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AGROMETEOROLOGIA

E CLIMATOLOGIA

Elizabeth Carnevskis
Balanço hídrico
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Determinar a capacidade de armazenamento de água do solo.


 Construir o roteiro para elaboração do balanço hídrico.
 Identificar o cálculo e a representação gráfica do balanço hídrico.

Introdução
A água é um dos condicionantes climáticos mais importantes para o
pleno desenvolvimento de uma cultura. No entanto, não basta adicionar
água ao solo e esperar que a lavoura se desenvolva bem, é necessário
haver um equilíbrio do que entra, do que o solo consegue armazenar, do
que a planta precisa e do quanto é perdido para a atmosfera. E tudo isso
varia de acordo com o local e a época do ano. Desse modo, é necessária
uma contabilização do que entra e do que sai, um balanço, uma forma
de ver e prever o quanto de água será necessário para seu cultivo se
desenvolver bem com alta produção.
Neste capítulo, você vai aprender o que é o balanço hídrico, seus
componentes principais e quais deles são os mais relevantes. Estudará
também o passo a passo de como calcular cada componente do balanço
e como interpretar graficamente o balanço hídrico depois de pronto,
identificando uma região mais seca de outra mais úmida. Além disso,
verá o que é a capacidade de armazenamento de água no solo (CAD)
e como obtê-la.
Entender como funciona o balanço hídrico, seus componentes, onde
encontrá-los e como calculá-los é o primeiro passo no manejo de irrigação
de alguma cultura. Muitas vezes, o balanço hídrico possibilita a escolha
de quais culturas são melhores ou não para uma determinada localidade.
2 Balanço hídrico

Definições de balanço hídrico e suas


componentes
O balanço hídrico é a contabilização da água do solo, resultante da aplicação
do Princípio de Conservação de Massa em um volume de solo vegetado.
Desenvolvido por Thornthwaite e Mather em 1955, determina que a variação
de armazenamento de água no volume considerado (ΔARM), por intervalo
de tempo, representa o balanço entre o que entrou e o que saiu de água do
volume de controle. Como a chuva é expressa em milímetro para facilitar a
contabilidade do balanço hídrico, adota-se também uma área superficial de
1 m2 para o volume de controle, que, portanto, se torna uma função apenas da
profundidade do sistema radicular das plantas (ANACHE, 2017). Admite-se
que esse volume de controle seja representativo de toda a área em estudo, sendo
essa área, no caso do balanço hídrico climatológico, aquela representada pelo
ponto de medida dos elementos climáticos, principalmente a chuva.
Nas entradas do balanço hídrico, haverá:

 precipitação (P);
 irrigação (I);
 orvalho (O);
 escorrimento superficial, em inglês: run in (Ri);
 drenagem lateral (Dli);
 ascensão capilar (AC).

Nas saídas do balanço hídrico, haverá:

 evapotranspiração (ET);
 escorrimento superficial, em inglês: run off (Ro);
 drenagem lateral (Dlo);
 drenagem profunda (DP).

Esquematicamente, o balanço hídrico de uma área vegetada, como na


Figura 1, pode ser representado por:
Balanço hídrico 3

P O I ET

Ri Ro
DLi DLo

ARM

AC DP
Figura 1. Representação genérica dos sentidos dos fluxos de água dentro do volume de
controle do balanço hídrico. ∆ARM, armazenamento de água; P, precipitação; O, orvalho; I,
irrigação; ET, evapotranspiração; Ro, run off; DLo, drenagem lateral; DP, drenagem profunda;
AC, ascensão capilar; DLi, drenagem lateral; Ri, run in.
Fonte: Adaptada de Pereira, Angelocci e Sentelhas (2007).

Dependências das variáveis do balanço hídrico e suas


importâncias
A chuva e o orvalho dependem do clima da região, enquanto as demais entradas
dependem do tipo de solo e do relevo da região. A irrigação, utilizada para
manter o armazenamento em nível adequado às necessidades das plantas, é
função do próprio balanço hídrico, integrando os efeitos do clima, do solo e
do tipo de planta. A força que impulsiona o sistema é o clima.
O orvalho representa uma contribuição máxima de 0,5 mm/dia (1 mm =
1 litro/m2) em locais úmidos, sendo uma ordem de magnitude menor que o
consumo diário de uma vegetação mesófita em crescimento ativo. Nessas
condições, sua contribuição é mais importante no aspecto ecológico. Além
disso, em regiões ou épocas secas, sua contribuição é desprezível em termos
de suprimento de água para a cultura. Assim sendo, ele será desprezado na
contabilização geral do balanço.
4 Balanço hídrico

Mesófita: vegetal que habita lugares com solos de umidade moderada. Faz parte desse
grupo a maioria dos vegetais utilizados na agricultura.

