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Dissertação de Mestrado em Engenharia Mecânica

Área de Concentração – Termociências

Viabilidade do Uso de Secadores Solar de Convecção Natural e Forçada


Para a Secagem do Coco Licuri

Natal – RN
Maio 2012
Jose Menezes da Silva
Viabilidade do Uso de Secadores Solar de Convecção Natural e Forçada
Para a Secagem do Coco Licuri

Dissertação de conclusão do curso de pós


graduação nível mestrado, em engenharia
mecânica, área de concentração Termociências,
na UFRN – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, sob a orientação do professor
doutor José Ubiragi de Lima Mendes.

Natal – RN
Maio 2012
Silva, José Menezes da

Viabilidade do Uso de Secadores Solar de Convecção Natural e Forçada para a Secagem do


Coco Licuri.

DISSERTAÇÃO APRESENTADA NO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM


ENGENHARIA MECÂNICA, NÍVEL MESTRADO, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO
TERMOCIÊNCIAS, DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE,
MODALIDADE MINTER COM CEFET-BA - CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO
TECNOLÓGICA.

Palavras chave: energias renováveis, secador solar, convecção forcada, eficiência na


secagem. Joel Nogueira Gonçalves
Aprovada em ____/_______/______

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________
ORIENTADOR – Prof. Dr. José Ubiragi de Lima Mendes (UFRN)

___________________________________________________________
COMPONENTE – Prof. Dra. Djane Santiago de Jesus (IFBA)

____________________________________________________________
COMPONENTE – Prof. Dr. Luiz Guilherme Meira de Souza (UFRN)

.
DEDICATÓRIA

A minha esposa, por me compreender e


me apoiar com tanto carinho algumas
ausências do convívio familiar, e pelo
constante incentivo para que mais esta
etapa de construção de conhecimento
fosse concretizada, em especial aos
meus pais Sr. José Porfírio da Silva e
Maria Menezes de Fragos Silva que
podem compartilhar juntos comigo mais
esta conquista.
AGRADECIMENTOS

Com muito carinho e respeito agradeço ...

... a Deus, por ter me dado, força e


discernimento para chegar até aqui,
... aos meus familiares, pelo apoio,
incentivo e compreensão,
principalmente quanto ao
distanciamento provocado,
... aos professores pelas inestimáveis
contribuições na construção deste
projeto,
... aos colegas pelos bons momentos de
convivência e por todas as superações
que juntos realizamos, nesta jornada
acadêmica,
....ao professor Luiz Guilherme, por
compartilhar sua tenacidade e
determinação,
....a professora Djane Santiago de Jesus,
pelo incentivo e apoio,
.....ao meu orientador, professor José
Ubiragi Mendes, pela compreensão e
respeito e por conseguir me passar um
pouco de seu conhecimento e equilíbrio.
RESUMO

O licuri (Syagrus coronata (Martius) Beccari) é uma palmeira nativa do Brasil,


largamente disseminada por todo o semi-árido do país. O fruto do licuri, conhecido pela
mesma denominação da palmeira, é totalmente comestível. Apesar do grande potencial
nutritivo e oleaginoso do licuri, pouca atenção tem sido dada para o estudo detalhado do
valor nutritivo deste fruto. Nesta dissertação será estudado a viabilidade para utilização
dos secadores solar de convecção natural e forçada (SSSEICF) sendo comparados com a
secagem tradicional ao ar livre, para a secagem do coco licuri.
O estudo levou a construção de dois protótipos de secador solar para a realização de
experimentos comprovativos: o Sistema de Secagem Solar de Exposição Direta e
Convecção Natural construído com madeira, possui uma câmara de secagem direta com
cobertura de lamina de vidro transparente de 4 mm, com utilização de técnicas para o
correto isolamento da câmara de secagem e o Sistema de Secagem Solar de Exposição
Indireta e Convecção Forçada, fabricado com chapas de aço galvanizado, tem a câmara de
secagem indireta com cobertura de lâmina de vidro transparente de 6 mm, tendo a
utilização de técnicas para correto isolamento da câmara de secagem e a inserção do
equipamento de exaustor eólico de ar responsável direto pela convecção forçada de ar da
câmara de secagem indireta.
Os dois protótipos foram analisados comparativamente quanto ao desempenho e
eficiência com a secagem tradicional em uso pela comunidade extrativista. Foram avaliados
quanto as variáveis: tempo e taxas de secagem e qualidade final das amostras de coco licuri.
Os frutos foram colhidos e trazidos do povoado de Ouricuri, na cidade de Caldeirão
Grande BA, para a realização dos experimentos comparativos entre os três métodos de
secagem foi utilizada uma carga padrão com 4,0 Kg.
A análise quantitativa para o resultado da taxa de secagem, foi encontrado
rendimento de 74% e 44% para o convecção natural e convecção forçada respectivamente,
em comparação com a secagem tradicional. Essas taxas de secagem representam variação
de 3 a 5 vezes menor.
A análise qualitativa das amostras de fruto e das amêndoas mostrou: que, a secagem
utilizando a convecção natural apresentou boa qualidade para o licuri, porém foi constatada
uma alteração sensorial no sabor, conhecida como “coco velado”.
A secagem utilizando a convecção forçada apresentou melhor qualidade do licuri,
foi encontrada uma coloração avermelhada na polpa, representando que foram mantidas as
quantidades do nutriente beta caroteno e não se percebeu a mudança de sabor do sistema
anterior, os custos finais de construção desse sistema foram maiores.
Os protótipos construídos obtiveram vantagem competitiva e atestou perfeitamente
para solucionar a dificuldade tecnológica encontrada anteriormente na produção de
produtos a base do coco licurí. Permitindo agregar valor e elevar as possibilidades de
aproveitamento do fruto pelas comunidades extrativistas da região semi-árida da Bahia.

Palavras Chave: energias renováveis, secador solar, convecção forcada, licuri.


ABSTRACT

Licuri is a palm tree from the semiarid regions of Bahia State, Brazil. It is an important
source of food and feed in that region, since their nuts are commonly eaten by humans and
used as maize substitute for poultry feeding. The aim of this dissertation is to study the
feasibility for use of natural convection solar dryers and forced being compared with the
traditional drying outdoors for drying coconut licuri Syagrus coronate.
The study led to the construction of two prototype solar dryer for carrying out experiments
proving: model Solar Drying System Direct Exposure to Natural Convection built with
wood, has a drying chamber with direct cover transparent glass laminates 4 mm, using
techniques for proper isolation of the drying chamber.
The two prototypes were comparatively analyzed for performance and drying efficiency
with traditional extractive use by the community. Were evaluated the variables: time and
drying rates and quality of the final samples of coconut licuri. The fruits were harvested and
brought the town of Ouricuri, in the city of Caldeirão Grande, BA for the experiments
comparing the three methods of drying was used a standard load of 4.0 kg
The quantitative analysis for the result of the drying rate was found in 74% yield and 44%
for natural and forced convection respectively compared with the traditional drying. These
drying rates represent variation 3-5 times lower.
Drying using forced convection licuri showed better quality, was found in a reddish pulp,
representing the quantities that were kept of the nutrient beta carotene, and not notice the
flavor change from the previous system, the final cost of construction of this system were
higher .
The prototypes built competitive advantage and had testified fully to resolve the technical
difficulties previously encountered in the production of products made of coconut
licuri. Allowing add value and increase their potential use for the fruit extractive
communities of semi-arid region of Bahia.

Keywords: renewable energy, solar dryer, forced convection, licuri.


SUMÁRIO

Lista de Figuras 11
Lista de Tabelas 12
Nomenclatura 13

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1. Objetivo Geral 20


1.2. Objetivos Específicos 20

CAPITULO 2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. A Importância das Energias Renováveis 21


2.2. A Energia Solar e sua Importância 21
2.3. A Tecnologia da Secagem 26
2.4. Tipos de Secadores 28
2.5. Sistemas de Secagem Solar 29
2.6. Secagem de Alimentos Utilizando Secador Solar 31
2.7. O Coco Licuri ( Syagrus Coronata ) 32
2.8. Caldeirão Grande: aplicação da tecnologia 40

CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS

3.1. Coleta e Preparo do Fruto do Licuri 43


3.2. Secagem Modelo Tradicional – Secagem ao Ar Livre 44
3.3. Secagem Solar de Exposição Direta com Convecção Natural 44
3.4. Sistema de Secagem Solar de Exposição Indireta e Convecção Forcada 46
3.5. Realização dos Experimentos 48
3.6. Metodologia das Análises 49
3.6.1. Analises Físico Químicas 49
3.6.2. Extração do Óleo das Amêndoas do Licuri 50
3.6.3. Analise Sensorial 50

CAPITULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. Eficiência Térmica Para o Sistema de Secagem Com Secador Com Exposição 53
Direta e Convecção Natural (SSSEDCN)
4.2. Eficiência Térmica Para o Sistema de Secagem Com Secador de Exposição 57
Indireta e Convecção Forçada (SSSEICF)
4.3. Avaliação Físico Química do Óleo Obtido Com Amêndoas Secadas Pelos
Sistemas de Secagem Tradicional e Convecções Natural e Forçada
61
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES E SUGESTÕES
5.1 – Conclusões 64
5.2 – Sugestões 65
6. Referencias Bibliográficas 66
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1. Palmeira Licuri – Caldeirão Grande – BA, 2006 33


Figura 2.2. Palmeira Licuri: Caule (A), Frutos (B), Folha (C), e Inflorescência (D). 34
Figura 2.3. Licuri in natura: amêndoa (1), polpa (2). 35
Figura 2.4. Germinação (A) e Muda (B), do Licuri. 36
Figura 2.5. Arara-azul-de-lear alimentando-se de Licuri. 37
Figura 2.6. Cadeia Produtiva do Licuri, GPPQ, 2011. 39
Figura 2.7. Mulher “colhendo” Licuri, Caldeirão Grande – BA. 40
Figura 2.8. Mapas do Território de Identidade Piemonte Norte do Itapicuru e 41
Município de Caldeirão Grande.
Figura 2.9. Desvantagem da secagem tradicional do licuri. 42
Figura 3.1. Agricultora colhendo licuri. 43
Figura 3.2 Secador Solar de exposição direta com convecção natural em Caldeirão
Grande,Bahia. 45
Figura 3.3. Sistema de secagem solar de exposição indireta e convecção forçada, 47
instalado no LABTECA.
Figura 4.1. Fruto do licuri com polpa no primeiro (A) e quinto(B) dia de secagem no 53
secador solar com convecção natural.
Figura 4.2. Temperatura no interior da camara de secagem no secador solar de 54
exposição direta e convecção natural durante a secagem do licurí com polpa.
Figura 4.3. Temperatura no interior da camara de secagem no secador solar de 56
exposição direta com convecção natural e a temperatura ambiente durante a
secagem do licurí com polpa.
Figura 4.4. Teor de umidade para o licuri submetido a secagem tradicional e 58
secagem em secador solar de convecção forçada.
Figura 4.5. Temperatura no interior da camara de secagem no secador solar de 60
exposição indireta com convecção forçada e a temperatura no método tradicional
durante a secagem do licurí com polpa.
Figura 4.6. Comparativo das temperaturas no interior das camaras de secagem. 61
LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 - Relação entre a temperatura do ar de secagem e o tempo gasto no 55


processo de secagem natural.

Tabela 4.2 - Teor de umidade para o licurí submetido a secagem no secador solar 57
de exposição direta e convecção natural.

Tabela 4.3 - Dados de ensaio para o licurí com polpa em secagem forçada 57
indireta.

Tabela 4.4 - Dados comparativos entre os sistemas de secagem com convecção 59


natural e com convecção forçada no processo de secagem do fruto licuri.

