Você está na página 1de 13

CONGRESSO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO 2011

Escola, comunidade e universidade: demandas e cenários contemporâneos


Programa de Pós-Graduação em Educação - UFMT
Rondonópolis, 23 a 26 de outubro de 2011

ESPAÇOS DE LEITURA EM MATO GROSSO NO SÉCULO XX: A CIRCULAÇÃO


DA LEITURA NA BIBLIOTECA PÚBLICA DE CUIABÁ (1912-1975)

Sheila Cristina Ferreira Gabriel - UFMT


sheilalind_@hotmail.com
Cancionila Janzkovski Cardoso – UFMT
kjc@terra.com.br

GT 08: História da educação

Resumo:

O presente texto apresenta os resultados iniciais do projeto de pesquisa, em desenvolvimento


no programa de pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, Cam-
pus Rondonópolis, que pretende investigar a circulação da leitura na Biblioteca Pública de
Cuiabá no período de sua fundação até a mudança para as instalações atuais, objetivando veri-
ficar a influência da mesma como espaço de difusão da leitura em terras mato-grossenses.
Com a preocupação característica de bibliotecário, nos questionamos: Com que propósito esta
instituição foi criada? Quais sujeitos históricos estiveram envolvidos na criação desta biblio-
teca? Como o acervo foi constituído e qual foi o seu destino? Como a biblioteca influenciou a
circulação da leitura em Cuiabá do século XIX? Motivados pela inquietação gerada por meio
destes questionamentos no processo de conhecimento, propomos investigar como aconteceu a
criação, desenvolvimento e trajetória da Biblioteca Pública de Cuiabá (1912-1975) e como se
configurou a circulação da leitura em suas dependências neste período. Nossa intenção de
estudo, se insere na pesquisa histórica, na vertente da História Cultural. Acreditando que a
leitura é um importante instrumento para o desenvolvimento cognitivo, e criativo do ser hu-
mano e que colabora para o despertar do pensamento crítico e reflexivo que propicia maior
autonomia do sujeito, favorecendo seu poder de decisão, (FREIRE, 1983) e que um dos espa-
ços possíveis para a efetivação das práticas de leitura é a biblioteca, que possui em seu âmbito
as construções intelectuais produzidas através dos tempos, com a função de preservá-las e
disseminá-las, consideramos pertinente nossa intenção de estudo, uma vez que poderemos
contribuir para a construção da história de Mato Grosso, posto que com estudos sobre a histó-
ria da biblioteca e da leitura será possível reconstruir o caminhar do povo mato-grossense nos
trilhos das letras (leitura e escrita), no caso específico do nosso estudo, a leitura.

Palavras-chave: História cultural. História da leitura. História da biblioteca.

APRESENTAÇÃO

Apropriaremo-nos deste espaço, para apresentar os resultados iniciais do projeto de


