Banca Avaliadora:
....................................................................................................................................
Prof. Dr ạ Cíntia Neves Barreto Carneiro (orientadora)
Doutora em Biociência e Biotecnologia/UENF
Instituto Federal Fluminense, Câmpus Campos-Centro
...................................................................................................................................
Prof ạ Ingrid Ribeiro da Gama Rangel (coorientadora)
Mestra em Pedagogia/ UENF
Idem
....................................................................................................................................
Prof. Dr ạ Valéria Marcelino Terra
Doutora em Ensino de Ciências/UENF
Idem
...................................................................................................................................
Prof. José Carlos Salomão
Bacharel em Química Industrial / FRNL
Idem
3
ação.
RESUMO
ABSTRACT
The chemical knowledge has been very fragmented and decontextualized. The modern society
aims the formation of a critical-reflective citizen, someone that has the capacity to reflect
about social changes that surrounds him. The distance between the content and the student’s
experience has been one of the big obstacles of the Chemical teaching. This work proposes
the using of the soap made by means of recycled cooking oil, in an environmental and social
slope, like a generator theme of the chemical knowledge in contraposition to the
decontextualization and fragmentation in the Chemical subject. A didactic material was
developed like a guide in order to break the contextualizations obstacle proposed by the books
that not always come to make a place in student’s life. The first class stage was the
application of an educational video reporting an environmental vision about cooking oil. An
experiment was also used to enrich and stimulate the students, about the approached topic,
developing the homemade soap production in a small scale with them. An important point
that was observed is that 50% of the students didn’t know the cooking oil reuse possibility.
After the experimental part performance, the students, in informal talk, showed themselves so
interested about developing an oil recycle project on the school, fact that confirms this
teaching method efficiency, because the students built their own knowledge, furthermore, an
influential and reflexive citizens consciousness was developed.
LISTAS DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11
1 TEMA GERADOR E A PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE...................................... 15
1.1 Tema gerador .......................................................................................................... 17
1. 2 Experimentação no ensino de química .................................................................. 24
1. 3 O que é contextualização? ...................................................................................... 25
2 SABÕES: ASPECTOS QUÍMICOS E AMBIENTAIS................................................. 28
2. 1 Origem do sabão .................................................................................................... 29
2. 2 Conceitos químicos relacionados ao tema sabão .................................................. 30
2.2.1 O que são óleos e gorduras .......................................................................... 30
2.2.2 O que é o sabão? ......................................................................................... 32
2.2.3 Saponificação: reação de produção de sabão ............................................... 33
2.2.4 Ação do sabão na limpeza ......................................................................... 34
2.2.5 Tensoatividade ............................................................................................. 36
2.2.6 Biodegradabilidade do sabão ....................................................................... 37
3 APLICAÇÃO ................................................................................................................ 39
3.1 Desenvolvimento e aplicação do material didático ................................................ 39
3.2 Análise dos dados coletados ................................................................................... 41
3.3 A aula ...................................................................................................................... 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 49
0 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 51
0 APÊNDICES ................................................................................................................ 55
0 Apêndice A: Questionário investigativo ...................................................................... 56
0 Apêndice B: Guia Didático: A química do sabão ........................................................ 58
11
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como título A química do sabão e suas questões ambientais como
tema gerador do conhecimento químico, tomando como partida um tema mais geral para que
este se desmembre em temas específicos referentes a partes de conteúdos da Química de
maneira mais contextualizada, a fim de proporcionar ao educando uma maior aproximação
entre o conteúdo e seu cotidiano. Este tema tem um enfoque ambiental, a fim de desmitificar a
Química somente como vilã do meio ambiente, mostrando que ela pode ajudar a solucionar
problemas ambientais e ser aplicada no dia-a-dia do educando tornando a aprendizagem
prazerosa e interessante.
No modelo de escola existente na contemporaneidade, boa parte das instituições de
ensino não corresponde às necessidades de formação do indivíduo atual. Em grande parte das
escolas, a Química é apresentada aos alunos de forma desvinculada do contexto. Os alunos
são treinados a responderem questões-padrão, o que os regula para uma memorização
excessiva. O sujeito fica condicionado a respostas prontas, desenvolvidas nos mesmos termos
em que foram apresentadas. Nas avaliações, são cobradas as respostas-padrão determinadas,
as quais, muitas vezes, somente respondidas da mesma forma são aceitas pelo professor. Esse
modelo de ensino didático tradicional é conhecido como transmissão/recepção de conteúdos
pré-estabelecidos pelos programas escolares, programas estes que devem ser seguidos à risca
pelo professor, que por sua vez é obrigado a impor um ritmo mais acelerado às aulas para que
o planejamento seja cumprido. Este fato é apontado até mesmo pelas Orientações Curriculares
Nacionais “[...] o que se observa de forma geral, nos programas escolares, é que persiste a
idéia de um número enorme de conteúdos a desenvolver, com detalhamentos desnecessários e
anacrônicos.” (BRASIL, 2006, p. 108). Este modelo, chamado por Freire de “educação
bancária” é carente em contextualização, problematização e interdisciplinaridade, além de
tudo não contem temas da atualidade, desconsiderando os acontecimentos sociais (FREIRE,
1987). É indiscutível a necessidade de mudança e um passo já foi dado com as novas metas
apresentadas nas Orientações Curriculares Nacionais:
O mundo atual exige que o estudante se posicione, julgue e tome decisões, e
seja responsabilizado por isso. Essas são capacidades mentais construídas nas
interações sociais vivenciadas na escola, em situações complexas que exigem
novas formas de participação. Para isso, não servem componentes
curriculares desenvolvidos com base em treinamento para respostas padrão.
Um projeto pedagógico escolar adequado não é avaliado pelo número de
exercícios propostos e resolvidos, mas pela qualidade das situações
propostas, em que os estudantes e os professores, em interação, terão de
produzir conhecimentos contextualizados. (BRASIL, 2006, p. 106).
