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Dissertação de Mestrado

Mestrado em Design de Moda

Design têxtil e Moda: tingimento através de microrganismos

Aluno:
Ana Raquel da Silva Duarte

Orientador:
Professora Doutora Manuela Cristina Paulo Carvalho de A. Figueiredo

Corpo do Júri:
Presidente: Professora Doutora Teresa Michele Maia Dos Santos
Vogal: Professora Doutora Carla Cristina da Costa Pereira Morais
Vogal: Professora Doutora Manuela Cristina P. Carvalho A. Figueiredo (Orientadora)

2021
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FIGURA 1- TINGIMENTO ATRAVÉS DE BACTÉRIAS POR NATSAI AUDREY CHIEZA; FONTE:
HTTPS://WWW.WIRED.CO.UK/ARTICLE/NATSAI-AUDREY-CHIEZA-FABER-FUTURES-BIODESIGN
ÍNDICE GERAL

ÍNDICE DE FIGURAS ......................................................................................................................................................................... III

RESUMO E PALAVRAS CHAVE ......................................................................................................................................................... V

ABSTRACT AND KEYWORDS ......................................................................................................................................................... VII

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................................ 1

2. ESTADO DA ARTE ......................................................................................................................................................................4

2.1. INDÚSTRIA TEXTIL ......................................................................................................................................................... 5

2.2. MICRORGANISMOS ........................................................................................................................................................ 7

2.3. TINGIMENTOS.................................................................................................................................................................8

2.3.1. TIPOS DE TINGIMENTOS ................................................................................................................................... 10

2.3.1.1. TINGIMENTO NATURAL ........................................................................................................................ 12

2.3.1.2. TINGIMENTO SINTÉTICO ...................................................................................................................... 15

2.3.1.3. TINGIMENTO POR MICRORGANISMOS – trabalhos de empresas e designers ................................ 19

2.3.1.4. TINGIMENTO ATRAVÉS DE BACTÉRIAS .............................................................................................. 21

2.3.1.5. TINGIMENTO ATRAVÉS DE FUNGOS ................................................................................................... 25

2.3.1.6. TINGIMENTO ATRAVÉS DE ALGAS ...................................................................................................... 27

2.4. IMPACTO ....................................................................................................................................................................... 30

2.5. SUSTENTABILIDADE .................................................................................................................................................... 31

3. DEMOSNTRAÇÃO DAS POSSIBILIDADES ATRAVÉS DE PAINEIS DE TENDÊNCIAS .......................................................... 33

4. RESULTADOS ........................................................................................................................................................................... 47

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROPOSTA PARA UM TRABALHO FUTURO .......................................................................... 49

5.1. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................................ 49

5.2. PROPOSTA PARA UM TRABALHO FUTURO .............................................................................................................. 49

6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................................. 51

7. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................................................... 55

I
II
ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA 1. TINGIMENTO ATRAVÉS DE BACTÉRIAS POR NATSAI AUDREY CHIEZA; FONTE:


HTTPS://WWW.WIRED.CO.UK/ARTICLE/NATSAI-AUDREY-CHIEZA-FABER-FUTURES-BIODESIGN ........ 2

FIGURA 2. ORGANOGRAMA, FONTE: DUARTE, ANA RAQUEL ................................................................................ 2

FIGURA 3 - TABELA GUIA; FONTE: DUARTE, ANA ................................................................................................... 34

FIGURA 4 - 1, 2 E 8: HTTPS://WWW.ZARA.COM/PT/PT/WOMAN-EDITORIAL-NEW-
MKT1103.HTML?V1=1717785; 3, 4, 5, 6 E 7 - HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; FONTE:
DUARTE, ANA ................................................................................................................................................... 35

FIGURA 5 - 1, 3, 4, 5, 6 E 7: HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; 2-
HTTPS://WWW.ZARA.COM/PT/PT/WOMAN-EDITORIAL-NEW-MKT1103.HTML?V1=1717785; FONTE:
DUARTE, ANA ................................................................................................................................................... 35

FIGURA 6 - 1 A 7: HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; FONTE: DUARTE, ANA .............................. 35

FIGURA 7 - 1 A 7:HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; FONTE: DUARTE, ANA ............................... 35

FIGURA 8 - 1, 2, 3, 4 E 6: HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; 5:
HTTPS://WWW.ZARA.COM/PT/PT/WOMAN-EDITORIAL-NEW-MKT1103.HTML?V1=1717785; FONTE:
DUARTE, ANA ................................................................................................................................................... 35

III
IV
Resumo:

No âmbito da estrutura curricular do curso de Mestrado em Design de Moda, surge o


presente trabalho teórico de investigação para o desenvolvimento da dissertação, como
forma de conclusão dos estudos.
Escolhendo como ponto de partida a problemática da poluição gerada do desenvolvimento
de corantes sintéticos com fins de tingimento têxtil, surge a necessidade de encontrara
alternativas aos mesmos. Aliando desta forma a biologia com a tecnologia (biotecnologia)
aplicando-a ao design de moda, mais especificamente à indústria têxtil associada à prática da
fast fashion conseguimos obter soluções inovadoras nesta área, que se prendem com o
desenvolvimento de bio corantes, através de microrganismos (fungos, algas e bactérias).
Destas alternativas surgem as duas grandes questões que impulsionaram o estudo de
investigadores, cientistas e designers e que e me levaram a procurar e analisar se será esta a
única e mais sustentável opção aos tingimentos sintéticos. Ao longo de todo o trabalho são
analisadas “quais as possibilidades de, num curto ou médio prazo, os tingimentos através de
microrganismos (fungos, leveduras, bactérias) se tornarem numa tecnologia aplicada a nível
industrial têxtil?” e “quais os impactos que os tingimentos através de microrganismos
(fungos, leveduras, bactérias) irão ter na indústria têxtil, ambiente e sociedade?”
Com o objetivo de responder a estas questões foram, através de uma metodologia mista,
estudadas e apresentadas experiências já realizadas por investigadores na área da
biotecnologia e tingimento têxtil e são propostas várias hipóteses através da criação de uma
tabela guia e de painéis de tendências que comprovam a possibilidade de aplicação destes
métodos na indústria da moda.

Palavras-Chave: Bio corante, sustentabilidade, tingimento por microrganismos

V
VI
Abstract:
Within the curricular structure of the Master's degree in Fashion Design, the present
theoretical research work for the development of the dissertation emerges, as a way of
concluding the studies. Choosing as a starting point the problem of pollution generated by
the development of synthetic dyes for the purpose of textile dyeing, the need arises to find
alternatives to them. In this way, combining biology with technology (biotechnology)
applying it to fashion design, more specifically to the textile industry associated with the
practice of fast fashion, we managed to obtain innovative solutions in this area, related to the
development of bio dyes, through microorganisms (fungi, algae and bacteria). From these
alternatives, the two major questions that led to the study of researchers, scientists and
designers arise and which led me to seek and analyze whether this will be the only and most
sustainable option for synthetic dyes. Throughout the work I analyse, “what are the chances
of, in the short or medium term, dyeing through microorganisms (fungi, yeasts, bacteria) can
become a technology applied at a textile industrial level?” and "what impacts will dyeing by
microorganisms (fungi, yeasts, bacteria) have on the textile industry, the environment and
society?" In order to answer these questions, a mixed methodology, experiences and studies
already carried out by researchers in the field of biotechnology and textile dyeing were
studied and presented, and several hypotheses are proposed through the creation of a guide
table and trend panels that prove the possibility of applying these methods in the fashion
industry.

Keywords: Bio dye, Sustainability, Microorganism Dye

VII
Área: Design de Moda

Tema: Tecnologia de Tingimento através de bio corantes

Título: Design Têxtil e Moda: tingimento através de microrganismos

Questões de Investigação:

1.Qual o impacto que o tingimento através de microrganismos tem ou


irá ter na indústria têxtil, no ambiente e sociedade?
2.Qual a possibilidade de, num prazo de 10 anos, os tingimentos através
de microrganismos, se tornarem numa tecnologia aplicada a nível industrial?

Objetivos: Responder às questões através de uma metodologia mista,


estudando e apresentando experiências já realizadas por investigadores na
área da biotecnologia e tingimento têxtil e criar hipóteses que comprovem
esses casos de estudo.

Hipótese: Criação de painéis de tendências e de uma tabela guia para


demonstrar e orientar a possibilidade de aplicação dos casos de estudo na
indústria têxtil e grandes marcas

VIII
IX
1. Introdução

Esta dissertação de Mestrado em Design de Moda tem como objetivo principal a


interpretação de possibilidades, através do desenvolvimento de uma compilação de painéis
de tendências que comprovam os assuntos elucidados no estado da arte. Durante este
período foi feito a pesquisa de recursos para a redução do impacto negativo que a indústria
da moda, a fast fashion, tem no ambiente e na sociedade.
Esta indústria é a das principais, depois do petróleo, que mais “ajuda” no problema da
poluição de água potável e as principais causas para tal são o excesso de fabricação de peças
de roupa, o uso de fibras sintéticas e a agricultura contaminada por fábricas. Torna-se
importante procurar e encontrar soluções para a falta de sustentabilidade na mesma.
As companhias de moda estão perante o início daquilo a que se pode chamar uma revolução
biotecnológica. O design têxtil através de bactérias e organismos vivos é uma área que
pretende revolucionar a indústria através de soluções inovadoras no campo dos têxteis
biológicos, através da reciclagem e da criação e desenvolvimento de novos materiais “amigos
do ambiente”.
Atualmente a produção têxtil tem um elevado custo ambiental. O processo de transformação
de matéria prima em fibras, a produção dessas fibras em fios e posteriormente em tecidos,
malhas ou superfícies não tecidas, o tingimento dos mesmos carece de uma grande
quantidade de substâncias químicas e de água potável.
Torna-se importante procurar e encontrar soluções para a falta de sustentabilidade no sector
e um dos meios que começou a ser explorado como alternativa sustentável para a diminuição
da poluição de águas e para reduzir a dependência da moda pelo petróleo, é o tingimento de
tecidos através de microrganismos.
Utilizando a biologia como base, aliada ao design, acredita-se que é possível recriar um
futuro com menor impacto para o planeta e para toda a biodiversidade.
Embora exista bastante alternativa já estudada, e outra em desenvolvimento, ainda há muito
trabalho a fazer de forma a compreender o impacto caso a biotecnologia, num curto ou
médio prazo de tempo, se torne a principal forma de tingir superfícies têxteis ou mesmo
peças de vestuário em alternativa aos meios tradicionais.
O conhecimento adquirido e exposto através desta investigação, foi desenvolvido, dando
visibilidade ao tema e estimulando apoio de novos designers e consumidores, à designada
slow fashion, Desta forma proporcionar material para futuras investigações, através da
compilação de informações teóricas sobre o tingimento de tecido através de microrganismos
(bactérias, fungos e algas) e despertar o interesse de unidades curriculares como tecnologia
e sustentabilidade, tornando-as essenciais e fundamentais em cursos de Design de Moda,
permitindo aos alunos e docentes a exploração de vários processos novos, mais sustentáveis.

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MODA BIOLOGIA TECNOLOGIA

Bio corantes na indústria têxtil

Qual o impacto que o tingimento Qual a possibilidade de, num


através de microrganismos tem prazo de 10 anos, os tingimentos
ou irá ter na indústria têxtil, através de microrganismos se
ambiente e sociedade? tornarem numa tecnologia
aplicada a nível industrial?

Análise de casos de estudo

Critica da literatura

Estado da Arte

Validação das questões de


investigação

Hipótese

Moodboards – painéis de tendências

Pré conclusões

Análise dos benefícios Análise dos fatores críticos de


sucesso

Conclusões

Considerações para um trabalho


futuro
FIGURA 2. ORGANOGRAMA, FONTE: DUARTE, ANA RAQUEL

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2. Estado da arte

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2.1. Indústria Têxtil

A indústria têxtil tem um grande papel na economia mundial, potenciando emprego em


várias áreas e sectores. (Moses & Ammayappan, p. 1).

O seu processo de funcionamento tem como característica a produção e transformação de


fibras, fios, tecidos, roupas e têxteis aplicados ao lar e decoração.
A produção têxtil não só teve a sua origem na antiguidade como também trata várias fases
do processo industrial, percorrendo várias etapas, desde a transformação da matéria prima,
passando por fiação, tecelagem ou tricotagem ou equivalente, ultimação, até à obtenção de
produtos finais.
Mas existem, infelizmente, problemas relacionados com a poluição, não só do ar devido aos
gases provenientes das fábricas, mas também da água, devido aos despejos, muitos deles
ilegais, de resíduos químicos em rios e lagoas que, inevitavelmente, poluirão também solos
e consequentemente contaminam agricultura. Tem sido um grande desafio para muitos
combater ou arranjar alternativas para a indústria da moda, especialmente no que toca à
área do tingimento têxtil.