pesquisa que pretende investigar a circulação da leitura na Biblioteca Pública Estadual de
Cuiabá no período de sua fundação até a mudança para as instalações atuais.
Cientes da existência de fontes que instigavam olhares mais atentos ao patrimônio cul-
tural existente em nosso estado, vislumbramos a possibilidade de realizarmos um estudo mais
aprofundado sobre a circulação da leitura no espaço desta biblioteca, objetivando verificar a
influência da mesma como espaço de difusão da leitura em terras mato-grossenses.
Sabemos que a leitura é um importante instrumento para o desenvolvimento cognitivo,
e criativo do ser humano e que colabora para o despertar do pensamento crítico e reflexivo
que propicia maior autonomia do sujeito, favorecendo seu poder de decisão. (FREIRE, 1983).
Um dos espaços possíveis para a efetivação das práticas de leitura é a biblioteca, que
possui em seu âmbito as construções intelectuais produzidas através dos tempos, com a fun-
ção de preservá-las e disseminá-las.
No entanto, este importante espaço nem sempre é valorizado como deveria, e a história
nos conta os diferentes e trágicos destinos de valiosas bibliotecas e a consequente perda de
conhecimentos histórico e cultural. (CAMPOS, 1994).
Conhecer esta história se faz necessário para que, possamos re(significar) as nossas
concepções em relação às Bibliotecas e sua relevância para a prática de leitura que deve ser
propiciada a todos, sem exceção, e promover ações para protegê-las e desenvolvê-las (as bi-
bliotecas), de forma a contribuir para com o crescimento da sociedade.
De posse dessas crenças, e após contato com as fontes encontradas, nos questionamos:
Com que propósito a biblioteca pública de Cuiabá foi criada? Quais sujeitos históricos estive-
ram envolvidos na criação desta biblioteca? Como o acervo foi constituído e qual foi o seu
destino? Como a biblioteca influenciou a circulação da leitura em Cuiabá do século XIX?
Motivados pela inquietação gerada por meio destes questionamentos no processo de
conhecimento, propomos investigar como aconteceu a criação, desenvolvimento e trajetória
da Biblioteca Pública de Cuiabá (1912-1975) e como se configurou a circulação da leitura em
suas dependências neste período.
Nossa intenção de estudo, se insere na pesquisa histórica, na perspectiva da história
cultural, uma vez que esta possibilita a recuperação da história, portanto nos apropriaremos
deste método para investigar os espaços de leitura em Cuiabá no século XX e qual a expressi-
vidade da circulação da leitura no espaço da primeira Biblioteca Pública de Cuiabá, desde sua
criação até sua transferência para dependências atuais.
Compreender e registrar tanto a história da primeira biblioteca pública de Cuiabá,
quanto a questão da circulação da leitura neste ambiente e período histórico, poderá nos sub-
sidiar a entender melhor a dinâmica da apropriação da leitura nos espaços das bibliotecas pú-
blicas em Mato Grosso pelos sujeitos no tempo presente.
Consideramos que a concretização desta proposta de pesquisa poderá contribuir para a
construção da história de Mato Grosso, uma vez que com estudos sobre a história da bibliote-
ca e da leitura será possível reconstruir o caminhar do povo mato-grossense nos trilhos das
letras (leitura e escrita), no caso específico do nosso estudo, a leitura.

DA HISTÓRIA CULTURAL À HISTÓRIA DA LEITURA E DA BIBLIOTECA

Para responder as questões anteriormente levantadas esta pesquisa irá se basear em es-
tudos realizados sobre história cultural, história das bibliotecas, e história dos livros e da leitu-
ra, tendo como marco teórico autores como Burke (1992, 2008), Chartier (1999a, 1999b),
Darnton (2010), Certeau (2002), Le Goff (1993), dentre outros.
A possibilidade de estudos sistematizados da Biblioteca, analisando-a como um espa-
ço de leitura, é possível atualmente em função dos princípios introduzidos com a emergência
da História Cultural.
A História Cultural teve seu início no final do século XVIII, na Alemanha, sendo mais
intensificado na década de 60, tendo como estudiosos autores renomados como: Eric Robs-
bawn, Edward Thompson, Jacques Le Goff, Roger Chartier, dentre outros. (BURKE, 2008, p.
29). Este movimento propiciou a emergência de estudos sobre os mais diversos temas como:
história do jazz, vida cultural dos pobres, rituais de iniciação dos artesãos, simbolismo dos
alimentos, história da mulher, história da sexualidade, dentre outros, inclusive a história da
leitura.
A partir deste novo horizonte, foi possível idealizar estudos que contemplassem o en-
tendimento das práticas de leitura realizadas em diferentes sociedades, espaços e tempos. A
história da leitura é resultado desta abertura, e se torna necessária para o entendimento das
práticas de leitura realizadas no decorrer dos tempos. De posse destes conhecimentos é possí-
vel que compreendamos melhor a dinâmica atual das práticas de leitura.