12
Em um artigo publicado na Revista Química Nova na Escola, cujos autores são Eichler
e Del Pino, verifica-se uma proposta de educação mais voltada para a formação do cidadão:
Propõe-se que as atividades devam estar voltadas à formação do cidadão,
vinculando os conteúdos às dimensões sócio-político-econômicas e aos
conhecimentos prévios dos alunos. Espera-se que o aluno interaja com os
conteúdos e coopere com os colegas na construção dos conceitos e métodos
científicos. Defende-se que o aluno parta de questões concretas para
estabelecer relações abstratas entre os conceitos e os conteúdos presentes nas
atividades de aprendizagem. (EICHLER; DEL PINO, 1999, p. 6).
É visível que o maior obstáculo a ser vencido pelo tipo de educação atual é a barreira
que separa o conhecimento acadêmico e a realidade do educando. O aluno tem um papel
muito passivo frente à aula, além disso, o conteúdo é passado em forma de blocos o que leva,
muitas vezes, apenas a mera decodificação das informações.
No Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ) de 2000, fez-se uma analogia
interessante, citada por Quadros em seu artigo, quando se comparou o ensino de Química a
pais que dão separadamente a seus filhos produtos como farinha, açúcar, leite, ovos, manteiga
e fermento, esperando que dentro do corpo estes ingredientes formassem um bolo delicioso
(QUADROS, 2011, p. 26). É isso que tem sido feito junto aos alunos. O conhecimento é
transmitido e espera-se que os discentes possam arrumá-lo em suas cabeças e construir uma
ponte entre o saber e seu mundo. Usa-se um modelo de ensino tradicional ligado à
memorização, mas se deseja que sejam formados indivíduos que tenham interação com a
turma, o professor e o saber; que este estabeleça relações abstratas entre os conceitos e os
conteúdos presentes nestas atividades acadêmicas.
As questões a serem levantas são inúmeras: como reduzir esta fragmentação do
conhecimento químico; como fazer o aluno se interessar pelo conteúdo de forma que ele
possa ver aplicação para este; será que apenas exemplos dentro de cada conteúdo seriam
suficientes para a fusão do conhecimento?; são muitas as questões que cercam a necessidade
de melhoria da metodologia de ensino a fim de resolver a fragmentação do conhecimento
químico. A proposta desta pesquisa utiliza o tema gerador para resolver estas questões acima
levantadas.
O conceito de tema gerador parte dos princípios centrais da linha de Freire: “a
problematização e a dialogicidade”. Propõe-se conhecer o contexto de vida do educando e
por meio disso escolher um tema central atual e desenvolver os demais conteúdos com
“investigação temática”, conforme indicado neste trecho de seu livro Pedagogia do oprimido:
13
geradores que façam parte do contexto de vida dos educandos (FREIRE, 1987). Existem
trabalhos onde a água é usada como tema, outros onde os xampus e sabonetes, sachês de
maionese e catchup, biodiesel, alimentos, álcool e também os sabões conforme o enfoque
deste trabalho.
Vistos todos estes desafios a serem vencidos pela escola, a proposta central desta
pesquisa é usar o sabão como um tema gerador com o objetivo principal de permitir aos
professores trabalharem com a Química de uma maneira dinâmica, proporcionando uma
contextualização dos conteúdos abordados com o cotidiano do aluno, tendo como público
alvo os alunos do 3ọ ano do Ensino Médio do Colégio Fidelense, na cidade de São Fidélis,
estado do Rio de Janeiro. Além disto, discutem-se os impactos ambientais causados pelo
despejo inadequado de óleo comestível usado no meio ambiente, bem como o do sabão
desenvolvendo uma visão mais crítica das consequências dos nossos dejetos no meio
ambiente. O trabalho também visa a compreensão dos alunos do processo de fabricação do
sabão, assim como seus conteúdos químicos. A experimentação, por meio da produção de um
sabão caseiro, em pequena escala, será utilizada como estratégia de ensino. Foi elaborado um
material didático com todo o conteúdo, referente ao 3ọ ano do Ensino Médio, de Química
relacionado ao sabão como forma de mostrar aos docentes a importância da elaboração de seu
próprio material didático; fato apontado por Campos et al. que diz ser necessário não utilizar
apenas o material didático tradicional, mas o professor deve construir o seu próprio material
(CAMPOS et al., 2009, p. 276).
O principal objetivo da elaboração deste material didático, além da desvinculação com
o livro didático, é permitir que outros professores possam adaptá-lo e usa-lo em sua sala de
aula, já que o grande argumento para a não utilização de novas propostas é a falta de tempo, o
que é uma grande verdade para boa parte do corpo docente. Foi aplicado um questionário
investigativo, com questões fechadas e abertas, a fim de saber quais os conhecimentos que os
alunos obtinham sobre o assunto. Uma aula foi dada usando este material didático e observou-
se a receptividade dos alunos a proposta, avaliando o aprendizado com as propostas do
próprio material didático.
15
A linha teórica desta pesquisa tem como base a pedagogia progressista libertadora de
Paulo Freire, que “integra a teoria educacional crítica da modernidade, a qual, numa
‘abordagem sociocultural de ensino’ concebe o conhecimento numa perspectiva
interacionista.” (FREITAS, 2004, p. 55). Freire defende a autonomia pedagógica e o anti-
autoritarismo, uma escola vinculada à sociedade, “como um ato de intervenção no mundo”
(FREIRE, 1996, p. 122), defendendo que a educação não seja neutra, mas intervenha na
sociedade por meio do desenvolvimento de um pensamento crítico. A aprendizagem é feita
em cima de situações-problema que envolvam a realidade para serem resolvidas por meio de
uma análise crítica. Ao falar de intervenção, Freire deixa claro que tipo de intervenção seria
essa:
É preciso deixar claro que o conceito de intervenção não está sendo usando
com nenhuma restrição semântica. Quando falo em educação como
intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais na sociedade, no
campo da economia, as relações humanas, da propriedade, do direito ao
trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto que, pelo contrário,
reacionariamente pretende imobilizar a História e manter a ordem injusta.
