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Antonio Quintas-Mendes
(Laboratório de Educação a Distância e E-Learning, Le@d,
Universidade Aberta , Portugal)
Pedro Cabral
(Laboratório de Educação a Distância e E-Learning, Le@d,
Universidade Aberta , Portugal)
I. Introdução
Procuramos neste capítulo caracterizar alguns modelos teóricos que podem servir de
teorizado sobre a natureza artificial do mundo em que vivemos: “the world we live in
today is much more a man-made, or artificial, world than it is a natural world. Almost
every element in our environment shows evidence of human artifice” (SIMON, 1996, p.
2). Para Simon, os seres humanos são artificiais no sentido em que se adaptam a
com o contingente mais do que com o necessário, com as coisas não como elas são mas
como elas poderiam ser. Assim pode afirmar-se que as ciências da aprendizagem são
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certamente ciências do artificial e certamente ciências de design. Ou, como afirmam Cole
& Packer (2016): “Teaching and learning are not natural processes, they are themselves
designed and artificial activities” (p. 506). Desde os trabalhos de ANN BROWN ( 1992)
inovação em educação. Brown (op. cit.) introduziu o termo "Design Experiment" que
de aula e para a comunidade. Por essa altura também Collins (1992) sugeria que uma
motivação, etc.
experimentação investigativa, o que parece apontar para uma intervenção em dois planos
teorias do design são diferentes das teorias descritivas, na medida em que aquelas são
enquanto que as teorias descritivas descrevem relações de causa e efeito. Mas como
específicos.
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No domínio da Educação Online várias têm sido as teorias que se têm desenvolvido ao
longo dos anos como por exemplo a Teoria da Distância Transacional de Michael Moore
ou o Conectivismo de Siemmens (2004). Porém raras vezes estes modelos teóricos são
vistos explicitamente como ferramentas de desenho que possam servir directamente para
aprendizagem que é a que aqui valorizamos. Para Conole (2018, p. 193) o Desenho da
prover mecanismos e dispositivos que permitam aos professores partilhar e discutir entre
granularidade (Botturi et al., 2006) assumimos aqui que os próprios modelos teóricos da
desenhos de cursos. Estes modelos permitem, por exemplo, colmatar o primeiro nível do
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em Educação a Distância e em Educação Online (MOORE, 1989; DRON, 2007; DRON
& ANDERSON, 2014). No domínio da Educação a Distância, Moore (1993) introduziu,
com base no conceito de transação de Dewey, o importante conceito de Distância
Transacional. Segundo Moore a não copresença física dos sujeitos tem como
consequência a abertura a um espaço particular de interação, o da distância transacional.
Moore considera que a distância transacional é um fenómeno de natureza psicológica,
comunicacional e pedagógica e não tanto de natureza espacial ou geográfica. A teoria de
Moore está assente em duas variáveis que determinam a distância transacional: estrutura
(desenho do curso) e diálogo (por exemplo, interação entre o professor e estudante). O
sentimento de distância percecionado e experienciado pelo estudante é maior quando não
há qualquer sensação de apoio ou suporte (Figura 1), isto é, quando não temos presente
nem o diálogo nem a estrutura (Moore, 1977).
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Apesar da distância transacional ser um conceito amplamente utilizado, também se deteta
alguma confusão e inconsistência na sua aplicabilidade e nesse sentido DRON (2007)
elaborou o conceito de Controlo Transacional. O conceito de controlo foi tratado por
alguns autores como Garrison e Bayton (1987, cit. por DRON, 2007) que o definiram
como a oportunidade e habilidade para influenciar e determinar, de modo direto, decisões
relacionadas com o processo educativo. Para que este controlo seja bem sucedido deve
haver um processo de negociação constante entre o docente e o estudante na determinação
desse controlo. Se o controlo está demasiado centrado num dos elementos, a comunicação
será reduzida. A forma como se dá este controlo está dependente da forma como
diferentes elementos macro (professor, estudante e conteúdos) e micro (proficiência,
suporte e independência) se balanceiam numa comunicação bidirecional (GARRISON,
ANDERSON & ARCHER, 2000).