As entradas e saídas do escorrimento superficial e drenagem lateral ten-


dem a se compensar, desde que a superfície externa do volume de controle
não seja muito grande. Drenagem profunda e ascensão capilar representam,
respectivamente, saída e entrada de água pela área inferior do volume de
controle. A drenagem profunda expressa o excesso de água que penetrou no
volume pelas chuvas ou irrigação, assim, quanto mais profundo o volume de
controle, menor a drenagem profunda e maior a ascensão capilar (PEREIRA;
ANGELOCCI; SENTELHAS, 2007). Logo, o balanço hídrico no volume de
controle pode ser expresso pela Fórmula 1:

±∆ARM = P + I – ET + AC – DP

Em que:
ΔARM: armazenamento de água (mm/dia)
P: precipitação (mm/dia)
I: irrigação (mm/dia)
ET: evapotranspiração (mm/dia)
AC: ascensão capilar (mm/dia)
DP: drenagem profunda (mm/dia)

A precipitação (P) e a irrigação (I) podem ser medidas mais facilmente. Já


a ascensão capilar (AC), que ocorre em períodos secos, e a drenagem profunda
(DP), que ocorre em períodos extremamente chuvosos, podem ser determinadas
utilizando-se conhecimentos de física de solos. Assim, para que se conheça a
disponibilidade hídrica do solo, ou seja, o seu armazenamento (ARM), falta
determinar a evapotranspiração (ET).

Sistema solo-planta-atmosfera
O volume de controle é determinado pelo conjunto solo-planta-atmosfera. Caso
o solo seja profundo e a demanda atmosférica, alta, as raízes se aprofundam
Balanço hídrico 5

na procura de mais água para atender à demanda. Nessa situação, as plantas


investem na formação do sistema radicular como modo de garantir sua sobre-
vivência. No entanto, se a demanda atmosférica for baixa, um volume menor
de solo será suficiente para atendê-la.
Em solos argilosos, com maior capacidade de retenção de água, as raízes
não necessitam se aprofundar tanto quanto em solos arenosos, que retêm
menor quantidade de água, pois há compensação natural pelo crescimento
do sistema radicular para manter certa quantidade de água disponível às
plantas. Alguns solos apresentam uma camada adensada que impede tanto
a penetração das raízes como a drenagem profunda, e na época chuvosa o
solo se torna encharcado, asfixiando as raízes mais profundas, e reduzindo o
volume efetivo de solo disponível. Nessa situação, as plantas são incapazes
de atender a uma demanda elevada por muito tempo.
Se o terreno for inclinado, a drenagem lateral ameniza o problema pela
eliminação do excesso de água. Na época seca, o pequeno volume disponível
não é capaz de suprir as necessidades das plantas, resultando em estresse por
deficiência hídrica. Logo, solos com impedimento físico são prejudiciais tanto
na época das chuvas como na época de seca.
Muitos solos são fisicamente profundos, porém agronomicamente rasos
pelo acúmulo de elementos tóxicos numa certa profundidade, o que interfere
no crescimento das raízes. Nesse caso, na época das chuvas não há asfixia
das raízes, pois não há impedimento à drenagem profunda. O impedimento
químico pode ser corrigido por meio de correção química (calagem, etc.) ou pela
utilização de plantas e variedades tolerantes a elementos tóxicos. Para culturas
anuais, a profundidade de solo explorado pelas raízes varia com o estágio de
desenvolvimento das plantas. Assim, uma vez definida a profundidade das
raízes, tem-se o volume de controle.

Determinação da capacidade de armazenamento de


água do solo
Na elaboração do balanço hídrico climatológico, o primeiro passo é a seleção
da CAD, ou seja, a lâmina de água correspondente ao intervalo de umidade
do solo entre a capacidade de campo (CC%) e o ponto de murcha permanente
(PMP%). Como o balanço hídrico, segundo Thornthwaite e Mather (1955), é
mais utilizado para fins de caracterização da disponibilidade hídrica de uma
região em bases climatológicas e comparativas, a seleção da CAD é feita mais
em razão do tipo de cultura ao qual se quer aplicá-lo do que do tipo de solo.
Justifica-se isso comparando-se um solo arenoso e um argiloso: se no primeiro
6 Balanço hídrico

o valor de (CC% — PMP%) é menor, a profundidade efetiva do sistema ra-


dicular (Z) para uma cultura é maior, de maneira que há uma compensação,
tornando a CAD aproximadamente igual para os dois tipos de solo. Assim,
independentemente do tipo de solo, pode-se adotar valores de CAD entre 25 e
50 mm, para hortaliças; entre 75 e 100 mm, para culturas anuais; entre 100 a
125 mm, para culturas perenes; e entre 150 e 300 mm, para espécies florestais
(PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2007).