(FREIRE, 1996, p. 122-123).
se verifica nem pode verificar-se esta superação.” (FREIRE, 1987, p. 59). Nesta concepção,
apenas o educador sabe, ocorre a “domesticação” do educando e da realidade (FREIRE, 1987,
p. 61).
A respeito da dialogicidade Freire é bem claro quanto a sua necessidade quando diz
que “o diálogo é uma exigência existencial” (FREIRE, 1987, p. 79). Esse diálogo citado não
se refere apenas a uma simples conversa do educador para com o educando, mas vem de algo
mais profundo, vem de uma interlocução. Ou seja, uma interação de ambas as partes. É neste
contexto que se insere o conceito de educador-educando, problematizador e dialógico que não
trata o conteúdo programático como:
[...] uma doação ou uma imposição — um conjunto de informes a ser
depositado no educandos —, mas a devolução organizada, sistematizada e
acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhes entregou de forma
desestruturada.
A educação autêntica, repitamos, não se faz de A para B ou de A sobre B,
mas de A com B, mediatizados pelo mundo. (FREIRE, 1987, p. 83-84).
Diante desta afirmação, Nascimento e Linsingen destacam nas ideias de Freire que
“uma metodologia que permite a operacionalização da educação problematizadora: a
investigação do universo temático dos educandos ou o conjunto de seus temas geradores.”
(NASCIMENTO, LINSINGEN, 2006, p. 105). Esta investigação não se trata do homem em
relação ao seu físico, anatomicamente falando, mas ao seu pensamento, sua realidade, sua
vivencia de mundo com se encontram inseridos os seus “temas geradores” (FREIRE, 1987, p.
88). O que é novamente citado por Freire:
É importante reenfatizar que o tema gerador não se encontra nos homens
isolados da realidade, nem tão pouco na realidade separada dos homens. Só
pode ser compreendido nas relações homem-mundo. Investigar o tema
gerador é investigar, repitamos, o pensar dos homens referidos à realidade, é
investigar seu atuar sua práxis. (FREIRE, 1987, p. 98).
Observa-se, inserido neste contexto, o conceito de tema gerador abordado por Freire
em seu livro Pedagogia do oprimido, cujo significado é definido por ele mesmo em uma nota
de rodapé: “Estes temas se chamam geradores porque, qualquer que seja a natureza de sua
compreensão, como a ação por eles provocada, contém em si a possibilidade de desdobrar-se
em outros temas que, por sua vez, provocam novas tarefas a serem cumpridas.” (FREIRE,
1987, p. 93, nota de rodapé). Os temas gerados partem do que o educando já possui para que
ele próprio possa consolidar e ampliar a construção do seu próprio saber em níveis mais
abrangentes e politicamente consensuais. Deixa-se a ressalva que a questão dos temas
17
geradores pode ser lida como educação contextualizada, questão esta trabalhada também por
outros autores.
A busca por temas geradores parte de uma investigação temática, onde o contexto
local é estudado por meio de um levantamento preliminar para registrar como “os homens
constroem seu pensamento.” (NASCIMENTO, LINSINGEN, 2006, p. 106), sendo realizada
uma análise em conjunto pesquisador-pesquisado. A etapa seguinte é o estudo sistemático e
interdisciplinar dos dados e identificação de quais temas geradores seriam estes para então
levá-los ao ambiente de ensino.
Para a pedagogia libertadora, a forma de trabalho educativo é o grupo de
discussão, que conduz o processo educativo buscando os conteúdos
problematizadores, realizando as discussões, compartilhando as descobertas,
definindo as atividades e os temas geradores como ponto de partida para a
decodificação das sílabas e, principalmente, a decodificação do mundo social,
histórico, político e cultural onde vivem os oprimidos nas sociedades
desiguais. (TOZZONI-REIS, 2006, p. 104).
Ao iniciar a discussão sobre o tema gerador é importante dizer por que ele se encontra
como uma metodologia a ser empregada em contraposição à descontextualização. Araújo, em
sua dissertação de mestrado, faz uma afirmativa muito interessante a respeito desta realidade
de inserção do conteúdo no meio em que os alunos vivem:
Na vida social, o conhecimento é sempre aplicado a um tema, ou seja, nunca
aparece de forma descontextualizada. Na escola, não deve ser diferente.
Portanto, deve-se privilegiar o desenvolvimento de propostas que considerem
as transformações sociais que se espera da sociedade nas quais os alunos
estão inseridos. (ARAÚJO, 2008, p. 63).
18
Como inserir o conteúdo acadêmico no dia a dia do educando? Uma nova postura por
parte dos educadores deve ser tomada. Diante de todos os desafios da educação na
contemporaneidade, já discutidos anteriormente, uma das possibilidades de contextualização é
o tema gerador, fato este confirmado por Araújo:
Diante das amplas possibilidades, o tema gerador deve surgir das idéias
compartilhadas pelos alunos, refletindo suas necessidades e inquietações,
conforme observa Freire (2005) ao avaliar a impossibilidade de se discutir
com os alunos enquanto suas preocupações apontam em outro sentido.
(ARAÚJO, 2008, p. 66-67).
O uso de um tema presente na vida do educando facilitará que ele possa construir seu
próprio conhecimento e tenha uma visão de mundo ampliada; será um cidadão crítico e apto a
estabelecer relações com a sociedade e o conhecimento.
Alguns artigos nortearam a realização desta pesquisa, para um melhor entendimento
do assunto e a melhor forma de aplicá-lo feita uma busca em revistas on-line de 1999 até
2012. Boa parte dos artigos estão publicados na Química Nova na Escola, mas também serão
usadas como referências as revistas Ciência e Educação e Educar em Revista.