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de aprendizagem então temos que identificar o controlo transacional como sendo baixo
para o estudante e elevado para o professor; se o estudante tem poder de decisão, ou se
tem influência na decisão do professor, consideramos que o controlo transacional assume
um nível inverso ao indicado anteriormente.
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Tese 1: A aprendizagem formal profunda e significativa é possível desde que uma das
três formas de interação (estudante-professor; estudante-estudante; estudante-conteúdo)
seja de alto nível. As outras duas formas de interação podem ser oferecidas em níveis
mínimos, ou mesmo eliminados, sem degradar a experiência educacional.
Tese 2: Níveis muito elevados em mais do que um dos três tipos de interação, irão
promover uma maior satisfação na experiência educacional, embora não necessariamente
uma aprendizagem mais eficiente, apesar de implicarem um maior custo e um maior
dispêndio de tempo. Como exemplos dessa segunda tese, podemos observar na Figura 6
a representação de dois cursos com níveis de intensidade diferentes. À esquerda está
representado um curso de elevada intensidade apenas num dos tipos de interação, levando
a menores gastos, menos tempo dispendido e eventualmente a menor satisfação, enquanto
que à direita, se observa a representação de um curso de elevada intensidade nos três tipos
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de interação, havendo, consequentemente, mais custos, maior dispêndio tempo e
eventualmente maior satisfação dos alunos, do que o curso anterior. No entanto, a
qualidade da aprendizagem é hipoteticamente a mesma em ambos os cursos.
De fato, a utilidade deste modelo está em que podemos fazer variar a intensidade de cada
um dos elementos presentes num curso em função dos recursos disponíveis. Podemos
pensar, por exemplo, num curso mais direccionado para a auto-aprendizagem quando
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temos abundância de conteúdos disponíveis mas não temos recursos humanos
(professores ou tutores) capacitados para a moderação de um curso online; ou pelo
contrário, podemos não ter conteúdos elaborados nem recursos financeiros para investir
em conteúdos mas termos pessoal qualificado para desenvolver um curso muito baseado
no diálogo e na conversação entre estudantes e professores. Ou ainda, terceira hipótese,
podemos não ter muitos recursos nem para um nem para outro, mas temos possibilidades
de promover com bastante intensidade a interação estudante-estudante ou formando-
formando, aproveitando o capital de experiência destes, os quais poderão contribuir para
um curso rico em colaboração e partilha de experiências.
Deste modo, o TEI pode surgir como um elemento central no desenho instrucional e
no apoio às decisões que os atores envolvidos no desenvolvimento de cursos têm que
tomar (CABRAL & QUINTAS-MENDES, 2018). De modo a aumentar a eficiência de
gastos e de tempo, podem centrar a aprendizagem apenas num dos nós da interação.
Todavia, podem desenvolver desenhos que tenham alguma flexibilidade, ajustando
esse desenho a cada situação. No caso de um curso online podemos ter um desenho
essencialmente centrado na interação estudante-conteúdo, mas que num dado
momento incorpora uma videoconferência síncrona com o professor, sendo que aí há
uma alteração para uma interação mais centrada no nó estudante-professor.
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Presença Social Presença Cognitiva
Compromisso Compromisso
Discurso de com o
entre os
Apoio Conteúdo
Participantes
EXPERIÊNCIA
EDUCACIONAL
Definição do Regulação de
Ambiente Aprendizagem
Compromisso
com
Compromisso com as
Metas/Direção
Metas/Indicações
Presença de Ensino
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três dimensões, esta é a que o professor/tutor mais controla, sendo esta presença essencial
para balancear as outras dimensões (GARRISON, ANDERSON & ARCHER, 2000).
