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Resumo:
Palavras chave: Neste artigo, busca-se pensar a relação entre as concepções acerca de
um território urbano – no caso, a Baixada Fluminense – e as construções
Cultura discursivas produzidas na imprensa carioca e brasileira no decorrer da
década de 1990. Analisando matérias jornalísticas que têm como objeto
Baixada Fluminense a Baixada, é possível perceber um deslocamento de sentidos acerca da
mesma, através dos quais os jornais atuam como agentes legitimadores
Discurso
tanto da memória/passado quanto do projeto/futuro acerca da região.
Identidade Neste sentido, entendemos que a conformação das identidades está
fortemente atravessada pela dimensão da cultura, fazendo com que
Disputa haja um embaralhamento entre as condições físicas e materiais de um
espaço e suas apropriações simbólicas, gerando uma luta permanente
em torno do imaginário acerca desse espaço enquanto lugar significado.
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Ano 3, número 4, semestral, março 2013
Resumen:
En este artículo, se busca pensar la relación entre las concepciones Palabras clave:
acerca de un territorio urbano – en este caso, la Baixada Fluminense
– y las construcciones discursivas producidas en la prensa carioca y Cultura
brasileña con el transcurrir de la década de 1990. Analizando artículos
periodísticos que tienen como objeto la Baixada, es posible percibir un Baixada Fluminense
desplazamiento de sentidos acerca de la misma, a través de los cuales
Discurso
los periódicos actúan como agentes legitimadores tanto de la memoria/
pasado como del proyecto/futuro acerca de la región. En este sentido, Identidad
comprendemos que la conformación de las identidades está fuertemente
atravesada por la dimensión de la cultura, haciendo con que haya una Disputa
mezcla entre las condiciones físicas y materiales de un espacio y sus
apropiaciones simbólicas, generando una disputa permanente alrededor
del imaginario acerca de ese espacio como lugar significado.
Abstract:
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cado por diversos problemas, destacando- tiva novamente se desloque, gerando re-
-se, principalmente, a questão da violência presentações positivadas para a região.
e do abandono pelo poder público.
Alguns fatores, a meu ver, se desta-
Neste sentido, em especial no decor- cam quando pensamos neste processo de
rer das décadas de 1970 e 1980, a Baixada transformação do olhar acerca da Baixada
Fluminense foi regularmente caracterizada, Fluminense. Entendo, a partir de observa-
na grande imprensa carioca, como um “ou- ção no decorrer das pesquisas e, princi-
tro” exótico e perigoso, “terra sem lei”, “ter- palmente, das falas sobre esse ponto que
ra de ninguém”, lugar da falta de ação po- apareceram em diversas das entrevistas
lítica e policial, um espaço de desmandos, que realizei com moradores da Baixada em
pobreza, insegurança, valas negras, falta fins dos anos 1990, que a Linha Vermelha,
de cultura e atraso, dentre algumas das cuja inauguração abordei no início desse
muitas concepções negativizadoras que artigo, seja um marco fundamental nes-
encontramos no decorrer de nossos levan- te processo de deslocamento semântico
tamentos em pesquisas.4 Mais ainda: esse acerca da Baixada. Mas, para além desse
“outro”, temido e desvalorizado, se encon- aspecto, podemos perceber também que a
trava fisicamente distanciado, vivendo em Baixada passou a ser alvo de investimen-
lugares distantes da zona Sul, do centro do tos públicos e privados, como abordare-
Rio de Janeiro, de suas “belezas”, valores mos neste artigo, que lhes forneceram sig-
e pessoas. Tratava-se, de acordo com esse nos simbolicamente associados, via visão
sistema representacional hegemônico, de da grande mídia e suas posições políticas,
uma periferia no sentido territorial e cultu- aos ideais de modernização e progresso:
ral, tanto física quanto simbolicamente um remodelação de suas vias urbanas, che-
“outro” a ser temido, evitado, desprezado, gada de novas fábricas e empresas, sur-
ridicularizado, diminuído. gimento de shoppings centers e disponibi-
lidade de ofertas em termos de consumo
Mostrei em minha tese de Doutora- relacionadas a um crescimento no poder
do o quanto essa imagem negativa susci-
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aquisitivo e cultural de seus moradores,
tou dolorosos e traumáticos estigmas, que dentre outros fatores. Para trabalharmos
irão reverberar em uma série de respostas esses aspectos, iremos analisar uma série
discursivas e práticas daqueles que a sen- de construções discursivas apresentadas
tiam mais fortemente, em especial os que em reportagens da grande imprensa ca-
viviam na Baixada e precisavam manter rioca no decorrer dos anos 1900 e início
um contato permanente com o “centro”, o da década de 2000. Antes, porém, preci-
Rio de Janeiro. samos tecer algumas considerações sobre
as relações entre a produção discursiva e
Sabemos, no entanto, que as atri- a semantização dos espaços físicos.