Produzir têxtil é uma das atividades mais anciãs da história da humanidade e muitas das
técnicas utilizadas mantem-se as mesmas, embora adaptadas à atual população e aos seus
costumes e necessidades.
Tal como hoje, na antiguidade o processo da produção têxtil passava por, depois da plantação
ou criação, recolher o material puro da natureza fosse ele de origem vegetal, como fibras de
algodão ou caules de linho, ou de origem animal a partir do pelo, como a lã ou da segregação
glandular como a seda. Numa segunda fase transformava-se a fibra em fio por métodos de
fiação ou cardagem; na terceira fase teciam-se os fios em tecido ou tricotavam-se obtendo-
se uma malha, esse substrato têxtil, iria ainda sofrer processos de ultimação ou
enobrecimento como o tingimento e ou estampagem, e outros processos químicos ou
mecânicos a fim de melhorar o toque, o cair e todo o seu aspeto visual. A partir da finalização
da produção dessa superfície têxtil, moldavam-se e criavam-se as peças de vestuário,
terminando assim as fases de procedimentos da engenharia têxtil. Hoje as alterações no
modo de produção foram quase inexistentes, tendo apenas mudado a rapidez com que são
desenvolvidos devido à substituição em grande parte do trabalho humano por máquinas.

Apesar de, na antiguidade, podermos confirmar que o povo Egípcio produzia as suas vestes,
desde o cultivo do material até à peça final, a indústria têxtil como a conhecemos
revolucionou-se na primeira metade doo século XVIII com a passagem de métodos de
produção manuais para a métodos de produção através de automatismos industriais.

Foi, e ainda se mantém, uma das indústrias com mais impacto na área da empregabilidade e
também no uso de métodos de produção inovadores.

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Foi o aparecimento da primeira lançadeira volante em 1738 que permitiu à indústria têxtil
atualizar-se, aumentado a velocidade de produção nos teares embora ainda submetida aos
trabalhadores domésticos para produzir linhas e fios. A manufatura caiu em desuso em 1764,
graças às invenções de máquinas como spinnin- jenny e water frame e aos aperfeiçoamentos
das mesmas até ao início da década de 80. (Alves, 1999, p. 26)

“Entretanto, em 1785, Cartwright registava um tear inteiramente mecânico, aplicando-lhe a


energia a vapor em 1787, aumentando assim a capacidade de produção da tecelagem, que,
com a generalização e desenvolvimento do equipamento, traz novas exigências de fio.”
(Alves, 1999, p. 27)

A revolução industrial da mecanização, do tear e da força a vapor (1760-1840) deu


oportunidade a Inglaterra de ser o primeiro a industrializar-se. A abundante presença de
carvão aumentou a facilidade com que o fez e a sua posição geográfica possibilitou o
transporte para os proprietários de fábricas.
No final do século, um senhor com o apelido de Whitney apresenta nos Estados Unidos com
o objetivo de aumentar a produção, uma máquina para descaroçar algodão que não só
elimina o trabalho manual, executado através da escravatura, como também lhes permite
maior velocidade de fabrico possibilitando uma resposta quase imediata na procura desta
matéria prima pelas fábricas inglesas. (Alves, 1999, p. 29)

É nesta segunda metade do século XVIII e com Inglaterra que se erguer a mentalidade
tecnológica da indústria, um pensamento voltado para a quantidade.

Assim como os E.U conseguiu acompanhar a procura do algodão por parte dos ingleses,
Portugal não ficou atrás neste papel, reexportando algodão proveniente das colónias
brasileiras para Inglaterra. Esta matéria prima ganhou uma importância no comércio
colonial português que passou não só a importar e reexportar como também passou a
importar pano cru, que depois de estampado era exportado.
Portugal, apesar de ter posto em prática e de ter adotado os mecanismos usados noutros
países da europa por volta dos anos 80 do XIX, viu-se obrigado a encerrar grande parte das
fiações de algodão por falta de capacidade de se suportar na concorrência do fio e depois de
várias tentativas e adoções das tecnologias inglesas decide dedicar parte da sua indústria
têxtil à estamparia importando o pano cru de Inglaterra e exportando para Espanha e Brasil,
criando uma alternativa às sedas cujo consumo estava limitado a uma classe alta. (Alves,
1999, pp. 30-35)

Na segunda metade do século XX com o surgimento das fibras artificiais, a indústria


começou a desenvolver novos tecidos, maioritariamente mistos com percentagens de
algodão. Materiais como o nylon (poliamida) e o terylene (poliéster) começaram a ser
industrializados e produzidos em grande escala causando concorrência às fibras naturais
usadas até à altura, que caíram em desuso, pois estes novos têxteis sintéticos considerados

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inovadores à data, apresentavam maiores qualidades e características tanto no processo
produtivo como criativo, bem como na facilidade de manutenção das peças de vestuário,
dada a ausência de necessidade de passar a ferro após a sua lavagem.

Da segunda metade do século XX até hoje a grande consequência que proveio da produção
e consumo destas novas fibras sintéticas prende-se com o grande impacto ambiental
proveniente da poluição, não só no setor da produção, mas principalmente no setor do
tingimento têxtil, quer das fibras, dos fios, dos tecidos e peças de vestuário já confecionadas

2.2. Microrganismos

Estimulada pela descoberta do microscópio por Leuwenhoek (1632 – 1723) a ciência da


microbiologia é a responsável pelo estudo dos microrganismos. Considerados seres vivos,
estes habitam na terra desde sempre. Existem, tal como nas plantas e nos animais, milhões
de espécies diversas. As suas capacidades de sobrevivência superam as de qualquer outra
espécie, adaptando-se a quase todos os tipos de ambiente. Por serem muito pequenos, como
a palavra micro indica, são impossíveis de serem detetados a olho nu, sendo por isso
necessário um microscópio para a sua observação. Desempenham várias funções
importantes em toda a vida e em todo o planeta.

Estes pequenos seres vivos podem ser encontrados em todo o lado incluindo dentro da
espécie humana, como os vírus, micróbios e bactérias. Estima-se que cerca de 90% das nossas
células são de microrganismos que ajudam na funcionalidade do corpo humano. Também
na flora é possível encontrar uma enorme diversidade de microrganismos, como fungos e
algas que, embora pertencentes a reinos diferentes, podem ser facilmente observados no
desempenho das suas funções.

Consideram-se divididos em cinco categorias distintas. São elas a das bactérias, das algas, dos
fungos, dos protozoários e dos vírus.

As bactérias são consideradas os microrganismos mais antigos da terra. Contem apenas uma
célula, ou seja, são unicelulares. A sua estrutura é composta apenas por um compartimento,
o citoplasma, não carecendo da membrana delimitante do núcleo, denominada de carioteca.
Morfologicamente apresentam-se numa das três formas básicas: cocos, bacilos e espirilos. As
primeiras exibem um corpo arredondado, as segundas um corpo cilíndrico e as terceiras um
corpo espiralado. (Park, 2014)

Pertencentes ao reino protista, as algas, tal como as plantas, são dotadas da capacidade de
realizar fotossíntese. A sua produção de oxigénio corresponde a aproximadamente 70% do
oxigénio produzido no planeta Terra. Habitam na água e, tal como os fungos, são eucarióticas

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podendo ser uni ou multicelulares. Apesar do uso de algumas espécies de algas na indústria
da alimentação e de alguns benefícios associados a estas, o seu crescimento em certos
ambientes pode resultar na obstrução de certos canais ou mesmo da produção de toxinas
nocivas para a fauna e flora do meio ambiente onde se encontram. (Park, 2014)

Considerados decompositores, os fungos são organismos eucarióticos que se depositam na


superfície dos alimentos com o objetivo de decompor a matéria morta em benefício de
nutrientes, sendo por isso a sua nutrição classificada de heterotrófica. Alimentando-se de
cadáveres de seres vivos, causam o apodrecimento desses mesmos materiais. Alguns fungos
aos se instalarem em corpos de organismos vivos, como plantas, animais e também no ser
humano, provocam doenças. São considerados parasitas. Outros apresentam benefícios para
o meio onde existem. Geralmente são multicelulares e habitam no solo e em raízes. (Park,
2014)

Os vírus, embora microrganismos, não são classificados como organismos vivos pois não
possuem células. Garantem a sua sobrevivência através da instalação nas células do
hospedeiro, sendo inertes fora das mesmas e não possuem um metabolismo próprio nem
organização celular. Através da segregação do ácido nucleico após a penetração na célula
hospedeira, o vírus multiplica-se e torna-se viral. (Park, 2014)

Os protozoários são microrganismos eucarióticos unicelulares e não contem clorofila.


Podemos encontrá-los maioritariamente em ambientes aquáticos. Os seus órgãos
locomotores são compostos por flagelos filiformes, cílios ou pseudópodes e apresentam uma
parede celular rígida. Quando em contacto com o homem, certos protozoários, como a
ameba, a giardia e o plasmódio, são considerados nocivos e por isso denominados de parasitas.
(Park, 2014)

A característica em comum entre as três primeiras categorias de microrganismos


previamente descritas prende-se com a aptidão de produzirem cor quando expostos a certas
condições ambientais e nutritivas. Graças a esta capacidade é possível extrair pigmentos de
certas bactérias, fungos e algas com o objetivo de criar corantes biodegradáveis e aplicá-los
em superfícies têxteis, como solução para um planeta saturado também pela indústria da
moda. (Carvalho, 2010)

2.3. Tingimento

Acredita-se que o tingimento de superfícies têxteis começou há milhares de anos. Existem


vários registos que evidenciam a possibilidade desta prática, mas sem qualquer certeza o
tingimento data séculos antes de cristo.

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Tingir é aplicar ou alterar a cor a uma superfície têxtil e a sua narrativa começa com duas
fontes principais que deram origem à descoberta dos corantes/pigmentos que são hoje
usados para tingir as nossas peças de vestuário: as cores obtidas através de pigmentos,
substâncias coloridas naturais, artificiais ou sintéticas, e aquelas conseguidas através de
corantes, substâncias solúveis em água e usadas para conferir cor a um produto. Estes últimos
são compostos, entre outros elementos, por pigmentos e são os mais usados atualmente na
indústria têxtil.
A cor, tal como a moda, tem a capacidade de comunicar e a descoberta dos pigmentos teve e
tem uma elevada importância na história do vestuário e da moda e em tudo o que nos rodeia
de uma forma geral no mundo.
Inicialmente os tingimentos tinham origem de elementos encontrados na natureza, como
elementos vegetais ou animais, plantas, flores, frutas e insetos e até 1850 estes foram os
constituintes usados para tingir superfícies têxteis.

Utilizada como forma de expressão, acredita-se que a cor e a extração de pigmentos da


natureza têm origem a.C., com o povo Egípcio. Dotados de grandes capacidades de expressão
através da pintura, ornamentavam os seus túmulos com uma vasta variedade de cores e
tonalidades que eram extraídas de minerais.

Mas os primeiros registos de tingimento em têxtil prendem-se com os Fenícios e a cor


associada a estes é purpura, conhecido como tyrian purple. (Bechtold & Mussak, 2009, p. 3).
Por ser uma cor extraída de um molusco cuja quantidade necessária e a sua escassez eram
elevadas, o têxtil tingido com a mesma era usado apena pela classe mais alta, daí a origem
do seu nome “purpura imperial”.

Um dos acontecimentos mais marcantes foi o aparecimento da imprensa, no século XV, que
permitiu a partilha de conhecimento em todas as áreas, incluindo a do tingimento têxtil, pois
desde o início até ao século XIV que os tingimentos têxteis se mantiveram baseados nas
técnicas usadas pelos povos do mediterrâneo.
Um dos primeiros livros sobre tingimento chama-se Plithco, do autor Rosetti. Com técnicas
de tingimento em lã, algodão, linho, pele entre outras, foi impresso em Veneza e data o ano
de 1540.

Mais tarde no século XVII, a evolução científica ajudou na compreensão, exploração e na


adoção de mordentes e sais por parte das oficinas de tingimento.

A partir dos anos 50 do seculo XIX esta prática decresceu e com a primeira grande exposição
de Londres em 1851 e com a troca do campo pela cidade, a população europeia entrou numa
revolução industrial que obrigou grande parte dos setores a industrializarem-se, incluindo o
sector têxtil.

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Claro está que a industrialização nesta área não seria possível com a continuação do uso de
corantes naturais e, por necessidade, desenvolveram-se, primeiramente em Inglaterra, os
tão prejudiciais corantes sintéticos.