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com o que elas poderiam oferecer para a aprendizagem. A partir desse pressuposto,
elaborou duas abordagens, sendo que na primeira (CONOLE et al., 2004) propôs um
modelo de aprendizagem que articularia componentes das teorias de aprendizagem
existentes e suas inter-relações, mapeando-as entre si, sugerindo que este modelo poderia
ser usado como: (1) um meio para identificar as teorias de aprendizagem que estão sendo
aplicadas, ou (2) como um processo de capacitar os profissionais para avaliar sua própria
prática, ou ainda (3) como uma ferramenta para ajudar a planejar, desenhar e representar
o perfil de aprendizagem. Assim, a partir da revisão de características das principais
teorias de aprendizagem, e da compreensão de que essas teorias possuíam diferenças em
suas características, sugeriu que o mapeamento das atividades de aprendizagem (tarefas
que devem ser realizadas a fim de atingir os objetivos educacionais) e do design de
aprendizagem (conjunto de atividades associadas aos princípios de aprendizagem)
poderia ser estabelecido através de uma estrutura pedagógica com três eixos de
aprendizagem (ver Figura 6).
Individual
Informação
Experiência
Social
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aprendizagem pré-consciente, aprendizagem de habilidades e memorização), dimensão
informação (como textos) e dimensão experiência (onde a aprendizagem surge a partir
das experiências, atividades e aplicações práticas do sujeito). Traduzindo estas
componentes para a realidade do desenho de aprendizagem poderíamos pensar em casos
como por exemplo: a) o uso de um blog como um diário reflexivo sobre determinada
experiência, o que encarnaria os eixos individual, reflexivo e experiencial; b) um blog
utilizado como um repositório coletivo de recursos, o que também encarnaria o eixo
reflexivo mas agora baseado no eixo social e na informação.
Conversação Experiência
e Interação e Atividade
Evidência e Demonstração
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e demonstração”). Outros tipos de combinações entre estas quatro dimensões podem
surgir tendo em vista os objetivos ou competências que queremos que os estudantes
atinjam.
Num outro plano, Conole (2013) descreveu uma variedade de modos pelas quais as
intervenções de aprendizagem podem ser visualizadas e representadas, juntamente com
uma discussão dos benefícios de cada uma delas e como podem ser usadas como parte do
processo de design, a que chamou de Representações de Desenhos de Aprendizagem.
Destacou quatro tipos principais de representações: verbal, textual, visual ou baseado em
dados. Para além disso apresentou várias ferramentas que podem ser utilizadas para a
elaboração destas representações. Para a autora, uma maneira de representar projetos de
cursos é no formato de mapas conceituais, onde o conteúdo e atividades podem ser
organizados no formato de temas e subtemas e cada representação remete para aspetos
particulares ddo desenho da aprendizagem (Figura 8).
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A visão do mapa do curso vai fornecer um mapeamento geral do mesmo, permitindo que
os professores pensem sobre o eu desenho a partir de quatro aspetos:
1 – Orientação e apoio: é o guia para o percurso de aprendizagem e inclui detalhes sobre
a estrutura do curso e o cronograma. Podem ser incluídos aspectos como o calendário do
curso, guias de estudo, informações sobre tutoriais e outras formas de apoio;
2 – Conteúdo e atividades: inclui informações sobre os materiais (textos, videos,
podcasts) e atividades do curso (trabalho de laboratório ou de campo, trabalho de projeto
de estudante).
3 – Comunicação e colaboração: é a dimensão social do curso e descreve os modos pelos
quais os sujeitos podem interagir. Pode incluir o uso de fóruns, chats, videoconferências,
e-mail, ferramentas de redes sociais, etc.
4 – Reflexão e demonstração: é a componente que envolve processos como os da
avaliação diagnóstica, formativa e somativa, através de e-portefólios, ensaios,
bibliografias comentadas, questionários de múltipla escolha, ou mesmo exames formais.
Além disso, pode haver instruções específicas em pontos-chave para promoverem a
reflexão metacongnitiva dos estudantes.
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estudantes dado que ensino e a aprendizagem são atividades inerentemente
sociais.
3- Questionamento dialético – esta componente, que visa a promoção da discussão
de temas (por exemplo através de fóruns ou chats), é uma atividade importante,
pois permite não só a co-construção do conhecimento como também permite
aos membros do corpo docente facilitar o processo de aprendizagem e investigar
o que os alunos já sabem, ajudando-os a refinar seus conhecimentos.
