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2ª edição

Manejo da cultura
do açaí em terra firme
da semente à pós-colheita e ao
processamento
Ficha técnica
Elaboração do conteúdo Rafaella de Andrade Mattietto - Dra.
Alistair John Campbell - Dr. Ciências Tecnologia de Alimentos, Pesquisadora
Biológicas, bolsista de pós-doutorado da Embrapa Amazônia Oriental
pela Embrapa Amazônia Oriental
Walkymário de Paulo Lemos - Dr.
Cristiano Menezes - Dr. Entomologia, Entomologia, Pesquisador da Embrapa
Embrapa Meio Ambiente Amazônia Oriental

Edilson Carvalho Brasil - Dr. Solos e


Nutrição de Plantas, Pesquisador da Setor responável
Embrapa Amazônia Oriental Mazillene Borges de Souza - Analista
Embrapa Amazônia Oriental
Felipe Deodato da Silva e Silva - Dr.
Desenvolvimento Sustentável, Instituto
Federal de Educação, Ciência e Diagramação
Tecnologia de Mato Grosso (IFMT)
RALEDUC

Ismael de Jesus Matos Viégas - Dr. 2022


Solos e Nutrição de Plantas, Docente da
Universidade Federal Rural da Amazônia
– Campus Capanema

João Tomé de Farias Neto, Dr. Genética e


Melhoramento de Plantas, Pesquisador
da Embrapa Amazônia Oriental

Joaquim Alves de Lima Junior -


Dr. Engenharia Agrícola, Docente da
Universidade Federal Rural da Amazônia
– Campus Capanema

Kamila Leão - Dra. Ecologia

Márcia Motta Maués - Dra. Ecologia,


Pesquisador da Embrapa Amazônia
Oriental

Márcio Siqueira Moura - Técnico em


Agropecuária, Coordenador da Equipe de
Assistência Técnica Agrícola da CAMTA
2

Sumário
Apresentação do curso e seus objetivos................................................................................ 5

Módulo 1.....................................................................................................................................................6

Unidade 1 - Considerações iniciais da cultura.....................................................................7

Unidade 2 - Produção de mudas, implantação e manejo............................................13

2.1 Implantação e manejo................................................................................................................19

2.2 Principais avanços obtidos pela pesquisa com o açaí....................................24

Unidade 3 - Cultivar Pai D’égua para terra firme com suplementação


hídrica......................................................................................................................................................25

3.1 Programa de melhoramento genético........................................................................... 27

3.2 Outras observações...................................................................................................................34

3.3 Refinamentos tecnológicos................................................................................................... 37

Módulo 2..................................................................................................................................................41

Unidade 1 - Aspectos gerais da nutrição de plantas.....................................................42

Unidade 2 - Nutrição do açaizeiro...........................................................................................46

2.1 Acúmulo de matéria seca em plantas de açaizeiro.............................................48

2.2 Distribuição de nutrientes nas partes do açaizeiro..........................................49

2.3 Extração e exportação de nutrientes em populações nativas


(várzeas) e área cultivada (terra firme).................................................................................50

2.4 Extração e exportação de nutrientes pelo açaizeiro em função da


idade..............................................................................................................................................................54

2.5 Deficiências nutricionais do açaizeiro.........................................................................57

2.6 Sintomas de deficiências nutricionais do açaizeiro..........................................59

2.7 Monitoramento do estado nutricional.........................................................................65

Unidade 3 - Calagem e adubação para o açaizeiro...................................................... 68

3.1 Quantidade de calcário a aplicar.................................................................................... 68

3.2 Sugestão de adubação........................................................................................................... 69

3.3 Análise do solo................................................................................................................................ 71

Módulo 3..................................................................................................................................................78

Unidade 1 - Princípios básicos de um dimensionamento hidráulico.................... 79


3
Unidade 2 - Avaliação de sistema de irrigação e medidas que aumentam
eficiência de aplicação de água............................................................................................... 95

Unidade 3 - Uso de técnicas de manejo de irrigação................................................... 98

Unidade 4 - Uso da fertirrigação........................................................................................... 104

Unidade 5 - Custo de sistemas irrigado no agronegócio da cultura do


açaí............................................................................................................................................................ 111

Módulo 4................................................................................................................................................ 112

Unidade 1 - Biologia floral e polinização do açaizeiro................................................. 113

1.1 Fenologia e biologia floral do açaizeiro....................................................................... 113

1.2 Polinização e biologia reprodutiva................................................................................. 118

1.3 Polinização como um bioinsumo agrícola................................................................ 125

1.4 Visitantes florais e polinizadores do açaizeiro..................................................... 127

Unidade 2 - Estratégias para manter serviços de polinização.............................. 135

2.2 Ameaças aos polinizadores do açaizeiro.................................................................141

2.3 Importância da diversidade vegetal dentro e fora do plantio................. 146

Unidade 3 - Biologia e criação de abelhas sem ferrão para polinização....... 155

3.1 Quem são as abelhas sem ferrão?.................................................................................155

3.2 Como vivem as abelhas sem ferrão?........................................................................... 162

3.3 Como adquirir colônias de abelhas sem ferrão?............................................... 166

3.4 Caixas de criação para abelhas sem ferrão.......................................................... 168

3.5 Transporte e manejo de abelhas sem ferrão..........................................................173

Unidade 4 - Quando devemos introduzir abelhas em plantios de açaí?.......... 176

4.1 Parâmetros analisados na propriedade rural....................................................... 177

4.2 Impactos da densidade de abelhas no plantio.................................................. 180

4.3 Impactos no lucro em plantios de açaí..................................................................... 182

Módulo 5............................................................................................................................................... 185

Unidade 1 - Fatores que favorecem o aparecimento de insetos-praga.............186

Unidade 2 - Principais espécies de insetos-praga em açaizeiro...........................189

2.1. Pulgão-Preto-do-Coqueiro ou afídeo-das-palmeiras Cerataphis


brasiliensis (Hemiptera: Aphididae).................................................................................................... 189

2.2 Gafanhoto-do-coqueiro ou Tucurão Eutropidacris cristata (Orthoptera:


4
Acrididae)..................................................................................................................................................... 193

2.3 Barata-do-coqueiro ou Coraliomela brunnea (Coleoptera: Chrysomelidae)..... 197

2.4 Broca-do-bulbo das palmáceas ou besouro-de-chifre Strategus sp.


(Coleoptera: Scarabaeidae).................................................................................................................. 200

2.5 Formigas cortadeiras ou saúvas Atta spp. (Hymenoptera: Formicidae)....... 202

2.6 Broca-do-coqueiro ou bicudo-das-palmáceas Rhynchophorus palmarum


(Coleoptera: Curculionidae)...................................................................................................................207

2.7 Broca-da-coroa-foliar, broca-do-cacho ou castnia Eupalamides


cyparissias cyparissias (Lepidoptera: Castniidae)....................................................................... 212

Módulo 6............................................................................................................................................... 216

Unidade 1 - Colheita, pós-colheita e transporte.............................................................217

1.1 Métodos de colheita, limpeza, acondicionamento e transporte dos


frutos........................................................................................................................................................... 218

Unidade 2 - Processamento artesanal e agroindustrial do açaí......................... 224

2.1 Conservação de alimentos.................................................................................................. 225

2.2 Relação da capacidade de sobrevivência ou multiplicação de


microrganismos.................................................................................................................................. 227

2.3 Etapas de processamento em duas vertentes: batedores


artesanais e agroindustriais.................................................................................................... 232
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 5

Apresentação do curso e seus objetivos


Seja muito bem-vindo e bem-vinda à segunda versão da capacitação Manejo da cultura do
açaí em terra firme: da semente à pós-colheita e ao processamento.

Esta capacitação é direcionada para agentes multiplicadores, produtores rurais, consultores


e estudantes e tem o objetivo de estimular a incorporação de tecnologias para melhoria dos
processos, incremento na eficiência do sistema e redução de perdas na cadeia produtiva,
ampliando, assim, a colaboração da ciência no mercado.

A capacitação está estruturada em seis módulos:

• O primeiro aborda as variedades, implantação e manejo do açaizal.


• O segundo módulo traz informações sobre a nutrição e adubação do açaizeiro.
• O terceiro destaca o uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da
produtividade e racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme.
• Já o quarto módulo aborda a polinização e o manejo dos polinizadores do açaizeiro.
• O quinto módulo apresenta as estratégias de manejo e controle de insetos-praga.
• E, por fim, o sexto módulo apresenta traz informações sobre a colheita, pós-colheita,
e os processamentos artesanal e agroindustrial do açaí.

Por se tratar de uma capacitação na modalidade a distância e autoinstrucional, ou seja, sem


interação entre professor e aluno, isso requer disciplina para manter o foco nos estudos.

Por isso, recomendamos que dedique um tempo de qualidade para estudar cada módulo com
calma, reserve um ambiente tranquilo e livre das possíveis distrações durante seus estudos.
Sempre que possível, consulte as referências indicadas, anote o que achar necessário e faça
os exercícios indicados.

Essas são só algumas dicas para contribuir com o seu aprendizado. Bons estudos!
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 6

Módulo 1
Autor: João Tomé de Farias Neto.

Vamos dar início a este curso sobre o Manejo da cultura do açaí em terra firme: da semente
à pós-colheita e ao processamento.

Este é o primeiro módulo do curso e nele você vai conhecer a cultura do açaí, que é uma das
mais importantes da Amazônia.

Serão abordadas as variedades, processo de implantação e o manejo do açaizal.

Para isso, dividimos este módulo em três unidades:

• Na Unidade 1 serão feitas algumas considerações iniciais da cultura do açaí, como os


principais impactos socioeconômicos.
• Na Unidade 2 você vai conhecer o processo de produção das mudas, a implantação, o
manejo e os principais avanços obtidos pela pesquisa com o açaí.
• E na Unidade 3 você vai conhecer a cultivar BRS Pai D’Égua para terra firme com
suplementação hídrica. Na ocasião, também serão apresentados o programa de
melhoramento genético da Embrapa, outras tecnologias para o cultivo em terra firme
e os principais refinamentos tecnológicos.

Ao final deste primeiro módulo, espera-se que você seja capaz de reconhecer as variedades
e cultivares do açaizeiro e consiga identificar estratégias para implantação e manejo do
açaizal.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 7

Unidade 1 - Considerações iniciais da


cultura

Você sabia que depois da mandioca, o açaí é a espécie socioeconomicamente mais


importante no Estado do Pará?

Confira, a seguir, alguns dados que ressaltam a importância socioeconômica e ambiental


do açaí.

• Comercialização para outros Estados: taxas anuais de comercialização superiores


a 15% e aumento da produção em 5%. Observa-se que há uma grande diferença nos
percentuais, já que a demanda é de 15% e a produção é de apenas de 5%, o que leva
à reclamação dos processadores de açaí em relação ao seu preço (alta demanda x
produção pequena).
• Geração de emprego: mais de 150 mil empregos diretos (cada emprego direto gera 4-5
indiretos).
• Produção anual: 1,5 milhões de toneladas de fruto/ano, sendo 20% desse montante
consumido na propriedade, isto é, se o ribeirinho produz 100 latas, 20% disso são
consumidos pela sua família. O restante, 60%, é comercializado pelo mercado local;
30% por outros mercados, como Brasília, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro; e
apenas 10% de todo o açaí produzido pelo Estado do Pará é exportado.
• Renda anual: responsável por 60-70% da renda anual dos ribeirinhos.
• Recuperação de solos degradados (folhas, cachos, caroços, etc.): a cada 10 toneladas
de frutos colhidos deixam-se, na propriedade, 3 toneladas de cachos vazios que irão
se decompor e melhorar as condições físicas e químicas desta propriedade. Além
disso, a cada 24 dias, do açaizeiro em terra firme, irrigado e corretamente adubado,
cai uma folha no solo. Esta, por sua vez, irá se decompor e se incorporar ao solo,
liberando suas propriedades físicas e químicas.
• Época de produção: 70% a 80% ocorrem entre julho e dezembro. Este é o período da
safra do açaí e, talvez, o tópico mais importante das considerações iniciais. Já a
entressafra ocorre no primeiro semestre (20% a 30%).
• Renda em 2018: R$3 bilhões.
• Alta variabilidade: para alguns produtores, a alta variabilidade de características
pode ser problemática, uma vez que o comércio interno é extremamente exigente
no que se refere à produção de alta qualidade. Por vezes, um determinado produtor
ou processador compra de um produtor A e o fruto apresenta características
físicas e químicas específicas e, ao comprar do produtor B, C ou D, o fruto terá
outras propriedades totalmente diferentes das primeiras, o que acaba gerando
certa frustração no comprador. Percebe-se, no entanto, que tal variação é inerente
à cultura. Tanto as partes físicas quanto as químicas apresentam alterações
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 8

importantes, porque a produção advém de diversas localidades. Assim, a alta


variabilidade incorre em produtos diferentes e, no momento da exportação, o
mercado mundial exige cores e sabores novos, com qualidade.
• Variabilidade na cor: frutos verdes (açaí branco) e frutos violáceos.

• Variabilidade nos cachos: além do já tradicional conhecido pela maioria, existe o


açaí-espada, semelhante ao cacho de pupunha. É encontrado na Universidade Federal
do Pará, localizada na ilha do Combu.

• Variabilidade no tamanho/peso: tipo pequeno (85g – 130g/100 frutos). Na região de


Breves e outras localidades há frutos com até 220g/100 frutos.

• Variabilidade nas plantas: com e sem perfilhamento e perfilhamento precoce.

• Rendimento de suco:
• Quanto menor o tempo entre a colheita e o processamento, maior será o rendimento
do suco, seu aroma, cor e sabor.

• Material genético: normalmente, os frutos pequenos apresentam melhor rendimento.

• Maturação do cacho: a característica tuíra (quando há uma película na cor branca


em cima dos frutos) é a mais recomendada para colheita, pois se refere à maturação
máxima do açaí, o qual apresenta maior rendimento, cheiro, cor e sabor.

• Processador: é de suma importância que este saiba bater o açaí para entregar um
produto de alta qualidade.

Nesta imagem é possível observar os


diferentes tipos de açaizeiros em relação
a cachos. São eles:

• Branco.
• Espada: encontrado na ilha do Combu.
• Roxo: o mais frequente.
Cachos de açaizeiro de diferentes tipos
Foto: Socorro Padilha
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 9

Aqui você já observa a mesma quantidade


de frutos de açaí (100 frutos), porém, com
pesos diferentes: um pesa 95g e o outro
180g. O processador tem mais interesse
em comprar os frutos menores, devido à
obtenção de maior rendimento.

Quantidade de frutos/grama
Foto: João Tomé de Farias Neto

Vamos exemplificar: se pegarmos uma lata de açaí (14,5 kg) com frutos
menores teremos maior produção de suco com relação à lata de açaí
com frutos maiores. Se somarmos a área de processamento dos frutos
menores (maior quantidade de frutos)/lata, a mesma será superior em
relação a de frutos maiores.

Agora, é possível notar o perfilhamento


precoce mostrando o tipo de variabilidade
que pode ocorrer entre as plantas. A
imagem ao lado abrange uma matriz com
16 meses pós-plantio, a qual já alcançou
os três perfilhos e, por isso, é considerada
precoce. O perfilhamento precoce promove
o aumento da produção pois, após o início
da produção de frutos da planta-mãe em
um curto espaço de tempo, os perfilhos
começarão a produção de frutos.
Matriz com 16 meses de pós-plantio e perfilhamento
Foto: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 10

Fonte: João Tomé de Farias Neto

Por meio desse gráfico é possível conhecer a distribuição da produção de açaí ao longo do
ano. Note que, de julho/agosto a dezembro/janeiro, ocorre de 70% a 80% da produção de frutos
e, de janeiro a julho/julho, 20% a 30%. É imprescindível afirmar que tal distribuição acarreta
sérios problemas, como:

1 Estima-se que 50% dos processadores artesanais fecham seus estabelecimentos


devido ao preço alto e à produção insuficiente.
2 O funcionamento das indústrias é restrito aos meses de setembro, outubro,
novembro e dezembro. A partir de janeiro, os preços já não permitem que tais
indústrias comprem o açaí, ocasionando perdas de emprego e renda.
3 A segurança alimentar, na qual 1 litro de açaí, em Belém, custa em média de R$ 20,00
a R$ 24,00 e, normalmente, uma família, com três ou quatro pessoas, compra 2 litros
do produto. Então, por dia, esta família gasta quase R$ 50,00 só de açaí.

Percebe-se, então, que a alta sazonalidade é


o maior gargalo da cadeia produtiva de açaí,
afetando a geração de emprego, renda e a
segurança alimentar das famílias.
Contudo, uma preocupação recorrente é com os batedores, uma vez que esses trabalhadores,
geralmente, são membros de uma mesma família, como pai, mãe e filhos. E, com o
fechamento de 50% dos estabelecimentos de processadores artesanais, há o surgimento de
muitos problemas sociais e econômicos na região.

E o que fazer para melhorar essa distribuição?


Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 11

Em suma, para aperfeiçoar a distribuição no período de janeiro a junho, estima-se a


necessidade de implantação de 50 mil hectares de açaí irrigado em terra firme, além de
aumento da produção no período da safra (julho a dezembro), e de dobra da percentagem
também no período de janeiro a junho. Assim, em vez de 20% a 30% neste último período,
eleva-se a produção para 50%.

Para mudar a situação que você viu no gráfico anteriormente, há duas alternativas: a
primeira é o manejo de menor impacto em açaizais nativos de várzea, igapó e grota por
meio de tecnologia já consolidada e de curto prazo. A segunda é a expansão do plantio em
terra firme, com irrigação.

Vamos conhecer, agora, a formação do fruto de açaí e a necessidade de se irrigar o açaizeiro.

Por ser uma espécie alógama, para a formação de frutos ocorre o cruzamento ou fluxo gênico
entre os indivíduos de uma população.

Formação do fruto de açaí (espécie alógama)

3
4

Polinização > 180 dias > Fruto maduro


Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 12

1 Polinização: a polinização normalmente é feita por insetos e somente após seis


meses (180 dias) é que os frutos estão prontos para a colheia.
2 Cacho: a espátula se abre e ocorre a liberação do cacho.
3 Coloração: de 83 a 90 dias, a espátula fica com a coloração amarela.
4 Espátula: o açaizero (estipe) lança uma espátula após a queda de uma folha.

Voltando ao gráfico apresentado


anteriormente, para colher o açaí
em abril, por exemplo, é necessário
retroceder 6 meses (180 dias) e,
portanto, lançar a inflorescência em
setembro. Ou caso se queira colher
em maio, é necessário lançar a
inflorescência em novembro.

No segundo semestre, no Pará, praticamente não ocorrem chuvas,


e é necessário água para que a planta lance a inflorescência. Então,
a necessidade de irrigação do açaizeiro no segundo semestre é
totalmente verdadeira.

Em outras palavras...

Ocorre a precipitação, isto é, praticamente não ocorrem chuvas e, devido a isso, há a


necessidade de irrigação no período de julho a dezembro para se obterem frutos no período
de janeiro a junho. Em outros termos, é impossível produzir frutos de açaí em terra firme no
primeiro semestre se não houver irrigação desse cultivo no segundo semestre.

Ressalta-se que no mês de dezembro começam


as chuvas no nordeste paraense, diminuindo as
demandas de irrigação.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 13

Unidade 2 - Produção de mudas,


implantação e manejo

Vejamos, agora, acerca da produção de mudas, implantação e manejo. O açaí é uma espécie
que apresenta:

• Sementes recalcitrantes: são aquelas que não suportam perder a umidade. A partir
do momento que se perde a umidade, perde-se o poder germinativo. Portanto, são
sementes que não podem ser levadas ao sol antes de germinarem, isto é, não podem
ser levadas ao secamento para, depois, serem semeadas.
• Alto poder geminativo: 95% das sementes com umidade possuem alto poder
germinativo
• Sementes ou mudas adquiridas: são necessários diversos cuidados e um melhor
planejamento, os quais possibilitam a obtenção de mudas e sementes de
fornecedores confiáveis, de modo que o produtor e/ou viveirista deve(m) estar
credenciado(s) no Ministério da Agricultura e Pecuária e no Registro Nacional
de Sementes e Mudas (MAPA/RENASEM). Dificilmente, consegue-se verificar a
qualidade do produto somente pela observação. Devido a isso é essencial investigar
a procedência das mudas e das sementes, as quais necessitam de comprovação do
licenciamento para produção por parte dos profissionais envolvidos.

Amazonflora é uma empresa parceira da Embrapa licenciada para


comercializar as sementes da cultivar de açaí BRS Pai D´Égua. Trata-se
de um cultivar de açaí lançada em 2019 voltada a terra firme e com a
necessidade de suplementação hídrica.
Os contatos da Amazonflora para obtenção de sementes e mudas de
açaí da BRS Pai D’Égua são: (91) 3236-1680; (91) 99214-5572; e WhatsApp
(91) 98946-2024.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 14

O gráfico mostra a germinação em uma umidade de 39,4% com poder germinativo de 90% a
95%. Por outro lado, se a umidade é de 19,7%, esse poder é de 40%. Como se percebe, a semente
não suporta perder a umidade. De preferência, ao processar o açaí, é necessário realizar o
semeio diretamente.

Fonte: José Edmar Urano de Carvalho

Confira no vídeo como fazer a semeadura.

A imagem abaixo demonstra um saco plástico, no qual constam substrato com 10cm de
serragem úmida e curtida ao fundo, uma camada de sementes, mais 2cm de serragem
úmida e curtida por cima. Após realizar essa disposição, o saco é fechado e colocado em
um local que seja aquecido com o sol pela manhã. Depois de 40 dias, começarão a surgir as
plântulas, como demonstrado na imagem, ideais para realização do transplantio para os
sacos. Este é um método extremamente simples e barato, pois dispensa a necessidade de
montar a sementeira. Como se observa na imagem, as mudas são do tipo palito, pois ainda
não abriram a primeira folha.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 15

Fonte: João Tomé de Farias Neto

Um modo de verificar se a serragem está úmida e curtida é dispor de


uma quantidade pequena na mão, apertá-la e observar se caem pingos
de água.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 16

Observe agora, nesta imagem, uma sementeira


onde as plântulas já abriram a primeira folha,
passando do ponto ideal de fazer o transplantio.
O mais recomendado é que o transplantio seja
realizado quando as plântulas estiverem no estágio
de palito.

Plântulas de açaizeiro fora do ponto ideal de


repicagem
Foto: Maria do Socorro Padilha de Oliveira

Existem duas possibilidades de substratos para


mudas: na parte superior desta imagem há 60%
de solo, 20% de serragem e 20% de esterco. Já na
inferior, 60% de solo e 40% de cama de aviário.

Substratos para mudas


Foto: João Tomé de Farias Neto

A imagem a seguir apresenta a disposição das mudas no viveiro em fileiras duplas, uma
vez que neste são colocados dois sacos por fileiras com um espaço de 30cm a 40cm entre
elas, espaço suficiente para trânsito de pessoal especializado com a finalidade de realizar
limpezas e aplicar adubos. Por certo, este é o método preferencial para os viveiros de açaí
e manejo adequado de mudas.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 17

Fileira dupla
Foto: João Tomé de Farias Neto
É frequente o aparecimento de doenças quando não se adota o sistema de fileiras duplas.
Observa-se que, num viveiro com dimensões de 15m x 27,60m, é possível a produção de
13.500 mudas.

Fileira dupla Mudas com oito meses e sadias (sem sintomas de


Foto: João Tomé de Farias Neto doenças)
Foto: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 18
Doenças fúngicas
O manejo incorreto na produção de mudas pode acarretar doenças fúngicas, como antracnose
e helmintosporiose. Tais doenças aparecem no segundo semestre quando o produtor promove
a irrigação e, devido ao grande volume de umidade e temperatura, surgem as condições
ideais para o aparecimento de doenças.

Manejo incorreto Manejo incorreto Presença de doenças dos tipos


antracnose e helmintosporiose

Formação de microclima que facilita Muda com helmintosporiose


o aparecimento de doenças, como a Foto: João Tomé de Farias Neto
helmintosporiose

É muito mais fácil tratar as doenças quando


estas aparecem no viveiro do que no campo

É fundamental destacar o diâmetro do coleto superior


a 2cm. Na seleção de material genético de mudas para
campo, interessa-se, geralmente, por esse diâmetro do
que pela altura da planta (porque proporciona maior
vigor à muda).

Mudas com oito meses de idade


Foto: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 19

2.1 Implantação e manejo


O mínimo para o plantio de açaí deve ser 5m x 5m de espaçamento, equivalendo a 400
plantas/ha, em uma produção de 3 estipes por touceira, totalizando 1.200 estipes/ha.

Espaçamentos, número de plantas, número de estipes manejados e total de estipes de açaizeiro em cultivo
solteiro por ha.
Fonte João Tomé de Farias Neto

Outra alternativa de espaçamento utilizada é o de 5m x 2,5m, com o


manejo de apenas uma única planta. Entretanto, não existe dados
experimentais que comprove sua eficiência em maior produtividade
de frutos por hectare.

Confira neste vídeo como fazer o controle das plantas daninhas durante o manejo.

As imagens abaixo abrangem a deficiência de Boro, a qual é recorrente em quase 100% dos
plantios e das amostras de plantas recebidas pela Embrapa. É um problema muito comum
em plantações de terra firme, diferentemente das áreas de várzea, em que é mais difícil essa
recorrência devido à sua riqueza em matéria orgânica. E, caso a deficiência não seja corrigida
com um adubo que contenha boro, haverá a consequente morte da planta.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 20

Primeiramente, começam a surgir insetos e, por vezes, o produtor levanta a hipótese de que
esta morte foi, por exemplo, provocada por brocas. Comumente, de uma hora para outra, a
planta com essa característica começa a emitir folhas e folíolos pequenos até perder essa
capacidade de emissão e, por fim, apodrece e morre.

Fotos: João Tomé de Farias Neto

Já as imagens a seguir mostram plantas com deficiência nutricional e de Potássio.

Deficiência nutricional: planta Deficiência de Potássio Deficiência de Potássio


com idade de 18 meses, na qual foi
realizada somente uma adubação/ Fotos: João Tomé de Farias
cova de 2 pás de cama de frango, Neto
mais 100 g de SFS, mais 50 g de
FTE

As imagens seguintes são de um plantio com 2 anos e 4 meses (junho/2011).

Plantio com 2 anos e 4 meses


Vista geral de plantio com 2 anos e 4 meses Fotos: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 21

Aqui você confere a vista geral de um


plantio com 4 anos no espaçamento de
5m x 5m, com mais de três estipes por
touceira, ou seja, além da planta mãe
temos mais três perfilhos na touceira.
Adotando-se o espaçamento de 5m x
5m é recomendável deixar, além da
planta mãe, somente dois perfilhos.

A seguir, você confere uma planta com


4 anos e um plantio com 6 anos, com
suplementação hídrica.

Fonte João Tomé de Farias Neto

Planta com 4 anos Plantio com 6 anos


Fotos: João Tomé de Farias Neto

Confira um trecho da palestra on-line do pesquisador João Tomé de Farias Neto, melhorista
da Embrapa Amazônia Oriental, na qual ele fala sobre um experimento que deu origem à BRS
Pai D’Égua, a fim de verificar quanto uma planta solteira, com um, dois ou três perfilhamentos
produzia da primeira à quinta safra.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 22

Nesta imagem, o manejo deveria ter sido feito


a partir do quarto ano, contudo só foi realizado
quando o açaizal já estava com 7 anos de idade.

Desbaste tardio / Espaçamento 5m x 5m / 7 anos


de idade
Fotos: João Tomé de Farias Neto

Esta imagem demonstra uma planta que


precisou ser cortada pelo fato de estar
somente consumindo os nutrientes do
solo e não estar produzindo. É conveniente
afirmar que o açaizeiro depende do sol para
ser eficaz. No caso de sombreamento, ele
apenas cresce, consome os nutrientes, mas
não produz frutos. Devido a isso, como se
averigua na imagem, o estipe de 5 anos teve
de ser dispensado.

Desbaste tardio / 7 anos de idade


Fotos: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 23

É ideal conduzir uma touceira com três estipes em um açaizeiro com


espaçamento de 5m x 5m. Com quatro estipes haverá prejuízos, pois
haverá aumento de sombreamento na área. Em espaçamentos maiores
de 6m x 5m ou 6m x 6m, por exemplo, é provável que se consiga
manejar quatro estipes por touceira.

Imagine a situação em que, durante 5 anos, você dispensa diversos


cuidados com irrigação, adubo, etc. e, em 7 anos, no momento de
realizar o manejo do açaizeiro, é necessário eliminar as touceiras
devido ao sombreamento excessivo. Isto é, uma planta cultivada por
vários anos é transformada em palmito, que é vendido por R$ 1,00.
Frustrante não?

Palmito de açaí
Fotos: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 24

Outro manejo é a aplicação do gel,


utilizado quando não há irrigação no
plantio. Todavia, não é aconselhado
plantar açaí em terra firme sem irrigação,
já que se torna extremamente difícil o
estabelecimento do cultivo.

Gel

Acentua-se que 1kg de gel pode ser dissolvido


em 400 litros de água. Para ser aplicado, abre-
se uma cova de aproximadamente 20cm
de profundidade e 15cm de diâmetro, na
qual se introduzem 2L de gel para esta ser
coberta posteriormente. Lembrando que esse
procedimento é feito quando não há irrigação.
Caso não chova no período de 10 a 15 dias, será
necessário jogar, pelo menos, 20L de água na
planta. Caso contrário, somente o gel não será
capaz de promover a sobrevivência dela. Aplicação de gel

2.2 Principais avanços obtidos pela pesquisa


com o açaí
Para finalizar a Unidade 2, confira no vídeo os principais avanços obtidos pela pesquisa
com o açaí. Em seguida, prossiga para a última unidade deste módulo, que vai falar sobre a
cultivar Pai D’Égua.

Clique aqui e assista a um vídeo sobre o manejo de mínimo impacto


para produção de frutos de açaizais nativos.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 25

Unidade 3 - Cultivar Pai D’Égua para


terra firme com suplementação hídrica

Dando continuidade ao nosso estudo, falaremos agora sobre o desenvolvimento da cultivar


de açaí Pai D’Égua para terra firme com suplementação hídrica.

Esta imagem ilustra os diferentes climas


presentes no Estado do Pará:

• Ami: apresenta de 2 a 4 meses de DH


(Déficit Hídrico) moderado.
• Afi: praticamente não apresenta DH.
• Awi: compreende de 2 a 4 meses de DH
acentuado.

Tipos climáticos do Estado do Pará


Fonte: Koppen, 1931

O desenvolvimento da BRS Pai D’Égua foi conduzido no município de Tomé-Açu, com déficit
hídrico moderado (Ami). Na tabela abaixo, é possível identificar as variáveis climáticas
deste local.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 26

Fonte: Antônio Coutinho

Vamos analisar algumas informações: foram disponibilizados alguns dados referentes à


ocorrência de precipitação. No mês de março, por exemplo, ocorreram 458,3mm de chuva
(CT – chuva total), equivalendo há 19 dias (ND – número de dias). Já em julho, 68,4mm de
chuva total em apenas 5 dias. Enquanto em agosto, 49,1mm de chuva total em 3 dias, e assim
por diante.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 27

Veja, agora, o balanço hídrico da área em


que foi conduzida a pesquisa, exibido no
gráfico ao lado, no qual se consideram a
área de reposição, a retirada, o excedente e
o déficit de chuva. Nos meses 9, 10 e 11, há
um período crítico de déficit hídrico.

Fonte: Boletim Técnico do Instituto de Pesquisa


Agropecuária
Norte, nº. 54, 1972.

3.1 Programa de melhoramento genético


Neste momento, vamos adentrar no programa de melhoramento genético e nas atividades
para a sua correta condução. São elas:

• Primeira fase: coleta de germoplasma.


• Segunda fase: o germoplasma é colocado no campo com todos os requisitos
de espaçamento, competição, repetição, etc. Portanto, é realizada a avaliação
dos indivíduos e a seleção dos indivíduos superiores para cada característica
estabelecida.
• Terceira fase: recombinação do campo de produção de sementes por mudas (CPSM),
ou seja, o fluxo gênico entre os indivíduos superiores selecionados a fim de eliminar
aqueles que não são desejáveis e de formar o campo de produção de semente por
muda.

Confira outro trecho da palestra on-line do pesquisador João Tomé de Farias Neto, melhorista
da Embrapa Amazônia Oriental, na qual ele apresenta, resumidamente, como se desenvolveu
o programa de melhoramento genético.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 28

Nesta imagem temos a seleção de matrizes


de açaizeiro no município de Afuá no ano
de 2002. O local foi escolhido devido ao
interesse em se estudar a sazonalidade e a
entressafra do açaí.

Foto: João Tomé de Farias Neto

Nesta imagem temos a seleção de matrizes


de açaizeiro no município de Chaves no ano
de 2002.

Foto: João Tomé de Farias Neto

Vejamos, então, como foi conduzida a pesquisa para o desenvolvimento da cultivar BRS Pai
D’Égua, por meio das características do local – Município de Tomé-Açu:

• Data plantio: 13/03/2003.


• Localização: mesorregião do nordeste paraense.
• Tipo climático: Ami (chuvoso com pequena estação seca).
• Características do plantio: espaçamento 5m x 5m e densidade de 400 touceiras/ha –
(3 a 4 estipes/touceira – 1.200 – 1.600 estipes/ha).
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 29

• Topografia plana e solo Latossolos Amarelos de textura pesada.


• Evapotranspiração do Cultivo do Açaizeiro Máxima – Tomé-Açu = 4,8mm/dia.

A tabela abaixo mostra como foi conduzido, durante o experimento, o número de estipe por
touceira de acordo com idade, e a observação do consumo de água por touceira e por hectare,
demonstrado. Essa informação chama atenção para o manejo da irrigação da cultura.

Estimativa do consumo de água por touceira em açaizeiro - Tomé-Açu


Fonte: Eng. Agr. Antônio Coutinho - Estimado pelo método Blaney Criddie

Vista geral do experimento 16 meses após o plantio – Vista geral do experimento com 4 anos de idade em
Tomé-Açu – Material genético – Afuá e Chaves um espaçamento de 5m x 5m e material precoce
bastante produtivo
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 30

Verifica-se, na foto, cachos no ponto ideal de colheita, Planta solteira ou com um perfilho
assim como lançamentos de inflorescência e cachos com
frutos em diferentes estágios de maduração Fotos: João Tomé de Farias Neto

Uma planta solteira, isto é, sem perfilho, tem menor estabilidade e


tem se observado quedas desse tipo de planta quando há irrigação. No
experimento, 10 plantas solteiras foram perdidas. Nesse caso, quando
não houver a emissão de perfilho no primeiro ano de plantio, deve-se
plantar outra muda ao lado com distanciamento de 30cm.

Nesta imagem você pode visualizar os


efeitos da falta de irrigação na produtividade
e no desenvolvimento da cultura de uma
planta jovem com 4 anos, como 5 cicatrizes
foliares e perda de cachos. Destaca-se que
cada cicatriz corresponde a um mês de
estiagem e cada intersecção representa
a queda de uma folha. Devido a isso, não
brotam cachos e, teoricamente, cada folha
deveria produzir um cacho.