buições “centro” x “periferia”, bem como
a lista de valores que permitem classi-
ficar um objeto – seja ele uma pessoa, 1. Discursos e produção de sentido:
uma coisa, um lugar etc. – como melhor a transformação do espaço em lugar
ou pior, são historicamente construídas, significado
e, portanto, encontram-se permanente-
mente em processos de transformação. Sendo uma expressão socialmente
Neste artigo, enfocarei especialmente um construída, múltiplos agentes e agências
contexto histórico específico, a década de se apropriam desta categoria de “Baixada
1990, quando uma conjunção de fatores Fluminense” para emprestar-lhe os mais
irá permitir que essa configuração narra- diversos significados através de múltiplas
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construções discursivas. Todo discurso se- rios que atravessariam tais regiões baixas
ria constituído de processos parafrásticos exerceriam papéis fundamentais na confi-
e processos polissêmicos. A paráfrase re- guração econômica e social das mesmas,
laciona-se aos processos “pelos quais em tanto de forma positiva quanto negativa.
todo o dizer há sempre algo que se man-
tém, isto é, o dizível, a memória. A paráfra- As construções discursivas que
se representa assim o retorno aos mesmos apontam para a importância da rede fluvial
espaços do dizer.” Ela estaria, portanto, li- dentro da BF aparecem com frequência
gada à continuidade do discurso. Já a po- nos trabalhos produzidos acerca da Bai-
lissemia estaria ligada ao “deslocamento”, xada Fluminense, os quais examinei em
à “ruptura dos processos de significação.”6 minha tese (2002). Em alguns momentos,
os rios são vistos como fator de progresso,
Quando pensamos nas mais diver- permitindo a navegação e, consequente-
sas formas com que os muitos agentes mente, que a Baixada exercesse a função
que lidam com a categoria “Baixada Flumi- de “caminho” para a circulação de diversas
nense” irão utilizá-la, podemos perceber a produções, como o açúcar, os metais e o
presença de tais processos relativos à pa- café, embora para este já se utilizasse, de
ráfrase e à polissemia. Tal categoria terá forma mais sistemática, as ferrovias como
sentidos partilhados, especialmente quan- principal via de escoamento. Para exempli-
do relacionados a um contexto geográfi- ficar, podemos citar a seguinte passagem:
co ou como referência espacial. Mas, ao “a vasta bacia hidrográfica que (hoje) com-
mesmo tempo, são muitos os significados põe a chamada “Baixada Fluminense”, no
associados à mesma expressão, ultrapas- Estado do Rio de Janeiro, muito contribuiu
sando os sentidos partilhados e propondo para a fixação do homem à terra.”10
novas interpretações para a mesma cate-
goria. Portanto, embora os sujeitos este- Já em outros textos, são os rios – ou
jam falando de uma “Baixada Fluminense” melhor, as consequências de um processo
de forma geral – relacionada a um condi- de “abandono” das terras produtivas após
cionante geográfico -, ao examinarmos de a abolição da Escravidão e o surgimento
forma mais apurada as construções dis- das ferrovias, que teria resultado em asso-
cursivas apresentadas veremos que não reamento das redes fluviais e alagamento
se trata de uma “Baixada Fluminense”, das terras baixas, criando charcos que aju-
mas de diversas “Baixadas Fluminenses”. daram a proliferar as doenças endêmicas,
como muitos defendem – os responsáveis
Podemos pensar, neste sentido, a pela “decadência” da região, após sua
própria concepção de “baixada’. Geografi- “fase de opulência” no século XIX.
camente, esta seria definida, como “planí-
cie entre montanhas”.7 Dalva Lazaroni, por Portanto, a concepção da “Baixa-
exemplo, afirma que “as planícies, aqui, re- da Fluminense” como um conjunto de
ceberam o nome de Baixada Fluminense.”8 “terras baixas cortadas por rios” já traz
Já a categoria “fluminense” costuma ter a embutida uma concepção polissêmica
seguinte interpretação: a palavra seria de- acerca do sentido do segundo termo da
rivada de “flumen”, ou “rio” em latim.9 As- expressão, já que a ideia de que flumi-
sim, a região da “Baixada Fluminense” seria nense está associada aos rios pode ser
aquela em que terras baixas, planas, seriam pensada de forma positiva ou negativa,
recortadas por rios e em boa parte alaga- dependendo do enfoque. Da mesma for-
das, o que caracterizaria a área que iria do ma, como demonstrarei adiante, a con-
pé da serra e se estenderia por uma gran- cepção de “baixada” também será objeto
de parte do Estado do Rio. Dessa forma, os de múltiplas apropriações.