Biblioteca e leitura: um dos espaços possíveis

A história nos mostra a existência de bibliotecas desde tempos remotos, conseqüência


do empenho de indivíduos em preservar o patrimônio escrito, elaborado e registrado pelos
sujeitos no decorrer dos tempos.
Estes registros que, foram produzidos e inscritos em diversos suportes (pedra, argila,
papiro, pergaminho, papel), eram organizados em bibliotecas, com o propósito de resguardar
para a posteridade o patrimônio histórico-cultural da humanidade, não tendo inicialmente, a
preocupação com a socialização dos conhecimentos existentes nos referidos suportes. (CAM-
POS, 1994; MARTINS, 1998).
Fatos como a Revolução Francesa, Revolução Industrial, Invenção da Imprensa e au-
mento da alfabetização da população, contribuíram para um sensível aumento da preocupação
com a leitura: O que, como, quando e para que os cidadãos liam. Ressaltava-se ainda, o con-
trole para com os textos escritos, disponibilizando à população aquilo que lhes era permitido
ler e aos poucos foi-se ampliando os gêneros e conteúdos à serem acessados. (CHARTIER,
1999a, 1999b; MORTATTI, 2004).
A leitura passou a ser o principal acesso à informação e consequentemente ao conhe-
cimento, sendo que o Ser leitor é quase um status, pois quem não sabe ler era, e ainda é, sinô-
nimo de ignorante, incapaz. A leitura se faz tão importante que há ampla discussão atualmente
sobre letramento, alfabetismo, literacy, que discute a aquisição e uso da leitura e também da
escrita. (MORTTATI, 2004).
Inserida neste contexto histórico da leitura encontra-se a biblioteca, um dos espaços
potenciais para a efetivação da leitura, que ora assiste, ora acompanha o desenvolvimento da
mesma e certamente contribuiu e contribui para a prática social da leitura nos diferentes âmbi-
tos: social, histórico, cultural e econômico.
Porém, o que acontece é que muitas vezes estes espaços (bibliotecas) são criados com
um fim ideológico, político ou social, por pessoas de uma determinada época e que depois são
abandonados ou descartados, ficando o precioso conteúdo constante em seus acervos a mercê
das penúrias do tempo, muitas vezes sendo perdido para sempre, sem que ninguém saiba de
sua existência ou, para que fins foram idealizados.
A pesquisa histórica nos permite re(construir) e/ou re(significar) os fatos, de forma a
compreendermos melhor situações que ocorreram no passado e nos ocorrem no presente.

Pesquisa histórica

Acreditamos que só valorizamos aquilo que seja significante e que só conseguimos


significar alguma coisa quando possuímos a capacidade de criticizá-la e trazê-la ao encontro
de nossos interesses, isto acontece com o conhecimento histórico, iremos valorizá-lo se en-
tendermos sua validade para nossa realidade. E só iremos obter este entendimento quando nos
apropriarmos dos fatos e acontecimentos passados para, após realizar uma leitura crítica e
reflexiva determinarmos o que é de nosso interesse e internalizá-lo, ou mesmo, identificá-lo
como irrelevante e descartá-lo.
Estes conhecimentos históricos só são passíveis de serem recuperados por meio dos
registros – documentos/fontes - , resultantes de estudos realizados por aqueles que não se con-
formam que os saberes produzidos se percam com e no tempo. O tipo de pesquisa que produz
estes registros é a pesquisa histórica, que amparada pela História cultural, possibilita a (re)
descoberta dos indivíduos na história, principalmente aqueles das classes trabalhadoras, em
que Burke (1992) declara como a “História vista de baixo” e que poderá ser entendida e apre-
endida pelos alunos.
A história permite-nos entender melhor a dinâmica do nosso próprio tempo, nos faz
questionar e refletir sobre os mecanismos que nos controlam e limitam nossa liberdade de
expressão e ação, potencializa nossa natureza mutante.

