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9 PRIMITIVAS IMEDIATAS

8 Primitivação – Definições e primeiras propriedades


• Chama-se primitiva de uma função f no conjunto A a uma função F tal que

F ! (x) = f (x), ∀x ∈ A
!
e nota-se P f (x) = F (x) ou f (x)dx.

Exemplo:
P (2x) = x2 em R porque (x2 )! = 2x. No entanto também podemos ter P (2x) = x2 + 5 e
em geral:
P (2x) = x2 + C, C ∈ R
Se uma função tem uma primitiva então tem uma infinidade de primitivas.

Propriedades:

1. Se F (x) é uma primitiva de f (x) no conjunto A então F (x) + C também é uma


primitiva de f (x) no conjunto A

2. Se F (x) e G(x) são duas primitivas de f (x) no intervalo I então as funções F e G


diferem por uma constante, isto é, existe C tal que G(x) = F (x) + C.

A segunda propriedade é um corolário do Teorema de Lagrange. As duas propriedades


garantem que se F (x) é uma primitiva de f (x) num intervalo I então

F (x) + C, C∈R

é a expressão geral das primitivas de f (x) nesse intervalo.

• Ao conjunto de todas as primitivas de uma função chamamos famı́lia de primitivas.

Nas próximas secções vamos estudar métodos de cálculo de primitivas. Convém notar
que nem sempre é possı́vel encontrar primitivas de funções sem recorrer ao cálculo integral,
2
por exemplo, a função f (x) = e−x não tem primitiva elementar, f (x) tem primitiva, F (x),
mas a sua expressão analı́tica escreve-se à custa de um integral.

9 Primitivas imediatas
Chamam-se regras de primitivação imediata às regras de primitivação que resultam directa-
mente da ”inversão”das regras de derivação. As primitivas calculadas através dessas regras
chamam-se primitivas imediatas. Em apêndice encontra-se uma tabela com as regras de
primitivação imediata mais comuns.

17
10 PRIMITIVAS DE POTÊNCIAS FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

10 Primitivas de potências funções trigonométricas


Se uma função trigonométrica não tem primitiva imediata podemos utilizar previamente
fórmulas trigonométricas de modo a obter uma primitiva imediata.

sin x
• P tg x = P = − ln | cos x|
cos x
cos x
• P cotg x = P = ln | sin x|
sin x
(sec x)(sec x + tg x) sec2 x + sec x.tg x)
• P sec x = P =P = ln | sec x + tg x| =
sec x + tg x sec x + tg x
(cosec x)(cosec x + cotg x) cosec 2 x + cosec x.cotg x)
• P cosec x = P =P =
cosec x + cotg x cosec x + cotg x
= − ln |cosec x + cotg x| =

• Primitivas de potências pares de seno e coseno:


Utilizar as seguintes fórmulas trigonométricas e depois usar as regras de primitivação
imediata convenientes:
1 − cos(2x)
sin2 x =
2
1 + cos(2x)
cos2 x =
2
• Primitivas de potências ı́mpares de seno e coseno:
Utilizar a Fórmula Fundamental da trigonometria, sin2 x + cos2 x = 1 fazendo:

sin2 x = 1 − cos2 x

cos2 x = 1 − sin2 x
depois usar as regras de primitivação imediata convenientes.

• Primitivas de potências de tangente e cotangente:


Utilizar as seguintes fórmulas trigonométricas:

1 + tg 2 x = sec2 x

1 + cotg 2 x = cosec 2 x

depois usar as regras de primitivação imediata convenientes.

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11 PRIMITIVAS DE FUNÇÕES RACIONAIS

