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GESTÃO DE

PROCESSOS
EDUCACIONAIS NÃO
ESCOLARES

Pablo Rodrigo Bes


O campo e as demandas
da educação não formal:
empresas privadas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar o campo e as demandas da educação não formal nas


empresas.
 Analisar ações do pedagogo no espaço empresarial.
 Utilizar ferramentas tecnológicas para a organização das ações edu-
cativas no espaço empresarial.

Introdução
As empresas vivem, na atualidade, momentos de intenso dinamismo e
mudanças constantes no mercado, o que afeta os seus processos internos
de forma direta. Isso faz com que as organizações se empenhem nos
processos de gerenciamento do conhecimento dos seus membros e
na busca por uma aprendizagem organizacional mais eficiente, eficaz e
efetiva, ou seja, que garanta os resultados almejados e se perpetue ao
longo do tempo.
Essa necessidade constante de busca por conhecimentos e pelo
desenvolvimento de novas competências em seus colaboradores abre
espaço para as ações do pedagogo no ambiente empresarial. Isso se dá
porque esse é o profissional apto para planejar, organizar e implementar
as atividades pedagógicas necessárias.
Neste capítulo, você vai conhecer o campo e as demandas da educa-
ção não formal para a atuação do pedagogo nas empresas, analisando as
suas possíveis ações e conhecendo ferramentas tecnológicas que podem
ser utilizadas no desenvolver de suas ações pedagógicas.
2 O campo e as demandas da educação não formal: empresas privadas

A educação não formal nas empresas


Ao começar a estudar sobre o campo de atuação do pedagogo nas empresas,
você precisa entender que, embora as questões políticas, sociais e culturais
também tenham se alterado com a globalização da economia, foi no ambiente
empresarial que esses efeitos foram mais contundentes e exigiram adaptações
e mudanças urgentes. Com a chamada globalização, ocorrida na década de
1990, o ambiente empresarial vivenciou uma reconfiguração radical nas formas
como as empresas se comportavam no mercado até então.
A possibilidade de internacionalização das atividades produtivas, a pro-
messa da quebra de barreiras comerciais e alfandegárias entre os países, a
união em grandes blocos econômicos e o avanço das comunicações e infor-
mações digitais fizeram com que a competição se tornasse mais acirrada
entre as empresas em todos os segmentos. Esse novo cenário exigiu posturas
mais dinâmicas, voltadas para a aprendizagem organizacional e gestão dos
conhecimentos existentes nas organizações empresariais. O intuito dessas
ações era otimizar recursos e maximizar os lucros possíveis das empresas,
atendendo de forma eficaz aos seus objetivos organizacionais.
Com essas mudanças, inicialmente passamos a viver em uma sociedade
da informação e do conhecimento. Logo em seguida, porém, o contexto se
transformou em uma sociedade da aprendizagem, em que aprender passou a ser
a lógica que nos acompanha ao longo de toda a nossa vida. Essa nova lógica é
reforçada e legitimada por organismos internacionais, como a Organização das
Nações Unidas, e se faz presente nas políticas públicas educacionais das nações
ao redor do mundo. Para entender melhor como é necessário que processos
educacionais sejam efetivamente postos em prática nas empresas privadas atual-
mente, acompanhe a seguir os termos que fazem parte do universo empresarial:

 gestão do conhecimento;
 aprendizagem organizacional;
 educação corporativa;
 capital intelectual;
 treinamento e desenvolvimento;
 competências;
 diferenciais competitivos;
 e-learning;
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 benchmarking;
 melhoria contínua;
 chief learning officer.

