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Dinesh D’Souza 1997

Publicado originalmente em inglês sob o título:


The Big Lie: Exposing the Nazi Roots of the American Left

1a edição 2019
ISBN: 978-85-85034-13-9

Tradução: Elmer Pires


Revisão da Tradução: Cesare Turazzi
Revisão Geral: Cesare Turazzi e Ulisses Teles
Capa e Diagramação: Haas Comunicação
Versão eBook: Livro em Pixel

***

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Flávia de Melo – Bibliotecária – CRB 8 8881)

___________
C999g D´Souza, Dinash 1961 -
A grande mentira: expondo as raízes nazistas da esquerda /
Dinash D´Souza ; [tradução: Elmer Pires]. - São Paulo: Trinitas,
2019.
Tradução de: The big lie: exposing the Nazi roots of the American
Left.
Bibliografia: p. 263-[296]
ISBN 9788585034139 (ebook)

1. Partido Democrata (Estados Unidos) 2. Liberalismo (Estados


Unidos) 3. Direita e esquerda (ciência política) 4. Facismo
(Estados Unidos) 5. Cultura Política (Estados Unidos). I. Título
CDD: 320.513
___________
Editora Trinitas LTDA
São Paulo, SP
www.editoratrinitas.com.br
Dedico à minha esposa, Debbie
Uma vida inteira não é o suficiente
Capítulo Um
O Retorno
dos Nazistas

Embora pareça estar morto, o fascismo pode


ressurgir de diferentes formas.1
Walter Laqueur, Fascism: Past, Present, Future
[Fascismo: Passado, Presente e Futuro]

Alguns dos casos mais interessantes de Sigmund Freud envolveram


pessoas que faziam coisas ruins, más ou destrutivas e depois
jogavam a culpa nos outros. Tais casos são, agora, padrão na
literatura da psicologia. Hoje em dia, os psicólogos já estão
familiarizados com pacientes que, apresentando comportamentos
egoístas e viciosos, atribuem suas próprias características ao
psicólogo que os assiste. Também são muito comuns, no decorrer
da terapia, pacientes que, havendo apresentado hostilidade mórbida
contra os próprios pais ou irmãos, apresentam hostilidade mórbida
contra o próprio terapeuta. Seguindo um termo criado por Freud, os
psicólogos a esse fenômeno chamam de “transferência”.
A transferência, cuja injusta tarefa é a de culpar e responsabilizar,
é, obviamente, uma forma de mentira. Um caso especial de
transferência consiste em “culpar a vítima”. Na literatura relevante
da psicologia, aquele que comete algo terrível não deixa a culpa em
si mesmo, mas, impressionantemente, culpa a vítima da ofensa. Por
exemplo, assassinos em série que alvejam prostitutas podem
conceber que elas, na verdade, merecem ser estupradas e
assassinadas. “Aquela mulher era uma prostituta. Ela sabia que isso
iria acontecer”. Pensar assim possibilita o agressor a considerar-se
um anjo da vingança, um instrumento da justiça.
Ted Bundy é um bom exemplo para esse tipo de caso. Quando
jovem, Bundy foi rejeitado por uma mulher, uma mulher morena. A
partir de então, ele alimentou um ódio intenso por aquela mulher,
pois ela o fez sentir-se inferior e inútil. Ted então passou a buscar
por morenas jovens em câmpus universitários com o objetivo de
raptá-las e assassiná-las, depositando nelas a raiva que sentia e as
responsabilizando por aquilo que outra mulher cometeu uma vez.
Na mente de Bundy, ele próprio havia sido rejeitado injustamente e
transformado numa vítima; daí, por causa de um processo
pervertido de deslocamento, ele imputava tal alcunha sobre as
mulheres que matava.2
O processo de culpabilizar a vítima é, sim, uma mentira, mas vem
a ser uma mentira de categoria especial. Normalmente, a mentira é
uma distorção da verdade. Isso se aplica à transferência no sentido
geral do termo: as qualidades do paciente são transferidas ao
terapeuta. Mas quando o perpetrador culpa a vítima, ele faz mais do
que culpar uma parte inocente: ele culpa precisamente a parte que
ele mesmo está prejudicando diretamente. Culpabilizar a vítima
envolve trocar a posição do criminoso pela da vítima: o bandido
transforma-se no mocinho e o mocinho torna-se o bandido. Isso é
mais do que uma distorção da verdade; é uma inversão dela. É uma
grande, uma grande mentira.
A grande mentira é um termo frequentemente atribuído a Adolf
Hitler. Hitler supostamente o usava para descrever a propaganda
nazista. Em sua autobiografia, Mein Kampf, Hitler contrasta a
grande mentira com mentiras pequenas ou ordinárias. “A grande
massa”, ele escreve, “torna-se vítima da grande mentira com maior
facilidade do que vítima de uma mentira menor, visto que o próprio
povo mente acerca das pequenas coisas, mas sentiria vergonha de
cometer mentiras de maior proporção. A maioria jamais conceberá
uma mentira de tamanha gravidade, e nunca será capaz de
acreditar que seja possível imputar a terceiros desaforo tão
monstruoso e deturpação tão infame”.3
No entanto, Hitler não está se referindo às grandes mentiras que
ele mesmo cometia. Ao invés disso, Hitler faz referência às mentiras
alegadamente propagadas pelos judeus. Os judeus, Hitler diz, são
os mestres da grande mentira. Agora, importa reconhecer que o
Mein Kampf é uma incansável repetição de calúnias e difamações
contra os judeus. Eles são acusados de tudo, desde de serem
capitalistas a bolcheviques; de serem impotentes a cobiçarem
mulheres nórdicas, de culturalmente insignificantes a aspirantes ao
domínio mundial. As acusações são contraditórias, não podem ser
simultaneamente verdadeiras.
E, ao mesmo tempo que mente sobre os judeus e conspira pela
destruição desse povo, Hitler os acusa de mentirosos e de serem
aqueles que maquinam a destruição da Alemanha. Hitler emprega a
grande mentira enquanto desaprova o seu uso. Ele se retrata como
uma pessoa franca e atribui a mentira àqueles sobre quem está
mentindo — os judeus. Pode haver um caso mais patológico de
transferência e, mais especificamente, de culpabilização da vítima?
A grande mentira está de volta, e agora diz respeito ao papel do
nazismo e do fascismo na política americana. A esquerda política —
apoiada pelos principais meios de comunicação do Partido
Democrata — insiste em dizer que Donald Trump é uma versão
americana de Hitler ou de Mussolini. O GOP [Partido Republicano
dos EUA], dizem eles, é a nova encarnação do Partido Nazista.
Essas acusações tornam-se, por quaisquer meios necessários, a
base e a racionalização da tentativa de destruir Trump e seus
aliados. A “cartada fascista” também é usada a fim de intimidar
conservadores e republicanos, para que estes renunciem Trump por
medo de serem marcados e manchados. No fim das contas, o
nazismo é a forma de ódio irrevogável e o associar-se a ele, o crime
de ódio definitivo.
Neste livro viro a mesa contra a esquerda democrata e provo que
eles — e não Trump — são os verdadeiros fascistas. São eles que
usam as táticas de ameaça e opressão nazistas e subscrevem a
uma ideologia completamente fascista. As acusações que fazem
contra Trump e o GOP são, na verdade, aplicáveis a eles próprios.
Aqueles que se autodeclaram oponentes do ódio, são estes os
verdadeiros praticantes das políticas de ódio. Por meio de um
processo de transferência, os esquerdistas culpam a vítima de ser e
fazer o que eles próprios são e fazem. Numa inversão doentia, os
verdadeiros fascistas da política americana disfarçam-se de
antifascistas e acusam os verdadeiros antifascistas de fascistas.
A Cartada Racial
Este é um tópico sobre o qual nunca antes escrevi. Em duas
ocasiões, uma vez em 1976 e, novamente, em 1980, Reagan
associou, sem cerimônias, o Partido Democrata ao fascismo. A
mídia entrou naquele alvoroço já previsível, sugerindo que, mais
uma vez, o velho vaqueiro estava tagarelando. “Reagan Ainda
Acredita que Alguém do New Deal Defenda o Fascismo” era o título
da matéria no Washington Post.4 Quando Reagan fez suas
declarações, eu não tinha ideia do que ele queria dizer. Mas ele
sabia. Ele cresceu na década de 1930. Ele estava lá. Ele viu as
afinidades entre o fascismo e o New Deal, afinidades sobre as quais
falarei melhor em um capítulo mais adiante.
Somente agora, décadas depois, compreendo o que Reagan quis
dizer. Gostaria de que ele pudesse ter lido este meu livro; Reagan
veria que, ao invés de ser culpado de inverdade ou exagero, foi
culpado de cometer um enorme eufemismo. Mas, na época, tanto
eu como a maioria dos meus companheiros republicanos e
conservadores éramos vítimas do paradigma progressista,
embebidos em todas as essas instituições culturais, desde a
academia a Hollywood, de Hollywood à mídia. Nesse caso, a
história que havíamos aceitado, feito otários, era que o fascismo e o
nazismo são ideias inerentes “à direita”.
A esquerda é realmente boa no inventar e disseminar esses
paradigmas. Quando um deles cai, eles simplesmente buscam
outro. Em meu livro anterior e também no documentário Hillary’s
America, desafio um outro poderoso paradigma esquerdista, o
paradigma de que os progressistas e os democratas são o partido
da emancipação, da igualdade e dos direitos civis. Demonstrei que,
no entanto, em vez disso, eles são o partido da escravidão e da
remoção indígena, da segregação e do Jim Crow, do terrorismo
racial e da Ku Klux Klan, o partido da oposição ao movimento dos
direitos civis da década de 1960.
Meu objetivo foi tirar a cartada racial dos democratas — uma
jogada que vem surtindo efeito contra os republicanos por toda uma
geração. É impressionante o fato de os democratas terem recebido
todo o crédito pelo movimento dos direitos civis, sendo que foram os
republicanos que os conquistaram, ainda mais por que a oposição a
esses direitos veio praticamente toda do Partido Democrata. Os
democratas acusam os republicanos — o partido da emancipação e
da oposição à segregação, à intolerância e à supremacia branca —
de ser o partido da intolerância e da supremacia branca.
Bom, falemos sobre o termo transferência. Essa foi minha
introdução à política estratégica da esquerda de transferir a prática
do racismo ao partido que vem, no decorrer da História, opondo-se
ao racismo em todas as suas formas e vertentes. Os democratas
foram tão bem-sucedidos neste golpe que, em 2005, o presidente
do Comitê Nacional Republicano, Ken Mehlman, saiu por aí pedindo
desculpas a grupos negros por pecados cometidos não pelos
republicanos, mas pelos democratas.5 Igualmente espantoso, os
democratas nunca admitiram seu histórico racista, nunca assumiram
a responsabilidade pelo que fizeram, nunca se desculparam, jamais
restituíram um centavo por seus crimes.
O que mais me intrigou foi como alguém consegue se safar com
tão grande mentira. A resposta é entender como é imperativo
dominar todos os grandes porta-vozes da cultura, desde a academia
ao cinema, do cinema aos principais meios de comunicação. Com
esse arsenal cultural à disposição, grandes mentirosos podem,
confiantes, espalhar mentiras e certos de que mais ninguém terá
porta-vozes tão grandes a ponto de desafiá-los. Eles conseguem ter
suas mentiras ensinadas nas salas de aula, transformadas em
filmes e em programas de TV, e enfaticamente distribuídas nos
veículos de comunicação do cotidiano público, tudo como a mais
pura verdade. É assim que grandes mentiras tornam-se amplamente
aceitas, às vezes até mesmo por aqueles que são os próprios alvos
das mentiras.
Hillary’s America foi recebido com afronta pela esquerda, mas
ninguém pôde refutar um único fato do livro ou do documentário. Até
mesmo as alegações mais incriminadoras que apresentei provaram
ser invulneráveis. Acusei que, em 1860, ano anterior à Guerra Civil,
nenhum republicano possuía escravos; todos os quatro milhões de
escravos naquela época estavam sob posse democrata. Agora,
tamanha generalização poderia ser facilmente refutada com uma
simples lista de republicanos detentores de escravos. A esquerda
não pôde fazê-lo. Houve certo pesquisador assíduo que, finalmente,
pretendeu contestar-me com um único contraexemplo. Ele indicou
que Ulysses S. Grant certa feita herdou um escravo da família de
sua esposa. Tolerei o argumento, mas o lembrei de que, naquela
época, Ulysses S. Grant não era republicano.
Temendo não ter resposta substancial para o Hillary’s America, os
principais meios de comunicação entraram numa negação completa.
Quem tivesse somente assistido às grandes redes de TV e aos
canais abertos, ou ouvido a Rádio Pública Nacional, não faria nem
ideia de que o Hillary’s America existe. O livro estava em primeiro
lugar na lista dos livros mais vendidos do New York Times, e a
filmagem foi o documentário de maior bilheteria do ano. Ambos
densos e repletos de materiais diretamente relevantes para o debate
eleitoral em curso, no entanto completamente ignorados pela
imprensa, totalmente a favor de Hillary.
Apesar das manifestações fracassadas e da negação
generalizada, o livro e o documentário surtiram efeito. Muitos
consideram que ambos tanto motivaram os republicanos quanto
persuadiram os hesitantes, ajudando Trump a alcançar a Casa
Branca. Não tenho ideia de como medir tamanhos efeitos, mas sei
que meu livro e meu documentário ajudaram a moldar a narrativa
eleitoral, expondo Hillary como a criminosa que é e os democratas
como seus cúmplices, todos culpados de um longo histórico de
intolerância e exploração. Pela primeira vez, nas eleições de 2016,
os democratas não conseguiram se servir da cartada racial e sair
impunes.
Mesmo após as eleições, e por consequência do livro e do
documentário, agora será ainda mais difícil para os democratas
lançarem mão da cartada racial. Eles tentaram, por um breve
momento, suspender a nomeação de Jeff Sessions como
procurador-geral de Trump. A acusação seria de que ele teria dito
coisas racistas há algumas décadas. Sim, mas e quanto ao
democrata Robert Byrd, conhecido como a “consciência do
Senado”? Décadas atrás, era ele um líder da Ku Klux Klan. Mesmo
assim, os Clintons e os Obamas o louvaram quando veio a óbito, em
2010. Os democratas descobriram, para própria consternação, que
sua cartada racial passou a ser então um fracasso. Ela não
funcionava mais. A festa acabou.
Então, agora, os democratas passaram da grande cartada racial,
que não mais funciona, para o seu maior trunfo: a cartada nazista. É
claro que eles não abandonaram a cartada racial, afinal o racismo
era intrínseco ao nazismo. Hitler, com seu ódio incansável pelos
judeus — ódio baseado não no que fizeram ou mesmo na religião,
mas simplesmente por sua identidade racial e biológica —, é o
racista definitivo.
Consequentemente, os democratas não esperam apenas
sustentar a alegação nazista contra Trump e o GOP, mas também
esperam recuperar a cartada racial com nova roupagem. Como
antes, meu objetivo é fazer com esse novo paradigma, o nazista, o
que meu livro anterior fez com a antiga narrativa racial, ou seja,
destruí-lo por completo. Aqui, refuto a falsa narrativa deles, exponho
sua grande mentira e prendo o rabo nazista exatamente onde ele
deve ficar — no burro democrata.

Reductio Ad Hitlerum
Os temas nazismo e fascismo devem ser abordados com o maior
cuidado, não só por envolverem sofrimento e perda de um grande
número de vidas, mas também porque os termos em si têm sofrido
abusos e sido deturpados sôfrega e promiscuamente em nossa
cultura. Não posso melhor ilustrar essa realidade do que com a
reação de várias personagens de Hollywood perante a eleição e
posse de Trump.
“Eu sinto Hitler andando pelas ruas”, disse a atriz Ashley Judd. O
cantor John Legend afirmou que a retórica “nível Hitler” de Trump
poderia transformar a América na Alemanha nazista. De acordo com
um tuíte feito por RuPaul, em 8 de novembro de 2016, “a América
ganhou uma gigante suástica tatuada na testa”. A atriz Meryl Streep
disse que sua crítica a Trump produziu uma resposta “aterrorizante”.
“Isso prepara você para todo tipo de ataques e exércitos dos
camisas pardas [...] e você só pode fazer isso se você sente que
deve fazer [...] Você não tem muita opção”.6
Essa é Streep fazendo sua melhor cópia de Dietrich Bonhoeffer.
No entanto, exatamente de que forma esses tais de camisas pardas
a estavam atacando? Acontece que esses ataques foram feitos no
Twitter e em outras mídias sociais. Ninguém a espancou de
verdade. Os verdadeiros camisas pardas já o teriam feito. Da
mesma forma, RuPaul bem provavelmente sabe que, na Alemanha
nazista, um drag queen como ele teria sido enviado para algum
campo de concentração e morto por eutanásia. Se ele realmente
acreditasse que a América havia se transformado na Alemanha
nazista, o que se esperaria senão sua saída imediata do país? De
alguma forma, RuPaul sabe, assim como todos nós sabemos, que
ele está perfeitamente seguro aqui.
Alguns conservadores permanecem tranquilos enquanto a
esquerda rotula Trump de fascista. O historiador Victor Davis
Hanson recorda, perplexo, que Ronald Reagan e George W. Bush
foram ambos, em algum dado momento, ligados pela esquerda a
Hitler. Daniel Greenfield devolveu a analogia de Hitler para
Goldwater e Nixon em seu artigo na FrontPage Magazine intitulado
“Todo Presidenciável Republicano é Hitler”. Um outro livro meu, The
End of Racism [O Fim do Racismo], perturbou tanto David
Nicholson, do The Washington Post, que ele chegou a ouvir “o
pesado marchar de coturnos, embora taciturnos e distantes, ainda
se aproximando constantemente”.7 Esses exemplos confirmam o
ponto de Hanson, de que comparar uma coisa aos nazistas
geralmente não significa nada a não ser representar aquilo que a
esquerda desaprova vigorosamente.
Estudiosos têm se queixado de que termos como ‘nazista’ e
‘fascista’ praticamente perderam significado na cultura popular. Há
muitos anos, o filósofo Leo Strauss, ele próprio refugiado da
Alemanha nazista, lamentou por aquilo que chamou de Reductio ad
Hitlerum, com isso pretendendo expressar a tendência de querer
refutar aquilo que desaprova associando-o a Hitler. O raciocínio é o
seguinte: Hitler não gostava de arte moderna, então a crítica à arte
moderna é um mal reminiscente dos nazistas. Hitler detestava o
comunismo, portanto os anticomunistas continuam seguindo o
método de Hitler. Tudo isso, lembrou Strauss, não passa de pura
tolice.
Na Califórnia, onde a pura tolice abunda, ouve-se falar da “dieta
nazi”, do “saudável nazi” e dos “surfistas nazi”. Nesses casos, o
nazismo parece tomar uma acepção positiva, indicando
compromisso rigoroso. O historiador Anthony James Gregor, um dos
principais estudioso do fascismo italiano, diz que o fascismo é
comumente atribuído a pessoas declaradamente cristãs, pessoas
que buscam por tributações menores, que se opõem a
regulamentações governamentais abusivas, que se mostram céticas
quanto ao aquecimento global e que parecem indiferentes ao
destino das espécies ameaçadas de extinção. “Infelizmente”, ele
escreve, “o termo fascismo foi dilatado a ponto de seu uso cognitivo
tornar-se mais do que suspeito”.8
Mas a acusação de fascismo e nazismo contra Trump e os
republicanos não pode ser tão facilmente descartada. Na verdade,
ela não está na mesma categoria que o emprego metafórico, os
tropos desdenhosos comparando Reagan a Hitler ou Bush a Hitler.
Em primeiro lugar, a acusação contemporânea está bem mais
generalizada. Tanto antes quanto depois das eleições, a analogia
nazista não foi apenas um escárnio, mas também foi empregada
como descrição. A analogia é, agora, a estrutura central da
cobertura sobre Trump dada pela mídia, pela academia e por outros
meios, da imigração à política externa e ao comércio, tudo está
agrupado sob essa mesma bandeira.
Para o escritor Chris Hedges, a presidência de Trump é “o ensaio
geral para o fascismo”, significando, provavelmente, que o fascismo,
ainda embora não esteja presente, está prestes a se apresentar. Na
mesma linha, Ben Cohen viu em Trump “os primeiros passos de um
Estado fascista”. Deepak Malhotra insiste na revista Fortune que
Trump representa “o espectro do fascismo domiciliar”. Andrew
Sullivan advertiu na revista The New Republic que Trump “destruiu o
Partido Republicano e criou, em seu lugar, o que parece ser um
partido neofascista”. Aaron Weinberg, do HuffPost, diagnosticou o
“engatinhar vagaroso do fascismo de Hitler”. Escrevendo para o
Salon, o historiador Fedja Buric procurou criticar mudando um pouco
o tom, insistindo que “Trump não é Hitler; Trump é Mussolini”. A
âncora da MSNBC, Rachel Maddow, revelou que “eu tenho lido
muito sobre como era na época quando Hitler se tornou chanceler
[...] porque acho possível ser onde estamos agora”. O jurista Juan
Cole exclamou o resultado das eleições com a seguinte frase:
“Como os EUA se tornaram fascistas”. Ken Burns, cineasta e
produtor de documentários, denominou Trump como “fascístico” e
“hitleresco”. A reação mais exagerada veio de Sunsara Taylor,
ativista de um grupo chamado Refuse Fascism [Rejeite o Fascismo];
ela apareceu no programa de Tucker Carlson para comentar sobre
Trump, dizendo que “ele é mais perigoso do que Hitler jamais teria
sido”.9
Como segundo ponto, a acusação de fascismo e nazismo é
endossada pelos principais personagens do Partido Democrata. O
candidato à presidência Martin O’Malley, um democrata, acusou
Trump de carregar um “apelo fascista bem para dentro da Casa
Branca”. Fazendo menção a Trump, Bernie Sanders invocou
parentes que morreram no Holocausto como resultado de “um
lunático [...] despertando o ódio racial”. Invocando a memória
sombria dos “piores déspotas da História”, a senadora Elizabeth
Warren insistiu que Trump representa uma “séria ameaça”.10 Ainda
que Obama e Hillary não tenham jogado a cartada fascista ou
nazista, ambos não se afastaram dela nem a repudiaram, assim
como nenhuma outra autoridade do Partido Democrata. Afinal, como
eles poderiam rejeitá-la? Este é, agora, o lema da oposição por
parte da esquerda democrata contra Trump.
Em terceiro lugar, alguns líderes estrangeiros parecem já ter
aceitado que Trump seja fascista, talvez até nazista. Na Grã-
Bretanha, o político do Partido Trabalhista Dennis Skinner advertiu
que, se permanecesse em aliança com a América na sequência das
eleições de Trump, seu país estaria caminhando “de mãos dadas”
com um fascista. No Canadá, o líder do Novo Partido Democrata,
Tom Mulcair, usou o rótulo fascista para descrever a proibição
temporária de viagens promulgada por Trump. Dois ex-presidentes
mexicanos, Enrique Calderon e Vicente Fox, compararam Trump a
Hitler, e Fox declarou que o discurso de Trump durante a convenção
republicana fez com que ele se lembrasse de “Hitler discursando ao
Partido Nazista”. Esses comentários dão confirmação internacional
ao que a esquerda americana diz aqui; e alguns deles poderiam até
mesmo causar implicações para as relações diplomáticas dos
Estados Unidos.11
Em quarto lugar, alguns dos principais republicanos e
conservadores ecoaram a acusação da esquerda. Durante um
evento filantrópico, o ex-candidato do Partido Republicano ao cargo
de governador, Meg Whitman, comparou Trump a Hitler e a
Mussolini. A ex-governadora republicana de Nova Jersey, Christine
Todd Whitman, disse o seguinte acerca das máximas da campanha
de Trump: “Esse é o tipo de retórica que permitiu Hitler avançar”.
Escrevendo para o jornal New York Times, Ross Douthat, uma vez
colunista conservador, concluiu que Trump é um “protofascista”.
Robert Kagan, historiador neoconservador, não se deu nenhuma
reserva. “É assim que o fascismo vem para a América”. Após as
eleições, o senador John McCain, candidato à presidência do
Partido Republicano em 2008, disse, a respeito da crítica de Trump
à mídia, que foi dessa forma que os ditadores do século XX
surgiram.12 Trata-se de um padrão sem precedentes. Quando
várias pessoas do seu próprio partido dizem que você é um fascista,
isso faz com que você realmente pareça um fascista.
A esquerda mobiliza uma pilha de especialistas em apoio à
equação de que Trump e o GOP estão ao lado do fascismo e do
nazismo. A revista Slate entrevistou Robert Paxton, importante
historiador do fascismo, sobre os paralelos entre Trump, de um lado,
e Mussolini e Hitler, de outro. Bill Maher deu a deixa para o
historiador Timothy Snyder, que vinculou a ascensão de Trump à
ascensão de Hitler. “No meu mundo, de onde venho, estamos na
década de 1930”. O biógrafo de Hitler, Ian Kershaw, defendeu a
mesma posição num jornal britânico. “Os paralelos ao sombrio
período entreguerras não devem ser negligenciados”. E o historiador
Ron Rosenbaum, autor do livro Explaining Hitler [Explicando Hitler],
explicou que Trump chegou ao poder com “visões e perspectivas
extraídas de um livro escrito em alemão. Esse livro é o Mein
Kampf”.13
Por fim, a acusação de fascismo contra Trump não é um elemento
a ser jogado fora; a esquerda apresenta uma infinidade de razões
para apoiar tal acusação. O historiador John McNeill fez chegar ao
Washington Post a alcunha sobre Trump dos “11 atributos do
fascismo”. Escrevendo para o site Alternet, Kali Holloway declarou:
“É assustador como Trump se enquadra perfeitamente no famoso
guia dos 14 pontos para identificar líderes fascistas”.14 Dessa vez a
esquerda e os democratas parecem confiantes de que poderão
fazer o rótulo fascista pegar, de modo a desacreditar
permanentemente Trump e aqueles que o apoiam.
“Ele Não é o Nosso Presidente”
O que me interessa aqui não são os motivos para a esquerda
comparar Trump com os fascistas e os nazistas — lidarei com essas
motivações no próximo capítulo —, mas o que eles pretendem
alcançar com essas comparações. Evidentemente, a esquerda tem
o objetivo de tornar a presidência de Trump ilegítima. Essa noção —
de que, mesmo tendo vencido honesta e diretamente, Trump, de
alguma forma, não merece ser presidente — foi propagada pela
primeira vez, inclusive, antes das eleições. Hillary e Obama nunca
trataram Trump como um candidato legítimo.
Uma vez que Trump foi eleito, a esquerda democrata lançou uma
cruzada sem precedentes a fim de impedir que ele tomasse posse.
Ela exigiu a recontagem de votos, o que é razoável quando as
margens entre os candidatos são muito próximas, como aconteceu
na eleição de 2000 entre Bush e Gore. No caso de Trump, as
margens atingiram um patamar significativo em todos os sentidos
mais cruciais. Houve uma ou duas recontagens, e Trump acabou
ganhando mais alguns votos.
Depois a esquerda procurou desacreditar a vitória de Trump ao
destacar que Hillary ganhou por voto popular. Novamente, é algo
que soa estranho, uma vez que as eleições nos EUA não são
decididas pelo voto popular. O sistema político americano é
projetado para gerar equilíbrio entre a representação individual e a
representação estadual. O objetivo é impedir que grandes estados
monopolizem o poder. Por conseguinte, o Colégio Eleitoral dá aos
estados maiores mais eleitores, mas garante que os estados
menores também tenham influência eleitoral suficiente a ponto de
fazer a diferença.
Não é imprescindível decifrar as regras precisas do sistema. O
ponto principal é que este é um sistema democrático e estas são as
regras do jogo acordadas já de longa data. A esse respeito, as
regras do Colégio Eleitoral são como as regras de uma partida de
tênis, que é decidida não por pontos, mas por sets. Fará sentido se,
em uma partida com pontuação final de 6–4, 6–4, 0–6, 1–6, 6–4, o
perdedor, embora tenha vencido apenas dois sets de cinco, for
premiado por ter feito dois pontos a mais que o vencedor na
pontuação geral? É absurdo. Trump prevaleceu pelas regras do
jogo, e sua vitória mantém-se claramente inalterada, mesmo perante
a observação de que Hillary teria vencido sob algum outro conjunto
de regras.
Em seguida, a esquerda procurou pressionar diretamente os
eleitores a não escolherem Trump no Colégio Eleitoral. Estes
relataram opressão, assédio, e até ameaças. Embora a maior parte
da situação fosse puro desespero — e os esforços finalmente
falharam —, Peter Beinart teceu argumentos complexos para o
Atlantic Monthly sobre por que “o colegiado eleitoral deveria proibir à
presidência homens feito Trump”. Não importa o que tenham
decidido, Beinart insistiu que os eleitores deveriam votar contra
Trump, alegando ser ele um “demagogo irresponsável” e que sua
vitória criou uma “emergência nacional”.15
Finalmente, a esquerda procurou desacreditar a eleição alegando
que os russos a fraudaram. Eles a fraudaram, supostamente, ao
invadir o servidor particular de Hillary. Nunca houve provas disso. E
por que os russos prefeririam Trump a Hillary? Havendo tomado
posse, uma das primeiras decisões de Trump foi lançar um ataque
militar contra a Síria, aliada da Rússia. Então, o próprio conceito de
que os russos pesaram a balança a favor de Trump faz pouco
sentido.
Mas, mesmo que os russos tivessem invadido o servidor de
Hillary, não foram eles que escolheram Trump no lugar dela. Ao
contrário, os eleitores americanos o fizeram. Portanto, a despeito de
qual seja a evidência que os russos possam ter descoberto, no fim
das contas foi o povo americano quem determinou seu valor. Foi o
povo americano quem julgou tal evidência suficientemente
incriminatória, a ponto de dispensar Hillary.
Desde que Trump demitiu o diretor do FBI, James Comey, a
esquerda — que havia criticado o papel de Comey nas eleições —
ficou extremamente exasperada, gerando uma tempestade tão
furiosa de acusações que o ex-diretor do FBI, Robert Mueller, foi
nomeado conselheiro especial para investigar o possível conluio
entre a equipe de Trump e a Rússia. Enquanto a responsabilidade
de Mueller era descobrir objetivamente os fatos, a agenda sem
disfarces da esquerda era usar o inquérito para impedir o
desempenho de Trump, aumentar a pressão a fim de acontecer a
impugnação de mandato, e (se tudo corresse de acordo com o
plano) forçar sua renúncia.
Enquanto tudo isso acontecia, eu coçava a cabeça pensando no
esforço desesperado da esquerda para suprimir o resultado válido
de uma eleição livre. Então percebi que Mussolini e Hitler também
chegaram ao poder através de um processo legal — ou ao menos
quase legal. Nem Mussolini nem Hitler armaram um golpe. Os
camisas negras marcharam em Roma sob uma atmosfera de caos e
Mussolini foi convidado pelo rei Victor Emmanuel III a formar um
novo governo.
Embora nunca tenha obtido maioria popular de eleitores alemães,
Hitler era o cabeça do maior partido na Alemanha de 1933 quando
feito chanceler pelo presidente Paul von Hindenburg. Algumas
semanas depois, o parlamento alemão, o Reichstag, aprovou a Lei
de Concessão de Plenos Poderes, o que essencialmente transferia
seu poder a Hitler. Em outras palavras, a democracia preparou o
caminho para que esses déspotas tomassem o poder.
Consequentemente, para os esquerdistas que veem Trump no
mesmo caminho de Hitler e Mussolini, a vitória eleitoral não justifica
um fascista ou nazista americano ascendendo ao poder.
Agora, cabe dizer que, quando um grande partido político
basicamente rejeita o resultado de uma eleição livre, nos
encontramos em território inexplorado. Isso já aconteceu uma vez
nos Estados Unidos, é claro, em 1860, quando o mesmo partido, o
dos democratas, recusou-se a aceitar a eleição de Abraham Lincoln.
O desfecho se deu em uma guerra civil sangrenta.
Desde Lincoln, então, nenhum presidente americano enfrentou
maior resistência à legitimidade do que Trump. Mesmo assim,
apesar de algumas discussões vagas sobre a Califórnia deixar a
União, a América não está enfrentando um sério movimento de
secessão do tipo que se desenvolveu no Sul, em 1860–1861. O que
estamos vendo, ao contrário, é a desconfiança do próprio processo
democrático por parte daqueles que perderam as eleições de 2016.
Do ponto de vista deles, como a democracia poderia ter produzido
um resultado tão assustador, tão contrário à razão?
Quase setenta legisladores democratas recusaram-se a participar
da posse de Trump, uma violação da etiqueta democrática sem
precedentes, atitude que teria provocado grande indignação na
mídia, caso os republicanos tivessem o feito, por exemplo, com Bill
Clinton ou com Barack Obama. Presidente há apenas algumas
semanas, mesmo antes de Trump ter feito qualquer coisa que
pudesse ser considerada remotamente inconstitucional, Maxine
Waters e Tulsi Gabbard, duas representantes do Congresso
Democrata, levantaram a questão da impugnação do mandato. O
colunista Richard Cohen chegou a sugerir a necessidade de um
“golpe constitucional” — basicamente, uma assembleia de oficiais
eleitos que, segundo Cohen, têm a autoridade para retirar do cargo
um presidente que eles consideram “incapaz de cumprir os poderes
e deveres de seu cargo”.16
Ainda mais escandaloso, uma ex-funcionária do Departamento de
Defesa do período Obama, Rosa Brooks, levantou a possibilidade
de os militares dos EUA se recusarem a obedecer às ordens de
Trump e, talvez, até de o expulsarem do cargo. Se Trump ordenasse
que os militares fizessem algo que os generais julgassem insano,
disse Brooks, então eles deveriam recusar-se a obedecer. E, caso
Trump insistisse, Brooks deu a entender, eles deveriam livrar-se
dele por meio do golpe militar. Argumento semelhante havia sido
desenvolvido antes das eleições no Los Angeles Times por James
Kirchick, da Iniciativa de Política Externa [Foreign Policy Initiative].
Kirchick concluiu seu artigo dizendo: “Trump não é apenas impróprio
à presidência, mas um perigo para a América e para o mundo. Os
eleitores precisam detê-lo antes que os militares o façam”.17
Embora raramente explícitos, houve também pedidos de
assassinato. Pouco depois de Trump tomar posse do mandato
presidencial, a jornalista britânica Monisha Rajesh escreveu: “Já é
hora de um assassinato presidencial”. Lars Maischak, historiador da
Universidade Estadual de Fresno, escreveu em seu twitter: “Para a
democracia americana ser salva, Trump deve ser enforcado”.
Durante a Marcha das Mulheres em Washington, D.C., a cantora
Madonna vociferou: “Sim, estou com raiva. Sim, estou indignada. E,
sim, eu pensei muito em explodir a Casa Branca”. A comediante
Kathy Griffin publicou explicitamente uma foto sua com a imagem de
Trump ensanguentado e decapitado, resultando em uma
tempestade de protestos que a obrigou a pedir desculpas. O rapper
Snoop Dogg lançou em vídeo uma música chamada “Lavender”, na
qual ele aponta uma arma de fogo para a cabeça de um palhaço
vestido de Trump e puxa o gatilho, mostrando, na sequência, uma
bandeira vermelha e branca em que está escrito BANG. Outro
rapper, Big Sean, falou de assassinar Trump com um furador de
gelo.18 É difícil saber o quanto levar isso tudo a sério, mas é
possível imaginar a reação que viria à tona se alguém falasse dessa
maneira contra o antecessor de Trump, Obama.
Uma desconfiança do processo democrático semelhante a essa
foi fundamental na ascensão fascista ao poder na Itália dos anos
1920 e na ascensão nazista na Alemanha no início dos anos 1930.
Aliás, é importante notar que se trata do antigo fascismo e do antigo
nazismo. Hoje, quando se pensa em Mussolini ou em Hitler, se
pensa em termos da Segunda Guerra Mundial. É impossível pensar
sobre o nazismo, por exemplo, sem pensar também no Holocausto.
Contudo, é claro, não foi assim que os italianos ou os alemães
experimentaram pela primeira vez os fascistas e os nazistas.
Ninguém está dizendo que Trump hoje é o Hitler circa 1945.
Trump não iniciou uma guerra mundial nem anexou ou invadiu
outros países; ele, inclusive, certamente não exterminou seis
milhões de judeus. Esta não é a base da crítica progressista por
parte dos democratas contra Trump. Ao invés disso, eles o
comparam a Mussolini e Hitler antes da guerra, alertando que, se
fora de controle, ele pode acabar fazendo coisas horríveis
exatamente como esses dois homens acabaram por fazer.
Porém, no início dos anos 1920 e dos anos 1930, eram os
fascistas e os nazistas que desprezavam a democracia parlamentar,
cujas regras lhes eram incontornáveis e, no modo de pensar fascista
e nazista, impraticáveis. Estes foram partidos que declararam
líderes democraticamente eleitos como ilegítimos e apoiaram
abertamente estratégias que tinham o objetivo de expulsá-los do
poder. Então, quem está fazendo isso na América? Não é o Trump.
Pelo contrário, são os democratas progressistas que continuam a
questionar a validade da presidência de Trump. São os
progressistas que, hoje, recusam-se a aceitar os resultados dos
procedimentos e regras eleitorais. Eles são os que reagem, como
fizeram os fascistas e os nazistas, contra o que julgam ser um
sistema democrático defeituoso.
Depois, há a questão da violência. Como todos os estudiosos do
fascismo e do nazismo sabem, os fascistas e os nazistas gloriavam-
se dela. Mas eles não estavam sozinhos: seus rivais políticos, os
socialistas e os comunistas, também acreditavam na violência.
Naturalmente, essa era uma receita para banhos de sangue nas
ruas. Os primeiros dias do fascismo e do nazismo presenciaram
confrontos rotineiros entre os grupos políticos rivais. Na Itália, os
camisas negras de Mussolini chegaram a lutar corpo a corpo contra
os socialistas. Muitas pessoas foram mortas nessas guerras de rua.
Hitler descreve, em sua obra Mein Kampf, como seus camisas
pardas chegavam a encontros políticos, geralmente realizados em
bares e cervejarias, munidos de bastões e porretes. Os comunistas
podem nos superar em número, ele escreve, mas, para barrarem
nossas reuniões, eles terão de nos matar. No relato de Hitler, há
chuvas de golpes e combatentes caindo no chão, e lá ele
permanece, prosseguindo com seu discurso, recusando-se a ser
intimidado pelo caos que o cerca.19
Esses confrontos do início do fascismo e do nazismo me fazem
lembrar dos confrontos entre os seguidores da esquerda e os
partidários de Trump durante a campanha. Com isso, não apenas
quero dizer que estes são uma reminiscência daqueles. Quero dizer,
porém, que os manifestantes contra Trump se veem como que
batalhando uma batalha antifascista. Seus cartazes comparam
Trump a Hitler e a Mussolini. Um retrato padrão é Trump com o
bigode de Hitler; outro é uma representação de Trump paralelo a
Mussolini. Os manifestantes autodenominam-se antifascistas, ou,
abreviando, Antifas.
O período eleitoral foi dominado por confrontos acalorados, às
vezes violentos. Curiosamente, todos ocorreram durante os
comícios de Trump; não houve incidentes durante os comícios de
Hillary. Em dada ocasião, Trump teve de cancelar um comício em
Chicago, pois nem mesmo a polícia conseguiu controlar o caos. Em
San José, os esquerdistas atacaram os apoiadores de Trump com
ovos, gerando embates enérgicos, inclusive empurra-empurra e
pancadaria. Embora esse tipo de coisa tenha sido comum na Itália e
na Alemanha durante o início do século XX, não se via algo assim
na política norte-americana desde os acessos frenéticos da década
de 1960.
O próprio Trump parecia impaciente com os desordeiros. Certa
vez, ele falou de um manifestante: “Eu gostaria de dar um soco na
cara desse sujeito”. Para outro, ele disse: “Nos velhos tempos, eles
o arrancariam daqui bem depressa”. Trump já se ofereceu a pagar
os honorários de eleitores que tomassem parte contra os
manifestantes. No entanto, nenhuma vez Trump pediu que eles
perturbassem os comícios de Hillary. Em geral, sua posição era:
“Temos manifestantes que são sujos. Eles são realmente perigosos,
eles entram aqui e começam a bater em todo mundo”. Quando um
grupo de manifestantes latinos tentou interromper o comício que
Trump realizava em Miami, ele disse à multidão: “Vocês podem tirá-
los daqui, mas não os machuquem”.20
Mais tarde, um grupo chamado Project Veritas lançou evidências
gravadas em vídeo de que a campanha de Hillary e os grupos
esquerdistas haviam pagado manifestantes para provocar violência
nos comícios de Trump. Ainda assim, os principais meios de
comunicação culpam Trump pela violência. O argumento parecia ser
o de que, mesmo quando a esquerda dá início à confusão, a
violência seria uma resposta natural e justificável à retórica
incendiária de Trump. A mídia retratou os baderneiros da Antifa
como opositores heróicos tentando barrar a ascensão do nazismo
na América.
Quero, agora, concentrar-me na violência pós-eleitoral, uma vez
que é algo bastante incomum na América. Afinal, a eleição acabou e
o presidente está eleito. Houve, entretanto, protestos e perturbações
maciças nos eventos referentes à posse presidencial. Esses
protestos foram organizados por uma miscelânea, mélange, de
grupos, dos quais o mais proeminente parecia ser um chamado
Refuse Fascism. De acordo com um dos seus panfletos, “É o
caráter fascista do regime de Trump/Pence que o torna ilegítimo e
um perigo à humanidade”. O chamado do grupo à resistência foi
assinado pelo ator Ed Asner, pelo ativista Bill Ayers, pelas
comediantes Margaret Cho e Rosie O’Donnell, pela autora Alice
Walker, entre outros.21
A polícia se preparou para uma semana de tumultos por ocasião
da posse, e ela estava certa em precaver-se. O problema começou
na DeploraBall, uma reunião independente organizada por Mike
Cernovich, partidário de Trump e acusado de ser da “direita
alternativa” (alt-right). Centenas de manifestantes se reuniram do
lado de fora, gritando “escória nazista” e levantando placas nas
quais estava escrito “Alt-Reich” [“Reich Alternativo”], enquanto os
convidados entravam. Dois homens, um com uma máscara de Hitler
e outro com uma máscara de Mussolini, levantaram placas que
diziam: “Trump é da Direita Alternativa”. Quando os partidários de
Trump gritaram em resposta aos manifestantes, sobreveio o tumulto,
os manifestantes começaram a jogar garrafas nos participantes da
DeploraBall e nos policiais.22
A posse oficial de Trump, por si, provocou reações muito mais
tormentosas vindas da esquerda. Manifestantes, trajados de preto e
muitos usando máscaras, arremessaram pedras, tijolos e pedaços
de concreto, quebrando vitrines, inclusive a de um McDonald’s, de
um Bank of America e de um Starbucks no centro da cidade.
Usando latas de lixo e caixas de jornais, eles atearam fogo no meio
da rua, viraram carros e os incendiaram. Membros do movimento
Black Lives Matter acorrentaram-se a cercas em pontos de controle
de segurança, forçando o Serviço Secreto a interditá-los.
Com helicópteros sobrevoando a região, a polícia usou sprays de
contenção e granadas de atordoamento para conter os
manifestantes. No entanto, quando um SUV da polícia tentou
dispersar a multidão, os manifestantes atiraram pedras, quebrando
a janela traseira do veículo. Ativistas da esquerda se chocaram
contra os policiais, que finalmente os dispersaram com spray de
pimenta. Mais de duzentas pessoas foram presas. Curioso dizer,
onze delas eram jornalistas, que estavam lá supostamente atuando
como mídia, mas aparentemente também participando dos
tumultos.23
Simultaneamente, centenas de manifestantes mascarados
apareceram na Universidade da Califórnia, em Berkeley, para
impedir que um partidário de Trump, Milo Yiannopoulos, fizesse seu
discurso. Eles derrubaram barricadas policiais, quebraram janelas,
depredaram caixas eletrônicos e atacaram a polícia com fogos de
artifício. Eles estavam acompanhados de outras várias centenas de
manifestantes, estudantes e esquerdistas da grande Bay Area,
carregando placas com frases como “É GUERRA”. O grupo que
organizou o protesto foi chamado de By Any Means Necessary
[Faça o que for Necessário], e se posicionou como uma organização
antifascista.
Os manifestantes divulgaram uma declaração dizendo que
estavam lutando para impedir que “um grande fascista na ativa”
invadisse seu câmpus. “Vamos ser claros: Milo Yiannopoulos não
está buscando a liberdade de expressão. Ele está conscientemente
liderando a nazificação da Universidade Americana”.24 Na
realidade, convenhamos, Yiannopoulos é um provocador, é um
comediante e conservador. Ele também é gay e extravagante, que
se autodeclara uma “bicha perigosa” e chama Trump de
“papaizinho”. Ao mesmo tempo que ataca o islã por suprimir
cruelmente mulheres e homossexuais, ele não tem associação
nenhuma com o fascismo ou o nazismo. Só posso imaginar como
ele se encaixaria na Alemanha de Hitler. Mas não importa, do ponto
de vista da oposição, Milo era o nazista e eles estavam protegendo
sua comunidade do nazismo.
Os manifestantes não tinham a intenção de um proceder pacífico.
O objetivo claro era manter Milo do lado de fora. A polícia não pôde
lidar com uma manifestação de tamanha proporção, então o evento
foi cancelado. Observando os manifestantes com suas roupas
pretas, de rostos cobertos, alguns deles brandindo pedaços de pau
e bastões, não pude deixar de pensar nos camisas negras italianos
e nos camisas pardas nazistas desfilando pelas ruas com seus
capacetes, bastões, socos ingleses e correntes. A atmosfera
surrealista de Berkeley refletiu, em certo sentido, o surrealismo que
caracterizou a política americana desde o início do período eleitoral.
Eis, portanto, a ironia. Os manifestantes de Berkeley, assim como
os manifestantes contra Trump em D.C., declararam-se
antifascistas. Porém, é o lado deles que impôs censura ao impedir
que determinado palestrante discursasse num câmpus universitário.
Foram eles também que, mesmo indo contra a lei, impediram
aqueles que apoiavam Trump de participar dos eventos de posse.
Enquanto os adeptos de Trump cuidam dos próprios afazeres, os
esquerdistas só sabem confrontar, assediando-os, ameaçando-os,
quebrando e queimando coisas, e se envolvendo em conflitos contra
a polícia. Como, então, é que os supostos fascistas agem de forma
visivelmente pacífica e legal enquanto os antifascistas se parecem
mais com os fascistas a quem eles supostamente estão resistindo?
A Racionalização da Violência
A princípio, pensava estar simplesmente testemunhando
consequências chocantes de uma eleição chocante. A esquerda não
esperava que Trump vencesse. Em 20 de outubro de 2016, a revista
American Prospect publicou um artigo intitulado “Trump No Longer
Really Running for President” [“Trump já não mais Concorre à
Presidência”], cuja intenção era concluir que o “objetivo político real
de Trump é tornar impossível o governo para Hillary Clinton”. O
resultado das eleições foi, nas palavras do colunista David Brooks,
“o maior choque de nossas vidas”.25 Trump venceu contra
probabilidades praticamente insuperáveis, entre elas os grandes
meios de comunicação que fizeram campanha aberta a favor de
Hillary, além da guerra civil dentro do GOP com toda a ala
intelectual do movimento conservador recusando-se a apoiá-lo. A
princípio, interpretei a revolta impetuosa por parte da esquerda
como uma reação atordoada e calorosa, porém momentânea, à
maior vitória da história política dos Estados Unidos.
Então, duas coisas me fizeram perceber que eu estava errado.
Primeiro, a violência não desapareceu. Houve protestos violentos
como o “Not My President’s Day” [“Dia de Dizer: Não é o meu
Presidente”] por todo o país, em fevereiro; as violentas
manifestações de 4 de março nos comícios de Trump na Califórnia,
Minnesota, Tennessee e Flórida; as manifestações de abril contra os
impostos de Trump, todas supostamente destinadas a forçar Trump
a revelar suas declarações de impostos; as manifestações pró-
impeachment de julho, buscando impulsionar a retirada de Trump do
cargo; e as múltiplas, e convulsivas, manifestações em Berkeley.26
Em Portland, os esquerdistas arremessaram pedras, bolas de
chumbo, latas de refrigerante, garrafas de vidro e dispositivos
incendiários, tornando necessária a intervenção policial sob a
chamada “Alerta, alerta, temos um motim”. Mais cedo, no Capitólio
Estadual de Minnesota, alguns esquerdistas lançaram bombas de
fumaça na multidão pró-Trump enquanto outros preparavam fogos
de artifício dentro do prédio, fazendo com que pessoas fossem
tomadas pelo medo de um ataque terrorista. No rol de detidos
estava Linwood Kaine, filho do candidato à vice-presidência de
Hillary, Tim Kaine.27 Mais do mesmo, sem dúvida, está guardado
pela esquerda pelos próximos quatro anos.
O que isso mostrou é que a esquerda esteve envolvida em
violência premeditada; não uma violência ocasionada por surtos de
fervor, mas uma violência como estratégia política. Muitos da
esquerda justificaram a violência e defenderam o motivo por que a
estavam causando. Como, então, em uma sociedade democrática,
alguns cidadãos pensam ter o direito de calar outros eleitores e de
interromper os resultados de uma eleição sob os ditames da
democracia?
De acordo com Jesse Benn, ao escrever para o HuffPost, Trump
não passa de um fascista do século XXI. Além do mais, “Trump não
existe em um vácuo. Ele é a consequência natural da ala
republicana, que perdura em racismo [...] e do uso de imigrantes
como bodes expiatórios”. A ascensão do fascismo, ele diz, não é um
“típico desacordo político entre os partidários”. Historicamente
falando, os fascistas só foram contidos por uma “insurreição
impetuosa”. Acreditar de forma diferente, ele insiste, é “pôr em risco
sua oposição e expor-se à cumplicidade com uma nova era da
política fascista nos Estados Unidos”.28
Escrevendo para a Atlantic Monthly, Vann Newkirk insiste que
“uma vez que as instituições democráticas não impediram a
ascensão de Trump [...] por que as pessoas que ele pretende
ludibriar e marginalizar deveriam confiar nas instituições
democráticas para as proteger?”. A verdadeira agenda de Trump,
argumenta Newkirk, é baseada na violência: a violência da
construção do muro, a violência da deportação, a violência de
manter as pessoas fora da América por causa de sua religião, a
violência de “punir a mulher por abortar”. Por consequência, um voto
em Trump significa “um voto a favor da ampla disseminação da
violência”. Diante de uma ameaça fascista à vida e à liberdade, os
manifestantes não têm escolha senão usar de força para a própria
defesa. A única maneira de cessar a violência é fazer com que
Trump desista de sua agenda ou que seus defensores o substituam
por “alguém menos virulento”.29
Escrevendo para a Nation, Natasha Lennard inicia com a
premissa de que, porquanto Trump representa o fascismo, “é
constitutivo ao fascismo exigir um tipo diferente de oposição”.
Lennard argumenta que não faz sentido lutar contra o fascismo com
argumentos; em vez deles, o fascismo só pode ser interrompido
com o uso da força física, do mesmo tipo que foi usada pelas
brigadas que combateram Franco na Espanha ou pelos grupos
comunistas que lutaram contra os nazistas na década de 1920 e no
início dos anos 1930. Os antifascistas, ela conclui, estão
empenhados em impedir que os fascistas tenham voz: “a
característica essencial do antifascismo é que ele não tolera o
fascismo; não se trata de uma plataforma para debates”.30
Escrevendo para a Salon, ainda no período de campanha
eleitoral, o ativista Chauncey DeVega começou por admitir que
“numa democracia em funcionamento, a violência política deveria,
quase sempre, ser condenada”. No entanto, neste caso, DeVega
estaria disposto a fazer uma exceção, porque Trump é um
“incendiário político” que, além disso, está “do lado errado da
História”. Segundo DeVega, a violência da esquerda é “uma
resposta às ameaças abertas e implícitas de danos físicos e outros
prejuízos e males causados por Donald Trump e por aqueles que o
apoiam contra imigrantes hispânicos sem documentação,
americanos negros, outras pessoas de cor e muçulmanos”. Observe
com cuidado a linguagem usada por DeVega: mesmo que os
partidários de Trump não sejam de fato violentos, caso considerados
“ameaças abertas ou implícitas”, a esquerda possui justificativas
para usar de violência efetiva contra eles.31
Sentimentos como esse também ecoaram no artigo do ativista
Kelly Hayes intitulado “No Welcome Mat for Fascism: Stop Whining
About Trump’s Right to Free Speech” [Sem Tapete de Boas-Vindas
para o Fascismo: Pare de Choramingar pelo Direito de Trump à
Liberdade de Expressão].32 De fato, o argumento total de todos
esses escritores pode ser resumido em uma única frase: “Não à
liberdade de expressão para os fascistas”. Esta frase — percebe-se
— remonta à década de 1960, quando usada pela Nova Esquerda
em protestos contra a Guerra do Vietnã. A inspiração para tal lema
veio de um professor de Berkeley chamado Herbert Marcuse, boa
parte das vezes esquecido em nossos dias, mas um guru para os
radicais dos anos 1960; sua base argumentativa, porém, está agora
no centro do debate político contemporâneo.
Marcuse argumentou que a esquerda é o partido da tolerância,
mas que a tolerância não é para todos: só para pessoas tolerantes.
Na visão de Marcuse, a esquerda não deve ser tolerante com os
intolerantes. As pessoas intolerantes, segundo ele, são basicamente
fascistas. Elas se recusam a respeitar o processo democrático;
assim, por que deveriam receber o respeito que recusam aos
outros? Marcuse então argumenta que, em vez de tolerar esses
fascistas de direita, a esquerda deveria reprimi-los, calá-los, e até
mesmo espancá-los ou matá-los. Em essência, a esquerda deveria
destruir o fascismo por todos os meios necessários, do contrário os
fascistas os destruiriam.
O argumento de Marcuse ecoa o próprio Hitler, que disse que ou
os nazistas destruiriam os judeus ou os judeus destruiriam os
nazistas. “Se eles vencerem”, escreve Hitler, “Deus nos ajude!
Todavia, se nós vencermos, que Deus os ajude!”. Marcuse mesmo
era um refugiado da Alemanha nazista. Ele também fugiu da
brutalidade do nazismo. Mas, ao mesmo tempo, ele também viu a
eficácia nazista em dispersar seus inimigos e levar o próprio povo
alemão à submissão. Marcuse basicamente argumentava que, para
derrotar o nazismo na América, seria preciso que a esquerda se
valesse de táticas nazistas.
Por táticas nazistas não me refiro apenas à violência de
estudantes e ativistas irritados. Também me refiro ao que os
nazistas chamaram de Gleichschaltung. O termo em si significa
“coordenação”, “uniformização”, e refere-se ao esforço nazista de
usar a intimidação em todas as instituições culturais da sociedade
para que todos se alinhem às prioridades e à doutrina nazistas. Os
progressistas na América estão usando seu predomínio — na
verdade, seu total monopólio — na área acadêmica, no campo de
Hollywood e nos meios de comunicação para impor seu próprio
Gleichschaltung.
Eles fazem isso não somente por meio da propaganda descarada
e da completa mentira que deixaria Joseph Goebbels orgulhoso,
mas também através da batalha implacável e da exclusão forçada
das vozes dissidentes de suas instituições culturais, de modo que a
voz deles seja o único ponto de vista comunicado à grande maioria
dos estudantes e cidadãos. Novamente, do ponto de vista da
esquerda, tais intimidações e exclusões são justificadas porque é
correto e adequado que os antifascistas usem de repressão contra
aqueles que eles consideram fascistas.
Todo esse modus operandi — que Marcuse chamou de “tolerância
repressiva”, e que está encapsulado na doutrina não à liberdade de
expressão para os fascistas — está, agora, no cerne de nosso
debate político. Isso levanta duas perguntas importantes. Primeiro, é
verdade que os fascistas não merecem ser ouvidos e é justificável
negar-lhes direitos civis e constitucionais? Em segundo lugar — a
pergunta mais importante —, é verdade que as pessoas que a
esquerda chama de fascistas e nazistas são de fato fascistas e
nazistas?

Os Verdadeiros Fascistas
Essas são as perguntas que pretendo responder neste livro. A
primeira pergunta eu deixo para o capítulo final, onde a respondo
com um ressonante não. Irônico o bastante, os esquerdistas
deveriam gostar da resposta que dou, pois basicamente estou
dizendo é que não se pode privá-los de seus direitos civis e
constitucionais. Eles são os verdadeiros fascistas, mas ainda assim
merecem a plena proteção da constituição e da lei. E também
concordo com o princípio de que os fascistas não podem ser
combatidos do modo convencional. É preciso especial coragem para
derrotar um movimento tão vicioso e perverso. O que se faz
necessário para derrotar a esquerda é nada menos que a
desnazificação, e no final deste livro mostro como isso pode ser
feito.
Meio que tendo dado a resposta, respondo agora à outra
pergunta, mais abrangente e mais importante: quem são os
verdadeiros fascistas da política americana? Essa pergunta
raramente é feita de forma séria, e por isso quero dar crédito a dois
importantes predecessores notáveis que já araram este solo.
Primeiro, o economista Friedrich Hayek, cujo livro The Road to
Serfdom [O Caminho para a Sujeição], publicado pela primeira vez
em 1944, fez a afirmação surpreendente de que democracias
ocidentais sob o Estado do bem-estar social [Welfare State], tendo
derrotado o fascismo, estavam se movendo inexoravelmente na
direção fascista.
Hayek identificou o fascismo como um fenômeno de esquerda, um
primo do socialismo e do progressismo. E alertou: “O surgimento do
fascismo e do nazismo não foi uma reação contra as tendências
socialistas do período anterior, mas um resultado necessário dessas
mesmas tendências”. Embora o livro de Hayek tenha sido escrito
num tom pedante e medido, apelando aos progressistas que
aprendessem de alguém que testemunhou experiencialmente a
ascensão do fascismo na Europa, estudiosos progressistas, como,
por exemplo, Herman Finer, puseram-se de imediato a criticar
Hayek, acusando-o de exibir um “profundo desprezo hitleriano pelo
homem democrático”.33
Se percebida nessa reação a tentativa progressista, que já soa
familiar, de se apossar da cartada hitleriana e jogá-la de volta contra
Hayek, então já há um vislumbre de como a grande mentira
funciona. Aqui está Hayek argumentando como os progressistas
estão se movendo em direção a Hitler; porém, sem responder à
acusação, não propondo nenhuma evidência que lhes dê algum
suporte, a esquerda se volta e acusa Hayek de ser feito Hitler.
Jonah Goldberg recebeu praticamente o mesmo tratamento ao
seu importante livro Liberal Fascism [Fascismo Liberal]. Goldberg
argumenta: “O que chamamos de liberalismo — o edifício
remodelado do progressismo americano — é, de fato, um
descendente e uma manifestação do fascismo”. Goldberg
argumenta que o fascismo e o comunismo, longe de serem opostos,
são “concorrentes históricos intimamente relacionados para os
mesmos constituintes”. Goldberg nomeia o progressismo de
“movimento irmão do fascismo” não menos que o comunismo, o
qual exibe uma “semelhança familiar que poucos admitem
reconhecer”.34
Goldberg traça inúmeros paralelos entre o progressismo e o
fascismo, deixando clara a longa lista esquerdista nas plataformas
de Mussolini e de Hitler, para, em seguida, mostrar seu paralelo com
o progressismo americano moderno. Goldberg consegue ir fundo,
detectando até mesmo o odor do fascismo nas políticas modernas
de ambientalismo progressista, vegetarianismo, medicina holística e
políticas pedagógicas. Embora às vezes exagere nas comparações
que faz com o fascismo, seu livro vale muito a pena ser lido em
virtude da originalidade e abrangência apresentadas. Pois então,
mais uma vez, a esquerda, vingativa, colocou-se contra Goldberg,
acusando-o de ser, sem contar todas as demais coisas, fascista.
Hayek e Goldberg são o ponto de partida para o meu livro. Mas
vou muito além e cavo em áreas de pesquisa intocadas por eles.
Hayek, por exemplo, afirmou que o fascismo e o nazismo emergiram
da esquerda, mas nunca explicou como isso aconteceu. Com base
no trabalho de estudiosos como Anthony James Gregor, Renzo De
Felice e Zeev Sternhell, conto a fascinante história de como o
fascismo e o nazismo emergiram de um debate dentro do
socialismo. O problema surgiu quando as profecias centrais do
marxismo não se cumpriram. Foi em uma enorme crise que a
esquerda caiu, e o marxismo basicamente dividiu-se em dois
campos: o primeiro tornou-se o leninismo e o bolchevismo, o outro
tornou-se o fascismo e o nazismo.
Goldberg associa a esquerda americana ao fascismo, mas não se
atreve a fazer ligação equivalente com o nazismo, provavelmente
não querendo se arriscar a associar a esquerda com genocídios e
campos de concentração. É daí que realmente começo com meu
livro. Conforme Goldberg bem sabe, o fascismo e o nazismo são
duas coisas diferentes. Hitler praticamente nunca referiu a si mesmo
como fascista, e Mussolini nunca se autodenominou nazista ou
nacional-socialista. Pretendo demonstrar que há conexões
profundas não apenas entre a esquerda e o fascismo, mas também
entre a esquerda e o nazismo.
De certa forma, os democratas progressistas estão ainda mais
próximos dos nazistas alemães do que dos fascistas italianos. Os
fascistas italianos, por exemplo, eram muito menos racistas do que
o Partido Democrata nos Estados Unidos. Não existem, referindo-se
à Itália, paralelos para o terrorismo racial disfarçado do Ku Klux
Klan, que também era apoiado pelo Partido Democrata, mas estes
são encontrados na Alemanha nazista. As políticas democratas de
supremacia branca, segregação racial e discriminação fomentadas
pelo Estado eram também estranhas ao fascismo italiano, mas
comuns ao Terceiro Reich.
Aqui, por exemplo, está uma passagem do livro The Anatomy of
Fascism [A Anatomia do Fascismo], de Robert Paxton: “Pode ser
que o fenômeno mais antigo a ser eficientemente ligado ao fascismo
seja americano: a Ku Klux Klan”. Muito antes dos nazistas, Paxton
salienta, a KKK adotou seu uniforme segregado, de vestimentas e
capuzes, e engajou-se no tipo de intimidação e violência que
ofereceu “uma prévia contundente do modo como os movimentos
fascistas deveriam funcionar na Europa no período entreguerras”.35
Ainda que pareça uma concessão surpreendente quando por um
progressista, Paxton protege seu lado político não mencionando
que, durante esse período, a Ku Klux Klan era o braço terrorista da
família do Partido Democrata.
O racismo do Partido Democrata na América não só precedeu o
racismo dos nazistas, mas perdurou por muito mais tempo — mais
de um século, em comparação com os doze anos do domínio
nazista sobre a Alemanha. O racismo do Partido Democrata após a
Guerra Civil foi precedido pela defesa da escravidão e pelo apoio às
políticas de reassentamento e extermínio de índios americanos por
parte desse mesmo partido. Pensamos em conceitos como
“genocídio” e “campos de concentração” como exclusivos ao
nazismo, mas que termo exceto genocídio usar para descrever o
reassentamento em massa dos índios pelo presidente democrata
Andrew Jackson? Jackson e seus aliados não buscaram
sistematicamente despojar, deserdar e desmembrar os índios como
povo? Usando a definição oficial de genocídio dada pelas Nações
Unidas, demonstro que, sim, foi um genocídio.
Além disso, o que mais seriam as fazendas de escravos senão
um tipo particular do campo de concentração? Sim, pode parecer
uma analogia ultrajante. Como comparar um sistema de trabalho
forçado, por mais injusto que seja, aos campos nazistas, projetados
e usados para matar seres humanos? No entanto, como mais
adiante será analisado, os campos de concentração também eram
campos de trabalho. Nos campos de concentração alemães e nas
fazendas de escravos regidas pelos democratas, em ambos o
trabalho forçado era empregado com “ferramentas humanas”
unicamente no que dizia respeito à produtividade, mas com pouca
ou nenhuma consideração pela vida dos trabalhadores, que eram,
em ambos os casos, considerados inferiores e até mesmo sub-
humanos. A analogia entre dois dos piores sistemas de
confinamento compulsório e de trabalho forçado na história da
humanidade não é meramente legítima; ela já passou da hora de
ser feita.
Além do mais, toda essa questão foi levada a um patamar
completamente novo desde a publicação do livro, um marco
pioneiro, do historiador Stanley Elkins, Slavery [Escravidão]. Elkins,
tecendo paralelos bem elaborados, não só se refere às fazendas de
escravos como um “sistema fechado” consanguíneo do campo de
concentração, mas também mostra que a escravidão produziu tipos
de personalidades estranhamente semelhantes às descritas pelos
sobreviventes dos campos nazistas. Logo, a questão é que, mesmo
em algumas das instituições e práticas associadas exclusivamente
aos nazistas — do genocídio aos campos de concentração —, os
democratas, em determinado sentido, foram os primeiros a chegar
lá.
Aprendendo com Hitler
Neste livro, mostro o que a esquerda aprendeu com os nazistas e
também o que, por sua vez, a esquerda lhes ensinou. Acontece que
a esquerda forneceu aos nazistas certos esquemas políticos muito
importantes, os quais, por sua vez, foram por eles implementados
na Europa com disposição assassina. Por exemplo, Hitler disse
especificamente que pretendia deslocar e exterminar os russos, os
poloneses e os eslavos do mesmo modo como os americanos na
era jacksoniana haviam deslocado e exterminado os índios. As leis
nazistas de Nuremberg foram diretamente modeladas com base nas
leis de segregação e nas leis contrárias ao casamento inter-racial, já
implementadas décadas antes no Sul democrata.
A esterilização forçada e a eutanásia, cujos objetivos eram
eliminar os “defeitos” raciais e produzir uma raça nórdica “superior”,
foram outros dois programas que os nazistas tomaram dos
progressistas americanos. Não é minha opinião sobre o assunto,
esta era a visão dos eugenistas da Alemanha nazista. No início do
século XX, a eugenia e o darwinismo social eram muito mais
predominantes na América do que na Alemanha. Margaret Sanger e
seus companheiros eugenistas e progressistas não tomaram dos
nazistas suas ideias de matar aqueles seres indesejáveis — ou de
impedir-lhes a concepção. Mas foram os nazistas que as tomaram
de seus homólogos americanos, os quais dominavam o campo
internacional da eugenia. Há, portanto, uma via de mão dupla entre
o nazismo e a esquerda americana.
Essa é uma história que compromete profundamente os heróis do
progressismo americano: Woodrow Wilson, Franklin D. Roosevelt e
John F. Kennedy. Wilson foi um verdadeiro progenitor do fascismo
americano. Eu o chamo de protofascista. Ademais, foi ele um racista
que carrega praticamente toda a culpa pelo ressurgimento da Ku
Klux Klan, organização que, de acordo com o historiador Robert
Paxton, foi a precursora americana mais próxima de um movimento
nazista.
Mussolini era, o que ficará evidente, avidamente admirado por
Franklin D. Roosevelt (FDR), que procurou importar programas
fascistas italianos para a América. FDR também colaborou com os
piores elementos racistas do solo americano, trabalhando com eles
para impedir as leis contrárias ao linchamento, para excluir os
negros dos programas do New Deal e nomear um ex-membro da Ku
Klux Klan à Suprema Corte. Mussolini, por sua vez, elogiou o livro
de FDR, Looking Forward [Olhando Adiante], e basicamente o
considerou mais um companheiro fascista. Hitler também o tinha por
congênere de espírito, em consonância com o jornal oficial do
Partido Nazista, Volkischer Beobachter, e outros impressos da
Alemanha nazista que louvavam o New Deal por este ocupar um
tipo americano de fascismo.
JFK percorreu a Alemanha nazista na década de 1930 e voltou
efusivo, tecendo elogios a Hitler e sua teoria da superioridade
nórdica. “Cheguei à conclusão”, escreveu JFK em seu diário, “de
que o fascismo é o caminho certo para a Alemanha e para a Itália”.
Ao visitar a Renânia, JFK fez eco à propaganda nazista da época.
“As raças nórdicas parecem definitivamente superiores aos
romanos”. A hostilidade a Hitler, insistiu JFK, decorria sobretudo de
ciúmes. “Os alemães realmente são muito bons — é por isso que as
pessoas conspiram contra eles”. Apesar de ter lutado na Segunda
Guerra Mundial, JFK continuou tendo uma queda por Hitler,
inclusive até 1945, quando ele o descreveu como “a suma das
lendas [...] Hitler emergirá do ódio que agora o rodeia e será
considerado uma das figuras mais significativas que já viveu”.36
Tais fatos incriminatórios são do conhecimento de muitos
intelectuais progressistas. E foi depois da Segunda Guerra Mundial,
quando este grupo passou a dominar cada vez mais a academia —
um domínio completamente consolidado no final da década de 1960
—, que os progressistas reconheceram como seria esmagador se
os americanos conhecessem a verdadeira história do progressismo
e do Partido Democrata. E se o povo, especialmente o público
jovem, soubesse dos vínculos entre figuras progressistas
reverenciadas hoje como Wilson, FDR e JFK, de um lado, e, do
outro, aquelas repudiadas como Mussolini e Hitler? Chegar a esse
conhecimento não simplesmente derrubaria heróis progressistas de
seu pedestal, mas, basicamente, sinalizaria o fim do progressismo e
do Partido Democrata.
Desse modo, os progressistas decidiram contar uma nova história,
e esta é a história que hoje vigora. Nesta história, o fascismo e o
nazismo, que eram, desde o princípio, reconhecidos como
fenômenos de esquerda por ambos os lados do Atlântico, agora
foram transportados para os pilares da direita. De repente, Mussolini
e Hitler tornaram-se “de direita”, ao contrário daqueles que
supostamente os levaram ao poder, que transformaram-se em
“conservadores”. A esquerda, então, tornou-se a gloriosa resistência
contra o fascismo e o nazismo.
Para que a história funcionasse, o fascismo e o nazismo tiveram
de ser radicalmente redefinidos. O grande problema era que
Mussolini e Hitler identificavam o socialismo como o cerne do
fascismo e do weltanschauung nazista. Mussolini era a figura
principal do socialismo revolucionário italiano e nunca renunciou sua
fidelidade ao sistema. Já o partido de Hitler definiu-se como
defensor do “nacional-socialismo”. Assim, os progressistas tiveram
de descobrir como transportar esses esquerdistas confessos para a
direita e como arrancar o “socialismo” do “nacional-socialismo”. Não
foi uma tarefa fácil.
Como fazê-lo? Pegando uma deixa dos marxistas, a esquerda
resolveu, já na década de 1960, suprimir completamente o fato de
que o fascismo e o nazismo eram, ambos, sistemas de pensamento,
conjuntos de crenças. De acordo com Denis Mack Smith, historiador
de esquerda, “o fascismo italiano não se originou como doutrina,
mas como método, como uma técnica para ganhar poder, ainda
que, à primeira vista, seus princípios não fossem claros até para os
seus próprios membros”. O historiador Ruth Ben-Ghiat, citado
constantemente pela mídia que vincula Trump ao fascismo, insiste,
no entanto, que o fascismo é “uma daquelas palavras muito difíceis
de definir com precisão”, porque “o regime fascista dizia respeito a
tudo quanto era contradição, e esse tipo de ambiguidade
permaneceu no fascismo”.37
Na verdade, tais tolices só podem ser sustentadas quando há
recusa de levar os próprios fascistas a sério. Conforme o historiador
Anthony James Gregor escreve: “Sob a influência desagradável da
análise que o marxismo faz do fascismo, as declarações fascistas
nunca são analisadas como tais. Elas são sempre “interpretadas”.
Os fascistas nunca são compreendidos naquilo que dizem. Por
consequência, houve, até o momento, pouquíssimo esforço para
fornecer um relato sério do fascismo como ideologia”.38 Entretanto,
a esquerda reconheceu no fascismo tendências amorfas que
poderiam ser aplicadas com facilidade em outras várias doutrinas
políticas: o autoritarismo, o militarismo, o nacionalismo, etc.
Pense no seguinte: conhecemos o nome do filósofo do
capitalismo, Adam Smith. Também conhecemos o nome do filósofo
do marxismo, Karl Marx. Então, rápido, qual o nome do filósofo do
fascismo? Pois é, exatamente. Você não sabe. Praticamente
ninguém sabe. Meu ponto é: a razão disso não é que não havia
pensadores basilares para a formação e estruturação do corpo
fascista — seus nomes aparecem neste livro —, mas, sim, que a
esquerda teve de livrar-se deles para evitar o confronto com suas
inevitáveis propensões socialistas e esquerdistas. Pois então —
assim como quando o Hillary’s America surgiu —, os progressistas
concordaram entre si dizendo: “Vamos fingir que nada disso existe,
pode ser?”. Eis a grande mentira a todo vapor.
Se o estatismo e o coletivismo estão no cerne do fascismo, o
nacional-socialismo acrescenta outro ingrediente explosivo — o
antissemitismo. Trata-se de algo já bem conhecido. O que os
progressistas têm cuidadosamente disfarçado, no entanto, é o
quanto o antissemitismo nazista surgiu do ódio de Hitler pelo
capitalismo. Hitler estabelece uma distinção crucial entre o
capitalismo produtivo, que ele consegue suportar, e o capitalismo
financeiro, que ele associa aos judeus. Para Hitler, o judeu é o
avarento improdutivo no centro do capitalismo financeiro, o
empreendedor trapaceiro par excellence. Dificilmente parece ser de
“direita”; com efeito, em havendo alguma leve modificação, isso
ecoa uma retórica progressista sobre os gananciosos banqueiros da
Wall Street. Nessa condição, os progressistas perceberam a
necessidade de esconder a verdadeira base do antissemitismo de
Hitler; para tanto, o próprio antissemitismo precisou ser redefinido.
Como você pode facilmente perceber, o que está em cena é uma
grande, uma grande mentira — uma mentira que continua a crescer
e que contém várias mentiras menores —, e é daí que o meu
trabalho fica mais fácil. Mas, antes, é preciso compreender a grande
mentira em todas as suas dimensões, a fim de nos mantermos livres
dela. Uma vez livres, a esquerda estará acabada. O seu poder
sobre nós desaparecerá. Eles tinham em mãos a cartada racial e
agora têm a cartada nazista, mas não têm nenhuma outra cartada.
Se eles a perderem, perderão seu capital moral e estarão expostos
ao que realmente são — fanáticos, intolerantes, facínoras,
assassinos, vis e egoístas, ladrões da vida e da liberdade. Eles são
os verdadeiros descendentes de Mussolini e de Hitler; ao derrotá-
los, poderemos finalmente descansar dos fantasmas do fascismo e
do nazismo.
Capítulo Dois
Falsificando
a História

A propaganda é sempre um meio para determinado fim. A


propaganda que produz os resultados desejados é boa, todas as
demais são ruins.1
Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda Nazista
Este capítulo expõe a falsificação da história que apoia a acusação
de que Trump e o GOP são os fascistas e nazistas do século XXI.
Tamanha falsificação é produto de setenta anos de dissimulação e
engano progressistas. O engano envolve destacar características
ocasionais de Mussolini e Hitler e fingir que eles representam o
fascismo no aspecto mais essencial. A dissimulação envolve
esconder a verdadeira essência do fascismo — ocultando, inclusive,
o próprio nome de seu principal filósofo —, pois, uma vez exposta,
torna-se óbvio que Trump e o GOP não podem ser fascistas e que,
pelo contrário, o fascismo e o nazismo são ideologias inerentes à
esquerda. Na verdade, veremos os paralelos surpreendentes entre
os temas centrais do fascismo e do nazismo do século XX, e os
temas do progressismo americano do século XXI.
Antes de entrar neste tópico, importa esclarecer o que se quer
dizer pelos termos “esquerda” e “direita”. O uso político de ambos
remonta ao ano de 1789 e à Revolução Francesa. Na Assembleia
Nacional em Paris, os partidários da Revolução sentaram-se do lado
esquerdo e seus oponentes, do lado direito. É assim que surgiu a
origem da “esquerda” e da “direita”. O termo “direita”, neste
contexto, refere-se aos defensores do Ancien Régime, desejosos de
que a França retornasse à aliança entre a Coroa e a Igreja, que
precedeu a revolução. O termo “conservador” passou a descrever a
velha guarda, que intentava conservar a monarquia e as
prerrogativas da Igreja estabelecida pelo Estado contra a derrubada
revolucionária.
Logo, de imediato, surge um problema: se isso for o que “direita” e
“conservador” significam, então não há líderes de direita ou
conservadores na América. A América nunca passou pela
monarquia nem teve uma igreja oficial. Os conservadores
americanos modernos não têm a intenção de introduzir nenhum dos
dois. Em que sentido, então, os conservadores modernos são de
direita? O que é que os conservadores americanos querem
conservar?
A resposta é bastante simples. Eles querem conservar os
princípios da Revolução Americana. Assim, a direita francesa se
opunha à Revolução Francesa, ao passo que a direita americana
defende a Revolução Americana. Se parece paradoxal usar os
termos “conservar” e “Revolução” na mesma frase, é esse
paradoxo, no entanto, que define o conservador moderno. A
Revolução Americana caracterizou-se por três liberdades básicas:
liberdade econômica, ou capitalismo, liberdade política, ou
democracia constitucional, e liberdade de expressão e religiosa.
Essas são as liberdades que os conservadores americanos
procuram preservar em suas formas originais.
Como os Pais Fundadores entenderam, a principal ameaça à
liberdade vem do governo federal. Consequentemente, nossos
direitos são mecanismos de proteção contra a invasão e intervenção
excessiva do governo. É por isso que a Declaração dos Direitos dos
Estados Unidos se inicia com: “Ao Congresso é proibida a criação
de leis”. Tendo posto grilhões ou restrições no governo federal, são
garantidos os direitos e liberdades fundamentais, cujo objetivo é dar
ao americano o poder da “busca por felicidade”. A felicidade é o fim
e os direitos e as liberdades são os meios que conduzem a esse
fim. Os americanos de direita são aqueles que, limitando o poder
centralizado do Estado, procuram proteger os direitos dos
americanos de buscar pela felicidade.
“Um despotismo eletivo”, disse Jefferson, “não é aquilo por que
lutamos”.2 O Partido Democrata-Republicano de Jefferson precedeu
o atual sistema de dois partidos, mas o que ele pensava e sentia vai
bem ao encontro do coração daquilo que direitistas e conservadores
apoiariam com fervor. Nem mesmo os governos eleitos têm poder
ilimitado. Estes devem operar dentro de um domínio específico;
quando o ultrapassam, tornam-se uma ameaça à nossa liberdade e,
a este respeito, tirânicos. Hoje, não mais é preciso obedecer a uma
tirania eleita como os próprios Pais Fundadores foram obrigados a
obedecer à autoridade tirânica da Coroa britânica.
Limitando o poder do Estado, os conservadores procuram, entre
outras coisas, proteger o direito do povo de reter os frutos do próprio
trabalho. Abraham Lincoln, o primeiro presidente republicano da
América, posicionou-se ao lado da tradição dos Pais Fundadores
quando disse: “Sempre pensei que o homem que planta o milho
deve, também, comer o milho”. Lincoln, bem como os Fundadores,
não temia que a propriedade privada ou os ganhos privados
pudessem causar desigualdade econômica. Em vez disso, ele
acreditava que, assim como três dos Pais Fundadores haviam
escrito no Artigo 10 do O Federalista, “a proteção de diferentes e
desiguais faculdades de aquisição de propriedade” é a “primeira
finalidade do governo”.3
Os conservadores americanos também procuram preservar a
ordem moral transcendente que, embora não especificada na
Constituição, está clara sob a fundação americana. Considere,
como um único exemplo, a proposição da Declaração de
Independência de que todos somos “criados iguais” e dotados de
“direitos inalienáveis”, incluindo o “direito à vida”. Para os
conservadores, isso significa que a vida humana é sagrada, dotada
da dignidade oriunda da criação divina, tão preciosa que o direito à
vida não pode ser vendido, mesmo com o consentimento do
comprador e do vendedor; e, por fim, que nenhum governo pode
violar o direito à vida sem que esteja perpassando e violando os
valores morais e políticos mais basilares da América.
Muito já foi dito a respeito da política de “direita”, e quanto à
política de “esquerda”? A esquerda na América é definida por sua
hostilidade às restrições postas sobre o governo federal pelos Pais
Fundadores. É por essa razão que os esquerdistas costumam
lamentar as restrições constitucionais sobre o poder do governo,
alegando que a Constituição está tristemente desatualizada e
pedindo que seja adotada, em vez disso, uma “Constituição viva” —
uma Constituição adaptada ao que a esquerda considera
progressista. Na verdade, hoje em dia, muitos esquerdistas usam
para si o termo “progressista” como rótulo político preferido. Eles
costumavam se chamar de “liberais”, termo que pretendia fazer
referência à liberalidade, ou à liberdade; já agora eles se valem da
palavra “progressista”, um termo que os identifica com o futuro em
oposição ao passado.
O termo progresso é, em si, um termo vago, tornando-se
necessário, portanto, compreender o que os progressistas querem
dizer quando o utilizam. O que eles querem dizer é o progresso em
direção a um maior poder e controle do governo. Os progressistas,
em outras palavras, são paladinos do poder do Estado centralizado.
Três palavras muito ruins no progressismo moderno são “direitos
dos estados”. Os progressistas são mais felizes quando o governo
federal controla as coisas e ainda mais quando eles mesmos são
responsáveis por esse governo federal. Isso é o que garante o
“progresso”; sejam quais forem, reveses contra o programa
representam “reacionarismo” e “regresso”. Sem espanto nenhum, os
esquerdistas chamam de “regressistas” ou “reacionários” os
conservadores que resistem à expansão do poder do governo.
Mas por que o poder do Estado deve ser tão centralizado?
Enquanto os Fundadores consideravam o governo como o inimigo
dos direitos, a esquerda progressista considera o governo federal
como seu amigo, como aquele que lhe garante tais direitos. Além
disso, os progressistas desconfiam do sistema de livre mercado e
querem que o governo controle e direcione a economia, não
necessariamente nacionalizando ou controlando empresas privadas,
mas, no mínimo, regulamentando suas operações e,
ocasionalmente, delimitando suas estratégias.
Ademais, a esquerda busca autoridade governamental para impor
e institucionalizar valores progressistas como o aborto e os direitos
iguais para gays e transexuais, tudo sob financiamento do governo
federal. A partir do posicionamento acerca do aborto, já se percebe
que a esquerda rejeita a ideia de uma ordem moral transcendente,
rechaçando-a tão fixamente quanto se opõe ao princípio
conservador de um direito inalienável à vida. Então, se a “direita”, na
América, significa um governo limitado e não intrusivo com amplo
alcance para a busca individual da felicidade, a “esquerda”, na
América, significa um poderoso Estado centralizado que implementa
valores esquerdistas e é controlado pela esquerda.

