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Sociedade Brasileira Embrapa-Pantanal

de Mastozoologia

Apostila do curso teórico-prático de coleta


e taxidermia de pequenos mamíferos
terrestres

Cibele R. Bonvicino (FIOCRUZ, RJ)


Marcelo Weksler (Museu Nacional, UFRJ)
Ana Lazar Gomes e Souza (FIOCRUZ, RJ)
Pâmela Antunes (EMBRAPA-Pantanal)

Corumbá – Junho/Julho de 2012


Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

SUMÁRIO

Métodos de coleta e preparação....................................... 3

Planejamento e logística.................................................... 3

Procedimentos para obtenção da licença de coleta e licença


4
junto à comissão de ética animal .........................................
Preparação da isca, escolha das armadilhas, localização dos
pontos de amostragem, formação das trilhas, colocação e
5
marcação das armadilhas de captura....................................

Fotodocumentação............................................................. 6

Coleta de informações sobre a área amostra e


8
georreferenciamento..........................................................
Procedimento de revisão e re-iscagem das armadilhas,
8
transporte dos espécimes....................................................

Registro dos espécimes coletados......................................... 9

Medidas externas............................................................... 10

Procedimentos para conservação em meio líquido e transporte


12
dos espécimes ..................................................................
Procedimentos para taxidermia em meio seco e transporte dos
13
espécimes ........................................................................
Procedimentos para coleta de tecidos para estudos
16
moleculares.......................................................................
Procedimentos para obtenção de células em suspensão no
17
campo..............................................................................

Ficha para controle das armadilhas....................................... 19

Ficha para controle dos cariótipos......................................... 21

Referências........................................................................ 22

Anexo ............................................................................. 24

2
Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Métodos de coleta e preparação

1. Planejamento e logística.

Antes da saída de campo, é necessário o planejamento e organização


da expedição. O trabalho de coleta vai depender desta preparação, e
aqui devem ser tomados todos os cuidados e pensados todos os
detalhes para que nada falte quando estiver no campo. Cada item que
puder já estar pronto antes da partida servirá para se ganhe tempo
durante a expedição. Assim, etiquetas já devem estar prontas,
criotubos numerados, fitas cortadas, arames esticados, etc (ver abaixo
utilidade para cada um destes itens). Toda a parte de documentação e
licenças deve ser finalizada antes da partida. Itens essenciais de se
pensar e organizar antes de sair do laboratório:

Licença de coleta: toda documentação deve estar pronta.


Transporte: via terrestre ou aérea? Existem restrições de
produtos químicos?
Mapas, GPS: É essencial que todo material seja georreferenciado;
mapas devem ser consultados para o planejamento da expedição.
Informações sobre a área a ser amostrada: é área de proteção?
quem são os proprietários? Que tipos de fisionomias vegetais vão
se amostradas?
Doenças e vacinas (p.ex., febre amarela, hepatite A e B, tétano,
raiva).
Caderno de campo: qual é o último número de campo?
Armadilhas, iscas, acessórios: este material deve ser conferido a
cada viagem; armadilhas devem ter sido lavadas.

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Material para taxidermia, preservação de tecidos, cariotipagem:


fazer lista de material de campo necessário (ver anexo para
sugestão).
As seguintes obras podem ser consultadas para o planejamento e
execução de trabalho de coletas de mamíferos: Auricchio e Salomão
(2002), Hall (1962), Moojen (1943), Nagorsen e Peterson (1980) e
Setzer (1963).