CAMINHOS PERCORRIDOS E AINDA A TRILHAR

Onde conseguir subsídios para a concretização de uma pesquisa histórica? Qual seria o
sujeito da pesquisa, com quem iremos dialogar para conseguir as informações necessárias à
conclusão da pesquisa?
Na pesquisa histórica, os sujeitos são as fontes, os vestígios, os rastros, são com eles
que realizamos o diálogo necessário à captação das informações pertinentes ao estudo. Para
tanto, o pesquisador precisa se despir de pré-conceitos e posicionar-se no contexto da época
em que as fontes foram produzidas. Questioná-las e estar atento às respostas, que muitas ve-
zes estão implícitas nas entrelinhas. De acordo com Burke (2008, p. 33) “os historiadores cul-
turais têm de praticar a crítica das fontes, perguntar por que um dado texto ou imagem veio a
existir, e se, por exemplo, seu propósito era convencer o público a realizar alguma ação”.
As fontes históricas são suportes que contém alguma informação verbal, áudio-visual,
iconográfica e outras. Estas fontes por si só nada significam, mas, após a leitura do pesquisa-
dor - que deverá se dispor das lentes corretas para “enxergar” o não visível ou o não dito –
adquirem significados. O pesquisador tentará identificar respostas possíveis aos seus questio-
namentos para a elaboração de seu trabalho. Por meio das fontes é que se concretiza uma
pesquisa histórica, sendo que sua ausência impossibilita este tipo de pesquisa. Neste contexto
das fontes há a problemática de sua preservação e guarda, uma vez que existe uma tendência a
descartarmos tudo o que é ‘velho’. Então a atenção dispensada à captação, organização, avali-
ação, análise, guarda e preservação é primordial ao sucesso do empreendimento de pesquisa.
Outra questão essencial é a competência de “leitura” destas fontes, uma vez que deve
haver domínio no ato da leitura, capacidade crítica e perspicácia, para perceber nas entrelinhas
o que o documento quer falar.

Procedimentos de coleta de dados

Como já colocamos anteriormente, as fontes querem falar e nos falam, se soubermos


ouvir. Isto aconteceu conosco no processo de elaboração da questão de pesquisa, analisando
um CD ROM, contendo o Catálogo da República, a partir das fontes do Arquivo Público de
1
Mato Grosso (APMT), em busca de alguma informação que nos sinalizasse o caminho a
seguir. Acabamos por nos deparar com dados que nos indicaram a existência de: a) Um Clube
de leitura no século XIX, b) A primeira biblioteca pública de Cuiabá, século XX, e c) outros
espaços de leitura. Percebemos a grata oportunidade de investigarmos uma destas importantes
instituições de incentivo a leitura que existiu em Mato Grosso e foi a fonte que nos apontou o
caminho. Passamos imediatamente a pesquisar todo o CD em busca de dados que nos subsi-
diasse ao desenvolvimento da pesquisa na temática: Espaços da circulação da leitura em Cui-
abá no século XX.
Em um segundo momento, realizamos busca no site da UFMT para verificar a existên-
cia de documentos que tratassem de temas semelhantes e encontramos os trabalhos de: ROSA
E ROSA (1975) que abordam brevemente sobre um Gabinete de leitura.
O próximo passo foi a realização do estado do conhecimento com investigação nas ba-
ses de dados IBICT, CAPES E SCIELO, visando identificar os trabalhos existentes que tra-
tassem especificamente da circulação da leitura em Cuiabá nos séculos XIX e XX.
Após a pesquisa do estado do conhecimento, nos dirigimos à Cuiabá para uma pesqui-
sa mais apurada no acervo do Arquivo Público, sendo possível acessar várias fontes como:
jornais, livros, relatórios e atas que, nos indicaram a possibilidade de concretização da propos-
ta de estudos.
Todas as etapas resultaram em dados que nos darão subsídio para a continuidade da
pesquisa. Porém os dados não falam por si só, há necessidade de contextualizá-los após análi-
se minuciosa e é com este intento que desenvolveremos nossos estudos, buscando entender o
que as fontes querem nos falar.

1
Trata-se do “Catálogo de fontes educacionais MT - República”, organizado pelo Grupo de Estudo de História
da Educação (IE-UFMT), coordenado por Nicanor Palhares Sá e assessorado por Elizabeth M. Siqueira, dez
2002.
Considerando que estamos na etapa inicial da pesquisa, no momento de captação ,
avaliação e organização das fontes, ainda há possibilidade de localizarmos mais dados rele-
vantes, portanto, apresentaremos um resultado parcial das análises realizadas.

