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HISTÓRICO
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
1.1. INTRODUÇÃO
Plausível seria resgatar os meandros da história em seu período mais antigo e
trazer à luz os primórdios dos jardins. No entanto, nem tudo ainda se conhece
sobre os jardins da antigüidade. Ao arqueólogo é pouco factível reconstruir esses
espaços, tendo em vista o caráter perecível da vegetação. Os estudos e a
reconstituição dos jardins de então se baseiam, sobretudo, em pinturas e escritos
literários encontrados em escavações arqueológicas. Os registros históricos
apontam que a arte da jardinagem surgiu pela primeira vez, de forma
independente, em dois lugares distintos: Egito e China. Os jardins egípcios
estiveram baseados nas pequenas áreas agrícolas irrigadas do deserto, e os
chineses nos parques de caça imperial.
Apesar de muito da história dos jardins ter se perdido no tempo, ainda assim é
possível traçar o caminho de sua evolução. Partindo de seu caráter mítico-
religioso - o “paraíso” prometido no livro Gênesis da Bíblia -, ou de seus mitos e
lendas, ou ainda dos registros que comprovam a existência dos Jardins
Suspensos da Babilônia, até os jardins modernos, passando pelo Egito, Grécia e
Roma antiga, verificamos a importância de cada momento histórico-cultural na
concepção de outros espaços que não somente o jardim privado. A história
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
Até o século XVIII a tradição egípcia, transmitida através dos gregos, dos persas,
dos romanos, dos árabes, dos italianos e dos franceses, imperou no Ocidente
sem nenhuma influência chinesa. O estilo naturalista inglês, que “nasce” com o
advento da Revolução Industrial na Inglaterra, se estendeu rapidamente no século
seguinte, criando jardins que em todos os aspectos correspondiam aos jardins da
China. A partir do final século XIX, não houve mais aquela preocupação com a
influência ou o traçado do jardim, mas sim com a diversificação das espécies e
variedades que o representavam.
• formal • informal
• retilíneo ⇐ Características ⇒ • sinuoso
• arquitetônico • naturalista
à Egito à Japão
à Grécia
à Pérsia
à Índia
à Roma antiga
à Mouros
à Renascimento
(França, Itália)
à Inglaterra
(Revolução Industrial)
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
Dos Jardins Suspensos da Babilônia, conhecidos como sendo uma das sete
maravilhas do mundo antigo, nunca se encontrou qualquer ruína: sua existência
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
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Diodoro Siculo ou Diodoro da Sicília. Grego de origem e natural da Sicília, nasceu em princípios do século I a.C. Escreveu
"Biblioteca Histórica", fruto de suas viagens pela Europa, Ásia e Egito.
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Estrabão (60 a.C. - 21 d.C.).Geógrafo e historiador grego nascido em Amásia, no Ponto. Dedicou sua vida a viagens e
estudos, tendo visitado a Grécia e o Egito. Autor de "Geografia", este compêndio fornece extensas observações sobre a
região do Mediterrâneo, assim com copiosas referências a escritores que o antecederam.
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Xenofonte (430 - 355 a.C.). Historiador, filósofo e general ateniense, participou da Guerra do Peloponeso e foi discípulo
de Sócrates. Entre outras obras, escreveu: "As Helênicas", "História da Guerra do Peloponeso" e a "Ciropédia".
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Nabucodonosor (630 - 562 a.C.). Rei da Babilônia (605 - 562 a.C.), fundou o novo império babilônico. Sob sua égide a
civilização babilônica atingiu o apogeu, estendendo os seus domínios a rincões tão afastados quanto o Mar Mediterrâneo.
Ordenou a deportação dos judeus para a Babilônia (586 a.C.).
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Heródoto (490/80-430/20 a.C.). Historiador grego, de Helicarnasso, chamado o "Pai da História". Em seus livros ficaram
documentados, sobretudo, os usos e costumes dos povos antigos que visitou.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
tijolos cozidos e asfalto. A subida até o andar mais elevado era feita por escadas,
e na lateral, estavam os motores de água, que sem cessar levavam a água do rio
Eufrates até os Jardins.