Tabela 4.5 - Características físico-químicas do óleo de licuri obtido pelas 63


amêndoas prensadas à frio.
NOMENCLATURA

A = área de coleção (m2)


αp = absortividade da placa
Cp = calor específico do fluido (ar) (J/kg°C).
∆T = gradiente de temperatura entre entrada e saída do fluido (oC).
I = irradiação solar global (W/m2)
Pabs. = potência absorvida (W)
Pp = potência perdida (W)
Pu = potência útil (W)
m = massa (kg)

ηt = eficiência térmica do sistema (%)


∆T = variação da temperatura ambiente (°C)
∆t = variação do tempo (h)
τv = transmissividade do vidro
ηt = eficiência térmica (%)
14

CAPITULO 1

1.1 - INTRODUÇÃO

Nos últimos anos o Brasil tem registrado bons exemplos de soluções inovadoras
voltadas para a promoção do desenvolvimento social visando a melhoria da qualidade de
vida, principalmente, das classes menos favorecidas da nossa população (SILVA,2008).
O progresso social existe quando as condições de vida dos indivíduos melhoram,
elevando o índice de desenvolvimento humano e diminuindo os riscos sociais. Iniciativas
que difundam a disseminação e popularização da ciência e tecnologia, são fundamentais
para o desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas que venham a auxiliar a
minoração de dependência do Estado no que diz respeito a melhoria da qualidade de vida
de cidadãos.
Sendo o Nordeste brasileiro uma região com grandes disparidades
socioeconômicas frente às demais, faz-se necessário, por parte das Instituições difusoras do
saber, uma ação mais atuante que venha a implantar esta disseminação do saber.
A Bahia é o estado da região Nordeste do país que tem uma das maiores áreas e
onde se observa também grandes problemas de ordem social, principalmente no interior.
Conforme Sampaio 2008, o estado baiano possui o número de municípios mais elevado no
semiárido, atingindo 23,4% do total, o que equivale a 63,9% das cidades da Bahia, ou seja,
dos 417 municípios baianos, 265 estão localizados na região semiárida.
No que diz respeito também à demografia, a Bahia também se destaca no tocante à
população residente na região semiárida, representando 27,3% desse território, conforme
dados do IBGE.
O semi-árido baiano, é caracterizado, no tocante à aspectos socioeconômicos e
geoambientais por uma estrutura espacial heterogênea, apresentando, consequentemente,
um espaço interno diversificado, dificultando homogeneização dos dados estudados.
Conforme ainda esses autores, nessa complexidade do espaço geográfico podem ser
identificadas áreas rurais, urbanas, agricultura moderna, agricultura de subsistência,
15

agricultura de sequeiro, agricultura irrigada, além de áreas industrializadas e zonas de


comércio.
Além do importante patrimônio histórico-cultural, um aspecto relevante no
semiárido baiano é a permanência das culturas tradicionais adequadas às condições daquela
região, onde destaca-se o licuri, cultura esta que tem cooperado para a sobrevivência das
populações de menor poder aquisitivo e se constituído em um fator preponderante para o
desenvolvimento regional. Neste sentido, o aproveitamento das capacidades naturais da
região semiárida baiana, destacando-se a agricultura familiar, com vistas ao
desenvolvimento regional torna-se de extrema importância.
A escassez de chuva acaba por dificultar o desenvolvimento da agricultura no semiárido,
principalmente na Bahia. Entretanto, esta região possui uma vegetação peculiar, a xerófila,
adaptável à pouca umidade e, possuindo um potencialidade forrageira – ou seja, utilizadas
para alimentação de gado, frutíferas, ornamentais e, muitas delas, medicinais, se explorada
de forma sustentável, pode-se tornar grande provedor de rendar de muitas populações na
região semiárida nordestina e, em especial, baiana.
Conhecido popularmente também como nicuri, ouricuri e aricuri, e tendo como
nome científico SyagrusCoronata – da família Palmae -, o licuri, conforme já afirmava
Bondar (1938), é nativa do semiárido baiano, principalmente, nos municípios de Jaguarari,
Bonfim, Pindobaçu, Caldeirão Grande, Caié, Jacobina, Itiúba, Cansação, Monte santo,
Queimadas, Miguel Calmon, Campo Formoso e outros municípios do semiárido baiano,
entretanto, as zonas de maior concentração, na década de 1960, era Bonfim e a Encosta da
Chapada Diamantina. A população baiana de palmeiras nativas, na década de 1930, era de
cerca de 5 bilhões, tendo base média de 200 pés de licuris por hectare (BONDAR, 1938).
Conforme Bondar (1938), um cacho de licuri possui cerca de 100 frutos, pesando, cada
fruto, cerca de 5 gramas. Já a amêndoa, extraída do caroço, o coquilho, não ultrapassa,
conforme o autor, 1,5 gramas. É estimado o rendimento médio de meio quilo de amêndoa
por cacho.
O licurizeiro tem sua produção registrada durante todo ano, tendo como período de
safra, conforme Bondar (1938), os meses de março, junho e julho. Há indícios de que esses
16

meses possam ser considerados de maior incidência de produção devido à intensidade da


chuva durante este período.
Podendo chegar, quando adulto, à uma altura de até dez metros,o licurizeiro, apesar
de ainda ter o extrativismo com a sua maior forma de exploração, é considerado uma das
principais fontes de renda dos municípios dos municípios do semiárido baiano, sendo
considerada uma palmeira com 100% de aproveitamento. O aproveitamento da amêndoa
do licuri no semiárido para o consumo por crianças e adultos, bem como transformada em
procedimentos elementares ou como fornecedor de óleo e leite para alimentação, tem seu
registro datado dos primórdios da colonização portuguesa.
O tronco serve para a fabricação do bró, uma farinha que serve de alimentação,
principalmente no período da seca. As folhas, além de servir para forragem para os animais,
antigamente utilizadas para cobrir as casas de sertanejos, atualmente são utilizadas em sua
maioria para o artesanato, tais como desenvolvimento de chapéus, peneiras, bolsas e
utilidades domésticas, além da possibilidade de extração de excelente fibra, que pode
originar em compósitos, briquetes, Chapas de fibras de licuri (que serve para construção de
móveis, divisórias etc), além da cera, que serve para fabricação de cosméticos. Da polpa, é
possível a fabricação de sorvetes, farinha para bolos e mingaus, ração para animais
ruminantes, licores e essência. A casca possibilita a obtenção de Carvão Vegetal, Carvão
Ativado, Ácido acético, Briquetes, Artesanatos, Decorativos, Bijuterias e Utilidades; Já das
amêndoas pode-se adquirir barras de cereais, glicerina, óleo comestível, biodiesel, leite de
coco, cosméticos, tortas residuais para ração animal (GPPQ-CEFET, Bahia).
Pesquisas desenvolvidas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
da Bahia sobre o valor nutricional e o peso socioeconômico do licuri revelou que neste
fruto são encontradas as seguintes substâncias: na polpa ou drupa – cálcio, magnésio, cobre
e zinco e, na amêndoa (dentro do coquilho) – cálcio, magnésio, cobre, zinco, ferro,
manganês e selênio (MEC, 2006), substâncias indispensáveis à sobrevivência humana e que
contribuem para o combate à fome, bem como doenças tais como problemas de visão,
cânceres, doenças do coração, artrite, arteriosclerose, combate à anemia e os distúrbios da
aprendizagem, diabetes, asma e osteoporose. Diversos produtos foram desenvolvidos a
partir dessa pesquisa, (tais como complemento alimentar (barra de cereal), compotas,
17

sorvetes, geléias, iogurtes, cocadas, doces, licor e farinha) fortalecendo a cadeia produtiva
do fruto, bem como possibilitando a inclusão produtiva da população do semiárido que tem
no licuri sua principal fonte de renda.
A exploração extrativa do licuri compete, acirradamente, na ocupação de mão-de-
obra, com outras atividades agrícolas regionais, sendo utilizada para complementar a renda
familiar.
Um cacho de licuri médio possui, conforme LIMA (1961), cerca de 500 frutos, os
quais devem ser apanhados “de vez ou maduros”. Esta maturação do licuri se dá de forma
licuri é rápida, levando à queda do fruto, que se depositava ao pé do licurizeiro ou “cama”,
como é denominado. Ao cair e ficar depositado ao chão, o coquilho acaba por sofrer a
contaminação pelo germe de bicho de coco, conhecido cientificamente, por
Pachimerusnucleorum, germe que acaba por destruir o licuri. Tradicionalmente, o
aproveitamento do licuri envolve um modelo de extrativismo artesanal, restringindo-se à
produção de amêndoa do licuri a partir de resíduos do processo de quebra do coco in natura
com pedra, geralmente realizado por mulheres e crianças, no entanto, é comum no turno da
noite toda a família, inclusive os homens, se ocuparem na debulha. O processamento do
licuri começa com de colheita que se dá durante todo o ano, com destaque no período de
novembro a abril. As colheitas são realizadas em camas no chão e nos currais de bovinos e
caprinos, os frutos expelidos após a ruminação, muito poucos frutos são colhido
diretamente no palmeiral.
Neste sentido, através das pesquisas realizadas para o desenvolvimento de
produtos alimentícios, bem como a aproximação com a comunidade do semiárido baiano, o
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia, juntamente com comunidade
do município de Caldeirão Grande – Bahia, na perspectiva de fortalecer a Cadeia Produtiva
do Licuri, identificou três demandas por Tecnologias Sociais no processo produtivo do
licuri,
Apesar da inexistência de estatísticas oficiais, o desperdício de licuri na Bahia é
estimado em mais de 40% da produção, ou seja, mais de 14 milhões de toneladas. Por outro
lado as condições de coleta, manuseio e armazenamento impende a implementação do uso
para fins alimentícios e o fortalecimento da cadeia produtiva do licuri.
18

Caldeirão Grande é um dos quatro maiores municípios produtores de licuri da Bahia


e aquele para o qual o extrativismo do licuri tem maior importância econômica e social.
Existem cerca de 900 famílias extrativistas cadastradas que mantêm vivos práticas e saberes
relacionados ao extrativismo e ao uso do licuri, condições fundamentais para o
desenvolvimento de TS. É o município cuja produtividade na extração vegetal do licuri é a
mais alta considerando tanto sua superfície quanto sua população. Além de ter uma mata de
licurizeiros avaliada em torno de mais de 15 milhões de palmeiras, cujo aproveitamento
econômico-produtivo não alcança menos de 0,1% de seu potencial.
Tais condições favorecem a implantação do projeto, já conhecido e aceito pelas
comunidades implicadas na sua implantação, o que faz de Caldeirão Grande um local
apropriado para o início do projeto. Objetivamente, a idéia de fortalecimento da cadeia
produtiva do licuri voltado para a geração de renda das famílias extrativistas locais e as
relações entre o IFBA e o lugar existem desde 2005 quando a equipe do Grupo de Pesquisa
e Produção em Química do então CEFET-BA iniciou trabalho de pesquisa aplicado à
cadeia produtiva do Licuri, tendo realizado reuniões com a comunidade identificando os
gargalos e problemas tecnológicos para cultura do Licuri. pesquisas iniciadas em 2003 por
professores e estudantes do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia -
IFBA, na época, ainda Centro Federal de Educação Tecnológica, identificaram uma gama
de potencialidades no fruto, bem como contribuíram no desenvolvimento de tecnologias
sociais e condições estruturais adequadas para o fortalecimento de toda cadeia produtiva do
licuri, agregando valor aos produtos, aperfeiçoando a organização da produção comunitária
e, conseqüentemente, gerando aumento da renda para as populações extrativistas
tradicionais.
Nas comunidades rurais, o licuri, catado no mato, era seco em terreiros e sem
condições higiênicas sanitárias, além de haver muita perda das amêndoas pelo
desenvolvimento do bicho do coco como também pela germinação do mesmo.
Nesta perspectiva, a presente dissertação, corrobora para o alcance destes objetivos
de fortalecimento da cadeia produtiva do licuri, motivada pela riqueza ambiental e o
comprometimento das mulheres agricultoras familiares do município e na um produto de
grande potencial econômico devidamente explorado pela agricultura familiar e que poderá
19

transformar o município em referência regional do licuri. Assim, a avaliação da secagem do


licuri em secador solar fomentará a cadeia produtiva do licuri que significa, para Caldeirão
Grande e para o semi-árido, a transformação de uma atividade potencial em atividade real
de geração.
Ao mesmo tempo, o licurizeiro ainda possui expressivo valor ambiental,
participando da manutenção dos ciclos ambientais, como o ciclo da água e dos nutrientes.
Ressalte-se que grande totalidade dos licurizeiros é nativa, isto é, não cultivados, e
estão presentes nos mais diversos ecossistemas. Não se pode deixar de fazer referência
ainda, ao licuri ser o principal alimento da arara-azul-de-lear. Essas araras são uma das aves
mais raras do mundo. O Raso da Catarina, Bahia é o único lugar do mundo onde elas
podem ser encontradas.
Tendo em vista as necessidades do pequeno produtor rural do semiarido baiano,
buscou-se uma alternativa econômica, sustentável e ecologicamente viável para que estes
produtores pudessem obter uma renda complementar, por meio da utilização do secador
solar unidade de secagem de alimentos que utilize fontes renováveis e limpas de
combustíveis.
O problema principal consiste no melhor aproveitamento dos produtos agrícolas. A
secagem de alimentos possibilita também um aumento do tempo de consumo, paralelo a
isso há uma agregação de valor ao produto final que pode significar um aumento na receita
de até 20 vezes o valor do alimento comercializado in natura. O projeto de
desenvolvimento da unidade de secagem tem por objetivo dar uma outra destinação aos
alimentos que se perderiam no transporte ou na própria lavoura. Uma das premissas deste
empreendimento é que ele seja de baixo custo de implantação devido a utilização de
materiais alternativos e regionais e também pelo fato do próprio produtor executar toda a
montagem do equipamento. Toda a tecnologia deverá ser transferida por mio de cursos e
palestras nas comunidades rurais, bem como por meio de cartilhas explicativas e um
manual de implantação da unidade de secagem.
A composição desta dissertação está dividida em cinco capítulos. Neste primeiro
capítulo, a introdução, é apresentada a estrutura do trabalho. No capítulo dois será
explicitada uma discussão acerca dos conceitos de energia renováveis, energia solar,
20

utilização deste tipo de energia para secagem de alimentos e os diferentes tipos de


secadores é também uma breve descrição do fruto licuri e seu peso socioeconômico. O
capítulo 3 apresenta a proposta em estudo, mostrando os métodos construtivos, princípios
de funcionamento e processos de fabricação e montagem, e apresenta também a
metodologia experimental empregada.
O capítulo 4 mostra os resultados e as discussões dos dados obtidos no levantamento
de desempenho comparativo das secagens com secador solar e método tradicional.
O quinto e último capítulo, constituído pela conclusão, será realizada a síntese e
análise das abordagens ao longo do trabalho, apresentando, se possível, expectativas para
realização de futuras pesquisas.