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cos” como uma “região com valores es- tais: em primeiro lugar, a classificação do
condidos que precisam ser descobertos”, que seria essa tal “Baixada Fluminense”,
entre outras conotações possíveis. As em termos espaciais, está longe de ser uma
características que são associadas à ca- unanimidade, ao contrário, é um ponto de
tegoria de “Baixada Fluminense” não são dispersão constante de interpretações que
estáticas, ao contrário, são fluidas, e estão ora se complementam, ora se chocam, po-
sendo construídas em fluxos e interações dendo ser percebida como uma categoria
dos mais diversos. objeto de conflito mais do que de consen-
so; em segundo lugar, não podemos perder
Portanto, há um nítido processo de vista que os espaços geográficos são,
polissêmico na produção da categoria antes de tudo, espaços sociais, resultantes
“Baixada Fluminense”, ou seja, há uma de intervenções e interpretações, motiva-
produção múltipla de sentidos para uma das muitas vezes por preocupações exter-
mesma unidade (ou diversas) verbal ou nas à própria lógica da Geografia.
não-verbal. Partindo do pressuposto de
que todo discurso é uma construção so- Sobre este segundo ponto, alguns
cial, em que os sujeitos, a partir de enun- conceitos se apresentam como fundamen-
ciados que lhes são anteriores e poste- tais, entre eles os de região, lugar, espaço
riores, vão produzir significados para as e território. Antes de tudo, precisamos pen-
palavras e imagens, podemos entender sar de que forma uma mesma área pode
que estas sempre são resultado de uma ser construída de forma múltipla a partir
produção social de sentidos.11 Ou, como das diferentes referências dos agentes so-
define M. Bakhtin, “o sentido da palavra é ciais. Uma cidade, ambiente urbano com-
totalmente determinado por seu contexto. plexo, deve ser pensada a partir da cons-
De fato, há tantas significações possíveis trução social que se faz dela. Da mesma
quantos contextos possíveis. No entanto, forma que pensamos as identidades como
nem por isso a palavra deixa de ser una.”12 construídas em perspectivas interrelacio-
nais, as noções de região, lugar e território
Assim, são muitas as apropriações, devem permitir um debate com os concei-
em termos de significados, da expressão tos mais estritamente ligados à Geografia e
“Baixada Fluminense”. Mas, sem dúvida, às noções que se estabelecem em outras
as referências de pertinência mais ime- ciências, especialmente na Antropologia.13
diata ao pensarmos a BF são as de cunho
geográfico, explicitamente pela referência O conceito de região passou, histo-
direta da categoria a marcos típicos des- ricamente, por diversas transformações no
ta disciplina, como as próprias noções de domínio da Geografia. De uma concepção
“baixada” e “fluminense”, além de pensar clássica, relacionada com os primórdios
os limites associados à sua composição, da disciplina, até as abordagens atuali-
em especial na escolha dos municípios zadas, o conceito foi alterado de maneira
que a integram. Entender a construção dos significativa. Assim, autores como Paulo
discursos polifônicos sobre a Baixada tem, Cesar Gomes e Marcel Roncayolo14 apon-
necessariamente, de partir deste campo tam para estas distinções e indicam um
geográfico para a percepção das diferen- desenvolvimento histórico para o conceito.
tes apropriações que serão feitas pelos
agentes e agências sociais estudados. De acordo com a geografia clássi-
ca, especialmente aquela defendida por
Porém, antes de explicarmos quais nomes como Vidal de La Blache, região
as concepções associadas a estes termos, remeteria primordialmente à noção de re-
é preciso lembrar alguns pontos fundamen- gião natural, onde o ambiente teria total
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influência sobre o padrão de vida que se parece pertinente para pensar a situação
estabeleceria nas diversas áreas. Neste da “Baixada Fluminense”, cuja definição
sentido, a natureza seria o aspecto domi- espacial, no entanto, se dá a partir de cri-
nante a definir de que se entenderia por térios naturais em um primeiro momento.
região, classificada de acordo com uma Mas o importante é pensar, a meu ver,
série de atributos distintivos que defini- como um conceito comporta tantas possi-
ria os diversos tipos de região (região da bilidades na maneira como será definido.