Introduzindo a Mentira
Munidos desta compreensão dos termos esquerda e direita, agora
cabe investigar para saber se acaso Trump e o GOP estão de
alguma forma aliados ao fascismo e ao nazismo; e, caso não
estejam, quem está. Não faz sentido começar com os vários
especialistas como Bill Maher, Chris Matthews, Michael Kinsley ou
Chris Hedges que, em sua própria forma vulgar, igualaram Trump a
Hitler. Parece óbvio que nenhum deles sabe nada sobre o fascismo
senão por tagarelices durante coquetéis. Típico disso é Matthews,
que chamou de “cheiro de fascismo” o fato de Trump ter demitido o
diretor do FBI, mesmo que o presidente tenha todo o direito de
substituir seu diretor do FBI, como Bill Clinton fez.4 Não mencionarei
os demais listados.
Mas as coisas tornam-se interessantes quando um grande
estudioso progressista do fascismo se envolve. Então, começo com
duas entrevistas do historiador Robert Paxton, autor da obra The
Anatomy of Fascism, seguidas de uma citação especialmente
reveladora desse livro. A primeira entrevista é com a âncora de um
programa de esquerda, Amy Goodman, que parecia bastante
incomodada por Trump haver retuitado uma citação de Mussolini. A
citação dizia: “É melhor viver um dia como leão do que cem anos
como ovelha”. Quando exigiram que se retratasse, Trump se
recusou. “É uma citação muito boa”, disse ele. “Que diferença faz se
foi Mussolini ou outra pessoa?”. Aqui está a marca registrada do
destemor de Trump. Ele acha a citação boa e se recusa a ser
assustado pela associação supostamente radioativa com Mussolini.
Paxton observa com ironia os comentários de Trump: “Eu o
considero tolerante demais com esse tipo de oratória política”. Em
outra parte da conversa, Paxton observa que, assim como Hitler,
“Não faz muito tempo, Trump era motivo garantido de boas
gargalhadas. Era visto como um bufão. Tudo o que você tinha de
fazer era mostrar o cabelo e chamá-lo de “Donald” e todo mundo
ria”.5 Segue-se, portanto, que a transição de bufão para poderoso
supostamente liga Trump ao fürhrer.
Em sua segunda entrevista, então com Isaac Chotiner da revista
Slate, Paxton fica mais enfático: “O uso de estereótipos étnicos e a
exploração do medo de estrangeiros vêm diretamente do livro de
receitas fascista. Fazer do país uma grande nação outra vez vez
soa exatamente como os movimentos fascistas. Preocupações com
a queda da nação, este era um dos estados emocionais mais
intensos evocados no discurso fascista, e Trump está o usando com
toda força. Uma política externa agressiva para barrar este suposto
declínio. Nada mais é que um golpe fascista”. Há muito aqui e vou
lidar com isso, mas gostaria de salientar que muitos outros
presidentes americanos já falaram sobre o declínio nacional,
prometeram restaurar o país e promoveram uma política externa
agressiva, sem serem acusados de terem lido o livro de receitas
fascista.
E então Paxton prossegue: “Li determinado relato que
absolutamente me surpreendeu, em que Trump chega a um
discurso enquanto sua audiência estava reunida em um hangar;
então ele pediu que o avião pousasse no campo, logo depois que
fosse feito o taxiamento até o hangar e só então saiu. Foi
exatamente o que fizeram em 1932 para a primeira vitória eleitoral
de Hitler. Suponho ter sido um acidente, mas, uau!, eis aí a
repetição quase perfeita de uma tática das eleições de Hitler”.
Perceba, Trump é culpado de usar das mesmas táticas eleitorais de
Hitler porque pousou dentro de um avião e por haver uma multidão
reunida no hangar o esperando? No lugar de apresentar conteúdo
ligando Trump ao fascismo, Paxton concluiu dizendo que Trump
“parece mesmo com Mussolini na forma de mexer o queixo”.6 Bom,
Paxton ao menos não comenta se Trump tem a mesma simpatia
pela comida italiana que Mussolini tinha.
Finalmente, volto-me para uma passagem do livro The Anatomy of
Fascism, em que Paxton, observando atenciosamente o colapso
dos regimes de Hitler e Mussolini na Segunda Guerra Mundial,
especula se o fascismo poderia vir para a América e, em caso
afirmativo, como seria sua aparência. “A linguagem e os símbolos
de um autêntico fascismo americano”, ele escreve, “teriam pouca
relação com os modelos europeus originais. Eles teriam de ser tão
familiares e de tal maneira encorajadores para americanos fiéis de
igual modo a linguagem e os símbolos dos fascismos originais eram
familiares e encorajadores a muitos italianos e alemães. Sem
suásticas no fascismo americano, mas com Estrelas, Listras, e
Cruzes cristãs. Nada de saudações fascistas, mas com recitações
em massa jurando lealdade”.7
Observe o que Paxton está comunicando nessa passagem e nas
duas entrevistas anteriores. Como bom progressista, ele está dando
aos canais da mídia esquerdista o que eles querem. Mesmo às
vezes rodeando sem saber muito bem o que dizer — em
determinado momento, ele percebe que o individualismo de Trump
não é inteiramente consistente com o fascismo —, ele ainda
confirma que Trump é, de modo geral, uma espécie de fascista e
protonazista. Em seguida, Paxton definitivamente liga o fascismo
com as exibições patrióticas da direita americana. Ele, no entanto,
não menciona limitações impostas sobre o governo ou sobre o
capitalismo, nem sobre nenhum dos principais aspectos que
definem o conservadorismo americano.
Em nenhum momento Paxton sugere haver algo a respeito de
Obama ou Hillary que espelhe o fascismo ou o nazismo. O fascismo
é um termo italiano que significa “agrupamento” [groupism] ou
“coletivismo”. Os fasci, na Itália, eram grupos de ativistas políticos
que pegaram seu nome dos fasces da Roma antiga — feixes de
varas carregados pelos lictores, simbolizando a força unificada dos
romanos. O significado central do termo fascismo é que as pessoas
são mais fortes como grupo do que como indivíduos.
Paxton certamente o sabe, mas acha melhor não mencionar. Na
verdade, ele não insinua nenhuma vez que o fascismo possa ser,
mesmo remotamente, um fenômeno da esquerda política. E, ao
longo dessas entrevistas, é impressionante perceber quão pouco
Paxton fala a respeito do que é de fato o fascismo. Ele não cita nem
ao menos um pensador fascista, nada que forneça a compreensão
fascista do próprio fascismo — tudo o que temos é a interpretação
progressista que parece avançar rapidamente a partir de algumas
poucas generalizações, como, por exemplo, o declínio nacional e o
patriotismo, para, depois, concluir resolutamente.
Mais uma vez, não estou dizendo que Paxton não possui um
conhecimento maior sobre o assunto. Seu livro mostra que possui.
Ele conhece os documentos relevantes; ele faz referência a eles e
está familiarizado com os intelectuais fascistas; ele os cita. É isso
que torna o seu desempenho tão intrigante. Embora tenha
conhecimento, Paxton está dialogando com pessoas ignorantes o
suficiente para confirmar os preconceitos delas ao mesmo tempo
que mantém sua erudição bona fides. No fim das contas, permita-
me dizer, Paxton está participando, conscientemente, da grande
mentira.
Desta forma, portanto, a grande mentira é disseminada:
acadêmicos astutos como Paxton estabelecem a base intelectual,
daí a mídia e Hollywood dizem: “Olhe, aqui está um sujeito que
realmente tem domínio sobre a área, confirmando que a nossa
posição política possui justificativa”. Estranho notar, a área de
Paxton não é o nazismo nem o fascismo italiano; é a França de
Vichy. Anthony James Gregor é a maior autoridade viva sobre o
fascismo, e Stanley Payne publicou não faz muito tempo seu livro
sobre a história do fascismo, obra definitiva da área. Entretanto, a
mídia progressista nunca os convida para entrevistas.
Por quê? Eis aqui uma citação direta da obra The Ideology of
Fascism [A Ideologia do Fascismo], de Gregor: “O movimento em si
não foi conservador. Foi revolucionário. Sua clara intenção era
destruir todos os artefatos sociais, econômicos e políticos do
liberalismo clássico”. E aqui está uma citação de Payne: “O núcleo
que, por fim, fundou o fascismo na Itália não decorreu dos
nacionalistas de direita, mas da transformação por parte da
esquerda revolucionária”.8 Na visão esquerdista, este é um ponto
bastante inconveniente. Logo, por que entrevistar Gregor ou Payne
quando eles provavelmente não darão base ao que a esquerda
tenta provar? É por isso que Paxton é financiado, porque ele esteve
disposto a participar desse joguinho. A esquerda lhe oferece
celebridade acadêmica, ele lhes diz o que querem ouvir. É assim
que funciona a grande mentira.

O Teste Fascista em Trump


Agora nos voltemos a algumas características que alegam
pertencer ao fascismo e ao nazismo, invocadas pela esquerda no
intuito de provar que Trump (e, de vez em quando, o GOP e os
conservadores) se assemelha aos fascistas e aos nazistas. Perceba
que, em cada caso, a afirmação é completamente falsa e que
aproximar Trump do fascismo não faz sentido, praticamente. O que
torna as falsidades duplamente interessantes é que elas, na maioria
dos casos, são mentiras em dobro. Com isso não quero dizer
apenas que Trump e o GOP não são o que a esquerda diz que são,
mas que o fascismo e o nazismo também não são o que a esquerda
diz que são. Portanto, o acusado é literalmente inocente em dois
pontos: ele não fez aquilo do que é acusado e aquilo do que é
acusado não é o crime pelo qual foi acusado. Primeiro, lidarei com a
maior acusação, então depois tratarei das demais.
Racismo e xenofobia: essas são as questões mais polêmicas.
Toda a comparação entre Trump e os nazistas ocorre aqui. Elizabeth
Warren explica a ascensão de Trump como o produto de “uma feia
animosidade do racismo”. James Whitman, historiador, alertou que
“o nacionalismo branco mora na Casa Branca”. Jeet Heer, pela
revista The New Republic, fez acusações asseverando que o
“racismo e a xenofobia” de Trump exibem suas “raízes fascistas”
que, não sendo somente suas, encontram-se cravadas “no Partido
Republicano”. Na mesma linha de pensamento, o escritor
esquerdista Michael Tomasky faz uma ligação “direta e indiscutível”
de “movimentos racistas e xenófobos” com o “GOP de Trump”,
concluindo que “eles estão apoiando Trump como pessoas brancas,
uma vez que sentem que ele protegerá seus privilégios brancos”.9
A bem da verdade, as evidências para acusar Trump de racismo e
xenofobia carecem de veracidade. Talvez, a base mais forte para
acusá-lo seja declarando que a esquerda descobriu alguns
supremacistas e antissemitas brancos que afirmam apoiar Trump.
Um deles, Richard Spencer, liderou uma manifestação enquanto ele
e seus poucos seguidores clamavam: “Hail Trump”. Parece ser o
melhor que Spencer consegue fazer para imitar Hitler. No entanto,
se esses racistas e antissemitas endossam Trump, o próprio Trump
não os endossa. O melhor que a esquerda pode fazer é mostrar que
Trump retuitou algumas declarações de nacionalistas brancos,
mesmo que as declarações em si sejam benignas. Eu retuito
pessoas o tempo todo sem saber muito sobre elas. Os termos de
uso das mídias sociais não exigem que verifiquemos os
antecedentes das pessoas que compartilhamos.
Ao longo da história americana, muitos racistas votaram a favor
de Lincoln — eles cortejavam avidamente o voto a movimentos anti-
imigrantes, ao movimento Know-Nothing [“Não Sei de Nada”] — e
de Wilson e FDR, que buscavam ativamente o apoio de eleitores
declaradamente racistas. Agora, disso não se pode concluir
necessariamente racismo por parte de Lincoln, Wilson e FDR. Como
evidencio na minha obra antes dessa, é claro que Lincoln não era.
Todavia, mais adiante, neste mesmo livro, provo que Wilson era
racista e que FDR estava envolvido com os piores racistas da
América. Meu argumento aqui é simplesmente constatar que o voto
de um racista por si só não transforma o seu beneficiário num
racista.
Obviamente, a dúvida ainda permanece: por que esses sujeitos
gostam de Trump, se Trump não é racista como eles? O mais
provável é que são indivíduos desempregados, fracassados, alguns
deles completos dementes. Independentemente do que arroguem
ser — fascistas ou seja lá o que for —, eu francamente não acredito
que sejam fascistas ou conheçam muito sobre o fascismo. Hitler
teria enviado a maioria deles direto para as câmaras de gás.
(Lembre-se de que uma das primeiras categorias de pessoas que
Hitler exterminou foram os chamados “dementes”). É bem possível
que esse tipo de sujeito tenha votado em Trump esperando que,
como presidente, ele trouxesse de volta empregos para a mão de
obra desqualificada. Então, mesmo Trump não sendo racista, ainda
é possível que os racistas o quisessem por razões que nada têm
que ver com o racismo.
Trump é racista e xenófobo porque “odeia os imigrantes” e certa
vez chamou um juiz federal hispânico de “mexicano”? Sim, eu sei
que o juiz em questão é um cidadão americano de descendência
mexicana. Eu mesmo sou um cidadão americano de descendência
asiática e indiana, então seria o equivalente a me chamar de
“indiano-asiático”. Se alguém pretende me insultar me chamando
disso, confesso que não ficarei ofendido. Afinal, onde está o
problema? Mesmo no caso de pessoas sensíveis demais, Trump, na
pior das hipóteses, teria sido insensível. Insensibilidade não é o
mesmo que fanatismo.
O que Trump declara sobre os muçulmanos não pode ser
chamado de racismo simplesmente por ser o Islã uma religião, não
uma raça. Pode-se, então, chamar isso de xenofobia ou de palavras
antimuçulmanas? Com certeza os próprios muçulmanos não
parecem achar que sim. Em maio de 2017, Trump visitou a Arábia
Saudita, o país muçulmano mais devoto do mundo, e recebeu as
boas-vindas de um herói. O modo como Trump foi recebido na
região ganha forte contraste com a recepção recebida por Obama.
Ainda que se prostrasse covardemente perante o Islã, Obama
costumava ser tratado na região com desprezo e sob suspeita pelos
aliados muçulmanos da América.
Consideremos a ordem executiva de Trump proibindo vários
países de maioria muçulmana de entrar na América. Acontece que
esses países são criadouros de terroristas. Também são países cujo
controle de quem entra e sai é especialmente difícil; algumas
dessas pessoas foram deslocadas de suas casas e comunidades.
John Locke diz que, seja qual for a tarefa da qual um governo se
encarregue — humanitária ou não —, seu principal dever é o de
proteger seus próprios cidadãos de criminosos, sejam eles
estrangeiros, sejam nativos. Não se trata de fascismo; trata-se de
liberalismo clássico.
Do mesmo modo, o liberalismo clássico sustenta que a sociedade
liberal é formada por um pacto social entre os cidadãos que
concordam em se unir por certos benefícios e proteções buscadas
em comum acordo. Em troca dessas proteções e privilégios, eles
desistem do exercício de alguns de seus direitos naturais. A questão
aqui é que os direitos naturais pertencem a todos, mas os direitos
civis e constitucionais são o produto de um pacto social. Segue-se,
portanto, que os direitos civis pertencem apenas aos cidadãos.
Estrangeiros que não fazem parte do pacto social americano não
têm nenhum direito constitucional. Mais uma vez, Trump negar a
estrangeiros ilegais que tenham o direito constitucional de estar aqui
é a principal corrente da tradição liberal.
Trump não é contra “imigrantes”, simplesmente porque
estrangeiros ilegais não são imigrantes. Os esquerdistas no
Congresso e a mídia costumam confundir imigrantes legais e ilegais,
como faz Andrew Cuomo, governador de Nova Iorque, com palavras
de teor tão cômico, “Todos nós somos imigrantes”, e nesta
manchete da primeira página do New York Times: “Mais Imigrantes
Enfrentam a Deportação Sob Novas Regras”.10 De acordo com
essa narrativa da esquerda, minha esposa, Debbie (imigrante vinda
da Venezuela) e eu (um imigrante proveniente da Índia) deveríamos
viver com medo. Mas é mentira, e Cuomo e os editores do New York
Times sabem disso. Trump não tem intenção de nos enviar de volta
aos nossos países de origem. A distinção que Trump faz está entre
imigrantes legais e infratores da lei que procuram contornar o
processo de imigração.
Essa não é uma distinção racial. Trump nunca disse que a
América é um país de homens brancos ou de negros, ou que os
negros não deveriam emigrar para lá. A maioria dos imigrantes hoje
em dia vem da Ásia, África e América do Sul, e Trump parece não
ver problema nisso. Contraste a posição de Trump com a posição de
Hitler. Os judeus da Alemanha eram imigrantes legais ou
descendentes de imigrantes legais. Eles eram cidadãos alemães.
No entanto, Hitler não os considerava alemães genuínos. As leis de
Nuremberg despojaram dos judeus sua cidadania alemã. Então,
para Hitler, a fronteira não estava entre imigrantes legais e ilegais.
Não estava nem mesmo entre imigrantes e alemães nativos. Pelo
contrário, era uma fronteira racial entre nórdicos, ou germânicos
arianos, de um lado, e os judeus e demais povos “inferiores”, não
arianos, do outro.
Por fim, o antissemitismo. Durante a campanha, Trump condenou
a “estrutura de poder global” por “arrancar a própria riqueza do país”
e “colocar dinheiro no bolso de um punhado de grandes
corporações e entidades políticas”. O senador Al Franken
respondeu: “Quando vi o anúncio, pensei que fosse algum tipo de
código morse, alguma linguagem secreta. Tinha um quê dos
Protocolos dos Sábios de Sião nisso tudo, um ar de conspiração
internacional bancária”. Franken está, aqui, invocando o notório
tratado antissemita, Os Protocolos dos Sábios de Sião, para acusar
Trump de ser antissemita. Nessa mesma linha de pensamento,
David Denby, no New Yorker, e Peter Dreier, no jornal esquerdista
The American Prospect, comparam Trump ao notável demagogo
antissemita, atuante na rádio na década de 1930: o padre Charles
Coughlin.11
O que Denby e Dreier não mencionam é: Charles Coughlin era um
esquerdista raivoso. Na verdade, Dreier chama Coughlin de
“direitista”, pois “ele usou seu programa de rádio para promover
teorias de conspiração antissemitas e para apoiar Adolf Hitler e
Benito Mussolini”. Mas, claro, a pergunta é: Hitler e Mussolini eram
de direita? No decorrer deste livro, você me verá provando que não,
eles definitivamente não eram de direita. Dreier está simplesmente
cometendo um argumentum ad ignorantiam — argumento baseado
na ignorância de seu público. Em suma, ele está se baseando na
grande mentira.
Denby retrata Coughlin como um oponente de FDR, observando
que “não conseguiu impedir que FDR triunfasse politicamente”.
Denby omite que, em 1932, Coughlin era partidário entusiasta de
FDR e crítico feroz do presidente Hoover e dos republicanos. Na
eleição presidencial de 1932, Coughlin apresentou ao país uma
escolha simples: “Roosevelt ou a Ruína”. Dada a gigantesca
audiência radiofônica de Coughlin, ele é amplamente creditado à
ascensão de FDR à presidência.
Mais tarde, Coughlin rompeu com FDR — é a isso que Denby
está se referindo —, mas só porque, na cabeça dele, achou que
FDR houvesse vendido alguns de seus próprios princípios. Em
1935, Coughlin fundou a União Nacional da Justiça Social [National
Union of Social Justice] para pressionar FDR com a esquerda. Em
seu jornal — provocadoramente chamado Social Justice [Justiça
Social] — e em seu programa de rádio, Coughlin censurou
Roosevelt por não ter nacionalizado a Reserva Federal nem os
bancos, e por outras supostas concessões à classe capitalista.
Trump não poderia ser uma símile moderna do padre Coughlin,
pois este era de extrema esquerda. Na verdade, o antissemitismo
de Coughlin contrasta radicalmente com o filossemitismo de Trump.
E, no caso de Trump, sua posição favorável aos judeus é de difícil
surpresa. Uma de suas noras é judia, um genro judeu, que também
é um dos seus conselheiros mais próximos, uma filha que ele diz ter
se convertido ao judaísmo, e netos judeus.
A partir de seu discurso de abril de 2017, em memória ao
Holocausto, e com seu discurso de maio no memorial de Yad
Vashem, em Israel, nota-se que Trump é, sem remorsos, pró-
judaísmo e pró-Israel de uma maneira que seu antecessor, Barack
Obama, nunca foi. Nas palavras do primeiro-ministro de Israel,
Netanyahu, “Não existe maior defensor do povo judeu e do Estado
judaico do que o presidente Donald Trump”.12 Em suma, Trump não
é racista, ele não é xenófobo, ele não é antissemita.
As Características do Nazismo
Agora é hora de lidar com as outras características que dizem
estabelecer a ligação de Trump com o fascismo e com o nazismo.
Insanidade: uma das coisas mais estranhas que costumam
afirmar sobre Trump é que ele é, literalmente, insano. Os colunistas
Andrew Sullivan e Paul Krugman são os dois proponentes mais
insistentes dessa tese; Rosie O’Donnell também a ressoa. Dois
congressistas democratas introduziram uma legislação para
arrancar o poder nuclear das mãos de Trump. Um deles, Ted Lieu,
tem um segundo projeto de lei no Congresso, exigindo que Trump
passe por acompanhamento psiquiátrico.13 Por que essa insistência
de que Trump seja lunático? A conexão subjacente estabelecida é
com Hitler e Mussolini. Toda uma geração de comentários
progressistas insiste que eles dois eram insanos. Por qual outro
motivo ambos matariam tantos milhões de pessoas e alavancariam
uma guerra mundial?
Quanto a Trump, evidente que ele não é louco. Ele certamente
nunca foi diagnosticado com nenhum tipo de doença mental. Trump
é altamente bem-sucedido nos negócios. Sua esposa é dedicada e
seus filhos são extremamente bem-educados. Ele foi eleito e agora,
embora lidando com a oposição mais extrema, continua confiante e
seguro. É óbvio que há um método para conferir loucura. Nem Hitler
nem Mussolini eram loucos. Homens maus, sim, mas não insanos.
Assassinatos a sangue frio não transformam o indivíduo num louco.
Há inúmeros assassinos na prisão e no corredor da morte que não
são insanos. (Na verdade, caso fossem, eles “seriam absolvidos por
motivos de insanidade”). Por outro lado, são inúmeras as pessoas
insanas internadas em hospícios que nunca prejudicaram ninguém.
Portanto, já basta da insanidade sem sentido. É facílimo inocentar
Trump desta culpa, e ainda mais fácil evitar o confronto com o
verdadeiro mal de Hitler e Mussolini.
Reacionário: Trump e o GOP são frequentemente descritos como
“reacionários”, rótulo igualmente usado para desacreditar os
conservadores. O texto clássico aqui recebe o título The
Reactionary Mind [A Mente Reacionária], do intelectual de esquerda
Corey Robin, que identifica a direita americana com a “nostalgia das
lutas”, à qual Hitler e Mussolini apelavam. Embora o livro tenha sido
publicado em 2012, Matt Feeney o chamou, apenas alguns dias
antes da eleição de 2016, de “o livro que previu Trump”.14 Então,
nessa visão, Trump e os conservadores são, assim como os
fascistas e os nazistas, reacionários extremos.
A acusação reacionária é conveniente para a esquerda, afinal
associa o conservadorismo e o fascismo ao passado, mas o
distingue do progressismo, que está, evidentemente, preocupado
com o futuro. O que torna a acusação superficialmente crível é que
Trump, à semelhança da maioria dos conservadores, parece querer
que a América volte aos bons e velhos tempos. Não era isso que
Hitler prometia fazer? Ser o Terceiro Reich não foi uma tentativa
reacionária de restabelecer o Primeiro Reich de Carlomagno e o
Segundo Reich de Bismarck?
Talvez, mas a restauração prometida por Trump está preocupada
com a recuperação dos empregos. Trata-se também de tornar o
governo menor e menos burocrático. Não se trata de revogar o
progresso na América em detrimento dos direitos civis ou do
mercado de trabalho para as mulheres. Não se trata de enviar gays
de volta ao armário. Assim, o conservadorismo moderno é, também,
sobre restaurar os ideais dos Pais Fundadores, e não o então
mundo agrário e subdesenvolvido em que estes viveram. A direita,
portanto, busca aplicar princípios antigos — que considera verdades
duradouras, ou permanentes — em nossa situação atual, a fim de
criar um futuro melhor. Não há nada de reacionário nisso.
Tampouco o fascismo de Mussolini e o nacional-socialismo de
Hitler eram reacionários no sentido clássico. “Todas as ideias
políticas de Hitler”, escreve Stanley Payne em seu livro A History of
Fascism [Uma História do Fascismo], “tiveram sua origem no
Iluminismo”. O historiador Richard Evans escreve que “nenhum dos
eleitores que foi às urnas em apoio a Hitler” procurou “restaurar um
passado perdido. Pelo contrário, eles foram inspirados por uma
visão vaga e poderosa do futuro”. Essa visão invocava símbolos do
passado, mas “não envolvia apenas olhar somente para trás ou para
frente, mas tanto para um quanto para outro”.15
Um dos grupos que mais apoiou o fascismo na Itália foi o
movimento que se autointitulava “Futuristas”. Liderados por Filippo
Marinetti, os futuristas defendiam carros rápidos e novas
tecnologias, e se viram como estando na vanguarda das ciências e
da arte. Este foi o grupo que encorajou o fascismo e o nazismo ao
uso de novos avanços na tecnologia e técnicas atualizadas de mídia
e propaganda. O historiador Zeev Sternhell conclui que, longe de
ser reacionário, “o quadro conceitual do fascismo [...] era dissidente,
vanguardista e de caráter revolucionário”.16
Os fascistas e os nazistas procuraram criar um novo homem e
uma nova utopia a partir dos grilhões da velha religião e das velhas
lealdades. Toda a disposição do fascismo e do nazismo é capturada
na juventude descrita pelo filme Cabaret, que não canta sobre um
passado perdido, mas sobre um “amanhã” que “pertence a mim”. O
apelo do fascismo era, como seus críticos e entusiastas
reconheceram na época, mais progressista e avançado do que
retrógrado e reacionário.
Autoritarismo: este é ponto muito importante. “Um Autoritário
Americano” era o título de uma manchete no Atlantic Monthly,
ligando Trump a Mussolini. Após a eleição de Trump, a revista New
York expressou-se sob o título “A República foi Revogada”. Dois
cientistas políticos, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, escrevendo pelo
New York Times, disseram que Trump não é o “primeiro político
americano com tendências autoritárias”, mas “é o primeiro [político
autoritário] na história americana moderna a ser eleito presidente”.
Fazendo paralelos aos déspotas autoritários Hitler e Mussolini, o
historiador Timothy Snyder comenta que Trump “não disse
praticamente nada a favor da democracia” e que ele ameaça o
sistema de controle ao “denegrir juízes”.17
Hitler e Mussolini eram de fato autoritários, mas disso não se pode
concluir que o autoritarismo seja igual ao fascismo ou ao nazismo.
Lênin e Stalin eram autoritários, mas nem um nem outro era
fascista. Muitos ditadores — Franco na Espanha, Pinochet no Chile,
Perón na Argentina, Amin em Uganda — foram autoritários, mas
não fascistas ou nazistas. Trump certamente carrega um estilo
mandão que adquiriu, bem, sendo chefe. Ele esteve na chefia
corporativa por toda sua vida, além de ter também desempenhado
cargos de chefia na TV. Os republicanos elegeram Trump porque
precisavam de alguém durão para combater Hillary; eles já tentaram
candidatos insípidos e inofensivos, como Romney, e veja que fim
levou.
Dito isso, Trump não fez nada para subverter o processo
democrático. Enquanto os progressistas continuam a alegar uma
trama entre Trump e os russos no propósito de fraudar as eleições,
a única evidência de fraude vem do Comitê Nacional Democrata nas
prévias eleitorais de 2016 em favor de Hillary sobre Bernie. A fraude
não evocou praticamente nenhum dissidente do público democrata
nem da mídia, com isso sugerindo apoio, ou pelo menos
aquiescência, de todo o movimento progressista e da maioria do
próprio partido.
Trump demitiu seu diretor do FBI, provocando rumores obscuros
no Washington Post sobre o “respeito pelo Estado de Direito” de
Trump, ainda que sua ação tenha sido inteiramente legal.18 Ele
criticou os juízes, às vezes em termos irrisórios, mas, contrário ao
que Timothy Snyder afirma, não há nada antidemocrático nisso.
Lincoln criticou o chefe de justiça Taney sobre a decisão Dred Scott,
e FDR ficou praticamente apoplético quando a Suprema Corte
bloqueou suas iniciativas do New Deal. Criticar a mídia não é ato
antidemocrático. A Primeira Emenda não é só uma prerrogativa à
imprensa; o presidente também tem direito à liberdade de
expressão.
Políticos e governantes autoritários minam estruturas legítimas de
autoridade. Trump ou o GOP fizeram isso? Alguns progressistas
acusaram a liderança do Senado do Partido Republicano de minar a
ordem e o equilíbrio invocando a “opção nuclear” para encerrar um
obstrucionismo democrata e confirmar Neil Gorsuch para a Suprema
Corte. No entanto, esses progressistas esqueceram-se de
mencionar que foi o ex-líder democrata do Senado, Harry Reid, que
primeiro invocou a “opção nuclear”; os republicanos, portanto,
simplesmente agiram sobre seu precedente.
Governos autoritários costumam tentar controlar sua vida
particular. Pense na forma como regimes despóticos, nazistas e
soviéticos, por exemplo, procuraram regular a maneira de se prestar
culto ou o que as pessoas liam ou como conduziam a vida cotidiana.
Percebe-se uma mentalidade firmada ao se ler o que determinado
ditado nazista dizia: “só o ato de dormir é questão de cunho
privado”. Você acha que Trump se preocupa, ainda que
remotamente, com seu jeito de viver sua vida particular? Importa
para ele qual deidade você adora ou que livros você lê? Claro que
não.
Governos autoritários lançam medo em seus adversários. O
próprio fato de Trump ser esfolado diariamente em inúmeras
plataformas midiáticas mostra que seus oponentes sentem-se livres
para falar o que pensam. Considere este contraste notável. Hitler
aniquilou seus oponentes na infame Noite das Facas Longas, em 30
de junho de 1934. Mussolini silenciou seus críticos tomando controle
das imprensas e assassinou Giacomo Matteotti, um de seus
proeminentes opositores. Considere o que Trump fez, em contraste,
com a cantora Cher, que certa vez disse “alguma merda
desagradável” sobre ele. “Eu tirei a merda dela”, Trump se gabou
pelo Twitter, “e ela nunca disse nada sobre mim depois disso”.19 Ele
manteve o problema no ambiente do Twitter. Esta dificilmente seria
a marca de um autoritário.
Nacionalismo: se existe uma característica que os progressistas
consideram essencial ao fascismo e ao nazismo, esta é o
nacionalismo. Ele permite que a esquerda ligue facilmente o
nacionalismo fascista ao patriotismo da direita americana. Certo
escritor, Mark Rosenberg, falou por muitos da esquerda quando
descreveu o discurso inaugural de Trump como “um apelo visceral e
emocional para restabelecer parte da grandeza americana no
mundo”. Não é exatamente isso que Hitler prometeu — fazer da
Alemanha uma grande nação outra vez? Rosenberg concluiu que
Trump fez “sem dúvida, o discurso inaugural mais fascista da
história americana”.20
Trump é, sem contestação, nacionalista, e a direita americana
moderna também é nacionalista e sente-se confortável com os
símbolos do patriotismo tradicional, tais como o brandir da bandeira
ou as representações impactantes do hino nacional e do hino “Deus
Abençoe a América”. Em contraste, a esquerda moderna é
internacionalista — tem pouca paciência com o manifestar do
patriotismo tradicional —, o que parece distinguir os esquerdistas
dos nazistas, dos fascistas e dos conservadores americanos.
No entanto, seria o nacionalismo, ou até mesmo o
ultranacionalismo, suficiente para transformar alguém num fascista?
Mussolini era mais nacionalista do que, digamos, Churchill ou De
Gaulle? George Washington e Abraham Lincoln eram nacionalistas.
Os revolucionários franceses eram todos nacionalistas. Nelson
Mandela era nacionalista. Castro era nacionalista, ele que criou o
lema revolucionário “Pátria ou Morte”. Che Guevara era nacionalista,
assim como Pol Pot. Mesmo vivendo na Inglaterra e na África do
Sul, Gandhi seguiu à risca seu nacionalismo indiano. Obviamente,
não faz sentido chamá-los de fascistas. Embora Lênin tenha
professado internacionalismo ao longo de sua vida, à espera de
uma revolução comunista global, Stalin modificou o leninismo para
invocar o que ele chamou de “A Mãe Rússia” e “O socialismo em um
país”. O nacionalismo de Stalin o torna fascista? É óbvio que não.
Também vale notar que, se eram nacionalistas — o que eram,
sem sombra de dúvida —, Hitler e Mussolini eram nacionalistas de
um tipo bem diferente da estirpe dos conservadores americanos.
“Mussolini não era um nacionalista tradicional”, escreve o historiador
Zeev Sternhell. Anthony James Gregor vai além: “Mussolini se
opunha ao patriotismo tradicional e aos apelos nacionalistas”. No
início de sua carreira, Mussolini ridicularizou a bandeira italiana e
chamou o exército de “organização criminosa destinada a proteger o
capitalismo e a sociedade burguesa”. Hitler autodenominava-se
nacionalista, mas recusava-se a autodeclarar-se patriota.21
Ambos buscaram um novo tipo de nacionalismo, um que gerasse
lealdade não pela nação como nação em si, mas pela nova nação
que visavam criar. O nacionalismo fascista chamou cidadãos a
subordinarem seus próprios interesses por completo ao Estado
centralizado. Esse tipo de nacionalismo — vamos chamá-lo de
nacionalismo estatista ou coletivista — se parece mais com a
esquerda americana do que com a direita americana, já que a direita
americana mantém, com Reagan, que “o governo não é a solução; o
governo é o problema”.
Militarismo: outra característica usada regularmente pelos
progressistas para vincular Trump ao fascismo e ao nazismo é o seu
suposto militarismo. Mesmo antes de ser eleito, a revista Salon
alegou que a candidatura de Trump representava “o abraço e a
glorificação do militarismo”, precisamente o mesmo tipo de
militarismo com que Hitler e Mussolini se envolveram. De acordo
com uma manchete de 1º de março de 2017 no Washington Post, “A
Presidência de Trump dá Entrada a uma Nova Era do Militarismo”.
Invocando o paralelo histórico fascista, a matéria acusa o arranjo
militar disposto por Trump de “lançar uma sombra beligerante sobre
todo o planeta”.22
Agora, o fascismo e o nazismo eram de fato militaristas. Hitler e
Mussolini, ambos veteranos da Primeira Guerra Mundial, foram,
junto de seus aliados japoneses, os perpetradores da Segunda
Guerra Mundial. Mesmo assim, o historiador Stanley Payne escreve:
“costumava-se denominar o fascismo de movimento expansionista e
imperialista por definição, embora isso não fique claro a partir da
leitura de diversos programas fascistas”. A bem da verdade, “muitos
movimentos fascistas tiveram pouco interesse ou até mesmo
rejeitaram novas ambições imperiais”, enquanto outros movimentos
defendiam a guerra “geralmente defensiva, mas não agressiva”.23
Digo isso não com a intenção de exonerar o fascismo e o nazismo
nesse sentido, mas para destacar que não se deve confundir os
aspectos incidentais de uma ideologia com suas características
centrais. Se os fascistas defendiam o expansionismo militar
enquanto floresciam no interregno entre duas guerras mundiais, não
se segue que o fascismo seria intrinsecamente militarista ou que o
militarismo fosse uma de suas características definidoras. Por
analogia, se os fundadores norte-americanos fossem agricultores,
não se segue que a agricultura seria central para a fundação dos
Estados Unidos. Parece ser rotina aos esquerdistas atribuir os
traços acidentais do nazismo e do fascismo às ideologias em si
mesmas.
Trump não é militarista. Ele é, decerto, menos militarista do que o
seu partido. Claro que Trump quer derrotar o ISIS com força militar,
mas isso porque o ISIS é uma organização terrorista que procura
destruir os Estados Unidos. No início de abril de 2017, Trump
ordenou um ataque contra um aeródromo sírio. Esta aparentemente
foi a resposta de um Trump ultrajado ao ver imagens horríveis que
mostravam as vítimas de um ataque de gás químico efetuado pelo
déspota sírio, Bashar Assad. A medida tomada por Trump
surpreendeu tanto críticos quanto partidários, e nenhum deles
esperava tamanha intervenção por parte do presidente.
A ação de Trump na Síria parece anômala, dada sua postura
geral semi-isolacionista. Embora o GOP costumasse apoiar a
invasão de Bush no Iraque, por exemplo, Trump construiu uma
campanha presidencial sobre sua oposição à guerra. Se Trump
quisesse anexar o México e fazê-lo parte de um Estados Unidos
maior, ele então poderia ser acusado de imitar o Lebensraum de
Hitler. Mas nada poderia estar mais longe da mente de Trump,
havendo ele delineado a visão de uma América menos
intervencionista, uma América que se concentra em seus próprios
problemas internos.
Capitalismo: por fim, o capitalismo. Admito que é preciso ser um
verdadeiro babaca para fazer essa acusação. Ainda assim, eis o
ativista acadêmico da esquerda, Cornel West, afirmando que Trump
é um fascista e um nazista porque “num movimento neofascista
emergente, você tem o domínio dos grandes negócios, que são os
grandes bancos e as grandes corporações”.24 O Ocidente está
repetindo inconscientemente uma acusação inventada pela máquina
de propaganda comunista soviética, de que os fascistas foram
levados ao poder pelo financiamento das grandes empresas e que o
fascismo é o último suspiro do capitalismo industrial.
Foram os comunistas soviéticos que pela primeira vez
apareceram com esta ideia, influenciando em seguida os
comunistas italianos e alemães, no intuito de impedir o crescimento
do fascismo nesses países. Stalin usou o “fascismo” para referir-se
a qualquer país ideologicamente oposto à União Soviética. Quando
a ruptura sino-soviética ocorreu, os comunistas soviéticos
chamaram os comunistas chineses de “fascistas”, ao passo que os
comunistas chineses chamaram os comunistas soviéticos de
“fascistas”. Certamente, estamos, aqui, lidando com a terra do faz
de conta. Mesmo que a velha mentira soviética de que o fascismo
prova ser um subproduto do capitalismo tenha sido totalmente
desacreditada — nem mesmo Robert Paxton, progressista que é,
não tem nada que ver com ela —, outros da esquerda, além de
Cornel West, ainda ecoam a acusação de que Trump é fascista por
ser o capitalismo um traço determinante do fascismo.
Sim, Trump é capitalista, mas este é mais um exemplo daquilo
que o distingue dos fascistas e dos nazistas. “É impensável”, afirma
Renzo De Felice em seu livro Fascism [Fascismo], “supor que as
grandes forças econômicas da Itália quisessem levar o fascismo ao
poder”. O grande poder empresarial, afinal, não apoiou os fascistas
de Mussolini nem os nacional-socialistas de Hitler. Stanley Payne
afirma que o partido nazista “foi financiado sobretudo por seus
próprios membros”.25 As grandes empresas consideravam os
fascistas e os nazistas como radicais perigosos. Entretanto, depois
que os radicais chegaram ao poder, corporações alemãs e italianas,
não surpreendentemente, optaram por cooperar com eles. Isso é
verdade para as grandes organizações em geral: os empresários
fazem negócios com aqueles que estão no poder. As grandes forças
econômicas da América trabalharam com Obama, e certamente
trabalhariam com Hillary, caso tivesse sido eleita.
O historiador Anthony James Gregor ressalta que não faz sentido
descrever o fascismo italiano como produto do capitalismo tardio
mais recente, porque “havia pouquíssimo de moderno acerca da
economia italiana na época da Primeira Guerra Mundial”.26
Conforme veremos no próximo capítulo, Mussolini e os primeiros
fascistas reconheceram esse fato. Mussolini passou a enxergar o
fascismo como Hitler mais tarde passaria a enxergar o nazismo:
como um mecanismo para o rápido desenvolvimento econômico que
operava através de uma estrutura que, longe de ser capitalista,
revelou ser coletivista, estatista e socialista. Como estamos prestes
a descobrir — no restante deste capítulo e no próximo — o
coletivismo, o estatismo e o socialismo são a essência do fascismo
e do nazismo.

O Karl Marx do Fascismo


Para o Fascismo [...] o Estado e o indivíduo são um só.27
Giovanni Gentile, Origins and Doctrine of Fascism
[As Origens e a Doutrina do Fascismo]
Giovanni Gentile não é exatamente um nome familiar, hoje em dia.
Mesmo no círculo de americanos melhor instruídos, seu nome é o
de uma figura desconhecida. No entanto, Gentile, cujos dias se
passaram na primeira metade do século XX, foi considerado um dos
principais filósofos de sua época. Estudioso de Hegel e Bergson e
superintendente da Encyclopedia Italiana, Gentile não foi apenas um
pensador amplamente divulgado e influente; foi ele também um
estadista que serviu numa variedade de importantes cargos
governamentais. Por que, então, Gentile desapareceu no nevoeiro
da História?
Cabe considerar alguns aspectos-chave da filosofia de Gentile.28
Seguindo Aristóteles e Marx, Gentile argumenta que o homem é um
animal social. Isso significa que não somos simplesmente indivíduos
no mundo. Em vez disso, nossa individualidade é expressa através
de nossos relacionamentos: somos estudantes ou empregados,
maridos ou esposas, pais e avós, membros desta ou daquela
associação ou grupo, e também cidadãos de uma comunidade ou
nação. Falar acerca do homem só em seu estado natural é ficção
completa; o homem está naturalmente em casa quando em
comunidade, na sociedade.
De imediato, percebe-se que Gentile é comunitarista, em oposição
à teoria do individualismo radical. Isso o distingue de alguns
libertários e liberais clássicos, que enfatizam a individualidade em
oposição à sociedade. Mas, até agora, Gentile não disse nada de
que os conservadores — digamos, conservadores da linha de
Reagan — discordariam. Em 1980, Reagan enfatizou a importância
de cinco temas: o indivíduo, a família, a igreja, a comunidade e o
país. Ele acusou o Estado centralizado — o grande governo — de
minar não apenas a individualidade, mas também essas outras
instituições.
Agora, Gentile contrasta dois tipos de democracia, que diz ele
serem “diametralmente opostas”. A primeira é a democracia liberal,
que prevê uma sociedade composta de indivíduos formando
comunidades que protegem e fomentam seus direitos e interesses
individuais, em especial os interesses econômicos sobre
propriedade e comércio. Gentile considera esse arranjo como uma
democracia egoísta ou burguesa, termos que usa para significar a
democracia capitalista, democracia que foi basilar para a formação
da América. No lugar dela, Gentile incentiva um tipo diferente de
democracia, “a verdadeira democracia”, na qual indivíduos
voluntariamente se subordinam à sociedade e ao Estado.
Gentile reconhece que sua crítica à democracia burguesa ecoa a
crítica de Marx, sendo ele seu ponto de partida. Como Marx, Gentile
quer uma comunidade unificada, uma comunidade que se
assemelhe à família, uma comunidade em que estaríamos todos
unidos. Lembro-me, por essa ocasião, do discurso principal do
governador de Nova Iorque, Mario Cuomo, na Convenção Nacional
Democrata de 1984. Cuomo comparou a América com uma grande
família, onde, por meio da ação do governo, uns cuidam dos outros
da mesma maneira como famílias cuidam de todos os seus
membros.
Embora Marx e Cuomo aparentemente vejam comunidades
políticas na posição de associações naturais e inevitáveis, Gentile
enfatiza que tais comunidades devem ser criadas de maneira
voluntária, por meio da ação humana, operando como consequência
da vontade humana. Elas são, nas palavras de Gentile, uma criação
idealista, ou “espiritual”. Para Gentile, o povo por si só é preguiçoso
e inerte demais para formar comunidades genuínas; o povo,
portanto, precisa ser mobilizado. Bom, até aqui, muitos
progressistas modernos concordariam. Falando em termos que
Obama e Hillary gostariam de ouvir, Gentile ressalta que líderes e
organizadores são necessários para direcionar e canalizar a
vontade do povo.
Apesar de discordar de Marx no que diz respeito à inevitabilidade
histórica, vê-se com clareza que Gentile, até o dado momento, já
rompeu com o conservadorismo moderno, com o liberalismo
clássico e revelou ser um homem de esquerda. Gentile foi, a bem da
verdade, socialista por toda a vida. À semelhança de Marx, ele
considerava o socialismo como a condição sine qua non da justiça
social, a fórmula definitiva para todos que pagam sua “parcela
justa”. No pensamento de Gentile, o fascismo é nada mais que uma
fórmula modificada do socialismo, um socialismo que não
meramente provém da privação material, mas também da
consciência nacional despertada, um socialismo que, em vez de
dividir, une as comunidades.
Gentile também compreendia o fascismo como emergindo da luta
revolucionária, aquilo que a mídia hoje denomina “protesto” ou
“ativismo”. Ao contrário de Marx, ele não compreendia a luta entre a
classe trabalhadora e os capitalistas, mas entre o indivíduo egoísta,
que tenta viver para si, e o indivíduo totalmente realizado, que
voluntariamente se coloca à disposição da sociedade e do Estado.
Gentile aparenta ser o antepassado não reconhecido do ativismo de
rua da Antifa e de outros grupos esquerdistas. “Uma das principais
virtudes do fascismo”, ele escreve, “é o fato de ter sido um
movimento que obrigou aqueles que assistiam de suas janelas a
descerem para as ruas”.
Para Gentile, a ação privada deve ser mobilizada para servir o
interesse público, não havendo distinção entre o interesse privado e
o interesse público. Compreendidos de maneira correta, ambos os
modelos são idênticos e o cidadão esclarecido entende e vive desta
forma, tratando a sociedade e o Estado como, em certo sentido, o
seu eu maior. Gentile argumenta que a sociedade representa “a
própria personalidade do indivíduo despojada de diferenças
acidentais [...] onde o indivíduo sente o interesse geral como sendo
seu próprio interesse e o deseja, portanto, assim como deseja a
vontade geral”. Na mesma linha, Gentile argumenta que as
corporações também deveriam servir ao bem-estar público, e não
apenas ao bem-estar dos seus proprietários e acionistas.
A sociedade e o Estado — para Gentile, ambos eram um e a
mesma coisa. Gentile entendia o Estado centralizado como o braço
administrativo essencial à sociedade. Ademais, o Estado, por assim
dizer, não presta contas aos cidadãos. “A autoridade do Estado não
está sujeita à negociação”, ele escreve. “Ela é totalmente
incondicional”. O Estado não poderia depender do povo; na
verdade, é o povo quem depende do Estado. A “moralidade e
religião [...] devem estar subordinadas às leis do Estado”. Quão
familiar isso tudo soa para quem já está habituado à ideologia e à
retórica da esquerda americana moderna.
Gentile insiste que todos os cidadãos devem se submeter à
autoridade do Estado, não apenas em questões econômicas, mas
em todos os assuntos e áreas da vida. Visto tudo ser de cunho
político, o Estado dita a todos como pensar e também o que fazer —
não existe esfera privada desregulamentada pelo Estado. O
fascismo, segundo Gentile, é uma “concepção que soma o total da
vida [...] Não se pode ser fascista na política sem ser fascista na
escola, na família, no ambiente de trabalho”. O Estado deve
trabalhar para provocar essa consciência fascista generalizada.
Para alcançar tanto, Gentile defendeu que toda a sociedade
deveria ser alinhada com a ideologia fascista, o que os nazistas,
mais tarde, viriam a chamar de Gleichschaltung. Mesmo não
tolerando as táticas brutais do Gleichschaltung nazista, Gentile
buscou a mesma conformidade ideológica através da lei e da
educação. Segundo Gentile, o governo não deve agir apenas como
legislador, mas também como professor, usando as escolas para
promulgar seus valores e prioridades. Expressando uma doutrina
que provavelmente a maioria dos professores progressistas da
América endossaria, Gentile disse: “Nosso trabalho como
professores será considerado completo quando nossos alunos
falarem a nossa língua”.29
“Tudo está no Estado e nada humano existe nem tem valor fora
do Estado”, Mussolini verbaliza isso em La Dottrina del Fascismo [A
Doutrina do Fascismo], uma das primeiras declarações doutrinárias
do fascismo, mas Gentile a põe por escrito, ou, conforme se pode
dizer hoje em dia, um escritor-fantasma a deixou por escrito. Gentile
foi, como dá para perceber, o principal filósofo do fascismo. “Foi
Gentile”, confessa Mussolini, “quem preparou o caminho para
aqueles que, como eu, querem segui-lo”.30 Gentile serviu como
membro do Grande Conselho do Fascismo, senador na Câmara
Superior do Parlamento italiano e também Ministro da Educação de
Mussolini. Mais tarde, depois que Mussolini foi deposto e firmou-se
em Salo, Gentile tornou-se, a pedido do Duce, o presidente da
Academia Italiana.
Ele não era um homem mau. Rejeitou o antissemitismo e
trabalhou com judeus mesmo quando isso passou a ser algo
controverso na Itália, após a aliança de Mussolini com Hitler. Ele
rejeitou muitas das doutrinas mais basilares do fascismo,
argumentando que o Estado, apesar de todo-poderoso, deveria
procurar persuadir cidadãos, ao invés de forçá-los. Isso é o que ele
chamou de “Estado Tutelar”. Em seu apartamento, em 1944, Gentile
foi abordado por membros de uma facção rival de esquerda, que
atiraram nele à queima-roupa. Mussolini prometeu executar os
assassinos, mas a família de Gentile implorou que fossem liberados,
pedido que, inesperadamente, Mussolini acatou.
Penso em Gentile mais ou menos como penso em Robert E. Lee,
general-chefe dos Estados Confederados. De modo geral, Lee era
um bom homem, no entanto, nas palavras de Ulysses Grant, nunca
um homem lutou “por tanto tempo e tão valentemente” nem sofreu
“tanto por uma causa, ainda que sendo, creio eu, uma das piores
pela qual um povo já lutou”. E o mesmo pode ser dito de Gentile:
nunca um homem tão decente lutou por um movimento mais
horrível. No entanto, embora Gentile tenha sido esquecido, sua
filosofia não poderia ser mais relevante, pois ela se compara à
filosofia da esquerda americana moderna. Na verdade, o lema
revelado por Obama na Convenção Democrata de 2012 — “nós
pertencemos ao Governo” — não foi cunhado por Gentile, mas é
totalmente congruente com o centro de sua filosofia.
Este é o motivo da obscuridade de Gentile — suas ideias, longe
de mortas, estão muito bem vivas. Sem entrar em trivialidades,
Gentile chega ao cerne das questões. Em muitos aspectos, ele
fornece uma base mais profunda e firme para o progressismo
americano moderno do que qualquer escritor de hoje. John Rawls,
considerado por muitos um guru filosófico do progressismo
moderno, assemelha-se a um grão fino em comparação a Gentile,
em se tratando de oferecer bases racionais para o forte Estado
centralizado. Enquanto Rawls soa abstrato e antiquado nos dias de
hoje, Gentile parece estar falando diretamente aos ativistas de
esquerda do Partido Democrata, e também àqueles que estão na
mídia e nas universidades.
Seria de esperar, ingenuamente, ver a esquerda abraçando e
celebrando Gentile. Mas isso, é claro, nunca acontecerá. A
esquerda precisa desesperadamente esconder a conexão do
fascismo com o esquerdismo contemporâneo. Mesmo quando a
esquerda vale-se da retórica gentileana, sua fonte jamais deve ser
reconhecida publicamente. E uma vez que domina a academia e a
cultura popular, a esquerda tem nas mãos a influência para realizar
esse truque de desaparecer. É por isso que os progressistas
pretendem manter Gentile no lugar onde já o puseram: morto,
enterrado e esquecido.

Em Palavras e em Atitudes
O fascismo não era conservador em sua inspiração, mas visava
criar uma nova sociedade com um novo tipo de ser humano.31
Walter Laqueur, Fascism: Past, Present, Future
Para chegar ao cerne de uma ideologia, é imperativo explorá-la na
teoria antes de explorá-la na prática. É por isso que comecei com
Gentile: ele explica com autoridade o estatismo e o coletivismo que
definem o fascismo e, inclusive, o nazismo. De Gentile, passamos
para as declarações doutrinárias e à agenda política do fascismo
italiano e do nacional-socialismo alemão. Estes também
representam o fascismo utópico, pode-se dizer “fascismo no
discurso”. Só então faz sentido examinar o que Mussolini e Hitler
realmente fizeram, pois o que fizeram foi, necessariamente, uma
aplicação daquilo que pretendiam originalmente realizar, mas com
adulterações e diluições já previsíveis. No discurso, o fascismo é,
necessariamente, comprometido com o fascismo da atitude.
Menciono essa distinção desde o princípio porque ela é que se
tornou a base para que os esquerdistas pudessem minimizar os
princípios fundamentais do fascismo, de modo a camuflar sua
semelhança — e, em alguns casos, seu relacionamento — com o
progressismo moderno. Mais uma vez, volto-me ao predileto
progressista, Robert Paxton, que, em suas entrevistas ao público
em geral, enfatiza que, embora o fascismo “soe bastante radical
quando no poder, ele se alia a bancos, indústrias, ao exército, às
igrejas e assim por diante”. Paxton também salienta que, “quando
você lê o programa de Hitler, seus vinte e um pontos, e quando lê o
primeiro programa de Mussolini, de 1919, percebe que ambos
tiveram pouquíssima relação com o que acabaram fazendo
afinal”.32 Paxton conclui que, apesar dos objetivos outrora
professados, o fascismo e o nacional-socialismo não podem ser
equiparados ao esquerdismo e ao progressismo, porque Mussolini e
Hitler não implementaram o escopo completo de suas ideologias.
Como contra-argumentação da minha tese, devo dizer que,
embora verdade, este é um ponto extremamente inconvincente.
Obviamente, toda teoria deve acomodar as realidades da situação;
fazê-lo não mina a teoria em sua posição de ser uma visão do modo
como as coisas deveriam ser. Lincoln posicionava-se contra a
escravidão, mas, se disposto a vencer a guerra, manter estados
fronteiriços na União era-lhe uma necessidade política.
Consequentemente, quando assinada, a Proclamação da
Emancipação foi aplicada apenas sobre áreas em rebelião contra os
Estados Unidos que ainda não haviam sido ocupadas pelo Exército
da União. Salientar isso não significa provar que Lincoln, na
verdade, não era contra a escravidão, uma vez que não a proibiu
por todo o país.
Para segundo exemplo, cito Lênin. Marxista e comunista
fervoroso, Lênin comprometeu-se a banir o capitalismo de toda a
União Soviética, e ele o fez. A economia soviética, no entanto,
entrou em colapso; assim, no início da década de 1920, ele próprio
consentindo, Lênin aceitou medidas capitalistas para resolver o
problema. Ele permitiu a propriedade privada, incluindo fazendas
privadas; ele permitiu que as empresas e os agricultores
mantivessem alguns dos seus ganhos; ele chegou mesmo a
incentivar o investimento por parte de empresas estrangeiras na
União Soviética. Lênin não entendeu sua Nova Política Econômica
como traição ao comunismo, mas a considerou uma forma de
estabilizar a economia e, também, de exercer controle político sobre
o país, para que assim pudesse verdadeiramente institucionalizar o
comunismo. Contudo, apesar de articular-se temporariamente para
longe do socialismo, alguém realmente poderia afirmar que Lênin
não foi um socialista?
Agora, voltemo-nos para Mussolini, que, na teoria, era um
estatista completo. Uma das frases favoritas de Mussolini era “Tudo
no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”.33 Aqui,
ouvem-se os ecos de Gentile e também os ecos de um
progressismo esquerdista moderno levados às últimas
consequências. Mussolini, em outras palavras, parece dizer aquilo
que vai ao encontro das fantasias secretas do progressista
moderno. Mussolini levava o estatismo tão ao extremo que, atrevo
dizer, chegava a ser mais estatista do que Barack Obama, mesmo
quando este confessou ao New York Times que invejava os líderes
comunistas chineses quanto à extensão de seus poderes.34
Mussolini era tão estatista que considerava positivo o termo
“totalitário”. Para Mussolini, a palavra não significava o que Orwell
retrata em 1984. Mussolini não tinha a intenção de esmagar o povo
italiano com um coturno. Em vez disso, o totalitarismo, para ele,
significava que o Estado cuidaria de tudo e de todos. Mussolini
buscava uma Itália em que o Estado — encarnado nele — viria a
exercer controle total sobre todos os aspectos da vida dos cidadãos.
Mussolini, contudo, nunca teve o coração para ser
verdadeiramente totalitário. Em parte porque era ele, bom, vejamos,
italiano. Seu totalitarismo sempre foi italiano, ou seja, meia-boca.
Ele meio que prendia seus oponentes, ele meio que controlava a
mídia, e meio que tinha um Parlamento em suas mãos, mas lhe
faltava o escrutínio que caracterizava seus mais sombrios
companheiros totalitários, Stalin e Hitler. Ao longo de seu reinado de
vinte anos, Mussolini matou poucos de seus próprios cidadãos e
permitiu que as pessoas, incluindo os judeus, deixassem a Itália.
Stalin e Hitler nunca sonhariam em permiti-lo. Que tipo de controle
totalitário se pode ter sobre as pessoas se elas forem livres para
arrumar suas coisas e dizer saionará?
Muito embora o totalitarismo de Mussolini fosse um tanto
anêmico, não o foi seu socialismo. A agenda original dos fascistas,
tal como delineada em Fasci di Combattimento em Milão, em 1919,
incluía sufrágio universal, redução da idade de voto para dezoito
anos, abolição do senado elitista, obrigatoriedade das oito horas por
dia trabalhadas, programa extenso de serviços públicos,
participação dos trabalhadores na gestão industrial, nacionalização
dos órgãos de defesa, direito a seguro-saúde e pensão por velhice
para todos os cidadãos, confisco estatal de terras não cultivadas,
tributação progressiva, imposto de 85% sobre os lucros da guerra e
fortes políticas anticlericais, incluindo a exclusão da instrução
religiosa nas escolas e apropriação governamental da propriedade
de instituições religiosas.
Mussolini foi capaz de decretar parte dessa agenda, em particular
um programa de serviços públicos, incomparável para a Europa da
época. Os fascistas construíram pontes, canais, estradas, estações
ferroviárias, escolas, hospitais e orfanatos. Drenaram pântanos,
recuperaram terras, plantaram florestas, legaram universidades e
institutos de pesquisa. Mussolini também expandiu os serviços
sociais num programa que, confessou ele com franqueza,
equiparava-se ao New Deal de Franklin D. Roosevelt, até mesmo
chegando a superá-lo. (Mais sobre isso será explorado em um
capítulo posterior). Mesmo assim, apesar de tudo, grande parte do
programa socialista original de Mussolini permaneceu na gaveta.
A razão para tanto é que Mussolini, ao contrário de Hitler e Stalin,
nunca teve poder absoluto. Ele foi nomeado pelo rei Vítor Emanuel
III, que também tinha o poder para depô-lo, decisão que viria por fim
a tomar. Ainda que governando, Mussolini tinha de trabalhar com as
estruturas de poder existentes, incluindo membros da classe
dominante tradicional. Embora detestasse a Igreja Católica,
Mussolini entendeu que lhe fazer oposição tornaria seu governar
mais difícil; então, em 1929, ele entrou em concordata com o
Vaticano, acordo que exigiu de Mussolini sua abdicação do controle
absoluto sobre o sistema educacional.
O poder de Mussolini alternava entre altos e baixos, dependendo
das circunstâncias. Ele não era o governante absoluto da Itália
quando chegou ao poder, mas depois que Giacomo Matteotti,
político socialista, foi assassinado por fascistas, Mussolini fez a
aposta arriscada e bem-sucedida de assumir o controle ditatorial.
Mussolini evidentemente estava no auge de seu poder durante
meados da década de 1930, de modo que, durante esse período,
assegurou que o Estado tivesse controle sobre todas as atividades
industriais e sobre praticamente todas as finanças e o crédito. No
entanto, uma vez aliado à Alemanha, Mussolini teve de, novamente,
operar dentro da estrutura estabelecida por Hitler. Conforme mais
adiante neste livro, Mussolini abraçou parcialmente um racismo e
um antissemitismo nos quais ele não acreditava de fato e que não
caracterizavam sua carreira quando ele próprio estava à frente das
tomadas de decisão.
Em 1943, as forças dos Aliados pisaram na Itália. Por meio da
ação do rei e do Grande Conselho do Fascismo, Mussolini foi
deposto do poder. Hitler, entretanto, resgatou-o do cativeiro e
restabeleceu-o, então na posição de governante em Saló, ao norte
da Itália, território este que, na época, estava sob controle alemão.
Lá, por breve período, Mussolini pôde fazer o que bem entendesse;
ele era independente.
Daí, o que Mussolini fez? Fundou, como ele mesmo disse, o único
governo genuinamente socialista do mundo, com a possível
exceção da União Soviética.35 Mussolini tentou implementar o que
ele chamou de “verdadeiro socialismo”, afirmando que “elementos
plutocráticos e partes do clero” o impediram de antes implementá-lo
na Itália.
Em Saló, Mussolini esboçou um programa socialista que ia mais
além de tudo aquilo que ele já havia tentado implementar na Itália. O
novo programa de novembro de 1943 exigiu que o Estado
controlasse todas as partes críticas da economia — energia,
matérias-primas, todos os serviços sociais mais essenciais —,
deixando apenas poupanças privadas, casas e bens próprios nas
mãos do cidadão. O setor público deveria ser administrado por
comitês de gestão em que os trabalhadores teriam papel
fundamental. Os sindicatos também faziam parte do corpo
legislativo fascista.
O passo seguinte, declarou o conselheiro de Mussolini, Ugo
Spirito, seria abolir toda a propriedade privada. Estranho dizer, o
conselheiro mais próximo de Mussolini em Saló era Nicola
Bombacci, amigo e discípulo de Lênin que, em 1921, foi cofundador
do Partido Comunista Italiano. O período de Mussolini em Saló,
embora de curta duração, prova que ele nunca abandonou seus
ideais esquerdistas originais. Ele, até o último momento, manteve-se
estadista, coletivista e socialista ferrenho.
O Programa Nacional-Socialista
Existe em Hitler, também, um socialista aplicado que, pouco
depois de assumir a liderança do Partido dos Trabalhadores
Alemães, mudou o nome deste para Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães (PNSTA). Com declaração após declaração,
Hitler não poderia ter sido mais claro sobre seus compromissos
socialistas. Ele disse, por exemplo, num discurso de 1927, que
“Somos socialistas. Somos inimigos do sistema de exploração
capitalista atual [...] e estamos determinados a destruir tal sistema
sob a condição que for”.36
De início, o Partido Nazista ofereceu um programa que consistia
em vinte e cinco pontos, incluindo a nacionalização das grandes
corporações e dos fideicomissos, controle estatal sobre bancos e
crédito; a apreensão de terras sem compensação para uso público,
a divisão de grandes propriedades para formar unidades menores, o
confisco dos lucros de guerra; incluía também acusar banqueiros e
outros credores por usura, a abolição dos rendimentos mediante
serviço não declarados, a participação dos trabalhadores nos lucros
em todas as grandes empresas, um sistema de pensão mais
abrangente, prestando maiores benefícios, e um sistema de saúde e
educação gratuitos para todos.
Lendo o programa nazista inconsciente das fontes, seria
facilmente perdoável confundi-lo com o programa do Partido
Democrata de 2016 ou mesmo com alguma plataforma democrata
elaborada conjuntamente por Bernie Sanders e Elizabeth Warren. É
claro que um pouco da linguagem está desatualizada. Os
democratas não podem falar sobre “usura” nos dias de hoje; eles
teriam de substituir esse termo por “a ganância de Wall Street”. Seja
como for, está tudo lá. Tudo o que precisa fazer é riscar a palavra
“nazista” e escrever, em seu lugar, o termo “democrata”.
Progressistas como Paxton, que reconhecem o conteúdo
esquerdista do programa nazista, tentam distanciá-lo de Hitler,
associando-o a uma suposta facção de esquerda dentro do Partido
Nazista, o qual Hitler viria a eliminar mais tarde. Essa facção foi
liderada pelos irmãos Strasser, Otto e Gregor. Otto Strasser foi
expulso do Partido Nazista em 1930 e exilado na Checoslováquia.
Gregor Strasser foi morto por ordens de Hitler em 30 de junho de
1934, durante a Noite das Facas Longas.
Os Strassers, contudo, escreveram o programa nazista original
em parceria com o próprio Hitler. Os irmãos foram figuras-chave no
Partido Nazista durante a década de 1920. O partido expulsou Otto
Strasser por causa de suas ameaças de fundar seu próprio partido
dissidente, o que acabou por fazer. Gregor Strasser repudiou
publicamente seu irmão e permaneceu no Partido Nazista. Hitler
nomeou-o chefe do partido nas regiões norte e ocidental da
Alemanha; lá, tornou-se o segundo com maior autoridade,
permanecendo abaixo apenas do próprio Hitler, que em nenhum
momento repudiou os princípios que ele mesmo e os irmãos
Strasser avançaram desde o início.
Sendo assim, por que Hitler matou Gregor Strasser? Uma pista
pode ser encontrada nos escritos de Joseph Goebbels, aliado íntimo
de Strasser, que se tornou o confidente de Hitler e ministro da
propaganda. Num dos registros de seu diário, Goebbels fez uma
pergunta simples sobre o nacional-socialismo: “O que é prioridade e
o que vem em segundo lugar?”. Goebbels responde: “Em primeiro
lugar, vem o socialismo; depois, então, a libertação nacional”.37
A resposta de Hitler foi o oposto: primeiro vem a libertação alemã
e depois, então, o socialismo. Goebbels, atraído pela pessoa de
Hitler, sucumbiu às prioridades dele. Gregor Strasser não, criticando
Hitler por trair o socialismo revolucionário, mesmo tendo Hitler
assegurado que o socialismo viria depois que a Alemanha
consolidasse seu poder militar. Strasser não estava persuadido. Em
última análise, Hitler ficou cansado das críticas de Strasser e o
executou, eliminando um rival perigoso para o processo em
andamento.
Strasser acreditava que Hitler poderia ter tanto o nacionalismo
quanto o socialismo, pois, ao contrário de Mussolini, Hitler
desfrutava de poder quase absoluto para fazer o que quisesse. No
entanto, o que Hitler desejava fazer, antes das demais coisas, era
começar uma guerra. Em essência, seu objetivo era: em primeiro
lugar, subjugar a Europa, ou ao menos a maior parte dela; em
segundo lugar, expulsar ou eliminar os judeus; e, em terceiro lugar,
implementar o socialismo na Alemanha enquanto institucionalizava
a subordinação e a escravidão para todos os demais povos. A visão
de Hitler era a de que o socialismo seria bom demais para qualquer
povo que não fosse verdadeiramente ariano; consequentemente, ele
não estava prestes a institucionalizar o socialismo antes de realizar
suas duas primeiras tarefas.
Assim, Hitler também fez um acordo com o Vaticano e tentou
apaziguar-se com os cristãos. Ele precisava do apoio de católicos
bávaros e luteranos espalhados pela Alemanha. Hitler também
precisava de grandes negócios, tanto para manter a economia
alemã acelerada como para fornecer-lhe o vasto estoque de
materiais de guerra, sabendo que precisaria disso sob o objetivo de
invadir a Europa Oriental, a França e a Rússia. Hitler alcançou seu
objetivo de colocar praticamente todos os setores da economia sob
o controle do Estado. Ele lançou enormes conglomerados estatais,
como o Reichwerke Hermann Göring, mas também adiou vários
outros objetivos do programa nazista. Esse adiamento e suas
pechinchas com velhos inimigos de modo nenhum prova que ele
deixou de ser socialista ou um verdadeiro nazista. À semelhança de
Lincoln, Hitler tinha uma guerra que vencer com sucesso, para
realizar por completo suas ambições originais.
No entanto, para Hitler, ao contrário de Lincoln, a guerra não
terminou bem. Assim, o fascismo e o nazismo, então ainda em
1945, acabaram numa pilha de cinzas da História. Levou muito mais
tempo para o comunismo soviético entrar em colapso. Pode-se ver,
nesses dois exemplos, uma lição desanimadora para a esquerda
americana moderna. O coletivismo parecer ter sido testado duas
vezes e provado em ambas ser um fracasso. Mas não é bem essa
toda a verdade. O comunismo soviético foi testado e falhou por sua
própria conta. Já o fascismo e o nazismo, entretanto, foram
destruídos pelo lado de fora, pela guerra.
Consequentemente, pode-se dizer que, como planos ideológicos
para a sociedade, o fascismo e o nacional-socialismo ainda não
fracassaram, porque nunca foram completamente experimentados.
No progressismo moderno, portanto, vê-se uma tentativa de
reavivamento e ressurreição. Obviamente, este avivamento deve
estar sob um nome diferente, e a esquerda certamente precisará de
alguma camuflagem antifascista. (Vejam, não temos nenhum
fascista por aqui! Você não percebe que estamos lutando contra o
fascismo?) Mesmo assim, para pessoas que sabem como
reconhecê-los, a esquerda de hoje ainda é o partido do fascismo e
do nacional-socialismo, velhas ideologias marchando agora em um
diferente continente sob novas cores e diferentes roupagens; um
fascismo para o século XXI.
Capítulo Três
A Jornada
de Mussolini

