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A diversidade é a realidade da vida de todos nós. É a própria
essência de nossa sobrevivência planetária. Organicamente, a
sobrevivência humana como espécie depende da interdepen-
dência de todas as vidas. O pensamento fundamentalista que dá
suporte à cultura dominadora nega essa verdade,
socializando
cidadãos para acreditar que a segurança reside em defender a
tirania dessa mesma cultura, em proteger a homogeneidade.
Descrevendo as intenções do modelo dominador em O poder
du parceria, Riane Eisler escreve: "Famílias e sociedades são
baseadas em um controle explícita ou implicitamente apoiado
na culpa, no medo e na força. O mundo é dividido em gmpos de
dentro e grupos de fora, e aqueles que são diferentes são consi-
derados inimigos a serem conquistados ou destruídos". Quando
adiversidade se tornou uma palavra da moda para a inclusão
da diferença no mundo acadêmico e no mercado de trabalho,
foi apresentada como um conceito bastante benigno, outra
versão do mito da nossa nação como um genuíno caldeirão em
que as diferenças se encontram e convergem. Esse
conceito de
diversidade tem imperado na maioria dos ambientes institu-
cionais desde escolas de ensino fundamental, faculdades e
universidades até o mundo corporativo.
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Pense por um momento nos alunos do ensino fundamental
aprendendo que Colombo navegou pelo oceano azul e foi sau-
dado por indígenas que ficaram felizes em dar as boas-vindas
a colonos brancos. Nessa versão da diversidade, o centro do
patriarcado supremacista branco capitalista imperialista, tal
como construído pela cultura dominante, permanece intac-
to; inserir a diferença não altera a construção central. Outro
exemplo, e talvez mais pertinente para essa discussão, é a elei-
ção do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Muitos
cidadãos veem essa mudança como um triunfo da diversidade.
No entanto, ao longo de seu mandato, muitas das decisões
sancionadas por esse presidente negro não parecem diferentes
das de um presidente branco cristão liberal. Muito do sucesso
dessa presidência se deve ao fato de que sua temida diferen-
ça, na verdade, não foi tão diferente. Para várias pessoas isso
representa um triunfo para a diversidade. Aquelas que refletem
um pouco mais percebem aí apenas um verniz ou maquiagem
da diferença, que cria uma mudança enquanto o centro per-
manece o mesmo. Hoje é comumente aceita a noção de que?
diversidade é vital para habitar uma vila global, na qual a dife-
rença seja verdadeiramente a norma. Essa aceitação é um sinal
de progresso. Contudo, como muitos cidadãos não demorama
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pensamento e na prática, que pouco a pouco transformará os
mundos que habitamos.
A diversidade não teve nem pode ter significados transfor-
"madores relevantes em qualquer mundo onde a supremacia
branca permaneça a base subjacente do pensamento e da prá-
tica. Uma grande maioria de pessoas brancas não esclarecidas
acredita que a mera presença da "diferença" mudará o teor das
instituições. E, ainda que não se possa negar seu poder positivo,
a representação por si só não é suficiente para favorecer a diver-
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Projetar a culpa e pedir vingança era um aspecto dos movi-
mentos militantes black power que realmente fracassaram em
sustentar o clima de desaprendizado do racismo outrora forjado
pela luta antirracista não violenta, Como resultado da rebelião
dosanos 1960, quanto mais as pessoas negras eram encorajadas
a expressar sua raiva, "culpando" todos os brancos pela
explo-
ração e pela dominação raciais e refutando qualquer noção de
perdão, mais um senso internalizado de vitimização se tornava a
norma. Em comparação a outros momentos históricos similares,
quando a agressão da supremacia branca era mais ameaçadora
*
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simplesmente superar essa questão?". Além disso, uma política
de responsabilização enfatizaria que todas as pessoas brancas
se beneficiam dos privilégios advindos da exploração racista do
passado e do presente, e, portanto, são responsáveis por alterar
e transformar a supremacia branca eo racismo.
A responsabilidade é umconceito mais abrangente, por-
que abre um campo de possibilidades em que somos todos
obrigados a ir além da culpa e entender de que modo somos
responsáveis. Ao perceber nitidamente que vivemos dentro de
uma cultura dominadora do patriarcado supremacista branco
capitalista imperialista, sou compelida a localizar minha res-
ponsabilidade. Em algumas circunstâncias, estou mais próxima
de me tornar vítima de algum aspecto desse sistema; em outras,
estou em posição para ser a opressora. Se eu reivindicar somen-
te aqueles aspectos do sistema que me definem como oprimida
e alguma outra pessoa como meu opressor, então continuo
a não ter a visão do todo. Qualquer esforço que possa fazer
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os machos como bandidos e as fêmeas como mocinhas. Tal
pensamento levou até mesmo muitas mulheres brancas a ver o
racismo como uma simples extensão do pensamento machista.