2.3.1. Tipos de tingimento

Tingimento é um processo químico que confere cor e na indústria têxtil, este processo é usado
em fibras, têxteis, fios, tecidos ou peças. A sua aplicação nestes materiais diversifica-se e
depende da técnica de tingimento empregue. A qualidade do produto final irá depender da
qualidade do tingimento e para a garantir as fibras têxteis necessitam passar por um
processo de limpeza, que vai variar de acordo com o material e a performance que queremos
obter da cor. (Consumer Marketing Headquarters, 2012, p. 5)

Existe na indústria da moda quatro formas desenvolvidas para tingimento têxtil: artística,
mecânica, química e tecnológica. Atualmente as duas primeiras, de forma a acompanhar a
industrialização, deixou espaço para as duas últimas: tingimento químico e tecnológico. Os
corantes sintéticos substituíram os naturais, e as cores começaram a ser manufaturadas e
hoje muito poucos corantes naturais são usados. (Baumann & Fletcher, p. 1)

“Dyeing is the process which places the dyes inside the fibers. Currently dyeing of textile
substrates takes place using water baths. Dyeing equipment is used to contain the textile
substrate and the dye bath during the dyeing process.” (Consumer Marketing Headquarters,
2012, p. 28)
O tingimento de fibra, natural ou sintética, ocorre em cestos ou tanques que contem a cor,
mergulhando-a durante o tempo necessário para a absorção.
O tingimento do fio é o que confere mais qualidade e durabilidade na cor. O fio é disposto em
grandes novelos e os mesmo são mantidos na máquina de tingimento.
O processo de tingimento mais eficiente e mais usado é o do tecido ou peças. Existem vários
tipos de máquinas para os vários processos (máquinas a jato, máquinas beck, máquinas de
tingimento jigger e máquinas de tingimento de fio).
Foi em 1870 com a publicação de um livro sobre corantes e pigmentos usados na indústria
têxtil que J. W. Slater abriu portas para que mais tarde, em 1924, se criasse o Índice
Internacional de Cores, em inglês Colour Index™ (CI)¸ publicado pela Society of Dyers and
Colourists (SDC) e pela American Association of Textile Chemists and Colourists (AATCC).
(Ratnapandian, 2013, p. 3)

Segundo o site oficial “The Colour Index™ describes the essential colorant of a dye or pigment
by application class and chemical class. Assigning a relevant Colour Index™ Generic Name
(CIGN) and Colour Index™ Constitution Number (CICN) allows identification by a world
recognised system (…) is organised and run by two technical boards, one responsible for the

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Dyes, the other responsible for Pigments & Solvent Dyes. These are committees of
professional people from the industry they serve.” (GH, 2013)

Ao longo dos anos o tingimento não sofreu alterações na sequência do procedimento a seguir
e o mesmo passa por, essencialmente, três passos importantes: a preparação, o tingimento e
o acabamento.

Existe, para todo o tipo de tingimento, um processo pelo qual o fio, a fibra, o tecido ou a peça,
atravessa, na preparação, para que o resultado tenha uma melhor qualidade possível e é esse
o da lavagem da matéria prima, de forma a remover todo e qualquer tipo de impurezas
presentes no produto a ser tingido. Para tal é utilizada água com substâncias alcalinas ou
detergentes.

A descoloração também é um modo utilizado para a remoção da cor natural da fibra, fio ou
tecido. Para tal são usados produtos com cloro ou peróxido de hidrogénio, componentes com
capacidades de branqueamento, atualmente substituídos por enzimas da classe das lacases,
biodegradáveis e assim mais sustentáveis.
A segunda parte do processo de tingimento prende-se com a aplicação de cor na fibra, fio o
tecido – tingir. Nesta fase a superfície têxtil é mergulhada num banho aquoso, no qual faz
parte o pigmento com a cor que se pretende obter no produto final e químicos como ácidos,
eletrólitos, óleos emulsificantes, etc. de forma a nivelar a cor absorvida, tornando-a
uniforme. (Chequer, et al., 2013, p. 154)
Dependendo do objetivo da utilidade final do produto tingido, são utilizados certos
componentes químicos conferindo propriedades de solidez de acordo com a utilidade da
fibra, fio ou tecido. Nem todas as fibras podem ser tingidas com todos os pigmentos
existentes e não existe pigmentos que possam tingir todas as fibras. Para ocorrer tingimento
de fibra através de pigmentos, tem de ser adicionado aos mesmos polímeros que ligam o
pigmento às fibras (ligandos - usados para unir partículas de diversos materiais).
Dependendo da utilidade e objetivos do produto final, são aplicados processos de finalização
como proteção contra fungos e bactérias, impermeabilização, proteção anti manchas entre
outros que conferem o acabamento desejado à fibra, ao fio, ao tecido ou à peça.

A execução do tingimento pode ocorrer em dois processos diversos: o processo continuo e o


processo por lotes. O tingimento em lotes é o mais comum nesta área, mas a escolha do
método vai depender do tipo de material a tingir, o tipo de fibra, do tamanho e da qualidade
que se procura na superfície a colorir.

“In continuous processing, heat and steam are applied to long rolls of fabric as they pass
through a series of concentrated chemical solutions. The fabric retains the greater part of the
Eco-Friendly Textile Dyeing and Finishing154

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chemicals while rinsing removes most of the preparation chemicals. Each time a fabric is
passed through a solution, an amount of water equivalent to the weight of the fabric must be
used.” (Chequer, et al., 2013, p. 154;155)
Ao longo do processo continuo o tecido passa por vários banhos e várias secções de
equipamentos diversos.
No processo por lotes o tecido é mergulhado num banho composto pelo pigmento e os
produtos químicos necessários, diluídos em equipamentos de circuitos fechados como as
autoclaves, jets, jiggeres, etc.

Os equipamentos e produtos utilizados nos vários processos de tingimento estão de acordo e


vão variar com o tipo de corante utilizado; se é natural, sintético ou através de
microrganismos, fungos ou bactérias; e a intensidade a que vão ser fabricados.

2.3.1.1. Tingimento natural

Para serem classificados de naturais, os corantes pertencentes a esta categoria são obtidos na
natureza e a sua origem é animal, vegetal ou mineral. Tem a incrível capacidade de nos
fornecer cores com tonalidades de vermelho, amarelo, azul, verde, castanho, preto e branco
e, muito antes de serem usados no tingimento de tecidos, auxiliaram o desenvolvimento da
expressão e linguagem entre povos, numa era em que as palavras não existiam.

A cor, tal como a moda, tem a capacidade de comunicar e a descoberta destes pigmentos
naturais teve (e tem) uma grande importância na história da moda (e do mundo).
Foi seguramente na pré-história que a utilização de pigmentos surgiu e graças à descoberta
e análise de pinturas rupestres, geograficamente espalhadas pelos continentes Africano e
Europeu, o estudo sobre a cor e a sua origem teve início. A tonalidade destes pigmentos está
relacionada e é influenciada geograficamente.

A descoberta do uso da cor pelo Homo sapiens data 15,000 anos. Comprovada na arte rupestre
das paredes de antigas cavernas pré-históricas, as tonalidades mais comuns usadas por este
povo eram vermelha, preta, branca, castanha e amarela. Destas misturas de pigmentos
surgia a forma de comunicação, com pinturas nas paredes em forma de história, com o
objetivo de enaltecer as suas caças e conquistas e também com as pinturas corporais como
forma de hierarquização dentro da própria tribo. (Gomes et al; p.199; s.d.).

Esta linguagem mantém-se, e é com os Egípcios que a cor azul ganha importância. Dotado de
uma capacidade extraordinária no processo de fabricação e extração de cor, este povo usava
os seus pigmentos especialmente com o objetivo de ornamentar as paredes dos túmulos e
sarcófagos. (Fisher, s.d, p. 8)

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Aplicado à moda, com data entre 4000 a 3000 a.C. foram utilizados para tingimento de
possíveis peças de vestuário, com as cores lilás, azul, amarelo e vermelho, pigmentos obtidos
a partir de extratos de plantas, encontrados em amostras de tecidos pertencentes a antigas
civilizações costeiras Europeias. Nos anos 800 a.C. a “tecnologia” de tingimento começou a
espalhar-se pela Europa e um maior desenvolvimento de cores surgiu com a chegada das
Idades do Bronze e do Ferro.

No entanto após este período, as técnicas de tingimento ficaram um pouco estagnadas e


durante a época clássica (gregos e romanos) até à Idade Média historiadores verificaram
pouco ou quase nenhum melhoramento ou desenvolvimento desta tecnologia.
Graças ao alemão Johannes Gutenberg e à sua incrível invenção, a prensa móvel, surgiu no
Renascimento a oportunidade de recuperar e ter acesso a muitos manuscritos antigos.
Um dos que contribui para o desenvolvimento da tecnologia do tingimento chama-se Plithco,
de Rosetti, impresso em Veneza em 1540. Afirma-se que este manual inclui métodos antigos
de tingimento de lã, algodão, linho, seda, peles e pelos. (Fisher, s.d, pp. 9,10)

Com a descoberta do continente americano, por Cristóvão Colombo em 1500, e a abertura de


novos caminhos marítimos, surgiu uma nova visão comercial e as trocas entre a Europa e a
América tornaram possível, entre muitas outras coisas, a acessibilidade a pigmentos que
outrora eram limitados apenas a certas regiões e condições geográficas especificas.

Foi no século XVII e com a Revolução Científica (séc. XVI a séc. XVIII) que se une ciência e
tingimento e se até agora as civilizações tinham conseguido viver com a cor através de
processos de tingimentos naturais é com a chegada da Revolução Industrial (séc. XVIII até
séc. XIX) que a síntese laboratorial dos primeiros corantes artificiais e sintéticos surgiu.

Apesar de, atualmente, na indústria da moda a maioria dos tingimentos ocorrer com
corantes sintéticos ainda há marcas e designers, com negócios de carácter menos industrial
que produzem as cores das peças para as suas coleções através de métodos de tingimento
com corante natural.

Todo o processo passa, como explicado no tópico anterior, pela preparação do tecido ou peça,
pela coloração do mesmo e, por fim, pelo acabamento.
A maioria dos produtos e materiais necessários para tingir a uma pequena escala comercial
são facilmente disponibilizados por outros negócios, passando por produtos naturais e
equipamentos básicos, não necessitando de capacidade industrial. São necessários
mordentes, que vão ajudar e melhorar a fixação e a qualidade da cor na fibra, fio ou superfície
têxtil. Existem mordentes alcalinos e ácidos. Acredita-se que os primeiros eram obtidos
através de madeira ou urina velha e os segundos através de alguns frutos ácidos como as
folhas de ruibarbo. No entanto atualmente os mordentes mais usados são químicos e dentro
deles podemos encontrar o alúmen, o sulfato de cobre, o ferro ou crómio, este último em
particular com características de elevada toxicidade, carcinogénese e mutagénese.

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Desde a antiguidade que a natureza providência uma grande variedade de plantas com uma
grande variedade de cor que ao longo de muitos anos e até hoje tiveram como finalidade o
tingimento. Essa cor é extraída da natureza através de um banho no qual a matéria orgânica
é processada durante o tempo necessário até se verificar que a superfície têxtil está tingida
uniformemente.

Mas infelizmente existem algumas contrapartidas no que toca ao tingimento através de


matérias primas naturais que, apesar de passarem a ideia de sustentabilidade, limita o
fabrico do corante natural na indústria da moda.

Nem todas as plantas podem ser usadas para tingir superfícies têxteis pois o corante que
proporcionam tem um nível de fixação baixo, não sendo por isso adequadas a uma produção
de nível industrial.
Essa limitação de matéria prima é o primeiro dos pontos que levou a indústria têxtil a adotar
os corantes artificiais. A impossibilidade de criar uma paleta de cores que fosse variada e
muito extensa usando apenas substâncias que a natureza providencia e que efetivamente
podem ser aproveitadas para a extração de corantes, seria tambem uma limitação para o
design têxtil e da moda, que procura sempre a inovação e novas tendências, nas quais a cor é
um dos elementos chave para a criação e desenvolvimento de novas coleções. Outros dos
prós que levaram os corantes sintéticos as ganharem força neste setor prende-se com a baixa
estabilidade dos corantes às superfícies têxteis, ou seja, uma baixa solidez à lavagem, à luz,
ao suor e à fricção.