Como você pode perceber, a busca pelo conhecimento e as ações voltadas


para a aprendizagem passam a ser de vital importância dentro das empresas
privadas contemporâneas, pois podem fazer com que as organizações se
mantenham competitivas, sobrevivendo, alavancando o seu crescimento e
aumentando as suas participações de mercado em seu segmento de atuação.
Da mesma forma, novas competências são requeridas para esse mercado
altamente competitivo, ao mesmo tempo em que os conhecimentos que
compõem o capital intelectual das empresas precisam de um suporte pe-
dagógico para que possam ser efetivamente compartilhados entre todos
os seus membros.
Para que isso ocorra de forma planejada e eficiente, faz-se necessário
um profissional apto a desenvolver processos educacionais com os quadros
funcionais que compõem as empresas, treinando e desenvolvendo seus cola-
boradores a partir das mais variadas metodologias e tecnologias pedagógicas
existentes. Esse profissional é o pedagogo.
Segundo Hourneaux Junior, Éboli e Martins (2008), as grandes corporações
empresariais na atualidade têm procurado investir em sistemas de educação
corporativa, que passam gradativamente a substituir os tradicionais programas
de treinamento e desenvolvimento (T&D). Para que você compreenda um
pouco melhor esses conceitos fundamentais para a atuação do pedagogo nas
empresas privadas, deve entender que o enfoque sobre aprendizagem, em
grande parte das organizações, modificou-se nas últimas décadas a partir
das seguintes etapas:

 gestão do conhecimento;
 T&D;
 educação corporativa.

Atualmente, essas ações podem ocorrer ao mesmo tempo, dentro das em-
presas privadas, pois a sua implementação depende do grau de sistematização
e organização dos processos educacionais que a empresa colocou em prática
ao longo do tempo — o que é muito variável. Porém, em todas elas existe a
necessidade de atividades pedagógicas sendo postas em prática.
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O conhecimento tácito é aquele que adquirimos a partir das nossas experiências


pessoais e pode transformar-se em explícito, caso a empresa conduza processos de
gestão do conhecimento em que este possa ser externalizado e compartilhado com
os demais membros dos grupos de trabalho. Assim, um bom sistema de gestão do
conhecimento opera nessa conversão dos conhecimentos tácitos existentes entre
todos, e a criação de canais e processos de aprendizagem a partir deles, para ampliar
os saberes e as técnicas entre todos os colaboradores.

A gestão do conhecimento é o conceito mais abrangente, sendo traduzida


pelo esforço da organização em aproveitar as formas de conhecimento explícito
e tácito existentes em seus membros para a melhoria da organização. Nonaka
e Takeushi (2008) disseminaram o termo, propondo que essa gestão ocorre
a partir de quatro processos: socialização, externalização, combinação e
internalização. Assim, “[...] a produção de novos conhecimentos envolve um
processo que amplifica organizacionalmente, o conhecimento criado pelos
indivíduos e cristaliza-o como parte da rede de conhecimentos da organização”
(NONAKA; TAKEUSHI, 2008, documento on-line). Dessa forma, tanto as
ações de treinamento e desenvolvimento quanto da educação corporativa são
extensões que buscam concretizar essa gestão do conhecimento.
Por T&D entendemos os programas organizados pelo setor de recursos
humanos ou gestão de pessoas das empresas, que buscam propor ações educa-
cionais pontuais para questões específicas relacionadas aos cargos, às tarefas e
atribuições dos empregados. Assim, o seu caráter costuma ser flexível e reativo,
atendendo às demandas que surgem e exigem atualizações de conhecimento
e desenvolvimento de novas competências.
A educação corporativa, por sua vez, abrange ações mais amplas, siste-
matizadas e organizadas de forma a manter um processo efetivo e constante
de formação dos trabalhadores da organização, tanto nos níveis gerenciais
quanto nos demais, que objetivem ganhos para as empresas e para as pessoas.
Assim, colocar a educação corporativa em prática, segundo Éboli (2004, p. 48),
significa fomentar o “[...] desenvolvimento e a instalação das competências
empresariais e humanas consideradas críticas para a viabilização das estratégias
de negócios”. Veja no Quadro 1 algumas das diferenças entre os programas
de T&D e educação corporativa.
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Quadro 1. Principais diferenças do T&D e da educação corporativa

T&D Educação corporativa

Reativo Proativo

Descentralizado Centralizado

Soluções genéricas Soluções para o negócio e para o público específico

Visão de curto prazo Visão de longo prazo

Habilidades técnicas Habilidades técnicas e comportamentais

Pontual Processual

Interno Interno e externo

Fonte: Adaptado de Meister (1998).