Foto: João Tomé de Farias Neto


Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 31

Já esta imagem apresenta, praticamente,


a mesma situação da anterior: uma planta
jovem que não emitiu cachos no período de
estiagem, em um plantio sem irrigação.

Foto: João Tomé de Farias Neto

Alta queda de frutos em um plantio Efeito do déficit hídrico Estiagem prolongada no município de
sem irrigação Fotos: João Tomé de Farias Neto Inhangapi, dez. 2015

A partir de agora, será demonstrado o resultado das cinco avaliações realizadas. A colheita
teve início aos 3 anos e 6 meses após o plantio (março de 2003), em agosto de 2006. O gráfico
a seguir apresenta a produção de frutos ao longo do ano no período de agosto de 2006 a
dezembro de 2007.

Observa-se que no período da


entressafra, de janeiro a junho, foi
colhido 2t (correspondendo a 33%);
e na safra, de julho a dezembro, 4t
(67% de 6t). A diferença nas produções
ocorridas entre os períodos de safra e
entressafra é devido que no período da
Distribuição mensal da produção de frutos de açaí irrigado safra foram realizadas duas colheitas,
proc. Afuá e Chaves no período de 3,5 – 5 anos (ago./2006 a enquanto no período da entressafra foi
dez./2007) – 6225 kg/1,2ha (480 touceiras/plantas) colhido apenas uma safra.
Fonte: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 32

Do quinto para o sexto ano, em 2008,


a produção foi de 10,8t. De janeiro a
junho, 5,2t, correspondendo a 48%
de 10t; de julho a dezembro, 5,6t,
correspondendo a 52%. Repare, no
gráfico, a produtividade ao longo deste
ano. Nos meses 4 e 9, houve uma
queda de produção. É interessante
Distribuição mensal da produção de frutos de açaí irrigado observar que esse período corresponde
pop. Afuá e Chaves no período de 5 – 6 anos (jan. a a 6 meses que é o mesmo período que
dez./2008) – 10874 kg/1,2 ha (I.V. – 1330g – 62.759 kg) ocorre entre a polinização e colheita
Fonte: João Tomé de Farias Neto de frutos. Em outras palavras ocorreu
algo no mês de abril e a consequência
foi verificada no mês de setembro.

Algumas hipóteses podem ser sugeridas para esse fato. Lembre-se de


que o açaizeiro é uma espécie alógama e precisa, principalmente, de
abelhas para polinizar. No mês 4 (abril) chovendo muito, não ocorreria
a polinização. No mês 9 (setembro), além da falta de abelha outros,
fatores estariam interferindo.

No ano seguinte, 2009, houve uma


produção de 10t. De janeiro a junho,
4,6t, equivalendo a 45% e, de julho a
dezembro, 5,5t, totalizando 55%. Como
se verifica, no mês 4, ocorreu uma
singela melhoria da produção; por
outro lado, nos meses 8 e 9, sucederam
as mais baixas produções verificadas
Distribuição mensal da produção de frutos de açaí irrigado
ao longo do ano.
pop. Afuá e Chaves no período 6 – 7 anos (jan. a dez./2009) –
10202kg/1,2ha (606 g-67109kg)
Nesta avaliação, foram usadas todas Fonte: João Tomé de Farias Neto
as informações possíveis publicadas
a respeito do açaí, como adubação (quando começou a produzir, adubou-se com 1,2kg de
adubo químico por touceira/ano), e a produção continuou nas 10t de frutos. Constatou-se,
portanto, que a adubação deveria ter sido maior. Logo, em vez de 1,2kg, deveriam ter sido
utilizados 2/5kg de adubo químico por touceira/ano.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 33

Feita a adequação na quantidade de


adubo, passou-se de 10t para 14t, é o
que se apura neste gráfico. De janeiro
a junho, 5,1kg, equivalendo a 36% e, de
julho a dezembro, 9t, 64%. Note que a
curva de resposta de produtividade
obteve uma grande elevação.
Distribuição mensal da produção de frutos de açaí irrigado
pop. Afuá e Chaves no período de 7-8 anos (jan. a dez./2010)
– 14.153 kg/1,2ha (3.300 – 76.479kg)
Fonte: João Tomé de Farias Neto

F i n a l me n t e , a q u i n t a e ú l t i m a
avaliação, de dezembro a janeiro de
2011, na qual se aumentou o NPK
e foram adquiridas 15t de açaí. De
janeiro a julho, 6,3t (41%) e, de julho
a dezembro, 9t (59%). Como nas
outras avaliações, os meses 4, 8 e 9
apresentaram baixa produtividade.

Distribuição mensal da produção de frutos de açaí irrigado


no período de jan. a dez./2011 – 15. 381t/1,2ha
Fonte: João Tomé de Farias Neto

Lembrando que foram feitas cinco avaliações para selecionar os


indivíduos superiores na população de Afuá e Chaves.

Estimativas da produção de frutos da BRS Pai D’Égua:

• 3º ao 5º ano: 5,2t/ha
• 5º ao 6º ano: 9,0t/ha
• 6º ao 7º ano: 9,0t/ha
• 7º ao 8º ano: 11,0t/ha
• 8º ao 9º ano: 12,5t/ha
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 34

Como observamos nos gráficos das avaliações anteriores, nos meses 4 e 9, há maior
prevalência de cachos vazios:

Cachos vazios
Cachos vazios Fotos: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 35

3.2 Outras observações

Fonte: João Tomé de Farias Neto

Se no plantio são feitas a adubação e a irrigação corretamente, o efeito final será em 12 meses
para formação, mais 3 meses para abrir a panícula e mais 6 meses para colheita.

Teoricamente, cada folha possui uma gema, célula que se diferencia, desenvolve-se e forma
o cacho. Para que a gema se desenvolva e se diferencie na formação do cacho, estimam-se
12 meses. Assim, a espátula verde aparece (porque a folha do açaizeiro cai), demorando 3
meses para amarelar, e se abre. Quando ocorre a abertura e a polinização, ainda restam 6
meses para a colheita. O somatório de todo o tempo mencionado é aproximadamente 22
meses. Portanto, a produção corrente é muito dependente do manejo aplicado nos 22-24
meses anteriores à colheita, período de desenvolvimento do botão floral até o enchimento
dos frutos.

A título de exemplo, em 2015, houve uma estiagem muito prolongada, ocasionando baixa
produtividade em 2016 e 2017, correspondendo a esses 22 meses mencionados. Somente
em 2018 conseguiu-se recuperar a produtividade.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 36

Aqui nesta imagem temos o exemplo de um


produtor do município de Tomé-Açu que
iria eliminar toda a plantação, no entanto,
resolveu irrigá-la. Verifique que o sistema
de irrigação é de um microaspersor para
duas plantas.

Foi realizado um estudo nesta propriedade


para verificar a viabilidade econômica da
irrigação em que constatou-se:

Sistema de irrigação – 2 fileiras de plantio (5 anos)


Fonte: João Tomé de Farias Neto

• Área: 30 hectares.
• Idade da plantação: 6 anos.
• Início da irrigação: 2005.
• Produção em 2005: 5t de frutos.
• Produção em 2006: 100t.
• Produção em 2007: 180t.
• Produtividade média/touceira: 28,23kg (6 anos).
• Venda da lata: R$ 20,00.
• Quantidade de água/dia/hectares: 35.000 litros/dia/hectare.
• Quantidade de água/touceira: 100-120 litros/dia.

A tabela abaixo abrange o custo operacional de açaizeiro irrigado por microaspersão no


município de Tomé-Açu/hectare – 30ha e produtividade de 596 latas/ha.

Considera-se, entretanto, que a produtividade está baixa e a venda do açaí, no valor de R$


20,00, subestimada. Mesmo assim, a rentabilidade (receita líquida) é boa.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 37

Fonte: Alfredo Homma, et al., 2009

Atualmente não existe uma cultura com a rentabilidade melhor que


a do açaí no Pará. É um mercado vasto e forte, que representa 60% da
produção consumida no próprio Estado, por exemplo. Não existe outra
alternativa mais econômica para ganho de dinheiro, na Agricultura,
senão o açaizeiro.
Então, vamos plantar açaí?

3.3 Refinamentos tecnológicos


Existem tecnologias para produção em terra firme com irrigação, além do nível de informação
da Embrapa da Amazônia Oriental ser suficiente para o início de plantio e manejo. Contudo,
são necessários alguns ajustes a serem feitos a nível experimental:
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 38

• Quantificação da necessidade real de água/irrigação para o açaizeiro nas diferentes


idades.
• Determinação de espaçamento adequado para açaizeiro irrigado (5m x 5m; 6m x 5m;
6m x 6m).
• Manejo da touceira.
• Adubação (macro e micro) e fertirrigação.
• Aproveitamento da madeira.
• Duas plantas/cova (efeito semelhante ao perfilhamento precoce).

Manejo da touceira do açaí


Fonte: João Tomé de Farias Neto

Um ponto importante a ser abordado é o aproveitamento da madeira.


Ao manejar o açaizeiro, pode-se agregar valor ao estipe na fabricação
de outros produtos, por exemplo, e não somente no palmito.
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 39

Açaí com 7 anos


Aproveitamento da madeira (5 anos de plantio)
Fonte: João Tomé de Farias Neto

A cultura de açaí demonstrada nesta imagem é em Natal (RN), a qual


apresenta irrigação e produção de alta qualidade e produtividade.
Então fica o questionamento: Será que o Pará deixará de ocupar o
primeiro lugar no cultivo de açaí?

Cultura de açaí em Natal (RN)


Fonte: João Tomé de Farias Neto
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 40

Em resumo, pelo fato de existir uma grande


demanda para produção de açaí e o Estado
do Pará já não conseguir supri-la sozinho,
os outros Estados veem a oportunidade
de explorar esse mercado tão vasto e
enriquecedor.

Chegamos ao final do módulo 1, no qual você aprendeu


a reconhecer as variedades e cultivares de açaizeiro e a
identificar estratégias para implantação e manejo do açaizal.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 41

Módulo 2
Autores: Edilson Carvalho Brasil e Ismael de Jesus Matos Viégas.

Este é o segundo módulo do curso sobre manejo da cultura do açaí em terra firme e nele
você vai estudar a nutrição e adubação do açaizeiro.

Apesar de o açaizeiro possuir uma grande importância socioeconômica no Estado do Pará,


ainda existem poucas informações a respeito dos seus aspectos nutricionais e sobre os
resultados de adubação do açaizeiro, em comparação a outras culturas já estabelecidas no
mercado.

Portanto, há um longo caminho a ser percorrido para que sejam disponibilizadas informações
consistentes para a cultura.

Para garantir o pleno entendimento sobre a nutrição e a adubação do açaizeiro, este módulo
está dividido em três unidades:

• Na Unidade 1 serão apresentados os aspectos gerais da nutrição de plantas.


• Na Unidade 2 você vai aprender sobre a nutrição do açaizeiro.
• E na Unidade 3 você vai estudar a calagem e a adubação para o açaizeiro.

Ao final, espera-se você seja capaz de identificar os aspectos nutricionais e de adubação da


cultura do açaizeiro. Bons estudos!
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 42

Unidade 1 - Aspectos gerais da nutrição


de plantas

Neste tópico serão considerados os fundamentos da nutrição de plantas, fatores


que influenciam o crescimento e desenvolvimento das plantas, composição relativa
de nutrientes na matéria seca das plantas e informações gerais sobre os elementos
essenciais para as plantas.

As plantas superiores necessitam de energia solar, água e elementos químicos para o


pleno desenvolvimento. Nelas, os elementos químicos fazem parte de metabólitos e de não
metabólitos, e de ativadores enzimáticos atuando em diversas outras funções.

Por meio da nutrição de plantas, é possível conhecer os elementos essenciais que atuam
em todo o seu ciclo de vida, assim como de que forma esses nutrientes são absorvidos,
transportados e acumulados. Além disso, é possível entender as funções, as exigências
e os distúrbios que os elementos podem causar quando encontram-se deficientes ou em
quantidades excessivas na matéria seca das plantas. Esses são pontos fundamentais para
o ordenamento nutricional das plantas, a fim de estabelecer recomendações de adubação
que sejam mais precisas e consistentes.

Confira um trecho da palestra proferida pelo pesquisador Edilson Carvalho Brasil, da Embrapa
Amazônia Oriental, na qual ele fala sobre os fatores que influenciam o crescimento e o
desenvolvimento das plantas, bem como o seu potencial produtivo.

Composição relativa de nutrientes na matéria seca das plantas


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 43

Fonte: Prado, 2008.

A composição relativa de nutrientes na matéria seca das plantas em valores médios


apresentada na tabela acima indica que os macronutrientes orgânicos são constituídos por
Carbono (C), Oxigênio (O) e Hidrogênio (H), os quais aparecem em torno de 92% da matéria
seca da planta. Os macronutrientes são: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca),
Magnésio (Mg) e Enxofre (S), com participação de 7% da matéria seca total da planta.

Por fim, os micronutrientes são constituídos por Cloro (Cl), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Zinco
(Zn), Boro (B), Cobre (Cu) e Molibdênio (Mo), conferindo apenas 1% da matéria seca da planta.

Em termos de importância para as plantas, os micronutrientes possuem o mesmo nível de


relevância dos macronutrientes.

Em suma, não é a quantidade do nutriente


na matéria seca das plantas que define a
sua importância, mas permite somente a sua
classificação.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 44

A tabela a seguir apresenta informações gerais sobre as formas absorvidas pelas plantas
(como esta absorve cada nutriente do solo), a concentração na matéria seca (MS), bem como
a demonstração de essencialidade (quando tais elementos foram considerados essenciais
para as plantas).
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 45

Fonte: Malavolta, 1980; Glass, 1983; Marschner, 1995; Epstein & Bloom, 2005; Giasson, 2010

Um elemento químico para ser considerado essencial à planta deve satisfazer os critérios
de essencialidade. Os critérios são:

• O elemento deve participar de algum composto ou reação na planta, sem o qual a


planta não vive.
• Na ausência do elemento, a planta não completa seu ciclo de vida.
• O elemento não pode ser substituído por outro com propriedades similares.

Em termos gerais, os nutrientes essenciais são classificados como:

• Macronutrientes: N, P, K, Ca, Mg e S.
• Micronutrientes: Zn, Cu, Fe, Mn, B, Cl, Mo e Ni (este último - Níquel - foi incluído
como elemento essencial há pouco tempo).
• Nutrientes benéficos: Cobalto (Co) e Silício (Si).
• Elementos tóxicos: Alumínio (Al) - grande ocorrência nos solos, Cádmio (Cd),
Chumbo (Pb) e Mercúrio (Hg).
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 46

Unidade 2 - Nutrição do açaizeiro

A composição de uma amostra de refresco de frutos de açaí com 12,5% de matéria seca é
apresentada na tabela abaixo e contempla os componentes que fazem parte do fruto do
açaizeiro, avaliados em dois locais. Os resultados evidenciam a diferenciação que pode
ocorrer nas quantidades dos componentes, devido às condições locais, ao sistema de cultivo
ou ao material genético avaliado.

Composição do fruto de açaí – Refresco com 12,5% de matéria seca


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 47

Fonte: Caroline, 1999.

A caracterização físico-química e a composição de compostos bioativos da polpa de açaí


processada encontra-se nesta outra tabela a seguir. São observadas as elevadas quantidades
de antocianinas, que são o principal atrativo do fruto, principalmente nos mercados do Japão
e Estados Unidos no que se refere à exportação.

Caracterização físico-química da polpa processada da cultivar BRS Pai D’Égua

Fonte: Farias Neto, 2019.


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 48

2.1 Acúmulo de matéria seca em plantas de


açaizeiro
O acúmulo de matéria seca em plantas de açaizeiro está relacionado ao estado nutricional
da planta, uma vez que esta matéria está diretamente relacionada à biomassa produzida.

As quantidades de matéria seca


acumuladas em diferentes partes do
açaizeiro, em função da idade, podem
ser verificadas no gráfico ao lado,
cujos resultados foram obtidos em um
estudo detalhado sobre crescimento e
nutrição mineral de açaizeiro em áreas
de açaizais sob diferentes sistemas
agroflorestais.
Fonte: Cordeiro, 2011.

Este trabalho apresenta os primeiros indicativos referentes à produção de matéria seca e de


nutrientes em plantas de açaizeiro até o sétimo ano de cultivo. Pode-se observar que a maior
parte de biomassa produzida pelo açaizeiro, de 2 a 7 anos, foi direcionada para a formação
dos estipes. A biomassa das demais partes da planta (flechas, pecíolos e ráquis) aparecem
em quantidades bastante inferiores.

As quantidades de matéria seca dos


meristemas, engaços e frutos foram
obtidas a partir do terceiro ano e são
apresentadas neste gráfico.

Fonte: Cordeiro, 2011.


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 49

A par tir do agrupamento dos dados


dos dois gráficos anteriores foi obtida a
curva de acúmulo total de matéria seca
até o sétimo ano de idade do açaizeiro e
apresentada neste gráfico ao lado. Esses
resultados indicam que até o sétimo ano
há um acúmulo crescente de biomassa de
plantas de açaizeiro, evidenciando que a
estabilização da produção de biomassa
ocorre após o sétimo ano de cultivo.

Com base no modelo de produção de


biomassa total do açaizeiro apresentado no
gráfico acima, procedeu-se uma simulação,
Fonte: Adaptado de Cordeiro, 2011. a fim de inferir quando a produção de
biomassa começa a estabilizar. Esta
informação é de suma importância, já que
o processo de absorção de nutrientes do
solo pela planta possui estreita relação
com a produção de biomassa. Assim, neste
gráfico ao lado pode ser observado que a
partir do oitavo ou nono ano começa a haver
uma certa estabilização na produção de
biomassa total de matéria seca do açaizeiro.

Fonte: Adaptado de Cordeiro, 2011.

2.2 Distribuição de nutrientes nas partes do


açaizeiro
A distribuição percentual do Nitrogênio
em diferentes partes do açaizeiro é
apresentada neste gráfico. Nos anos
iniciais de desenvolvimento do açaizeiro
(até o terceiro ano), a maior participação
de Nitrogênio ocorre nos folíolos (parte de
baixo da barra). Porém, com o passar do
tempo, há uma redução desta participação
percentual nos folíolos e uma maior
concentração no estipe (parte amarela).
Fonte: Cordeiro, 2011.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 50

Nas demais partes da planta, a participação percentual de Nitrogênio é muito reduzida.

O Fósforo ocorre em menores proporções


nos folíolos, em relação ao Nitrogênio,
e com o tempo vai diminuindo ainda
mais. Em contrapartida, há uma forte
participação percentual deste nutriente
no estipe e em menor proporção no
meristema da planta.

Fonte: Cordeiro, 2011.

D i fe re n t e me n t e d o N i t ro g ê n i o , o
Potássio tem pouca par ticipação
percentual nos folíolos. No entanto,
há grande participação no estipe da
planta. Portanto, o Potássio não é
importante somente na frutificação,
mas, principalmente, na formação da
estrutura das plantas e no meristema.

Fonte: Cordeiro, 2011.

2.3 Extração e exportação de nutrientes em


populações nativas (várzeas) e área cultivada
(terra firme)
A partir de um trabalho realizado quando da coleta de plantas em populações de açaizeiro
nativo na região do Marajó (PA) para o programa de melhoramento da Embrapa, bem como
em plantas do banco de germoplasma da Embrapa, foram realizadas avaliações do estado
nutricional para estabelecer a estimativa da extração e exportação de nutrientes em
populações nativas (várzeas) e área cultivada (terra firme).

As quantidades de macronutrientes extraídas de plantas de açaizeiros de duas populações


nativas (São Sebastião da Boa Vista e Breves – PA) e de uma de área cultivada (Embrapa –
banco de germoplasma, Belém – PA) são apresentadas na tabela abaixo. Para isso, foram
realizadas avaliações da extração de N, P, K, Ca e Mg em folhas, frutos e cachos
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 51

Extração de macronutrientes em plantas de açaizeiro de populações nativas e de área


cultivada de terra firme.

• Nativa(1) = São Sebastião da Boa Vista - PA


• Nativa(2) = Breves - PA
• Terra firme = Área da Embrapa, Belém - PA

Fonte: Brasil et al., 2008; Brasil et al., 2009.

As quantidades (em kg por tonelada) de nutrientes de diferentes partes amostradas não


apresentam variações expressivas entre as populações nativas na Ilha do Marajó. No entanto,
na área cultivada observam-se algumas diferenças em comparação às plantas das áreas de
populações nativas. Essas variações podem ser devido, principalmente, às adubações que
foram feitas na área cultivada, bem como pela forma de manejo.

Assim, as quantidades de Nitrogênio extraídas por plantas da área cultivada são cerca
de 10kg maiores do que nas áreas nativas. As quantidades de Fósforo e de Cálcio
extraídas na área cultivada são cerca do dobro das quantidades das áreas de várzea.

Em termos médios, as quantidades totais de


nutrientes extraídos do solo pelas plantas
de açaizeiro apresentam um padrão com a
seguinte sequência: N>K>Ca>Mg>P.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 52

As quantidades de macronutrientes exportadas pelos frutos de açaizeiro de populações


nativas e de área cultivada podem ser observadas na tabela seguinte. Da mesma forma
que ocorre com as quantidades extraídas, as quantidades de nutrientes exportadas pelos
frutos de açaizeiro variam muito pouco entre as plantas das populações nativas. No entanto,
comparando-se às plantas das áreas nativas com as da área cultivada, observam-se maiores
variações entre as quantidades exportadas, especialmente para Potássio e Cálcio.

Exportação de macronutrientes por frutos de açaizeiro de populações nativas e de área


cultivada de terra firme

• Nativa(1) = São Sebastião da Boa Vista - PA


• Nativa(2) = Breves - PA
• Terra firme = Área da Embrapa, Belém - PA
Fonte: Brasil et al., 2008; Brasil et al., 2009.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 53

Em termos médios, as quantidades de


nutrientes exportadas para cada tonelada de
frutos de açaizeiro seguiram um padrão com
a seguinte sequência: N>K>Ca>P>Mg. Esses
resultados demonstram que o Nitrogênio
é o nutriente mais exportado pelos frutos
de açaizeiro e, portanto, deve ter uma
atenção especial por ocasião da adubação,
especialmente durante a fase de produção da
cultura.
Nesta outra tabela encontram-se as quantidades médias de micronutrientes extraídos
de diferentes partes do açaizeiro, considerando as áreas de populações nativas e a área
cultivada. Nas folhas e cachos, as maiores quantidades de micronutrientes extraídas são
de Ferro e Manganês. Dentre esses quatro micronutrientes, o mais exportado pelos frutos
de açaizeiro é o Ferro, com quantidades muito superiores aos demais. Importante ressaltar
que os solos das áreas onde foram conduzidos esses estudos possuem elevados teores de
Ferro e Manganês.

Extração média de micronutrientes por frutos de açaizeiro de populações nativas e de


área cultivada de terra firme

Fonte: Fonte: Brasil & Cravo (em preparo)


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 54

Em termos médios, a sequência das


quantidades de micronutrientes extraídos do
solo foi a seguinte: Fe>Mn>Cu>Zn.

2.4 Extração e exportação de nutrientes pelo


açaizeiro em função da idade
Com o desenvolvimento do açaizeiro há toda uma dinâmica nas quantidades de nutrientes
dentro do sistema produtivo e que variam de acordo com as demandas nutricionais das
diversas partes das plantas.

Há determinadas quantidades de nutrientes que ficam imobilizadas


nas estipes e não retornam tão cedo ao solo, enquanto há certas
quantidades de nutrientes que podem ser recicladas pela queda
de folhas e espatas que se depositam na superfície do solo, e após
a decomposição, as plantas podem se utilizar novamente desses
nutrientes.

A saída dos frutos das áreas de produção , por sua vez, expressa
as quantidades de nutrientes que são exportadas e necessitam
ser repostas para manter as plantas em níveis de produtividade
adequada.

Ao continuar seus estudos, você poderá conferir as quantidades de


nitrogênio, fósforo e potássio acumuladas na parte aérea, exportadas
pelos frutos, imobilizadas no estipe e recicladas, durante os primeiros
sete anos de idade do açaizeiro.

As quantidades de Nitrogênio (N), Fósforo (P) e Potássio (K) acumuladas na parte aérea,
exportadas pelos frutos, imobilizadas no estipe e recicladas durante os primeiros sete anos
de idade do açaizeiro são apresentadas nos gráficos a seguir.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 55

1. Quantidade acumulada, exportada, 2. Quantidade acumulada, exportada, 3. Quantidade acumulada, exportada,


imobilizada e reciclada de N no imobilizada e reciclada de P no imobilizada e reciclada de K no
açaizeiro em função da idade açaizeiro em função da idade açaizeiro em função da idade

Do total de Nitrogênio acumulado nas plantas durante os primeiros sete anos, as quantidades
imobilizadas no estipe são muito elevadas (gráfico 1). Por sua vez, as quantidades do nutriente
que podem ser recicladas e exportadas equivalem cerca de ¼ do total acumulado no período.
Portanto, quando se pensa em adubação, deve-se preocupar não somente com as quantidades
de nutrientes que são exportadas pelos frutos, mas também com as partes acumuladas na
planta, já que esta se mantém em constante processo de acúmulo de material vegetativo.

Com relação ao Fósforo, observa-se um comportamento muito parecido com o do Nitrogênio,


mas em quantidades muito inferiores (gráfico 2), já que o Nitrogênio pode atingir um total
acumulado de até 200kg/ha, enquanto que o Fósforo não ultrapassa 30kg/ha. Do total de
Fósforo absorvido pelas plantas, grande parte fica acumulada nos estipes e pequenas
quantidades são exportadas pelos frutos.

O Potássio também tem comportamento parecido ao Nitrogênio e Fósforo, em que grande


parte das quantidades acumuladas ficam imobilizadas nos estipes e quantidades bem
menores ficam nas partes recicláveis e outra é exportada nos frutos (gráfico 3).

Confira mais um trecho da palestra proferida pelo pesquisador Edilson Carvalho Brasil, da
Embrapa Amazônia Oriental, na qual ele fala sobre o quantitativo de nutrientes acumulados
e exportados por plantas de açaizeiro cultivado em sistemas agroflorestais até os 7 anos
de idade.

Para se ter uma ideia da comparação entre as quantidades de macronutrientes exportadas


por diferentes culturas, foram agrupadas, na tabela abaixo, informações nutricionais da
cultura do dendê (Viégas, 1993), do coqueiro (Manciot et al., 1980) e do açaizeiro (Cordeiro,
2011; Brasil & Cravo, no prelo).
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 56

Estimativa das quantidades de macronutrientes exportadas nos cachos das culturas do


dendê, coco e açaí

Fonte: Adaptado de Cordeiro (2011) e Brasil & Cravo (em preparo)

Ao comparar os resultados de açaizeiros de diferentes locais, percebe-se que os dados


apresentam uma certa consistência em termos de quantidades de nutrientes exportados.
Comparando os resultados dos dois trabalhos, observa-se uma certa similaridade entre os
valores de Nitrogênio, Fósforo, Potássio e Cálcio. No caso do Potássio, houve uma coincidência
numérica de 5,57 por tonelada de fruto. Por sua vez, o Magnésio apresentou uma diferença
de aproximadamente o dobro entre os valores obtidos (1,45 e 0,70kg por tonelada de fruto).
Para o Enxofre não houve avaliação no trabalho de Brasil & Cravo (no prelo).

Comparando-se às quantidades médias de nutrientes exportados nos frutos do dendezeiro


com as do açaizeiro, observa-se que a cultura do açaizeiro exporta maiores quantidades
de Nitrogênio e Fósforo. Em relação ao Potássio, o dendezeiro exporta quantidades muito
maiores do que o açaizeiro. Em relação ao coqueiro, as quantidades de Nitrogênio, Fósforo
e Potássio exportadas pelo açaizeiro são muito inferiores, especialmente do potássio com
valores de aproximadamente cinco vezes menos.

No caso específico do Cálcio, o açaizeiro exporta quantidades maiores do que o dendezeiro


e o coqueiro. No entanto, o Magnésio não apresenta grandes diferenças em relação a essas
culturas. Importante lembrar que o calcário é a principal fonte de Cálcio e Magnésio para
as plantas, em termos de custos. Então, deve-se pensar no fornecimento desses nutrientes
para a cultura do açaizeiro, principalmente na implantação da cultura, caso contrário, pode
haver uma desordem nutricional, já que, em geral, a maioria dos solos do Pará são pobres
em Cálcio e Magnésio.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 57

Vale ressaltar que, por falta de informações, resultados nutricionais


de outras palmeiras, como dendezeiro e coqueiro, têm sido utilizados
como alternativa para orientação nutricional do açaizeiro. Porém,
de acordo com os resultados da tabela vista logo acima, esse tipo
de comparação não pode ser feita, já que cada cultura tem a sua
especificidade de demanda nutricional.

Em resumo, a partir das informações contidas


na tabela anterior, pode-se estabelecer a
sequência da ordem de importância nutricional
relacionada às quantidades exportadas
de nutrientes pelo açaizeiro, que seria:
N>K>Ca>P>Mg.

2.5 Deficiências nutricionais do açaizeiro


Para demonstrar a importância do entendimento de deficiências nutricionais sobre o
desenvolvimento inicial do açaizeiro, serão apresentados os resultados de um trabalho
conduzido por Viégas et al. (2004), no qual foi utilizada a técnica do elemento faltante.
Trata-se de uma metodologia usada para a identificação de deficiências nutricionais, com
o objetivo de desenvolver uma planta em solução nutritiva completa (adubação com todos
os nutrientes essenciais e em doses adequadas) e uma série de tratamentos, em que é feita
a omissão de cada nutriente individualmente.

Confira neste vídeo.

Em termos de teores foliares de nutrientes relacionados às condições de deficiência ou


suficiência na planta, a tabela a seguir contempla uma série de informações acerca dos
teores de nutrientes em plantas de açaizeiro. Certamente, os dados apresentados necessitam
de mais pesquisas para que se possa construir tabelas mais assertivas sobre deficiência
ou suficiência dos nutrientes. Contudo, essas informações podem ser consideradas como
uma primeira versão para dar indicativos importantes do estado nutricional do açaizeiro.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 58

Teores foliares de nutrientes em plantas de açaizeiro

Fonte: Viégas et al., 2008; Viégas et al., 2009; Cordeiro, 2011; (2) Cordeiro, 2020 (Live na Internet)

• Na primeira coluna são apresentados os nutrientes (N, P, K, Ca, Mg, S e B – Boro: um


dos micronutrientes mais importantes para o açaizeiro).
• Na segunda coluna aparecem os teores foliares de plantas sem deficiência
nutricional.
• Na terceira são apresentados os teores foliares de plantas com deficiência, os quais
podem estar causando alguns distúrbios nutricionais no açaizeiro.
• Na última, constam as faixas de nutrientes que são consideradas adequadas para o
bom desenvolvimento das plantas e servindo como indicadores para avaliação do
estado nutricional do açaizeiro.

Então, quando os teores foliares de nutrientes se encontrarem abaixo dos valores dessas
faixas podem ser considerados deficientes e acima podem ser suficientes ou em excesso
na planta.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 59

2.6 Sintomas de deficiências nutricionais do


açaizeiro
Os sintomas de deficiência nutricional em plantas podem ser identificados por meio da
diagnose visual das folhas, que é uma importante ferramenta para avaliar os sintomas de
deficiência ou toxidez de um determinado elemento pela aparência da planta, sobretudo,
pela coloração de suas folhas.

A imagem fornece informações bastante


relevantes, em termos de padrões de
deficiências nutricionais em plantas.
Os nutrientes que aparecem na cor
azul apresentam pouca mobilidade
ou são imóveis e ocorrem nas folhas
jovens da planta. Por outro lado, os que
aparecem na cor vermelha possuem
maior mobilidade e ocorrem nas folhas
mais velhas da planta. Desse modo,
os sintomas visuais de deficiência de
Cálcio, Enxofre, Boro, Ferro, Manganês,
Cobre e Zinco podem ser verificados
em folhas mais novas, enquanto que
Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Magnésio e
Molibdênio podem apresentar sintomas
visuais nas folhas mais velhas.
Diagnose visual de deficiência nutricional
Fonte: Solo Fértil, internet

Para demonstrar a sintomatologia de deficiências nutricionais do açaizeiro, serão


apresentadas, a seguir, imagens obtidas a partir de um estudo conduzido em vasos
de plástico, em condições de casa de vegetação com plantas de açaizeiro, no qual foi
utilizada a técnica do elemento faltante.

A deficiência de Nitrogênio (-N) pode ser


identificada por amarelecimento nas folhas e
em condições mais severas ocorre necrose na
borda da folha. Na imagem temos folíolos de
açaizeiro com deficiência (-N) e sem deficiência
(C) de Nitrogênio.

Foto: Ismael Viégas


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 60

A falta de Nitrogênio (-N) também interfere


fortemente no desenvolvimento da planta, em
relação ao tratamento completo.

Foto: Ismael Viégas

No campo, a deficiência de Nitrogênio pode ocorrer


em situações em que o plantio foi realizado logo
após o preparo da cova, utilizando-se cama de
aviário que não foi corretamente decomposta, o que
pode ocasionar forte amarelecimento nas folhas.

Foto: Edilson Brasil

A deficiência de Fósforo (-P) influencia


fortemente o desenvolvimento da altura da
planta e do sistema radicular, apresentando uma
intensificação de cor esverdeada nas folhas.
Na imagem temos plantas de açaizeiro com
deficiência (-P) e sem deficiência (completo) de
Fósforo.

Foto: Ismael Viégas


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 61

A deficiência de Potássio (-K) apresenta


sintomas bem típicos, como a queima da borda
das folhas e o amarelecimento próximo dessa
região. Na imagem temos folhas de açaizeiro
com deficiência (-K) e sem deficiência (C) de
Potássio.

Foto: Ismael Viégas

O agravamento do sintoma pode ser detectado


por meio da necrose da ponta das folhas e
redução de altura da planta. A falta de Potássio
influencia no porte desta, reduzindo o seu
desenvolvimento.

Foto: Ismael Viégas

A deficiência de Cálcio (-Ca) se


caracteriza por um enrugamento
dos folíolos da folhas, como se a folha
estivesse “amarrotada”. Na imagem
(-Ca) podem ser visualizados três
folíolos com deficiência de Cálcio em
diferentes estágios e com a redução
de tamanho.
Foto: Ismael Viégas
Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 62

Além disso, a deficiência de


Cálcio interfere fortemente no
desenvolvimento da planta.

Foto: Ismael Viégas

Devido à deficiência de Magnésio (-Mg),


ocorre um amarelecimento na parte
mediana da folha para o ápice e uma
intensidade maior da cor verde próxima
da base dos folíolos.

Foto: Ismael Viégas

O desenvolvimento das plantas também


é muito afetado pela deficiência de
Magnésio, como mostrado na imagem
ao lado.

Foto: Ismael Viégas


Módulo 1 - Variedades, implantação e manejo do açaizal 63

No campo, o sintoma de falta de


Magnésio na planta é bem típico, com
o amarelecimento na parte mediana
dos folíolos, ficando a base destes
esverdeados.