A parte mais surpreendente do jardim era, sem dúvida, o aparato hidráulico que
levava água até a parte mais alta do mesmo (vide figura 4). No desenho está
esquematizado tem -se duas grandes roldanas, uma em cima da outra, ligadas por
uma corrente. Ao longo da corrente, são conectadas baldes. Na parte de baixo da
roldana inferior encontra-se uma piscina com a água da fonte. À medida que as
roldanas se moviam, os baldes mergulhavam na fonte e eram erguidos até a
piscina localizada no andar superior dos jardins, onde os baldes eram
derramados, descendo então vazios para a piscina inferior. A piscina na parte
superior dos jardins podia então ser liberada por comportas nos canais que
atuavam como rios artificiais para irrigar os jardins. A roldana inferior tinha uma
manivela e um eixo, movidos por escravos.
então era colocada a terra, numa profundidade suficiente para permitir que
fossem plantadas as árvores mais altas. Qual era o tamanho dos jardins? Diodoro
afirmou que eles tinham cerca de 400 pés de comprimento (121,92 m) por 400
pés de largura (121,92 m) e mais de 80 pés de altura (24,38 m). Outros relatos
indicam que a altura era igual às muralhas exteriores da cidade. Segundo se
sabe, as muralhas chegavam a 320 pés de altura (97,53 m).
Os registros que se têm acerca dos jardins do antigo Egito, e que permitiu a
reconstrução fidedigna dos mesmos, foram extraídos de pinturas encontradas
junto às tumbas dos faraós e outras ruínas. Pode-se dizer que a antiga civilização
desenvolvida ao longo do Vale do Nilo, no arco de tempo compreendido entre
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
3.500 a.C. e 500 d.C., representou uma etapa muito importante na história dos
jardins. Os jardins em tela refletem a sensibilidade artística e o alto nível atingido
na técnica hidráulica, agrícola e construtiva da civilização egipciana.
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Amenophis III, rei egípcio, reinou de 1.500 a 1.466 a.C.
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Pausanias. Geógrafo e escritor grego do século II d.C., nasceu, provavelmente, em Cesarea da Capadócia. Sua obra
mais famosa - "O Itinerário de Pausanias" - descreve suas viagens pelo mundo antigo, relatando aspectos da mitologia,
escultura, religião, pintura e arquitetura das culturas visitadas.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
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De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro, Perseu, o lendário fundador de Micenas, nunca teria nascido se seu
avô tivesse conseguido seu intento. Acrísio, rei de Argos, era pai de uma linda filha, Dânae, mas estava desapontado por
não ter um filho. Quando consultou o oráculo sobre a ausência de um herdeiro homem, recebeu a informação que não
geraria um filho, mas com o passar do tempo teria um neto, cujo destino era matar o avô. Ac rísio tomou medidas extremas
para fugir deste destino. Trancou Dânae no topo de uma torre de bronze, e lá permaneceu numa total reclusão até o dia
em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro; assim deu à luz a Perseu. Acrísio ficou furioso, mas ainda
achava que seu destino poderia ser evitado. Fez seu carpinteiro construir uma grande arca, dentro da qual Dânae foi
forçada a entrar com seu bebê, sendo levados para o mar. Entretanto, conseguiram sobreviver às ondas, e após uma
cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Sérifo, uma das ilhas das Ciclades. Dânae e Perseu foram encontrados e
cuidados por um honesto pescador, Dictis, irmão do menos escrupuloso rei de Sérifo, Polidectes. Com o passar do tempo,
Polidectes apaixonou-se por Dânae, mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua mãe dos indesejados
avanços do rei. Um dia, durante um banquete, Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava
preparado a oferecer-lhe. Todos os outros prometeram cavalos, mas Perseu ofereceu-se a trazer a cabeça da górgone.