11 Primitivas de funções racionais


Factorização de polinómios
• Um polinómio P (x) pode escrever-se de maneira única como produto de uma cons-
tante real, A, e de polinómios irredutı́veis, de grau 1, (x − a), e de grau 2 sem raizes
reais, (x − α)2 + β 2 , isto é:
" #q " #q
P (x) = A(x − a1 )p1 (x − a2 )p2 ...(x − ak )pk (x − α1 )2 + β12 1 (x − α2 )2 + β22 2 ...
" #
2 qm
... (x − αm )2 + βm
com a1 , a2 , ..., ak , α1 , α2 , ..., αm , β1 , β2 , ..., βm ∈ R
• Diz-se que a ∈ R é raiz do polinómio P (x) de multiplicidade n se (x − a)n aparece
na factorização de P (x).
• Um polinómio P (x) de grau n, tem no máximo n raı́zes reais e exactamente n raı́zes
complexas. Se α = a + ib ∈ C é raı́z de p(x) então α = a − ib também é raiz de p(x)
e na factorização de P (x) aparece (x − a)2 + b2 .
• Nota: Encontrar a factorização de um polinómio é equivalente a encontrar as suas
raı́zes (em C) e suas multiplicidades.
Decomposição de funções racionais
P (x)
• Chama-se função racional a uma função f tal que f (x) = , onde P (x) e Q(x)
Q(x)
são polinómios.
P (x)
• Uma função racional f (x) = diz-se irredutı́vel se não existem factores comuns
Q(x)
na factorização de P (x) e Q(x).
P (x)
• Se f (x) = é uma função irredutı́vel e grP (x) ≥grQ(x), então, efectuando a
Q(x)
divisão de P (x) por Q(x) resulta P (x) = q(x)Q(x) + r(x), logo:
P (x) r(x)
= q(x) +
Q(x) Q(x)
onde, grau r(x) <grauQ(x).
P (x)
Assim, encontrar uma primitiva de f (x) = com grau (P (x)) ≥ grau (Q(x)), a
Q(x)
que chamaremos caso 1, reduz-se sempre ao problema de encontrar uma primitiva de
r(x)
tal que grau (r(x)) < grau (Q(x)), caso 2, uma vez que:
Q(x)
$ % $ % $ %
P (x) r(x) r(x)
P = P q(x) + = P q(x) + P
Q(x) Q(x) & '( ) Q(x)
& '( ) primitiva & '( )
caso1 imediata caso2

19
11 PRIMITIVAS DE FUNÇÕES RACIONAIS

P (x)
• Se f (x) = é uma função irredutı́vel com gr(P (x)) <gr(Q(x)) e Q(x) admite a
Q(x)
factorização:

Q(x) = (x−a1 )p1 (x−a2 )p2 ...(x−ak )pk [(x−α1 )2 +β12 ]q1 [(x−α2 )2 +β22 ]q2 ...[(x−αm )2 +βm
2 qm
]

então f (x) decompõe-se numa soma de fracções simples, tendo em conta que os
P (x)
factores de Q(x) na segunda coluna dão origem às parcelas de na terceira
Q(x)
coluna:

P (x)
raı́zes de Q(x) factores de Q(x) parcelas da decomposição de
Q(x)

A1
real simples (x − a)
x−a
A1 A2 An
real de multipl. n (x − a)n + 2
+ ... +
x − a (x − a) (x − a)n

A1 x + B1
compl. conj. simpl. ((x − α)2 + β 2 )
(x − α)2 + β 2

q A1 x + B1 A2 x + B2 Am x + Bm
compl. conj. mult. ((x − α)2 + β 2 ) + 2 + ... +
2
(x − α) + β 2 2
((x − α) + β )2 ((x − α)2 + β 2 )m

com β %= 0 e onde, A1 , ...An , B1 , ..., Bm são constantes a determinar. Assim, encontrar a


primitiva de uma função racional irredutı́vel compreende os seguintes passos:

1. Se gr(P (x)) ≥ gr(Q(x)) efectuar a divisão de polinómios, obtendo a soma de um


polinómio e de uma fracção com gr(P (x)) < gr(Q(x));

2. Analisar se a fracção obtida tem primitiva imediata. Se a primitiva não é imediata


continuar o procedimento;

3. Factorizar o polinómio Q(x) em polinómios de grau 1 e grau 2, irredutı́veis;


P (x)
4. Decompor na soma de fracções simples segundo a tabela acima;
Q(x)
5. Determinar as constantes A1 , ...An , B1 , ..., Bm segundo o método dos coeficientes in-
determinados (ou segundo o método dos coeficientes de Taylor apenas para factores
com raı́zes reais simples);

20
11 PRIMITIVAS DE FUNÇÕES RACIONAIS

6. Obter a primitiva da soma de cada uma das fracções simples, tendo em conta que os
primeiros 3 tipos de fracções têm primitivas imediatas e o último tipo tem primitiva
resolúvel através de uma fórmula de recorrência utilizando primitivação por partes.

