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Universidade Lúrio

Faculdade de Ciências Agrárias


Licenciatura em Engenharia Florestal
III⁰ Ano, I Semestre 2022
Plantações Florestais

Impacto de plantações florestais comerciais em Moçambique

Estudante: Ivan Augusto Nhauche


Docente: Eng.Valério Pedro

Unango, Junho de 2022


Índice
Introdução........................................................................................................................................3

Objectivos....................................................................................................................................3

Geral.........................................................................................................................................3

Especifico.................................................................................................................................3

Plantação florestal............................................................................................................................4

Impacto social de plantações comerciais.....................................................................................5

O que a comunidade pode ganhar ꓽ..........................................................................................5

O que a comunidade pode perder ꓽ...........................................................................................5

Impacto ecológica das plantações florestais................................................................................6

Impacto socioeconómico de plantações comerciais.....................................................................7

Empresas de plantações florestais existentes em Moçambique...................................................9

Principais constatações..................................................................................................................10

Referências Bibliográfica..............................................................................................................11

Ivan A. Nhauche Pá gina 2


Introdução
Moçambique está localizado na África Austral, possui uma superfície total de 799.380 km2 e
uma população estimada de 23,7 milhões de habitantes, dos quais cerca de 80% dependem dos
recursos florestais para sua subsistência. A população moçambicana cresce em média 2,8% ao
ano e apresenta altos índices de analfabetismo, com 55% das pessoas vivendo abaixo da linha da
pobreza, onde a incidência da pobreza é muito maior nas zonas rurais.

As plantações florestais continuam a ser um tema de debate no mundo (Herrera, 2018). O debate
opõe especialistas florestais contra agentes da sociedade civil. Num lado, os especialistas de
florestas e as empresas de plantações florestais têm procurado desenvolver tecnologias
avançadas, incluindo árvores geneticamente modificadas, que são aplicadas em forma de
plantações massivas de monocultura como a solução de problemas de procura crescente de
produtos florestais e de armazenamento de carbono como parte das soluções dos problemas
impostos pelas mudanças climáticas. Do outro lado, as organizações da sociedade civil procuram
desvalorizar o esforço tecnológico, sugerindo que as escolhas das soluções para os problemas de
produção de madeira e problemas ambientais não são feitas de forma participativa e representam
um perigo, tanto para a própria sociedade, assim como para o ambiente Em Moçambique, esse
debate é também percebido pelas empresas florestais que promovem plantações florestais e pela
sociedade civil na área de justiça ambiental. Para reduzir a pressão sobre a floresta nativa, o
governo de Moçambique decidiu em meados da década de 2000, através da apresentação do
documento da Estratégia Nacional de Reflorestamento, promover as plantações florestais com
espécies de rápido crescimento. Esta decisão começou a catalisar interesse das empresas privadas
estrangeiras em investir em silvicultura.

Objectivos

Geral
Debruçar sobre os impactos de plantações florestais em Moçambique.

Especifico
Compreender o quanto as plantações florestais contribuem no desenvolvimento das
comunidades ou sociedade, economia do pais e também o contributo das plantações
florestais no contributo ecológico.