1.2 - Objetivos

1.2.1 - Objetivo Geral

Estudar a viabilidade de utilização de um secador solar de exposição direta para


secagem do coco licuri, visando a redução do tempo de secagem, obtenção de produto de
melhor qualidade, bem como seu emprego por comunidades de agricultores familiares do
semiarido baiano.

1.2.2 - Objetivos Específicos

1. Desenvolver, projetar e construir modelos de secadores solar de exposição direta


para secagem do coco licuri;
3. Avaliar a qualidade final do produto por meio da análise química, sensorial e física.
4. Implementar a utilização do secador solar para licuri em comunidades de
agricultores rurais EXTRATIVISTA DO LICURI em Caldeirão Grande.
21

CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 - A Importância das Energias Renováveis

O homem ao direcionar o seu olhar para o futuro percebe o custo cada vez maior que
a energia tende a sempre ter e o que é pior, encontra-se na crise cada vez maior que
experimenta os combustíveis fosseis atualmente utilizados em grande escala, o que nos
preocupa com a possibilidade de racionamentos sempre crescente e mesmo o
desabastecimento o que para a sociedade moderna representa uma completa paralisação de
todas as suas atividades. As formas de suprimento de energia estão determinando o curso
do desenvolvimento social e econômico para um futuro cada vez mais próximo.
O suprimento de energia será a base para um elevado e sustentável nível de segurança
e conforto, a energia também determinará o balanço ecológico. As fontes energéticas e as
tecnologias que são usadas nos dias atuais influenciarão significativamente o futuro do
planeta.
Há também uma grande evidência de que a maioria das tecnologias energéticas em
uso não são ecologicamente apropriadas e tem o potencial de provocar sérias e irreversíveis
mudanças climáticas, bem como a constatação de que a quase totalidade destas fontes
energéticas não são renováveis e estão se esgotando rapidamente. Em função dessas
percepções, o direcionamento às fontes renováveis de energia é inevitável. As fontes de
energia eólica, solar e de biomassa são abundantes, amplamente distribuídas,
ecologicamente atrativas e renováveis. Essas fontes não poluem a atmosfera e não
contribuem para o aumento da temperatura do planeta.

2.2 - A Energia Solar e Sua Importância

O Sol é o responsável pela origem de praticamente todas as outras fontes de energia


conhecidas pelo homem. O aproveitamento dessa energia, inesgotável na escala terrestre de
tempo, tanto como fonte de calor quanto de luz, é atualmente uma das alternativas
energéticas mais promissoras para o enfrentamento dos novos desafios para a obtenção de
22

energia em escala mundial.


O Sol fornece anualmente 1,5x1018 KWh de energia para a atmosfera terrestre, o que
corresponde a cerca de 10000 vezes o consumo mundial de energia no mesmo período de
tempo.
Os países tropicais, devido a excelente posição geográfica, possuem grande potencial
energético, encontrando potencial bastante favorável para a utilização dos equipamentos
solares. O Brasil possui significativo potencial solar com disponibilidade equivalente a 1,13
X 1010 GWh, no período de um ano, e uma das mais promissoras regiões para utilização da
energia solar é o Nordeste (QUEIROZ, 2005).
O aproveitamento da radiação solar pode ser dividido, conforme a aplicação, em
quatro grupos distintos: aplicações térmicas em geral, geração de força motriz diversa,
geração de eletricidade e geração de energia química.
As aplicações térmicas são aquelas em que a forma de energia necessária ao processo
final é o calor, como aquecimento de água, destilação, secagem de frutas e grãos,
refrigeração por absorção e adsorção, calefação e o cozimento de alimentos através de
fogões solares.
Para a obtenção de energia mecânica para tarefas específicas como bombeamento
d’água, irrigação, moagem de grãos, entre outras, as duas formas de obtenção mais comuns
são a obtenção de eletricidade por painéis fotovoltaicos e a posterior alimentação de um
motor elétrico ou, através da conversão térmica e alimentação de um motor de ciclo
térmico.
Para a obtenção de eletricidade, os métodos de conversão mais utilizados são a
conversão termoelétrica indireta que utiliza o efeito da termoconversão para obtenção de
calor e acionamento de uma máquina térmica; conversão termoelétrica direta, onde vários
fenômenos conhecidos permitem que a energia solar seja convertida diretamente em
eletricidade e a conversão fotovoltaica cujos princípios são conhecidos já a bastante tempo,
embora a sua utilização só tenha se intensificado após o ano de 1958 com a corrida
espacial pelas superpotências EUA e União Soviética, onde as fotocélulas obtiveram
bastante êxito como fonte de energia em satélites, dominando totalmente essa aplicação. As
instalações terrestres também se desenvolveram e atualmente os painéis fotovoltaicos são
23

bastante difundidos, o mesmo se observa em relação a eficiência para as células


fotovoltaicas que tem crescido significativamente nos últimos anos, atingindo índices de
eficiência de 40% na Alemanha, um dos países que apresentam maior difusão para
utilização dessa forma de energia.
Finalmente, a energia solar pode ser aplicada a sistemas que produzam diretamente
energia química, o que representa um grande atrativo em função das vantagens inerentes
aos combustíveis como sua grande densidade energética, facilidade de distribuição e de
transporte, boa adequação à aplicação nos transportes e permitir armazenamento sem
degradação por longos períodos, compensando variações sazonais de produção.
Cada metro quadrado da superfície do sol emite aproximadamente 62,8 MW de
energia eletromagnética, que são lançados no espaço. A origem desta energia está em um
conjunto de reações termonucleares que ocorrem no núcleo do sol causando uma
diminuição em sua massa da ordem de 4,25 milhões de toneladas em cada segundo.
Embora esse dado seja avaliado como uma perda inimaginável seriam necessários 147
bilhões de anos (a idade de nosso sistema solar é estimada em 8 bilhões de anos) de
atividade solar, neste mesmo ritmo, para que a sua massa sofresse uma diminuição de um
por cento (1%) (BEZERRA, 2000).
Para ter-se uma ideia de tal potencial basta que se faça a seguinte análise: Considere-
se que a Terra recebe do sol, ao nível do solo, no máximo 1KW/m2, embora possa atingir
maiores picos em algumas regiões. Excluídas as regiões Ártica e Antártica, ela recebe em
média 3,6 KWh/m2.dia, nas massas continentais temos uma área de cerca de 132,5x1012
W/m2 (SOUZA, 2002). Portanto, a incidência solar sobre essas massas continentais é
4,77x108 GWh/dia, logo, a incidência em um ano é de 1,74x 1011GWh.
Considerando-se que o consumo energético anual atual corresponde a 1,5x108 GWh,
conclui-se que a energia solar disponível nas massas continentais representa mais de 1.000
vezes o consumo de energia da humanidade. Isso equivale a dizer que menos de 1% da
energia solar disponível nas massas continentais seria suficiente para suprir de energia à
humanidade. Considerando-se toda a área da Terra, vai para 1,02 x1013 GWh.
Uma vez que a luz solar está disponível em todas as regiões da Terra e pode ser usada
de forma descentralizada, a opção solar para a geração de eletricidade dispensa o caro
24

transporte da energia através de redes de distribuição, inerentes ao sistema convencional.


Os equipamentos solares têm um grande potencial em países tropicais, entre os quais
se encontra o Brasil, com disponibilidade equivalente a 1,13x1010 GWh, por possuírem
significativos potenciais solares e receberem energia solar em quase todo o ano, como
acontece no nordeste brasileiro.
A radiação solar é atualmente usada para produzir potência através de duas
tecnologias: fotovoltaica e térmica. A tecnologia fotovoltaica tem um grande potencial e
parece ser um dos mais atrativos modos de obtenção de energia no futuro. Os sistemas
fotovoltaicos são atualmente mais confiáveis e econômicos que muitas outras tecnologias
energéticas por serem independentes, descentralizados e pelas alternativas de
aplicabilidade, gerando uma gama de produtos para consumo.
Um sistema fotovoltaico pode atuar em rede ou de modo independente. São muito
importantes para o desenvolvimento de países do terceiro mundo, pela escassez de
fornecimento de energia elétrica principalmente em áreas rurais, onde a energia elétrica
gerada pode ser usada de forma descentralizada.
Os métodos para a geração de potência térmica solar são essencialmente os mesmos
das tecnologias convencionais, porém o combustível usado é a energia térmica. Ao invés do
combustível fóssil, usa-se a radiação solar. A faixa de temperatura requerida para
aplicações domésticas e comerciais pode ser suprida com as tecnologias disponíveis de
conversão da energia solar em energia térmica.
Os sistemas térmicos solares para uso principalmente doméstico não necessitam de
alta eficiência, porém para uso em aplicações industriais e comerciais já estão sendo
desenvolvidos sistemas com alta performance. Tais sistemas permitem a obtenção de
temperaturas para pré-aquecer a água de alimentação de caldeiras, aquecer água e ar em
processos industriais e produzir vapor para gerar potência.
Um dos processos comerciais mais utilizados é a conservação de produtos
agropecuários através da técnica conhecida como desidratação ou conservação das frutas,
em que a técnica não promove alteração em suas propriedades nutritivas e biológicas. O
método consiste em se promover a redução do teor de umidade presente no produto, agindo
diretamente na atividade da água, o que impede o desenvolvimento de microorganismos e a
25

ocorrência de reações químicas indesejáveis, que acabam por deteriorar os produtos,


tornando-os impróprios para o consumo (MADAMBA,2007).
Podem ser enumeradas as principais vantagens oferecidas por esta técnica está em
manter a concentração dos nutrientes e permitir um maior tempo de vida de prateleira para
os produtos. Além de manter o sabor praticamente inalterado por longo período. A secagem
é atualmente utilizada não apenas para a conservação dos alimentos, mas também permite
que sejam elaborados produtos diferenciados como exemplo: massas, biscoitos, iogurtes e
sorvetes entre outros (FIORENZE,2004).
Entre os diferentes equipamentos utilizados na secagem de alimentos podem ser
citados os secadores mecânicos e os secadores solar. A principal diferença entre esses
equipamentos encontra-se na energia utilizada para o aquecimento do fluido de secagem,
no modelo mecânico esta energia é oriunda da queima dos combustíveis fosseis, da lenha
ou através da utilização da eletricidade. No método da secagem solar, o gás é aquecido pela
energia solar, o que faz o modelo ser bastante utilizado na secagem de grãos e de sementes.
O desenvolvimento tecnológico atual, experimentado pela sociedade, tem permitido a
transformação da energia solar em calor. O que é de suma importância, frente ao atual
momento, em que os combustíveis fósseis apresentam escassez e preços elevados e ainda a
constante preocupação com a poluição causada pelos mesmos (SOUZA et al. 2007).
O Brasil apresenta um grande potencial, para utilização da energia solar, em quase
todo o território nacional, principalmente na região Nordeste onde se tem a presença do sol
em quase todas as épocas do ano (ANUNCIAÇÃO, 2007).
A energia solar representa uma das opções mais que vantajosas para viabilizar
projetos e promover o desenvolvimento regional em vários setores como: secagem de
frutos, aquecimento de água para uso comercial e doméstico e ainda na conversão de
energia solar em elétrica para aqueles locais de difícil acesso onde se faz necessário a
construção de muitos quilômetros de linhas de transmissão de redes elétricas
convencionais. Os sistemas de secagem solar apresentam aspectos importantes como baixo
custo de construção e de manutenção dos equipamentos (SINICIO, 2006).
A energia solar e a energia eólica são fontes inesgotáveis de energia não poluente,
capazes de atender a todas as necessidades da raça humana. Isto leva a reflexão para a
26

urgente necessidade de utilização destas fontes de energia as quais atendam as necessidades


globais de forma sustentável e sem comprometer o crescimento econômico.