2. Procedimentos para obtenção da licença de coleta e


aprovação da comissão de ética

Antes de realizar qualquer inventário, tanto para fins de pesquisa,


didáticos ou de consultoria ambiental, é necessário a obtenção da
licença de coleta junto ao órgão competente, e da autorização do dono
da terra a ser inventariada. Adicionalmente, os pesquisadores
vinculados a instituições devem requerer a autorização do comitê de
ética em pesquisa, quando pertinente. As coletas em áreas de
preservação permanete necessitam de uma autorização adicional,
fornecida pelo diretor da unidade de conservação em questão.
O pedido de obtenção da licença de coleta para mamíferos é
realizado junto ao SISBIO (Sistema de autorização e informação em
Biodiversidade), Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade. O SISBIO é um sistema de atendimento à distância que
permite a pesquisadores solicitarem autorizações para coleta de
material biológico e para a realização de pesquisa em unidades de
conservação federais e cavernas.
Segundo o manual do SISBIO (2010) "está apto a registrar
solicitação de autorização ou licença no Sisbio o pesquisador definido
como profissional graduado ou de notório saber, que desenvolva
atividades de ensino ou pesquisa, vinculado FORMALMENTE à instituição

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

científica. É considerado vinculado à instituição científica brasileira:


pesquisador com contrato de trabalho, pesquisador bolsista de
programa de professor visitante da Capes ou CNPq ou de programa de
apoio ao docente recém-doutor, e alunos de programa de pós-
graduação (especialização, mestrado ou doutorado)."
Todo o pedido é realizado "on line" no site
www.icmbio.gov.br/sisbio/. Ao entrar nessa página clique em "acesse o
sisbio' e vai aparecer uma nova janela, auto explicativa, onde o
procedimento será iniciado. Existem várias modalidades de licença de
coleta, para maiores detalhes acesse
www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/servicos/manual.pdf.
Em algumas instituições de pesquisa, além da licença de coleta, e
da permissão do dono da terra, é necessário pedir a aprovação junto à
comissão de ética animal da instituição de origem para o
desenvolvimento das atividades que envolvem coleta.

3. Preparação da isca, escolha das armadilhas, localização dos


pontos de amostragem, formação das trilhas, colocação e
marcação das armadilhas de captura.

A isca a ser utilizada pode variar bastante. Uma isca padrão é


composta por amedois (amendrocream, passoca ou amendoim moído),
banana (ou outra fruta), proteína animal (pode ser bacon moído,
sardinha), e uma farinha para dar consistencia (aveia, milharina, milho
em flocos). para as armadilhas tipo gaiola uma fatia de madioca pode
ser utilizada como substrato para a isca.
Basicamente três tipos de armadilhas são utilizados nos
inventários mastozoológicos, as armadilhas tipo sherman, tipo gaiola (a
mais utilizada é a Tomahawk) e as armadilhas de queda. É importante a
utilização combinada destas armadilhas para uma amostragem mais

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

completa da fauna local. Além disso, as armadilhas tipo Sherman e


gaiola podem ser colocadas no alto, também visando a coleta de
animais de hábito arborícola.
Para os inventários faunísticos, a disposição das armadilhas, no
solo ou em árvore, pode ser em trilhas lineares, tentando abranger
todos os ambientes disponíveis na área de estudo. A distância entre as
armadilhas pode ser em torno de 10-15 m, e no máximo 50 armadilhas
devem ser colocadas por trilha. No local de cada armadilha deve ser
colocada uma fita (podem ser utilizadas fitas de pano tipo viés) colorida
(de preferência vermelha para facilitar a visualização), numerada com
uma letra para designar a trilha, já que em uma mesma localidade pode
haver mais de uma trilha, e um número para designar a armadilha.
Esse sistema além de facilitar a localização das armadilhas, possibilita
associar o animal a uma dada vegetação, e detectar sintopias entre
espécies diferentes, entre outras possibilidades.

4. Fotodocumentação

Para a documentação fotográfica dos espécimes capturados pode-


se utilizar um aquário de vidro pequeno, com tampa. Pode se arrumar o
aquario, como na figura abaixo, com o auxílio de folhas e pedação
pequenos de madeira. Para tirar a foto é necssário que as paredes do
aquário estejam bem limpas e que a objetiva da máquina esteja
bencostada no vidro.

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Foto: C.R. Bonvicino

Foto: C.R.Bonvicino

Foto: J.A. Oliveira

Foto: M.F. Barros

Figura 1. Armadilhas tipo Sherman , armadilha de queda e marcação da


trilha.