O artigo de Lucatto e Talamoni, A construção coletiva interdisciplinar em educação
ambiental no Ensino Médio: a microbacia do Ribeirão dos Peixes como tema gerador, trata
do tema ambiental como um tema gerador em um enfoque interdisciplinar na microbacia do
Ribeirão dos Peixes, o principal corpo de água do município de Dois Córregos, estado de São
20
A autora ainda destaca que o referencial usado refere-se a uma educação ambiental
voltada para a sustentabilidade destacando a importância da educação ambiental e de sua
abordagem como uma disciplina escolar desenvolvida de forma problematizada por
intermédio de “temas geradores locais”:
Ao tomar os temas ambientais como temas geradores de processos educativos
ambientais duas preocupações devem estar presentes: os temas têm que ter
significado concreto para os envolvidos e devem ter conteúdo
problematizador. Isso significa dizer que os temas ambientais devem ser
ponto de partida para a discussão mais ampla da crise do modelo civilizatório
que estamos a enfrentar, crise que dá sentido à busca de uma sociedade
sustentável. (TOZONI-REIS, 2006, p. 108).
A autora detalha toda a metodologia do tema gerador de Paulo Freire, no entanto não
propõe nenhuma situação de aplicação para o tema por ela escolhido.
Os demais artigos são da revista Química Nova na Escola e tratam de forma
semelhante o tema, sempre dando um exemplo de aplicação. O artigo de Quadros trata A água
como um tema gerador do conhecimento químico, em uma visão mais rural. A autora inicia
sua discussão citando problemas no ensino de Química como a fragmentação dos conteúdos
dentro da própria disciplina: “O conhecimento químico tem sido trabalhado na forma de itens
fragmentados, e espera-se que os alunos possam, um dia, juntar todo esse conhecimento e,
com ele, entender o mundo material.” (QUADROS, 2004, p. 26). Diante desta dificuldade,
propôs-se uma forma de trabalhar a água como um eixo temático de forma a relacioná-lo com
os conhecimentos químicos envolvidos, a fim de tornar a química mais atraente,
contextualizada. A autora manifesta o desejo de despertar nos alunos o gosto de pelo estudo
da química, modificando a visão da química como nociva ao meio ambiente, mostrando que
na maioria das vezes os problemas são solucionados (QUADROS, 2004, p. 27).
O tema foi escolhido devido a presença da água no dia-a-dia, destacando que o planeta
e o organismos dos seres vivos são constituídos em grande parte de água. A autora levanta um
questionamento importante “será que o aluno considera que aquela água abordada na Química
tradicional é a mesma água que ele usa para beber?” (QUADROS, 2004, p. 27).
É feito um detalhamento de como foi realizado o seu trabalho inclusive com exemplos
de como os questionamentos e com a presença de um mapa conceitual do tema “água” foram
feitos permitindo assim que aos docentes que tenham o acesso a este artigo possam adaptar a
ideia e aplicá-la em suas salas de aula, inclusive. Foram propostas aulas em eixos em que
foram trabalhados diversos conteúdos como: solubilidade, ligações iônicas, elementos
químicos e substâncias, oxi-redução, lei da conservação das massas e das proporções
definidas, ciclo da água e diversos outros.
23
Eichler e Del Pino trazem em seu artigo Jornais e revistas on-line: busca por temas
geradores, uma proposta bem simples de se utilizar um tema gerador em sala de aula: o uso
da internet para uma “aprendizagem de ciências mediadas” pelo computador (EICHLER,
DEL PINO, 1999, p.1). O artigo destaca algumas ferramentas de busca na internet bem como
sites de jornais online e como realizar busca nestes sites, para que destes sejam retiradas as
reportagens que possam ser abordadas e relacionadas com algum conteúdo em sala de aula.
Trata muito bem da finalidade de se usar temas geradores e da necessidade de se trabalhar de
forma diferente da conteudista:
Propõe-se que as atividades devam estar voltadas à formação do cidadão,
vinculando os conteúdos às dimensões sócio-político-econômicas e aos
conhecimentos prévios dos alunos. Espera-se que o aluno interaja com os
conteúdos e coopere com os colegas na construção dos conceitos e métodos
científicos. Defende-se que o aluno parta de questões concretas para
estabelecer relações abstratas entre os conceitos e os conteúdos presentes nas
atividades de aprendizagem. (EICHLER, DEL PINO, 1999, p. 1).
O ponto de partida das atividades foi estudo sobre a influência dos sabões e
detergentes na degradação do Rio Cachoeira pertencente à comunidade:
O problema em questão, a degradação do Rio Cachoeira e o consumo e a
produção de sabões e detergentes, foi escolhido por permitir estabelecer as
relações entre os conceitos químicos e as questões ambientais e, desse modo,
conscientizar nossos estudantes da importância e do papel do rio em nossa
cidade, de como a química pode nos auxiliar e manter uma nova relação
como o meio ambiente e de que fazemos parte desse meio. (RIBEIRO,
MAIA, WARTHA, 2010, p. 171).
O projeto foi descrito em etapas, pois - na opinião dos autores - o tempo necessário
para a realização depende de cada turma e professor. Não houve apenas preocupação com o
conteúdo, mas também como os alunos iriam organizá-lo. Foram trabalhados conteúdos
como: cálculos estequiométricos, solubilidade, tensão superficial, pH, ácidos e bases,
neutralização entre outros. Por fim, concluiu-se que ao se trabalhar com o cotidiano dos
alunos a Química proporcionou uma nova visão de mundo e da vida em sociedade. Os alunos
passaram a ter prazer em estudar a Química e passaram a ter um olhar mais crítico para as
transformações que os cercam principalmente em relação ao Rio Cachoeira. A proposta
sofreu algumas críticas devido ao tempo de execução, pois durou mais de dois bimestres, mas
a capacidade de reflexão desenvolvida pelos discentes deixou os autores na certeza que
estavam avançando para o desenvolvimento de uma educação problematizadora e
contextualizada.