O conflito entre o fascista ou o nacional-socialista e os outros


partidos socialistas deve ser amplamente considerado como o tipo
de conflito que necessariamente surgirá dentre facções socialistas
rivais.1
Friedrich Hayek, The Road to Serfdom
Em 23 de março de 1919, um dos socialistas mais famosos da Itália
fundou um novo partido, o Fasci di Combattimento, termo que
significa “esquadrão de combate fascista”. Este foi o primeiro partido
fascista oficial e, portanto, sua fundação representa o verdadeiro
nascimento do fascismo. Da mesma forma, esse homem foi o
primeiro fascista. O termo “fascismo” remonta ao ano de 1914,
quando ele mesmo fundou o Fasci Rivoluzionari d’Azione
Internazionalista, movimento político cujos membros
autodenominavam-se fascisti, ou fascistas.
Em 1914, este pai fundador do fascismo já era, ao lado de
Vladimir Lênin na Rússia, Rosa Luxemburg na Alemanha e Antonio
Gramsci na Itália, um dos marxistas mais conhecidos do mundo.
Seus companheiros marxistas e socialistas o reconheceram como
grande líder do socialismo. Sua decisão de tornar-se fascista foi
controversa, mas ele recebeu a aprovação de Lênin, que continuou
a considerá-lo um fiel revolucionário socialista. E era assim também
que ele mesmo se via.
Naquele mesmo ano, tendo apoiado o envolvimento italiano na
Primeira Guerra Mundial, ele seria expulso do Partido Socialista
Italiano por “heresia”, não significando, porém, que por isso havia
deixado de ser socialista. Era prática comum para os partidos
socialistas a expulsão de companheiros socialistas dissidentes,
daqueles que discordavam de alguns pontos importantes da linha do
partido. Este então rejeitado pelo partido insistiu que fora expulso
por ter feito uma “revisão do socialismo do ponto de vista
revolucionário”.2 Pelo resto de sua vida — até ter seu corpo morto e
exposto numa praça da cidade de Milão —, ele confirmou os
princípios centrais do socialismo, os quais via refletidos de melhor
forma no fascismo. Quem, então, era esse homem? Era o futuro
líder da Itália fascista, aquele que os italianos chamavam de Il Duce,
Benito Mussolini.
As credenciais socialistas de Mussolini eram impecáveis. Criado
em família socialista, com a idade de dezoito anos, em 1901,
declarou publicamente suas convicções. Aos vinte e um anos, já era
marxista ortodoxo, familiarizado não só com os escritos de Marx e
Engels, mas também com os mais influentes marxistas alemães,
italianos e franceses do período fin de siècle. Tais quais outros
marxistas ortodoxos, Mussolini rejeitou a fé religiosa e escreveu
panfletos anticatólicos repudiando o catolicismo de sua nação.
Mussolini embarcou em uma carreira ativa de escritor, editor e
dirigente político. Exilado na Suíça entre 1902 e 1904, colaborava
semanalmente com o Partido Socialista Italiano lançado lá; também
escreveu para Il Proletario, periódico semanal socialista publicado
em Nova Iorque. Em 1909, Mussolini fez outra estada temporária
em Trento — na época, parte da Áustria-Hungria —, onde trabalhou
para o Partido Socialista e editou seu jornal. Ao retornar, no ano
seguinte, à sua cidade natal, Forli, ele editou o periódico semanal
socialista La Lotta di Classe. Tão vastos foram seus escritos sobre o
marxismo, a teoria socialista e a política contemporânea que sua
produção agora preenche sete volumes.
Mussolini não era apenas um intelectual; ele organizou greves de
trabalhadores em nome do movimento socialista dentro e fora da
Itália e foi duas vezes preso por seu ativismo. Em 1912, Mussolini
foi reconhecido como líder socialista no Congresso Socialista de
Reggio Emilia e designado para o conselho administrativo do
Partido Socialista Italiano. No mesmo ano, aos vinte e nove anos,
tornou-se editor da Avanti!, publicação oficial do partido.
Do ponto de vista da narrativa progressista — narrativa que
comecei a desafiar no capítulo anterior —, a mudança de Mussolini,
do socialismo marxista para o fascismo, deve vir como uma grande
surpresa. No paradigma progressista, o socialismo marxista é o
extremo do lado esquerdo do espectro, ao passo que o fascismo é o
extremo do lado direito. A incredulidade progressista torna-se ainda
maior quando se percebe que Mussolini não era mais outro mero
socialista; ele era, reconhecidamente, o líder do movimento
socialista na Itália. Além disso, ele não simplesmente pegou o
bonde do fascismo; ele o criou.
Hoje em dia pensamos em Adolf Hitler como o representante mais
famoso do fascismo. No entanto, conforme mencionei
anteriormente, Hitler não se considerava fascista. Ao invés disso,
ele se considerava nacional-socialista. As duas ideologias estão
relacionadas na medida em que ambas são baseadas no
coletivismo e no poder centralizado no Estado. Elas emergem,
pode-se dizer, de um ponto de partida em comum. No entanto,
também são distintas; por exemplo, o fascismo não tinha conexão
intrínseca com o antissemitismo da mesma maneira como o
nacional-socialismo o tinha.
Seja como for, Hitler ainda era um obscuro dirigente na Alemanha
quando Mussolini ascendeu ao poder e, após sua famosa Marcha
sobre Roma, estabeleceu o primeiro regime fascista do mundo, na
Itália, em 1922. Hitler admirava muito Mussolini e almejava ser como
ele. Segundo Hitler, Mussolini era “o principal estadista do mundo, a
quem ninguém pode, nem mesmo remotamente, comparar-se”.3
Hitler tomou inspiração da bem-sucedida Marcha sobre Roma
guiada por Mussolini para o seu fracasso na ocasião do Putsch de
Munique, realizado em novembro de 1923.
Logo que chegou ao poder, Hitler manteve um busto de Mussolini
em seu escritório; e certo alemão chegou a chamá-lo de “Mussolini
da Alemanha”.4 Mais tarde, quando os dois homens conheceram-se
pela primeira vez, Mussolini não ficou muito impressionado com
Hitler, passando a considerá-lo com mais respeito só depois de
1939, quando Hitler conquistou a Áustria, a Polônia, a
Checoslováquia, a Bélgica, a Noruega e a França. Hitler continuou a
defender Mussolini como “esse estadista incomparável” e “um dos
Césares”, além de confessar que, sem o fascismo italiano, não
existiria o nacional-socialismo alemão: “Os camisas pardas
provavelmente não existiriam sem os camisas negras”.5
Assim como Mussolini, Hitler era homem da esquerda, sem contar
que também era líder socialista e cabeça da classe trabalhadora,
fundador do Partido Socialista dos Trabalhadores Alemães, cujo
programa provou ser muito semelhante ao do partido fascista de
Mussolini. Hitler, entretanto, chegou ao poder na década de 1930,
ao passo que o governo de Mussolini abrangeu a maior parte da
década de 1920. Durante esses anos, Mussolini foi muito mais
famoso do que Hitler, reconhecido inclusive como o pai fundador do
fascismo. Portanto, qualquer descrição da origem do fascismo não
deve se concentrar em Hitler, mas em Mussolini. Este, sim,
Mussolini, é o fascista original e prototípico.
Do Socialismo ao Fascismo
Como então — retornando ao paradigma progressista — os
progressistas retratam a conversão de Mussolini do socialismo ao
fascismo, ou, mais precisamente, seu abraçar simultâneo de ambas
as ideologias? O problema é aprofundado pelo fato de que Mussolini
não estava sozinho. Centenas de líderes socialistas, inicialmente na
Itália mas posteriormente na Alemanha, na França e em outros
países, também tornaram-se fascistas. Na verdade, vou além ao
dizer que todas as principais figuras da fundação do fascismo eram
homens de esquerda. “Os primeiros fascistas”, diz Anthony James
Gregor, “eram quase todos marxistas”.6
Citarei alguns exemplos. Jean Allemane, famoso por seu papel no
caso Dreyfus, uma das grandes figuras do socialismo francês, viria a
tornar-se fascista anos mais tarde. Assim também foi com o
socialista Georges Valois. Marcel Deat, fundador do Parti Socialiste
de France, acabou abandonando o partido e, em 1936, deu início a
um partido pró-fascismo. Tempos depois, ele passou a colaborar
com o nazismo durante o regime de Vichy. Jacques Doriot,
comunista francês, moveu seu Parti Populaire Français para o
campo fascista.
Henri de Man, teórico socialista belga, transformou-se num teórico
fascista. Na Inglaterra, Oswald Mosley, parlamentar socialista do
Partido Trabalhista, por fim rompeu com o Partido Trabalhista por
não o considerar suficientemente radical.
Mais tarde, ele fundou a União Britânica dos Fascistas e tornou-se
o principal simpatizante nazista do país. Na Alemanha, Gerhart
Hauptmann, dramaturgo socialista, abraçou Hitler e produziu peças
durante o período do Terceiro Reich. Após a guerra, passou para o
comunismo e encenou suas produções na Berlim Oriental,
dominada pela União Soviética.
Na Itália, o filósofo Giovanni Gentile passou do marxismo para o
fascismo, assim como uma série de dirigentes sindicais italianos:
Ottavio Dinale, Tullio Masotti, Carlo Silvestri e Umberto Pasella.
Agostino Lanzillo, escritor socialista, juntou-se ao Parlamento de
Mussolini como membro do Partido Fascista. Nicola Bombacci, um
dos fundadores do Partido Comunista Italiano, tornou-se o principal
assessor de Mussolini em Saló. O discípulo de Gentile, Ugo Spirito,
que também serviu a Mussolini em Saló, passou do marxismo para
o fascismo e depois de volta ao marxismo. Como Hauptmann,
Spirito tornou-se simpatizante do comunismo após a Segunda
Guerra Mundial e pediu uma nova “síntese” entre o comunismo e o
fascismo.
Outros que fizeram a mesma jornada do socialismo ao fascismo
serão nomeados neste capítulo. Uma coisa que ficará muito clara é
que tais não são histórias de “conversão”. Esses homens não
“mudaram” do socialismo para o fascismo. Ao contrário, eles
tornaram-se fascistas da mesma forma pela qual os socialistas
russos tornaram-se bolcheviques leninistas. Tais quais seus
homólogos russos, aqueles socialistas acreditavam estar crescendo
no fascismo, amadurecendo no fascismo, uma vez que
consideravam o fascismo a forma mais bem pensada e prática do
socialismo para o novo século.
O progressismo simplesmente não consegue explicar a fácil
mudança do socialismo para fascismo. Sendo assim, os
progressistas costumam manter silêncio completo sobre toda essa
relação histórica, a qual lhes é profundamente embaraçosa. Em
todos os artigos comparando Trump a Mussolini, procurei em vão
por referências ao antigo marxismo de Mussolini e seu apego ao
socialismo de toda uma vida. Tanto por ignorância quanto por
esquemas, essas referências não se fazem presentes.
Os relatos biográficos progressistas, no entanto, que não podem
evitar o passado socialista de Mussolini, recorrem e acusam-no —
como o Partido Socialista da Itália fez em 1914 — de ter “se
vendido” ao fascismo por dinheiro e poder. Outros relatos afirmam
que, independentemente das convicções originais de Mussolini, o
próprio fato de seus fascistas terem lutado contra os marxistas e os
socialistas tradicionais mostra claramente que Mussolini não
permaneceu socialista, nem mesmo de esquerda.
Mas essas explicações não fazem sentido. Quando se “vendeu”,
Mussolini foi banido. Ele não tinha dinheiro, não tinha poder. Nem
tampouco qualquer um dos primeiros fascistas abraçou o fascismo
por esse motivo. Pelo contrário, eles passaram para o fascismo
porque viram nele o único meio de resgatar o socialismo e torná-lo
viável. Em outras palavras, a deserção deles estava dentro do
socialismo — eles procuravam criar um novo tipo de socialismo, um
que realmente causasse aderência das massas e produzisse a
revolução dos trabalhadores que Marx anteviu e antecipou.
As lutas ferozes entre facções socialistas e esquerdistas são uma
característica reconhecida da história do socialismo. Na Rússia, por
exemplo, houve confrontos sangrentos entre rivais bolcheviques e
mencheviques. Mais tarde, os bolcheviques dividiram-se em
leninistas e trotskistas, e Trotsky acabou morto por ordens de Lênin.
Todos eram figuras da esquerda. O que essas rivalidades
sangrentas provam é que as piores divisões e conflitos às vezes
surgem entre pessoas ideologicamente muito parecidas e que
diferem em pequenos — embora não tão pequenos aos olhos delas
— pontos doutrinários.
Neste capítulo, traçarei o desenvolvimento do fascismo,
mostrando exatamente como este surgiu de uma divisão doutrinária
dentro da comunidade de socialistas marxistas. Em suma, vou
provar que o fascismo é exclusivamente um produto da esquerda.
Este não é um caso de esquerdistas que passaram para a direita.
Não, os fascistas estavam no extremo esquerdo do movimento
socialista. Eles não se viam como desprezando o marxismo, mas
como que o salvando da obsolescência. Do ponto de vista deles, o
marxismo e o socialismo eram inertes demais e, portanto,
precisavam ser ajustados mais para a esquerda. Em outras
palavras, eles consideravam o fascismo mais revolucionário do que
o socialismo tradicional.
Em grande parte, essa narrativa por si só é um capítulo não
contado na história das ideias. Eu a escavei de obras densamente
acadêmicas dos principais historiadores do fascismo, para colocá-la
ao alcance de uma audiência geral. Conforme esses estudiosos
enfatizam, não foi assim que o fascismo terminou, mas como
começou. Hoje o fascismo é pensado em termos das extremas
perversidades da Segunda Guerra Mundial, mas o movimento
fascista não teria atraído um grande número de seguidores se fosse,
originalmente, visto dessa forma. Deve haver um apelo lógico e
emocional que hoje nos é invisível.
Tento mostrar, aqui, a força dessa lógica e dos tais apelos
originais. Meu objetivo é produzir uma genealogia no sentido do
termo que Nietzsche escreveu em sua Genealogia da Moral.
Nietzsche buscava desacreditar a moral cristã ao relatar sua origem,
revelando suas supostas raízes basilares.
Meu objetivo é mostrar as origens fundacionais do fascismo, e
não tanto a fim de desacreditá-lo — dificilmente seria necessário
fazê-lo em nossa época —, mas para estabelecer, de uma vez por
todas, a grande mentira que é tornar o fascismo um fenômeno de
direita. Sem essa mentira, a afirmação de que Trump e o GOP são
fascistas simplesmente desmorona.

A Crise do Marxismo
O fascismo surgiu da profunda crise enfrentada pelo marxismo no
início do século XX. Portanto, partamos dela. Lembre-se de que
Marx não pediu que os trabalhadores do mundo se levantassem e
se rebelassem contra a classe burguesa ou capitalista. Em vez
disso, ele previu que isso aconteceria. Marx se via como uma
espécie de profeta, predizendo o que viria a acontecer. Para Marx,
não importava se alguém fosse a favor do comunismo ou contra ele;
de qualquer forma, a chegada do comunismo seria inevitável.
Como sabia disso? Marx era um materialista histórico. Ele não
recebeu suas profecias de Deus; ele as recebeu por meio do estudo
daquilo que ele considerava ser os fundamentos materiais da
História. De acordo com Marx, a História é dividida em duas classes:
a classe trabalhadora, ou o proletariado, e a classe capitalista, ou a
burguesia. Em essência, a classe capitalista torna-se rica ao
explorar continuamente a classe trabalhadora. Portanto, é previsível
que, em dado momento, este conflito fique tão severo que seja
inevitável a derrubada revolucionária da classe capitalista por parte
dos trabalhadores.
Marx considerava seu trabalho “estritamente científico” e,
também, “estritamente realista”. Seu ajudante, Engels, falou das
“leis gerais do movimento”. Marx e Engels alegaram saber até as
condições precisas em que essa revolta ocorreria. Primeiro,
aconteceria nos países capitalistas mais avançados.
Especificamente, Marx esperava que o comunismo chegasse
primeiramente à Alemanha ou à Inglaterra. Em seguida, ele
esperava que se espalhasse para outros países europeus e,
finalmente, por todo o mundo. Em segundo lugar, Marx insistia que
os sinais de uma revolução iminente seriam o crescente
empobrecimento da classe trabalhadora e a crescente alienação de
seus empregadores e da sociedade.
Parece meio cômico, em retrospecto, que pessoas altamente
inteligentes aceitaram toda essa ladainha marxista — os
pressupostos infundados, o pretensioso absurdo verborrágico —
como um evangelho. Mas é certo que assim a acolheram. Contudo,
no início do século XX, tornou-se óbvio para a maioria das pessoas
— até mesmo para muitos marxistas — que nada do que Marx havia
previsto estava realmente acontecendo. Não só não havia sinais de
revolução na Alemanha ou na Inglaterra, mas também as classes
trabalhadoras nessas nações pareciam cada vez melhores e com
notória estabilidade.
Por exemplo, na Alemanha e na Inglaterra, a renda per capita,
ajustada pela inflação, praticamente dobrou no ínterim entre as
previsões de Marx e o início do século XX.7 Em suma, a barganha
capitalista parecia estar funcionando; o proletariado e a burguesia
estavam se dando muito bem. O socialismo parecia ainda menos
provável na América, escreveu Werner Sombart, economista
alemão, porque todos estavam muito confortáveis. Nas palavras de
Sombart, todas as utopias revolucionárias falham quando se trata de
ter carne assada e torta de maçã que pôr no prato.
A crise do marxismo pode ser percebida em uma única carta
escrita por Eduard Bernstein, alemão exilado na Inglaterra, pupilo e
protegido mais próximo de Engels. Já em 1898, Bernstein escreveu:
“Tentei, ao estender os ensinamentos marxistas, deixá-los de acordo
com as realidades práticas [...] Mas, em terminada minha atuação,
disse a mim mesmo — isso não pode continuar. É inútil tentar
conciliar o irreconciliável. É preciso esclarecer com exatidão onde
Marx está certo e onde ele está errado”.8
A necessidade de revisões fundamentais no marxismo tornou-se
ainda mais óbvia nas primeiras décadas do século XX. Em 1917,
houve uma revolução comunista, mas, entre todos os lugares
possíveis, ela ocorreu na Rússia, um dos países menos
desenvolvidos da Europa. Para os marxistas, aquela revolução
sobreveio de surpresa. Marx insistia que a revolução na Rússia, na
Ásia ou na África eram impossíveis sem que essas regiões
passassem por etapas do desenvolvimento capitalista. A trajetória
histórica de Marx passou do feudalismo ao capitalismo e, então, ao
comunismo. Em outras palavras, é preciso tornar-se capitalista
antes de tornar-se comunista.
Não menos do que os outros poderiam ver, os marxistas
perceberam que a revolução russa não foi uma revolta do
proletariado contra uma classe capitalista, mas uma operação militar
organizada por revolucionários profissionais contra uma ditadura
czarista. Os revolucionários não eram da classe trabalhadora, mas
principalmente provenientes da intelligentsia — advogados,
jornalistas, ativistas sociais. Não era o que Marx havia previsto.
Quanto ao tipo de revolução que Marx previu, a revolta da classe
trabalhadora, nunca houve uma revolução que fosse proletária em
qualquer sentido inteligível do termo.
Como os marxistas reagiram a esses acontecimentos
surpreendentes e, para eles, inclusive, perturbadores da História? A
maioria dos partidos marxistas oficiais na Europa reagiu feito gado,
de uma estupidez bovina. O marxismo caiu em uma espécie de
torpor intelectual. Muitos da liderança marxista basicamente
ignoraram o mundo como tal e continuaram a esperar o mundo
como ele deveria ser. Karl Kautsky e Rosa Luxemburg foram líderes
influentes do Partido Social-Democrata alemão, o principal partido
socialista do mundo, e mais tarde do Partido Social-Democrata
Independente da Alemanha. A posição deles era que a revolução
realmente chegaria à Alemanha, assim que as condições
estivessem maduras.
No entanto, como Eduard Bernstein, muitos dos marxistas e
socialistas mais inteligentes reconheceram que se tratava de um
sonho socialista. As condições em toda a Europa estavam ficando
menos maduras. A cada década, a condição de vida dos
trabalhadores melhorava consideravelmente. E como explicar a
Rússia? Marx ficaria chocado. Então um grande debate surgiu entre
os marxistas, socialistas e esquerdistas, daí surgindo duas novas
tensões do socialismo marxista, que dominariam o novo século. A
primeira era o bolchevismo, ou leninismo. A outra era o fascismo, ou
nacional-socialismo.
Comecemos por Lênin, líder revolucionário da revolução russa.
Lênin era, tal qual Mussolini, um revolucionário intelectual e também
revolucionário prático. Ele, como Mussolini, começou no socialismo
marxista ortodoxo e permaneceria, até o fim de sua vida, leal à
essência da doutrina marxista. No entanto, Lênin sabia que também
deveria explicar por que o comunismo havia chegado à Rússia, mas
não aos países capitalistas avançados como a Alemanha ou a
Inglaterra.
Sua explicação, oferecida em seu livro chamado O Imperialismo:
Fase Superior do Capitalismo, é engenhosa. Basicamente, Lênin
argumenta que o capitalismo havia “exportado” sua própria crise,
através do colonialismo e do imperialismo, para o Terceiro Mundo.
Em outras palavras, os capitalistas no Ocidente estavam
subornando sua classe trabalhadora ao explorar os pobres em
outros países. Isso, argumenta Lênin, não foi algo que Marx previu.
Por conseguinte, Lênin afirma, não deveríamos esperar uma
revolução na principal metrópole do capitalismo, na Europa
Ocidental, mas sim na periferia. A Rússia era simplesmente o
primeiro caso de revoluções socialistas ocorrendo pelo mundo
subdesenvolvido previstas por Lênin.
Além disso, ele sabia que sua revolução bolchevique não era uma
revolução da classe trabalhadora. Ele percebeu não haver registros
disso, exceto a partir de uma revisão de Marx. Em seu livro mais
famoso, Que Fazer?, Lênin insiste que Marx havia sido muito
complacente em esperar que a revolução ocorresse por si só. De
certo modo, Marx havia depositado confiança demais nos
trabalhadores. Lênin os considerava ignorantes e oprimidos demais
para dar início ao que quer que fosse.
Segundo Lênin, as revoluções futuras exigiriam uma vanguarda
profissional de combatentes militantes, lideradas por pessoas como
ele, para instigar a consciência de classe na sociedade e derrubar a
classe dominante em nome da classe trabalhadora. Esses militantes
não precisavam ser proletários; eles poderiam ser intelectuais,
artistas, até membros da burguesia. No dizer do cientista político
Joshua Muravchik, do ponto de vista de Lênin “a revolução
proletária não precisava ser realizada por proletários; ela poderia ser
realizada em favor deles”.9
No final das contas, Lênin esperava que as coisas se tornassem
bem parecidas com o que Marx havia previsto. Lênin concordava
com Marx sobre a revolução comunista ser um evento internacional.
Por fim, ela seria um fenômeno mundial. Além disso, seria dirigida
pelas diferenças de classes, vistas em todos os países. Assim, o
comunismo não pode ficar restrito a um único país; de fato, como
Marx disse certa vez, o operário não tem país.
Lênin também esperava que, quando a revolução finalmente
ocorresse, o próprio Estado desapareceria. Este foi o tema central
de seu livro O Estado e a Revolução, no qual ele previa que da
revolução do proletariado seguiria uma ditadura do proletariado, a
qual, por sua vez, seria seguida do desaparecimento completo de
qualquer tipo de Estado. Em outras palavras, na utopia comunista,
todos na sociedade possuirão conjuntamente os meios de produção
e não haverá a necessidade de um Estado.
Esse pequeno pedaço de artifício ideológico marxista fica
especialmente risível quando é posta sob consideração a União
Soviética de Lênin, com seu Estado militarizado e inchado,
confiscando a riqueza do povo e governando com um cetro de ferro
sobre sua vida. À medida que desprezava o povo russo em nome da
ideologia socialista, Lênin, em total insensatez, continuava a prever
o desaparecimento de todo o aparelho do Estado comunista.
Nota-se que as inovações de Lênin sobre o marxismo não foram
bem recebidas pela principal corrente dos marxistas europeus,
como Kautsky e Luxemburgo, que o acusaram de corromper os
ensinamentos marxistas e minar toda a lógica do próprio marxismo.
Lênin não se importou, afinal sabia que ele próprio representava o
futuro. O leninismo sobreviveria à “crise do marxismo” e mudaria o
mundo. E o que aconteceu com Kautsky e Luxemburgo? Ele
desapareceu nos arquivos mofados da história marxista e ela foi
feita nota de rodapé — executada pelo regime de Weimar, em 1919,
por ter se associado a uma insurreição armada que por fim
fracassou.
Na Itália, um homem de temperamento muito semelhante ao de
Lênin, não menos cruel e prático, ponderava sobre a mesma crise
que o déspota soviético. Ele estava acompanhado nessa busca por
todo um movimento de socialistas revolucionários, sobretudo na
Itália, mas também na França e na Alemanha. Eles chegariam a
conclusões bem diferentes da de Lênin e vislumbrariam um tipo de
futuro socialista bastante distinto. Mesmo assim, juntos, lançaram
um movimento, o fascismo, que rivalizaria com o comunismo
soviético em seu alcance global e trágica destruição.

O Mito da Violência Revolucionária


A resposta fascista à “crise do marxismo” tomou um rumo
diferente do de Lênin, embora mantivesse algumas semelhanças de
abordagem. Essa mudança é mais interessante para o propósito
aqui exposto, uma vez que o fascismo de Mussolini exerce maior
relevância sobre o progressismo americano do que o bolchevismo
de Lênin. No entanto, aqui devemos ver a trajetória de Mussolini
junto ao percurso dos demais, porque ele não agiu sozinho. O
fascismo italiano — o primeiro fascismo — surgiu como síntese de
dois movimentos socialistas: o movimento nacionalista e o
movimento sindicalista revolucionário. Ambos foram construídos
sobre os fundamentos de um homem, Georges Sorel.10
Não obstante marxista francês, Sorel partiu da premissa de que
as previsões de Marx falharam: “Sabemos que as coisas
simplesmente não acontecem como Marx supôs em 1847”. O
problema para Sorel foi o determinismo histórico de Marx. Em suas
palavras: “Prometem-nos ciência, mas recebemos apenas palavras.
Não nos são dados novos meios de atuação no mundo”. Em outras
palavras, aos olhos de Sorel, a revolução não apenas acontece para
a classe trabalhadora; ela deve ser causada pela própria classe
trabalhadora.
Mas como? Neste ponto Sorel vai além de Marx e mergulha no
domínio da psicologia. O ser humano, diz ele, é motivado por
poderosas aspirações internas, aspirações que demonstram não ser
inteiramente racionais. Sorel as chama de “mitos”; por mitos ele
quer dizer ideias poderosas que reúnem grandes grupos de pessoas
com o objetivo de agir. Ele ressalta que as Cruzadas foram
conduzidas pelo mito da santa missão de reconquistar Jerusalém.
Os mitos não são “descrições das coisas”, insiste Sorel, “mas
expressões da vontade”.
Assim como Lênin, Sorel considerava a classe trabalhadora
inerte, incapaz de dar-se à revolução por si só. Ela precisava era de
líderes que infundiriam suas lutas de classes com mitos poderosos,
e esses mitos, por sua vez, unificariam o proletariado e o levaria à
ação. Sorel parece clamar por algo semelhante à vanguarda
revolucionária de Lênin, um líder, ou grupo de líderes, que
despertaria a consciência da classe trabalhadora. Eis o conceito de
“conscientização”, que é comum ao leninismo e ao fascismo inicial,
e também uma característica importante do progressismo americano
moderno. A conscientização parte do princípio de que o lugar onde
a revolução ocorre é na mente humana. A consciência — não a
circunstância — determina se você é verdadeiramente
revolucionário. O intelectual autoconscientizado pode considerar-se
um dos proletários. O homem trabalhador que rejeita a revolução
pode ser diagnosticado como sofrendo de “falsa conscientização”.
A Nova Esquerda, na década de 1960, estava obcecada com a
conscientização. Saul Alinsky, um mentor para Obama e Hillary,
dedicou grande parte dos seminários e treinamentos que ministrou
para a conscientização. Hoje em dia já é rotina para o movimento
Black Lives Matter e para outros grupos de esquerda promover
seminários de conscientização como parte do treinamento para
protestos. Isso tudo substitui a noção de Marx de inevitabilidade
histórica, reconhecendo que as pessoas não se perturbam por
iniciativa própria; suas queixas e intempéries lhes devem ser
criadas, ou pelo menos interpretadas; o povo, de modo a levantar e
agir, precisa ser instigado.
Embora reconhecesse estar revisando Marx, Sorel insistia que
sua revisão estava inteiramente no espírito de Marx. O marxismo
não estava errado, ele apenas exigia uma “obra de conclusão”, a
qual seria realizada “pelos métodos marxistas”. O problema era que
o marxismo havia sido corrompido por marxistas cegos demais para
entender que a revolução não estava acontecendo no curso normal
dos acontecimentos; eram também pessoas inertes e preguiçosas
demais para que o proletariado fosse levado à ação.
Sorel concordava com Marx em afirmar que a divisão central da
sociedade é uma divisão de classes — uma divisão entre
trabalhadores e capitalistas. “A luta de classes é o alfa e o ômega
do socialismo”. A luta de classes era “o que realmente havia de
verdadeiro no marxismo, de poderosamente original, superior a
todas as fórmulas”. Sorel insistia que Marx, em seus primórdios,
falava menos em termos de inevitabilidade da revolução e mais em
termos de motivar os trabalhadores e estimulá-los à ação. Então,
em certo sentido, Marx acertou desde o início.
A ação que Sorel queria ver era uma greve geral. Este era o
“mito”, ou a causa, que levaria os trabalhadores ao agir decisivo. Por
greve geral Sorel não imaginava uma série de confrontos de
trabalhadores contra capitalistas espalhados em várias indústrias,
mas sim uma única greve nacional que, de uma só vez, derrubaria o
sistema capitalista. Assim como Lênin, Sorel percebeu que tal greve
dificilmente poderia ser pacífica, pela simples razão de que os
capitalistas nunca desistiriam de seu poder sem antes batalhar por
ele.
Sorel, portanto, aprovava uma greve geral como meio de
revolução violenta. De modo algum ele era alérgico à violência; na
verdade, sua principal obra se chama Reflexões sobre a Violência.
Sorel falou da violência como sendo “bela” e “heroica”. Para ele, a
violência era uma espécie de higienização saudável — uma
remoção dos detritos sociais. Percebe-se aqui, no início do
fascismo, do leninismo e, mais tarde, do progressismo americano,
essa mesma glorificação da violência dando apoio à revolta e ao
protesto. Para todas essas ideologias, bater nas pessoas é uma
forma importante de purgar a sociedade de seus males longevos.
Sorel permaneceu marxista por toda sua vida. Ele dedicou seu
livro Reflexões sobre a Violência a Lênin, e deu boas-vindas à
revolução russa. Embora nunca tenha se autodenominado fascista,
Sorel estava ciente de que os fascistas haviam sido influenciados
por seu trabalho, e jamais os reprovou. Assim como tantos que
viriam a segui-lo, Sorel viu o fascismo como continuação e
concretização do socialismo, a conclusão, termo que ele usou, do
“papel histórico” da esquerda.
Mussolini ficou bastante impressionado com Sorel. “As massas”,
ele escreve, “não podem ser os protagonistas da História — elas
são o seu instrumento”.11 Naturalmente, ele se considerava o tipo
de líder que invocaria os mitos coletivos, que, por sua vez,
conduziriam o proletariado à ação. Tal qual Sorel, Mussolini afirmava
a necessidade, e até mesmo a beleza, da violência no papel de
consumação da revolução. Em outras palavras, o socialismo das
palavras teria de, por fim, resultar no socialismo das atitudes. Os
revolucionários da esquerda deviam realmente assumir o controle
do país; e, para fazê-lo, obviamente teriam de quebrar alguns
crânios.

Trata-se da Nação, seu Idiota!


Em 1911, a Itália invadiu Trípoli e Cirenaica no objetivo de
arrancar a província da Líbia do Império Otomano. Observando a
campanha italiana, Mussolini descobriu algo surpreendente. Ele
notou que a classe trabalhadora italiana respondia mais
poderosamente ao apelo da nação do que jamais teria respondido
ao apelo de classes, percepção que se fortificou alguns anos mais
tarde, quando a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial ao lado da
Grã-Bretanha e da França. Mussolini viu que os socialistas italianos
lutaram pela Itália, os socialistas franceses lutaram pela França, e
os socialistas alemães lutaram pela Alemanha.
A importância desta descoberta não pode ser suficientemente
relatada. Socialista imbuído de conceitos de classe marxistas,
Mussolini acreditava que a associação de classes era o principal
motor da História. Determinado, acreditava que as pessoas estavam
principalmente ligadas à classe a que pertenciam. Elas morreriam
por sua classe, se desafiadas a fazê-lo. Isso se aplicaria igualmente
aos trabalhadores e à burguesia. Na segunda década do século XX,
Mussolini viu que não era esse o caso. O povo não daria a vida pela
classe pertencente, mas a daria pela nação.
A princípio, Mussolini recusou-se a acreditar nisso. Marx insistia
que as alianças de classe eram fundamentais e que o nacionalismo
era invenção da classe dominante burguesa. Na verdade, Marx
repudiava o antigo patriotismo, cuja ostentação de bandeiras e
parafernálias ele considerava um ardil da classe dominante
burguesa para manter a classe trabalhadora sob controle. Ele
acreditava que o patriotismo era uma estratégia para reprimir o
conflito de classes. Mussolini concordava com isso. Ele se opôs
vigorosamente à guerra da Líbia e ridicularizou demonstrações do
patriotismo italiano. A bandeira italiana, disse ele com palavras que
permaneceram na História, não passava de um “pano” que merecia
ser “plantado em monturos”.12
Em 1914, ano da Grande Guerra, Mussolini começava a pensar
de forma diferente. Sua mudança de coração surgiu principalmente
a partir da observação pessoal e direta do que realmente unia a
classe trabalhadora, ou seja, seu apego à Itália em vez de seu
apego a este grupo chamado proletariado. Mussolini observou que,
nas trincheiras, “ninguém mais falava de retornar à sua aldeia ou
região. Todos falavam sobre voltar para a Itália”.13 Todavia, a
mudança de Mussolini também foi influenciada por um grupo de
socialistas revolucionários que já defendia a nação acima das
classes. Estes eram os nacionalistas, cujos personagens mais
proeminentes eram Roberto Michels, Enrico Corradini e Alfredo
Rocco.
Mais tarde, todos eles tornaram-se fascistas. Michels, socialista
alemão até antes de se mudar para a Itália, juntou-se primeiro ao
Partido Socialista Italiano e depois ao Partido Fascista de Mussolini.
Corradini e Rocco eram ativistas do socialismo; Corradini foi o
principal motor da Associação Nacionalista Italiana, à qual Rocco
mais tarde juntou-se. Finalmente, este grupo fundiu-se e formou o
partido fascista. Corradini foi nomeado por Mussolini para servir no
Senado italiano e ligou-se ao governo de Mussolini em 1928. Rocco
foi eleito fascista para a Câmara dos Deputados e, mais tarde, como
ministro da justiça de Mussolini, tornou-se um importante arquiteto
do código penal do Estado fascista.
Havendo sido ex-aluno de Max Weber na Alemanha, Michels
defendeu o nacionalismo por meio de um exame sociológico sobre o
que fazia grupos se juntarem. Ele concordou com Marx que o
homem não é uma criatura solitária e que, desde o princípio da
História, os povos coalescem em grupos sociais. Contudo, Michels
argumentava que a instituição humana mais forte, fora a família, não
era a classe social, mas, no lugar dela, a tribo. No dizer dele, as
tribos são os ancestrais das nações modernas e as nações são
estruturas construídas sobre costumes compartilhados e sobre a
história compartilhada. Elas, as nações, é que controlam as
lealdades mais profundas dos povos. Michels chamava as nações
de “comunidades da volição”.
Corradini e Rocco foram além, argumentando que não fazia
sentido falar sobre diferença de classes em um país agrícola
subdesenvolvido como a Itália. Aqui, disseram eles, não há
diferenças acentuadas entre a classe trabalhadora e a classe
capitalista. Aqui, todo o país é pobre e praticamente todos têm de
lançar das mãos ao trabalho. Em certo sentido, todos os italianos
pertencem a uma única classe de luta.
Suas lealdades, portanto, não surgiram da classe, mas de um
apego comum a memórias partilhadas e participação compartilhada
no modo de vida italiano. Em outras palavras, o que os italianos
tinham em comum era a etnia. Eis a base do nacionalismo,
característica importante do fascismo. Reconheçamos, no entanto,
que este é o nacionalismo étnico — um nacionalismo de identidade
étnica. Como tal, ele está na raiz não só do fascismo, mas também
na do progressismo moderno, cuja afirmação e celebração da
identidade étnica servem de base para a motivação e participação
política.
Havendo refletido sobre a etnia, pressupondo ser ela a identidade
compartilhada dos operários italianos, Corradini e Rocco concluíram
que o nacionalismo étnico era o mito estimulante dos trabalhadores.
Apenas uma dedicação sacrificial à nação italiana, ambos
argumentaram, permitiria que a Itália ultrapassasse a frágil
unificação do Risorgimento e conquistasse um “segundo
Risorgimento”, que então tornaria a Itália um país verdadeiramente
maduro e desenvolvido.
Corradini também viria a reforçar que os italianos que se
encontravam na miséria por vezes precisavam ir para o exterior na
busca por trabalho, onde acabavam sendo explorados por sua mão
de obra em países ricos como Inglaterra, França e Alemanha.
Diante disso, Corradini propôs uma revisão do conceito marxista de
divisão de classes. A divisão real, disse ele, era entre nações ricas e
nações pobres. A Alemanha, a Inglaterra e a França eram países
plutocráticos — nações formadas por capitalistas — e a própria
Itália, o país inteiro, poderia ser considerado uma “nação proletária”,
uma nação de trabalhadores explorados.14
Em última análise, os nacionalistas revolucionários propuseram
que a própria Itália precisaria unir-se e revoltar-se contra a
exploração capitalista e globalista dos países europeus solidificados
na riqueza, que engordaram não só por ocasião do trabalho italiano,
mas também com colônias e conquistas estrangeiras, com as quais
haviam ampliado seu “espaço vital”. Esse era chamado de spazio
vitale na Itália; os alemães o chamavam de Lebensraum. Os
nacionalistas defenderam o spazio vitale para a Itália crendo ser
esse o único meio através do qual a Itália se ergueria e sairia da
posição de nação proletária.
Na opinião dos adeptos do socialismo nacionalista mas, então,
derradeiramente fascistas, a Itália também precisava de seu próprio
“espaço vital”, necessidade esta que poderia demandar ou
campanhas de colonização no exterior ou uma guerra dentro da
própria Europa, para ampliar a influência e o poder da Itália e, com
isso, permitir o seu povo de juntar-se à comunidade das nações
abastadas. Ao contrário de Mussolini, os nacionalistas apoiaram a
intervenção italiana na Líbia em 1911 e também a participação
italiana na Primeira Guerra Mundial. Mussolini acompanhou com
avidez esses nacionalistas e — primeiro com relutância, mas,
finalmente, com entusiasmo — veio a concordar com eles.

A Síntese Fascista
De um lado, na Itália, os nacionalistas faziam lobby pela lealdade
socialista tendo por base a etnia, de outro, na Alemanha, um grupo
buscava a unidade socialista com base na raça. Bom representante
desse grupo foi o marxista Ludwig Woltmann, que procurou integrar
o materialismo científico de Marx à ciência evolucionista de
Darwin.15 Woltmann basicamente argumenta que a luta darwinista
por sobrevivência não ocorre entre criaturas individuais, mas —
dentro das comunidades humanas — entre as raças. Esse
Rassenkampf, ou conflito racial, como ele propôs, naturalmente
resultaria no triunfo das raças superiores e na eliminação das raças
inferiores.
Woltmann foi uma das inspirações para a origem do nacional-
socialismo de Hitler. Note que, desde o princípio, o nacional-
socialismo alemão, por tornar a raça primária — fazendo frente à
fidelidade pela nação —, difere do fascismo italiano. Interessante
também perceber que o progressismo americano moderno obcecou-
se pela raça. Hoje, se alguém propor a remoção de categorias
raciais do censo, a oposição mais ferrenha provavelmente virá dos
progressistas, os quais fazem eco ao que Cornel West coloca no
título de um de seus livros, Race Matters [A Raça é Fundamental].
Mussolini não teria concordado com isso, mas Woltmann sim, como
qualquer outro membro devoto do Partido Nazista.
Mussolini não acreditava em raça, nem era ele a princípio
nacionalista; na verdade, ele era um sindicalista revolucionário. O
termo sindicalismo refere-se às associações ou sindicatos a que os
trabalhadores pertenciam. Eram organizações de trabalhadores
autônomos que, embora se assemelhassem a tais, não eram
sindicatos, porque estes eram organizados regionalmente, e não por
corporação ou função e cargo. Marxistas devotos que eram, os
sindicalistas revolucionários concordavam com Marx em que a
primazia pertencia às associações de classe e que elas deveriam
ser o princípio organizador da revolução socialista.
Muito em consonância com essa ênfase na classe, conceito tão
importante para Marx, os sindicalistas, fortemente influenciados por
Sorel, procuraram reunir os sindicatos trabalhistas através de uma
greve geral que derrubaria a classe dominante e estabeleceria o
socialismo na Itália. Foi isso que fez deles “revolucionários”. Eles
pretendiam fomentar a revolução, não a esperar acontecer. Eles
foram considerados as pessoas mais inteligentes e dedicadas do
Partido Socialista Italiano e ocuparam sua ala esquerdista.
Os grandes nomes do sindicalismo revolucionário foram Giuseppe
Prezzolini, Angelo O. Olivetti, Arturo Labriola, Filippo Corridoni,
Paolo Orano, Michele Bianchi e Sergio Panunzio. A maioria deles
era de escritores ou dirigentes sindicais. Todos eram socialistas e,
em pouco tempo, todos se tornariam fascistas, apesar de Labriola
ter se oposto ao regime de Mussolini quando este chegou ao poder,
e Corridoni, morto na Primeira Guerra Mundial, não ter vivido para
presenciá-lo.
Eles reconheciam Mussolini como seu líder. Ele os conhecia bem
e conspirava com eles em reuniões e comícios. Ele lia seus livros e
artigos, além de contribuir publicando em revistas criadas e
organizadas por eles, como a Avanguardia Socialista, fundada por
Labriola, principal periódico do pensamento sindicalista. Mussolini
também analisou e publicou os principais sindicalistas em suas
próprias editorações de nicho socialista.
Concordes com todos os demais socialistas revolucionários, os
sindicalistas tinham pouca fé em procedimentos parlamentares
democráticos e, de acordo com Sorel e Lênin, buscavam por um
líder carismático, alguém que inspirasse os trabalhadores à ação, à
atitude. Mussolini, mais do que qualquer outra pessoa, encaixava-se
nos requisitos, este quem liderou os sindicalistas em uma união com
os nacionalistas a fim de formar o novo híbrido socialista, chamado
de fascismo na Itália e (com algumas modificações) de nacional-
socialismo na Alemanha.
Os sindicalistas organizaram três greves gerais na Itália, a saber,
em 1904, em 1911 e em 1913. Mussolini as apoiava. A greve de
1904 começou em Milão e se espalhou por todo o país. Cinco
milhões de trabalhadores abandonaram seus empregos. A nação
ficou paralisada: não havia transporte público, ninguém conseguia
comprar nada. Mesmo assim, a greve terminou sem causar a queda
do governo ou a instauração do socialismo.
O próprio Mussolini organizou a segunda greve geral, em 1911,
em especial por tratá-la na forma de protesto contra a guerra que a
Itália travou com a Líbia. Outro fracasso e Mussolini foi preso por
cinco meses. No ano seguinte, Filippo Corridoni, compatriota de
Mussolini, tentou outra greve geral, que, novamente, foi mais um
fracasso. Tantas tentativas seguidas de fracasso fizeram com que
Mussolini e seus companheiros sindicalistas, desistindo do princípio
de classes do socialismo e do conceito de greve geral, olhassem
para nacionalistas como Corradini, Rocco e Michels, visando daí
uma melhor abordagem.
Da colaboração dos sindicalistas e nacionalistas surgiu a nova
síntese fascista, que substituiu a categoria marxista tradicional de
classes pela então nova categoria, a de uma nação. A luta
revolucionária, doravante, não seria uma guerra de classes, mas
uma batalha que diria respeito à nação. A guerra revolucionária não
seria uma luta entre as classes — ricos e pobres —, mas uma luta
de nações ricas contra nações pobres, em que as nações
proletárias derrubariam a hegemonia dos países plutocráticos. Com
efeito, o mito da greve geral foi substituído pelo mito da guerra
revolucionária, uma guerra que os fascistas conceberam como uma
“guerra de redistribuição”.16
À primeira vista, pode parecer que o conceito de guerra colonial,
ou mesmo mundial, vá diretamente contra Marx. Mas como Angelo
O. Olivetti — sindicalista que passou ao fascismo, mas depois, por
mais curioso que pareça, ao judaísmo — salientou, o próprio Marx
havia apoiado o colonialismo como mecanismo necessário ao
desenvolvimento de países atrasados. Além disso, tanto Marx
quanto Engels não hesitaram em promover os interesses alemães
— ambos apoiaram a guerra nacionalista de Bismarck contra a
França e suas reivindicações petulantes contra a Rússia czarista.
Após a morte de Marx, Engels apoiou a anexação de Schleswig,
que fazia parte da Dinamarca, pela Alemanha. Os fascistas
enfatizaram tudo isso como forma de salientar que seu nacionalismo
era consistente com o marxismo e que eles permaneceram, no fim
de tudo, bons socialistas.
A síntese fascista não considerava a Itália uma sociedade dividida
pelo conceito de classe, mas sim um país unificado no qual todos os
setores da sociedade poderiam unir-se. Os fascistas substituíram a
antiga divisão marxista entre capitalistas improdutivos e trabalho
produtivo pela categoria única de nação produtiva. Mussolini a isso
deu o nome de Fascio Nazionale, uma união nacional. “Tornamo-
nos”, disse Mussolini, “e permaneceremos uma nação de
produtores”.17 Já se podia vislumbrar, ainda na Itália, a fusão que
mais tarde daria ao fascismo de Hitler seu nome distintivo. Quando
combinadas as duas ideias de “nação” e “socialismo”, o resultado é
o nacional-socialismo.
Mussolini nunca usou o termo “nacional-socialismo” e, indignado,
o repudiou quando este foi associado a Hitler e à Alemanha nazista.
Não obstante, Mussolini havia criado o primeiro nacional-socialismo,
e despojado das conotações raciais alemãs. Sua era a visão de uma
nação organizada aos moldes socialistas, uma nação em que todos
partilhariam dos benefícios e em que todos contribuiriam com a sua
devida parte. Essa linguagem, é claro, carrega traços de Obama;
vê-se uma congruência óbvia entre a unificação fascista e a
insistência progressista moderna de que a América é uma
comunidade única e que todos devem se unir para cada um
contribuir com sua própria “parcela justa”.
Por fim, a síntese fascista acrescentou o novo elemento do
Estado como braço executivo encarregado de definir e defender o
bem geral da nação. Esse é o ponto em que Giovanni Gentile,
discutido no capítulo anterior, emergiu como principal filósofo do
fascismo. Gentile foi o grande apóstolo do Estado centralizado. Para
ele, o Estado era a nação e a nação era o Estado. A identidade e o
bem-estar estão todos subordinados à nação, mas também sob a
vara do todo-poderoso Estado centralizado. Entendo por que
Mussolini adorava tudo isso; ele compreendeu que era aquela a
base intelectual para, bem, ele próprio.
Marx, lembremos, havia predito o desaparecimento do Estado.
Estranho notar, da mesma forma Lênin. Mas, longe de desaparecer,
o Estado expandiu-se e ampliou-se num monstro totalitário sob ele.
Não bastando, sua teoria continuava a invocar o desaparecimento
do Estado. Nesse sentido, o fascismo é a primeira ideologia de
esquerda do século XX a afirmar explicitamente a necessidade de
um poderoso Estado centralizado. Em meados da mesma época, no
entanto, e derrotados pelos fascistas por um fio, na América uma
ideologia estreitamente relacionada se desenvolvia, pedindo
também um poderoso Estado centralizado. Essa ideologia era,
naturalmente, o progressismo.
Os fascistas, assim como os progressistas, buscavam uma
transformação radical da sociedade, que é a própria antítese do
liberalismo clássico ou do conservadorismo americano moderno. A
única revolução com a qual os conservadores americanos se aliam
é a revolução americana, a revolução que estabeleceu o capitalismo
burguês, coisa que os fascistas e os progressistas procuram
transformar e derrubar. As raízes do fascismo expõem por completo
a conexão existente entre o fascismo e a esquerda política dos
Estados Unidos, e também a antítese entre o fascismo e a direita
política dos Estados Unidos.
Fascistas e progressistas, ambos enxergavam no Estado
centralizado o desenvolvimento lógica de tudo o que eles
representavam. O problema não é falar sobre a nação dos
produtores e os interesses da nação, mas quem decide quais são
seus verdadeiros interesses? Os socialistas afirmam ser a favor da
redistribuição equitativa da renda e da riqueza, mas quem determina
o que é equitativo e quem faz a verdadeira redistribuição? A essas
perguntas, os fascistas responderam: nós determinamos, por meio
do instrumento do poderoso Estado centralizado. E essa também é,
na América, a resposta que os progressistas de hoje dão.
Além disso, os fascistas adotaram uma política econômica
estritamente paralela e, em muitos demais aspectos, também
idêntica ao progressismo atual. A essa política Mussolini deu o
nome de “corporativismo”, mas um termo mais descritivo seria
capitalismo estatal. Mussolini imaginava um poderoso Estado
centralizado dirigindo as instituições do setor privado, fazendo com
que, à força, a prosperidade privada deste fosse posta em
consonância com a prosperidade nacional. Não é exatamente assim
que os progressistas consideram o controle do governo federal
sobre bancos, companhias financeiras, companhias de seguro,
plano de saúde, energia e educação? Embora a esquerda
americana de hoje não se atreva a invocar o nome de Mussolini,
aquele que no meio dela for honesto terá de admitir que Mussolini e
seus companheiros fascistas é que foram os precursores da
esquerda americana atual; foram aqueles que lhe abriram o
caminho.
Capítulo Quatro
Um Segredo do
Partido Democrata

Nos pensamentos de Hitler para o futuro, a


Alemanha lidaria com os eslavos da mesma forma
como os norte-americanos lidaram com os índios.
Ele disse, certa vez, que o rio Volga, na Rússia, seria
o Mississippi da Alemanha.1
Timothy Snyder, Bloodlands: Europe Between Hitler and Stalin
[Terras de Sangue: a Europa Entre Hitler e Stalin]

Em 1924, sentado na prisão de Landsberg, Adolf Hitler teve uma


grande ideia. Sabemos que ele a teve lá porque foi lá é que ele
estruturou a maior parte do pensamento estratégico que guiou suas
ações posteriores. Hitler salientou os frutos daquelas reflexões em
sua autobiografia, Mein Kampf, e também em discursos e gravações
subsequentes, que hoje já estão disponíveis. Por exemplo, Hitler’s
Table Talk (Conversas à Mesa com Hitler) é um extenso arquivo de
declarações privadas de Hitler durante a Segunda Guerra Mundial,
gravadas por um ajudante, Heinrich Heim, agindo sob as ordens do
secretário de Hitler, Martin Bormann.
Antes de examinar sua ideia, revisemos o contexto por trás. Hitler,
veterano da Primeira Guerra Mundial, estava, junto de muitos
alemães, sofrendo sob a derrota de seu país e com os vexatórios
termos impostos pelo Tratado de Versalhes, incluindo o confisco das
poucas colônias da Alemanha, que também foi forçada a devolver a
Alsácia e Lorena à França. Hitler, inclusive, sabia que a Grã-
Bretanha e a França eram grandes potências com colônias por todo
o mundo. Havia pouco território para a Alemanha, um retardatário
no colonialismo, um país atrasado no ato de conquistar e ocupar.
Hitler também tinha um problema em seu próprio quintal, os
judeus. Todavia, a “solução final”, envolvendo o extermínio dos
judeus, chegaria muito mais tarde, quando Hitler começaria a
articular a uniformização, o alinhamento nazista por meio de eventos
como a notória Conferência de Wannsee, que ocorreu em 20 de
janeiro de 1942. Nesse momento, Hitler simplesmente procurava
uma maneira de lidar com cerca de setecentos e cinquenta mil
judeus que, na época, viviam na Alemanha.
Uma ideia era isolar os judeus para os guetos e forçá-los a viver
em comunidades segregadas como subcidadãos. Outra era
expulsar os judeus, deslocá-los para a colônia francesa de
Madagascar, no Oceano Índico, ao longo da costa da África, ou
apenas forçar-lhes a ida para algum outro país. Por fim, cerca de
quinhentos mil judeus viriam a deixar a Alemanha no período entre a
ascensão de Hitler ao poder, em 1933, e o início da Segunda Guerra
Mundial, em 1939.2
Enquanto ponderava tais problemas, a América tomou a atenção
de Hitler, cujo conhecimento a respeito era escasso. Nunca fora à
América, e a desprezava. “Meus sentimentos contra o
americanismo”, diria ele mais tarde, em 1942, “são sentimentos de
ódio e profunda repugnância”. Por quê? Ele afirmou: “Tudo sobre o
comportamento da sociedade americana revela que ela é metade
judaica e metade enegrecida”. Ademais, a América é “um país onde
tudo é construído sobre o dólar”. Para Hitler, a América
representava o pior caso do capitalismo desenfreado dos judeus.3
Hitler, apesar disso, tinha um interesse genuíno em certos
aspectos da história americana. Quando menino, foi cativado por
uma série de romances escritos por Karl May, romancista alemão,
em que caubóis eram retratados no oeste americano. Hitler não era
o único fã de May; os romances eram amados também por Albert
Einstein, Albert Schweitzer e milhões de outros alemães. May era o
J. K. Rowling de sua época, escrevendo histórias amplamente
populares de dois amigos do Velho Oeste: um topógrafo alemão,
chamado Old Shatterhand, e seu companheiro, Apache Winnetou. O
tema geral dos romances era a trágica desaparição dos índios do
Continente, o heroísmo indígena dando lugar à inevitabilidade do
assentamento e do progresso dos brancos.4
Hitler também se interessava nas lições da Guerra Civil
americana. Mais uma vez, embora seu conhecimento se derivasse
principalmente de fontes impressionistas e novelísticas, a escassez
dele não o impediu de tirar conclusões muito firmes. O historiador
Ira Katznelson relata: “Hitler denegria os negros, admirava o racismo
americano e lamentava a derrota do Sul em 1865. [...] Como outros
líderes nazistas, Hitler, em 1937, estava fascinado por Vom Winde
verweht, a versão alemã do filme E o Vento Levou. Este épico
melodramático da Guerra Civil e da Reconstrução dos EUA foi líder
de vendas. Sem surpresa nenhuma, agora o filme também provava
ser de grande sucesso. Nervoso, enquanto aguardava o início da
invasão da URSS, numa ação que daria início à Operação
Barbarossa, Joseph Goebbels passou algumas horas após a meia-
noite, em 22 de junho de 1941, assistindo a uma versão alemã de
pré-lançamento com um grupo de amigos convidados”.5
É óbvio que tudo isso ocorreu muito mais tarde. Voltemos à prisão
de Landsberg e à grande ideia de Hitler. Ele entendeu, Hitler
escreve em Mein Kampf, que a Alemanha não precisava imitar os
britânicos e os franceses na busca por colônias no exterior
instauradas na Ásia, África e América do Sul. Quem quer governar
um bando de pessoas pardas e negras? Além disso, dizia Hitler, o
clima nesses lugares não é adequado para um assentamento feito
por alemães nórdicos. Deixe os britânicos e os franceses ficarem
com a Ásia e com a África. “Para a Alemanha”, dizia Hitler, “a única
possibilidade de levar a cabo uma política territorial saudável
consiste na aquisição de novas terras na própria Europa [...] terras
dentro de nosso próprio continente”.6
Hitler chamou seu plano de Lebensraum e encontrou um
importante precedente histórico para isso nos Estados Unidos da
América. Hitler sabia que, no século XIX, o homem branco havia
dizimado basicamente a maior parte dos habitantes de origem
continental norte-americana, os nativos americanos. Investida essa
tomada através de políticas implacáveis de ruptura de tratados,
guerras promovidas contra os índios, eliminando a resistência,
deslocando-os e realocando-os forçosamente, capturando suas
terras para o assentamento branco. Ele basicamente decidiu adotar
o mesmo plano para que assim conseguisse fixar os alemães em
grandes partes do Continente Europeu.
Como o próprio Hitler disse em um discurso de 1928, os
americanos “dizimaram milhões de peles-vermelhas e os reduziram
a poucas centenas de milhares, mantendo agora o modesto restante
deles sob observação dentro de uma gaiola”. Longe de opor-se a
este precedente, Hitler pretendia imitá-lo. No dizer do historiador
Norman Rich: “A política dos Estados Unidos de expansão para o
oeste, no decorrer da qual o homem branco impiedosamente
impugnou as populações indígenas “inferiores”, serviu de modelo
para toda a concepção do Lebensraum de Hitler”.7
Obviamente, Hitler sabia que a terra que ele tinha em mente — a
Polônia, grande parte do Leste Europeu e grande parte da Rússia
Europeia — estava ocupada, respectivamente, por poloneses,
eslavos, alguns outros povos da Europa Oriental e por russos. Para
Hitler, esses eram os seus “índios”. Ele decidiu que o destino deles
seria o mesmo que os nativos americanos tiveram: Hitler travaria
guerras contra esses povos, assassinaria a resistência, viria a
deslocá-los e realocá-los, e conquistaria suas terras. Para os
remanescentes, Hitler tinha outro plano, também derivado da
história americana: escravizá-los e alistá-los no trabalho forçado em
benefício dos cidadãos brancos arianos da Grande Alemanha.
O conceito de Lebensraum, Hitler confessou, “dominará toda a
minha existência”. Não estou supondo que sua ideia fosse
proveniente apenas da América; havia escritores alemães
conclamando um lebensraum desde a virada do século anterior. Por
exemplo, em 1900, Ludwig Woltmann, antropólogo alemão,
defendeu, por motivos raciais, um lebensraum. A “raça alemã”, disse
ele, “foi escolhida para dominar a Terra”. Woltmann teve sua ideia
não a partir de uma superlotação alemã — a Alemanha não estava
superlotada —, mas de um conceito de territorialidade derivado do
reino animal e aplicado à sociedade humana.8 Woltmann era um
darwinista social progressista, e o darwinismo social progressista,
conforme veremos mais adiante neste livro, foi um importante
progenitor do fascismo e do nazismo.
O programa específico de Hitler de Lebensraum, no entanto,
parece ter sido inspirado pelas políticas e práticas do Partido
Democrata na América do século XIX. A analogia não termina por
aí. Aqui está uma passagem bastante expressiva do livro escrito
pelo historiador John Toland, Adolf Hitler: The Definitive Biography
[Adolf Hitler: Biografia Definitiva]: “O conceito de campos de
concentração engendrado por Hitler, bem como a praticidade do
genocídio, devia muito, afirmou ele, aos seus estudos sobre a
história da Inglaterra e dos Estados Unidos. Ele admirava os
campos para prisioneiros bôeres na África do Sul e para índios no
Velho Oeste, sem contar que, muitas vezes, enquanto em seu
círculo interno, elogiava a América por sua eficiência no extermínio
dos vermelhos selvagens — mediante a fome e o combate desigual
—, aqueles que não podiam ser domesticados pelo cativeiro”.9
O mesmo tema é enfatizado ainda com mais força no livro de
Timothy Snyder, Terras de Sangue: A Europa Entre Hitler e Stalin.
Snyder revela que, sob o esquema chamado Generalplan Ost, Hitler
procurou “deportar, matar, absorver ou escravizar” entre trinta e
quarenta e cinco milhões de poloneses, ucranianos e eslavos.
Os nazistas pretendiam criar, em suas terras, comunidades
agrícolas alemãs com quinze a vinte mil pessoas. Snyder escreve:
“A colonização faria da Alemanha um império continental capaz de
rivalizar com os Estados Unidos, seria outro Estado de fronteira
resistente baseado no colonialismo exterminador e no trabalho
escravo [...] Na visão de Hitler, ‘No Oriente, um processo
semelhante se repetirá pela segunda vez, como quando na
conquista da América’”.10

Uma Pré-História do Nazismo


Tiremos as implicações disso. Primeiro, a esquerda gosta de
retratar Hitler como se fosse de extrema direita. Mas observe, aqui,
como ele se aliou sem restrições com as políticas a favor da
remoção dos índios e da pró-escravidão oriundas do Partido
Democrata. Hitler claramente estaria muito mais confortável com o
presidente democrata Andrew Jackson ou o senador democrata
John C. Calhoun do que com, vejamos, Abraham Lincoln. Note,
ademais, que, em parte, Hitler odiava tanto a América por ter sido
ela capitalista demais. Hitler identifica os Estados Unidos do
capitalismo e da corrupção capitalista com os judeus. Falarei mais a
respeito disso depois.
Uma segunda implicação está no fato de aqui, na América,
tendermos a ser muito provincianos acerca de nossa história. Não
conseguimos imaginar o quanto os acontecimentos na América,
como a remoção e a escravidão de índios, influenciaram os
acontecimentos em todo o Atlântico; aliás, tanto quanto não
reconhecemos como os acontecimentos europeus exercem impacto
aqui. Este livro tem por objetivo corrigir tal provincianismo. Não
quero dizer que, sem a influência americana, Hitler não teria
invadido a Polônia nem a Rússia, ou que ele não teria orquestrado
os campos de concentração. É para dizer, no entanto, que o
exemplo americano desempenhou um papel em mostrar-lhe como
isso poderia ser feito e em dar-lhe a confiança, com base na
História, de que algo assim já havia sido realizado.
Este capítulo, sobre a escravidão e a remoção dos índios, e o
próximo, sobre o racismo, a segregação e o terrorismo racial, têm
por objetivo fornecer uma pré-história do nazismo e do Holocausto.
Uso o termo “pré-história” precisamente no mesmo sentido que o
historiador Gotz Aly, que, em recente publicação, fornece o que ele
chama de a “pré-história do Holocausto”.11 O antissemitismo racial
na Alemanha, no final do século XIX e no início do século XX, Aly
mostra, precede e prepara o caminho para o Holocausto. Embora, é
claro, os antissemitas do final do século XIX e início do século XX
não tenham matado seis milhões de judeus, ainda assim lideraram
massacres contra eles e adotaram leis discriminatórias que
ofereceram uma previsão horrível das coisas que estavam por vir.
Hitler mais tarde viria a basear-se nessa cultura antissemita para
recrutar alemães visando a “Solução Final”.
Assim, também, minha pré-história pretende não apenas
prefigurar os horrores do fascismo alemão, mas mostrar a
suscetibilidade histórica do Partido Democrata na América aos
apelos e às práticas fascistas. Muito antes do surgimento do
fascismo em si, eles inventaram algumas dessas práticas aqui. Não
é de admirar que, quando o fascismo de fato surgiu, como
demonstro mais adiante, os democratas tenham se sentido em
casa. Então, para colocar da maneira mais clara possível, pode-se
dizer que o DNA nazista estava no Partido Democrata desde o
início. Os democratas — não os nazistas — são os criadores da
política de ódio.
Neste capítulo, tomo alguns dos “conceitos-chave” do nazismo —
Lebensraum, campos de concentração, genocídio — e mostro que,
por meio do apoio do Partido Democrata à remoção indígena e à
plantação da escravidão, estes já estavam sob aplicação nos
Estados Unidos muito antes de serem aplicados na Alemanha
nazista. Percebo que, fazendo esse tipo de comparação, me arrisco
a atiçar até mesmo a indignação de alguns conservadores, que
dirão, de praxe: “Você está comparando os Estados Unidos com a
Alemanha Nazista?”. Na verdade, não. Estou apenas comparando
as práticas do Partido Democrata com as do Partido Nacional-
Socialista dos Trabalhadores Alemães. A ideia de que a “América” é
responsável pelas atrocidades do Partido Democrata é parte da
grande mentira que estou tentando expor neste livro.
Em segundo lugar, arrisco-me a ofender a sensibilidade dos
judeus e de outros que acreditam na singularidade do Holocausto.
De acordo com esse ponto de vista, o Holocausto é único e nada
pode ser comparado a ele. Concordo em grande parte. Todavia,
ainda que o Holocausto seja singular, nem tudo que Hitler e os
nazistas fizeram o foi. Mesmo o genocídio não é singular. As
Nações Unidas publicaram uma definição funcional de “genocídio”
reconhecidamente extraída do exemplo dos nazistas. Não obstante,
o alvo da definição é ajudar a identificar outros casos de genocídio
que possam ocorrer em todo o mundo.
Mas espere um minuto, você me diz. Como posso comparar, por
exemplo, a escravidão do Sul Democrata aos campos de
concentração alemães? O primeiro existiu para o trabalho forçado,
já os últimos foram construídos para o extermínio em massa. Na
verdade, os campos de concentração eram campos de trabalho
forçado. Certo estudioso, Marc Buggeln, intitulou um estudo recente
de Slave Labor in the Nazi Concentration Camps [Trabalho Forçado
nos Campos de Concentração Nazistas]. Outro trabalho
recentemente publicado, organizado por Alexander Von Plato dentre
outros, foi chamado de Hitler’s Slaves [Os Escravos de Hitler].12 A
representação dos campos em ambos os estudos é muito
semelhante à representação da vasta rede de campos de trabalho
stalinistas, apresentada na obra Arquipélago Gulag, escrita por
Alexander Solzhenitsyn.
Os estudiosos da Alemanha nazista fazem distinção entre os
campos de concentração, que existiam para detenção e trabalho
forçado, e os campos de extermínio, concebidos com o propósito
exclusivo de matar pessoas. Dachau, Buchenwald, Mauthausen,
Flossenberg, Bergen-Belsen e Ravensbruck foram campos de
concentração para trabalho forçado, todos localizados na Alemanha.
(Ravensbruck foi um campo para mulheres, com prisioneiras e
guardas mulheres). Treblinka, Sobibor, Belzec e Chelmno — todos
estabelecidos na Polônia ocupada pelos alemães — foram campos
de extermínio. Auschwitz e Majdanek tinham ambos os papéis: uma
parte campo de trabalho, outra parte campo de extermínio.
Alguns estudiosos argumentaram que mesmo os campos de
trabalho serviam de campo de extermínio, uma vez que as taxas de
mortalidade eram elevadas e os nazistas tinham uma política
implícita de “extermínio lento” ou “extermínio mediante o trabalho”.
Certamente, matar pessoas, em particular os mais velhos, os
doentes e os “encrenqueiros”, era um tipo de rotina para os guardas
em campos de trabalho forçado. Às vezes os internos dos campos
de trabalho já destinados à execução eram transportados até um
campo de extermínio para ali serem mortos. Buggeln calculou a taxa
de mortalidade em campos de trabalho e a considerou
consistentemente alta, embora fosse significativamente menor no
caso de prisioneiras judias, nos campos para mulheres.
A maioria dos estudiosos, no entanto, concorda que a distinção
entre campos de extermínio e campos de trabalho é importante. O
procedimento habitual consistia em enviar os prisioneiros para um
ou para outro: aquele era uma sentença de morte, ao passo que
este era uma possível sentença de morte. É claro que, no caso dos
campos nazistas, bem como nos campos soviéticos, nem Hitler nem
Stalin se importavam pessoalmente com quantos trabalhadores
morriam. Entretanto, os campos soviéticos, como no caso dos
campos nazistas, são corretamente chamados de campos de
trabalho forçado, em oposição aos campos de extermínio, porque
eles existiam com a finalidade de extrair trabalho dos presos,
mesmo sob o risco de morte por tanto trabalhar.
No caso de Hitler, o trabalho foi considerado necessário para
alimentar a máquina de guerra alemã. Trabalhadores forçados nos
campos trabalhavam principalmente para o setor de defesa, para a
Luftwaffe e para o conglomerado estatal Hermann Göring
Reichwerke. Alguns trabalharam para empresas privadas
contratadas para o Estado alemão, como a Siemens, gigante da
energia, a empresa de armamentos Bussing e a Volkswagen,
fabricante de aeronaves e automóveis. De acordo com Rudolf Hoss,
comandante de Auschwitz, o lema de seu chefe, Heinrich Himmler,
para os campos passou a ser “Armamentos! Prisioneiros!
Armamentos!”.13
A dependência nazista do trabalho forçado tornou-se ainda maior
à medida que a guerra se desenrolava e a oferta de trabalho
nacional ficava cada vez mais escassa. Digno de nota dizer que, a
essa altura, os nazistas pediram aos oficiais do campo de
concentração que reduzissem as taxas de mortalidade para que
mais trabalho pudesse ser aproveitado dos prisioneiros. Himmler, na
verdade, autorizou que familiares enviassem quantidades de
alimentos para parentes em campos de concentração e ordenou a
pena de morte para os membros da SS que roubassem desses
alimentos.14 Buggeln observa que a taxa de mortalidade caiu em
1943 e permaneceu baixa até o final da guerra quando, num
irromper de fúria niilista, o corpo nazista fez uma matança até
mesmo dentro dos campos de trabalho, para livrar-se dos cativos
antes que os Aliados chegassem.
Entre 1943 e 1945, os nazistas forçaram os internos dos campos
a esvaziarem os escombros, a reconstruírem estradas e trilhas
bombardeadas por aviões americanos e britânicos, e a cavar valas
antitanque para retardar o avanço das tropas aliadas. Assim, os
campos de trabalho zumbiam dada sua atividade na última fase da
Segunda Guerra Mundial. Em contraste com os campos de trabalho,
os campos de extermínio, também conhecidos como campos da
morte, desde o início não possuíam instalações de trabalho. Eram
centros modernos de execução industrial, cujo objetivo único era o
de matar pessoas em câmaras de gás ou por fuzilamento.
No geral, havia entre quinze mil e vinte mil campos de
concentração de maior jurisdição e subcampos abaixo destes na
Alemanha e na Europa ocupada pelos alemães. Havia um número
muito menor de campos de extermínio, mas nenhum deles na
Alemanha, já que o regime queria esconder sua existência do povo
alemão. A maioria deles foi construída na fase pós-guerra, desde
1942, enquanto os campos de concentração estavam em operação
desde 1933, quando os nazistas ascenderam ao poder.
Lembre-se daquelas imagens que retratam sobreviventes
emaciados após serem libertos de campos como Dachau e
Auschwitz, em 1945. Cem mil pessoas sobreviveram ao Auschwitz,
que, houvesse sido apenas um campo de extermínio, reteria para si
número próximo de zero. Sem contar que a maioria dos
sobreviventes em Dachau e Auschwitz não eram judeus, mas
alemães sem nenhuma ligação com a etnia judia e europeus do
Leste Europeu. Isso porque se costumava matar os judeus nos
campos de extermínio.
A maioria desses judeus, aliás, não era de judeus alemães.
Apenas um quarto de um milhão de judeus permaneceu na
Alemanha em 1939. Portanto, não havia como Hitler matar cerca de
seis milhões de judeus alemães, pois não havia tantos judeus
alemães para matar. Mas a população de judeus expandiu-se
amplamente sob o controle de Hitler e suas conquistas sobre a
Polônia, a Europa Oriental e a Rússia. Conclui-se que a maioria dos
judeus mortos nos campos de extermínio provinham dessas regiões.
No dizer de Timothy Snyder em sua obra Terras de Sangue: A
Europa entre Hitler e Stalin, “A vasta maioria dos judeus mortos no
Holocausto nunca viu um campo de concentração […] As pessoas
passavam a noite nos campos […] A maioria dos que foram levados
para os campos de concentração alemães sobreviveu. O destino
dos internos em campos de concentração, por mais horrível que
fosse, era distinto do daqueles milhões que foram intoxicados com
gás, fuzilados ou morreram de fome”.15
Não é irracional, portanto, comparar dois tipos de sistemas de
trabalho forçado, um na América e outro na Alemanha. Na verdade,
a noção de considerar as fazendas de escravos um tipo de campo
de concentração é bastante familiar para estudiosos americanos,
pelo menos desde a publicação do livro Slavery, em que Stanley
Elkins, estudioso em escravidão, dá ao assunto um tratamento
especialmente provocador. Elkins conhece muito bem a verdade do
ditado acadêmico de que “no analogy travels on all fours”, isto é,
que nenhuma analogia veste a mesma roupa. Isso significa que não
há duas coisas exatamente idênticas; portanto, ao fazer
comparações frutíferas, deve-se notar mais as semelhanças do que
as diferenças. Em fazendo isso, o resultado pode ser uma melhor
compreensão dos fenômenos de ambos os lados da comparação.
Mais uma vez, não estou afirmando que o lebensraum de Andrew
Jackson era idêntico ao de Hitler, mas sim que um foi prenúncio e
inspiração do outro. Não estou dizendo que os campos de trabalho
escravo do Sul democrata eram idênticos aos campos de
concentração alemães; estou dizendo que os democratas são
capazes de atrocidades parecidas com as atrocidades nazistas, não
tanto contra os judeus quanto contra os poloneses, os eslavos e os
russos. Eu sei que os nazistas mataram um número muito maior de
pessoas do que os democratas. Também é verdade, porém, que as
atrocidades nazistas duraram doze anos, ao passo que as
atrocidades democratas vêm ocorrendo desde que o partido foi
fundado, em 1828.