montanha, região das planícies, etc.).15 Os atores sociais constroem o espaço
que configura a Baixada de múltiplas for-
O conceito de região funcional, mas, inclusive a partir de referências ge-
como aquela que abriga os movimentos e ográficas no sentido mais literal do termo.
trocas que se organizam em um espaço Mas as fronteiras e os limites da Baixada
estrutural, paulatinamente vai substituindo são operados a partir de práticas e inte-
as primeiras explicações onde a natureza rações cotidianas, sendo reconstruídos
desempenha papel fundamental. No en- na experiência diária de seus moradores,
tanto, esta concepção será criticada por em situações de contato com outros mo-
aquela que ficou conhecida como geo- radores ou com pessoas de fora e a partir
grafia radical, que entra em voga a partir do discurso oficial (especificamente das
da década de 70. De inspiração marca- autoridades municipais e estaduais), da
damente marxista, esta vertente aponta mídia e das manifestações culturais.
para as concepções anteriores de região
como modelos impregnados de ideologia De certa maneira, estamos lidando
dominante, onde a diferenciação do espa- com operações de negociação onde os
ço é pensada de forma naturalizada e não agentes sociais estão buscando se apo-
como fruto da “divisão territorial do traba- derar de determinada noção que corres-
lho e do processo de acumulação capita- ponde à região. Neste sentido, podemos
lista que produz e distingue espacialmente nos remeter à raiz etimológica de região,
possuidores e despossuídos”.16 que tem em regio sua sustentação.18 É
importante reparar que o radical reg tam-
Em meados da década de 70, sur- bém funda palavras como regente, regina
ge uma nova corrente, de base humanis- (rainha) e regência, todas palavras que
ta. Autores diversos vão chamar a atenção remetem à domínio e a poder. De certa
para o papel do homem como constituidor forma, a luta pela apropriação do conceito
do espaço. Noções como “consciência de Baixada e de região, como demonstra-
regional”, “sentimento de pertencimento” rei adiante, remete ao sentido etimológico
e “mentalidades regionais” passam a ser da palavra. Trata-se de se apoderar de um
fundamentais. Sobre esta corrente, afirma domínio, de um território a ser construído
Gomes: “Neste sentido, a região existe cotidianamente, de ter uma base espacial
como um quadro de referência na cons- para a organização da ação política.
ciência das sociedades; o espaço ganha
uma espessura, ou seja, ele é uma teia de Aqui, o conceito de território tam-
significações de experiências, isto é, a re- bém merece uma avaliação. Marcelo
gião define um código social comum que José de Souza nos aponta um caminho a
tem uma base territorial”.17 ser traçado:
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de, quais são as características geo- Territórios, que são no fundo antes
ecológicas e os recursos naturais de relações sociais projetadas no espa-
uma certa área, o que se produz ou ço que espaços concretos (os quais
quem produz em um dado espaço, ou são apenas os substratos materiais
ainda quais as ligações afetivas e de das territorialidades) (...), podem (...)
identidade entre um grupo social e seu formar-se e dissolver-se, constituir-se
espaço. Estes aspectos podem ser de e dissipar-se de modo relativamente
crucial importância para a compreen- rápido (ao invés de uma escala tempo-
são da gênese de um território ou do ral de séculos ou décadas, podem ser
interesse por tomá-lo ou mantê-lo, (...) simplesmente anos ou mesmo meses,
mas o verdadeiro Leimotiv é o seguin- semanas ou dias), ser antes instáveis
te: quem domina ou influencia e como que estáveis ou, mesmo, ter existência
domina e influencia esse espaço?19 regular mas apenas periódica, ou seja,
em alguns momentos – e isto apesar
Portanto, a questão central, no de que o substrato espacial permane-
que se refere à noção de território, é sua ce ou pode permanecer o mesmo.23
associação com a esfera do poder. Nes-
te sentido, o conceito de território, tanto Esta noção de território aponta para
quanto o de região, afasta-se do sentido “territorialidades flexíveis”24, flutuantes e
geográfico e aproxima-se mais de uma móveis. Para o autor, é impossível pensar a
noção política e administrativa. Assim, o noção de território em sociedades urbanas
controle sobre o território é fundamental complexas sem pensar, conjuntamente, a
para o estabelecimento do que Max We- noção de redes sociais.25 O autor propõe
ber vai chamar de comunidade política.20 que se trabalhe com territorialidades su-
Se, como Michel Foucault, entenderemos perpostas, que permitam perceber como
que “existe uma administração do saber, os atores em suas redes sociais constroem
uma política do saber, relações do poder e desconstroem seus territórios, estabele-
que passam pelo saber”, poderemos pen- cendo relações de poder e domínio que de
sar que elas remetem a “noções como fato implicam em significados diversos.