1. 3 O que é contextualização?
meio dos saberes práticos, do senso comum, do saber popular (SILVA, 2007, p. 26). A
contextualização está ligada diretamente a Freire e seus temas geradores, segundo Coelho e
Marques, que apontam para “a necessidade de uma exploração intensa do contexto, isto é, das
‘situações significativas’.” (COELHO; MARQUES, s. d., p. 9). Coelho e Marques elaboram
uma pesquisa sobre as contribuições de Paulo Freire na contextualização e de acordo com as
evidências encontradas durante o trabalho, acreditaram “que existe a possibilidade de que, se
alguns caminhos metodológicos forem percorridos, poderá haver uma aproximação entre a
proposta da contextualização por meio dos temas químicos sociais e a da educação
transformadora proposta por Freire.” (COELHO; MARQUES, s. d., p. 9).
Freire propõe uma educação transformadora, por isso a relevância de uma Química
voltada para a cidadania:
[...] um ensino de Química voltado à cidadania, do qual se parte da
proposição de um tema social para a contextualização do conteúdo, poderia
se aproximar ainda mais da proposta de contextualização de Paulo Freire.
Mas isto se os professores estivessem aptos a desvelar situações significativas
da comunidade em que atuam, o que favoreceria o empreendimento de um
ensino de Química transformador de contradições sociais. (COELHO;
MARQUES, s. d., p. 14).
Uma informação que se deve salientar é que um litro de óleo comestível contamina
aproximadamente um milhão de litros de água, o suficiente para o consumo de uma pessoa
por um período de 14 anos. Em média, uma residência com quatro pessoas consome um litro
29
de óleo por semana e um restaurante uma média de 10 litros por dia (BIODIESELBR, 2008;
OPABRAZIL, 2008 apud BALDASSO; PARADELA, HUSSAR, 2010, p. 217-218).
Baseando-se nesta evidência de necessidade de reutilização, o presente trabalho tem a
proposta de produção de sabão como forma de reutilização do óleo de cozinha já usado,
desenvolvendo nos alunos uma visão ambiental sobre o descarte deste material de forma
inadequada.
cinzas e sebo que era usada para tingir os cabelos de vermelho, higiene pessoal e lavagem de
roupas antes dos romanos (REIS, s.d., s.p.).
Conforme descrito por Reis, após a queda do Império Romano, o sabão foi
disseminado. O sabão produzido na Idade Média era feito com óleo de oliva, o que lhe
conferia uma qualidade bem superior aos produzidos com gordura animal. Aos poucos o
sabão foi ganhando novos ingredientes como óleos essenciais e fragrâncias, além do
aparecimento de outros tipos, para o cabelo, barba, banho e roupa. O sabão desempenhou um
papel importante na história no que se diz respeito ao controle de doenças e higiene corporal
(REIS, s.d., s.p.).
O que vem a diferenciar os óleos e das gorduras? Lisboa detalha bem essas diferenças
destacando que a classificação se dá de acordo com os ácidos graxos contidos na composição
das gorduras naturais:
Gorduras ricas em cadeias saturadas de ácidos graxos tendem a se solidificar
em temperaturas mais baixas, devido ao seu arranjo espacial próximo ao
linear. A manteiga, o sebo de porco, a capa de gordura da picanha, a gordura
do coco e a manteiga de cacau são exemplos de alimentos com alto teor de
gordura saturada e sólidos a temperatura ambiente.
Gorduras ricas em cadeias de ácidos graxos insaturados e poli-insaturados
são líquidas a temperatura ambiente. Uma vez que a conformação cis
predomina na insaturação dos ácidos graxos naturais, a disposição espacial
dos respectivos triacilgliceróis dificulta a cristalização da mistura. As
gorduras líquidas são denominadas óleos, como os óleos vegetais de soja,
milho, oliva (azeite), girassol e os extraídos de peixes. (LISBOA, 2010, p.
361).
Muito tem sido discutido em torno das gorduras e uma vida mais saudável. É crescente
a preocupação do efeito dessas substâncias no corpo a curto e longo prazos. Nas embalagens
dos alimentos sempre há referência a esses compostos; sempre encontram-se frases como por
exemplo “livre de gordura trans”, “baixo teor de gorduras saturadas”, “ redução de 50% no
teor de gordura”. Que as gorduras são importantes para o metabolismo humano já se sabe.
Então, o que a diferencia na classificação dos lipídeos? Qual a diferença de gorduras
insaturadas, saturadas e trans?
Apesar das diferenças estruturais dos óleos, estes são formados predominantemente
por triacilgliceróis e outros componentes em menor proporção como é apontado por Reda:
“Além de triacilgliceróis, os óleos contêm vários componentes em menor proporção, como
mono e diglicerídeos (importantes como emulsionantes); ácidos graxos livres; tocoferol
(importante antioxidante); proteínas, esteróis e vitaminas.” (REDA; CARNEIRO, 2007, p.
61). Como apresentado anteriormente, estes compostos, os lipídeos, se formam pela reação de
ácidos carboxílicos com alcoóis formando ésteres por meio de uma reação de condensação
conhecida como esterificação ou ainda esterificação de Fisher.
A Figura 2 exibe, de forma geral, a “reação química de formação de um triacilglicerol:
um éster formado a partir do glicerol (álcool) e três moléculas de ácidos graxos (ácidos
carboxílicos de ocorrência natural) em um processo catalisado por enzimas (lipases) ou meio
ácido.” (MERÇON, 2010, p. 78). O que diferencia os gliceróis são as cadeias carbônicas a
serem incorporadas em sua estrutura, em sua grande maioria não contém ramificações e
podem ser saturados ou insaturados. Os lipídeos insaturados permitem a ocorrência de
estereoisômeros, as duas conformações cis e trans. Devido ao impedimento estérico, dois
grupos volumosos do mesmo lado, a conformação trans é mais favorecida em relação à cis,
32
sendo está última menos estável. No entanto Merçon faz uma observação importante que
“Apesar disso, devido à estereoespecificidade das enzimas, na natureza, os isômeros cis são
formados preferencialmente na biossíntese de lipídeos” (MERÇON, 2010, p. 78-79).