2.3 - A Técnica da Secagem

É uma técnica bastante antiga aplicada na conservação dos alimentos, o processo


consiste em se remover a água ou qualquer outro liquido do alimento em forma de vapor
para o ar saturado. O processo também consiste em se remover a água dos alimentos
sólidos, sendo uma forma para reduzir a atividade da água a qual tem por objetivo a
inibição do crescimento microbiano, evitando a deterioração do produto.
Esta tecnologia para conservação dos alimentos consiste na aplicação de alguns
princípios físicos e químicos: utilização de baixas e altas temperaturas, eliminação da água
presente nos alimentos (secagem, liofilização, desidratação osmótica, prensagem,
concentração), aditivos químicos e irradiação (SILVA, 2005).
A correria em que vive a sociedade moderna tem privilegiado a indústria de alimentos
chamados de instantâneos (prontos e semi-prontos), utilizando como matéria prima os
produtos submetidos a algum tipo de secagem, buscando com isso facilitar os processos de
manuseio e armazenagem . Para que os produtos sejam adequadamente secos é necessário
que uma quantidade de energia seja aplicada. Com isso é perceptível um grande
fortalecimento das técnicas de secagem, para alimentos e produtos agropecuários, que
mostram uma busca pela qualidade de vida, e a crescente utilização dos alimentos mais
saudáveis, com minimização de desperdícios de tempo contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida da população.
Para que a secagem ocorra faz-se necessário que o meio esteja submetido a uma
temperatura superior a percebida no sólido úmido, o que leva a percepção da existência de
um fluxo de calor, possibilitando a vaporização da umidade. Outra característica é
explicada pela retirada de grande parte da água, inicialmente presente na constituição
intrínseca do produto, para ser finalizado com um nível máximo de umidade, onde não são
verificadas perdas de suas qualidades organolépticas e nutricionais (sabor e aroma). É um
processo simultâneo de transferência de calor e de massa, onde se é requerida energia para
27

evaporar a umidade da superfície do produto para o meio externo o ar.


A técnica da secagem que realiza a remoção da água possibilita a conservação dos
produtos por não permitir a proliferação dos microorganismos e para os grãos a presença de
insetos que deterioram os produtos (PARK, 2007).
Durante muito tempo, a metodologia da secagem tradicional sempre consistiu em se
deixar exposto o produto no campo, sob a ação do sol e dos ventos, para que seja
descartada grande parte da umidade. É uma técnica que ainda hoje encontra aplicação
devido aos elevados custos empregados na metodologia da secagem artificial. A
metodologia conhecida como secagem tradicional é aquela que se realiza com o produto
exposto a céu aberto, em condições ambientais normais (PARK, 2007). Entre as várias
metodologias aplicadas na realização da secagem podem ser destacadas as mais
importantes:
a) secagem por convecção – um dos mais comuns em que o calor sensível é
transferido para o material por convecção. O agente da secagem (o ar pré aquecido) passa
sobre ou através do sólido, evaporando a umidade e retirando-a para fora do secador. As
condições da secagem podem ser controladas através da temperatura e do ar aquecido.
b) Secagem por condução – é a transferência do calor por contato físico. É favorável
quando o material a ser seco é muito úmido e a espessura do leito do material é reduzida.
c) secagem por radiação – a energia térmica pode ser suprida por uma série de fontes
eletromagnéticas, sendo que o transporte da umidade e a difusão do vapor no solido seguem
as mesmas leis físicas que a condução e a convecção.
d) secagem por liofilização – esta é a metodologia em que se baseia na sublimação da
água congelada do material sendo colocada em uma câmara de secagem onde a pressão está
situada abaixo do ponto tríplice da água. A energia é suprida por irradiação direta ou
condução nas bandejas aquecidas, sendo que as taxas para a temperatura do material não
ultrapassa o valor de zero grau célsius.
A umidade é então sublimada e se condensa em placas refrigeradas, localizadas em
uma câmara do secador, longe do material ou em um condensador separado. Esta é a
técnica em que o material secado não pode ser aquecido, nem mesmo com temperaturas
mais baixas. A secagem é a técnica que menos agride o material, produzindo produtos com
28

melhor qualidade entre todos os outros métodos (PARK, 2007).

2.4 - Tipos de Secadores

Existe atualmente no mercado uma grande variedade de processos e equipamentos de


secagem, os quais são aplicados para se obter produtos com mais qualidade, dentre eles
podem ser citados:
O secador de bandejas – é bastante versátil, o produto a ser secado é exposto em
bandejas e submetido a uma corrente de ar aquecido. Podem ser utilizados por pequenas,
médias e grandes indústrias de alimentos: são operados por duas diferentes condições: na
primeira a câmara do aquecedor está cheia e o ar só será movimentado após a temperatura
atingir o grau desejado; já para a segunda, os produtos só deverão ser introduzidos no
secador após a temperatura e a circulação de ar serem encontradas em condições ideais. Um
dos inconvenientes apresentados encontra-se no fato da distribuição do fluido de
aquecimento não ser uniforme, o que leva a secagem dos produtos a ocorrer de maneira
diferente, uma tentativa para se minimizar o problema está na troca de posição das bandejas
com produto.
Secadores de túnel – nas indústrias de alimentos são utilizados para desidratar de
forma subcontinua, hortaliças e frutas apresentando grande capacidade de produção.
Possuem comprimento variado, sendo construídos com um túnel de 10 a 15 metros de
comprimento. A corrente do fluido pode ser material ou forcada e o seu fluxo pode ser
paralelo, contracorrente ou combinado.
Secador de leito de jorro – ocupam posição de destaque em operações que
envolvem partículas sólidas e fluidas. Um dos principais objetivos está em se realizar a
secagem de maneira eficiente, materiais, granulados, pastas e suspensões promovendo um
contato intimo entre o fluido e as partículas relativamente grandes as quais apresentam
fluidização com qualidade inferior.
Secador por aspersão ou atomização “spray-dryer” – utilizado para a secagem de
alimentos líquidos, exemplo leite, café solúvel, alimentos pastosos em suspensão. É
29

constituído por uma câmara, geralmente cônica com diâmetro e comprimento precisamente
calculados, nele o fluido a ser processado é introduzido por aspersão, sob pressão. É um
processo continuo, no qual um liquido, ou pasta são transformados em produto seco,
caracterizando-se por um túnel de secagem relativamente curto. Consiste na atomização do
produto no interior da câmara de secagem em contato com uma corrente de ar quente que
pode atingir até 200 °C, com tempo de contato variando entre 20 e 30 segundos . Encontra
aplicação não apenas na indústria de alimentos, como também farmacêutica, cerâmica e de
detergentes etc.
Fornos secadores – encontram grande aplicação para a secagem de maçã, lúpulo,
malte e batata. A construção do modelo ocorre com a formação de dois pisos: o primeiro,
onde é colocado o produto a ser desidratado, o qual entra em contato com o ar aquecido,
através do calor gerado neste piso pelo forno, estufa ou outra fonte de calor. O ar aquecido
então passa pelo produto por corrente material ou forcada, através de um soprador ou
ventilador. Para que seja reduzido o tempo de secagem, o material deve ser colocado numa
agitação continua, porém mesmo após todos estes cuidados, ainda se verifica um grande
tempo de secagem .

2.5 - Sistemas de Secagem Solar

As pesquisas atualmente conduzidas estão sendo direcionadas para as aplicações em


sistemas que utilizam a secagem solar, principalmente pelas características de: baixo custo,
eficiência, simplicidade de fabricação etc. Os principais tipos são: secador de exposição ou
radiação direta e indireta por convecção natural ou forcada. O nome desse secador se deve
ao fato de receber diretamente a radiação solar na câmara de secagem e o de exposição
indireta por possuir um coletor solar plano, adicionado a uma câmara de secagem com
bandejas, onde o produto é distribuído sendo complementado por uma chaminé a qual
promove uma melhor circulação do fluido no interior da câmara e por consequência, no
produto.
A construção dos protótipos dos secadores pode ser realizada utilizando diversos
tipos de materiais: chapas metálicas, alvenaria, madeira, metais reciclados, perfis de
30

alumínio, de ferro galvanizado e outros. O processo para escolha do tipo de material mais
adequado a construção deve primar pela obtenção da qualidade e eficiência para o produto
final, redução dos custos e elevação do tempo de vida útil para o protótipo. O sistema deve
garantir o melhor isolamento térmico, utilizando materiais com baixa condutibilidade
térmica, para que sejam evitadas perdas de calor no interior da câmara de secagem e a
cobertura deve possuir a melhor transparência possível com a utilização de vidro ou
plástico transparente com a espessura definida corretamente em projeto (BEZERRA, 2005
e POTTER, 2006).
O sistema utiliza para aquecimento do fluido de trabalho, a radiação solar que é um
tipo de radiação eletromagnética, onde a terra recebe a radiação com pequeno comprimento
de onda e retransmite de volta com grande comprimento de onda. Quando a radiação solar
incidente atinge a cobertura do secador, uma parte é absorvida causando uma elevação da
temperatura no interior da câmara de secagem, com consequente elevação da energia
térmica, resultando em uma radiação com grandes comprimentos e pequenas frequências, o
que consequentemente leva a radiação a ficar retida no interior da câmara de secagem,
promovendo um “efeito estufa” (SILVA, 2005).
Este efeito pode ser grandemente favorecido pela pintura da superfície absorvedora
com tinta preto fosco (GOMES, 2007). A construção da caixa do secador é em formato de
uma caixa retangular, por cima da estrutura é colocado um vidro transparente e na parte
frontal da estrutura da caixa uma entrada de ar frio e na parte posterior na outra
extremidade uma saída para expulsar o ar quente e úmido.
Segundo MELONI (2005), faz-se necessário o fornecimento de calor, para que seja
evaporada a umidade do produto e um meio de transporte para remover o vapor de água
que se forma na superfície do produto a ser secado. A maneira para se realizar a circulação
de ar, da câmara de secagem é transportar a umidade removida do produto para o meio
ambiente. Este processo pode ser realizado por convecção natural ou através de um
soprador ou ventilador o que caracteriza a convecção forçada.
No trabalho desenvolvido por MATTHEW (2001) é citado que o sistema solar pode
ser constituído com três componentes principais: a câmara de secagem onde o alimento é
processado; o coletor solar utilizado para aquecer o ar que constitui o fluido responsável
31

pela secagem; e um componente diferente chamado de exaustor (airflow), a sua função é a


de facilitar e direcionar a circulação de ar no interior da câmara de secagem, a atuação
ocorre em forma de arrasto do fluido carregado de umidade para a saída superior do
secador.
O secador solar por secagem indireta tem a câmara de secagem apresentando uma
vantagem em relação a outros sistemas solares abertos, pois a estrutura construtiva ser de
maneira fechada permite a proteção do alimento de animais, insetos, sujeiras e da chuva,
além de permitir um eficiente sistema de isolamento com materiais de baixíssimo custo,
como exemplo da serragem da madeira, que melhora em muito a eficiência térmica.
A técnica da secagem natural, o ar entra no coletor em condições normais, depois
segue aquecido pela placa absorvedora e vai para a câmara de secagem onde é responsável
pela retirada da umidade do produto a ser secado. Na convecção forçada é adicionado um
ventilador e ou um soprador que é responsável por proporcionar uma maior vazão de ar
para a câmara de secagem.
O rendimento térmico de um secador é representado por ηt e pode ser calculado pela
seguinte equação: ηt = ṁCp.∆T/I.A, sendo que ηt = Energia útil / Energia incidente. Onde:

ṁ= vazão mássica em Kg/s;


Cp= calor específico, J/Kg.K;
∆T=variação de temperatura, valor final menos o valor inicial, K;
I=energia solar incidente, W/ m2
A=área do coletor, m2