Como você pode perceber nesse esforço inicial, as possibilidades de atuação


do pedagogo nesse espaço típico da educação não formal — as empresas privadas
— são inúmeras, uma vez que essas organizações necessitam de investimento
constante em processos educacionais, sejam eles pontuais ou processuais. Nesse
sentido, é por meio da gestão do conhecimento que se pode aprimorar habilidades
e, assim, alavancar maior crescimento, traduzido em lucratividade.

Ações do pedagogo nas empresas


O pedagogo nas empresas costuma ser alocado no setor encarregado de fazer o
gerenciamento das pessoas da organização, uma vez que são encaminhadas para
esse setor as necessidades de treinamentos e formações dos demais departamen-
tos e, a partir disso, planejadas as ações educativas a serem postas em prática.
Cabe esclarecer que houve, nas últimas décadas, uma mudança na forma
como esse setor é denominado — o que se associa com o entendimento que
a organização tem sobre as pessoas. Assim, boa parte das organizações em-
presariais deixaram de utilizar a nomenclatura de administração ou setor de
recursos humanos (RH), por entenderem que as pessoas não deveriam ser
somente vistas como recursos. Além disso, elas teriam necessidade de ser
gerenciadas, e não somente administradas.
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Nesse sentido, acompanhando a tendência de passagem do conceito de


administração para o de gestão, que atende de forma mais eficaz às exigências
contemporâneas, o setor passou a chamar-se gestão de pessoas. Dessa forma,
estaremos nos valendo dessas duas denominações para nos referirmos ao espaço
dentro da empresa onde o pedagogo costuma atuar com maior incidência.
Além desse setor, pedagogos também podem atuar nas questões relacionadas
com os processos de qualidade, bem como na área ambiental, nos projetos de
responsabilidade social, entre tantos outros que exijam atitudes pedagógicas.
De acordo com Ribeiro (2010, p. 11), a empresa tornou-se, na contempo-
raneidade, “[...] espaço também aprendente”. Isso oportuniza ao pedagogo a
possibilidade de atuar, uma vez que: “[...] cabe à Pedagogia a busca de estraté-
gias e metodologias que garantam uma melhor aprendizagem/apropriação de
informações e conhecimentos, tendo sempre como pano de fundo a realização
de ideais e objetivos precisamente definidos” (RIBEIRO, 2010, p. 11).
Assim, o pedagogo passou a ser visto como aquele que pode aproximar os
objetivos da empresa, que remetem à busca de maior retorno dos investimentos
realizados para os empresários e seus acionistas, aos objetivos das pessoas
que dedicam horas do seu tempo contribuindo com seus conhecimentos e
aptidões para a geração de riqueza dessas organizações. Poderíamos então
questionar: de que forma o pedagogo cumpre com esses compromissos que
são requeridos de sua atuação? Como ele atua? O que ele faz dentro de uma
empresa? Acompanhe a seguir algumas ações desse profissional:

 elabora projetos de treinamento;


 atua no desenvolvimento das pessoas;
 formula estratégias de gestão do conhecimento;
 planeja e implementa ações de desenvolvimento de competências;
 realiza formações com os gestores;
 atua nos processos de seleção de pessoal;
 auxilia na contratação de instrutores e consultores;
 organiza as ações de aprendizagem que ocorrem na empresa;
 monitora e avalia as práticas voltadas para a aprendizagem organizacional;
 atua nos processos de humanização dos colaboradores;
 apoia mudanças de processos internos;
 estrutura projetos voltados para a diversidade.