Elaboração do balanço hídrico climatológico


O balanço hídrico proposto por Thornthwaite e Mather (1955) visa observar a
variação no armazenamento de água no solo em uma condição que somente a
chuva é considerada como entrada de água. Logo, a equação do armazenamento
fica conforme mostra a Fórmula 2 (BATTISTI, 2013):

∆ARM = P – ETo – DP

Em que:
Δ ARM — variação do armazenamento de água no solo, mm;
P — precipitação pluvial, mm;
DP — drenagem profunda, mm (excedente das chuvas).

Esse tipo de balanço é geralmente aplicado em regiões com superfície


vegetada e que tenham alguma deficiência hídrica, logo, aqui é utilizada a
ETR no lugar da ETo.
Sendo assim, podemos reescrever a Fórmula 2 conforme mostra a Fórmula 3:

± ALT = P – ETR – EXC

Em que ALT é a alteração do armazenamento, positiva no caso de ganho


de água e negativa no caso de perda. A ETR pode ser obtida por meio da
seguinte fórmula:

 Quando P – ETo ≥ 0. Fórmula 4:

ETR = ETo
Balanço hídrico 7

 Quando P – ETo < 0. Fórmula 5:

ETR = P + |ALT|

Com a determinação de ETR e ETo, é possível estimar o déficit hídrico.


Fórmula 6:

DEF = ETo – ETR

O balanço hídrico calculado com valores normais (balanço hídrico normal)


torna-se um indicador climatológico da disponibilidade hídrica na região. Essa
metodologia também se aplica quando se quer realizar o acompanhamento
da disponibilidade hídrica regional, em tempo real, calculando-se o balanço
em períodos sequenciais ao longo do ano ou dos anos, e não mais com valo-
res normais. Nessa situação, o balanço hídrico é dito sequencial ou seriado
(PEREIRA; ANGELOCCI; SENTELHAS, 2007).

Roteiro para elaboração do balanço hídrico,


com os cálculos e a representação gráfica
Utilizando a metodologia de Thornthwaite e Mather (1955), serão necessárias as
informações de precipitação total mensal (mm), evapotranspiração de referência
total mensal (mm) e temperatura média mensal (°C) de uma região. Para se
compreender como é realizado o cálculo do balanço hídrico, será desenvolvido
um exemplo passo a passo. O Quadro 1 apresenta os dados de temperatura,
evapotranspiração e precipitação mensais de um município (BÍSCARO, 2007).
8 Balanço hídrico

Quadro 1. Variáveis de entrada do balanço hídrico

Evapotranspiração
Temperatura Precipitação
Mês de referência

°C mm

Jan. 21,7 101 272

Fev. 22,1 93 192

Mar. 20,9 87 174

Abr. 19,8 78 73

Maio 17,5 54 41

Jun. 16,3 45 28

Jul. 15,8 44 23

Ago. 17,7 58 25

Set. 19,0 68 72

Out. 20,4 86 126

Nov. 20,9 91 213

Dez. 21,1 98 296

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

O Quadro 2 apresenta o modelo da planilha que deve ser utilizada no


cálculo do balanço hídrico (BÍSCARO, 2007).
Balanço hídrico 9

Quadro 2. Planilha de cálculo do balanço hídrico

T ETo P P-ETo N ARM ALT ETr DEF EXC

Mês °C mm mm mm mm mm mm mm mm mm

Jan. 21,7 101 272

Fev. 22,1 93 192

Mar. 20,9 87 174

Abr. 19,8 78 73

Maio 17,5 54 41

Jun. 16,3 45 28

Jul. 15,8 44 23

Ago. 17,7 58 25

Set. 19,0 68 72

Out. 20,4 86 126

Nov. 20,9 91 213

Dez. 21,1 98 296

Total

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

Passo a passo para calcular o balanço hídrico


1º passo — Colocar os dados de temperatura (T), evapotranspiração (ETo)
e precipitação (P) na planilha e calcular a coluna P-ETo (BÍSCARO, 2007)
(Quadro 3).
10 Balanço hídrico