Quando Polidectes o fez cumprir sua palavra, Perseu foi forçado a honrar sua oferta. As górgones eram em número de
três, monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes; duas eram imortais, mas a tercei ra, Medusa, era mortal e
assim potencialmente vulnerável; a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra. Felizmente,
Hermes veio em sua ajuda, e mostrou a Perseu o caminho das Gréias, três velhas irmãs que compartilhavam um olho e um
dente entre si. Instruído por Hermes, Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente, recusando-se a devolvê-los até
que as Gréias mostrassem o caminho até as Ninfas, que lhe forneceriam os equipamentos que necessitava para lidar com
Medusa. As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridão que permitiria a Perseu pegar a Medusa de
surpresa, botas aladas para facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeça imediatamente após a ter
decepado. Hermes sacou uma faca em forma de foice, e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar
Medusa. Com a ajuda de Atena, que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da górgone, ao invés de
olhar diretamente para sua terrível face, conseguiu finalmente despachá-la. Acomodando a cabeça de modo seguro na sua
bolsa, retornou rapidamente a Sérifo, auxiliado por suas botas aladas. Ao sobrevoar a costa da Etiópia, Perseu viu abaixo
uma linda princesa atada numa rocha. Esta era Andrômeda, cuja fútil mãe Cassiopéia tinha incorrido na ira de Possêidon
ao espalhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Nereu. Para puni-la, Possêidon enviou um monstro
marinho para devastar o reino; apenas poderia ser parado se recebesse a oferenda da filha da rainha, Andrômeda, que foi
assim colocada na orla marítima para esperar o terrível destino. Perseu apaixonou-se imediatamente, matou o monstro
marinho e libertou a princesa. Os pais dela, em júbilo, ofereceram Andrômeda como esposa a Perseu, e os dois seguiram
na jornada para Sérifo. Polidectes não acreditava que Perseu pudesse retornar, e deve ter sido bastante gratificante para
Perseu observar o tirano ficar lentamente petrificado sob o olhar da cabeça da górgone. Perseu deu então a cabeça a
Atena, que a fixou como um emblema no centro de seu protetor peitoral. Perseu, Dânae e Andrômeda seguiram então
juntos para Argos, onde esperavam se reconciliar com o velho rei Acrísio. Mas quando Acrísio soube desta vinda, fugiu da
presença ameaçadora de seu neto, indo para a Tessália, onde, não conhecendo um ao outro, Acrísio e Perseu acabaram
se encontrando nos jogos fúnebres do rei de Larissa. Aqui a previsão do oráculo que Acrísio temia se realizou, pois Perseu
atirou um disco, o qual se desviou do curso e atingiu Acrísio enquanto estava entre os espectadores, matando-o
instantaneamente. Perseu com sensibilidade decidiu que não seria muito popular voltar a Argos e reivindicar o trono de
Acrísio logo após tê -lo morto; assim, ao invés, fez uma troca de reinos com seu primo Megapentes. Megapentes se dirigiu
a Argos enquanto Perseu governou Tirinto, onde é considerado como responsável pelas fortificações de Midéia e Micenas.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
Por volta de 500 a.C. os reis da Pérsia criaram jardins de grande exuberância
destinados à diversão, consagrados ao prazer, ao amor, à saúde e ao luxo.