Segundo Telma Barcellos, CEO na empresa da aplicação Modacad “A estabilidade de um


corante têxtil é a medida da qualidade e durabilidade da cor que ele consegue fixar na fibra
que compõe o fio, que tece o tecido colorido. Entre os principais fatores que alteram a
estabilidade dos corantes estão a temperatura, o oxigênio e a luz presentes na vida útil dos
tecidos. O que atenua a ação destes fatores sobre a estabilidade dos corantes naturais são a
presença em sua constituição dos agentes quelantes, que garantem a solubilidade em água,
e dos óxidos que possuem resistência extremamente forte à luz. Para proteger e potencializar
a estabilidade dos corantes são usados os mordentes. Os mordentes usados com os corantes
naturais também são preferencialmente naturais, de extração mineral, como o sal marinho
por exemplo, ou vegetal como por exemplo o vinagre.” (Monteiro, 2019)
Esta substância chamada de mordente está associada à tinturaria e a sua utilização prende-
se com a possibilidade de conferir maior estabilidade aos corantes naturais no processo de
tingimento, conferindo assim maior solidez na cor das superfícies têxteis tingidas, tornando-
as mais resistentes às lavagens, à luz solar, ao suor e à fricção. (Silva & Kasiri & Safapou, 2018;
2013, p. 14)

Embora a natureza nos providencie esta matéria, é nos mordentes químicos, como por
exemplo no ácido tânico, que encontramos melhores resultados quando se trata de
aumentar a resistência da cor numa superfície têxtil. O recurso ao uso desses mordentes

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desencadeia no ambiente uma situação de impacto negativo a nível ambiental, e por
consequência, social e económico, uma vez que as águas residuais são despejadas de volta no
meio ambiente. (Araújo, 2006, p. 41)

Tambem o tempo de extração da solução, a quantidade de matéria prima necessária para se


criar o corante e o tempo de aplicação propriamente dito aumentam o custo do tingimento
têxtil através de corantes naturais, tanto na sua produção como para o consumidor final.

Para criar a possibilidade de tingir a grande escala utilizando produtos naturais e sem
qualquer recurso a produtos químicos, as fábricas tem de apostar na inovação tecnológica,
como é o caso da Tintex, fábrica de produção e tingimento textil, situada no norte de
Portugal, que conta já com dois projetos na área do tingimento através de corantes naturais,
projetos esses abordados no tópico da sustentabilidade.

2.3.1.2. Tingimento sintético

Em 1856 William Perkin, químico britânico, ao tentar descobrir a cura para a malária, por
acidente obteve o primeiro corante sintético, tornando-se assim o pioneiro do
desenvolvimento destas substâncias. A sua experiência resultou na obtenção de um corante
hidrossolúvel apropriado ao tingimento da seda. É classificado como corante sintético
aquele que é fabricado a partir de moléculas orgânicas. Podem ser organizados pelo tipo de
fibra na qual podem ser aplicados, pelo método de aplicação à mesma ou pela sua
tonalidade, mas normalmente são classificados pela sua composição química.

Uma onda de mudança abraçou a Europa e enquanto as populações se mudavam do campo


para a cidade, êxodo rural, grandes oportunidades de ocupação em zonas abastadas de
carvão surgiram. De uma população cada vez mais rica, emane uma nova classe média,
sempre acompanhada de uma expansão a nível comercial de forma a atender as suas novas
necessidades.

Também a nível educacional a mudança surge e, enquanto que até à época apenas as classes
economicamente mais favorecidas tinham acesso às instituições e estas eram vocacionadas
em matérias puramente profissionais, torna-se agora possível o acesso a um ensino virado
também para as novas indústrias e pela designada classe média. Todas estas mudanças e o
crescimento populacional, cooperaram para a inovação em várias áreas da indústria, incluído
a indústria têxtil. (Baker, 2011, p. 1)

Com a invenção do caminho de ferro no século XIX e com a facilidade de deslocação pessoal
e de bens materiais que esta trouxe, a moda tornou-se mais acessível a um grande leque da
população, que até à data estava limitado e condicionado às classes economicamente mais
ricas. Outros acontecimentos importantes e que fizeram a moda crescer foi a popularização

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da máquina de costura, a crescente circulação e acessibilidade a revistas de moda, e também
a introdução inovadora dos corantes sintéticos na indústria da moda. ( Vettese Forster & M
Christie, 2013, pp. 1-3)

Foi tambem com Charles Frederick Worth, considerado o pai da haute couture, que o design
de moda ganhou outro sentido. Se até à primeira metade do seculo XIX a moda era exclusiva
para a classe real e as peças eram feitas por encomenda e medida, foi com a abordagem de
Worth que a moda se tornou um negócio iniciando a produção de alta costura de forma
padronizada e também da indústria. (Joseph, 2014, p. 252)

Na indústria têxtil foram introduzidos novos mecanismos assim como novos métodos de
produção e a indústria de tingimento, como forma de acompanhamento, produziu corantes
que, comparados com os corantes naturais usados até ao momento, eram muito mais fáceis
de aplicar na fibra. Desta forma foi possível cobrir e responder às novas exigências do que
viria a ser uma população consumidora.

Existem na indústria vários tipos de corantes sintéticos. Os mais utilizados na industria


classificam-se por: sulfur dyes, direct dyes, vat dyes, azoic dyes, basic dyes, reactive dyes, acid dyes e
disperse dyes.

Os corantes sulfur não são solúveis à exceção da sua mistura em soluções com agentes
redutores alcalinos como o sulfato de sódio. As peças tingidas com este tipo de corantes são
resistentes, mantendo a sua cor durante muito tempo. São de fácil e baixo custo de aplicação
e os tons pertencentes a esta categoria são escuros (preto, azul marinho e castanho). Os
tecidos tingidos são algodões pesados e filamento artificial de viscose. Após a adesão à fibra
regressam à sua pigmentação original através da oxidação. Estão em primeiro na lista de
corantes mais utilizados no tingimento do setor têxtil em todo o mundo. (Aspland, Chapter
4: Sulfur Dyes and Their Application, 1992, p. 21)

Os corantes direct são solúveis e estão relacionados para o tingimento das fibras à base de
celulose. O seu processo de tingimento funciona com um banho no qual são adicionados
eletrólitos e sal para controlo da absorção do corante pela fibra. Têm uma boa resistência à
luz, mas não à lavagem. São mais eficazes quando não existe a necessidade submeter a peça
a uma limpeza com água. Tingimentos com este tipo de corante são realizados
maioritariamente em peças de baixo custo. Este tipo de corante é o segundo mais usado na
área da tinturaria em todo o mundo. (Aspland, Chapter 2: Direct Dyes and Their Application,
1991, p. 41)

Os corantes vat, assim como os sulfur, não são solúveis em água, mas quando reduzidos à
presença de uma substância alcalina a sua solubilidade torna-se possível. O seu termo é
derivado do uso de tanques ou cubas (tradução de vat) no seu processo de tingimento.
Primeiramente usada na Índia, há 5000 anos, com o azul índigo, esta prática de aplicação de

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cor à fibra foi adotada pela indústria e continua atualmente a ser um dos métodos de conferir
cor a superfícies têxteis. Embora o azul índigo apresente baixa resistência da cor à luz, à
lavagem e ao branqueamento com cloro, o resto das cores aplicadas em tanques mostram
boas propriedade de firmeza à maioria destes. (Aspland, Chapter 3: Vat dyes and their
aplication, 1992, p. 22).
São aplicados principalmente em algodão, mistura de algodão com poliéster em vestuário
desportivo.
Segundo o International Plant Protection Conventio (IPPC) a contaminação de água proveniente
destes corantes, não ocorre no processo de tingimento, visto que se trata de corantes não
solúveis e os excessos e desperdícios podem ser facilmente eliminados do fluxo de resíduos,
mas sim dos métodos de produção do próprio. (Walters, Santillo, & Johnston, 2005)

Os corantes azoic são produzidos no interior das fibras, nomeadamente de celulose. A fibra é
impregnada com o componente que vai dar origem ao corante e em seguida é tratada com
um outro componente. Solúveis ou não os pigmentos ou corante azoicos tem na sua
composição um ou mais cromóforos azoicos denominados de -N=N- e requerem sempre da
interação ou combinação de dois componentes. Os dois formam uma molécula de cor,
insolúvel na própria fibra, tornando-a muito resistente na cor. (Aspland, Chapter 6: Azoic
Combinations: Chemical Principles, 1992, p. 26)

Os corantes basic são de baixa resistência à cor. Denominado Mauvine este foi o primeiro a ser
descoberto, no ano de 1856. Apesar dessa baixa resistência, o seu alto poder de tingimento e
a cor brilhante levaram a indústria a adotar rapidamente estes corantes. Nem todas as fibras
celulósicas e proteicas podem ser tingidas com este tipo de corante. Lã e seda podem ser
tingidas com corantes basic, desde que o seu processo contenha ácido. São resistentes às
fibras acrílicas. (Aspland, Chapter 12, 1993, p. 21)

Os corantes reactive são reativos à fibra e são combinados com as moléculas da mesma por
adição ou substituição. Disponibilizam uma diversa gama de tons brilhantes e uma boa
resistência à luz. Tingem tecidos à base de algodão, linho, viscose, seda, lã e nylon.
Apresentam grande resistência à humidade, são pouco resistentes ao cloro e podem ser
usados em conjunto com os corantes disperse para tingirem tecidos de mistura de poliéster
com os de origem celulósica. Apesar de existirem vários métodos de aplicação, o tempo de
processamento de um lote é longo, comparativamente com o dos outros corantes, e os custos
de energia e produtos químicos são elevados. (Aspland, Chapter 5: Reactive Dyes and Their
Application, 1992, p. 32)

Os corantes disperse foram desenvolvidos para tingir fibras de acetato tornando-se a melhor
opção para tingir acetato e poliéster. São compostos por pequenas moléculas o que facilita a
penetração na fibra. O poliéster, por ser hidrofóbico, não permite a ligação das moléculas do
corante à mesma. Entre o dois existe uma interação electroestática que resulta em fixação.
São igualmente utilizados para tingir filamento acrílico e de poliamida. A sua resistência à

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cor é elevada apenas quando se apresenta uma forte ligação química entre a fibra e o corante.
A inexistência dessa forte ligação provoca a migração da cor e está associada a problemas
dermatológicos. (Walters, Santillo, & Johnston, 2005, p. 20)

Os corantes acid são classificados devido à sua composição. O que os distingue e os torna num
grupo é a presença de sulfonato, componente fornecedor de solubilidade em água. Nas
moléculas que compõem estes corantes estão presentes alguns complexos de metais, como
por exemplo íon de cobre. O tingimento ocorre devido a uma interação de ligação entre as
moléculas e a fibra, e o grau de solidez da cor varia de acordo com o tamanho dessas mesmas
moléculas do corante. Providenciam cores brilhantes, uniformidade nas mesmas através de
uma regulação química com sais de sulfato que controlam a absorção do corante, e a sua
resistência à lavagem é variada. (Walters, Santillo, & Johnston, 2005, p. 19)

Existem também pigmentos. Estes não são corantes, mas sim partículas de cor usadas para
colorir outros materiais. São insolúveis e por este motivo são por vezes adicionados à massa
fibrosa ainda antes da sua extrusão em filamento, tornando-se assim parte integrante do
mesmo. Também podem ser aplicados no tecido sendo fixados com aglutinantes de resina.
O aglutinante atribui a cor ao tecido e essa resistência dessa cor depende do aglutinante e
não do pigmento. O processo de tingimento por pigmentos é um processo simples, mas
muito dispendioso de adicionar cor aos tecidos. Comparativamente aos materiais tingidos, o
pigmento deve apresentar uma resistência maior de tingimento e estabilidade no seu estado
sólido e em temperatura ambiente.

O fabrico de corantes sintéticos foi e é o meio mais barato, rápido e seguro que a indústria
têxtil encontrou, para o setor do tingimento, de forma a acompanhar o acelerado
crescimento da população capitalista que nos tornámos. Por apresentarem um baixo custo
na produção, os corantes sintéticos são a opção eleita numa indústria em que a moda já não
se rege por estações, mas sim por tendências, aumentado a necessidade de compra do cliente
e produzindo em massa coleções quase mensais. Denominado de fast fashion, é este o modelo
que lidera uma indústria classificada como uma das principais poluidoras, contribuindo para
o impacto ambiental, contaminando diretamente água potável, consequência proveniente
dos despejos de resíduos das fábricas de tingimento e tinturarias em rios e afluentes,
contaminando mais tarde a agricultura e, por conseguinte, a população dos locais fabris.

Depois de aplicados e comercializados em superfícies têxteis, muitos dos corantes sintéticos


nesta indústria, por serem compostos por químicos já existentes no mercado por largos anos,
não são devidamente testados para potenciais efeitos à saúde, podendo provocar malefícios
a nível cutâneo e também interno.

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2.3.1.3. Tingimento através de microrganismos –
Trabalhos de empresas e designers

Segundo um estudo da Elen MacArthur Foundation, a indústria da moda utiliza cerca de 98


toneladas por ano de recursos não renováveis, entre eles o petróleo, de forma a produzir
fibras sintéticas e fertilizantes para as plantações e químicos para produtos de tingimento.
“Cerca de 20% da poluição global da água industrial é atribuída ao tingimento e tratamento
de tecidos.” (Cunha , 2018)

O tingimento através de organismos vivos e bactérias tem sido um tema estudado por muitos
e desenvolvidos por alguns. Natsai Audrey Chieza, designer que se especializou em biologia
sintética aplicada à industria da moda, numa das suas palestra, explicou a sua pesquisa com
a bactéria Streptomyces Coelicolor, na obtenção de pigmentos para a coloração de peças de
vestuário e em como desta forma se consegue reduzir o desperdício de água e a utilização de
químicos, comparando com processos de tingimento tradicionais. Este organismo, quando
exposto às condições certas, desenvolve um pigmento em tons de roxo, rosa e azul, que
depois serve para tingir materiais têxteis naturais como seda e algodão, criando padrões
orgânicos e abstratos.