DIALOGANDO COM AS FONTES

Em função do espaço disponível neste artigo, apresentaremos somente a análise inicial


do Regulamento e dos Relatórios da Biblioteca Pública de Cuiabá, localizados até o presente
momento, sendo os de: 1912, 1913, 1918 e 1919

Ilustração 1 – Foto do Regulamento da Biblioteca de 1920


Fonte: Arquivo Publico do Estado de Mato Grosso

A Biblioteca Pública de Cuiabá: o lócus da pesquisa

A Biblioteca Pública do estado de Mato Grosso foi criada pelo decreto n. 307, de 26 de
Março de 1912, pelo então Presidente do Estado de Mato Grosso Joaquim Augusto da Costa
Marques.
Sua fundação objetivava levar a cultura escrita ao povo mato-grossense, auxiliando o
ensino da população, portanto, exercendo também a função de Biblioteca escolar. Visava res-
guardar e divulgar as tradições históricas e criações intelectuais “nos diversos ramos da acti-
vidade humana”, tendo como princípio o livre acesso e atendimento de toda a população, co-
mo expresso no decreto “levando ao alcance de todos os elementos imprescindíveis á elucida-
ção do espírito”. (MATO GROSSO, 1912).
Em 28 de fevereiro de 1913 a biblioteca possuía 1635 obras, 2304 volumes, sendo 548
por compra e 1756 por doação. Existiam obras em Português, Italiano, Francês, Alemão, Es-
panhol, Inglês, Esperanto e Latim.
As seções se dividiam em: Numismática, Manuscritos e Livros; possuía também obje-
tos como A Espada de Barão de Melgaço.
A biblioteca atendia de segunda a sábado das 8:00 às 10:00 e das 17:00 às 20:30 e
contava com um diretor, um secretário e um porteiro.
O acesso era garantido às pessoas maiores de 14 anos, sendo a consulta de algumas
obras, controladas, portanto o acesso não era totalmente “livre”, o empréstimo domiciliar se
restringia àqueles livros de “fácil acquisição”, à pessoas residentes em Cuiabá, mediante a
autorização do Secretário do Interior, sendo realizado pelo prazo de 8 dias.

Visualizando alguns dados

Localizamos e selecionamos no Arquivo Público de Mato Grosso, algumas fontes,


dentre elas os Relatórios e o Regulamento da Biblioteca por conterem dados que considera-
mos relevantes à nossa proposta de estudos.
A seguir, no quadro 1, descrição dos dados que, futuramente analisadas, nos subsidia-
rão na concretização da pesquisa:
ANO2 TÍTULO ANO 3 PÁG. AUTOR ASSUNTO
OBSERVAÇÕES
1912 Regulamento para 1912 11 p. Joaquim A. Contém:
a Bibliotheca da Costa * Ordem n. 56 de 7 de feve-
Publica do Estado Marques e reiro de 1912 que designa o
de Matto-Grosso Manoel Paes Sr. Professor Estevão de
approvado pelo de Oliveira Mendonça para organizar o
Decreto n. 302, projeto para uma Bibliothe-
de 26 de Março ca Pública
de 1912 *Decreto n. 307 de 26 de
Março de 1912, que cria a
Bibliotheca Pública do Es-
tado de Matto-Grosso
*Decreto n. 308, de Março
de 1912, que baixa o Regu-
lamento para a Bibliotheca
Pública
Obs: Documento datilogra-
fado
1913 Relatório apre- 1912 33 p. Leonel Hu- Relata o movimento refe-
sentado ao Exm. gueney rente ao ano de 1912, con-
Semr. Desem- forme exigência do artigo
bargador Joa- 4, parágrafo 4 do Regula-
quim P. Ferreira mento da Biblioteca
Mendes D.D.