O Falso e o Verdadeiro Genocídio


Os internos dos campos de concentração nazistas perceberam
que, naquele meio, havia um tipo estranho e particular de
prisioneiro, o chamado muselmann. Ninguém sabe como o termo se
originou, pois literalmente significa “muçulmano”. Mesmo assim,
muselmann, nesse contexto, refere-se ao preso emocionalmente
destruído pela experiência do campo de concentração, uma pessoa
que o historiador Wolfgang Sofsky define como estando “entre a
vida e a morte”.16 Os muselmanneres caminhavam como se
estivessem atordoados; eles não reagiam a conversas, a ordens,
nem mesmo a agressões físicas. Eles tinham dificuldade de
enxergar além do que estivesse bem à frente. Esses presos
literalmente perderam a vontade de viver e simplesmente existiam
como os personagens zumbis do seriado The Walking Dead.
Para mim, o prisioneiro muselmann é uma metáfora trágica do
que aconteceu aqui, na América, com os índios. É evidente que não
quero comparar literalmente os índios nativos com zumbis humanos.
Alguns deles tiveram muito sucesso e se adaptaram bem à vida
americana. O que quero dizer, na verdade, é que, como
comunidade, os índios parecem ser uma versão americana do
muselmanner. Eles perderam sua personalidade moral de origem e
ainda têm dificuldade de substituí-la por outra coisa.
Não me refiro apenas às condições patéticas da reserva indígena
americana — a pobreza, o crime, as elevadas taxas de alcoolismo e
suicídio, a redução de um povo convicto e pretensioso a indivíduos
operando cassinos e fabricando bugigangas. Pense nisso: enquanto
a cultura negra tem forte presença na América atual, a cultura
indígena é ignorada, esquecida, praticamente inexistente. Mesmo
após o Holocausto, a cultura judaica prospera em Israel, na América
e em todo o mundo. Em contraste, os índios americanos parecem
ainda ter de suportar o choque que originou o deslocamento e a
potencial obliteração deles como povo.
David Stannard, historiador de esquerda, intitula sua história dos
índios de American Holocaust [O Holocausto Americano]. A partir do
título, é perceptível que Stannard não defende o conceito de
Holocausto na posição de algo singular. Na verdade, ele afirma: “A
destruição dos índios das Américas foi, de longe, o ato mais maciço
de genocídio na história do mundo”. Stannard considera um
holocausto toda a história dos nativos americanos, o que ele chama
de “uma série ininterrupta de campanhas de genocídio”, as quais
tiveram início com a chegada de Colombo, em 1492.17
Observemos Stannard cuidadosamente, porque ele toca em um
ponto importante, mas temos de entender bem que ponto é esse.
Ele afirma que, sim, existiu um holocausto, mas nada, mesmo em se
tratando dos índios, comparável ao Shoah (O Holocausto) dos
judeus. Ele afirma que os índios foram vítimas de genocídio — e,
afinal, veremos que ele está certo em assim chamar. Por genocídio,
no entanto, ele não se refere enfaticamente ao verdadeiro
genocídio, mas inventa um falso genocídio, para evitar de acusar
Andrew Jackson e o Partido Democrata do verdadeiro.
Stannard começa com uma estatística impressionante: dos dez a
doze milhões de índios nativos que uma vez povoaram o continente
americano, de 90% a 95% morreram por consequência da
exposição ao homem branco. Trata-se de um evento catastrófico,
seja como for, mas ainda assim Stannard admite que a maioria
dessas mortes resultou de pragas e epidemias transmitidas
inconscientemente pelos europeus aos índios. Do que quer que
chamem esses acontecimentos, não é factível chamá-los de
genocídio, porque genocídio envolve a intenção de exterminar uma
população.
Colombo não tinha essa intenção, nem os Pais Fundadores. No
entanto, Stannard concentra muito de seu ataque sobre eles, afinal
lhe é ideologicamente importante jogar a culpa do genocídio
indígena no “Ocidente” e na “América”. Stannard, portanto, recusa-
se propositadamente a distinguir as mortes indígenas causadas por
epidemia das mortes indígenas causadas pelo massacre deliberado
ou reassentamento. Ambos, ele insiste, contam em favor do
genocídio.
Esse é o falso genocídio de Stannard. Acredito ser esse o tipo de
recusa medíocre, a recusa de fazer distinções, que provoca o tipo
de resposta conservadora que se encontra no ensaio de Guenter
Lewy: Were American Indians the Victims of Genocide? [“Os Índios
Americanos Foram Vítimas de Genocídio?”].18 O ensaio, publicado
pela primeira vez no periódico Commentary, agora disponível on-
line, vai em defesa de Colombo e dos Pais Fundadores. Lidando
diretamente com Stannard, Lewy levanta vários pontos válidos,
observando, por exemplo, que os próprios índios eram tão
implacáveis quanto as tropas de Andrew Jackson nas guerras
indígenas. Ele afirma que os homens de Jackson simplesmente
tiveram melhor treinamento e melhor munição.
Lewy, porém, caiu aqui em uma armadilha progressista, cuja
astúcia também me pegou no início da minha carreira. Basicamente,
para defender “o Ocidente” e a “América”, Lewy se envolve no que
se pode chamar de a estratégia de minimização do genocídio. Na
verdade, não há necessidade dela, porque nem “o Ocidente” nem a
“América” são culpados de genocídio; pelo contrário, Andrew
Jackson e o Partido Democrata são. Infelizmente, Lewy, em sua
posição de defender a América, acaba minimizando o que Jackson
e os democratas fizeram. Sim, embora admita que os índios foram
extensivamente dizimados, ninguém deve ser culpabilizado. Além
disso, não se tratou, na prática, de um genocídio. Encontremos
algum termo mais favorável.
Até aqui não foi genocídio? Comecemos com a Resolução 96 (I)
das Nações Unidas, que coloca o termo “genocídio” na lei
internacional. Ela prossegue, “Na presente Convenção, entende-se
por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a
intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico,
racial ou religioso, tal como: a) assassinato de membros do grupo;
b) dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe
ocasionem a destruição física total ou parcial; d) medidas
destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e)
transferência forçada de menores de um grupo para outro”.19
Observe que a definição do termo não exige que um grupo seja
reduzido à extinção (mesmo os judeus não estão extintos). O
genocídio, para sê-lo, também não requer um número de mortes na
magnitude do Holocausto. O genocídio é a tentativa de destruir um
grupo como um todo ou em parte. Ademais, o genocídio não exige a
satisfação de todas as medidas específicas mencionadas; qualquer
uma delas já é suficiente. Levando essa definição em consideração,
voltemo-nos às ações de Andrew Jackson e do Partido Democrata
no período de 1828 ao ano de 1860.
Já Eram Trevas Quando
Ele Acabou de Matá-los
Andrew Jackson tinha um problema com índios, cujo povo, em
sua concepção, formava uma “nação dentro de uma nação”. Eles
eram estrangeiros ocupando o solo americano — uma terra
destinada à ocupação branca e ao assentamento branco. Assim,
sua presença constituía malignidade e ameaça. Não importava que
toda a América, América do Norte e do Sul, fosse, originalmente, a
terra deles. Os Estados Unidos estavam crescendo. O crescimento
exigia expansão. A expansão exigia que os nativos fossem embora.
Em suma, do ponto de vista de Jackson, era preciso que eles
fossem persuadidos a abandonar suas terras ancestrais, ou
evacuados à força ou mesmo mortos. Este era o lebensraum no
estilo Partido Democrata.
Mas foram os aliados democratas de Jackson, como o governador
Lewis Cass, que lhe estabeleceram as bases. “Nós falamos deles
aquilo que eles são”, disse Cass sobre os índios. Ele continuou:
“Eles desconhecem um sistema de governo. Não têm nenhum tipo
de código penal, nenhum tribunal, nenhum oficial, nenhuma
punição. Indiferente às consequências, o índio é filho do impulso.
Sem barreiras morais, segundo suas próprias paixões, ele assim
procede. Percorrer as florestas à vontade, caçar, atacar seus
inimigos, passar o resto de suas vidas em indolência apática e estar
pronto para morrer — essas são as principais ocupações de um
índio”.20
Aqui, portanto, aparece o primeiro critério para se considerar o
genocídio: alvejar um grupo racial e étnico específico. Cass condena
os índios em termos raciais bastante semelhantes àqueles que os
nazistas usavam contra judeus, ciganos e outras populações do
Leste Europeu consideradas inferiores. Aqui também há casos de
transferência e culpabilização da vítima — acontece que Cass tenta
culpar os índios pela própria remoção que estava prestes a sobrevir.
Veja, essas pessoas são indignas da civilização; são elas é que nos
estão fazendo lançá-las fora de suas terras.
O próprio Jackson não seguiu por esse caminho. Ele professou
ser amigo dos índios, insistindo estar, na verdade, forçando-os a sair
de suas terras para mantê-los “livres da influência mercenária do
homem branco e da perturbação que autoridades locais dos estados
poderiam causar”. Eles poderiam viver em outro lugar, em terras
longínquas, onde o governo federal de Jackson poderia “exercer um
controle paternal acima dos interesses”.21 Jackson costumava
assinar as cartas que escrevia aos índios como “Vosso Pai”,
deixando implícito ter uma devoção paterna ao bem-estar deles.
Convém lembrar que ele adotou um índio órfão como seu filho.
Jackson declarava-se partidário dos índios assim como ele e seus
companheiros democratas donos de escravos diziam-se
preocupados, em primeiro lugar, com o bem-estar de seus próprios
escravos. Mas as profissões de paternalismo daqueles dias até o
presente, devemos agora ser capazes de enxergar, são um
estratagema destinado a explorar o povo de maneira cruel,
insistindo que os democratas estiveram fazendo infinitos favores.
Tudo o que podemos dizer sobre tantas declarações
pretensiosamente transparentes é: com amigos como os
democratas, quem precisa de inimigos?
Para um amigo dos índios, Jackson parecia extraordinariamente
propenso a matá-los. Na realidade, seu apelido era “matador de
índios”, o que tomou por elogio. Em Horseshoe Bend, no território
do Mississippi (agora sul do Alabama), Jackson e suas tropas
encurralaram um grupo de várias centenas de refugiados do povo
Creek, que procuravam abrigo do conflito militar entre a milícia de
Jackson e um grupo separatista dos combatentes do povo Creek,
chamado Red Sticks.
As forças de Jackson aniquilaram os refugiados. Como Jackson
escreveu em uma carta à sua esposa, Rachel: “Já estava escuro
quando terminamos de matá-los”. Jackson estimou que, além dos
557 cadáveres, encontrou 300 índios “submergidos em seus
próprios túmulos de água”. Os homens de Jackson arrancavam o
nariz dos índios mortos enquanto contavam os corpos. Depois,
houve poucos arrependimentos; um dos soldados de Jackson riu-se
de ter matado um menino de “cinco ou seis anos de idade” porque
“ele se tornaria indígena um dia”.22 Veja aqui um critério distinto
para o genocídio: a matança desenfreada dos membros de um
grupo racial distinto no objetivo de destruí-lo como um todo ou em
parte.
A Lei pela Remoção Indígena, estruturada por Jackson — sua
principal prioridade ao assumir a presidência, em 1829 —, mais
tarde veio a servir de base para a infame Trail of Tears [Trilha das
Lágrimas]. Seu discurso em dezembro de 1830 no Congresso sobre
a implementação da Lei a apresentou como benéfica para os índios,
alegando que assim “os capacitaria a buscar a felicidade da maneira
como eles a viam e sob suas próprias instituições rústicas” e os
pouparia do destino das “tribos que ocuparam os países que hoje
constituem os Estados orientais, agora aniquiladas ou dissolvidas
para abrir espaço para os brancos”.23 No entanto, ao longo de sua
carreira, Jackson combinou engano, ameaças e assassinatos para
expulsar índios da Flórida, Alabama, Mississippi e Tennessee.
Várias tribos — a Chickasaw, a Choctaw, a Creek e a Seminole —
foram forçadas a evacuar. A Cherokee, no entanto, resistiu. Jackson
declarou: “Toda a nação Cherokee deve ser flagelada”.
Ele prendeu o líder cherokee eleito, John Ross, e incendiou o
jornal da tribo, The Cherokee Phoenix. Jackson encontrou um grupo
rival do Cherokee — não representante da tribo — e o subornou
para aprovar um tratado falso em que o povo Cherokee concordava
em abandonar suas terras e se mudar para o oeste do Mississippi.
Porém, quando o prazo da realocação chegou, a grande maioria da
tribo não havia abandonado suas casas. Apenas quatro mil
cherokees partiram para o território indígena designado mais a
oeste, mil estavam escondidos e dezessete mil permaneceram.
Consequentemente, os democratas no Congresso e a Casa Branca
decidiram expulsá-los. Essencialmente, eles forçaram uma nação
inteira a se mudar sob a mira de armas.
A realocação forçada desses dezessete mil do povo Cherokee
tornou-se, nas palavras de Stanford, uma “marcha da morte”
comparável à Marcha da Morte de Bataan, de 1942 — uma das
atrocidades japonesas da Segunda Guerra Mundial. Os democratas
enviaram tropas para atacar casas cherokees, capturando os
moradores e aprisionando-os em campos de detenção. As cabanas
foram incendiadas, o gado roubado ou executado, os homens,
mulheres e crianças brutalizados. Certo voluntário da Geórgia, que
mais tarde veio a servir no Exército Confederado, comentou: “Lutei
na Guerra Civil e vi homens mortos e despedaçados aos milhares,
mas a remoção Cherokee foi a operação mais cruel que já conheci”.
Os campos eram miseráveis pastos cercados, onde a fome e a
doença reinavam. Essa doença não pode ser comparada às pragas
que antes perseguiram as populações indígenas das Américas
porque aquelas foram acidentais — o homem branco não tinha ideia
de que havia trazido consigo doenças das quais os índios não eram
imunes —, enquanto estas eram o produto da política e da ação
oficial do governo democrata. Por causa da escassez de registros,
os estudiosos não sabem quantos cherokees morreram. As
estimativas variam de dois mil a oito mil — estimativa de Stannard.
Se ele estiver certo, é o equivalente a quase metade dos dezessete
mil cherokees que permaneceram em suas terras e mais de um
terço dos que restauram na nação Cherokee.24
Enquanto isso, na Califórnia, o Poder Legislativo e o Executivo
controlados pelos democratas montaram uma guerra contra a
população indígena. Peter Burnett, governador democrata, não
hesitou em chamá-la de “guerra de extermínio”, que “deve continuar
a ser travada entre as raças até que os índios sejam extintos”. Aqui,
novamente, temos uma clara expressão da intenção genocida. O
objetivo claro era matar os índios através de expedições de milícias
e do desencadeamento de multidões de vigilantes democratas, e
levar o restante dos índios para as montanhas a fim de que suas
terras pudessem ser subtraídas. Funcionou — a população indígena
do estado foi amplamente eliminada.
Mais recentemente, estudiosos encontraram evidências de que o
Serviço de Saúde Indígena (SSI) realizou uma estratégia de longa
data de esterilização de mulheres indígenas, e, em alguns casos,
tirou delas os seus filhos e os colocou para adoção em casas de
brancos. Lembre-se de que este é um dos critérios específicos para
o genocídio sê-lo de fato, na definição da ONU. Era de se esperar
que coisas assim tivessem acontecido antes de a ONU emitir seus
princípios a respeito do genocídio, talvez antes da era nazista, mas
na verdade continuou durante a década de 1970. Em estudo
recente, Jane Lawrence estima que 25% de todas as mulheres
nativas americanas (índias) com idade entre quinze e quarenta e
quatro anos foram esterilizadas pela SSI na década de 1970. Elas
foram enganadas e assinaram termos de consentimento
maquinados por administradores progressistas que insistiam que o
objetivo era reduzir a incidência da pobreza dos índios americanos
ao manter a população indígena sob controle.25
Esse, então, é o genocídio perpetrado por Andrew Jackson e seus
sucessores democratas progressistas. Os biógrafos esquerdistas de
Jackson, como Sean Wilentz, procuram minimizar as atrocidades do
político. Seus argumentos parecem insinuar que, comparativamente
falando, o genocídio de Jackson e de seus sucessores democratas
foi um pequeno genocídio; mas um pequeno genocídio continua
sendo genocídio. Perceba que designações assim não são
meramente numéricas. Muitos ditadores, embora tenham matado
grande número do próprio povo, não são contados com aqueles que
cometeram genocídio, porque não visavam especificamente uma
população separada e distinta. Além disso, Stalin e Mao parecem ter
matado mais do seu próprio povo do que Hitler matou judeus, mas
ainda assim a atrocidade deste é geralmente aceita como maior por
causa da intenção e do desejo de acabar com toda uma população
étnica.
Não faz muito, progressistas — rompendo com historiadores
democratas que celebram Andrew Jackson — exigiram que o rosto
de Jackson fosse removido da cédula de vinte dólares. Como vemos
no decorrer deste livro, os progressistas costumam ser os
perpetradores, não os críticos, da matança em massa.
O mais controverso — dado que Jackson esteve na cédula de
vinte dólares desde 1928, ainda com Calvin Coolidge na presidência
— é que o presidente Trump tem um retrato de Jackson no Salão
Oval, bem como uma reprodução em miniatura sobre sua mesa da
estátua equestre de Jackson em Lafayette Park. Trump visitou a
fazenda que pertencia a Jackson e depois falou com admiração do
fundador do Partido Democrata. Ele não é o único presidente
republicano a fazê-lo. Theodore Roosevelt o fez e meu ex-chefe,
Ronald Reagan, também visitou a fazenda e pendurou o retrato de
Jackson no Salão Oval.
Aqui, devo admitir, coloco-me ao lado dos progressistas. E fico
feliz, que o horrível democrata, Jackson, será substituído por uma
heroína republicana, Harriet Tubman, na cédula de vinte dólares, em
2020. Trump, como Reagan, é ex-democrata, e imagino que seu
entusiasmo por Jackson seja parcialmente impulsionado pela
hagiografia anterior do Partido Democrata de Jackson e, em parte,
pela atual calúnia de Jackson nas mãos de muitos progressistas de
esquerda. Mas é verdade que mesmo os progressistas
ocasionalmente podem acertar — nesse caso, penso eu, eles
acertaram.

Os Campos de Escravos
e os Campos Nazistas
Agora passemos da remoção indígena para a escravidão. À
primeira vista, parece difícil comparar uma fazenda de escravos
americana do século XIX com os campos de concentração alemães
do século XX. Estes eram criações industriais modernas, aqueles
pareciam ecos antiquados de uma era passada. No entanto, em
1959, o historiador Stanley Elkins revolucionou a história comparada
de ambas as instituições. Assim como Marc Buggeln usou o
conceito de trabalho escravo para elucidar o sistema do campo de
concentração, Elkins usou o conceito de campo de concentração
para elucidar o estudo daquele sistema escravagista.
Elkins parte de uma compreensão assustadora. Ele entendeu que,
até hoje, os retratos estereotipados da escravidão sulista não só
perduram na literatura, mas também na experiência contemporânea.
É possível enxergar, em outras palavras, as subservientes “casas de
negros” e os rebeldes “negros do campo” sobre os quais os
escravos e donos de escravos falavam. Em outras palavras, os
estereótipos não eram ficções racistas, que não seriam tão
persistentes, diz Elkins, a não ser que tivessem ao menos um
núcleo de verdade.
Elkins encontrou um estereótipo particularmente instigante: o do
cafuzo [Sambo] extravagante, desencanado, semi-idiota. Elkins
observa: “Seu comportamento era cheio de tolices infantis e sua
conversa inflada de exageros pueris”. O cafuzo, em outras palavras,
é uma criatura infantil que não amadureceu, jamais atingiu a
hombridade. O cafuzo é personagem persistente na literatura e no
teatro do início do século XX. De onde veio o cafuzo, indaga Elkis?
Aqui ele não está se referindo ao cafuzo literário ou artístico, mas ao
real, à personalidade negra real que corresponde a esse
personagem estranho e ridículo.
Ao pensar nisso, Elkins teve uma súbita epifania. Ele lembrou
que, nos campos de concentração alemães, os internos
descobriram, após o choque inicial do deslocamento, que as regras
do mundo exterior não se aplicavam ali. Olhando ao redor, eles
viram que os prisioneiros sobreviventes desistiram completamente
da dignidade e responsabilidade que, estivessem do lado de fora,
lhe caberiam. Eles se transformaram em seres infantis, quase como
crianças, em sua dependência e conformidade com as autoridades.
“O humor deles foi atingido por uma tolice e eles riam feito crianças
quando algum deles soltava um pum”.26 Em suma, aqui, num
cenário tão distante e pouco familiar, apareceu algo como o
personagem cafuzo, tão vividamente identificado como habitante da
fazenda de escravos democrata.
Ademais, Elkins observa, havia, nos campos nazistas, judeus e
outros presos que foram designados Kapos, isto é, prisioneiros
postos na função de supervisionar os esquadrões de trabalho
chamados Kommandos, sem contar que exerciam também o papel
de escreventes ou eram aqueles que registravam a rotina diária sob
a supervisão da equipe da SS alemã. Os sobreviventes dos campos
disseram em entrevistas que os Kapos basicamente assumiram o
papel dos nazistas. Eles eram tão severos quanto, ou até mesmo
mais rígidos; alguns deles chegaram a se vestir e a falar como tais.
Em suma, eles assumiram o papel daqueles que os oprimiam. Logo,
eis aqui um segundo tipo, não o cafuzo, mas não menos
desfigurado e estranho.
Como isso pôde acontecer? Elkins percebeu que as fazendas de
escravos democratas na América e os campos de concentração
nazistas tinham algo em comum. Ambos eram sistemas fechados
em que os internos viviam num mundo separado, em grande parte
selado do mundo exterior. Consequentemente, teoriza Elkins, o
ritmo ordinário dos escravos nas fazendas e dos internos dos
campos de concentração foi corrompido e transtornado a tal ponto
que acabou criando novas personalidades — personalidades
anormais e distorcidas, sem paralelo no mundo normal.
No caso do cafuzo como personagem peculiar, Elkins nota que ele
simplesmente não existia na América do Sul, cujo sistema
sustentava a escravidão, mas sem o cafuzo. E por quê? Porque,
respondeu Elkins, a escravidão sul-americana não era um sistema
fechado. Mesmo os escravos da fazenda viviam em um mundo mais
amplo, sob a proteção de seus senhores da Coroa espanhola e da
Igreja Católica. Nas fazendas democratas do Sul dos EUA, em
contraste, o escravo adulto era despojado de suas
responsabilidades masculinas usuais — homens maduros eram
tipicamente chamados de “garotos” —, resultando nessa criatura
infantilizada chamada cafuzo, a qual Elkins chama de a “perpétua
criança”.27
Toda a comunidade de estudiosos do escravagismo logo
percebeu que o livro de Elkins havia levado o debate a um novo
patamar. Quase duas décadas após ser publicado, a editora da
Universidade de Illinois lançou a obra The Debate Over Slavery:
Stanley Elkins and His Critics [O Debate Sobre a Escravidão:
Stanley Elkins e Seus Críticos], em que os principais estudiosos da
área responderam à tese de Elkins, que depois devolveu com uma
réplica. O falecido Eugene Genovese, talvez o mais conhecido
estudioso em escravidão da América, considera o livro de Elkins
“um dos ensaios históricos mais influentes da nossa geração”.28
Voltarei à tese, mas primeiro quero abordar um assunto que Elkins
evitou. Ele insistiu que não tinha a intenção de fazer uma análise
comparada das duas instituições em sua realidade, entre a fazenda
de escravos e os campos de concentração nazista. O autor não
entra em questões como itinerário, dieta, administração, de que
modo eram tratados os escravos cativos e os internos, ou as
ideologias subjacentes que sustentavam ambos os sistemas. Elkins
deixa implícito que eram regimes tão diferentes que, na maioria dos
aspectos, seriam incomparáveis.
Discordo. E suspeito que Elkins não tenha se aventurado por
desconhecer parcialmente os campos de concentração nazistas.
(Ele certamente não desconhecia as fazendas de escravos). Elkins
parece derivar boa parte do que sabe a respeito dos campos de
concentração a partir do trabalho do sociólogo Bruno Bettelheim, ele
mesmo um sobrevivente de Buchenwald e Dachau e autor de um
estudo inovador, Individual and Mass Behavior in Extreme Situations
[O Comportamento Individual e das Massas em Situações
Extremas]. No entanto, Bettelheim não tentou produzir uma
pesquisa abrangente sobre os campos, mas simplesmente destacou
a transformação do comportamento humano em condições de
sobrevivência extrema. Meu propósito de chegar aonde Elkins
temeu pisar não é miná-lo, mas avançar ainda mais a sua tese, para
mostrar que ele realmente subestimou os paralelos.
Acomodações e alimentos: a estrutura física dos campos de
concentração nazistas, e não a das fazendas, aproximava-se mais
do sistema carcerário. O típico campo de concentração tinha um
quartel, uma oficina, um escritório administrativo, uma enfermaria,
uma prisão e um crematório. (O comandante e a equipe da SS
residiam fora das instalações). Já as fazendas de escravos eram
construídas de forma um tanto diferente. Elas geralmente consistiam
na mansão do senhor de escravos — a chamada Casa-Grande —,
senzalas em ruínas, possivelmente uma oficina e campos para
plantação de arroz ou algodão.
Os campos nazistas eram segregados por sexo, enquanto as
senzalas se formavam com habitações familiares contendo homens,
mulheres e crianças. Não obstante, o conteúdo físicos tangível de
cada compartimento ou habitação era bastante semelhante em
ambos os casos: nada mais do que um leito e um cobertor, um
banheiro ou um penico e, quem sabe, uma cadeira. Para o campo
de Ravensbruck, a historiadora Sarah Helm relata que as únicas
provisões eram um prato, um copo, alguns utensílios, uma escova
de dentes, um pedaço de sabão e uma pequena toalha.29
Em termos de alimentação, os escravos estavam bem melhores,
já que recebiam porções regulares de carne e vegetais, enquanto os
presos nos campos nazistas recebiam pouco mais que uma sopa de
aveia rala, pão e água. Elie Wiesel, aprisionado em Auschwitz e
depois em Buchenwald, conta que sua ingestão diária consistia em
uma “tigela de sopa” e uma “crosta de pão velho”. Em Ravensbruck,
as mulheres pareciam estar numa situação um pouco melhor; aos
domingos, elas recebiam um “bocado de geleia, um tablete de
margarina e uma salsicha”, e também eram autorizadas a pegar
dinheiro de casa e comprar bolachas e biscoitos na loja da
instalação local.30 A desnutrição, problema episódico no regime
escravo democrata, foi crônica nos campos de concentração
nazistas.
Seja a fazenda de escravos dos democratas, seja o campo de
concentração nazista, ambos os regimes eram selados do mundo
exterior, demarcados, em alguns casos, por uma cerca alta ou
arames farpados, vigiados por guardas, nos campos, ou capatazes,
nas fazendas, às vezes auxiliados por cães treinados. Em ambos os
casos, os cativos ficariam lá por toda a vida; aqueles que entravam
nunca mais sairiam, fato para ambos os sistemas. Assim, Elkins não
poderia estar mais certo de que esses eram sistemas fechados,
mundos para si mesmos, completamente separados do mundo
exterior.
Rotina de trabalho: aqui o termo “trabalho escravo” aplica-se
igualmente ao sistema das fazendas democratas e dos campos de
concentração. O trabalho começava com o nascer do sol e acabava
ao anoitecer: era contínuo, persistente e incessante. Enquanto a
maioria dos escravos trabalhavam em plantações de algodão, a
maior parte dos cativos nos campos de concentração trabalhava em
locais de construção e pedreiras. Durante a maior parte do tempo
que passou em Auschwitz, Elie Wiesel trabalhou na construção
“onde, por doze horas diárias, arrastava pedras pesadas”.31 Em
ambos os sistemas o trabalho era principalmente braçal, não
qualificado ou pouquíssimo qualificado, embora também houvesse
tarefas que exigiam habilidade especializada como soldagem,
carpintaria, alvenaria e eletricidade, serviços atribuídos a um
pequeno subconjunto de prisioneiros um pouco mais qualificados.
Escravos e prisioneiros eram obrigados a trabalhar. O tempo
trabalhado dos escravos costumava ser de seis dias por semana,
exceto na época de plantação, e recebiam folga em virtude do
feriado de Natal, que normalmente era comemorado com música e
um banquete. Os prisioneiros nazistas trabalhavam todos os dias,
sem feriados, sem festa. Se desse uma pausa no trabalho, o
escravo provavelmente seria açoitado; agora, se um prisioneiro
nazista parasse, ele provavelmente seria espancado ou baleado.
Obviamente, em nenhum dos casos os trabalhadores eram pagos,
embora os proprietários de escravos e os capatazes por vezes
oferecessem incentivos para trabalhar, incluindo ao permitir que
escravos ficassem com parte da produção. O único pagamento que
os prisioneiros dos campos nazistas recebiam era a chance de viver
e trabalhar por mais um dia.
Os limites do poder absoluto: os democratas senhores de
escravos não possuíam, por lei, poder absoluto sobre seus
escravos. Em todos os estados sulistas, o assassinato de um
escravo era proibido. Na maioria dos estados, formas extremas de
mutilação e ferimento também eram proibidas. Mas os donos de
escravos tinham o poder de facto, porque teriam o direito de
reivindicar invariavelmente que o escravo resistira à autoridade ou
inventariam alguma outra desculpa, medidas nas quais os tribunais
acabavam acreditando.
Com açoites e outras punições, os senhores de escravos
democratas possuíam uma autoridade praticamente desenfreada.
Em 1829, no caso Estado vs Mann, o juiz Thomas Ruffin decidiu o
caso em que determinado dono foi acusado de ferir gravemente seu
escravo. Ruffin, embora democrata, era relativamente humanitário, e
disse que sua consciência se revoltava ao permitir que o abuso
ficasse impune. Apesar disso, declarou, ele precisava unir-se ao
senhor de escravos porque o “objetivo da escravidão é o lucro do
senhor” e a tarefa do escravo é “labutar duro para que outro possa
colher os frutos”.32 Tal sistema só poderia sobreviver se a vontade
do senhor fosse, praticamente falando, absoluta.
Ironicamente, o que mais protegia os escravos, se seus senhores
democratas tendessem à crueldade ou ao assassinato, era a própria
posição de posse, bem ou propriedade. Wolfgang Sofsky defende
esse ponto em seu livro The Order of Terror [A Ordem do Terror], um
estudo sobre a vida nos campos de concentração. Sofsky observa
que, ao contrário dos escravos, as vítimas dos campos de
concentração “não eram propriedade pessoal desse ou daquele
senhor, mas detentos de uma instituição. Eles não pertenciam a
ninguém”. Assim, “os prisioneiros não tinham valor nem preço”.
Em contraste, “o escravo tinha valor e preço de mercado. O dono
não adquire para si escravos a fim de matá-los, mas tem por
objetivo colocá-los para trabalhar em benefício próprio”.33 Os
escravos custavam entre 1 200 e 1 500 dólares no período entre
1830 e 1860. Isso significa que os senhores democratas tinham
grande investimento em seus escravos. Os donos não desejavam
danificá-los, cujo valor, afinal, decairia; em outras palavras, não
desejavam fazê-lo pelo mesmo motivo que você não gostaria de
danificar seu próprio carro.
Por mais marginal que fosse a proteção do escravo de seu senhor
democrata, os internos do campo nazista não tinham proteção de
seus algozes, que tinham total discrição para brutalizá-los e matá-
los. Por razão disso, não há sequer comparação quanto ao nível de
perigo que sentiam os presos do campo de concentração em
relação aos escravos. Estes temiam seus senhores e capatazes,
mas não estavam em constante risco de morte; aqueles, sim,
estavam. O perigo era maior, é claro, para os judeus, mas todos os
presos sentiam com força esse medo.
Assim como com a escravidão, a escassa proteção que os presos
dos campos nazistas conseguiram foi por ocasião da utilidade que
tinham para o regime nazista. Quando as condições do campo
melhoraram, Buggeln conta: “tinha pouco que ver com o considerar
a humanidade” e era, na verdade, “um reflexo daquilo que se exigia
da mão de obra” no regime.
É conveniente lembrar que, Buggeln comenta, no fim da guerra,
os nazistas pediram aos oficiais da SS que alimentassem melhor os
trabalhadores dos campos de concentração, que lhes dessem
roupas de inverno apropriadas e permitissem oito horas de sono,
sem interrupção. Foram regras que chegaram a se aplicar mesmo
aos judeus, dando a entender que, prevendo o fim, os nazistas
estavam tão desesperados por trabalhadores que se “dispuseram a
rescindir temporariamente de uma das principais exigências
ideológicas do nazismo — livrar o Terceiro Reich dos judeus”.34
Rebeliões e fugas: certa feita, Andrew Jackson ofereceu a
recompensa de cinquenta dólares a quem capturasse um fugitivo de
sua fazenda “e dez dólares a mais por cada cem chicotadas, até
totalizar trezentas, a quem as aplicasse ao fugitivo”.35 Fugas eram
comuns na rotina dessas fazendas. Os donos procuravam leis — A
Lei do Escravo Fugitivo — que obrigassem os estados livres a
devolver fugitivos. O senhorio passou a empregar patrulheiros a fim
de impedir que os escravos tentassem escapar e contratavam
caçadores para recuperar fugitivos. Os jornais democratas
anunciavam “cachorros negreiros” para farejar fugitivos escondidos
nas florestas ou nos pântanos. Rebeliões por parte dos escravos
eram um tanto incomuns, e é por isso que sabemos sobre as
poucas existentes, tais como as rebeliões levantadas por Nat Turner
e Denmark Vesey. No entanto, mesmo estas falharam e os autores
foram capturados e executados.
“Pouquíssimos prisioneiros escaparam dos campos”, relata Sofsky
em seu estudo The Order of Terror.36 Sofsky conta algumas
centenas de fugitivos, em si um pequeno milagre, já que os campos
eram grandes fortalezas. Sofsky salienta que as filiais menores
ofereciam melhores chances de fuga, embora até mesmo ali fosse
necessário grande planejamento. Ademais, civis da população local
poderiam entregar o fugitivo de volta aos campos.
Quanto às rebeliões, Sofsky contabiliza apenas três: uma em
Treblinka, outra em Sobibor, em 1943, e outra em 1944, em
Auschwitz. A revolta de Treblinka envolveu um ataque às cercas
perimetrais, por onde em média duzentos prisioneiros fugiram,
perseguidos por guardas da SS em caminhões e a cavalo. Sofsky
estima “ser improvável que mais de cinquenta ou sessenta dos que
escaparam tenham sobrevivido para presenciar o fim da guerra”. A
rebelião de Sobibor foi um fracasso e resultou em cerca de cem
presos executados. Da mesma forma na rebelião de Auschwitz,
todos os fugitivos, conseguindo matar três oficiais da SS e ferir
outros doze, foram caçados e mortos.37
A mensagem essencial é a seguinte: com regimes fechados
profundamente opressivos como os campos nazistas e as fazendas
dos democratas, os oprimidos, por mais motivados que estivessem
em se rebelar e derrubar o sistema, simplesmente não conseguiam
fazê-lo. Ainda que desejosos, mas sem poder. Em última análise,
tanto as fazendas de escravos quanto o regime dos campos de
concentração nazistas tiveram de ser derrubados pelo lado de fora,
pela invasão militar externa. Os Aliados e o Exército dos Estados
Unidos, cada qual tendo seu papel, foram os libertadores dos
prisioneiros e dos escravos.
Ideologias de inferioridade: o termo “escravo” [slave] deriva-se, na
verdade, do termo “eslavo” [slav]. Por certo os escravos do regime
nazista eram em grande parte eslavos e, em termos raciais,
brancos. Mesmo assim os nazistas consideravam os eslavos —
bem como consideravam os judeus e os russos — como
Untermenschen, ou sub-humanos. Dentro dos campos nazistas,
havia uma hierarquia de inferioridade que determinava o tratamento
dos presos: os prisioneiros alemães eram considerados os mais
elevados e tratados melhor, enquanto os judeus — especialmente
os judeus não alemães — eram considerados os mais inferiores e
tratados da pior forma.
Os nazistas não apenas desenharam uma simples demarcação
entre captores e cativos; havia também subcategorias que
estabeleciam uma hierarquia ou gradação entre as populações
cativas. Entre os democratas donos de escravos, em contraste,
havia uma única linha racial. Nem todos os proprietários de
escravos eram brancos — havia, inclusive, um número substancial,
embora proporcionalmente pequeno, de proprietários negros. Mas
todos os escravos eram negros. Conquanto ambos, nazistas e
democratas, tenham aplicado um código racial em seus sistemas de
escravidão, o código nazista era mais variado e multifacetado do
que o dos democratas.
É curioso perceber que os nazistas não precisaram defender sua
ideologia, pois não enfrentaram nenhum tipo de questionamento
interno. Os democratas, no entanto, enfrentaram oposição, primeiro
do Partido Whig e depois do Partido Republicano, sem contar a forte
oposição do pequeno grupo de republicanos conhecidos como
abolicionistas. Isso posto, os democratas desenvolveram uma
ideologia abrangente pró-escravidão, na qual tinham a cara de pau
de afirmar que a escravatura era boa não só para o dono, mas
também para seu escravo.
George Fitzhugh, escritor democrata, argumentou que o escravos
eram como animais, nascidos para serem dominados por seus
donos e que “a equitação lhes faz bem”. Outros democratas, como o
senador John C. Calhoun, insistiram que a escravidão foi uma
“escola civilizatória”, embora, aparentemente, não fosse uma escola
na qual alguém pretendesse se graduar.38 Convém, nesse ponto,
desfavorecer os democratas em comparação aos nazistas. Mesmo
estes não tiveram a audácia e a desonestidade intelectual de sugerir
que os Untermenschen e os judeus eram, de alguma forma,
beneficiados com o regime nazista.
Legado Duradouro
Volto-me a Elkins agora, para resumo e uma única observação
final. Resumindo, mesmo como um sistema fechado, a escravidão,
tendo sido de longa duração, produziu ao longo desse tempo uma
cultura afro-americana distinta. Eugene Genovese, em sua obra
Roll, Jordan, Roll, bem como na crítica mais compreensiva que faz a
Elkins, destaca esse ponto. Os escravos, por exemplo,
desenvolveram um repertório de canções, histórias e
relacionamentos — às vezes relacionamentos vitalícios — que, em
última análise, ajudaram a formar uma identidade negra nos
Estados Unidos.
Aqui não existe nenhum paralelo com os campos de
concentração, em parte por causa da natureza do ambiente e em
parte porque duraram apenas doze anos, de 1933 a 1945. Em geral,
os prisioneiros dos campos não estabeleceram relacionamentos
íntimos, em parte porque era algo desencorajado pelos guardas e
em parte porque os prisioneiros perceberam que a pessoa com
quem foi feita a amizade na semana anterior poderia ser
sumariamente executada na semana seguinte. Assim, as únicas
mudanças comportamentais que os campos nazistas produziram
estavam na natureza do adaptar-se depressa à vida nos campos.
Segue-se disso, portanto, o fato de o legado cultural da
escravidão ter ultrapassado a escravidão, enquanto o legado
cultural dos campos de concentração — incluindo as peculiares
desfigurações de personalidade que Elkins detectou — provou ser
um fenômeno temporário.
O fenômeno do muselmanner parecido com zumbis, substituto
nazista dos Kapos — tudo desapareceu. Não faz sentido dizer que
os judeus ou os europeus do Oriente atualmente apresentam
quaisquer das características que se desenvolveram dentro desse
sistema temporariamente fechado.
No caso do negro americano, no entanto, a situação é bastante
diferente. Embora terminada em 1865, a escravidão perdurou por
mais de duzentos anos, e teve o seu maior alcance durante a era da
supremacia democrata no Sul, desde a década de 1820 até a
década de 1860. Muitas das características da antiga fazenda de
escravos — a moradia em ruínas, a família quebrada, o alto índice
de violência usada para manter a ordem, poucas oportunidades e
escassas perspectivas de avanço, o senso generalizado de niilismo
e desespero — são evidentes em cidades urbanas governadas por
democratas como Oakland, Detroit, Baltimore e Chicago.
“Havia uma subclasse distinta de escravos”, escreve o cientista
político Orlando Patterson, “que vivia de forma fútil ou perigosa. Era
o negro incorrigível, de quem a classe de donos de escravos
sempre reclamava. Eles fugiam. Eram ociosos. Mentiam
compulsivamente. Eles pareciam imunes ao castigo”. Em seguida,
Patterson chega ao clímax: “Pode-se traçar a subclasse, como
fenômeno social persistente, neste grupo”.39 A esquerda não gosta
de Patterson por ser ele um estudioso negro oriundo do oeste da
Índia e propenso a proferir verdades politicamente incorretas.
Pessoas mentirosas não gostam disso. Mas quantas mentiras
você pode contar? Quem pode negar que os negros ainda vivem
sob os efeitos daquilo que os democratas lhes fizeram? Hoje os
negros sofrem uma taxa de ilegitimidade na família de
aproximadamente 80%. Não estou dizendo que tudo se deve à
escravidão, mas quem pode dizer que, em parte, não se deve ao
legado da escravatura? A taxa de criminalidade entre os negros é
muito maior, com altos índices de homicídio de negros contra
negros. Quem pode dizer que não é a consequência, ao menos
parcial, da desvalorização que a vida negra sofreu nas mãos do
senhorio democrata? W. E. B. Du Bois, estudioso democrata,
certamente o fez.
São perguntas, e não respostas, embora pense que Du Bois
tenha acertado nesses pontos. Se assim for, significa que o
progresso que fizemos na erradicação dos campos de concentração
e da escravidão não está nada completo. Certamente, ambas as
instituições foram derrotadas pela guerra e permanentemente
encerradas. Contudo, o legado de um deles continua. Enquanto o
legado nazista alemão mantém-se sobretudo na memória, o legado
dos democratas senhores de escravos na América ainda retém
cicatrizes feias na vidas de muitos afro-americanos.
Capítulo Cinco
Os Racistas
Originais

Foi com a instituição das Leis de Nuremberg, em


1935, que a Alemanha tornou-se um regime racista
de pleno direito. As leis americanas foram os
principais precedentes estrangeiros para tal
legislação.1
George Fredrickson, Racism: A Short History
[Racismo: uma Breve História]

Em 5 de junho de 1934, pouco depois da ascensão de Hitler ao


poder, as principais figuras por trás das Leis de Nuremberg
reuniram-se para determinar o que elas deveriam de fato declarar.
Entre os presentes estavam Bernhard Losener, principal formulador
do texto escrito da legislação de Nuremberg, Franz Gurtner, ministro
da Justiça do Reich, Roland Freisler, secretário estadual do
Ministério da Justiça e mais tarde presidente do “Tribunal Popular”
nazista, e Karl Klee, juiz presidente do Tribunal Criminal. Uma das
fontes mais eruditas dos nazistas era o jovem advogado Heinrich
Krieger, que havia estudado na Universidade de Arkansas e cuja
pesquisa sobre a legislação racial dos EUA formou a base da obra
do Ministério da Justiça nazista.
O ambiente era de seriedade, até mesmo de gravidade, e um
estenógrafo estava presente para realizar a transcrição. O encontro
foi significativo, uma vez que os nazistas sabiam desde então que
estavam construindo pela primeira vez no mundo um Estado racista.
E determinados estavam a fazê-lo com precisão alemã, ou seja,
determinados a fazê-lo corretamente. Nas palavras de Michael
Burleigh em seu livro The Racial State [O Estado Racial]: “O
Terceiro Reich tornou-se o primeiro Estado da História mundial cujo
dogma e prática eram o racismo”.2
Não faz muito que o jurista James Whitman estudou essa
transcrição e ficou surpreso com o que encontrou. Conforme
Whitman escreve em seu livro, Hitler’s American Model [O Modelo
Americano de Hitler], “A reunião envolveu longas discussões sobre
a legislação dos Estados Unidos da América”. A reunião abriu com
Gurtner apresentando um memorando sobre a legislação racial dos
EUA e, à medida que avançava, Whitman observa: “Os participantes
voltavam para o exemplo dos EUA repetidamente”.
Basicamente, os nazistas estavam interessados em três coisas da
América: leis acerca do casamento inter-racial, leis que restringiam
a imigração com base na raça e as Leis de Jim Crow. Os nazistas
compreenderam que as leis dos EUA de segregação e
miscigenação aplicadas aos negros e às leis de imigração
aplicavam-se a outros grupos étnicos minoritários nos Estados
Unidos. Mas as leis não — Krieger observou de forma otimista com
um “até agora” — se aplicavam aos judeus. No entanto, os nazistas
estavam convencidos de que poderiam aplicar essas mesmas leis,
ainda que com modificações adequadas ao contexto.
Especificamente falando, eles estavam formulando leis para lidar
com judeus enquanto também pensavam nos ciganos e outras
populações “indesejadas”.
Os nazistas presentes na reunião dividiam-se em duas alas, às
quais Whitman dá o nome de “moderados” e “radicais”. Os
moderados insistiam que era impraticável e absurdo ter leis que
proibissem o casamento inter-racial entre, digamos, alemães
nórdicos, ou “arianos”, e judeus. Tais leis, segundo eles,
praticamente nunca existiram por todo o mundo. Além disso, as
novas leis deviam basear-se em alguns precedentes alemães e o
único encontrado era o de leis contra a bigamia e a poligamia. Em
vez de testar e aplicar essas leis, que tratavam da questão à parte
de múltiplas esposas, este grupo propôs simplesmente usar “uma
campanha de conscientização pública e esclarecimento” para
desencorajar os alemães nórdicos de casarem-se ou de coabitarem
com os judeus.
A isso os radicais responderam não haver necessidade de alarde,
porque decerto havia precedentes para as leis que proibiam o
casamento inter-racial. Esse precedente veio dos Estados Unidos;
cerca de trinta estados americanos proibiam o casamento inter-
racial. Freisler admitiu que a América era única ao passar esse tipo
de lei que proibia a “mestiçagem”, não obstante insistiu que o
exemplo da jurisprudência americana no tocante à questão racial
“lhes serviria perfeitamente”.
Além do mais, havia nos EUA a Lei da Imigração de 1924, que
estabelecia cotas para a imigração com base na raça, concedendo
tratamento preferencial aos brancos e discriminando os pardos e os
negros que desejavam mudar-se para a América em busca de
cidadania. Havia também toda uma rede de leis de segregação que
separava os brancos dos negros — escolas separadas,
acomodações de hotel separadas, bebedouros separados e assim
por diante. Os nazistas as colocaram na categoria de “indivíduos
sem direitos de cidadania”. Em outras palavras, os nazistas estavam
entusiasmados com a criação americana, base para duas categorias
de cidadania: cidadãos de primeira classe e cidadãos de segunda
classe. Isso, eles sabiam, tinha aplicabilidade direta à incumbência
de elaborar as Leis de Nuremberg.
Os moderados então questionaram: por que separar os judeus?
Talvez, diziam eles, as Leis de Nuremberg devam simplesmente
proibir o casamento inter-racial entre pessoas de diferentes raças.
Erich Mobius, médico nazista afiliado ao Ministério do Interior,
indicou que evitar referências específicas aos judeus melhoraria a
reputação internacional da Alemanha.
No que diz respeito a esse ponto, os radicais opuseram-se,
defendendo que a Alemanha deveria tomar coragem a partir do
exemplo americano. Klee disse que, assim como a legislação
americana sobre questões raciais e de imigração reconhecia
especificamente a inferioridade de certas raças, em particular a dos
negros, a legislação alemã também deveria reconhecer
especificamente a inferioridade do povo judeu. Em ambos os casos,
disse Klee, tratava-se simplesmente de uma “proteção racial”, salvar
a maioria nativa branca da ameaça e da contaminação impostas por
raças inferiores.
Logo a reunião tocou em uma questão persistente: quem é
judeu? Os moderados insistiam que não era fácil de identificar a
etnia de uma pessoa, dada a realidade das raças mestiças. Seria
preciso ser cem por cento judeu ou ser metade judeu já bastaria?
Nesse ponto os radicais destacaram que as leis de segregação do
Sul baseavam-se na chamada one drop rule, isto é, a “regra de uma
única gota”. Em outras palavras, ter qualquer ascendência negra
discernível — teoricamente, mesmo uma única gota de sangue
negro — faria do indivíduo alguém negro.
No entanto, diz Whitman, até mesmo os nazistas radicais
consideraram esta uma posição extremista. Admitiu-se a “dureza
humana” dos regulamentos americanos e questionou-se: como
alguém poderia considerar negro aquele indivíduo “de aparência
predominantemente branca”? Os radicais foram obrigados a recuar
de propor algo tão extremo para o caso dos judeus. “Para eles”,
Whitman observa sarcasticamente, “o racismo americano às vezes
era simplesmente desumano”.3
Por fim, mas sem surpresa, os radicais prevaleceram e seu triunfo
refletiu-se nas infames Leis de Nuremberg de 1935. Essas leis —
oficialmente denominadas Lei da Proteção do Sangue Alemão e a
Lei da Cidadania do Reich — foram, de fato, modeladas a partir das
leis americanas de antimiscigenação, das leis de imigração e das
Leis de Jim Crow. Elas proibiam o casamento e a relação sexual
entre judeus e “cidadãos de sangue ou parentesco alemão”. Aos
judeus foi negada a cidadania alemã; eles agora eram considerados
estrangeiros residentes, não privados de todos os direitos em geral,
mas certamente de todos os direitos políticos. Como Burleigh
observa: “As Leis de Nuremberg oficialmente transformaram os
judeus em cidadãos de segunda classe”, exatamente como a
maioria dos negros foi considerada nos Estados Unidos.4
Convém notar que os nazistas radicais rejeitaram a “regra de uma
única gota” e determinaram que, para ser considerado judeu, o
indivíduo teria de ter três avós judeus. Aqueles que eram um quarto
ou metade judeu só seriam assim considerados se praticassem o
judaísmo ou se casassem com outros judeus; do contrário, seriam
contados como alemães. Assim os nazistas foram por uma linha
mais leve quanto à definição da identidade racial do que seus
precedentes dos EUA. “No que diz respeito a este alcance contido,
escreve o historiador George Fredrickson, “o antissemitismo alemão
era menos rigoroso com a pureza racial do que a supremacia
branca americana”.5
Transferindo a Culpa
Meu plano de origem para este capítulo era demonstrar o
desenvolvimento paralelo entre o racismo no Partido Democrata, na
América, e o racismo, um tipo especial, o antissemitismo, na
Alemanha nazista.
Eu não fazia ideia de que o racismo dos democratas realmente
havia moldado e influenciado as políticas da Alemanha nazista.
Sabia, sim, que um precedeu o outro, mas não que um ajudou a
causar o outro. Sou agradecido, portanto, a Whitman e a outros por
me mostrarem as relações causais entre esses dois tipos de
fanatismo.
Minha gratidão é restringida, no entanto, por reconhecer que
esses estudiosos são quase todos praticantes da grande mentira.
Whitman constantemente aponta o dedo culpando “a América”. Ele
escreve: “A legislação americana permaneceu um constante ponto
de referência nazista”. Os nazistas “voltaram-se repetidas vezes ao
exemplo americano”. E conclui, “a supremacia branca americana
proporcionou, para nossa vergonha coletiva, alguns materiais
bastante efetivos para o nazismo da década de 1930”. Whitman
quer para a América um lugar seguro “na História mundial do
racismo”.6
Ira Katznelson, outro praticante da grande mentira, revela um tom
diferente em seu livro Fear Itself [O Medo Em Si]. Como Whitman,
Katznelson tem dizeres reveladores sobre como os nazistas
pareciam favoráveis ao racismo dos democratas. Ele escreve:
Quando os americanos se queixaram do antissemitismo
nazista, os representantes do partido responderam citando os
preconceitos raciais do Sul, reivindicando um parentesco. O
Volkischer Beobachter, mais antigo jornal do Partido Nazista,
costumava desprezar os africanos e os afro-americanos.
Como grande parte da imprensa alemã, o jornal
frequentemente imprimia charges depreciando os negros,
lembrando aos leitores que as acomodações públicas do Sul
eram segregadas, satisfazendo-se ao relatar que negros, bem
como os judeus alemães, não podiam dormir nos vagões-
dormitórios Pullman nem exercer o direito ao voto.
Quando o Partido Nazista começou a se mobilizar [...] Der
Weltkampf, seu periódico ideológico, reproduziu os discursos
do Mago Imperial da Ku Klux Klan sobre miscigenação. Falar
de linchamento tinha espaço favorito. Neues Volk celebrou o
linchamento ocorrido no Sul para proteger as mulheres brancas
do desejo desenfreado dos negros. O Volkischer Beobachter
publicou muitas histórias gráficas em apoio ao linchamento
como ferramenta para proteger a pureza sexual branca.
O periódico da SS, Schwarze Korps, afirmou que, se
linchamentos ocorressem na Alemanha como no Sul dos EUA,
o mundo inteiro se queixaria com indignação.7
Quão cativante tudo isso. Katznelson mostra como os nazistas
estavam conscientes e entusiasmados com o fanatismo no
Atlântico, que eles acreditavam ser paralelo e reforçar seu próprio
fanatismo. Ainda assim, note que, do mesmo modo como Whitman
culpa “a América”, Katznelson culpa “o Sul”. Nenhum deles diz: “os
democratas”. Nenhum dedo de culpa jamais identifica “os
progressistas”. Eles nunca apontam para “a esquerda”.
Eis algo significativo, porque toda a legislação de segregação no
Sul foi aprovada por uma legislatura democrata, firmada no poder
por um governador democrata e executada por delegados
democratas e autoridades municipais e estaduais democratas. A
maioria das leis antimiscigenação foi aprovada em estados
democratas. Os progressistas aprovaram a (racista) Lei da
Imigração de 1924 e a celebraram como uma vitória da ciência e do
planejamento progressistas. A Ku Klux Klan foi criada pelos
democratas e serviu durante trinta anos, nas palavras do estudioso
progressista Eric Foner, de “braço terrorista domesticado do Partido
Democrata”.
O que Whitman poderia dizer em resposta? Ele poderia afirmar
que culpa “a América” porque os próprios nazistas citavam leis e
precedentes americanos. Certamente, os nazistas, vendo os
Estados Unidos a milhares de quilômetros de distância, poderiam ter
pensado que as políticas racistas no país eram, de alguma forma, o
resultado de um consenso nacional. A Alemanha nazista chegou,
em determinado momento, a ter este consenso. Mas não na
América, como Whitman e Katznelson indubitavelmente sabem.
Eles entendem que as políticas racistas neste país emergiram de
uma grande luta entre dois partidos e duas ideologias rivais, datados
da época da escravidão e da Guerra Civil.
Isso posto, a grande mentira aqui envolve Whitman e Katznelson
transferindo a culpa dos verdadeiros culpados — os progressistas e
os democratas — para um “Sul genérico” e uma “América” ainda
mais genérica. Ao fazê-lo, ambos esperam por dois resultados.
Primeiro, esperam que os conservadores caiam nessa armadilha e
corram em defesa do Sul e da América. Isso faria dos
conservadores os defensores do racismo, da segregação e do
terrorismo racial.
Com certeza, meu antigo colega da AEI (American Enterprise
Institute), Josh Muravchik, lamenta que Whitman tente relacionar as
políticas nazistas às políticas americanas. Muravchik não nega que
os nazistas tenham apelarado para exemplos americanos. Pelo
contrário, ele pergunta, qual é o problema? Em outras palavras, que
diferença faz? Ele escreve: “Suponha, por um momento, que os
nazistas não tivessem encontrado inspiração nenhuma em
exemplos americanos. Não existiriam as leis de Nuremberg? Se não
houvesse modelo americano, um judeu a menos teria morrido nas
mãos de Hitler?”.8
Muravchik faz uma boa observação. Minha resposta às suas
perguntas é que, com as Leis de Nuremberg, as coisas podem
parecer um pouco diferentes, mas o veneno contra os judeus e
outras populações-alvo teria continuado sem cessar. Ninguém está
dizendo que os nazistas aprenderam a odiar os judeus através dos
exemplos americanos de racismo, ou que os Estados Unidos
motivaram os nazistas a matar mais judeus. Antes, a questão é que
os nazistas descobriram uma maneira de institucionalizar seu
antissemitismo usando um precedente legal já existente no
Atlântico. A esse respeito, o racismo estabelecido neste país ajudou
a estabelecer o racismo naquele outro.
Ah!, infelizmente, por toda sua ingenuidade, Muravchik ficou preso
em um racismo reducionista, na vã tentativa de exonerar a América.
Ele está indo exatamente aonde Whitman e Katznelson esperavam
que este fosse. O que ele deveria fazer, em vez disso, é mostrar que
não foi “a América” que fez tudo isso — mas, sim, os democratas.
Inconscientemente, Muravchik acaba por encobrir o racismo do
Partido Democrata, deixando a esquerda salvaguardada.
Os praticantes da grande mentira, como Whitman e Nelson, têm
um segundo objetivo. Convém notar que se trata de transformar
vilões em heróis. Tirando a culpa dos democratas e progressistas
então pretendem pavimentar o caminho para que esses mesmos
democratas se ofereçam como solução ao racismo. À medida que a
grande mentira se desenrola, de alguma forma as pessoas que
envenenaram a água reaparecem vestidas dos encarregados de
tratar a água. É uma fraude incrível.
Vejamos como Whitman, em artigo recente, tenta impingir as
atrocidades democratas louvadas pelos nazistas a Trump e ao GOP:
“Oitenta anos depois, ressurge um movimento político americano
dedicado à proposição de que a América deve voltar às origens
brancas nacionalistas. Existem novas leis em muitos estados
outrora sob as leis de Jim Crow que limitam o acesso ao direito de
voto. E proibições que colocam em prática aquilo que mais uma vez
parece considerar alguns pretensos imigrantes como ‘indesejados’.
Há figuras poderosas em Washington que parecem dispostas a
devolver-nos ao que aconteceu aqui. É momento de lembrar-se do
passado e permanecer vigilante”.9
Tolices extremamente vergonhosas de mais outro estudioso que
um dia já foi responsável! Para ver o quão enganosa é esta retórica,
é conveniente pesquisar a profunda relação entre o racismo nazista
e o racismo democrata. Cumpre, em primeiro lugar, analisar como o
antissemitismo nazista, que, a princípio, parece dramaticamente
distinto do fanatismo democrata, na verdade brota da mesma fonte,
o que chamo de socialismo herrenvolk, supremacista. Em segundo
lugar, veremos como o terrorismo racial da Ku Klux Klan antecipa, e
até mesmo fornece o modelo operacional, o culto fascista da
violência, testemunhado na década de 1930 durante o alvoroço
assassino de Kristallnacht — Noite dos Cristais — e durante outras
depredações das tropas nazistas de assalto especializado, as
Stosstruppen.
Por fim, veremos como Hitler e a classe governante democrata do
Sul chegaram a lamentar a violência aleatória e caótica contra
minorias específicas. Tendo uma vez consentido, Hitler
posteriormente repreendeu o que veio a chamar de “antissemitismo
emocional” dos camisas pardas e pediu que fosse substituído pelo
“antissemitismo racional” da política do governo.10 Os democratas
do Sul chegaram ao mesmo parecer, lamentando os linchamentos, a
KKK e, no lugar, institucionalizando, tal como os nazistas, uma
repressão organizada da segregação e da discriminação, ambas
patrocinadas pelo Estado.
O Fascismo Como Conceito Não Racista
Começo com o fenômeno do racismo fascista, mas aqui enfrento
um paradoxo. Parece que tal coisa não existe. “Racismo fascista”
soa oximoro. Apesar do embuste praticamente infindável do
progressismo taxando o fascismo de racista, não há nada
intrinsecamente racista no fascismo. É o que se percebe pelo
exemplo de Mussolini e do fascismo italiano, que, já analisado, é o
fascismo autêntico e original.
Mussolini pouco tinha contra os negros e absolutamente nada
contra os judeus. De fato, ele partilhou do preconceito europeu, um
tanto genérico, contra a África como sendo primitiva e incivilizada, o
que redundou numa visão inferior da civilização negra. Mas quase
não havia negros na Itália. Quanto aos judeus, Mussolini parecia
gostar deles. A amante e biógrafa de Mussolini, Margherita Sarfatti,
que o acompanhou em sua jornada do socialismo ao fascismo, era
judia. Havia judeus no início do movimento fascista com quem
Mussolini trabalhava e confraternizava, em particular junto de
Angelo O. Olivetti. “Antes do final da década de 1930”, escreve o
historiador Anthony James Gregor, “Mussolini nunca deixou traçar
qualquer evidência de antissemitismo”.
Comum para a época, Mussolini falava sobre nações em termos
de raça. À semelhança de muitos contemporâneos, ele usava
expressões como “a raça italiana”. Em 1923, Mussolini disse: “Antes
de amar os franceses, os ingleses, os hotentotes, eu amo os
italianos. Isto é, amo aqueles da minha própria raça, aqueles que
falam o meu idioma, que partilham dos meus costumes, que
partilham comigo da mesma história”.
Nesse contexto, enfatiza Gregor, a raça não é uma questão de cor
de pele, mas de um modo de vida compartilhado. O orgulho da
própria raça refere-se a “uma nova consciência nacional”. Os
italianos de todas as origens étnicas, cristãos e judeus, podem
partilhar desse mesmo “orgulho racial”. Mussolini coloca o seu
carinho pelos italianos acima não só dos “hotentotes” negros, mas
também acima dos franceses e ingleses brancos. Vemos aqui,
penso eu, o tipo de orgulho nacionalista que Donald Trump reflete e
fomenta; assemelha-se, inclusive e curiosamente, também com o
sentimento de Mussolini, um tanto ausente de fanatismo racial.
Todavia, Mussolini sucumbiu ao antissemitismo depois de entrar
em aliança com Hitler. Os estudiosos concordam que este foi um
antissemitismo estratégico, não proveniente do coração; um
antissemitismo com fins de demonstrar solidariedade política. Em
1938, o governo de Mussolini emitiu o Manifesto Racial Fascista. O
documento, promulgado com o objetivo de publicar a proximidade
do fascismo com o nazismo, acabou por revelar a distância entre
ambos.
O documento proibiu o casamento com judeus, declarou-os
inassimiláveis e sancionou leis discriminatórias contra eles. Essa foi
a parte que vergonhosamente cedeu ao racismo nazista. “Muitos
intelectuais fascistas”, escreve Gregor, “representados da melhor
forma por Giovanni Gentile, consideraram a legislação moralmente
censurável”. Mussolini, no entanto, sentiu que lhe cabia adotá-la.
Apesar disso, Mussolini não seguiu Hitler por completo, pois sabia
que a doutrina acerca da superioridade nórdica fazia com que outros
grupos, incluindo os italianos, fossem racialmente inferiores. Não é
de surpreender que Mussolini tenha a abominado em absoluto.
Mesmo durante sua aliança com Hitler, jamais apoiou publicamente
a doutrina que um dia havia descartado por completo. Apesar de
suas concessões ao antissemitismo, o Manifesto Racial Fascista
rejeitava a doutrina biológica da superioridade nórdica — e decerto
rejeitava todas as doutrinas biológicas de superioridade —,
afirmando, ao contrário disso, a união e a solidariedade dos italianos
como uma única raça.
O paradoxo, sem dúvida, é que, se ser “italiano” for uma raça,
então os judeus italianos seriam parte dela. Mussolini parece ter
mantido essa visão de forma privada. Gregor nos diz que, durante o
domínio de vinte anos de Mussolini, “há evidências escassas, caso
ainda haja alguma, de que qualquer judeu tenha morrido nas mãos
dos fascistas pelo simples fato de ser judeu”. Pelo contrário, nas
palavras de Gregor, “milhares de judeus foram assistidos pelos
fascistas a escapar da destruição nacional-socialista”. Entre os
líderes europeus Mussolini foi exemplar e prestou socorro aos
judeus, ajudando-os a fugir de Hitler. Por sua vez, Hitler queria que
Mussolini entregasse aos nazistas os judeus da França, da Croácia,
da Iugoslávia, Grécia, Albânia e do Norte da África sob ocupação
italiana. Mussolini comunicou às autoridades diplomáticas e militares
que nenhum judeu deveria ser levado. E nenhum deles foi.11
Meu propósito ao discorrer a respeito não é eximir o regime
fascista de racismo — embora eu, no interesse da exatidão
histórica, esteja satisfeito por tê-lo feito —, mas sim mostrar que os
fascistas de Mussolini eram bem menos racistas do que os nacional-
socialistas de Hitler e o Partido Democrata na América. Esses dois
últimos refletiram o racismo profundo e permanente que é a ênfase
deste capítulo.

O Judeu Como Capitalista Ganancioso


Voltemo-nos agora ao racismo nazista, e aqui levanto duas
questões. Primeira, o racismo nazista, em sua forma característica
antissemita de ser, era de direita ou de esquerda? E segunda, o que
a causou? Com isso não me refiro ao que havia nos judeus que
gerava tanto ódio em Hitler e nos nazistas, mas ao que havia em
Hitler e nos nazistas para que eles odiassem tanto os judeus. O
objetivo é chegar à raiz psicológica do antissemitismo e examinar
suas semelhanças e diferenças com o racismo democrata dos
Estados Unidos.
A verdadeira origem do ódio nazista para com os judeus é
retomada em um livro importante e recente do historiador alemão
Gotz Aly. Este enfatiza o aspecto secular e racial do antissemitismo,
distinguindo-o da antiga hostilidade religiosa contra o povo judeu por
este ter rejeitado o Messias e participado da crucificação. O antigo
antissemitismo, ele ressalta, sempre teve uma porta de escape: os
judeus podiam escapar ao converter-se ao cristianismo.
O antissemitismo moderno, no entanto, define os judeus não
como grupo religioso, mas como grupo racial — uma vez que suas
falhas são biológicas, e não confessionais —, não havendo,
portanto, uma porta de escape. Logo, o que deve ser feito com os
judeus? Esta era a Judenfrage — a questão judaica —, que, desde
meados do século XIX, ganhava espaço e passou a ser tratada
como uma questão legítima e importante. Algo aparentemente
precisava ser “feito” em relação aos judeus, e os antissemitas
apresentaram-se como aqueles com soluções prontas.
Aly chega a uma conclusão surpreendente: o antissemitismo
moderno está enraizado não em considerar o povo judeu inferior,
mas em reputá-lo por bem-sucedido. Os judeus são odiados porque
são mais trabalhadores, mais criativos, mais educados e mais ricos
do que outros alemães. Em outras palavras, o antissemitismo está
ancorado no pior dos sete pecados capitais, isto é, a inveja.
Normalmente o racismo envolve depreciar o indivíduo ao
considerá-lo inferior. Aly no entanto mostra que o antissemitismo
envolve admirar os judeus e desprezá-los por aquilo que
conquistaram. No fim, o antissemitismo une-se ao racismo típico ao
declarar essas conquistas um resultado da perversidade. Os
antissemitas retratam os judeus como espertalhões, astutos,
guiados pelo dinheiro, “usurpadores” e “vigaristas”. Em suma, o
sucesso dos judeus é retratado não como consequência do
empreendedorismo ou do esforço, mas como consequência da
depravação moral judaica.
Aly mobiliza várias provas com o objetivo de argumentar, das
quais ofereço apenas alguns exemplos. Wilhelm Marr, revolucionário
esquerdista, fundador da German League of Anti-Semites [Liga
Alemã Antissemita] em 1879, aquele que cunhou o termo
‘antissemitismo’, descreveu sua motivação nas palavras “um grito de
dor de alguém reprimido” e criticou os judeus por superarem os
alemães comuns. Ele disse: “Nós não mais estamos em patamar de
igualdade para o desafio desta tribo estrangeira”.
O historiador Heinrich von Trietschke, outro antissemita do século
XIX, descreve os judeus que migraram do Leste Europeu para a
Alemanha como “uma invasão de jovens e ambiciosos vendedores
de calças” que procuram fazer com que seus “filhos e netos
dominem o mercado financeiro da Alemanha”. Trietschke contrasta
o trabalho honesto e o “velho amor ao trabalho” dos alemães com
uma sorrateira lucratividade dos gordos e gatunos judeus. E Aly
ainda seleciona outras, muitas outras fontes antissemitas da década
de 1880 até a década de 1930.12
Aqui eu gostaria de concentrar-me numa fonte que Aly não usa
muito: Hitler. No início de sua carreira, Hitler participou de uma
palestra do economista alemão de esquerda Gottfried Feder, que
mais tarde passaria ao nacional-socialismo. A palestra de Feder foi
intitulada “Como e por quais meios o capitalismo deve ser
eliminado?”. Hitler ficou impressionado com a distinção de Feder
entre “capitalismo produtivo” e “capitalismo financeiro”. Feder
argumentou que tal distinção fugiu a Marx, ele que simplesmente
não era radical o bastante. Feder viu-se erguendo uma crítica a
Marx do ponto de vista da esquerda.
Feder argumentou que o capitalismo produtivo consiste em fazer
coisas de valor real, mas o capitalismo financeiro consiste na usura,
ou seja, na fraude. Para ainda maior entusiasmo de Hitler, Feder
associou o capitalismo produtivo ao alemão honesto e o capitalismo
financeiro ao judeu abominável. Hitler escreve em seu livro Mein
Kampf: “Logo que ouvi a primeira palestra de Feder, sobreveio-me o
pensamento de que eu acabara de encontrar o caminho para uma
das premissas mais essenciais à fundação de um novo partido”.13
Hitler colocou a distinção de Feder em prática em sua infame
palestra de 20 de agosto de 1920, “Por que Somos Antissemitas”.
Aqui, Hitler identifica os judeus com duas características
abomináveis: dinheiro e materialismo. Hitler argumenta que os
judeus acumulam riqueza “sem empregar o suor e o esforço
exigidos de todos os demais mortais”. O domínio judeu das finanças
internacionais, afirma Hitler, “corrompe todo o trabalho honesto”. O
nacional-socialismo, ele declara, entrou em cena ao “despertar,
aumentar e incitar a antipatia instintiva do nosso povo pelos
judeus”.14
Observe que a distinção então feita por Feder e Hitler de dois
tipos de capitalismo — capitalismo produtivo e capitalismo financeiro
— é precisamente a distinção feita hoje pela esquerda democrata na
América. Os democratas raramente protestam contra o “capitalismo
produtivo”. Quando a esquerda democrata denunciou a General
Mills ou a Procter and Gamble? Em vez disso ela foca sua cólera
em direção ao “capitalismo financeiro”, nos supostos crimes dos
bancos e da Wall Street. Hitler teria acrescentado mais uma só
palavra nesta injúria da esquerda: “judeus”.
As seguintes passagens são da obra Hitler’s Table Talk,
declarações privadas de Hitler feitas durante a Segunda Guerra
Mundial e transcritas por um assessor nazista do alto escalão.
Como já era de esperar, ele ataca os judeus. Agora prestemos
atenção no porquê desse ataque. “O judeu não tem interesse
nenhum nas coisas do espírito [...] Antes as palavras eram usadas
para expressar pensamentos; ele [o judeu] as usou para inventar a
arte de disfarçar pensamentos. O judeu é tido por dotado. Seu único
dom é o de fazer malabarismo com a propriedade de outrem e
enganar a todos. Suponha que eu encontre, por acaso, um quadro
que acredite ser de Ticiano. Digo ao proprietário o que penso a
respeito e proponho um valor. Em caso semelhante, o judeu começa
declarando que a imagem não tem valor, compra-a por uma merreca
e a revende com lucro de 5.000%”.
Discursando durante um jantar em 29 de março de 1942, Hitler
elogia a Liga Hanseática da Idade Média por manter os preços fixos
a despeito das vicissitudes da oferta e demanda: “É assim que o
preço do pão se mantém o mesmo por quatrocentos anos, o da
cevada — e, consequentemente, da cerveja — por mais de
quinhentos anos, e tudo isso apesar de todas as mudanças
monetárias”. Já em contraste, nas palavras de Hitler: “Assim que se
liberou aos judeus a bisbilhotice nos guetos afora, o senso de honra
e lealdade no comércio começou a dissolver. Na verdade, o
judaísmo [...] tornou a fixação dos preços dependente das leis dos
fatores de oferta e demanda — fatores que, em outras palavras,
nada tem que ver com o valor intrínseco do produto”.15
De acordo com o argumento acima, evidente fica que, para Hitler
e para os demais, o antissemitismo está em grande parte enraizado
no anticapitalismo. Os judeus são os capitalistas par excellence.
“Desde a sua concepção”, escreve Aly, “o antissemitismo foi
direcionado contra as políticas econômicas liberais e contra o
capitalismo como um todo e, em particular, contra o capital
financeiro e as bolsas de valores”.16 Aly demonstra que o
antissemitismo surgiu da mesma fonte que o esquerdismo e o
socialismo. O antagonismo esquerdista ao empreendedorismo como
forma de “lucro” injusto e ao financiamento como forma de
“ganância” e “aproveitamento” transforma-se na representação
antissemita do judeu como explorador injusto e trapaceiro
ganancioso.
Os esquerdistas e os socialistas realmente pensam assim? Aqui
está uma passagem do ensaio de Marx, de 1844, Sobre a Questão
Judaica: “Consideremos o verdadeiro judeu, o judeu mundano, não
o judeu do Sabá, como Bauer faz, mas o judeu de todos os dias.
Não procuremos o segredo do judeu em sua religião. Qual é a base
secular do judaísmo? A necessidade prática, o interesse próprio.
Qual é a religião mundana do judeu? O regateio, a falcatrua, a
barganha. Qual é o deus mundano? O dinheiro. Muito bem, então!
Emancipar-se do regateio, da falcatrua, da barganha e do dinheiro,
por consequência emancipando-se do judaísmo real e prático, seria
a auto-emancipação do nosso tempo”.
Portanto, os esquerdistas e os socialistas podem pensar e
realmente pensam dessa maneira. Para Marx, o socialismo
representa a humanidade emancipando-se do capitalismo judaico. O
capitalismo judeu é o verdadeiro inimigo. Aly mostra que este é o
impulso central do antissemitismo, não apenas o antissemitismo dos
nazistas, mas o antissemitismo que precedeu e lançou as bases
para o nazismo na Alemanha durante a metade do século passado.
O que os antissemitas concluem disso? Ao demonizar o
capitalismo e seu representante, o povo judeu, eles conseguem
restringir e proibir o capitalismo, além de restringir e proibir o judeu
de participarem plenamente da economia. Ao remover a ameaça
que o sucesso judaico representa, os antissemitas conseguem
eliminar os judeus como concorrentes e melhorar as perspectivas do
seu próprio sucesso. Ao confiscar os frutos do sucesso judeu, eles
agora podem distribuí-los entre si.
À parte desses benefícios materiais, há também um benefício
psicológico que não deve ser perdido de vista. O antissemitismo
oferece a pessoas com menos desempenho uma solução para o
seu próprio senso interior de inferioridade. Pessoas assim podem
então convencer-se de que, ainda que não sejam tão inteligentes ou
tão diligentes quanto os judeus, são de fato moralmente superiores.
No caso, os judeus os vencem no jogo da vida justamente por
serem inferiores e perversos demais. O antissemitismo é fonte de
autoestima aos ignorantes e preguiçosos.
É também uma fonte, estranho dizer, de igualdade e
solidariedade. Aly a reconhece. “O desejo por igualdade social está
selado no antissemitismo alemão”.17 Como isso é possível? Em vez
da antiga divisão entre aqueles que obtêm sucesso e aqueles que
fracassam — em outras palavras, entre vencedores e perdedores
— o antissemitismo cria uma nova divisão: entre judeus, na parte
inferior, e brancos ou nórdicos, na superior. Todo alemão branco ou
nórdico, por menos instruído e incompetente que seja, está agora
acima de todo judeu. E do mesmo modo como todos os judeus
pertencem igualmente ao mesmo grupo inferior, todos os brancos ou
nórdicos pertencem igualmente ao mesmo grupo superior. O
antissemitismo, portanto, promete uma espécie de igualdade entre
brancos, ou nórdicos. O antissemitismo é, a este respeito, um tipo
de socialismo branco ou nórdico, um socialismo que atrai sobretudo
os perdedores à corrida da vida. Nesse sentido, como veremos, isso
reflete de perto o racismo dos democratas.