Eminentemente formais - uma versão modificada do plano egípcio -, de linhas
geométricas retilíneas, são considerados o expoente máximo da jardinagem
enquanto arte. Esses jardins têm por base dois canais que se interceptam
ortogonalmente em sua área central, delimitando quatro áreas distintas,
representando, segundo a cultura local, as quatro moradas do universo - água,
terra, ar, fogo. Em seu centro locali za-se um grande tanque de água revestido por
azulejos e decorado com fontes. Como a religião islâmica proíbe a representação
humana, estas não fazem parte do complexo, como seria plausível supor. No
entanto, a arte escultórica está presente através de quiosques finamente
trabalhados. As aves ornamentais - pavões, cisnes, faisões - foram introduzidas
pelos persas em seus jardins, para dar mais colorido e vida. Muros altos,
associados a árvores que dão frutos - tamareiras, romãzeiras, laranjeiras - e
sombra, é outro dos elementos presente. As flores - tulipas, lírios, prímulas,
narcisos, jacintos, jasmins, açucenas, rosas, violetas, agapantos - utilizadas em
profusão, balizaram o nome dado a esses jardins de “jardins perfumados”
(JONHSON, 1979; LLARDENT, 1982; LAURIE, 1983).
A extrema aridez da Pérsia faz com que seus jardins, com a sombra
proporcionada pelas árvores e o ar refrescado pelos canais de água e fontes,
representem o próprio “paraíso”.
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Sila Lucio Cornelio (138 - 78 a.C.). General e político romano, estudioso da literatura e arte grega. Foi um dos homens
mais excepcionalmente dotado da antigüidade.
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Técnica de poda ou corte artístico introduzido pelos romanos, ao que parece, segundo Plínio, por Gaio Mazio no século I
a.C., através da qual algumas plantas sempre verdes, de folhas pequenas, passam a assumir formas figurativas diversas,
escultórica ou arquitetônica, segundo o gosto e a moda do momento.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
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André Le Nôtre (1613-1700). Jardineiro, pintor, desenhista e arquiteto, nasceu e morreu em Paris. Os jardins de
Versalhes, sua obra prima e expoente maior do estilo francês renascentista, foi construído em um período de dez anos
(1662 a 1672), em uma região totalmente pantanosa. Deixou provas da perfeição de sua arte, em: Vaux-le-Vicomte,
Tullerias, Fointainebleau, Saint-Cloud, Saint-Germain, Chantilly, Sceaux, entre outros.
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Principais Villa renascentistas: Villa Medice em Florença, por Michelozzo; Villa Lante em Begnaia, por Vignola; Villa
Farnese em Caprarola, por Vignola; Villa Aldobrandini em Frascati, por Giacomo della Porta; Villa Giulia em Roma, por
Vignola; Villa Doria Pamphili em Roma, por Algardi; Villa Medice em Roma, por Lippi.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
Em que pese toda crítica a respeito dos jardins franceses dessa época, é preciso
registrar a influência exercida pelos mesmos e sua importância no surgimento das
áreas verdes (praças e parques) abertas a toda população. Llardent (1982), que
critica a ostentação e fausto desses jardins, reconhece, todavia, que o estilo
imperante dos mesmos têm seu correspondente reflexo, respeitada a escala, na
cidade. Surgem nestas, as praças grandiosas, as extensas esplanadas com
monumentos, as avenidas arborizadas com perspectivas profundas e os
bulevares. Contribuiu para isso o fato de os parques reais serem abertos, com
certas condições e em dias específicos, ao público. Assim, por exemplo, Luís XIV
mandava abrir os portões de Versalhes aos domingos para desfrute dos
habitantes de Paris. Nesse contexto, Calcagno (1983), coloca que os grandes
jardins franceses lavaram a arquitetura da paisagem a sua máxima expressão,
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
JARDINS DE VERSALHES
Com os seus três palácios, os seus jardins, o seu parque e as suas
dependências, Versalhes é um domínio imenso. Embora tenha sido Luís XIII
quem mandou edificar um pavilhão de caça embelezado com um jardim, o
verdadeiro criador foi Luís XIV. De 1682 a 1789, Versalhes foi a capital da
monarquia absoluta e tornou-se o símbolo porque o local, modelado pela vontade
do Rei-Sol, reflete a sua concepção de poder.
Os números da obra dão uma boa idéia de suas dimensões. Em 1683 o total de
trabalhadores na construção chegava à 30 mil pessoas. Mas ainda não eram
suficientes. Foram então convocados os soldados do exército real para ajudar.