Foto: J.A. Oliveira


Foto: J.A. Oliveira

Figura 2. Aquário de vidro montado para fotodocumentação.

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

5. Coleta de informações sobre a área amostras e


georreferenciamento de trilhas

Toda área amostrada deve ser descrita em termos de relevo e


vegetação. Essa descrição pode ser suscinta, mas deve conter
informações sobre o tipo de fisionomia vegetação (e.g., mata de
restinga, mata de galeria, campo natural, etc), o estado de conservação
(se a vegetação é primária, ou alterada ou ainda de crescimento
secundário), a presença de áreas de agricultura (especificar o tipo de
lavoura) e pecuária. A presença de cursos de água, afloramentos
rochosos, e tipo de solo, e.g., argiloso ou arenoso, também deve ser
anotada. Essa informação deverá estar disponibilizada para cada trilha e
colocada nas fichas de controle das armadilhas (veja abaixo).
Toda trilha deve ser georreferênciada, se possível no início e no
final.

6. Procedimento de revisão e re-iscagem das armadilhas,


transporte dos espécimes ao laboratório

A revisão das armadilhas deve ser realizada bem cedo para evitar
a morte dos animais, levando armadilhas para serem respostas, isca
para re-iscagem, caneta e fita crepe para marcar o número da
armadilha em caso de captura, e saco plástico para colocar as
armadilhas com espécimes. O ideal é reiscar as armadilhas todos os
dias, mesmo aquelas em que não houve coleta de espécimes. As
armadilhas que contiverem espécimes devem ser transportadas para o
laboratório dentro de saco plástico, apenas uma armadilha em cada
saco, tomando o cuidado de registrar o número da armadilha. Não se
deve abrir as armadilhas tipo caixa no campo para tentar identificar os
espécimes.

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

No final do trabalho de campo todas as armadilhas dever ser


lavadas com água e sabão.

7. Registro dos espécimes coletados

Para o registro de espécimes coletados utiliza-se um caderno de


campo do tipo fichário com folhas pautadas de papel de boa qualidade,
que não desmanche ao contato com a água, ou rasga com facilidade. O
caderno de campo serve para o catálogo dos espécimes e para o
registro diário das informações da viagem. Para escrever utilizar caneta
nanquim (existem diversas canetas permanentes disponíveis) ou lápis
preto n° 2, nunca escreva com caneta esferográfica convencional, que
possui tinta solúvel em água e álcool. As folhas preenchidas do fichário
de campo em coletas anteriores deverão permanecer no laboratório,
somente folhas em branco são levadas para o campo.
O registro dos espécimes coletados é realizado com o auxílio de
um sistema de numeração precedida por um código com até quatro
letras que associe os espécimes obtidos a um laboratório ou coletor. A
numeração deve ser contínua, e ligada a um laboratório ou coletor, por
isso deve ser tomado o cuidado de anotar o último número utilizado
para se iniciar o registro de animais coletados em uma nova expedição
a partir do número seguinte.
Para agilizar o trabalho de campo as etiquetas da pele e crânio
deverão ser preparadas ainda em laboratório. As etiquetas para
identificar as carcaças de cada espécime autopsiado já vedem vir com
os números de impressos sobre fita plástica (existem as marcas
“Rotex”® ou “Dymo”®). Essas etiquetas plásticas são temporárias e
devem ser utilizadas somente com a finalidade de identificar carcaças
que serão mantidas em álcool até a preparação de esqueletos por larvas
de besouros. Espécimes que serão mantidos em álcool por muito
tempo, como na conservação em meio líquido permanente, devem ter

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

etiquetas plásticas de papel de boa qualidade escrita com tinta


nanquim.
Também no laboratório devem-se preparar as etiquetas que serão
utilizadas para a pele, que só serão numeradas no campo, também com
caneta nanquim ou lápis preto n°2. Todas as partes do espécime devem
ser identificadas com o mesmo número. Outras etiquetas, a serem
numeradas no campo, devem ser preparadas para identificar os
diversos tipos de preparações como amostras de tecido, de conteúdo
estomacal, fetos, etc.