O Apelo Oculto do Racismo


Passemos agora ao racismo dos democratas e progressistas da
década de 1860 até a década de 1930. O racismo de então,
obviamente, voltava-se principalmente contra os negros. Devo logo
dizer que, em essência, com seu volume e veemência, o racismo
dos democratas e progressistas supera não só o racismo fascista
italiano, que era marginal, mas também o antissemitismo alemão.
Somente o antissemitismo do período nazista coincide com o
racismo dos democratas. A vil injúria do Der Sturmer, jornal
antissemita do antigo aliado de Hitler, Julius Streicher, está
praticamente no mesmo patamar da vil injúria dos democratas
racistas.
Considere o que os democratas costumavam falar dos negros
antes da Segunda Guerra Mundial. Eis aqui James Vardaman,
senador democrata, respondendo a Theodore Roosevelt, presidente
republicano, durante um jantar de negócios, em 1901, com o mais
importante líder negro norte-americano, Booker T. Washington: “Sou
tão contrário a Booker T. Washington, com todos os seus reforços
anglo-saxões, quanto sou contrário ao cabeça de coco, negro cor de
chocolate, Andy Dotson, que engraxa os meus sapatos todas as
manhãs”. Benjamin Tillman, outro senador democrata, ainda
acrescentou: “Agora que Roosevelt comeu com aquele negro em
Washington, teremos de matar mil negros para fazê-los voltar ao
seu devido lugar”.18
Aqui está o senador Theodore Bilbo, aliado íntimo do presidente
democrata Franklin D. Roosevelt, durante uma de suas campanhas
de reeleição, defendendo a violência por parte de seus partidários
brancos no intuito de impedir que os negros pudessem votar: “Os
brancos têm justificativas para chegar a qualquer tipo de extremo no
objetivo de evitar que os negros votem. Você e eu sabemos qual é a
melhor maneira de impedir o voto por parte dos negros. Você faz
isso na noite anterior à eleição. Não preciso dizer mais nada. Os
homens de sangue forte sabem o que quero dizer”.19
Eis o democrata Robert Byrd, a “consciência do Senado”, tratado
como celebridade por Obama, Hillary, e Bill quando falecido em
2010, falando durante a guerra sobre sua relutância em lutar num
exército racialmente integrado: “Sou leal ao meu país e nada faço
além de reverenciar sua bandeira, MAS jamais me submeterei a
lutar sob essa mesma bandeira com um negro ao meu lado. Antes
prefiro morrer mil vezes e ver essa antiga glória pisoteada na sujeira
para nunca mais ascender a ver nossa amada terra degradada por
raças mestiças, um retrocesso às espécies mais negras das terras
selváticas”.20
E aqui estão alguns dos livros publicados por democratas
progressistas no início do século XX: The Negro a Beast [O Negro:
uma Besta], de Charles Carroll (1900); The Negro: A Menace to
American Civilization [O Negro: uma Ameaça à Civilização
Americana], de Robert Shufeldt (1907); The American Negro as a
Dependent, Defective and Delinquent [O Negro Americano como
Dependente, Deficiente e Delinquente], de Charles McCord (1914);
e novamente Shufeldt, em 1915, com o título America’s Greatest
Problem: The Negro [O Maior Problema Americano: o Negro].
Como parte da grande mentira, os progressistas gostam de
passar a impressão de que esse racismo é de algum modo
característica intrínseca da história americana, que de alguma forma
faz parte de sua psique e remonta à fundação da América. Derrick
Bell, jurisconsulto esquerdista, afirmou que “o racismo é um
componente integral, permanente e indeformável dessa sociedade”.
Em White Racism [O Racismo Branco], Joel Kovel sustenta que “o
racismo é, em última instância, indivisível do resto da vida
americana”. Cornel West, historiador e ativista de esquerda, insiste
que a América é “cronicamente racista”.21
Todavia, estudaremos o período da Fundação em vão, pois o tipo
de extremismo intolerável que define a retórica e a prática
democratas vem do século XIX e do início do século XX. Considere
o argumento que os progressistas normalmente dão para provar o
racismo de Thomas Jefferson. Aqui está a evidência do crime,
encontrada em Notes on the State of Virginia [Notas sobre o Estado
da Virgínia], de Jefferson: “Pondero, portanto, em forma de suspeita,
se os negros, quer originalmente uma raça distinta, quer tornados
distintos pelo tempo e pela circunstância, são inferiores aos brancos
no que diz respeito ao corpo e à mente”.22
Jefferson nem sequer tem certeza de que os negros originalmente
constituem uma raça. Ele passa por uma “suspeita”, mas tão só uma
suspeita de que os negros possam ser menos inteligentes do que os
brancos. Nenhum dos outros Pais Fundadores concordaram com
ele. Hamilton, por exemplo, estava convencido de que a
inferioridade negra era o resultado das condições sob as quais os
negros viviam e que melhores circunstâncias remediariam o
problema. Além disso, nem os Pais Fundadores nem seus
sucessores implementaram programas racistas, como segregações
gerais patrocinadas pelo Estado, nem criaram instituições, de
exemplo a Ku Klux Klan, com o propósito de aterrorizar e exterminar
negros. Essas foram invenções de uma era posterior e de um novo
partido fundado na década de 1820, o Partido Democrata.
Quanto ao racismo democrata, à semelhança do que
perguntamos ao antissemitismo alemão, perguntemos: o que eles
ganharam com isso? Como o racismo ajudou a manter a hegemonia
do Partido Democrata no Sul por quase três gerações após a
Guerra Civil? Essas questões estabelecem o propósito político do
racismo. Ao contrário da grande mentira progressista, o racismo não
existe apenas como uma característica inexplicável da sociedade
americana desde o princípio; não, mas é fabricado, encorajado e
usado para fins partidários pelo próprio partido que perpetua a
grande mentira.
O racismo, é claro, precedeu o Partido Democrata; entretanto, em
certo sentido, os democratas inventaram o racismo político no início
do século XIX intentando salvaguardar a escravidão dos investidas
republicanas e abolicionistas. O ataque ocorreu desta forma: todos
os homens são criados iguais; os negros são homens; portanto, os
negros não devem ser escravizados. Republicanos como Lincoln
admitiram que os Pais Fundadores permitiram temporariamente a
escravidão porque não havia outra maneira de haver união. Apesar
disso, Lincoln discursou sobre o direito à vida e à liberdade,
enumerados na Declaração de Independência, nos quais os
Fundadores “desejam absolutamente proclamar o direito para que,
disto, sua execução possa resultar o mais rápido que as
circunstâncias permitam”.23
Democratas progressistas no século XX, de fato, atacaram os
Pais como equivocados, ou consideraram suas idéias retrógradas.
Mas, no século XIX, os democratas tomaram um rumo diferente.
Eles negaram que os negros fossem seres humanos, ou seja,
negaram aos negros sua plena humanidade. Assim, a defesa
democrata tomou a seguinte forma: todos os homens são criados
iguais; os negros são sub-humanos, isto é, não são totalmente
humanos; portanto, somos escusados ao escravizá-los.
E assim o racismo surgiu no Partido Democrata, como uma
racionalização da escravidão. Em nenhum lugar o racismo foi mais
claramente expresso do que nas palavras do democrata jacksoniano
Roger Taney, presidente da Suprema Corte, em sua notória decisão
no Caso Dred Scott. Taney fez sua infame declaração asseverando
que os negros “não têm direitos os quais o homem branco deva
respeitar”.24 Essa mesma doutrina racista serviu de base para que
o democrata do Norte Stephen Douglas fizesse sua defesa da
soberania popular — isto é, que cada estado e território deve decidir
por si se deseja ou não a escravidão — e para a alegação do
democrata do Sul, John C. Calhoun, defendendo a escravidão como
bem positivo.
Mesmo após o fim da escravidão, os democratas descobriram que
o racismo lhes era muito útil. Na verdade, confiando no
escravagismo mais do que nunca, eles construíram toda uma
ideologia e estrutura da supremacia branca a fim de estabelecer
domínio sobre a política do Sul. E mais adiante veremos como o
fizeram. Mas, antes, pergunto: como eles fizeram funcionar? O que
a proposta de uma supremacia branca oferecia que convencesse os
eleitores brancos do Sul a continuar reelegendo os democratas?
Posso responder voltando momentaneamente à escravidão
propriamente dita e respondendo a uma pergunta que os
historiadores levantaram acerca da Guerra Civil. Por que a maioria
dos brancos pobres, aqueles que não possuíam escravos, lutou ao
lado dos Confederados? Sim, é certo o porquê de os proprietários
de escravos terem lutado: para proteger sua “propriedade”. Mas
como eles convenceram os brancos que não possuíam escravos a
tomar partido?
Há uma pista num discurso dado em 1860 por John Townsend,
democrata senhor de escravos. Falando em nome da secessão a
um grupo chamado 1860 Association, Townsend abordou
diretamente a questão de como o sistema escravagista beneficiava
os brancos não possuintes de escravos. Ele sustentava que “agora,
no Sul, a cor branca confere ao homem branco título de nobreza em
suas relações com os negros”. Ainda que um indivíduo negro “fosse
imensamente superior em riquezas, o homem branco, mesmo
pobre, não possuinte de nem sequer um escravo, lhe é superior aos
olhos da lei, podendo servir e comandar a milícia, podendo presidir
sobre o júri para decidir sobre os direitos dos mais ricos da terra,
podendo dar seu testemunho no tribunal e podendo votar
igualmente ao lado do mais abastado senhor de escravos na
escolha de seus governantes”.25
Aí está. O que o senhorio escravagista democrata ofereceu ao
branco pobre é precisamente o que o Partido Democrata ofereceu
ao eleitor branco do Sul, isto é, a oportunidade de pertencer a uma
aristocracia de cor. Ao traçar uma linha precisa entre o branco e o
negro, colocando todos os brancos acima da linha e todos os negros
abaixo dela, os democratas poderiam assegurar ao homem branco
mais pobre, mais preguiçoso e mais estúpido que ainda estaria
acima do homem negro mais rico, mais trabalhador e mais
inteligente.
Além do quê, enfatiza Townsend, existe uma suposta igualdade
de orgulho entre os membros da classe alta bem como existe uma
suposta igualdade de degradação entre os membros da classe
inferior. Portanto, o racismo, agora entendemos, cumpre a mesma
exata função psicológica do antissemitismo. Ambos reforçam o que
podemos chamar de “socialismo herrenvolk” — a igualdade social
da classe mestre. E é assim que o racismo compensou o homem
branco com autoestima, reforçando com fortes cordas o
estrangulamento político do Partido Democrata no Sul, desde a
Guerra Civil até a década de 1960.

Terrorismo Racial: Lá e Aqui


Nesta seção final pretendo mostrar como os democratas e os
nazistas desencadearam orgias de violência terrorista contra,
respectivamente, negros e judeus, passando da então violência
caótica de massas para a consagração e o fortalecer de instituições
sistemáticas do racismo. Começo por notar uma estreita
semelhança entre a Ku Klux Klan (KKK) e os camisas pardas da
Alemanha nazista. Interessante notar que, durante seu auge nas
décadas de 1920 e de 1930, as duas organizações tinham
aproximadamente o mesmo tamanho, com membresias variando de
três a cinco milhões.
A KKK e os camisas pardas também visavam o mesmo tipo de
pessoas. Por exemplo, ambas direcionavam sua violência não
apenas às minorias raciais, mas também a adversários políticos. O
início da KKK, por exemplo, matou tantos republicanos brancos
quanto negros. Além disso, mesmo que o principal alvo minoritário
fosse os negros, a KKK era também anticatólica e antissemita —
fato evidenciado no linchamento de Leo Frank, em 1915. Enquanto
concentravam seu ódio racial contra os judeus, os camisas pardas
também eram racistas contra os ciganos — os povos de Roma e
sinti, cujas origens remontam à Índia — e os negros, como visto na
invectiva contra negros em panfletos e publicações dos camisas
pardas.
Os americanos, em visita à Alemanha na década de 1930,
costumavam perceber a semelhança entre a KKK e os camisas
pardas. E os alemães familiarizados com a América faziam
precisamente o mesmo paralelo. Eis um trecho do Neues Volk,
boletim de propaganda do Departamento Nacional-Socialista da
Política Racial: “O que é a justiça do linchamento senão a
resistência natural da Volk a uma raça estrangeira que tenta levar
vantagem?”.26 O artigo compara massacres contra judeus aos
linchamentos realizados por grupos como a Ku Klux Klan. O artigo
conclui que os dois visavam basicamente o mesmo objetivo.
Mas, novamente, ambos os países chegam a uma mudança, e
mais uma vez os democratas e os nazistas ficam cara a cara. A
partir da década de 1890, os poderes governantes do Partido
Democrata procuraram substituir o terrorismo racial da KKK por uma
discriminação fomentada pelo Estado, refletida em uma estrutura
abrangente de leis de segregação. Essas leis desrespeitavam os
negros e os forçavam à parte mais inferior da sociedade sulista. De
forma semelhante, cerca de três décadas depois, os nazistas
passavam do terrorismo racial dos camisas pardas às leis de
Nuremberg e a outras medidas para despojar os judeus, privá-los de
seus direitos e rebaixá-los à parte mais inferior da sociedade.
Agora, convém investigar as semelhanças entre a Ku Klux Klan e
os camisas pardas da Alemanha nazista. A KKK originalmente
começou como uma espécie de sociedade obscura. Membros
brancos da KKK invadiam à noite casas de negros com o objetivo de
assustá-los. Às vezes, os membros da KKK cercavam um homem
negro na rua e tiravam suas calças à força. Da mesma forma os
camisas pardas, que oprimiam os judeus, rebaixando-os e
humilhando-os; uma das táticas favoritas era lhes tirar as roupas ou
raspar a metade da barba deles.
Ambas, a KKK e os camisas pardas, usavam vestuário específico
e desenvolveram estilos que refletiam, pelo menos aos olhos
modernos, o mais nobre estilo espalhafatoso e brega. Parte do
atrativo da KKK era montar cavalos vestidos com trajes elaborados,
chamar-se de “Kleagle”, ou “grande dragão”, ir até os “kloncliums”
ultrassecretos e participar da queima de cruzes à noite. Da mesma
forma os camisas pardas, que usavam camisas, calças, botas e
chapéus marrons. Seus uniformes exibiam suásticas e outras
insígnias, eles marchavam a passos largos, e sua saudação
consistia em levantar um dos braços e esticá-lo com a palma da
mão voltada para baixo. Ambos os grupos tinham elaboradas
hierarquias de organização e autoridade. Os camisas pardas
cultivavam a mesma aura secreta de seitas que a KKK.
Ambos eram grupos paramilitares crentes na eficácia da violência.
Quando a KKK liderava um linchamento, associados e famílias
costumavam aparecer para assistir. Para aumentar a emoção do
público, membros da KKK incendiavam cruzes e às vezes forneciam
comida e bebida para que todos pudessem ser entretidos. Assim
também os camisas pardas, que consideravam a violência não um
mal necessário, ou, nas palavras do personagem Sollozzo em O
Poderoso Chefão — “sangue custa muito caro” —, mas, sim, uma
bela limpeza, uma reforma social a ser realizada e apreciada
periodicamente.
Os camisas pardas, bem como a KKK, retratavam-se os
defensores da justiça social. Mesmo sendo assassinatos
extrajudiciais, os membros da KKK os consideravam acertos
judiciais contra ofensores negros que não careciam de julgamento.
Assim também os camisas pardas se viam na posição de punindo
judeus por crimes que haviam sido cometidos, mas não registrados
nem detectados. Os camisas pardas, bem como os membros da
KKK, consideravam-se vigilantes, ou “soldados políticos”,
encarregados de superar o sistema de justiça disfuncional e agindo
de forma decisiva para corrigir as coisas.
Na Kristallnacht — a Noite dos Cristais —, em novembro de 1938,
os camisas pardas incendiaram sinagogas, vandalizaram casas,
escolas e empresas dos judeus, mataram aproximadamente cem
deles e levaram muitos outros para campos de concentração. Esse
incidente, horrível por si só, que Goebbels disse ter sido provocado
pelas atrocidades cometidas pelos próprios judeus, parece uma
misteriosa reconstituição da rebelião racial de Tulsa, provocada pela
Ku Klux Klan em 1921. Nesse incidente, supostamente em
retaliação por um cruel estupro de uma mulher branca cometido por
um homem negro, milhares de democratas racistas causaram
alvoroço em bairros negros, queimando casas, saqueando
empresas, matando dezenas de pessoas, detendo centenas e
deixando milhares de negros sem teto.
Por fim, no entanto, democratas e nazistas levantaram-se contra o
tipo de violência aleatória nas ruas representado pela KKK e pelos
camisas pardas. Cabe entender como isso se desenrolou, primeiro
no caso dos democratas e depois no caso dos nazistas. O
historiador Joel Williamson afirma que os democratas usaram a KKK
para ajudá-los na consolidação do poder do partido no Sul. Uma vez
consolidado, os poderes governantes do Partido Democrata
decidiram reduzir a ênfase na KKK e implementar, em vez dele, um
sistema formal de segregação e discriminação patrocinado pelo
Estado, este que viria a institucionalizar a supremacia branca. O
terrorismo agora, em certo sentido, não seria tão importante, afinal
estaria incorporado à lei.27
Assim, os democratas institucionalizaram, por toda a região do
Sul, um sistema abrangente de discriminação contra os negros
patrocinado pelo Estado. Porque apoiada pela força da lei, era algo
muito mais desagradável do que a discriminação factual contra os
negros em outras partes do país. Os negros foram sistematicamente
excluídos de praticamente todos os cargos governamentais, exceto
dos baixos e mais humildes. Esta discriminação fomentada pelo
Estado persistiu por três quartos de um século, desde a década de
1880 até a década de 1960.
No Sul, a segregação implementada pelos democratas era tão
profunda que se baseava na “regra da única gota”, significando
basicamente que qualquer herança negra fazia de alguém negro.
Alguns historiadores remontam a regra da única gota ao período da
escravidão, o que está errado. Durante a escravidão, havia uma
regra diferente: a posição de escravo era passada através da
mãe.28 Quer dizer, se um democrata dono de escravos tivesse
relações sexuais com uma escrava e gerasse uma criança, ela se
tornaria escrava, porque sua mãe já estava sob a escravidão. Uma
regra muito conveniente, pensando a respeito do ponto de vista dos
democratas senhores de escravos. No entanto, sob o domínio da
escravatura, se o escravo negro gerasse um filho com uma mulher
branca livre — decerto algo extremamente raro —, essa criança
também seria livre.
De acordo com a regra da única gota, contudo, a prole de todos
esses concubinatos seria contada como negra. Na prática, é claro,
havia negros de pele clara que conseguiam burlar a regra e se
“passar” por brancos. Mas a própria regra exigia 100% de brancura
para se poder estudar em uma escola para brancos, beber em um
bebedouro para brancos ou mesmo desfrutar da seção de brancos
numa praia pública. Essa, como visto antes, é a regra que até
mesmo os nazistas acharam um tanto extremista e repulsiva.
Curiosamente, enquanto as Leis de Nuremberg são agora história,
a “regra da única gota” está presente, não só como uma questão da
lei, mas também como uma questão de identidade pessoal. Pense
em Obama: ele é metade branco e metade negro, mas se identifica
como negro. Muitos afro-americanos são de ascendência branca,
mas consideram-se negros. Por quê? Por causa da regra da única
gota. Se alguma delas se declarasse branca — ou recusasse a se
classificar racialmente —, grupos de esquerda como o Caucus
Negro e o Centro Legal da Carência do Sul as condenariam. O
Departamento do Censo dos EUA até hoje conta negros e brancos
de acordo com a regra da única gota e a utiliza para implementar
uma série de ações afirmativas e outros programas baseados na
raça.

Dos Tumultos Causados pelos Camisas


Pardas às Leis de Nuremberg
Percebe-se que os nazistas seguiram precisamente os mesmos
passos históricos dos democratas em relação ao uso da violência
nas ruas. No final da década de 1920 e no início dos anos 1930, os
camisas pardas de Hitler — liderados pelo extravagante
homossexual Ernst Röhm — governavam as ruas da mesma
maneira como uma gangue do interior da cidade governaria um
bairro. Hitler, aliado íntimo de Röhm, encorajou o uso da violência
por parte de suas tropas.
No entanto, uma vez que chegou ao poder em 1933, Hitler
considerou Röhm uma ameaça. Röhm tinha seus camisas pardas,
mas Hitler agora tinha as forças armadas e as SS sob a supervisão
de Heinrich Himmler. No desejo de que a força militar se
concentrasse no governo e sob seu controle absoluto, Hitler enviou
Theodor Eicke, comandante em Dachau, e outro oficial para
executar Röhm. Alguns especialistas progressistas insinuam que
Hitler mandou matar Röhm por ele ser homossexual. Um verdadeiro
absurdo. Hitler não queria o líder da gangue rival espalhando
violência aleatória pelas ruas, mas, pelo contrário, queria ser ele o
único a chefiar gangues que espalhavam a violência sob a tutela do
próprio Estado.
Anteriormente, Hitler havia falado que o “antissemitismo racional”
substitui o “antissemitismo emocional”. Goebbels, convocando o
povo alemão, agora invoca tamanha distinção para que todos eles
“desistam estritamente de todo tipo de retaliação, seja da forma que
for, contra os judeus”. Eis o incrível exemplo de um líder nazista que
exorta à moderação no que diz respeito a manifestar o
antissemitismo publicamente. No entanto, é claro, Goebbels
pretendia com isso algo ainda mais traiçoeiro. Ele prometeu: “Os
judeus receberão a resposta final pelas vias da legislação, através
de determinações e decretos legais”.29
Em 1935, sete anos antes de a Solução Final ser fixada pelos
nazistas, Hitler defendeu a emigração e a guetização como soluções
provisórias para o problema judaico. Os judeus, disse Hitler, devem
ser “removidos de todas as profissões, devem ser guetizados,
restritos a um determinado território, onde possam vagar de acordo
com seu caráter enquanto o povo alemão os observa, como são
observados os animais na natureza”.30
Começando em 1933, primeiro ano do Terceiro Reich, os nazistas
também começaram a excluir sistematicamente os judeus dos
cargos públicos. Hitler adicionou uma “cláusula ariana” à lei de
serviço civil que efetivamente proibia os judeus de cargos no
governo. Logo os judeus também foram removidos e excluídos do
jornalismo, da agricultura, do ensino e do teatro. Em 1938, os judeus
não podiam investir em aplicações financeiras nem exercer
profissões no ramo do direito e da medicina. Essa combinação de
segregação e discriminação contra os judeus, patrocinada pelo
Estado, reflete o que os democratas fizeram aos afro-americanos.
Óbvio dizer, as leis raciais nazistas foram o equivalente preciso
das leis raciais do Partido Democrata. Não significa apenas que a
primeira forneceu precedente para a última; ambos os conjuntos de
leis tinham o mesmo propósito funcional. Assim como as leis de
segregação e discriminação serviam para complementar e, em
alguns aspectos, substituir a violência sem rumo espalhada pela Ku
Klux Klan, também as Leis de Nuremberg e a legislação
discriminatória dos nazistas tinham por destino complementar e, em
alguns aspectos, a substituir a violência sem rumo espalhada pelos
camisas pardas. A esse respeito, como em tantos outros, os
nazistas e os democratas assemelham-se tanto que cada vez mais
difícil fica separar um do outro.
Capítulo Seis
Pessoas
Descartáveis

Mais crianças nascidas dos qualificados, menos


filhos nascidos dos inaptos — eis o ponto nevrálgico
do controle de natalidade.1
Da revista Birth Control Review
[Analisando o Controle de Natalidade], organizada por Margaret Sanger

Como o comportamento altamente anormal e patológico por parte


de algumas pessoas veio a lhes parecer normal? O comportamento
que é monstruoso ou bestial para os seres humanos é, certamente,
bastante habitual no reino animal. Por exemplo, é normal que um
gorila entre numa caverna, capture determinada fêmea, atordoe-a
com golpes, arraste-a sangrando para sua própria toca e acasale-se
com ela. Em se tratando de animais, às atitudes desse tipo não
sobrevém nenhuma condenação moral; são as vias da natureza.
Contudo, em se tratando de seres humanos, agindo dessa forma a
pessoa prova ser doente, moralmente anestesiada, profundamente
perturbada.
Então como o ser humano passa ao domínio do inconsciente, do
inconcebível? A História mostra que, por vezes, o ser humano o faz
sem nenhuma consciência do horror que está cometendo. Hannah
Arendt a isso chamou de “a banalidade do mal”, o mal que aos
perpetradores, e até a muitos observadores, soa absolutamente
natural. Disso se levanta uma possibilidade assustadora: é possível
que nós daqui, na América, estejamos fazendo ou tolerando coisas
completamente vis e horríveis? Que garantia temos de que coisas
assim não nos pareceriam normais, da mesma forma como
pareciam aos olhos daqueles que praticavam monstruosidades no
passado?
Josef Mengele — como tantos outros nazistas — não parecia
anormal quando chegou ao campo de Auschwitz, na primavera de
1943, como médico e cientista pesquisador. Era homem viciado em
trabalho, cheio de rigor e escrúpulos obsessivos, traços, afinal,
comuns a muitos alemães. Estudante de medicina, Mengele
costumava assistir às palestras de Ernst Rudin, um dos mais
importantes intelectuais da eugenia, estudioso que inspirou Mengele
com a doutrina nazista da evolução social, que viria a ser
estabelecida mediante a criação de um novo tipo de ser humano.2
Mengele todavia nunca se considerou ativista político. Ao contrário,
era ele um pesquisador, com especial interesse em pesquisas no
ramo dos estudos de gêmeos.
Anteriormente havia trabalhado sob a direção de Otmar von
Verschuer, respeitado geneticista, diretor do Instituto Kaiser Wilhelm
de Antropologia, Hereditariedade Humana e Eugenia. O Instituto
Kaiser Wilhelm era reconhecido na Alemanha e em todo o mundo
por realizar um trabalho pioneiro no campo da hereditariedade e da
genética. Verschuer escreveu uma carta de recomendação para
Mengele, o que o ajudou a garantir sua nomeação em Auschwitz.
O interesse de Mengele era a hereditariedade: esperava que, ao
estudar a anatomia dos gêmeos — tanto gêmeos idênticos, que
compartilham os mesmos genes, quanto gêmeos fraternos, que
compartilham metade dos genes —, ele poderia desemaranhar a
importância relativa da natureza e do crescimento no
desenvolvimento humano. Mengele também queria estudar anões,
mutantes e outras anormalidades a fim de entender até que ponto
seus traços seriam transmitidos à próxima geração. Em Auschwitz,
Mengele encontrou de pronto um suprimento de amostras
laboratoriais para suas experiências, em especial crianças. Eram
crianças judias, crianças ciganas, filhos de eslavos e russos
capturados na guerra.
Porque considerava esses cativos como os mais inferiores dos
inferiores, espólios da guerra, pessoas descartáveis, Mengele
decidiu que eles seriam utilizados em seus experimentos. Assim
iniciou-se seu regime macabro de torturas e testes, tratamento de
eletrochoque, injeções no tórax e injeções intraoculares. Mengele
extraía globos oculares e os enviava dentro de pequenas caixas
próprias do exército, grafadas com “Materiais de Guerra —
Urgente”, tendo por destinatário o Instituto Kaiser Wilhelm, no
objetivo de estudos posteriores. Ele também enviava partes de
corpos para Verschuer e para um colega de pesquisas, Julius
Hallervorden, nazista e atuante no campo de pesquisas da área
cerebral, no Instituto de Psiquiatria Max Planck, em Munique.
Mengele determinou-se a abrir novos caminhos na pesquisa de
gêmeos. Para este fim, certa feita ele costurou um par de gêmeos
ciganos para ver se deles poderia criar gêmeos siameses. Mengele
também realizava autópsias em gêmeos fraternos e idênticos. Mas
para que seus dados fossem úteis, ele precisava que os gêmeos
morressem ao mesmo tempo. Somente mortes simultâneas
permitiriam uma comparação de cadáveres significativa. E assim ele
prestava bastante atenção aos vários pares de gêmeos em
cativeiro; se um morresse de fome ou doença, não hesitava em
aplicar uma injeção letal no outro. Basicamente, era ele um
assassino em série vestido com jaleco de laboratório.
Ao longo de tudo, Mengele jamais demonstrou a menor
consciência de que estivesse fazendo algo de errado. Mais tarde, na
década de 1970, ele explicaria a seu filho, Rolf, que os presos de
Auschwitz viriam a morrer de qualquer maneira e que seu papel era
simplesmente o de separar os sadios dos doentes, além de
promover a causa da ciência através de experimentos com
amostras humanas úteis.3 A pesquisa de Mengele era legal; era
sancionada pelo Estado, e foi por uma causa progressista. Assim,
deste ponto de vista, do que Mengele precisaria se envergonhar?
A Esquerda e o seu Próprio Mengele
Hoje os crimes de Mengele são considerados impensáveis,
inconcebíveis. Concordamos prontamente com o lema diante do
Holocausto: “Nunca mais”. Há o consenso de ter sido este um
evento que não pode jamais ser repetido; aliás, cremos que não
está se repetindo, pois esperaríamos que, assim fosse, ele
aconteceria da mesma forma. Procuramos, hoje, é por outro sujeito
executando gêmeos e aplicando hediondas injeções intraoculares.
Como esse tipo não aparece, a maioria se convence de que
Mengele e os nazistas foram uma aberração histórica.
No entanto, o nazismo foi o produto de um tempo e lugar. Mas já
agora os tempos mudaram,o lugar não é mais o mesmo. No que
Robert Paxton observou anteriormente, um fascismo americano,
caso surja, não será suscetível aos coturnos marchando, braços
levantados em saudações nazistas e aos cânticos de Heil Hitler. E
poderá não visar os judeus, mas, sim, algum outro grupo. O
fascismo americano seria uma insígnia no uniforme da América, um
fascismo de apetrecho, inventado por progressistas e esquerdistas
americanos no lugar dos progressistas e esquerdistas alemães. O
Mengele da América faria coisas não menos horríveis do que o
próprio Mengele, mas sua causa seria protegida por uma nova e
elegante ideologia da ciência e do progresso.
Na verdade, o Mengele americano existe, seu nome é Kermit
Gosnell. Desde 1979, Gosnell geriu uma clínica de aborto chamada
Women’s Medical Society, na zona oeste da Filadélfia. Lá, ele
realizava abortos induzidos de gestação tardia e, inclusive, indução
ao aborto por dilatação e evacuação, principalmente em mulheres
pobres. Se, por algum erro, a criança nascesse viva, Gosnell a
matava no processo que ele chamava de “morte fetal garantida”.
Sua técnica favorita consistia em sedar o bebê prematuro e, em
seguida, cravar uma tesoura no pescoço e cortar sua medula
espinhal. Por três décadas, Gosnell matou centenas, isso se não
foram milhares, de crianças dessa maneira, muito mais do que
Mengele matou durante o período de dois anos em Auschwitz.4
Se Gosnell é a analogia americana de Mengele, existe também o
Instituto Kaiser Wilhelm da América: seu nome é Planned
Parenthood. Gosnell não trabalhou lá, mas nem Mengele trabalhou
para o Instituto Kaiser Wilhelm. Ambos, todavia, tiveram legitimidade
institucional para cumprir seu trabalho, recebida do apoio e defesa
de organizações como o Planned Parenthood e o Instituto Kaiser
Wilhelm. Ambos se consideravam pioneiros trabalhando na fronteira
científica e progressista; Gosnell deu continuidade à visão da
Planned Parenthood exatamente da mesma forma como Mengele
se via avançando a visão do Instituto Kaiser Wilhelm.
Parece exagero, e mesmo errado, comparar a principal instituição
da eugenia nazista com a Planned Parenthood? De modo nenhum.
Em alguns aspectos, a conduta desta última chega a ser pior.
Enquanto a organização se apresenta como um promotor benigno
do “controle de natalidade”, seu modus operandi foi revelado por
uma série de vídeos gravados secretamente mostrando funcionários
dispostos a vender membros extraídos de fetos abortados, resultado
da organização nacional da indústria de aborto. Estes funcionários
não expressaram repulsa ou remorso moral pela prática.
Em maio de 2017, um novo vídeo apareceu, com abortistas
filiados à Planned Parenthood admitindo cenas macabras. Um falou
de garantir a morte usando “um segundo conjunto de fórceps para
segurar o corpo no colo do útero e retirar uma ou duas pernas”.
Outro confessou, para o riso dos demais, que, fato recente, durante
determinado procedimento abortivo “um globo ocular caiu no meu
colo, foi nojento”. Um terceiro confessou que, quando as empresas
de células-troncos quiserem comprar cérebros, “vamos permitir o
sofrimento se prolongar ao máximo, e então tentar basicamente
extraí-lo ou, na verdade, bom, pegar tudo e manter o material
separado do tecido para que nada se perca”.5 O Instituto Kaiser
Wilhelm, considerando-se uma organização de pesquisa de alto
nível, nunca fez nada, nem mesmo remotamente, parecido com
isso.
Os progressistas querem distanciar-se de Gosnell, mesmo
continuamente defendendo ferozmente a Planned Parenthood. Em
certo sentido, a esquerda está desistindo de um dos seus pioneiros
enquanto tenta salvar a instituição principal que dará seguimento a
esse tipo de trabalho. Tchau-tchau, Gosnell; avante, Planned
Parenthood. E caso alguém pergunte se o projeto eugenista do
Instituto Kaiser Wilhelm persiste ainda hoje, sim, persiste. Como
veremos, embora adequadamente modificado, o Instituto agora
ganha cores sob a bandeira da International Planned Parenthood.
De volta a Gosnell e Mengele. Na narrativa progressista, Gosnell
“foi longe demais”. Mas é o mesmo que dizer que Mengele foi longe
demais. Mengele seria aceitável aos olhos progressista se
simplesmente tivesse se contido um pouco? Na verdade, como a
esquerda sabe, Mengele e Gosnell simplesmente trilharam o
caminho que os progressistas, em seus respectivos países, lhes
prepararam. Ambos acreditavam estar livrando-se de pessoas
descartáveis, tudo em prol da causa do progresso. A causa de
Mengele estava “dentro” do círculo esquerdista e progressista da
Alemanha; a causa de Gosnell está “dentro” do círculo esquerdista e
progressista da América atual.
Escrevendo para a revista Slate, o colunista e progressista William
Saletan pergunta: qual foi exatamente o crime que Gosnell
cometeu? O que ele fez de tão mal assim? Do ponto de vista da
esquerda, não poderia ser apenas um aborto de gestação tardia,
afinal são muitos os esquerdistas e partidários da Planned
Parenthood que apoiam esse método abortivo. Saletan cita Steph
Herold e Susan Yanow, ambos defensores dos direitos reprodutivos,
argumentando que “as mulheres não são obrigadas a tomar uma
decisão enquanto não se sentirem prontas” e devem ser autorizadas
a optar pelo aborto, até mesmo no oitavo ou no nono mês de
gestação. Da mesma maneira, Marge Berer, organizadora da
Reproductive Health Matters, insiste que, independentemente dos
limites de tempo e períodos, “quem pensa ter o direito de proibir o
aborto à mulher, que seja a uma única mulher, não pode reivindicar
para si a posição pró-escolha”.6 Aqui, então, está a ideologia da
Planned Parenthood, instituição que, tão certo quanto a ideologia
eugenista ajudou a criar Mengele, ajudou a criar Gosnell.
Gosnell foi julgado e condenado por três acusações de homicídio
de crianças em sua clínica. Estes foram apenas os casos mais
gritantes que o Estado decidiu processar. Gosnell hoje cumpre uma
sentença perpétua por homicídio em primeiro grau. Já na minha
opinião, ele merece a pena de morte para pagar por todas as
crianças que assassinou. Se capturado após a guerra, Mengele
certamente teria sido executado. Mas, fugindo para a Argentina,
tornou-se, ironicamente, um abortista.7 E, em 1979, com a idade de
sessenta e sete anos, em São Paulo, Brasil, morreu acometido de
um acidente vascular cerebral.
Os Primeiros Campos de Extermínio
Examinamos até o momento o que há de paralelo entre nazistas e
democratas em questões como a escravidão, a remoção e
aniquilação dos índios, e o racismo, questões, até certo ponto,
passadas. Certo, o passado continua aqui, mas não da mesma
forma. O racismo, por exemplo, não é o mesmo hoje como há meio
século ou há um século. Com efeito, os democratas substituíram
suas velhas fazendas no campo por novas, agora urbanas,
chamadas guetos para negros, bairros para latinos e reservas para
índios americanos. Eles transformaram milhões de minorias em
pessoas descartáveis, cujas vidas não lhes interessam e cuja
principal utilidade é depender. Conseguindo angariar votos, os
democratas continuam felizes e a utilidade das minorias permanece
em prática.
Mas ainda assim existem diferenças importantes entre as novas
“fazendas” e as do passado. Os escravos precisavam trabalhar, as
populações minoritárias de hoje não precisam. E, na verdade, os
democratas preferem que seja assim, afinal o que eles querem são
eleitores que dependam deles até nas necessidades mais básicas
da vida. Além do mais, mesmo que, por assim dizer, cativos do
pacto fáustico oferecido pelos democratas, estes que dependem
podem escolher deixar a fazenda. Quanto aos escravos, se
simplesmente tentassem, eles seriam caçados, capturados e
levados de volta ao cativeiro. Logo, as colônias urbanas não
constituem escravidão no sentido tradicional; e, enquanto a antiga
escravidão das fazendas e do senhorio podem ser comparadas aos
campos de concentração, segundo já vimos, as colônias urbanas de
hoje, também sob poder dos democratas, não podem.
Neste capítulo e em capítulos subsequentes serão examinados
paralelos e conexões entre os nazistas e a esquerda democrata;
não são uma “história antiga”, mas, antes, são coisas que se
aplicam às ações da esquerda hoje. Isso, por si só, é um enigma.
Como é possível que os democratas da esquerda continuem com
práticas remontando aos nazistas? São práticas provavelmente
rechaçadas por associarem-se com o nazismo. Então como a
esquerda, que agora finge ser o partido antifascista e antinazista,
afasta-se das políticas e práticas fascistas e nazistas? Trata-se de
uma manobra que parece exigir não apenas audácia, mas também
extrema desenvoltura.
Tal desenvoltura, com certeza, exige algumas grandes mentiras. A
esquerda precisa de alguma forma pegar suas próprias paridades e
equivalências com os nazistas e jogar a culpa na direita. O que,
entretanto, é insuficiente, porque a esquerda quer continuar fazendo
as coisas que costumava fazer quando estava em estreita aliança
com o nazismo. Para fugir disso, os esquerdistas precisam coligar
um novo nome às suas práticas, para camuflar o elo com o
passado. A esquerda também precisa de uma nova estratégia e de
um novo programa que de alguma forma consiga alcançar, ainda
que não plenamente, o máximo possível daquele velho objetivo.
Essa, portanto, é a história de como a esquerda aprendeu a ser tão
astuta.
Comecemos por examinar o crime que une os nazistas com os
democratas — ou, nesse caso, mais precisamente, com os
progressistas — antes de analisarmos como a esquerda descobriu
um modo de evitar a culpa e, de fato, prosseguir com seus crimes,
apesar do mau cheiro e do odor pútrido que acompanharam a
descoberta das atrocidades em questão. Há não primeiramente o
Holocausto, evento que entrou em cena mais tarde, mas o crime
que lhe serviu de exórdio, o que por vezes é chamado pelos
estudiosos de o “ensaio geral” para o Holocausto.
Em 1933, ano em que os nazistas assumiram o poder, eles
emitiram a “Lei para a Prevenção de Filhos com Doenças
Hereditárias”, que exigia a esterilização forçada de pessoas
consideradas “inaptas”, incluindo imbecis, esquizofrênicos, maníaco-
depressivos, cegos e surdos, pessoas diagnosticadas com
deformidades físicas ou mentais e viciados em drogas e substâncias
alcoólicas. Cerca de trezentos e cinquenta mil alemães foram
esterilizados sob essa lei, entre 1933 e 1939.
Em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial, a lei de
esterilização foi complementada e, até certo ponto, suplantada por
uma nova lei eutanásica. Nessa época, os nazistas tinham sob seu
comando uma rede de campos de concentração, incluindo campos
de extermínio, onde os prisioneiros eram exterminados por
fuzilamento ou gás letal. Sob o programa chamado T4, entre 1939 e
1941, os nazistas diagnosticaram cerca de duzentos mil alemães
com insanidade ou doenças incuráveis. Eles foram então
eutanasiados em câmaras de gás.8
Estas foram as primeiras câmaras de gás, usadas não para matar
propriamente judeus, mas os portadores de doenças físicas e
transtornos mentais. Elas foram as pessoas descartáveis originais.
“As câmaras de gás não foram projetadas para campos de
concentração”, escreve o historiador Timothy Snyder, “mas para a
matança clínica do programa de eutanásia”. Essas primeiras
câmaras de gás eram menores e menos desenvolvidas, menos
industriais do que as construídas e usadas posteriormente no
assassinato de judeus, ciganos e outros povos, numa proporção
muito maior. No entanto, os procedimentos revelaram-se muito
semelhantes. As vítimas passavam por exame médico, no que as
obturações de ouro da boca eram removidas; depois elas eram
submetidas ao processo de eutanásia mediante gás venenoso,
tipicamente monóxido de carbono bombeado por caminhões.
Em relação aos quatro dos mais famosos campos de extermínio,
Snyder comenta: “1,6 milhão de judeus mortos em Treblinka,
Chelmni, Belzec e Sobibor foram asfixiados por monóxido de
carbono”. Em Auschwitz, os nazistas usaram o gás cianeto de
hidrogênio Zyklon B para matar mais um milhão de judeus. Snyder
diz que os supervisores das operações em Treblinka, Belzec e
Sobibor eram todos veteranos do programa nazista de eutanásia.9
Assim, esse programa e a Solução Final do Partido Nazista estão
indissoluvelmente ligados.
Convém notar que mesmo a linguagem comum tem sido
distorcida e manipulada. A esse respeito, uma grande mentira já
vigorava desde os nazistas. A palavra ‘eutanásia’ significa “morte
por misericórdia”. O termo refere-se às pessoas velhas demais ou
doentes e sentindo tanta dor que recebem a morte como alívio.
Nessas circunstâncias, e com seu consentimento, ou, incapazes de
consentir, com o consentimento de familiares, elas são sacrificadas
como um ato de misericórdia ou compaixão. Mas, como o
historiador Michael Burleigh ressalta, a morte por misericórdia não
tinha nada que ver com a cartilha nazista; a eutanásia não passava
de “um termo cosmético para o assassinato”.10

Aprendendo com os Progressistas


Quem então é o responsável por esses crimes horríveis, crimes
que abriram a porta para os horrores ainda maiores do Holocausto?
Os nazistas, é claro. Mas de onde eles tiraram a ideia para tanto? A
resposta: dos progressistas americanos. Não dos “democratas”
desta vez, mas, especificamente, dos “progressistas”. Por
progressismo refiro-me ao movimento de esquerda do início do
século XX que buscava reformar as leis trabalhistas e as condições
de trabalho, mas um movimento também obsessivamente
preocupado com a melhoria social por meio do restringir da
imigração baseado-se na raça e através da eliminação das pessoas
chamadas inferiores, inaptas e descartáveis.
Sim, alguns republicanos eram progressistas também, mas
moderados. Exemplo típico é Theodore Roosevelt, que, anote isso,
tornou-se um ardente progressista somente quando deixou o Partido
Republicano, depois de dois mandatos presidenciais. Daí, ele voltou
a concorrer pelo Partido Progressista, ou, como foi apelidado,
Partido Bull Moose. Não bastasse, o progressismo suave de
Roosevelt manteve-se em contraste com o duro progressismo do
democrata Woodrow Wilson, que estava enraizado numa filosofia
racista e eugenista. Embora seja plausível conceber Wilson, se
estivesse vivo na época, abraçando as leis nazistas de esterilização
forçada, é inconcebível pensar em Roosevelt fazendo o mesmo.
Logo, não acuso todos os progressistas, mas somente aqueles da
esquerda que, juntos, deram forma ao corpo antepassado, político e
espiritual dos progressistas que hoje estão no páreo.
Os progressistas da esquerda americana não apenas superaram
os nazistas, dando início a programas de encarceramento forçado e
esterilização em massa, mas também lhes mostraram um modo de
implementá-los. Os nazistas reconheceram o papel pioneiro da
esquerda americana no que diz respeito à formação dos seus
próprios programas de contracepção e matança. Os progressistas,
por sua vez, parabenizaram-se pela influência que exerceram sobre
os nazistas. Tudo isso então foi varrido para baixo do tapete por
uma geração progressista subsequente, de modo a esconder a
culpa da esquerda e permitir que os programas eugenistas atuais
continuem esterilizados de qualquer associação com o nazismo.
“A América liderou o caminho da legalização e fomentação de
esterilizações eugênicas forçadas”, escreve a historiadora Angela
Franks.11 Os progressistas tiveram seu primeiro sucesso no ano de
1907, quando o estado de Indiana aprovou uma lei que exigia a
esterilização de “criminosos crônicos, lesados, deficientes mentais e
estupradores”. Durante os próximos trinta anos, vinte e seis outros
estados passaram leis semelhantes. No início da década de 1930,
quando os nazistas chegaram ao poder, os estados americanos já
esterilizavam de duas a quatro mil pessoas por ano. No total, cerca
de sessenta e cinco mil pessoas foram esterilizadas contra a própria
vontade por consequência da legislação eugênica dos progressistas
nos Estados Unidos.
Por volta da mesma época, os progressistas persuadiram os
estados de todo o país a aprovar leis restritivas proibindo o
casamento de brancos com negros. Essas leis eram baseadas em
um princípio que pressupunha a inferioridade negra, apoiadas por
pressões sociais que desencorajavam todas as minorias, incluindo
nativos americanos e hispânicos, de casarem-se com brancos. Para
os progressistas, essas leis e costumes de segregação tinham o
mesmo propósito das leis de esterilização forçada: proteger os
genes raciais da inundação e contaminação por pessoas “inúteis” e
“incapazes”.
O terceiro argumento desse mesmo projeto embasava-se no
restringir da imigração. Os progressistas entenderam que, em
primeiro lugar, se mantivessem fora essas pessoas supostamente
degradadas, não seria necessário segregá-las, esterilizá-las ou
restringir suas perspectivas de casamento. Em 1924, os
progressistas receberam uma grande vitória com a aprovação da Lei
da Imigração, que restringia bruscamente a imigração ao preferir os
norte-europeus ou “nórdicos” e discriminando os imigrantes da Ásia,
África, América do Sul e até mesmo os vindos da Europa Central e
Meridional. Os progressistas hoje culpam Trump de apoiar políticas
racistas de imigração, sendo que foram os próprios progressistas
que, na verdade, implementaram tais políticas e até hoje nunca
reconheceram ou pediram desculpas.
A peça central da iniciativa progressista na América, no entanto,
era a eugenia. Originalmente, ela foi concebida na Inglaterra pelo
primo de Charles Darwin, Francis Galton. Tentando aplicar a teoria
de Darwin da sobrevivência do mais apto na espécie humana,
Galton cunhou o termo “eugenia” para descrever um projeto que
melhoraria a humanidade mediante a seleção genética. “Embora
concebida na Inglaterra”, escreve Angela Franks, “a eugenia nasceu
de fato na América, onde um programa político e legal bem-
sucedido foi desenvolvido” para melhorar o que os progressistas
chamaram de estoque genético americano.12 Isso, nota-se, vai
muito além da sobrevivência do mais apto.
Os progressistas na América fundaram muitas organizações pelo
eugenismo, entre elas o Eugenics Record Office em Cold Spring
Harbor, Long Island, a National Conference on Race Betterment e a
American Breeders Association. Entre os principais eugenistas
estavam Charles Davenport, fundador do Escritório de Arquivos da
Eugenia; Harry Laughlin, primeiro superintendente do Escritório de
Arquivos da Eugenia; Leon Whitney, secretário executivo da
Sociedade Americana de Eugenia; Madix Grant, presidente da
Sociedade de Zoologia de Nova Iorque e administrador do Museu
Americano de História Natural; Paul Popenoe, editor do periódico
Journal of Heredity; Eugene Gosney, diretor da Fundação para a
Melhoria Humana; e o progressista filantropo Clarence Gamble.
Laughlin, talvez o mais influente eugenista na América,
desenvolveu um programa de esterilização em massa que visava
como primeiro passo cobrir 10% da população. Em suma, ele queria
esterilizar onze milhões de pessoas. Laughlin pretendia compensar
essas reduções na população, em suas palavras, “incentivando a
intensa fecundidade entre os mais dotados”. Nada tão ambicioso
quanto o projeto de 10% de Laughlin se concretizou, mas sua
estratégia de conseguir que mulheres se submetessem à
esterilização patrocinada pelo Estado foi implementada.
Basicamente, os educadores progressistas e as autoridades de
saúde começariam classificando as mulheres sem educação formal
e de classe baixa — a maioria delas negras, hispânicas ou
ameríndias — como “inaptas” ou “imbecis” congênitas.
A polícia era chamada e as mulheres eram então presas ou
segregadas da população em geral, aparentemente para evitar que
contaminassem outros. Em alguns casos, as mulheres eram postas
em cativeiro por tempo indeterminado, com o objetivo de impedi-las
de reproduzir durante os seus anos fecundos.
Após o encarceramento ou confinamento forçado, as mulheres
poderiam optar por serem esterilizadas e retornar a uma vida
normal. Diante da escolha entre segregação e prisão de um lado ou
esterilização do outro, muitas mulheres submetiam-se à
esterilização. Consequentemente, os funcionários do serviço social
progressista classificavam as esterilizações como “voluntárias” em
vez de coagidas.
Os eugenistas progressistas na América também introduziram a
ideia de eutanásia como uma alternativa ao encarceramento e à
esterilização forçada. O principal defensor da matança de pessoas
indesejáveis, inaptas, foi Paul Popenoe, geneticista atuante na
Califórnia, que argumentou em seu compêndio Applied Eugenics
[Eugenia Aplicada], no qual, em se tratando de débeis congênitos ou
pessoas que praticavam crimes recorrentes, escreve: “o primeiro
método que se tem é a execução”.13 Popenoe propôs “câmaras
letais” para realizar essas execuções.
A sugestão de Popenoe havia sido controversa desde o início. No
fim das contas, os progressistas rejeitaram a eutanásia,
desconsiderando-a como programa viável para fins de eliminar
pessoas descartáveis, mas ainda afirmavam o princípio de que elas
deveriam ser eliminadas de outras formas. Entretanto, onde os
progressistas americanos traçaram uma linha, os nazistas
avançaram com seu próprio programa de eutanásia, em grande
parte alinhado pelas ideias que Popenoe propôs originalmente.
Os progressistas a favor do eugenismo na América mediaram-se
com seus homólogos europeus em conferências internacionais. Veja
bem como o eugenismo atraía a esquerda política não só na
América, mas também na Inglaterra e na Alemanha. Na Inglaterra,
por exemplo, entre os paladinos da eugenia estavam Fabian George
Bernard Shaw, que era socialista, H. G. Wells, romancista utópico e
esquerdista, e John Maynard Keynes, economista progressista. Na
Alemanha, o principal teórico marxista, Karl Kautsky, fomentava o
eugenismo assim como seu companheiro socialista, Eduard David.
Outro socialista de notável presença, o médico alemão Alfred
Ploetz, defendia a eugenia desde a década de 1880 e viveu tempo
suficiente para ver seu sonho eugenista realizado na Alemanha
nazista. Ploetz e seu companheiro socialista, Ernst Rudin, fundaram
a Sociedade da Higiene Racial. Rudin mais tarde foi feito o maior
estruturador do programa do eugenismo nazista e participante dos
departamentos superiores de saúde do regime nazista, criados para
decidir quem deveria ser esterilizado à força. Os mais importantes
nazistas em prol do eugenismo da década de 1930 — Rudin, Fritz
Lens e Eugen Fischer — eram todos homens de esquerda que
interagiam de perto com os progressistas dos Estados Unidos.
Nas conferências internacionais pelo eugenismo, os alemães
eram tipicamente considerados a segunda comunidade eugenista
mais avançada do mundo; os americanos eram os mais avançados.
É provável que a mais significativa dessas conferências tenha sido o
Terceiro Congresso Internacional pela Eugenia, que ocorreu em
1932 no Museu de História Natural de Nova Iorque. Um ano antes
de os nazistas ascenderem ao poder, a imprensa alemã falou, com
entusiasmo, acerca do “progresso” das políticas eugenistas dos
Estados Unidos.
“A Alemanha certamente desenvolveu seu próprio corpo de
conhecimento eugenista”, escreve Edwin Black, no livro The War
Against the Weak [A Guerra Contra os Fracos]. “No entanto, os
leitores alemães ainda tinham por forte modelo as conquistas do
eugenismo americano — os tribunais biológicos, a esterilização
forçada, a detenção de pessoas socialmente inaptas, debates a
respeito da eutanásia”. Aos olhos dos progressistas americanos,
mesmo antes dos nazistas, “uma raça superior de nórdicos era cada
vez mais vista como a solução final para os problemas do
eugenismo pelo mundo”. E no que os nazistas puseram em prática
suas políticas eugenistas, os progressistas norte-americanos caíram
em inveja, com um deles protestando que “os alemães estão nos
dando uma surra no nosso próprio jogo”.14

Refreando as “Ervas Daninhas Humanas”


Uma personagem sombria intimamente relacionada ao movimento
eugenista é a fundadora da Planned Parenthood, Margaret Sanger.
Na verdade, os principais eugenistas evitavam Sanger, considerada
por eles uma pessoa de credenciais acadêmicas fracas e
pessoalmente excêntrica. Apesar dos pedidos frequentes de
Sanger, eles mantinham recusa a falar em suas conferências ou a
convidá-la para que se juntasse aos seus conselhos. Entre eles,
alertavam-se à suspeita de que Sanger levaria a causa eugenista ao
descrédito. Mesmo assim, ao longo de sua vida, Sanger defendeu
descaradamente o eugenismo e procurou desesperadamente a
aprovação dos líderes da causa eugenista.
Uma amostra do cortejo persistente de Sanger com os pesos-
pesados da eugenia está em seus seus convites anuais enviados a
Charles Davenport, pedindo que ele discursasse em suas várias
conferências. Davenport recusou-se repetidas vezes. Desesperada
por “conseguir” Davenport, Sanger instou seu colega de trabalho,
Edward East, amigo de Davenport, que convencesse Davenport a
juntar-se ao conselho da Birth Control League [Liga de Controle de
Natalidade], Massachusetts. Davenport novamente disse não.
Finalmente, depois de muito suplicar, Davenport concordou com
participar de uma mesa-redonda sobre eugenia e controle de
natalidade durante a Conferência Internacional Neomalthusiana e de
Controle de Natalidade de 1925. Esse foi o único assentimento que
Sanger conseguiu de Davenport. Ocorre que foi mais um ceder à
perseguição obstinada do que um empenho por formar alianças.
Para destacar a ávida defesa eugenista de Sanger, cabe
considerar dois documentos reveladores: seu artigo “My Way to
Peace” [Meu Caminho para a Paz], de janeiro de 1932, e seu artigo
“America Needs a Code for Babies” [A América Precisa ter um
Código de Controle para Bebês], de 27 de março de 1934. Neste
último, Sanger convoca o governo a estabelecer um código “para a
melhor repartição dos bebês [...] para proteger a sociedade contra a
propagação e o aumento dos inaptos”. Esse código deveria declarar,
dizia ela, que “nenhuma mulher deveria ter o direito legal de ter
filhos e nenhum homem de ser pai sem uma permissão à
paternidade”. Além disso, “nenhuma permissão à paternidade
deveria ser válida para mais de uma concepção”.
Quanto aos inaptos, Sanger insiste que “Diversos grupos de
pessoas socialmente inaptas, como, por exemplo, os doentes
mentais e os criminosos, não são suficientemente sensíveis à
educação ou à pressão moral da comunidade”. Sanger identifica
que cinco milhões de americanos cumpriam seus critérios de
degeneração mental ou moral”. Ela declarou morbidamente: “Para
tais pessoas, a esterilização é indicada”, mas “em caso de dúvida”,
elas devem ser “rigorosamente isoladas, que assim evitemos a
perpetuação de suas aflições geradas pela reprodução”. Em seu
artigo de 1932, Sanger pede a fundação de “fazendas e
propriedades onde os segregados seriam ensinados a trabalhar sob
instrutores competentes” e impedidos de reproduzir “por toda a
vida”.15
Sanger era, à semelhança de muitos progressistas do seu tempo,
uma racista declarada que considerava os negros como pessoas
baixas e sem educação, merecedoras da segregação e esterilização
forçada. Sob convite, Sanger aceitou discursar acerca da
ramificação feminina da Ku Klux Klan em Nova Jersey e
estabeleceu um projeto especial, chamado Negro Project, a fim de
pressionar pessoas negras de baixa renda a se inscreverem em
programas de controle de natalidade e esterilização. Em carta a seu
amigo e sócio, Clarence Gamble, Sanger explica por que contratou
ministros negros para serem seus embaixadores na comunidade
negra. “Nós não queremos que a notícia de que nosso desejo é
exterminar a população negra se espalhe, e o ministro é o homem
que pode dispersar essa ideia, caso algo venha a acontecer com
algum de seus membros mais rebeldes”.16
A militância de Sanger é tão flagrante e persistente que é claro
quão desonestas são as tentativas de seus biógrafos progressistas
quando negam o papel central que o eugenismo exerceu em sua
ideologia. No livro de Linda Gordon, Woman’s Body, Woman’s Right
[O Corpo da Mulher, o Direito da Mulher], o qual consiste numa
história do movimento de controle de natalidade na América, a
autora tenta distinguir a eugenia de Sanger, supostamente modesta,
benigna e de esquerda, da eugenia supostamente extremista,
maligna e de direita que emergiu com o nazismo.17 Tamanha
distinção não passa da mais pura ficção e depende inteiramente da
suposição de que o nazismo fosse, de alguma forma, de direita.
Como já entendemos, isso faz parte da grande mentira. Com efeito,
a eugenia de Sanger e a eugenia nazista eram farinha do mesmo
saco, fato percebido por ela própria.
Percebe-se isso em dois dos associados próximos de Sanger,
Clarence Gamble, que financiava os projetos de Sanger e falava em
suas conferências, e Lothrop Stoddard, que publicava nas revistas
de Sanger e atuava no conselho da Liga Americana de Controle de
Natalidade, a organização precursora do Planned Parenthood.
Stoddard foi o autor mais vendido de um folheto notório, The Rising
Tide of Color Against White World Supremacy [A Crescente Maré da
Cor Contra a Supremacia do Mundo Branco], retratando a antiga
raça nórdica como sendo pisada através da imigração e do
casamento inter-racial por multidões degeneradas de outras raças
inferiores. Tanto Lothrop quanto Gamble tornaram-se ávidos
simpatizantes do nazismo, procurando importar programas de
esterilização nazistas em toda a sua magnitude para a América.
Gamble proclamava que o programa nazista “garantiria à
Alemanha um lugar na história das raças” e insistia que
“estabeleceria o padrão que outras nações e outros grupos raciais
deveriam seguir”.18 Stoddard viajou para a Alemanha, onde
encontrou-se com os principais eugenistas raciais do regime
nazista, Eugen Fischer e Fritz Lenz. Também teve encontro com os
principais oficiais nazistas, Heinrich Himmler e Joachim von
Ribbentrop, e até mesmo conseguiu uma cobiçada audiência com
Hitler. O livro de Stoddard escrito em 1940, Into the Darkness [No
Interior da Escuridão], é um louvor ao eugenismo nazista e de Hitler.
Esses eram os círculos que Sanger frequentava e o tipo de pessoas
com quem ela se associava.
Agora cabe mencionar a própria Sanger. Em abril de 1933, a
revista Birth Control Review, editada por Sanger, publicou um artigo
“Esterilização Eugênica, uma Necessidade Urgente”, escrito por
Ernst Rudin, maior estruturador do programa nazista de
esterilização e mentor de Joseph Mengele, e também reimprimiu um
livreto que ele escreveu para os eugenistas britânicos. Escrevendo
em 1938, enquanto o projeto de esterilização do regime nazista
estava em pleno andamento, Sanger pediu que os Estados Unidos
fizessem o que os nazistas estavam fazendo. “Na indústria animal, o
gado inferior não tem permissão para reproduzir”, disse Sanger.
“Nos jardins, as ervas daninhas são mantidas podadas”. A América,
concluiu Sanger, deve aprender com os alemães e cumprir o próprio
mandato da natureza de livrar-se das “ervas daninhas humanas”.19
O Exemplo Americano para Hitler
Adolf Hitler parece nunca ter ouvido falar de Margaret Sanger.
Quando preso em Landsberg, no entanto, ele já seguia o
darwinismo social, ideologia que daria forma não só à sua filosofia
social, mas também à sua política externa. Por exemplo, ele via
nações envolvidas em uma luta darwiniana por sobrevivência com
apenas os mais fortes, ou mais aptos, destinados a sobreviver. O
historiador Richard Weikart escreve no livro From Darwin to Hitler
[De Darwin a Hitler] que “Hitler valeu-se extensamente do
pensamento proveniente do darwinismo social para construir sua
própria filosofia racista”.20
Enquanto na prisão, Hitler comentou sobre como os progressistas
na América haviam passado leis de imigração baseadas na raça
que davam tratamento preferencial aos brancos, mas discriminavam
pessoas negras, amarelas e pardas. Mesmo entre os brancos, as
leis preferiam os imigrantes do norte da Europa — os países
nórdicos — aos do leste e do sul da Europa, julgados inferiores
pelos progressistas. Hitler aprovava completamente as premissas
por trás dessa legislação progressiva.
“O germano que habita no continente americano”, escreveu Hitler
em Mein Kampf, “e que se manteve racialmente puro e sem mistura,
surgiu para dominar o continente; ele permanecerá mestre desde
que não seja vítima da corrupção do sangue”. Uma maneira de
preservar a pureza dos nórdicos na América era, é claro, restringir a
entrada de outros povos. Hitler invocou o exemplo americano para
explicar o porquê de ser favorável às leis contra a mistura racial na
Alemanha.
Hitler também pretendia, ao tomar o poder, purgar a Alemanha do
que ele considerava ser uma raça inferior, invocando, para tanto, as
leis de imigração progressistas da América, objetivando mostrar
como lá já haviam adotado, por meio das leis de imigração, o
mesmo princípio geral. Embora não gostasse de admitir a liderança
americana — ele queria que a Alemanha liderasse em todas as
frentes —, Hitler admitiu, mesmo com raiva, que a imigração era
uma área onde os nazistas teriam de alcançar os progressistas
norte-americanos.
Em Mein Kampf, Hitler escreve: “Há hoje um Estado em que pelo
menos fracos avanços rumo a uma melhor concepção são visíveis.
Claro que não é o modelo de nossa República Alemã, mas da União
Americana, na qual é feito grande esforço para consultar a razão,
pelo menos parcialmente. Ao recusar, por princípios, a imigração,
considerando elementos de precariedade na saúde, simplesmente
excluindo certas raças da naturalização, professa-se, no início
lentamente, uma visão peculiar do conceito de estado Völkisch”.
Uma vez que Hitler tivesse entendido a política de imigração como
um mecanismo para manter as pessoas descartáveis de fora, ele
então entenderia, em primeiro lugar, a eugenia como um mecanismo
para impedir que elas se reproduzissem e nascessem. “A exigência
de que pessoas com deficiências sejam impedidas de propagar
descendência igualmente defeituosa”, escreveu Hitler, “é uma
exigência da mais clara razão. Se executada sistematicamente,
representa o ato mais humano da humanidade”.21 Perceba como
Hitler, seguindo o progressismo clássico, apresenta suas ideias não
como um ataque ao humanitarismo, mas como sua melhor
execução.
Hitler comunicou sua familiaridade com a legislação do
progressismo eugenista dos Estados Unidos. E mais uma vez
reconheceu, com certa irritação, que, também nesse ponto,
progressistas e socialistas na Alemanha teriam de seguir seus
homólogos nos Estados Unidos. “Estudei com grande interesse e
afinco as leis de vários estados americanos em relação à prevenção
da reprodução de pessoas cuja progênie provavelmente não teria
valor ou seria prejudicial à linhagem racial”.
Interessante dizer, Hitler sabia que havia conservadores religiosos
na América que se opunham a tais leis por serem draconianas e
excessivas. Ele os desprezava, chamando-os de “mentirosos” e
“hipócritas”. Não bastasse, também agiu para rapidamente refutar
tais objeções. “Eventuais excessos”, disse Hitler, “não constituem
prova da incorreção dessas leis. Isto unicamente nos exorta à maior
conscientização possível”.22
Hitler por vezes é caracterizado pela esquerda como conservador,
dedicado ao casamento e à família tradicional. Vejamos o que Hitler
realmente diz com seu livro Mein Kampf acerca do propósito que o
casamento carrega: “O casamento não pode ser um fim em si
mesmo, mas deve servir àquele propósito mais elevado, o aumento
e a preservação das espécies e da raça. Este somente é o seu
significado e sua incumbência”.23 Por consequência, o casamento
não é primariamente um meio de unir pessoas que se amam e dar-
lhes as alegrias da paternidade; ao contrário, o casamento existe,
em grande parte, para servir aos objetivos coletivos do Estado e das
espécies. Nenhum tradicionalista concordaria com isso, mas muitos
progressistas concordaram e ainda concordam.
Por meio de onde Hitler se familiarizou com as fontes
americanas? Enquanto na prisão, Hitler lia com avidez os folhetos e
compêndios da didática eugenista, que citavam extensivamente
Davenport, Popenoe e outros progressistas do eugenismo. Hitler
compartilhou suas ideias com seu companheiro de cela, Rudolf
Hess, mais tarde uma figura proeminente do Terceiro Reich, a
mesma que popularizou o lema “O nacional-socialismo é nada mais
do que a biologia aplicada”.24
O próprio Hitler foi especialmente influenciado pelos escritos de
Leon Whitney, da Sociedade Americana de Eugenia, e Madison
Grant, autor de vários livros que exaltam a superioridade racial
nórdica e criticam a corrupção dela por raças menores. Para próprio
deleite, Hitler observou que esses americanos não meramente
defendiam a superioridade racial europeia ou branca, mas
especificamente a superioridade germânica ou nórdica.
Durante a década de 1930, Whitney em certa ocasião visitou
Grant, na época presidente de um comitê eugenista de imigração.
Whitney foi para mostrar a Grant uma carta que havia acabado de
receber de Hitler solicitando uma cópia do livro de Whitney intitulado
The Case for Sterilization [Em Defesa da Esterilização]. Para não
ser ultrapassado, Grant pegou sua própria carta de Hitler em que
era elogiado por escrever a obra The Passing of the Great Race [A
Morte da Grande Raça], livro que Hitler chamou de sua própria
“bíblia” eugenista.25 O que isso mostra é que os eugenistas
progressistas na América não estavam apenas cientes, mas
também orgulhosos de associar-se com Hitler.
Pouco depois de os nazistas implementarem seus programas de
esterilização e eutanásia, Paul Popenoe elogiou Hitler por basear
“solidamente suas esperanças de uma regeneração biológica na
aplicação de princípios biológicos da sociedade humana”. O jornal
Eugenic News, de Harry Laughlin e Charles Eugen, chamou o
programa nazista de “o marco histórico que registra o controle das
nações mais avançadas do mundo sob um aspecto importante do
controle da reprodução humana”. Se esses comentários parecem
praticamente incompreensíveis hoje, o historiador Stefan Kuhl
explica que os eugenistas do progressismo “entendiam as políticas
nazistas como a realização direta de seus objetivos científicos e
demandas políticas”.26
Outro exemplo do entusiasmo progressista com o programa de
esterilização de Hitler envolve Charles Goethe, fundador da
Sociedade de Eugenismo do Norte da Califórnia, que, ao retornar à
Alemanha após viajar em busca de fatos, em 1934, escreveu uma
carta de felicitações ao colega Eugene Gosney, chefe da Human
Betterment Foundation [Fundação em prol do Aperfeiçoamento
Humano], sediada em San Diego. “Você desejará saber”, disse
Goethe por carta, “que seu trabalho desempenhou papel poderoso
na definição das opiniões do grupo de intelectuais que estão por trás
de Hitler neste programa que definirá toda uma era. Durante todo o
processo, percebo que suas opiniões foram tremendamente
estimuladas pelo pensamento americano e, em particular, pelo
trabalho da Human Betterment Foundation. Desejo que você, meu
querido amigo, carregue consigo este pensamento pelo resto de sua
vida”.27
Cobrindo Rastros
Foi Hitler, aponta o historiador George Fredrickson, que
“prejudicou o nome do racismo”.28 Na verdade, Fredrickson enfatiza
que o próprio termo “racismo” não passou a ter uso genérico antes
da década de 1930, então em conexão com a ascensão do Terceiro
Reich. Enquanto os antigos progressistas deleitavam-se na ocasião
de associar-se com Hitler, a partir da Segunda Guerra Mundial eles
passaram a trabalhar com afinco para encobrir pistas e enterrar todo
tipo de conexão entre a causa progressista e a causa nazista.
Um importante documento, neste enorme projeto que é a grande
mentira, é o livro do historiador Richard Hofstadter, Social Darwinism
in America [O Darwinismo Social na América]. Interessante notar, o
livro foi publicado em 1944, antes que os Aliados libertassem os
campos de concentração e as atrocidades nazistas fossem
totalmente expostas. Mesmo em 1944, no entanto, ter associação
com os nazistas tornou-se algo politicamente radioativo, e daí que
Hofstadter começou a trabalhar para redefinir o darwinismo social,
romper vínculos com o eugenismo progressista e vinculá-lo à direita
política.
Hofstadter, esquerdista uma vez já membro do Partido Comunista,
disse que se juntou ao partido porque “não gostava do capitalismo”.
Mesmo depois de romper com o partido, ele manteve animosidade.
“Odeio o capitalismo e tudo aquilo que o acompanha”.29 A
estruturação da grande mentira, agora por parte de Hofstadter,
implicava redirecionar o darwinismo social e transformá-lo no
fundamento filosófico do livre mercado, ou capitalismo laissez-faire.
Isso garantiria que, no futuro, a culpa do darwinismo social pudesse
ser colocada sobre “a direita”.
Hofstadter construiu seu argumento em torno da frase do
sociólogo inglês Herbert Spencer, “a sobrevivência do mais apto”.
Esta, insistiu Hofstadter, é a essência do capitalismo laissez-faire.
Precisamente falando, esse aspecto visceral da ideologia
darwiniana, prossegue Hofstadter, é o que os empresários
americanos mais acham conveniente no darwinismo social.
Hofstadter dedicou grande parte do seu livro a Spencer e ao
sociólogo americano William Sumner, que, de fato, invoca a retórica
da sobrevivência do mais apto para defender o capitalismo.
Sumner, no entanto, foi praticamente o único a fazê-lo. Hofstadter
parecia incapaz de localizar outros exemplos da América, nem
preocupado estava com indagar empresários americanos. Houvesse
feito, certamente teria descoberto que a maioria não tinha ouvido
falar do darwinismo social. Se homens assim tivessem alguma base
filosófica para a profissão, muito mais provável que fosse em Adam
Smith ou Friedrich Hayek, não em Charles Darwin ou Herbert
Spencer.
No fim de seu livro, Hofstadter faz algumas rápidas referências à
conexão entre o darwinismo social e a eugenia. Mesmo assim ele
deixa uma clara impressão de que se tratava de uma menor
associação e amplamente inesperada; em certo ponto, ele chama a
eugenia americana de “capricho”.30 Era, porém, como já notamos,
muito mais do que isso. Hofstadter não diz nada a respeito da forma
como o eugenismo dos progressistas inspirou leis de esterilização e
modelou programas eutanásicos na América, coisas que
reconhecidamente forneceram estrutura para programas de
esterilização e de eutanásia ao regime nazista.
Os progressistas foram depressa louvar a grande mentira de
Hofstadter, proclamando seu livro uma obra-prima, fator que o
ajudou a tornar-se modelo a ser seguido sobre o assunto. Desde
então, mesmo os historiadores simpatizantes de Hofstadter — como
o historiador progressista Eric Foner, ex-aluno de Hofstadter na
Universidade Columbia — reconhecem que as teorias do livro Social
Darwinism in America [O Darwinismo Social na América] são
profundamente falhas. A obra, contudo, continua a definir a
sabedoria convencional para a esquerda.
Trabalhos subsequentes lidando com a eugenia, como o livro In
the Name of Eugenics [Em Nome da Eugenia], de Daniel Kevles,
fazem apenas poucas referências aos fundamentos progressistas
do eugenismo e aos estreitos laços entre eugenistas do Partido
Progressista e eugenistas do Partido Nazista. Mesmo a obra The
Nazi Connection [A Interligação Nazista], escrita por Stefan Kuhl,
que documenta a íntima influência do eugenismo norte-americano
sobre a eugenia nazista, recai sobre o engano de Hofstadter de que
a própria eugenia é, em grande medida, uma causa direitista. Assim,
a influência de Hofstadter continua viva, na medida em que seu
trabalho ainda apoia e avança a grande mentira.
Em circunstâncias ordinárias, o engodo promulgado por
Hofstadter teria sido suficiente. Por meio dos seus esforços, a
esquerda teria enterrado o programa eugenista e transferido o
estigma do darwinismo social para a direita política. Com essa
manobra, no entanto, a esquerda pretenderia continuar com sua
agenda eugenista. Consequentemente, era necessário redefinir a
própria eugenia, para que ela então pudesse se passar por algo
diferente. Mas até mesmo isso não seria suficiente. Dando outro
nome à eugenia e ainda visando explicitamente populações
minoritárias, aos velhos moldes nazistas, a esquerda demonstraria
óbvio relacionamento com o nazismo.
O desafio à esquerda era formular uma nova agenda, uma que
renomeasse a eugenia e incorporasse seu programa em um quadro
novo e mais amplo. A historiadora Angela Franks nota que esse
quadro começou sob o nome de “controle populacional”, nas
décadas de 1960 e 1970.31 Inclusive, mesmo alguns eugenistas de
renome do regime nazista como Otmar von Verschuer declararam-
se pesquisadores do controle populacional e foram reintegrados na
comunidade progressista que ativamente promovia a causa.
Todavia, durante as últimas décadas, a eugenia tem marchado sob
uma nova bandeira, a bandeira “pró-escolha”.
Margaret Sanger, eugenista ávida, hoje é celebrada pela Planned
Parenthood como preciosa defensora da “escolha”. É dificílimo de
encontrar nos folhetos da Planned Parenthood referências à
eugenia e ao papel pioneiro que Sanger exerceu na organização.
Tudo isso faz parte da grande mentira; a verdadeira Sanger opunha-
se à escolha. Fácil notar, ela defendia que as populações ricas,
educadas e “aptas” deveriam ter mais filhos, já as mais pobres, sem
instrução e “inaptas” deveriam ter menos. Sanger, à semelhança de
Hitler, acreditava que escolhas reprodutivas deveriam satisfazer os
interesses maiores da sociedade e das espécies.
Sendo que Sanger rejeitava a “escolha”, como a agenda pró-
escolha da Planned Parenthood continua a avançar os objetivos
originais de Sanger? Afinal, uma verdadeira agenda pró-escolha
parece transferir a decisão do aborto para a mãe. Perceba a
profunda tragédia que é o aborto; não se trata de uma mãe
meramente matando uma criança, mas de uma mãe matando a sua
própria criança. O papel do Estado é simplesmente autorizar o
assassinato, torná-lo legal.
Embora a mãe faça a escolha, sua escolha não é feita no vácuo; a
Planned Parenthood faz propaganda ávida em prol do aborto e
também lobby em favor do financiamento federal para o
procedimento abortivo. Se o governo não pagar, a esquerda insiste,
então as mulheres pobres terão dificuldade de abortar. Com o
subsídio do governo, no entanto, a esquerda pode garantir não só
que a população mais pobre possa realizá-los, mas — o que é de
fato o caso — também que a maioria dos abortos neste país seja
realizada pelas proles minoritárias e mais pobres. Inacreditável
dizer, o antigo desejo eugenista é mais uma vez satisfeito, mas
desta vez no quadro supostamente neutro da “escolha”.
Para entender o radicalismo do apoio da esquerda ao aborto
financiado pelo governo federal, basta considerar que o aborto como
direito não é mencionado na Constituição. No entanto, ainda que
fosse considerado direito constitucional, nenhum dos outros direitos
fundamentais é financiado pelo governo. Ainda que a Primeira
Emenda disponha o direito à livre expressão e à livre prática da
religião, ainda assim nenhum deles é subsidiado pelo governo. A
Segunda Emenda garante o direito de portar armas, mas o governo
não as paga. É direito constitucional o reunir-se em grupos para
determinados fins, mas o Estado não subsidia tal direito. Assim, a
esquerda quer um tipo de apoio federal para a causa do aborto que
nenhum desses direitos fundamentais recebe. Ademais, o apoio
federal transforma o aborto, que antes era um homicídio sancionado
pela força estatal, num assassinato patrocinado pelo Estado.
Até hoje, mais de cinquenta milhões de crianças não nascidas
foram mortas na América após a decisão da Suprema Corte em
1973, no caso Roe vs Wade. Verdade seja dita: trata-se de um
genocídio numa escala que supera o Holocausto nazista. O que é o
aborto, senão uma eutanásia para bebês? Desse modo a esquerda
prosperou além dos sonhos mais selvagens de Sanger, mesmo
após desenterrá-la com seus registros eugenistas e transformá-la
em ícone cultural, da forma como Mengele gostaria de ser
lembrado. Quão orgulhosos e até mesmo invejados Sanger e os
nazistas seriam se estivessem vivos para contar história. Para os
progressistas, a grande mentira valeu muitíssimo a pena.
Onde a esquerda obteve essa nova estratégia eugenista? Pensei
muito acerca disso, então finalmente entendi. Eles a conseguiram
desenterrando o próprio passado, a partir de uma abordagem
democrata centenária, o método de lidar com a escravidão.
“Escolha”, afinal, era a palavra de ordem dos democratas do Norte
liderados pelo senador Stephen Douglas, de Illinois. Douglas
lançava mão de sua doutrina da “escolha” para apoiar a instituição
da escravatura sulista enquanto, ao mesmo tempo, era ainda capaz
de garantir aos eleitores do Norte que ele próprio não estava
defendendo a escravidão.
Cabe lembrar o significado central da infame doutrina de Douglas
acerca da “soberania popular”. Ele defendia que cada estado, cada
território e cada comunidade tinham de decidir por si se queriam ou
não a escravidão. Douglas dizia não endossar pessoalmente a
escravidão, mas que sua opinião sobre o assunto era irrelevante.
Vivemos em um país grande, dizia ele, em que as pessoas possuem
opiniões diferentes. Portanto, concordemos em discordar e
coloquemos o poder de decisão nas mãos de cada estado ou
comunidade. Dessa forma o direito de escolha passa a ser supremo.
A soberania popular, em outras palavras, é uma ideologia pró-
escolha.
O argumento de Douglas é idêntico na forma, e quase idêntico na
substância, à ideologia pró-escolha agora empregada pela esquerda
para defender o aborto como direito. Toda a cadência da retórica de
Douglas é completa e estranhamente familiar. Claro que a esquerda
de hoje fala em termos de escolha individual, enquanto Douglas
falava em termos de cada comunidade fazendo uma escolha por si
mesma. Mas essa é a única diferença, e ela é insignificante.
No mais, as duas posições formam a mesma posição. Ouvimos
hoje da esquerda a mesma afirmação de “escolha” que Douglas
asseverava há quase um século, mas sem considerar o conteúdo de
tal escolha. Assim como Douglas ignorou os direitos dos escravos,
presumindo que eles não teriam interesse pela própria liberdade, de
igual maneira a esquerda ignora o direito à vida da prole em
desenvolvimento, pressupondo que eles não têm interesse por viver
ou morrer. O feto de hoje, tal qual o escravo de antigamente, é
considerado uma ferramenta para benefício e conveniência de outra
pessoa. Ele ou ela não é um ser humano, ou ao menos é um ser
humano, mas totalmente descartável. Nesse sentido, a mentalidade
nazista, letal e desumanizadora, perdura.
Capítulo Sete
Führers
Americanos