Exemplo:

−2x + 8 −2x + 8 " A B #


1. P = P = P +
x2 + 4x − 5 (x − 1)(x + 5) x−1 x+5

Determinação das constantes, através do método dos coeficientes indeterminados:

−2x + 8 A B −2x + 8 A(x + 5) B(x − 1)


= + ⇔ = +
(x − 1)(x + 5) x−1 x+5 (x − 1)(x + 5) (x − 1)(x + 5) (x + 5)(x − 1)
*
−2 = A + B
−2x + 8 = Ax + 5A + Bx − B ⇔ −2x + 8 = (A + B)x + 5A − B ⇒
8 = 5A − B
* * *
− −2 = 1 + B B = −3
⇔ ⇔ ⇔
6 = 6A A=1 A=1
então, + 1
−2x + 8 −3 ,
P = P + = ln |x − 1| − 3 ln |x + 5|
x2 + 4x − 5 x−1 x+5
3 + A Bx + C ,
2. P = P + 2 Determinação das constantes:
x(x2 + 1) x x +1

3 A Bx + C
= + 2 → 3 = A(x2 + 1) + (Bx + C)x ⇔
x(x2 + 1) x x +1

⇔ 3 = Ax2 + A + Bx2 + Cx ⇔ 0x2 + 0x + 3 = (A + B)x2 + Cx + A


 
 0=A+B  −3 = B
⇔ 0=C ⇔ 0=C
 
3=A 3=A
então,
3 + 3 −3x + 0 , 3 2x 3
P 2
= P + 2 = 3 ln |x| − P 2 = 3 ln |x| − ln(x2 + 1)
x(x + 1) x x +1 2 x +1 2

2x − 5 2x − 5 + A B C ,
3. P = P = P + +
(x − 1)(x + 2)2 (x − 1)(x + 2)2 x − 1 (x + 2) (x + 2)2
Determinação das constantes:

2x + 5 A(x + 2)2 + B(x − 1)(x + 2) + C(x − 1)


= ⇔
(x − 1)(x + 2)2 (x − 1)(x + 2)2

21
11 PRIMITIVAS DE FUNÇÕES RACIONAIS

⇔ 2x + 5 = A(x2 + 2x + 1) + B(x2 + x − 2) + Cx − C ⇔
⇔ 2x + 5 = Ax2 + 2Ax + A + Bx2 + Bx − 2B + Cx − C
⇔ 0x2 + 2x + 5 = (A + B)x2 + (2A + B + C)x + A − 2B − C
  
 0=A+B  −A = B  −
⇒ 2 = 2A + B + C ⇔ C = 2 − 2A − B C =2−A ⇔
  
5 = A − 2B − C − 5 = A − 2(−A) − (2 − A)
 
 B = − 74  B = − 47
7
⇔ C =2− 4 ⇔ C = 14
 7 
A= 4 A = 74
então,

3 + 7 − 47 1 , 7 7 1
P = P 4
+ + 4
= ln |x−1|− ln |x+2|+ P (x+2)−2 =
x(x2 + 1) x − 1 (x + 2) (x + 2)2 4 4 4
7 7 1 7 x−1 1
= ln |x − 1| − ln |x + 2| − (x + 2)−1 = ln | |−
4 4 4 4 x+2 4(x + 2)

4x2 − 4 4x2 − 4 2 −2 ± −4
4. P 3 =P x + 2x + 2 = 0 ⇔ x = , impossı́vel
x + 2x2 + 2x x(x2 + 2x + 2) 2
em R. Então não podemos factorizar o polinómio mas podemos fazer x2 + 2x + 2 =
x2 + 2x + 1 + 1 = (x + 1)2 + 1 Assim,

4x2 − 4 A Bx + C
" #= +
2
x (x + 1) + 1) x (x + 1)2 + 1

determinação das constantes:


4x2 − 4 = A(x2 + 2x + 2) + (Bx + C)x ⇔ 4x2 − 4 = (A + B)x2 (2A + C)x + 2A
 
 A+B =4  B=6
2A + C = 0 ⇔ C=4
 
2A = −4 A = −2
Então,

4x2 − 4 + −2 6x + 4 , 6x + 6 2
P 3 2
= P + 2
= −2 ln |x|+P 2
+P =
x + 2x + 2x x (x + 1) + 1 (x + 1) + 1) (x + 1)2 + 1)
2x + 2 " #
= −2 ln |x|+3P 2
+2arctg (x−1) = −2 ln |x|+3 ln (x+1)2 +1 +2arctg (x−1)
(x + 1) + 1

22
12 PRIMITIVAÇÃO POR PARTES

12 Primitivação por partes


Da derivação do produto temos,

(uv)! = u! v + uv !