Foto: Ismael Viégas

Na deficiência de Enxofre (-S) ocorre


um amarelecimento gradual na fase
inicial de desenvolvimento. Com a
intensificação da deficiência nutricional
desse nutriente, o amarelecimento fica
mais forte. É importante ressaltar que
essas características se assemelham à
falta de Nitrogênio, mudando apenas a
posição do sintoma na folha.
Foto: Ismael Viégas

Observe que as plantas com deficiência


de Enxofre não apresentam déficit de
crescimento, apenas um amarelecimento
em comparação àquelas que receberam
tratamento completo.

Foto: Ismael Viégas


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 64

Em relação à deficiência de Boro, pode-


se verificar que há uma grande diferença
na altura das plantas referentes ao
tratamento completo em comparação
as do tratamento com ausência de Boro.
Isso demonstra que a deficiência de Boro
afeta vigorosamente o desenvolvimento
da planta.

Foto: Ismael Viégas

Quando há deficiência de Boro (-B)


ocorre algumas estrias típicas nas
folhas do açaizeiro, como se observa
nesta imagem.

Foto: Ismael Viégas

No campo, os sintomas da deficiência de Boro


podem ser bastante expressivos. Na imagem, por
exemplo, é possível visualizar que os lançamentos
das folhas foram afetados. As folhas mais novas,
por seu turno, ficaram com aspecto reduzido
em relação às folhas normais. Tal situação
está diretamente relacionada ao manejo e ao
tratamento nutricional, já que muitas vezes as
plantas já saem do viveiro com esta deficiência e
podem se agravar ainda mais se não for efetuada
adubação com fertilizante a base de Boro.

Planta adulta de açaizeiro com deficiência de


boro
Foto: Edilson Brasil
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 65

Plantas com deficiência de Ferro (-Fe)


não diferem muito das plantas que
receberam o tratamento completo (com
todos os nutrientes), em relação ao seu
desenvolvimento. Porém, a deficiência
ocasiona um afinamento no ápice dos
folíolos e o encurvamento da ponta.
Foto: Ismael Viégas

A deficiência de Manganês (-Mn) também


não ocasiona grande diferenciação no
desenvolvimento da planta, porém se
verifica uma clorose internerval leve nos
folíolos com diferenciação de coloração.
Destaca-se que pode ser mais difícil
detectar esse tipo de sintoma no campo.
Foto: Ismael Viégas

O sintoma da deficiência de Zinco (-Zn)


é bem típico, o qual se caracteriza por
apresentar folhas retorcidas e clorose ao
longo dos folíolos.

Foto: Ismael Viégas

2.7 Monitoramento do estado nutricional


O que fazer para evitar a ocorrência de deficiência de nutrientes nas plantas? Confira a
seguir:

Como se trata de uma cultura de ciclo longo, é muito importante realizar avaliações do estado
nutricional das plantas, principalmente quando elas entram para a fase adulta.

Vale ressaltar que, além de proceder à avaliação da fertilidade do solo, é imprescindível


realizar o monitoramento do estado nutricional das plantas por meio da análise foliar.

A análise foliar é um método de avaliação do estado nutricional das culturas em que se


examinam determinadas folhas em períodos definidos da vida da planta.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 66

A diagnose foliar procura associar e relacionar os teores foliares e a produção das culturas.
Seu objetivo é verificar se as plantas estão bem nutridas, a fim de realizar o manejo da
adubação.

Quatro são as etapas que devem ser cumpridas em um programa que utiliza a diagnose foliar
na avaliação do estado nutricional das plantas:

• Coleta de amostra de folhas: É uma das principais etapas da análise foliar. Toda
amostragem, seja de planta, seja de solo, precisa seguir parâmetros técnicos.
Caso contrário, corre-se o risco de ter material analisado com resultados que não
representam ao estado nutricional da planta.
• Preparo de amostra: Lavagem e moagem das folhas ou do material vegetal para
envio ao laboratório.
• Análise química de tecido vegetal: Atualmente, os métodos de análise química são
bem estabelecidos e padronizados.
• Interpretação dos resultados: Serve para verificar se a planta está bem nutrida ou
não, a partir dos resultados obtidos no laboratório e comparados com valores de
referência.

Amostragem para diagnose foliar do açaizeiro

Fonte: (1) Viégas (informação pessoal); (2) Cordeiro (live na internet).


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 67

Para proceder à amostragem visando a diagnose


nutricional do açaizeiro, pode-se observar,
na tabela acima, o período mais adequado
para coleta, o tipo de folha mais indicada e
o número de plantas por hectare para serem
amostradas. A partir de informações de Viégas
para realizar o monitoramento nutricional
anual, recomenda-se efetuar a coleta das
folhas no meio ou final do período chuvoso,
retirando-se folíolos da 5ª folha da planta-
mãe da touceira (planta mais alta), efetuando-
se essa coleta em 20 plantas por hectare,
aleatoriamente. Segundo as informações
de Cordeiro (informações da internet), a
amostragem pode ser realizada com a coleta de
folíolos da 7ª folha da planta-mãe da touceira.

Amostragem para a diagnose foliar do açaizeiro


Fonte: desenho Vitor Lobo

O objetivo da diagnose é verificar se as plantas estão bem nutridas,


a fim de realizar o manejo da adubação. Caso se observem situações
adversas ou anormais no campo, o correto é fazer a coleta em plantas
que apresentam algum tipo de sintoma para verificar se o problema é
decorrente somente do estado nutricional ou da ocorrência de doenças
e pragas ou, até mesmo, da falta de água.

O procedimento para a retirada dos folíolos é apresentado


nesta imagem, no qual aparecem as partes da folha
hipotética a serem amostradas. Na parte central da folha
são retirados quatro folíolos de cada lado, dos quais são
retiradas as pontas, obtendo-se uma lâmina central
em torno de 10 a 20cm para enviar ao laboratório. São
necessárias, no mínimo, 20 plantas dentro da área a ser
analisada.

Fonte: Edilson Brasil


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 68

Unidade 3 - Calagem e adubação para


o açaizeiro

A calagem para a cultura do açaizeiro possui um papel bastante relevante em decorrência


da importância que o cálcio possui na nutrição dessa cultura, sendo um dos nutrientes
indispensáveis tanto na fase de formação quanto na fase de produção, conforme já
mencionado no tópico anterior. Por isso, é imprescindível todo o cuidado para identificar a
necessidade da sua aplicação. A principal forma de aplicação de Cálcio no solo é por meio
do calcário, que também possui como característica a correção da acidez do solo.

Confira outro trecho da palestra proferida pelo pesquisador Edilson Carvalho Brasil, da
Embrapa Amazônia Oriental, na qual ele fala sobre a utilização do calcário no açaizeiro.

3.1 Quantidade de calcário a aplicar


É necessário realizar a calagem pelo menos 20 dias antes do plantio. A quantidade de calcário
deve ser calculada de acordo com o critério de saturação por bases, em quantidade suficiente
para elevar o valor inicial para 60%. Para o cálculo da necessidade de calcário (NC), por esse
critério, utiliza-se a seguinte equação:

• NC = necessidade de calcário (em t/ha).


• CTC = capacidade de troca de cátions do solo a pH 7,0, em cmolc/ dm3, calculada por
[Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+ + (H+ + Al3+)].
• V2 = porcentagem de saturação por bases recomendada para a cultura (60%).
• V1 = porcentagem de saturação por bases atual do solo, calculada por: SB x 100/CTC.
• SB = soma de bases trocáveis (Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+), em cmol/ dm3.
• PRNT = poder relativo de neutralização total do calcário (%).

Fonte: Viégas, Cravo & Botelho (2020)


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 69

É importante observar que, para a aplicação de calcário, sempre


devemos realizar a análise química do solo, ou seja, não se pode
aplicá-lo sem critérios.

3.2 Sugestão de adubação


Para as recomendações de adubação consistentes são necessários estudos referentes às
curvas de resposta, ou seja, que utilizam doses crescentes de nutrientes a fim de obter as
melhores respostas no campo (diferentes locais, tipos de solo e clima). Atualmente, existem
três recomendações disponíveis para a adubação do açaizeiro.

A primeira é de Cordeiro (2011), indicada na tabela abaixo. Podemos observar as indicações de


adubação em diferentes anos, desde o segundo até o sétimo, as estimativas de quantidades
de N, P2O5 e K2O (g/touceira) com base na exportação dos nutrientes pelos cachos do açaizeiro
e, por fim, a sugestão de adubação com as respectivas fontes.

Sugestão de adubação com base na exportação de nutrientes pelos cachos do açaizeiro


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 70

• Est. Bov. = Esterco bovino


• Nitrato de amônio = 23% de N
• FNR = Fosfato natural reativo (33% P2O5)
• KCl = Cloreto de Potássio (60% K2O)

Fonte: Cordeiro, 2011.

A segunda recomendação que tem sido utilizada é a apresentada por Farias Neto (2019),
na qual se abordam as diferentes quantidades e formas de parcelamento em cada ano.
As mudanças realizadas nesta adubação apresentaram ganhos bastante expressivos na
produção. Quando a produção de frutos começa a ter aumento expressivo a partir do quinto
ano, as quantidades dos nutrientes a serem aplicados com a formulação indicadas passa a
ser de 2,5kg, e mantendo essa quantidade para os anos seguintes de produção.

Recomendação de adubação para as diferentes fases de cultivo do açaizeiro

Fonte: Farias Neto, 2019.


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 71

A terceira recomendação de adubação para o


açaizeiro é feita de acordo com Viégas, Cravo &
Botelho (2020), com base na análise de solo, a
partir das indicações do livro Recomendações
de calagem e adubação para o estado do Pará.

3.3 Análise do solo

A análise de solo segue seus próprios


procedimentos e etapas.

• Etapa 1: amostragem do solo.


Se for feita de modo inadequado,
o resultado da análise não será
representativo da área que se
pretende cultivar.
• Etapa 2: análise em laboratório.
• Etapa 3: interpretação dos
resultados.

Fonte: Edilson Brasil

Vejamos, a partir de agora, alguns procedimentos recomendados para a amostragem de


solo.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 72

Deve-se percorrer a área em zigue-zague,


coletando de 15 a 20 amostras simples para
cada amostra composta (esta última é a que
vai para o laboratório). Note que os pontos
brancos são colocados nas entrelinhas e
próximos às linhas de cultivo de açaizeiro. A
coleta simples, por exemplo, refere-se a cada
um desses pontos de coleta, na qual se podem
utilizar diferentes ferramentas, como trado,
enxadeco, cavadores, cano etc.

Vista aérea de plantio de açaí


Fonte: Edilson Brasil

E por que as amostras devem ser coletadas nas


entrelinhas e próximos às linhas de cultivo de
açaizeiro?

Observe uma área de plantio de açaí à


esquerda, na qual há a área de projeção
da copa (onde se recomendam fazer as
adubações), já que ela tem relação muito
próxima com aquela em que a raiz se
desenvolve. Este é um indicativo para
colocar os fertilizantes ao alcance das
raízes.

Coleta na projeção da copa e nas entrelinhas (fase inicial)


Fonte: Edilson Brasil

A amostragem, nas fases iniciais de crescimento e desenvolvimento das raízes, deve ser
realizada na área de projeção da copa e nas entrelinhas fora desta área, alternadamente. A
coleta deve ser feita dessa forma porque, caso se faça uma coleta apenas na área de projeção
da copa (região do solo onde os adubos são aplicados), haverá valores superestimados de
nutrientes na análise química, pois normalmente existem resíduos de adubo que ficaram
no solo, indicando que as quantidades colocadas deverão ser menores.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 73

Por outro lado, na coleta somente nas entrelinhas ocorre o contrário, pois na fase inicial de
crescimento das plantas, essa região do solo ainda não recebeu adubo, o que pode ocasionar
a obtenção de valores subestimados no resultado da análise de solo. O ideal é realizar a
amostragem para obter valores médios, que levam em consideração essas duas regiões
de amostragem dentro do pomar. Depois que a planta está na fase adulta, imagina-se que
as raízes começam a se cruzar e não deve haver muita diferença, já que toda a região terá
influência da adubação.

Na parte superior direita da imagem,


pode-se verificar a profundidade que
deve ser amostrada, na ocasião de
implantação de uma área nova. Nesse
caso há a necessidade de realizar
uma amostragem com profundidades
maiores (até 60cm) para ter a noção
do estado do solo, não só da parte
superficial, mas também do subsolo.
Coleta na projeção da copa e nas entrelinhas (fase inicial)
Fonte: Edilson Brasil

Por fim, para monitoramento da fertilidade do solo, a amostragem é de 20cm de profundidade,


o que implica fortemente nos resultados a serem obtidos.

Confira neste vídeo, a recomendação de adubação de plantio ou de cova e a recomendação


de adubação na fase de crescimento e produção em função do resultado da análise do solo,
do primeiro ao sétimo ano, conforme Viégas, Cravo & Botelho (2020).

Algumas informações complementares para a adubação nas fases de crescimento e produção


são apresentadas a seguir:

• Utilizar uma fonte solúvel de P (SFT, SFS, MAP ou outras) até o primeiro ano.
• Utilizar fosfato natural reativo (menor custo e maior eficiência para efeitos de
cultura) a partir do segundo ano.
• Aplicar sulfato de Magnésio na dose correspondente a 1/3 da dose de KCl em solos
com teor de Magnésio (Mg2+) inferior a 0,7cmolc/dm3.
• Fazer monitoramento de micronutrientes na planta por meio da análise foliar,
especialmente Boro a partir do terceiro ano após o plantio.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 74

Considerando as três recomendações mencionadas, pode-se questionar qual seria o método


mais eficiente. Por certo, todas as informações obtidas a partir das pesquisas e investigações
realizadas apresentam as peculiaridades de cada trabalho, por isso fica difícil mensurar
qual o mais eficiente.

Para dar uma ideia das diferenças entre as recomendações comentadas, a tabela abaixo
apresenta as quantidades finais de nutrientes na adubação. Para cada modelo adotado foram
convertidos os nutrientes para se ter uma ideia das quantidades aplicadas em cada ano.
Observa-se, de modo geral, que houve a variação das quantidades de nutrientes, mas as de
Farias Neto (2019) e Ismael et al. (2020) foram maiores a cada ano.

Comparação entre as sugestões de adubação


Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 75

No caso de Farias Neto (2019), a partir do quinto ano, elas permanecem as mesmas e,
certamente, deveria haver uma avaliação a respeito disso, a fim de identificar se há
necessidade de aumentar as quantidades aplicadas. Como há uma estabilização na
produção de frutos a partir do oitavo ano, é de se esperar que haja um aumento do
quinto para o oitavo ano nas quantidades de nutrientes absorvidos. Por outro lado, a
recomendação de Ismael et al. (2020) levou em consideração a demanda crescente de
nutrientes até o sétimo ano. Já Cordeiro (2011) preponderou a questão da exportação.

Em suma, deve-se dar importância ao fato de


que a planta vai absorvendo os nutrientes,
os quais ficam imobilizados nela. Este é
o diferencial entre as quantidades finais
aplicadas na fase de produção. A análise
foliar e de solo, por sua vez, deve ser feita
sempre como um parâmetro com fins de
monitoramento e verificar a necessidade de
aplicação de quantidades adequadas.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 76

Além das quantidades a serem aplicadas, é


fundamental fazer a aplicação dos fertilizantes
de forma correta, conforme a idade das plantas.
De acordo com a proposta de Melém Junior &
Queiróz (2011), a aplicação da adubação após o
plantio deve ser feita em cobertura, em torno
de 30cm ao redor das mudas, na forma de um
círculo. No caso de parcelamento da adubação,
pode ser feito um semicírculo, que deve ser
alternado de cada lado, de modo a aplicar os
nutrientes em todos os lados da planta. Do
ponto de vista prático, isso facilita muito os
trabalhos de campo.
Adubação de cobertura após o plantio

É importante destacar que, nas áreas que não possuem um sistema


de irrigação ou em áreas com bastante incidência de chuva, o
parcelamento deve ser realizado em três aplicações ao ano (início, meio
e fim do período chuvoso). Já naquelas áreas que possuem irrigação
bem estruturada, recomenda-se o parcelamento de quatro a seis vezes
por ano.

Adubação de cobertura no Adubação de cobertura no Adubação de cobertura do terceiro


primeiro ano segundo ano ano em diante

No primeiro ano, a aplicação da adubação deve ser realizada conforme a projeção da copa,
em cobertura na distância de 50cm do coleto da planta. No segundo ano, são recomendados
100cm em torno da planta. Do terceiro ano em diante, deve-se colocar os adubos a 1,5m de
distância. À medida que a planta vai crescendo, o local de aplicação dos adubos deve seguir
a projeção da copa.
Módulo 2 - Nutrição e adubação do açaizeiro 77

Chegamos ao final do módulo 2, no qual você aprendeu a identificar os


aspectos nutricionais e de adubação da cultura do açaizeiro.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 78

Módulo 3
Autor: Joaquim Alves de Lima Junior.

Estamos na metade do curso sobre manejo da cultura do açaí em terra firme e neste
módulo vamos falar sobre o uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da
produtividade e racionalização do consumo hídrico.

Este módulo foi dividido em cinco unidades:

• Na primeira você vai conhecer os princípios básicos de um dimensionamento


hidráulico;
• Na segunda unidade você vai aprender a avaliar o sistema de irrigação e conhecer
medidas que aumentam a eficiência de aplicação de água;
• Já na terceira unidade você vai aprender a usar técnicas de manejo de irrigação e,
em seguida, de fertirrigação.
• Na última unidade você vai conhecer o custo de sistemas irrigados no agronegócio
da cultura do açaí.

Então, vamos começar?


Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 79

Unidade 1 - Princípios básicos de um


dimensionamento hidráulico

Antes de adentrarmos neste assunto, vamos refletir sobre a questão: o


que é irrigação? Irrigação consiste na aplicação artificial de água, a fim
de suprir a necessidade hídrica da cultura caso esta não consiga supri-
la de forma natural (advinda da precipitação). Imagine uma planta
que esteja sofrendo com déficit hídrico e, na medida em que suas
necessidades são supridas, ela começa a produzir em épocas diversas.
Portanto, a irrigação pode ser considerada uma oportunidade e o
retorno dos investimentos nesse recurso é certo.

Vamos começar falando sobre a caracterização climática do Estado do Pará.

Quando o assunto é irrigação, é necessário


realizar uma caracterização climática da
região, de modo a analisar a precipitação
e a temperatura (principais variáveis
de clima quando se faz a classificação
de Köppen). O clima no Estado do Pará
caracteriza-se, principalmente, como AM
e AW, com temperatura média ≥ (maior
ou igual) a 26°C e precipitação anual ≥ a
1600mm. Essas são características muito
importantes para o cultivo do açaí.
Classificação climática de Köppen para o território
brasileiro e para o Estado do Pará
Fonte: Alvarez et al. (2013)

Nas imagens abaixo podemos verificar a variação espacial de temperatura anual de 25,5°C
a 27,6°C, a precipitação em torno de 1500mm a 2900mm e a evapotranspiração potencial,
considerando o balanço hídrico (quantidade de água que entra e sai do sistema).
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 80

Temperatura média anual normal para o Chuva total anual normal para o Estado do
Estado do Pará Pará

Evapotranspiração potencial anual normal para o


Estado do Pará

Fonte: DESPONTIN, M. A., (2018)

Constatamos, com isso, que há bastante chuva anual. Ademais, temos de entender a planta
como uma bomba d’água, já que ela tira água do solo e envia para a atmosfera. Por certo,
uma parte da água da evapotranspiração sai do solo e a outra sai da planta (transpiração),
consolidando o total da evapotranspiração.

Análise geral - Balanço Hídrico


Precipitação > Evapotranspiração
No geral, observamos que, dependendo da época do ano, a precipitação é maior que a
evapotranspiração, já que o excedente da água é percolado pelo lençol freático. Em primeira
análise, verificamos que a irrigação não é necessária, pois há 3000mm anuais de precipitação,
em média, ou seja, muita água por metro quadrado.

No entanto, onde está o problema?

A quantidade de precipitação anual é distribuída durante os meses, a qual é alta em alguns


períodos e muito baixa em outros em comparação à evapotranspiração, ou seja, variação
espacial e temporal durante o ano.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 81

• DEF: Déficit
• EXC: Excedente

Fontes: Filgueira et al. (2011) e www.geocities.com/pjufra

De dezembro a janeiro/fevereiro até julho/agosto temos precipitação. De julho/agosto até


dezembro/janeiro, déficit hídrico. Quando a planta sofre esse déficit, ela não exerce suas
funções fisiológicas de forma ideal e, consequentemente, reduz a produção de frutos. Apesar
de haver radiação para a fotossíntese, não há água disponível durante o mês de estresse
hídrico, isto é, a planta escolhe não produzir para conservar a sua água.

A imagem ao lado evidencia um exemplo


do balanço hídrico de Igarapé-Açu. Se
fizermos uma análise mais aprofundada,
de janeiro a julho, a precipitação é
maior que a evapotranspiração e, em
consequência disso, a planta consegue
produzir, dada a umidade do solo. Porém,
as inflorescências que originaram frutos
serão colhidas no segundo semestre do
ano. Percebemos, portanto, que os frutos
gerados amadurecem nesse segundo
semestre do ano, no qual haverá tanto a
produção de açaí de várzea (ribeirinho)
quanto de açaí irrigado (terra firme), e a
Fontes: Filgueira et al. (2011) e www.geocities.com/pjufra
tendência é de haver a diminuição do
preço devido a grande quantidade de produto no mercado.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 82

Em contrapartida, o produtor que possui sistema de irrigação e o utiliza na plantação no


período de julho a dezembro/janeiro, usufruirá da geração de frutos no período da chuva.
Já a produção de janeiro a julho/agosto, é resultado da irrigação feita no segundo semestre
do ano e o preço tende a aumentar, uma vez que somente o açaí de terra firme irrigado terá
produzido.

A tabela a seguir faz um comparativo da variável do peso médio de frutos. Observamos que
o açaizeiro não irrigado produz 1kg de frutos e o irrigado 5kg de peso médio, justificando
a tamanha importância da irrigação. Em suma, se a planta não sofre estresse hídrico, ela
produz o ano todo, embora existam os déficits de dois meses e a produtividade é aumentada.
Investir em irrigação, decerto, traz lucratividade alta, pois os produtores trabalharam com
a vertente de custo de oportunidade, já que terão produto praticamente o ano todo.

Métodos de irrigação do açaí

Os métodos de irrigação utilizados na cultura do açaí são demonstrados a seguir.

• Irrigação por superfície: Não se aplica na região paraense, pois tem eficiência em
torno de 60%, ou seja, de 100% somente 60% de água é utilizada pela planta, os outros
40% são percolados no solo (este é muito profundo e a infiltração é grande).
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 83

Foto: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

• Irrigação por aspersão sub copa: Esta opção leva em consideração a qualidade
da água, com eficiência de 70% a 80%. Em algumas visitas técnicas em plantio no
Estado do Amapá, mais especificamente no município de Macapá, foi possível
observar alguns produtores que investiram em aspersão sub copa.

Foto: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

• Irrigação localizada: Há um aproveitamento de 85% a 95% tanto pelo gotejamento


quanto pela micro aspersão. Com esta última, há maior quantidade de área irrigada.
Na irrigação localizada, se a água for muito turva e sedimentada provocará o
entupimento do micro aspersor ou do gotejador e, consequentemente, a planta não
receberá a quantidade necessária, enquanto outras plantas receberão quantidade
superior, uma vez que, com o micro aspersor entupido, a pressão e a vazão
passarão para outro micro. Isso ocasionará em falta de uniformidade com relação à
distribuição da lâmina de água no sistema de irrigação das plantas.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 84

Foto: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

Quando a água é de péssima qualidade e não se investe no sistema de


filtragem, o método de irrigação por aspersão sub copa é preferível.

Critérios de seleção do método de irrigação

Para escolher o melhor método de irrigação, é necessário verificar a realidade de cada


localidade e mais:

• Características de solo e clima da região: Velocidade Básica de Infiltração (VIB);


Relevo (destaque para a irrigação localizada) etc.
• Disponibilidade e qualidade de água para irrigação: Quando se planeja implantar
um sistema de irrigação, deve-se quantificar a vazão do poço d’água, no caso de
captação subterrânea ou do rio e também no caso da captação superficial. A título
de exemplo, ao captar a água e inserir uma bomba dentro de um poço em que a
vazão seja maior que a disponibilidade de água disponível nesse poço, ocorrerá o
travamento da bomba, pois ela começará a sugar lama, ou esquentará até queimar.
Além disso, a qualidade da água para irrigação é um fator que deve ser observado em
virtude de a maior parte das águas ser ferrosa, consistindo em um grande problema
para a irrigação localizada. Portanto, é imprescindível realizar um tratamento para
que não ocorram entupimentos futuros, apesar de existirem técnicas de prevenção
de entupimento.
• Disponibilidade de energia elétrica de qualidade: A maior parte da zona agrícola
do Estado do Pará possui energia monofásica ou bifásica (220 V), ou seja, não é
de qualidade, considerando um limitante para o desenvolvimento da agricultura
irrigada paraense. Devido a isso, ocorre limitação na potência das bombas, já que os
transformadores são de 5 a 10kVA. Além do mais, o rendimento dos motores é baixo
comparado ao dos motores trifásicos. O ideal, então, para o desenvolvimento da
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 85

agricultura da região, é o investimento na qualidade e na disponibilidade de energia


elétrica no campo, bem como na inserção de motores trifásicos e de bombas de
maiores capacidades.
• Questões socioeconômica do produtor/empresário: Os preços dos equipamentos
de irrigação vendidos nas lojas, como canos, mangueiras, micro aspersores,
conjuntos de motobomba etc. sofrem alteração nos períodos de baixa e de alta
precipitação. Quando está baixa, a demanda aumenta e os preços também. Logo, a
melhor alternativa é realizar um bom planejamento para a implantação do sistema.
Ademais, a condição socioeconômica do produtor/empresário é preponderante
para a escolha do melhor método de irrigação, dado que o investimento inicial
para um sistema de irrigação localizado é maior quando comparado à irrigação por
aspersão devido à quantidade de material. As informações também são um aspecto
imprescindível, pois, em grande parte dos casos, a implantação de um sistema
sofisticado não anula a necessidade do conhecimento para geri-lo e obter sucesso.

É importante lembrar que o empresário desse ramo precisa planejar a irrigação com
sabedoria, a fim de que ela seja implantada no momento de precipitação e não em pleno
período de estiagem, colocando a planta em situação de estresse. Assim, no período
de déficit hídrico, o sistema já estará implantado. Todavia, em muitos casos, esse
planejamento não é feito, ou é feito somente quando a planta já está sofrendo o efeito da
baixa precipitação.

Sistema de irrigação localizada

Confira um trecho da palestra on-line do pesquisador Joaquim Alves de Lima Júnior no qual
ele explica sobre o sistema de irrigação localizada, que é o mais utilizado na cultura do açaí.

Vamos conhecer algumas vantagens e desvantagens do sistema de irrigação localizada e


alguns componentes do sistema.

• Vantagens:
• Não dificulta as outras operações de cultivo.

• Economia de mão de obra.

• Maior eficiência no uso da água.

• Maior controle da irrigação.


Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 86

• Controle mais fácil de ervas daninhas, já que não se irriga toda a área.

• Economia de água e energia.

• Possibilidade de automação.

• Desvantagens:
• Sensibilidade à obstrução (entupimento).

• Desenvolvimento radicular demasiadamente limitado, pois a planta vai desenvolver


as raízes na área onde há disponibilização de água.

• Custo de implantação é maior quando comparado ao sistema de aspersão convencional.

• Componentes do sistema:
• 1. Bomba centrífuga

• 2. Controlador

• 3. Curva de 90º

• 4. BPS

• 5. Sistema de filtragem

• 1 a 5: Cabeçal de controle

• 6. Linha Principal

• 7. Linha de Derivação

• 8. Linha Lateral

Assista, agora, a outro trecho da palestra do pesquisador Joaquim Alves de Lima Júnior, na
qual ele fala sobre as distribuições da constituição de um sistema de irrigação localizado.

A título de curiosidade, o produtor, ao contratar um técnico para projetar um sistema de


irrigação, geralmente faz a seguinte pergunta: qual a potência da bomba?

Neste vídeo você confere a resposta.

Para realizar o projeto agronômico de acordo com a necessidade hídrica da cultura, alguns
pontos precisam ser entendidos.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 87

• Dados da cultura: Espaçamento de plantio (Esp).


• Evapotranspiração potencial (Eto): (Eto = mm dia-1): existem vários métodos para
obtê-la, os quais serão explanados posteriormente.
• Coeficiente de cultura (Kc): (Kc = 1,08): em uma publicação de Sousa (2020), no
Município de Capitão Poço, consta que se utilizou a metodologia de Bowen para
obter o coeficiente de cultivo (Kc) em um plantio já em produção (do 4º ao 6º ano).
• Evapotranspiração da cultura (Etc): (Etc = mm dia-1): para obtê-la, basta multiplicar a
evapotranspiração potencial pelo coeficiente de cultivo (Eto x Kc).
• Definição da porcentagem de área molhada (PAM): Recomenda-se 33% a 50% da área
da planta a ser irrigada.
• Evapotranspiração localizada (ETl): (ETL – mm dia-1): para obtê-la, basta multiplicar
a evapotranspiração da cultura pela porcentagem de área molhada, uma vez que a
água irá cair somente nesta porcentagem da área da planta (Etc x PAM).
• Turno de rega (TR): Intervalo de dois ou três dias para irrigar novamente uma área
que já foi irrigada.
• Eficiência de irrigação (Ei): Para a microaspersão, recomenda-se em torno de 85%, ou
seja, 0,85 no mínimo.
• Lâmina de irrigação (Li): (Li – mm): para obtê-la, basta multiplicar a
evapotranspiração localizada pelo turno de rega e dividir pela eficiência (ETL x TR /
Ei). Exemplo de fórmula com substituição de valores, da qual se obteve uma lâmina
de 6,35mm:

Eto (5) x Kc (1,08) x PAM (0,5) x TR (2) = 6,35mm

Ei (0,85)

• Tempo de irrigação (T): Para obtê-lo, basta multiplicar a lâmina de irrigação pelo
espaçamento, dividir pela vazão do microaspersor e, ainda, multiplicar pelo número
de emissores.
O número de emissores é quando se coloca um microaspersor por touceira ou por
duas linhas de plantio (o micro deve ficar entre as duas linhas). Neste último caso,
haverá 1/2 micro, porque parte da água atenderá uma touceira, enquanto a outra
atenderá outra touceira. Geralmente, observa-se a inserção de um microaspersor,
mas, em muitos sistemas de irrigação, coloca-se uma linha de micro para atender
duas linhas de plantio. Ao substituir os valores, obteve-se o tempo de 1h20min para a
lâmina de 6,35mm. Exemplo:

Li x Esp.
q (L/h) x nº emissores

T: Li (6,35) x (5x5) =1,32h = 1h20min


20x1
(foram inseridos 120L/h, mas existem outras vazões de micro).
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 88

Fonte: Souza, D. P. et al. 2020. Estimation of evapotranspiration and single and dual crop
coefcients of acai palm in the Eastern Amazon (Brazil) using the Bowen ratio system.
Irrigation Science 39:2-22.
https://doi.org/10.1007/s0027 1-020-00710-2.

Vamos conhecer agora o posicionamento e os tipos de microaspersores.

Número de emissores por touceira:

Um microaspersor por touceira Um microaspersor entre duas plantas

Irrigação por microaspersão tipo santeno Irrigação aérea, que evita exposição no solo,
corte de roedores, exposição mecânica etc.

Projeto Hidráulico – Cabeçal de controle:

Nas imagens verificamos o cabeçal de controle, uma bomba centrífuga, o controlador e as válvulas
solenoides (estas acionam as válvulas de comando hidráulico)
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 89

Sistema de filtragem, muito importante


para qualquer sistema de irrigação
localizada.

Foto: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

Aqui observamos as valetas, as quais


impedem, por meio do soterramento, que
as linhas de derivação principal e as linhas
laterais fiquem expostas. Ressalta-se que
somente o microaspersor fica acima do solo.
O soterramento das linhas laterais, derivação
e principal facilitarão os tratos culturais, o
transporte de produção, a proteção do sistema,
entre outros.

Foto: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

Neste vídeo você vai conhecer os critérios de projeto para o dimensionamento do sistema
de irrigação.

Na água de irrigação existem diversos materiais em suspensão, como minerais, orgânicos,


precipitados químicos, dissolvidos. Devido a isso, todas as partículas que possam causar
problemas de obstrução nos emissores devem ser eliminadas ou desativadas antes de entrar
no sistema de irrigação por meio da filtragem ou tratamento da própria água de irrigação.

Nota-se, portanto, a importância de realizar a coleta de uma amostra


de água e encaminhá-la para um laboratório específico, caso não haja o
conhecimento necessário sobre sua qualidade.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 90

Análise da água:
• Variação da qualidade: A qualidade da água oscila durante todo o ano (águas
superficiais).
• Percurso da água dentro do emissor: Percorre por caminhos estreitos.
• Influência nos custos de manutenção: A qualidade da água influencia grandemente
nos custos de manutenção.
• Melhor época para análise: Deve ser feita quando a água apresenta a pior qualidade.
• Ponto de coleta: Deve ser o mais próximo possível do local de captação da água.

A tabela a seguir apresenta os diversos parâmetros a serem analisados na água para


irrigação:
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 91

O ferro é um problema para a irrigação localizada, pois quando sai do


manancial, oxida dentro da tubulação e o sistema de filtragem se torna
ineficaz para combatê-lo e impedi-lo de chegar ao microaspersor. É
necessário, em vista disso, realizar um tratamento de aeração artificial
antes que a água, com elevado teor de ferro, chegue ao sistema de
irrigação.

Nas imagens abaixo estão os filtros de tela, de areia e de discos, respectivamente. No


primeiro, a filtragem é superficial. Já os outros dois, mais eficientes, filtram em profundidade.
O filtro de areia é mais usado quando a água se compõe de muitos sedimentos orgânicos,
enquanto os minerais são filtrados pelo filtro de disco.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 92

Filtro de tela - Filtragem de Filtro de areia - Filtragem em Filtro de discos - Filtragem em


superfície profundidade profundidade
Fonte: Prof. Dr. Joaquim Alves de
Lima Junior

Estes são os filtros disponíveis no


mercado: manuais e automáticos.
Caso o produtor tenha condições de
investir nestes últimos, dispensará
as limpezas manuais e a verificação
frequente do aumento da pressão
pelo manômetro em decorrência da
filtragem.

E por terem válvulas de retrolavagem,


nos momentos de pressão crítica,
em que as impurezas entopem o
mecanismo de filtragem, os filtros
automáticos fazem a retrolavagem
Fonte: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior automática.

É importante que o projetista leve em consideração a perda de carga do filtro, esteja ele
limpo ou sujo.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 93

Projeto hidráulico – Necessidade de filtragem


Fonte: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

ATENÇÃO!
Como acionar o sistema de irrigação?
Quanto ao acionamento, há, também, o manual e o automático.

Acionamento manual Fonte: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

No manual, antes de ligar o conjunto motobomba, é necessário abrir o registro para irrigar
os setores.