Durante praticamente todo seu reinado Luis 14 conviveu com a terra, poeira,
barulho e imensas despesas da construção de Versalhes. Um dos maiores
desafios foi a construção dos parques e jardins que deveriam cercar o palácio, e
para eles foi criado um sistema independente de abastecimento de água. No
centro do parque localiza-se o Grand Canal com 1,6 km de extensão, e Petit
Canal com 1 km. Seus 800 hectares de parques e jardins comportavam 20 km de
trilhas, 200 mil árvores, 200 mil flores plantadas a cada ano, 50 fontes e 2100
esculturas.
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Joseph Addison (1672-1719). Escritor, moralista, teólogo, latinista e crítico, foi uma das personalidades mais importante
que figurou no mundo literário da Inglaterra.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
cada planta e céspede (...) Eu gostaria de ver uma árvore em todo seu aspecto
luxuriante...’” (CALCAGNO, 1983, p. 167).
Para Jonhson (1979), Calcagno (1983), Laurie (1983), entre outros, os jardins
ingleses passam a imitar a natureza em sua continuidade espacial, criando
sucessão de cenas que envolvem lagos, vales, colinas, se estendendo em todas
as direções, ao mesmo tempo em que se tornam paisagens sem limites - não
deveria haver qualquer interrupção entre jardim e paisagem. Os jardins ingleses
não se limitavam a um espaço definido e, embasados que estavam em um
movimento artístico-filosófico, não foram simplesmente um modismo ou uma
maneira de organizar paisagisticamente o espaço. Tal filosofia, segundo Calcagno
(1983), buscava recriar o equilíbrio entre o intelecto humano e o ambiente, e que
se transformou, mais tarde, na busca de uma possível coexistência entre ciência
e natureza.
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William Kent (1686-1748). Arquiteto, pintor, decorador e paisagista britânico, introduziu nos jardins ingleses o desenho
romântico, em contraste com as formas clássicas dos conjuntos arquitetônicos francês e italianos reinantes até então. Em
1727 projetou a residência-parque de Chiswick em Middlesex, considerado por muitos como o primeiro exemplo de jardim
paisagístico.
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Lancelot Brown (1715-1783). Arquiteto e paisagista, demonstrou, segundo o entendimento de grande parte dos críticos,
a maior força criativa na projetação do jardim paisagístico. Por sua fama e habilidade foi nominado jardineiro real de
Hampton Court. A sua total reinvenção da paisagem, com novas ondulações do terreno, com amplos cursos de água, com
plantações de árvores agrupadas na parte mais alta das colinas, originaram numerosas sistematizações em grande escala.
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Humperey Repton (1725-1818). Arquiteto, é considerado a personalidade de maior relevo dentro do movimento
paisagístico inglês. A sua notável produção está contida nos famosos "Livros Vermelhos", nos quais ele habitualmente
registrava todos os seus projetos e realizações. Com Repton a arquitetura dos jardins torna-se quase uma ciência: ele
estudou as reações humanas no ambiente; a sucessiva percepção dos espaços ligados ao movimento; a possibilidade de
ampliar as imagens, de dilatar as perspectivas, de desfrutar o complexo jogo claro-escuro, das luzes, das sombras, das
diversas tonalidades da vegetação.
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William Chambers (1727-1796). Arquiteto e escritor inglês, autor do livro "A Dissertation on Oriental Gardening". Nesse
livro, publicado em 1772, e fruto de suas viagens ao Oriente, expõe as mais difusas idéias românticas de seu tempo sobre
jardim. As suas realísticas descrições sobre os diversos tipos de jardins chineses suscitaram profundo interesse e
exerceram notável influência sobre os artistas ingleses.