2.6 - Secagem de Alimentos Utilizando Secador Solar

O secador solar é o equipamento utilizado para realizar a extração da água dos


produtos através das aplicações do calor, para realizar a secagem, inclusive alguns dos
melhores e mais eficientes modelos já estão sendo industrializados. A técnica da secagem
ou da desidratação dos alimentos, tem a finalidade de aumentar o tempo de conservação em
relação aos produtos in natura, esse procedimento, porém apresenta concentração do sabor
32

e do seu valor nutritivo, além de apresentar facilidade de transporte e de manipulação no


preparo dos produtos. (CRUZ, 1990).
Algumas cidades no interior do semiárido apresentam sua exploração agrícola
bastante diversificada com grande vocação para a agricultura de subsistência com a venda
dos excedentes de produção, dentre as quais as frutas de época: umbu, cajá, caju, jaca,
mangas, etc.
Entretanto, a experiência mostra que nem toda a produção colhida encontra comércio
para ser vendida, devido principalmente a vulnerabilidade dos produtos, os quais são
bastante perecíveis ou pelo fato das propriedades rurais estarem situadas distantes dos
centros de consumo. Ao serem aplicadas as técnicas de secagem e de desidratação, as quais
representam um prévio tratamento dispensado para a produção, pode-se agregar valor e
minimizar as perdas, algumas das melhores técnicas encontram aplicações industrializadas
há bastante tempo, (CRUZ,1990).
Como principal resultado para o processo da desidratação dos alimentos, os mesmos
podem ser transformados em pó e adicionados a sopas, caldos e mingaus. Em sua forma
granulada, podem ser cozidos junto com arroz ou outros cereais. Em pó ou pequenos
pedaços, podem ser usados como ingredientes de pães, bolos e biscoitos. As frutas
desidratadas podem ser ingeridas em pedaços, cruas.
Uma das principais vantagens para essas técnicas estão na obtenção dos frutos
desidratados que bem acondicionados e embalados, possibilitará aumento da renda das
famílias dos agricultores. O que leva a um melhor aproveitamento da produção,
possibilitando o comércio dos produtos em período fora das safras e facilidade de
estocagem, contribuindo diretamente para o aumento da produtividade e dos lucros.

2.7 - O Coco Licuri

O licuri (Syagrus coronata) (Figura 2.1) é uma palmeira bem adaptada às regiões
secas e áridas da caatinga e possui grande potencial alimentício, ornamental e forrageiro;
sendo o seu manejo de grande importância para essas regiões, visto que as mesmas
apresentam limitações para a agricultura. No entanto, essa cultura ainda se encontra sendo
33

explorada de forma extrativista. A palmeira do licuri possui tronco ereto, com comprimento
situado na faixa que vai dos 6 aos 10 metros de altura, apresenta cerca de 20 centímetros de
diâmetro, profundamente anelado. As folhas, geralmente em fileiras de cinco, ocorrem no
ápice do tronco, formando uma “coroa foliar”, daí o epíteto específico coronata. As bases
dos pecíolos são persistentes (BONDAR, 1938; NOBLICK, 1991). Há emissão de uma
folha por mês. A folha possui em média 186 pinas.
O florescimento acontece entre os meses de dezembro e de março. A inflorescência
tem um comprimento de 60,3 cm e leva dois meses para o seu desenvolvimento total
(Figura 2.2 D). Os ramos basais têm 28,5 cm de comprimento e os apicais
aproximadamente 7,2 cm de comprimento. As flores masculinas medem entre 15 e 17 mm
de comprimento e são amarelas e as femininas medem entre 10 e 12 mm de comprimento e
tem coloração esbranquiçada. A proporção entre as flores masculina/feminina é de
10587,8/1327,2. Os frutos são tipo drupa com uma média de 1,9 cm de comprimento e 2,3
cm de diâmetro. Levam cerca de dois meses para amadurecerem e são amarelos quando
maduros (CRESPALDI et al, 2006).

Figura 2.1- Palmeira Licuri – Caldeirão Grande – BA, 2006.


(Fotografia - Rosilã Jacques Pereira)
Um cacho com frutos tem em média cerca de 6,26 kg e possui cerca de 1070 frutos. A
polpa do fruto tem aproximadamente 4,26 g e a amêndoa 0,66 g e a proporção
polpa/amêndoa é de 6,26 (CRESPALDI et al, 2006).
Enquanto verdes, os frutos possuem o endosperma líquido que se torna sólido no
34

processo de amadurecimento, dando origem à amêndoa. Quando maduros estes apresentam


uma coloração que varia do amarelo-claro a para a cor laranja, dependendo não apenas do
seu estágio de maturação, mas também dos indivíduos considerados (Figura 2.2. B).

A B C D
Figura 2.2 - Palmeira Licuri: Caule (A), Frutos (B), Folha (C), e Inflorescência (D).

A palmeira frutifica o ano todo, mas apresenta um pico para sua frutificação entre os
meses de junho e julho (CRESPALDI, et al., 2006). A distribuição da espécie vai do Norte
de Minas Gerais, porção oriental e central da Bahia até o Sul de Pernambuco, incluindo os
estados de Sergipe e Alagoas (NOBLICK, 1991)
As sinonímias listadas para S. coronata estão em Noblick (1986, 1991): Cocos
coronata Mart., 1826; Cocos coronata var. todari Beccari, 1887; Cocos botryophora var.
ensifolia Drude, 1881; Cocos quinquefaria Barb. Rodr, 1900; Licuri é o nome mais
utilizado no semiárido baiano, entretanto, outros nomes também designam a mesma
espécie: ouricuri, aricuri, nicuri, coqueiro dicori, coqueiro cabeçudo, alicuri e baba-de-boi.
(BONDAR,1942).O licuri embora não se saiba, até então, qual o grau de ameaça do licuri,
em 1996 a IUCN já recomendava estudos ecológicos e biológicos que permitissem o
manejo sustentável da palmeira e ações de conservação diante da crescente pressão e erosão
genética sofrida a qual esta espécie está submetida (JOHNSON, 1996). O coco licuri in
natura apresenta uma polpa agridoce, endocarpo e amêndoa conforme mostra a Figura 2.3 .
35

Figura 2.3- Licuri in natura: amêndoa (1), polpa (2),.

A propagação da palmeira licuri, ocorre como a grande maioria das espécies de


Arecaceae, de forma sexuada, por sementes. A germinação é um processo lento, que pode
demorar quase um ano (LORENZI, 2000). Em condições de viveiro, registraram uma
grande variação no número de dias necessários para germinação das sementes situando se
em uma faixa que vai de 42 a 334 dias (MATTHES e CASTRO,1987). Este fenômeno é
comum para várias espécies de palmeiras, as quais apresentam dificuldade para germinar,
mesmo quando suas sementes são submetidas a condições adequadas (BOVI e CARDOSO,
1978; BROSCHAT e DONSELMAN, 1988; CUNHA e JARDIM, 1995; TOMLINSON,
1990). Esta demora e desuniformidade da germinação podem ser explicadas por obstáculos
mecânicos como a espessura da testa ou do endocarpo, que dificultam a penetração de água
no embrião (TOMLINSON, 1990; BOVI e CARDOSO 1976; CARVALHO et al., 2005).
Rodrigues et al. (2006) estudando A viabilidade de sementes de licuri durante o
armazenamento, sugerem que as mesmas sejam recalcitrantes, ou seja, altamente sensíveis
ao dessecamento. Apesar disto, algumas sementes de licuri conseguem atravessar o período
de seca até o início da estação chuvosa para germinar, embora esta taxa de germinação seja
baixa (CREPALDI, 2001).
O cultivo de embriões in vitro tem se mostrado uma técnica promissora para
propagação de espécies de palmeiras em menor espaço de tempo, superando o problema do
lento processo de germinação da semente . O transplante de plantas semi-adultas ou adultas
também poderia ser empregado como alternativa de propagação e manejo do licuri,
36

particularmente em áreas de cultivo com grande adensamento de palmeiras. Áreas com esta
característica possuem uso limitado para a agricultura tradicional e a redução do
adensamento de licurizeiros pode ser uma alternativa para viabilizar a agricultura, sem que
palmeiras sejam sacrificadas, mas transplantadas para outras áreas. Um licurizeiro adulto ao
ser retirado da caatinga e transplantado em outro local sobrevive naturalmente, como pode
ser observado em diversos povoados no interior baiano, em que, por ocasião de festas, se
transplantam licurizeiros para ornamentação das ruas, os quais, ao serem deixados no novo
lugar, continuam vegetando e produzindo frutos. A figura 2.4 mostra a germinação e muda
da palmeira do licuri (CARVALHO et al,2005).

A B
Figura 2.4 – Germinação (A) e muda (B), do Licuri.

Estudos a respeito da interação de vertebrados e palmeiras ainda são escassos, com


exceção do palmito juçara (Euterpe edulis Mart.)
Dentre os estudos realizados com o licurizeiro, destacam-se os relatos do
comportamento alimentar da arara-azul-de-lear por (BRANDT e MACHADO, 1990).
Quinze espécies de vertebrados, distribuídos entre répteis, aves e mamíferos,
alimentam-se dos frutos da palmeira ou de invertebrados associados. De acordo com os
diversos tipos de interação ecológica citados , acredita-se que possam existir quatro tipos de
interação dos organismos associados ao licurizeiro. A palmeira do licuri é uma das
principais fontes de alimento para vários animais silvestres como a arara-azul-de-lear,
Anodorhynchus leari que está ameaçado de extinção. Sua sobrevivência está intimamente
37

ligada à existência do licuri que também serve como fonte de alimentação a animais
domésticos como bovinos e caprinos. A Figura 2.5 mostra a espécie alimentando-se dos
frutos dos licuri.

Figura 2.5 - Arara-azul-de-lear alimentando-se de Licuri.

A otimização do uso dessa palmeira, certamente contribuirá para a melhoria da


qualidade de vida das populações da região, possibilitando a utilização dos seus frutos na
alimentação humana, pois estes apresentam um bom valor nutricional, como também para
aumentar o desenvolvimento socioeconômico do semiárido, gerando renda para a
população através da utilização sustentável do licuri. O licurizeiro apresenta grande
importância nos municípios onde se encontra, pois representa uma fonte de renda para as
populações, no entanto a sua exploração ainda se dá de forma extrativista. Das suas folhas,
são confeccionados sacolas, chapéus, vassouras, espanadores, etc. Estas também são usadas
para retirada da cera do licuri que durante algumas décadas atrais era utilizada na
fabricação de papel carbono, graxa para sapatos, móveis e pintura de automóveis, sendo
considerada equivalente a da carnaubeira. As amêndoas do licuri são consumidas in natura
seca ou cozidas. Também são utilizadas na produção de cocadas, rosários, licores, e do leite
de licuri, muito utilizado na culinária baiana. O óleo constitui cerca de 55 a 61% da
amêndoa é usado em culinária da população do semi-árido, análogo ao coqueiro da praia
(Cocus nucifera, Lin). Industrialmente é utilizado na produção de saponáceos (sabão em pó,
38

detergentes, sabão em barra e sabonetes finos) considerados de alta qualidade.Do resíduo


obtido com a extração do óleo, origina-se uma torta também que serve como alimento para
animais, esta torta apresenta 41% de substâncias não azotadas, 19% de proteínas, 16% de
celulose e 11% a 12% de óleo. Representa ótima ração adicional para vacas leiteiras, para o
desenvolvimento precoce de animais de corte e também para reprodutores.
A análise da composição nutricional do fruto do licuri (CREPALDI et al., 2001)
mostrou que o fruto é bastante calórico (108,6 Kcal/100g, polpa e 527,3 Kcal/100g,
amêndoa), tendo em média 4,5% de lipídeos na polpa e 49,2% na amêndoa. O teor de
proteínas é de 3,2% na polpa e 11,5 % na amêndoa. Os carboidratos totais predominam na
polpa (13,2%), sendo que a amêndoa possui 9,7%. Também na polpa há predomínio de
fibra alimentar total (37,5%) e na amêndoa 22,8%. Em estudo posterior efetuou-se a
caracterização do óleo de licuri por cromatografia liquida de alta eficiência HPLC e por
cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa CG/EM assim como dos seus
produtos usando lípases (SEGAL).
Os macro e micronutrientes presente na polpa e amêndoa foram estudados mostrando
a presença de cálcio e magnésio na polpa e na amêndoa além destes minerais também foi
encontrado zinco, cobre e selênio (DUARTE 2006).
Em virtude do grande potencial nutricional do licuri diversos produtos alimentícios
foram desenvolvidos barras de cereais, conservas, sorvetes, leite de coco licuri e diversas
outras iguarias desde 2006 (MEC,2006) formando um mix de produtos da alimentação, que
pode ser mostrado na Figura 2.6 que mostra a Cadeia produtiva do licuri elaborada a partir
do desenvolvimento do projeto Licuri pelo IFBA.
39

Figura 2.6 - Cadeia Produtiva do Licuri, GPPQ, 2011.

