Você está na página 1de 4

LIÇÕES DO PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL (1513)

PRIMEIRA LIÇÃO:
O DIRIGENTE DO ESTADO DEVE TER COMPETÊNCIA PARA ANTECIPAR OS PROBLEMAS QUE
ELE VAI ENFRENTAR E, AO ANTECIPAR OS PROBLEMAS, DEVE REMEDIÁ-LOS, NÃO
PERMITINDO QUE O TEMPO CORROA A SUA AUTORIDADE.
ANÁLISE: A manutenção do poder depende principalmente, das ações realizadas com sucesso pelo
governante. Como, pois, falar-se-á em manutenção se não houver uma preparação específica para
este fim. Um governante não pode conter a inundação de um rio, mas pode construir um ou mais
canais que possam levar este rio para onde o governante desejar. Se for conveniente alarga-se o rio
para que fique mais perene, se oportuno, estreita-lhe o curso para que se torne mais arredio.
Isto pode ser observado quanto à natureza das pessoas, quanto ao seu temperamento. Se duas
pessoas com temperamentos fortes e convicções divergentes forem obrigadas a trabalharem juntas,
com certeza haverá conflito. Se forem duas de temperamento apático, não se terá bons resultados,
quer estejam de acordo ou não. Quando é feito uma mesclagem entre o temperamento forte e o
apático, torna-se mais fácil o controle da situação.
Vejamos o que os homens dos primórdios faziam quando trabalhavam a terra, de início, colocavam
dois bois novos e eles arrancavam em disparada e, estragavam a terra e davam muito trabalho (fazer
uso de muita força sem ter controle absoluto é perigoso). Posteriormente, colocavam dois bois velhos
que logo cansavam e não davam um só passo adiante (não ter força suficiente para realizar o trabalho
é desastroso). Decidiram então colocar um boi novo e um boi velho, quando o novo queria correr, o
boi velho o segurava e, quando o velho queria parar o novo o impelia a continuar caminhando (o ideal
é ter a força necessária para realizar o trabalho e ter controle absoluto desta força, isto é
competência).
Se a Inglaterra soubesse disso quando colonizou a África, não teria colocado inimigos mortais no
mesmo espaço geopolítico, que foi definido apenas por conveniência aos ingleses, levando em
consideração apenas seus interesses e, causado tanta mortandade e o perdimento das colônias.
Para, não ficar apenas em um exemplo, citemos também a URSS, que ruiu diante dos mesmos
aspectos que levaram a Inglaterra a perder suas colônias na África.
Como diz Maquiavel: no início da "doença" é difícil o diagnóstico e fácil a cura. Porém quanto mais
passa o tempo, mais fácil fica o diagnóstico e mais difícil a cura.
No capítulo XIII, item 07 do livro O Príncipe está escrito: "Portanto, o príncipe que não percebe os
problemas do seu Estado logo no seu início, não é verdadeiramente sábio – e poucos o são".
Conhecer as expectativas, suprir as necessidades e manter o controle da situação.

SEGUNDA LIÇÃO:
QUANDO UMA DETERMINADA AÇÃO, POR PIOR QUE SEJA, FOR INEVITÁVEL, É PRECISO
FAZÊ-LA RAPIDAMENTE E NÃO ADIÁ-LA.
ANÁLISE: Quanto mais se adia a amputação de um membro do corpo que está necrosado, maior será
a área afetada e as seqüelas também serão mais visíveis e prejudiciais.
É conveniente que tais decisões sejam tomadas com franqueza sob o ponto de vista ético ou com
sagacidade do ponto de vista político.
Neste caso, as consequências da postergação são apocalípticas.

TERCEIRA LIÇÃO:
É MAIS FÁCIL CONQUISTAR O GOVERNO DO ESTADO DO QUE IMPLEMENTAR NOVOS
COSTUMES E, CONSEQUENTEMENTE, IMPOR A DIREÇÃO PENSADA DA DISPUTA DESTE
GOVERNO.
ANÁLISE: O dominado já está acostumado ao "crime e castigo" de sua terra. Durante um período de
mudanças, a tendência é que beneficiários do antigo modo insurjam-se contra estas mudanças, por
perdas certas que sofrerão, enquanto os que tinham por pesado o antigo modo, temerão que esta
antiga ordem seja reestabelecida e sofram o castigo pela rebeldia. Se a nova ordem firmar-se como a
vigente, não terão se insurgido contra ela, portanto, não merecerão castigo.
Ou seja, os fortes (anteriormente mais ou menos satisfeitos), não irão querer mudanças, pois, se
estas ocorrerem, sairão enfraquecidos. Os fracos (anteriormente insatisfeitos), não terão coragem de
acolher com veemência as mudanças, pois, temem o reestabelecimento do antigo poder e, as
possíveis penas que sofreriam por não ter força suficiente para se defender.
O apoio dos homens é quase que sempre movido pelo interesse pessoal.
QUARTA LIÇÃO:
TODOS OS PROFETAS ARMADOS VENCERAM E OS DESARMADOS FRACASSARAM.
ANÁLISE: Uma citação do livra A Arte da Guerra de SUN TZU diz: "As armas são sempre motivos de
maus pressentimentos. A guerra é um acontecimento tão grave que os homens não devem entrar nela
sem antes se preparar com a devida cautela e com profunda reflexão".
Quando se fala que armas são motivos de maus pressentimentos está referindo-se ao temor que
causa o momento de tomada de decisão, isto é, uma crise. Não é sábio decidir sem ter certeza de qual
é o objetivo a ser atingido, por isso deve-se fazer uma profunda reflexão, confiar apenas no apoio
prometido e nas expectativas de calmaria é buscar a própria ruína.
Por outro lado, preparar-se para o embate, ainda que remota seja a sua possibilidade, é o dever de
todo governante capaz.
O povo tem o costume de desconfiar de todo aquele que está no poder.
Para conseguir seu apoio é necessário que acreditem na força de tal dirigente.
A guerra é justa para aqueles a quem é necessária; e as armas são sagradas quando nelas
reside a última esperança.