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Jean Jacques Rousseau (1712-1778). A poética sobre a natureza desse expoente do pensamento iluminista francês, que
conferiu vigor ao movimento naturalista inglês, está contida em sua obra-prima literária "La Nouvelle Heloise", publicada em
1761.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
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Naturalista (1790-1861), fundou em 1831 o primeiro herbário do Brasil, hoje conhecido como Herbário do Museu nacional
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Botânico francês e paisagista.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
CONCLUSÃO
Dos Jardins Suspensos da Babilônia, passando pelos jardins do Egito antigo, da
Pérsia, pelo Renascimento francês e italiano, até adquirir a “maturidade” e
transformar-se em ciência paisagística, a partir da Revolução Industrial, a história da
jardinagem sempre esteve intimamente ligada à do próprio homem. Inicialmente,
enquanto jardinagem, tinha um caráter de embelezamento, e restrito à unidade
familiar: ora compondo o espaço cênico de uma pequena casa, ora ornando palácios
e Villa. A partir do século XVIII, Inglaterra, o homem passa a preocupar-se com sua
condição de vida e do ambiente no qual vive. É então que a arquitetura paisagística
ganha status de Ciência, fazendo uso do conhecimento de outras áreas (botânica,
irrigação, edafologia, fisiologia vegetal, arquitetura, etc.), e avança, embasada por
critérios técnico-científicos, rumo ao estudo, à análise, compreensão e intervenção
sobre a paisagem. Essa paisagem, de dimensão variada, constitui o locus onde
habita, vive e goza a vida o ser humano. Harmonizando e buscando o equilíbrio com
a paisagem, o arquiteto paisagista tem-se preocupado, ao mesmo tempo, com a
qualidade dos espaços trabalhados, associado ao caráter estético de sua
intervenção.
REFERÊNCIAS
BOADA, L. O espaço recriado. São Paulo: Nobel, 1991.
CALCAGNO, A. M. Architettura del paesaggio: evoluzione storica. Bologna:
Calderini, 1983.
CHIUSOLI, A. Elementi di paesagistica. Bologna: CLUEB, 1985.
CLIFORD, D. A. A history of garden design. London: Mitchell Bearley, 1962.
FARIELLO, F. Architettura dei giardini. Roma: Editora dell’Ateneo, 1967.
JONHSON, H. The principles of gardening. London: Mitchell Bearley, 1979.
KLUCKERT, E. Giardini d’Europa: dall’antichità a oggi. Tradução de Silvia Bazoli
e Cristina Pradella. Koln: Konemann, 2000.
KRYSTEK, L. Os Jardins Suspensos da Babilônia. [on line]. Disponível na
Internet: <http://www.cleveleys.co.uk/wonders/gardensofbabylon.htm (20 mar. 04).
LASSO, J. C. Revista Arquitectura. Madrid: Colegio Oficial de Arquitectos de
Madrid, n.168, 1972.
LAURIE, M. Introducción a la arquitectura del paisaje. Barcelona: Gustavo Gili,
1983.
LLARDENT, L. R. A. Zonas verdes y espacios libres en la ciudad. Madrid:
Closas-Orcoyen, 1982.
MACEDO, S. S. A vegetação como elemento de projeto. In: Paisagem e
ambiente - ensaios 4. São Paulo: FAUUSP, 1982.
_____. Quadro do paisagismo no Brasil. São Paulo: FAUUSP. 1999.
MUMFORD, L. A cidade na história: suas origens, desenvolvimento e
perspectivas. 2. ed. Tradução de Neil R. da Silva. São Paulo: Martins Fontes,
1982.
ORLANDI, A. Il paesaggio deli città: spazi aperti, giardini, parchi e struttura
urbana. Roma: Gangemi, 1994.
RASMUSSEN, S. E. Londra città única. Roma: Gangemi, 1972.
SOULIER, L. Espaces verts et urbanisme. 2. ed. Paris: Centre de Recherche
d’Urbanisme, [s.d.].
VELASCO, A. Ciudad y spacios verdes. Madrid: Servicio Central de
Publicaciones, Ministerio de la Vivienda, 1971.