2
Ano da entrega do relatório
3
Ano referente às atividades realizadas
Secretario do In Obs: documento manuscri-
terior, Justiça e to
Fazenda pelo
Director da Bi-
bliotheca Publica

1915 Relatório apre- 1914 09 p. Leonel Hu- Relata o movimento refe-


sentado ao Exm. gueney rente ao ano de 1912, con-
Semr. Desem- forme exigência do artigo
bargador Joa- 4, parágrafo 4 do Regula-
quim P. Ferreira mento da Biblioteca
Mendes D.D.
Secretario do In Obs: documento datilogra-
terior, Justiça e fado
Fazenda por Le-
onel Hugueney,
Director da Bi-
bliotheca Publica
1919 Relatorio que ao 1918 12 p. Fernando Relata o movimento refe-
Dr. Benito Este- Leite de rente ao ano de 1912, con-
ves, D.D. Secre- Campos forme exigência do artigo
tario de Interior 4, parágrafo 4 do Regula-
apresenta o Dire- mento da Biblioteca
tor Fernando
Leite de Campos Obs: documento manuscri-
to
1920 Relatorio que ao 1919 14 p. Fernando Relata o movimento refe-
Dr. Benito Este- + ane- Leite de rente ao ano de 1912, con-
ves, D.D. Secre- xos Campos forme exigência do artigo
tario de Interior 4, parágrafo 4 do Regula-
apresenta o Dire- mento da Biblioteca
tor Fernando
Leite de Campos Obs: documento manuscri-
to
Gráfico 1 – Relação dos documentos localizados e analisados
Fonte: Elaborado pelas autoras
O quadro apresenta os dados constantes nos documentos originais, localizados e foto-
grafados no APMT.
Não foram localizados, até o momento, os relatórios referentes aos anos de 1913, 1915,
1916 e 1917, porém como ainda não finalizamos o processo de busca e localização, temos
esperança de acessar, senão todos, mas alguns destes.
A análise dos documentos nos revelou que a biblioteca foi dirigida por três diretores , a
saber: Estevão de Mendonça, que assumiu em 03 de maio de 1912 até a posse de Leonel Hu-
gueney em 29 de junho de 1912. A direção da biblioteca no período de 1915 a 1917 é incerta,
uma vez que não acessamos nenhum documento que nos apontasse esta informação. De 1918
a 1920 sabemos que foi Fernando Leite de Campos, segundo os relatórios que temos em
mãos, porém PÓVOAS (1982, p. 153 apud SOARES, 2006, p. 54) afirma que Fernando Leite
de Campos esteve na direção da biblioteca até 1930.
Com a leitura dos relatórios, percebemos a preocupação dos diretores em relatar as
consultas realizadas anualmente, enfatizando que as salas de leitura estavam sempre movi-
mentadas, o que inferimos ser um indicador do interesse do povo cuiabano pelo acesso a leitu-
ra.
Em seguida, no gráfico 1 apresentaremos as consultas realizadas por ano. Enfatizamos
que ainda não foi possível determinar se estas consultas eram apenas locais ou incluíam em-
préstimos domiciliares.

Gráfico 1 – Consultas realizadas na biblioteca por ano


Fonte: Elaborado pelas autoras
Com o gráfico acima, percebemos que a população verdadeiramente utilizou a biblio-
teca para consulta, sendo que no primeiro ano de implantação houve um modesto acesso,
comparado com os anos seguintes, no entanto, de 1916 para 1917 aconteceu uma expressiva
queda no número de consulta, fato este que nos causou curiosidade em tentar descobrir o mo-
tivo.
Com a análise dos relatórios, percebemos que a biblioteca era diariamente freqüentada
e que a preferência era por jornais, revistas e anuários (BIBLIOTHECA PUBLICA DO ES-
TADO DE MATTO-GROSSO, 1912, 1913), o que infere o grande interesse da população
pelas informações do cotidiano, pretendendo manter-se atualizada com os acontecimentos
fora do ambiente em que vivia.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Discutir a problemática da leitura, tanto historicamente quanto contemporaneamente,