Oliveira define o conceito de sabão como sendo “[...] sais de metais alcalinos obtidos a
partir de ácidos carboxílicos de cadeia longa.” (OLIVEIRA, 2005, p. 25). Como visto
anteriormente, a origem do nome sabão estaria na lenda romana do Monte Sapo, sendo a
reação de formação a reação de saponificação. A reação de saponificação é um tipo de
hidrólise em meio alcalino, onde um éster reage com base produzindo um álcool e um sal de
ácido, essa reação será mais discutida no próximo tópico (OLIVEIRA, 2005, p. 25).
33
O sabão é uma espécie química que possui uma cadeia carbônica extensa, parte
hidrofóbica1, e com um ou mais grupos hidrofílicos2. Abaixo a estrutura do dodecano de sódio
ou laurato de sódio, principal componente do sabão de coco:
A parte apolar, grupo hidrofóbico, possui afinidade com a gordura e a parte polar,
parte hidrolífica, interage com a água, o que permite que o sabão remova a gordura das
superfícies. Segundo Oliveira a eficiência do sabão é medida por seu potencial de
emulsificação de gorduras, esse processo de dá quando os íons do sabão circundam a sujeira,
formando uma micela (OLIVEIRA, 2005, p. 26). A formação da micela será abordada no
tópico: Ação do sabão na limpeza (2.2.4).
1
Hidrofóbico: que não possui afinidade com a água, parte apolar (OLIVEIRA, 2005, p. 26).
2
Hidrofílico: que possui afinidade com a água, parte polar (OLIVEIRA, 2005, p. 26).
34
micelas é denominado emulsificação. [...] Dizemos que o sabão atua como emulsificante ou
emulsionante, ou seja, ele tem a propriedade de fazer com que o óleo se disperse na água na
forma de micelas.” (TITO; CANTO, 2007, p. 702). Esse processo é representado pela figura
abaixo:
Em uma definição mais física conforme Zago Neto e Del Pino a tensão superficial
corresponde à energia, em forma de trabalho, necessária para a expansão da superfície do
líquido, ou seja, quanto mais aderentes as moléculas estiverem, maior o trabalho a ser
realizado para separá-las e consequentemente, maior a tensão superficial (ZAGO NETO; DEL
PINO, s.d., p. 34). A Figura 7 ajuda a entender melhor este efeito:
37
Segundo Zago Neto e Del Pino, o sabão feito de óleo reciclado é um produto
biodegradável, ou seja, é um composto que consegue ser decomposto pela natureza;
possibilidade esta que não isenta o sabão de ser poluente ao meio ambiente, mas possibilita a
sua decomposição por bactérias (normalmente as aeróbicas). O tempo de ação destas bactérias
irá variar de acordo com o número de ramificações da estrutura do sabão, em média o
processo ocorre em 24 horas. O sabão pode vir a ser um poluidor quando despejado junto com
as sujidades por ele removidas em corpos d’água sem o devido tratamento.
Esses microrganismos aeróbios se alimentam da mistura de sabão e de matéria
orgânica. Com o aumento da oferta desses compostos essas bactérias acabam por se
38
Por um equívoco, o sabão é visto como grande poluente de rios pela grande formação
de espuma. No entanto, como visto anteriormente, o sabão é biodegradável; então, o que vem
a provocar espuma nos corpos d’água? O vilão deste tipo de poluição é o detergente não-
biodegradável, também conhecido como sintético, tipo este que é proibido pela legislação
brasileira por ser um grande poluidor e não ser biodegradável. Segundo Zago Neto e Del Pino
a espuma, ao encobrir o rio, impede a entrada dos raios solares e a interação com o ar da
atmosfera acarretando a morte de peixes e plantas. O detergente não-biodegradável não se
decompõe porque suas moléculas não são metabolizadas pelos microrganismos degradadores
e permanecem na água; em caso de agitação do corpo d’água, gera espuma sobre a água.
(ZAGO NETO; DEL PINO, s.d., p. 42). O detergente poluidor não pode mais ser fabricado,
por esse motivo foram criados os detergentes biodegradáveis, desenvolvidos para substituir os
não-biodegradáveis já que estes estavam proibidos, segundo Zago Neto e Del Pino a cadeia
carbônica linear e sem ramificações semelhantes a dos sabões permite que este tipo de
detergente seja degradado pelos microrganismos possibilitando assim, que estes degradem a
molécula (ZAGO NETO; DEL PINO, s.d., p. 47-48).
.0.0.
39
3 APLICAÇÃO
Esta pesquisa objetiva o uso do tema sabão como gerador do conhecimento químico.
Após a realização de um levantamento bibliográfico do tema, elaborou-se um material
didático a ser utilizado na aula de aplicação. Após a elaboração deste material, foi passado um
questionário na turma na qual a temática seria aplicada como forma de conhecimento da
realidade, para inteirar-se dos conhecimentos prévios dos discentes sobre o assunto. A partir
de então, aplicou-se o guia didático em duas aulas, de 50 minutos cada. O público alvo foram
10 alunos de uma turma do 3ọ ano do Ensino Médio do Colégio Fidelense, na cidade de São
Fidélis, estado do Rio de Janeiro. Os passos da aplicação desta pesquisa serão descritos nos
próximos tópicos.
Devido aos diversos problemas no Ensino de Química que vem sendo discutidos ao
longo deste trabalho, elaborou-se um guia didático sobre o tema como forma de ruptura dos
laços da educação tradicional. A busca de novas possibilidades tem sido muito grande. O
ensino precisa estar vinculado com a realidade do educando, mas não só isso; deve
corresponder à realidade da escola; não adianta o docente buscar soluções que não podem ser
aplicadas em sua comunidade escolar. Muitas escolas não possuem laboratórios, por isso não
é coerente que se busque atividades experimentais que necessitem de aparelhagem sofisticada,
ou até mesmo, em escolas que não possuem recursos de multimídia, buscar-se projetos com
recursos on-line ou ainda que usem vídeos. O professor deve buscar soluções que estejam
inseridas no cotidiano dos alunos e dentro da realidade escolar. Esta visão é destacada por
Eicher e Del Pino:
Para que o ensino se torne realmente significativo, os conteúdos abordados
devem ser coerentes com a realidade da escola em que estão inseridos,
facilitadores do acesso à cultura e ao saber por parte dos alunos, ajudando-os
a interagir de modo participativo consciente das relações sociais. Isto também
é responsabilidade do professor, uma vez que não basta que os conteúdos
sejam apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem,
de forma indissociável, à sua significação humana e social. (EICHER; DEL
PINO, s.d., s.p.).