QUINTA LIÇÃO:
AO ASSUMIR O GOVERNO, O DIRIGENTE DEVE REALIZAR TODAS AS AÇÕES QUE PRODUZAM
MALEFÍCIOS A MEMBROS DA SOCIEDADE, DE UMA SÓ VEZ E DE MANEIRA COMPLETA, PARA
QUE SEUS EFEITOS NÃO PERDUREM DURANTE O GOVERNO.
ANÁLISE: Neste momento inicial, todos irão temer o novo dirigente, ninguém ousará desafiá-lo,
todos buscarão alcançar seu favor, então, aqueles que não sofrerem com estes malefícios, estarão em
um estado de felicidade relativa (apreensão), que logo se torna em felicidade plena (alívio), por não
serem os prejudicados, e para permanecer nesta condição tornar-se-ão submissos, desde que não se
lhes mexam nas propriedades nem nas mulheres.
Se, porém, for tardia esta ação maléfica, os que julgarem já ter conquistado o favor do governante,
podem atrever-se a censurá-lo, pois, não mais, irão sentir-se seguros e poderão confabular contra o
dirigente.
Maquiavel cita Agátocles, o siciliano, que chegou a ser rei de Siracusa, ele em uma armadilha,
convocou o Senado e o povo para uma reunião, em dado momento, ao comando de um sinal, seus
soldados mataram todos os senadores e as pessoas mais ricas e importantes. Desta forma eliminou
todos que poderiam obstruir seu caminho. Ele reinou em tranqüilidade depois de tão cruel início, pois,
foram gradativamente aumentando os privilégios do povo e o malefício do começo foi esquecido pelos
benefícios posteriores.
O melhor para o governante capaz é destituir dos cargos estratégicos aqueles que eram do antigo
regime e, que, portanto, são inimigos políticos, lá colocando pessoas das quais possa ter apoio quando
necessário, formando um pelotão de elite para combater a seu favor.
O homem é influenciado, de forma, inexorável pelo meio. E só persegue os interesses que
lhe são convenientes.

SEXTA LIÇÃO:
É PRECISO CUIDADO COM AQUELES QUE SE APROXIMAM DO NOVO GOVERNANTE PARA
DEFINIR-LHE O CARÁTER E OS INTERESSES.
ANÁLISE: Ora, aquele que tal coisa faz está ensaiando para tornar-se um usurpador, pois, tenciona
minimizar a autoridade do governante. Ou então pode estar procurando obter vantagem para si, nada
tendo de compromisso com o governante.
O bajulador é pior que o murmurador, pois enquanto este obriga a abrir a visão, para que possa ser
prevista as suas reclamações, aquele só faz com que a visão fique; turva e fechada, tirando a nitidez
do governante.
O adulador, na sua obra é irmão do destruidor.

SÉTIMA LIÇÃO:
UMA AÇÃO PARA SER VITORIOSA DEVE SER LEVADA A EFEITO COM AS PRÓPRIAS FORÇAS
QUE PUDEREM SER MOBILIZADAS PARA ESTA AÇÃO.
ANÁLISE: Devido à volatibilidade da conduta humana, aquele que confia em outro para realizar algo
indispensável para a sua sobrevivência, principalmente em tempos de grandes mudanças, pode estar
solicitando junto com a ajuda o próprio atestado de óbito.
Quem iria dar dinheiro a um "amigo", para que este faça uma aposta na loteria federal e fique com o
bilhete da aposta e, ainda depois do sorteio faça a verificação se o tal bilhete é premiado, se for este
"amigo" deve entregar o bilhete premiado ao dono da aposta.
Você, como o dono do bilhete agiria assim? Claro que não.
O que impedirá que depois de conquistado o objetivo, este ajudador não queira ficar de posse do
objeto da conquista, ou ainda vir a tomar a posse daquilo que é de quem pediu ajuda.
Nada é tão fraco e instável quanto a fama de uma potência que não se apóia na própria força.
Só são boas, seguras e duráveis aquelas defesas que dependem exclusivamente de nós, e
do nosso próprio valor.