Muitas passagens no livro do presidente Roosevelt


poderiam ser escritas por um nacional-socialista.
Supõe-se que ele tenha uma afinidade considerável
com a filosofia do nacional-socialismo.1
Crítica do Völkischer Beobachter, jornal nazista, ao livro
de Franklin D. Roosevelt intitulado Looking Forward

No início da década de 1930, a administração recém-inaugurada de


Roosevelt tomou uma decisão fatídica. Decidiu não tentar fazer da
América um país socialista. O socialismo, é claro, exigiria uma
nacionalização extensiva da indústria. Com efeito, o governo
assumiria o setor privado: bancos, setores de comunicação, energia,
saúde, educação e assim por diante. Estritamente falando, o
socialismo envolve trabalhadores que detêm os meios de produção.
Ao tentar superar a Grande Depressão, Franklin D. Roosevelt (FDR)
e sua equipe progressista claramente rejeitaram o caminho
socialista.
Mas que caminho eles escolheram então? Aqui a narrativa
esquerdista entra em cena. De acordo com os biógrafos
progressistas de FDR, ele escolheu um “caminho intermediário”
entre o socialismo e o capitalismo, o caminho do bem-estar social.
Ao fazê-lo, transformou o progressismo no salvador do capitalismo
americano. O progressismo — esta história conta — resgatou a
economia americana e supriu os meios para vencer a Segunda
Guerra Mundial. Nesse rumo, FDR é o herói canonizado do
progressismo americano. Os presidentes democratas subsequentes,
de Lyndon Johnson a Obama, procuraram expandir o poder do
Estado, invocando o modelo de FDR.
A Grande Sociedade de Johnson ergueu-se conscientemente com
base no New Deal de FDR. E os funcionários de Obama, ao longo
de oito anos, nunca se cansaram de ressoar FDR, não só para
pressionar o programa Obamacare, mas também para comparar as
ações de Obama na onda da crise hipotecária de 2008 às ações de
FDR na onda da quebra do mercado de ações de 1929. Em
essência, Obama fez com que o governo federal adquirisse as
indústrias bancárias e financeiras — novamente, não uma
nacionalização real, mas um capitalismo gerido pelo Estado, no qual
o governo efetivamente controlava essas indústrias e ditava-lhes o
que fazer.
Por meio do programa Obamacare, os progressistas
estabeleceram o controle estatal sobre o setor de cuidados de
saúde, um sexto de toda a economia. Por meio dos poderes de
regulamentação da Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos (APA) e de outras agências, o governo federal manipula
ativamente — embora ainda não controle — a indústria de energia.
Durante a campanha de 2016, Hillary e Bernie avançaram propostas
que aumentariam o controle do governo sobre o ensino superior. Por
meio do sistema de escolas públicas, o governo, é claro, já controla
grande parte do ensino fundamental e secundário.
Embora os progressistas continuem a retratar essas medidas
como um “caminho intermediário” entre o socialismo e o capitalismo,
há um nome técnico para tanto: fascismo. Isso é o que fascistas
como Giovanni Gentile e Mussolini realmente defendiam. Eles não
eram favoráveis à propriedade do Estado socialista; Gentile e
Mussolini sabiam que seus companheiros socialistas não tinham
ideia de como gerir as indústrias. Em vez disso, eles defendiam o
capitalismo estatal, colocando a força industrial do setor privado às
ordens do Estado. Os nazistas tinham seu próprio termo para isso,
Gemeinnutz vor Eigennutz, que significa o bem comum acima do
bem individual. FDR, como a maioria dos progressistas modernos,
compreendeu este sentimento e o compartilhou.
Agora, a essa altura, convém dar uma pausa para reconhecer
uma erupção progressista. Como é possível supor — prossegue o
argumento — algum tipo de fascismo em se tratando de FDR? Não
foi ele quem lutou contra os fascistas? Não foi a América, sob a
liderança de FDR, que derrotou Hitler e os nazistas? Do ponto de
vista da esquerda, é absolutamente imoral a qualquer um que se dê
ao respeito alegar uma relação entre o sagrado FDR e os fascistas
e nazistas, que eram genocidas. Hitler assassinou milhões de
judeus, mas FDR os libertou dos campos de morte e trouxe de volta
para casa os sobreviventes do Holocausto judeu.
“Ele salvou a América da Grande Depressão e dos nazistas”. É
assim que FDR é lembrado. E é por isso que historiadores
progressistas, como Arthur Schlesinger Jr. e William Leuchtenburg,
o consideram um dos maiores presidentes, se não o maior. Mesmo
alguns da direita caíram nesse discurso. “Como FDR Salvou o
Capitalismo” [How FDR Saved Capitalism] é o título de um artigo de
Seymour Martin Lipset para o periódico Hoover Digest. A revista
Economist resume o legado de FDR na seguinte manchete: “O
Homem que Salvou seu País e o Mundo”.2 Desta perspectiva, longe
de ser fascista ou nazista, FDR deve ser visto como o precursor dos
progressistas de hoje que se autodenominam antifascistas.
Essa narrativa progressista contém uma molécula de verdade em
meio a um sistema inteiro de absurdos. Concordo, FDR é o
precursor dos progressistas que hoje autodenominam-se
antifascistas. Contudo, simplesmente insisto que tanto FDR quanto
sua progênie moderna estão muito mais próximos do fascismo e do
nazismo do que eles se permitem admitir. FDR é aquele que
colocou a esquerda moderna em seu caminho fascista. Para
entender isso, é preciso começar por dissipar o miasma da criação
de mitos progressistas.
Em primeiro lugar, FDR não derrotou Hitler. Pode-se dizer que a
América sob FDR, e mais tarde sob Truman, derrotou o Japão
Imperial tomando a liderança na batalha pelo Pacífico e, finalmente,
soltando as duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Mas,
como o historiador Richard Evans escreve em seu livro The Third
Reich in History and Memory [O Terceiro Reich na História e na
Memória], “a União Soviética foi a força decisiva na derrota da
Alemanha”.3 Evans nota que a Wehrmacht foi destruída em seu
fracassado esforço de dominar Moscou e Stalingrado e pelo
subsequente contra-ataque soviético. No máximo, FDR ajudou a
acelerar a derrota final de Hitler, abrindo uma nova frente no teatro
europeu, fornecendo ao exército soviético auxílio Lend-Lease
(Empréstimo e Arrendamento) e remessas de suprimento militar
americano. Nada disso é para depreciar o heroísmo da “maior
geração” dos Estados Unidos; é, no entanto, para não dar louvor a
FDR onde o crédito não lhe é devido.
De fato, a América libertou os cativos dos campos de
concentração alemães, mas estes eram campos de trabalho, e é
portanto que neles havia sobreviventes, embora a maioria não fosse
de judeus. Como o historiador Timothy Snyder mostra em seu livro
Terras de Sangue: A Europa Entre Hitler e Stalin, a América não
libertou nenhum campo de extermínio; todos estavam no território
ocupado pelos soviéticos. “O Exército Vermelho libertou Auschwitz”,
escreve Snyder, “e também libertou os campos de Treblinka,
Sobibor, Belzec, Chelmno e Majdanek. As forças americanas e
britânicas não presenciaram nenhum dos principais locais de
extermínio”.4 Praticamente não havia sobreviventes desses
campos, nem os soviéticos poderiam preservá-los, já que os
alemães destruíram as estruturas antes de evacuá-los.
Em segundo lugar, FDR e a Grande Depressão. Atualmente,
mesmo os historiadores progressistas como Ira Katznelson admitem
que FDR não salvou os Estados Unidos da Grande Depressão, que
só crescia mais e mais profundamente durante seu mandato.
“Mesmo quando a recuperação econômica começou”, escreve
Katznelson, “esta provou ser fútil, permanecendo bem abaixo dos
níveis do fim da década de 1920 pela maior parte da década de
1930”.5 O que verdadeiramente levantou a América da depressão
econômica não foi a política do New Deal, mas sim o vigor
empreendedor, a proeza em manufatura e a pura ética trabalhista
dos americanos na era pós-guerra.
É claro que FDR levou a América à luta contra a Alemanha de
Hitler e a Itália de Mussolini, mas isso dificilmente prova que ele,
FDR, não teve afinidades com o nazismo ou com o fascismo. Por
analogia, Martinho Lutero liderou os protestantes em uma luta
contra a Igreja Católica, mas a partir disso é possível concluir que
Martinho Lutero não teve afinidades com o cristianismo? Pelo
contrário, Lutero e seus seguidores eram cristãos devotos, não
menos que os católicos. A Reforma foi uma luta intramuros entre
dois grupos de cristãos em contenda — uma luta, pode-se dizer,
dentro da casa da cristandade.
Da mesma maneira, a luta entre as facções xiitas e sunitas
dificilmente prova que uma ou outra não seja islâmica. Ambas são
islâmicas e, de fato, suas crenças teológicas são praticamente
idênticas. A principal diferença repousa sobre a linha de sucessão
de Maomé. No entanto, esta diferença, aparentemente supérflua,
não impediu o surgimento de conflitos sangrentos entre as duas
facções muçulmanas. E mais outro caso, na Rússia, os conflitos
amargos entre leninistas e trotskistas no início do século XX
refletiram uma disputa intramuros dentro do mesmo campo
ideológico. Como mostram esses exemplos, lutas incessantes e
amargas podem surgir entre parentes ideológicos. É o mesmo que
acontece entre familiares do mesmo sangue.
Assim, também, a luta entre FDR, Hitler e Mussolini foi uma
batalha intramuros, uma guerra por poder entre líderes
esquerdistas, antes amigáveis uns com os outros, todos de uma
ideologia coletivista partilhada.
Mas, para melhor entendimento, antes é preciso remover as
barreiras visuais do período que sucedeu à Segunda Guerra
Mundial, empecilhos postos pela historiografia de esquerda. Faz-se
necessário recuperar o mundo de FDR antes da guerra, antes que
tudo fosse reduzido a estilhaços e detritos — quero dizer, detritos
ideológicos —, varridos progressivamente numa operação de
limpeza progressista. Ouçamos aqueles em quem FDR e o seu
cérebro confiam e o que os aliados ideológicos realmente disseram
a respeito do fascismo e do nazismo; é preciso ouvir também o que
os fascistas e nazistas — Mussolini e Hitler inclusos — falaram
sobre FDR. Essa investigação produz uma imagem completamente
diferente daquela construída por livros didáticos progressistas e pela
grande mídia.
Antes de embarcar nessa pesquisa, gostaria de visualizar uma
das minhas conclusões, respondendo à seguinte pergunta: o
progressismo é realmente um meio termo entre o socialismo e o
capitalismo? Claro que não, nem mais do que o fascismo. O
absurdo total do caminho intermediário, “do meio”, faz parte da
grande mentira. Na realidade, o socialismo, o fascismo e o
progressismo são três formas semelhantes de esquerdismo —
embora não idênticas. Todas as três marcham na mesma direção,
longe do capitalismo liberal; logo não há tal coisa como uma via
intermediária.
Das três vias esquerdistas, uma delas, o socialismo, vem
desaparecendo, conquanto ainda galgada, ao menos em teoria, nas
principais universidades americanas. Quanto à doutrina fascista, o
fascismo formal está morto, contudo demonstrarei neste capítulo
que o fascismo continua a permear todo o progressismo americano
moderno. A economia progressista é essencialmente idêntica à
fascista; todo o conceito fascista de governo e sua exigência de que
o indivíduo sujeite-se ao Estado são a cause célèbre da esquerda
americana atual. É algo tão real hoje quanto na década de 1930.
A esse respeito, FDR foi quem inventou o fascismo americano,
nosso duce, ou führer, ainda que seu caminho tenha sido
pavimentado por Woodrow Wilson, seu antecessor proto-fascista.
Teço meu argumento expondo as decisões de Wilson e de FDR,
permeadas de elementos fascistas, exibindo a admiração mútua,
durante a década de 1920 e 1930, entre os americanos
progressistas, de um lado, e os fascistas italianos e alemães
nazistas, do outro. Ao longo deste processo, devo descortinar as
grandes mentiras progressistas. Exemplo é quando o historiador
William Leuchtenburg defende que “O Estado Corporativo de
Mussolini não enxerga a existência de um seguimento americano”.6
Como mais adiante será exposto, nada poderia estar mais distante
da verdade.

Aconteceu Aqui
Voltando aos Estados Unidos, vinda de Roma, onde trabalhava de
correspondente para o jornal New York Times, Anne McCormick
notou algo muito marcante. A atmosfera em Washington dois meses
após a posse do presidente Franklin D. Roosevelt (FDR), ela
escreveu para o Jornal em 7 de maio de 1933, “é uma estranha
reminiscência da Roma nas primeiras semanas após a Marcha dos
camisas negras”. McCormick achava aquilo estranho, porém
agradável. E mencionou a semelhança não para criticar o então
presidente, mas para louvá-lo. Do que ela mais gostou em FDR foi
que ele estava agindo feito Mussolini e modelando o Estado do New
Deal conforme o fascismo italiano.
Em Roma, McCormick ganhou a reputação de ser um dos muitos
correspondentes estrangeiros progressistas apaixonados pelo
regime de Mussolini. Ela costumava relatar acerca da
“solidariedade” que os italianos sentiam pelo “impulso” à ditadura de
Mussolini. “É possível perceber”, escreveu algumas semanas após a
incursão ao território etíope comandada por Mussolini, “uma
manifestação notável — uma nação movendo-se numa espécie de
transe —, encantada, convicta de ser invencível em força”. Quanto a
McCormick, o historiador John Diggins escreve no livro Mussolini
and Fascism [Mussolini e o Fascismo] que “por quase vinte anos ela
carregou um caso de amor político com uma Itália idealizada e por
seu nobre líder”.
De volta à América, McCormick sentia igual paixão por FDR, cuja
administração, escreveu ela, “prevê uma federação de indústria,
trabalho e administração pública segundo os moldes do Estado
Corporativo tal como existe na Itália”. O Congresso havia aprovado
uma legislação que “conferiria ao presidente a autoridade de
ditador”. Era “uma espécie de poder unânime de procuradores” em
que “todos os demais poderes — indústria, comércio, finanças,
trabalho, do fazendeiro ao chefe de família, estado e cidade —
praticamente abdicam em seu favor”. O estado de espírito nacional,
bem como o de McCormick, era a favor da ditadura. “A América hoje
literalmente pede ordem. Ninguém está lá muito incomodado com a
ideia de uma ditadura”.7
Ao mesmo tempo, outros na mídia comparavam FDR com o novo
líder da Alemanha, Adolf Hitler. Hitler, tal qual FDR, ascendeu ao
poder por meio do processo democrático. Claro que até então ele
havia se tornado, como Mussolini, um ditador, termo que não tinha o
mau cheiro que tem agora. McCormick e outros não hesitaram em
chamar FDR de ditador ou mesmo exortá-lo a tornar-se um. Os
ditadores eram vistos como figuras resolutas, que de fato faziam as
coisas acontecer. Eles alegavam representar a vontade genuína e o
espírito de seu povo.
A visão da esquerda na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos
era a de que sociedades estruturadas funcionariam melhor sob a
mão firme de um único líder. “Hitler é a Alemanha e a Alemanha é
Hitler”, gostava de dizer Rudolf Hess. Esta era a expressão clássica
do que se pode chamar de princípio da infalibilidade da liderança, ou
Führerprinzip. Da mesma forma os italianos gostavam de dizer que
“Mussolini é a Itália e a Itália é Mussolini”. FDR e os progressistas
apreciavam essa forma de pensar. O Führerprizip na Alemanha e
seu equivalente na Itália refletiam de perto a própria visão de FDR
— ecoada na mídia progressista —, de que FDR é a América e a
América é FDR.
Esse sentimento por parte de McCormick e outros não era uma
visão de outliers, de alguns poucos caprichosos. Pelo contrário, era
o sentimento progressista como um todo e, até certo ponto, a
principal linha de pensamento durante a era inicial de FDR. Até
mesmo as revistas Saturday Evening Post e Fortune falavam em
termos semelhantes. Atente-se à recepção concedida ao
extravagante ministro das Forças Aéreas de Mussolini, Italo Balbo,
na ocasião em que veio à América, em 1933, para participar da
Feira Mundial de Chicago.
Balbo havia sido um dos primeiros camisas negras da Itália.
Tendo crescido em sua região natal, Ferrara, foi um dos primeiros a
aderir ao Partido Fascista e um dos principais organizadores da
Marcha sobre Roma. Nada disso impediu que Balbo fosse
apresentado na capa da revista Time de 26 de junho de 1933, com
um artigo anexo apresentando os triunfos fascistas na tecnologia de
aviação como um exemplo ao qual a América poderia seguir.
No dia 20 de julho de 1933, o presidente Roosevelt ofereceu um
almoço na Casa Branca em honra a Balbo e condecorou-o com a
Cruz de Voo Distinto. Balbo disse ao presidente que voltaria para
casa, mas FDR o convenceu a ficar mais tempo e fazer um tour por
todo o país. De acordo com o New York Times, o “Ministro das
Forças Aéreas deixou a Casa Branca com o rosto cheio de
sorrisos”.
Os assessores de FDR organizaram para Balbo um enorme
desfile no centro de Nova Iorque, após o qual discursou sobre as
virtudes do regime fascista para 65 mil democratas no complexo
Madison Square Garden. Balbo ecoou Mussolini ao dizer: “A
existência do sentimento antifascista no exterior é um mito”, um mito
“desmascarado pela recepção entusiasta que meu esquadrão aéreo
recebeu na América”.8
Enquanto os grandes meios de comunicação progressistas
estimulavam o sentimento público em favor do regime de Mussolini,
os progressistas das universidades de elite da América cortejavam
Adolf Hitler. Sete meses após a queima de livros na Alemanha, em
1933, a Universidade Columbia convidou o embaixador alemão para
discursar no câmpus, onde foi introduzido pelo presidente da
universidade, Nicholas Murray Butler. Paul Hollander, cientista
político, relata que a Universidade Columbia “mantinha relações
amigáveis com instituições acadêmicas e representantes da
Alemanha nazista”.9
Em 1934, o presidente de Harvard, James Conant, ofereceu um
chá em sua casa para Ernst Hansfstaengl, chefe do Gabinete de
Imprensa Nazista sob o Ministério da Propaganda de Joseph
Goebbels. Hansfstaengl era amigo íntimo de Hitler e jantava em sua
casa com frequência. Hitler gostava de escutar Hansfstaengl
interpretando no piano as vibrantes marchas de futebol de Harvard.
Ele gostava em especial da parte final com o grito de guerra:
“Harvard, Harvard! Rah! Rah! Rah!”. Hitler deu a Hansfstaengl o
afetuoso apelido de “Putzi”, cujo filho, Egon, referia-se
calorosamente a Hitler como “tio Dolf”.
Durante a ascensão de Hitler ao poder, Hansfstaengl ajudou a
financiar a publicação do livro Mein Kampf e também a compra do
Völkischer Beobachter, que veio a tornar-se o jornal oficial do
Partido Nazista. Embora certo rabino de Boston estivesse incitando
um protesto de judeus, o periódico estudantil Harvard Crimson
repudiava os críticos e ainda pedia que Hansfstaengl, ex-aluno de
Harvard, recebesse um diploma honorário “apropriado para sua alta
posição” no governo de “uma grande e profunda nação”.10
Naquele mesmo ano, os mais importantes professores,
administradores e líderes estudantis de Harvard visitaram o navio de
guerra nazista Karlsruhe quando este atracou no porto de Boston,
hasteando a bandeira da suástica. O grupo de Harvard também
participou de uma recepção de gala em que o capitão do navio de
guerra tecia elogios a Hitler. Em 1936, Harvard enviou uma
delegação acadêmica para comemorar o aniversário da
Universidade de Heidelberg. O evento foi boicotado pelas
universidades britânicas por ser altamente politizado, no sentido de
apresentar o nazismo de forma positiva. Presentes, misturando-se
com a delegação de Harvard, estavam o teórico nazista Alfred
Rosenberg, o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels e o líder da
SS, Heinrich Himmler.11
Na frente cultural, outro admirador de FDR, o compositor Cole
Porter, compôs uma melodia cativante em 1934 com a seguinte
letra: “Você é o maior! Você é o grande Houdini! Você é o maior!
Você é Mussolini”. Não é assim que a música é cantada hoje, pois
Porter mais tarde viria a mudar a letra, quando os progressistas
perceberam que lhes seria embaraçoso, assim como seria para
qualquer um na América, ter ligações com Mussolini. Daí Cole
Porter associou-se à grande mentira. Suas letras originais, junto das
obras de McCormick, do circuito percorrido por Balbo e da conexão
Harvard-Hitler, têm, como consequência dos esforços progressistas,
simplesmente desaparecido na neblina da História.

O Proto-Fascista
Embora este capítulo concentre-se em FDR — nosso führer norte-
americano não reconhecido —, a história estaria incompleta sem
começar com o presidente progressista que o precedeu quase duas
décadas, Woodrow Wilson. FDR, lembre-se disso, era o secretário
da Marinha na administração de Wilson, mas durante o mandato e
os anos subsequentes jamais discordou publicamente de qualquer
ação de Wilson descrita aqui. Na verdade, FDR e sua equipe
falaram abertamente do New Deal como continuação das políticas
de Wilson. Conforme mostro, esse foi um caso do proto-fascismo de
Wilson, caso esse maturado no fascismo mais desenvolvido da era
FDR.
Wilson, é claro, precedeu Mussolini e Hitler. É por isso que eu o
chamo de proto-fascista. Não digo que ele teria sido fã do
verdadeiro fascismo, mas que foi um precursor, visto que seu
regime revela tensões fascistas mesmo antes de haver um nome
oficial a descrevê-las. Para entender o proto-fascismo, considere o
debate acadêmico que discute se o filósofo Nietzsche era ou não
proto-fascista. Nietzsche morreu na década de 1880, então,
obviamente, não existe associação direta entre ele e o fascismo.
Estivesse vivo na época, provavelmente teria ficado horrorizado com
Hitler e Mussolini. Nietzsche detestava o nacionalismo alemão nem
era ele antissemita.
Por outro lado, Nietzsche foi um dos pensadores favoritos de
Mussolini, que, em sua época, disse “A ambição por poder na
Europa é representada unicamente pelo fascismo”. Hitler visitou os
arquivos de Nietzsche em Weimar e lá, desejoso de expôr o
entusiasmo que tinha pelo filósofo, foi fotografado por seu fotógrafo
pessoal, Heinrich Hoffman. Hitler também enviou a Mussolini uma
edição, até então recente, das obras completas de Nietzsche, com
dedicatória autografada. Esse passou a ser um dos bens mais
preciosos de Mussolini.
Se Nietzsche rejeitava explicitamente o nacionalismo e o
antissemitismo, o que é que havia nele para despertar tamanho
interesse nesses homens? Nietzsche falava em termos de criar não
apenas um übermensch, ou super-homem, mas uma raça de super-
homens, uma raça superior para governar o mundo. Nietzsche
também falava do untermenschen, os povos inferiores que deveriam
ser eliminados ou exterminados por meio da guerra ou da eugenia
numa inevitável luta por poder. Assim fica fácil entender por que tais
ideias eram apelativas a Hitler.
Livre das restrições morais do cristianismo — as quais Hitler e
Mussolini também criticavam —, Nietzsche deleitava-se ao pensar
em povos, que ele então considerava inferiores, sendo apagados da
terra. “Que venha uma tempestade”, ele escreve em Vontade de
Potência, “e derrube da árvore esta fruta podre e devorada por
vermes”. Mais uma vez, vislumbre os nazistas e os camisas negras
vibrando. E logo, cortesia de Hitler e Mussolini, a tempestade
chegou. Por isso, posso entender por que Hitler e Mussolini
apreciavam Nietzsche; e, qualificando-o adequadamente, eu o
considero proto-fascista.12
Da mesma forma era Wilson. O que ele, um discípulo de Hegel,
mais gostava no filósofo alemão era a apoteose hegeliana de um
Estado todo-poderoso. Tendo estudado sob mentores alemães, o
modelo de governo de Wilson foi extraído da experiência militarista
da Prússia de Bismarck. Wilson ridicularizava os Pais Fundadores
— primeiro presidente americano a fazê-lo —, chamando suas
ideias sobre direitos individuais, poder descentralizado e freios e
contrapesos de simplórias e obsoletas. Wilson preferia um modelo
de poder centralizado com ele próprio no leme e toda a sociedade
em obediência inerte a ditames do esquerdismo progressista. Como
Giovanni Gentile reconheceria ser este, mesmo sem ainda ser
chamado pelo nome, o significado essencial do fascismo.
É certo que dar a Wilson o título de proto-fascista soará absurdo
àqueles que, criados sob a fúria progressista, aprenderam que
Wilson é um campeão da democracia global e defensor do direito à
autodeterminação a todos. Com efeito, Wilson teve a chance de
promover ambos, mas, no fim das contas, não fomentou nenhum.
Houvesse lutado ativamente pela autodeterminação da Alemanha
logo após a Primeira Guerra Mundial, Wilson poderia ter impedido a
Segunda Guerra.
Uma das queixas mais amargas de Hitler — atingindo acorde
ressonante com seus companheiros alemães — era a de que seu
país jamais teria buscado a paz na Primeira Guerra se soubesse
que seria quase que completamente privado de seus direitos à
autonomia e à autodeterminação. A maioria dos historiadores
reconhece que termos mais sensatos do que os que foram impostos
à Alemanha em Versalhes poderiam ter impedido a ascensão de
Hitler ao poder, assim prevenindo uma Segunda Guerra Mundial.
Wilson poderia ter insistido e logrado êxito, mas não o fez. Portanto,
atenue-se o disparate retórico de Wilson diante da realidade
histórica.
Não cabe concentrar-se apenas no que Wilson disse, mas em
duas coisas que ele fez. Primeiro, não só nos moldes fascistas, mas
também nos do nacional-socialismo, Wilson pôs em prática políticas
racistas sobre todo o governo federal e ajudou a reviver a inativa
organização terrorista e racista, Ku Klux Klan. Em segundo lugar,
Wilson suprimiu as liberdades civis dos americanos de uma maneira
nunca antes vista; seria necessário ir à Itália de Mussolini e à
Alemanha nazista para encontrar comparações mais próximas.
Os progressistas estão conscientes disso e, com tanto, confessam
profunda confusão. Escrevendo no Christian Science Monitor,
Randy Dotinga enumera “5 fatos surpreendentes” acerca de Wilson,
um dos quais que ele era “atrasado e intolerante quando se tratava
de raça”. Dado o progressismo de Wilson, Dotinga acredita ser esta
“a maior contradição de todas”. Aqui, Dotinga, um jornalista, ecoa
historiadores como Arthur Link, editor dos artigos de Wilson, e John
Milton Cooper, que exercia posição semelhante sobre o então
presidente. Cooper, por exemplo, classifica o comportamento
intolerante e tirânico de Wilson de “intrigante”, um “mistério”,
perguntando-se como “uma pessoa tão arguta e cheia de ideias
como Wilson deixou isso acontecer”.13
A essa altura, espero que meus leitores estejam sorrindo,
percebendo o território da grande mentira em que estamos pisando.
A mentira está na pretensão de que existe algo estranho ou
anômalo em relação a um progressista como Wilson ser racista,
supressor das liberdades constitucionais e proto-fascista. O objetivo
deste livro está em demonstrar que esse é o curso previsível, se não
inevitável, do progressismo e da esquerda. Wilson, óbvio dizer, era
racista, como a maioria de seus antecessores democratas desde
Andrew Jackson. E, é claro, ele estava envolvido em supressões
das liberdades individuais aos moldes fascistas; é assim que os
coletivistas de todos os tipos costumam proceder uma vez que
assumem o poder.
O racismo de Wilson pode ser destacado pelo cumprimento da
segregação em todo o governo federal. Muitos não percebem que,
embora as legislaturas estaduais dominadas pelo Partido
Democrata tenham difundido a segregação por toda a região do Sul,
o governo federal de Washington, D.C. não havia se segregado
desde o fim da Guerra Civil. Wilson então reverte a situação e
institui a segregação em basicamente todas as divisões do governo
federal.
As ações de Wilson foram amargamente protestadas pelo
principal porta-voz da América negra, Booker T. Washington, que
era republicano. Quando um grupo de líderes negros, incluindo a
jornalista republicana Ida B. Wells, confrontou Wilson, ele disse que
deveriam agradecer-lhe, afinal a segregação era, em grande parte,
para o benefício dos negros. Wilson era, como Chris Myers Asch
escreve no Washington Post, um “supremacista branco
descarado”.14
Seus aliados mais próximos no Congresso eram democratas, e
ainda mais racistas do que o próprio Wilson. Quando a questão
sobre os Estados Unidos juntarem-se à Sociedade das Nações
chegou ao Congresso, James Reed, senador democrata, irrompeu:
“Imagine submeter questões envolvendo a própria vida dos Estados
Unidos a um tribunal em que se senta um negro da Libéria, um
negro de Honduras, um negro da Índia”.15 Como bom
internacionalista e progressista, Wilson era, é claro, a favor da
Sociedade das Nações, mas também impediu que posturas racistas
fossem sentenciadas no Tratado de Versalhes e nunca pronunciou
nem ao menos uma palavra condenatória sobre a violência retórica
racial contra negros e outras minorias por parte de seus
companheiros progressistas.
Wilson também ajudou a reviver a Ku Klux Klan. Curiosamente,
esse foi o resultado de uma única exibição do filme The Birth of a
Nation [O Nascimento de uma Nação], de David W. Griffith, que
retrata a Ku Klux Klan como a salvadora do Sul. Apesar da
tecnologia restrita da época, o filme agora é reconhecido como uma
obra-prima cinematográfica. Eu o considero como um dos filmes de
propaganda mais poderosos já produzidos. A esse respeito, ele
prenunciou os brilhantes filmes de propaganda de Leni Riefenstahl,
Victory of Faith [Vitória da Fé] e Triumph of the Will [Triunfo da
Vontade], ambos retratando Hitler como o salvador da Alemanha.
A pedido de Griffith, Wilson fez com que o filme The Birth of a
Nation fosse exibido na Casa Branca, com o seu gabinete e outros
amigos de influência presentes. Após a exibição, de acordo com
Griffith, Wilson descreveu o filme como “terrivelmente verdadeiro” e
“é como escrever a História com raios”. Já hoje alguns progressistas
questionam se Wilson realmente disse isso, pois não há
corroboração suficiente em seus arquivos. Contudo, também não há
motivo para duvidar da veracidade de Griffith nesse ponto.
Imediatamente após a exibição, houve um reavivamento da Klan
por todo o país, o que testemunhou tanto o poder do filme quanto do
evidente endosso de Wilson. Anteriormente, a KKK estava
sobretudo no Sul democrata; depois, então, de acordo com o
historiador David Chalmers, a KKK espalhou-se do “estado de
Maine ao da Califórnia”. De repente, havia ramificações da KKK em
Oregon, Colorado, Wisconsin, Ohio, Pensilvânia e Nova Jersey.16
Com isso não quero dizer que era esse o desejo de Wilson, mas a
maioria dos historiadores concorda que a exibição do filme na Casa
Branca conferiu à Ku Klux Klan nova legitimidade e popularidade.
Durante a Primeira Guerra Mundial, Wilson criou um Ministério da
Propaganda, servindo de precursor a ministérios similares criados
por Mussolini e Hitler. Quanto ao assédio e à intimidação da
imprensa e da oposição política que precisou enfrentar, Jonah
Goldberg escreve que a operação de Wilson foi mais efetiva — em
outras palavras, implacável — do que a de Mussolini.
Os capangas de Wilson até viraram seu veneno contra cidadãos
comuns, encorajando crianças a espionar seus pais e vizinhos, e
vizinhos a espionar outros vizinhos. Eles incentivavam vigilantes a
ameaçar e até espancar inconformistas ideológicos. Numa frase que
facilmente poderia ter sido dita por Hitler ou Mussolini, Wilson
insistia que “a conformidade será a única virtude e qualquer homem
que se recuse a conformar-se terá de pagar o preço”.
É difícil imaginar um sentimento mais intolerante. Em
consonância, a administração de Wilson reprimiu de forma geral as
liberdades civis, posturas que fariam com que o macartismo da
década de 1950 parecesse brincadeira de criança; em essência,
qualquer crítica ao governo, até mesmo proferida em particular a um
amigo, poderia levar a pessoa para a cadeia. E, de fato, dezenas de
milhares de americanos foram detidos e presos sob as famosas
Palmer Raids. Goldberg escreve: “Mais pessoas foram detidas ou
encarceradas em alguns poucos anos sob o governo de Wilson do
que sob Mussolini durante toda a década de 1920”. Goldberg
conclui que, durante a Primeira Guerra Mundial sob Woodrow
Wilson, “a América tornou-se um país fascista”.17

Olhando para Mussolini


Se Wilson pode ser considerado o proto-führer dos Estados
Unidos, Franklin D. Roosevelt tornou-se, ao menos por certo tempo,
o real führer da América. Tal terminologia não é originária minha,
mas quem a cunhou foi simplesmente o principal jornal da
Alemanha, Frankfurter Zeitung, em um artigo que comparava FDR
com Hitler. O termo führer não significa nada mais do que “líder” ou
“líder supremo”, e o Frankfurther Zeitung não usou o termo com
intuito de insultar. Apesar de crítico das políticas de Hitler até ser
finalmente forçado à complacência, o jornal elogiava o estilo de
liderança do führer alemão. A publicação, ao referir-se a FDR como
führer americano, tinha por intenção o elogio.
Pretendo vindicar esse termo como aplicado a FDR mediante uma
demonstração de duas partes. Nesta seção, examino o entusiasmo
de FDR por Mussolini, não algo exclusivo a ele em si, mas que
representava um maior movimento de progressistas americanos que
olhavam para o fascismo italiano como modelo para a América.
Alguns da esquerda chegaram a buscar em Hitler o conceito de
liderança. E o entusiasmo foi recíproco: tanto Hitler quanto Mussolini
elogiaram FDR e viram no New Deal progressista uma realização,
pelo menos parcial, dos ideais do fascismo e do nacional-
socialismo. Convém dar uma espiada pela fechadura dessa
sociedade de admiração mútua.
Menciono, desde o início, que FDR, pessoalmente, não tinha
nenhuma simpatia por Hitler. Mas ele a tinha por Mussolini. Em carta
ao jornalista John Lawrence, admirador de Mussolini, FDR
confessou: “Não me importo em dizer, com confiança, que venho
mantendo um contato bastante próximo com esse admirável
cavalheiro italiano”. Em junho de 1933, FDR escreveu a seu
embaixador italiano, Breckinridge Long — outro admirador de
Mussolini —, referindo-se ao déspota fascista: “Não há dúvida de
que ele realmente se interessa pelo que estamos fazendo. Grande é
meu interesse e estou profundamente impressionado com o que ele
realizou e com seu propósito evidentemente honesto de restaurar a
Itália”.18
Do ponto de vista de FDR, Mussolini teve um início precoce na
expansão do poder do Estado, iniciando da maneira como o próprio
FDR pretendia começar. A Itália sob Il Duce parecia ter avançado
mais adiante na estrada progressista do que a América. Então FDR
pediu aos líderes de seu brain trust, grupo de conselheiros
especialistas, que visitassem a Itália e estudassem as políticas
fascistas de Mussolini, de modo a descobrir quais delas poderiam
ser integradas ao New Deal. FDR também enviou três integrantes
do seu Comitê de Gestão Administrativa à Roma para examinar a
estrutura administrativa e organizacional do governo ditatorial de
Mussolini. Novamente, com o objetivo de reorganizar a própria
gestão de FDR.
Rexford Tugwell, um dos conselheiros mais próximos de FDR,
retornou da Itália notando que “é certo afirmar que as mesmas
pessoas que se opõem a Mussolini são as mesmas que também se
opõem a FDR”. Mesmo assim, “ele parece ter feito enorme
progresso”. Tugwell ficou especialmente impressionado ao ver como
os fascistas italianos conseguiram superar a oposição política, da
imprensa e concretizar o que tinha de ser feito. Ele cita
favoravelmente a Carta del Lavoro, documento do fascismo italiano
produzido em 1927, que, aparentemente, impressionou-o muito
mais do que a Constituição americana. O fascismo, ele conclui, “é o
pedaço de maquinaria social mais limpo, mais organizado e eficiente
que já vi. É algo de me dar inveja”.19
Essa devoção bajuladora ao fascismo, por mais repulsiva que
aparente ser nos dias de hoje, naquela época era característica,
tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, ao sentimento que
líderes esquerdistas tinham por Mussolini. Na Inglaterra, George
Bernard Shaw, socialista fabiano, louvou Mussolini pelo
cumprimento de ideais socialistas. Em 1932, H. G. Wells,
romancista utópico e esquerdista, rogou por um “fascismo liberal”
para o Ocidente, enfatizando a necessidade de “nazistas
esclarecidos”. Encontraríamos, na Alemanha e na França, hinos
semelhantes aos do fascismo italiano compostos por
progressistas.20
A esquerda americana, no entanto, estava ainda mais consagrada
ao fascismo italiano do que a esquerda europeia. Ida Tarbell,
jornalista de esquerda, entrevistou Mussolini, em 1926, para a
revista McCall, e retornou cheia de louvores e elogios. Muckraker
Lincoln Steffens, notório em apoio à União Soviética, mais
conhecido por ter dito dela “Eu vi o futuro e ele funciona”, também
elogiou Mussolini por sua simpatia com a esquerda, dizendo com
entusiasmo que “Deus formou Mussolini da costela da Itália”.
Steffens não demonstrava preocupação diante da privação das
liberdades civis que o fascismo impunha, afirmando que a
verdadeira liberdade seria “uma medida do nosso senso de
segurança”. Durante a Grande Depressão, FDR disse aos
americanos que eles não tinham “nada que temer, exceto o próprio
medo”. Do mesmo modo Steffens, considerando Mussolini alguém
que tentava abolir o medo.21
Horace Kallen, escritor progressista, um dos primeiros defensores
do multiculturalismo, disse que era um “grande erro” julgar o
fascismo como meramente tirânico, observando que era, na justiça
social, “não muito diferente da revolução comunista”. Ambos os
sistemas, disse ele, deram aos cidadãos um senso de unidade;
seria, assim, dever nosso abordá-los com paciência e julgá-los
apenas por seus resultados. Para Charles Beard, historiador
progressista — conhecido por atacar os Pais Fundadores,
chamando-os de capitalistas egoístas e territoriais —, a mão pesada
de Mussolini era uma de suas características positivas. Beard
admirava o ditador fascista por causar, “pela força do Estado, a
organização mais compacta e unificada de capitalistas e
trabalhadores que o mundo já viu”.22
Herbert Croly, editor da revista New Republic, parabenizou
Mussolini por “despertar em toda uma nação o crescimento da
energia moral” e subordinar os cidadãos “a um propósito comum
profundamente vivenciado”. Outro editor da New Republic, George
Soule, prestou louvores ao New Deal por ter-se enamorado das
políticas de Mussolini: “Estamos experimentando a economia do
fascismo”. Essa emblemática revista do progressismo americano
louvou o regime de Mussolini durante a década de 1920, chegando
a publicar artigos de intelectuais fascistas como Giuseppe
Prezzolini, que escreveu que o verdadeiro socialismo seria tornado
real não na Rússia pelos bolcheviques, mas na Itália pelos camisas
negras.23
Em 1934, William Pepperell, economista de esquerda, viajou de
suas instalações na Universidade Columbia para o Congresso
Internacional de Filosofia em Praga, onde descreveu o New Deal
sob a bandeira do “Fascismo Fabiano”, considerado por William um
híbrido criativo do socialismo com o fascismo. Alguns anos mais
tarde, em 1938, em visita ao governador Philip La Follette, certo
jornalista descobriu que esse fundador do Partido Progressista de
Wisconsin tinha duas fotografias emolduradas em seu escritório:
uma de Louis Brandeis, juiz da Suprema Corte, e outra de Benito
Mussolini. La Follette admitiu que esses eram seus dois heróis
pessoais.24
Alguns da esquerda foram ainda mais longe e elogiaram o
nazismo. A escritora Gertrude Stein insistiu, em 1937, que o
candidato mais digno ao Prêmio Nobel da Paz era Adolf Hitler.
Lawrence Dennis, diplomata de Relações Internacionais e autor,
exaltava o nazismo por produzir “uma fórmula de solidariedade
nacional dentro dos laços espirituais e da disciplina de ferro em que
a elite e as massas, de qualquer nação que seja […] possam
cooperar para o bem comum”. Dennis pediu que os americanos
abraçassem o fascismo, reconhecendo que este poderia parecer
muito diferente na América se comparado com o da Itália ou da
Alemanha. Em 1936, Dennis participou do Congresso do Partido de
Nuremberg, onde compartilhou seus entusiasmos com o ideólogo
nazista Alfred Rosenberg e com outro aliado já há tempos de Hitler,
Rudolf Hess.25
W.E.B. Du Bois, intelectual progressista afro-americano, disse que
a ditadura de Hitler era “absolutamente necessária à ordem do
Estado”. Hitler, diz Du Bois, “mostrou uma saída para a Alemanha”
ao fazer de seu país um “conteúdo e um todo próspero”. Em 1937,
ele escreveu: “Atualmente, em alguns aspectos, há mais
democracia na Alemanha do que houve nos anos passados”. Du
Bois inclusive contrastou o racismo americano, considerado por ele
irracional, com o antissemitismo nazista, segundo ele uma estrutura
baseada no “preconceito arrazoado ou no temor financeiro”.26
Com Elogios de Hitler
Até agora, vimos o que a esquerda americana, dentro e fora da
administração de FDR, pensava dos fascistas e dos nazistas. Mas o
que os fascistas e os nazistas pensavam deles? Começo com a
análise de Mussolini do livro de FDR, Looking Forward. Mussolini
notou que o livro consistia num bom repúdio ao liberalismo clássico.
O New Deal, acrescentou ele, era “ousadamente intervencionista no
campo da economia” com base na ideia de que “o Estado não mais
deixa a economia aos seus próprios artifícios” e que, a esse
respeito, as políticas de FDR “relembram o fascismo”.
Consequentemente, a tentativa de FDR de fazer com que toda a
economia funcionasse para o bem comum, comentou Mussolini,
“pode lembrar as bases do corporativismo fascista”. Na verdade,
toda a abordagem de FDR “assemelha-se à do fascismo”.27
FDR tinha contato com Mussolini antes mesmo de assumir a
presidência. Por sua vez, Mussolini a princípio voltava-se muito mais
a FDR do que a Hitler. Na verdade, a imprensa italiana, bem como a
mídia americana, costumava comparar Mussolini a FDR. Quando
visitou Mussolini, em 1926, o jornalista Irving Cobb disse: “Sabe
como muitos americanos chamam Vossa Excelência? De Roosevelt
italiano”. Mussolini ficou emocionado. “Com isso”, respondeu, “fico
muito feliz e orgulhoso. Pois muito admiro Roosevelt”. Mussolini
cerrou os punhos. “Roosevelt teve força — teve a coragem de fazer
o que viu ser necessário”.28 Nesse momento, Mussolini está
elogiando FDR basicamente por ser, tal qual ele próprio, um forte
homem político.
Na Alemanha, a imprensa nazista também tinha coisas positivas a
dizer a respeito de FDR. No livro Hitler’s American Model — obra já
mencionada anteriormente —, o jurista e progressista James
Whitman constata “o estranho fato de os nazistas frequentemente
elogiarem Franklin D. Roosevelt e o governo do New Deal no início
dos anos 1930”. Um alerta da grande mentira! Na verdade, esse fato
é meramente chamado “estranho” porque estudiosos como Whitman
têm camuflado as afinidades ideológicas entre a esquerda
americana e os nazistas. Portanto, descarte a falsa perplexidade de
Whitman. Ainda mais interessante é a documentação que ele faz de
hinos entusiastas louvando FDR, publicados na revista à juventude
de Hitler, Will and Power
[Vontade e Poder], além de fotografias retratando um heroísmo de
FDR na Berlin Illustrated Magazine [Revista Ilustrada de Berlim],
revista controlada pelos nazistas, acompanhadas de um artigo sobre
“O New Deal fascista”.29
Em 11 de maio de 1933, o jornal do Partido Nazista, Volkischer
Beobachter, em artigo intitulado “As Medidas de Roosevelt para a
Retomada Ditatorial”, elogiou FDR por “realizar experimentos
audaciosos. Nós, também, tememos diante da mera possibilidade
de falha. Nós, também, como nacional-socialistas que somos,
estamos olhando para a América”. Analisando favoravelmente o
livro de FDR, o jornal Völkischer Beobachter concluiu que,
mantendo uma “aparência fictícia de democracia”, na realidade o
“curso político fundamental de FDR [...] é completamente modulado
por um forte nacional-socialismo”. Em 21 de junho de 1934, o
mesmo jornal comentou: “Roosevelt adota tendências nacional-
socialistas em suas políticas socioeconômicas” e comparou seu
estilo de liderança com o próprio Führerprinzip ditatorial de Hitler.30
Hitler mesmo disse a um correspondente do New York Times que
via FDR trilhando o mesmo caminho que o dele. “Tenho simpatia
pelo Sr. Roosevelt”, disse Hitler, “pois ele marcha em direção aos
próprios objetivos acima do Congresso, acima da influência de
poderes e da burocracia”. Hitler, bem como Mussolini, via em FDR
um companheiro ditador. Hitler acrescenta que era o único líder na
Europa que “compreendia genuinamente os métodos e motivações
do presidente Roosevelt”.31
Hitler comentou com William Dodd, embaixador dos Estados
Unidos na Alemanha, que o fato de FDR insistir para que os
cidadãos americanos colocassem o bem comum acima do próprio
bem pessoal “era a quintessência da filosofia também do Estado
alemão, o qual encontra sua força de ser no lema ‘O Bem Público
Transcende o Interesse do Indivíduo’”. Mesmo em 1938, o sucessor
de Dodd, Hugh Wilson, informou a FDR que Hitler continuava seu
fã: “Hitler disse ter observado com interesse os métodos que você,
Senhor Presidente, tenta adotar para os Estados Unidos ao
enfrentar alguns dos mesmos problemas que ele enfrentou quando
assumiu o cargo”.32

Ecco Un Ditatore!
Por fim, demonstro como FDR chegou assustadoramente perto de
tornar-se um ditador fascista durante seu longo mandato no
governo, de 1932 a 1945. Se não um déspota em maior escala,
FDR chegou perto mais do que qualquer outra pessoa na história
dos EUA. A essa altura do livro, já antevejo a indignação que isso
provocará na esquerda. Mas é também hora de, calmamente,
ignorá-la. A indignação em si é uma tática para proteger a grande
mentira. “Como você pode dizer isso?” e “Como você ousa?”. Ouso,
porque é verdade.
Analisados há pouco, os fascistas italianos e até mesmo os
nazistas reconheceram as tendências ditatoriais de FDR e também
a consanguinidade ideológica que havia entre as políticas dos três.
Herbert Hoover, antecessor republicano de FDR, percebeu paralelos
bastante íntimos entre o New Deal e o fascismo. O socialista
Norman Thomas, do outro extremo político, percebeu o mesmo. E,
em 1933, o colunista mais respeitado da América, Walter Lippmann,
disse a FDR que ele não tinha “nenhuma alternativa, senão assumir
poderes ditatoriais”.33 Portanto, não estou falando invencionices;
FDR foi amplamente considerado um ditador fascista, ou futuro
ditador, por muitos de seus contemporâneos.
Não digo que era o caso de um ditador aos moldes de Hitler, afinal
FDR nunca teve o aquele mesmo poder absoluto nem, é claro,
matou seus oponentes, nem enviou judeus a câmaras de gás, nem
iniciou uma guerra mundial. Então, ao retratá-lo na posição de führer
americano, quero dizer que FDR era führer da maneira americana, e
não do jeito alemão. Melhor comparação pode ser feita entre FDR e
Mussolini; ambos se julgavam uma espécie de comandante da
nação, superando as restrições da democracia enquanto ainda
funcionavam dentro das limitações políticas impostas por seus
respectivos sistemas. Os poderes legais de FDR permaneceram
abaixo dos de Mussolini; e não por ele ter “se contido”, mas, pelo
contrário, por ter sido constrangido pelo sistema constitucional dos
Estados Unidos, que impediu esse perigoso homem de trazer o
fascismo na íntegra à América.
Considere uma das principais iniciativas de FDR, peça central do
New Deal: a National Recovery Act [Lei de Recuperação da
Indústria Nacional (LRIN)]. Em essência, a lei sentenciou à morte o
livre mercado nos Estados Unidos. Acontece que essa lei dava ao
governo federal a força para criar alianças trabalhistas e de gestão
em cada indústria, a fim de estabelecer objetivos de produção, de
salário, de precificação e até mesmo de horas mínimas e máximas
trabalhadas. Eram acordos que seriam analisados por um Conselho
Consultivo da Indústria gerido pelo governo, que daria satisfação ao
próprio FDR. Além disso, a legislação da LRIN aumentou os
impostos sobre o rendimento, sobre as empresas e expandiu o
eminente poder de domínio do governo usado para confiscar terras
privadas e transferi-las ao uso público. De acordo com o conselheiro
de FDR, Rexford Tugwell, a LRIN foi projetada para “eliminar a
anarquia do sistema competitivo”.34
Jamais havia se contemplado — e muito menos decretado — uma
intervenção governamental na economia dos EUA nessa escala. Na
época, a LRIN era amplamente reconhecida em todo o espectro
político como um projeto fascista. Escrevendo para a revista North
American Review, Roger Shaw, escritor progressista, afirmou que a
LRIN era “uma nítida adaptação americana do Estado Corporativo
italiano”. Victor F. Calverton, escritor marxista, destacou esse
mesmo ponto escrevendo para o periódico Modern Monthly: “A LRIN
tem feito parte do trabalho que o fascismo europeu se propôs a
executar”. E o próprio secretário do Interior de FDR, Harold Ickes,
admitiu: “O que estamos fazendo neste país é, em certa medida, o
mesmo que está sendo feito na Rússia e até mesmo na Alemanha
de Hitler”. Mussolini mesmo, ao ouvir falar da LRIN, fez um único e
intenso comentário,“Ecco un ditatore!”, que significa “Eis um
ditador!”.35
O homem que FDR escolheu para gerir a LRIN, o General Hugh
Johnson, era ele fascista, um que tinha prazer de associar-se àquilo
que ele chamou de “o brilhante nome” de Mussolini. Johnson
carregava consigo um exemplar do pequeno livro-propaganda The
Structure of the Corporate State [A Estrutura do Estado Corporativo],
escrito em italiano por um dos acólitos do Il Duce, Raffaello Vigone,
e traduzido para o inglês pela União Britânica de Fascistas, partido
fundado por Oswald Mosley, em 1933. Johnson gostava de citar
especialmente as seções sobre como o fascismo passava por cima
do aparato confuso da democracia em direção à plena autoridade
do Estado centralizado. Sob Johnson, a LRIN publicou um panfleto,
Capitalism and Labor Under Fascism [O Capitalismo e o Labor sob o
Fascismo], que admitiu: “os princípios fascistas são muito
semelhantes aos que estavam em evolução na América”.36
Para o desgosto de FDR, sua LRIN foi derrubada pela Suprema
Corte em decisão histórica no caso Schechter Poultry Corp vs
Estados Unidos, em março de 1935. Outras iniciativas do New Deal
também foram transtornadas. A Suprema Corte estava inquieta com
a forma como FDR procurou passar por cima dos direitos da
propriedade privada e contratuais. Tais direitos — que podem ser
vistos sob a cobertura da liberdade econômica —, desde os Pais
Fundadores, são considerados tão basilares quanto outros direitos
fundamentais, como os direitos à liberdade de expressão, de religião
e de assembleia. Atuando em seu papel de protetor dos direitos das
minorias — parte do nosso sistema de freios e contrapesos —, a
Suprema Corte barrou FDR de reverter 150 anos de liberdade
econômica.
Daí o que FDR fez? Em 1937, ele apresentou a Lei de Reforma
do Processo Judiciário, um infame projeto que ficou mais conhecido
por “aparelhamento do judiciário” [Court Packing]. Basicamente,
FDR ameaçou aumentar o número de juízes da Suprema Corte, de
nove para até quinze. Isso lhe daria a chance de nomear até seis
juízes a mais, dando-lhe uma grande maioria. A mentalidade por
trás disso pode ser vista no que o principal assessor de FDR, Harry
Hopkins, disse a uma audiência de ativistas do New Deal em Nova
Iorque. “Desejo garantir”, disse ele, “que teremos advogados que
declararão legal tudo aquilo que vocês quiserem fazer”. Essa foi a
abordagem de FDR: se quer fazer algo, diga estar de acordo com a
lei; e, se a Suprema Corte discordar, expanda-a. É perceptível o
clássico desprezo do fascismo pelo papel distintivo da Suprema
Corte como fiscal dos direitos das minorias em um sistema de
equilíbrio.
Em pânico, a Suprema Corte fez uma rápida mudança e cedeu a
FDR, um movimento que os progressistas chamaram, um tanto
quanto maliciosamente, de the switch in time that saved nine, isto é,
“porque o tempo mudaram, nove se salvaram”. Esse pequeno
gracejo foi cunhado para desviar a atenção da enormidade daquilo
que FDR fez, que basicamente ameaçava destruir nosso Sistema
Constitucional, a menos que obtivesse o que queria — e assim ele
conseguiu o que queria. As ações de FDR aqui — na tênue
penumbra entre o legal e o ilegal — são diretamente comparáveis
ao que era feito na Alemanha nazista e na Itália fascista, táticas de
intimidação usadas para forçar o judiciário à conformidade.
A rendição da Suprema Corte significou, em substância, o fim da
liberdade econômica como direito constitucional. Não, FDR não
conseguiu reviver a LRIN naquele momento, e ter violado os direitos
de propriedade e contratuais, por meio dos vários programas do
New Deal, foi uma atitude relativamente modesta. Em essência,
FDR nos deu o Estado do Bem-Estar Social, e não pense que com
isso eu que o denomino um conceito fascista por si só. O Estado do
Bem-Estar Social na Alemanha, por exemplo, originou-se do
progressismo moderado e conservador de Otto von Bismarck e
antecedeu o fascismo em mais de meio século. No entanto, não
esqueça que foi a esquerda — os socialistas, os fascistas e os
progressistas — que vastamente aprofundaram o Estado do Bem-
Estar Social.
Meu objetivo aqui, entretanto, é dizer que FDR estabeleceu as
bases para que futuras administrações progressistas minassem
continuamente a liberdade econômica. O Governo Leviatã que
temos agora não se deve totalmente ao que FDR fez, mas ele quem
o iniciou. Antes dele, tínhamos liberdade econômica como direito
constitucional. Depois dele, não mais. O principal impulso da
economia fascista envolve a expansão do poder estatal centralizado
à custa dos direitos individuais e da liberdade da esfera privada.
Assim, nesse sentido, as ações de FDR, com a destruição da
liberdade econômica, são fascistas.
Ainda que intimidasse a Suprema Corte, FDR não precisava
intimidar o Poder Legislativo, já que o seu partido, o Partido
Democrata, controlava o Congresso. FDR convenceu seus aliados
democratas à passada do controle praticamente absoluto sobre uma
grande área da economia nacional. Em substância, FDR já não mais
tinha de consultar o Congresso e poderia prosseguir por iniciativa
própria em grandes áreas das tomadas de decisão. Com efeito,
invocando os gritos de “emergência econômica” durante a Grande
Depressão e depois de “emergência nacional” durante a Segunda
Guerra Mundial, FDR pôde assumir poderes quase ditatoriais.
Da mesma forma Mussolini, que subverteu o Poder Legislativo e
convenceu seu Parlamento, flexível e maleável, a entregar-lhe o
poder. O Parlamento italiano não precisava nem mesmo congregar
durante o reinado de Mussolini, pois ele, na prática, tomava quase
todas as decisões. Assim também Hitler, que na vigília do incêndio
do Reichstag, em 1933, convenceu o Parlamento alemão a aprovar
a Lei de Concessão de Plenos Poderes, que lhe confiava a
autoridade legislativa, tornando-o, portanto, de forma aparentemente
legal, o supremo governante da Alemanha nazista. Tal como FDR,
esses ditadores fascistas não apenas derrubaram o sistema, mas,
mais que isso, persuadiram-no e pressionaram-no a dar-lhes uma
autoridade essencialmente absoluta.
Como FDR lançou mão de tamanha autoridade? Mais uma vez,
aos moldes do clássico despotismo fascista, ele a usou para
intimidar empresas privadas e cidadãos comuns à submissão diante
de suas iniciativas estatais. O exemplo mais evidente foi o programa
Blue Eagle de FDR, simbolizado pela imagem de uma águia azul.
Hoje em dia, ninguém reconheceria esse símbolo, cuidadosamente
pulverizado da História pelos progressistas. Mas, na época, era o
símbolo mais reconhecido na América, amplamente comparado ao
símbolo da suástica da Alemanha nazista.
O objetivo do programa Blue Eagle consistia em forçar as
empresas à submissão “voluntária” às iniciativas de FDR. As
empresas que se submetiam penduravam o símbolo da Águia Azul
em suas lojas ou o exibiam mediante publicidade corporativa. O
governo ativamente estimulava o público a comprar apenas das
lojas Blue Eagle e a boicotar as empresas que não exibiam o
símbolo. Os capangas de FDR organizavam manifestações do estilo
de Nuremberg para chicotear o público em um frenesi contra
aqueles que se decidissem contra a submissão ao Blue Eagle.
Novamente, essa era precisamente a função do símbolo da
suástica: juntamente da saudação “Heil Hitler!”, servia para notificar
a conformidade com as políticas do regime nazista. O historiador
Aryeh Unger tem um termo direto para isso; ele o chama de
“compulsão voluntária”. Certo admirador alemão de Hitler na década
de 1930 a isso deu o nome de “trabalhar para o Führer”.37 Todos
prestavam lealdade orientando suas ações em função de Hitler,
entrando nos eixos com ele. FDR empregou precisamente a mesma
compulsão voluntária para que todo o país trabalhasse em função
do führer americano.
Como Hitler e Mussolini, FDR estabeleceu uma máquina de
propaganda maciça dentro do governo e, ao mesmo tempo,
procurou restringir a liberdade da imprensa. Na Alemanha, os
jornalistas eram praticamente obrigados a fazer união com o
Ministério da Propaganda. Do mesmo modo a Itália, que dispunha
de seu Sindicato Nacional Fascista de Jornalistas ao qual era
preciso pertencer para ser um jornalista de “boa reputação”. A
abordagem de FDR foi apenas um pouco mais sutil. Ele nomeou um
de seus escudeiros mais devotos como presidente da Comissão
Federal de Comunicações (CFC). Sob esse capanga, a CFC exigiu
que as estações de rádio enviassem transcrições de todos os
programas que lidassem com “assuntos públicos” para passar pela
autorização da Comissão.
A CFC também deixava claro que criticar o governo poderia levar
a uma revogação de licença de transmissão. Muitos âncoras de
rádios progressistas estavam bastante ansiosos para servir como
animais de estimação de FDR, da mesma maneira como a nossa
mídia convencional tornou-se voluntariamente serviçal de Obama e
Hillary. Henry Bellows, da CBS, disse a FDR que valorizava a
“cooperação” entre o governo e sua rede e “como um democrata ao
longo da vida, queria garantir seus melhores esforços para fazer
com que essa cooperação fosse bem-sucedida”. A CBS e a NBC
baniram críticas ao New Deal de suas estações durante a década
de 1930 e o início dos anos 1940. Apenas poucas estações
resistiram, mas para salvar suas licenças, elas logo foram obrigadas
a entrar na linha.38

Um Pacto com o Racismo


Por fim, FDR acolheu-se e fez negócios com os piores racistas da
América. Não estou dizendo que o próprio FDR era racista. Não sei
se sim ou se não. Mas sei que ele trabalhou em estreita colaboração
com os racistas do Partido Democrata. Um lado ajudava a avançar a
agenda do outro. Por esse aspecto, FDR de fato aproxima-se mais
do nazismo do que do fascismo, já que o racismo não era uma
marca dos fascistas de Mussolini, mas sim dos nacional-socialistas
de Hitler. Novamente, esse é um aspecto de FDR que os
progressistas trabalharam arduamente para manter fora dos livros
didáticos e da consciência nacional.
Primeiro, FDR nomeou Hugo Black, antigo membro da Ku Klux
Klan, à Suprema Corte. Black, completamente desqualificado — sua
única experiência no ramo judiciário formava-se de dezoito meses
como juiz de um tribunal municipal — levava a reputação de
apaixonado entusiasta do New Deal, endossando publicamente o
plano de FDR de aumentar o número de juízes em seu projeto de
aparelhar o judiciário. Membro ainda ativo, Black chegou a discursar
em comícios e liderar manifestações da KKK por todo o seu estado
de origem, o Alabama. Conquanto FDR afirmasse desconhecer os
fatos, é difícil de entender como isso seria possível, uma vez que
Black os listou em seu currículo.
Quando certo jornal de Pittsburgh expôs quão profundamente
Black era próximo da KKK — advogado da KKK que construiu
petições abertamente racistas aos júris —, houve grande furor. FDR,
por sua vez, ficou ao lado de Black, que mais tarde, lembrando o
ocorrido, escreveu: “O presidente Roosevelt disse que não havia
porquê de eu me preocupar por ter sido membro da Ku Klux Klan.
Disse também que alguns de seus melhores amigos e apoiadores
eram fortes membros dessa mesma organização. Ele nunca, de
nenhuma maneira, por palavra ou atitude, indicou qualquer dúvida
sobre o fato de minha estadia na KKK, nem demonstrou qualquer
crítica contra mim por ter sido eu membro da organização”.39
Além disso, FDR apoiou democratas racistas no Congresso em
seus esforços de frustrar leis contrárias ao linchamento. Essa foi
uma condição fundamental que os racistas colocaram perante o
então presidente. Eles disseram que não apoiariam os programas
do New Deal, a menos que FDR apoiasse os esforços para bloquear
as leis contrárias ao linchamento investidas pelos republicanos.
Então FDR foi e convenceu até mesmo democratas e progressistas
do Norte a apoiar suas contrapartidas do Sul, que buscavam
prevenir que tais leis chegassem à votação.40 Eis um dos legados
mais vergonhosos da presidência de FDR, algo praticamente não
mencionado em biografias escritas por progressistas.
Somado a isso, FDR fez um acordo com os democratas racistas,
o de cortar negros da maioria dos programas do New Deal, incluindo
benefícios do Seguro Social e seguro-desemprego. Ele executou
essa parte escrevendo exceções nos programas, exceções que
excluíam do programa as ocupações, como trabalho agrícola e
serviço doméstico, em que os negros concentravam-se com maior
força. FDR também deixou a administração desses programas ao
arbítrio local, permitindo que os funcionários democratas locais
rotineiramente negassem benefícios aos negros.41 Foi em 1954,
quando os republicanos controlaram a presidência, a Câmara e o
Senado, que eles finalmente eliminaram as exclusões que negavam
o Seguro Social e outros benefícios a muitos negros.
FDR também deu continuidade à segregação no governo federal,
embora ele tivesse o poder unilateral de reduzi-la ou suspendê-la.
Os republicanos e negros pediam com regularidade pelo fim da
segregação nas Forças Armadas e pela promoção por mérito. FDR
mantinha sua recusa. Os programas de habitação de FDR [Federal
Housing Authority] impulsionaram a habitação segregada, seu
Corpo de Preservação Civil [Civilian Conservation Corps] era
segregado, até mesmo o centro de pesquisa de bombas atômicas,
em Oak Ridge, no Tennessee, era segregado, e os jornalistas
negros eram rotineiramente excluídos das conferências de imprensa
do presidente.42 Novamente, exceto a crédulos da grande mentira,
nada disso é “surpresa”; trata-se de algo totalmente de acordo com
a história racista do Partido Democrata.
Por fim, FDR internou mais de 120 000 nipo-americanos no que
ele mesmo chamou de ‘campos de concentração’ durante todo o
envolvimento da América na Segunda Guerra Mundial. Esses
campos — que funcionavam como prisões com censo diário e
toques de recolher — eram cercados de arame farpado e protegidos
pela polícia militar. Sim, a América estava em guerra contra o Japão.
Mas a América também estava em guerra contra a Alemanha e a
Itália. Drasticamente menor foi o número de germano-americanos
ou de ítalo-americanos feito alvo do governo e forçado a se mudar
das regiões costeiras dos Estados Unidos. É difícil não concordar
com os nipo-americanos que contam ter sido marginalizados por
FDR da mesma maneira como Hitler marginalizou os judeus.