40
O uso de livros didáticos é bem criticado pois nem sempre a contextualização proposta
pelo livro faz parte da vivência da comunidade em que está sendo aplicado. Por exemplo, um
mesmo livro didático pode estar sendo usado em uma comunidade indígena no Amazonas, em
uma comunidade rural do Sul ou em uma metrópole altamente industrializada. Será que essas
comunidades possuem a mesma realidade social e econômica? É certo que não. Essa
diferença pode ocorre até mesmo dentro de uma mesma cidade, pois cada escola possui um
tipo de clientela e uma realidade econômica diferente. Cabe ao professor observar estas
diferenças e adaptar o conteúdo à realidade de sua comunidade. Essa universalização dos
programas de Química é apontada e criticada por Eicher e Del Pino: “os programas de
química nas escolas são, usualmente, determinados pelos autores dos livros didáticos
tradicionais e estes se sucedem num copismo fantástico que decreta a quase universalidade
dos programas.” (EICHER; DEL PINO, s.d., s.p.).
Outro ponto destacado por Eicher e Del Pino é que o uso do livro didático acaba por
não permitir que o professor exercite sua criatividade, pois não participa das escolhas dos
temas abordados, sendo passivo frente à metodologia adotada (EICHER; DEL PINO, s.d.,
s.p.).
Campos et al. também propõem que o professor deve elaborar seu próprio material
didático e planejar suas atividades sem prender-se ao livro didático tradicional, com a escolha
de seus próprios temas e a forma vai abordá-los; assim o professor exerceria sua autonomia:
Para o bom desenvolvimento das aulas de química, o professor, no desenrolar
do currículo programático da disciplina, deve, não só se utilizar do material
didático convencional, mas ao planejar suas atividades, procurar ter como
alicerce, a discussão com o discente, baseado na premissa ‘o que, como e
para que ensinar química’.
[...] Assim, é fundamental que o educador produza um material didático-
prático, que este esteja em correspondência com seus alvos e percepções, seja
coeso com as necessidades dos seus alunos e pertinente com as diretrizes
educacionais. (CAMPOS et al., 2009, p. 276).
Essa ruptura implica em uma mudança de pensamento do educador que deixará de ser
um mero transmissor para vir a ser um investigador junto com os discentes.
Baseando-se em todas estas visões, elaborou-se um material didático que envolve um
tema como ponto de partida para o desenvolvimento dos conteúdos químicos referentes a ele
em uma visão ambiental. O material aborda alguns possíveis conteúdos relacionados ao tema,
voltados para o 3ọ ano do Ensino Médio.
41
O questionário foi aplicado como uma forma de conhecer o que os alunos já sabiam
sobre o assunto e como eles veem a disciplina de Química. Os questionários são definidos por
Miranda como:
[...] uma técnica de investigação composta por um número grande ou
pequeno de questões apresentadas por escrito que tem por objetivo propiciar
determinado conhecimento ao pesquisador. É um processo rigoroso e dele
dependem a medição das variáveis da investigação. (MIRANDA, 2011, p. 7).
Sim
9 Não
0
2 1 nunca
raramente
7 frequentemente
sempre
As perguntas a seguir têm relação com o óleo de cozinha e o meio ambiente e a visão
dos alunos sobre esse assunto. A primeira investiga o quanto o óleo de frituras está presente
no dia-a-dia destes alunos e de suas famílias. Constatou-se que o óleo está fortemente presente
no cotidiano destes alunos; 9 deles usam em suas casas o óleo de cozinha no mínimo duas
vezes por semana. Destes, 5 alunos usam o óleo para frituras todos os dias em sua residência,
fato preocupante devido aos efeitos prejudiciais das gorduras no organismo humano. Schutz
destaca ainda que o óleo reutilizado novamente para frituras pode ser cancerígeno: “[...] o
produto da degradação do óleo de cozinha é a acroleína, que é carcinogênica. Por esta razão
não podemos reutilizar o óleo de cozinha várias vezes.” (SCHUTZ, 2009, p. 17). E os outros
4 usam de três a duas vezes por semana, um consumo relativamente alto, e apenas 1aluno
utilizam o óleo de cozinha uma vez por semana (Gráfico 3).
1 todos os dias
raramente
não é usado
Perguntou-se qual o destino dado ao óleo usado, essa pergunta busca investigar a
consciência ambiental destes alunos. As respostas não foram muito satisfatórias, pois 4 alunos
não sabem qual o destino dado ao óleo usado em suas casas. Um dado preocupante é que 2
alunos descartam o óleo usado na rede de esgoto, contaminando os corpos d’água. Sendo que
44
apenas 2 alunos recolhe para a coleta seletiva. Ainda há uma parte que o destina para a
fabricação de sabão, 1 aluno, o que indica que alguns alunos já tem conhecimento do
conteúdo que será abordado (Gráfico 4). Schutz em um trabalho com um enfoque semelhante
a este também perguntou aos alunos o destino dado ao óleo de cozinha em sua residência, 23
alunos armazenam o óleo em garrafas ou potes, desta porcentagem 22 jogam no lixo depois e
apenas 1 destina para a reciclagem; e 13 descartam na rede de esgoto (SCHUTZ, 2009, p. 18).
Se for feita uma comparação os alunos desta pesquisa não apresentam uma satisfatória
consciência ambiental.