No ano de 2018, fundou uma empresa composta por várias start-ups focadas na produção e
desenvolvimento de biomateriais, a Farber Futures, sediada em Londres. “O objetivo do
projeto é reunir diversas iniciativas deste tipo para buscar soluções técnicas que permitam
empregar os processos de produção destes biomateriais em larga escala, viabilizando sua
aplicação em produtos de mercado.” (de Souza , 2018)

Também a start-up francesa PILI, que se afirmam os fundadores da descoberta do uso de


bactérias para corantes têxteis, considera estes microrganismos grandes aliados no
tingimento de tecidos sem o uso de químicos. Durante vários anos os cientistas pesquisaram
vários organismos para descobrir quais os melhores na produção de cor. Eles afirmam que
estes tipos de organismos são compostos por dois tipos de enzimas, as que podem fracionar
moléculas de açúcar, como as da beterraba e o outro tipo de enzima tem a capacidade de unir
esses fragmentos, para criar uma molécula de corante. Desenvolveram em 2015 o mesmo
método utilizado pela indústria alimentar, método de baixo carbono, para criar pigmentos
para a indústria têxtil. Este processo funciona numa base de fermentação no qual as bactérias
se alimentam de glicose proveniente do açúcar para produzir a cor que dará origem ao
corante, neste caso azul (índigo), levando cerca de uma semana para que este surja. É
colocada a altas temperaturas para que no processo de secagem a pasta formada se torne
numa substância sob a forma sólida de partículas muito finas biodegradáveis.

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Outro laboratório empenhado na utilização de bactérias para tingimento de tecidos é o
Vienna Textile Lab. A sua missão foi e está a ser bem-sucedida graças à ajuda de uma bactéria.
Produzem cores para têxteis orgânicos através de uma bactéria já existente e acreditam que
é a melhor forma de produzir corantes e tecidos tingidos de forma sustentável. De forma
alternativa aos têxteis e corantes sintéticos esta empresa produz cores vibrantes como
laranja, vermelho, roxo e azul. Em comparação com o processo tradicional de produção de
corantes têxteis o método utilizado por esta empresa não requer qualquer quantidade de
água o que o torna bastante vantajoso, não só sobre os corantes sintéticos, mas também
sobre os corantes naturais, pois sendo estes criados à base de plantas, frutos ou vegetais, não
existe a necessidade de esperar pela estação adequada ou mesmo produzir em estufa para a
obtenção da cor. Sendo as bactérias parte do nosso dia a dia, seja na alimentação, em
medicamentos ou no ambiente, este laboratório acredita que elas, aplicadas à moda, nos
providenciam a possibilidade de melhorar o planeta sendo uma ferramenta muito
importante como alternativa e futura substituição aos corantes sintéticos.

Dentro da área dos corantes naturais através de microrganismos, fazem parte os fungos.
Peças como tapeçarias, que remontam ao início do seculo XX, eram tingidas com líquenes,
um fungo considerado um bom colonizador primário (que tem a capacidade de aderir
diretamente a uma superfície) e que se encontra em rochas, árvores, folhas entre outros
habitats.
É possível encontrar relatos bíblicos (Ezequiel 27:2) de que a sua aplicação em têxteis é
praticada desde há muitos anos. (W., 2006)
As cores que deste fungo provem são tons de vermelho, laranja, amarelo (mais comuns) e
verde, azul, anilado e violeta.
Uma das pessoas consideradas pioneiras na exploração profunda de corantes através de
cogumelos foi Miriam Rice (1918-2010).
Artista multifacetada e inicialmente professora de primária, abordou o tema dos
tingimentos naturais, especialmente através de fungos, obtendo cores posteriormente
usadas para tingir fibras à base de proteína (lã, caxemira, alpaca, mohair, seda, angora).
Lançou livros como “Let’s try mushrooms for color” (1974) e também “Mushrooms for color” (1976)
onde podemos acompanhar o seu trabalho de investigação e experimentação com estes
microrganismos.

Também a Tintex, fábrica portuguesa no norte do país, desenvolveu recentemente um


programa ao qual deram o nome de “Picasso”. O objetivo deste novo desafio é tornar a
indústria da moda portuguesa mais sustentável, influenciando também a moda
internacional.

A empresa que já conta com 21 anos de existência conseguiu substituir os corantes sintéticos
por corantes naturais. “É através dos extratos de plantas e cogumelos que fazemos o
tingimento natural dos têxteis de forma a minimizar o impacto ambiental”, explica Ana

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Tavares, diretora de sustentabilidade da Tintex, na conferência internacional “ModaPortugal
Sustainability Talks”, na Alfandega do Porto. (Castro, 2019)

Antecessor ao projeto “Picasso”, que teve a durabilidade e cinco anos, foi “Colorau”, com o
mesmo propósito, mas meios diferentes.
Sempre apostando em nova tecnologia, Tintex está na vanguarda, desafiando a tradição
através da inovação sempre com a sustentabilidade como principal foco e objetivo,
contribuindo e tornando a moda portuguesa cada vez mais sustentável.

2.3.1.4. Tingimento através de bactérias

Existem, desde a pré-história, registos de produção de cor através de diversos organismos


vivos, mas a extração de pigmentos de bactérias relata datas mais recentes. A bacteriologia,
nome dado à ciência do estudo de bactérias, teve início por volta do século XIX. O seu cultivo
em laboratório foi possível graças à descoberta da possibilidade de observação de
microrganismos através do microscópio pelo holandês Anton van Leeuwenhoek, publicada
pela Royal Society em Londres, no ano de 1676. (Zimbro, Power, Miller, Wilson, & Johnson,
2009, p. 3)

De forma a garantir êxito no desenvolvimento das culturas de bactérias, o cultivo de


microrganismos em laboratório exige três elementos básicos essenciais no que toca à
nutrição das mesmas. São eles o nitrogénio, hidratos de carbono e vitaminas.

Foi Louis Pasteur (1822-1895), químico e microbiologista francês que, com o objetivo de
desenvolver a microbiologia e ao insistir na prática do cultivo de bactérias em laboratório,
observou resultados diversos através do meio criado para a alimentação das culturas.
Concluiu que as características químicas da mídia de fermentação desenvolvida, influenciam
diretamente a promoção ou o impedimento do desenvolvimento do microrganismo e que a
disputa entre os diferentes organismos na mesma cultura pelos nutrientes fornecidos pelo
meio, pode originar a dominação de uma espécie sobre a outra. (Sandle, 2010, s.p.)

Foram publicados, ao longo de vinte anos, vários artigos sobre fermentação e levedura no
cultivo de bactérias em laboratório, mas foi com a invenção das placas de Petri que a
revolução na microbiologia sucedeu, permitindo aos cientistas focarem-se na pesquisa de
formulações de meios de cultura. A classificação de bactérias como agentes patogénicos
iniciou quando Robert Koch acidentalmente conseguiu, convertendo meio líquido em sólido,
controlar e produzir imunidade perante o bacilo da tuberculose. Esta descoberta levou ao
progresso na microbiologia que abriu portas para tentativas racionais de produção de
imunidade ativa. Cinquenta anos mais tarde Alexander Fleming, no decorrer de uma
experiência, observou a contaminação do cultivo de estafilococos, provocada por um fungo

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produtor de uma substância inibidora do crescimento destas bactérias, à qual deram o nome
de penicilina. Projetadas pelos Estados Unidos e Inglaterra, após a purificação e garantidos
os efeitos antibacterianos da penicilina, as indústrias da fermentação e biotecnologia deram
início à comercialização daquele que é o primeiro antibiótico. (Sandle, 2010, s.p.)

O grande desenvolvimento da microbiologia deu-se depois da Segunda Guerra Mundial com


grandes contribuições nas áreas da biologia molecular, da biotecnologia e da genética.
Também a substituição do trabalho manual por instrumentos automáticos em processos de
identificação bacteriana, testes de suscetibilidade e hemocultura e a introdução de produtos
químicos no meio de cultura contribuíram para um extraordinário crescimento nestes
campos. (Zimbro, Power, Miller, Wilson, & Johnson, 2009, p. 4)

Um dos elementos, descobertos através da biotecnologia, que caracterizam alguns destes


microrganismos é a cor. Esta particularidade, ao longo dos anos, tem permitido que certas
bactérias desempenhem um papel fundamental nas indústrias farmacêutica, alimentar e,
atualmente, na indústria de moda.

Cada vez mais, a tendência que emerge no consumidor atual prende-se com a busca pelo
biológico e o sustentável. O consumo de produtos com estas características tem vindo a
aumentar e, desta forma, abriu espaço para que também a indústria da moda se transforme
com o objetivo de contentar a parte da população que se demonstra preocupada não só com
o seu próprio ser, mas também com um planeta saturado de químicos e poluição. É nesse
seguimento que a extração de pigmentos através de bactérias tem ganho não só um lugar
importante, mas também um papel determinante no setor do tingimento têxtil quando o
objetivo é eliminar e substituir os corantes sintéticos, classificados como sendo
extremamente tóxicos, despertando problemas de segurança publica sanitária,
relacionados com os seus produtores e trabalhadores e com as toxicidades que dos despejos
proveem. Numa área onde o meio para a criação e desenvolvimento ideal de grande parte de
culturas bacterianas utiliza produtos sintéticos, torna-se contraditório classificar estes
pigmentos como sustentáveis. A extração de cor em grande escala através microrganismos
permanece um desafio tecnológico que só se considera possível superar através da utilização
de um meio de cultura 100% natural aliada à tecnologia da genética.

São diversos os resultados obtidos através de experiências de bio produção de pigmento


através de bactérias. As características que compõem a própria coloração e a aceitabilidade
ambiental que apresentam, oferecem progressos positivos para o início da exploração
comercial e aplicação industrial dos mesmos. (Venil, Aruldass, Dufossé, Zakaria, & Ahmad,
2014, pp. 39523-39525)

Várias são as cores que podemos extrair de um leque infinito de bactérias pigmentadas
presentes em diversas fontes ambientais. A extração das mesmas atravessa um processo

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laboratorial composto por várias etapas e fatores que conduzem ao sucesso da cultura de
microrganismos.

Habitualmente o isolamento de uma bactéria ou o seu cultivo acontece quando existe a


necessidade de estudar o seu comportamento e analisar as suas propriedades fora do
ambiente natural em que coexiste ou em casos de presença de propriedades pandémicas ou
antibióticas. Para serem bem-sucedidos, os métodos de isolamento mantem-se os mesmos
aquando aplicados à indústria do tingimento. (Matange, Manjan, & Kalia, s.d)

O método de cultura implica a existência do meio de cultura que é selecionado considerando


as características do espécime a ser isolado. O cultivo pode dar-se através de um meio sólido,
líquido ou de um meio de sistemas automatizados, mas sempre atento aos requisitos básicos
do microrganismo, à temperatura e às condições atmosféricas. (Matange, Manjan, & Kalia;
s.d; s.p.). A condições normais de pressão de oxigénio permitem à generalidade das bactérias
o seu crescimento. No entanto existem culturas bacterianas que se desenvolvem apenas
através da ausência de CO2. Denominadas de anaeróbias estas culturas são expostas a
inibidores de oxigénio químicos e naturais ou através da introdução artificial do
microrganismo nos estratos mais fundos do meio sólido e em óleo quando se trata de meio
líquido. Uma atmosfera oxigenada até 10% apresenta as condições ideais para o
desenvolvimento da cultura. De forma a aumentar e potenciar o crescimento bacteriano a
temperatura requerida é de 37ºC, podendo variar de acordo com o espécime, e certas
condições de humidade são tidas em conta de forma a fornecer os nutrientes necessários ao
seu desenvolvimento e a ajudar na deslocação de resíduos tóxicos provocados pela exposição
ao ar, à luz e pela desidratação da colónia durante o período de incubação ou
armazenamento, provocando consequentemente a diminuição da mesma. (Zimbro, Power,
Miller, Wilson, & Johnson, 2009, pp. 4-5)

São vários os investigadores que apresentam estudos para a extração de pigmentação


bacteriana direcionada para o tingimento têxtil e existe já um leque variado de cores frias e
quentes disponíveis assim como a possibilidade de tingir têxteis de origem natural e
sintética. Embora as aplicações se mantenham em contexto laboratorial, o trabalho já
alcançado pode ser o início da possibilidade de adoção desta tecnologia pela indústria têxtil,
conseguindo de igual modo acompanhar as tendências no design de moda.
Com vários prémios desde 2017, o Vienna Textile Lab é um dos laboratórios especializado na
obtenção de cor para o setor da tinturaria na indústria da moda. Com leque de cores variado
e com a sustentabilidade em mente, apesar de não estarem ainda inseridos no mercado, o
seu grande objetivo é promover a utilização de cores produzidas através de bactérias
incentivando designers a abraçar novos conceitos utilizando novos métodos e materiais.
Acreditam ter vantagem sobre os corantes naturais, pois garantem que a produção não exige
terrenos agrícolas ou estufas e desta forma não são necessários químicos ou fertilizantes. A
bactérias, não especificadas, utilizadas pela equipa tem origem no solo. Ao serem testadas as
que tem capacidade de fornecer pigmentação são armazenadas em laboratório e mais tarde

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multiplicadas. Este corante, ou a mistura de corantes, não só tinge materiais como algodão,
seda, lã e poliéster, como também fibras e fios disponibilizando uma paleta de crus, lilases,
roxos e azuis de vários tons.
Karin Fleck, fundadora do Vienna Textile Lab acredita na capacidade de, num futuro próximo,
conseguir aplicar estas cores à moda, calçado, acessórios e têxtil casa.