Quadro 3. Cálculo de P-ETo

T ETo P P-ETo N ARM ALT ETr DEF EXC

Mês °C mm mm mm mm Mm mm mm mm mm

Jan. 21,7 101 272 171

Fev. 22,1 93 192 99

Mar. 20,9 87 174 87

Abr. 19,8 78 73 –5

Maio 17,5 54 41 –13

Jun. 16,3 45 28 –17

Jul. 15,8 44 23 –21

Ago. 17,7 58 25 –33

Set. 19,0 68 72 4

Out. 20,4 86 126 40

Nov. 20,9 91 213 122

Dez. 21,1 98 296 198

Total 903 1.535 632

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

2º passo — Calcular o negativo acumulado (N) e o armazenamento (ARM)


(BÍSCARO, 2007) (Quadro 4).
Balanço hídrico 11

Quadro 4. Cálculo de N e ARM

T ETo P P-ETo N ARM ALT ETr DEF EXC

Mês °C mm mm mm mm mm mm mm mm mm

Jan. 21,7 101 272 171 0 100

Fev. 22,1 93 192 99 0 100

Mar. 20,9 87 174 87 0 100

Abr. 19,8 78 73 -5 -5 95

Maio 17,5 54 41 -13 -18 83

Jun. 16,3 45 28 -17 -35 70

Jul. 15,8 44 23 -21 -56 56

Ago. 17,7 58 25 -33 -89 40

Set. 19,0 68 72 4 -81 44

Out. 20,4 86 126 40 -17 84

Nov. 20,9 91 213 122 0 100

Dez. 21,1 98 296 198 0 100

Total 903 1.535 632

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

Primeiro, deve-se determinar qual é a capacidade máxima de retenção de


água no perfil do solo. Para o nosso caso, vamos considerar que o armazena-
mento de água disponível é de 100 mm. O negativo acumulado deve ser cal-
culado em conjunto com a determinação do valor do armazenamento (ARM).
Sempre que o valor encontrado na coluna P-EP for positivo, o valor da
coluna N (negativo acumulado) do mês em questão será igual a zero. Conse-
quentemente, entra-se no Quadro 4 e determina-se o valor da coluna ARM
(armazenamento), que, para N = 0, sempre será igual a 100. Veja o exemplo
no Quadro 5 (BÍSCARO, 2007).
12 Balanço hídrico

Quadro 5. Detalhe do cálculo do N e do ARM, caso o P-ETo >0

P-ETo N ARM Cálculo

Mês mm mm mm

Jan. 171 0 100 P-EP = (+) → N= 0 → ARM = 100 (Quadro 4)

Fev. 99 0 100 P-EP = (+) → N= 0 → ARM = 100 (Quadro 4)

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

Em alguns balanços, isso pode não ocorrer, mas, no primeiro mês em que o
valor de precipitação for menor do que o da evapotranspiração de referência e
consequentemente o valor da coluna P-ETo der negativo, após terem ocorrido
valores positivos, o valor de N será igual ao de P-ETo.
No mês seguinte, o valor de N será igual ao valor de P-ETo somado ao valor
de N do mês anterior. Consequentemente, entra-se no Quadro 6 e determina-se o
valor de ARM correspondente. Isso deve ser repetido para os próximos meses se
o valor de P-ETo for negativo. Veja o exemplo no Quadro 6 (BÍSCARO, 2007).

Quadro 6. Detalhe do cálculo do N e do ARM, caso o P-ETo ≤ 0

P-ETo N ARM Cálculo

Mês mm mm mm

Mar. 87 0 100 P-EP = (+) → N = 0 → ARM = 100 (Quadro 4)

Abr. –5 –5 95 P-EP = (–) → N= P-EP = –5 → ARM = 95 (Quadro 4)

Maio –13 –18 83 P-EP = (–) → N (atual) = P-EP (atual) + N (anterior)


N (atual) = -13 + (–5) = -18 → ARM = 83 (Quadro 4)

Jun. –17 –35 70 P-EP = (–) → N (atual) = P-EP (atual) + N (anterior)


N (atual) = –17 + (–18) = –35 → ARM = 70 (Quadro 4)

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

Se os valores de P-ETo voltarem a se tornar positivos, deve-se fazer uma


mudança na maneira de realizar o cálculo da coluna N e ARM. Determina-se
primeiro o valor da coluna ARM, somando o valor positivo de P-ETo do mês
em questão com o valor do ARM do mês anterior. Entra-se no Quadro 4 com
o valor do ARM para encontrar N.
Balanço hídrico 13

Quando se encontrar mais de um valor de ARM, utiliza-se o mais negativo.