Acionamento automático

No acionamento automático (hidráulico, elétrico e pneumático) constam o controlador, a


válvula solenoide e as válvulas de comando. Devido à distância, geralmente se utiliza o
hidráulico.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 94

Fonte: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior

Depois de todo o trabalho de dimensionamento hidráulico (tamanho dos setores, perda de


carga, ponto de trabalho, automação etc.), é interessante elaborar uma planta. Habitualmente,
utiliza-se o AutoCAD, mas existem outros softwares para criá-la.

Projeto hidráulico – Planta CAD 2D para demonstração ao empresário e ao


instalador
Fonte: Prof. Dr. Joaquim Alves de Lima Junior
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 95

Unidade 2 - Avaliação de sistema de


irrigação e medidas que aumentam
eficiência de aplicação de água

Neste momento, veremos a respeito da avaliação do sistema de irrigação e das medidas que
aumentam a eficiência de aplicação da água.

Tanto para a eficiência de aplicação de água do sistema quanto para o manejo de irrigação
ou fertirrigação, é fundamental que o sistema também esteja funcionando adequadamente.
Para chegarmos a uma determinada quantidade de água do microaspersor por planta,
precisamos pensar em metodologias mais proveitosas, a fim de reduzir custos e aumentar a
produtividade. Afinal, a avaliação do sistema de irrigação é indispensável para a economia
de água e para as questões ambientais, com vistas a não desperdiçar recursos.

Logo, nesta avaliação, é interessante verificar a uniformidade de distribuição por meio de:

• Averiguação após a instalação do sistema de irrigação.


• Averiguação no intervalo de, pelo menos, um ano, sempre após a instalação do
sistema, a fim de realizar o teste de eficiência de distribuição de água.
• Repetição do teste após um ano de uso.

Para as avaliações do sistema, utiliza-se o coeficiente de uniformidade


de distribuição recomendado por Keller e Karmelli (1974): CU = q25/qa,
que se refere à medição de vazão, de modo que 25% são das vazões
coletadas no microaspersor e das vazões médias.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 96

Confira o trecho da palestra on-line do pesquisador Joaquim Alves de Lima Júnior no qual
ele explica o passo a passo para se realizar uma avaliação.

Esta tabela demonstra um exemplo da avaliação do sistema de irrigação. Podemos visualizar


os microaspersores e as linhas para as quais eles fazem referência. As características
são: vazão de 80L/h e pressão de serviço do microaspersor de 20mca. Anteriormente, foi
demonstrado como se realiza a coleta de água, então, essa planilha serve para anotar a
quantidade, verificar as menores vazões e tirar a média geral delas.

Neste outro trecho de sua palestra on-line, o pesquisador Joaquim Alves de Lima Júnior
esclarece os dados da tabela.

Para fazer a avaliação do sistema de irrigação em diversos setores,


basta multiplicar os coeficientes de cada setor (1, 2 e 3) pelo coeficiente
de distribuição geral:
CUD geral = CUD1 x CUD2 x CUD3...
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 97

Agora, vamos verificar o diagnóstico de baixa uniformidade, que pode ser provocado por:

• Causas hidráulicas: Todas que afetam a pressão de funcionamento dos emissores,


podendo ser provenientes de projeto inadequado, falta de reguladores de pressão ou
desajuste dos emissores.
• Baixa uniformidade dos emissores: Ocasionada por um inadequado coeficiente de
variação de fabricação ou por obstrução dos emissores.

Observe, nas imagens acima, o manômetro ao final da linha lateral, o qual é usado para
verificar a pressão. Como explicado anteriormente, se a pressão de funcionamento do
microaspersor é de 20mca, por exemplo, admite-se chegar a um mínimo de 16mca.

Diante disso, quais são as medidas para aumentar a eficiência de aplicação?

Você vai aprender, aqui, cinco dicas para aumentar a eficiência de


aplicação de água para o seu sistema de irrigação.

Observe como é bem simples!

Primeira dica – Limpe o sistema de filtragem frequentemente se ele


for manual. Caso a pressão chegue a níveis elevados do recomendado,
será necessário parar o sistema de irrigação, desmontar, lavar e
recolocar o filtro no lugar. Ao ser mantido com sujeiras, perde-se
muita carga de pressão e não se obtém a vazão recomendada.

Segunda dica – Observe a existência de vazamentos no sistema.


Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 98

Terceira dica – Realize a limpeza das linhas laterais e de derivação.

Quarta dica – Realize a cloração com auxílio de um técnico


especializado, caso a água utilizada na irrigação tenha alta incidência
de algas e bactérias.

E a última dica é - Inspecione periodicamente o funcionamento do


conjunto motobomba, das válvulas e do sistema de automação.

Continue seus estudos para conhecer as técnicas de manejo de


irrigação e fertirrigação.

Unidade 3 - Uso de técnicas de manejo


de irrigação

Abordaremos, nesta unidade, o uso de técnicas de manejo de irrigação. É fundamental


verificar o tipo de sistema utilizado, como já mencionado anteriormente, e a eficiência de
distribuição de água, mantendo-a dentro dos limites técnicos.

Para irrigação localizada, quando se utiliza a microaspersão, deve-se manter acima de 85%
a uniformidade de distribuição de água. Para o manejo de irrigação será importante:

• Suprir a necessidade hídrica da planta de forma racional: Ou seja, não aplicar a


quantidade de água nem a mais nem a menos. Por exemplo, na definição da lâmina
de irrigação, esta não sofre variações, já que é de projeto e de dimensionamento.
Após a instalação, pode-se lançar mão de técnicas de manejo de irrigação, mas
o projeto tem de considerar o Kc máximo da cultura. É importante ponderar que
sempre haverá uma demanda diferente diária de irrigação a depender de fatores,
como evapotranspiração baixa ou alta determinada pelas condições climáticas
(radiação, temperatura, umidade relativa, velocidade do vento etc.) de cada região.
• Aplicar a lâmina de irrigação no momento necessário: E também na quantidade
ideal. Esse é um fator importante para a empresa levar em consideração, pois ela
lucra quando diminui seus custos e aumenta sua produção.
• Realizar a manutenção da umidade: Preferencialmente, sempre aproximada da
capacidade de campo.

Veja a estimativa do consumo de água por touceira de açaizeiro, mensurado no experimento


instalado na base física de Tomé-Açu (PA). Mesmo que haja alternância na demanda hídrica
da cultura, a tabela a seguir serve como referência para evitar o desperdício de água. Nela,
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 99

podemos observar a idade da planta em relação ao ano, o número de estirpes/touceira e a


quantidade de litros por hectare no dia.

Fonte: Farias Neto et al., 2011. Estimado pelo método de Blaney Criddie

Métodos usados no manejo de irrigação:

• Aparência visual da planta.


• Solo - tensiometria.
• Clima - evapotranspiração

Manejo de irrigação via tensiometria

Vamos tratar sobre a tensiometria, visto que a tensão é a força com que a matriz do solo
prende a molécula de água a ela, de modo que a planta tenha de quebrá-la. Ou seja, a força
radicular desta última tem de ser maior do que a da matriz (potencial matricial). Assim, a
molécula entra no sistema radicular e sai pelos estômatos da planta através do processo
da evapotranspiração. Para isso, ela precisa sugar a água do solo, vencendo aquela força.

A partir de equipamentos como o tensiômetro (e outros), é possível medir a força imposta


na molécula de água presa à matriz do solo. Ao medi-la, correlacionamos com a umidade
do solo.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 100

3 5
4

1 Saturação: água no estado saturado


2 A umidade de capacidade de campo (Cc): ideal para o desenvolvimento do cultivo.
Nela a planeta não sofre dificuldade para retirar água, a qual não estará em excesso e
nem em déficit.
3 Umidade da cultura (Uc) ou umidade crítica: ocorre entre o intervalo da umidade de
capacidade de campo de murcha permanente. Ou seja, quando se chegar à Uc, deve-
se aplicar uma determinada quantidade de água para voltar à umidade Cc. O limite
de baixa após a Cc deve ser avaliado conforme a cltura, já que ainda não existe um
estudo criterioso a respeito da tensão.
4 Umidade de ponto de murcha permanente (Pm): impõe uma enorme inconveniente
para a planta, pois ela não conseguirá retirar a água para o seu sustento, acarretando
em desidratação permanente da planeta. Devido a isso, sobreleva-se a relevância de
jamais deixar que ela se aproxime a esse nível de umidade.
5 Vacuômetros metálicos: o tensiômetro com vacuômetros metálicos do tipo Bourdon
oferece a medição da tensão de água no solo e é o mais utilizado pelo produtor rural.
6 Tensiômetro: o tensiômetro é formado por: cápsula porosa, tubo e joelho de PVC,
vacuômetros (mede a pressão negativa - tensão) e tampa.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 101

7 Punção: o tensiômetro de punção precisa do tensímetro para a leitura da força com


que a água está presa na matriz do solo, muito utilizado nas pesquisas. Quando se
consegue estimar essa força, consegue-se, também, calcular a umidade do solo e
lâmina de reposição de água para volta da umidade de capacidade campo.

Com a tensão de água no solo, chega-se a umidade com uso da curva característica e calcula-
se a lâmina de água de reposição para que seja aplicado via sistema de irrigação aumentando
a umidade até a capacidade de campo.

Assista à explicação do pesquisador Joaquim Alves de Lima Júnior sobre retenção de água
no solo.

A partir da explicação vista no vídeo


acima, confira este exemplo prático
e hipotético de 35kPa de tensão de
controle para o manejo de irrigação
por meio de tensiômetro na cultura
do açaí.

Vale lembrar que as recomendações de tensão críticas/umidades críticas para esse tipo de
cultura ainda estão em fase de experimentação.

Assim, é possível observar no gráfico acima:

• Tensão crítica de 35kPa com uma umidade de 0,225mm.


• Tensão de 10kPa de capacidade de campo com umidade de 0,240mm.
• Profundidade do sistema radicular a 300mm.

É importante saber que, na literatura, para diferentes tipos de solo, já


existe a umidade de capacidade de campo. Todavia, pode-se realizar um
teste in loco.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 102

Lâmina Líquida (LL) = (0cc - 0i) x Z

LL = (0,240 - 0,225) x 300 = 4,5mm

Considerando uma eficiência de 85% e CUD =


0,95

Lâmina Bruta = 4,5 / (0,8 x 0,95) = 5,9mm

Ao substituir os valores da tensão crítica e da tensão de capacidade de campo na fórmula,


obteve-se 4,5mm de lâmina líquida, considerando uma eficiência de 85% do sistema e CUD
(coeficiente de uniformidade de distribuição) de 0,95. E para calcular a lâmina bruta, dividiu-
se a lâmina líquida pela eficiência multiplicada pelo CUD. O resultado foi 5,9mm.

Já o tempo (T) é a lâmina bruta multiplicada pelo espaçamento, dividida pela vazão do
microaspersor e este multiplicado pelo número de microaspersores por planta. O resultado
obtido foi 1,23h (1h13min).

T: LB (5,9mm) x Esp (5m 5m) = 1,23h = 1h13min

Manejo da irrigação via evapotranspiração

Métodos de obtenção da evapotranspiração de referência (Eto):

• Penman-Monteith (FAO 56).


• Tanque Classe A.
• Thornthwaite.
• Camargo.
• Hangreves & Samani.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 103

Todos esses métodos dependem da disponibilidade de dados


e equipamentos.

Ademais, há uma grande vantagem quando existe uma estação


meteorológica próxima à região, pois ela poderá disponibilizar
diretamente o valor da evapotranspiração potencial diária ou
enviar os dados das variáveis climáticas por meio on-line para
cálculo. Por intermédio disso, os produtores poderão baixá-los,
a fim de efetuar os cálculos da evapotranspiração para manejo
de irrigação.

Estação meteorológica
automática, instalada no
Campus Capanema da UFRA
Fonte: Joaquim Alves de Lima
Junior

Evapotranspiração da cultura (ETc)

Para o manejo, temos também o Kc inicial, o Kc


intermediário e o Kc final. Portanto, é essencial
atentar-se ao Kc de produção, que precisa ser
acompanhado do início ao fim. Nota-se, pela
imagem, que a planta está com área foliar
pequena, dispensando grandes quantidades de
água. Na medida em que vai se desenvolvendo,
vai necessitando de um pouco mais de recursos
hídricos. Na fase de inflorescência, de geração
de frutos, essa necessidade passa a ser maior.
E, por último, na senescência, período em
que já está velha, ela volta a dispensar tantos
recursos.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 104

É importante saber que ainda não existe o Kc referente os diversos


estágios da planta na literatura, mas já é objeto de estudo da UFRA e
Embrapa para sanar diversos questionamentos.

Neste vídeo você confere um método de manejo de irrigação, considerando clima e


balanço hídrico.

Destaca-se que, atualmente, existe um alto grau tecnológico que serve como forte aliado
no manejo da cultura de açaí. Por outro lado, os custos de investimento também estão
elevados devido, por exemplo, aos gerenciadores que são configurados para tomadas de
decisão. No entanto, estes ainda não são capazes de substituir a mão de obra qualificada e
o conhecimento do homem. Mesmo com toda a tecnologia existente, a inspeção detalhada
do irrigante é fundamental.

Unidade 4 - Uso da fertirrigação

Esta unidade vai tratar sobre o uso da fertirrigação. No que concerne à tecnologia, este
método está na ponta da pirâmide. A partir do momento em que há um bom sistema e
manejo de irrigação dentro dos critérios técnicos e uma boa automação, caso o sistema
seja automatizado, a fertirrigação adentra para dar celeridade aos resultados almejados e
ao aumento de produtividade na cultura de açaí.

O contrário também se faz verdadeiro, pois, caso ela não seja utilizada de forma correta,
os prejuízos podem ser duráveis. De fato, existem diversos critérios a serem seguidos no
momento de aplicar os fertilizantes via água para absorção da planta. É o que veremos a
partir de agora.

Comecemos pelas vantagens e limitações da fertirrigação.

• Vantagens:
• Melhor aproveitamento do sistema de irrigação.

• Economia no custo de aplicação de fertilizantes, pois dispensa máquinas e mão de


obra. Não serão necessários, por exemplo, tratores para distribuição de fertilizantes, já
que estes são aplicados por meio da água da irrigação.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 105

• Aplicação dos adubos nas doses e momentos exatos exigidos pelas culturas. Na
adubação convencional, por exemplo, deve-se esperar pela ocorrência de chuvas, na
qual o adubo se dilui, entra na solução do solo e é absorvido pela planta.

• Maior eficiência no uso da água e dos fertilizantes.

• Menos compactação do solo e danos físicos às culturas. Somente pelo fato de evitar
o pisoteio de pessoas e máquinas, já se configura em um ponto positivo devido à
diminuição da pressão e da compactação do solo.

• Limitações:
• Exigência de cálculos precisos para quantificar concentrações e doses dos adubos,
considerando a solubilidade, a compatibilidade e a fonte dos adubos utilizados por
motivos dos altos preços em relação aos convencionais. Contudo, o retorno da eficiência
da fertirrigação na cultura é demasiado proveitoso e favorável.

• Necessidade de adubos mais puros.

• Provocação de entupimento do sistema de irrigação, quando utilizado de forma


incorreta. Em razão disso, o sistema de filtragem é vital no caso de precipitação quando
da aplicação do fertilizante, uma vez que o sistema pode estacionar e impedir a chegada
no micro aspersor.

• Provocação de salinidade pelo uso excessivo de adubo. Dificilmente ocorre na região


por efeito da percolação (lavagem) do solo por meio dos 2500mm a 3000mm anuais.

• Necessidade de mudança de mentalidade do produtor para realização do


monitoramento contínuo. É imprescindível ter bastante informação para se utilizar
a fertirrigação.

Aspectos básicos da fertirrigação

a) Fontes e solubilidade

Vejamos as características que devem ser observadas nas fontes de fertilizantes na


fertirrigação:

• Solubilidade.
• Concentração dos nutrientes.
• Pureza.
• Condutividade elétrica pelo extrato de saturação.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 106

• pH das fontes (reação ácida ou básica).


• Compatibilidade com outras fontes. Havendo desuniformidade, o adubo não sairá do
reservatório onde foi diluído, pois haverá precipitação.

É importante saber que essa observação é feita mediante o teste de compatibilidade que
pode ser feito in loco.

A tabela abaixo abrange as fontes mais utilizadas na fertirrigação, como: fertilizantes


nitrogenados, potássicos, magnesianos, calcídicos, fosfatados etc., as concentrações, o pH, a
condutividade e a solubilidade em relação à temperatura da água (esta última sai do diretório
de diluição, direciona-se para linha de irrigação e pode sofrer uma variação de temperatura).

J á e s t a t a b e l a a b r a ng e o s
micronutrientes, como: boro,
ferro, manganês, zinco, cobre e
molibdênio e suas concentrações.

Há disponíveis, no mercado, quelatos de micronutrientes que possuem,


em sua formulação, diferentes proporções desses elementos.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 107

b) Sistema de fertirrigação localizada

Vejamos, agora, as partes de um sistema de fertirrigação localizada:

• Reservatório: caixa d’água plástica, tanques etc.


• Tubulações e conexões: polietileno, PVC, válvulas de retenção etc.
• Injetor: bombas injetoras, Venturi, tanques de derivação.
• Controlador: operador, controlador da irrigação, medidores de condutividade elétrica
etc.

c) Equipamentos para injeção de fertilizantes

Estes são os principais equipamentos para injeção de fertilizantes (dentre os injetores


existem algumas variedades):

• Diferença de pressão: tanques de derivação.


• Pressão positiva: bombas injetoras.
• Pressão efetiva negativa: Venturi, “sucção da bomba de irrigação”. Esta última não
é aconselhada, pois, se houver problema no sistema e ocorrer de a água retornar, a
solução irá contaminar todo o manancial.

d) Principais equipamentos para injeção de fertilizantes (bomba injetora):

• Reservatório: é onde se faz a diluição dos fertilizantes. Quando a solução sai desse
reservatório, ela é direcionada para outro, e a bomba injetora injeta a solução na
tubulação. Enfatiza-se a relevância da filtragem, pois se houver algum tipo de
precipitado ou alguma impureza, já se realiza a purificação. Depois disso, a bomba
injeta a solução nas tubulações, direciona para os microaspersores e, por fim, estes a
lançam para a planta.
• Bomba injetora: geralmente é composta de material inoxidável, devido à corrosão e
à oxidação que podem ser provocadas pelos sais dos fertilizantes. Ressalta-se que o
valor de uma bomba com esse tipo de material aumenta três vezes mais em relação
à outra feita com materiais diferentes.
• Injeção na linha de irrigação.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 108

Reservatório Bomba injetora Injeção na linha de irrigação


Fotos: Joaquim Alves de Lima
Júnior

O pesquisador Joaquim Alves de Lima Júnior explica como selecionar a bomba neste trecho
de sua palestra on-line.

A tabela a seguir destaca a escolha do Venturi. Assim, devemos conhecer o cálculo a ser
feito para utilização da bomba auxiliar. Para isso, usa-se a fórmula proposta pelo catálogo
da Petroisa (2018), na qual o PL é a pressão na tubulação onde será instalada o Venturi:

Hman = PL - PL

0,69

b c

a) Cálculo da Pressão ou altura manométrica (HMT) - Aplicando a fórmula:

Hman= 50 - 50 = 22,5mc

0,69
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 109

b) Pressão de entrada: a tabela enfatiza a pressão de entrada no sistema em torno de


50mca e a de saída, 35mca.

c) Venturi de 3/4: como se escolheu o Venturi de 3/4, a vasão de injeção foi de 1789L/h.
Com isso, a bomba auxiliar escolhida foi de 23mca a uma vazão de injeçao de 1789L/h.

Manejo de fertirrigação

Como já se sabe, é essencial não somente


aplicar o fertilizante, mas realizar o
seu monitoramento. Existem algumas
ferramentas que permitem a supervisão
f re q u e n t e d e a l g u n s p a r â m e t ro s
importantes ligados à fertirrigação.
Com o auxílio dos extratores de solução
do solo, podem-se determinar: o pH; a
condutividade elétrica; e a análise de
NO3, NO2, P2O5 e K2O da solução do solo.

A extração da solução por intermédio


Extrator de solução: a seringa é colocada para forçar a
dessa ferramenta tem o propósito de
entrada do extrato de saturação no solo monitorar o movimento de sais no perfil
Foto: Joaquim Alves de Lima Júnior do solo e os parâmetros que serão citados
adiante.

É primordial realizar o monitoramento da quantidade de nutrientes,


como nitrogênio, potássio e fósforo na solução do solo com o uso do
extrator de solução e dos medidores (alguns com reagente e outros
com sensores) em tempo real (de preferência semanal, quinzenal e
mensal). Inquestionavelmente, isso torna possível, em tempo real,
verificar quanto de fertilizante tem o solo e realizar a reposição dele na
próxima fertirrigação.
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 110

Monitoramento de NO3, NO2, P2O5 e K2O na solução do solo

A seguir está um experimento realizado com produção de pimentões. Nas imagens, observa-
se um medidor multiparâmetro, que mensura as seguintes variáveis do solo: pH, CE, TDS
e salinidade. De acordo com o resultado, pode-se tomar uma decisão no que se refere à
fertirrigação: é ideal utilizá-la ou não?
Módulo 3 - Uso da tecnologia de irrigação com foco na maximização da produtividade e
racionalização do consumo hídrico no cultivo de açaí em terra firme 111

Unidade 5 - Custo de sistemas irrigado


no agronegócio da cultura do açaí
Nesta última unidade você terá uma noção do preço médio por hectare praticado pelas
empresas. É interessante frisar o momento anterior à pandemia e a situação atual. A
título de explanação, o preço do plástico nas indústrias e nas empresas repassado para os
estabelecimentos teve um reajuste considerável.

Os preços que se seguem podem sofrer uma variação a depender das circunstâncias nas
empresas de irrigação que realizam a montagem e a venda do sistema e das regiões nas
quais se implementa o sistema. Eles se submetem, por exemplo, ao fato de a água ser captada
por rios, açudes, igarapés ou subterrâneo, à distância de captação, entre outros. O custo por
hectare de sistemas irrigados na cultura do açaí, decerto, é inconstante, como se vê adiante.

• Sem automação: R$ 15.000,00 a R$ 18.000,00 por hectare (atualmente)


• Conjunto motobomba.

• Tubos e conexões.

• Mão de obra de instalação.

• Filtro normal – sem retrolavagem.

• Sem sistema de fertirrigação.

• Com automação: R$20.000,00 a R$25.000,00 por hectare (atualmente)


• Conjunto motobomba.

• Tubos e conexões.

• Mão de obra de instalação.

• Filtro com retrolavagem.

• Com sistema de fertirrigação.

Chegamos ao final do Módulo 3, no qual você aprendeu a identificar


os sistemas de irrigação utilizados na cultura do açaí.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 112

Módulo 4
Autores: Alistair John Campbell, Cristiano Menezes, Felipe Deodato
da Silva e Silva, Kamila Leão Leão e Márcia Motta Maués.

Seja muito bem-vindo ao quarto módulo do curso Manejo da cultura do açaí em terra
firme: da semente à pós-colheita e ao processamento.

Veremos, a partir de agora, a respeito da polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro.

Para isso, este módulo está dividido em quatro unidades.

• Na Unidade 1 você vai conhecer biologia floral e polinização do açaizeiro.


• Na Unidade 2 serão abordadas as estratégias para manter os serviços de polinização
do açaizeiro.
• Na Unidade 3 você vai conhecer a biologia e o manejo de abelhas sem ferrão para
polinização.
• E na Unidade 4 você vai aprender quando se deve introduzir abelhas em plantios de
açaí.

Ao final deste módulo, espera-se que você seja capaz de reconhecer a importância da
polinização e dos polinizadores para a produção de frutos do açaizeiro e como manter o
serviço da polinização.

Desde já parabenizamos você por ter chegado até aqui e desejamos um ótimo estudo!
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 113

Unidade 1 - Biologia floral e polinização


do açaizeiro

Nesta unidade você vai aprender:

1 Fenologia e biologia floral do açaizeiro


2 Polinização e biologia reprodutiva
3 Polinização como um bioinsumo agrícola
4 Visitantes florais e polinizadores do açaizeiro

1.1 Fenologia e biologia floral do açaizeiro


O açaizeiro tem uma relação muito importante com a segurança alimentar da região
amazônica. Contudo, nas últimas décadas, a demanda pelo fruto cresceu muito, de modo
que o sistema de produção com base extrativista está expandindo seu cultivo em áreas de
terra firme. Uma vez que o cultivo do açaí em terra firme vem aumentando, é preponderante
conhecer aspectos ecológicos e biológicos que afetam diretamente a produção de frutos.
Dessa forma, abordaremos, neste momento, aspectos da botânica, a fim de contextualizar o
que estudaremos mais adiante sobre a biologia floral e a polinização.

Açaizal nativo Plantio


Foto: Ronaldo Rosa Foto: Márcia Maués
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 114

Fruto Polpa do açaí


Foto: Ronaldo Rosa Foto: Ronaldo Rosa

O açaizeiro Euterpe oleracea Mart. é uma planta que forma touceiras com várias estipes com
o mesmo material genético. Na Amazônia, mais especificamente, no Pará, ele é conhecido
como açaí e, em alguns lugares, como juçara, açaí-de-touceira, açaí-do-Pará e açaí-verdadeiro.
Também existem outras espécies de Euterpe:

• Euterpe precatoria: Também chamada de açaí-do-Amazonas ou açaí-solitário, porque


não perfilha. Ou seja, é uma única estipe.
• Euterpe edulis: Espécie característica da Mata Atlântica, conhecida como palmiteiro.

Fonte: Nascimento, 2008; Kahn, 1997 apud Oliveira et al., 2017

De modo geral, as angiospermas (plantas com flores) podem apresentar flores que contêm
os dois órgãos sexuais (masculino e feminino), chamadas de hermafroditas ou bissexuais,
e plantas com flores unissexuadas, nas quais os órgãos sexuais ocorrem de forma separada
(estaminada – masculina e pistilada – feminina), na mesma planta (monóica) ou em plantas
diferentes (dióicas). O órgão sexual masculino (androceu) é formado pelas anteras (que
contêm os grãos de pólen) e filete, e o feminino (gineceu) pelo ovário (que contém os óvulos),
estilete e estigma.

Sistema sexual da flor


Fonte: https://www.goconqr.com/slide/10145600/bio-68-angiospermas
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 115

O açaizeiro pertence à categoria das plantas monóicas, uma vez que apresenta estes dois
tipos de flores: a masculina (estaminada) e a feminina (pistilada) na mesma planta. A
diferença entre as flores estaminadas e as pistiladas fica bastante evidente no açaizeiro
quando se observa uma inflorescência aberta.

As masculinas contêm um conjunto de seis anteras de estames (conjunto das anteras e


filetes), em média, e um pequeno pistilódio no centro (pistilo rudimentar não funcional).
Logo, são elas que ofertam o pólen, importante e necessário para a polinização e fertilização
dos óvulos.

Já as flores femininas apresentam um estigma dividido em três lobos, os quais são


visivelmente menos perceptíveis que as flores masculinas devido ao seu tamanho reduzido.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 116

Nesta imagem é possível verificar


uma inflorescência com eixo
central e diversas ráquilas, a qual
está coberta de flores masculinas
(fase masculina de abertura das
flores). Ademais, pode-se observar
uma grande quantidade das
primeiras flores masculinas que
surgem no açaizeiro, podendo
Inflorescência com flores masculinas
Fotos: Cristiano Menezes e Ronaldo Rosa
chegar a 18.500 em uma duração
de 10 a 14 dias. Na primeira foto, à
esquerda, há a inflorescência completa; na foto do meio há uma ráquila com botões florais
e algumas flores abertas e, na terceira foto, uma flor masculina já aberta com suas anteras
ainda fechadas.

Antes da abertura das flores femininas (e até mesmo antes das masculinas), elas se
organizam em tríades, de modo que são duas masculinas para uma feminina e, às vezes, um
pouco mais. Isso significa que existem de duas a três vezes mais flores masculinas do que
femininas em uma inflorescência. Vejamos mais algumas características da inflorescência:

• Inflorescência protegida pela espata (facão).


• Inflorescência aberta, com raque central e ráquilas (ramos florais).
• Flores unissexuais (em média 18 mil masculinas e 5 mil femininas).
• Flores em tríades (grupo de três).

Vamos mostrar, agora, como fica a inflorescência feminina com as flores abertas.

Em comparação à masculina,
observa-se uma maior delicadeza
e menor percepção na presença
de flores, que parecem pontinhos
rosáceos vistos de longe – cor
do estigma. Na imagem do meio,
há a presença de uma mosca
polinizadora. Para além disso, no
detalhe mais ampliado, é possível
Inflorescência com flores femininas visualizar um estigma dividido
Fotos: Cristiano Menezes e Ronaldo Rosa
em três lobos. Após o período da
abertura completa das flores masculinas, há um pequeno intervalo de alguns dias (dois-três)
e as femininas começam a abrir em um período que dura de cinco a sete dias.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 117

A imagem a seguir representa o esquema completo da fenologia de uma inflorescência do


açaizeiro. Quando ainda está fechada, a inflorescência é recoberta por brácteas esverdeadas
(costumeiramente chamadas de facões pelos produtores), e estas, quando está próximo da
abertura da inflorescência, vão assumindo uma tonalidade amarelada queimada, quase
dourada. Assim, as espatas se afastam, o eixo central, com raques e ráquilas, começa a ficar
exposto e a abertura das flores masculinas é iniciada.

Fotos: Cristiano Menezes


Ilustrações: Alistair Campbell

Como falado anteriormente, a fase de facão (espata fechada recobrindo a inflorescência) dura
cerca de dois meses. Já a fase masculina, com abertura das flores, de 10 a 14 dias. Após isso,
ocorre uma fase neutra de um a três dias. E, por último, a fase feminina, com duração de cinco
a sete dias. É importante destacar que isso tudo acontece na mesma inflorescência. O que se
observa no campo é que ou as inflorescências estão numa fase masculina ou numa feminina,
porque os dois tipos de flores não abrem ao mesmo tempo numa mesma inflorescência.
Logo, muitas vezes, pode-se deduzir que algumas plantas abrem somente flores masculinas
e outras somente femininas, o que é um equívoco. Em síntese, há uma diferença temporal.

Então, ao longo do tempo, a inflorescência


se abre e dura de 23 até 25 dias, uma vez que
primeiramente há uma fase masculina com
abertura de flores estaminadas; na sequência,
uma fase neutra, na qual não se abrem flores e,
por fim, uma fase feminina, completando o ciclo
da fenologia.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 118

Eventos de floração e frutificação – Fenologia reprodutiva


De modo geral, vamos conhecer os eventos de floração e frutificação, chamados de fenologia
reprodutiva. O açaizeiro:

• Floresce de 2,5 a 4 anos após plantado.


• Frutifica aos 3-4 anos.
• Apesar de lançar cachos quase o ano todo, apresenta sazonalidade na fenologia,
florescendo mais na época chuvosa (janeiro a maio) e frutificando na época menos
chuvosa (setembro a dezembro).

Existem cultivares lançadas pela Embrapa que produzem o ano todo


(com irrigação). Mesmo nas áreas não irrigadas ocorrem lançamentos
de inflorescências durante todo o ano, porém, a época de maior
florescimento é no período chuvoso e o de maior produção de frutos é
no menos chuvoso.

Confira um trecho da palestra proferida pela pesquisadora e Dra. em Ecologia, Márcia Motta
Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, na qual ela fala sobre a dinâmica de abertura das
flores.

1.2 Polinização e biologia reprodutiva


A polinização é um serviço ecossistêmico de provisão, regulação e cultural. A agricultura
dos países tropicais tem alta dependência dos polinizadores.

Polinizadores... Muito além das abelhas

Sempre que proferimos a palavra polinizador,


logo pensamos em abelhas. Porém, existem
diversos outros grupos de insetos e animais
que polinizam as plantas, como mariposas,
borboletas, vespas, besouros, beija-flores,
pássaros, morcegos, pequenos mamíferos,
entre outros. Decerto, mais de 90% das plantas
Fonte: Pollinators Partnership superiores das angiospermas dependem desses
Ilustração: Paul Mirocha polinizadores para produzir frutos e sementes.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 119

O valor estimado do serviço de polinização no mundo todo é de cerca


de U$577 bilhões/ano. Esse valor é equivalente a 9,5% da produção
agrícola em escala mundial. No Brasil, gira em torno de U$12 bilhões/
ano, representando 20% da produção agrícola.
(Fonte: Klein et al. 2007; Gallai et al. 2009; IPBES 2016; Novais et al. 2016;
BPBES 2019)

Na avaliação realizada pela Rede Brasileira de


Interações Planta-polinizador (REBIPP), em 2019 , no
âmbito da Plataforma Brasileira de Biodiversidade
e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), constatou-
se que 76% das plantas cultivadas dependem de
animais polinizadores.

Ademais, a alta diversidade de polinizadores


melhora a sustentabilidade da agricultura nacional
e garante a segurança alimentar.

Dentre a ampla diversidade de polinizadores


existentes, observa-se que as abelhas
predominam, já que são responsáveis por
até 66% entre os polinizadores das plantas
cultivadas. No entanto, corroborou-se,
também, o papel dos besouros, borboletas,
moscas, vespas, beija-flores, morcegos etc.

Fonte: BPBES/REBIPP (2019)


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 120

O valor de R$43 bilhões por ano se


refere à taxa de dependência da
polinização e o valor da produção
primária anual. Como podemos ver,
é um número bastante expressivo e,
caso não houvesse polinizadores, esse
valor teria de ser desembolsado pelas
pessoas para custear esse serviço.

Fonte: BPBES/REBIPP (2019)


A polinização realizada por animais
é fundamental, como já explanado anteriormente, tanto para a agricultura quanto para o
funcionamento dos ecossistemas. Por certo, os polinizadores visitam as flores buscando
comida, parceiros, abrigo, material para construção de ninhos etc. Consequentemente,
prestam um serviço para o bem-estar e o bom funcionamento do planeta. Em síntese, nem
as plantas nem os polinizadores podem existir isoladamente.

Polinização por animais


Fonte: NAPPC

Mais especificamente em relação à agricultura, existem plantas que são completamente


dependentes da atuação dos polinizadores e outras nem tanto. Pela imagem abaixo,
podemos observar que a gradação de dependência vai diminuindo. Então, para plantas com
dependência acima de 90%, considera-se que a polinização é essencial: de 40% a 90% é alta,
de 10% a 40% é modesta e de 1% a 10% é pouca ou nula.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 121

Considerando a imagem anterior, constatamos que a dependência de polinização do açaizeiro


está acima de 90%, juntamente com a maçã, castanha-do-brasil, maracujá, cacau e muitas
outras frutíferas, principalmente as tropicais. Com a dependência modesta e alta, estão o
tomate, a soja e o café. Contudo, estudos mais recentes têm mostrado que a presença dos
polinizadores e o serviço da polinização promove uma grande melhora na produtividade
dessas culturas, principalmente a do café – que até pouco tempo acreditava-se que não havia
a necessidade de manejo de polinizadores, mas hoje é uma planta que necessita cada vez
mais dessa presença e do cuidado do entorno das áreas de cultivo para garantir uma boa
colheita. O trigo e o arroz, por sua vez, não apresentam tal dependência.