Um estudo com o corante Violacein extraído do espécime Janthinobacterium lividum


apresentou diversas gamas de roxo e azul. Este espécime foi isolado de um fio de seda
húmido cujas tonalidades apresentadas variam de acordo com o meio natural fornecido à
cultura. Após o alcance da quantidade necessária para a extração do pigmento, a mesma foi
executada com metanol e usada para tingir 100% lã, algodão e seda, conferindo-lhes um tom
púrpura azulado, assim como nylon e vinil que apresentaram respetivamente tons de azul
escuro e roxo, que variam não só de acordo com o material tingido mas também com o tempo
do banho de tingimento. Comparativamente com os corantes de origem vegetal, o violacein
apresenta boa resistência quando submetido a testes de fricção, suor e lavagem. Apesar da
fraca estabilidade do tom azul arroxeado quando exposto à luz solar, após a imersão num
banho composto por tiureia adquire, consideravelmente, maior solidez. Este corante
apresenta características antifúngicas e a facilidade de produção em massa da cultura
possibilitam uma alternativa promissora aos corantes sintéticos dentro da mesma paleta de
cores, igualmente económico e superiormente sustentável. (Shirata, et al., 2000, pp. 131-139)

Também relacionada com o tingimento têxtil e com grandes possibilidades de utilização


nesta indústria o seguinte estudo demonstra a obtenção de corante vermelho através da
espécie de bactéria virbio. Isolada de vestígios marinhos da costa de um lago em
Massachusetts, esta cultura foi alimentada com um meio composto maioritariamente por
água do mar e leveduras. A fermentação em lotes foi uma forma de produzir grandes
quantidades da biomassa microbiana para a extração do pigmento vermelho. O tingimento
ocorreu em tecidos naturais e sintéticos. Diversas condições foram estudadas para tingir lã,
algodão, seda, nylon, poliéster e acrílico e a estabilidade da cor das amostras, de acordo com
essas condições, apresentam boa estabilidade à exceção de quando expostas ao calor,
acusando perda de coloração em 15%. No entanto exibe boas qualidades para uma futura
utilização na indústria têxtil. Uma delas prende-se com o poder antibacteriano que confere
às superfícies têxteis tingidas, sobre as bactérias E. coli e a S. aureus, localizadas no intestino e
pele respetivamente, apresentando uma clara vantagem sobre os corantes sintéticos com a
mesma cor. (Alihosseini, Ju, Lango, Hammock, & Sun, 2008, pp. 742-747).

Também com grandes perspetivas de futuro na indústria do tingimento têxtil estão as


cianobactérias. Apresentam características semelhantes às algas e às bactérias contendo
uma estrutura isenta de membrana celular e ao mesmo tempo com capacidades
fotossintetizantes. Podemos encontrá-las em ambientes aquáticos ou terrestres com algum
nível de humidade. Alimentam-se através do processo de fotossíntese e exibem
maioritariamente uma cor esverdeada causada pela presença de pigmentos denominados

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de clorofila-A. Apesar da necessidade de criar soluções para a toxicidade proveniente destes
microrganismos bem como o aumento de estabilidade da cor, os pigmentos extraídos das
cianobactérias fazem parte de uma das soluções para um futuro mais sustentável na área da
tinturaria ligada à indústria têxtil. (Saini, Pabbi, & Shukla, 2018, pp. 616-617).

Dentro dos corantes amarelos podemos encontrar vários estudos, com as bactérias
Chryseobacterium, Flavobacterium tilapiae Ruye-71T e Rubritalea squalenifaciens. A primeira foi
usada para tingir algodão, seda e linho que apresentaram tons uniformes e brilhantes,
originando um pigmento com boa capacidade de penetração no tecido e intensidade de cor.
Da segunda assomou-se um pigmento amarelo brilhante e a terceira juntamente com o seu
tom amarelado apresentou qualidades antioxidantes.

Embora a extração de pigmentos bacterianos ainda necessite de trabalho e pesquisa, as


perspetivas para a introdução dos mesmo no mundo da moda e da indústria do tingimento
são positivas e promissoras. Do amplo leque de cores e tonalidades que os pigmentos
extraídos de bactérias apresentam surge, para além da sustentabilidade, vantagens
económicas e medicinais que potenciam e aceleram a introdução destes corantes no
mercado.

2.3.1.5. Tingimento através de fungos

São classificados de seres eucariotas e pertencem ao reino funghi, dentro do qual os mais
conhecidos são os cogumelos e os líquenes.
Desde a antiguidade que a espécie humana usa fungos, não só na sua alimentação, mas
também como principal ingrediente na extração da cor. São uma das variáveis promissoras
na busca por corantes mais sustentáveis, dentro dos microrganismos.
A sua aplicação em têxteis ao longo dos séculos foi substituída pelos corantes sintéticos e
agora que emerge a necessidade de adotar hábitos mais sustentáveis, muitos iniciaram a
exploração de possíveis formas de os introduzir na indústria da moda de forma a acompanhar
a reprodução têxtil em massa.
Produzem vários tipos de pigmentos e o que os torna industrialmente favoráveis é a sua
solubilidade. Através da fermentação é simples aumentar a quantidade produzida e
dispensam a utilização de solventes orgânicos no processo de extração. Ao contrário de
outros corantes naturais não se limitam a uma estação, podendo ser produzidos em qualquer
altura do ano respeitando desta maneira o seu curso natural, mesmo se aplicado em
laboratório. (Venil, Velmurugan, Dufossé, Devi, & Ravi, 2020)

Através da fermentação de líquenes é possível extrair pigmentação roxa. Esta técnica existe
e tem sido adotada desde a antiguidade por povos da América Central, Índia e Europa,

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inicialmente para substituir a pigmentação púrpura que provinha do marisco, conhecido
como tyrian purple.
De acordo com o pH a que são expostos podem fornecer-nos pigmentos com tonalidades de
purpura, vermelho e laranja. (Ferreira, Hulme, McNab, & Quye, 2004, p. 331)
Como qualquer microrganismo, para ser cultivado em laboratório existem certos requisitos
a cumprir. O meio, para que o cultivo possa ocorrer, varia de acordo com o tipo de fungo
utilizado para produzir o corante. Alguns tem a capacidade de reproduzir a suas próprias
vitaminas, classificando-se de autossuficientes, outros necessitam da adição das mesmas por
via exterior. Oxigénio, água e ar são fundamentais para o seu crescimento, bem como a
exposição a ambientes com temperaturas ideais a cada espécime. (S.Ali-Shtayeh, Jamous, &
Yaghmour, 1998, pp. 1-2)

Vários foram os estudos feitos sobre o tingimento de têxteis com fungos. Na generalidade
todos estes pigmentos apresentaram boa capacidade de produção a nível industrial e a lã e o
algodão demonstraram ser as superfícies cujos resultados tiveram maior sucesso.
Trichoderma sp., Drechslera sp., Aspergillus sp., Curvularia sp. e Sclerotinia sp. foram as
antraquinonas isoladas nestes estudos que originaram a pigmentação estudada nestas
pesquisas. As cores biodegradáveis obtidas através destes fungos atravessam os tons de rosa,
castanhos, vermelhos e amarelos, demonstrado boa capacidade de absorção de corante pela
superfície e boa solidez da cor. As antraquinonas demonstraram fornecer aos têxteis tons
brilhantes. A aplicação da cor em seda também foi abordada nestes projetos e os resultados
demonstraram excelentes propriedades de solidez da cor quando exposta à lavagem e à
fricção. Foi possível concluir que, através desta abordagem biotecnológica, os fungos
produtores de antraquinonas apresentam uma boa alternativa aos corantes sintéticos.
Apesar da importância e necessidade de uma pesquisa mais aprofundada para a possível
presença de toxicidades nesta pigmentação e apesar da inexistência de um método
padronizado de fixação, medidas importantes para o avanço da comercialização dos
mesmos, as qualidades e propriedades são positivas e promissoras. Assim como as bactérias
fornecem propriedades antibacterianas, em alguns casos, também os pigmentos de fungos
proporcionam atividades antifúngicas quando em contacto com a pele exibindo
possibilidades de utilização em material médico e ligado à saúde. (Venil, Velmurugan,
Dufossé, Devi, & Ravi, 2020).
Para a obtenção de cor azul foi utilizado o fungo Fusarium oxysporum. Embora todas as
características e processo de cultivo coincidam com as da extração do pigmento vermelho
proveniente do mesmo fungo, o estudo realizado por Wesley da Silva, demonstrou que a
possibilidade de extrair pigmentação azulada é possível com a adição de etanol ao processo
de extração da mesma. (Silva W. S., 2013).

Os avanços da biotecnologia e a imensa variedade de fungos permitiram várias empresas na


área da indústria têxtil abordar o tingimento desta forma mais sustentável como é o caso da
Tintex, empresa nortenha portuguesa.

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Apesar da necessidade de um trabalho mais aprofundado para a avaliação da
biodegradabilidade dos corantes fúngicos e da toxicidade de certos pigmentos, as previsões
de inserção na indústria têxtil apresentam-se positivas do ponto de vista económico e
sustentável.

2.3.1.6. Tingimento por algas

As algas, pertencentes maioritariamente ao reino protista, são também as principais


responsáveis pelo oxigénio presente na terra. Dotadas de capacidade fotossintética, podem
ser unicelulares ou multicelulares e crescem em ambientes aquáticos, salgados e doces.
(Park, 2014)
Desde a antiguidade que são utilizadas, não só pelos seus valores nutricionais na
alimentação, na extração de pigmentos para o tingimento e desenvolvimento de alimentos
funcionais da indústria alimentar e também na área da farmacêutica. (Robertson, s.d.)
A imensa biodiversidade de microalgas juntamente com o seu potencial tem vindo a atrair o
interesse de muitas indústrias, com o intuito de compreender como introduzi-las no
mercado. Apresentam uma imensa variedade de tons e por isso podem ser consideradas
como uma boa opção aos corantes sintéticos sendo compostas por clorofilas, carotenoides e
ficobilinas. Estas três classes de pigmentos fotossintéticos surgem dos diferentes ambientes
aquáticos em que estes microrganismos habitam. (Osório, et al., 2020)

Para a extração do pigmento a partir de algas existem certos métodos a seguir. Para a sua
cultura é necessário que as condições certas de pH, temperatura, luz e oxigenação sejam
encontradas, para que ocorra a pigmentação das mesmas e os extratos de cor não se
dispersam. Alguns espécimes podem apresentar desvantagens no que toca à produção de
corante pois a elevada produção de polissacarídeos torna custoso a extração do mesmo.
As principais técnicas adaptam-se a diferentes tipos de algas. Para algas verdes, castanhas e
vermelhas é utilizado o método com acetona, no qual se cria um pó através da junção de um
pedaço de tecido e nitrogénio líquido, ao qual mais tarde se vai adicionar acetona gelada com
o intuito de obter o pigmento. (Robertson, s.d.)
Cromatografia de camada fina ou TLC (Thin Layer Chromatography) é outro dos métodos para
a extração de cor de microalgas. Este processo implica a utilização de placas de sílica que são
posicionadas em camadas de forma cuidadosa juntamente com o extrato de pigmento. É
também introduzida acetona no fundo do recipiente utilizado e após a remoção da placa o
pigmento é recolhido da mesma para um tubo Eppendorf e exposto à quantidade de solvente
adequada ao volume de corante extraído. Ao logo de todo o processo são anotadas
informações sobre a capacidade de absorção que, juntamente com os dados
cromatográficos, identificam pigmentos específicos para cada alga. (Marques, s.d.)

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São poucos os estudos relacionados com a extração de pigmentos de macro e microalgas e
tingimento de superfícies têxteis comparativamente com os dos fungos e bactérias, mas os
resultados, apresentam boas perspetivas para um futuro na indústria da moda.