OITAVA LIÇÃO:
O PRÍNCIPE QUE IGNORA O TERRENO SOBRE O QUAL SE DESENVOLVE A GUERRA E
DESCONHECE OS SOLDADOS QUE COMANDA CONDUZ, NECESSARIAMENTE, AS SUAS
FORÇAS PARA A DERROTA.
ANÁLISE: Aquele que não sabe os tipos de obstáculos que irá enfrentar não pode se preparar para
eles, portanto será refém do acaso e dos "imprevistos". Do mesmo modo quem não sabe as
qualificações dos seus, não pode usá-los adequadamente.
No campo das relações interpessoais, podemos citar como terreno os meios que temos no campo
psicológico, ou seja, o quanto o inimigo está centrado, pois, quanto mais fora de centro ele estiver
mais fácil será derrubá-lo. Enquanto o inverso disso torna maior a dificuldade de abatê-lo, pois quanto
mais centrado, maior a resistência e o ânimo para o combate.
Existe um relato antigo a respeito deste assunto que diz; um exército tinha um governante que não
aceitava ser inquirido quando dava uma ordem. Em seu exército existia um homem que fabrica
armas, como nenhum outro era capaz de fazer. O governante em certo dia está no meio de uma
batalha, então determina que coloquem tal homem na sua guarda pessoal, pois, se é um especialista
em armas, logo também deveria ser no uso delas. No ardor do embate olha para os lados e vê que
todos os soldados de sua guarda morreram, exceto um, o especialista na fabricação de armas. O
governante está ferido na perna e não consegue ficar de pé, vê que do exército inimigo só restou um
homem vivo, então ordena ao último integrante de sua guarda para matar o inimigo. O especialista
em armas diz ao governante não que não pode fazer isso. O governante, irado, pergunta o porquê, de
ele não poder fazer isto? Então, ele responde que devido a um acidente com uma fornalha ficou cego
e por isso não pode obedecer à ordem, só então o governante descobre que este soldado era cego. E
agora?
Aquele que não sabe para onde vai, nunca chegará a lugar algum.

NONA LIÇÃO:
AS PESSOAS ESPERAM DO DIRIGENTE QUE ELE TOME DECISÕES ADEQUADAS, JUSTAS E
CORRETAS, AINDA QUE ISSO FIRA A INTERESSE DE UM OU DE OUTRO GRUPO.
ANÁLISE: Ao dirigente é entregue o poder e nele é depositada a confiança do povo. A expectativa é
que ele faça o que for necessário para a manutenção da vida do grupo. Se para o bem-estar da
maioria e a existência do grupo se faz imperioso que os dissidentes sejam suprimidos, isto será aceito
pelo grupo sem maiores sobressaltos.
Jamais alguém conseguiu agradar a todos ao mesmo tempo e no mesmo lugar.
O governante tem que ter a força de um leão e a astúcia de uma raposa, tendo sempre em
mente que é indispensável ser amado, más é vital ser temido.

DÉCIMA LIÇÃO:
O DIRIGENTE QUE DESEJA CONDUZIR A SOCIEDADE A UM OBJETIVO ADEQUADO E BEM
DETERMINADO, DEVE PROCURAR ESTABELECER OBJETIVOS OS MAIS ALTOS POSSÍVEIS E
IMPULSIONAR A SOCIEDADE NAQUELA DIREÇÃO A FIM DE COLOCAR ALVOS DIFÍCEIS E
NÃO SE LIMITAR AOS CONSIDERADOS VIÁVEIS, PORQUE NA REALIDADE, NA AÇÃO DA
SOCIEDADE, A TENDÊNCIA É SEMPRE ATINGIR OBJETIVOS INFERIORES AOS PROJETADOS.
ANÁLISE: é Impossível deixar de citar o próprio Maquiavel quando fala sobre os arqueiros; estes
quando querem alcançar um alvo muito distante conhecendo a capacidade de seu arco. Fazem mira
não no objeto fixado para a seta acertar, mas sempre num ponto muito acima daquele que é visado.
Não fazem isto para que a seta alcance este ponto superior ao alvo, mas para que ela possa ir com
segurança ao lugar designado e que geralmente está muito abaixo.
Devido a inconstância ante as dificuldades e imprevistos, as pessoas podem ser levadas a conformar-
se com aquilo que é viável ao invés de buscarem aquilo que é possível.
Vejamos o exemplo bíblico do povo de Israel que após ser liberto da escravidão no Egito, murmura
perante as primeiras dificuldades, arrazoando inclusive sobre o que seria melhor; pagar o preço pela
conquista da liberdade, ou continuar a ser alimentado com o que sobrava da mesa de seus senhores
no Egito.
O homem jamais irá além do que possa projetar em seus sonhos.

Você também pode gostar