O maior gargalo tecnológico da cadeia produtiva do licuri para produção de alimentos


é representado pela colheita e pelas operações pós-colheita como secagem, armazenamento
e manutenção de qualidade. Assim foi implementado pelo IFBA o programa colhedoras de
licuri, (Figura 2.7), uma vez que o licuri é um fruto deve ser colhido e não catado no meio
de estrumes de animais ruminantes e a avaliação de tecnologias de pós-colheita próprias
para o licuri, a qual esta dissertação colabora com o estudo da secagem em secador solar,
que podem ser utilizados principalmente para unidades de pequena e média escala. Nestas
propriedades normalmente os grãos são secados nos terreiros em condições alta
vulnerabilidade, ficando à mercê das condições ambientais. na obtenção de amêndoas do
licuri com segurança alimentar em virtude da forma rudimentar iniciaram um estudo para o
uso do licuri na fabricação de devido o seu grande potencial para alimentação humana, essa
pesquisa foi concluída com resultados positivos o que fortalece a urgência de estudos sobre
essa cultura.
40

Figura 2.7 - Mulher “colhendo” Licuri, Caldeirão Grande – BA.


(Fotografias - Rosilã Jacques Pereira)

2.8 – Caldeirão Grande: O Campo de Aplicação da Tecnologia Desenvolvida

Integrante do Território de Identidade Piemonte Norte do Itapicuru, o município de


Caldeirão Grande dista 333 Km de sua capital, Salvador, possui, conforme o IBGE, uma
população estimada em 13.864 habitantes, sendo que, aproximadamente, 32% deste total
são habitantes da zona urbana e 68% da zona rural.
A altitude do município é de 400 metros, área geográfica de 495,84 km², densidade
demográfica de 22,99 h/km². O município de Caldeirão Grande limita-se com Ponto Novo,
Caém e Saúde. Possui um clima quente a seco, semiárido com estiagens prolongadas. O
solo é variado, com a vegetação é caatinga e cerrado, tendo sua pluviosidade media anual
de 700 a 900 mm/ano, com período chuvoso inverno de abril a junho. Localizado ao
extremo sul do Território de Identidade do Piemonte Norte do Itapicuru- que está inserido
entre outros dois Territórios de Identidade – Piemonte de Diamantina e Sisal, onde, juntos,
perfazem mais de 60% da produção de licuri da Bahia (SEI, 2003) – o município de
Caldeirão Grande é um dos quatro maiores municípios produtores de licuri da Bahia e
aquele para o qual o extrativismo do fruto tem maior importância econômica e social.
41

Mapa do Território de Identidade


Mapa do Município de Caldeirão
Piemonte Norte do Itapicuru
Grande

Fonte: tipni.blogspot.com (2011) Fonte: IBGE (2011)

Figura 2.8 - Território de Identidade Piemonte Norte do Itapicuru de Caldeirão Grande.

Existem, em Caldeirão Grande, cerca de 970 famílias extrativistas cadastradas que


mantêm vivas as práticas e saberes referentes ao extrativismo e ao uso do licuri, condições
fundamentais para o desenvolvimento de Tecnologia Social. A média total de anos de
exploração da atividade de extrativismo do licuri por família, conforme cadastro, é de 28,6
(anos), onde 44% das famílias cadastradas exploram somente sua propriedade e 20% catam
o licuri como meeiros em propriedades vizinhas. É o município que possui o número mais
elevado no tocante à produtividade na extração vegetal do licuri, além disso, é o município
que possui uma mata de licurizeiros auferida em torno de mais de 15 milhões de palmeiras,
cujo aproveitamento no tocante à economia e processo produtivo não alcança menos de
0,1% de seu potencial.
Caldeirão Grande, juntamente com Jacobina, Cansanção e Monte Santo são os 4
maiores produtores de licuri da Bahia, correspondendo à praticamente metade da produção
do Estado. Destarte, o papel preponderante do licuri para o município de Caldeirão Grande
pode ser ratificada na visualização da relação produção/área territorial que alcança 1,0
t/km2 enquanto na relação produção/habitante chega a 47 kg/hab., de 3 a até 10 vezes
superior às dos outros municípios.
42

Em Caldeirão Grande a prática do extrativismo faz parte da base econômica das


famílias e da cultura local. Atualmente o extrativismo do licuri é praticado basicamente por
mulheres e crianças. Os homens somente em períodos de falta de trabalho vão à colheita.
No entanto, é comum no turno da noite toda a família, inclusive os homens, se ocuparem na
debulha.
A secagem do licuri em Caldeirão Grande ocorre de forma radicional já bastante
difundida pela comunidade rural, onde o licurí é secado em terreno aberto sobre o solo. A
maneira tradicional para a secagem normalmente desenvolvida pelas comunidades
apresenta muitas perdas para o processo. A primeira está no fato da umidade do terreno
atingir os frutos, o que contribui para um alongamento do tempo de secagem. A outra
forma de perda encontra-se no ataque da praga, denominada pela comunidade como morotó
do licurí. O agente biológico da praga - o besouro do coco - depositam os seus ovos sobre o
pedúnculo das flores, no período de germinação da planta, as larvas introduzem-se para o
interior dos pequenos cocos. No período de maturação do cacho, as larvas passam a
estragar muitos frutos, arruinando qualquer possibilidade de utilização deste licurí.
A outra grande perda para esse método de secagem tradicional encontra-se no
ataque de animais como: bois, porcos, cabritos e galinhas que se alimentam dos frutos
expostos para serem secados diretamente sobre o terreno, conforme mostra a Figura 2.9.

Figura 2.9. Desvantagem da secagem tradicional do licuri.


43

CAPÍTULO 3 - MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 - Coleta e Preparo do Fruto do Licuri

A coleta do material, diretamente nos licurizeiros, foi realizada no município de


Caldeirão Grande no povoado de Castelo, situado na região do Centro-Norte Baiano,
11°01’ 12” S e 40°18’ 10, localidade totalmente inserida no polígono das secas.
As amostras de licuri com o fruto maduro, com um dia de coletado, foram retiradas
do cacho, selecionada de acordo com o grau de maturação, coloração da casca e ausência
de danos físicos, lavados, enxugadas com papel tolha, pesadas. As amostras, assim tratadas,
foram submetidas aos processos de secagem. Para cada método de secagem foi utilizada
uma carga de licuri variando entre 4 a 6 quilos. Na figura 3.1 vê-se uma coletadora com
frutos licuri.

Figura 3.1- Agricultora colhendo Licuri.


(Fotografia - Rosilã Jacques Pereira)
44

3.2 - Secagem Modelo Tradicional - Secagem ao Ar Livre

A secagem ao ar livre foi realizada no pátio do Laboratório de Tecnologia em


Alimentos (LABTECA) do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia da Bahia
IFBA, localizado na cidade de Simões Filho, BA a uma distância de 32 km de sua capital.
O local escolhido era plano, com boa drenagem e sem obstáculos à ventilação e próximo do
local em que foram instalados os protótipos dos secadores solares, de modo a evitar
variações climáticas para os diferentes tipos de secagem.

3.3 - Secagem Solar de Exposição Direta Com Convecção Natural.

O modelo do secador utilizado é simplificado, haja vista a motivação da pesquisa,


que é a reaplicação em comunidades de agricultores rurais, extrativistas do licuri.
O protótipo foi construído com um painel de fibra de madeira, MDF (Fibra de
Média Densidade), atendendo aos critérios de baixo preço, retidão nas tábuas cortadas em
formato retangular e por facilitar a montagem do modelo com a utilização de parafusos na
fixação do conjunto. As dimensões do secador foram: 1 m de largura, 1,20 m de
comprimento e altura de 0,40 m. A área externa coletora foi recoberta por uma fina lamina
de vidro transparente de 4 mm, com máximo grau de transparência. Esta medida atendeu
adequadamente aos critérios de resistência e durabilidade para aplicações móveis. A
estrutura retangular da caixa foi apoiada sobre quatro pés de madeira, com tamanhos
calculados de tal maneira que o ângulo de inclinação do secador fosse obtido com 22 graus,
pois este valor corresponde a latitude da cidade acrescido de 10 graus, pois o município de
Simões Filho, BA apresenta sua latitude 12° 47′ 8″ graus, o secador foi posicionado com
sua face frontal para a direção norte, sendo a orientação obtida com a utilização de uma
bússola, Meloni, 2004.
A câmara de secagem possui características de construção para disponibilizar um
correto isolamento, as paredes da caixa foram pintadas com uma tinta preta fosca,
formando uma grande área interna absorvedora. Essa estratégia tem como objetivo, realizar
o aproveitamento máximo do efeito estufa, que se forma no interior da câmara, em virtude
45

da mudança sofrida pelo comprimento de onda dos raios incidentes que ao passarem pelo
vidro são desviados no interior da câmara, atingindo a superfície preta do absorvedor e
permanecendo no interior dela, contribuindo para elevar a temperatura que pode ser
atingida no interior da câmara, o que contribui diretamente para a otimização do processo
de secagem.
O modelo foi construído, tendo-se o cuidado para eliminar as pequenas frestas
presentes nos cantos, da caixa retangular, fazendo uso do material lã de vidro e cola de
silicone. O modelo apresenta uma pequena porta, presa com dobradiças, a qual facilita o
carregamento e descarregamento do produto no interior do secador. As extremidades do
secador são providas de duas entradas e saídas de ar, fechadas com telas de isolamento, as
quais possibilitam a filtragem do ar e não permitem a entrada de insetos e pássaros. O ar ao
entrar no interior da câmara é aquecido, por uma corrente convectiva de ar ascendente, a
qual promove o arrastamento da umidade que é retirada dos frutos do licurí.

Figura 3.2 - Secagem de exposição direta com convecção natural. Caldeirão Grande -Ba.
46

3.4 - Sistema de Secagem Solar de Exposição Direta Com Convecção Forçada.

A construção do modelo de secador solar de secagem indireta com convecção


forçada foi construído baseando-se no modelo do secador do pedúnculo de caju,
desenvolvido pela UFRN.
O protótipo foi projetado e composto de duas partes: uma câmara de pré-secagem e
a câmara de secagem indireta, a qual possui formato retangular, as duas partes são
interligadas por um duto de ventilação de PVC carbonizado com dimensão de seis
polegadas. O material usado para construção do sistema de secagem foi com chapas de aço
galvanizado com oito mm de espessura, (Figura 3.3).
A câmara de pré-secagem possui as seguintes dimensões: 1,40 m de comprimento,
0,80 largura e 0,15 m de altura, sendo recoberta por uma lâmina de vidro transparente de 6
mm, o sistema de ventilação é provido com aberturas frontais e traseiras de 3 mm.
A câmara de secagem indireta possui as seguintes dimensões: comprimento externo
de 1,0 m, largura externa de 0,80 m, altura externa de 1,0 m, comprimento interno de 0,95
m, 0,75 m largura interna, altura interna de 0,75m com volume interno de 0,72 m3. Esta
câmara de secagem indireta possui uma porta lateral fixada por dobradiças e parafusos com
porcas do mesmo material. As bandejas para secagem em número de cinco, foram
fabricadas com chapa de duralumínio sendo vazadas com formato de tela com orifícios de
1,0 cm de raio, objetivando a circulação do ar aquecido no interior da câmara.
O isolamento interno e externo foi provido com tinta preto fosca, sendo secado por
período de três dias ao sol, a impermeabilização da parte interna foi melhorada com mistura
de cola de madeira, silicone e lã de vidro. O sistema de convecção forcada foi realizado
com um exaustor eólico o qual possui duas hastes acopladas, para promover a circulação
forçada do ar.
47

Figura 3.3- Sistema de secagem indireta com convecção forçada, instalado no LABTECA.