O pedagogo, quando alocado junto ao departamento de gestão de pessoas,


é o responsável pelas atividades que envolvem o diagnóstico, o planejamento,
a elaboração, a implementação e o monitoramento das ações de caráter pe-
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dagógico que se fizerem necessárias para a organização. Para realizar essa


atribuição, costuma receber as demandas de treinamentos dos gestores dos
demais departamentos e, a partir disso, planeja as ações educativas que vão
promover as aprendizagens necessárias para que os empregados possam
cumprir bem com as atribuições presentes nas descrições de seus cargos.
Assim, o pedagogo poderá discernir entre as possibilidades para que essa
formação se realize, verificando se pode realizá-la — ou se existe na empresa
um profissional qualificado para fazê-lo —, ou sugerir a contratação de uma
empresa de consultoria que possa propor essa aprendizagem específica.
Outra possibilidade de atuação do pedagogo se relaciona ao que se denomina
de desenvolvimento pessoal, que envolve ações junto aos colaboradores,
voltadas não somente para a empresa e seus objetivos organizacionais, mas
também para que possam planejar as suas vidas em todos os aspectos (tanto
pessoais quanto profissionais). Assim, o pedagogo também auxilia em progra-
mas de gerenciamento de carreiras existentes nas organizações empresariais.
Um fator que costuma ser visto como atribuição do pedagogo é tornar os
ambientes empresariais mais humanizados, contribuindo com a melhoria do
clima organizacional, o que tem efeito direto na motivação dos empregados que
ali atuam. Assim, enquanto a grande maioria dos empregados preocupa-se em
desenvolver as suas atribuições técnicas e relacionadas ao processo interno em que
atuam, o pedagogo procura planejar e executar ações que visem à melhoria das
relações interpessoais, da comunicação, da empatia e da sinergia desses grupos.
Dentro dessas iniciativas que buscam a humanização das organizações,
encontram-se também os projetos voltados para a diversidade, que visam a
proporcionar igualdade a todos para que possam desenvolver os seus trabalhos
e crescer dentro da empresa. Assim, podem ser alvo dessas ações as questões
étnico-raciais, de gênero, religiosas, de orientação sexual, geracionais, entre
outras, que possam estar de alguma forma prejudicando a rotina da empresa por
meio de conflitos entre seus membros. Para realizar a gestão dessa diversidade,
faz-se necessário um profissional que conheça os aspectos da formação das
subjetividades humanas, entrelaçando conhecimentos das áreas da educação, da
cultura e da psicologia, que fazem parte de nossa formação como pedagogos.
Além disso, o pedagogo fornece auxílio de grande valia nos processos de
seleção de pessoal, tanto interno quanto externo. Ao apropriar-se das atribui-
ções referentes aos cargos que estão com processo seletivo em aberto, esse
profissional pode estabelecer as melhores maneiras de testar os conhecimentos,
verificando as habilidades necessárias, a fim de minimizar as possibilidades
de erro na contratação de uma pessoa que não se alinhe com o perfil desejado
para aquele cargo. Ainda, quando realizada uma nova contratação, o pedagogo
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pode conduzir os processos de integração desse novo colaborador na empresa,


fazendo com que conheça as suas atribuições, equipes de trabalho, gestores e
os elementos que fazem parte da cultura organizacional.
Ao realizarem uma pesquisa na qual entrevistaram pedagogos que atuam em
empresas no estado de Minas Gerais, Quirino e Laudares (2008) acrescentam
ao rol de possibilidades desse profissional nesse meio os itens a seguir:

 programas de desenvolvimento de lideranças;


 treinamentos internos e externos;
 elaboração de materiais didáticos;
 orientação didático-pedagógica de instrutores;
 condução de treinamentos em sala de aula;
 realização de diagnósticos;
 levantamento de necessidades de educação continuada e de treinamento;
 pesquisa e desenvolvimento de novos serviços;
 desenvolvimento de textos educativos;
 reuniões pedagógicas;
 gerenciamento de toda a área de RH.