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
ANEXO
CONTEXTO NACIONAL CONTEXTO URBANO PROJETOS
SÉCULO XVIII
Brasil Vice-Reino. § Cidade colonial. 1783 – Inauguração do Passeio Público no Rio de
Janeiro – um antigo charco que, aterrado, recebe
desenhos geométricos, um mirante e caminhos
para o passeio ou promenade. Marco do projeto
paisagístico no Brasil. Autor: Mestre Valentim.
Ciclo do Ouro / Minas Gerais. § Ruas, largos e terreiros definidos por
construções geminadas.
Nova capital: Rio de Janeiro. § Vegetação confinada a quintais e pátios. 1798 – Ordem de criação do Jardim Botânico de
§ Chafarizes. São Paulo.
§ Intenso uso de ruas e largos – feira, mercado, 1798 – Criação do Horto Botânico de Belém –
procissões, vendedores ambulantes, Governo Conde dos Arcos.
mascates.
§ Chácaras residenciais em volta dos centros
urbanos.
§ Criação de jardins botânicos e hortos para
pesquisa de essências e vegetação nativa.
SÉCULO XIX
1808 – Vinda da família real portuguesa para o 1803-1806 – Criação do Passeio Público de
Brasil. Belém (desaparecido).
1808 – Criação do Jardim Botânico do Rio de
Janeiro, então Real Horto Botânico.
1810-1818 – Implantação do Passeio Público de
Salvador em área destinada ao Horto.
1821 – O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é
transformado em jardim público.
1823 – O Jardim Botânico de São Paulo é aberto
ao público.
1840 – Início do II Império. § Surge o palacete, a residência da elite. As 1858 – Auguste François Marie Glaziou, a convite
chácaras se urbanizam nos bairros periféricos de Dom Pedro II, ocupa o cargo de Diretor Geral
das grandes cidades como Rio de Janeiro, de Matas e Jardins.
Recife e Salvador. Com o palacete, surge o 1861 – Início do reflorestamento da Floresta da
jardim privado. Tijuca – Rio de Janeiro.
§ Os jardins tornam-se usuais nas casas das 1861-1862 – Auguste Glaziou reforma o Passeio
elites do Império. Público do Rio de Janeiro e introduzo jardim de
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
1914-1918 – I Guerra Mundial: desenvolvimento § A praça-jardim é uma referência para todas 1915 – Abertura ao público do Bosque dos
industrial e crescimento urbano. as cidades. Jequitibás, o primeiro parque de Campinas.
§ Os padrões arquitetônicos, urbanísticos e 1920 – Inauguração da Praça da Liberdade, Belo
paisagísticos praticamente se mantêm Horizonte.
inalterados nas duas primeiras décadas do
século, permanecendo a forte influência
européia.
1922 – Centenário da Independência e Semana § Os bairros-jardins consolidam -se em São 1922 – Exposição do Centenário, Rio de Janeiro e
de Arte Moderna: o nacionalismo começa a surgir Paulo. reconstrução dos jardins do Ipiranga, São Paulo,
no meios culturais. por Reynaldo Dierberger, o paisagista da elite do
café.
1930 – Final da República Velha. § O edifício de apartamentos, surgido na 1934 – Início das obras de Goiânia: no traçado,
década de 20, consolida-se em áreas centrais nítidas influências clássicas e da cidade-jardim,
do Rio de Janeiro e São Paulo. realizada em parte nas décadas seguintes.
§ Mudança na arquitetura: primeiros edifícios e 1934-1937 – Trabalho de Roberto Burle Marx,
jardins modernos com influência da como diretor de parques e Jardins do Recife. O
arquitetura modernista européia. paisagista desenvolve diversos projetos
modernos na cidade.
1935 – Inauguração do Parque da Redenção,
Porto Alegre.
1937 – Estado Novo: nova política sócio- 1938 – Jardins do MÊS, Rio de Janeiro, e Praça
econômica; influência econômica dos Estados Salgado Filho, ou do Aeroporto, Recife, projetos
Unidos da América. de Burle Marx.