Cerradomys marinhus
Faz. Sertão do Formoso, Jaborandi, BA
Col.: Bonvicino, Bezerra, D’ Andrea,
Lindbergh

CT ou HB / CA / PEC(PES) / OI / P g
Data
OBS: coord., estado reprodutivo, etc
# ponto captura

Figura 3. Etiqueta para pele com as informações necessárias.

8. Medidas externa dos espécimes coletados

Todo espécime coletado deve ser pesado em gramas, e ter suas


medidas externas tomadas em milímetros logo após a eutanásia.
Normalmente são tomadas cinco medidas externas de mamíferos
terrestres não voadores: (1) comprimento total (CT), da ponta do
focinho a ponta da cauda (do osso e não dos pelos); (1a) comprimento
cabeça-corpo (HB), da ponta do focinho à base da cauda, dorsalmente;
(2) comprimento da cauda (CA), desde a base (primeira vértebra
caudal) até a ponta, com exclusão dos pêlos terminais; (3)

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

comprimento da pata posterio com unhas (PEC), mede-se a planta do


pé, do calcanhar a ponta do dedo mais longo, com inclusão das unhas;
(4) comprimento da pata posterior sem unha (PES), mede-se a planta
do pé, do calcanhar a ponta do dedo mais longo, com exclusão das
unhas; (5) comprimento da orelha interna (OI), mede-se por dentro
desde a parte presa a cabeça até a extremidade livre.
Para outras medidas utilizadas em outrso grupos de mamíferos
veja Cerqueira (2007).

1a

Figura 4. Medidas externas de mamíferos não voadores (modificado de


Cerqueira, 2007).

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

9. Procedimentos para conservação em meio líquido e transporte


dos espécimes preparados

Se durante a coleta não for possível realizar a taxidermia, o


material deverá ser preservado em álcool para posterior taxidermia.
Nesse caso, o espécime não deve ser fixado em solução de formalina à
10%, como na preservação permanente em meio líquido. Para esse
procedimento a autópsia deve ser feita com cortes perpendiculares ao
comprimento do corpo, eviscera-se o material, que pode ser guardado
em potes apropriados para posterior análise anatômica ou de conteúdo
estomacal, e injeta-se álcool a 80% nos membros, cavidade toráxica, e
subcutaneamente nas partes mais espessas. O material é mantido em
álcool 80%, em um recipiente vedado, até o processamento final. Este
método permite, posteriormente, taxidermizar as peles e preparar os
esqueletos com larvas de besouros que são mantidas especialmente
para esta finalidade. Também será possível a extração de material
genético (ADN) dos tecidos dos espécimes preservados, nos casos em
que os fragmentos de fígado retirados durante a autópsia não
proporcionarem material.
Para a remessa dos espécimes do campo para o laboratório,
depois de alguns dias de sua imersão no álcool, pode-se escoar o
recipiente para diminuir o peso e possibilitar o transporte mais seguro.
Se os espécimes não forem taxidermizados num período de 15 dias, o
recipiente deverá ser novamente completado com álcool 80%.
Para preservação pemanente é necessária a fixação em formalina
tamponada a 10%. Este tipo de preservação mantém o espécime
intacto para estudos anatômicos ou histológicos e análises de conteúdo
estomacal, mas dificulta a limpeza do esqueleto, e a extração de
material genético posteriormente.
Os espécimes devem ser fixados em uma posição que evite a
distorção dos músculos, minimize a quebra da cauda ou dos membros,

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

e facilite a retirada e retorno aos recipientes onde ficarão


permanentemente acondicionados. A boca deverá ser mantida bem
aberta, por chumaços de algodão ali posicionados antes da fixação, a
fim de permitir o exame da dentição para fins de identificação
posteriormente. Depois de fixado o animal de 2 a 14 dias deve-se
retirar o formol. Os espécimes devem ser lavados em água corrente por
24 horas, e transferidos para uma solução de álcool 70%, onde serão
mantidos permanentemente.