Embusteiros à Esquerda
O primeiro embusteiro na tentativa de encobrir os laços de FDR
com o fascismo foi, ironicamente, o próprio FDR. No dia 29 de abril
de 1938, em mensagem ao Congresso, FDR disse que “eventos
infelizes no exterior” ensinaram a América uma simples verdade: “A
liberdade de uma democracia não será segura se o povo tolerar o
crescimento do poder privado a ponto de este tornar-se mais forte
do que o próprio Estado democrático. Isso, em essência, é o
fascismo — o indivíduo, um grupo ou qualquer outro poder privado
de controle tomando posse do governo”.43
Até o momento, conseguimos reconhecer a grande mentira em
pleno andamento. O fascismo não é o controle privado do governo;
é o controle governamental do setor privado. Ao aumentar o poder
do Estado centralizado em paralelo com os fascistas, FDR finge que
o faz para salvar a democracia americana do controle fascista sobre
o governo imposto por interesses do setor empresarial privado. FDR
inverte o significado do fascismo, assim fazendo com que seus
oponentes republicanos pareçam fascistas e ele, portanto, o
antifascista.
Hoje, tamanha inversão é simplesmente demais para qualquer
indivíduo acreditar. Portanto, o historiador Ira Katznelson tenta
encobrir FDR usando uma abordagem mais delicada, uma forma
superior de embuste, pode-se dizer. Num capítulo anterior,
demonstrei como Katznelson contribui para a grande mentira ao
jogar a culpa das atrocidades racistas do Partido Democrata sobre o
Sul. Junto de FDR, Katznelson emprega um modo de defesa
diferente.
Ele admite abertamente as tendências racistas e ditatoriais de
FDR. O comando de FDR, ele diz, carregava as “mais profundas
imperfeições”. Graças a FDR, “Taparam-se os olhos quando a
insensibilidade e a brutalidade seguiram adiante”. Os negócios que
ele fez com os fanáticos de seu próprio partido foram um “acordo
podre”. Entretanto, no fim, Katznelson apoia a linha do fascismo
ditatorial de FDR, porque, em suas palavras, “Com isso, o New Deal
tornou-se possível”.44
O objetivo de Katznelson é convencer os progressistas e a
esquerda de que FDR foi um nobre estadista, disposto a sujar as
mãos para conseguir algo grande. Diz Katznelson, considere os
limites sob os quais FDR operou; ao contrário da Alemanha nazista,
“não houve uma lei americana para concessão de plenos
poderes”.45 (Se Katznelson preferiria que houvesse é questionável).
Logo FDR teve de trabalhar com o Congresso; ele precisou operar
por dentro do sistema político americano para aprovar o New Deal,
por isso fazendo os acordos que fez.
Acredito que Katznelson não tenha percebido que, a fim de salvar
FDR da acusação de fascismo, ele próprio construiu um argumento
fascista clássico. Não me refiro à implicação por parte de
Katznelson de que os fins justificam os meios. Essa afirmação, por
si só, é preocupante. Realmente valeu a pena um cenário com
negros sendo linchados e sistematicamente discriminados por
décadas, isso tudo no propósito de impulsionar um punhado de
programas do New Deal? Bom, ao menos na minha concepção,
digo que não. No entanto, independentemente da resposta, o
impulso fascista do argumento de Katznelson está em outro lugar.
O tema central do fascismo — e aqui podemos nos lembrar do
filósofo do fascismo, Giovanni Gentile, endossado pelo fundador
oficial do fascismo, Benito Mussolini — é o impulso do Estado
centralizado. Na visão de mundo fascista, como Mussolini nunca se
cansava de dizer, o Estado é tudo, e tudo mais está subordinado ao
Estado. Diante disso, todas as medidas são permitidas — por mais
brutais e pesadas, por mais inconsistentes que sejam com a
liberdade privada ou com o sistema constitucional de freios e
contrapesos — quando se tem por fim expandir o controle e o poder
do Estado centralizado.
Mesmo perplexo e duvidoso quanto às táticas fascistas que FDR
usava para armar os tribunais, usurpar a autoridade do Congresso e
fomentar as formas mais repulsivas de racismo, Katznelson lhes é
favorável, pois, afinal, estas ajudaram a alcançar o objetivo fascista
de FDR, que era expandir o poder centralizado. E esse é o fascismo
à esquerda com o qual vivemos agora, tanto no impulso ideológico
perpétuo da esquerda para ampliar o poder do governo quanto na
vontade da esquerda de usar quais sejam as táticas mais
desprezíveis e fundamentais necessárias para sair de determinado
lugar e chegar a outro. FDR não só foi o führer primitivo da América;
ele também ajudou a criar exércitos de camisas pardas da esquerda
americana, que ainda hoje permanecem presentes.
Capítulo Oito
Políticas de
Intimidação

A legitimação da violência contra um inimigo interno


demonizado nos aproxima do coração do fascismo.1
Robert Paxton, The Anatomy of Fascism

Meio ano depois, o choque da eleição de Trump ainda não foi


totalmente absorvido pela esquerda. Batalhas políticas amargas e
incessantes levantam-se entre Trump e seus adversários. Trata-se
de uma resistência, em proporção e veemência, que jamais
presenciei. Os adversários não querem apenas frustrar Trump, para
vencê-lo e humilhá-lo; eles também querem tirá-lo de lá. A
mensagem oculta dos inimigos de Trump é a seguinte: é um fato
para nós, e não podemos descansar até que tenhamos expurgado
esse fascista e seus apoiadores dos corredores do poder.
Mas de onde é que tamanha oposição de fato vem? Onde está
seu epicentro? É tentador supor que venha do Partido Democrata.
No entanto, os democratas são minoria no Parlamento e no
Congresso, e os republicanos dominam as legislaturas estaduais e
as governadorias. Apesar de os democratas oporem-se tenazmente,
o partido em posição minoritária uma só coisa pode fazer. Ninguém,
contudo, pode reduzir a profundidade e a ferocidade do movimento
contrário a Trump, de modo que o centro da resistência deve estar
em outro lugar.
Alguns dos chamados trumpsters comentam, na calada das
redes sociais, sobre a existência de um deep state, um “Estado
profundo”, “obscuro”, um Estado secreto dentro de um Estado de
oposição, naturalmente montado contra um presidente “de fora”, um
intruso, que prometeu “drenar o pântano”. Esses aliados de Trump
direcionam o dedo para ratos secretos do pântano, principalmente
em várias agências de inteligência do governo, da NSA à CIA, da
CIA ao FBI. É certo que há resistência burocrática a Trump dentro
do governo, mas isso é algo com que ele consegue lidar como chefe
desse mesmo governo.
O verdadeiro poder da esquerda não se deriva de nenhuma
conspiração secreta, mas sim de um Estado dentro de um Estado,
que está bem à vista. A esquerda não precisa confiar no FBI, na CIA
e na NSA, afinal já possui três das instituições mais poderosas da
nossa sociedade. A esquerda domina a academia, Hollywood e a
mídia. Esses são os três megafones mais poderosos da nossa
cultura, os principais instrumentos para disseminar informações ao
público, em especial aos jovens. Em uma sociedade democrática,
quem controla o fluxo de informações, esse também controla a
opinião pública, a qual, finalmente, decide todas as questões. Esse
Estado dentro do Estado é a arma mais forte e mortal do
progressismo e do Partido Democrata. Sem ela, progressistas e
democratas não teriam chegado tão longe nem erguido essa
oposição implacável e impetuosa contra Trump.
Enquanto a vitória de Trump e o domínio político do GOP são
temporários, o Estado dentro do Estado da esquerda é permanente.
A esquerda essencialmente domina a academia, Hollywood e a
mídia. É algo que fica claro quando se pergunta como seria possível
mudá-los. Praticamente impossível. Hollywood é uma cultura
incestuosa no íntimo e altamente autoperpetuadora. Inclusive há um
grupo conservador em Hollywood, Friends of Abe, mas que, além de
se reunir em segredo, tem alguns de seus membros disfarçados.
Recentemente, um dos raros conservadores sinceros em
Hollywood, Tim Allen, suscitou certo furor quando disse a Jimmy
Kimmel: “Bom, você é atropelado se não acredita no que todos
acreditam”. Allen acrescenta: “É como na Alemanha de 1930”.
Pouco tempo depois, a ABC chegou e cancelou seu programa, Last
Man Standing, apesar dos seis anos de alta avaliação positiva.2 Se
acontece com uma grande estrela como Allen, pode acontecer com
qualquer um, obviamente. Depois do meu documentário em 2016,
Obama’s America [A América de Obama], membros do Friends of
Abe disseram-me que ficaram felizes com a produção, uma vez que
eles teriam perdido a carreira em Hollywood se o filme fosse
produzido pelo grupo. Na verdade, algumas pessoas de dentro de
Hollywood ajudaram-me com a produção, e todos insistiram em usar
pseudônimos nos créditos.
A academia contrata seu próprio pessoal e de forma ampla não
presta satisfação a nenhuma força externa; pais, órgãos legislativos
estaduais e ex-alunos exercem um impacto meramente periférico
sobre o que acontece lá. Claro, conservadores conseguem ter uma
cadeira ou enviar um palestrante para essa ou aquela universidade,
mas o impacto dessas medidas é, certamente, apenas marginal.
Afinal, a esquerda domina os departamentos de humanas e ciências
sociais de praticamente todas as universidades; e, quanto mais
seletiva for a universidade, maior será a extensão desse domínio.
Em relatório recente, a Oregon Association of Scholars, grupo
conservador, mostra que as universidades sistematicamente
“arrancam” professores conservadores e se recusam a contratar
novos. Curioso notar, o mecanismo usado para arrancá-los está nas
declarações sobre diversidade. Os esquerdistas dentro das
universidades insistem que os conservadores não têm compromisso
com a diversidade. Assim, tal fator torna-se o pretexto para os
progressistas erradicarem a pouca diversidade intelectual e
ideológica que resta no câmpus.3 Não bastasse ser deprimente,
também é uma situação improvável de mudar. E para mudá-la, os
conservadores teriam de começar várias centenas de câmpus
próprios, o que é impossível.
A mídia convencional não é menos ideologicamente insular. Na
verdade, a mídia de direita não é uma refutação, mas uma
constatação da grande mídia. A mídia independente de direita existe
desde que os conservadores foram sistematicamente excluídos das
redes de TV, redes a cabo, como a CNN e a HBO, e dos jornais,
como o New York Times, The Washington Post e Los Angeles
Times. O canal de direita Fox News tem uma grande audiência em
comparação a outras redes a cabo, mas está sob cerco constante;
e, de qualquer forma, sua audiência é uma pequena fração da
audiência da ABC, CBS e NBC. Estações de rádio conservadoras,
mesmo com todo o seu alcance, são coletivamente menores do que
a Rádio Pública Nacional, que é um órgão estatal da esquerda
política.
Isso quer dizer que a esquerda pode trabalhar em conjunto para
divulgar amplamente sua mensagem, e o faz com naturalidade. É
assim que grandes mentiras são contadas e, em seguida,
amplamente aceitas como verdade incontestável. Normalmente, a
mentira se origina na academia, onde um acadêmico de esquerda a
inventa e outros acadêmicos de esquerda a celebram. Em seguida,
a mídia a adota, invocando a teoria acadêmica para dar-lhe validade
e, ato contínuo, a ecoa na mente popular como uma verdade
comprovada. Então, periodicamente, Hollywood converte essa
narrativa em seriados de TV ou longas-metragens e cria um apoio
emocional para a causa, ao mesmo tempo em que faz tudo parecer
maneiro e moderno. Por fim, as três instituições aliam-se contra
quem questiona a grande mentira, procurando desacreditá-los,
arruiná-los e, de preferência, expulsá-los da vida pública.

Cultura de Intimidação
Como chegamos até aqui? Afinal de contas, as coisas nem
sempre foram assim. A velha Hollywood, da década de 1930 à
década de 1950, era dominada por imigrantes judeus que
acreditavam no sonho americano e na América como força para o
bem no mundo. Conservadores como Reagan, John Wayne e
Jimmy Stewart tinham lugar naquela Hollywood. Mas nenhum deles
teria vez na atual. A mídia sempre se inclinou para a esquerda, mas
nem mesmo durante o caso Watergate foi tão agressiva e
proselitista com suas pautas esquerdistas quanto é agora. De certa
forma, a máscara de objetividade caiu por completo; o New York
Times de hoje nem sequer finge cobrir notícias de forma neutra ou
equilibrada.
Quando eu era aluno em Dartmouth, no início da década de 1980,
ainda havia liberais clássicos da antiga leva no corpo docente.
Agora eles já se foram. Naquela época, como jovem que apoiava
Reagan, eu podia debater questões políticas com professores e
estudantes de esquerda. É claro que a Ivy League era de esquerda,
mas não de maneira monolítica. Hoje, ao contrário, os pontos de
vista conservadores foram basicamente erradicados. Hoje em dia,
os jovens não rejeitam o conservadorismo; eles nem mesmo sabem
o que é isso. Se questionados acerca do “que conservadores
batalham para preservar?”, alunos até mesmo de nossos melhores
câmpus olharão boquiabertos e confusos.
Vivemos, hoje, numa das culturas mais fechadas, excludentes e
repressivas da História Moderna. De certa forma, a esquerda não
precisa promover uma caça às bruxas contra conservadores e
atormentá-los; eles simplesmente não os contratam, em primeiro
lugar. Quando palestrantes conservadores se apresentam em
universidades, eles frequentemente são impedidos de falar por
manifestantes violentos de esquerda ou calados por ativistas
portando megafones. Esquerdistas rasgaram meus cartazes na
Universidade Trinity, San Antonio, onde palestrei recentemente. Já
eu usei a ação deles a meu favor, publicando aqueles atos de
intolerância nas mídias sociais. Como resultado, mil pessoas
apareceram para a minha palestra, e a tentativa esquerdista de
frustrá-la falhou.
Mas quando Gavin McInnes, polêmico podcaster de direita, foi à
Universidade de Nova Iorque (UNI), em fevereiro de 2017, os
antifascistas de lá apareceram em massa para agredir McInnes e os
alunos que o convidaram; eles desferiram golpes contra os
conservadores e atingiram o próprio McInnes com spray de pimenta.
“Estou assustado, a UNI convidando um disseminador do ódio”,
disse a ativista Tamara Fine. “Ele é um fascista”. McInnes tentou
falar, mas foi abafado pelos manifestantes. Então ele interrompeu a
palestra e deixou o local, enquanto os manifestantes que estavam
do lado de fora gritavam e brigavam com a polícia local.4
Em abril de 2017, a especialista conservadora Heather
MacDonald foi impedida de falar na Universidade de Claremont
McKenna. Cerca de duzentos e cinquenta manifestantes barraram
sua entrada ao auditório, muitos deles berrando “fascista” enquanto
alguns outros repetiam “a vida negra importa”. As autoridades da
Universidade citaram razões de segurança para cancelar o evento
público de MacDonald. Como alternativa, foi sugerido que a palestra
fosse dada somente aos organizadores do evento e transmitida ao
vivo nas redes sociais. “Decidiram que eu daria a palestra ao vivo
para um salão praticamente vazio”, disse MacDonald.5
Lembre-se de que estas são vozes conservadoras a serem
importadas para o câmpus. Não existe nenhum conservadorismo
primitivo entre o corpo docente dessas instituições. Mesmo assim,
em ocasiões raras, quando um conservador aparece, ele ou ela é
vexado e às vezes agredido e perseguido.
Essa é a América em que vivemos agora. Nossa cultura é uma
cultura de abuso e humilhação ritualísticos, em que as vozes
dissidentes são perseguidas, envergonhadas e aterrorizadas, em
alguns casos não só para silenciá-las quanto para destruir-lhes a
carreira e a vida. A demonização é a cultura corrente da esquerda
nos dias de hoje. Por essa razão, por sinal, é que muitos
republicanos são tão tímidos no Congresso; eles estão aterrorizados
com o poder da mídia de humilhá-los de tal forma que seus próprios
apoiadores terão de sepultá-los.
Em contraste, manifestantes que usam de violência e criminosos
são celebrados na academia, na mídia e em Hollywood como ícones
do idealismo e mártires de uma grande causa. Considere o caso de
Bill Ayers e Bernardine Dohrn, chefes do serviço meteorológico
Weather Underground, ambos anteriormente citados na lista dos
mais procurados do FBI. Mesmo não se arrependendo do passado
terrorista contra a própria pátria, ambos foram reabilitados e
reintegrados na comunidade progressista. Ayers e Dohrn são agora
professores ilustres, Ayers na Universidade de Illinois, Chicago, e
Dohrn na Faculdade Northwestern de Direito.
No universo progressista, facínoras também transformam-se em
celebridades. Che Guevara, assassino comunista e diretor de um
campo de prisioneiros políticos, ele que ordenou a execução de
presos políticos e causou caos em Cuba, na África e na América do
Sul, provocando problemas na Bolívia antes de ser morto, foi feito
herói, venerado pelos progressistas, destacado em inúmeras
camisetas e cartazes de dormitórios universitários. Trayvon Martin,
arruaceiro que brigou violentamente com um homem, o mesmo que
então atirou nele em defesa própria, imediatamente foi feito mártir
da causa progressista. O presidente Obama validou a santidade do
rapaz dizendo que, no lugar de Trayvon, poderia ter sido seu próprio
filho.
De onde vem toda essa loucura? Melhor dizendo, como nossas
instituições culturais — da academia à mídia, da mídia à indústria do
cinema e da música — tornaram-se tão profundamente pervertidas?
A explicação mais corrente, oferecida por Allan Bloom no livro The
Closing of the American Mind [A Oclusão da Mente Americana],
depois continuada por Jonah Goldberg na obra Liberal Fascism, diz
que todos esses traços vêm da década de 1960. Como relata
Bloom, na primavera de 1969, esquerdistas armados e vestidos com
uniformes militares invadiram os escritórios da administração da
Universidade Cornell. Eles também tomaram o controle da união
estudantil e a da estação de rádio local. Esta foi uma tomada de
controle no estilo fascista. Walter Berns, cientista político que, na
época, ensinava na Cornell e amigo de Bloom, leu para os
manifestantes excertos de discursos de Mussolini, ao que eles
aplaudiram descontroladamente, sem saber que estavam
aplaudindo o fascismo.
Muitos conservadores aceitam o relato de Bloom de que foi a
covarde submissão da administração e do corpo docente às
demandas dos criminosos esquerdistas que simbolizaram a
subsequente renúncia ideológica da universidade americana à
esquerda política. Alguns, é claro, não se entregaram; eles
apoiaram a tomada do poder e abraçaram as demandas dos
criminosos. Um desses colaboradores foi James Perkins, presidente
da Cornell — ex-partidário do New Deal no Escritório de
Administração de Preços de FDR —, ele próprio um esquerdista.
Assim também eram muitos dos jovens professores nos
departamentos de ciências humanas e sociais.
Um grupo de professores — principalmente liberais clássicos da
velha guarda — resistiu às demandas “irredutíveis” dos estudantes.
Em sua maioria democratas, eles acreditavam, no entanto, nos
propósitos de uma educação liberal e não tinham nenhuma intenção
de permitir que os alunos universitários criminosos lhes ditassem o
que e como ensinar. Daí os bandidos fizeram uma oferta irrecusável:
submeter-se ou morrer. E eles se submeteram. Apenas alguns
docentes não esmoreceram — incluindo Bloom — e quase todos
deixaram a Universidade Cornell pouco tempo depois.
A esse respeito, em Cornell e em outros lugares, houve de fato
uma rendição. Hoje, em Cornell e em outras universidades, os
manifestantes esquerdistas não precisam assumir o establishment;
eles são o establishment. Atualmente a esquerda não precisa fazer
demandas curriculares; ela controla o comitê curricular. Não há
necessidade de a esquerda queimar ou proibir livros politicamente
contestáveis; eles simplesmente não os prescrevem. Assim, hoje, os
esforços dos progressistas visam excluir as poucas e raras vozes de
oposição que ameaçam impedir a consolidação de um completo
monopólio sobre a informação e a opinião dentro das universidades.
Portanto, o que Bloom explica a respeito da década de 1960 diz
muito, mas, por si só, é insuficiente. Então surge a seguinte
pergunta: de onde os criminosos de Cornell tiraram a ideia de tomar
o controle conforme os moldes fascistas? Quem lhes ensinou essas
táticas que persistem até hoje? Mostro, aqui, que os verdadeiros
antepassados dos ativistas de Cornell e seus sucessores são os
mestres da opressão, da intimidação e do terror — os nazistas.
Ao longo desse livro venho lidando com paralelos entre a
esquerda americana e os nazistas, mas esse é o ponto em que a
esquerda de hoje mais se parece com seu análogo nazista. Foram
os nazistas que criaram um Estado dentro do Estado e inventaram a
sistematização do controle cultural, as técnicas de propaganda, de
opressão e intimidação agressivas que agora servem de modus
operandi para a esquerda progressista.

O Gleichschaltung Progressista
O termo nazista para tanto era Gleichschaltung, o que significa
alinhar toda a sociedade às prioridades esquerdistas do nazismo.
Em seu cerne, o Gleichschaltung é uma doutrina de uniformizar a
política e controlar a sociedade; é a forma original do politicamente
correto. O Gleichschaltung opera em grande parte por meio da
pressão externa e da intimidação, mas os nazistas o consideravam
mais bem-sucedido quando redundava em Selbsgleichschaltung, ou
um tipo de “cooperação espontânea”, quando as pessoas
colocavam-se voluntariamente debaixo do domínio do regime
nazista. Aqui, argumento que a esquerda americana vem tentando
fazer algo semelhante ao aproximar a sociedade do progressismo.
Cabe ponderar dois casos paralelos em que a propaganda cultural
foi usada para transformar um marginal num ícone ideológico. Horst
Wessel, jovem de vinte e um anos, membro dos camisas pardas,
era conhecido por sua sangrenta luta contra os esquerdistas do
Partido Comunista e contra os rivais dos nazistas. Wessel também
era artista. Mudou-se para uma vizinhança boêmia de classe baixa e
compôs um poema de dezesseis linhas para o jornal nazista local.
Os comunistas assassinaram Wessel em meio a uma disputa
envolvendo a proprietária de seu apartamento tentando expulsar a
namorada do jovem rapaz, uma ex-prostituta, chamada Erna
Jaenicke.
Ordinariamente falando, este seria um episódio sórdido que
melhor teria sido se caído no esquecimento. Mas Goebbels usou a
mídia nazista para retratar Wessel como mártir. Um grupo de
nazistas colocou o poema de Horst Wessel em uma antiga melodia
alemã, e assim nasceu a canção de Horst Wessel. Seu funeral foi
uma enorme manifestação nazista, com milhares de pessoas de luto
e com o próprio Goebbels discursando. Em meio a lágrimas e
aplausos, Goebbels declarou: “Onde quer que haja uma Alemanha,
você, Horst Wessel, também estará lá”.6 Em seguida todos
entoaram em alta voz a canção de Horst Wessel, que se tornou uma
espécie de hino nazista, cantado durante a década de 1930 e
durante a guerra para gerar entusiasmo no público e nas tropas.7
Esse falso martírio é a base para os hinos progressistas entoados
a facínoras e criminosos de hoje, de Che Guevara a Bill Ayers e
Trayvon Marker. Da mesma forma para a esquerda e para os
nazistas, parece não haver nada que seu próprio lado não possa
fazer e depois sair ileso. De certa forma, quanto pior a ofensa, mais
duro a esquerda luta para legitimá-la. Os facínoras da esquerda não
só tornam-se heróis culturais, mas também aqueles que os criticam
de alguma forma transformam-se nos vilões da história. É a história
de Horst Wessel sendo repetida vez após vez. Suponho que a única
diferença seja que ainda não existe uma canção para Trayvon
Martin, e que Goebbels nunca afirmou que, no lugar de Horst
Wessel, poderia ter sido seu próprio filho.
No entanto, mesmo quando abraça a propaganda nazista e suas
táticas de opressão, a esquerda insiste, engraçado dizer, afirmando
que suas ações são em nome do antinazismo. É daí que a
respeitabilidade moral vem. É assim que os facínoras fascistas
podem ser retratados por seus aliados progressistas na mídia e em
Hollywood como sendo bonzinhos. Por contraste, os seus alvos —
as vítimas dos abusos e opressões fascistas — são retratados como
fascistas que merecem ser humilhados e abusados dessa maneira.
Se agora você começou a sentir que isso tudo não passa de uma
construção horrivelmente doentia e invertida, você está certo. Pois,
sim, realmente é.
Como as coisas chegaram a tal ponto? Essa incrível história
começa com um filósofo nazista que, por acaso, é um dos grandes
filósofos do século XX, Martin Heidegger. Ela continua com um dos
alunos judeus de Heidegger, Herbert Marcuse, que, curioso notar,
aprendeu a sua mais importante lição com os nazistas e a trouxe
para a América. Por razões que serão reveladas em breve, Marcuse
ensinou a esquerda dos anos 1960 a imitar os fascistas enquanto
posava de antifascista.
Finalmente, voltamo-nos para outro refugiado do nazismo, que, no
entanto, em sua juventude, trabalhou com os nazistas e agora
lidera, de maneira semelhante a Mussolini e Hitler no passado, sua
própria milícia privada. Note que Trump não possui uma milícia
privada, mas que esse sujeito a tem. No caso dele, bem como no de
Marcuse, a selvageria fascista deriva sua legitimidade moral e
respeitabilidade pública de uma falsa pose antifascista. Seu nome é
George Soros.

O Nazista Predileto da Esquerda


Desde a publicação de sua magnum opus, Ser e Tempo, a
filosofia de Martin Heidegger passou ao ramo de ampla influência.
Especificamente, é ela que fornece fundamentação intelectual para
toda uma série de causas progressistas. Primeiro, o ataque radical
de Heidegger à metafísica ocidental, de Platão até a então presente,
inspiraram o movimento acadêmico esquerdista chamado de
desconstrucionismo. O questionamento fundamental de Heidegger
em relação à tecnologia é invocado pelos chamados ecologistas
radicais do movimento ambientalista. Sua oposição ao capitalismo e
ao materialismo — ambos associados ao “americanismo” —
impulsionou os ânimos do anticapitalismo e do antiamericanismo
esquerdista. O ataque de Heidegger ao individualismo e seu
entusiasmo pelas comunidades sob o conceito de sangue e solo
ajudaram a fornecer base à política de identidade moderna em que
negros, hispânicos e outros reivindicam uma identidade única
baseada no pertencimento a um determinado grupo étnico. Por fim,
o ateísmo de Heidegger — sua afirmação feita em Ser e Tempo de
que somos seres mortais e devemos encontrar o nosso propósito
não em uma ordem transcendente, mas dentro da força de nossa
moralidade humana — fortificou a base secular e não religiosa do
progressismo moderno.
À luz disso, seria surpreendente — ou simplesmente apropriado?
— o fato de Heidegger admirar Hitler e ser membro ativo do Partido
Nazista? Heidegger foi nomeado reitor da Universidade de Friburgo
apenas alguns meses após Hitler ser feito chanceler da Alemanha,
em 1933. Mais tarde, naquele mesmo ano, na véspera da votação
de Reichstag, Heidegger fez seu Rektoratsrede, ou o
pronunciamento do reitor, em que se pronunciava a favor do
“ressurgimento” alemão de Hitler. Ao mesmo tempo, Heidegger
circulou um manifesto de acadêmicos alemães que pleiteava
lealdade a Hitler e ao Estado nacional- socialista, estabelecendo-se
assim como um dos principais coordenadores do Gleichschaltung
nazista.
Em seu então infame discurso como reitor, Heidegger ridicularizou
a noção de liberdade intelectual, dizendo que não passava de uma
falsa liberdade a ser subordinada aos objetivos maiores da nova
Alemanha de Hitler. Heidegger declarou que a verdadeira educação
não está meramente relacionada aos livros, mas também envolve a
participação no Ministério do Trabalho da Alemanha Nazista. Em
suas palavras, “o Estado nacional-socialista é um Estado dos
trabalhadores”.
O discurso de Heidegger foi seguido de uma emocionante
interpretação da canção de Horst Wessel e de pessoas gritando
Sieg Heil. Tempo depois, Heidegger discursou sobre “a verdade e a
grandeza interior” do nazismo. Mesmo depois da Segunda Guerra
Mundial, quando os crimes monstruosos do nazismo já eram
inegáveis, Heidegger manteve silêncio no tocante ao que os
nazistas fizeram aos judeus e a outras populações cativas.
Apesar de cúmplice do nazismo, muitos progressistas correram
para defendê-lo. Primeiro, dizem que Heidegger foi nazista por
apenas um breve período de tempo, na década de 1930; e que, em
meados dessa mesma década, já começava a distanciar-se do
nazismo. Em segundo lugar, os progressistas salientam que muitos
dos mais brilhantes alunos de Heidegger, como Karl Lowith, Herbert
Marcuse e Hannah Arendt, com quem teve um caso extraconjugal,
eram judeus; assim, ele não poderia ter sido antissemita. Talvez,
dizem esses defensores esquerdistas, Heidegger estivesse
brevemente apaixonado pelo nazismo, mas logo viu o erro de aliar-
se àquele partido.
O próprio Heidegger seguiu essa linha após a Segunda Guerra
Mundial, na qual minimizava seu compromisso com o Partido
Nazista. Heidegger dizia que suas palestras sobre Nietzsche, no
final da década de 1930 e início da década de 1940, eram, se
interpretadas corretamente, críticas ao nazismo. No entanto, neste
ponto, Heidegger foi insincero. As chamadas críticas ao nazismo, se
é que existiram, foram tão obscuras que nem mesmo o leitor mais
cuidadoso as decifraria. A insinceridade de Heidegger, na verdade
completamente desonesta, pode ser comparada, aqui, aos
eugenistas do Partido Nazista, que, tendo participado dos projetos
de esterilização e eutanásia durante o reinado de Hitler, depois
tentaram cobrir suas pegadas negando o passado e
silenciosamente entrando no movimento de controle populacional.
O problema para Heidegger e muitos de seus apologistas de
esquerda é que muita coisa veio à tona, expondo o relacionamento
íntimo e permanente de Heidegger com o nazismo. Esse é o homem
que, extasiado, disse de Hitler: “Somente o Führer é a realidade
presente e futura das leis alemãs. O Führer despertou essa vontade
em todo o povo e consolidou-a em uma solução única”.8 Heidegger
não só abraçava os nazistas, mas também via o próprio nazismo
como decorrente de sua filosofia, uma expressão política dos temas
inovadores de Ser e Tempo. Além do mais, a recente publicação dos
cadernos negros de Heidegger [black notebooks], escritos durante
um período de quarenta anos, de 1931 até o início da década de
1970, mostra como ele foi um antissemita no decorrer da vida.
Diante desse assustador conjunto de provas, muitos dos
defensores esquerdistas de Heidegger mudaram sua linha de
apologética. Agora eles afirmam que, embora um filósofo
possivelmente comprometido ao Partido Nazista, isso não faz dele
um filósofo nazista. A esse respeito, a esquerda distingue Heidegger
dos fomentadores intelectuais e teóricos da doutrina nazista como
Alfred Rosenberg, ideólogo do Partido. O objetivo da esquerda aqui
é descartar o homem Heidegger por sua política desprezível, mas
retê-lo Heidegger, o filósofo, como inspiração para toda uma série
de causas esquerdistas.
Bom, é verdade, Heidegger não foi um filósofo do nazismo, assim
dizendo, igual Giovanni Gentile foi do fascismo. Mas não se deduz
disso que o nazismo de Heidegger não estivesse enraizado nas
premissas de sua filosofia. Basicamente, o pensamento de
Heidegger emergiu de uma distinção entre a sociedade tribal, ou
Gemeinschaft, e a sociedade comercial, ou Gesellschaft. Essa
distinção não se originou com Heidegger — foi adotada pela
primeira vez pelo sociólogo alemão Ferdinand Toennies —, mas sua
obra se construiu a partir dela.
Essencialmente, Heidegger apoiou o nazismo como atestação do
conceito “solo e sangue” da Gemeinschaft tribal. Ele detestava a
Gesellschaft cosmopolita, uma vez que a julgava uma erosão dos
laços da sociedade tribal. Heidegger associava a Gesellschaft à
América, um país baseado em comércio e negócios. Ele também
associava a Gesellschaft aos judeus. Em seus cadernos negros,
Heidegger chama os judeus de “sem mundo”, pelo que ele quer
dizer que judeus são pessoas sem lugar, sem terra, unidos
continentes afora, no que ele enxergava a mais imunda caça por
renda e comércio. Mesmo nesse breve relato, nota-se como as
afinidades de Heidegger com o nazismo emergem das profundezas
de seus compromissos filosóficos.
Karl Lowith, um dos alunos de Heidegger, protestou contra o
esforço feito para evitar a conexão entre a filosofia de Heidegger e
seu nazismo, indicando que, décadas atrás, o próprio Heidegger
havia entendido sua filosofia como um guia ao nazismo; portanto,
não faria sentido aos discípulos de Heidegger fingir que entenderam
Heidegger melhor do que o próprio Heidegger.9 Apesar de tudo,
seus acólitos progressistas recusam-se a atender os protestos de
Lowith.
Em publicação recente, Sheldon Wolin, cientista político
esquerdista, ataca seus companheiros progressistas por agora
serem defensores tão persistentes e iludidos de um pensador
nazista.10 Wolin se propõe a resolver um mistério: como, pergunta
ele, um nazista de direita confesso virou o queridinho da esquerda
acadêmica e política contemporânea? É claro, a essa altura, já se
sabe que não se trata de mistério coisa nenhuma. O nazismo é de
esquerda, não de direita. Assim, não é um enigma que as mesmas
convicções da esquerda — ódio a Deus, ao capitalismo tecnológico
e ao “americanismo” —, convicções que conduziram Heidegger ao
nazismo, sejam, precisamente, bem aquilo que o tornam atraente
aos esquerdistas de hoje.
O que Wolin quer então? Basicamente, ele quer que seus
camaradas progressistas retornem à grande mentira. Wolin percebe
que simplesmente não há como vencer enquanto se encobre um
entusiasta nazista, por mais nobre que seja sua linhagem filosófica.
Wolin urge aos companheiros esquerdistas que se livrem de
Heidegger, denunciando-o e fazendo com que ele não seja feito um
deles. Se pudesse me colocar no lugar de Wolin e expor seu
argumento em minhas próprias palavras, eu diria o seguinte: “Tá, e
se Heidegger fosse um de nós? Mussolini também foi um de nós.
Significa que devemos tentar redimir Mussolini? Vamos,
esquerdistas. Progredimos tanto culpando a direita pelo nazismo.
Continuemos a dissertar que Heidegger foi de direita e fiquemos
longe dele. Não acabemos com a nossa farsa agora, e só para
salvar Heidegger”.
A urgência que Wolin usa para instar com a esquerda que se
separe de Heidegger talvez se explique pelo fato de que o maior
projeto de Heidegger e o maior projeto da esquerda moderna são
exatamente o mesmo. Heidegger insistia que tudo era político e é no
que a esquerda de hoje também acredita.
Heidegger dizia que a liberdade de expressão e a liberdade
acadêmica eram mitos. O que realmente importava era a
comunidade maior. A esquerda pensa o mesmo, mais uma vez.
Heidegger favorecia não só o debate como a doutrinação ideológica
aberta sobre a juventude. Soa familiar? Heidegger conhecia e,
evidentemente, apoiava a opressão e a expulsão de judeus e outros
“indesejáveis” do câmpus alemão. A esquerda de hoje tem uma
nova categoria de indesejáveis; dessa vez não são judeus, mas os
conservadores. Por fim, o objetivo de Heidegger era, de modo geral,
atingir a conformidade ou unidade ideológica, e, embora a esquerda
fale muito de diversidade dentro dos câmpus, é bastante óbvio que
a dita diversidade não passa de cobertura para a unidade e a
conformidade ideológica, exatamente do tipo que Heidegger buscou
no seu tempo e para o seu país.
Ainda mais do que a maioria dos outros professores na Alemanha,
Heidegger acedeu com entusiasmo ao Gleichschaltung de Hitler. Na
verdade, ele buscou a liderança acadêmica do Gleichschaltung nas
universidades alemãs. Não funcionou, os nazistas descobriram que
ele era um típico intelectual incompetente e deram a posição a outra
pessoa. Ocorre que o Gleichschaltung de Heidegger é precisamente
o que a esquerda tenta hoje, não apenas com as universidades da
América, mas com toda a cultura americana. Por consequência,
Wolin não quer o odor nazista de Heidegger permeando o amplo
projeto bem-sucedido da esquerda de criar um Estado dentro de um
Estado.

As Táticas Básicas dos Camisas Pardas


Em 1925, Theodor Lessing, filósofo judeu, falou contra o clima
político repressivo da Alemanha Weimar. Embora mirasse
explicitamente a covardia do regime de Weimar sob Paul von
Hindenburg, seu verdadeiro alvo era o poder emergente do
nazismo, criticando o governo por ceder-lhe espaço. Os nazistas
imediatamente reconheceram a ameaça representada por Lessing.
A juventude hitlerista da Universidade de Hanôver formou um
“comitê contra Lessing”. Eles encorajaram os alunos a boicotar suas
palestras. Uma juventude de nazistas então fazia-se presente e
interrompia as aulas de Lessing, que foi forçado a desistir de sua
ocupação acadêmica no ano seguinte.
Descrevendo o que aconteceu, Lessing reconhece que nada
poderia ter feito para evitar que fosse “calado, ameaçado e
denegrido” por ativistas estudantis. Conforme o relato, ele estava
indefeso “contra as vozes assassinas de jovens que não aceitam
responsabilidades individuais, uma juventude que se apresenta
como porta-voz de um grupo ou de um ideal impessoal, sempre
falando de um tipo nobre de “nós”, só que distribuindo insultos
pessoais [...] e reivindicando que tudo aquilo que acontece é em
nome do verdadeiro, do bom e do belo”.11 Década de 1920, eis o
fascismo no estilo alemão.
Em março de 2017, Charles Murray, célebre cientista político —
ex-colega meu no Instituto American Enterprise —, marcou de
palestrar sobre as divisões de classe na sociedade americana em
um bastião progressista, a Universidade de Middlebury, em
Vermont. Centenas de manifestantes compareceram ao lado do
Centro Estudantil McCullough, onde Murray estava programado
para falar e dialogar com a cientista política de Middlebury, Allison
Stanger. Murray é libertário e tende ao Partido Republicano, ainda
que não seja fã de Donald Trump. Ao contrário de Lessing, que
ensinava na universidade onde foi assediado, Murray não leciona
em Middlebury, praticamente desprovido de um corpo docente e
gerencial conservador. (Stanger é uma democrata moderada e
afiliada ao grupo New America Foundation).
De qualquer forma, a discussão pretendia ser acadêmica e
esclarecedora, dando aos alunos uma perspectiva que nunca
tiveram. Mas os manifestantes de Middleburry não tinham interesse
nenhum nisso. Os ativistas enfrentaram Murray e Stanger,
atacando-a em dado momento. Dentro então do Wilson Hall, os
manifestantes viraram as costas para Murray e começaram a gritar,
berrar e a vaiá-lo. Murray percebeu que simplesmente não podia ser
ouvido. Funcionários da universidade escoltaram Murray e Stanger
para outro local, onde o diálogo, por razões de segurança, foi
exibido via televisão através de circuitos internos.
De acordo com Bill Burger, porta-voz da Middlebury, Murray e
Stanger foram, após o evento, “confrontados fisicamente, e
violentamente, por um grupo de manifestantes”, mascarados no
estilo característico da Antifa. Murray e Stanger abaixaram-se no
interior do veículo de um dos administradores, mas os manifestantes
atacaram o carro, golpeando-o, balançando-o e tentando evitar que
o automóvel se movesse. “Em dado momento”, disse Burger, “uma
grande placa de trânsito foi jogada na frente do carro. Então
finalmente alguns guardas conseguiram abrir caminho e permitiram
que o veículo saísse do câmpus”.
De acordo com Burger, “durante o confronto fora do Centro
Estudantil McCullough, um dos manifestantes puxou o cabelo da
professora Stanger e torceu seu pescoço. Ela foi atendida no
hospital Porter mais tarde e está usando um colar cervical”. Murray
elogiou os seguranças do câmpus pela proteção que proveram, mas
descreveu o que passou como uma “ação assustadora e violenta de
uma multidão”.12 Meados de 2017, eis o tão aclamado antifascismo
progressista no estilo americano.
Por que esse aparente antifascismo por parte dos progressistas
se parece tanto com o fascismo ao qual pretende se opor? Indo
mais a fundo, o que é o antifascismo conforme o termo agora é
usado pela esquerda americana? A fim de resposta, cabe recorrer
aos fundadores do chamado movimento antifascista da esquerda
progressista, o sociólogo Herbert Marcuse e seu companheiro,
Theodor Adorno, ambos da Escola de Frankfurt, ou do Instituto de
Pesquisa Social de Frankfurt sobre o Meno, Alemanha.
Por cerca de um ano ou pouco mais, temos ouvido muito sobre a
Escola de Frankfurt. Aqui estão dois artigos recentes: um de Sean
Illing no site Vox, intitulado “Quer Entender a Era Trump? Leia a
Escola Frankfurt”; o outro, de Alex Ross para a revista New Yorker,
intitulado “A Escola Frankfurt Sabia que Trump Estava
Chegando”.13 Ambos esquerdistas, o que eles querem é que
vejamos a relevância da Escola de Frankfurt — e eles estão certos,
mas não pelas razões que pensam.
O homem que se tornou a figura mais influente da Escola de
Frankfurt, Herbert Marcuse, foi aluno de Heidegger em Freiburgo,
onde também passou a ser seu assistente. Marcuse, jovem
marxista, atraiu-se por Heidegger pelo que viu nele um
revolucionário igual a Marx. Um dos temas centrais de Marx, a
alienação, também é central para Heidegger. Ambos foram homens
de esquerda que desprezaram o capitalismo tecnológico. Em sua
obra, Marcuse procurou incorporar Marx a Heidegger. A Stanford
Encyclopedia of Philosophy [Enciclopédia de Filosofia de Stanford]
expressa o projeto de Marcuse como uma tentativa de criar um
“marxismo heideggeriano”.14
Marcuse reconheceu o crescente fascismo de Heidegger, o que,
por si só, não foi um problema. O fascismo, como já mencionado,
não é inerentemente antissemita. Marcuse sabia que o ódio de
Heidegger pelo individualismo, pelo capitalismo e pelo
“americanismo” era partilhado por fascistas e marxistas.
Precisamente por essa razão, Marcuse acreditava que uma fusão
do socialismo marxista com o fascismo heideggeriano resultaria
numa síntese lógica. Percebe-se no projeto intelectual do jovem
Marcuse uma confirmação daquilo que demonstrei anteriormente, as
raízes esquerdistas e socialistas do fascismo. Mas Marcuse
percebeu que Hitler era um profundo antissemita. Como judeu,
Marcuse compreendia o perigo que o nacional-socialismo alemão
lhe representava pessoalmente.
Logo Marcuse rompeu com Heidegger e fugiu do país. Depois
juntou-se à Escola de Frankfurt, formada em 1922, mas a maioria
dos seus estudiosos durante a era de Hitler foi exilada para viver e
trabalhar no exterior, uma vez que eram judeus em território alemão.
Um dos colegas de Marcuse foi Theodor Adorno. Ambos vieram
para os Estados Unidos. Adorno trabalhou no Instituto de Pesquisa
Social, filial da Escola de Frankfurt em Nova Iorque, e depois se
mudou para a Califórnia, onde permaneceu por vários anos antes de
retornar à Europa, em 1949.
Marcuse trabalhou na Universidade Columbia e mais tarde se
mudou, durante a Segunda Guerra Mundial, para Washington, D.C.
a trabalho em duas agências do governo: o Departamento de
Informações de Guerra e depois o Escritório de Serviços
Estratégicos, precursor da CIA. Posteriormente Marcuse ensinou na
Universidade Brandeis e depois na Universidade da Califórnia em
San Diego, onde permaneceu até a sua morte, no ano de 1979.

A Enganosa Origem do “Antifascismo”


Estes dois homens exerceram enorme influência sobre a cultura
acadêmica, sobre a cultura popular e deram ao progressismo suas
credenciais antifascistas. Mas não no início. A princípio, a Escola de
Frankfurt tentou vender seus vários rótulos de marxismo e
socialismo na América, mas encontraram poucos compradores.
Quem queria ouvir um grupo de alemães enfadonhos balbuciar
sobre os males da cultura de consumo capitalista? Embora tal
retórica fosse comum nos partidos socialistas e nos movimentos da
Europa, os americanos não reagiram bem. Aqui as pessoas gostam
de lindas casas, carros e piscinas no quintal.
Assim Marcuse e Adorno colocaram suas cabeças para trabalhar
e tiveram uma epifania conjunta. Eles perceberam que poderiam
vender a si próprios como antifascistas. Afinal de contas, esta era a
era após a Segunda Guerra Mundial. A América havia acabado de
guerrear contra os nazistas. O nazismo, logo depois da guerra,
tornou-se a própria medida do mal. Marcuse e Adorno perceberam
que tudo associado ao nazismo ou ao fascismo seria
automaticamente manchado. E eles se propuseram a estabelecer
esse fato óbvio para uso político em favor da esquerda política.
Não se sabia muito a respeito do fascismo e do nazismo fora da
cobertura superficial dos jornais e das rádios. Academia e mídia,
ambas reconhecidamente desconheciam o que atraía tantas
pessoas ao fascismo e ao nazismo, ainda mais com o
antissemitismo que os permeava. Marcuse e Adorno eram
intelectuais alemães. Ambos judeus, era de se esperar que
conhecessem o antissemitismo e o destino dos judeus. Eram,
ademais, refugiados da Alemanha nazista, o que lhes possibilitaria
reclamar a oportunidade de falar sobre o nazismo “de dentro”, por
assim dizer.
A estratégia de marketing funcionou. Marcuse foi contratado pelo
governo dos EUA para prover informações sobre como combater o
nazismo ideologicamente. Após a guerra, Marcuse foi instrumental
na formação de programas de reeducação na Alemanha, alguns
visando explicitamente erradicar o que restasse da lealdade ao
nazismo das pessoas. Ao lado de Adorno, Marcuse também moldou
a considerada educação antifascista nos Estados Unidos. A obra de
Adorno e Marcuse foi adotada pelo Comitê Judaico Americano,
sentindo naturalmente que esses dois judeus alemães exilados
conheceriam precisamente a natureza do nazismo, do fascismo e do
antissemitismo, sabendo como superá-las.
Na verdade, nem o governo dos EUA nem o Comitê Judaico
Americano perceberam que Adorno e Marcuse tinham sua própria
agenda: não lutar contra o fascismo per se, mas promover o
marxismo e uma agenda política de esquerda. O marxismo e o
fascismo são, conforme já visto, bastante próximos; são ideologias
coletivistas da esquerda. Seus inimigos comuns são, é claro, o livre
mercado e as diversas instituições do setor privado, incluindo a
igreja e a família tradicional. Marxismo e fascismo, ambos
procuraram livrar-se do capitalismo e recriar a ordem social. Assim
também Marcuse, Adorno e a Escola de Frankfurt.
Portanto, a Escola de Frankfurt decidiu reembalar o fascismo
como forma de capitalismo e tradicionalismo moral. Com efeito, eles
reinventaram o fascismo como fenômeno da direita política. Nesta
interpretação estapafúrdia, o fascismo foi transformado em duas
coisas que os verdadeiros fascistas desprezavam: livre mercado e
apoio a uma ordem moral tradicional. Resoluta e determinada, a
Escola de Frankfurt, tornando o povo menos apegados às principais
instituições econômicas e sociais da sociedade americana, lançou
um programa maciço para erradicar o fascismo nascente nos
Estados Unidos.
O documento clássico sobre este ponto é a famosa Escala F de
Adorno. O F vem de fascismo. Adorno esboçou-a em seu livro The
Authoritarian Personality [A Personalidade Autoritária], escrito em
1950. O argumento de base consistia em afirmar que o fascismo é
uma forma de autoritarismo e que a pior manifestação do
autoritarismo é a repressão voluntariosa. Adorno argumentou que o
fascismo desenvolve-se cedo e que podemos encontrá-lo no apego
dos jovens à superstição religiosa e aos valores convencionais
pertencentes à classe média de família, sexo e sociedade.15
Cínico, Adorno produziu essa lista de perguntas, objetivando
detectar afinidades fascistas: “A obediência e o respeito pela
autoridade são as virtudes mais importantes que uma criança deve
aprender [...] A homossexualidade é uma forma particularmente
doentia de delinquência [...] Nenhum insulto à própria honra deve
ficar impune [...] Não importa seu modo aparente de agir, os homens
estão interessados em mulheres por apenas uma razão”.
Resumindo, uma resposta positiva já faria da pessoa um fascista em
ascensão.
A lógica subjacente à posição de Adorno estava ali para garantir
que o fascismo alemão e italiano seriam, em seu cerne,
caracterizados pela repressão interna tanto psicológica quanto
sexual. No entanto, um momento de reflexão mostra por que sua
posição não tem sentido. De modo geral, a sociedade, no que dizia
respeito à religião, à família e à sexualidade, era bastante
semelhante em todos esses países, permitindo-se a variações
moderadas. Talvez alguém argumente, não sem especulações, que
os alemães da época eram mais rígidos do que, por exemplo, os
franceses, mas quem argumentaria que os italianos eram mais
oprimidos do que, digamos, os ingleses?
Assim a Escala F de Adorno não tinha poder para explicar por que
o fascismo chegou ao poder na Alemanha e na Itália, mas não em
outros lugares. A maioria dos verdadeiros fascistas, observa
objetivamente o historiador Anthony James Gregor no livro The
Ideology of Fascism, “não teria atingido pontuações especialmente
altas”.16 A única pergunta que de fato teria descoberto afinidades
fascistas — “Você apoia o aumento do poder do Estado centralizado
sobre os indivíduos, as famílias, as igrejas e sobre todo o setor
privado?” —, Adorno deixou de fora da Escala F, provavelmente por
ocasião de que progressistas e democratas a isso responderiam
positivamente.
Dado o absurdo patente do antifascismo de Adorno com sua
Escala F obviamente fraudulenta e pseudocientífica, por que os
principais meios de comunicação da academia americana
apaixonaram-se por ela? Por que acompanharam Adorno e
declararam seu trabalho como sendo a base definitiva da educação
antifascista? Abreviando a resposta, até mesmo naquela época a
academia tinha fortes inclinações progressistas; além do mais, os
progressistas estavam em busca de como encobrir a cumplicidade
progressista com o fascismo e com o nazismo.
Os progressistas já começavam a enterrar aquilo que os
associava com Mussolini e Hitler. Ato contínuo, ocultavam também o
vínculo de FDR com o fascismo e com o nazismo. Em meio a tudo
isso, os progressistas perceberam, para admiração e alívio, que ali
estava um intelectual, judeu da Alemanha, afirmando que o
fascismo era um fenômeno de direita. Óbvio dizer, o que ele fazia
era ligar o fascismo aos conservadores que apoiavam o capitalismo
e afirmavam a religião e a família tradicional. Tratava-se de uma
mentira — os verdadeiros fascistas detestavam essas instituições e
intentavam destruí-las —, mas uma mentira politicamente
conveniente.
Dessa forma, com prazer os progressistas aderiram à falácia e a
brindaram; e o brinde perdura. Em 2005, por exemplo, Alan Wolfe,
sociólogo progressista, admitiu falhas na obra de Adorno, mas
elogiou seu livro The Authoritarian Personality como “mais relevante
agora”, pois “parece capturar o prisma por que muitos políticos da
direita cristã enxergam o mundo”.17 O valor de Adorno é que ele
capacita muitos a dizer: “Abaixo o fascismo! Agora, vamos nos livrar
do conservadorismo e expor esse pessoal maligno da direita”.

O Pervertido Sexual como Antifascista


Agora, cumpre passar de Adorno para um réu sob ainda maiores
acusações, Marcuse, que fez duas contribuições significativas para
conferir ao progressismo sua reputação antifascista, cada uma delas
significativa por direito próprio. A primeira delas é, em certo sentido,
derivada. Ela procede de um pensamento corolário de Adorno. Se o
fascismo é definido pela repressão interna tanto psicológica como
sexual, conforme Adorno defendia, o antifascismo significa o oposto
— significa libertação interna tanto psicológica como sexual.
Esta é a mensagem do primeiro livro importante de Marcuse, Eros
e Civilização. Marcuse defendeu a liberdade sexual ao inverter o
famoso argumento que Freud apresenta em sua obra O Mal-Estar
na Civilização. Freud argumenta que as civilizações se constroem
reprimindo impulsos eróticos e sexuais. Esses impulsos estão
transbordando e, se não controlados, terão o poder de produzir o
caos social. Mas quando controlados, quando, por assim dizer,
adiada a gratificação, pode-se daí canalizar as energias e voltá-las a
iniciativas produtivas.
Marcuse argumenta o contrário, que a sociedade capitalista
tecnológica moderna estabeleceu elaborados sistemas de controle
dos órgãos sexuais, o que Marcuse chama de “o sacrifício da libido”.
Marcuse não só culpa o sistema do livre mercado por,
supostamente, codificar e comercializar o sexo — transformando-o
em mercadoria —, mas além disso culpa os costumes religiosos e
sociais de repressão e escravização dos instintos sexuais. Triste em
constatar, Marcuse notou que existe atualmente na América uma
“canalização da sexualidade na reprodução monógama” e um “tabu
sobre perversões”.
Despojada e involuntariamente cômico, Marcuse torna público que
essa “sexualidade reprimida” indiciava o emergente fascismo
americano. Se permanecer presa, “tamanha sexualidade será
manifesta nas formas mais hediondas e tão bem conhecidas”,
incluindo as “orgias sádicas e masoquistas” dos prisioneiros e
“guardas do campo de concentração”. O mantra de Marcuse era
“acabe com isso tudo”. Liberte a libido. Libere tudo. Marcuse
denominou o que ele promoveu de “sexualidade polimórfica”.18
Celebrando a mais absoluta perversão, tal mantra não poderia
estar mais perfeitamente preciso do que na década de 1960,
quando uma geração de jovens ativistas alienou-se dos pais, dos
pastores e das normas da sociedade. Eles estavam buscando por
um guru do sexo, e Marcuse tornou-se seu apóstolo da liberdade
sexual, descrição de si mesmo que rejeitava formalmente — ele
gostava de posar de intelectual desinteressado —, mas também
entendia que, precisamente, tal era a base para sua posição de
celebridade na contracultura dos anos 1960. Marcuse supria os
jovens de bases formuladas para suas aventuras genitais: era isso
que os filhos da revolução sexual mais gostavam nele.
Basicamente, Marcuse fez da boêmia sexual sua valente
manifestação do antifascismo.
Assim como seu colega Adorno, Marcuse estava por criar uma
grande fraude. Os enfadonhos boêmios da década de 1960 não
faziam ideia, mas Marcuse certamente sabia que os nazistas e os
fascistas italianos eram eles mesmos — quase que unanimemente
— boêmios. O próprio Hitler foi pintor e artista antes de entrar para a
política. Richard Evans, historiador, não hesita em chamá-lo de
“boêmio”.19 Obcecado pela música, costumava participar do
Festival de Bayreuth. Segundo Hitler, a música de Wagner refletia o
triunfo da arte sobre a vida. Ele também era vegetariano. Hitler tinha
uma amante secreta chamada Eva Braun, com quem só casou um
dia antes de ambos cometerem suicídio. No caso deles, o voto “até
que a morte nos separe” foi, literalmente, uma questão de horas.
Hitler desprezava o cristianismo considerando-o uma espécie de
doença e costumava comentar que buscaria por fim erradicá-lo no
Terceiro Reich. “O cristianismo puro”, dizia Hitler, “conduz
simplesmente à aniquilação da humanidade [...] Sejamos os únicos
imunes a esta doença”. Embora reconhecesse não convir
politicamente o ataque aberto ao cristianismo, Hitler o chamou, em
particular, de “invenção de cérebros doentes: não se poderia
imaginar nada mais sem sentido”. Sobre o cristianismo, palavras de
Hitler: “A catástrofe para nós é a de estarmos amarrados a uma
religião que se revolta contra todas as alegrias dos sentidos”.20
Himmler, segundo braço direito de Hitler e comandante da SS, era
ateu e tinha sua secretária, Hedwig Potthast, como amante. Embora
por vezes retratado como rígido tradicionalista moral, nada poderia
estar mais longe da verdade: Himmler imaginava fazendas de
procriação humana em que os tipos arianos selecionados se
reproduziriam de forma promíscua com mulheres arianas
selecionadas para reprodução. Nas palavras da historiadora Sarah
Helm, “um constante fornecimento de crianças arianas perfeitas”.
Himmler também era entusiasta da alimentação natural e
fervoroso defensor da agricultura orgânica. Ele insistia no cultivo de
alimentos orgânicos em campos de concentração; certa feita, parou
em Auschwitz simplesmente para visitar a horta que lá havia. Muitos
dos principais nazistas condenavam o congestionamento das
cidades e afirmavam o valor de viver em comunhão com a natureza.
O historiador Stanley Payne escreve que, no nazismo, encontram-se
“as primeiras grandes expressões do ambientalismo moderno”.21
Goebbels também, ateu e galanteador, com uma série de
romances notórios, sendo um com Lida Baarova, atriz tcheca. Ele
escreveu uma peça e um romance autobiográfico, sem contar que
se supunha romanesco, e escreveu sua tese de doutorado na
Universidade de Heidelberg sobre o Romantismo alemão. Antes de
entrar na política, Goebbels queria ser artista e escritor. Se vivo
hoje, seria fácil imaginá-lo vivendo nas redondezas de Greenwich
Village e ensinando línguas românicas na Universidade Columbia ou
na Universidade de Nova Iorque.
O mesmo com Mussolini, boêmio que escreveu uma peça e se
considerava talentoso violinista. Também era ateu e, apesar de
casado, homem promíscuo que, dado à jactância, ostentava sua
promiscuidade. Richard Evans, historiador, nota que “Mussolini
gastou um bom tempo com a própria vida sexual; sua imagem oficial
como homem de família, amoroso e fiel existia em paralelo a uma
imagem não oficial do homem de impulsos priápicos
incontroláveis”.22 Burgueses religiosos e tradicionalistas morais é
que esses homens não foram.
Progressistas e esquerdistas ocasionalmente procuram defender
Adorno e Marcuse e provar o tradicionalismo moral dos fascistas,
alegando que estes eram contra os homossexuais. É verdade que
os homossexuais foram, mais tarde, um dos grupos capturados e
presos nos campos de concentração, mas isso nada teve que ver
com questões morais. Em vez disso, baseava-se na ideia nazista de
que era imperativo que a Alemanha multiplicasse sua população
nórdica ou ariana, e a homossexualidade, por sua vez, era vista
como impedimento a esse processo. Dois homossexuais, ambos
notoriamente extravagantes, do Partido Nazista — o especialista
jurídico do partido, Helmut Nicolai, e Achim Gerke, que serviu no
Ministério do Interior de Hitler — foram purgados em 1935 com base
nessa alegação.
Extensamente reconhecido nas décadas de 1920 e de 1930, um
número significativo de camisas pardas nazistas, incluindo o líder do
grupo, Ernst Röhm, era “como tantos dos primeiros nazistas”,23
homossexuais. William Shirer conta que o líder dos camisas pardas
de Munique, Edmund Heines, não só era um assassino condenado,
mas também homossexual. Os comunistas e os democratas sociais
zombavam dos camisas pardas nazistas, chamando-os de nomes
como a Irmandade dos Efeminados na Casa Parda.
Himmler e Goebbels, temerosos de que uma reputação gay
prejudicasse as perspectivas políticas do Partido Nazista, exortaram
Hitler a reduzir a presença homossexual entre os camisas pardas.
Mas Hitler se recusava, afirmando que essas coisas diziam respeito
“puramente à esfera privada”. Os camisas pardas, enfatizava ele,
não eram uma “ordem da moral social”, mas, sim, um “grupo de
guerreiros”. Por que então, perguntou Hitler, ele deveria se importar
com o que seus homens faziam no quarto depois de cumprir com o
dever?24
Os camisas pardas só se tornaram um problema quando
ameaçaram substituir, como brigada de execução do país, a polícia
alemã e as Forças Armadas. Hitler precisava do exército e da
polícia, e assim concordou, ainda que relutante, em suprimi-los.
Quando apareceu no Hotel Hanselbauer para prender Röhm e seus
principais tenentes, Hitler se viu no meio de uma orgia homossexual.
Na primeira porta que abriu, deparou-se com Heines nu na cama
com um jovem de dezoito anos, comandante das tropas dos
camisas pardas. Hitler lhe disse: “Se não estiver vestido dentro de
cinco minutos, atirarei em você aqui mesmo”. Heines saltou de
debaixo dos lençóis e fez a saudação Heil Hitler.
Quando os homens de Hitler abriram a porta de Röhm, o cabeça
dos camisas pardas, fingiu ser aquela uma atitude muito casual.
Hitler simplesmente disse: “Você está preso”. Uma a uma, as portas
se abriam e as duplas dos camisas pardas saíam depressa,
despidos de várias formas.25 Essa era a atmosfera nazista
daqueles dias, o que mais se parece com a atmosfera da Village
Voice ou a Convenção Nacional Democrata do que com a National
Review ou com a atmosfera da Casa Branca de Trump.

Intolerância Repressiva
Marcuse era ativo em todas as frentes. Em seu livro One
Dimensional Man [O Homem Unidimensional], ele critica o
capitalismo americano por reduzir todos os valores aos valores do
mercado e os seres humanos a consumidores manipulados pela
publicidade corporativa. A solução de Marcuse consistia em
combater a publicidade corporativa com a propaganda política,
visando motivar a consciência pública e mobilizá-la contra o
capitalismo.
Marcuse também escreveu seu An Essay on Liberation [Um
Ensaio sobre a Libertação], mostrando à esquerda na América como
ela poderia ajudar as revoluções socialistas no Vietnã, Cuba e
mundo afora: em essência, ajudaria ao tornar-se parte de uma
guerrilha de resistência nos Estados Unidos. Mais uma vez, música
aos ouvidos de ativistas de esquerda na década de 1960. Sem
dúvida eles pensaram: “Quer dizer que eu também posso me juntar
a uma guerrilha à lá Che Guevara bem aqui, em Ann Arbor,
Michigan?”.
Aqui, desejo concentrar-me na ideia de que Marcuse
provavelmente seja melhor lembrado como alguém que não poderia
ser mais pertinente nos dias de hoje, o que bem se percebe a partir
de um famoso ensaio escrito por ele, intitulado Repressive
Tolerance [Tolerância Repressiva]. Este, publicado em 1970, junto
de vários outros em um livro chamado A Critique of Pure Tolerance
[Crítica da Tolerância Pura].
Sigamos o argumento do ensaio, pois ele fornece a base para a
intolerância viciosa que a esquerda atualmente desencadeia contra
todas as formas de dissidência em nossa cultura. O assédio, a
opressão e o terrorismo contra conservadores no câmpus
universitário, a ridicularização dos republicanos na mídia, a
profanação da bandeira americana, a interrupção dos comícios de
Trump — todo esse comportamento recebe sua justificativa moral no
notório ensaio de Marcuse.
Ele começa admitindo que, se nada mudar no cenário em
questão, virtudes liberais clássicas como a tolerância e a liberdade
de expressão são desejáveis. Mas, segundo ele, dada a estrutura
de classe da sociedade, em que os grupos governantes têm a maior
parte do poder e os grupos desprotegidos têm pouco, “os limites da
tolerância estão lotados”. Estender tolerância a grupos intolerantes,
Marcuse argumenta, “na verdade protege as já consagradas
máquinas de discriminação”.
Portanto, Marcuse argumenta que um princípio geral de tolerância
liberal — tolerância em relação a todos os pontos de vista — deve
ser abandonado: “A tolerância não pode ser indiscriminada e igual
no que diz respeito ao conteúdo daquilo que é expresso, nem em
palavras nem em ações; a tolerância não pode proteger palavras de
falsidade nem atitudes erradas, estas manifestando que
contradizem e neutralizam as possibilidades de libertação”.
Na sociedade, Marcuse insiste: “Certas coisas não podem ser
ditas, certas políticas não podem ser propostas, certos
comportamentos não podem ser permitidos, sem fazer da tolerância
um instrumento para a continuação da servidão”. Marcuse não era
nada menos que contundente sobre o que defendia: “revogue-se
sistematicamente a tolerância para com opiniões regressivas e
repressivas”.
O que especificamente Marcuse procurava reprimir? Ele cita “a
retirada da liberdade de expressão e do direito de assembleia de
grupos e movimentos que promovem políticas agressivas,
armamento, chauvinismo, discriminação racial e religiosa, ou que se
opõem à ampliação dos serviços públicos, segurança social,
assistência médica, etc”. Além disso, Marcuse acrescenta que sua
“abordagem poderia exigir novas e rígidas restrições aos ensinos e
práticas nas instituições educacionais”, incluindo a supressão de
certos tipos de “pesquisa científica”.
Sem rodeios, Marcuse clama por “intolerância contra os
movimentos de direita e tolerância aos movimentos de esquerda”.
Ele confessa que seu objetivo é “mudar o equilíbrio entre a direita e
a esquerda, restringindo a liberdade da direita”, para, assim,
“fortalecer os oprimidos contra os opressores”. O argumento de
Marcuse resume-se nesta frase: sem tolerância para com o
intolerante. Na década de 1960, os acólitos de Marcuse entoaram
uma máxima semelhante: “Abaixo a liberdade de expressão para os
fascistas”.
Marcuse lembra seus leitores de que, quando os fascistas
planejavam um massacre, “os discursos dos líderes fascistas e
nazistas eram o prólogo imediato ante o massacre”. No entanto, ele
diz: “Poderia ter sido possível interrompê-lo enquanto ainda
estivesse na posição de mensagem propagada, antes que fosse
tarde demais”. Na verdade, se desde antes não houvesse tolerância
para com os nazistas, “a humanidade poderia ter evitado Auschwitz
e uma guerra mundial”. Marcuse convida companheiros
esquerdistas e progressistas a dar à direita na América o que se
pode chamar de tratamento fascista ou nazista — uma forte dose de
repressão e intolerância.26
À primeira vista, “restringir a liberdade de expressão para
fascistas” soa irrepreensível. Mas basta refletir um pouco que a ideia
torna-se problemática. Debaixo da Constituição, não são os direitos
iguais a todos os cidadãos e, assim sendo, não têm eles os mesmos
direitos à liberdade de expressão, à livre assembleia, e assim por
diante? Se assim for, os fascistas também têm tais direitos. Então,
com base em que os fascistas na América podem ter seus direitos
negados? Visto ter isso em mente, Marcuse obviamente não
acredita nos direitos iguais em pé de igualdade para todos os
cidadãos; nem seus seguidores de hoje, pelo visto.
Além disso, Marcuse não prova nem sequer por um instante que
os grupos que ele pretende reprimir são de fato fascistas. O alvo de
Marcuse não são nazistas, mas sim patriotas, republicanos e
conservadores. O significado verdadeiro de seu ensaio é o seguinte:
não à liberdade de expressão para patriotas e conservadores!
Nenhuma tolerância para capitalistas e cristãos! Já era esperado,
fascistas e nazistas, eles mesmos procuravam minar as instituições
da democracia liberal como a liberdade de expressão e a tolerância,
ato congênere aos ensinamentos de Marcuse.
Lutar contra o fascismo com intolerância é uma coisa. Mas lutar
contra o liberalismo clássico e o conservadorismo americano
moderno com intolerância é, a bem da verdade, fascismo. Stanley
Payne, historiador — que não é conservador —, sem dúvida
entendeu a mensagem. Em seu livro A History of Fascism, Payne
analisa o argumento de Marcuse sobre a tolerância repressiva e
conclui: “Em vez de apresentar uma interpretação do fascismo,
Marcuse parece simplesmente refletir o tipo de pensamento que,
desde o princípio, formou o próprio fascismo”.27 Em outras
palavras, quem quiser saber como é um fascista, que comece com
Marcuse.
Às vezes me pergunto como é que Marcuse, um refugiado da
Alemanha nazista, poderia tão sofisticamente recomendar as
mesmas táticas nazistas das quais fugiu. Lendo Marcuse — sua
admiração maquiavélica pelo uso astuto da força, sua exaltação do
poder nietzschiano —, acho que descobri. Qualquer que fosse sua
repulsa ao antissemitismo nazista, Marcuse entendeu que o uso de
táticas terroristas da Alemanha nazista era efetivo. Eles
conseguiram, os nazistas derrotaram seus adversários e os
subjugaram. Resumidamente, eles produziram o seu próprio
Gleichschaltung. Então, Marcuse imaginou, por que nós, que
também somos de esquerda, não aplicamos algumas dessas
mesmas táticas triunfantes nos Estados Unidos?
O objetivo último de Marcuse nesse ensaio é bastante claro. Ele
pretende capacitar progressistas e esquerdistas ao uso de todo tipo
de tática, desde a discriminação até a repressão e a violência direta,
a fim de erradicar sua oposição conservadora. Não se preocupe
com ser intolerante, ele diz, mas lembre-se somente de que a luta é
contra a intolerância! Percebe-se assim como grupos facínoras de
esquerda, Black Lives Matter, Antifa e todos os demais, recebem
suas táticas de guerrilha contra a moral.
Há, na tese de Marcuse, um corolário final que geralmente passa
desapercebido. Marcuse não só autoriza o que for preciso para o
uso de táticas opressoras e terroristas contra a direita. Ele também
garante aos esquerdistas que o escape é certo, eles podem fazer o
que quiser e sair ilesos, afinal são eles é que estão do lado da
humanidade e da libertação.
Vale considerar por um instante o porquê de o comportamento
predatório de Bill Clinton ser rotineiramente desculpado pela
esquerda, mesmo por supostas feministas que ficariam loucas se
um republicano ou conservador fizesse algo remotamente parecido.
É útil lembrar que Bill não foi um mero galanteador; muitas mulheres
o acusaram de assédio, tentativas de agressão e até mesmo
estupro. A explicação óbvia para tamanha imunidade é que Bill está
politicamente ao lado dos anjos, ou seja, ele está no campo
progressista e, portanto, não há limites quanto ao nível de proteção
que lhe é permitido.
A mídia de esquerda foi meticulosamente protetora ao falar do
filantropo democrata Jeffrey Epstein e de sua ilha, onde eram
organizadas orgias, muito menos mostrou interesse em cobrir as
perversidades de Anthony Podesta com suas práticas de “spirit
cooking”*. Mesmo o caso de Anthony Weiner com escândalos
envolvendo meninas menores de idade não seria problema para a
esquerda, desde que não causasse maiores alardes e tornasse
Wiener politicamente calamitoso.
Concluo esta parte sobre Marcuse voltando-me aos artigos
esquerdistas mencionados anteriormente; estes insistem que os
escritos da Escola de Frankfurt são de necessidade crítica para
entender Trump e nosso momento atual. Acredito eu que possamos
ver agora que de fato são. Deles não se entende Trump e o GOP
como fascistas perigosos. Pelo contrário. Eles mostram é que
Marcuse, Adorno e os demais eram fraudes intelectuais e políticas.
Artistas vigaristas de esquerda, uma classe que criou sua própria
versão da grande mentira e deu uma bela demonstração de como
orquestrar uma vingança nos moldes fascistas enquanto posando
de antifascistas.
A Violência de Risco de George Soros
Finalmente, voltemo-nos para o terceiro facínora da trilogia,
investidor e magnata dos negócios, George Soros. Como Heidegger
e Marcuse, ele também faz parte do Gleichschaltung progressista e
todos os três parecem fazer isso da mesma maneira. De origem
húngara, Soros passou ao patamar de bilionário por meio de astutos
investimentos globais e manipulações da moeda; seu grupo
Quantum Fund é um dos primeiros fundos de hedge, ou fundo de
cobertura, privados do mundo. Ao mesmo tempo que Heidegger e
Marcuse podem ser considerados intelectuais por trás do fascismo
progressista, Soros com certeza é seu maior financiador.
Soros é o que mais financia cerca de duzentos grupos
esquerdistas, incluindo Planned Parenthood, MoveOn.org e várias
organizações ambientalistas e de direitos humanos de esquerda.
Todos são resolutamente opostos a Trump e ao GOP. A Marcha das
Mulheres, propagada pela mídia como uma erupção espontânea
contra Trump, foi subsidiada em peso pela rede de Soros. Ele
também apoia os chamados grupos antifascistas e a organização
Black Lives Matter. Em 2015, por exemplo, a ONG Open Society de
Soros doou 650 mil dólares em apoio à manifestação do grupo
Black Lives Matter logo após o assassinato de Freddie Gray, em
Baltimore. Este ano, o Pacto pela Justiça Global [Alliance for Global
Justice], grupo apoiado por Soros, doou 50 mil dólares para os
criminosos militantes associados ao grupo Refuse Fascism.28
Como Soros vê seu papel na formação da América e do mundo?
Que ele fale por si mesmo. “Eu me imaginei como um tipo de deus”,
nas palavras de Soros. “Para falar a verdade, carrego comigo,
desde a infância, algumas fantasias messiânicas bastante potentes”.
Quando o jornal britânico Independent pediu-lhe que explicasse
essa estranha afirmação, Soros disse: “É uma espécie de doença
quando você se considera um tipo de deus, o criador de tudo, mas
agora estou confortável, desde que aceitei e comecei a agir
assim”.29 Seria necessário voltar às declarações de Hitler após
suas primeiras vitórias para ouvir palavras de tamanho calão, das
quais até os déspotas mais descarados costumam se abster.
E, neste caso, o que viria a ser a agenda desse “deus”? Em
outras palavras, o que os grupos financiados por Soros realmente
fazem? Um deles, o Revolutionary Love Project [Projeto de Amor
Revolucionário], envia ativistas a audiências públicas em
determinadas prefeituras e os mune de roteiros sobre como
humilhar deputados e senadores republicanos. A ideia toda é criar
uma impressão artificial — e, em seguida, exagerada nos meios de
comunicação — de que há uma onda de oposição pública a Trump
e ao GOP. Outra tática favorita dos grupos financiados por Soros é o
falso ataque racista. Houve dezenas desses dentro dos últimos
anos, principalmente nos câmpus universitários. Esquerdistas
pintam frases racistas nas paredes ou nos banheiros e depois, já
posto o alvoroço, eles próprios, os perpetradores, organizam
manifestações em protesto contra o que eles afirmam ser um
ressurgir do ódio, e tudo inspirado por Trump.30
Soros não apenas financia o ativismo como financia a violência
disruptiva. Seus esquadrões fantasiados e empunhando bastões
equivalem a um exército particular. Ele criou uma milícia paga de
marginais muito semelhante aos camisas negras, na Itália, e aos
camisas pardas, na Alemanha nazista. A estratégia de Soros é
lançar dezenas, até mesmo centenas de grupos, e depois ver quem
dá conta. Tomando emprestado do capital de risco, meu termo para
o que Soros faz é violência de risco, operada através de
manifestantes pagos.
O manifestante remunerado é fenômeno novo na política
americana. Na década de 1960, havia manifestantes de esquerda,
até mesmo os violentos, mas ninguém era alugado por hora. Os
grupos de Soros, pelo contrário, lançam anúncios de ‘contrata-se’
para arruaceiros, marginais e ladrões. Vi um anúncio no Craigslist
oferecendo quinze dólares por hora para manifestantes; a vaga,
causar problemas. Daí os esquerdistas podem imaginar que estão
lutando contra Hitler e recebendo por vandalismo. Infelizmente o
anúncio não menciona se Soros também oferece plano de saúde.
David Brock, administrador de vários grupos financiados por
Soros, dentre eles o Media Matters, é seu escudeiro por excelência.
Conheço Brock desde os velhos tempos, quando ele professava ser
conservador. Já naquela época, Brock era conhecido como um
homem desprezível e desonesto. Ele se gabava por não ter
escrúpulos, de estar disposto a mentir por uma causa. Tendo sido
exposto, confessou. No entanto, longe de tentar limpar o que havia
feito, ele se apresentou à esquerda como alguém disposto a
oferecer sua inescrupulosidade pela causa deles.
Brock fingiu ter sido forçado àquela “conversão” política, causada
pelos conservadores de Reagan que desaprovavam sua
homossexualidade. A bem da verdade, sua postura homossexual
era bem conhecida entre nós, jovens reaganitas, e não tínhamos
nenhum problema com isso, desde que Brock mantivesse discrição
pública, o que ele fazia. Apesar dos pesares, quando Brock perdeu
o rumo e vendeu seus serviços para a esquerda, parte da aceitação
que conseguiu estava ligada à homossexualidade.
E-mails divulgados pela Wikileaks mostram Neera Tanden, ativista
de esquerda e chefe do Centro em prol do Progresso Americano,
descrevendo Brock como alguém “obscuro” e uma “ameaça”.31
Com Brock, mas também com tantos jovens nazistas, a maldade e o
oportunismo parecem andar juntos. Seja qual for a posição política,
todos os que conhecem Brock podem ver quão bem ele se
encaixaria com os antigos camisas pardas homossexuais. De vez
em quando consigo imaginá-lo em posição de sentido e saudando
de braço erguido sempre que Soros entrar pela porta.
Posso parecer grosseiro, até mesmo insensível, no uso dessa
linguagem quando falo sobre Soros, judeu que, afinal de contas,
refugiou-se do nazismo. Além do mais, Soros afirma ser devoto do
filósofo Karl Popper; uma rede deste grande magnata, a Open
Society Institute, recebeu seu nome por causa de um dos livros mais
conhecidos do filósofo. Popper é um paladino das ideias clássicas
liberais de liberdade de expressão e debate aberto, o que faz com
que ele e Soros estejam em um relacionamento bastante estranho.
Vasculhei o trabalho de Popper para descobrir o que Soros viu nele,
mas não achei nada. Sou forçado a concluir que tamanho apreço
por Popper é completa fachada. Isso faz com que Soros possa fingir
ser amigo da liberdade enquanto maquina miná-la.
O Onzeneiro de Hitler
Soros adora jogar a cartada nazista, como, por exemplo, quando
após o 11 de setembro depreciou o procurador-geral do presidente
Bush, John Ashcroft, por questionar o patriotismo de seus críticos —
uma tática que Soros comparou aos nazistas. “Isso me fez lembrar
da Alemanha sob o comando dos nazistas”, Soros disse, “é o tipo de
conversa que Goebbels costumava usar para alinhar os alemães.
Lembro bem, eu tinha treze ou catorze anos. Foi o mesmo tipo de
propaganda”.32
Essa referência à juventude torna a transcrição de uma entrevista
com Soros, ao ar em 1998 pela rede CBS no programa Sixty
Minutes, especialmente reveladora. Aqui está o que Soros contou
ao entrevistador Steve Kroft sobre esses dias fatídicos na Alemanha
de Hitler:
Kroft: Você é um judeu húngaro.
Soros: Hum...
Kroft: . . . que escapou do Holocausto.
Soros: Hum...
Kroft: . . . se… se passando por cristão.
Soros: Isso.
Kroft: E você viu muitas pessoas sendo levadas para os
campos de extermínio.
Soros: Isso. Eu tinha catorze anos. Diria que foi quando o meu
caráter foi formado.
Kroft: De que maneira?
Soros: De um jeito que faz você pensar no futuro. É necessário
entender e antecipar os eventos quando se está sob ameaça.
Foi um tremenda ameaça do mal. Quero dizer — foi uma
experiência muito pessoal do mal.
Kroft: Meu entendimento é que você saiu com este seu
protetor, ele jurando que você era o afilhado dele por adoção.
Soros: Sim. Sim.
Kroft: Saiu e, mesmo assim, ajudou no confisco de propriedade
dos judeus.
Soros: Sim. Isso mesmo. Sim.
Kroft: Quero dizer, isso. . . essa parece uma experiência que
enviaria muitas pessoas para o divã por muitos, muitos anos.
Foi difícil?
Soros: Não, de jeito nenhum. Talvez, quando criança, você não
— você não veja a conexão. Mas foi, assim — não, não me
causou absolutamente nenhum tipo de problema.
Kroft: Sem sentimento de culpa.
Soros: Nenhum.
Kroft: Por exemplo, “eu sou judeu e aqui estou, vendo essas
pessoas partindo. Eu poderia tão facilmente estar lá. Eu
deveria estar lá”. Nada disso?
Soros: Bom, claro que eu, que eu poderia estar do outro lado
ou eu poderia ser aquele de quem o objeto está sendo tirado.
Mas não faria sentido eu não estar lá, porque — bem, na
verdade, é cômico dizer, é como no mercado — se eu não
estivesse lá, é claro que não estaria fazendo aquilo, mas outra
pessoa estaria — alguém estaria tirando de qualquer forma.
E foi assim mesmo — se eu estivesse lá ou não, eu não passava
de um espectador, a propriedade estava sendo tomada. Então, eu...
não fiz o papel de tirar essa propriedade. Assim eu não tenho
sentimento de culpa.33
O que me interessa aqui não é aquilo que o jovem Soros fez —
não pretendo impor peso demasiado à conduta de alguém com
catorze anos de idade —, mas sim como o Soros já maduro
interpreta retroativamente suas ações do passado como um
rapazote que confiscava a mando de Hitler. Evidentemente, Soros
acredita que acompanhar uma autoridade do governo fascista em
colaboração com os nazistas no propósito de cumprir mandados de
confisco aos judeus para roubar seus bens e propriedades não seja
algo de que se deva sentir-se culpado ou arrependido.
Por quê? Pois, assim como uma transação de mercado, o
resultado teria acontecido de qualquer forma. Quem já disse isso
antes? Ah, sim, claro. Lembre-se da resposta de Josef Mengele
quando confrontado por seu filho, Rolf, acerca de seus crimes.
Mengele insistiu que não era responsável pelo que aconteceu em
Auschwitz, dado que os cativos lá já estavam sentenciados à morte.
Eis então Soros montando o que pode ser chamado de Defesa
Mengele. A única diferença é que Mengele não se safou, enquanto
a explicação de Soros parece totalmente satisfatória para a
esquerda política.
Numa breve biografia de Soros para a revista New Yorker, Jane
Mayer nota que Soros uma vez descreveu 1944 — o ano em que
Hitler despachou mais de 500 mil judeus para campos de extermínio
— como “o ano mais feliz da minha vida”. Mayer acrescenta que
este foi o ano em que o pai de Soros salvou sua família fornecendo-
lhes falsos documentos de identidade. Aparentemente, o pai de
Soros fez o mesmo por outras famílias judias, embora tenha vendido
os papéis e, assim, lucrado com esse esforço.
Mayer perguntou a Soros sobre o ocorrido e este disse: “Eu tive a
sorte de ter um pai que entendeu que não estávamos no estado
normal das coisas, e se seguir as regras convencionais, você morre.
Muitos judeus não tomaram medidas evasivas. O que aprendi
durante a guerra é que, às vezes, você pode perder tudo, mesmo a
sua vida, ao não correr riscos”.34 Mais uma vez, Soros se esquiva
do problema. Justamente por não ser uma época normal, parece
não ser razoável ganhar dinheiro ajudando seus companheiros
judeus a sair da Alemanha.
Soros não enxerga assim. Ele não vê nada de errado com o que
seu pai fez. Pelo contrário, ele o vê como um herói pessoal. Ele
parece culpar os judeus não tão visionários quanto seu pai. Por que
aqueles que pensaram à frente não deveriam se beneficiar daqueles
que não o fizeram? E, mais uma vez, Soros, de maneira rude,
associa toda a questão a decisões de mercado e de investimento:
vejam o que acontece quando os tipos corretos de riscos não são
tomados!
Percebe-se em Soros o tipo de amoralismo padrão que o coloca
na mesma categoria de Heidegger e Marcuse. Estes três homens
foram profundamente íntimos do nazismo, com toda uma visão
formada em resposta a essa relação. Consequentemente, o
movimento esquerdista que eles moldaram na América também é
produto desse engajamento. Somos vítimas dessa possessão
demoníaca. Em certo sentido, o fascismo deixou esses três homens
loucos, e agora eles estão tentando deixar todos nós loucos
também.
Veja como esse trio, Heidegger, Marcuse e Soros, colocou seus
talentos e recursos por trás das causas esquerdistas truculentas.
Heidegger apoiou abertamente os nazistas. Marcuse e Soros
promovem táticas nazistas em nome de uma esquerda
supostamente antifascista. Juntos, esse trio horrendo desempenhou
um papel importante na destruição das universidades, na
propaganda esquerdista da mídia e nas táticas dos camisas pardas
usadas pelos progressistas de hoje.
Capítulo Nove
Desnazificação