A partir disso, percebemos como as habilidades que o pedagogo traz con-


sigo devido à sua formação podem contribuir diretamente para a organização
empresarial, pois são muitas as necessidades de ações voltadas para a gestão
do conhecimento e para o incremento da aprendizagem organizacional, a
ser realizada pelos processos de treinamento e desenvolvimento. Também
vale destacar a pesquisa pelo desenvolvimento de novos produtos e serviços,
que exigem a realização de ações em busca do compartilhamento de ideias e
conhecimentos de vários setores para que o seu resultado tenha êxito. Nesse
contexto, o pedagogo costuma contribuir significativamente para isso.
Da mesma forma, existe uma grande demanda pela produção de materiais
voltados para a aprendizagem organizacional, conforme demonstrado no
exemplo a seguir.
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Um exemplo da atuação do pedagogo na construção de materiais didáticos e instrucio-


nais é a elaboração de manuais e guias organizacionais voltados para a disseminação
da cultura da empresa, ou mesmo de seu planejamento estratégico, em que os cola-
boradores percebam e aprendam sobre os objetivos de longo prazo que a organização
almeja. Da mesma forma, nas ações voltadas para a qualidade, são necessárias a
padronização de procedimentos e a escrita desses procedimentos operacionais padrão
em manuais que devem funcionar de forma didática e autoexplicativa para aqueles
que venham a usufruir deles. Logo, precisam ser elaborados por um profissional que
conheça como ocorrem os processos de ensino e aprendizagem.

O uso de tecnologias educacionais


no ambiente empresarial
Para que o pedagogo atue de forma competente no ambiente empresarial,
precisa ser capaz de organizar-se e planejar as suas ações educacionais de
forma ordenada e estruturada. Com isso, poderá ter melhores condições de
monitoramento, acompanhamento e avaliação das atividades que projetou e
dos seus objetivos. Para isso, você verá algumas ferramentas imprescindíveis
e que auxiliam muito nesses aspectos:

 planos de ação;
 projetos;
 oficinas.

As ações de planejamento fazem parte do cotidiano do trabalho do pe-


dagogo na educação formal e no campo da educação não formal dentro das
empresas, e se revestem de grande importância. Porém, cabe destacar que
essas ações são muito diferentes nos aspectos relativos aos objetivos, ao uso de
recursos e ao tempo de duração, o que exige maior capacidade de organização
e flexibilidade por parte do pedagogo. Uma boa ferramenta que pode auxiliar
nesse esforço de planejamento é a elaboração de um plano de ação, que pode
ser construído a partir do uso de uma ferramenta chamada 5W2H:
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 What – o que será feito?


 Why – por que será feito?
 Where – onde será feito?
 When – quando será feito?
 Who – por quem será feito?
 How – como será feito?
 How much – quanto vai custar?

Perceba como responder a essas perguntas facilita o trabalho do pedagogo,


pois propõe, de forma simplificada, o planejamento de uma ação educativa
que se almeje executar dentro da empresa.

O conceito de tecnologia se refere a algo produzido pelo homem que o leve a ter um
benefício em sua vida. Quando nos referimos, no campo da educação, às tecnologias
educacionais, normalmente consideramos a utilização das tecnologias digitais de
informação e comunicação associadas ao processo de aprendizagem que se deseja
desenvolver. Essa associação também faz parte da educação híbrida, que envolve
atividades educativas presenciais e com suporte da educação a distância, hoje am-
plamente utilizada no setor empresarial, em seus sistemas de educação corporativa.