campo, posição, região, território” e que
o “termo político-estratégico indica como Uma interpretação proposta por Asa
o militar e o administrativo efetivamente Briggs nos permite trabalhar com a possi-
se inscrevem em um solo ou em formas bilidade da construção social da categoria
de discursos.”21 de lugar. Para o autor, é preciso distinguir
espaço de lugar,26 pois é através de pro-
Novamente, Souza, de maneira simi- cessos de definição e significação que o
lar a Gomes e Roncayolo, procura demons- espaço é transformado em lugar. Assim,
trar de que forma o conceito de território – à o lugar é sempre resultado da experiência
maneira de região – sofreu transformações sobre o espaço. Ele considera essencial
em seu desenvolvimento histórico. Assim, reiterar que as cidades seriam coleções de
território primeiramente era pensado como lugares tanto quanto a vivência do lugar em
“espaço concreto em si (com seus atributos si. Acredito que esta seja a concepção fun-
naturais e socialmente construídos) que é damental a ser pensada aqui. Para além de
apropriado, ocupado por um grupo social”.22 ser um espaço geograficamente demarca-
Para o autor, o senso comum – reiterado do, ou nos termos do autor, um lugar em
por alguns pensadores, especialmente os si mesmo, a “Baixada Fluminense” é uma
ligados à Geografia Política – tende a rela- coleção de lugares, todos resultantes dos
cionar território com Estado, o que empo- contextos de interação e das experiências
breceria o conceito. Para Souza, dos mais diversos agentes sociais. Portan-
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e atividades tidas como exclusivas da zona te e inesperado. Por isso, após extensas
Sul acontecendo na região, como a moda sete páginas de reportagem, com textos e
e o funcionamento empresarial. Podemos imagens, mostrando esse “outro lado da
destacar, para ilustrar, o seguinte trecho da Baixada” através de referências à beleza
reportagem (os grifos são nossos): natural, calma, tranquilidade, “jeito de roça”,
passado histórico, música, poesia, empre-
Jaceruba, com sua paz e sua surpreen- sas de porte e espaços para a diversão, o
dente beleza natural, serve bem para repórter conclui que “tudo isso na Baixada
mostrar que a Baixada Fluminense não Fluminense, a 40 minutos do Rio. Um pe-
vive só de manchetes policiais, das daço de mundo que se aprendeu a chamar
estatísticas da miséria e da realidade de feio e violento”. O caráter pedagógico
das valas negras. A região, que já atra- da representação é admitido pelo repórter,
vessou o ciclo do ouro, teve grandes mas não de forma suficiente a fazê-lo ques-
fazendas de café, abrigou extensos la- tionar a possibilidade da não naturalização
ranjais e hoje é sinônimo de violência da Baixada e seu lado natural, ou seja, de-
e subdesenvolvimento, tem um lado gradada, violenta e abandonada.
desconhecido e fascinante, que vai do
reggae e da poesia das favelas à água Essas sete páginas em 1900, mos-
cristalina de rios e ao verde de matas trando que a Baixada tem “um outro lado”,
intocadas”. (...) “A pracinha de Jace- ainda não são capazes de cortar o espanto
ruba, na realidade um largo com chão de outros jornalistas com aspectos positi-
de terra, algumas árvores nos cantos vos encontrados em municípios da região.
e casinhas simples ao redor, não su- Em 24 de março de 1996, o Jornal do Brasil
gere um clima de bangue-bangue. Ao publicou uma extensa reportagem sobre o
contrário. No armazém da esquina até ranking de qualidade de vida na região me-
parece que o tempo parou. tropolitana do Estado do Rio de Janeiro fei-
to pelo IBGE, onde o município de Nilópolis,
Neste trecho, encontramos termos- localizado na Baixada Fluminense, aparece
-chave desta relação com o outro des- em 3º lugar, só sendo superado por Nite-
conhecido, mas já cristalizado em uma rói e pelo Rio de Janeiro, respectivamente
natureza negativada. O “lado bom” da primeiro e segundo lugar. O estranhamento
Baixada é um “outro lado”, “desconhecido que tal colocação causou pode ser medido
e fascinante”. Porque ela já tem um lado pela própria caracterização dada pelo JB à
consolidado, “hoje sinônimo de violência informação, pois na chamada superior da
e subdesenvolvimento”. Neste sentido, a página destinada a Nilópolis podíamos ler:
dimensão negativa não é pensada como “a cidade-surpresa”.