Este não é o fim. Não é nem o começo do fim. Mas


é, talvez, o fim do começo.1
Winston Churchill, 10 de novembro de 1942

Em 1945, as forças americanas, britânicas e soviéticas convergiram


na Alemanha nove meses após os Aliados chegarem à Normandia.
Escondido em seu bunker em Berlim, Hitler, acompanhado de sua
nova esposa, Eva Braun, viu que a derrota era, agora, fait accompli,
um fato consumado. Em 30 de abril de 1945, ele fez sua resolução
final. Rejeitando o conselho de companheiros leais do Partido, de
fugir da cidade, Hitler e Braun retiraram-se em privado. Lá, Eva
Braun engoliu cianeto. Hitler fez o mesmo, ao mesmo tempo que —
para certificar-se do resultado — deu um tiro na própria cabeça.
Seus partidários queimaram o corpo de Hitler de tal forma que este
ficou irreconhecível, evitando assim que fosse recuperado pelos
Aliados.
Três dias antes, Mussolini vestiu um disfarce, entrou num carro
esporte Alfa Romeo e tentou fugir da Itália com a amante, Claretta
Petacci. O disfarce não funcionou; as características de Mussolini
eram distintas demais. Sua amante e ele foram presos na fronteira
com a Suíça. Ambos fuzilados no dia seguinte por guerrilheiros
locais. O corpo de Mussolini acabou pendurado de cabeça para
baixo na Praça de Loreto, em Milão. No espaço de alguns dias,
Mussolini e Hitler morreram, e assim o fascismo e o nazismo
chegaram a um fim ignominioso.
Por mais difícil que seja de acreditar, o fascismo está de volta, não
na Europa, mas nos Estados Unidos. Parafraseando o livro de
Sinclair Lewis, It Can’t Happen Here [Aqui Não Pode Acontecer],
sim, está acontecendo aqui. Por meio do implacável ataque contra
Trump de todos os lados, a esquerda está, basicamente, tentando
dar um golpe fascista. Por um golpe fascista refiro-me ao exercício
do poder pelos meios não eletivos pertencentes à esquerda —
principalmente a mídia esquerdista —, para reverter o resultado e o
mandato de uma eleição livre. Se o golpe for bem-sucedido, a
América, de fato, deixará de ser uma democracia. Os fascistas —
vestidos com trajes antifascistas — provarão que são totalmente
capazes de anular a vontade do eleitorado. De certa forma, não fará
mais sentido realizar eleições, pois a esquerda poderá estabelecer
poder de veto sobre os resultados.
Deixemos que essa concepção seja absorvida. Se realmente
acreditamos que a América está enfrentando uma ameaça fascista
— se reconhecemos que o argumento deste livro está correto —,
então segue-se que não podemos fazer as coisas como antes. Em
outras palavras, a política normal e despreocupada está
amplamente obsoleta. Não faz sentido prosseguir como se o que
está acontecendo não estivesse acontecendo. Em vez disso,
devemos encarar a realidade da situação e elaborar uma resposta
adequada ao perigo que estamos enfrentando. Neste capítulo final,
mostro como fazer isso.
O velho fascismo foi derrotado por força militar externa. Foi
necessária uma guerra mundial com dezenas de milhões de vítimas
para que isso acontecesse. O novo fascismo pode ser vencido de
dentro, sem força militar. Os historiadores concordam que, se os
italianos e os alemães tivessem respondido de forma diferente, eles
poderiam ter impedido Mussolini e Hitler de chegar ao poder. Por
exemplo, os militares e a polícia italianos eram muito mais fortes do
que os camisas negras de Mussolini e, assim, poderiam ter frustrado
sua marcha triunfal em Roma. Em vários estágios do ascender ao
poder, Hitler poderia ter sido barrado e seus camisas pardas,
dispersos ou presos. Em outras palavras, os compatriotas de
Mussolini e Hitler poderiam ter parado o fascismo e o nazismo antes
que fosse tarde demais.
Por que eles não impediram tudo aquilo? Falando sobre a Itália, o
historiador Renzo De Felice diz que a classe dominante italiana
cometeu o erro catastrófico de continuar com a política normal: “Eles
agiram em completa falta de imaginação política e com uma total
incapacidade de assumir verdadeiras responsabilidades. Eles
adotaram uma política de constitucionalizar o fascismo ao mesmo
tempo que tentavam derrotá-lo”. Segundo o historiador Anthony
James Gregor escreve, essa complacência “nasceu de uma
indisposição de levar a doutrina fascista a sério”.2
Essa mesma complacência e covardia caracterizaram a formação
e o estabelecimento político na Alemanha. Hindenburg, Reichstag e
os partidos políticos rivais tentaram “harmonizar” Hitler, sem
reconhecer que ele não estava jogando com as mesmas regras
deles. Ao fazê-lo, as mesmas pessoas que tinham a capacidade de
parar Hitler foram as que facilitaram a sua assunção do poder
absoluto e a influência do nazismo sobre toda a sociedade. Então
veio o dilúvio, pelo qual a maioria desses facilitadores foram
varridos.
O apaziguar de Hitler continuou no fronte da política externa. Aqui,
a figura-chave foi o primeiro-ministro da Inglaterra, Neville
Chamberlain. Para Hitler, Chamberlain era simbolizado por seu
guarda-chuva. Hitler concluiu que Chamberlain era fraco. Já não era
mais, pensou ele, o desafiador Sir Francis Drake. Se tivessem
lutado contra Hitler desde o princípio, a Grã-Bretanha e a França
poderiam tê-lo derrotado. Ao acarinhá-lo, deram-lhe assim uma
chance de fortalecer-se, até que a própria França foi invadida e a
Inglaterra quase reduzida a escombros. Harmonizar o fascismo, ao
que parece, carrega consigo um custo muito alto, custo este que
pode incluir a própria sobrevivência.
Dialogando com Gregos e Troianos
Hoje, os conservadores e o Partido Republicano, agora poderes
governantes da nação, também estarão em grande risco se
buscarem apaziguar o fascismo da esquerda política. É certo que o
fascismo da esquerda atual difere em um aspecto importante do
fascismo da esquerda de Hitler e Mussolini. Ao menos os antigos
fascistas usavam o nome; autointitulavam-se do que eram de
verdade. Nossa esquerda fascista, ao contrário, pretende passar por
antifascista. Eu sei, é loucura. As mesmas pessoas que defendem o
Estado centralizado carregam uma longa história de racismo e
terrorismo racial, usaram o poder do governo contra os seus
oponentes políticos enquanto puderam e continuam se valendo da
opressão cultural e da desordem causada nas ruas para impor sua
ideologia, insistindo que são eles os antifascistas.
Ao mesmo tempo, reconhecendo que o fascismo e o nazismo são,
agora, rótulos tóxicos — os rótulos mais tóxicos da cultura ocidental
— esses autodenominados antifascistas impuseram o rótulo fascista
à direita. Ainda mais loucos, eles chamam de fascistas aqueles
mesmos que defendem um governo limitado e os direitos
individuais, pessoas que não chegariam nem mesmo a sonhar com
usar o poder do Estado contra seus críticos ou se envolver em
opressão e exclusão culturais nos moldes fascistas. A este respeito,
a esquerda é como o irmão maldoso que bate no seu rosto e depois
começa a lamuriar por você bater nele. Assim sendo, estamos numa
situação bizarra, onde os verdadeiros fascistas fingem ser
antifascistas enquanto acusam os verdadeiros antifascistas de
fascismo.
O mecanismo da esquerda para produzir essa inversão é a
grande mentira. A grande mentira não consiste apenas em consertar
os rótulos fascistas e nazistas no que dizem respeito a Trump e à
direita — essa é a parte superficial da mentira, descartei-a em um
único capítulo — mas, mais profundamente, visa esconder as raízes
fascistas e nazistas próprias da esquerda americana. Ainda hoje, os
planos e as táticas da esquerda são profundamente moldados pelo
fascismo e pelo nazismo. Para esconder essa relação óbvia, a
esquerda mente em todas as frentes, quero dizer, ela mente sobre
quem eram os fascistas e os nazistas, e, depois, mentem sobre
quem ela própria é.
É conveniente analisar esse processo em andamento. Assim é
que a esquerda mente sobre os nazistas, para criar um contraste
falso entre os nazistas e ela. A esquerda diz que os nazistas eram
capitalistas, ao passo que a esquerda era anticapitalista. Os
nazistas eram cristãos; a esquerda, secular. Os nazistas eram
antiaborto, já a esquerda apoiava o direito a abortar. Os nazistas
eram refreados e sexualmente convencionais, mas os esquerdistas
boêmios e sexualmente liberais. De fato, em cada um desses
pontos, as posições da esquerda e dos nacional-socialistas são
essencialmente as mesmas: anticapitalistas, anticristãos (na crença
e na ética sexual) e contrários ao direito à vida.
Agora, vejamos a grande mentira funcionando do outro lado. É
assim que a esquerda mente sobre si mesma, para camuflar sua
afinidade ideológica e tática com os nazistas. A esquerda diz que os
nazistas eram o partido do racismo, mas a esquerda o partido do
antirracismo. O Partido Nazista escravizou o povo, já a esquerda é o
partido contra a escravidão. Os nazistas perpetraram o genocídio e
o terrorismo raciais, ao passo que a esquerda jamais faria algo do
tipo. Os nazistas eram violentamente intolerantes às visões
dissidentes, a esquerda era incrivelmente tolerante. Porém, com
efeito, na América, o Partido Democrata é que foi o partido da
escravidão, da segregação, do racismo e da Ku Klux Klan. E
continua a ser o partido das políticas de identidade racial até hoje,
ao passo que os republicanos foram fundados como um partido
contrário à escravidão, favorecendo uma sociedade livre de
preconceitos raciais; são tolerantes à antiga maneira americana,
educada e respeitosa, que discursos politicamente corretos
progressistas não suporta.
Evidentemente, qualquer estratégia para derrotar a esquerda
fascista deve começar por desmascarar, como fiz neste livro, as
dimensões completas da grande mentira. Os chamados
antifascistas devem ser expostos como fascistas que são. Os
esforços da esquerda de expulsar Trump por qualquer meio possível
devem ser reconhecidos pelo que são: uma tentativa de golpe
fascista. Nós, acusados de fascistas, devemos entender que somos
os verdadeiros antifascistas. Estamos vindicando os resultados de
uma eleição livre cujo mandato desejamos pôr em prática. Esse é o
ponto de partida; a partir daqui, podemos chegar a algum lugar.
Para crédito de Trump, ele sabe que algo está acontecendo, que
ele precisa fazer as coisas de maneira diferente e que deve tomar
medidas decisivas contra uma extrema, e às vezes violenta,
esquerda que se considera “a resistência”. Trump reconhece que a
luta não é meramente legal e política; ela é, também, cultural. Por
isso é que Trump, enquanto ajusta os juízes da Suprema Corte,
assina ordens executivas, opera para revogar o programa
Obamacare e trabalha para aprovar a reforma tributária, também
coloca seu perfil multitarefa em prática ao trabalhar no ataque contra
Meryl Streep, o programa Saturday Night Live e contra o elenco da
peça Hamilton, Broadway, isso sem mencionar o “fracassado” New
York Times e a “baixa audiência” da CNN.
Independentemente de suas falhas, Trump é, agora, o homem
mais destemido do país. Ao contrário de praticamente todos os
republicanos passados, ele se recusa a caminhar dentro dos
parâmetros estabelecidos pela esquerda. Longe de ser intimidado
pelos ataques culturais esquerdistas, ele parece fazer bom proveito
de seu alto e rixoso palanque, bem como de seus megafones nas
mídias sociais, repelindo ataques. Sendo ele próprio um ícone da
cultura pop, sabe bem como fazê-lo. Trump é um personagem
chamativo que, quanto mais recebe ataques, mais cresce. A
esquerda já digeriu isso. Tendo ridicularizado e zombado dele antes,
agora a esquerda está com muito medo; e muito da astúcia dos
esquerdistas se dedica a descobrir uma maneira de destruí-lo.
Para prevalecer — talvez até mesmo sobreviver —, Trump precisa
de aliados. E onde eles estão? Felizmente, há seguidores de Trump
fortemente comprometidos com seu governo, mas eles por si não
conseguem levar as ideias de Trump à vitória. A única maneira de
fazê-lo é com um movimento conservador e um GOP unificados. A
má notícia é que grande parte da intelectualidade conservadora e da
estrutura geral do GOP continuam num conto de fadas. Alguns
ainda têm suas armas políticas voltadas para Trump. Os chamados
Never Trumpers [Trump Jamais] parecem ter aceitado a grande
mentira da esquerda de que Trump é o fascista. Como vencer com
uma equipe tão confusa e desorientada?
Em geral, a direita e o GOP nacional recusam-se a levar a sério
ou mesmo a compreender e reconhecer os perigos das doutrinas
fascistas da esquerda. Como desfazer os elementos fascistas da
ideologia progressista e reduzir o poder do Estado centralizado?
Eles não fazem ideia. Na verdade, o corpo de elite republicano não
vê problema em podar programas do governo, mas também não
está tão certo de se quer ou não erradicá-los completamente. Como
combater o Gleichschaltung progressista, que busca impor uma
uniformidade de pensamento em toda a cultura? Superando-o. Mas
não, esses republicanos preferem ir junto dos bandidos na
esperança fúnebre de acabar não se tornando um dos alvos. Como
responder ao vandalismo de rua da esquerda? Acovardar-se e fugir
da luta é a única coisa que esse corpo conhece. Desnorteados, sem
estrutura óssea e ocos, esses republicanos procuram, acomodando
o fascismo de esquerda, moderá-lo.
Suas ações já estão tendo o efeito oposto. O fascismo da
esquerda não mostra sinais de diminuição. Na verdade, ele se
fortalece. Tendo dominado a cultura, a esquerda tem seus ideais
decididamente focadas em dominar o país. Seu objetivo é livrar-se
de Trump — quanto mais cedo, melhor — e também usar a nódoa
fascista para desacreditar permanentemente o GOP. Em última
análise, a esquerda procura fazer o que todos os fascistas fazem:
efetivamente eliminar toda a oposição. Eles querem nos
desacreditar e nos reduzir a pessoas sem casta, destruindo nossas
carreiras e, se por fim conseguirem, devastando nosso espírito.
Depois, eles começam com o familiar processo fascista de
“reeducar”, até o ponto em que não apenas deixamos de resistir,
mas, na verdade, lhes prestamos reverência.
Que a lição seja aprendida a partir da História e que não se
cometa o mesmo erro que os italianos e os alemães cometeram. É
preciso extirpar o fascismo antes que ele se torne imparável de
dentro para fora; e, então, realizar uma desnazificação interior,
exatamente como os Aliados fizeram no pós-guerra da Itália e da
Alemanha. Nossos avós e bisavós erradicaram o fascismo de fora
para dentro, mas, evidentemente, não o destruíram de uma vez por
todas. Podemos erradicá-lo de dentro e, finalmente, colocá-lo nos
vestígios da História.
A Agenda Antifascista
Como seria uma agenda antifascista? Aqui, minha abordagem é
simples. Primeiro, identifico a doutrina ideológica central do
fascismo de esquerda; então, recomendo medidas políticas para
desfazê-la, movendo as coisas na direção oposta. Em seguida,
volto-me ao Gleichschaltung progressista na arena cultural, onde a
esquerda reforça um alinhamento nos moldes fascistas através do
politicamente correto e das grandes mentiras. Mostro como quebrar
esse monopólio institucional, acabar com a arregimentação do
pensamento e explodir a grande mentira. Por fim, volto-me à
depredação fascista da esquerda, que se destina não apenas a
forçar a oposição, mas também a intimidar adversários em potencial
e aterrorizá-los em submissão. Aqui, mantenho-me firme e mostro
como a direita deveria combater fogo com fogo. Modificando uma
frase de Marcuse, frase que aplico agora à própria progênie
ideológica dele, “Não ao tratamento leve com fascistas”.
Em seu cerne, o fascismo é a construção do Estado Leviatã todo-
poderoso. Como Mussolini deixa claro em sua Autobiografia, “O
fundamento do fascismo é a concepção do Estado. O fascismo
concebe o Estado como absoluto, em comparação com o qual todos
os indivíduos ou grupos são relativos, apenas para serem
concebidos em sua relação com o Estado. Para nós, fascistas, o
Estado não é apenas uma realidade viva do presente; ele também
está ligado ao passado e ao futuro e, assim, transcendendo os
limites breves da vida individual, representa o espírito imanente da
nação”.3 Acredito que, se algum líder democrata dissesse isso na
convenção nacional do partido, substituindo a palavra ‘fascismo’ por
‘progressismo’, a plateia toda se levantaria aplaudindo.
De acordo com a descrição de Mussolini, teóricos fascistas como
Giovanni Gentile falaram do Estado fascista como um único corpo e
de indivíduos como células dentro desse corpo. Cada célula isolada
não tem significado; as células são valiosas apenas na medida em
que servem o corpo. Nas palavras de Gentile, “a vontade legítima
dos cidadãos é essa vontade que corresponde à vontade do
Estado”.4 Na esfera econômica, como já vimos, o Estado fascista,
por meio de mandatos e de regulamentação, controla as operações
das corporações e entidades privadas e, em especial, dos setores
críticos como bancos, saúde, energia e educação. E esse estado
Leviatã, é claro, também é o principal plano ideológico do
progressismo americano moderno.
Assim, o projeto antifascista é desmantelar o Estado Leviatã. Não
estou sugerindo que conservadores ou republicanos devam livrar-se
do Estado. Não seria algo possível nem desejável. Pelo contrário, é
preciso restaurar o governo aos limites no poder e na esfera de
atuação delineados pela Constituição. Sob comando progressista, o
Estado agigantou-se; tornou-se voraz e tirânico. É necessário matar
a besta de fome, arrancar alguns de seus órgãos e diminuí-la de
tamanho.
Mas como? O primeiro passo, claro, é livrar-se do legado de
Obama. Isso significa derrubar o programa Obamacare, com o qual
os progressistas confiscam um sexto da economia dos EUA, e
substituí-lo por um sistema de saúde que restaure a gestão de
regime privado e incentive a iniciativa privada. Em segundo lugar,
revogar a lei Dodd-Frank e devolver as indústrias bancárias e de
investimento ao controle privado. Em terceiro lugar, deve-se funilar
os requisitos mínimos para beneficiados, de modo que cestas
básicas cheguem à pequena população que realmente precisa.
Obama aumentou deliberadamente o número de pessoas
beneficiadas por cestas básicas, pois assim as torna mais
dependentes do governo americano.
Trump e os republicanos, no entanto, devem ir além de revogar o
que Obama fez. Eles devem passar uma reforma fiscal abrangente,
o que idealmente envolve uma redução acentuada na taxa de
imposto corporativo e uma taxa fixa para impostos de renda de
pessoa física na faixa de 15% a 20%. Por que não ter uma forma de
impostos simplificada para pessoa física, uma com poucas
deduções que possam ser preenchidas numa única página? A
redução e a simplificação de impostos são duas das melhores
maneiras de refrear o Leviatã e, portanto, constituir um golpe de
mestre antifascista. A direita também deveria reduzir abruptamente
os regulamentos federais, privatizar as funções do governo ao
máximo e vender as grandes extensões de terra que o governo
atualmente possui sem nenhum motivo aparente.
Uma das características essenciais tanto do fascismo quanto do
nazismo foi eliminar a autonomia regional, transferindo todo o poder
para o centro. Na Alemanha, William Shirer escreve: “Hitler
conseguiu o que Bismarck, Wilhelm II e a Alemanha de Weimar
nunca se atreveram a tentar — ele aboliu os poderes separados dos
estados e os sujeitou à autoridade central do Reich”. O ministro do
Interior de Hitler declarou, sem rodeios: “Os governos estaduais de
agora em diante são meramente órgãos administrativos do Reich”.5
Aqui, na América, refletindo o que os nazistas fizeram, a esquerda
progressista tem trabalhado há mais de meio século para fortalecer
a autoridade do governo federal em detrimento dos estados. Este
projeto foi realizado, em parte, em nome da uniformidade
administrativa e, em parte, em nome da eliminação de um suposto
racismo, implícito no conceito de direitos dos estados. Afinal, os
direitos dos estados foram o grito de secessão e de posterior
segregação e mais tarde da discriminação fomentada pelo Estado.
Esse ataque esquerdista aos direitos dos estados é uma fraude.
Em primeiro lugar, a razão pela qual os Pais Fundadores criaram um
sistema de dupla soberania, no qual os poderes separados são
atribuídos ao governo federal e aos estados, é precisamente por
que eles não queriam — e os povos dos estados soberanos, que,
em grande parte, tinham governo sobre si próprios, não aceitariam
— uma uniformidade maçante e potencialmente tirânica de regras
para todos os cidadãos. Em vez disso, eles queriam o que o
economista Friedrich Hayek chamou de uma “estrutura de utopias
concorrentes”, cada estado experimentando regras diferentes.
Dessa forma, o povo poderia ver o que funciona melhor. Caso não
fosse do agrado a forma como as coisas são executadas no estado
em questão, a pessoa poderia simplesmente mudar-se para outro
estado. Em suma, os Pais Fundadores desejavam a verdadeira
diversidade, e isso é o que a esquerda — ao impor um conjunto
nacional de regras — procura erradicar.
Sim, os direitos dos estados foram invocados para defender a
escravidão e a segregação, mas lembre-se de quem impôs isso — o
Partido Democrata. Assim, os democratas hoje professam defender
os direitos dos estados para evitar as atrocidades que cometeram.
Pode-se dizer que eles estão tentando salvar o país de si mesmos.
Acredito que o lema deles seja “Impeça-nos antes antes que nos
tornemos racistas contra vocês mais uma vez”. Ao contrário da
propaganda de esquerda, não há nada de errado com o conceito de
direitos dos estados. O problema se encontra com a ideologia do
Partido Democrata, e o remédio para prevenir futuras atrocidades
democratas é nunca, em nenhuma circunstância, votar em um
democrata.
Trump e os republicanos precisam restaurar a integridade da
divisão dos poderes constitucionais original, devolvendo grandes
extensões do poder federal aos estados. Reconheço que este é um
projeto de longo prazo que durará mais que a presidência de Trump,
porque a esquerda, com a vergonhosa cumplicidade dos tribunais,
distorceu completamente o arranjo constitucional. Ainda assim, digo,
que comece a restauração.

Feito Para Durar


Mesmo que Trump e o GOP executem tais coisas, como, todavia,
sustentá-las? Como ter uma vitória feita para durar? Uma maneira
de sustentar tudo isso é certificando-se de que haverá uma
Suprema Corte constituída por pessoas de nossa equipe. Durante
as audiências de Gorsuch, os republicanos continuaram insistindo
que Gorsuch é um bom constitucionalista. Não vejo problema nisso.
Mas a pergunta à qual gostaria de ter respondido é outra —
Gorsuch é um bom republicano? Espero que a equipe de Trump a
pondere antes de nomear o sujeito.
É por isso que, além de sua filosofia do direito, a ideologia política
de Gorsuch e o compromisso do GOP são importantes. Na última
década, uma maioria decisiva de juízes da Suprema Corte foi
nomeada pelos republicanos. No entanto, o Tribunal permanece
precariamente equilibrado entre a esquerda e a direita. Como isso é
possível? Acontece que a esquerda pode contar, numa certeza
euclidiana, com quatro votos. Os republicanos, pelo contrário, estão
sempre no limbo. Em quem o juiz Kennedy vai votar? E, mesmo
quando ele vota em favor da direita, muitas vezes surge a questão:
“Sim, nós conseguimos Kennedy! Ops, mas agora perdemos
Roberts”.
Enquanto os republicanos chegam à Suprema Corte tentando
decifrar a intenção original dos legisladores ou visando solenemente
os precedentes, os democratas buscam servir a causa democrata.
Nossos homens estimam a Constituição e tentam evitar até mesmo
a aparência de partidarismo. Tal como acontece com Roberts, eles
fazem o impossível para defender o programa Obamacare e deixar
ao Congresso a incumbência de revogá-lo, enquanto a equipe
democrata envolve-se precisamente com ativismo judicial para
promulgar uma agenda esquerdista. Nossa equipe é completamente
a favor de preservar o precedente, na verdade manter as coisas no
lugar, já os democratas são completamente a favor de sempre puxar
sardinha para a esquerda. Em suma, há uma desproporção do
compromisso ideológico entre nós e eles, cujo resultado final é o
constante bloqueio da jurisprudência da Suprema Corte ao longo do
tempo em favor da esquerda.
A única maneira de barrar tal efeito é nomeando republicanos
ideologicamente comprometidos a lutar contra democratas
ideologicamente comprometidos. É óbvio que pode haver todos os
tipos de discursos pomposos possíveis sobre teorias de
interpretação constitucional. Mas, no fim, trata-se de uma simples
questão, de saber se as nossas leis serão aceitas e as leis deles
derrubadas ou se as leis deles serão aceitas e as nossas
derrubadas. É melhor — digo eu — que as nossas sejam mantidas
e que as deles caiam.
Tanto com a legislação quanto com a Suprema Corte, só
conseguiremos o que desejamos ganhando eleições. Uma das
lições da história recente é que mesmo as mudanças
aparentemente duradouras no governo — veja o Obamacare —
podem ser desfeitas quando outro partido retorna ao poder. A
América tem vivido sob um governo dividido desde 1980; quando
um partido controla a presidência, o outro normalmente controla o
Congresso. É difícil consolidar alguma coisa, em especial consolidar
mudanças que durem.
Mudanças duradouras só ocorrem na política americana quando o
mesmo partido controla a presidência, o Congresso e os tribunais.
Por sinal, não há nada de fascista sobre isso; trata-se de maiorias
políticas criadas através de eleições e consentimento popular, como
o que aconteceria em qualquer sistema parlamentar. Curioso notar,
o domínio de um partido foi a regra, e não a exceção, na história dos
EUA. De 1820 a 1860, o Partido Democrata foi o partido majoritário,
controlando a maior parte da presidência, do Congresso e da
Suprema Corte. De 1865 a 1932, período após a Guerra Civil, os
republicanos tornaram-se a maioria. De 1932 a 1980, os democratas
voltaram a ser a maior parte.
Não quer dizer que, durante essas eras, o partido minoritário
tenha sido excluído do governo — por vezes, a propósito, chegou a
vencer a presidência —, mas mesmo assim o partido majoritário
estabeleceu e controlou a agenda. Eisenhower era republicano e
não tinha intenção de reverter o New Deal; e, ainda que quisesse,
não teria tido sucesso. Aquela era a época do domínio democrata,
cuja maré varreu Eisenhower. Durante esse tempo, os democratas,
começando com FDR, criaram uma mudança semipermanente na
estrutura do governo. Trump deve aspirar por fazer o mesmo na
direção oposta.
Significa que Trump e os republicanos devem trabalhar para
construir uma aliança governamental permanente do GOP. Eles não
a têm agora. E como obtê-la? Primeiro, Trump precisa garantir que
tanto sua retórica como suas políticas estejam consistentemente
direcionadas a consolidar e expandir seu apoio à classe
trabalhadora — não apenas à classe trabalhadora branca, mas a
todos os trabalhadores em geral. Operários são fundamentais para
o Partido Democrata; sem eles, é muito difícil para a esquerda
garantir uma maioridade eleitoral. Trump recebeu uma nova
oportunidade aqui com o que Tom Perez, presidente do Comitê
Nacional Democrata, já deixou claro ser um desejo seu, purgar o
Partido Democrata dos eleitores e candidatos pró-vida.
Em segundo lugar, Trump e o GOP devem fazer de tudo para
ganhar os votos das minorias. Como o partido da aspirante classe
média, não há motivo para que o GOP não obtenha 20% do voto
dos negros, 50% dos votos hispânicos e a grande maioria dos votos
ásio-americanos. Se os republicanos conseguissem chegar a esse
patamar, os democratas jamais venceriam outras eleições de âmbito
nacional. Os republicanos já têm muitas das políticas corretas —
uma ênfase em empregos e crescimento econômico —, mas o que
falta é ter “organizadores comunitários” conservadores nessas
comunidades para mostrar como as políticas republicanas podem
reviver as cidades do interior da América e proporcionar
oportunidades para todos.
Esses grupos de divulgação republicana precisam ser tão
dedicados quanto os “organizadores comunitários” da esquerda, que
tentam inflamar as queixas comunitárias e convencer os eleitores
minoritários de que seu único amigo é um grande governo (o qual é,
muito pelo contrário, a fonte da maioria dos problemas). Durante a
campanha, Trump investiu contra isso — demonstrando, em
especial, os enormes fracassos das políticas democratas, estas que,
no caso, deveriam beneficiar as comunidades minoritárias —, mas é
necessário que haja um esforço republicano combinado para
acompanhar as propostas do presidente e defender a livre escolha
dos pais no que se refere à educação (ensino domiciliar ou escolar),
o incentivo ao desenvolvimento socioeconômico em zonas urbanas,
e também políticas “broken windows”, ou “janelas quebradas”, mais
rígidas, de modo a garantir ruas mais seguras. O sonho americano
ainda é, claramente, um atrativo aos olhos imigrantes — e deveria
ser tão atraente também para os grupos minoritários que aqui já
estão. Ganhar eleitores das minorias é crucial para criar a maioria
republicana, uma duradoura, que possa, finalmente, derrubar o
fascismo da esquerda.

O Fim da Gleichschaltung
Finalmente, agora chegou a vez de analisar o semblante mais
repulsivo do fascismo progressista; a saber, seu empenho em
estabelecer a uniformidade de pensamento e de sentimento por
todo o país. O projeto da esquerda aqui reflete aquilo que Joseph
Goebbels declarou a respeito do Gleichshaltalung nazista: “O
nacional-socialismo não só é uma doutrina política; é uma
perspectiva universal e toda abrangente sobre os tópicos do
coletivo. Esperamos que chegue o dia quando ninguém mais terá de
referir-se ao nacional-socialismo, uma vez que este haverá se
transformado no ar que respiramos. O povo precisa internalizar essa
disposição mental, as pessoas devem apossar-se dessa postura.
Tão somente quando isso for assimilado é que uma nova inclinação
terá surgido na cultura”.6
A esquerda, buscando precisamente esta mesma conformidade
de pensamento e sentimento sobre toda a sociedade americana,
tem seu próprio Gleichshaltalung não meramente “ateando fogo nas
ruas”, mas também através de uma longa guerrilha por meio das
instituições. Havendo cercado boa parte delas, a esquerda agora
pode usar a academia, a mídia e Hollywood — seu Estado dentro do
Estado — para, sem reservas em ato contínuo, disseminar a
propaganda fascista. Concorrente a isso, tamanha propaganda
expele conservadores e vozes dissidentes destas mesmas
instituições. Seus marginais fascistas — autointitulando-se
“ativistas” — não hesitam em assediar, intimidar e espancar aqueles
que vierem a representar ameaça ao Gleichshaltalung da esquerda
atual.
Esse é um tipo de fascismo que exige da direita um novo tipo de
reação. Até agora os conservadores contentaram-se em
documentar e lastimar as tendências e predisposições da academia,
da mídia e de Hollywood. Postura que não chega nem perto de ser
suficiente. É preciso romper com esse monopólio da informação. É
imperativo abrir um novo espaço para pontos de vista rivais e
dissidentes. É necessário criar instituições culturais que façam
rivalidade. E é preciso parar esses marginais que vão às ruas para
não fazer nada além de causar tumulto. Isso tudo exigirá da direita
nova criatividade, nova resolução, uma nova disposição para fazer
uso da força física prescrita na lei. Quem disser que a força física
está fora de cogitação não entende o que significa deter o fascismo.
O primeiro passo é, para nós da direita, cultivarmos uma nova
mentalidade. Devemos aprender a decifrar aquilo que lemos, vemos
e ouvimos. Quando vemos na CNN, por exemplo, sendo dito que
Trump pende a um péssimo início de mandato, devemos aprender a
reconhecer que isso significa que Trump pende a um ótimo início de
mandato — pois aquilo que é ruim no ponto de vista da CNN, na
verdade é bom no nosso ponto de vista. Devemos nos habituar a
tratar como falso tudo o que a academia progressista, a mídia
progressista e o Hollywood progressista nos apresentam.
Obviamente não no sentido concreto da coisa, mas num sentido
mais profundo, de que os fatos estão sendo manipulados a serviço
de uma metanarrativa fascista. Em suma, devemos estar sempre
alertas para a grande mentira em todas as suas formas.
Segundo passo, devemos usar todo o arsenal à nossa disposição,
da mídia conservativa às mídias sociais, para esfolar em público a
academia, Hollywood e a mídia por seu partidarismo e exclusivismo
unilaterais. Trump já vem agindo a este respeito, e é essa uma das
coisas que eu mais amo nele. Gostaria de vê-lo indo mais a fundo
nessa direção política, cortando os fundos federais para a Rádio
Pública Nacional e para o Serviço Público de Transmissão dos EUA.
Ambos são órgãos de propaganda da esquerda fascista.
Quando as universidades estatais expulsam palestrantes
conservadores, os legisladores republicanos deveriam mover-se
depressa para cortar o financiamento federal e estatal dessas
instituições. Em locais como Berkeley, onde o reitor universitário, o
prefeito e a polícia local parecem conspirar para sufocar os direitos
da Primeira Emenda da Constituição, Trump deveria enviar a
Guarda Nacional até lá, bem do jeito como Eisenhower fez em 1957,
para impedir outro grupo de democratas fanáticos de reprimir os
direitos constitucionais dos estudantes negros. É lógico que a
esquerda vai berrar. Mas deixe-os berrando. É para isso que
estamos aqui.
Note que não estamos tentando persuadir os fascistas de
esquerda. Nada seria mais inútil. Pelo contrário, o que estamos por
fazer é reduzi-los o máximo possível. Também estamos alertando o
público de que aquilo que eles recebem da esquerda não é mero
“conhecimento”, “notícias”, “entretenimento”, mas propaganda
política mascarada de conhecimento, de notícias e de
entretenimento. Este é o significado original das #FakeNews. Uma
vez que o povo americano passe a enxergar tudo isso, o poder dos
megafones da esquerda será dissolvido. E a partir daí é que então a
política americana se tornará genuinamente competitiva. Estamos,
aqui e agora, lutando contra todo o aparato da cultura geral contra
nós.
Terceiro, ao longo do tempo temos de criar nossas próprias
instituições para fazer rivalidade. É claro, eu sei que não
conseguiremos dar início a milhares de novos câmpus, mas a boa
notícia é que, com a ajuda da tecnologia, não precisamos. Em vez
disso, o que devemos fazer é criar as melhores universidades on-
line, para que batam de frente com o melhor que a academia
progressista pode oferecer. Se descobrirmos um jeito de
providenciar uma educação de alta qualidade por uma fração do que
é cobrado pelo ensino superior atual, nós podemos revolucioná-lo e
desafiar, talvez até substituir, sua estrutura de poder vigente.
Também precisamos produzir nossos próprios filmes — não
meramente documentários, mas também longas-metragens. Dentro
de poucos anos, superei Michael Moore nos gráficos de produção
de documentários, obtendo, sucessivamente, a segunda, a sexta e a
oitava maior arrecadação vinda de documentários políticos de todos
os tempos. Mas isso está longe de ser o suficiente. Hollywood
comunica a maior parte de suas mensagens ideológicas via
comédias românticas, filmes de suspense, de terror e animações
para toda a família. O chefão de Hollywood não é Michael Moore; é
Stephen Spielberg. Precisamos competir em todos os gêneros do
cinema.
Além do mais, temos de construir canais de comunicação que
consigam ir mais longe do que o alcance relativamente limitado das
rádios e do canal Fox News. Pense no seguinte. No mundo da
comédia da TV, a esquerda tem Bill Maher, Jon Stewart, Stephen
Colbert e John Oliver. Até o momento, temos pouquíssimos para
competir com eles, e muitos jovens não só adquirem desses
palhaços seu próprio estilo e senso de humor como também sua
própria instrução política.
A solução, obviamente, é que precisamos ter nossos próprios
palhaços. Isto certamente levará tempo — Maher e companhia
começaram com apresentações locais, fazendo seus eight days a
week, “oito dias por semana”, ao estilo Beatles. Nós deveríamos ao
menos já ter começado. Pense em quão valiosas seriam as doações
feitas por conservadores se fossem para alguns daqueles projetos
inovadores, e não tudo para as já tão conhecidas ONGs partidárias
ou para as ONGs sem fins lucrativos ou para as think tanks, que há
muito tempo já chegaram aos limites da eficácia. Só tomando tais
medidas, com criatividade e abrangência exaustivas, é que
conseguiremos alcançar a verdadeira desnazificação, uma vez que
isso trará fim ao Gleichschaltung da esquerda.
Devemos também lidar com as brigadas de Soros, e com isso
estou falando dos marginais de rua que usam táticas de terror e de
opressão para nos calar e nos apagar. Quando eles expulsarem
algum de nossos palestrantes de determinado câmpus universitário,
devemos enviar outros dez palestrantes e acompanhados de uma
segurança pesada. Se eles destroem nossos cartazes e nossas
placas, devemos do mesmo modo destruir os cartazes e placas
deles. Alguns “trumpsters” abraçaram medidas defensivas como
rastrear a identidade dos Antifas mascarados em protestos para
revelar seus nomes nas mídias sociais ou amarrá-los em postes e
placas de trânsito com fita adesiva. Reconheço ser este um ativismo
republicano atípico, mas com certeza isso dá o troco aos tirânicos
de esquerda.
E o mais importante, não podemos hesitar em romper a lei e a
polícia sobre esses camisas pardas da esquerda. Reagan deu bom
exemplo disso enquanto ainda governador da Califórnia, em 1960.
Toda perturbação violenta de hoje deveria ser agressivamente
julgada. O Partido Democrata, lembremo-nos, usou a Ku Klux Klan
como um de seus executores políticos. A KKK não saiu da ativa por
livre e espontânea vontade. Primeiro ela foi combatida por Ulysses
Grant, presidente republicano, durante o período de Reconstrução
dos EUA, e mais tarde pela aplicação legítima das leis com o FBI.
Quando os “protestos” da Antifa chegam ao patamar de violência,
crime, tumulto ou até mesmo terrorismo nacional, os culpados
também devem ser julgados pela força completa da lei.
Para fins de jurisprudência, cerca de duzentos esquerdistas —
dos quais muitos eram jornalistas — que perturbaram com violência
a cerimônia de posse presidencial foram acusados de perturbação
pública, crime que pode chegar a dez anos de prisão.7 A esquerda
queria nos fazer acreditar que tumultos e desordens são formas
nobres de protesto político e que, de certa forma, a lei não se aplica
ao caso deles. Como já é típico, casos assim caem nas mãos de
juízes progressistas, que liberam os manifestantes mediante uma
pena simbólica ou, afinal, nem chegam a penalizá-los. Nas
confusões causadas em Berkeley foi ainda pior: apesar do turbilhão
de violência, quase não houve prisões, uma vez que a polícia
permaneceu inerte. Mas ninguém deveria estar acima da lei. Se
juízes e júris passassem a decretar de cinco a dez anos de prisão a
esses casos, todo esse absurdo rapidamente diminuiria.
Quid Pro Quo
Por fim, chego à questão que tem me preocupado desde a posse
de Trump: como parar o uso que a esquerda faz dos poderes
governamentais contra a oposição? Sob o governo Obama, a
esquerda usou os poderes do Estado — o serviço da Receita
Federal Internal Revenue Service (IRS), o FBI, o Departamento de
Justiça e os programas de espionagem do governo — contra seus
críticos conservadores. Como quando a IRS perseguiu grupos do
movimento Tea Party com vigilância secreta e hostilização de
jornalistas dissidentes como Sharyl Attkisson e James Rosen;
inclusive eu fui seletivamente acusado de exceder as lei de
financiamento de campanha. Nenhum americano jamais foi
sentenciado e encarcerado durante as noites por oito meses pelo
que eu fiz.
Esse uso do poder governamental como armamento contra
dissidentes é um comportamento puramente fascista. Gentile o
descreve como uma etapa no desenvolvimento do fascismo, quando
este “não mais é uma revolução contra o Estado, mas um Estado
revolucionário mobilizado contra resíduos e restos internos que
obstruem sua evolução e estruturação”. O próprio Hitler chamou
esse tipo de retaliação do Estado fascista de uma forma de “terror
físico e espiritual”. Segundo Hitler, o proveito de tamanho terror está
em que os alvos desse mesmo horror “não estão preparados nem
moralmente nem mentalmente a esse tipo de ataque”. Eles então
são pegos de surpresa “até que os nervos da pessoa alvejada
entrem em colapso”. De acordo com Hitler, o objetivo de tão grande
terror é produzir submissão, alinhamento e conformidade política: “O
adversário derrotado, na maioria dos casos, desespera-se de ter
sucesso em manter resistência”.8
Como alguém que experimentou em primeira mão este uso da
intimidação fomentada pelo Estado, eu sei quão ruim tudo isso é.
Estou convencido de que alguns da equipe de Obama com quem
tive de lidar se encaixariam muito bem no célebre Tribunal do Povo
da Alemanha Nazista. Não devemos pensar que, porque estamos
na América, nós estamos imunes a esse tipo de pessoa. Também
temos a nossa escória da humanidade, e alguns dessa escória
usam crachá. Fortemente munidos de poder estatal, justamente
como as autoridades nazistas também eram, eles são muito mais
perigosos do que criminosos comuns e têm à disposição tribunais,
presídios e a força da Swat.
Assim eu me sinto severamente tentado a propor que Trump use
este mesmo aparato mortal contra a esquerda. Por que não mover o
IRS, o FBI e a Agência de Segurança Nacional contra a esquerda
da mesma forma como Obama fez com o Tea Party. Por que não
colocar a IRS para investigar Michael Moore do mesmo modo como
a administração de Obama usou o FBI para me investigar? Afinal
das contas, se não fizermos a eles o que eles fazem contra nós,
como é que conseguiremos detê-los? Eles não só pararão de nos
assediar e aterrorizar quando virem que nós também conseguimos
assediá-los e aterrorizá-los? Pessoalmente falando, eu amaria ver
Obama dormindo no beliche que usei onde fiquei confinado.
E há precedentes para esta abordagem que estou indicando. No
período da Guerra Civil, Lincoln soube que soldados do Exército
Confederado estavam matando tropas de soldados negros
capturados da União ou os vendendo como escravos em vez de
tratá-los como prisioneiros de guerra com direitos legais. Lincoln
imediatamente emitiu a Ordem de Retaliação. Ela dizia: “É, portanto,
ordenado que, para cada soldado dos Estados da União
assassinado, em violação das leis de guerra, um soldado insurgente
seja executado; e, para cada soldado escravizado pelo inimigo ou
vendido como escravo, um soldado insurgente seja submetido ao
trabalho pesado nos serviços públicos”.9
Apesar do evidente rigor daquele comando, Lincoln sabia que era
o único modo de mudar o comportamento do Exército Confederado.
E mudou. No entanto, eram tempos de guerra e, pensando bem,
estamos em situações diferentes. Não estamos em guerra civil, ao
menos ainda não estamos, e não queremos nos tornar instrumentos
da ilegalidade. Por sorte, não precisa ser assim, pois há uma melhor
solução — uma solução que funcionou. Em novembro de 2016, nós
expomos a bandidagem de Obama e de Hillary perante o povo
Americano, o povo Americano disse “chega!” e livrou-se daqueles
idiotas.
Foi um bom começo. O próximo passo é investigar e processar os
abusos de poder durante a administração Obama. Os esquerdistas
bradarão por vendeta política — a única vendeta que eles querem é
para o próprio lado deles —, mas estamos fazendo nada mais que
responsabilizar Obama, Holder, Lynch, Hillary e Lerner por suas
ações. Em suma, para esmagar o fascismo da esquerda, não
precisamos combater ilegalidade com ilegalidade; precisamos,
contudo, ser firmes e resolutos, compreendendo o tipo de pessoas
com quem estamos lidando.
Nós, conservadores e republicanos, estamos à altura do desafio?
Sim, creio que estamos. Olhe para a nossa história. Somos o partido
que batalhou uma grande guerra para pôr fim na escravidão, que
combateu linchamentos e segregação, que apagou a Ku Klux Klan,
que fez oposição à eugenia e à esterilização forçada, que resistiu ao
fascismo incipiente dos marginais e vândalos em 1960. Em suma,
somos o partido que, por um século e meio, tem lutado contra o
fascismo da esquerda política. Já vencemos antes, podemos vencer
novamente. Temos agora o poder para impedi-los de continuar.
Precisamos apenas pegar e fazer. Nas palavras de um lema vindo
dos anos 1960, “Se não agora, quando? Se não nós, quem?”.
Capítulo Um
O Retorno dos Nazistas
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mix/wp/2017/03/08/sen-tim-kaines-son-among-several-arrested-after-protesters-
disrupt-trump-rally-in-minnesota/?utm_term=.6b57689573a8.
28 BENN, Jesse. Sorry Liberals, A Violent Response to Trump Is As Logical As
Any. Huffington Post, 6 jun. 2016. Disponível em:
http://www.huffingtonpost.com/jesse-benn/sorry-liberals-a-violent-
_b_10316186.html.
29 NEWKIRK II, Van. Political Violence in the Era of Trump. The Atlantic, 3 jun.
2016. Disponível em:
https://www.theatlantic.com/politics/archive/2016/06/violence-trump-
rallies/485522/.
30 LENNARD, Natasha. Anti-Fascists Will Fight Trump’s Fascism in the Streets.
The Nation, 19 jan. 2017. Disponível em: https://www.thenation.com/article/anti-
fascist-activists-are-fighting-the-alt-right-in-the-streets/.
31 DEVEGA, Chauncey. Donald Trump is Not the Victim. Salon, 3 jun. 2016.
Disponível em:
http://www.salon.com/2016/06/03/donald_trump_is_not_the_victim_the_rights_l
aughable_spin_as_violence_breaks_out_in_san_jose/.
32 HAYES, Kelly. No Welcome Mat for Fascism. Truthout, 14 mar. 2016.
Disponível em: http://www.truth-out.org/opinion/item/35204-no-welcome-mat-for-
fascism-stop-whining-about-trump-s-right-to-free-speech.
33 HAYEK, Friedrich. The Road to Serfdom. Chicago: University of Chicago Press,
2007. p. 59.
FINER, Herman. Road to Reaction. Boston: Little, Brown and Company, 1945.
p. ix.
34 GOLDBERG, Jonah. Liberal Fascism. New York: Doubleday, 2007. p. 2, 7.
35 PAXTON, Robert. The Anatomy of Fascism. New York: Vintage Books, 2004. p.
49.
36 PATERSON, Tony. A Berliner in 1963—But Did Former President John F.
Kennedy Once Admire Adolf Hitler? Independent, 23 maio 2013. Disponível em:
http://www.independent.co.uk/news/world/world-history/a-berliner-in-1963-but-
did-former-us-president-john-f-kennedy-once-admire-adolf-hitler-8629991.html.
HALL, Allan. How JFK Secretly Admired Hitler. Daily Mail, 23 maio 2013.
Disponível em: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2329556/How-JFK-
secretly-ADMIRED-Hitler-Explosive-book-reveals-Presidents-praise-Nazis-
travelled-Germany-Second-World-War.html.
37 SMITH, Denis Mack. Mussolini. New York: Vintage Books, 1982. p. 138.
ALEXANDER, Neta. Is He Fascist? Haaretz, 2 abr. 2017. Disponível em:
http://www.haaretz.com/us-news/1.780456.
38 GREGOR, Anthony James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press,
1969. p. 13.
Capítulo Dois
Falsificando a História
1 RIESS, Curtis. Joseph Goebbels. London: Fonthill, 2015. p. 64-65.
2 JEFFERSON, Thomas. Notes on the State of Virginia. Ed. William Peden. New
York: W. W. Norton, 1982. p. 120.
3 BORITT, Gabor; CUOMO, Mario; HOLZER, Harold (Ed.). Lincoln on Democracy.
New York: HarperCollins, 1990. p. 3.
HAMILTON, Alexander; MADISON, James; JAY, John. The Federalist. New
York: Barnes and Noble, 2006. p. 53.
4 BARAGONA, Justin. Chris Matthews Reacts to Trump Firing Comey: ‘A Little
Whiff of Fascism Tonight. Mediaite, 9 maio 2017. Disponível em:
http://www.mediaite.com/tv/chris-matthews-reacts-to-trump-firing-comey-a-little-
whiff-of-fascism-tonight/.
5 GOODMAN, Amy. Father of Fascism Studies: Donald Trump Shows Alarming
Willingness to Use Fascist Terms and Styles. Democracy Now, 15 mar. 2016.
Disponível em:
https://www.democracynow.org/2016/3/15/father_of_fascism_studies_donald_tr
ump.
6 CHOTINER, Isaac. Is Donald Trump a Fascist? Slate, 10 fev. 2016. Disponível
em:
http://www.slate.com/articles/news_and_politics/interrogation/2016/02/is_donald
_trump_a_fascist_an_expert_on_fascism_weighs_in.html.
7 PAXTON, Robert. The Anatomy of Fascism. New York: Free Press, 1969. p.
376.
8 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p.
376.
PAYNE, Stanley G. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin
Press, 1995. p. 66.
9 GREENWOOD, Max. Warren: Trump Win Partly a Result of ‘An Ugly Stew of
Racism. 19 abr. 2017. The Hill, 19 abr. 2017. Disponível em:
http://thehill.com/blogs/blog-briefing-room/news/329640-warren-trump-win-
partially-a-result-of-an-ugly-stew-of-racism.
WHITMAN, James. Why the Nazis Loved America. Time, 21 mar. 2017.
Disponível em: http://time.com/4703586/nazis-america-race-law/.
HEER, Jeet. Trump’s Fascist Roots Lie in the Republican Party. New Republic,
10 dez. 2016. Disponível em: https://newrepublic.com/minutes/133623/trumps-
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TOMASKY, Michael. GOP: A Neo-Fascist White Identity Party? Daily Beast, 13
dez. Disponível em: http://www.thedailybeast.com/articles/2015/12/14/gop-a-
neo-fascist-white-identity-party.html.
10 KANNO-YOUNGS, Zolan. ‘We Are All Immigrants,’ N. Y. Gov. Andrew Cuomo
Says During Speech at Harlem Church. Wall Street Journal, 20 nov. 2016.
Disponível em: https://www.wsj.com/articles/we-are-all-immigrants-n-y-gov-
andrew-cuomo-says-during-speech-at-harlem-church-1479667579.
SHEAR, Michael; NIXON, Ron. More Immigrants Face Deportation Under New
Rules. New York Times, 22 fev. 2017. Disponível em:
http://www.nytimes.com/images/2017/02/22/nytfrontpage/scan.pdf.
11 JR., Cleve R. Wootson. Sen. Al Franken: Donald Trump’s New Adon the
Economy is Anti-Semitic. Washington Post, 6 nov. 2016. Disponível em:
https://www.washingtonpost.com/news/the-fix/wp/2016/11/06/sen-al-franken-
claims-that-donald-trumps-new-ad-on-the-economy-is-anti-semitic/?
utm_term=.e099c542a2cd.
DENBY, David. The Plot Against America: Donald Trump’s Rhetoric. New
Yorker, 15 dez. 2015. Disponível em: http://www.newyorker.com/culture/cultural-
comment/plot-america-donald-trumps-rhetoric.
DREIER, Peter. Trump No Longer Really Running for President. The American
Prospect, 20 out. 2016. Disponível: http://prospect.org/article/trump-no-longer-
really-running-president.
12 SCHWARTZ, Ian. Netanyahu: No Greater Supporter of Jewish People and
Jewish State than Donald Trump. RealClear Politics, 15 fev. 2017. Disponível
em:
http://www.realclearpolitics.com/video/2017/02/15/netanyahu_no_greater_suppo
rter_of_jewish_people_and_jewish_state_than_donald_trump.html.
13 SULLIVAN, Andrew. The Madness of King Donald. New York Magazine, 10
fev. 2017. Disponível em: http://nymag.com/daily/intelligencer/2017/02/andrew-
sullivan-the-madness-of-king-donald.html.
WHITLOCK, Scott. Unhinged Paul Krugman: Nazi Trump is ‘Mentally Ill’. News
Busters, 26 jan. 2017. Disponível em:
http://www.newsbusters.org/blogs/nb/scott-whitlock/2017/01/26/unhinged-paul-
krugman-nazi-trump-mentally-ill.
DAILY MAIL. Rosie O’Donnell Calls Trump ‘Mentally Unstable’ on Twitter and
Warns America That There are ‘Less Than Three Weeks to Stop Him. Daily
Mail, 2 jan. 2017. Disponível em: http://www.dailymail.co.uk/news/article-
4080932/Rosie-O-Donnell-calls-Trump-mentally-unstable-warns-America-three-
weeks-stop-him.html.
DEMARCHE, Edmund. Democrats Introduce Bill to Take Nuclear Football out of
Trump’s Hands. Fox News, 25 jan. 2017. Disponível em:
http://www.foxnews.com/politics/2017/01/25/lawmakers-introduce-bill-to-take-
nuclear-football-out-trumps-hands.html.
VLADIMIROV, Nikita. Dem to Unveil Bill Requiring a White House Psychiatrist.
The Hill, 8 fev. 2017. Disponível em:
http://thehill.com/homenews/house/318554-lawmaker-to-propose-a-bill-
requiring-a-white-house-psychiatrist.
14 FEENEY, Matt. The Book That Predicted Trump. New Yorke. Disponível em:
http://www.newyorker.com/culture/cultural-comment/the-book-that-predicted-
trump.
15 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press,
1995. p. 203.
EVANS, Richard. The Coming of the Third Reich. New York: Penguin Books,
2005. p. 449.
16 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton
University Press, 1994. p. 4.
17 BEN-GHIAT, Ruth. An American Authoritarian. The Atlantic, 10 ago. 2016.
Disponível em: https://www.theatlantic.com/politics/archive/2016/08/american-
authoritarianism-under-donald-trump/495263.
SULLIVAN, Andrew. The Republic Repeals Itself. New York Magazine, 9 nov.
2016. Disponível em: http://nymag.com/daily/intelligencer/2016/11/andrew-
sullivan-president-trump-and-the-end-of-the-republic.html.
LEVITSKY, Steven; ZIBLATT, Daniel. Is Donald Trump a Threat to Democracy?
New York Times, 16 dez. 2016. Disponível em:
https://www.nytimes.com/2016/12/16/opinion/sunday/is-donald-trump-a-threat-
to-democracy.html.
SNYDER, Timothy. Donald Trump and the New Dawn of Tyranny. Time, 3 mar.
2017. Disponível em: http://time.com/4690676/donald-trump-tyranny/.
18 HOHMANN, James. The Daily 202: Trump’s Warning to Comey Deepens
Doubts About His Respect for the Rule of Law. Washington Post, 12 maio 2017.
Disponível em: https://www.washingtonpost.com/news/powerpost/paloma/daily-
202/2017/05/12/daily-202-trump-s-warning-to-comey-deepens-doubts-about-
his-respect-for-the-rule-of-law/5915063ee9b69b209cf2b814/?
utm_term=.29f8b7dd4e5f.
19 MCADAMS, Dan P. The Mind of Donald Trump. The Atlantic, jun. 2016.
Disponível em: https://www.theatlantic.com/magazine/archive/2016/06/the-mind-
of-donald-trump/480771/.
20 ROSENBERG, Mark Y. Donald Trump’s Use of Fascist Language Forebodes a
Dark American Future. Quartz, 24 jan. 2017. Disponível em:
https://qz.com/892091/is-trump-a-fascist-donald-trumps-inaugural-speech-used-
fascist-language-to-prime-america-for-a-dark-future-agenda/.
21 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton
University Press, 1994. p. 215.
GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism.
Berkeley: University of California Press, 1979. p. 98.
SMITH, Denis Mack. Mussolini. New York: Vintage Books, 1982. p. 15.
22 NIOSE, David. Our Memorial Day Collision Course with Fascism. Salon, 30
maio 2016. Disponível em:
http://www.salon.com/2016/05/30/our_memorial_day_collision_course_with_fas
cism_donald_trump_and_the_new_american_militarism/.
THAROOR, Ishaan. The Trump Presidency Ushers in a New Age of Militarism.
Washington Post, 1 mar. 2017. Disponível em:
https://www.washingtonpost.com/news/worldviews/wp/2017/03/01/the-trump-
presidency-ushers-in-a-new-age-of-militarism/?utm_term=.843868bacc08.
23 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press,
1995. p. 11.
24 DEMOCRACY NOW. Cornel West on Donald Trump: This is What Neo-
Fascism Looks Like. Democracy Now, 1 dez. 2016. Disponível em:
https://www.democracynow.org/2016/12/1/cornel_west_on_donald_trump_this.
25 FELICE, Renzo De. Fascism. New Brunswick: Transaction Publishers, 2009. p.
63.
MOSSE, George. The Fascist Revolution. New York: Howard Fertig, 1999. p.
22.
PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press,
1995. p. 168.
26 GREGOR, A. James. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University
Press, 2005. p. 5.
27 GENTILE, Giovanni. Origins and Doctrine of Fascism. New Brunswick:
Transaction Publishers, 2009. p. 25.
28 Além dos escritos de Gentile, minha narrativa fica em dívida especialmente
com o livro de A. James Gregor: Giovanni Gentile: Philosopher of Fascism. New
Brunswick: Transaction Publishers, 2008.
29 GENTILE, Giovanni. Origins and Doctrine of Fascism. New Brunswick:
Transaction Publishers, 2009. p. 28, 31, 55, 57, 67, 87.
30 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p.
207, 223.
31 LAQUEUR, Walter. Fascism: Past, Present and Future. New York: Oxford
University Press, 1996. p. 13.
32 DEMOCRACY NOW. Father of Fascism Studies: Donald Trump Shows
Alarming Willingness to Use Fascist Terms and Styles. Democracy Now, 15
mar. 2016. Disponível em:
https://www.democracynow.org/2016/3/15/father_of_fascism_studies_donald_tr
ump.
CHOTINER, Isaac. Is Donald Trump a Fascist? Slate, 10 fev. 2016. Disponível
em:
http://www.slate.com/articles/news_and_politics/interrogation/2016/02/is_donald
_trump_a_fascist_an_expert_on_fascism_weighs_in.html.
33 GREGOR, A. James. Giovanni Gentile: Philosopher of Fascism. New
Brunswick: Transaction Publishers, 2008. p. 63.
34 LANDLER, Mark; COOPER, Helene. Obama Seeks a Course of Pragmatism in
the Middle East. New York Times. 10 mar. 2011. Disponível em:
http://www.nytimes.com/2011/03/11/world/africa/11policy.html.
35 SMITH, Dennis Mack. Mussolini. New York: Vintage Books, 1982. p. 312.
36 TOLAND, John. Adolf Hitler. New York: Anchor Books, 1992. p. 224-225.
37 ULLRICH, Volker. Hitler. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 193.

Capítulo Três
A Jornada de Mussolini
1 HAYEK, F. A. The Road to Serfdom. Chicago: University of Chicago Press,
2007. p. 145.
2 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton
University Press, 1994. p. 208.
3 SHIRER, William. The Rise and Fall of the Third Reich. New York: Simon &
Schuster, 2011. p. 298.
4 ULLRICH, Volker. Hitler. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p. 125.
5 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. Intro. H. R. Trevor-Roper. New York: Enigma
Books, 2000. p. xxiv, 10.
6 GREGOR, A. James. The Faces of Janus. New York: Encounter Books, 2002. p.
105.
7 MURAVCHIK, Joshua. Heaven on Earth. New York: Encounter Books, 2002. p.
105.
8 ______. ______. p. 101.
9 ______. ______. p. 108.
10 STERNHELL, Zeev. The Birth of Fascist Ideology. Princeton: Princeton
University Press, 1994. p. 39-66.
11 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p.
159.
12 PAYNE, Stanley. A History of Fascism. Madison: University of Wisconsin Press,
1995. p. 84.
13 GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism.
Berkeley: University of California Press, 1979. p. 20.
14 GREGOR, A. James. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University
Press, 2005. p. 33.
15 Para uma melhor discussão acerca de Woltmann, veja A. James Gregor em
seu livro: Marxism, Fascism and Totalitarianism. Standford: Standford University
Press, 2000. p. 183-186.
16 GREGOR, A. James. Giovanni Gentile. New Brunswick: Transaction
Publishers, 2008. p. 100.
17 GREGOR, A. James. Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism.
Berkeley: University of California Press, 1979. p. 215.
Capítulo Quatro
Um Segredo do Partido Democrata
1 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. 160.
2 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 54.
3 HITLER, Adolf. Hitler’s Table Talk. New York: Enigma Books, 2000. p. 188.
4 GILBERT, Alan. The Cowboy Novels that Inspired Hitler. Daily Beast, 20 ago.
2016. Disponível em: http://www.thedailybeast.com/the-cowboy-novels-that-
inspired-hitler.
5 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright Publishing, 2003. p. 282-
283.
6 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Boston: Houghton Mifflin, 1999. p. 139.
7 RICH, Norman. Hitler’s Foreign Policy. In: MARTEL, Gordon (Ed.). The Origins
of the Second World War Reconsidered: The A.J.P. Taylor Debate After Twenty-
Five Years. Boston: Allen & Unwin, 1986. p. 136.
WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University
Press, 2017. p. 9-10.
8 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent, 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016. p.
665.
EVANS, Richard. The Coming of the Third Reich. New York: Penguin Books,
2005. p. 111.
9 TOLAND, John. Hitler: the Definitive Biography. New York: Anchor Books, 1992.
p. 702.
10 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. 160.
11 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt, 2014. p.
2.
12 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford
University Press, 2014.
PLATO, Alexander Von; LEH, Almut; THONFELD, Christoph (Ed.). Hitler’s
Slaves. New York: Berghahn Books, 2010.
13 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford
University Press, 2014. p. 22.
14 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 244.
15 SNYDER, Timothy. Bloodlands. New York: Basic Books, 2010. p. xiii, 256, 76,
382.
16 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press,
1993. p. 199.
17 STANNARD, David. American Holocaust. New York: Oxford University Press,
1992. p. x, 147.
18 LEWY, Guenter. Were American Indians the Victims of Genocide? History
News Network, set. 2004. Disponível em:
http://historynewsnetwork.org/article/7302.
19 UNITED NATIONS HUMAN RIGHTS OFFICE OF THE HIGH
COMMISSIONER. “Convention on the Prevention and Punishment of the Crime
of Genocide”. 9 dez. 1948. Disponível em:
http://www.ohchr.org/EN/ProfessionalInterest/Pages/CrimeOfGenocide.aspx.
20 INSKEEP, Steve. Jacksonland. New York: Penguin Books, 2015. p. 203-204.
21 ______. ______. p. 205.
22 JACKSON, Andrew. Andrew Jackson to Rachel Jackson, March 28, 1814
[carta]. In: OWSLEY, Harriet et. al. (Colab.). The Papers of Andrew Jackson.
Knoxville: University of Tennessee Press, 1980. v. 3, p. 54.
BALL, Timothy Horton; HALBERT, Henry Sale. The Creek War of 1813 and
1814. Montgomery: White, Woodruff & Fowler, 1895. p. 276-277.
23 “Andrew Jackson’s Speech to Congress on Indian Removal”. 6 dez. 1830.
Disponível em:
https://www.nps.gov/museum/tmc/MANZ/handouts/Andrew_Jackson_Annual_M
essage.pdf.
24 STANNARD, David. American Holocaust. New York: Oxford University Press,
1992. p. 123-124.
25 LAWRENCE, Jane. The Indian Health Service and the Sterilization of Native
American Women. In: MIHESUAH, Devon A (Ed.). American Indian Quarterly.
University of Nebraska Press, 2000. v. 24, n. 3, p. 400-419.
26 ELKINS, Stanley. Slavery: A Problem in American Institutional and Intellectual
Life. Chicago: University of Chicago Press, 1976. p. 111.
27 ______. ______. p. 130.
28 GENOVESE, Eugene. Rebelliousness and Docility in the Negro Slave. In:
LANE, Ann (Ed.). The Debate Over Slavery: Stanley Elkins and His
Critics.Urbana: University of Illinois Press, 1975. p. 43.
29 HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 25.
30 WIESEL, Elie. Night. New York: Hill & Wang, 2006. p. 52.
HELM, Sarah. Ravensbruck. New York: Anchor Books, 2015. p. 34.
31 ______. ______. p. 70.
32 GENOVESE, Eugene. The World the Slaveholders Made. Middletown:
Wesleyan University Press, 1988. p. 200.
33 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press,
1993. p. 171-172.
34 BUGGELN, Marc. Slave Labor in Nazi Concentration Camps. New York: Oxford
University Press, 2014. p. 37-38, 46.
35 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p.
188.
36 SOFSKY, Wolfgang. The Order of Terror. Princeton: Princeton University Press,
1993. p. 58.
37 ______. ______. p. 271-274.
38 STAMPP, Kenneth. The Peculiar Institution. New York: Vintage Books, 1984. p.
11, 420.
39 PATTERSON, Orlando. Towards a Study of Black America. Dissent, Fall 1989,
480 p. Disponível em: https://www.dissentmagazine.org/article/toward-a-study-
of-black-america.
Capítulo Cinco
Os Racistas Originais

1 FREDRICKSON, George. Racism: A Short History. Princeton: Princeton


University Press, 2002. p. 123-124.
2 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press,
2013. p. 23.
3 WHITMAN, James Q. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University
Press, 2017. p. 1, 80, 95, 104, 127, 160.
WHITMAN, James Q. When the Nazis Wrote the Nuremberg Laws, They
Looked to Racist American Statutes. Los Angeles Times, 22 fev. 2017.
Disponível em: http://www.latimes.com/opinion/op-ed/la-oe-whitman-hitler-
american-race-laws-20170222-story.html.
4 BURLEIGH, Michael. The Racial State. Cambridge: Cambridge University Press,
2013. p. 45.
5 FREDRICKSON, George. Racism: A Short History. Princeton: Princeton
University Press, 2002. p. 124.
6 WHITMAN, James. Hitler’s American Model. Princeton: Princeton University
Press, 2017. p. 50, 138, 145.
7 KATZNELSON, Ira. Fear Itself. New York: Liveright, 2013. p. 283.
8 MURAVCHIK, Joshua. Did American Racism Inspire the Nazis? Mosaic, 19 mar.
2017. Disponível em: https://mosaicmagazine.com/observation/2017/03/did-
american-racism-inspire-the-nazis/.
9 WHITMAN, James. Why the Nazis Loved America. Time, 21 mar. 2017.
10 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016.
p. 84.
11 GREGOR, A. James. The Ideology of Fascism. New York: Free Press, 1969. p.
246-248.
______. Mussolini’s Intellectuals. Princeton: Princeton University Press, 2005.
p. 214-217.
12 ALY, Gotz. Why the Germans? Why the Jews? New York: Henry Holt and
Company, 2014. p. 70, 77-78.
13 HITLER, Adolf. Mein Kampf. Trad. Ralph Manheim. Boston: Houghton Mifflin,
1999. p. 210.
14 ULLRICH, Volker. Hitler: Ascent 1889-1939. New York: Alfred A. Knopf, 2016.
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Capítulo Seis
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Capítulo Sete
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Capítulo Nove
Desnazificação
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6 EVANS, Richard. The Third Reich in Power. New York: Penguin Books, 2005. p.
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7 PARK, Madison. More Than 200 Protesters Indicted on Rioting Charges from
Inauguration Day. CNN, 22 fev. 2017. Disponível em:
http://www.cnn.com/2017/02/22/politics/trump-inauguration-protesters-
indictment/.
8 GENTILE, Giovanni. Origins and Doctrine of Fascism. New Brunswick:
Transaction Publishers, 2009. p. 20.
SHIRER, William. The Rise and Fall of the Third Reich. New York: Simon &
Schuster, 2011. p. 22-23.
9 LINCOLN, Abraham. Selected Speeches and Writings. New York: Vintage
Books, 1992. p. 386/; .

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