No que se refere à importância dos polinizadores, sabemos que eles:

Importância dos polinizadores


Fonte: NAPPC
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 122

• Melhoram a produtividade das lavouras, a qualidade, o tempo de prateleira, o sabor,


a aparência e o valor de mercado dos frutos. A título de exemplo, os morangos,
que anteriormente apresentavam oferta baixa, principalmente na região norte,
e qualidade inferior com frutos deformados, tiveram uma melhora na produção
devido à polinização. Isso acontece com quaisquer frutos. Inclusive, muitos
deles aperfeiçoam o sabor e o tempo de prateleira, que é preponderante para a
comercialização.
• São fundamentais para a agricultura, conservação ambiental e restauração de áreas
naturais.
• Fazem parte de uma relação de ganha-ganha, na qual todos são beneficiados: o
produtor, o consumidor e o meio ambiente.

Leia o texto a seguir para entender melhor o que é polinização:

Você viu, até aqui, que a polinização se trata de um processo ecológico.

Ela é, portanto, o ato da transferência do pólen contido nas anteras


(que faz parte do órgão masculino) para o estigma (que faz parte do
órgão feminino) da flor.

Em algumas plantas, esse processo pode ser realizado por


autopolinização, já em outras são necessários agentes para realizar
a polinização. Tais agentes podem ser o vento, a água (agentes
abióticos) ou os animais (agentes bióticos).

No caso de plantas que não dependem de polinização cruzada, basta


que haja a deposição automática sem interferência de um polinizador
para que ocorra a formação de frutos.

Todavia, para a grande maioria das plantas tropicais que dependem


da polinização cruzada por serem alógamas, com barreiras genéticas
que impedem a autofecundação, é fundamental que haja o agente para
transferir o pólen da flor de uma planta para a flor de outra planta da
mesma espécie.

Resumidamente, o pólen, depositado no estigma da flor, reconhecido


e sem barreiras para a fecundação, germina e fertiliza os óvulos que
estão no ovário, gerando frutos e sementes.

Ao continuar seus estudos, você entenderá melhor o processo de


polinização.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 123

Processo de polinização

Os processos de polinização e fertilização


estão intimamente relacionados, porque
o pólen depositado no estigma da flor
germina e fertiliza os óvulos que estão
no ovário, fazendo o ciclo completo da
geração de frutos e sementes.

Fonte: Dreamstime

Fonte: Editora Opirus

O açaizeiro, por sua vez, é uma planta que depende da polinização cruzada, pois existem
barreiras genéticas e funcionais que limitam a autofecundação. Assim:
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 124

As flores masculinas abrem antes das


femininas: assincronismo (barreira funcional/
temporal).

Caso existam inflorescências nas fases


masculina e feminina na mesma touceira,
o pólen não germina ao ser depositado no
estigma. A polinização é realizada por insetos:
polinização entomófila.

As flores possuem mecanismos para atrair


os visitantes florais por meio de atrativos e
recursos florais, e estes, ao visitarem as flores,
realizam inadvertidamente a polinização e
Reprodução do açaizeiro
ganham recompensas.

Atrativos florais

Despertam os sentidos dos visitantes:

• Visual (cor, forma, tamanho),


• Químico (aroma, temperatura, sabor),
• Mecânico (textura).

Recursos florais

• Pólen.
• Néctar.
• Tecido floral.
• Óleo, perfume, resinas e ceras.

No caso do açaizeiro, as recompensas florais são pólen (abundante nas flores masculinas) e
néctar (presente tanto nas flores masculinas quanto femininas). Como atrativos, destacam-
se:
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 125

• Suave odor suave emitido pelas flores abertas (semelhante ao da polpa processada).
• Milhares de flores violáceas (atração visual).

Recompensas florais

1.3 Polinização como um bioinsumo agrícola


Vamos abordar o tema da polinização como um bioinsumo agrícola. Já vimos que o açaizeiro
é uma planta dependente da polinização entomófila para a produção de frutos. De maneira
mais clara, quando se isola a inflorescência do açaizeiro e não se permite a visitação
dos insetos polinizadores, é possível observar a enorme diferença existente entre uma
inflorescência que não foi isolada e deixada para a polinização natural.

Importância da polinização entomófila


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 126

Na inflorescência isolada, a produção


de frutos cai em até 80%, embora
exista uma pequena taxa de produção
de frutos autopolinizados. Todavia,
os cachos são totalmente vazios,
chamados de cachos banguelas pelos
produtores, já que formam frutos sem
valor comercial. Logo, a colheita destes
não é compensatória. Já naquela que
recebe a visita dos insetos e animais
polinizadores, há a presença de cachos
cheios e grandes. Fatos esses que
demonstram a tamanha relevância da
Fotos: Cristiano Menezes polinização entomófila.

Certamente, tal fato está atrelado à diversidade dos polinizadores, a qual tem profunda
relação com a diversidade de vegetação nativa existente tanto dentro da área produtiva
quanto no seu entorno, gerando até 30% mais frutos, uma vez que são as vegetações naturais
que abrigam os polinizadores.

Assim, quanto mais área de vegetação natural, maior a diversidade


e abundância de polinizadores e, consequentemente, a visitação nas
flores e produção de frutos de açaí.

Importância da diversidade de polinizadores


Fonte: Campbell et al. (2018) J. App. Ecol. 55; mapas: Eduardo Moreira.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 127

Confira mais um trecho da palestra proferida pela pesquisadora e Dra. em Ecologia, Márcia
Motta Maués, da Embrapa Amazônia Oriental, na qual ela fala sobre o uso dos polinizadores
como bioinsumos agrícolas.

1.4 Visitantes florais e polinizadores do açaizeiro


Falaremos agora sobre os visitantes florais e os polinizadores do açaizeiro. Devemos entender
que visitante floral e polinizador possuem algumas diferenciações importantes.

Todos os animais ou insetos que se direcionam até uma flor são chamados de visitantes, já
que, para ser considerado polinizador, é necessário preencher alguns requisitos.

Requisitos do polinizador:
• Tamanho compatível com o da flor (no caso do açaizeiro, que apresenta uma flor
pequena, um inseto com tamanho avantajado pode ser desajeitado, não sendo um
bom polinizador e podendo causar até prejuízos para ela).
• Contato com anteras e estigma, a fim de transportar o pólen.
• Fidelidade floral.
• Frequência de visitas, isto é, são necessárias diversas visitas às flores, já que são
mais de 20 mil flores em uma inflorescência de açaí.
• Movimentação entre flores masculinas e femininas e touceiras.

Todas essas características são


preponderantes para diferenciar um
visitante floral de um polinizador.

Fotos: Mara Ionida


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 128

Os visitantes florais já vêm sendo


estudados há muitos anos. Estudos
anteriores realizados nos anos
2000 por Oliveira (2002) e pelo
Venturieri (2005) já destacavam a
grande diversidade de visitantes
florais em florescências do
açaizeiro. Tomando isso como
base, decidiu-se reavaliar tais
estudos. O estudo de Campbell
et al. (2018) encontrou mais de 10 mil visitantes nas inflorescências em áreas de açaizais
nativos e cultivados.

Além do mais, foram coletados mais de 2 mil espécimes de insetos e identificadas cerca de
200 espécies de visitantes. Na imagem abaixo, podemos observar uma pequena amostra
deles.

Visitantes florais do açaizeiro


Fotos: Alistair Campbell, Cristiano Menezes, Roberta Valente e Ronaldo Rosa

Como já exposto anteriormente, o açaí apresenta a fase masculina e a feminina da abertura


de flores. Neste trabalho, foram registrados os visitantes em cada tipo de inflorescência
separadamente e aqueles que visitam tanto as flores na fase masculina quanto na fase
feminina. Estes últimos são considerados os polinizadores em potencial, destacando-se as
abelhas, os besouros, as moscas, as vespas e as formigas.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 129

Visitantes florais em potencial

Contudo, para saber quais são


realmente os visitantes florais ou
os polinizadores, sabendo-se que
somente visitar as flores não é
suficiente, fizemos outro estudo
para analisar o pólen transportado
por esses insetos durante visitas
às flores femininas.
Visitante floral ou polinizador?
Fonte: Bezerra & Campbell et al. (2020)
Foto: Cristiano Menezes

Considerando a frequência de
visitas nas flores femininas do
açaizeiro, as abelhas apresentaram
maior abundância. Como dito
antes, o estudo foi feito nas
inflorescências femininas, uma
vez que, ao receberem o pólen,
deverá ocorrer a germinação e a
formação dos frutos. Por isso, é
importante averiguar não somente Quais são os visitantes mais frequentes nas flores femininas do
os insetos que visitam as flores açaizeiro?

masculinas, mas principalmente Fonte: Bezerra & Campbell et al. (2020)


Foto: Cristiano Menezes
as femininas.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 130

Ademais, a quantidade de pólen


transportada pelos insetos é muito
maior nas abelhas do que nos
outros grupos de insetos. A carga
polínica transportada por elas
fez com que se destacassem em
relação aos demais.

Quais polinizadores são mais eficientes no transporte de pólen do


açaizeiro?
Fonte: Bezerra & Campbell et al. (2020)
Verificou-se que cerca de 56%
Fotos: Cristiano Menezes dos insetos visitantes das flores
femininas são abelhas, destacando-
se as nativas sem ferrão (47%); cerca de 9% são abelhas solitárias, aquelas que não formam
colônias sociais como as anteriores, e houve uma frequência muito baixa da Apis mellifera,
a abelha africanizada. Esta última visita em maior abundância nas flores masculinas,
constatando-se um percentual de
apenas 0,5% de visita nas flores
femininas.

Em resumo, as abelhas são o grupo


mais importante tanto em relação
à abundância quanto ao transporte
de pólen, seguido pelas moscas,
vespas, formigas e besouros.

Principais polinizadores do açaizeiro

Fique por dentro! Fonte: Bezerra & Campbell et al. (2020)


Fotos: Cristiano Menezes

• Mais de 100 espécies de insetos transportam pólen de açaí.


• Abelhas nativas carregam, pelo menos, oito vezes mais pólen que os demais insetos.
• A polinização da planta é feita, majoritariamente (90%), por abelhas sem ferrão e
solitárias da família Halictidae.
• A presença da floresta nativa é fundamental para manter a biodiversidade dos
polinizadores.
• Descobertas são importantes para a cultura, pois afetam a produtividade e a própria
reprodução da planta.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 131

Abelhas nativas: principais polinizadores do açaí


Fotos: Cristiano Menezes
Infográfico: Giselle Aragão

De modo geral, as abelhas:

• Pertencem à superfamília Apoidea


– 9 famílias. No Brasil: Colletidae,
Andrenidae, Halictidae, Megachilidae
e Apidae (SILVEIRA et al. 2002).
• São descritas em 20 mil spp. (no Brasil
3 mil).
• São imprescindíveis para o bem-estar
do homem e o funcionamento dos
ecossistemas:
• Serviço ambiental da polinização (IPBES 2016).

• Produtos das colônias das abelhas sociais: mel, pólen apícola, própolis, resina, cera e
apitoxina (Pereira et al. 2003).

Dessa forma, as abelhas são consideradas


polinizadoras por excelência, porque elas
possuem adaptações e estruturas corporais
que facilitam o transporte do pólen.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 132

Abelhas: polinizadoras por excelência


Foto: https://news.cornell.edu/stories/2019/11/bee-exhibit-creates-buzz-museum-earth

Conheça mais sobre as abelhas neste vídeo.

A presença de abelhas sem ferrão no seu açaizal pode melhorar a


produção de frutos. Saiba mais ouvindo o podcast Prosa Rural.

Agora que já vimos todas as questões relacionadas à biologia floral, à polinização e aos
polinizadores do açaizeiro, é preponderante levar em consideração as práticas amigáveis
aplicáveis para estes últimos. Confira a seguir.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 133

Práticas amigáveis aplicáveis aos polinizadores do açaizeiro

Foto: Madson Freitas


Figura: Giselle Aragão

“Sem floresta não tem polinizador, sem polinizador não tem açaí e nem paraense feliz!”

1
Polinizadores no plantio
Verificar a ocorrência de polinizadores no plantio (localizar ninhos de abelhas sem ferrão
- ASF) e não exterminar ninhos de nenhuma espécie de abelha (nem de irapuá, caga-fogo,
abelha-cachorro etc.).

2
Vegetação nativa
Manter e restaurar a vegetação nativa na Reserva Legal (RL) e na Área de Proteção
Permanente (APP) da propriedade rural, já que são um bônus para o produtor e é de lá que
vêm os polinizadores. Quando o açaizeiro não estiver florescendo, são nessas áreas que as
abelhas vão procurar alimentação, abrigo etc.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 134

3
Manejo integrado
Evitar uso de defensivos agrícolas e incentivar o manejo integrado/controle biológico. Evitar
também o uso do fogo/queimadas.

4
Árvores de grande porte
Manter árvores de grande porte no plantio ou no seu entorno (abrigo e comida para abelhas).

5
Monoculturas
Evitar grandes extensões de monoculturas, sem faixas de vegetação nativa. Áreas muito
extensas provavelmente sofrerão com a falta do inseto polinizador.

6
Abelhas sem ferrão
Introduzir abelhas sem ferrão (ASF) compatíveis com a flor do açaí em locais de baixa
ocorrência do polinizador silvestre.

7
Compartilhe!
Repassar essa mensagem aos seus vizinhos e produtores conhecidos.

De maneira geral, tais práticas agrícolas amigáveis aos polinizadores se resumem na


manutenção das áreas naturais, florestas, na oferta de materiais para formação de ninhos
por abelhas sem ferrão (as mais importantes para a polinização do açaizeiro), na oferta de
troncos com oco para feitura de ninhos, na presença da floresta no entorno (mantendo a
diversidade) e no manejo de abelhas (quando houver necessidade).
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 135

Unidade 2 - Estratégias para manter


serviços de polinização

Nesta unidade, vamos aprender sobre as estratégias para manter os serviços de polinização
do açaizeiro. Primeiramente, para elaborar práticas amigáveis aos polinizadores, é
importante conhecer um pouco sobre a biologia deles. Por isso, vamos começar com o tópico:
o que os polinizadores precisam para sobreviver.

No decorrer do estudo, vamos aprender a respeito das ameaças aos polinizadores do açaizeiro.
E, para encerrar, vamos discorrer sobre as estratégias para manter os serviços de polinização,
incluindo a conservação da vegetação nativa e também o uso de abelhas manejadas.

2.1 O que os polinizadores precisam para


sobreviver

Para este início, é necessário dividir


os polinizadores de açaizeiro em três
grupos: abelhas sem ferrão, abelhas
solitárias e moscas. Esta última como
representante de outros insetos.

Os polinizadores principais

Estes grupos representam a maioria


das visitas nas flores do açaizeiro e,
além disso, são alguns dos polinizadores
principais, como as abelhas sem ferrão e
as abelhas solitárias.

Polinizadores principais
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 136

Vale ressaltar que esta comunidade de insetos polinizadores refletem as condições


ambientais, ou seja, a presença de todos os elementos necessários para estes insetos
completarem seus ciclos de vida dentro do plantio ou nos habitats ao seu redor.

Mas o que uma abelha sem ferrão


precisa para sobreviver dentro de
um plantio de açaí? E uma mosca?
Para ter uma resposta, precisamos
pensar em recursos, ou seja, onde
estes insetos vão morar e o que eles
irão comer.
O que os polinizadores precisam para sobreviver?

Voltemos, então, ao nosso açaizal,


cercado por uma floresta, para
explorar em quais locais esses
insetos constroem suas casas.

Ninhos

Ninho das abelhas sem ferrão

Em primeiro lugar, a maioria das abelhas sem ferrão constroem seus ninhos em árvores,
algumas em ocos e outras em galhos e troncos.

Ninho do gênero Trigona

A imagem abaixo representa alguns exemplos de ninho do gênero Trigona, que inclui algumas
espécies conhecidas, como a arapuá e a olho-de-vidro.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 137

Ninhos em florestas

A maioria desses ninhos será encontrada em áreas de vegetação nativa, onde há uma maior
disponibilidade e oferta de árvores de grande porte.

Ninhos em plantio de açaí

Porém, caso exista um pé de árvore grande dentro de um plantio, este também pode oferecer
um local para que as abelhas construam seus ninhos.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 138

Ninhos em plantio de açaí

No caso das abelhas solitárias, a estratégia é diferente.

Abelhas solitárias

A maioria das abelhas solitárias que visitam as florestas de açaí são da família Halictidae.
Elas constroem seus ninhos em solo exposto, o que não é um recurso limitado às áreas de
vegetação nativa. Portanto, os ninhos são encontrados tanto nas áreas de vegetação nativa
quanto em áreas de plantio.

Figura: Antonie e Forrest (2020) Ecol. Etom.


Fonte: https://doi.org/10.1111/een.12986

Ninhos das moscas

Já as moscas, diferentemente das abelhas, não têm ninhos. O que a fêmea precisa é de
um habitat rico em alimentos para suas larvas.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 139

Ninhos das moscas - Habitat larval

As moscas mais comuns na flor de açaí são as moscas-da-carne, para as quais o alimento
é material orgânico de origem animal, ou seja, fezes e carniça.

Assim como as abelhas solitárias, as moscas são encontradas em áreas de vegetação nativa
e em áreas de plantio, devido aos recursos alimentares. A abundância de moscas não tem
uma relação com as áreas nativas. Inclusive, estas podem ser mais encontradas em áreas
alteradas, como os plantios e as áreas abertas.

Agora que sabemos onde encontrar esses insetos e quais recursos eles precisam para
construir seus ninhos e botar seus ovos, é necessário que compreendamos o que eles irão
comer.

Alimentos dos insetos


Como todos esses insetos são polinizadores, sabemos que eles visitam flores em busca de
alimento, ou seja, pólen e néctar. Porém, nem todos tem tanta dependência desses recursos.

As abelhas sem ferrão e as abelhas solitárias, tanto na fase larval quanto na fase adulta, se
alimentam de pólen e néctar, sendo insetos de alta dependência na disponibilidade e na
oferta de plantas com flores no ambiente.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 140

Já as moscas têm uma estratégia diferente, pois as larvas se alimentam de material orgânico,
enquanto as adultas não têm tanta dependência das flores como as abelhas, pois utilizam
as flores como fonte energética, sem que haja uma necessidade total.

Fases e alimentos das moscas

Durante o pico de floração há uma grande


oferta de alimento, ou seja, de pólen e de
néctar, para os insetos polinizadores.

Oferta de alimento durante o pico de floração

Fora do pico de floração, o açaizal tem pouca


oferta de alimento para os polinizadores,
principalmente para as abelhas. Por isso,
percebemos a importância da vegetação
nativa, pois há maior diversidade de plantas
e flores, já que cada uma possui tempo de
floração diferente.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 141

Ao longo do ano, essa vegetação garante uma oferta de comida para os insetos polinizadores
que o plantio de uma espécie só não consegue oferecer.

Aprendemos, até agora, sobre o que os polinizadores precisam para sobreviver dentro de
um plantio de açaí. A seguir, veremos as ameaças aos polinizadores do açaizeiro.

2.2 Ameaças aos polinizadores do açaizeiro


Já sabemos que os polinizadores precisam
de acesso a alguns recursos-chave,
principalmente habitats para construir os
ninhos e também para buscar alimentos.
Contudo, algumas práticas podem reduzir
a oferta e a disponibilidade desses
recursos em áreas agrícolas, as quais têm
impactos indiretamente nas populações
dos insetos polinizadores presentes.

Ameaças que impactam indiretamente as populações dos insetos polinizadores

Além disso, algumas práticas têm um impacto direto nas populações, por exemplo:

Uso irregular de pesticidas Espalhamento de doenças Eliminação dos ninhos dos


polinizadores dentro dos sistemas
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 142

O que representa uma ameaça?

Resumidamente, uma ameaça é


qualquer atividade ou prática agrícola
que afeta a disponibilidade de
recursos ou, direta e negativamente,
afeta as populações dos polinizadores
presentes no plantio.

Tais ameaças podem acontecer


dentro da propriedade, denominadas
de práticas intensivas, e na escala
mais ampla fora da propriedade,
como expansão agrícola (conversão
da vegetação nativa) e degradação
ambiental.

Vamos nos ater, aqui, às ameaças dessas atividades e práticas aos três principais grupos de
insetos polinizadores: as abelhas sem ferrão, as abelhas solitárias e as moscas.

Ameaças aos polinizadores


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 143

Práticas intensivas
As práticas intensivas acontecem dentro do plantio (eliminação da diversidade vegetal de
outras árvores dentro do plantio e adensamento da palmeira).

Primeiramente, elas impactam nas


ofertas de recursos para as abelhas
sem ferrão, já que estas precisam de
árvores para construir seus ninhos, além
de buscar alimentos em épocas fora da
florada do açaí. Além disso, impactam
naquelas que também precisam desses
recursos florais ao longo do ano. As
Ameaças: Práticas intensivas
moscas, por seu turno, são menos
afetadas com as práticas mais intensivas, porque elas não têm tanta dependência de outras
plantas para buscar recursos.

Outra prática com impacto direto nas populações de polinizadores silvestres é a eliminação
dos ninhos de abelhas por meio das queimas destes.

Ameaças: Práticas intensivas - Eliminação dos ninhos de abelhas

Muitas vezes, a abelha a ser eliminada pelo


produtor é a Arapuá (Trigona branneri).

Eliminação da abelha Arapuá (Trigona branneri)


Foto: Rasmussen & Camargo (2008). DOI: 10.1051/
apido:2007051
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 144

Porém, a abelha Arapuá, apesar de ser defensiva,


é a mais comum nas flores, visitando ambas as
fases sexuais (feminina e masculina), e um dos
principais polinizadores das palmeiras, pois
carrega muito pólen no corpo.

A abelha Arapuá é um dos principais polinizadores das


palmeiras

Ao realizar queimadas no ninho desta espécie, os produtores acabam, em termos


populares, dando um “tiro no próprio pé”, uma vez que exterminam um dos principais
polinizadores do plantio.

Expansão agrícola
Na escala mais ampla, também existe a expansão agrícola, ou seja, expansão da vegetação
nativa na paisagem para áreas agrícolas. No exemplo abaixo, aumenta-se a área de plantio de
açaí e reduz-se a floresta. Mais uma vez, o grupo que sofre o maior impacto é o das abelhas
sem ferrão, porque elas constroem seus ninhos em árvores que estão dentro da floresta, além
de buscarem alimento fora do pico da floração do açaí. Tal impacto também é observado no
grupo das abelhas solitárias.

Ameaças: Expansão agrícola


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 145

Como se observa, não é somente o desmatamento que irá resultar negativamente nos
polinizadores, mas também a degradação florestal, ou seja, a remoção de árvores de grande
porte com grande oferta de locais de ninhos e recursos florais devido às extrações de
madeira, bem como as queimadas, ocasionando impactos tanto nas abelhas sem ferrão
quanto nas solitárias.

Conclusão
Sinteticamente, percebe-se que o grupo que sofre mais com essas ameaças descritas são
as abelhas sem ferrão, tanto na escala local quanto na mais ampla.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 146

2.3 Importância da diversidade vegetal dentro e


fora do plantio
Já vimos a importância da vegetação nativa como uma fonte de recursos-chave para
os polinizadores silvestres. Também vimos como a supressão dessa vegetação pode ter
impactos negativos nas populações.

Estratégias para manter serviços de polinização do açaizeiro

E como podemos reverter tal situação?

A resposta é simples: repondo a vegetação nativa dentro e fora do plantio, ou seja, aumentando
a diversidade vegetal tanto na escala local quanto na escala mais ampla.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 147

Diversidade vegetal como estratégia para manter serviços de polinização em açaizeiro

Vamos, então, começar na escala


da propriedade. Manter e repor a
diversidade vegetal dentro do plantio
é crucial, o que auxilia no aumento
da oferta de habitats de ninhos e
recursos florais, principalmente para
as abelhas e para outros insetos.

Diversidade vegetal dentro do plantio

Além do mais, não devemos


esquecer do papel das outras
palmeiras, as quais também
podem aumentar essa oferta de
recursos para os polinizadores.
Por exemplo, na imagem ao lado,
há um ninho da abelha Arapuá
em um pé de tucumã.

Ninho de Arapuã no pé de tucumã


Foto: Rasmussen & Camargo (2008). DOI: 10.1051/apido:2007051

Confira um trecho da palestra proferida pelo pesquisador Alistair John Campbell, na qual
ele mostra um estudo realizado em um pé de peito-de-pombo na cidade de Santa Bárbara
do Pará.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 148

Trabalho em larga escala

Para realmente aumentar a conservação


desses insetos a longo prazo, exige-se um
trabalho em escala mais ampla, ou seja,
conservando e restaurando a vegetação
nativa. Vejamos, portanto, um exemplo de
quatro propriedades de 25ha com uma área
considerada de 100ha.

Quatro propriedades de 25ha com uma área considerada de


100ha
A fim de exemplificar, pelos estudos,
sabemos que a abelha sem ferrão (abelha
canudo), em um pé com ninho, consegue
voar em média 400/500m para longe deste.
Depois desse ponto, ela precisa voltar para
seu habitat, pois não consegue alcançar
áreas maiores. Logo, ela consegue voar por
toda a área destacada em azul, na imagem
ao lado. Assim, quando o produtor realiza o
plantio de alguns pés, ele a auxilia a buscar
alimento e, eventualmente, construir novos
ninhos nessas árvores, caso elas estejam Raio de voo da abelha canudo
com o tamanho adequado.

O que realmente irá determinar a conservação e a abundância de abelhas silvestres em uma


paisagem é a quantidade e qualidade de áreas nativas, isto é, a cobertura florestal.

Em outro exemplo, se cada propriedade possui 5ha de açaí e 20ha de floresta vegetal, elas
devem cumprir a lei e obedecer a marca de 80% de vegetação nativa:

Na paisagem, cada área de produção de açaí


está 100% coberta pelos raios de voo dos
polinizadores. Logo, nenhuma delas fica isolada.
Além disso, cada área de floresta mantém a
sua conectividade com outra, o que mantém a
dispersão de populações entre as florestas, a fim
de garantir a diversidade e a abundância a longo
prazo.
80% de vegetação nativa de acordo com a lei
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 149

Já no exemplo que abrange somente uma


propriedade com floresta, a maioria da área agrícola
fica isolada dos polinizadores, ocasionando poucas
visitas de abelhas saindo das florestas, uma vez
que, como visto, elas têm um limite de raio de
voo a ser obedecido, o que, consequentemente,
acarreta serviços de polinização inadequados.

Também como consequência, a floresta destacada


Área agrícola isolada dos polinizadores
em azul fica isolada das outras, acarretando
pouca conectividade e baixo fluxo de insetos de
imigração. Diante disso, com o tempo, as populações vão enfraquecendo e sumindo.

Floresta isolada de outras Enfraquecimento e redução das populações


polinizadoras

Para a conservação e proteção dessas


populações, deve-se salvaguardar e restaurar
a vegetação nativa em ampla escala. Assim,
não se deve pensar em áreas nativas
como áreas perdidas, pois elas oferecem
um retorno considerável no que se refere à
maior conectividade entre as áreas, à maior
diversidade e abundância de polinizadores
Conservação e proteção das populações polinizadoras silvestres, a fim de melhorar a produção de
açaí, bem como a sua sustentabilidade.

2.4 Uso de abelhas manejadas no plantio de


açaí
A vegetação nativa é uma rica fonte para os
polinizadores silvestres, mas para repô-la
e restaurá-la, exige-se um tempo, uma vez
que, dentro e fora dos plantios, é necessário
esperar ela se desenvolver, podendo chegar
a décadas.

Importância da diversidade vegetal


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 150

Daí advém a grande vantagem de trabalhar com abelhas manejadas – polinização assistida.
Com a introdução das caixas de abelhas e de outros insetos polinizadores, consegue-se
aumentar a densidade de polinizadores dentro do plantio instantaneamente.

Essa é uma estratégia que serve para complementar a conservação da vegetação nativa e a
restauração a longo prazo por meio das contribuições dos insetos silvestres perto das matas.

Polinização assistida

Atualmente, a abelha manejada mais


utilizada é a italiana, também conhecida no
Brasil como africanizada ou abelha de mel
(Apis mellifera L.).

É uma excelente polinizadora de vários


cultivos de grande importância no Brasil,
como café, laranja e outros.

Abelha italiana/africanizada (Apis mellipera L.)


Foto: Cristiano Menezes

Porém, não é nativa da América Latina,


além de ser a responsável por uma das
piores invasões biológicas mais graves
no mundo. E existem diversos estudos
comprovando o impacto negativo causado
por elas frente a outras abelhas nativas do
continente. Ademais, como ela não é nativa,
Impacto negativo
não é adaptada ao clima regional. E, por ter
ferrão, pode oferecer perigos aos trabalhadores e/ou a outras pessoas que não estejam com
roupas adequadas (Equipamentos de Proteção Individual - EPI).
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 151

No caso do açaizeiro, não é necessário trabalhar com a abelha manejada, já que existem
mais de 60 espécies de abelhas que o visitam. A abelha italiana é somente uma delas.

As demais incluem mais de 40 espécies de abelhas sem ferrão e todas são nativas da região.
Para complementar, existem mais 14 espécies de abelhas solitárias, as quais também visitam
as flores de açaí. Dentre essas abelhas, pelo menos 14 apresentam protocolos de manejo
adequado em ampla escala. Inclusive, 13 são espécies de abelhas sem ferrão.

Mais de 40 espécies de abelhas sem ferrão

14 espécies de abelhas solitárias

14 espécies com protocolo de manejo adequado


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 152

A abelha africanizada, no açaizeiro,


não apresenta o comportamento de
um polinizador de alta eficiência,
pois o seu corpo é muito maior
do que as flores. Além disso, ela
demonstra uma plena preferência
por flores na fase masculina em
busca de pólen. Isto é, a cada cinco
visitas nesta fase, é feita somente
Preferência por flores na fase masculina
uma visita na fase feminina.
Foto: Ronaldo Rosa

Diferentemente disso, a maioria


das abelhas nativas (abelhas sem
ferrão), dividem-se de forma mais
apropriada entre as fases sexuais.
Mas a preferência delas se dá pelas
flores na fase feminina, já que viram
frutos.

Abelhas sem ferrão têm preferência pelas flores na fase feminina

Confira mais um trecho da palestra proferida pelo pesquisador Alistair John Campbell. Desta
vez, ele mostra outro estudo realizado com a abelha canudo na produção do açaí.

Por que se fala tanto na importância da diversidade de polinizadores? Leia no texto a


seguir para saber.

Você sabe qual o motivo de falarmos tanto sobre a importância da


diversidade de polinizadores? Não?!

É porque ela está diretamente relacionada à resiliência do sistema,


ou seja, à capacidade de o sistema agrícola manter as suas funções
em condições variáveis.

Pensemos, então, em um plantio de açaí no Pará.

No Bioma Amazônia, as condições climáticas variam pouco quanto


à temperatura, porém as chuvas aumentam nos meses de maior
floração do açaizeiro. Algumas espécies de abelhas diminuem a
atividade fora dos ninhos durante as chuvas e se a vegetação no
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 153

entorno dos plantios for conservada, haverá outras espécies para


fazer o serviço da polinização.

Portanto, a diversidade de polinizadores no plantio deixa o serviço


de polinização mais estável.

Quando se trabalha com um tipo de polinizador, somente, como por


exemplo, uma abelha manejada, consequentemente o sistema fica
menos estável e menos resiliente às mudanças.

Continue seus estudos e veja os resultados de experimentos em que


a produção foi exposta a maior quantidade de polinizadores.

Importância da diversidade de polinizadores

Os resultados do experimento se
encaixaram perfeitamente com a
parte teórica. Quando se aumentou a
abundância de polinizadores com o
uso de abelhas manejadas, também se
detectou um aumento na produção.

Abundância de polinizadores = Aumento na produção


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 154

Uma parte no aumento dessa produção


foi relacionado à diversidade no plantio.

Aumento na produção relacionado à diversidade no plantio

Assim, a melhor produção foi encontrada


em plantios com alta abundância e
diversidade, isto é, número de espécies
diferentes presentes nas flores dentro
do plantio.

Produção encontrada em plantios com alta abundância e


diversidade

Este resultado foi detectado em áreas


ou plantios com alta cobertura florestal
ao redor do plantio, no qual foram
encontradas altas diversidades e
abundância de polinizadores, o que não
foi revelado em plantios somente com
abelhas manejadas por causa do efeito
negativo na diversidade de outras abelhas
polinizadoras. Resultado detectado em áreas ou plantios com alta cobertura
florestal ao redor do plantio

Em suma, neste estudo, foi apresentada a importância dessas estratégias para manter
serviços de polinização do açaizeiro, os quais têm potencial para melhorar a produção.
Contudo, como vimos, trabalhar com diversidade vegetal demanda tempo e não oferece um
retorno imediato.

As abelhas manejadas, por sua vez, conseguem ofertar esse retorno rapidamente, mas não
alcançam um resultado tão impressionante como o de uma floresta conservada. Em outros
termos, estas últimas não podem substituir a conservação e a diversidade da vegetação a
longo prazo.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 155

Importância da diversidade de polinizadores

Unidade 3 - Biologia e criação de


abelhas sem ferrão para polinização
3.1 Quem são as abelhas sem ferrão?
Quando falamos em abelha, a primeira imagem que vem à mente é a seguinte.

Abelha africanizada ou italiana


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 156

Como vimos em outros módulos, esta abelha não é nativa do Brasil e, por isso, foi introduzida
no território. Ademais, o que não imaginamos é a enorme diversidade de abelhas: são mais
de 20 mil espécies diferentes.

Esta imagem demonstra acertadamente esta


pluralidade, pois evidencia a Mamangava,
uma abelha brasileira solitária, de 5cm
aproximadamente, e a Lambe-olhos, quase
imperceptível aos olhos.

Mamangava e Lambe-olhos

No Brasil, há cerca de 2 mil espécies conhecidas e estima-se que existam mais mil a
serem descobertas.

Em sua grande maioria, as abelhas possuem um hábito solitário e não formam colmeias
sociais com rainhas e operárias. Assim, machos e fêmeas vivem independentemente, de
modo que estas últimas buscam seus próprios alimentos, fazem as suas células de cria e
são responsáveis pela postura de ovos, que dão origem a machos e fêmeas, e estes, mais
adiante, copulam a fim de dar continuidade ao ciclo.

Em resumo, mais de 95% das espécies


existentes ao redor do mundo
apresentam o hábito solitário e,
portanto, não formam colmeias. Elas
fazem ninhos no chão em buracos
preexistentes e cavidades de bambu.

Abelhas solitárias
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 157

Nesta imagem pode-se averiguar, no lado


esquerdo, uma fêmea e, no direito, um
ninho com várias células de cria, o qual
foi fechado por ela. Posteriormente, ela
morre ou sai para construir outros ninhos
em outros lugares. Inclusive, algumas
dessas abelhas são eficazes no trabalho
de polinização do açaí.