Se a soma do valor positivo de P-ETo do mês em questão com o valor do ARM
do mês anterior for maior ou igual a 100, adota-se esse valor para ARM e zero
para N. Veja o exemplo no Quadro 7 (BÍSCARO, 2007).

Quadro 7. Detalhe do cálculo do N e do ARM, caso o P-ETo > 0

P-ETo N ARM Cálculo


Mês mm mm mm
Ago. –33 –89 40 P-EP = (–) → N (atual) = P-EP (atual) + N
(anterior)
N (atual) = –33 + (–56) = –89 → ARM = 40
(Quadro 4)
Set. 4 –81 44 P-EP = (+) → ARM (atual) = P-EP (atual) + ARM
(anterior)
ARM (atual) = 4 + 40 = 44 → N = –81 (Quadro 4)
Out. 40 –17 84 P-EP = (+) → ARM (atual) = P-EP (atual) + ARM
(anterior)
ARM (atual) = 40 + 44 = 84 → N = -17 (Quadro 4)
Nov. 122 0 100 P-EP = (+) → ARM (atual) = P-EP (atual) + ARM
(anterior)
ARM (atual) = 122 + 84 >100 (adota-se
ARM = 100) → N = 0 (Quadro 4)
Dez. 198 0 100 P-EP = (+) → ARM (atual) = P-EP (atual) + ARM
(anterior)
ARM (atual) = 198 + 100 >100
(adota-se ARM = 100) → N = 0 (Quadro 4)

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

3º passo — Calcular a alteração (ALT) e a evapotranspiração real (ETr)


(Quadro 8). A coluna ALT corresponde à diferença do mês em questão e o
mês anterior dos valores de armazenamento. Considera-se que o mês anterior
ao mês de janeiro, na coluna ARM, possui o mesmo valor de dezembro, no
caso 100. Portanto, o primeiro valor de ALT é zero. Utiliza-se a seguinte regra
para o cálculo da evapotranspiração real (ETr) (BÍSCARO, 2007).

Se P – ETo > 0 → ETr = ETr


Se P – ETo < 0 → ETr = P + | ALT |*

* os valores de ALT devem estar em módulo.


14 Balanço hídrico

Quadro 8. Cálculo da ALT e ETr

T ETo P P-ETo N ARM ALT ETr DEF EXC

Mês °C mm mm mm mm mm mm mm mm mm

Jan. 21,7 101 272 171 0 100 0 101

Fev. 22,1 93 192 99 0 100 0 93

Mar. 20,9 87 174 87 0 100 0 87

Abr. 19,8 78 73 –5 –5 95 –5 78

Maio 17,5 54 41 –13 –18 83 –12 53

Jun. 16,3 45 28 –17 –35 70 –13 41

Jul. 15,8 44 23 –21 –56 56 –14 37

Ago. 17,7 58 25 –33 –89 40 –16 41

Set. 19,0 68 72 4 –81 44 4 68

Out. 20,4 86 126 40 –17 84 40 86

Nov. 20,9 91 213 122 0 100 16 91

Dez. 21,1 98 296 198 0 100 0 98

Total 903 1.535 632 0 874

Fonte: Adaptado de Bíscaro (2007).

4º passo — Calcular os valores de deficiência de água do solo (DEF) e da


quantidade de água disponível no solo (EXC) (Figura 2) (BÍSCARO, 2007).
Regra para determinar DEF:

Se P - ETo > 0 → DEF = 0


Se P - ETo < 0 → DEF = ETo – ETr

Regra para determinar EXC:

Se P - ETo > 0 → EXC = ( P - ETo ) - ALT


Se P - ETo < 0 → EXC = 0
ALT = ARM do mês atual – ARM do mês anterior
Mês T Eto P P – Eto N ARM ALT Etr DEF EXC
Quando P – ETo é positivo, o valor do ETR = ETo
jan 21,7 101 272 171 0 100 0 101 0 171
Se o número de P – ETo der positivo, o N é zero e o ARM é 100
fev 22,1 93 192 99 0 100 0 93 0 99
Somar o N anterior com o P – ETo atual para achar o N,
mar 20,9 87 174 87 + 0 100 0 87 0 87
quando P – ETo for negativo
abr 19,8 78 73 –5 + –5 95 –5 78 0 0
mai 17,5 54 41 –13 + –18 83 –12 53 1 0
Se o Alt é negativo, calcula o ETR = P + módulo de ALT  41 + 12 = 53