Primitivando ambos os membros da igualdade temos:

P (uv)! = P (u! v + uv ! ) ⇔ uv = P u! v + P uv ! ⇔

P uv ! = uv − P u! v Fórmula de primitivação por partes


A primitivação por partes aplica-se quando temos a primitiva, não imediata, do produto
de duas funções, identificando uma com v ! e a outra com u.
Como escolher v ! e u?

1. v ! deve ter primitiva imediata uma vez que vamos precisar de conhecer v na aplicação
da fórmula.

2. Se ambas as funções têm primitiva imediata devemos ter em conta as expressões


da derivada e da primitiva de cada uma delas e escolher u e v de modo a obter a
primitiva mas simples.

Casos tı́picos de aplicação de primitivação por partes

eq(x)
• P p(x) &'()
&'() !
u v

• P p(x) sin q(x)


&'() & '( )
u v!

• P p(x) cos q(x)


&'() & '( )
u v!

• P ln(p(x)) . q(x)
& '( ) &'()
u v!

• P arctg (p(x)) . q(x)


& '( ) &'()
u v!
onde p(x) e q(x) são polinómios.

Há casos em que a aplicação sucessiva de Primitivação por partes e eventual utilização de
fórmulas trigonométricas ou hiperbólicas resulta numa equação cuja incógnita é a função
a primitivar.
" #
P ex sin x = ex sin x − P ex cos x = ex sin x − ex cos x − P ex (− sin x) =

23
13 PRIMITIVAÇÃO POR SUBSTITUIÇÃO

* *
u = sin x ⇒ u! = cos x u = cos x ⇒ u! = − sin x
v ! = ex ⇒ v = ex v ! = ex ⇒ v = ex
x x x
= e cos x − e cos x − P e sin x
então,
P ex sin x = ex sin x − ex cos x − P ex sin x ⇔ 2P ex sin x = ex sin x − ex cos x ⇔ P ex sin x =
ex (sin x + cos x)
2

13 Primitivação por substituição


Fórmula de Primitivação por substituição
dx
P (f (x)) = P f (x(t)). (1)
& '( ) & '( dt)
primitiva em ordem a x
primitiva em ordem a t

onde x(t) é injectiva e diferenciável no intervalo considerado.


A notação com o sı́mbolo de integral é particularmente conveniente na aplicação da fórmula
(1), que se reescreverá: 0 0
dx
f (x)dx = f (x(t)) dt
dt
assim podemos operar os diferenciais como entidades separadas e usar
dx
dx = dt
dt

Procedimento a utilizar na aplicação da primitivação por substituição:


1. Determinar a substituição t → x(t) conveniente;
dx
2. Calcular ;
dt
3. Aplicar a fórmula (1) e calcular a primitiva;
4. Desfazer a substituição e recuperar a variável inicial.
Casos tı́picos e sugestões de substituição
1. Funções onde ocorre uma expressão repetida, E(x), tentar a substituição t = E(x);
2. Funções do tipo R(u(x)))u! (x), onde R designa uma função racional usar a substi-
tuição t = u(x), neste caso obtemos directamente P R(u(x)))u!(x) = P R(t) .
+ 1 ax + b , ax + b
= tn ,
n
3. Funções racionais de radicais do tipo R , usar a substituição
cx + d cx + d
de modo a eliminar o radical;

24
14 INTEGRAIS – DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES

+ 1 ax + b 1 ax + b ,
n m
4. Funções racionais de radicais de ı́ndices diferentes, do tipo R , ,
cx + d cx + d
ax + b
usar a substituição = tp , onde p = m.m.c.(m, n), de modo a eliminar os
cx + d
radicais;

5. Alguns casos particulares de funções irracionais: Funções onde ocorrem as expressões


na coluna da esquerda usar a substituição e aplicar a fórmula correspondente:

Expressão: Substituição: Igualdades:



