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Ceilândia, DF, 15 de dezembro de 2021.

Ao amigo, Paulo Freire!

Prezado Paulo, posso lhe chamar de amigo, não é mesmo? Afinal, acredito
que o vínculo de amizade que foi criado em nossa troca tenha rompido o vínculo da
formalidade entre autor e leitor.
Desde já peço: me empresta seus óculos, para que eu possa enxergar
através de sua perspectiva?
Ora, seu Paulo, o sr. adentrou o meu intelecto através de suas sábias
palavras, propondo algumas reflexões e lá garantiu sua estadia. Sua prosa é gentil,
inteligente e dotada de “boniteza”. Assim, desde já deixo claro: apesar de nunca ter saído
desde que chegou, seja bem-vindo para retornar sempre que quiser, trazendo novos
pensamentos que são sempre bem construtivos.
Não foi um processo esotérico, contudo, há alguma mística nesse encontro.
A reflexão foi sendo construída através de suas palavras fundamentadas. O conteúdo
internalizado e absorvido ganhou vida quando pude contemplar a grandiosidade dos
simples porém profundos conselhos.
Seu Paulo, seu Paulo: tenho pensado em como as coisas estão ultimamente.
A vida tem exigido uma reavaliação e nos convidado a estarmos em alerta, não é mesmo?!
Vivemos tempos sombrios. Parece que o mundo deu um freio brusco e num único ato
fomos arremessados num impulso violento que nos paralizou. Tal força fez com que não
apenas o mundo parasse, mas sim todos nós, nos convidando a uma reflexão ativa sobre
nosso papel em momentos tão difíceis.
Também é um tempo de escassez de boniteza: o mundo tem perdido
sorrisos diante de tantas ignorâncias, de tantas negativas, de tantos descasos . Qual será o
remédio, seu Paulo, para curar tamanha doença? Talvez o antídoto seja realmente nos
abrirmos à reflexão. Mas não em doses ministradas de forma tímida e sim, uma dose
diária de hora em hora, até os sintomas da ignorância começarem a ceder e dar lugar à
uma atitude consciente transformadora de nosso meio.
Ora, afinal, onde estamos e o que estamos fazendo ao nosso redor?
Estamos utilizando o nosso potencial para tentar amenizar as coisas? Será que podemos?
E se o podemos, por que não o fazemos?
Uma vez o sr. disse, seu Paulo, que o conhecimento não se deposita, se
constrói. Acredito que mais do que nunca, este momento nos convida a sermos obreiros
de reflexões.
Longe de qualquer tentativa de inserir um conhecimento pré-moldado em
qualquer mente, a construção do conhecimento sob sua perspectiva é uma via de mão-
dupla, não é mesmo? Onde tal ponte só se faz possível com um movimento resiliente,
uma escuta atenciosa e o empenho de ambas as partes buscando erigir algo novo,
utilizando toda capacidade que os envolvidos já possuem. Interessante... Acredito que
necessitamos de construtores de pontes!
Já que estamos tratando desse assunto, seu Paulo, posso dizer: consegui
olhar através de seus óculos. Obrigado por me emprestá-lo. Sinto, contudo, que não
retornarei ao meu estado anterior. Ou seja: sinto a necessidade de uso constante de tais
óculos, de alguma forma.
Ora, é bem verdade que quando vamos ao médico que nos diagnostica com
alguma necessidade de correição ocular e podemos utilizar o sugerido pelo médico,
notamos a diferença e passamos a adotar com constância. Ao utilizar seus óculos, me
senti assim: enxergando melhor, mais clareza e boniteza. Não que as coisas estejam
sempre claras. É sempre um processo dialógico, não é mesmo? Uma construção
segmentada. Mas por ora, entendi perfeitamente a estrutura de seus óculos: A armação
dele se dá pelas reflexões que tão sabiamente o senhor fez e as lentes refletem o olhar
cuidadoso que as imagens de seu coração mostram.
Taí! Agora difícil é achar um local que reproduza tal óculos sob as mesmas
medidas... Ou não! Talvez seguindo seu exemplo, devamos nos empenhar e construir
nossos próprios óculos. Dessa forma, seu Paulo, convido a todos os que estejam nos lendo
de alguma forma: vamos olhar o mundo como Paulo Freire, construindo nossos próprios
óculos?

João Batista de Araújo Silva,


Admirador e Graduando IFB Letras, Licenciatura Espanhol.

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