10. Procedimentos para taxidermia em meio seco e transporte


dos espécimes preparados

A arte de empalhar os animais é designada taxidermia, palavra do


grego taxis- arranjo, organização- e derme - pele. A taxidermia é uma
arte muito antiga. A preparação de peles tentando reproduzir o animal
em postura natural e a preparação de exemplares de coleções
museológicas, ou museum skins, coexistiram durante muito tempo , e
manuais de preparação foram divulgados desde o século XVIII (Ávila-
Pires 2012). A taxidermia é a preparação da pele de um espécime para
estudos científicos ou exposição, onde todas as partes moles são
retiradas. Deve-se aguardar pelo menos duas horas (variável de acordo
com o tamanho do animal), entre a morte e o início da taxidermia para
que o sangue coagule e os líquidos corporais comecem a secar. A
taxidermia de mamíferos pequenos, se faz com a pele cheia, onde a
parte interna (músculos e órgãos) é substituída por algodão hidrófobo.
Para animais maiores a pele fica aberta. Nos dois casos o esqueleto
completo deve ser guardado. As seguintes referências fornecem
procedimentos detalhados para a taxidermia e outros meios de
conservação: Brown e Stoddart (1977), Hall (1962), Handley (2009),
Moojen (1943), Nagorsen e Peterson (1980), Setzer (1963).

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Após tomar as medidas externas, coloca-se o espécime com o


ventre para cima, e com o bisturi faz-se uma incisão, na pele sem
atingir o músculo, desde o fim do esterno até pouco antes dos órgãos
genitais. Com o auxílio da pinça, tesoura e dos dedos descola-se a pele
separando-a da musculatura. Este processo deve ser feito com muito
cuidado em táxons com facilidade de ter a pele rasgada. Um pouco
antes de atingir a articulação da perna com a pata, corta-se os ossos da
perna com uma tesoura. Continua-se o deslocamento da pele até as
costas, corta-se a ligação dos genitais e do intestino com a pele. Em
seguida, desnuda-se os primeiros centímetros da cauda, aperta-se
firmemente a cauda entre duas hastes de uma tesoura, e puxa-se o
corpo com firmeza, mas devagar. A cauda geralmente se destaca com
facilidade, cuidado para não virar a cauda pelo avesso. Segura-se com
uma das mãos as duas coxas, que ficaram presas ao corpo, e com a
outra mão, descola-se a pele até encontrar os braços, que são
trabalhados do mesmo modo que as pernas. Prossegue-se o
deslocamento do restante da pele, ainda aderida aos músculos tomando
cuidadoao chegar as orelhas onde deve ser feita uma incisão para
separála do resto do corpo, assim como na pele ao redor dos olhos e da
pele conectando a boca ao corpo.
Envenena-se a pele com sabão arsenical, tomando cuidado com
o sabão arsenical. Na preparação do enchimento da pele deve-se
proceder da seguinte forma: enrola-se algodão em um arame deixando
uma das extremidades livre para introduzí-la nas patas dianteiras e
traseiras do animal. Procede-se da mesma maneira com a cauda do
animal, tomando o cuidado para que o arame seja longo o suficiente
para ir da ponta da cauda ao meio do abdomem do espécime. O corpo
do espécime é feito com um chumaço de algodão na forma cilíndrica, de
comprimento igual ao do corpo do animal (focinho até a base da
cauda). Em primeiro lugar coloca-se este corpo cilíndrico, depois o
arame com o algodão nas patas e finalmente o arame com o algodão na

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

cauda do espécime. Com agulha e linha corrente branca no. 10 fecha-se


a incisão ventral. Caso o espécime seja uim roedor de porte médio
injeta-se formol a 10% nas patas. Após etiquetar o espécime ele deve
ser fixado em uma superfície plana (por exemplo uma folha de isopor
de 2 cm de espessura) utiliza-se alfinetes que atravessem as patas, e
eguram a cauda na posição desejada. A posição do espécime é de
cúbito ventral, inclusive as patas. A cauda deve ficar rente ao substrato
onde o espécime foi colocado.
Para transporte dos espécimes taxidermizados deve-se colocar as
pranchas de isopor dentro de um recipiente com tampa, de material
duro que impessa que os espécimes sejam comprimidos.