É óbvio que pensar desse modo permite a perpetuação de uma
o
hierarquia de dominação em que o machismo é considerado
sistema mais relevante a ser desafiado e transformado. De fato,
evidências recentes sugerem que os primeiros humanos foram
provavelmente pessoas de pele mais escura, o que não dá cre-
dibilidade à noção de que o machismo veio primeiro e, depois,
o racismo, Teorias de dominação que nos levam para além da
culpabilização de um grupo em detrimento de outro postu-
lam a ideia de que a dominação começa com a passagem de,
uma sociedade pré-agrícola para uma na qual aagricultura
desenvolvida. A interdependência era a norma no mundo antes
da agricultura. Em Rebalancing the World [Reequilibrando o
mundo], Carol Lee Flinders explica:
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que definia o relacionamento da pessoa com o mundo natural
também definia sua relação com oo sagrado.
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capitalista imperialista é um processo que afeta a todos nós
em maior ou menor grau. Entender o pensamento dominador
aumenta a consciência de que não existe maneira simples de
iden tificar vítimas e opressores, embora haja, de fato, graus
de responsabilidade.
Uma das narrativas contra-hegemônicas mais poderosas,
gue pode levar muitos de nós ao caminho da consciência crítica,
é a ideia de democracia. Antes dos anos 1960, aprender sobre a
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nossa família, com pessoas que alegam se importar conosco.
No passado, o pensamento patriarcal aprendido na família
tefletia-se nos ensinamentos patriarcais da igreja ou de outras
foi uma instância principal
instituições religiosas. A religião já
mas essa não é mais
para o ensinamento do pensamento racista,
uma norma aceita. Pessoas brancas cristãs não são abertamente
ensinadas na igreja que deus determinou que são superiores
É
às pessoas de outras cores e, por isso, deveriam governá-las.
Até mesmo entre os cristãos mais fundamentalistas existe um
de cor para se unir a eles
esforço comum de recrutar pessoas
no culto. Essa postura acolhedora existe, embora as igrejas nos
c Estados Unidos sejam, antes de tudo, racialmente segregadas.
continuam
Contudo, todas as principais religiões do mundo
a ensinar abertamente o pensamento patriarcal. Ao mesmo
denunciam de maneira global
tempo, massas de pessoas de cor
a supremacia branca e o racismo enquanto perpetuam ativa-
a mente o patriarcado.
Ea
mf
mais
Hoje, muitos cidadãos do nosso país não frequentam
a igreja, de modo que a família se tornou a principal insti-
entre
tuição para a disseminação do pensamento patriarcal
as crianças. Fêmeas patriarcais, enquanto cuidadoras primá-
rias de crianças, são as pessoas que ensinam papéis de gênero
homens e mulheres de
patriarcais. Entretanto, a maioria dos
nossa sociedade raramente usa a palavra patriarcado ou sequer
entende seu significado. O patriarcado é um sistema político
e social que insiste que os machos são inerentemente domi-
considerados
nantes, superiores a tudo e a todos que sejam
dotados do direito
fracos, especialmente mulheres. Eles seriam
de dominar e governar os fracos, bem como de manter esse
domínio por meio de várias formas de abuso psicológico e
violência. Nenhum movimento contemporâneo em prol de
como vivemos, com exceção
justiça social transformou o modo
do movimento feminista. O reconhecimento, por meio de leis
e políticas públicas, de que as mulheres são iguais aos
homens
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interligados que moldam a cultura dominadora em que vive-
mos, as pessoas diziam que a expressão era apenas uma frase
muito austera. Nos últimos dez anos, sempre que a usava em
palestras, na maioria das vezes o público respondia com risadas.
De início, achei que o riso era uma expressão de desconfor-
to, pois a verdadeira natureza da política de nosso país esta-
va sendo exposta. Mas, como a risada me seguiu de palestra
em palestra, comecei a vê-la como uma maneira de desviar a
atenção da seriedade dessa designação. Repetidas vezes, a teo-
ria crítica ternos ensinado o poder de nomear com precisão
aquilo que estamos desafiando e esperamos transformar. Mas
uma forma de silenciar a nomeação precisa é fazer com que ela
pareça ridícula, muito estridente, dura demais. Raramente me
perguntam qual é o valor de chamar a atenção para os sistemas
de dominação interligados. No entanto, quando examinamos
as circunstânciasculturais que forneceram a base para o fas-
cismo no século xx (olhando particularmente para as raízes do
fascismo na Alemanha, na Espanha e na Itália), encontramos
traços semelhantes nos Estados Unidos (isto é, poder patriar-
cal, nacionalista, racista, religioso e econômico controlado por
uma minoria interessada em riqueza, religião etc.). Nos regimes
fascistas, ensinar as populações a temer o "terrorismo" é um
meio de obter apoio para o sistema. Ao mesmo tempo, vozes
dissidentes que desafiam o status quo tendem a ser silenciadas
por inúmeras formas de censura. Mais recentemente, no nosso
país, a mídia tem sido usada para sugerir que qualquer um que
critique o governo é um traidor, que merece reprovação e até
prisão que silencia, efetivamente, muitas vozes.
-0sistência significativa à cultura dominadora exige
-
HR