1939-1945 – II Guerra Mundial: transformação da § Nos anos 40, constrói-se em Volta Redonda 1942 – Implantação do Complexo da Pampulha,
indústria e expansão habitacional; novos hábitos, uma área habitacional popular, na forma de Belo Horizonte, com os modernos jardins de Burle
declínio da influência européia. um subúrbio americano junto à Companhia Marx.
Siderúrgica Nacional.
Expandem -se as fronteiras urbanas nos Estados § A influência do urbanismo é mista (européia Durante toda a década de 40, Burle Marx produz
de São Paulo e Paraná. São implantadas novas modernista e americana), mas continuam os projetos modernista trabalhando junto com
cidades ferroviárias com praças centrais e traçado planos e avenidas haussmanianos, que arquitetos moderno. Torna-se o paisagista oficial
em xadrez. É fundada a cidade de Maringá/PR, reformulam velhos centros urbanos. do Estado.
projeto do arquiteto-urbanista Jorge de Macedo § A arquitetura moderna se consolida e os
Vieira. jardins deixam de ser moldura das
residências para também constituírem -se em
espaços de estar, como continuidade da
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PAISAGISMO E PANORAMA HISTÓRICO
casa.
1947 – Fim do Estado Novo. Forte nacionalismo. § Constroem-se parque infantis e playgrounds. 1954 – Abertura do Parque do Ibirapuera, São
Surgem as piscinas como sonho da classe Paulo, que abandona totalmente os princípios
média. São construídas em alguns centros projetuais do Ecletis mo.
esportivos municipais. 1957 – Concurso de Brasília.
§ O desenho do Ecletismo começa a ser
abandonado também nos espaços públicos, Durante a década de 50, Roberto Coelho
primeiramente devido à influência da obra de Cardozo, um paisagista português radicado em
Roberto Burle Marx. São Paulo, inicia uma forte colaboração com os
§ Entre as décadas de 40 e 60, em termos arquitetos paulistas. Cardozo tem grande
quantitativos são poucos os parques públicos influência de paisagistas da costa oeste
construídos nas cidades brasileiras. americana como Eckbo e outros. Os dois
§ O BNH (Banco Nacional de Habitação) cria Robertos (Cardozo e Burle Marx) possuem um
grandes conjuntos habitacionais dotados de denominador comum: a valorização da vegetação
generosas áreas livres. nativa.
posturas ecológicas no país. forte influência das novas correntes 1992-1996 – Centenas de novos projetos são
formalistas européias (Paris e Barcelona) e feitos para espaços livres nas cidades de Belo
americanas. Volta-se a um decorativismo e os Horizonte, Fortaleza, Campo Grande, Curitiba,
pórticos e canteiros floridos são elementos Recife. Renovação do Pelourinho em Salvador e
importantes nessas novas obras. do centro do Rio de Janeiro.
§ Começam a ser valorizadas novas formas de 1995 – Rua da Cidadania – Boqueirão, Curitiba.
espaços livres. São Projetados os primeiros 1996 – Parque Tangará, Curitiba.
parques temáticos do país.
§ Por todas as principais cidades, os
ajardinamentos de canteiros centrais de
avenidas são comuns, com forte influência
decorativa. Uso de elementos neo-ecléticos
como fontes, esculturas, arbustos e forrações
cuidadosamente elaboradas.
§ Forte viés romântico no desenho dos jardins
privados, convivendo com firmas tradicionais
modernistas.
§ O jardim florido: um padrão de qualidade.
§ Construção de parques públicos com alto teor
ecológico: Manaus, São Paulo, Teresina e
Salvador.
§ Valorização extrema do “verde” na cidade,
pela mídia, pelo mercado imobiliário e pelo
senso popular.
Quadro 1 – QUADRO CRONOLÓGICO DOS FATOS E PROJETOS PAISAGÍSTICOS MAIS IMPORTANTES DO BRASIL
Fonte: Macedo (1999).