Abelhas de óleo que utilizam orifícios preexistentes

Dentro do universo de abelhas existem


dois grupos que desenvolveram o sistema
de sociedade avançado e sofisticado de
organização social, os quais denominam
as abelhas como eu-sociais (tribos Apini e
Meliponini). Eles fazem parte do subgrupo
de abelhas corbiculadas.

Abelhas eu-sociais

Neste momento, vamos nos ater ao grupo de abelhas Meliponini, conhecidas como abelhas
sem ferrão.

As abelhas da tribo Apini são aquelas utilizadas pela apicultura no mundo todo para produção
de mel, conhecidas popularmente como italianas, africanizadas ou abelha europa.

As abelhas Meliponini, sociais e nativas do


Brasil, são muito diversificadas.

Abelhas Meliponini
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 158

Existem cerca de 550 espécies de


Meliponini ao redor do mundo. Somente
no Brasil são conhecidas, pelo menos,
250 delas e estima-se que há em torno
de 100 a serem descritas. Desse modo,
ao todo, são praticamente 350 espécies
de abelhas sem ferrão espalhadas pelo
território brasileiro. Elas ocorrem em
todas as regiões tropicais e subtropicais
do mundo.
Ampla distribuição geográfica – Regiões tropicais e subtropicais

Uma pergunta bastante recorrente é:


Porque essas abelhas não têm ferrão?
Na verdade, elas possuem as estruturas do ferrão, mas estas são atrofiadas e, devido a isso,
não conseguem ferroar. Nas imagens abaixo, é possível constatar um ninho de abelhas
sem ferrão bem protegido dentro do oco de uma cerca. Por certo, elas desenvolveram novas
habilidades para se defenderem.

Logo, ao longo da evolução, perderam a habilidade de ferroar, dando lugar a novas técnicas.
A abelha mirim-preguiça, por exemplo, é bastante tímida e mansa, além de apresentar, para
se proteger, a estratégia de se esconder dentro de ocos de árvores resguardados de seus
inimigos.

Abelha mirim-preguiça escondida dentro do oco de uma cerca


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 159

Todavia, a maioria das espécies usa a


sua mandíbula para morder o invasor,
ou enrola no cabelo ou, ainda, entra
no ouvido e nariz como estratégias de
defesa. Pelo fato de serem numerosas,
podem ser tremendamente incômodas,
apesar de não causarem sérios danos.

Abelhas utilizando mecanismos de defesa contra o invasor

Para além disso, ainda existem casos bastante


singulares. A título de exemplo, temos a abelha
caga-fogo, única deste grupo (gênero Oxytrigona),
desenvolvedora de uma estratégia extremamente
sofisticada e peculiar que se caracteriza por
cuspir ácidos na pele das pessoas, ocasionando
queimaduras sérias. Em outras palavras, apesar
de não possuírem ferrão, ainda assim apresentam
Abelha caga-fogo
sistemas de defesa próprios.

Também existe uma ampla pluralidade nos


comportamentos, nas formas e nos tamanhos
dessas abelhas. Elas vão desde as minúsculas,
dificilmente detectadas, podendo ser confundidas
com mosquitos, até aquelas de grande porte,
robustas – muitas destas podem, por exemplo,
ser maiores do que as abelhas africanizadas.
Além disso, existem aquelas que apresentam
cores acinzentadas, enquanto outras, amareladas.
Ampla diversidade de comportamentos, formas e Outras possuem como característica a cor preta e
tamanhos são parecidas entre si, inclusive é bastante difícil
separá-las.

Como mencionado, muitas abelhas fazem seus ninhos dentro de cavidades preexistentes.
Assim, a forma mostrada na ilustração é a mais comum, a qual apresenta favos de cria,
organizados à direita. Vejamos:
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 160

• O estoque do pólen e
do mel são feitos em potes
de alimento – estruturas
cilíndricas.
• As entradas geralmente
são ornamentadas, de modo
que as abelhas entram e
saem, o que varia de espécie
para espécie.
• O isolamento do ninho é
feito com estruturas sólidas
(batume), a fim de fortificar a
Ampla diversidade de locais de nidificação proteção do ambiente.

Observe, na imagem ao lado, um ninho


natural da abelha Melipona subnitida,
conhecida como Jandaíra, muito comum
na região semiárida do Nordeste. Verifique
também os potes de alimento e as células
(favos) de cria.

Ninho natural da abelha Melipona subnitida

Há algumas espécies que fazem ninhos


subterrâneos e, normalmente, utilizam
espaços preestabelecidos, como ninhos
abandonados por formigas, como é o caso
da abelha-feiticeira (Trigona recursa).

Ninhos subterrâneos
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 161

Outro exemplo de ninho exclusivamente


subterrâneo da espécie mel-de-chão
(Guiçuru) pode ser observado nesta
imagem.

Ninho de mel-de-chão – Exclusivamente subterrâneo

A Arapuá ou abelha-cachorro não constrói seus


ninhos em cavidades preexistentes e, sim, em
estruturas externas, como demonstra a imagem.

Ninho em estrutura externa

Como se percebe, existe uma vasta diversidade


de arquitetura de ninhos. Esta imagem apresenta
a estrutura criada pela abelha Lambe-olhos,
organizada em cachos, em que as células de cria
são conectadas por finas trabéculas.

Ninho criado pela abelha Lambe-olhos


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 162

Outras espécies, em contrapartida, constroem


seus ninhos em forma de favos horizontais,
organizando as células de crias lado a lado.
É a maneira mais comum.

Ninhos em favos horizontais

Em resumo, as abelhas sem ferrão, que são uma parte importante


dos polinizadores do açaizeiro, revelam uma grandiosa variedade
de comportamentos, formas e tamanhos. As de pequeno porte,
tanto as sem ferrão quanto as solitárias, são, portanto, as principais
polinizadoras do açaí. Em sua maioria, apresentam 3 ou 4 mm.
Uma parte delas pode ser manejada e outra não, o que aumenta a
necessidade dos ambientes naturais nos quais elas vivem.

3.2 Como vivem as abelhas sem ferrão?


As abelhas sem ferrão apresentam uma grande diversidade de comportamento, de hábitos
e de tamanhos em sua biologia. Assim, neste momento do nosso curso, abordaremos sobre
os aspectos mais amplos, os quais funcionam para a maioria das espécies.

Neste universo diversificado de espécies, existem muitas exceções, demonstrando que


muitas abelhas se comportam de maneiras variadas. A maioria das espécies tem uma única
rainha, responsável pela reprodução da colônia. É ela quem bota os ovos e é incumbida pela
manutenção da população das colmeias.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 163

Abelhas sem ferrão Única rainha

Além disso, a maioria das espécies tem um


tamanho populacional definido, ou seja, uma
variação predeterminada. Algumas apresentam
poucas centenas de indivíduos, enquanto
outras, milhares, como, por exemplo, a
Arapuá, que pode abarcar mais de 20 ou 30
mil abelhas dentro de uma única colmeia. Em
suma, existem colônias que podem ser menos
ou mais populosas, variando de acordo com
as espécies. Observe, na imagem ao lado, as Centenas ou milhares de operárias
abelhas operárias, para as quais é atribuída a
manutenção da colônia.

Quando nascem, elas exibem uma cor mais


clara, em tom branco, e à medida que vão
envelhecendo, mudam as atividades que
se tornam cada vez mais complexas e,
consequentemente, suas cores vão tomando
uma cor mais escurecida.

Abelha jovem e abelha mais velha

A primeira atividade desempenhada assim


que nascem é se alimentar ativamente do
pólen, fonte de energia rica em proteínas, sais
minerais, vitaminas, lipídeos etc.

Nascimento e alimentação
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 164

Tal comportamento é imprescindível, uma vez


que auxilia no desenvolvimento do seu corpo
e das suas glândulas. Uma parte essencial
diz respeito ao processamento do alimento
utilizado para, posteriormente, nutrir as larvas
geradas pela colônia.

Operária recém-nascida com o abdômen cheio de pólen

Gradativamente, elas começam a trabalhar nas estruturas dos ninhos, na limpeza e na


manutenção da cera. Na sequência, passam a labutar nas atividades mais complexas, como
construção de pilares ou de invólucros. Após isso, passam para a construção de células de
cria, o que ajuda na postura da rainha.

Início do trabalho Trabalho em atividades Trabalho em atividades Removendo o lixo


mais complexas mais complexas

Por fim, depois de aproximadamente 10 ou 15 dias, elas começam a lidar com a produção
de lixo, uma ação um pouco mais elaborada, a fim de formar pequenas bolas e jogá-las para
fora. Este é o primeiro contato que as abelhas têm com o mundo externo. Isso dura até os 18
ou 19 dias de vida. Ademais, a operária passa por uma fase de guarda.

Eventualmente, algumas espécies podem passar um período menos ou mais longo na


atividade de guarda, exercendo-a na porta de entrada da colmeia. Finalmente, após seus 20
dias de vida, a operária começa a exercer as funções mais complexas e arriscadas que se
resumem na busca de alimentos.

Produção de lixo Fase de guarda da operária Atividade de guarda na Operária coletando néctar para
porta de entrada da colmeia produzir mel (fonte de energia)
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 165

Como surgem as abelhas dentro de uma nova


colmeia?
Confira um trecho da palestra proferida pela pesquisador Cristiano Menezes, da Embrapa
Meio Ambiente, na qual ele explica detalhadamente isso.

Já que as espécies do gênero Melipona produzem mais rainhas diariamente, o que


acontece com esse excedente?

O excedente de rainhas produzidas é


morto pelas operárias e aquelas que
eventualmente conseguem escapar
do ninho, invadem um ninho órfão e
se reproduzem ali dentro. Esta é uma
possibilidade existente no grupo,
caracterizando uma biologia diferenciada
do restante dos agrupamentos de abelhas
sem ferrão.

Excedente de rainhas produzidas morto pelas operárias

Na situação de um ninho em que há a morte da rainha-mãe, uma nova rainha surge na


colmeia, ou pelo sistema de produção com células reais ou, no caso das Meliponas, pelo
sistema de qualquer célula de cria, a qual domina a colônia. Diante disso, esta última começa
a produzir feromônios, a fim de atrair os machos a longas distâncias.

A rainha, sequencialmente, faz um voo nupcial para ser fecundada por esse macho. Na maior
parte das espécies, um único macho deixa um plug preso ao abdômen da fêmea, impedindo
que outros machos consigam copular com ela.

Nova rainha surge na Machos são atraídos pelos Fêmea fecundada pelo Plug deixado pelo macho no
colmeia feromônios macho abdômen da fêmea
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 166

Os espermatozóides, então, migram para


um órgão denominado espermateca, de
modo a ficarem armazenados ao longo
de toda a vida da rainha dentro da
colônia, que geralmente dura de 2 a 3
anos. Nesse período, a rainha utiliza os
espermatozoides e, toda vez que ela bota
um ovo, consequentemente, libera alguns
espermatozoides para fecundá-lo caso ela
vá produzir as operárias. Por outro lado,
caso vá produzir os machos, ela não os
libera. Espermateca

Em resumo, as rainhas fecundam uma única vez, carregando os


espermatozóides para o resto da vida. Diante disso, a rainha dá
continuidade ao ciclo. Seu abdômen se estende de forma a reativar o
ciclo de postura daquela colônia.

3.3 Como adquirir colônias de abelhas sem


ferrão?
Basicamente existem duas opções recomendadas por serem ambientalmente mais corretas
e sustentáveis.

A primeira delas é a utilização de ninhos-


armadilha ou caixas-isca, que consiste no
espalhamento de recipientes pelo ambiente na
intenção de atrair os enxames – colônias-filhas
a partir das colmeias existentes na natureza ou
nas caixas de criação. Nesse sentido, inserem-
se atrativos dentro de recipientes (imagem ao
lado – garrafa pet molhada com uma mistura
de extrato de própolis de abelhas sem ferrão
acobertada por plástico preto) espalhados ao
redor da propriedade, a fim de que as colônias
produzam novas colônias (nova rainha) e, com
Ninho-armadilha feito com garrafa pet o grupo de operárias, migrem para o interior dos
recipientes (ninhos-armadilha). Assim, a colônia-
mãe continua existindo no ambiente e sua filha é capturada.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 167

É um método altamente recomendado, já que expande as populações naturais de modo a


não as prejudicar.

Após o estabelecimento do ninho dentro do recipiente, é possível transferi-lo para uma


caixa de criação.

É importante ressaltar a eficiência limitada desta técnica, pois não


se consegue determinar como e quando ocorrerá a enxameação. A
depender do local, bem como de suas características, da quantidade de
ninhos naturalmente presentes e das espécies que compõem o entorno,
a incidência pode ser menor ou maior. No Brasil, a espécie mais
comumente atraída pelos ninhos-armadilha é a Jataí. Regionalmente,
são observadas algumas especificidades, como no entorno de Belém,
em que são capturadas com mais frequência as abelhas-mosquito
(Plebeia minima).

Outros tipos de recipientes também podem


ser utilizados, como já mencionado, a garrafa
pet, ou as próprias caixas de criação (caixas de
madeira), caso seja dentro de uma propriedade,
na qual não há o risco de desfalque ou a
deterioração do material. Basta aplicar o extrato
de própolis dentro da caixa para que ela se torne
um excelente ninho-armadilha.

Caixa de criação como ninho-armadilha

Dois vídeos disponibilizados a seguir explicam como construir o ninho-armadilha e como


transferir a colônia da armadilha para uma caixa após a captura, de forma adequada.

Vídeo 1

Vídeo 2
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 168

A segunda maneira de iniciar o criadouro


é por meio da aquisição de colmeia
de produtores (meliponicultores), os
quais objetivam multiplicá-las. Esta é a
forma mais concreta e prudente, porque
permite escolher a espécie pretendida a
ser criada e adquirir grande quantidade
de ninhos no momento de necessidade.

Além do mais, é uma técnica legal de


obtenção, uma vez que o meliponicultor
Obtenção de colônias de abelhas diretamente de criadores
multiplica as colmeias e comercializa as
colmeias-filhas, mantendo as matrizes
em sua propriedade. Destaca-se a sustentabilidade quando da utilização desta técnica,
porque comercializam-se colmeias artificialmente multiplicadas, diferentemente quando da
obtenção direta da natureza. A distinção deste para o primeiro método é o custo dispendioso,
no que se refere ao valor considerável das colmeias atualmente (em média R$ 200 a R$ 400,
chegando até a valores superiores).

Certamente, tal variação nos custos depende da espécie a ser adquirida. E, apesar de
depender de um investimento mais oneroso, garante um retorno imediato. Enquanto o ninho-
armadilha é imprevisível, a obtenção diretamente de criadores é mais ágil e mais eficiente.

Não é recomendado retirar colmeias da natureza pelo fato de


prejudicar as populações naturais, exceto em casos de desmatamento
autorizado, por exemplo, de uma árvore caída acidentalmente.
Lembrando que é imprescindível ter a autorização do órgão ambiental
para capturar e utilizar essas colônias. Para evitar a prática ilegal,
foram apresentados, portanto, dois procedimentos com ampla
recomendação: ninho-armadilha e obtenção diretamente de criadores.
Basta escolher o que melhor se adequa às suas necessidades.

3.4 Caixas de criação para abelhas sem ferrão


As abelhas nativas são as principais polinizadoras do açaizeiro. A polinização da planta
é feita, majoritariamente (90%), por abelhas sem ferrão e solitárias da família Halictidae.
Considerando que as abelhas solitárias não formam colônias, vamos focar esta unidade na
criação e manejo das abelhas nativas sem ferrão.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 169

As espécies de abelhas sem ferrão mais importantes para polinização do açaí podem ser
divididas em dois grupos. As que conseguimos criar em caixas de criação adequadas para
fazer o manejo e as que não conseguimos. Dentro do grupo das abelhas manejáveis temos
as abelhas canudos e as abelhas mosquitos.

As abelhas mais importantes para a polinização do açaí


Fotos: Cristiano Menezes e Giorgio Venturieri

Confira um trecho da palestra proferida pela pesquisadora e Dra. em Ecologia, Kamila Leão,
na qual ela fala sobre abelhas manejadas e não manejadas.

A criação das abelhas sem ferrão iniciou com os indígenas, os quais trouxeram para próximo
das aldeias pedaços de tronco que continham enxames a fim de obterem mel. Os cortiços
foram evoluindo para o modelo de caixa-cabocla ou caixa-horizontal.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 170

Imagem à esquerda: pedaço de tronco de árvore com ninho de abelhas “Cortiço”.


Imagem à direita: caixa cabocla
Fotos: Kamila Leão

Depois de diversos estudos acerca da


nidificação (construção do ninho) das
abelhas nos ocos das árvores, a caixa
horizontal evoluiu para um padrão de
caixa vertical, onde através de uma
diminuição do tamanho da parte da
caixa que fica com a cria, as abelhas são
forçadas a jogar os potes de alimento
para o compartimento superior (que na
caixa vertical chamamos de melgueira).
Estrutura da caixa vertical
Esquema: Cristiano Menezes

A imagem ao lado demonstra o padrão da caixa vertical


(modelo Embrapa – Venturieri, 2008) que utilizamos no
estado do Pará para criação das abelhas sem ferrão. Esse
modelo é baseado no modelo de Portugal-Araújo (1955),
modificada por Oliveira e Kerr (2000) e Venturieri (2008).

A caixa Embrapa é de seção quadrada, com dimensões


externas escolhida dependendo do tamanho da espécie
(podendo ser 25 x 25 x 34cm, para Melipona fasciculata ou
22 x 22 x 34cm para Melipona flavolineata) com espessura
de madeira de 2,5cm, segmentada em quatro partes
principais.

Modelo de caixa vertical (modelo Embrapa


– Venturieri, 2008)
Foto: Kamila Leão
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 171

• Ninho: Local destinado à área dos discos de cria, invólucro e potes de alimento
(mel e pólen) para o sustento mínimo da colônia. Um orifício de 20mm de diâmetro
na região frontal possibilita a entrada e saída das abelhas. Neste modelo de caixa,
existe um corredor de entrada que corre por dentro da parede de madeira no nível
do piso da caixa, medindo 20mm de largura por 25mm de altura, por onde as abelhas
circulam. No centro da base existe um orifício de 31mm de diâmetro feito para
permitir a circulação de ar no interior da caixa. Este orifício é vedado com tela
metálica fina para impedir que as abelhas façam dele uma segunda entrada.
• Sobreninho: Segmento destinado à expansão do ninho. Possui em sua base duas
réguas grossas, medindo 3cm de largura, 1cm de espessura e 20cm de comprimento,
que auxiliam na sustentação dos discos de cria e/ou potes e no processo de divisão
da colônia. Na parte superior são dispostas seis varetas finas e largas (2cm de
largura, 0,5cm de espessura e 21cm de comprimento) com o objetivo de evitar que os
discos de cria grudem na tampa ou na melgueira.
• Melgueira: Alça destinada ao armazenamento dos potes de alimento. Apresenta uma
abertura central de 1cm de largura para a passagem das abelhas.
• Tampa: Extremidade superior da caixa que apresenta dois orifícios de 31mm
de diâmetro na região mediana, com a função de facilitar a circulação de ar e a
alimentação suplementar com auxílio de garrafas.

Esse modelo de caixa facilitou, principalmente, a colheita do mel devido ao compartimento


de estocagem. A melgueira, então, pode ser levada para um local adequado, a fim de que faça
a colheita, diferentemente do outro padrão de caixa horizontal. Facilitou também a divisão
de colônias. Pelo fato de ser compartimentada, com ninho e sobreninho, a caixa vertical
possibilita encaixar uma caixa na outra no momento da divisão.

Divisão de colônias
Colheita do mel
Foto: Giorgio Venturieri
Foto: Kamila Leão

São quatro tamanhos de caixas verticais disponibilizados e pensados pela Embrapa para
grupos de abelhas sem ferrão:
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 172

1 Caixa 30cm x 30cm: usada para abelhas com ninhos grandes e muito populosas
(como abelhas do gênero Tetragona e Scaptotrigona);
2 Caixa 25cm x 25cm: usada, geralmente, para abelhas do gênero Melipona, (Uruçu-
cinzenta,Uruçu-boca-de-renda, Uruçu-da-bunda-preta);
3 Caixa 22cm x 22cm: usada, geralmente, para Uruçu-amarela, Moça-branca e outras
com o mesmo porte de ninho;
4 Caixa 10cm x 10cm: usada para as abelhas-mosquito.

Na imagem ao lado é possível observar os


tamanhos de caixas verticais disponibilizados
e pensados pela Embrapa para grupos de
abelhas sem ferrão.

Tamanhos de caixas verticais proposto pela Embrapa


Amazônia Oriental
Foto: Giorgio Venturieri

Essas caixas podem ser colocadas no ambiente


em um cavalete individual com uma telha na parte
superior, para proteger do sol e da chuva.

Cavaletes individuais com telha na parte superior


Foto: Cristiano Menezes

Podem, ainda, ser colocadas em abrigos coletivos,


como na imagem, pensada pelo Dr. Giorgio
Venturieri, ex-pesquisador da Embrapa Amazônia
Oriental, capaz de abrigar 36 colônias da mesma
espécie próximas uma da outra.

Abrigo coletivo para abelhas sem ferrão


Foto: Kamila Leão
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 173

Outro abrigo coletivo é o móvel,


usado no projeto “PolinizAçaí”,
que consiste em um cavalete de
ferro que pode ser transportado
de uma plantação de açaí à outra.
É imprescindível ressaltar que as
caixas precisam ficar cobertas com
uma telha.
Abrigo coletivo móvel para ser usado em plantios
Foto: Kamila Leão

3.5 Transporte e manejo de abelhas sem ferrão


Ao realizar o transporte das colônias para o plantio, é necessário que um dia antes seja
realizado o manejo, a fim de verificar se há alimento e espaço suficientes dentro dessas
colônias. Algumas espécies de abelhas, como a canudo, apresentam um número alto
de indivíduos dentro das colônias, tornando indispensável a inserção de uma caixa
sobressalente para que elas transitem e facilite a ventilação dentro das colônias. Isso evita
o sufocamento e a consequente morte delas. Então, antes do transporte, três procedimentos
são fundamentais:

• Verificar se há espaço e comida suficientes na colônia , caso não haja a quantidade


de alimento considerável, pode-se inserir um pouco de xarope;
• Verificar a forma como será feita a vedação da caixa, é importante que todos os
orifícios estejam devidamente fechados com telas de alumínio ou algum material
capaz de permitir a ventilação da colônia. Destaca-se que algumas espécies de
abelhas conseguem roer as telas de plástico, devendo-se evitar o fechamento das
entradas com esse tipo de material;
• Fechar as colônias no período da noite no momento em que todas as forrageiras
estejam dentro delas. Alguns apicultores e meliponicultores preferem transportá-
las neste período, uma vez que há menor incidência de calor e menor sofrimento
para as colmeias. Portanto, depois de fechá-las, elas devem ser colocadas no meio de
transporte.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 174

A imagem ao lado demonstra as caixas


acondicionadas em cima de um colchão
para evitar o máximo de trepidação,
reduzindo o tombamento e afogamento
de ovos, a qual pode levar as crias novas
das abelhas à morte. Caso não haja o
colchão, deve-se ter cuidado redobrado
para que a trepidação das caixas seja
menos impactante quanto possível.

Cuidados no transporte
Foto: Alistair Campbell

Outro ponto importante a se considerar é a


realização do manejo somente após dois dias
depois da chegada das abelhas no plantio.
Já que as abelhas precisam entrar e sair pela
entrada para gravar o local do seu ninho.

Caixa de abelha no plantio de açaí


Foto: Kamila Leão
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 175

A escolha do local de acomodação das abelhas


é outro fator preponderante. As abelhas
sem ferrão não apreciam a permanência
no sol. Portanto, deve-se estabelecer local
sombreado e protegido da chuva. Para isso,
algumas telhas podem ser colocadas em
cima dos cavaletes e dos piquetes em que
elas ficarão dispostas.

Proteção contra o sol e a chuva

A proteção dos piquetes, onde estão


estabelecidas as caixas, com óleo
queimado, é um manejo crucial para
evitar o ataque de formigas (principal
inimigo natural das abelhas sem
ferrão).

Cavalete individual - Destaque para estopa com óleo queimado

No momento do manejo, é importante ter cuidado para não sujar a


colônia de mel e não rasgar muitos potes de alimento para evitar o
ataque de forídeos, que é uma mosquinha, um outro inimigo natural
das abelhas.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 176

Forídeo Larvas de forídeo


Foto: Cristiano Menezes Foto: Cristiano Menezes

A observação regular do estoque de comida


dentro das colônias também favorece o
manejo adequado. Nos casos em que não há
alimentação energética suficiente, pode-se
lançar mão de uma mistura de água com
açúcar, (xarope, 2:1) como complemento
para uma vida saudável das abelhas no
campo.

Alimentação regular das colônias


Foto: Giorgio Venturieri

A última recomendação consiste em avaliar


a disponibilidade e diversidade de plantas
que fornecem néctar e pólen para as abelhas.
Caso haja somente uma espécie de planta, o
agricultor precisa plantar para as abelhas,
fornecendo, assim, outras fontes de recurso,
a fim de manter as colônias saudáveis.

Diversidade de plantas no campo


Foto: Cristiano Menezes
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 177

Unidade 4 - Quando devemos introduzir


abelhas em plantios de açaí?
De acordo com nosso estudo, vimos o quanto os polinizadores são imprescindíveis para a
produção do açaí. Então, a partir de agora, veremos quando o produtor deve introduzir as
abelhas em plantios de açaí.

4.1 Parâmetros analisados na propriedade rural


Uma pergunta motivadora deste estudo foi: quanto o produtor ganha com a polinização?

Sabemos que os polinizadores oferecem o serviço de polinização no açaí, que é um


importante serviço para a produção. Dessa maneira, eles podem ser considerados como
um significativo insumo agrícola, que precisam e devem ser manejados para aumentar a
produtividade.

Então, como esse serviço ocorre no campo agrícola e quais são os fatores que o afetam?

O processo de produção do açaí é


muito complexo e envolve vários
fatores, como a qualidade da água,
do solo, das mudas que são plantadas
e, também, da polinização. Assim,
consideramos toda essa complexidade
para, justamente, avaliar o papel dos
polinizadores.

Área cultivada com açaí

Nas imagens abaixo, podemos ver a área de floresta que oferece os polinizadores para a área
cultivada. É da área de floresta que surgem os polinizadores selvagens (nativos) e, quanto
mais próximo da vegetação, maior é a quantidade e a diversidade desses insetos. Nesse
sentido, na medida em que se afasta da área, o serviço de polinização vai diminuindo em
termos de quantidade e diversidade – número de espécies de polinizadores. Esse é um padrão
verificado em diversos cultivos ao redor do mundo, o qual já está definido e identificado pela
literatura. Reiteradamente, o distanciamento da floresta faz com que o serviço de polinização
decaia ao longo do campo agrícola.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 178

Decaimento de polinizadores na área cultivada em função Decaimento do serviço de polinização em função do


do distanciamento da área de floresta tamanho da área da floresta

Esse padrão também é detectado em áreas em que há pouca floresta. Da mesma forma,
consegue-se perceber que a polinização diminui com o distanciamento da floresta, mas
como há uma menor área, no geral, há menos polinizadores no campo.

Considerando isso, nosso estudo identificou áreas de cultivo de açaí com diferentes
coberturas florestais ao redor dos campos agrícolas. Tendo esses cultivos como referência,
projetou-se uma área circular em volta de um ponto de amostragem, onde foram coletados
os dados de polinização e produção, a qual teve um raio de 1km, e calculou-se quanto dessa
área era cultivada com açaí e quanto era de cobertura florestal. Com isso, obteve-se uma
variação de cobertura florestal nas paisagens que foram estudadas e nos dados coletados,
a fim de entender como a cobertura florestal impactava na presença dos polinizadores nos
campos de açaí.

Área circular em volta de um campo de amostragem – Raio de 1km


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 179

A partir dessa paisagem do campo agrícola, definiu-se uma área de 25m por 25m, na qual
os dados de polinização foram coletados, tanto a quantidade quanto a diversidade dos
polinizadores. Em metade dessas áreas em que foram coletados os dados, foram implantadas
caixas da abelha nativa canudo, a fim de testar o impacto do manejo desses insetos na
produtividade e lucratividade do produtor. Foram coletados dados desde a visitação dos
polinizadores selvagens, isto é, aqueles decorrentes da área florestal, até o efeito causado
pela visitação das abelhas manejadas.

Área de 25m por 25m com coleta de dados de polinização

Em seguida, foram coletados os dados de produtividade do açaí em cachos localizados dentro


da área de coleta, tanto em cenários com visitação de polinizadores selvagens quanto em
cenários com as abelhas manejadas. Por fim, a produtividade por cacho recolhido foi pesada.

Pesagem da produtividade por cacho coletado


Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 180

Considerando a produtividade do açaí em cachos, avaliou-se o impacto do número e dos


visitantes na produtividade do açaí (kg/cacho). No próximo tópico, portanto, veremos sobre
os impactos da densidade de abelhas nesse plantio.

Impacto do número e tipos de visitantes na produtividade do açaí (kg/cacho)

4.2 Impactos da densidade de abelhas no


plantio
Vamos entender os resultados obtidos por meio do estudo anterior – O impacto da cobertura
florestal sobre as abelhas.

Entendemos, anteriormente, que a área


com que a floresta ocupa a paisagem
foi um dos fatores utilizados para
avaliar a presença dos polinizadores
ao longo do campo agrícola.
A cobertura florestal influencia a presença dos polinizadores ao
longo do campo agrícola

Confira um trecho da palestra proferida pelo pesquisador Felipe Deodato da Silva e Silva, do
Instituto Federal do Mato Grosso (IFMT), na qual ele avalia o impacto florestal no número
de visitas de insetos às flores do açaí.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 181

Considerando esses fatores, como esses polinizadores contribuíram para a produtividade


do açaí?

Ao relacionar este resultado da cobertura


florestal e dos polinizadores com o
anterior, obteve-se o impacto da visita de
abelhas na produtividade do açaí, isto é,
Impacto das abelhas na produtividade a quantidade de produto gerada em cada
cacho do fruto.

Neste gráfico, o eixo vertical apresenta a


produtividade (kg/cacho), o eixo horizontal
e a cobertura florestal, variando de 0% a
50%.

Observa-se que, tanto no cenário com


abelhas manejadas quanto naquele sem
abelhas manejadas, obteve-se uma relação
positiva no que se refere à cobertura
florestal, ou seja, esta última reflete um
ganho substancial para a produtividade do Produtividade (kg/cacho) x Cobertura florestal
açaí associada ao aumento de polinização.
Esse ganho varia de 0,5 kg/cacho a 2,4 kg/cacho em cenário de 0% a 50% de floresta.

O ganho é de aproximadamente cinco vezes na produtividade medida em kg/cacho. Em


outros termos, há um ganho de produtividade em decorrência da polinização selvagem
(aquela decorrente do aumento da cobertura florestal).

Como podemos constatar, a cobertura florestal tem um papel basilar na produtividade porque
oferece os serviços de polinização – essenciais para a produção do açaí.

No entanto, para melhor tomada


de decisão e compreensão dos
resultados, resolvemos extrapolar
os dados para uma medida de
produtividade em toneladas por
hectare ao ano. Essa etapa partiu de
uma média de 575 touceiras de açaí
por hectare. Usamos também uma
média de 2,5 estipes por touceira e
o máximo de 4 cachos por estipe e
o máximo de 10kg por cacho.
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 182

Neste outro gráfico temos, no eixo de


produtividade, as toneladas por hectare, e
no eixo de cobertura florestal, uma variação
de 0% a 50%. Como se verifica, a cobertura
florestal contribuiu para a produtividade,
evidenciando, novamente, uma relação
positiva. Assim, a produtividade despontou
de 4,0t/ha para cerca de 14,0t/ha, um
crescimento aproximado de três vezes.
Dados esses muito próximos daqueles
encontrados nos campos em interlocução
Produtividade em kg/cacho para toneladas/ha
com os produtores. Em resumo, há uma
projeção dentro da realidade vivenciada por estes dentro dos campos agrícolas.

4.3 Impactos no lucro em plantios de açaí


Vimos, anteriormente, o impacto da cobertura florestal na produtividade do açaí em kg/cacho
e extrapolamos essas medidas para toneladas por hectare. Com base nesses resultados,
fizemos uma estimativa sobre os lucros, ou seja, quanto o produtor pode lucrar a partir dos
serviços de polinização.

Já estudamos acerca dos dados ecológicos e da produção do açaí coletados em campo


para realização das pesquisas. Agora, compreenderemos a respeito dos dados econômicos
apurados a partir de entrevistas com produtores da região de Belém do Pará.

Impacto das abelhas na lucratividade

As entrevistas foram realizadas entre


outubro e dezembro de 2019 com 105
produtores de açaí, os quais forneceram
dados advindos da produção. Na época,
tais dados foram:

• Preço: R$50 por 30kg.


• Custo: R$2000 por ha por ano.
• Custo da abelha manejada:
R$587 por ano (aquisição, instalação
e manutenção das caixas de abelhas
Entrevistas para obtenção de dados econômicos manejadas).
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 183

A fim de visualizar a lucratividade,


adotamos o mesmo gráfico trabalhado
desde o início. No eixo vertical está a
lucratividade (R$/ha) e no horizontal
a cobertura florestal (0% a 50%).
Podemos observar que, tanto o cenário
com abelhas manejadas quanto o sem
a presença delas, a lucratividade foi
positivamente associada à cobertura
florestal. Em outras palavras, quanto
maior for a cobertura florestal, maior
será o lucro em termos de reais por
Lucratividade (R$/ha) x Cobertura florestal (0% a 50%)
hectare para o produtor decorrente
da polinização selvagem.

Diante disso, os polinizadores mediados pela cobertura florestal beneficiam economicamente


os produtores. A polinização é, portanto, um imprescindível insumo agrícola, uma vez que
traz benefícios tanto para a produtividade quanto para a lucratividade.

Certamente, os serviços de polinização devem ser considerados nas tomadas de decisão


relacionadas ao plantio de açaí. Assim, nas estimativas, a lucratividade demonstrou um
aumento de até cinco vezes, considerando a variação de 0% a 50% de cobertura florestal, em
que os valores considerados foram de R$1 mil a R$5200 mil por hectare.

A partir desse resultado das abelhas sobre a


lucratividade, conseguimos pensar em diversas
possibilidades de manejos de polinizadores,
dada a importância de se estimar o custo,
bem como os benefícios desses insetos no
planejamento das estratégias de manejo.

Exemplo

Nos casos em que foi testado o impacto das abelhas manejadas, o custo e o benefício foram
incluídos nessas estimativas. Por outro lado, o manejo da cobertura florestal também
apresenta seus custos associados principalmente quando se propõe uma estratégia de
reflorestamento, seja mediante mudas, plantio de sementes ou regeneração natural.

Dessa forma, é importante integrar os polinizadores nos métodos de manejo do açaí, sejam
Módulo 4 - Polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro 184

eles nativos ou manejados, especialmente, ao avaliar os custos e benefícios das estratégias


amigáveis aos polinizadores.

Salienta-se, portanto, que a cobertura florestal oferece um benefício para o plantio de açaí
em termos de polinização, produtividade e lucratividade.

