Você está na página 1de 3

PROSPERIDADE PESSOAL

Por Irineu Cassel, FRC

Como vai estar a sua vida daqui a cinco anos?


Esta pergunta inquietante me foi feita certa vez por uma pessoa muito querida e pela
qual eu nutro profunda admiração por toda a sua construção de vida.
Nem preciso dizer que me engasguei e tive enorme dificuldade em articular o pensa-mento
para dar uma resposta rápida e, no mínimo, digna. Afinal, sempre me considerei uma
pessoa com a vida razoavelmente organizada, pelo menos no plano mental. Eu espero
sin-ce-ramente que você tenha, no momento em que ler este artigo, menor dificuldade de
responder a essa pergunta do que eu tive então.
Confesso que foi um daqueles momentos na vida em que nos deparamos com um
certo vazio existencial. Senti um vácuo sobre toda a certeza interior que carregava acerca da
forma como estava tocando a minha vida e um certo medo invadiu meu ser; o medo do
futuro? Não. O medo de mim mesmo. O medo da minha fragilidade, da minha capacidade
de dirigir o meu destino. Afinal, eu não estava fazendo a lição de casa a que, como estudante
rosacruz, eu me propus nas últimas décadas que é buscar o domínio da vida.
Então veio a sentença que, mesmo partindo da boca dessa pessoa, eu sabia que na
verdade emergia do fundo do meu ser: – Quando você souber o que pretende para sua vida
volte e me conte.
Desnecessário dizer que nas horas e dias seguintes essa pergunta não calou dentro
de mim. O que eu quero para minha vida? O que vou fazer para chegar lá? O que eu fiz até
hoje? Do que eu sou capaz? O que eu preciso ou devo fazer? E, num nível ainda mais
profundo: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou?
A trajetória na Ordem e na vida nos mostra que o crescimento e a evolução são
constantes, mesmo que em certos momentos não nos apercebamos disso. Cada situação e
experiência nos leva ao confronto com as limitações mentais e físicas que temos e o embate
entre a realidade que construímos e os propósitos que carregamos nos situam em certos
patamares de satisfação, de qualidade de vida.
Desde as primeiras lições que recebemos na AMORC temos a visão de que, com o
estudo e o esforço de realizar, poderemos transmutar nosso ser passo a passo através da
alquimia mental e assim, conhecendo as leis que regem o universo dominar os seus
elementos e atingir o tão sonhado domínio da vida.
Nessa revisão de vida passei a rememorar essas lições, a relembrar aqueles momentos
tão especiais que cada estudante vive, que somente a memória interna pode reavivar e os
quais não tem como dividir com outros, já que os encontros com a alma são individuais.
Nesse ponto do processo o sentimento de solidão que a pergunta inicial me trouxe à
tona se transformou no real encontro com o meu Eu Interior e, de sentimento de separação
das demais pessoas, se transmutou em verdade no encontro comigo mesmo e assim, com o
Todo. Desapareceu então o medo, pois me sobreveio o firme sentimento de que o potencial
para responder a essa pergunta está dentro de mim. Sim; o meu futuro está em minhas
mãos.
E mesmo que momentaneamente não estivesse consciente e, aparentemente, deixado
de construí-lo de forma sistemática estava edificando no dia a dia os pilares internos dessa
construção. Se essa pergunta me abalou de tal maneira que me levou ao mergulho interior
e me propiciou o reencontro com a Essência, era hora de retomar o timão da vida, refazer o
plano de viagem e seguir em frente com mais consciência. Afinal, a viagem pela senda da
vida não tem fim, quando muito etapas.
Lembrei então de uma lição do Fr. Spencer Lewis em que ele relatou o desafio dos
desbravadores do oeste americano e sua saga para alcançar e construir a vida naquele novo
território. Os obstáculos físicos que tiveram pela frente eram enormes, mas o objetivo que
mantinham em mente e a sua vontade de alcançá-lo lhes deram a suficiente energia para
sobrepujá-los.
E essa é, em essência, a pergunta que todos nós devemos responder: quais são os
meus objetivos de vida? Como profissionais somos levados a estabelecer metas, objetivos,
planos e controles para organizar nossa ação. Mas, na nossa vida pessoal fazemos o mesmo?
Quais são nossos objetivos? O que queremos atingir em cada setor de nossa vida? Onde
estamos hoje? Onde queremos chegar? Que recursos possuímos? Quais competências
precisamos desenvolver em nós mesmos? Que auxílio externo necessitamos? Que forças
internas podemos desencadear? Estamos aplicando o que aprendemos ou esse estoque de
potencialidades está criando poeira nas prateleiras da nossa consciência? Somos tão felizes
quanto queremos ser?
O certo é que o universo e a vida têm propósitos definidos e por isso um ritmo de
evolução. O homem, dotado de livre arbítrio, é que muitas vezes usando dessa faculdade
sem a devida interação com o seu interior perde o rumo. Faz-se então necessário que os
embates diários lhe confrontem as aspirações e a realidade para que ele reencontre o
caminho, o seu caminho, e aí sim retome o ritmo de desenvolvimento pessoal, o que exige
um esforço extra de dedicação e concentração.
Se tivermos, disse o filósofo, como “única obrigação na vida sermos felizes”, o que
traduz para o nosso ser esse sentimento de felicidade? Sentimento que é pessoal e
intransferível, conquanto em nosso mundo adquira certos contornos comuns a todos os
homens. Lembremos de Shakespeare que nos legou em Hamlet o seguinte ensinamento:
“Acima de tudo, sê fiel a ti mesmo”.
Esse é o ponto de partida: o que me faz feliz? Essa resposta somente pode vir da
consciência de cada um, a partir da qual podemos iniciar a construção do plano pessoal de
vida. Por vezes necessitamos de auxílio para clarear a mente contaminada por tanta pressão
externa - o conhecido “envene­namento mental” – para que possamos chegar ao âmago do
nosso ser e poder responder, calcados em nossa verdade interior, a esse questionamento.
Para isso Freud, Jung e outros desenvolveram a ciência psicanalítica que também pode nos
auxiliar, se preciso for, em adição aos nossos imprescindíveis esforços pessoais de
contemplação e meditação, no Sanctum pessoal.
Tudo isso deve levar à questão crucial sobre qual é a minha missão de vida, pois
somente o encaminhamento dela é que pode me traduzir esse sentimento interno de
felicidade, que, em outras palavras, me dá a profunda sensação de crescimento e
desen-volvimento da consciência, ou seja, de que estou evoluindo tal qual a vida e o
universo, ou, que estou em um estágio de harmonium, ou ainda, de prosperidade.
Mas, retornando à pergunta inicial, a preciosa lição do Fr. Lewis e a sua aplicação em
nossa vida nos dá o caminho para que possamos evoluir e prosperar: é preciso que tenhamos
objetivos. Ela nos mostra como um propósito definido leva a nossa mente a desenvolver um
princípio fundamental para a conquista de qualquer objetivo que é o de concentração de
esforços. Concentrados no objetivo, eliminamos a dispersão de pensamento e ação e
dirigimos todo o combustível pessoal para o alvo pretendido. É essa uma das principais
chaves do sucesso que vemos em tantos exemplos pessoais.
De uma forma estruturada podemos deduzir que a prosperidade individual
consistente depende dos seguintes fatores:

IDENTIFICAÇÃO DA MISSÃO PESSOAL ➔ INSPIRAÇÃO ➔ FIXAÇÃO DE OBJETIVOS ➔


PLANO PESSOAL DE VIDA ➔ ASPIRAÇÃO ➔ CONCENTRAÇÃO DE ESFORÇOS ➔
AÇÃO INTEGRADA ➔ REALIZAÇÃO DOS OBJETIVOS

Salientamos inspiração: que são as ideias e sentimentos que emergem de nosso


interior, refletindo nossa verdade interior ou breve iluminação ou insight, e aspiração: que é
o vácuo energético que os nossos desejos criam a partir da fixação dos objetivos.
Como o universo “conspira” contra o vácuo, a fixação de objetivos gera por si mesma
uma força tratora que atrairá os fatores necessários à sua realização, a partir do que,
somando-se aos acontecimentos produzidos pela nossa ação, outras circunstâncias
“casuais” virão ao nosso encontro como uma “mãozinha” do universo. O sonho de Einstein
com a fórmula da relatividade após anos de árduo trabalho é um exemplo de como nossos
esforços são acompanhados e recompensados por esses eventos ainda cientificamente
inexplicáveis, mas que, sabemos por experiência, são desencadeados pelo firme propósito
pessoal de evolução.
Devemos, por fim, encarar a prosperidade como a evolução em todos os aspectos da
vida: negócios, família, relacionamentos, consciência, saúde etc. Pois não há como sermos
felizes sem considerar a vida como um todo que, não sendo perfeito em si, devemos
trabalhar para construir a cada dia, de forma consciente, organizada e calcada em nossas
aspirações interiores, de onde obtemos a energia para sua concretização.

* Artigo extraído da Revista O Rosacruz de 2003.

Você também pode gostar