representação, mas como natureza dada
e constituída. A representação é o esforço Em 20 de dezembro de 2001,
simbólico do repórter, de oferecer mais um uma nova matéria publicada pelo Jornal
sentido àquele já consagrado. Assim, o re- do Brasil apresentava os dados levan-
pórter confessa que: “o visitante toma um tados pelo IBGE no Censo 2000 acerca
susto quando chega a Jaceruba. Afinal, vai das condições de vida nas cidades do
levando na bagagem informações nada oti- Estado do Rio, em que Nilópolis e Nite-
mistas”. A realidade desmente, em parte, as rói aparecem nos primeiros lugares nos
construções discursivas do senso comum, índices de saneamento e alfabetização,
mas não têm o poder de apagá-las. Elas superando o Rio de Janeiro. O título “Rio
permanecem, como a referência de fundo, é lindo, mas Nilópolis é melhor”, embo-
de base, sobre a qual se constrói a ideia de ra apresente a classificação da segunda
que se está frente a um outro surpreenden- tomando a capital como referência, não
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significativo: sua retórica narrativa acerca uma resposta concreta: qual o interesse
das condições insalubres da Baixada, tan- específico de O Globo nas ações empre-
to material quanto socialmente, ajudaram a sariais na Baixada Fluminense em mea-
desvalorizar as terras na região; e em me- dos da década de 1990 a ponto do jornal
ados dessa mesma década, essa mesma explicitamente promover um Seminário de
mídia, através da construção de uma re- estímulos a investimentos na localidade?
presentação que visa positivar a Baixada,
irá ajudar a fermentar os negócios e inves- O apoio às ações do governo fede-
timentos nas localidades que a compõem. ral e do governo estadual, ambos naquele
Essa relação entre a ação midiática e a contexto nas mãos de políticos do PSDB
prática mercadológica fica mais evidente (Fernando Henrique Cardoso e Marcello
quando analisamos o exemplo a seguir. Alencar, respectivamente) é explícito e
engajado. As palavras que encerram a
Exemplo 3 – matéria de O Globo, matéria, por exemplo, são de José Carlos
de 27 de agosto de 1996 Lacerda, secretário estadual de Desenvol-
Título: “Potencial de investimentos vimento da Baixada Fluminense e de Mu-
da Baixada é tema de seminário” nicípios Adjacentes, que declara: “Eventos
Subtítulo: “Evento do jornal O Glo- como estes só vêm confirmar o que tem
bo-Baixada visa a promover a região” se verificado nos últimos anos: o interesse
Trecho em destaque: na Baixada aumenta a cada dia. A região
-“Para mostrar a investidores, em- ainda vai dar o que falar”. Se entendemos
presários e entidades representativas da que a construção da identidade, neste
Baixada Fluminense que a região, apesar caso no que tange à região, é uma narrati-
dos problemas sociais, é uma excelente va que envolve uma tríplice mimese, pode-
área de negócios, o GLOBO-Baixada, jor- mos perceber tanto a dimensão retrospec-
nal de bairro do GLOBO, promove ama- tiva, associada à paulatina construção de
nhã o seminário “As novas perspectivas uma memória negativa acerca da Baixada,
econômicas da Baixada”. quanto uma dimensão prospectiva, uma
configuração projetiva em que o que se
O jornal O Globo, neste caso, mais espera em termos de reconfiguração (os
do que um narrador da realidade, é o pro- investimentos e uma “nova” Baixada Flu-
motor da mesma, em especial em uma minense) já foram antecipados no texto.