O secador solar recebe a radiação solar diretamente do sol e os raios penetram no


interior da câmara de secagem, passando pela lâmina de vidro, sendo que uma parte menor
da radiação é refletida e reenviada para o meio exterior outra parte com maior energia é
desviada em relação ao seu ângulo de incidência pela coloração preta absorvedora
permanecendo no interior da câmara de secagem, formando um processo conhecido como
“efeito estufa”.
As pequenas aberturas de ventilação se encarregam de arrastar o ar aquecido da
câmara para o exterior, aplicando um gradiente de temperatura sobre os frutos realizando a
secagem, outra parte da radiação é perdida através da chapa de metal ou de madeira que
forma o corpo do secador para a atmosfera, representando as perdas térmicas do secador.
O parâmetro que engloba todas essas perdas é o Coeficiente Global de Perdas
(Uloss), que pode ser determinado por três métodos distintos, quais são: Método da Perda
Térmica, Método das Trocas Térmicas e Método da Inversão de Fluxo (DUFFIE &
BECKMAN, 1991, INCROPERA, 2003).
48

Nesta dissertação foi utilizado o método das perdas térmicas, que consiste na
determinação do Coeficiente Global de Perda Térmica (Uloss), através do conhecimento dos
parâmetros: potência absorvida pelo secador (Pabs.),dada em watts; potência transferida ao
fluido de trabalho (Pu), dada em watts; transmissividade do vidro (τv); absortividade da
placa(αp); radiação solar global (I), dada em KW/m2; temperatura média da placa (Tmp) e
temperatura ambiente (Ta); da área útil do coletor (A), dado em m2 ; da vazão mássica do
fluido ( m ), dado em kg; do calor específico do fluido (Cp) e da diferença de temperatura
do fluido obtida no sistema (∆T), conforme as equações (3.1) a (3.4).

Pabs = τv. αp. I. A (3.1)


Pu=m.Cp.∆T/∆t (3.2)
Pp=Pabs - Pu (3.3)
ηt= Pu/A.I (4.4)

3.5 - Realização dos Experimentos

Os experimentos para a secagem dos frutos do licurí foram realizados através de três
sistemas de secagem distintos e comparativos, entre si, visando atestar a qualidade para os
protótipos desenvolvidos. Os experimentos foram realizados entre os dias 23 a 27 de março
de 2009, o tempo apresentava-se bom, com sol e algumas nuvens durante o dia, com a
temperatura variando entre 38 e 42 °C e com média na faixa dos 34,5 °C. A umidade
relativa do ar ficou variando numa faixa entre 95 e 99 %.
Os experimentos foram realizados com uma carga inicial de licuri, variando na faixa
de 4 a 6 kg sendo colocados para secar nas câmaras dos secadores solares de exposição
direta com convecção natural e forçada de ar, também sobre a superfície de uma lona
plástica em um terreno ao lado dos secadores. Todo esse procedimento teve com objetivo a
obtenção das testemunhas, ambos os processo ocorreram na área externa do Laboratório de
Tecnologia de Alimentos (LABTECA) do Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia da Bahia IFBA, situado na cidade de Simões Filho que fica a cerca de 32 km da
capital, Salvador, Bahia.
49

As amostras, foram carregadas no período da manhã do dia posterior a coleta e


retiradas à tarde por volta das 16 hs. As medidas da temperatura do ambiente e no interior
da câmara de secagem do secador solar de exposição direta foram realizadas a cada 30
minutos. O termômetro utilizado para realizar as medições de temperatura é o Homis
modelo 6231, infravermelho sem contato, cujo sistema ótico coleta as energias emitidas,
refletidas e transmitidas, que são concentradas sobre um detector, convertendo a
informação numa indicação de temperatura mostrada em display. A sua faixa de
temperatura é de -18 a 260 °C com tempo de resposta de 500 ms.
Os frutos foram expostos à radiação solar por um período de 8 horas durante cinco
dias e depois de secos, despolpados para em seguida serem quebrados em uma maquina de
quebra do licuri desenvolvida na oficina de mecânica do IFBA. Após a quebra do
endocarpo, as amêndoas foram separadas das cascas, higienizadas e condicionadas em saco
à – 4 °C, para posterior análise físico-química das amêndoas e do óleo obtido pela extração
a frio das amêndoas. Para o acompanhamento da perda da umidade, durante os testes de
secagem, foram realizadas a cada dia, pesagens do produto no inicio e no final do dia
durante os cinco dias de experimento.
Antes do início de cada secagem, foram retiradas amostras do fruto do licuri para
determinação do teor de umidade inicial, utilizando o método descrito pela AOAC (1992),
onde cinco amostras de licuri foram levadas à estufa a uma temperatura de 100 C por 3 h.
Todas as medidas de massa foram feitas em balança analítica marca SARTORI com
precisão de leitura de 0,0001 g.
Esta metodologia foi reaplicada na Cidade de Caldeirão Grande – BA, no período
15 a 19 de junho de 2009.

3.6 - Metodologia das Análises


3.6.1 - Análises Físico - Químicas

A caracterização físico química do fruto do licuri “in natura” e as amêndoas


desidratadas e do óleo obtido por extração a frio, foi realizado para as seguintes análises:
umidade, índice de acidez,índice de reflação e índice de peróxido.
50

As análises de umidade foram realizadas, em triplicata, segundo método direto em


estufa à 105°C durante 24 horas que é o método oficial do Ministério da Agricultura
(BRASIL, 2009) e os resultados foram expressos em porcentagem de umidade em base
úmida. Os teores de óleo foram determinados em aparelho Soxhlet, de acordo com o
método n° 30.25 da AACC (1999), utilizando-se como solvente o éter etílico, por 6 horas.
Os resultados foram expressos em % de óleo, em base seca. A determinação do índice de
acidez do óleo foi realizada de acordo com o método nº 939.05 da AOAC (2000). Os
resultados das análises, realizadas em duplicatas, foram expressos em mg de KOH. g-1 de
óleo.
Os índices de acidez e de peróxido foram determinados de acordo com as
metodologias descritas pela AOCS, sendo o Indicie de Acidez calculado com base no ácido
láurico. O indice de refração foi determinado segundo a metodologia descrita pelo instituto
ADOLFO LUTZ, empregando um refratômetro de Abbé, da marca KRUSS, porém a uma
temperatura de analise de 20,0 °C, sendo seu valor corrigido para 40 °C. A densidade foi
determinada empregando um densímetro da marca ANATON PAAR, tipo DMA 35N, a
uma temperatura de 26 °C. A viscosidade foi determinada a 40 °C, em um viscosímetro da
marca SCHOTT, modelo CT52, empregando um capilar de 150 mm.

3.6.2 - Extração do Óleo das Amêndoas do Licuri

Para a extração do óleo presente nas amêndoas de licuri secas no secador solar, foi
utilizada uma prensa mecânica do tipo PITECA.

3.6.3 - Análise Sensorial

As avaliações sensoriais foram realizadas no Laboratório de Análise Sensorial do


LABTECA do IFBA. Os atributos sensoriais quanto à impressão global foram avaliados
por 100 consumidores utilizando escala hedônica de nove pontos, onde a nota 1
corresponde ao termo hedônico desgostei extremamente e a nota 9 corresponde ao termo
hedônico gostei extremamente. Todos os consumidores provaram todas as amostras de
51

todos os tratamentos da fruta desidratada. Os testes foram conduzidos em cabines


individuais, sob luz branca. As amostras foram codificadas com números de três dígitos e
servidas de forma mônadica, à temperatura ambiente, em copos de 50 mL contendo cerca
de 1 g das amêndoas de licuri seca, cortados em cubos.
Os dados da avaliação sensorial foram submetidos à análise de variância (ANOVA),
teste de comparação de médias (teste de tukey) e distribuição de frequência, utilizando o
programa SAEG e Excel respectivamente.
52

CAPÍTULO 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os frutos do licuri ao serem colhidos e ou catados no campo possuem um alto teor de


umidade, fator este que é o principal responsável pela aderência da amêndoa no interior do
endocarpo, tornando assim a operação de extração das amêndoas uma atividade de grande
dificuldade. Durante o período de desenvolvimento da pesquisa, foi percebido que a forma
do fruto ser em elipsoide e sua distribuição randômica das amêndoas dentro do endocarpo
fazem com que qualquer processo de extração das amêndoas muito complicado.
A técnica de cortar em pequenos pedaços o côco do interior do casquilho torna-se um
processo de baixa eficiência, pois exige uma serie de operações que demandam intervalos
de tempo exageradamente grandes quando se considera aspectos de operação rentável para
a extração das amêndoas.
Esta é uma particular característica para se introduzir os sistemas de secagem solar de
exposição direta com convecção natural (SSSEDCN) e sistemas de secagem solar de
exposição indireta com convecção forçada de ar (SSSEICF) para realizar a secagem das
amêndoas, possibilitando assim que após a secagem as amêndoas se desprendam do
casquilho de forma natural, sem trabalho manual envolvido na tarefa.
Os frutos do licurí foram submetidos a três diferentes sistemas de secagem: A
secagem tradicional, SSSEDCN e SSSEICF, comparando-se e analisando-se os resultados
obtidos e validando o melhor desempenho entre essas três técnicas utilizadas. Os
experimentos práticos: tempo de secagem, temperatura medida na área externa do secador,
no interior da câmara de secagem, temperatura absorvida pela placa de metal, vidro,
madeira etc, coloração das amêndoas, tamanho, propriedades físicas e químicas,
possibilitaram o levantamento dos dados característicos para o perfil de desempenho de
cada tipo de secador solar.
Abaixo se apresentam uma série de tabelas e gráficos que permitem estabelecer um
comparativo entre as diferentes metodologias (tradicional, SSSEDCN e SSSEICF)
empregadas na secagem do coco licuri.
53

4.1 - Eficiência Térmica Para o Sistema de Secagem com Secador com Exposição
Direta com Convecção Natural (SSSEDCN)
Os frutos do licuri com polpa foram colocados no interior do secador solar de
exposição direta e convecção natural apresentando uma taxa inicial de umidade de 64,5 % e
após serem secados por um período de cinco dias a nova taxa encontrada foi de 6,3 %.
Quando se avaliou a metodologia da secagem tradicional os resultados encontrados foram:
a umidade variou de 66,4% para 36,00% após cinco dias secagem, obtendo se uma taxa de
5,8 % quando se realiza a secagem por período de tempo de quinze dias. Durante os
processos de secagem se observou que a coloração dos frutos passou de amarelado ouro
(devido a presença do betacaroteno na polpa do licuri) para marrom escuro (indicando que
foram perdidas as melhores características para o betacaroteno) no secador solar de
exposição direta e convecção natural, conforme vê-se na Figura 4.1.
A Figura 4.2 apresenta os resultados para a variação da temperatura nas amêndoas:
entre a superfície externa e a da câmara de secagem no interior do secador solar de
exposição direta e convecção natural, os dados servem para se determinar o desempenho
próprio do secador. Os parâmetros que melhor caracterizam a eficiência térmica de um
secador solar são: o seu rendimento térmico, a potencia perdida para o meio ambiente e o
coeficiente global de perdas.

A B
Figura 4.1- Fruto do licuri com polpa no primeiro (A) e quinto (B) dia de secagem.
54

Figura 4.2 – Temperatura no interior da camara de secagem no secador solar de


exposição direta e convecção natural durante a secagem do licurí com polpa.

Verifica-se uma coadunância no comportamento do sistema no que diz respeito a


variação de temperatura, para todos os dias analisados, o que mostra uma estabilidade do
sistema de secagem, com os picos de temperatura ocorrendo entre 12:00 h e 15:00 h.
A Tabela 4.1 demonstra os valores médios dos parâmetros encontrados para as
medidas realizadas utilizando a secagem com secador solar e convecção natural. As
amostras dos frutos do coco licurí encontravam-se no estado in natura, com a presença da
polpa ao serem inseridos na câmera de secagem.
55

Tabela 4.1- Relação entre a temperatura do ar de secagem e o tempo gasto no processo de


secagem natural

AMOSTRAS/DIAS 1° 2° 3° 4° 5°
Variação de
temperatura ∆T (ºC) 25,6 a 66 36 a 65 36 a 65 37 a 67 35 a 67
Massa inicial (Kg) 4,000 3,382 2,784 2,175 1,559
Massa final (Kg) 3,882 3,284 2,675 2,059 1,434
Tempo de
Secagem(h) 8,0 8,0 8,0 8,0 8,0

A análise dos resultados demonstrou uma perda de massa com valor significativo,
apresentando uma variação média de 113 gramas, esta redução mássica ocorrida nos frutos
é resultado do processo de secagem que ocorre no interior da câmara de secagem, devido
principalmente a presença da água na polpa dos frutos e ao efeito estufa que é criado na
câmara, atuando diretamente para a retirada do excesso de água.
As amostras retiradas da câmara durante os três primeiros dias, apresentaram
dificuldades para a quebra do endocarpo, sendo também observado que as amêndoas
ficaram presas no interior do casquilho, mostrando que o processo de secagem não estava
adequado.
Tendo o objetivo de efetuar a comparação entre os métodos de secagem, em um
mesmo período de tempo, outra amostra dos frutos foi submetido a secagem tradicional. Os
resultados mostraram uma menor redução de massa e mesmo após cinco dias de secagem,
as amêndoas ainda continuaram presas ao endocarpo dificultando a sua retirada.
Os frutos continuaram expostos ao processo de secagem tradicional até ao décimo
quinto dia, quando então as amêndoas apresentaram facilidade na retirada do casquilho,
sendo determinado o teor da umidade.
A Figura 4.3 apresenta o comparativo entre o sistema de secagem solar com
exposição direta e convecção natural com a secagem tradicional observando que
inicialmente um melhor desempenho para a secagem tradicional em virtude do alto teor de
56

umidade presente no fruto. O gráfico mostra que durante a secagem realizada pelos dois
sistemas, observa-se claramente a ocorrência de diferenças na taxa de secagem.