nos remete em algum momento, de alguma forma a pensar na biblioteca, seja ela pública,
universitária, escolar, popular, etc. Por outro lado, não é possível pensar em biblioteca sem
automaticamente nos remeter à leitura.
Fazemos uso desta instituição, normalmente, quando temos uma necessidade de reali-
zação de leitura(s), seja para um fim científico, lúdico, informativo, escolar, e, que poderão
desenvolver novas idéias e possíveis produções, textuais ou não.
Diante desta indissociável relação entre leitura e biblioteca e do desejo de re(descobrir)
sua história em Mato Grosso, nos enveredamos pela pesquisa histórica, ambicionando identi-
ficar como a leitura circulava no espaço da Biblioteca Pública de Cuiabá a partir da primeira
década do século XX, até a década de setenta do mesmo século .
Com este intento, iniciamos o caminho de busca, captação, organização, avaliação e
análise de fontes, que poderiam responder aos nossos questionamentos. O primeiro passo foi
analisar um catálogo de fontes em CDROM, organizado pelos professores Nicanor Palhares
Sá e Elisabeth Madureira Siqueira. Em seguida, passamos à pesquisa do tipo estado do co-
nhecimento, que nos proporcionou dados valiosos para a nossa pesquisa, como exemplo, a
certeza de que, não há publicações já produzidas com o mesmo tema e foco. Finalmente --
mas somente para este artigo, uma vez que nossa pesquisa está em andamento, portanto não
finalizamos o processo de captação das fontes – realizamos a visita ao Arquivo Público de
Mato Grosso e acessamos diversos documentos originais e microfilmados que nos sinalizaram
importantes dados para a efetivação da pesquisa. Por meio destes dados, foi possível a produ-
ção deste artigo em que apontamos informações sobre os documentos coletados.
Os dados analisados indicaram a possibilidade de um maior aprofundamento e diálogo
com as fontes, para tentar identificar como a circulação da leitura se concretizava na Cuiabá
do início do século XX.
Sabemos do longo caminho a percorrer, mas estamos otimistas com o que já temos em
mãos e acreditamos ser possível a concretização da proposta de pesquisa, e quiçá, com êxito.
REFERÊNCIAS

BIBLIOTHECA PUBLICA DO ESTADO DE MATTO-GROSSO. Regulamento para a


Bibliotheca Publica do Estado de Matto-Grosso: approvado pelo Decreto n. 308, de 26 de
Março de 1912. Cuyabá: Officina Pina Filho, 1912.

______. Relatorio que ao Dr. Benito Esteves, D.D. Secretario do Interior apresenta em
29 de março de 1919 o Diretor Fernando Leite de Campos: a Bibliotheca Publica do Esta-
do em 1918. Cuyabá: [s.n.], 1919.

BURKE, Peter. A escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.

______. O que é história cultural?. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

CAMPOS, Arnaldo. Breve história do livro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994.

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador: conversações com Jean


Lebrun. São Paulo: UNESP, 1999a.

______. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e
XVIII. Brasília: UNB, 1999b.

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR.


CAPES: missão. Brasília, 2006. Disponível em: < http://www.capes.gov.br/> Acesso em: 07
jul. 2011.

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 3. Ed. São
Paulo: Cortez, 1983.

INSTITUTO BRASILEIRO DE INFORMAÇÕES EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Ibict


comemora 55 anos de atividades voltadas para a promoção da C&T brasileira. Brasília:
IBICT, 2003. Disponível em: <http://www.ibict.br/ > Acesso em: 07 jul. 2011.

MARTINS, Wilson. A palavra escrita: história do livro, da imprensa e da biblioteca. 3.


Ed. São Paulo: Ática, 1998.

MATO GROSSO. Decreto n. 307 de 1912. In: BIBLIOTHECA PUBLICA DO ESTADO DE


MATTO-GROSSO. Regulamento para a Bibliotheca Publica do Estado de Matto-
Grosso: approvado pelo Decreto n. 308, de 26 de Março de 1912. Cuyabá: Officina Pina Fi-
lho, 1912.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e letramento. São Paulo: UNESP, 2004.

ROSA, Carlos; ROSA, Neuza. Do indivíduo ao grupo: (para uma história do livro em Cuia-
bá). Cuiabá: [s.n.], 1975.

SOARES, Soely Aparecida Dias. Biblioteca Pública Estadual “Estevão de Mendonça”:


espaço de letramento do leitor, 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Fe-
deral de Mato Grosso, 2006.

Você também pode gostar