Outro aspecto de grande importância para o pedagogo são os projetos,


uma vez que estes vão fazer parte de seu cotidiano no interior das empresas,
em que as ações somente são postas em prática após a avaliação dos projetos
apresentados e a verificação de seus objetivos e viabilidades. Assim, cabe
reforçar os passos que costumam fazer parte de um projeto educacional:

1. definição do tema;
2. definição dos objetivos;
3. justificativa;
4. metodologias;
5. recursos necessários;
6. avaliação.
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O início da elaboração de um projeto parte da percepção e da definição de


um tema que deva ser abordado nas atividades de capacitação que vão ocorrer
na empresa. A partir do tema e das suas particularidades, serão definidos os
objetivos que se pretende atingir junto aos colaboradores, ou seja, o que se
deseja que eles venham a aprender com as atividades pedagógicas propostas.
A justificativa procura descrever os motivos pelos quais o projeto é relevante
e deve ser posto em prática na organização.
As metodologias envolvem o planejamento de todas as técnicas e as formas
utilizadas pelo pedagogo e pelos demais instrutores para desenvolver as ações
educativas e buscar a concretização dos objetivos propostos. Os recursos do pro-
jeto englobam o planejamento das pessoas envolvidas e dos materiais concretos
de apoio que serão utilizados, como audiovisuais eletrônicos e digitais, entre
outros. A avaliação, por sua vez, contempla formas de perceber se os colabo-
radores de fato aprenderam e passaram a atuar a partir dessas aprendizagens.
Outro formato muito utilizado em capacitações e treinamentos empresariais
são as oficinas, que procuram aliar os aspectos teóricos a serem aprendidos
com a parte prática, proporcionando o que chamamos de “aprender fazendo”.
Uma empresa que queira desenvolver com seus colaboradores uma atitude mais
sustentável de cuidados com o meio ambiente, por exemplo, poderá elaborar
uma oficina que trabalhe o tema. Pode-se propor que os participantes realizem
e sugiram pequenas ações cotidianas que contribuam com esse objetivo, como
apagar as luzes e os computadores ao sair das salas para o almoço, utilizar
canecas de cerâmica pessoais em vez dos copos plásticos para tomar o cafe-
zinho, utilizar menos impressões, etc. Com a oficina, a aprendizagem produz
maior importância e os significados se ampliam na mente dos colaboradores.
Há ainda outras tecnologias educacionais que podem ser utilizadas pelo
pedagogo para cumprir com suas atribuições nas empresas em que atua:

 jogos empresariais;
 simulações;
 gamificação;
 e-learning;
 dinâmicas de grupo;
 design thinking.
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Para que os processos criativos se evidenciem nas equipes que compõem as


organizações, faz-se necessário que o pedagogo planeje a utilização de alguma
metodologia específica. Isso pode envolver, por exemplo, o desenvolvimento
de um jogo empresarial ou uma simulação da realidade a que esses aprendizes
serão expostos durante as formações realizadas. Assim, por meio de uma
atividade pedagógica estruturada o mais próximo possível das condições reais
em que determinado processo ocorra, os profissionais podem exercitar as suas
habilidades, aperfeiçoando-se ou mesmo desenvolvendo novas maneiras de
abordar o mesmo problema, suscitando novas soluções.
Além disso, valer-se de jogos empresariais e simulações costuma tornar o
processo de ensino e aprendizagem mais interessante, divertido e prazeroso.
Datner (2006), ao estudar os processos de educação empresarial que ocorrem
hoje nas empresas, afirma que existe uma prevalência de processos mais
técnicos e formais, em que:

[...] o lado sensível, humano, principalmente o da qualidade dos relacionamen-


tos e experiências vivenciadas, fica a desejar, criando técnico superconhece-
dores, mas pouco hábeis na relação e comunicação com pares, subordinados,
superiores e principalmente com clientes (DATNER, 2006, p. 14).