jun 16,3 45 28 –17 + –35 70 –13 41 4 0


Para os valores de N negativo usar a fórmula ARM = CAD × exp(N/CAD)
Usar na calculadora 100 × ex(–5/100) = 95
jul 15,8 44 23 –21 + –56 57 –13 36 8 0
ago 17,7 58 25 –33 –89 41 –16 41 17 0
DEF = ETo – ETR
set 19 68 72 4 –80 45 4 68 0 0
N acumulado = 100 × ln(85/100) = –16
out 20,4 86 126 40 –16 85 40 86 0 0
nov 20,9 91 213 122 0 100 15 91 0 107
dez 21,1 98 296 198 0 100 0 98 0 198
Total 903 1535 632 0 873 30 662

Obs.: Para calcular o o EXC: se ARM for menor que CAD (que vale 100),
EXC é zero. Se ARM = CAD, calcula-se (P – Eto) – (ALT) Para calcular este N usar a fórmula: N acumulado = 100 × ln (45/100) = 80
Como saber se os cáculos estão certos?
Quando tenho o primeiro número de P – ETo positivo, somo com o
1) total do P = total do Eto + total do P – Eto
ARM anterior: 41 + 4 = 45
2) Total do P = total do ETR + total do EXC
3) Total do Eto = Total do ETR + total do DEF
4) total de ALT = zero

Figura 3. Cálculo da DEF e EXC


Fonte: Adaptada de Bíscaro (2007).
Balanço hídrico
15
16 Balanço hídrico

Conferência dos resultados


Para verificar se os cálculos foram executados com exatidão, realizam-se as
seguintes conferências (BÍSCARO, 2007):

 Σ P = Σ ETr + Σ (P – ETo) → 1535 = 903 + 632 → 1535 = 1535 (OK)


 Σ ALT = ZERO → 0 = 0 (OK)
 Σ ETo = Σ ETr + Σ DEF → 903 = 874 + 29 → 903 = 903 (OK)
 Σ P = Σ ETr + Σ EXC → 1535 = 874 + 661 → 1535 = 1535 (OK)

Traçando-se o gráfico do balanço hídrico, como na Figura 3, com os va-


lores de P, ETo e ETr, pode-se melhor visualizar as épocas de excesso e de
deficiência de água no solo (BÍSCARO, 2007).

350

300

250

200

150

100

50

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Precipitação ETo ETr

Figura 3. Representação gráfica do balanço hídrico. Área cinza-claro: excesso de água no


solo (área entre P e ETo); área de cor preta: deficiência de água no solo (área entre ETo e
ETr); área cinza-escuro: retirada de água no solo (área entre P e ETr).
Fonte: Adaptada de Bíscaro (2007).
Balanço hídrico 17

ANACHE, J. A. A. Alterações no ciclo hidrológico e na perda de solo devido aos diferentes


usos do solo e variações climáticas em área de Cerrado. 2017. Tese (Doutorado em Ciências
— Engenharia Hidráulica e Saneamento) — Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017. Disponível em: http://www.teses.usp.br/
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BATTISTI, R. Épocas de semeadura da cultura da soja com base no risco climático e na
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(Mestrado em Ciências: Engenharia de Sistemas Agrícolas) — Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2013. Disponível
em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11152/tde-27032013-131425/pt-br.
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BÍSCARO, G. A. Meteorologia agrícola básica. Cassilândia: UNIGRAF, 2007. Disponível
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PEREIRA, R. A.; ANGELOCCI, L. R.; SENTELHAS, P. C. Meteorologia agrícola. Piracicaba: USP,
2007. (LCE 306). Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Paulo_Sentelhas/
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THORNTHWAITE, C. W.; MATHER, J. R. The water balance. Centerton, NJ: Drexel Institute
of Technology; Laboratory of Climatology, 1955. v. 7, n. 1. (Publications in Climatology).

Leituras recomendadas
REICHARDT, K.; TIMM, L. C. Solo, planta e atmosfera: conceitos, processos e aplicações.
2. ed. Barueri: Manole, 2012.
VAREJÃO-SILVA, M. A. Meteorologia e climatologia. 2. ed. Recife: [s. n.], 2006. Disponível em:
http://www.icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/METEOROLOGIA_E_CLI-
MATOLOGIA_VD2_Mar_2006. Acesso em: 9 abr. 2019.

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