Uma parte dos alunos na pergunta anterior afirmou que o óleo era destinado a coleta
seletiva, mas será que existe coleta seletiva na cidade em questão, São Fidélis? A Prefeitura
Municipal de São Fidélis, na pessoa do secretário de Meio Ambiente o Sr Leandro, informou
que existe um projeto em andamento que visa reutilizar o óleo comestível usado para a
produção de biodiesel, o projeto ainda não foi colocado em prática devido a em janeiro nova
equipe ter assumido a secretaria e por isso ainda não conseguiram colocar o projeto em
prática. Existem apenas nos bairros pessoas que por iniciativa própria recolhem o óleo usado
para a produção de sabão caseiro. Nesta pergunta 9 alunos tem consciência que não existe
coleta de óleo, e apenas 1 doa para um vizinho reciclar (Gráfico 5).
45
não
5 5
sim, fabricação de sabão
Um pergunta bem simples foi feita: se a água e o óleo de cozinha se misturam. Todos
responderam que não se misturam o que mostra que possuem o conhecimento de polaridade
das moléculas.
Agora os alunos são questionados sobre a relação do óleo com o meio ambiente. A
primeira pergunta foi se estes sabiam se o óleo causa algum impacto sobre o meio ambiente, e
todos afirmaram que sim. Para os que responderam sim, perguntou-se ainda qual seria este
impacto. A poluição das águas foi o impacto citado por 7 alunos. Os dois outros impactos
também se encaixam na poluição as águas, mas foram colocados separados para que se
pudesse analisar melhor a amplitude da visão dos alunos sobre o assunto (Gráfico 7).
46
1
2
poluição das águas
7 não missível na água
mortandade de peixes
A última pergunta questionava se a cidade onde eles moram possui rede de tratamento
de esgoto, 5 alunos disseram que São Fidélis não tem tratamento de esgoto; 4 disseram que o
município possui e 1 não soube responder. Metade da turma (Gráfico 8) tem consciência que
sua cidade não tem tratamento de esgoto, portanto sabem que os dejetos serão descartados no
rio sem nenhum tipo de tratamento, rio este, o Rio Paraíba do Sul, que é responsável pelo
abastecimento de água da cidade e mesmo com estas informações descartam o óleo na pia,
contaminando o rio. Alguns alunos se mostram mal informados, pois São Fidelis não possui
nenhum tipo de tratamento para o esgoto produzido tanto na cidade quanto no interior.
1
4 não tenho essa
informação
não
5
sim
A partir dos dados coletados, pode-se ter uma ideia dos conhecimentos prévios dos
alunos, frente à temática que seria desenvolvida. Concluiu-se quais assuntos deveriam ser
frisados, pois muitos apontaram que o óleo não se mistura à água e é potencialmente poluente
da mesma, mas, no entanto, boa parte dos alunos descarta este mesmo óleo na rede de esgoto
o que vem a contaminar o corpo d’água que abastece a cidade. Outro aspecto seria que o
sabão poderia não ser uma novidade para todos, já que muito disseram que sua fabricação
pode ser uma solução plausível para o reaproveitamento do óleo comestível usado.
47
0 3.3 A aula
O desenvolvimento deste projeto foi pautado no guia didático elaborado pela autora da
presente pesquisa. A primeira etapa da aula foi a aplicação de um vídeo educativo cujo titulo é
Momento Ambiental: reaproveitamento do óleo de cozinha, relatando uma visão ambiental
sobre o óleo de cozinha, destacando, inclusive, um papel social para reciclagem deste óleo
como fonte de renda para muitas comunidades. Este vídeo teve a finalidade de provocar nos
alunos uma reflexão sobre a influência dos dejetos, principalmente o óleo de cozinha,
descartados de forma inadequada no meio ambiente. Durante a discussão inicial, após o vídeo,
pode-se constatar que muitos consideravam um ato banal o descarte do óleo de cozinha na pia
ou no vaso sanitário; alguns não consideram o óleo de cozinha uma grande ameaça aos corpos
d’água por ser um alimento, e se espantaram em saber que a poluição deste tipo de óleo em
um ano, por exemplo, na Baia de Guanabara é maior do que a do último grande desastre de
derramamento de óleo de petróleo. O vídeo ainda ajudou a levantar outras questões em
relação ao lixo produzido e o impacto deste lixo em longo prazo no meio ambiente. Como o
vídeo mostra a produção do sabão caseiro os alunos ficaram curiosos pelos processos
químicos envolvidos, como ocorre essa reação; para que adicionar cada ingrediente e qual a
influência de cada um no processo final.
Após esta discussão inicial, começou-se a trabalhar com o guia didático. Não usou-se
slides para a aula, o próprio guia didático foi projetado para que os alunos acompanhassem. A
primeira parte do guia trata da parte ambiental e os alunos já estavam bem informados sobre o
assunto após o vídeo e continuou-se a discussão sobre a responsabilidade ambiental de cada
um como um cidadão participante da vida em comunidade. Como esta pesquisa se baseia nas
ideias de Paulo Freire, buscou-se um debate voltado para uma vertente social, instigando que
os próprios alunos formassem sua consciência ambiental. Essa parte foi extremamente
proveitosa, pois a turma se mostrou bem proativa, observando o que poderia vir a ser feito em
sua comunidade, soluções plausíveis dentro do contexto de vida de sua cidade.
O momento no qual se trabalhou a origem do sabão foi de descontração na turma, pois
consideraram engraçada a lenda do Monte Sapo, e o fato das pessoas não usarem o sabão para
a limpeza do corpo na Idade Média. Finalmente ao chegar-se à parte Química do sabão, os
alunos se mostraram muito interessados e sempre motivados a responder aos questionamentos
propostos ao longo do guia, o indicava que aprendizagem estava sendo prazerosa. Novamente,
um espaço de debate foi iniciado sobre a influência da gordura trans no organismo, já que
50% dos alunos responderam que, em sua residência, usa-se óleo para frituras todos os dias.
48
0 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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APÊNDICES
56
QUESTIONÁRIO DE INVESTIGAÇÃO