(a) 2
√a − x
2 x = a cos t ou x = a sin t cos2 t + sin2 t = 1
(b) 2
√a + x
2 x = a sh t ou x = a tg t tg t + 1 = sec2 t ou ch2 t − sh2 t = 1
2

(c) x2 − a2 x = a ch t ou x = a sec t tg 2 t + 1 = sec2 t ou ch2 t − sh2 t = 1

Muitas vezes depois de aplicar o método de primitivação por substituição não se obtém
logo uma primitiva imediata o que nos leva a aplicar outros métodos de primitivação.
Aplicando as substituições de 2 a 4 resultam primitivas de funções racionais, aplicando a
substituição sugerida no caso 5 dá origem a primitivas por partes ou racionais.

14 Integrais – Definição e propriedades


O gráfico abaixo representa a velocidade a que se desloca um objecto ao longo do tempo.

v m / s

10 t s

Uma vez que a velocidade é constante, a distância percorrida pelo objecto num intervalo
de tempo é de cálculo elementar, dist(t) = v.t ⇒ dist(5) = 3m/s.5s = 15m e o seu valor
coincide com a área da região entre o gráfico e o eixo OX no intervalo de tempo considerado.

Em geral dado o gráfico da velocidade em função do tempo põe-se o problema de cal-


cular a distância percorrida, que é equivalente a calcular a área da região limitada pelo
gráfico e pelo eixo Ox, num certo intervalo. Como encontrar a área da região a sombreado
da figura 6?

25
14 INTEGRAIS – DEFINIÇÃO E PROPRIEDADES

v m / s

t s

Figura 6:

Podemos encontrar uma aproximação da área abaixo do gráfico de uma função f limitada,
dividindo o intervalo [a, b] em n subintervalos iguais e em cada um deles tomar o valor
máximo ou o valor mı́nimo da função, obtendo uma região cuja área é a soma das áreas
de n rectângulos como mostram as figuras seguintes.

f f

a t0 ... t i ti 1 ... tn b a t0 ... t i ti 1 ... tn b

(a) Ssup (f ) (b) Sinf (f )

Figura 7:

Assim para cada n teremos uma aproximação superior dada por


n
2
Ssup (f ) = max f (t)(ti+1 − ti )
t∈[ti−1 ,ti ]
i=1

e uma aproximação inferior


n
2
Sinf (f ) = min f (t)(ti+1 − ti )
t∈[ti−1 ,ti ]
i=1

Ora, se considerarmos rectângulos cada vez mais ”finos”, fazendo n cada vez maior, vamos
ter, para uma certa classe de funções, a soma superior Ssup (f ) e a soma inferior Sinf (f )
cada vez mais próximas entre si como mostra a figura 8

26
15 CLASSES DE FUNÇÕES INTEGRÁVEIS

f f

a t0 ... t i ti 1 ... tn b a t0 ... t i ti 1 ... tn b

(a) Ssup (f ) (b) Sinf (f )

Figura 8:

Define-se integral como sendo o limite das somas inferiores e superiores, isto é, dada f
uma função limitada num intervalo [a, b] dizemos que f é integrável à Riemann em [a, b]
se lim Sinf (f ) = lim Ssup (f ) = I e nesse caso I diz-se o integral de f em [a, b] e notamos
n→∞ n→∞

0 b
I= f (t)dt
a

onde a e b são os extremos de integração, x é a variável de integração e f diz-se função


integranda.!
A notação vem do ”S”de soma, o dt vem do factor ∆t = ti − ti−1
(Uma definição formal pode ser encontrada em qualquer elemento da bibliografia aconse-
lhada para a disciplina)

15 Classes de funções integráveis


Claro que nem todas as funções são integráveis à Riemann, vejamos o exemplo seguinte:
*
1 x ∈ Q ∩ [0, 1]
f (x) =
0 x ∈ [0, 1]\Q
para todo o n e em qualquer intervalo [ti−1 , ti ] o valor máximo da função é 1 e o mı́nimo
é 0 e assim, Sinf (f ) = 0 e Ssup (f ) = 1, o que torna esta função não integrável. De seguida
apresentam-se duas classes de funções integráveis:

• Toda a função contı́nua num intervalo [a, b] é integrável nesse intervalo;

• Toda a função limitada num intervalo e contı́nua excepto eventualmente num número
finito de pontos é integrável nesse intervalo.