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Plantação florestal
“Plantação florestal” é o termo utilizado para referir as florestas estabelecidas artificialmente
através de plantio ou sementeira directa num processo geralmente conhecido como
“reflorescimento” (FAO 2017).
As plantações florestais podem ser estabelecidas em terras que nunca tiveram cobertura florestal
ou em áreas que tenham sido desmatadas por outras razões ou para o efeito de estabelecimento
de plantações florestais (IPCC 2017). Nas regiões tropicais, a maioria das plantações florestais
são feitas com espécies de rápido crescimento que são provenientes de outros países, por isso
chamadas “espécies exóticas”. As plantações florestais podem ser semi-naturais (quando
combinadas com outras formas de vegetação natural), ou produtivas (quando têm como
propósito a produção de madeira ou outros produtos florestais não-madeireiros) ou plantações de
protecção (quando a finalidade é a provisão de serviços) (FAO 2017).
As plantações florestais servem principalmente de complemento às florestas naturais na
provisão de produtos e serviços que, de outra forma, não estariam disponíveis em qualidade e
quantidades suficientes.
O estabelecimento de plantações florestais para fins comerciais requer extensas áreas (pelo
menos 20 mil hectares para a produção de madeira serrada ou mais de 200 mil hectares para a
produção de polpa de papel) (FAO 2002).
A procura de terras nas regiões tropicais para o estabelecimento de plantações florestais é um
fenómeno que vem aumentando nos últimos anos. Apesar da justificação sobre as necessidades
nacionais de aumentar a contribuição do sector de florestas para a economia, esta procura não é
sempre bem vista (Lyons e Westoby 2014; Richards e Lyons 2016).
Uma das razões principais de questionamento está associada aos impactos negativos que estas
plantações causam nas populações locais, particularmente naqueles países cuja terra é do Estado
mas as populações locais detêm a terra por direito costumeiro (FAO 2002; Matavel, Dolores, e
Cabanelas 2011; Madan 2017).
Porém, também existe a percepção de que, apesar dos potenciais impactos negativos, se os
investimentos no sector de plantações florestais forem adequadamente orientados, as populações
locais podem ter ganhos e benefícios (Bleyer et al. 2016).

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Impacto social de plantações comerciais
A área nacional de florestas plantadas vem aumentando, anualmente, cerca de 4,63 milhões de
hectares. Estima-se que cerca de 76% dessa área seja para produção florestal.
Como reconhecimento da importância do subsector de plantações florestais na criação de
emprego rural (média de 1 operário para 20 hectares de floresta) bem como no seu papel no
desenvolvimento de infra-estruturas rurais estradas e pontes, etc.
O que a comunidade pode ganhar ꓽ
Emprego directo na empresa ,
Estradas e vias de acesso,
Prestação de serviços à empresa e seus trabalhadores,
Parcerias (prestação de serviços à empresa, de plantio de árvores em regime de
outgrower)
Tecnologias de produção agrícola.
O que a comunidade pode perder ꓽ
Terra agrícola,
Áreas de pastagem,
Áreas habitacionais,
Áreas de colheita de lenha e fabrico de carvão,
Lugares de culto,
Plantas medicinais.
Há vários relatos de consultas mal conduzidas (Matavel, Dolores, e Cabanelas 2011; A. Sitoe
2009; Mosca 2014) por diversas razões, que incluem: (i) falta de conhecimento dos
procedimentos de consulta estabelecidos por lei; (ii) falta de capacidade de uma ou de ambas as
partes para conduzir uma consulta comunitária; (iii) pressão sobre as comunidades pela empresa
ou pelo representante do Estado; (iv) falsas promessas pela empresa às comunidades; (v)
exigências exageradas por parte da comunidade sobre os benefícios, etc. Em alguns casos, as
comunidades pedem serviços (postos de saúde, escolas, e outros serviços sociais) que,
tipicamente, devem ser providenciados pelo Estado.
A relação entre as empresas de plantações florestais e as comunidades locais aparece como um
problema em vários casos porque se acredita que as terras que são atribuídas a investidores são
aquelas terras. Assim, ao atribuir o DUAT a empresas, as comunidades ficam privadas do acesso

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a esses bens e serviços, agravando ainda mais a sua situação de pobreza. Nesta base, a forma
sugerida para minimizar os impactos resultantes do processo de cedência de terras é encontrar
uma forma de compensação das perdas.

