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PARECER REFERENTE VULNERABILIDADE NOS AMBIENTES ESCOLARES

A premissa central deste parecer contém como objetivo geral apresentar


alguns motivos pelos quais se embasa a questão do muro nas unidades
escolares. Especificamente, expor-se-ão alguns exemplos atuais de muros de
unidades escolares situadas na cidade de Joinville (SC) como base para
exemplificar como estas precisam estar integradas visualmente à comunidade
circundante, por meio do uso de materiais construtivos que favoreçam total ou
parcialmente este fim, como alvenaria e/ou serralharia.
A estrutura física das escolas está diretamente interligada com as estruturas
social e urbana nas quais embasam-se seu entorno imediato. Diante do exposto,
portanto, explicitar um pouco sobre a relação entre escola, comunidade e cidade
faz-se necessário no que tange ao aprofundamento na relação simbiótica
existente entre os parâmetros citados.
De acordo com Castro (2009), a educação, enquanto um serviço essencial
que oferecido pelo Estado, possui um caráter agregador por si só, pois é “onde a
convivência em sociedade é um de seus princípios” básicos, limitando-se à
comunidade na qual está inserida. Portanto, na história do Brasil, o espaço
construído escolar abarcava ambientes tanto educacionais, como para execução
de serviços profissionais à comunidade, como consultórios odontológicos e salas
de registro. E, a partir dos anos 1980/1990, as tipologias arquitetônicas foram
voltando-se apenas para os ambientes educacionais (CASTRO, 2009).
Jane Jacobs, uma jornalista e urbanista entusiasta, em sua obra “Morte e
Vida nas Grandes Cidades” (1961), afirma que, a partir de análises empíricas de
moradores de conjuntos habitacionais cercados por grandes muros, identificou
um padrão de hostilidade entre os vizinhos com relação à cidade extramuro.

“As pessoas que vivem dentro dos limites dos conjuntos e se sentem
alheias e profundamente inseguras em relação à cidade do lado de fora
não poderão ajudar muito na eliminação das zonas de fronteira desertas
nos distritos, ou mesmo permitir um replanejamento que vise a
reintegração delas ao tecido do distrito”
(JACOBS, 1961, pg. 266)
A autora ainda aponta que as ruas do entorno precisam gerar mais
sensação de segurança a partir da diversidade e vitalidade urbana. Tais
parâmetros podem ser gerados a partir de uma maior integração entre espaço
público e privado. Jan Gehl em “Cidade para Pessoas” (2013) exemplifica tal
conceito, observando alguns mecanismos como o uso comercial integrado ao
residencial, muros menos opacos e mais visualmente integradores de espaços
paralelos, edificações mais baixas (a cidade ao nível dos olhos), dentre outros.
Finalizando o embasamento teórico sobre o impacto negativo que muros
altos e opacos podem gerar no espaço intraurbano, Vargas & Uriarte (2016)
apresentam os elementos de reforço físico (cercas, grades, portas seguras) como
itens que proporcionam ambientes mais seguros, entretanto, não
necessariamente proporcionam uma maior sensação de segurança. Os autores
ainda trazem em sua produção o documento Prevenção do Crime através do
Desenho Urbano - CPTED, que aponta estratégias capazes de influenciar as
decisões que precedem o ato criminoso.

Pesquisas de comportamento criminal, originalmente criadas pelo


criminologista C. Ray Jeffery (Jeffery, 1971), revelam que a decisão de
realizar ou não o delito estão mais relacionadas à possibilidade de ser
pego do que a dificuldade de invadir os locais. Baseado em tais
princípios, Newman (1972, 1996) consolidou o modelo CPTED, o qual
procura enfatizar o risco de ser percebido e apreendido. O modelo
CPTED favorece ambos, reduz a oportunidade de criminosos potenciais
e o medo dos indivíduos. Basicamente, o modelo CPTED está
estruturado em quatro estratégias: (a) Controle de Acesso (natural); (b)
Vigilância (natural); (c) Reforço territorial e (d) Manutenção.
(VARGAS & URIARTE, 2016, p. 3)

Segundo o Manual de Orientações Técnicas para Elaboração de Projetos de


Edificações Escolares: Educação Infantil (volume 3), produzido pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação - Direção de Gestão, Articulação e
Projetos Educacionais (FNDE, 2017), indica-se que as paredes das edificações
escolares sejam permeáveis ou não.
Fonte: FNDE, 2017.

Entretanto, a partir da explanação do um breve arcabouço teórico neste


parecer, conclui-se que o elemento construído que cerca lotes e edificações
(muros), neste caso, o das unidades escolares, torna-se um parâmetro que
precisa ser observado de maneira que alcance a questão da delimitação
territorial gerando integração visual com o entorno imediato, sendo
construído utilizando-se de materiais construtivos que conjugue ambos
objetivos.
Desta forma, descarta-se toda e qualquer possibilidade de trabalhar com
muros maiores que 2,0m de altura, 100% opacos e/ou encabeçados com cercas
de arame. Pois, perderia-se o sentido de integração visual com a comunidade
circundante e aumentaria a sensação de insegurança nas ruas limítrofes ao lote.
Entretanto, aceita-se aplicar sensores de raio infravermelho sobre os muros para
serem ligados no turno noturno, no caso de controle de um evento marginal.
As unidades escolares municipais da cidade Joinville (SC) não possuem um
padrão construtivo uníssono para os muros em específico, porém algumas se
sobressaem como possíveis modelos a serem seguidos. É o caso dos CEI’s do
PAC/FNDE, como o CEI Antonio Bruhmuller (foto a seguir), situado no bairro João
Costa, que alterna espaços opacos (alvenaria) e espaços com gradios.
Fonte: Google Street View, 2022.

Assim como, é possível também trabalhar muros 100% visualmente


integrados, apenas com o uso de gradil, como é o caso do CEI Cachinhos de
Ouro, situado no bairro Pirabeiraba.

Fonte: Google Street View, 2022.


Por fim, tem-se como exemplo o CEI Morro do Meio, situado no bairro Morro
do Meio, que possui um muro 100% opaco, entretanto com uma altimetria de no
máximo 1,60m, o que permite permeabilidade e opacidade no mesmo elemento.

Fonte: Arquivo Secretaria Municipal de Educação de Joinville-SC (2022).

No mais, finaliza-se aqui as diretrizes voltadas para a questão do muro das


unidades escolares.

Thayssa Neves
MsC., Arquiteta e Urbanista
Setor Engenharia e Infraestrutura
Núcleo de Arquitetura e Urbanismo
Secretaria de Educação
Prefeitura Municipal de Joinville (SC)
REFERÊNCIAS

BRASIL. Manual de Orientações Técnicas para Elaboração de Projetos de


Edificações Escolares: Educação Infantil. Volume III. Direção de Gestão,
Articulação e Projetos Educacionais. Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação, 2017.

CASTRO, Carlos Dunham Maciel Siaines de. O espaço da escola na cidade:


CIEP e arquitetura pública escolar. 2009. 136 f. Dissertação (Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo)-Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

VARGAS, Júlio Celso Borello; URIARTE, Ana Margarita Larranaga; CYBIS,


Helena Beatriz Bettella. Explorando as viagens a pé: estrutura urbana e
sensação de segurança. In: Anais do XXX Congresso de Pesquisa e Ensino em
Transportes, ANPET. 2016.

JACOBS, Jane. Muerte y vida de las grandes ciudades. Capitán Swing Libros,
2020.

GEHL, Jan. Cidades para pessoas. São Paulo: Perspectiva, 2013.

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