Chegamos ao final do módulo 4, no qual você aprendeu sobre


polinização e manejo dos polinizadores do açaizeiro.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 185

Módulo 5
Autor: Walkymário de Paulo Lemos

Já estamos no quinto módulo deste curso e espero que você esteja aplicando no seu dia a
dia todo o conhecimento adquirido até agora.

Neste módulo você vai conhecer as estratégias de manejo e controle de insetos-praga.

Todo o conteúdo está estruturado em apenas duas unidades.

• Na Unidade 1 serão apresentados os principais fatores que favorecem o


aparecimento dos insetos-praga.
• Na Unidade 2 você vai obter mais informações sobre as principais espécies de
insetos-praga em açaizeiro, como sua identificação, caracterização distribuição
geográfica, hospedeiros e danos causados, bem como as estratégias de
monitoramento e controle.

Ao final deste módulo, espera-se que você seja capaz de reconhecer os fatores que favorecem
o aparecimento de insetos-praga em açaizeiros, bem como sua influência nesses organismos;
identificar, caracterizar e reconhecer os hospedeiros no campo, bem como os danos causados
pelas principais espécies de insetos-praga na cultura do açaizeiro e identificar e implementar
estratégias de monitoramento e controle das principais espécies de insetos-praga na cultura
do açaí.

Desejo a você um ótimo estudo e até breve!


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 186

Unidade 1 - Fatores que favorecem o


aparecimento de insetos-praga
Damos início a esta unidade com o seguinte questionamento:

Quais são as condições ambientais favoráveis ao estabelecimento de insetos e doenças?

Vivemos em uma região de trópico úmido, com características ambientais profundamente


favoráveis ao estabelecimento de populações de insetos, microrganismos e doenças,
principais limitações bióticas em cultivos agrícolas. Entre os fatores ambientais que,
somados, facilitam tais insuficiências estão:

Precipitação elevada: grande quantidade Umidade relativamente alta em


Calor intenso
de água e umidade algumas regiões

Com as novas tecnologias e os ativos de inovação da Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuária (Embrapa) - materiais superiores para cultivo em terra firme -, há uma
tendência de também se estabelecerem cultivos de açaí em monocultivos.

Assim, o somatório de fatores ambientais e monocultivo poderá contribuir para o surgimento


de limitações bióticas nos cultivos, dentre eles os insetos-praga. Nesses novos ambientes
haverá a necessidade de se incorporar um manejo de pragas de forma profissionalizada,
criando-se a demanda de os técnicos iniciarem a prática de orientação e os produtores/
agricultores adotarem as tecnologias de monitoramento de forma sistemática, com o
propósito de reduzir as perdas provocadas por agentes bióticos a níveis aceitáveis no cultivo.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 187

Ou seja, se não há monitoramento, não tomamos conhecimento do


momento correto para realizar a interferência, aumentando as chances
de haver prejuízos diversos.

Vejamos os fatores, além dos ambientais e do monocultivo, que podem contribuir para o
ataque de insetos em palmeiras.

• Tratos culturais inapropriados (por exemplo, uso de inseticidas), o que interfere nas
relações tróficas e impacta as populações de insetos benéficos.
• Condições ambientais propícias.
• Interferência antrópica, havendo limitações de exploração, prejuízos na
implantação e desenvolvimento vegetativo, retardo no início da produção e perda de
produtividade quando da realização de práticas inadequadas para a cultura.

Diferentes espécies de insetos


atacam o açaizeiro em regiões
distintas da planta, como estipe em
formação, folíolos de folhas velhas,
medianas e jovens (face superior e
inferior) e flechas.

É preciso destacar que os insetos


são capazes de provocar danos
severos durante os diferentes
estágios de desenvolvimento do
açaizeiro. Constatamos, por meio
Ação nociva observada desde a fase de canteiro, agravando-se à
de monitoramentos e registros, que
medida que a palmeira se desenvolve e atinge a estabilidade da
produção
tal ação nociva perpassa desde o
período em que as mudas ainda
estão no canteiro até o desenvolvimento da planta, quando ocorre o agravamento da doença.
Inclusive, isso pode interferir em seu período de produção, caso boas práticas não sejam
adotadas.

Em geral, a fase adulta do açaizeiro está sujeita a uma maior intensidade de ataques de
insetos-praga, principalmente brocas e lagartas desfolhadoras. Quando a estirpe já está
bem formada, a quantidade de folhas é mais intensa, e a produção de flechas favorece os
sugadores.

Além disso, quando as práticas não são adequadamente utilizadas, ou são colocadas em
segundo plano em termos de importância, os insetos podem provocar perdas na produção
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 188

de frutos, atraso no desenvolvimento, redução do palmito e, em casos mais severos, morte


da palmeira.

É importante saber que não existem inseticidas registrados no


Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para o
controle de insetos-praga em açaizeiro. Isso certamente é uma grande
limitação para as culturas de menor importância, como a do açaí, em
relação a outras commodities, culturas de maior valor agregado e
áreas plantadas. Em grande parte, as empresas não têm interesse em
registrar os produtos, obrigando os proprietários a usarem inseticidas
que ainda não possuem registro.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 189

Unidade 2 - Principais espécies de


insetos-praga em açaizeiro
A partir de agora, trataremos das principais espécies de insetos associadas à cultura do açaí.

2.1. Pulgão-Preto-do-Coqueiro ou afídeo-


das-palmeiras Cerataphis brasiliensis (Hemiptera:
Aphididae)
Iniciaremos, então, com o pulgão-preto-do-coqueiro, também chamado de afídeo-da-
palmeira. Ele é registrado cientificamente como Cerataphis brasiliensis (Hemiptera: do
mesmo grupo de percevejos, da família Aphididae).

Para melhor caracterizar a espécie, vejamos a descrição, a biologia e o comportamento do


pulgão-preto-do-coqueiro ou afídeo-das-palmeiras.

Descrição, biologia e comportamento

• Espécie Cerataphis lataniae, relatada até 2011 como praga das palmáceas na Amazônia
(SOUZA, 2002).
• Coleta de amostras e envio para uma nova identificação e confirmação da
espécie: os especialistas taxonomistas que receberam o material identificaram
o afídeo recorrente nas palmeiras da Amazônia Oriental e deram a ele uma nova
denominação: Cerataphis brasiliensis, sendo C. lataniae a espécie válida (LUNZ et al.,
2011; LEMOS et al., 2016). O nome anterior, C. lataniae, continuou existindo, todavia
passou a ser utilizado como uma sinonímia.

Para que possíveis dúvidas não persistam, caso sejam encontradas


literaturas anteriores ao ano de 2011 que se reportem ao termo
Cerataphis lataniae, trata-se do afídeo Cerataphis brasiliensis. É possível
que muitos produtores, habituados ao campo, devam encontrar esse
problema. Devido a isso, categorizou-se o Cerataphis brasiliensis como
um dos principais insetos-praga que tornam o açaí mais vulnerável em
sua fase mais jovem.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 190

Nos cultivos da Amazônia, é raro encontrar plantas sem tais infestações.

• Os insetos adultos e imaturos são


muito semelhantes, confundindo quem
não está habituado a esse tipo de inseto.
• A coloração varia entre o marrom bem
escuro e o preto opaco.
• Seu corpo é circular, convexo, escuro
e circundado por franja (anel) de cera
branca, com formas aladas e ápteras. Os
adultos apresentam formas tanto com
asas quanto sem.

Infestação de Cerataphis brasiliensis • Tratam-se de insetos diminutos, de


Foto de Walkymário P. Lemos modo que os adultos medem entre 1,5
mm e 2,0 mm de diâmetro. Para um
olhar menos atento, podem passar desapercebidos, embora manifestações severas
sejam mais fáceis de serem identificadas, principalmente nas flechas.

• Vivem preferencialmente nas partes jovens do açaizeiro (flechas e folhas). Pelo fato
de serem insetos sugadores, com altíssima taxa metabólica, de corpo mole e aparato
bucal muito frágil, precisam sugar estruturas mais tenras (moles) das plantas.
• Alimentam-se exclusivamente
da seiva e atacam folhas em
desenvolvimento, bainhas foliares,
inflorescências e frutos, formando
extensas colônias de fêmeas ápteras,
ninfas e indivíduos alados.
• Expelem líquido adocicado que atrai
formigas, vespas e moscas, além de
favorecer o surgimento da fumagina.
Muito do material que excretam ainda
é a própria seiva, uma vez que eles não
conseguem metabolizar com a mesma
agilidade com que se alimentam.
Assim, outros insetos são atraídos
por essa substância açucarada.
Tal associação cria um processo
de simbiose (proteção natural), na
qual um inseto fornece a substância
açucarada para formigas e vespas e
estas, por sua vez, fornecem a proteção
ao inseto.
• Preferem estações secas. No período Insetos na fase adulta e formigas associadas
chuvoso, evidencia-se a redução da Foto de Walkymário P. Lemos
população.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 191

Plantas hospedeiras

Podemos observar que a maior parte das plantas hospedeiras do Cerataphis brasiliensis são
palmáceas:

• Açaizeiro (Euterpe oleracea)


• Carnaubeira (Copernica cerifera)
• Coqueiro (Cocos nucifera)
• Dendezeiro (Elaeis guineensis)
• Tamareira (Phoenix dactilifera)
• Pati ou guariroba (Syagrus oleracea)
• Licuri (S. coronata)
• Tucumã (Astrocaryum vulgare e A. aculeatum)
• Orquídeas
• Outras palmeiras

Distribuição geográfica

Quanto à sua distribuição geográfica, o Cerataphis


brasiliensis é um inseto associado a diferentes
palmeiras em praticamente todos os estados
brasileiros.

Distribuição geográfica do Cerataphis brasiliensis


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 192

Danos causados pelo Cerataphis brasiliensis

Além de atacar plantas jovens no campo, esse pulgão pode provocar danos em plantas no
viveiro e no canteiro. Vale destacar que ele ataca plantas adultas também, contudo estas
são mais resistentes. O pulgão gera dois tipos de dano à cultura. São eles:

Danos diretos

• Adultos e imaturos sugam uma grande quantidade de seiva, enfraquecendo a planta,


podendo levá-la à morte em casos mais severos;
• Prejudicam o desenvolvimento das inflorescências;
• Causam má-formação de frutos;
• Provocam a redução do porte das plantas e, consequentemente, da produção de
palmito e do número de frutos.

Danos indiretos

• Promovem o aparecimento da fumagina, diminuindo a fotossíntese e impedindo o


desenvolvimento normal da palmeira.

FUMAGINA: fungo do gênero Capnodium, que geralmente está associado aos insetos
sugadores. Estes últimos, como já foi dito, eliminam uma substância açucarada, um meio
de cultura bastante favorável para o fungo. Então, a fumagina (escurecida/preta), ao cobrir
a área infestada, compromete indiretamente a fotossíntese.

Medidas de controle
A seguir, estão algumas medidas de controle para o inseto-praga Cerataphis brasiliensis.

• Inspeção de rotina: Plantas em viveiros e recém-plantadas no campo deverão ser


examinadas até os dois anos de idade, para observar a presença de fumagina e/ou
pulgões vivos em folhas jovens e flechas.
• Inspeção especial: Constatado o pulgão ou a fumagina durante a inspeção de rotina,
recomenda-se retornar à área e realizar inspeções especiais para quantificar o nível
de infestação, anotando o número de plantas com fumagina e pulgões vivos nas
folhas.
• Medidas de controle: Medidas de controle devem ser adotadas ao se registrar
a presença do inseto-praga entre 30% e 35% das plantas amostradas a cada 100
plantas. Se esse percentual for ultrapassado, pode tornar o ambiente muito
vulnerável. Algumas medidas de controle:

• Químico: pulverizações com óleo mineral na concentração de 1%, principalmente


em plantas jovens, já que este não causa nenhum tipo de impacto à palmeira. A planta,
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 193

por sua vez, cria uma barreira física, por meio de uma película, para matar os pulgões,
impedindo-os de realizar trocas gasosas (embora não seja o termo mais adequado, eles
são mortos por asfixia).

• Inseticidas botânicos: embora não exista uma recomendação validada com testes
científicos, já há algumas experiências realizadas na prática com agricultores
experimentadores em projetos, como em Igarapé-Açu, sobre usos alternativos de
produtos químicos sintéticos e inseticidas botânicos.

CUIDADO: em épocas de floração, há uma diversidade de insetos


benéficos associados às flores do açaí, e há, ainda, os impactos
positivos dos polinizadores; sem quantificar e falar dos inimigos
naturais, porque não conhecemos com tanta profundidade. Então,
devemos ficar atentos nessa época, porque a floração atrai organismos
benéficos, polinizadores e também os inimigos naturais, que são
atraídos pelas substâncias açucaradas ofertadas pelas flores.

2.2 Gafanhoto-do-coqueiro ou Tucurão


Eutropidacris cristata (Orthoptera: Acrididae)
Vamos para o segundo grupo de insetos que merece atenção: o gafanhoto-do-coqueiro ou
Tucurão Eutropidacris cristata (Orthoptera: Acrididae).

Descrição, biologia e comportamento


Diferentes espécies de gafanhoto, por serem generalistas, podem atacar o açaizeiro no viveiro
e no campo, sendo que as plantas são mais vulneráveis quando mais jovens.

O tucurão destaca-se como a mais frequente e danosa praga, exigindo a atenção tanto dos
entomólogos quanto dos técnicos que acompanham os cultivos e orientam os agricultores,
principalmente na região Amazônica.

O Tucurão Eutropidacris cristata é da ordem Orthoptera e da família Acrididae, de todos os


gafanhotos.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 194

Formas e coloração do tucurão em seus primeiros e últimos estádios de desenvolvimento

Suas formas jovens são gregárias, ou seja, vivem em grupos. Apresentam coloração que
varia entre os tons preto e vermelho (primeiros estágios) e preto e verde (últimos estágios).

Os gafanhotos adultos alcançam até


110mm de comprimento, 15mm de
largura, portando asas anteriores de
até 90mm de comprimento e coloração
verde-pardacenta. As asas posteriores
são esverdeadas e têm uma leve
tonalidade azulada. Quando em voo, é
muito fácil distingui-los, devido ao seu
tamanho e à sua coloração.

Aspectos morfológicos do gafanhoto adulto


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 195

Plantas hospedeiras
Entre as plantações a seguir, diversas delas são extremamente importantes para a região
amazônica.

• Abacateiro
• Algodoeiro
• Arroz
• Bananeira
• Cana-de-açúcar
• Carnaúba
• Citros
• Coqueiro
• Dendezeiro
• Eucalipto
• Mamona
• Mandioca
• Pastagens

É importante ressaltar que, por serem generalistas, os insetos são


muito difíceis de serem monitorados e controlados.

Por serem generalistas, os tucurões são insetos


com uma ampla distribuição geográfica, sendo
encontrados em todas as regiões do país.

Distribuição geográfica do Tucurão


Eutropidacris cristata
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 196

Danos causados pelo Tucurão Eutropidacris cristata


Devido à voracidade e ao tamanho avantajado, os ataques dos tucurões provocam atraso
ao desenvolvimento das plantas jovens e redução da produção. Plantas de açaizeiro são
atacadas por E. cristata tanto no viveiro quanto no campo.

Folha de açaí parcialmente Morte provocada pelo ataque Folhas de açaí parcialmente
devoradas por tucurões severo de tucurão devoradas por tucurões

Medidas de controle
O controle em campo é difícil, oneroso e, às vezes, ineficaz. Além disso, não existem produtos
registrados no MAPA para o controle do gafanhoto na cultura do açaizeiro. A seguir, vamos
conhecer algumas estratégias de controle no campo que se mostram eficazes se aplicadas
no momento correto.

• Catação manual e destruição de ninfas: A catação manual e a destruição de ninfas


(formas jovens) e adultos em infestações iniciais e populações pequenas pode ser
uma forma de controlar a praga. Essa proposta, no entanto, é inviável para uma área
grande, de 10ha ou 20ha, por exemplo. O monitoramento é crucial para identificar
uma infestação que está no início.
• Inseticidas biológicos: O uso de inseticidas biológicos à base de entomopatógenos,
particularmente fungos, tem mostrado eficácia para o controle de gafanhotos de
outras espécies. Embora sejam biológicos, não são registrados no MAPA, como já
explanado. Contudo, para esses tipos de gafanhoto, é possível utilizar o inseticida,
caso eles ainda não estejam em cultivo de açaizeiro.
• Extratos vegetais: Há extratos vegetais com potencial biocida para controlar as
formas jovens, como o nim, por exemplo.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 197

O agricultor deve atentar-se ao nível populacional da praga,


monitorando o plantio em intervalos de 10 a 15 dias.

2.3 Barata-do-coqueiro ou Coraliomela brunnea


(Coleoptera: Chrysomelidae)
Normalmente, os produtores mais habituados com o açaizeiro em terra firme se deparam,
com frequência, com a barata-do-coqueiro.

Na literatura, a Coraliomela brunnea, é chamada de barata-do-coqueiro, mas dependendo


da evolução de sua associação ao açaizeiro, poderá ser chamada, no futuro, de barata-das-
palmeiras. A associação histórica desse inseto, no Brasil, são em coqueirais e é um inseto
problemático nessa cultura.

Descrição, biologia e comportamento


• No Brasil, a descrição biológica da C. brunnea foi feita em cultivos de coco, mas as
espécies se replicam em cultivos de açaí.
• Seus ovos são convexos e marrons, tornando-se esbranquiçados com o
desenvolvimento e a aproximação da eclosão dos imaturos.
• Larvas de primeiros ínstares são creme-amareladas, compridas e achatadas,
assemelhando-se a uma lesma ou a uma barata, por isso o nome barata-do-coqueiro.
Mas esse é somente um nome, já que se trata de um besouro.

Foto: Walkymário P. Lemos


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 198

• Adultos são vermelhos, com listras pretas no meio do pronoto (região do tórax) e nos
élitros (asas) rugosos, apresentando também coloração preta no abdome e preta e
vermelha nas pernas.
• A sexagem é realizada pelo tamanho do adulto; os machos são menores (23 cm) que
as fêmeas (25 cm).
• A espécie completa seu ciclo biológico em uma mesma planta, diferentemente dos
gafanhotos, o que favorece o controle.
• Adultos têm um hábito diurno, baixa capacidade de voo e se alimentam de folíolos
de açaizeiro.

Macho de barata-do-coqueiro Diferenciação do macho e da fêmea da barata-do-


Foto de Walkymário P. Lemos coqueiro
Foto de Walkymário P. Lemos

Plantas hospedeiras
A barata-do-coqueiro tem uma íntima associação com diferentes palmeiras, particularmente
as dos gêneros Syagrus, Cocos, Allagoptera e Euterpe. Do ponto de vista científico, há pouco
menos de uma década observava-se a presença acentuada dessa espécie nos coqueiros e
nas Euterpes.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 199

Distribuição geográfica

É uma espécie que se distribui


principalmente na América do
Sul, nas regiões onde se cultivam
palmeiras, como Paraguai e
Argentina.

No Brasil, está distribuída em


13 estados diferentes, sendo que
nos estados da região Norte há
registros de ocorrência científica
em açaizeiros no Amapá e no Pará.

Danos causados pela barata-do-coqueiro


A barata-do-coqueiro causa uma série de danos às palmeiras, os quais estão relacionados
abaixo:

• Os imaturos se alimentam de folíolos do açaizeiro, perfurando-os.


• As larvas migram para as folhas centrais ou flecha após a eclosão, onde se
alimentam.
• As folhas jovens, recém-abertas, apresentam folíolos com danos característicos.
• O ataque reduz a área foliar útil de plantas jovens, provocando atraso no
desenvolvimento e na produção, o que ocorre também em outras espécies.
• A intensidade do dano tem relação direta com o tamanho e o número de larvas por
planta. À medida que se desenvolvem, sua capacidade de alimentação aumenta e,
consequentemente, sua capacidade de danos também é ampliada.
• Infestações severas em plantas novas no campo, recorrentes na região nordeste do
Pará, provocam a destruição de folhas centrais ou a morte das plantas.
• Açaizeiros adultos, embora atacados, são mais tolerantes.

O ataque é muito característico, já que essas


espécies se localizam na inserção entre a bainha
e a emissão das flechas. Assim, o monitoramento
acurado deve ser feito nessas regiões.

Ataque de uma barata-do-coqueiro


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 200

Medidas de controle
Foram verificados ataques recentes no Pará, refletindo na inexistência de estratégias
eficazes de controle da praga, pelo fato de ainda não existirem informações suficientes para
tal. No entanto, medidas de controle utilizadas em coqueiro podem apresentar resultados
promissores em açaizeiro.

• Em campo: Recomendam-se a catação manual e a destruição de larvas, pupas e


adultos.
• Método de controle mecânico: É mais efetivo em cultivos pequenos e em infestações
iniciais.
• Controle biológico com Beauveria bassiana: Concentração de 107 conídios de mL-1.

Neste vídeo você confere uma entrevista em realizada pelo Globo


Rural em dezembro de 2019. Na ocasião, foi respondida uma carta que
perguntava acerca de qual espécie de inseto-praga estava atacando
os açaizeiros no Estado do Pará, a fim de que se descobrissem suas
principais características, para sua identificação e o controle dos danos
causados por ela.

2.4 Broca-do-bulbo das palmáceas ou besouro-


de-chifre Strategus sp. (Coleoptera: Scarabaeidae)
Outro inseto sobre o qual se comentava de forma muito periférica, mas que merece destaque,
principalmente com o aumento de áreas plantadas, é a broca-do-bulbo das palmáceas ou
besouro-de-chifre Strategus sp. (Grupo: Coleoptera / Família: Scarabaeidae).

Descrição, biologia e comportamento


A espécie do gênero Strategus, que ataca cultivos de açaizeiros no Pará, ainda não foi
confirmada. É possível que possa se tratar de Strategus aloeus ou S. surinamensis, já existindo,
inclusive, registros em Rondônia que referenciam este último. É necessário coletar os
materiais do Estado do Pará para a confirmação da espécie com relativa urgência. Vejamos,
pois, a caracterização dos insetos:
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 201

• Adultos de S. surinamensis
medem entre 3,4 cm e 3,9 cm de
comprimento por 1,6 cm e 2,6 cm de
largura, de modo que as fêmeas são
menores que os machos.
• O adulto tem hábito noturno e
é atraído pela luz, por isso é difícil
ser visto. Em contrapartida, pode ser
instigado por armadilhas luminosas.
• Picos populacionais coincidem
com o início da estação chuvosa na
região Amazônica. Diferentemente
do pulgão, esse inseto tem
preferência por umidade.
Broca-do-bulbo: espécie do gênero Strategus
• Larvas se alimentam e se
desenvolvem em madeiras em decomposição de espécies vegetais distintas, como
açaizais malcuidados e que possuem grandes quantidades de resíduos vegetais.

Plantas hospedeiras
Além do açaizeiro, é uma espécie que tem associação com outros tipos de palmeira, como
pupunha, coqueiro e outras relatadas na literatura.

Distribuição geográfica

Até onde sabemos, ocorre em algumas áreas


produtoras de palmáceas, principalmente
nas regiões Sudeste e Sul do país. Na
Amazônia, existem registros no Amapá,
Pará, Amazonas e Rondônia.

Distribuição geográfica da broca-do-bulbo


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 202

Danos causados pela broca-do-bulbo das palmáceas


Os danos causados pelas brocas-do-bulbo são muito característicos. Vejamos:

• Adultos abrem orifícios irregulares (cerca de 2 cm Ø) no estipe das palmeiras.


• No colo da planta, perfuram a galeria vertical e paralela ao eixo da planta, onde
permanecem quando não estão se alimentando. Até mesmo as plantas já adultas
sofrem bastante e têm grandes chances de sucumbir se os insetos não forem
detectados a tempo.
• Ataques podem causar a morte da folha central (coração morto) de palmeiras jovens
ou de toda a planta atacada. A morte é uma consequência das escavações realizadas
por esses insetos na base das plantas novas e das raízes, local em que se alimentam
do meristema apical da planta em formação.
• Perdas de até 60% em mudas de pupunha foram registradas em propriedades
familiares de Rondônia, o que reforça ainda mais a necessidade das medidas de
controle.

Medidas de controle
• Visitas regulares: Visitas regulares aos plantios podem detectar as primeiras plantas
murchas.
• Coleta e eliminação: A inundação da galeria, na fase inicial do ataque, faz o inseto
abandoná-la, permitindo sua coleta e eliminação.
• Chuvas: O período chuvoso é crítico para a praga, pois oferece maiores riscos às
lavouras.
• Retirada dos insetos: Após a identificação da infestação, é preciso proceder com a
retirada dos insetos do interior dos orifícios utilizando um arame grosso, duro e de
ponta fina. Como os orifícios e as larvas são grandes, é possível extrair estas últimas
com a ponta do arame.
• Destruição dos restos de madeira: Restos de madeira em decomposição próximos
à plantação são um risco altíssimo e, portanto, devem ser destruídos para evitar a
multiplicação do inseto no local.
• Armadilhas luminosas: Em áreas maiores de plantio, é recomendável, quando
possível, empregar armadilhas luminosas, pois os adultos são noturnos.

2.5 Formigas cortadeiras ou saúvas Atta spp.


(Hymenoptera: Formicidae)
Até onde sabemos, três espécies, em particular, de formigas do gênero Atta têm associação
com açaizeiros, principalmente em viveiros, provocando danos.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 203

Descrição, biologia e comportamento


As espécies de formigas cortadeiras mais danosas a açaizeiros em viveiros são: saúva
cabeça-de-vidro, cientificamente denominada Atta laevigata (A), brilhante, de onde provém
seu nome; saúva-da-mata, chamada Atta cephalotes (B); e saúva limão, denominada Atta
sexdens sexdens (C), cujo nome se deve ao fato de exalarem um odor cítrico, atacando ao
longo de todo o ano.

Esse comportamento, de serem generalistas, as caracterizam como pragas importantes


em cultivos de açaizeiro em sua fase jovem, pois são insetos bastante ativos, que vivem
em espaços subterrâneos ou panelas, os quais podem ser facilmente identificados devido
à formação de montículos de terra (Murundum). Logo, um agricultor atento consegue
identificar os primeiros sauveiros ou os primeiros sinais da formação de montículos e, a
partir disso, tomar as medidas cabíveis.

A: Formiga saúva cabeça-de- B: Formiga saúva-da-mata – C: Formiga saúva-limão – Insetos ativos


vidro – Atta laevigata Atta cephalotes Atta sexdens sexdens
Fonte: https://www.
Fonte: https://www.agrolink. Fonte: https://www. Fonte: https://www.agrolink. comprerural.com/brasileiro-
com.br/problemas/sauva- com.br/problemas/sauva- cria-biopesticida-natural-
researchgate.net/
cabeca-de-vidro_1881.html limao_386.html extraido-do-pequi/
figure/a-Leaf-cutting-ants-
here-Atta-cephalotes-
can-differ-considerably-in-
body-size_fig1_270001474

Os ninhos iniciais, comparando-se os


gêneros Atta e Acromyrmex, começam
com a formação de galerias e o depósito
de alguns montículos. Para a Atta, esses
últimos são bem maiores do que para
a Acromyrmex. Nos ninhos adultos, é
possível observar a grande quantidade
de terra que as formigas do gênero Atta
podem remover.

Comparação de ninhos das espécies Atta e Acromyrmex


Fonte: https://www.dinagro.com.br/ciclo-biologico/
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 204

Nesta imagem é possível verificar


toda a arquitetura de um formigueiro,
evidenciando uma população
extremamente danosa para o cultivo
de açaí.

Sauveiro
Fonte: https://www.dinagro.com.br/ciclo-biologico/

Plantas hospedeiras
O grande problema das formigas, semelhantemente ao dos gafanhotos, é sua voracidade e
sua capacidade de se alimentar de muitas plantas. Além do açaizeiro, as formigas atacam um
grande número de hospedeiros, como: fruteiras, pastagens, hortaliças, florestais, ornamentais
e medicinais.

Plantas hospedeiras das Attas Plantas hospedeiras das Attas Plantas hospedeiras das Attas sexdens
Cephalotes laevigatas sexdens
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 205

Distribuição geográfica
Alguns dados acerca da distribuição geográfica das formigas:

• São conhecidas 13.000 espécies de formigas no mundo.


• Cerca de 2.000 espécies habitam o território brasileiro.
• Destas, aproximadamente 65 são cortadeiras de folhas e cultivadoras de fungo.

Danos causados pelas formigas cortadeiras ou saúvas


As saúvas utilizam cerca de 50% das plantas próximas aos ninhos, embora prefiram as que
propiciem melhor desenvolvimento ao fungo do qual se alimentam. Isso significa que, se
existirem ninhos dentro de áreas plantadas com açaizeiro, a chance de elas os atacarem,
embora haja várias outras plantas, é igualmente grande. Todavia, existem as plantas que
são preferíveis para o cultivo do fungo.

Plantas em canteiros e viveiros são muito suscetíveis ao ataque das saúvas. As formigas
podem cortar os folíolos, causando o desfolhamento parcial ou total das mudas, assim
como o atraso no desenvolvimento das palmeiras e, em casos severos de ataque, provocam
a morte das plantas.

Dinâmica de ataque das formigas

Medidas de controle
As medidas de controle das formigas são relativamente complexas, já que são consideradas
pragas de difícil controle. As medidas se subdividem em:

Culturais:

• Movimentação do solo nos locais dos formigueiros, principalmente em sauveiros


recentes.
• Revestimento do caule com um cone de proteção (confeccionado com plástico ou
câmara de ar) a 30 cm do solo, com a parte mais larga voltada para baixo – medida
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 206

que tem dado resultados excelentes, por impedir a subida das formigas.
• Uso de garrafas de plástico (refrigerantes) para proteger plantas jovens e mudas
recém-plantadas.
• Cultivo de plantas repelentes, como batata-doce, gergelim, rim de boi e algumas
euforbiáceas, que devem ser plantadas próximas a canteiros ou viveiros.

Biológicas - Predadores

• Aves
• Tamanduás
• Tatus
• Formigas predadoras
• Besouros

Biológicas - Insetos parasitóides

• Insetos parasitóides (parasitam formas jovens)


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 207

Biológicas - Fungos entomopatogênicos

• Fungo entomopatogênico (controla as formigas, principalmente em pastagens, com


um potencial grande para açaizeiros)

Químicas

• Termonebulização
• Para insetos dentro dos ninhos

• Indicado em épocas chuvosas

• Iscas granuladas (sendo a medida mais utilizada)


• Colocadas ao longo das trilhas

• Utilizadas em épocas secas

• Exemplos: Iscas “Blitz” & “Mirex”

Não existem registros para a cultura do açaí. As medidas químicas são para a espécie de
formigas que geralmente têm associação com o solo. Porém, se forem aplicadas dentro
da área de açaizeiro, embora o produto seja específico para as formigas, podem haver
questionamentos.

2.6 Broca-do-coqueiro ou bicudo-das-


palmáceas Rhynchophorus palmarum (Coleoptera:
Curculionidae)
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 208

Não existe muito detalhamento a respeito dessa espécie nas publicações, mas é
extremamente problemática e está associada a outras palmeiras cultivadas na região
paraense, principalmente coco e dendê. No açaí, não é tão problemática. Contudo, com o
advento de plantios em larga escala, é necessário ficar atento.

Descrição, biologia e comportamento


A broca-do-coqueiro ou bicudo-das-palmáceas, do gênero Rhynchophorus palmarum, do grupo
Cleoptera e da família Curculionidae, principal praga das palmeiras, apresenta a seguinte
descrição em sua fase jovem:

• São larvas branco-leitosas, com o corpo


recurvado, anelado (13 segmentos anelares, sem
pena) e ápoda. São fáceis de identificar.
• Têm duração de 1 a 2 meses em sua forma
jovem.
• Possuem 75mm de comprimento x 25mm de
largura.
Forma jovem (larva) do bicudo-das-palmeiras
Fonte: Sánchez P., 1999.

• Suas pupas são amarelo-escuro, sendo


visíveis todos os membros no inseto adulto.
• Possuem casulos feitos de fibras de palmeira.

Forma jovem (pupa) do bicudo-das-palmeiras


Fonte: Sánchez P., 1999.

Em sua fase adulta, esse inseto apresenta as seguintes descrições:


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 209

• Cor preto-opaca e corpo aveludado.


• Possui 35-60mm de comprimento x
15-18 de largura.
• Contém bico (rostro) recurvado
e robusto, um aparato bucal bem
desenvolvido para perfurar o estipe
da palmeira.
• Os machos têm pelos rígidos e
curtos na parte superior do rostro
(“bigode”), o que facilita identificar
a sexagem entre macho e fêmea.
• É um inseto com hábito diurno Forma adulta do bicudo-das-palmeiras
(maior atividade: das 4h30 às 6h30 e
das 9h30 às 11h).
• A fêmea deposita cerca de 5 ovos/dia (250 ovos durante seu desenvolvimento).

Plantas hospedeiras
Trata-se de uma espécie que apresenta associação com as palmeiras em todo o país, por
isso o nome bicudo-das-palmáceas.

Distribuição geográfica
É o principal inseto-praga de palmeiras no mundo.

Danos causados pelo bicudo-das-palmeiras


Este inseto gera dois tipos de dano à cultura. São eles:

Danos diretos

• Alimentação e destruição dos tecidos vegetais (região apical) e formação de grandes


galerias no estipe. Em coqueiros, por exemplo, esses insetos podem provocar a
quebra do estipe. Nos açaizeiros, podem ocasionar danos ainda mais evidentes, já
que estes possuem estipe menor.
• Folhas malformadas e curtas, com porte reduzido, abortamento das flores e morte
das plantas.
• Grande número de galerias no estipe pode resultar na quebra da palmeira pelo vento.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 210

Observe a imagem que apresenta as plantas colhidas na sede de Belém e a


vulnerabilidade do estipe, que quebraria com um vento forte.

Danos indiretos

• R. palmarum é o principal vetor do nematoide Bursaphelenchus cocophilus, agente


que causa a doença anel vermelho (letal para as palmáceas). A palmeira detectada
com essa doença deve ser eliminada urgentemente da área, sob o forte risco de
contaminar novos insetos e, consequentemente, novas plantas.
• As galerias construídas pela broca servem como porta de entrada para fitopatógenos,
outros insetos herbívoros, escorpiões, aranhas etc.

Medidas de controle
Como já comentado, não existem estratégias definidas para os açaizais, já que os ataques
desses insetos “ainda” não são tão frequentes. Portanto, a seguir são apresentadas medidas
preventivas utilizadas em outras palmeiras.

Culturais

• Eliminação das plantas mortas pela ação da praga ou da doença “anel vermelho”.
• Prevenção aos ferimentos nas plantas sadias durante os tratos culturais e a colheita.
• Queima ou enterro das palmeiras erradicadas, visando evitar a atração dos besouros
para o local.
• Pincelagem dos ferimentos da planta com piche, óleo queimado ou inseticida (usado
apenas para evitar a liberação de voláteis e a atração dos insetos adultos).
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 211

Mecânicas

Coleta e destruição das larvas, pupas e adultos encontrados nas plantas mortas.