dimensão projetiva, visando “mostrar a in-
vestidores, empresários e entidades” que Exemplo 4 - matéria no Cader-
a região “é uma excelente área de negó- no Finanças da Folha de São Paulo,
cios”, “apesar dos problemas sociais”, que 15/10/1995
a não ser como referência de um passado/ Título: “Rio redescobre a Baixada
presente em superação ou a ser supera- Fluminense”
do, não recebem maiores atenções em Subtítulo: ”A região, antes identifi-
nenhum dos exemplos jornalísticos anali- cada com crimes de grande repercussão,
sados neste artigo. O tom agora é ufanista deverá receber investimentos de mais de
e celebratório. Trata-se de uma região em R$ 3 bilhões até 1999”
desenvolvimento, pronta a prosperar, so- Trecho em destaque:
bre a qual não cabem análises que a des- - “Na busca de alternativas para a
valorizem, ainda que este agora um “outro recuperação econômica do Estado, em-
lado”, um “apesar de”, ainda sejam pro- presários, investidores e governo estão
blemas sociais que deveriam merecer, por apostando em uma das regiões mais
parte do jornalismo, um olhar atento. A per- problemáticas e conturbadas do Rio de
gunta prossegue, embora seja impossível Janeiro, a Baixada Fluminense. Depois
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“Durante seis semanas, o JORNAL bre o que ele não conhece), já que este
DO BRASIL conviveu com a realidade dos imaginário é “emblemático” da “indigência
sete municípios que compõem a Baixada brasileira”. Mas há algo de novo no que
Fluminense (...). Constatou que a deman- tange à Baixada Fluminense: ela “já não
da social é praticamente a mesma de dez pode ser apresentada apenas assim”. O
anos atrás – só 5% das ruas, por exemplo, texto jornalístico facilita nossa interpreta-
são asfaltadas -, mas descobriu um pro- ção e não deixa dúvidas: trata-se de uma
cesso silencioso, e vertiginoso, de desen- disputa em torno da representação do que
volvimento econômico”. se entende por Baixada, e esse jogo se
reconfigurou. Um indicativo forte, neste
“Some-se a isso a localização pri- sentido, que aponta claramente para a ne-
vilegiada – bem no eixo Rio-São Paulo-, o cessidade dessa nova representação, em
aumento do poder de consumo das clas- dimensão projetiva, é a retranca “Jovens
ses C e D; a fartura de terrenos vazios, as esperanças”, com um retrato da juventu-
melhorias na Via Dutra e a consolidação de na Baixada, cujo título “Para eles, tudo
da Linha Vermelha, e aí está uma receita vai dar pé”, juntamente com o subtítulo
que explica as transformações que a re- “Juventude da Baixada acredita no futuro,
gião experimenta.” gosta do lugar onde mora e curta a vida
no ‘Baixo Iguaçu’” são exemplos claros de
Em suas doze páginas especial- um esforço narrativo de dissociar a fórmu-
mente dedicadas às transformações ocor- la lembrança/passado = negativo da fór-
ridas na Baixada Fluminense, o caderno mula projeto/futuro = positivo.
editado pelo Jornal do Brasil, por si só,
mereceria uma análise detalhada que ex- A violência e os problemas sociais,
trapola o proposto neste artigo. Estão lá to- que evidentemente não haviam desapare-
dos os pontos que temos destacado. Mas cido enquanto realidade social na Baixada
focaremos nossas observações na maté- em meados dos anos 1990, não deixam de
ria principal e em uma retranca dedicada ser retratados no Caderno Especial do JB,
aos jovens da Baixada, porque trazem ainda que de forma tímida e quantitativa-
elementos que nos parecem importantes mente bem menor do que os pontos valori-
aqui. Na matéria que abre o caderno, a ex- zados positivamente. Mas nada que próxi-
pressão “um novo olhar” sugere um ângu- mo ao que sugere, por exemplo, o quadro
lo bem diferente da expressão “um outro descrito na reportagem que se segue, pu-
lado”, fazendo a conexão com outro espe- blicada um ano depois pelo mesmo JB, em
cial sobre a Baixada editado pelo mesmo que a lembrança dos dias de passado es-
JB seis anos antes, como mostramos aqui. tigmatizado pela violência na região apare-
As referências ao passado negativo estão ce ainda muito fortemente como presença.
lá: a Baixada ora é “lembrada” por suas
“carências”, “seus índices de violência” ou Exemplo 7 - Jornal do Brasil, Cida-
sua “condição de região-dormitório”. Não de, 8/11/1998
há como fazer com que esse imaginário Título; “Baixada conta os seus
desapareça de uma hora para outra, pa- mortos”.
recem nos dizer os dois repórteres que Selo: “Terra sem lei”
assinam a edição, fruto de seis semanas Subtítulo: “Entre 1994 e 1997, o nú-
de mergulho jornalístico, como se preocu- mero de homicídios na região manteve uma
pam em esclarecer (trata-se, portanto, de média superior a dois mil casos por ano”.
um produto do conhecimento, um “novo Trechos em destaque:
olhar” construído pela vivência, e não so- “Enquanto no município do Rio o
mente a fala de um sujeito de “fora” so- número de homicídios vem diminuindo,
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Ano 3, número 4, semestral, março 2013
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pragMATIZES - Revista Latino Americana de Estudos em Cultura
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ORLANDI, Eni. Análise de Discurso. Campinas, FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Verbete
“Baixada”. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portugue-
SP: Pontes, 1999.
sa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 220.