A investigação de Azeem, et al., 2019 utiliza quatro espécies diferentes de algas, recolhidas
de diversas áreas costeiras do Paquistão. Depois do processo de transformação das mesmas
em pó, a obtenção do corante dá-se através da utilização de métodos convencionais aquosos,
alcalinos, ácidos e extração etanólica e metanólica. Para o primeiro foram adicionados ao pó,
a quantidade de água ideal com a temperatura e o solvente adequado a cada tipo de alga.
Para o método alcalino foram utilizados três meios de cultura diferentes que depois de
adicionados ao pó em diversas proporções e tratados em banho-maria, originaram diferentes
tons de pigmentação. O método de extração etanólico e metanólico implicou a utilização de
etanol ou metanol em conjunto com o pó e o último implicou a adição de dois níveis de ácido
diversos às algas triturada juntamente com uma percentagem de meio.
O corante proveniente destas quatro espécies foi utilizado para tingir amostras de algodão
expostas a diferentes temperaturas e tempos de tingimento. As cores obtidas variam entre
tons de beje, branco perola e castanho claro. No geral e de acordo com a condições e o
mordente que melhor proporcionaram pigmentação à superfície têxtil os tingimentos
realizados neste estudo apresentaram boa força de cor.

Também a empresa SEACOLORS aponta utilizar e aplicar corantes provenientes de micro e


macroalgas na indústria têxtil, suportando a ideia da existência de maior sustentabilidade. O
projeto que visa alcançar esta meta conta já com alguma experimentação ao nível da
extração e tingimento de variadas fibras existentes no mercado da moda. Os resultados
obtidos concluem que os corantes vermelhos e azuis extraídos das espécies de algas
selecionadas, tingiram com sucesso algodão, que apresentou melhores resultados de solidez
e força da cor quando adicionado um mordente com o objetivo de não danificar a proteínas
existentes no corante apos a exposição a temperaturas mais elevadas. Apesar da necessidade
de aprofundar os estudos relacionados com o aumento de temperatura e intensidade de cor
os resultados apos os testes de solidez foram positivos. Testes futuros visam aplicar
tecnologia de forma a aumentar a produção de algas e extração do corante a um nível
adequado à escala industrial, promovendo a validação da utilização destes pigmentos a
empresas da área têxtil.
Apesar da complexidade do processo de extração da cor, a SEACOLORS acredita que a
introdução desta biotecnologia na indústria têxtil melhorará substancialmente o impacto
ambiental causado pelos corantes sintéticos, especialmente no que toca aos despejos das
fábricas, à causa de águas residuais menos contaminadas, consequência da
biodegradabilidade que os corantes provenientes destes microrganismos apresentam.
(Moldovan, et al., 2013) (Mira, 2013).

A extração de pigmentação de micro e macroalgas apresenta na generalidade e


comparativamente aos corantes sintéticos boa resistência ao calor e boa solidez no

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tingimento de algodão, lã e acetato. Também as suas características nutricionais e ecológicas
apresentam vantagens quando aplicados na área da moda, pois quase não produzem
resíduos e os que existem são considerados biodegradáveis à causa da inexistência de
químicos poluentes no processo de extração da cor. (Alam, Najam, & Harrasi, 2018, p. 88)

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2.4. Impacto

Como já referido acima o processo de tingimento atualmente usado pelas empresas têxteis
é a principal razão pela qual a indústria da moda se encontra na tabela das indústrias que
mais polui água e a maioria do impacto ambiental gerado ocorre durante a fase de produção.

Várias abordagens foram e são feitas por grandes marcas, mas sempre focadas no design e
não na substituição de químicos, uma vez que a principal forma de poluição vem da forma de
coloração das peças e tecidos. (Abreu, Lima, & Nobrega, 2015)

Marcas como Zara, H&M, Adidas entre outras apresentam atualmente em quase todas as
estações coleções sustentáveis, produzidas a partir de redes de pesca, de poliéster reciclado
de algodão orgânico, mas o problema não reduz, pois, poliéster continua a ser fabricado e o
algodão continua a ser uma matéria prima que consome muita água na sua produção.
Designers como Flávia Aranha e marcas como Gaia Conception ou Anthemia usam, em
alternativa aos corantes sintéticos, os naturais, mas o processo de fabricação desses corantes
consome também muita água e o custo final da peça, pelo trabalho e tempo de produção, é
muitas vezes elevado (chegando a custar 500 € ou mais euros) e por conseguinte, inacessível
a uma classe média que, apesar de preocupada e interessada na mudança, não tem
possibilidade de acompanhar uma moda mais sustentável, acabando assim por se virar para
as marcas de fast fashion).
Vários são os casos e controvérsias que a indústria de tingimento causa no ambiente e na
sociedade, mais nomeadamente na saúde, especialmente de quem trabalha com este tipo
de químicos. Em 2011 no norte da China, o rio Jian tingiu-se de vermelho devido a resíduos
de uma fábrica que eram descartados nas suas águas e na India, muitas crianças ainda no
ventre das mães desenvolvem tumores ou nascem com problemas respiratórios, causa das
condições de trabalho a que as suas progenitoras se sujeitam, condições tóxicas e muito
prejudiciais à saúde.

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2.5. Sustentabilidade

Atualmente os corantes são muito utilizados na indústria, especialmente indústria têxtil,


tingindo desde fibras naturais a fibras sintéticas, mas foi em inícios do século XIX e com a
Revolução Industrial que todo este mundo se desenvolveu.

Infelizmente os corantes sintéticos são, atualmente, a principal forma de tingimento na


indústria da moda e embora tenham vantagens na qualidade e durabilidade da cor das peças
que usamos, em comparação com os corantes naturais existe uma grande controvérsia pois
são também fonte de grande parte da poluição e contaminação das águas no nosso planeta.

Várias são as empresas que se viraram para este assunto com uma visão alternativa e uma
mente decidida para a mudança destes processos químicos e algumas delas com sucesso,
conseguiram desenvolver alternativas.
É o caso da Stony Creek, empresa que está a desenvolver plantas de índigo, com o objetivo de
aumentar o rendimento e o lucro aos agricultores do Tennessee que procuram uma
alternativa à plantação de tabaco. O seu objetivo é aumentar a produção nos EUA para seis
mil hectares num período de cinco anos, o que pode acabar com a produção de anil (azul
índigo) sintético em 2,8%.

Outras alternativas estudadas estão na base do desenvolvimento de partículas que detetam,


absorvem e removem poluentes dos resíduos das águas de fábricas de tingimentos para a
indústria da moda e estudando também a performance de substâncias como estimulantes
para a degradação e redução de poluentes orgânicos na moda. Mas a alternativa que leva ao
objetivo de todo esta pesquisa vai de encontro ao trabalho já desenvolvido pela Colorfix, uma
empresa start-up que apresenta a possibilidade de produzir corantes renováveis e de alta
qualidade através de microrganismos, usando apenas tanques de fermentação e açúcar.
Todo o procedimento funciona tal como um corante reativo, mas apenas necessita de uma
lavagem de acabamento. Desta forma e em comparação com o processo padrão, é poupada
90% de água e 20% de energia. (Bomgardner, 2018, p. 28)

Outra pesquisa bastante sustentável prende-se com a utilização de resíduos de óleos da


indústria alimentar, como por exemplo da fritura das batatas. Estudos apresentam a
possibilidade de utilização dos mesmo pela industria têxtil como forma de alimentação por
via metabólica da bactéria E.coli , que, nutrida através de glicose ou ácidos gordos, produz
licopeno, componente que lhe fornece a cor vermelha, como no tomate, melancia, etc, e que
depois de extraído pode ser utilizado no tingimento de superfícies têxteis apresentando
resultados de qualidade, idênticos aos tingimentos sintéticos da mesma coloração. (Liu, et
al., 2020)

Embora os resultados obtidos sejam parcos, as metas são alcançáveis e as inovações


tecnológicas de tingimento sustentável terão de evoluir para manter os seus progressos em
desenvolvimento.

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3. Demonstração das possibilidades através de painéis
de tendências e tabela guia

Para além do objetivo de aprender e apresentar trabalho já desenvolvido por várias


empresas, investigadores e cientistas na área da indústria, moda, ambiente e biotecnologia,
a presente dissertação tem igualmente o propósito de demonstrar que os corantes naturais
bio produzidos e/ou extraídos de microrganismos podem, quando aplicados a nível
industrial, cobrir as exigências da indústria do vestuário e de moda, apresentadas pelas
grandes marcas.
Para comprovar, foram escolhidas imagens de desfiles de outono/inverno 2021 de tendências
de cores que os designers como Balenciaga, Philip Lim, Hugo Boss, Bottega Veneta, entre
outras, lançaram a fim de demonstrar a capacidade dos tingimentos através da aplicação de
bio corantes produzidos por microrganismos, destes resultados acompanharem as
tendências do design de moda podendo ser igualmente aplicados à indústria do vestuário e
da moda. Foi também criada uma tabela guia que nos permite compreender rapidamente
quais são os microrganismos dotados de gerar tal cor e capazes de tingir distintas superfícies
ou substratos têxteis.

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Microrganismos Espécime Cor Superfície têxtil
Janthinobacterium lividum Azul escuro Nylon, acrílico,
Púrpura lã, algodão, seda
Rosa Nylon, acrílico, poliéster
Virbio Vermelho lã, algodão, seda
Escherichia coli Vermelho Nylon, poliéster
lã, algodão
Bactérias Chryseobacterium
Flavobacterium tilapiae
Ruye-71T Amarelo Algodão, seda e linho
Rubritalea squalenifaciens

Aspergillus sp Castanho Algodão, seda e


mistura das duas
Penicillium oxalicum Vermelho Lã
Sclerotinia sp . Rosa avermelhado Algodão
Phoma herbarum Magenta Nylon
Fusarium oxysporum Azul Lã, algodão e poliester
Scytalidium Amarelo Poliéster, poliamida,
ganodermophthorum esverdeado acrílico, lã e algodão
Fungos
Chlorociboria aeruginosa Verde
H. werneckii Castanho Seda, lã e superfície
têxteis sintéticas
R. paludigenum Seda, lã e superfície
P. herquei Laranja têxteis sintéticas
T. albobiverticilliusA
Synecoccocus sp. Poliéster e mistura de
Azul esverdeado acrílico
Nostoc sp
Athrospira Platensis Azul Seda, poliéster e mistura
Algas de acrílico
Cystoseira sp. Castanho claro Poliéster, algodão e lã
Phaeophytes Castanho Seda, lã e superfície
Dunaliella salina Laranja amarelado têxteis sintéticas
Spirulina Verde Algodão, lã, acetato e
Chlorella sp derivados de algodão
FIGURA 3 - TABELA GUIA; FONTE: DUARTE, ANA

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Painel de tendências I

Para comprovar e apoiar a hipótese do uso de bio corantes, produzidos através de


microrganismos, na indústria da moda o painel I apresenta as tendências de cores geradas
pelas marcas e designers Zara, Bottega Veneta, Alberta Ferretti, Aniye By e Victoria Beckam
para a estação outono/inverno 2021. Para o painel foram escolhidas peças em fibra de
poliéster, algodão e lã, seda e mistura de fibra acrílica.
Como explorado no estado da arte a possibilidade de extrair bio corante na tonalidade
desejada e que é apresentada, foi tornada realidade através da utilização de fungos e algas.
As algas apresentam uma boa opção para o tingimento de peças já confecionadas, pois
alguns espécimes produzem bio corantes em tonalidades claras, entre o bege, o branco, o
branco pérola e castanho claro, também alguns tons de azul-esverdeado, como é o caso dos
espécimes Athrospira Platensis, Nostoc sp. Synecoccocus sp., produtores de tons azuis-
esverdeados e do espécime Cystoseira sp. produtor de corante castanho. (Joshi, Attri, Bala, &
Bhushan, 2003, p. 364).
Dentro dos fungos a possibilidade de extrair bio corante dentro destes tons é válida
apresentado melhores resultados nas fibras naturais, como é o caso do Aspergillus sp,
estudado pela sua produção de bio corante em tons de castanho utilizado maioritariamente
para tingimento de algodão, seda e a mistura das duas fibras naturais, apesar de serem uma
de origem vegetal e outra de origem animal, respetivamente. Pode ser visualizado tal como
é apresentado no estudo de Devi 2014. (Venil, Velmurugan, Dufossé, Devi, & Ravi, 2020, p.
12)

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FIGURA 4 - 1, 2 E 8: HTTPS://WWW.ZARA.COM/PT/PT/WOMAN-EDITORIAL-NEW-MKT1103.HTML?V1=1717785; 3,
4, 5, 6 E 7 - HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; FONTE: DUARTE, ANA

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Painel de tendências II

Para comprovar e apoiar a hipótese do uso de bio corantes, produzidos através de


microrganismos, na indústria da moda o segundo painel, apresenta as tendências de cores
com tonalidades geradas pelas marcas e designers Attico, Zara, Hugo Boss, Bottega Veneta e
Phillip Lim para a estação outono/inverno 2021. Para o painel foram escolhidas peças em fibra
de poliéster, algodão e lã.
Como explorado no estado da arte a possibilidade de extrair bio corante dentro do tom
apresentado é possível através de bactérias e fungos.
O espécime bacteriano mais indicado para tais tonalidades será o virbio produtor do corante
avermelhado. A possibilidade de tingir superfícies têxteis, não só naturais, mas também de
origem sintética apresentando uma boa solidez na lavagem faz deste bio corante uma boa
alternativa aos corantes sintéticos. Acresce ainda aos tecidos características antibacterianas.
Dentro dos fungos a possibilidade de extrair corante vermelho é válida apresentando bons
resultados no que diz respeito à solidez da cor obtida pelo bio corante, conferindo um tom
brilhante à superfície têxtil. Também através da bactéria E. Coli é possível extrair por via
metabólica licopeno, um composto igualmente presente em alimentos como a melancia e o
tomate. Estudos indicam que a quantidade de bio corante extraído deste espécime é
suficiente para, com um aumento de escala da sua produção, o aplicar facilmente, em
tonalidades de vermelho na indústria têxtil. (Liu, et al., 2020).