Importância ecológica das plantações florestais


Estabelecer plantações industriais e outras formas de plantações para uso local e para a protecção
do ambiente tem sido visto como uma solução para colmatar o défice de produtos florestais nas
áreas degradadas e com baixa produtividade. Entretanto, é importante notar que as plantações
apenas são sustentáveis quando são devidamente enquadradas num contexto local, pois existe o
potencial das plantações florestais não geridas adequadamente gerarem conflitos sociais e
problemas ambientais (Chamshama e Nwonwu 2004).
Obviamente que, ao se desmatar para implantar uma plantação florestal comercial de eucalipto,
por exemplo, promove-se condição para que ocorra maior escorrimento de água e erosão do solo
em comparação ao ecossistema natural (DAVIDSON, 1985). Entretanto, muitas vezes a
plantação florestal comercial é estabelecida em áreas sem nenhuma cobertura vegetal original.
Nesses casos, ao contrário, ela passa a dar uma contribuição para uma diminuição do
escorrimento superficial de água e, por conseguinte, para diminuir a erosão hídrica. Nessa
circunstância, pode-se dizer que as plantações florestais comerciais podem, inclusive, trazer
benefícios sobre diversas propriedades do solo como estrutura, capacidade de armazenamento de
água, drenagem e aeração, entre outras. Além disso, quase tudo o que a plantação florestal
comercial retira do solo, ela devolve. Após a colheita, na maioria das vezes, cascas, folhas e
galhos, que possuem 70% dos nutrientes da árvore, permanecem no local e incorporam-se ao
solo como matéria orgânica.
Quanto à ocorrência de erosão, as aldeias com Portucel tiveram maior número de respondentes
que afirmaram que a erosão baixou, enquanto a aldeia sem Portucel foi a que teve maior número
de respondentes que consideram que a erosão actualmente é muito baixa. A topografia do distrito
de Ile e Namarroi é caracterizada por terrenos íngremes a planos em que qualquer actividade que
resulte na perturbação dos solos pode tornar os solos susceptíveis à erosão.
O nível de erosão do solo em um dado ecossistema depende da quantidade de água que chega a
ele, da inclinação da área onde ele se encontra, de suas características físicas, da quantidade de
resíduos sobre ele no momento da chuva, etc. Por sua vez, a quantidade de água que chega ao

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solo e a quantidade de resíduos no solo são, de certo modo, dependentes da espécie plantada no
local (VITAL, 2007).
Consideram-se florestas plantadas, para efeito deste Decreto, as florestas compostas,
predominantemente, por árvores que resultam de semeadura ou plantio, cultivadas com enfoque
económico e com fins comerciais”.
Produção de bens e serviços florestais para o desenvolvimento social e económico dos
pais; e
A mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Há também que se considerar a
terminologia adoptada pela FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura, no âmbito do FRA – Levantamento Global dos Recursos Florestais (FAO,
2012), onde “Florestas Plantadas abrangem todas aquelas florestas plantadas ou semeadas
com intervenção humana e nas quais o principal uso da terra e a produção (madeira e
fibra), a protecção (solo, agua e outros valores ambientais), a conservação da diversidade
biológica (ex situ), seus aspectos socioeconómicos (recreação, lazer, cultural) ou a
combinações desses usos”.
Plantações florestais comerciais não objectivam, primariamente, ser um refugio para a
fauna. No entanto, quando sob a forma de mosaico ou matriz, podem abrigar um grande
numero de aves, morcegos, invertebrados e repteis, que são importantes agentes de
controlo biológico de pragas, e servem também, como poleiros vivos para a avifauna.
As plantações florestais são, também, uma boa estratégia para garantir qualidade e
disponibilidade de água. Elas podem reduzir a velocidade do escoamento superficial e o
movimento de nutrientes para a água subterrânea, contribuindo para a melhoria da
qualidade da água e recarga de aquíferos.

Impacto socioeconómico de plantações comerciais


Entretanto, a revisão de Schirmer et al. (2005) sobre os impactos socioeconómicos das
plantações florestais constatou que os serviços de educação, saúde e agricultura diminuíram
nas zonas com expansão de plantações florestais em relação às zonas sem plantações.
Relativamente à falta de desenvolvimento de pequenos negócios à volta dos trabalhadores da
Portucel, parece contrário ao que foi encontrado em Niassa, onde barracas de venda de
produtos básicos, oficinas e venda de acessórios para bicicletas aumentaram para suprir as