Assim, o pedagogo pode estar atuando, via jogos empresariais, também no


desenvolvimento dessas habilidades sociais e desse processo de humanização
das relações de trabalho.
Outra tendência que tem sido aplicada, normalmente associada às inicia-
tivas do e-learning (aprendizagem via suportes de plataformas digitais), é a
gamificação. Nela, por meio do jogo e do brincar sobre conceitos importantes
para os processos internos, ou de problemas reais existentes e causas que a
empresa apoia, os colaboradores podem vir a aprender.
As dinâmicas de grupo, por sua vez, são técnicas amplamente aplicadas,
que servem como atividades para o acolhimento e a melhoria das relações
interpessoais, ou para desenvolver competências específicas que se façam
necessárias para alguns colaboradores. O importante é que a dinâmica se
desenvolva de forma coerente, alinhada com os objetivos pedagógicos plane-
jados. É preciso haver momentos de sensibilização e explicação inicial sobre a
proposta, desenvolvimento da dinâmica em si, e um período de fechamento, em
que os participantes possam ser ouvidos sobre as suas impressões ao realizar
a dinâmica e como ela pode contribuir para a sua formação. Esse momento
final não pode ser negligenciado pelos pedagogos, pois a sua contribuição
para a formação que se requer costuma ser decisiva.
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Outra tecnologia educacional que se difundiu nos últimos anos e que pode ser
aplicada como um diferencial pedagógico para a construção de processos criativos
e inovadores nas empresas é o chamado design thinking. Esse processo envolve as
seguintes etapas: definição das necessidades dos clientes ou usuários de serviços;
idealização de novos produtos ou serviços, ou adequação dos já existentes de
acordo com este diagnóstico inicial; criação de protótipos com as melhores ideias
selecionadas; testagem desses novos produtos ou serviços junto aos consumidores
para verificar se atendem ao que foi planejado. Como você pode perceber, essa
tecnologia proporciona que a aprendizagem possa ocorrer ao longo de cada fase
de sua aplicação, sendo de grande utilidade para as organizações empresariais.
Você aprendeu algumas tecnologias que ajudam a melhor organizar e al-
cançar os resultados que almeja no seu trabalho como pedagogo na educação
não formal que ocorre nas empresas. Porém, existem muitas outras que estão à
disposição dos profissionais da educação que encaminham as suas carreiras para
atuarem nesses espaços. Basta que você tenha interesse e disponibilidade para
ir em busca desses conhecimentos e do aperfeiçoamento das suas competências.

Acesse o link a seguir e veja inúmeras dinâmicas de grupo que podem ser postas em
prática pelo pedagogo para desenvolver as suas práticas e promover a aprendizagem
organizacional nas empresas privadas.

https://qrgo.page.link/3H7hC

DATNER, Y. Jogos para educação empresarial: jogos, jogos dramáticos, role playing,
jogos de empresa. 2. ed. São Paulo: Ágora, 2006.
EBOLI, M. Educação corporativa no Brasil: mitos e verdades. São Paulo: Gente, 2004.
HOURNEAUX JUNIOR, F.; EBOLI, M. P.; MARTINS, E. C. Educação corporativa eo papel do"
Chief learning officer". Revista Brasileira de Gestão de Negócios, v. 10, n. 27, 2008. Disponível
em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/3152677.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.
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MEISTER, J. Ten steps to creating a corporative university. Training & Development,


Alexandria, v. 52, n. 11, nov. 1998. Disponível em: https://eric.ed.gov/?id=EJ574752.
Acesso em: 25 nov. 2019.
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H. Gestão do conhecimento. Porto Alegre: Bookman, 2008.
QUIRINO, R.; LAUDARES, J. B. O pedagogo do trabalho: perfil profissional e saberes
necessários para a atuação. Revista Tecnologia e Sociedade, v. 4, n. 6, 2008. Disponível
em: https://www.redalyc.org/pdf/4966/496650325005.pdf. Acesso em: 25 nov. 2019.
RIBEIRO, A. E. A. Pedagogia empresarial: atuação do pedagogo na empresa. 6. ed. Rio
de Janeiro: Wak, 2010.

Leitura recomendada
ULYSSEA, A. Guia completo das dinâmicas de grupo. Rh Portal, set. 2015. Disponível em:
https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/dinmicas-de-grupo/. Acesso em: 25 nov. 2019.

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mento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede
é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local
e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre
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