenciamento e planejamento do solo urbano
tendo esse parâmetro em evidência. Dessa forma, espera-se que esse artigo possa auxiliar na re/criação de

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novas metodologias que auxiliem no controle das alterações microclimáticas e na qualidade ambiental
urbana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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SOUSA, Silvio Braz de; FERREIRA, Laerte Guimarães. Análise da temperatura de superfície em ambientes urbanos:
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