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Ano 3, número 4, semestral, março 2013
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Michel Foucault aponta, por exemplo, para outras FOUCAULT, Michel, op. cit, p. 158.
possibilidades de pensar as noções de território e região
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sem relacioná-las somente ao universo da Geografia. SOUZA, op. cit., p. 84.
Neste sentido, ele afirma que “o território é sem dúvida
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uma noção geográfica, mas é antes de tudo uma no- Idem, p. 87, grifos do autor.
ção jurídico-política: aquilo que é controlado por um cer-
24
to tipo de poder”. Da mesma forma, região seria uma Idem, p. 87.
“noção fiscal, administrativa, militar”. FOUCAULT, 1986,
25
p.157. Sobre o conceito de redes sociais, ver ENNE (2002).
14 26
Este autor apresenta um balanço das diversas con- A distinção entre as duas categorias é também explo-
cepções associadas à categoria região, em que primei- rada por Michel de Certeau, para quem “o espaço é um
ramente ela seria pensada a partir de um critério natural. lugar praticado”. CERTEAU, 1998, pp.202-203.
Em um segundo momento, seria associada a uma certa
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concepção étnica. Ambas seriam superadas pela con- A mesma idéia associada a território aparece no texto
cepção de região econômica, para finalmente começar de Marcel Roncayolo, no volume já citado da enciclo-
a ser pensada como um “princípio relativamente abstra- pédia Einaudi, mas no verbete “Território”, no qual este
to”, como um local de representações sociais. Cf. RON- “identifica-se então com o espaço vivido, subjectivo, re-
CAYOLO, 1986, pp. 161-189. conhecido ao longo de experiências individuais e múlti-
plas. O conceito de território é substituído, em certa me-
15
Beatriz Heredia, ao analisar as definições regionais em dida, pelo de percepção do espaço.” Cf. RONCAYOLO,
áreas de plantio em Alagoas, vai apontar para o perigo de M., op. cit., p. 265.
naturalizar o conceito, pelo seu uso frequente, e, como con-
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sequência, contribuir “para legitimar determinadas maneiras “Na Atenas contemporânea, os transportes coletivos
de pensar e classificar que também se tornam formas “natu- se chamam metaphorai. Para ir para o trabalho ou vol-
rais” de ver e observar a realidade”. Por isso, lembra que o tar para casa, toma-se uma “metáfora” – um ônibus ou
conceito de região, “como todo conceito é também objeto de um trem. Os relatos poderiam igualmente ter esse belo
uma construção”, o que vai obrigar, em termos de análise, a nome: todo dia, eles atravessam e organizam lugares;
uma “desnaturalização”. Cf. HEREDIA, 2001, p. 168. eles os selecionam e os reúnem num só conjunto; deles
fazem frases e itinerários. São percursos de espaços.”
16
Paulo Cesar Gomes observa, comparando as duas CERTEAU, Michel, op. cit., p. 199. Grifo do autor.
concepções, a funcionalista e a marxista, sobre região:
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“É importante perceber aqui o fato de que, embora re- Em 2002, por exemplo, a Via Light já está consolidada
cusando o funcionalismo como critério para a divisão do e é percebida, na matéria do jornal O dia, de 16 de maio,
espaço, esta nova corrente radical aceita que a região como um fator fundamental na ligação entre o Rio e a
seja um processo de classificação do espaço segundo região, como demonstram o título “Madureira mais perto
diferentes variáveis. Em outras palavras, a controvérsia da Baixada” e o subtítulo “Prefeitura vai ampliar Via Li-
se dá em relação ao conteúdo, ou seja, em relação à ght. Ligação entre regiões será feita em 15 minutos”. Mais
escolha dos critérios, a forma de proceder metodologica- uma vez, uma intervenção urbana alterará o imaginário
mente, no entanto, é preservada”. GOMES, 1995, p. 65. em termos de distância social entre as duas localidades.
17 30
GOMES, idem., p. 67. A ampliação do aeroporto também será tema de ma-
téria em A Gazeta Mercantil de 17/1/1999, com o título:
18
Sobre a etimologia da palavra, ver BOURDIEU, 1989, p. 113. “Começa a nascer ponte aérea entre Baixada e Rio”.
19 31
SOUZA, 1995, pp. 78-79. Na matéria há uma entrevista com o sociólogo e profes-
sor José Claudio Souza Alves, autor da tese de doutorado
20
WEBER, 1944, p. 663. “Baixada Fluminense: a violência na construção do poder”.
Contato:
- anaenne@gmail.com
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