Embora seja um grande problema para as palmeiras, o bicudo-das-palmáceas é um dos


insetos mais estudado e, devido a isso, há um controle comportamental bem estabelecido
por meio de armadilhas de captura, por exemplo. Podemos observar, na imagem abaixo, as
armadilhas que contêm atrativo alimentar (plantas cortadas, como batatas, cana-de-açúcar
etc.) para a captura desse inseto.

Como mencionado, os insetos são atraídos por voláteis liberados pela planta. Então, quando
a cana-de-açúcar começa a fermentar dentro dos recipientes, ela libera algumas substâncias
e, em consequência disso, atrai o inseto, assim como os feromônios comercializados com
o objetivo de atrair o bicudo, que geralmente cai dentro dos baldes e fica aprisionado. Esse
método é o mais utilizado, pois oferece sinalizações do tamanho da população e informações
acerca de controle.

As armadilhas são do tipo: balde, pet e feixe.


Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 212

Foto de R. Tinôco

2.7 Broca-da-coroa-foliar, broca-do-cacho ou


castnia Eupalamides cyparissias cyparissias
(Lepidoptera: Castniidae)
Essa é a última espécie que merece destaque. Assim como o bicudo-das-palmáceas,
não oferece muita preocupação nesse momento, porém é válido atentar-se às medidas
preventivas.

Descrição, biologia e comportamento


Abaixo, podemos observar a descrição, a biologia e o comportamento da broca-da-coroa,
broca-do-cacho ou, simplesmente, castnia (como é chamada no Pará), da espécie Eupalamides
cyparissias cyparissias, do grupo Lepidoptera e da família Castniidae.

• Os ovos são fusiformes, com


extremidades afinadas e 5 estrias
longitudinais (PI = 16 a 18 dias),
parecidos com grãos de arroz.
• Possuem capacidade reprodutiva
de 200-500 ovos por fêmea (base do
pecíolo).
Ovos fusiformes
Foto de Walkymário P. Lemos
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 213

• As lagartas são branco-leitosas, com a


cabeça castanho-brilhante e esclerotizada.
• Seu comprimento varia entre 11cm e
13cm. É um inseto muito grande, que foge
do padrão morfológico de boa parte dos
insetos, sendo pouco desenvolvido do
ponto de vista evolutivo.
• Seu ciclo de vida é de 144 a 403 dias
(média de 252 dias).

Lagartas branco-leitosas, que apresentam cabeça castanho


brilhante e esclerotizada
Foto de Walkymário P. Lemos

• Possuem pupas castanho-escuro (64


mm a 95 mm de comprimento).
• Contêm um casulo marrom-escuro de
fibras de palmeiras compactadas.

Casulo marrom-escuro de fibras de palmeiras compactadas


Foto de R. Tinôco

• As mariposas têm cerca de 17cm a


20,5cm de comprimento de envergadura.
• Têm cor marrom-escuro, com fileiras
de pontos brancos no contorno das asas
posteriores.
Mariposa na cor marrom-escuro, com fileiras de pontos
brancos no contorno das asas posteriores • Possuem hábito diurno (maior
Fotos: R. Tinôco e L.A. Souza
atividade: das 6h às 6h15 e das 18h às
18h15).
• Os adultos são exageradamente grandes e, por vezes, são confundidos com morcegos
quando na atividade de voo.

Plantas hospedeiras
Trata-se de uma espécie que apresenta associação com todas as palmeiras.

Distribuição geográfica
É um inseto que apresenta associação com palmeiras na Venezuela, Suriname, Guiana,
Panamá, Equador, Peru e Brasil (Norte). Geralmente, a broca-da-coroa ataca palmeiras a
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 214

partir de 2,5 anos de idade e estipes completamente desenvolvidas.

Danos causados pela castnia


O grande tamanho das lagartas provoca danos severos, dispostos a seguir.

Danos diretos

• Atacam o estipe junto à coroa, nas bases foliares e nos pedúnculos dos cachos,
reduzindo o tamanho e a produção de frutos.
• Provocam a morte de palmeiras quando a lagarta atinge a região meristemática.
• Constroem galerias grandes, danificando os tecidos vegetais e impedindo a
circulação de nutrientes para as folhas, flores e frutos.
• Causam o escurecimento do estipe, pela oxidação da seiva.
• Levam à diminuição do tamanho das folhas, provocando a redução no número de
inflorescências e frutos.

Danos indiretos

• Devido à fermentação das galerias, o besouro R. palmarum é atraído e pode causar


danos à palmeira.
• As galerias construídas por E. c. cyparissias servem como porta entrada para
fitopatógenos e insetos herbívoros.

Medidas de controle
Recomendam-se, com ajustes, as mesmas medidas de controle empregadas nas culturas
do coco e do dendê.

• Culturais: controle de folhas


• Mecânicas: eliminação de espécies em plantas já definitivamente confirmadas.
• Biológicas: controle por meio de predadores naturais, parasitoides e
entomopatógenos (fungos nematóides).

Algumas empresas no mercado trabalham com o controle alternativo


de pragas oferecendo produtos biológicos.
Módulo 5 - Estratégias de manejo e controle de insetos-praga 215

Os insetos, como você viu anteriormente, são fatores que


comprometem o cultivo de açaí no Brasil.

Assim como em qualquer cultivo, a prevenção é a melhor


estratégia para evitar prejuízos provocados pelas pragas. Portanto,
o monitoramento das áreas de plantio, associado à adoção de
estratégias integradas de controle resulta na redução e/ou mitigação
de problemas com pragas.

Para saber mais sobre este assunto incentivo você a ler o livro que
será indicado a seguir.

Recomendamos a leitura do livro “Pragas


agrícolas e florestais na Amazônia”, da
Embrapa (2016). Dos 60 autores do livro,
quatro são pesquisadores do laboratório de
Entomologia da Embrapa Amazônia Oriental.
A obra é dividida em seis partes: pragas de
frutíferas; pragas de grandes culturas; pragas
florestais; pragas quarentenárias; pragas
gerais e parasitoides de ovos. Pesquisadores da
Unidade participam de 15 dos 30 capítulos do
livro.

Chegamos ao final do Módulo 5. Nele você conheceu as principais


espécies de insetos-praga, os fatores que favorecem o aparecimento
dessas espécies em açaizeiros, bem como a sua influência nesses
organismos, e as estratégias de monitoramento e controle.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 216

Módulo 6
Autores: Márcio Siqueira Moura e Rafaella de Andrade Mattietto

Este é sexto e último módulo do curso Manejo da cultura do açaí em terra firme: da semente
à pós-colheita e ao processamento.

Chegou a hora de você conhecer os métodos práticos de colheita, pós-colheita, transporte


e processamento do açaí.

Para isso, este módulo está dividido em duas unidades.

• Na Unidade 1 você vai conhecer os materiais e equipamentos de colheita e


acondicionamento.
• E na Unidade 2 você vai conhecer os métodos de processamento artesanal e
agroindustrial do açaí.
Ao final deste módulo, espera-se que você seja capaz de implementar os métodos práticos de
colheita utilizados em campo para melhoria da qualidade do fruto, bem como compreender
o seu processamento.

Desde já parabenizamos você por ter chegado até aqui e desejamos um ótimo estudo!
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 217

Unidade 1 - Colheita, pós-colheita e


transporte

O açaizeiro, palmeira tipicamente tropical, é encontrado em estado silvestre em matas de


terra firme, várzea e igapó de toda a Amazônia.

Para realizar a colheita, a pós-colheita e o transporte dos frutos de forma adequada e segura,
é necessário que sejam seguidas algumas recomendações:

Manuseio Métodos
Conhecer e saber manusear os Utilizar métodos de colheita, lim-
materiais e equipamentos de col- peza, acondicionamento e trans-
heita e acondicionamento. porte dos frutos.

Kit de segurança

Nesta imagem você confere itens do kit de


segurança, uma vez que existem diversos
riscos aos quais os extrativistas estão
expostos em razão do aumento do consumo
regional, nacional e internacional do açaí.

Acessórios para evitar acidentes

N e s t a i m a g e m vo c ê c o n fe re a lg u n s
acessórios que são imprescindíveis para
evitar acidentes no local de trabalho e
oferecer maior segurança aos peconheiros.

Acessórios para garantir a qualidade

E nesta imagem você confere alguns


acessórios que são imprescindíveis para
garantir a qualidade da produção.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 218

1.1 Métodos de colheita, limpeza, acondiciona-


mento e transporte dos frutos
No momento da colheita, é necessário observar o grau de maturação dos cachos, pois estes
devem apresentar coloração roxo-escura e estar cobertos por uma película esbranquiçada.
Para isso, faz-se o uso de binóculo.

Quando o açaizeiro é muito alto, não é possível


identificar se ele está maduro devido ao reflexo
proveniente da luz do sol. Assim, o binóculo é um
equipamento muito importante a ser utilizado pelo
peconheiro com o propósito de evitar escaladas
desnecessárias.

Observação do açaizeiro com binóculo


Fonte: Márcio Siqueira Moura

Pode-se realizar um percurso na colheita a cada 15 dias, com o uso


de binóculos, para verificar os açaizeiros que estão aptos para serem
colhidos. Em terra firme, é recomendado que o próprio produtor faça
essa estimativa. Caso o cacho esteja tuíra (ponto certo para colher e
extrair o açaí), o produtor pode direcionar o apanhador para fazer o
colhimento no próximo dia.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 219

E como é realizada a colheita?


Você confere isso no trecho da palestra on-line do técnico Márcio Siqueira Moura, na qual
ele também fala sobre os tipos de apanhador e o qual o mais usado pelos apanhadores na
região do Pará.

É impreterível afirmar que, durante a colheita, deve-se evitar


movimentos bruscos nos cachos para que não haja desperdícios dos
frutos.

Para a pós-colheita, são necessárias algumas ações com o propósito de entregar um produto
íntegro ao processador:

• Colocar os cachos coletados em cima de uma lona plástica e/ou carro de mão para
debulha.
• Não entrar em contato com os frutos sem colocar as luvas e não os deixar entrar em
contato direto com o solo para evitar contaminações.
• Limpar o ambiente e deixá-lo livre do acesso a animais e crianças.

Procedimentos para a pós-colheita


Fonte: Boas práticas de manejo, comercialização e beneficiamento dos frutos de açaí, WWF-
Brasil, 2014
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 220

Ademais, no acondicionamento, o local de pré-


armazenamento dos frutos, antes do transporte para
os processadores, precisa ser exclusivo para o açaí,
devendo ser evitada a mistura com qualquer tipo de
material que possa contaminar a produção.

Ao realizar a debulha (limpeza básica com retirada


Acondicionamento dos frutos
de talos e folhas) e retirar os frutos de cima da lona,
Foto: Márcio Siqueira Moura é necessário transportá-los por meio de caixas até
o local de realização da limpeza.

O separador de impurezas é um equipamento que


serve para a pré-limpeza presente em indústrias e
batedeiras.
Separador de impurezas
Foto: Márcio Siqueira Moura

Para o transporte dos frutos, algumas recomendações se fazem necessárias.

• Condições de transporte: Verificar se o transporte está em boas condições antes da


viagem.
• Limpeza do veículo: Limpar o veículo depois de cada atividade e antes de levar os
frutos ao centro de processamento para não haver contaminação.

Limpeza do veículo para transporte de frutos


Fonte: Boas práticas de manejo, comercialização e
beneficiamento dos frutos de açaí,
WWF- Brasil, 2014
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 221

• Carga do transporte: Obedecer à carga limite do transporte para não haver risco de
danos ou acidentes.
• Substâncias contaminantes: Não transportar os frutos com outros materiais ou
substâncias contaminantes, como combustíveis, agrotóxicos, adubos etc.
• Proteção da carga: Cobrir a carga de açaí transportada para evitar contaminação.

Transporte com carga coberta.


Fonte: Boas práticas de manejo, comercialização e beneficiamento dos frutos de açaí,
WWF- Brasil, 2014

• Embarque e desembarque: Tomar cuidado na hora de embarque e desembarque do


produto para não provocar acidentes ou causar desperdícios.

Cuidados no embarque e desembarque


Fonte: Márcio Siqueira Moura

• Acondicionamento das caixas: Recomendar a base de polietileno (estrado) com a


finalidade de melhor acondicionar as caixas.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 222

Uso de base de polietileno (estrado) evitando contaminação


Fonte: Márcio Siqueira Moura

Note que todas as especificações dadas anteriormente são essenciais aos produtores, pois
impactam fortemente na qualidade final do produto, o qual receberá a seguinte classificação
para controle: tipo A (boa qualidade) e tipo B (qualidade inferior ou desclassificado).

A diferença entre esses dois tipos é alta no que se refere a preços (quase 35%), valor este
que poderia não ser descontado do produtor caso ele tivesse tomado cuidados básicos na
colheita, na pós-colheita e no transporte - desde o campo até a agroindústria. No momento
da seleção de frutos, as caixas são separadas por classificação de qualidade. Algumas já são
descartadas caso haja problemas detectados.

Se houver descumprimento de quaisquer das


recomendações apresentadas anteriormente,
corre-se um risco grande de se perder toda a
produção. Portanto, atente-se!
Para verificar a qualidade do açaí e reforçar as boas práticas de manuseio são realizadas
diversas reuniões e visitas ao campo. Durante essas visitas, os colhedores são orientados
para que entreguem produtos de qualidade Tipo A. Entre as orientações está o monitoramento
com binóculo, pois evita a colheita de frutos que não estão em boas condições. Equipamentos
como binóculo e apanhador são fundamentais para a prática da colheita e entrega dos
produtos com qualidade garantida.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 223

No que concerne aos apanhadores, quando se usa o


equipamento mostrado na imagem ao lado, foram
realizados cálculos e, na medida em que são
manuseados corretamente, evita-se o desperdício de
praticamente 30 a 50 gramas por cacho.

Tipo de apanhador mais usado na região do


Pará
Fonte: Márcio Siqueira Moura

Já quando se usa os equipamentos mostrados


nesta imagem, o qual favorece movimentos
bruscos, perde-se aproximadamente 100
gramas de fruto por cacho. Se for tomado por
base um hectare com 400 plantas com perda
de 100 a 120 gramas, o prejuízo é grande.
Além disso, caso uma caixa seja vendida pelo
valor de R$200,00, e por falta de controle de
qualidade no processo haja a perda de 35% na
seleção, este valor cairá para R$130,00.

Fonte: Márcio Siqueira Moura


Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 224

De 9 até 12 metros de altura da planta,


recomenda-se ao produtor realizar o manejo
com o corte do palmito para a venda e
deixando rebrotar o perfilho, ou orientando-o a
fazer o replantio.
Em resumo, os extensionistas trabalham diretamente com os colhedores para evitar
tais adversidades tanto ao produtor, que recebe o recibo de qualidade tipo A, quanto às
agroindústrias, que recebem um produto final de excelência.

Unidade 2 - Processamento artesanal e


agroindustrial do açaí

Para melhor compreender o processamento do açaí, é importante conhecer o contexto de


sua produção e comercialização, explicado a seguir.

Como já bem discutido ao longo do nosso estudo, o açaí é nativo da Amazônia, alimento
das populações ribeirinhas nativas e cultural do Estado. Já faz alguns anos que este fruto
ganhou o Brasil e o mundo e o seu consumo na região sudeste, por exemplo, é misturado
com uma diversidade de frutas, farinhas, granola etc., o que não é usual para o paraense,
causando-lhe, por vezes, certo estranhamento. Contudo, esta é uma tendência no mercado
de alimentos: seguem os hábitos da região em que está sendo consumido.

Desse modo, pelo potencial de sabor e de composição, o açaí ganhou destaque no mercado
interno, bem como no externo, principalmente com produtos processados.

A título de exemplificação, no Pará obteve-se notoriedade quanto ao açaí artesanal, em que


a maioria dos participantes do processo são provenientes do Estado.

Normalmente, no período da entressafra (período que vai de janeiro a julho), há uma queda
considerável na produção do açaí, ocasionando escassez e grande disputa entre os pequenos
beneficiários e o mercado agroindustrial. Este último, por sua vez, tem grande potencial de
barganha e acaba avançando no embate pela aquisição do fruto. Isso se reflete no fechamento
de batedores, no aumento do preço e na perda de qualidade. Nesse contexto, os batedores
começaram a reivindicar por políticas públicas.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 225

Posto isso, a demanda pelo açaí e a sua produção aumentam anualmente, porém, em dif
erentes proporções. Observa-se que a conta não fecha, reverberando na necessidade de
aumentar a produção de frutos. E, enquanto isso não ocorrer, sempre haverá o embate entre
essas duas vertentes de processamento.

E então, como processar o açaí?

Como se sabe, o açaí é um fruto extremamente perecível. Assim, é impreterível conhecer


os princípios básicos a respeito da conservação do alimento.

2.1 Conservação de alimentos


É importante conhecer alguns itens para a conservação de alimentos, quais sejam:

• Fatores intrínsecos da matéria-prima.


• Fatores extrínsecos do ambiente.
• Microbiologia e enzimologia avançadas.
• Otimização de embalagens.
• Sistemas de qualidade: boas práticas agrícolas aliadas às boas práticas de
fabricação.
• Análise de pontos e perigos críticos de controle (APPCC).

Essa soma de medidas favorece a produção de qualidade inócua, ou seja, própria para o
consumo adequado.

O infográfico abaixo demonstra como o açaí pode ser contaminado:


Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 226

• Por microrganismos

Seres vivos que não são visíveis a olho nu (bactérias, leveduras, bolores ainda sem formação
de colônias visíveis, vírus, protozoários) que podem causar deterioração do açaí e também
comprometer a saíde do consumidor quando forem patogênicos, transmitindo, assim,
doenças como infecção intoxiçação ou toxinfecção.

• Por Enzimas

Causam deterioaração no fruto, modificação de cor, textura, etc. Além das modificações
causadas por enzimas e microrganismos, o açaí está sujeito a reações químicas que
abrangem todo o processo de obtenção da polpa, desde sua pós colheita, até o processamento
em si. Todo alimento é um sistema químico complexo e que pode reagir até mesmo com
equipamentos de mateiral inadequado, por exemplo. Dessa forma, cabe aos profissionais
da área de tecnologia de alimentos (processamento) saberem como controlar o processo
como um todo.

Conheça os pontos fundamentais para o controle neste vídeo.


Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 227

2.2 Relação da capacidade de sobrevivência ou


multiplicação de microrganismos

Fatores intrínsecos: que estão presentes no fruto


A partir de agora serão evidenciadas informações pertinentes para a prevenção da
contaminação do açaí. Um dos primeiros fatores intrínsecos é relacionado ao pH. Dentro
da área de alimentos, ele serve como uma classificação de acidez.

Na imagem acima podemos ver o leite, a carne e o açaí, produtos com pH alto (superior a
4,5), os quais são classificados pela área de tecnologia de alimentos como classe de baixa
acidez, tornando-os potenciais para o crescimento de microrganismos patogênicos (aqueles
que causam danos à saúde) e deteriorantes (aqueles que estragam o produto).

Outro ponto importante é referente ao conteúdo de nutrientes presentes no alimento, como


água, carboidratos, fonte de nitrogênio, vitaminas, sais minerais. Sobreleva-se, portanto, que
os microrganismos necessitam desses nutrientes para se manterem e se multiplicarem. E,
em relação às exigências, tem-se que as bactérias são mais exigentes do que as leveduras,
e estas últimas, por conseguinte, são mais que os bolores.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 228

No Estado do Pará, que é extremamente úmido, a proliferação de


fungos é bem característica. Assim, existe uma ordem em relação aos
microrganismos e a exigência dos nutrientes.
E o que tudo isso significa?
Um equipamento mal lavado dentro de uma batedeira de açaí ou de
uma agroindústria significa alimentação para os microrganismos. Por
isso é tão importante realizar a limpeza de modo eficaz para que se
consiga atuar na prevenção e não deixar o alimento ser contaminado.

Dentro da composição do açaí, um fruto extremamente energético, existe uma infinidade de


nutrientes, como lipídeos (composto de ácidos graxos benéficos a saúde), proteínas, fibras
(valores de até 35% de matéria seca - MS), antocianinas, outros compostos fenólicos, vitamina
E e muitos minerais (cálcio, magnésio, potássio, fósforo, zinco, sódio, cobre e ferro). Assim,
pela sua boa qualidade nutricional e, principalmente, elevado poder antioxidante, o açaí
ficou conhecido como superalimento (superfruta) no exterior.

COMPOSIÇÃO DO AÇAÍ
Altamente Fonte de Poder Minerais
energético fibras antioxidante presentes
• Lipídios • Até 35% • Antocianinas: • Cálcio: 286 a 810
(variando de MS 50 mg até mais mg/100g
28 a 62% MS) de 1 g/100 g
• Magnésio: 174 a 390
• Proteínas • Compostos mg/100g
(variando de 4 fenólicos
• Potássio: 380 a 935
a 18% MS) totais: até 2.500
mg/100g
mg/100g
• Fósforo: 120 a 125
• Vitamina E: 50
mg/100g
mg/100g
• Zinco: 1,78 a 7 mg/100g
• Sódio: 56 a 339
mg/100g
• Cobre: 0,21 a 1,70
mg/100g
• Ferro de 1,50 a 17
MS: Matéria Seca mg/100g
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 229

Antocianinas e compostos fenólicos, conhecidos por


bioativos, vêm sendo estudados e novas fontes alimentícias
com a presença deles são muito procuradas ao longo da
última década, sendo, portanto, altamente valorizados pelo
mercado consumidor. Em razão disso, aumentaram-se a
demanda e a produção do fruto.

A imagem a seguir demonstra os resultados de pesquisas realizadas na Embrapa e a


variabilidade genética do açaí.

No gráfico é possível observar o teor de antocianinas totais (mg/100g) e o teor de fenóis totais
(mg AGE/100g) em plantas de açaizeiro existentes no Banco Ativo de Germoplasma do CPATU
(Embrapa Amazônia Oriental) e pode-se examinar a variação presente nelas, com algumas
plantas se sobressaindo com maiores teores destes bioativos. Essa caracterização do fruto
ajuda demasiadamente na questão do melhoramento genético, na identificação de plantas
superiores e de genótipos que podem lançar uma cultivar com maior apelo antioxidante.

Por meio dos gráficos, também é possível verificar que algumas plantas se destacam no que
se refere à antocianinas e aos fenóis. A caracterização do fruto ajuda demasiadamente na
questão do melhoramento genético, na identificação de plantas superiores e de genótipos
que podem lançar uma cultivar.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 230

À vista disso, o açaí comprado na feira pode apresentar uma composição bem variável a
depender do dia, da época do ano etc. Não somente a questão genética como também a forma
de cultivo, o manejo, o clima, dentre outros, são fatores agronômicos preponderantes que
afetarão a composição química da matéria-prima.

Sobreleva-se a necessidade de se colher o


açaí em um estádio de maturação adequado,
caso contrário ele poderá apresentar uma
composição diferente.

Confira o vídeo que apresenta os tipos de maturação do açaí.

Abordamos sobre a composição do açaí, fatores internos do alimento que influenciam no


processamento. A partir de agora falaremos de outro fator intrínseco: a atividade de água
(Aw), parâmetro medido em laboratório que demonstra a possibilidade de crescimento e
multiplicação dos microrganimos, das reações enzimáticas e químicas.

Decerto, o processamento do açaí envolve a água e sua polpa apresenta uma atividade de
água muito elevada. Isto é, para o crescimento microbiano, a tabela ao lado (clássica na área
de tecnologia de alimentos) demonstra a atividade de água mínima para o crescimento
daqueles microrganismos.

Considere: 0 a 1 = valor absoluto que indica o teor de água livre no alimento.

Valores mínimos de Aw para o desenvolvimento microbiano a 25ºC

Grupo Microbiano Aw
Maioria das bactérias 0,91-0,88
Maioria das leveduras 0,88
Maioria dos bolores 0,80
Bactérias halófilas 0,75
Bactérias xerotolerantes 0,71
Bolores xerófilos e leveduras
0,62-0,60
osmófilas
Fonte: Farkas (1997)
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 231

Fatores extrínsecos: que são externos ao fruto


Para os fatores externos, o fator ambiental que mais afeta a multiplicação de microrganismos
é a temperatura. A tabela abaixo mostra os microrganismos capazes de suportar uma
temperatura maior, bem como aqueles que são mais sensíveis e são destruídos até mesmo
em temperaturas mais amenas.

Temperatura (ºC)

GRUPO
MÍNIMA ÓTIMA MÁXIMA
MICROBIANO
Termófilos 40-45 55-75 60-90
Mesófilos 5-15 30-45 35-47
Psicrófilos -5-+5 12-15 15-20
Psicrotróficos -5-+5 25-30 30-35

A temperatura ideal para a maioria dos patogênicos é 35º C, presente


no Estado praticamente todo o ano. Desse modo, torna-se fácil o
favorecimento e a multiplicação de microrganismos. Além do mais, ela
norteia quais grupos podem ter maior crescimento naquelas condições.

Outro fator muito importante para o Estado do Pará é a umidade relativa (UR). Existe uma
correlação entre este fator e a quantidade de água no alimento, livre para o microrganismo
usar e se multiplicar.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 232

Como se sabe, a Amazônia é muito úmida. Então vejamos um exemplo


prático: imagine um açaí em pó, que não é embalado de forma
adequada e fica exposto por uma semana. Certamente, ele ficará
empedrado devido às trocas entre as relações de atividade de água e a
umidade relativa do ambiente. Por isso, é extremamente importante
ter sistemas de embalagem para proteger tais reações.

Em relação à composição do ambiente, no ar existe oxigênio e, em razão disso, também


acontecem reações. Portanto, se um açaí é deixado fora da geladeira e não é consumido
imediatamente, depois de um tempo, ele vai adquirindo uma cor amarronzada, causada pela
presença deste elemento. O mesmo acontece com frutas, como maçã, banana, entre outras,
que apresentam escurecimento caso sejam esquecidas no ambiente quando cortadas. Estas
são reações que não acontecem somente pela presença de oxigênio, mas também de enzimas.

Sinteticamente, o açaí é um grande desafio


tecnológico.
No trecho da palestra on-line da pesquisadora Rafaella de Andrade Mattietto, ela explica
melhor sobre isso. Confira a seguir.

2.3 Etapas de processamento em duas


vertentes: batedores artesanais e
agroindustriais
Veremos as etapas de processamento em duas vertentes: os batedores artesanais e as
agroindústrias, ambas presentes no Estado do Pará.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 233

Cabe ressaltar que, para cada tipo de produto, existe uma tecnologia. Assim, este estudo
não cessará o assunto de processamento do açaí, dado que ele é bastante vasto. Vamos nos
concentrar, então, na obtenção da polpa.

A princípio, não há de se falar de processamento sem antes adentrar na legislação. As


boas práticas, seja para montar um estabelecimento de açaí, seja para conhecer a parte
de manipuladores, entre diversos outros temas relevantes, são amplamente redigidas e
divulgadas em normas, leis, informes técnicos, os quais são atualizadas frequentemente.

A seguir estão algumas legislações


recomendadas para leitura e conhecimento.
• Portaria nº 326 da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) do MS de 1997.
• Portaria nº 368 do MAPA de 1997: Boas: Boas Práticas de Fabricação (BPF)
e as condições higiênico-sanitárias para estabelecimentos elaboradores/
industrializadores de alimentos destinados ao consumo humano.
• RDC nº 275 da ANVISA de 2002: dispõe sobre os procedimentos operacionais
padronizados e a lista de verificação das Boas Práticas de Fabricação em
estabelecimentos produtores/industrializadores de alimentos.
• Portaria nº 1428 do MS de 2013: determina que os estabelecimentos relacionados
à área de alimentos adotem próprias BPF, programas de qualidade, e atendam aos
Padrão de Identidade e Qualidade (PIQ) para produtos na área de alimentos.
• Portaria nº 3672 da ADEPARA de 2014: dispõe sobre a Habilitação Sanitária do
estabelecimento agroindustrial rural tipo Agricultura Familiar no Estado e dá outras
providências.
• Informe Técnico nº 35 da ANVISA de 2008: Gerenciamento do Risco Sanitário na
Transmissão de Doença de Chagas Aguda por Alimentos.
• Instrução Normativa nº 37 do MAPA de 2018. Anexo II, Item 6 - Regulamento técnico
para fixação dos Padrões de Identidade e qualidade para a polpa de açaí.
• Açaí* (não inferior a 8% de ST)
• Açaí clarificado (não inferior a 20% de ST)
• Açaí desidratado (não inferior a 96% de ST) Fonte: MAPA, 2018

*Parâmetros para açaí Mínimo Máximo


pH 4 6.2
Acidez (%) --- 3,2
Açúcares (g/100 MS) --- 6
Proteínas (g/100 MS) 7 ---
Polifenóis Totais (g/100 MS) 1,80
Antocianinas Totais (g/100 MS) 0,44
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 234

• Decreto nº 326, de 20 de janeiro 2012, do Governo do Estado do Pará: estabelece


regras para cadastramento dos batedores artesanais de açaí e bacaba; padrões para
instalações, materiais, máquinas e equipamentos; condições higiênico-sanitárias e
boas práticas de processamento, e atividades de inspeção e fiscalização.
• Em 2014 o Governo do Estado do Pará elaborou e implementou o selo de qualidade
“Açaí Bom”, o qual certifica que o estabelecimento segue, efetivamente, o que está
disposto no Decreto nº 326, de 2012. A iniciativa conta com a parceria da Prefeitura
Municipal de Belém (Devisa/Sesma) – Casa do Açaí, Secretaria Municipal de
Economia e Associação dos Vendedores Artesanais de Açaí de Belém (AVABEL). Em
2020 havia 138 estabelecimentos com o selo.

Confira outro trecho da palestra on-line do pesquisadora Rafaella de Andrade Mattietto na


qual ela fala sobre as etapas do processamento de açaí.

Conforme foi falado no vídeo acima, a diferença do processamento artesanal (batedores)


para o industrial é que o primeiro não faz pasteurização. Confira, agora, as etapas de
processamento artesanal e industrial.

• Branqueamento
• Batedores e algumas agroindústrias que não utilizam pasteurização;
• Processo que usa temperatura para inativar enzimas presentes em alimentos e
reduzir a contaminação microbiológica;
• No caso específico do açaí, este processo vem sendo utilizado para reduzir os
riscos do Trypanosoma cruzi, sendo uma obrigatoriedade em estabelecimentos
artesanais;
• Para o açaí, recomenda-se a imersão em água aquecida, na temperatura de
80ºC e permanência por 10 segundos, já que a maioria dos microrganismos
abordados morrem na temperatura de 60ºC.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 235

Temperatura e tempo devem ser rigorosamente atingidos!

Na imagem temos um branqueador


Foto: Valéria Bezerra

• Resfriamento e amolecimento
• Frutos vindos de branqueamento: etapa visa ao resfriamento por imersão total
em água potável fria para o rápido arrefecimento;
• Temperatura ambiente por 2 minutos: (estudo realizado pela Embrapa Amapá);
• Tempo de imersão: depende também da necessidade de amolecimento do fruto.

Na imagem temos o resfriamento e amolecimento dos


frutos
Foto: Rafaella Mattietto
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 236

• Despolpamento
• A extração da polpa é realizada em equipamentos elétricos (despolpadores
verticais, frequentemente dispostos em série);
• Utiliza-se água potável no processo e sua quantidade depende do tipo de
produto a ser elaborado, de acordo com a demanda de clientes e/ou legislação
(PIQ açaí);
• Caroços e borra retirados por saída lateral = resíduos/coprodutos.

Fotos: Rafaella Mattietto

• Envase
Artesanal
• Embalagens plásticas de 500ml e 1 litro;
• Envase manual;
• Risco de contaminação (BPF essencial), cuidado com a higiene das mãos;
• Venda para consumo direto (excedente pode ser mantido entre 4 a 7ºC por, no
máximo, 24 horas – Decreto 326, 2012).

• Industrial
• Diferentes tipos de embalagens (tambores de diferentes capacidades,
embalagens plásticas de diferentes capacidades);
• Envase geralmente automatizado, de modo que a polpa é direcionada por meio
de tubulações para as dosadoras;
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 237

Cuidado com a recontaminação ou falhas de recravação/selagem!

Fotos: Rafaella Mattietto

• Pasteurização (Industrial)
Enquanto os batedores artesanais fazem um branqueamento antes de despolpar,
a agroindústria primeiramente despolpa e pasteuriza, apenas invertendo a ordem
das etapas de tratamento térmico. A temperatura não ultrapassa 100ºC (variável).
Exemplos:
• HTST: 72-75ºC por 15 a 20 segundos;
• LTLT: 60-65ºC por 30 minutos;
• Leite para iogurte: 80-85ºC por 15-20 minutos.

PCC (Ponto Crítico de Controle)


Fotos: Rafaella Mattietto
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 238

• Congelamento e estocagem (Industrial)


• Imediatamente após o envase: os produtos são levados às câmaras de
congelamento a -40ºC ou túneis de congelamento;
• Importante atingir -18ºC em até 6 horas;
• Após congelamento total: são transferidos e mantidos a -18ºC.

Fotos: Rafaella Mattietto

Pasteurização do açaí
Normalmente, a pasteurização no açaí é realizada com a temperatura de, no mínimo, 80 a 90ºC
por 10 segundos em pasteurizadores do tipo tubular, nos quais a polpa, após o aquecimento,
é imediatamente resfriada no próprio equipamento, saindo com uma temperatura média
inferior a 20ºC.

Os objetivos da pasteurização são:

Pasteurizadores do tipo tubular


Fotos: Rafaella Mattietto

• Eliminar patógenos (forma vegetativas).


• Reduzir microbiota em geral (células vegetativas).
• Inativar enzimas.
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 239

As enzimas e o calor:

• Poligalacturonase (PG): 100ºC/15seg.


• Pectinesterase (PEC): inativada a 82ºC/15seg.
• Polifenoloxidase (PPO): inativada a 70 a 90ºC por curto período.
• Peroxidases (PE): 90-100 ºC/3 minutos – é uma enzima mais difícil de ser inativada,
nem a pasteurização é capaz de fazê-la. Assim, o açaí pasteurizado ainda
necessitará de processos de conservação adicionais.

A pasteurização requer método de conservação


adicional na maioria das vezes. Exemplos: leite +
refrigeração; polpa de açaí + congelamento.

Deve-se ter um RIGOROSO CONTROLE no binômio de processo! Caso


haja falha na pasteurização, corre-se o risco de perder todo o processo.

Neste outro trecho de sua palestra on-line, a pesquisadora Rafaella de Andrade Mattietto
fala mais sobre a importância da pasteurização.

Processamentos para além da polpa congelada


Há uma infinidade de processamentos do açaí. Como exemplos estão:

• Linha industrial para bebidas.


• Linha industrial para sorvetes/gelados.
• Produtos desidratados.
• Produtos concentrados.
• Utilização de processos de conservação não convencionais (alta pressão,
esterilização a frio, processo asséptico – mas com custos elevados).
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 240

Veja, ainda, alguns produtos com açaí no


mercado potencial, principalmente no
internacional. O açaí ganhou o mundo!
Módulo 6 - Colheita, pós-colheita, transporte e processamento do açaí 241

Chegamos ao final do Módulo 6. Nele você conheceu os métodos


práticos de colheita utilizados em campo para melhoria da qualidade
do fruto, bem como os tipos e as etapas de processamento do açaí.
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