27
16 PROPRIEDADES DOS INTEGRAIS E DAS FUNÇÕES
INTEGRÁVEIS:
16 Propriedades dos integrais e das funções integráveis:
0 b 0 a
1. f (x)dx = − f (x)dx
a b
0 a
2. f (x)dx = 0
a
0 b 0 b
3. kf (x)dx = k f (x)dx, k∈R
a a
0 b 0 b 0 b
4. (f (x) + g(x)) dx = f (x)dx + g(x)dx
a a a
0 b 0 c 0 b
5. f (x)dx = f (x)dx + f (x)dx ∀a, b, c
a a c
30 b 3 0 b
3 3
6. 33 f (x)dx33 ≤ |f (x)|dx
a a
0 b 0 b
7. f (x) ≥ g(x) ∀x ∈ [a, b] ⇒ f (x)dx ≥ g(x)dx
a a

Teorema da Média: 0 b
Seja f integrável em [a, b] então ∃ λ ∈ [inf f, sup f ] : f (x)dx = λ(b − a).
I I a
λ diz-se o valor médio da função f no intervalo [a, b].

Interpretação geométrica do integral:


!b
• Se f (x) ≥ 0 ∀x ∈ [a, b] então A = a f (x), isto é, a área compreendida entre o
gráfico da função e o eixo OX é dada pelo integral.

A
a b

0 b
• Se f (x) ≤ 0 ∀x ∈ [a, b] então A = − f (x) isto é a área compreendida entre o
a
gráfico da função e o eixo OX é simétrica do integral.

28
16 PROPRIEDADES DOS INTEGRAIS E DAS FUNÇÕES
INTEGRÁVEIS:

a b
A

Notas:
0 b 0 b 0 b
1. A variável de integração é muda, isto é: f (x)dx = f (t)dt = f (y)dy
a a a

2. A paridade da função integranda pode simplificar o cálculo do integral:


0 a 0 a
(a) Se f (x) é par então f (x)dx = 2 f (x)dx, como sugere a figura 9.
−a 0

a a

Figura 9: função par


0 a
(b) Se f (x) é ı́mpar então f (x)dx = 0, pois as regiões acima e abaixo do gráfico
−a
têm a mesma área.

a
a

Figura 10: função ı́mpar

29
17 TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO INTEGRAL E
CONSEQUÊNCIAS
17 Teorema Fundamental do Cálculo Integral e con-
sequências
Seja f uma função integrável num intervalo I. Chama-se integral indefinido de f com
origem em a à função: 0 x
F (x) = f (t)dt, x ∈ I
a

Teorema Fundamental do Cálculo Integral


Se f é contı́nua no intervalo [a, b] então f é primitivável em [a,b], isto é, existe uma função
F tal que F ! (x) = f (x), ∀x ∈ [a, b] e
0 x
F (x) = f (t)dt
a
!x
ou seja, F (x) = a
f (t)dt é uma primitiva de f .

0 x
Nas condições do teorema anterior sabemos que f (t)dt é uma primitiva de f (x), então
0 x a

qualquer função F (x) = f (t)dt + C ainda é uma primitiva de f (x).


a
Para x = a temos: 0 a
F (a) = f (t)dt + C ⇔ F (a) = C
a
então, 0 x
F (x) = f (t)dt + F (a)
a
fazendo x = b,
0 b 0 b
F (b) = f (t)dt + F (a) ⇔ F (b) − F (a) = f (t)dt
a a

esta última igualdade permite calcular integrais e denomina-se:

Regra de Barrow
Se f é uma função contı́nua no intervalo [a, b] e F é uma sua primitiva no mesmo intervalo,
então 0 b
f (x)dx = F (b) − F (a)
a

Exemplos:

30
17 TEOREMA FUNDAMENTAL DO CÁLCULO INTEGRAL E
CONSEQUÊNCIAS 17.1 Integração por partes e por substituição
0 1
3
1. x2 dx, uma primitiva da função integranda é P x2 = x3 , pela Regra de Barrow,
0
0 1 4 x3 5 4 x3 5 1
x2 dx = − =
0 3 x=1 3 x=0 3
0 5
2. |x|dx, podemos usar a propriedade 5 e partir o integral no ponto de mudança de
−3
ramo da função módulo, assim evitamos calcular a primitiva de uma função definida
por
0 5 ramos, e 0de0 seguida usamos
0 5 em cada
0 0 parcela o0ramo correspondente.
5 4 x2 50 4 x2 55
|x|dx = |x|dx + |x|dx = −xdx + xdx = − + =
−3 −3 0 −3 0 2 −3 2 0
9 25
+ = 17
2 2

17.1 Integração por partes e por substituição


0 b 0 b
!
u (x)v(x) dx = [u(x)v(x)]ba − u(x)v ! (x) dx
a a
0 b 0 β
dx
f (x) dx = f (x(t)) dt
a α dt
Onde x(t) é injectiva e diferenciável, a = x(α) e b = x(β).