Foto: M.B. Faria

Figura 5. Peles taxidermizadas de pequenos mamíferos.

O restante do corpo deve ser eviscerado e o esqueleto deve


receber o mesmo número da pele, e após etiquetado deve ser

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

armazenado em álcool 70% até ser preparado com o auxílio de


besouros da ordem Dermestidae.

11. Procedimentos para coleta de tecidos para procedimentos


moleculares .

1. Trabalhar com instrumentos limpos, desinfetar com lysol e depois


lavar com água todos os instrumentos após a coleta de tecidos de cada
espécime
2. Preparar 2 criotubos (se não tiver criotubo pode ser tubos de
microcentrífuga) com etanol absoluto de marca boa (e.g. MERCK) para
cada espécime (na ausência de etanol absoluto pode se utilizar álcool
96%)., e uma placa de petri, para cada espécime, onde será picotado
os tecidos
3. Colocar dentro do criotubo uma etiqueta de papel apropriado
(resistente a água) com o nome do espécime escrito à lapis em ambos
os lados da etiqueta e o tipo de tecido coletado, etiquetar por fora o
criotubo com fígado (F) e músculo (M)
4. Retirar um pedaço do fígado, ou de músculo, colocar sobre uma
placa de petri ou em um local limpo, picotar em pedaços de cerca de 2
mm, e colocar em dois criotubos com etanol absoluto, sempre
respeitando a proporção de 1/3 de tecido e 2/3 de etanol (figura 6).
5. IMPORTANTE, O etanol irá desidratar o tecido, por isso o ideal é
depois de 24 horas após as amostras terem sido coletadas, mudar o

etanol dos criotubos. Guardar preferencialmente a 20oC.
6. O ideal é guardar este material no congelador, mas se necessário
este material poderá ficar a temperatura ambiente pelo tempo
necessário (por exemplo até 1 mês). Lembrar de trocar o etanol assim
que chagar ao laboratório.

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

7. Pode-se retirar amostras de fígado e músculo mesmo de espécimes


mortos à 24 horas. Caso o fígado esteja muito degradado retirar apenas
amostras de músculo.
Para uma revisão recente sobre as diferentes técnicas de de
preservação de material genético, consultar Nagy (2010).

Figura 6. Quantidade de tecido a ser preservada


em etanol. O criotubo da esquerda contem a
proporção de 1/3 de tecido e 2/3 de etanol
(correto), enquanto o criotubo da direita contem
1/2 de tecido e 1/2 de etanol (não recomendado).

12. Procedimentos para obtenção de células em suspensão no


campo

Existem dois procedimentos, a cultura in vivo e a cultura in vitro


(Andrade et al., 2004). Para o procedimento in vivo injeta-se colchicina
a 0,01% (1ml por 100 g de peso do animal) intraperitonialmente, e
para cultura in vitro segue-se o protocolo abaixo.
a) colocar o meio de cultura (RPMI + 20% soro bovino fetal + colchicina
na concentração final de 0,5M) em banho-Maria (ou outra fonte de
calor) à 37oC por 30 minutos antes de sacrificar o animal. É MUITO
IMPORTANTE QUE O MEIO SEJA AQUECIDO ANTES DE SER UTILIZADO;
b) retirar um dos fêmures (em animal de pequeno porte, cerca de 25
gramas, retirar fêmur e tíbia) limpar com gaze e cortar as epífises;
c) com o auxílio de uma seringa de 5 mL contendo 1 ou 2 mL do meio
de cultura previamente aquecido, retirar a medula e colocar em uma
placa de Petri onde o material deve ser homogeneizado delicadamente;