4- Reflexão - pode ser incorporada como uma poderosa estratégia pedagógica: as
atividades pedagógicas que exigem que os alunos reflitam sobre o que
aprendem e compartilhem suas reflexões com seus professores e colegas,
estendem e enriquecem a reflexão. Por exemplo, Wikis e os Blogs podem ser
usados como ferramentas apropriadas, seja para projetos ou atividades em
grupo seja para atividades individuais.
5- Aprendizagem colaborativa - o trabalho em grupo cresceu em popularidade e se
tornou comum em muitas atividades de um curso. As formas de abordagem
online são muitas, desde documentos partilhados a outras formas de
comunicação eletrônica como os wikis, que têm sido vistos como veículos
importantes para a criação colaborativa de conhecimento e de conteúdo, bem
como para gerar revisão por pares e avaliação.
6- Avaliação da aprendizagem – os Sistemas de Gestão de Aprendizagem (LMS) e
de Gerenciamento de Conteúdo (CMS) são ferramentas e plataformas online que
fornecem vários mecanismos nessa área. Elaboração de artigos, testes, tarefas e
portfólios são métodos usados para avaliação de aprendizado do aluno e podem
ser realizados eletronicamente. Apresentações orais em sala de aula estão
dando lugar a vídeos e a podcasts. O próprio portfólio está evoluindo para uma
apresentação multimídia eletrônica de imagens, vídeo e áudio que vão muito
além do tradicional “dossier” em papel.
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seriam o conteúdo fornecido em um CMS/LMS, um módulo de estudo individualizado e
uma componente de avaliação. Este exemplo de curso online seria provavelmente
apropriado para programas online que têm admissões contínuas e os alunos não são
limitados por um cronograma semestral.
Conteúdo
(LMS, CMS,
Mídia, jogos) Suporte
Social/Emocional
Reflexão
(Blog, Jornal)
Autoaprendizagem
Comunidade de Aprendizagem independente
Colaboração/ (software
Conteúdo gerado adaptativo)
pelo Estudante,
revisão por pares
(Wiki, Tecnologia
Móvel) Questionamento
Avaliação
(Tarefas, Dialético
Análise de (Fórum de
aprendizagem) Discussão)
V . Considerações Finais
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desenho de cursos online. Não se trata apenas de descrever e explicar como funcionam
esses cursos mas também de encontrar modelos, traços e dimensões conceptuais bem
como estratégias que de certa forma permitam a externalização e a visualização do
pensamento (KALI, 2006). Estas heurísticas podem não só servir de guia à pessoa
individual que pensa e desenha o curso mas podem também além disso, servir como
ferramentas conceptuais partilháveis entre vários sujeitos que assim podem investir
colaborativamente no desenho da aprendizagem (CONOLE, 2013). Esta componente
social e colaborativa do desenho da aprendizagem é fundamental dado que é
praticamente impossível fazer derivar práticas pedagógicas diretamente de teorias da
aprendizagem (DRUMM, 2019) e que aquelas surgem antes de processos iterativos e
reflexivos a partir de práticas pedagógicas partilhadas. Através da partilha de
conhecimentos e problemas e por meio de uma procura ativa de ajuda e colaboração,
os professores podem promover boas práticas pedagógicas num ambiente aberto e de
colaboração (QUINTAS-MENDES & WYSZOMIRSKA , 2018) . Acreditamos que esta visão
sobre a formação está em linha com a perspetiva de SCHON (1983). Schon criticou a
epistemologia positivista, que estaria na origem do ele chama de “Modelo da
Racionalidade Técnica”, segundo o qual a atividade profissional consistiria na resolução
instrumental de problemas tornada rigorosa pela aplicação de teorias científicas
previamente elaboradas. Schön argumentou que este paradigma positivista criou uma
crise de confiança no conhecimento profissional nomeadamente de professores. Ele
criticou a separação entre pesquisa e prática em que os investigadores supostamente
fornecem a ciência básica e aplicada a partir da qual os “práticos” fazem derivar as
técnicas que aplicam no terreno. Julgamos que os modelos que aqui apresentámos, pela
sua relevância, simplicidade e robustês, podem de facto servir como heurísticas
partilháveis para o desenho de cursos online.
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