Do teorema fundamental do Cálculo e da regra de derivação da função composta temos


a seguinte regra de derivação para funções definidas através de integrais:

Derivada do integral indefinido:


0 b(x)
Dada uma função F (x) = f (t)dt onde a(x) e b(x) são funções diferenciáveis então:
a(x)

F ! (x) = f (b(x)) b! (x) − f (a(x)) a! (x)

Exemplos:
0 x2
1
1. Determine a primeira derivada da seguinte função: F (x) = dt
−x t
temos f (t) = 1t , a(x) = −x, b(x) = x2 , então, aplicando o resultado precedente,

1 1 2 1 3
F ! (x) = 2x − (−1) = + =
x2 −x x x x

31
18 APLICAÇÕES DO CÁLCULO INTEGRAL

0 cos x
2. Calcule a primeira e segunda derivada da função F (x) = ex+t dt
0 cos x 0 cos x 0 cos x x

Temos, F (x) = ex+t dt = ex et dt = ex et dt, derivando em ordem a


x x x
x: 0 cos x + ,
F ! (x) = ex et dt + ex − ecos x sin x − ex
x
0 cos x + , + ,
F !! (x) = ex et dt + 2ex − ecos x sin x − ex + ex ecos x sin2 x − ecos x cos x − ex
0 cos x x + ,
=e x
et dt + ex ecos x (−2 sin x + sin2 x − cos x) − 3ex
x

18 Aplicações do Cálculo Integral


Cálculo de áreas
Na legenda de cada uma das figuras encontra-se o valor da área da região sombreada.

f ( x)

a b c d

0 b 0 c 0 d
Figura 11: A = − f (x)dx + f (x)dx − f (x)dx
a b c

f ( x) g ( x)

a b c

0 b 0 c
Figura 12: A = g(x)dx + f (x)dx
a b

32
18 APLICAÇÕES DO CÁLCULO INTEGRAL

f ( x)

g ( x)

a b

0 b 0 b
Figura 13: A = g(x)dx − f (x)dx
a a

f (x)

ca b

0 b
Figura 14: A = f (b).(b − a) − f (x)dx
a

Volume de sólidos gerados por rotação


Dada uma função f : [a, b] → R+ 0 integrável podemos construir um sólido fazendo rodar a
região abaixo do gráfico da função em torno do eixo Ox. O Volume do sólido gerado por
esta rotação, e ilustrado na figura 15 é dado pelo seguinte integral:
0 b
V =π f 2 (x)dx
a

a b

Figura 15: sólido gerado por rotação em torno do eixo Ox

33
19 INTEGRAIS IMPRÓPRIOS

Do mesmo modo podemos fazer rodar em torno do eixo Ox uma região limitada entre dois
gráficos num intervalo [a, b], (ver figura 16), obtendo um sólido cujo volume é dado por:
0 b
6 2 7
V =π f (x) − g 2 (x) dx
a

a b

Figura 16: sólido gerado por rotação em torno do eixo Ox


Comprimento de uma linha

Dada uma função f : [a, b] → R contı́nua, o seu gráfico é uma linha plana cujo com-
primento L é dado por: 0 b8
L= 1 + [f ! (x)]2 dx
a

19 Integrais Impróprios
Anteriormente definiu-se integral de uma função limitada num intervalo limitado. Com o
objectivo de generalizar a noção de integral a uma classe mais vasta de funções vejamos o
seguinte exemplo de função limitada num intervalo não limitado:

1
f (x) = , limitada em [1, +∞[
x2
A área abaixo do gráfico entre 1 e A é
dada por:
0 A
1 6 1 7A 1
2
dx = − 1 = − + 1 f(x)
1 x x A

x
1 A

34

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