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

d) adicionar ao meio de cultura 0,9 mL de brometo de etídio (0,5ug/mL)


para cada 10 mL de meio de cultura com uma seringa de 1mL. Deixar o
material em banho Maria (ou em outra fonte de calor) à 37o C por duas
horas; É MUITO IMPORTANTE MANTER O MEIO ESTAR AQUECIDO;
e) centrifugar por 8 minutos a 1500 rpmi, e descartar o sobrenadante;
f) fazer o choque hipotônico adicionando ao pellet 10 mL de KCl
(0,075M - 0,28g em 50 mL, ou 0,56g em 100mL de água destilada, leve
já pesado em alíquotas para o campo), e homogeneizar. Deixar em
temperatura ambiente (se estiver frio colocar a 37oC) por 30 minutos;
utilizar uma marca boa, como a MERCK, para o KCl;
g) fazer pré-fixação adicionando ao tubo 2 mL de fixador Carnoy (3
metanol: 1 ácido acético, se possível de uma boa marca como a
MERCK) e homogeneizando, esperar pelo menos 5 minutos e
centrifugar 8 minutos a 1500 rpm; IMPORTANTE: O FIXADOR DEVE SER
FRESCO!!!!
h) descartar o sobrenadante e adicionar 10 mL de fixador. Esperar 10
minutos, centrifugar por 8 minutos a 1500 rpm;
g) descartar o sobrenadante e adicionar mais 10 mL de fixador (PODE
PARAR NESTA ETAPA NO CAMPO). Centrifugar por 8 minutos a 1500
rpm;
h) repetir o item g por duas vezes;
i) colocar os tubos contendo células em suspensão no congelador.
Não reutilizar o fixador Carnoy e o KCl de um dia para o outro

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

13. Ficha para controle das armadilhas Loc:...................................................................................................................


Trilha:..................................................................... Alt.:................................
Fazenda Vão dos Bois, Teresina de Goiás, GO
Loc:................................................................................................................... Coord.início................................................................................................
A
Trilha:............................................................................... Alt.:....................... Coord.final.......................................................................................................
Coord.início..................................................................................................... Data:................................Resp.......................................................................
Coord.final....................................................................................................... Veg.:..................................................................................................................
01.vii.2010 Michel, Fabiana
Data:................................Resp.........................................................................
cerrado típico (armadilha 1 a 11), campo úmido no restante data→
Veg.:..................................................................................................................
armadilha↓
data→
armadilha↓ 02.vii 03.vii 04.vii 05.vii
1 Sh peq. -
- - -
2 Sh peq - -
- -
3 Tw - - CRB2958
4 Sh peq. - - - -
5 Sh peq CRB2954 - - -
6 Tw - ! -CRB2957
7 Sh peq. - - - -
8 Sh peq - - - -
9 Tw - - - -
- - - -
10 Sh peq.
- - - -
11 Sh peq -
- - -
12 Tw - -
- CRB2959
13 Sh peq. - - - -
14 Sh peq. - - - -
15 TW - - -
16 Sh peq - - - -
- CRB2956
- - -
17 Sh peq.
18 Tw - - - -
19 Sh peq
CRB2955 - - -

19
Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Loc:................................................................................................................... Loc:...................................................................................................................
Trilha:............................................................................... Alt.:....................... Trilha:..................................................................... Alt.:................................
Coord.início..................................................................................................... Coord.início................................................................................................
Coord.final....................................................................................................... Coord.final.......................................................................................................
Data:................................Resp......................................................................... Data:................................Resp.......................................................................
Veg.:.................................................................................................................. Veg.:..................................................................................................................

data→ data→
armadilha↓ armadilha↓

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

14. Ficha para controle dos cariótipos

DATA: LOCALIDADE
1 2 3 4 5
MEDULA/MEIO CENTRIF. 10min 1500 rpm PRÉ-FIXAR 2ml Carnoy DESCARTAR E REPETIR
RESPONSÁVEL Número de campo ARMA-
0,5ml BROMETO, DESCARTAR, RESSUSPENDER 5 min, CENTRIFUGAR RESSUSPENDER item 4
ZENAR
37OC 2h 10ml KCl, 30min TEM. AMBIENTE 10 min a 1500 RPM em 10ml de Carnoy 2X

INSTRUÇÕES: (1) Todos os campos devem ser preenchidos pelo responsável pela execução do procedimento; (II) Para cada exemplar coletado devem ser feito 01 ou 02 tubos contendo
células em suspensão (A e B); (III) Nos campos 1 e 2 marcar o horário de começo e fim do procedimento; (IV) Os demais campos podem ser marcados com um "X" quando cada etapa por
realizada. (Adaptado de C. Viana).