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FIGURA 5 - 1, 3, 4, 5, 6 E 7: HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; 2-
HTTPS://WWW.ZARA.COM/PT/PT/WOMAN-EDITORIAL-NEW-MKT1103.HTML?V1=1717785; FONTE: DUARTE,
ANA Página | 38
Painel de tendências III

Para comprovar e apoiar a hipótese do uso de bio corantes, produzidos através de


microrganismos, na indústria do vestuário e da moda o painel III apresenta as tendências de
cores geradas pelas marcas e designers Alexander Mcqueen e Attico para a estação
outono/inverno 2021. Para o painel foram escolhidas peças em lã, seda e fibra de poliéster.
Como explorado no estado da arte a possibilidade de extrair bio corante dentro da tonalidade
apresentada é possível recorrendo no caso específico a fungos e algas.
Os mesmos apresentam uma boa opção para o tingimento de peças já confecionadas, pois a
maioria dos espécimes produzem cores com tonalidades distintas, englobando uma variada
gama de tons de castanhos e laranjas e embora apresentem maior solidez tintorial nos casos
das fibras de seda e de lã, contudo também é possível tingir superfícies têxteis cuja
composição é de origem sintética. Como apresentado no estudo de (Fouillaud, et al., 2017)
foi possível observar três tons de laranja provenientes de espécies de fungos como a R.
paludigenum, a T. albobiverticillius A e a P. herquei. O mesmo estudo apresenta também o
espécime H. werneckii como potencial fonte de produção de bio corante castanho.
No que se refere às algas, as principais espécies através da qual é possível a extração de bio
corantes são as Phaeophytes e a Dunaliella salina, produtoras de tonalidades de castanho e
laranja amarelado respetivamente (Seacolors, s.d.).

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FIGURA 6 - 1 A 7: HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; FONTE: DUARTE, ANA

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Painel de tendências IV

Para comprovar e apoiar a hipótese do uso de bio corantes, produzidos através de


microrganismos, na indústria do vestuário e da moda o painel IV apresenta as tendências de
cores geradas pelas marcas e designers Bottega Veneta, Balenciaga, Hugo Boss e Phillip Lim
para a estação outono/inverno 2021. Para o painel foram escolhidas peças em lã, seda e fibra
de poliéster.
Como explorado no estado da arte a possibilidade de extrair bio corante dentro do tom
apresentado é possível através de fungos e algas.
Ambos apresentam uma boa opção para o tingimento destas peças, especialmente através
da spirulina que nos fornece uma gama de tons de verde em diversas superfícies têxteis. Nas
algas podemos encontrar variadas espécimes compostas por clorofila, componente que lhes
fornece a cor verde. É o caso das denominadas algas verdes e das cianobactérias, capazes de
fornecer pigmentação verde. O espécime mais comum para a obtenção deste tom é o
Chlorella sp. muito utilizado na indústria alimentar, mas com grandes capacidades de
tingimento em fibras de algodão, lã, acetato e derivados de algodão. (Seacolors, s.d.)
Os fungos que nos permitem a recolha de bio corante com tonalidades de verde e amarelo
esverdeado são os espécimes Chlorociboria aeruginosa, produtora de verde e a Scytalidium
ganodermophthorum, produtora de tons amarelos esverdeados, capazes de tingir tecidos de
fibra de poliéster, fibra de poliamida, fibra acrílica, lã e algodão. (Venil, Velmurugan,
Dufossé, Devi, & Ravi, 2020).

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FIGURA 7 - 1 A 7:HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; FONTE: DUARTE, ANA

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Painel de tendências V

Para comprovar e apoiar a hipótese do uso de bio corantes, produzidos através de


microrganismos, na indústria do vestuário e da moda o painel V apresenta as tendências de
cores geradas pelas marcas e designers Bottega Veneta, Zara, Alberta Ferretti, Hugo Boss e
Phillip Lim para a estação outono/inverno 2021.
Como explorado no estado da arte a possibilidade de extrair bio corante dentro do tom
apresentado é possível através de fungos, algas e especialmente bactérias.
Ambos apresentam uma boa opção para o tingimento destas peças. Em especial as bactérias
que produzem variados tons de azuis como é o caso do espécime Janthinobacterium lividum,
que apresenta variados tons de azul ou através dos bio corantes produzidos pelo Vienna
Textile Lab que conta com aplicações destes tons em superfícies têxteis cuja composição é de
fibras de origem natural e sintética.
Um estudo de (Silva W. S., 2013) apresenta a possibilidade de extrair bio corante fungico azul
do espécime Fusarium oxysporum através da alteração do meio na fase do processo de cultura.
Arthrospira platensis. é a espécie de cianobactérias mais comum para a obtenção de bio
corante azul utilizado não só na indústria alimentar, mas também com capacidades de
utilização na indústria têxtil (Seacolors, s.d.).

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4
2

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FIGURA 8 - 1, 2, 3, 4 E 6: HTTPS://WWW.VOGUE.COM/FASHION-SHOWS; 5:
HTTPS://WWW.ZARA.COM/PT/PT/WOMAN-EDITORIAL-NEW-MKT1103.HTML?V1=1717785; FONTE: DUARTE,
ANA

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4. Resultados

O início da fast fashion trouxe ao mundo do consumidor as tendências das grandes marcas a
preços extremamente baixos. Isso permitiu facilitar o acompanhamento de tendências e
gerar ao comprador uma sensação de autoconfiança, poder económico e comunicação
através do vestuário, independentemente das suas origens ou classe social. A escolha por
este método continua a crescer colocando a indústria têxtil, do vestuário e da moda no topo
das mais poluidoras do mundo. Foi com o trágico acidente em Bangladesh no ano de 2013,
quando uma fábrica de confeção de vestuário para marcas de fast fashion colapsou e se
perderam 1130 vidas, que as questões que levaram à investigação do impacto que a moda
estava a causar a nível social, ambiental e económico começaram. Prevê-se que este método
de confeção de vestuário seja dificilmente abandonado, pois vivemos uma era
extremamente capitalista na qual as pessoas são levadas a consumir desnecessariamente e
inconscientemente, mas a atual busca e adoção pela sustentabilidade em várias áreas das
nossas vidas veio alterar a forma como encaramos a indústria e o design de moda. A procura
e o apoio a produtos e produções locais (made in) e a tendência pelo consumo sustentável
levantaram alguns temas que estão na base da pesquisa pela introdução da biotecnologia na
fast fashion.

Uma das possíveis soluções adotadas por investigadores, ativistas e designers na área da
moda prende-se com a redução do impacto ambiental e posteriormente social, que a
indústria do tingimento têxtil apresenta e, para tal, a implementação da biotecnologia em
parceria com a indústria da moda, em particular aplicada à tinturaria, é uma das
possibilidades promissoras para uma redução substancial da poluição causada pelos
métodos de tingimento atualmente utilizados.

Infelizmente poucas são as produções de pigmentos e corantes através de microrganismos


que apresentam uma relação qualidade, quantidade e preço aptos a entrar na indústria e no
mercado de vestuário e moda. Embora os resultados obtidos demonstrem qualidade no
produto final e até mesmo em indústrias, nomeadamente a empresa nacional, produtora de
corantes têxteis Tintex, possui uma linha de produção que apoia estes métodos, a área da
biotecnologia tem ainda muito trabalho pela frente no que diz respeito à produção de baixo
custo e introdução deste tipo de tecnologia massiva na indústria têxtil e no comércio
associado. No entanto todos os fatores e características da coloração extraída de
microrganismos, que apresentam qualidade igual ou superior aos corantes sintéticos, a
biodegradabilidade dos produtos, o não uso de produtos químicos na produção têxtil e na
confeção e o pouco desperdício tornam este método um enorme concorrente e provável
substituto das tecnologias tradicionais.

De acordo com os estudos apresentados e descritos no estado da arte é viável concluir que a
extração de bio corantes através de microrganismos apresenta a melhor solução, até hoje
encontrada, para resolver o problema da falta de sustentabilidade na indústria e no mercado.

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Desde a possibilidade de obtenção de uma gama de cores e tons variados, passando pela
inexistência bastante reduzida de desperdício fabril, salientando o alto nível de
sustentabilidade tanto na produção como no processo de tingimento, estes bio corantes
apresentam qualidades suficientes para a sua adoção por parte desta indústria.

Investigadores e designers como Susane Lee, defendem que a próxima revolução industrial
será baseada na biotecnologia e na fabricação de bactérias, fungos, algas e leveduras. Lee
defende que “com a biologia (…) além de estabelecer as condições iniciais de crescimento,
produzimos um material útil e sustentável.” (Lee, 2006)

Esta dissertação possibilitou conhecer de forma mais aprofundada o trabalho já


desenvolvido por empresas e designers na área do tingimento têxtil assim como as
metodologias e objetivos na área da biotecnologia com aplicação nas indústrias têxtil, de
vestuário e moda.

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5. Conclusões e proposta para um trabalho futuro

5.1. Conclusões

De acordo com os objetivos originais deste trabalho, o mesmo sofreu alterações e certas
ideias iniciais foram postas de parte. Devido à situação de pandemia em que atualmente nos
encontramos o estágio inicialmente considerado para a criação de uma compilação de
experiências em superfícies têxteis com aplicação do bio corante foi substituído por uma
abordagem mais teórica e de carácter de aprendizagem. A compilação, descrição e
demonstração de possíveis aplicações é o início de um trabalho de longo prazo e não apenas
uma análise de estudo para conclusão de mestrado.
Dada a pesquisa analisada e estudada foi possível detetar que a hipótese de, num curto a
médio prazo, o tingimento têxtil através de bio corantes obtidos a partir de microrganismos
tem vantagens ambientais sobre as tradicionais tecnologias de tingimento.
É de fundamental importância que as empresas invistam neste método, e se dediquem à
inovação na biotecnologia. Considera-se que, por agora os microrganismos mais aptos à
extração e emprego na tecnologia de tingimento em grande escala, são as bactérias e as
algas. É importante desenvolver métodos uniformes de produção de fungos para que a sua
aplicação a nível industrial seja viável ao nível ambiental, económico e social.

5.2. Propostas para um trabalho futuro

Podemos afirmar que o tingimento através de bactérias, fungos e algas apresenta para a
indústria do vestuário e da moda uma enorme transformação de carácter positivo e acredita-
se que a adoção por parte da mesma traz grandes vantagens a nível ambiental, social e
económico. Como tal e de forma a alongar os estudos apresentados nesta dissertação são
apresentadas algumas propostas para trabalhos futuros:
• Adotar os casos de estudo já desenvolvidos em laboratório e estudar possíveis
aplicações a uma escala real.
• Explorar a possibilidade de aumentar o bio corante extraído da cultura, ampliando o
seu volume, sem alterar o tamanho da cultura.
• Estudar a possibilidade de novos bio corantes através da introdução de novos
microrganismos, ainda não explorados na extração de cor.

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PARECER

Eu, Manuela Cristina Paulo Carvalho de Almeida Figueiredo, Profª Auxiliar da FA-ULisboa, na
qualidade de Orientadora Científica, venho emitir um parecer de aceitação do documento final
apresentado, relativo à Dissertação de Mestrado em Design de Moda, da Licenciada Ana Raquel
da Silva Duarte, com o título, “Design têxtil e Moda: tingimento através de microrganismos”.

Lisboa, 19 de março de 2021

Manuela Cristina Paulo Carvalho de Almeida Figueiredo

Professora Auxiliar,

(Orientadora Científica)

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