Figura 4.3 – Temperatura no interior da camara de secagem no secador solar


de exposição direta com convecção natural e a temperatura ambiente durante a secagem
do licurí com polpa.

As amostras colhidas durante os cinco dias de secagem, foram avaliados em relação


ao parâmetro umidade, apresentados na Tabela 4.2.
As amêndoas submetidas à secagem no secador solar de exposição direta e convecção
natural foram também avaliadas sensorialmente sendo observado que as amêndoas obtidas
após o quinto dia de secagem, apresentaram mudança sensorial no sabor, característica essa
que foi descrita pelos provadores como coco desidratado ou “coco velado”.
57

Tabela 4.2 - Teor de umidade para o licurí submetido a secagem no secador solar de
exposição direta e convecção natural

AMOSTRAS/DIA 1° 2° 3° 4° 5°
Umidade 64,3± 0,5 45,2 ±0,3 27,2 ±0,2 10,6± 0,3 6,3± 0,1

4.2 - Eficiência Térmica para o Sistema de Secagem Com Secador de Exposição


Indireta Com Convecção Forçada

secador solar de exposição indireta e com convecção forçada, em virtude das


amendoas obtidas no sistema de secagem com secador solar de convecção natural terem
apresentadas diferença para a análise sensorial, promovendo alteração de sabor que
costumeiramente o fruto é conhecido no meio rural.
Os resultados dos experimentos estão apresentados na Tabela 4.3 e demonstram
que houve uma perda de massa média das amostras de cerca de 82 gramas, este valor
confirma a eficiência do secador solar de exposição indireta e convecção forçada sendo
bastante parecido ao encontrado para os experimentos realizados nas dependências do
laboratório de alimentos em Simões Filho.

Tabela 4.3 - Dados de ensaio para o licurí com polpa em secagem forçada indireta.

AMOSTRAS/DIAS 1° 2° 3° 4° 5°

Temp. Inicial (ºC)


35,6 36,4 35,2 32,4 33,9
Temp. Final (ºC) 45,6 51,8 48,9 49,6 48,8
Massa inicial (Kg) 4,000 3,414 2,832 2,240 1,664
Massa final (Kg) 3,914 3,332 2,740 2,164 1,590
Tempo de
Secagem(h) 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00
58

A Figura 4.4 apresenta os resultados da variação da umidade dos frutos do licuri com
o tempo de secagem pelo processo tradicional e com o secador solar de exposição direta e
convecção forçada. Estes resultados mostram que o secador solar de exposição indireta e
convecção forçada atua diretamente para reduzir a quantidade de dias necessários para
realizar a secagem em comparação com a secagem tradicional realizada sobre um plástico
em terreno aberto.

Figura 4.4- Teor de umidade para o licuri submetido a secagem tradicional e


secagem em secador solar de convecção forçada.
59

Para comparar os sistemas de secagem utilizando o secador solar com convecção


natural e forçada do fruto do licuri, foram submetidas a secagem pelos dois processos. Os
resultados estão mostrados na Tabela 4.4.
Tabela 4.4 - Dados comparativos entre os sistemas de secagem com convecção natural e
com convecção forçada no processo de secagem do fruto licuri.
CONVECÇÃO NATURAL CONVECÇÃO FORÇADA
DIAS 1° 2° 3° 4° 5° 1° 2° 3° 4° 5°
Temp. 35,6 36,4 37 37,6 35,4 25 35 35,2 32,4 33,9
inicial (ºC)
Temp. final 45,6 51,8 68 68,2 67,6 67 69 48,9 49,6 48,8
(ºC)
Massa 4,000 3,414 2,784 2,175 1,559 4,000 3,382 2,832 2,240 1,664
inicial(Kg)
Massa 3,914 3,332 2,675 2,059 1,434 3,882 3,284 2,740 2,164 1,590
final(Kg)
Tempo de
Secagem (h) 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00 8,00

A apresentação do comportamento no secador solar de exposição indireta com


convecção forçada está mostrada na Figura 4.5, onde verifica-se, através dos valores
obtidos para a temperatura, uma maior eficácia deste com relação ao método tradicional.
60

Figura 4.5 – Temperatura no interior da camara de secagem no secador solar de


exposição indireta com convecção forçada e a temperatura no método tradicional durante
a secagem do licurí com polpa.

Os frutos de licurí submetidos a secagem utilizando o secador solar de exposição


indireta com convecção forçada diminuíram seu tamanho, mas não apresentou
escurecimento da polpa do fruto, e a coloração mostrava uma característica avermelhada
indicando que foram conservados os índices do betacaroteno. A análise sensorial realizada
após o quinto dia de secagem, para as amêndoas, permitiu observar que não houve alteração
sensorial no sabor já bastante conhecido e apreciado pelos sertanejos.
A Figura 4.6 compara os três sistemas de secagem para o fruto do licuri. Para a
secagem tradicional assim como para a secagem com convecção forçada, observa-se uma
similaridade nos perfis de temperatura. Já para o método com convecção natural, é possível
verificar um falta de homogeneidade na variação de temperatura, com valores maiores que
nos outros métodos, o qual está associado a exposição direta da radiação solar. Neste caso,
o pico de temperatura ocorreu após cinco horas de exposição, apresentando o valor de 67º
61

C e o sistema de secagem com exposição direta com convecção forçada só teve o seu
máximo de temperatura após sete horas de exposição solar atingindo um valor de 47 º C.
Utilizando o sistema de secagem de exposição indireta com convecção forçada,
verificou-se que o mesmo operava em condições mais uniformes, já que a diferença de
temperatura entre os compartimentos do secador foi de, no máximo, 5 ºC. Dado que o ar
tem uma baixa condutividade térmica, isto contribui para um aumento da resistência interna
à transferência de calor entre o coletor solar e o ar ambiente, com consequentemente
redução da eficiência do secador.

Figura 4.6– Comparativo das temperaturas no interior das camaras de secagem.

4.3 - Avaliação Físico - Química do Óleo Obtido Com Amêndoas Secadas Pelo
Sistema de Secagem Tradicional e Convecções Natural e Forçada

O óleo de licuri é muito utilizado no semiárido, pelas indústrias de sabão e de


cosméticos, sendo obtido através da prensagem das amêndoas de licuri com secagem em
62

terreiros. O produto obtido apresentou um alto valor de acidez o que desvaloriza


comercialmente o produto.
As amêndoas obtidas através dos três sistemas de secagem: secagem tradicional,
secagem com secador solar de exposição direta com convecção natural e exposição
indireta com convecção forçada, foram utilizadas para obtenção do óleo de licuri, através
do processo de extração a frio. Foram também analisados os parâmetros físico-químicos
para o óleo, tais como: índice de refração, índice de acidez, índice de peróxido e massa
específica. Os resultados das analises estão mostradas na Tabela 4.5.
As analises realizadas se fundamentaram nos parâmetros estipulados pela legislação
(ANVISA, 1999) e (BATISTA et al, 2011), onde pode-se observar que tanto para o óleo de
licuri obtido das amêndoas secadas pelos sistemas SSSEDCN e SSSEICF, que os valores
do índice de peróxido não ultrapassaram o limite estabelecido pela legislação, onde o
máximo permitido é de 10 meq/Kg.
Entretanto, pode-se observar que o óleo obtido das amêndoas de licuri oriundas dos
sistemas SSSEDCN e SSIEICF apresentou o índice de peróxido inferior, ao valor
encontrado para óleo de óleo de licuri obtido das amêndoas oriundas do sistema tradicional,
o que pode indicar um maior nível de oxidação para esse último, sabendo-se que os
peróxidos são os produtos primários da oxidação lipídica.
Em relação ao índice de refração, ambos os óleo apresentaram valores próximos do
limite estabelecido pela legislação vigente (ANVISA, 1999), em que o máximo permitido é
de 1,469, o que pode estar relacionado a uma maior presença de impurezas dispersas neste
óleo. As analises mostraram que os valores encontrados para o óleo obtido pelos diversos
processos de secagem, não diferiram significativamente.
63

Tabela 4.5 - Características físico-químicas do óleo de licuri obtido pelas amêndoas


prensadas à frio.
Parâmetros Secagem pelo Secagem pelo Secagem pelo
analisados sistema SSSEDCN SSSEDCF
tradicional
Índice de refração 1,4614 1,4617 1,4617
(40ºC)
Índice de acidez 7,32g/100g 0,515g/100g 0,504g/100g
(ácido láurico)
Índice de peróxido 0,7523 meq/Kg 0,423 meq/Kg 0,231meq/Kg
Densidade (26,6 ºC) 0,9201 0,9203g/cm3 0,9193 g/cm3
64

CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Os experimentos realizados utilizando os dois protótipos de secadores solar:


SSSEDCN (Sistema de Secagem Solar de Exposição Direta e Convecção Natural) e
SSSEDCF (Sistema de Secagem Solar de Exposição Direta e Convecção Forçada)
comparados quanto ao desempenho com a metodologia da secagem tradicional
apresentaram melhores resultados quanto à redução do tempo de secagem para o coco
licuri, o que contribui diretamente para eliminar as perdas que eram frequentemente
verificadas para a técnica de secagem tradicional.
O SSSEDCN que representa o modelo de secador fabricado com madeira, já está
sendo utilizado pelas comunidades extrativistas na secagem do coco licuri e está
contribuindo diretamente para elevar o valor comercial do produto secado.
Os experimentos e estudos realizados possibilitaram uma série de observações que
são apresentadas em forma de conclusões e sugestões, as quais representam proposta para a
construção de protótipos futuros, mais eficientes e competitivos em relação a esses modelos
construídos e testados anteriormente.

5.1 - CONCLUSÕES

1. Os frutos secados utilizando o SSSEDCF não apresentou alteração na coloração das


amêndoas. A coloração amarelo-ouro encontrada na polpa após o processo de secagem,
permite concluir que foram mantidos intrinsecamente íntegros os índices de beta
caroteno, o qual é um importante nutriente para o preparo de alimentos.
2. Os experimentos que utilizam o SSSEDCN para secagem dos frutos, demonstraram
que foram alteradas a coloração da polpa, já que se percebeu uma coloração de marrom
carbonizado após a conclusão da secagem representando que foram perdidos as
características intrínsecas dos frutos “in natura”.
3. A análise sensorial das amêndoas obtidas pela secagem do fruto no SSSEDCN mostrou
alteração no sabor. A condução da análise sensorial das amêndoas obtidas pela secagem
do fruto no SSSEDCF não mostrou alteração no sabor.
65

4. A extração de óleo a partir das e amêndoas secas pelos SSSEDCN e SSSEDCF


apresentaram resultado com modificação dos índices de acidez que anteriormente eram
de 14%, foram baixados para 0,5% gramas por 100 g. Os índices de refração do óleo
foram mantidos constantes, indicando que o produto analisado é o mesmo após a
secagem.
5. O protótipo SSSEDCN fabricado com madeira apesar de apresentar custo reduzido tem
a desvantagem da reduzida durabilidade, exigindo constantes manutenções e reposição
de peças para o modelo.
6. O protótipo SSSEDCF fabricado com chapas de aço apresentou ótimos resultados,
fácil montagem e a possibilidade de ser fabricado com tamanho maior o que permite a
secagem de uma carga maior do produto. A desvantagem do modelo é o seu custo
muito maior, devido ao material utilizado.

5.2 - SUGESTÃO

A partir das possibilidades de crescimento e replicação do projeto em outras


comunidades, sugere-se a construção de secadores solar feitos de alvenaria. Isto irá
minimizar os custos por secador ao longo do tempo, aumentar a carga de secagem, diminuir
o tempo de secagem e garantir qualidade aos produtos secos.
66

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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