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necessidades que aumentaram pelos trabalhadores das plantações florestais (Bleyer et al.,
2016).
Contudo, é de salientar que a forma de gestão financeira pelos trabalhadores das plantações
florestais também pode constituir um factor determinante para a verificada falta de
investimentos (p.e. pequenas barracas) e casas precárias por parte dos beneficiários de
emprego na Portucel. No entanto, entendemos que estas famílias tendem a aplicar os
rendimentos na satisfação de necessidades muito básicas, relacionadas com a educação dos
seus filhos e vestuários.
Por outro lado, factores, como preços dos produtos e mercados, bem como o baixo nível de
escolaridade da população, constituem principais barreiras de realizarem outras escolhas. As
histórias de sucesso5 reportadas pela própria Portucel não indicam que os trabalhadores
locais tenham feito algum investimento em negócios locais lucrativos, mas centram-se em
resolver questões básicas, tal como indica a transcrição de parte destas histórias. Destas
histórias de sucesso, a terceira parece ser a única que inclui um investimento numa horta de
meio hectare com potencial para iniciar negócio.

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Empresas de plantações florestais existentes em Moçambique
Nome Província Distrito
Khomatiland - IFLOMA Manica Manica
Portucel Manica Manica, sussundega, Gondola
Cefloma Manica Manica
IFM Manica Gondola

Moflor Manica Manica e Vandunzi


Chikwet Forest Niassa Lago, Lichinga
Companhia florestal de Niassa Ngauma
Massangulo
New forest Niassa Lichinga
Green Resourse Niassa Sanga
Florestas do Niassa Niassa Lichinga
Ntacua (Green Resourse) Zambézia Ile
Green Resourse Nampula Ribaué, Mucuborri
Khomatiland - IFLOMA Sofala Muanza
Tectona Forest Zambézia Milange , Gorué
ATFC II Zambézia Namarroi
Florestas do plantio Niassa Chimonila

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Principais constatações
O aumento dos investimentos no sector florestal africano tem o potencial de expandir
muito a criação de empregos rurais além da agricultura básica, o que também ajudaria a
fortalecer a resiliência das comunidades rurais africanas diante da mudança climática.
Entretanto, o emprego constitui um dos grandes desafios para as empresas florestais e as
comunidades, sendo, por sinal, fonte de geração de conflitos entre as partes.
O número reduzido de postos de emprego (relativamente ao esperado pelas comunidades
locais) está de acordo com as experiências em outras regiões do país, sobretudo em
Niassa, onde têm sido estabelecidas plantações industriais. Portanto, o projecto cria um
número considerável de emprego nas fases iniciais de limpeza, preparação do terreno e
plantio de mudas, mas vai reduzindo a quantidade de trabalhadores à medida que a
plantação cresce deixa de precisar cuidados intensivos.
O nosso entender sobre a percepção negativa das plantações florestais pelas comunidades
com e sem Portucel é que, enquanto a entrega de terras não resultar em benefícios, ou
enquanto a entrega de terras resultar em alterações que afectam negativamente a
disponibilidade de recursos de subsistência (terra, água) em quantidade e qualidade, as
comunidades não irão ver de forma positiva os investimentos deste tipo. A título de
exemplo, o investimento da Chikweti em plantações em Niassa resultou em conflitos que
degeneraram com fogo posto e árvores derrubadas nas plantações na tentativa de reaver
as terras perdidas pelas comunidades abrangidas

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Referências Bibliográfica
BLEYER, MAJA, MATLEENA KNIIVILÃ, PAULA HORNE, ALMEIDA SITOE, and
MÁRIO PAULO FALCÃO. 2016. “Socio-Economic Impacts of Private Land Use
Investment on Rural Communities: Industrial Forest Plantations in Niassa, Mozambique.”
Land Use Policy 51. Elsevier Ltd: 281–89.
CHAMSHAMA, S.A.O., and F.O.C. NWOMWU. 2004. “Lessons Learnt on Sustainable
Forest Management in Africa FOREST PLANTATIONS IN SUB-SAHARAN AFRICA
Forest Plantations in Sub-Saharan Africa,” 55.
BRUNA, N. (2017). Plantações florestais e a instrumentalização do Estado em Moçambique
(Observador Rural No. 53). Maputo. Retrieved from
http://omrmz.org/omrweb/wp-content/uploads/Observador-Rural-53.pdf

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