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

15. Referências
Andrade A.F.B. de, Bonvicino, C.R., Briani, D.C. & Kasahara, S. 2004.
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49(2): 181-190.
Auricchio P. & Salomão M.G. 2002. Técnicas de coleta e preparação
de vertebrados para fins científicos e didáticos. Arujá, Instituto
Pau Brasil de História Natural, 348 p.
Avila-Pires F.D. de. 2011. Mudanças nas práticas de coleta e estudo
dos mamíferos a partir do século XVIII. Filosofia e História da
Biologia 6(2): 211-226.
Brown, J. Clevedon & Stoddart, D.M. 1977. Killing mammals and
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Cerqueira, R. 2007. Descrição externa dos mamíferos. 2. Medidas
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Nagy, Z. T. 2010. A hands-on overview of tissue preservation
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Setzer, H.W. 1963. Directions for preserving mammals for museum


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Biodiversidade. Manual do Usuário. Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 3ª Edição. 63p.
(www.icmbio.gov.br/sisbio)

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Anexo 1: Lista de material de campo:

Campo Taxidermia
1os socorros Agulha
Álcool 70% Alfinetes
Álcool 95% Algodão hidrófobo
Alicate Algodão hidrófilo
Apontador Alicate
Armadilhas - Sherman Arame
Armadilhas - Ratoeira Bisturi
Armadilhas - Alçapão Bombona
Borracha Bórax
Caderno de campo Cabo de bisturi
Caneta nanquim Caneta nanquim
Caneta permanente Caneta permanente
Criotubo Criotubo
Durex Tubo de microcentrífuga
Éter Escova de cerdas pequena
Etiquetas Éter
Fita métrica Etiqueta para de identificação
Formol 10% Fita para rotulador
GPS Formol 10%
Guia de campo Fubá
Isopor para amostras Placa de isopor de 2 cm de espessura
Lápis Lâmina para bisturi
Luva de raspa Linha branca numero 10
Luva látex Codorne numero 0
Perneira Luva descartável
Pesola (500g, 1kg, 2kg) Máscara
Pinça Naftalina
Régua Pinça dente de rato
Repelente Pinça sem dentes
Saco de contenção Pincel para veneno
Sacos de lixo preto Pisseta
Sacos de pano Placa de petri
Sacos zip Rotulator
Tesoura grande e pequena Sabão arsenical
Silver tape Seringa 10 ou 20 ml
Tesoura reta e curva
Papel laminado

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Coleta e taxidermia de pequenos mamíferos terrestres

Anexo 1. Cont.

Isca Pessoal
Aipim Caderno de campo
Amendocream (paçoca) Cantis de água
Aveia Lanterna
Bacon Mochilas de campo
Banana Pochete/ Embornal
Mandioca Facão
Óleo de fígado de bacalhau
Descontaminação
Cariótipo Desinfetante
Ácido acético Glacial (de boa
qualidade) Detergente líquido
Água destilada Escova de banheiro (armadilha)
Agulhas para seringa (25 x 0,6) Esponja
Borrifador Luvas de borracha
Centrífuga Perfex
Descarte de perfuro cortante
Estante para tubos
Gaze e papel absorvente
KCL 0.075M
Meio de cultura
Metanol – álcool metílico
Papel toalha
Pinças
Pipetas de plástico
Placa de petri
Seringas de 1ml, 3ml e 5ml
Tesouras
Tubos tipo Falcon 15ml e 50ml

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